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51289439 O Lado Sombrio Dos Buscadores Da Luz Debbie Ford Formato A6 35

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um livro que encontrei no google

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  • O LADO SOMBRIO DOS BUSCADORES DA LUZ

    Recupere seu poder, criatividade e confiana, e realize os seus sonhos

    Debbie Ford

  • 3SUMRIO

    INTRODUO PREFCIO CAPTULO 1 Mundo Exterior, Mundo Interior CAPTULO 2 Em Busca da Sombra CAPTULO 3 O Mundo Est Dentro de Ns CAPTULO 4 A Recuperao de Ns Mesmos CAPTULO 5 Conhea a Sua Sombra, Conhea a Si Mesmo CAPTULO 6 Eu Sou Isso

  • 4CAPTULO 7 Assimile o Seu Lado Sombrio CAPTULO 8 Reinterpretando a Si Mesmo CAPTULO 9 Deixe a Sua Luz Prpria Brilhar CAPTULO 10 A Vida Merece Ser Vivida EPLOGO

  • 5

    INTRODUO

    O trabalho da sombra est presente desde o comeo dos tempos. a verdadeira essncia do impulso religioso, onde tradicionalmente temos procurado um equilbrio entre a luz e a escurido. Lembra-se de Lcifer, que che-gou a ser o mais brilhante dos anjos? A que-da dele a tentao que todos ns enfren-tamos. Somos continuamente exortados a permanecer atentos para no ficarmos sob a influncia do lado sombrio. Recentemente, fui lembrado da natureza perene do trabalho com a sombra por uma pessoa da platia, em Minneapolis, que se levantou, depois de uma palestra que eu dera sobre a sombra, e perguntou: Voc no est apenas despejando vinho velho em garrafas novas? Bom, sim, respondi, de certo modo surpre-so por ela ter feito essa relao. O lado

  • 6sombrio tem sido uma parte de todas as nossas tradies religiosas. Mas estamos sempre precisando de novos recipientes e de uma nova linguagem que seja contempor-nea ao transe pelo qual passa a humanidade. Sim, est certo, repeti, o trabalho com a sombra vinho velho. Esse questionador me lembrou de diversos clientes que se viram diante da prpria som-bra no meu consultrio, no decorrer de mui-tos anos. Cada gerao precisa de novos caminhos para falar do fenmeno da som-bra, tanto da sombra positiva quanto da ne-gativa. A escurido no significa somente o aspecto negativo, refere-se a algo que est fora do alcance da luz ou da nossa conscin-cia. A fase inicial do conselho teraputico confessional e muito semelhante venervel instituio catlica da confisso: ns ouvimos a pessoa falar sobre ms aes e falhas, de que forma algum chegou a uma situao dolorosa ou de como no foi capaz de reali-zar seu potencial positivo. Somos desafiados

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  • 7a transmitir realidade e dar significado qui-lo que est sendo trabalhado com os clien-tes, para ajud-los a se conscientizar de suas partes rejeitadas. O maior pecado pode ser uma vida no vivida. Nesse episdio espontneo em Minnesota, lembravam-me tambm que o eminente psi-clogo suo C. G. Jung escreveu no seu livro de 1937, Psichology and Religion: Para al-canar a compreenso de assuntos religio-sos, provvel que tudo o que nos restou hoje seja a abordagem psicolgica. por isso que pego essas formas-pensamento que foram fixadas historicamente, tento derret-las de novo e coloc-las em moldes de prti-ca instantnea. O conceito de sombra como um molde. uma maneira de simbolizar na linguagem o lado no reconhecido da personalidade e transmitir-lhe realidade, um significado para nos apegarmos e falar sobre nossas partes desconhecidas. A sombra se refere quela

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  • 8nossa poro que est sempre se alterando e mudando luz do ego consciente, queles nossos aspectos que no conseguimos trazer completamente percepo responsvel. Como indivduos e membros de uma cultura especfica, passamos o tempo todo selecio-nando e corrigindo experincias, criando um ideal do ser e do mundo baseado no ego. Quanto mais procuramos a luz, mais densa se torna a Sombra. Conhecemos a sombra por muitos nomes: lado sombrio, alter ego, o eu inferior, o ou-tro, o duplo, o gmeo da escurido, o eu repudiado, o eu reprimido, o id. Falamos em encontrar nossos demnios, lutar com o dia-bo (o diabo me faz fazer isso), uma descida ao submundo, uma noite escura da alma, uma crise da meia-idade. A sombra comea com a mais remota eman-cipao de um eu da grande unidade da conscincia de onde todos ns viemos. A formao da sombra corre paralelamente ao

  • 9desenvolvimento do ego. O que no combi-na com o desenvolvimento do nosso ego ideal nosso pensamento idealizado do ser, reforado individualmente pela famlia e pela cultura torna-se sombra. O poeta e escritor Robert Bly chama a sombra de o grande saco que arrastamos atrs de ns. At os vinte anos, passamos a vida decidindo quais as partes de ns mesmos que vamos pr no saco, diz Bly, e o resto do tempo ficamos tentando tir-las de l. Voc prefere ser inteiro ou bom?, pergun-tou Jung, a pessoa que cunhou o termo po-tico sombra e moldou esse conceito para nossa poca. Jung prestou ateno especi-almente no trabalho de integrao da som-bra, sugerindo que era uma iniciao vida psicolgica a tarefa do aprendiz, como ele a chamou -, um conhecimento essencial para nossa prpria realizao. A realizao da sombra um problema eminentemente pr-tico, disse ele, que no deveria ser desvia-do para uma atividade intelectual, porque

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  • 10tem muito mais o significado de um sofri-mento e uma paixo que engloba a pessoa inteira. A terapia da sombra, como Debbie Ford des-creve to claramente neste livro, se refere a um processo contnuo de despolarizao e equilbrio, de sanar a ruptura existente entre nosso sentido consciente do ser e tudo o mais que somos ou deveramos ser. Como a prtica chamada Caminho do Meio, no bu-dismo, a integrao da sombra nos d uma conscincia unificada que nos permite redu-zir a inibio da sombra ou os potenciais destrutivos, liberando as energias vitais reti-das que so vislumbradas nas aparncias e posturas exigidas para encobrir o que no conseguimos aceitar em ns mesmos. Esse trabalho traz benefcios que vo alm da es-fera pessoal e capaz de agir para o bem coletivo no seu sentido mais amplo. Se equi-librarmos as tenses que brotam no nosso prprio jardim, os efeitos disso se espalharo por todos os campos da terra.

  • 11 No podemos deixar de dar valor a um livro sobre a sombra. um presente arduamente conseguido, o tesouro do conhecimento arrancado dos deuses, muitas vezes com um grande e herico sacrifcio. Um livro sobre a sombra no se destina apenas nossa men-te, mas mais bem entendido por nosso corao e nossa imaginao. O Lado Sombrio dos Buscadores da Luz vinho velho em novos odres. Ele conserva o paladar e o buqu. A embalagem contem-pornea, um processo de integrao da sombra adequado aos nossos tempos. De-vemos aceitar o conselho de Debbie Ford e, aqui no incio, sacralizar nosso prprio traba-lho com a sombra como uma oferenda ao que h de mais alto em ns: ao amor, pie-dade, tarefa do corao. Como nos recorda o sbio esprito do I Ching, ou Livro das Mu-taes:

  • 12Apenas quando tiver a coragem de enca-

    rar as coisas exatamente como elas so, sem enganar a ns mesmos nem nos iludir, surgi-r uma luz dos acontecimentos, permitindo

    que o caminho do sucesso seja reconhecido.

    I Ching Hexagrama 5, Hs, Espera (Nutrio)

    PREFCIO

    Quando eu era criana, no me sentia bem comigo mesmo. De fato, havia momentos em que eu realmente detestava ser quem eu era. Acreditava que era o nico menino no mundo to desajeitado, to incapaz de fazer amigos e to ridicularizado pela confraria de colegas da qual eu, desesperadamente e to sem sucesso -, ansiava por fazer parte. As coisas no mudaram muito quando me tornei adulto. Sim, pensei que fosse tomar um novo rumo. At me mudei para uma no-

  • 13va cidade, onde ningum me conhecia. Onde ningum ficaria sabendo da minha tendncia infantil de me vangloriar para compensar a falta de confiana em mim mesmo. Ningum teria visto o que os adultos da minha infncia chamavam de meu es-touvamento. E ningum saberia sobre meu hbito de ser invasivo, enchendo o ambien-te com minha presena a ponto de ningum mais sentir que tinha espao para aparecer. Meu desajustamento social jamais seria des-coberto. Bom, percebi que no adiantava me mudar de cidade, j que eu iria junto. At que chegou o dia em que descobri a mim mesmo, num retiro de crescimento individual organizado pelo departamento pessoal da empresa em que eu trabalhava. A coordena-dora do retiro me disse alguma coisa que eu jamais esquecerei.

  • 14Tudo aquilo que voc chama de erros, todas as coisas de que voc no gosta a res-peito de si mesmo so seus maiores trun-fos, disse ela. Eles somente esto amplifi-cados acima do desejado. O boto do volu-me foi girado um pouco a mais do que deve-ria, s isso. Basta abaixar um pouco. Logo, voc e todos os demais ver sua fraque-za como sua fortaleza, seus pontos negati-vos como positivos. Eles se tornaro exce-lentes instrumentos, prontos para trabalhar a seu favor, em vez de contra. Tudo o que vo-c tem a fazer aprender a invocar esses traos de personalidade em doses apropria-das para o momento. Calcule qual a quan-tidade necessria de suas maravilhosas qua-lidades e no libere nada alm disso. Senti como se tivesse sido atingido por um raio. Nunca ouvi nada parecido, e ainda as-sim sentia instintivamente que era verdade. Minha bazfia no era nada mais do que confiana amplificada. O que as pessoas chamavam de estouvamento ou impru-

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  • 15dncia em minha juventude no era nada alm de espontaneidade e pensamento posi-tivo, tambm ampliados alm do exigido. E a atitude invasiva era apenas minha capacida-de de liderana, minha agilidade verbal e minha disposio para vencer todas colo-cadas trs pontos acima do necessrio. Percebi que todos esses aspectos do meu ser eram qualidades pelas quais eu fora elogiado vez por outra. No era de admirar que eu ficara confuso! Foi s ento, quando olhei para o lado da sombra e vi com clareza por que os outros algumas vezes chamavam meus comporta-mentos de negativos, que tambm percebi o benefcio de cada um deles. Tudo o que eu tinha a fazer era empregar esses compor-tamentos de forma diferente e no reprimi-los nem rejeit-los. Simplesmente us-los de maneira diferente.

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  • 16Eu agora entendo a extraordinria impor-tncia de levar uma vida completa. Isto , permitir a mim mesmo, em primeiro lugar, perceber e, ento, fundir todos os aspectos que me compem aqueles que eu e os ou-tros chamamos de positivos e aqueles que chamamos de negativos em um magnfi-co Todo. Por meio desse processo, finalmente fiz ami-gos. Mas como demorou para chegar nesse ponto! E como o processo teria sido mais rpido se eu tivesse tido a revelao das vi-ses profundas e da maravilhosa sabedoria deste livro de Debbie Ford. Leia este livro cuidadosamente. Leia-o uma vez, e outra vez ainda. E, ento, leia-o uma terceira vez para chegar medida certa. Fa-a os exerccios sugeridos nele. Eu desafio voc. Eu o desafio duplamente.

  • 17Mas no leia o livro nem faa os exerccios sugeridos nele se no quiser que sua vida mude. Feche o livro neste minuto. Ponha-o na prateleira mais alta de sua estante, onde nunca mais possa alcan-lo. Ou d o livro a um amigo. Porque ser praticamente impos-svel l-lo sem sentir mudanas em sua vida. Acredito que a vida deve ser levada com ab-soluta visibilidade; o que significa com trans-parncia total. Nada escondido, nada nega-do. Nem mesmo a parte de mim mesmo pa-ra a qual no desejo olhar, muito menos co-nhecer. Se concordar comigo em que a visibilidade a chave da autenticidade e que a autenticidade a porta de acesso ao seu Verdadeiro Eu, voc agradecer a Debbie Ford do fundo do corao por este livro, por-que ele o conduzir quela entrada, atrs da qual se encontra a alegria duradoura, a paz interior e onde seu amor-prprio ocupar um lugar to vasto que voc finalmente encon-trar espao para amar os outros incondicio-nalmente.

  • 18 E, uma vez iniciado esse ciclo, voc no s mudar a sua vida, mas comear verdadei-ramente a transformar o mundo.

    Neale Donald Walsch Ashland, Oregon

  • 19Captulo 1

    Mundo Exterior, Mundo Interior

    A maioria das pessoas abandona o caminho do crescimento individual porque em algum ponto a carga da dor se tornou pesada de-mais para ser suportada. O Lado Sombrio dos Buscadores da Luz revela como desmas-carar aquele determinado aspecto de cada um que destri os relacionamentos, mata o esprito e nos impede de realizar nossos so-nhos. aquilo a que o psiclogo Carl Jung chamou de sombra. Contm todas as nos-sas facetas que tentamos esconder ou ne-gar; os aspectos sombrios que julgamos no serem aceitveis para a famlia, para os ami-gos e, mais importante, para ns mesmos. O lado sombrio est calcado profundamente em nossa conscincia, escondido de ns e dos outros. A mensagem transmitida desse local oculto simples: h alguma coisa erra-da comigo. No estou bem. No sou atraen-te. No mereo ser bem-sucedido. No tenho valor.

    Fabiano WernerTypewriter

  • 20 Muitos de ns acreditamos nessas mensa-gens. Cremos que, se olharmos bem de per-to o que jaz nas profundezas do nosso ser, acharemos alguma coisa horrvel. Evitamos nos aprofundar com medo de descobrir al-gum com quem no consigamos conviver. Temos medo de ns mesmos. Tememos qualquer pensamento ou sentimento que tenhamos recalcado em algum momento. Diversas pessoas esto de tal forma incons-cientes desse medo que s conseguem vis-lumbr-lo quando refletido. Ns o projeta-mos no mundo, na famlia, nos amigos e em estranhos. O medo est arraigado to pro-fundamente que a nica maneira de lidar com ele escond-lo ou neg-lo. Ns nos tornamos grandes impostores que enganam a si mesmos e aos outros. Somos to bons nisso que realmente esquecemos que esta-mos usando mscaras para esconder nossas personalidades autnticas. Acreditamos que somos as pessoas que vemos no espelho ou que somos nosso corpo e nossa mente.

  • 21Mesmo depois de anos observando nossos relacionamentos, carreiras, dietas e sonhos fracassarem, continuamos a abafar essas mensagens internas perturbadoras. Dizemos a ns mesmos que estamos bem e que as coisas vo melhorar. Colocamos vendas nos olhos e abafadores nos ouvidos para poder manter vivas as historias que criamos. No estou bem. No sou atraente. No mereo ser bem-sucedido. No tenho valor. Em vez de tentar suprimir nossas sombras, precisamos revelar, reconhecer e assumir as coisas que mais tememos encarar. Ao em-pregar a palavra reconhecer, estou me re-ferindo a ter conhecimento de que uma de-terminada caracterstica pertence a voc. A sombra que detm as pistas, diz o conse-lheiro espiritual e escritor Lazaris. Ela tam-bm possui o segredo da mudana, mudana que pode chegar ao plano celular ou at mesmo afetar o seu DNA. Nossas sombras so detentoras da essncia daquilo que so-mos; guardam os nossos bens mais precio-

  • 22sos. Ao encarar esses aspectos de ns mesmos, ficamos livres para viver nossa glo-riosa totalidade: o lado bom e o mau, a es-curido e a luz. Ao assumir tudo o que so-mos, alcanamos a liberdade para decidir o que fazer neste mundo. Enquanto continu-armos a esconder, mascarar e projetar o que est em nosso interior, no teremos liberda-de de ser nem de escolher. Nossas sombras existem para nos ensinar, guiar e abenoar com nosso eu completo. So fontes que devem ser expostas e explo-radas. Os sentimentos que abafamos esto ansiosos para se integrar a ns mesmos. Eles so prejudiciais apenas quando reprimidos: podem surgir de repente nas ocasies menos oportunas, e seus botes repentinos vo inca-pacit-lo nas reas mais importantes da sua vida. Sua vida se transformar quando voc fizer as pazes com sua sombra. A lagarta se tor-nar, surpreendentemente, uma linda borbo-

  • 23leta. Voc no precisar mais fingir ser algum que no . No ser mais necessrio provar que voc o mximo. Quando assu-mir sua sombra, voc deixar de viver num constante estado de temor. Descubra os dons da sua sombra e finalmente voc reve-lar seu verdadeiro eu em toda a sua glria e ter a liberdade para criar o tipo de vida que sempre quis. Toda pessoa nasce com um sistema emocio-nal saudvel. Ao nascer, nos amamos e nos aceitamos, sem fazer julgamentos sobre quais so as nossas partes boas e quais as ruins. Ocupamos a integridade do nosso ser, vivendo o momento e expressando livremen-te o nosso eu. medida que crescemos, co-meamos a aprender com as pessoas nos-sa volta. Elas nos dizem como agir, quando comer, quando dormir, e comeamos a fazer distines. Aprendemos quais so os com-portamentos que nos garantem aceitao e quais os que provocam rejeio. Aprendemos ao conseguir uma resposta imediata ou

  • 24quando nossos apelos no so atendidos, da mesma forma que passamos a confiar nas pessoas que nos rodeiam ou a odi-las. A-prendemos o que consistente e aquilo que contraditrio; quais as caractersticas acei-tveis em nosso meio e as que no o so. Tudo isso nos desvia da possibilidade de vi-ver o momento e impede que nos expresse-mos livremente. Precisamos reviver a experincia da nossa fase de inocncia que nos permite aceitar tudo o que somos a cada momento, pois s dessa forma teremos uma existncia saud-vel, feliz e completa. Esse o caminho. No livro de Neale Donald Walsch, Conversando com Deus, Deus diz: O amor perfeito est para o sentimento co-mo o branco total est para a cor. Muitos pensam que o branco a ausncia de cor, mas no . Na verdade, a abrangncia de todas as cores. O branco feito de todas as cores combinadas. Assim tambm, o amor

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  • 25no a falta de emoo (dio, raiva, de-sejo, cime, dissimulao) mas a soma de todos os sentimentos. a soma total, o

    montante agregado, o todo. O amor abrangente: aceita toda a ordem de emoes humanas as emoes que es-condemos e aquelas que tememos. Jung disse, certa vez: Prefiro sentir-me inteiro do que ser bom. Quantos de ns traram a si mesmos para serem bons, amados e aceitos? A maioria das pessoas foi educada para a-creditar que tem boas e ms qualidades, portanto, para serem aceitas, so obrigadas a se livrar das ms qualidades ou, pelo me-nos, a ocult-las. Essa maneira de pensar ocorre quando comeamos a individualizar as coisas, como o caso do momento em que passamos a distinguir nossos dedos das gra-des do bero e percebemos a diferena entre ns e nossos pais. Mas, medida que cres-cemos, nos damos conta de uma verdade ainda maior que espiritualmente estamos

  • 26todos ligados. Todos ns fazemos parte de cada pessoa. Desse ponto de vista, devemos perguntar se realmente h partes boas e ms em ns mesmos. Ou so todas partes necessrias para formar um todo? Como sa-ber o que bom sem conhecer o que mau? Como reconhecer o amor sem viver o dio? Como podemos ser corajosos sem ter sentido medo? O modelo hologrfico do Universo nos d uma viso revolucionaria da relao entre o mundo interior e o exterior. Segundo essa teoria, cada pedao do Universo, no impor-ta em quantas fatias ns o dividirmos, con-tm a inteligncia do todo. Ns, como seres humanos, no estamos isolados e dispersos. Cada pessoa um microcosmo que reflete e contm o macrocosmo. Se isso for verda-de, diz o pesquisador de mentes Stanislav Grof, ento todos ns temos potencial para ter acesso experimental, direto e imediato a virtualmente qualquer aspecto do Universo, estendendo nossas capacidades bem alm

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  • 27do alcance de nossos sentidos. A marca impressa do Universo inteiro est contida em todos ns. Como declara Deepak Chopra, No estamos no mundo, mas o mundo est dentro de ns. Cada um possui todas as qualidades humanas. Podemos ser tudo a-quilo que vemos ou concebemos, e o prop-sito da nossa jornada restaurar a integri-dade individual. O santo e o cnico, o divino e o diablico, o corajoso e o covarde: todos esses aspectos permanecem latentes em ns e vo agir, se no forem reconhecidos e integrados em nossa psique. Muitas pessoas tm medo tan-to da luz quanto da escurido; temem olhar para dentro de si mesmas, e o temor levanta muros to espessos que perdemos a noo de quem realmente somos. O Lado Sombrio dos Buscadores da Luz trata do trabalho a ser feito para atravessar esses muros, derrubar as barreiras que constru-mos e olhar, talvez pela primeira vez, para

  • 28verificar quem realmente somos e o que estamos fazendo aqui. Ao ler este livro, voc embarcar numa viagem que mudar sua maneira de enxergar a si mesmo, os outros e o mundo, abrir seu corao e o encher de respeito e compaixo por sua prpria huma-nidade. O poeta persa Rumi dizia: Por Deus, quando voc enxerga sua prpria beleza, torna-se o dolo de si mesmo. Nestas pgi-nas, apresento um processo para voc des-cobrir o seu verdadeiro eu. Jung, antes de mais nada, usou a palavra sombra para se referir quelas partes da nossa personalidade que foram rejeitadas por medo, ignorncia, vergonha ou falta de amor. Sua noo bsica de sombra era sim-ples: a sombra aquela pessoa que voc no gosta de ser. Ele acreditava que a inte-grao da sombra causaria um impacto pro-fundo, capacitando-nos a redescobrir uma fonte mais profunda da nossa prpria vida espiritual. Para fazer isso, disso Jung, so-mos obrigados a lutar com o mal, confrontar

  • 29a sombra, para integrar o diabo. No te-mos outra escolha. Voc precisa mergulhar na escurido para trazer para fora a sua luz. Quando reprimi-mos qualquer sentimento ou impulso, tam-bm estamos reprimindo seu plo oposto. Ao negar nossa fealdade, perdemos nossa bele-za. Se negamos nosso medo, minimizamos nossa coragem. Se nos recusamos a ver nos-sa ganncia, reduzimos nossa generosidade. Nossa grandeza completa maior do que conseguimos conceber. Se voc acreditar, como eu, que temos a marca impressa de toda a humanidade dentro de ns, ento ser capaz de ser a pessoa mais admirvel que j conheceu, e, ao mesmo tempo, o pior ser que j chegou a imaginar. Este livro o ensinar a fazer as pazes com esses aspec-tos s vezes contraditrios de voc mesmo. Meu amigo Bill Spinoza, um instrutor de gru-po de estudos superiores da Landmark Edu-cation, diz: Aquilo com que voc no conse-

  • 30gue coexistir no o deixar existir. Voc precisa aprender a deixar que tudo o que voc exista. Se quiser ser livre, antes de tudo tem de ser. Isso significa que preci-samos parar de nos julgar. Devemos nos perdoar por sermos humanos, imperfeitos. Porque, ao nos julgar, estamos automatica-mente julgando os outros. E o que fazemos com os outros fazemos com ns mesmos. O mundo um espelho de ns mesmos. Quan-do conseguimos nos aceitar e nos perdoar, fazemos a mesma coisa com os outros. Essa foi, para mim, uma dura lio a ser aprendi-da. Treze anos atrs, acordei deitada no cho frio de mrmore do meu banheiro. Meu cor-po doa e meu hlito cheirava mal. Quando me levantei e olhei no espelho, percebi que no poderia continuar assim. Estava com 28 anos e ainda esperava que algum apareces-se para cuidar de mim at que eu melhoras-se. Mas, naquela manh, me dei conta de que ningum viria. Nem minha me, nem

  • 31meu pai, nem meu prncipe encantado montado no seu cavalo branco. Eu estava numa encruzilhada, no vcio das drogas. Sa-bia que em breve teria de escolher entre a vida e a morte. Ningum poderia fazer essa escolha por mim. Ningum mais poderia a-fastar meu sofrimento. Ningum seria capaz de me ajudar at que eu fizesse isso comigo mesma. A mulher diante do espelho me cau-sou um choque. Percebi que no tinha idia de quem era ela, como se a estivesse vendo pela primeira vez. Cansada e assustada, fui at o telefone e pedi ajuda. Minha vida mudou drasticamente. Naquela manh, decidi ficar bem, sem me importar com quanto tempo isso levaria. Depois de terminar um programa de tratamento de 28 dias, estabeleci uma verdadeira odissia para me recuperar por dentro e por fora. Parecia uma tarefa monstruosa, mas eu no tinha escolha. Cinco anos mais tarde, e tendo gas-to aproximadamente 50.000 dlares, tornei-me uma pessoa diferente. Tinha me livrado

  • 32dos meus vcios, trocado de amigos e mu-dado meus valores; porm, quando estava em silncio, meditando, eu sentia que ainda havia partes de mim que no estavam bem, das quais queria me livrar. O problema que eu ainda me odiava. Parecia inacreditvel que uma pessoa possa freqentar grupos de terapia durante 11 a-nos, encontros de grupos de recuperao de viciados, fazer tratamentos para dependn-cia, consultar hipnotizadores e acupunturis-tas, tentar a experincia de renascimento, participar de grupos de transformao, reti-ros budistas e sufistas, ler centenas de livros, assistir a fitas de visualizao e meditao e ainda detestar uma parte do que ela . Ape-sar de gastar um tempo enorme e aquela elevada quantia de dinheiro, percebi que eu tinha muito trabalho pela frente. Finalmente, tive um estalo. Eu estava em um seminrio intensivo de liderana conduzido por uma mulher chamada Jan Smith. A certa

  • 33altura, eu estava falando em p, diante de um grupo, quando de repente Jan olhou pa-ra mim e disse: Voc mandona. Meu co-rao afundou. Como ela sabia? Eu tinha conscincia de que era assim, mas estava tentando desesperadamente me livrar dessa parte do meu ser. Havia me empenhado bas-tante para ser doce e generosa a fim de compensar esse horrvel trao de carter. Ento, sem emoo, Jan me perguntou por que eu odiava essa parte de mim mesma. Sentindo-me pequena e idiota, disse-lhe que era a parte que me causava mais vergonha, que o fato de ser mandona s me causara outros sofrimentos. Jan, ento afirmou: O que voc no assume toma conta de voc. Eu conseguia perceber como estava domina-da pela idia de ser mandona, preocupava-me o tempo todo essa faceta do meu car-ter, mas ainda no queria assumir isso. O que h de bom em ser mandona?, ela me perguntou. Tanto quanto eu podia perceber, no havia nada de bom nisso. Mas ela disse,

  • 34ento: Se voc estivesse construindo uma casa, os empreiteiros houvessem estourado o oramento e a obra apresentasse um atra-so de trs semanas, voc acha que ajudaria ser um pouquinho mandona? Evidentemen-te, eu concordei. Quando voc precisa de-volver mercadorias em seu trabalho, ajuda ser durona, s vezes? Mais uma vez, con-cordei. Jan me perguntou se eu conseguira perceber que, s vezes, ser mandona no s til, mas uma grande qualidade com a qual podemos contar em determinadas situ-aes. De repente, essa parte mim mesma que eu tentara desesperadamente esconder, negar e suprimir ficou liberada. Todo o meu corpo pareceu diferente. Era como se eu tivesse tirado um enorme peso de meus ombros. Jan havia captado esse aspecto da minha personalidade e me mostrara que isso era um talento, e no algo de que devesse me envergonhar. Se eu permitisse que essa parte existisse, no precisaria mais represen-tar. Seria capaz de us-la, em vez de ser usada por ela.

  • 35 Depois desse dia, minha vida nunca mais foi a mesma. Mais uma pea do quebra-cabea da recuperao havia se encaixado. Aquilo a que voc resiste, persiste. Eu escutara isso tantas vezes, mas jamais entendera por completo a profundidade dessa afirmao. Ao resistir mandona que existia em mim, eu mantivera isso trancado. No momento em que aceitei essa condio e a vi como um dom, afrouxei minha resistncia, e isso dei-xou de ser um problema e tornou-se uma parte saudvel e natural do meu ser. Agora, no preciso ser mandona o tempo todo, mas, nas ocasies apropriadas, como acon-tece s vezes no mundo em que vivemos, posso usar essa qualidade para me proteger. Esse processo me pareceu milagroso, por isso fiz uma lista de todas as partes de mim mesma das quais no gostava e trabalhei para descobrir o lado bom delas. To logo fui capaz de perceber os valores positivos e ne-gativos de cada aspecto meu, consegui dimi-

  • 36nuir minhas resistncias e deixar que es-sas partes existissem livremente. Ficou evi-dente que esse processo no se destina a nos livrar de coisas das quais no gostamos em ns mesmos, mas a fazer-nos descobrir o lado positivo desses aspectos e integr-los em nossa vida. Este livro um guia para a sua jornada. Ele contm as idias essenciais de um curso que desenvolvi ao longo dos anos para ajudar voc a revelar sua sombra, apossar-se dela e assumi-la. Comearei definindo a sombra detalhadamente e explorando sua natureza e seus efeitos. Examinarei, ento, o fenmeno essencial da sombra, a projeo, que a forma de negarmos partes essenciais de ns mesmos quando as rejeitamos. Depois de considerar um novo modelo para compreen-der nossa vida interior e exterior o modelo hologrfico do Universo -, podemos comear a agir, aplicando o que aprendemos para revelar as faces ocultas do nosso lado som-brio. Empreenderemos em seguida a tarefa

  • 37de nos apossar das qualidades da nossa sombra, responsabilizando-nos por elas, a-prendendo quais so os instrumentos espec-ficos para incorporar a sombra e descobrir os talentos dela e como possvel recuperar o poder sobre partes nossas que entregamos aos outros. Finalmente, exploraremos os ca-minhos que nos do condies de nos a-marmos e nos nutrirmos e os instrumentos prticos que nos permitem manifestar nossos sonhos e criar uma vida que merea ser vivi-da. Muita gente perde muito tempo em busca da luz e acaba encontrando escurido. Uma pessoa no se torna iluminada ao imaginar figuras de luz, diz Jung, mas ao tomar conscincia da escurido. O Lado Sombrio dos Buscadores da Luz, vai gui-lo em seu caminho para revelar sua sombra, para a-propriar-se dela e para assumi-la. Ele lhe proporcionar o conhecimento e os instru-mentos para trazer luz aquilo que jaz den-tro de voc. Vai ajud-lo a recuperar o seu

  • 38potencial, a sua criatividade, o seu brilhan-tismo e os seus sonhos. Vai abrir seu cora-o para voc e para os outros, alm de alte-rar para sempre o seu relacionamento com o mundo.

  • 39Captulo 2

    Em Busca da Sombra A sombra se apresenta com muitas faces: aterrorizada, ambiciosa, zangada, vingativa, maligna, egosta, manipulativa, preguiosa, controladora, hostil, feia, subserviente, vul-gar, fraca, crtica, censora... A lista inter-minvel. Nosso lado sombrio age como um depsito para todos esses aspectos inaceit-veis do nosso ser todas as coisas que pre-tendemos no ser e todos os aspectos que nos causam embaraos. Essas so as faces que no queremos mostrar ao mundo nem a ns mesmos. Tudo o que odiamos, a que resistimos ou que rejeitamos no nosso ser assume vida prpria, sem levar em conta o que sentimos como sendo nossos valores. Quando nos en-contramos face a face com nosso lado som-brio, nossa primeira reao fugir, e a se-gunda negociar com ele para que nos dei-xe em paz. Muitas pessoas j perderam tem-

  • 40po e gastaram dinheiro justamente para fazer isso. Ironicamente, so os aspectos escondidos que rejeitamos os que mais ne-cessitam de ateno. Ao trancar as partes das quais no gostamos, sem saber estamos enterrando nossos mais valiosos tesouros. Esses valores esto ocultos onde menos es-peraramos encontr-los. Esto ocultos na escurido. Esses tesouros tentam emergir desespera-damente e chamar nossa ateno, mas es-tamos condicionados a recalc-los. Como bolas gigantes mantidas debaixo dgua, esses aspectos irrompem superfcie toda vez que aliviamos a presso. Ao tomar a de-ciso de no deixar que algumas partes de ns mesmos existam, somos obrigados a gastar enormes quantidades de energia para mant-las submersas. O poeta e escritor Robert Bly descreve a sombra como uma mochila invisvel que cada um de ns carrega s costas. medida que

  • 41crescemos, vamos guardando na mochila todas as nossas caractersticas que no so aceitas pela famlia e pelos amigos. Bly acre-dita que passamos as primeiras dcadas de vida enchendo a mochila e que gastamos o resto da vida tentando recuperar o que pu-semos na mochila para aliviar o fardo. A maioria das pessoas tem medo de encarar e assumir o seu lado sombrio, mas l na escurido que voc encontrar a felicidade e a sensao de estar completo com que vem sonhando h tanto tempo. Quando voc usa o seu tempo para se descobrir por inteiro, abre as portas do verdadeiro esclarecimento. Uma das armadilhas da Era da Informao a sndrome do j conheo isso. Com fre-qncia, o conhecimento nos impede de vi-ver a experincia em nosso corao. O traba-lho com a sombra no intelectual; uma viagem da mente ao corao. Diversas pes-soas que trilham o caminho do aperfeioa-mento individual acreditam que completaram o processo, mas so incapazes de enxergar a

  • 42verdade sobre si mesmas. Muitos de ns almejam ver a luz e viver na beleza do seu eu mais elevado, mas tentamos fazer isso sem integrar todo o nosso ser. No podemos ter a experincia completa da luz sem co-nhecer a escurido. O lado sombrio o por-teiro que abre as portas para verdadeira li-berdade. Todos devem estar atentos para explorar e expor continuamente esse aspecto do ser. Quer voc goste ou no, sendo hu-mano, voc tem uma sombra. Se no conse-gue v-la, pergunte a algum da famlia ou s pessoas com quem trabalha. Elas vo in-dic-la para voc. Pensamos que nossas mscaras mantm nosso eu interior escondi-do, mas, todas as vezes que nos recusamos a reconhecer aspectos nossos e quando me-nos esperamos, ele d um jeito de erguer a cabea e fazer-se conhecido. Assumir um aspecto de si mesmo significa am-lo permitir que ele conviva com todos os outros aspectos, no o considerando nem mais nem menos do que qualquer um dos

  • 43outros. No basta dizer: Sei que sou con-troladora. necessrio perceber o que a controladora tem a nos ensinar, quais os be-nefcios que traz, e ento devemos ser capa-zes de v-la com respeito e compaixo. Vivemos sob a impresso de que para algo ser divino tem de ser perfeito. Estamos erra-dos, na verdade, o correto o oposto. Ser divino ser inteiro, e ser inteiro ser tudo: o positivo e o negativo, o bom e o mau, o san-to e o diabo. Quando destinarmos um tempo para descobrir nossa sombra e seus talentos, compreenderemos o que Jung queria dizer com: O ouro est na escurido. Cada um de ns precisa achar esse ouro para juntar ao seu eu sagrado. Na minha infncia, diziam-me que existem duas espcies de pessoas: as boas e as ru-ins. Como muitas crianas, trabalhei para exibir minhas boas qualidades e me esforcei para esconder as ms. Queria desesperada-mente me livrar de todas as partes do meu

  • 44ser que eram inaceitveis para minha me, meu pai, minha irm e meu irmo. Quando eu j estava um pouco mais velha, outras pessoas entraram em minha vida com todas as suas opinies, e percebi que teria de esconder ainda mais coisas que faziam parte de mim mesma. noite, eu costumava ficar acordada imagi-nando porque eu era uma garota to ruim. Como era possvel que eu houvesse sido a-maldioada com tantos defeitos? Preocupa-va-me com meu irmo e minha irm, que tambm tinham muitas deficincias a superar no momento em que qualquer um de ns mostrasse a menor falha, estaramos em a-puros. Diziam-me que as pessoas que esta-vam na cadeia haviam ido para l porque tinham defeitos que os puseram em dificul-dades. Eu queria me assegurar que no aca-baria olhando minha famlia e meus amigos por trs das grades. Logo imaginei que a melhor forma para ser aceita era esconder meus aspectos indesejveis, o que s vezes

  • 45significava ser obrigada a mentir. Meu so-nho era ser perfeita para que eu fosse ama-da. Assim, quando no escovava os dentes, eu mentia; quando comia alm da parte que me cabia dos biscoitos, eu mentia; e quando batia em minha irm, eu mentia. Assim, aos 3 ou 4 anos de idade, eu j no percebia que mentia, porque estava mentindo para mim mesma. Diziam-me: no seja brava, no seja egosta, no seja mesquinha, no seja gulosa. No seja foi a mensagem que guardei dentro de mim. Comecei a acreditar que era m porque s vezes eu era mesquinha ou ficava brava ou, ento, queria todas as bolachas. Achava que, para sobreviver em minha famlia e nes-te mundo, eu teria de me livrar desses im-pulsos. Foi isso que eu fiz. Aos poucos, eu os expulsei para lugares to remotos da minha mente que me esqueci completamente de que eles estavam l.

  • 46Essas ms qualidades tornaram-se mi-nha sombra. E, quanto mais velha eu ficava, mais para trs eu as empurrava. Quando chequei adolescncia, tinha reprimido tanto de mim mesma que me tornara uma bomba-relgio ambulante esperando para explodir em cima de qualquer um que cruzasse meu caminho. Juntamente com as minhas cha-madas ms qualidades, eu tambm sufoca-ra seus opostos positivos. Nunca pude viver o meu eu bonito, porque perdi muito tempo tentando esconder minha fealdade. Jamais me senti boa em relao minha generosi-dade, porque era apenas uma mscara para encobrir minha mesquinhez. Mentia sobre quem eu era, e mentia a mim mesma sobre o que eu era capaz de realizar. Perdera o acesso a tudo que eu era. Como eu trabalhara com tanto afinco para me reprimir, no tinha pacincia com os ou-tros que estivessem expondo suas imperfei-es. Tornei-me intolerante e crtica. Diante do meu julgamento, ningum era bom o bas-

  • 47tante, o mundo era um lugar terrvel e todos estavam metidos em encrenca. Eu a-chava que o meu problema surgira porque eu nascera na famlia errada, tivera os ami-gos errados, meu rosto e meu corpo no eram o que deveriam ser, eu morava na ci-dade errada e freqentava a escola errada. Eu acreditava, verdadeiramente, do fundo do corao, que essas circunstncias externas eram a causa da minha solido, da minha raiva e da minha insatisfao. Eu pensava: Se eu, pelo menos, houvesse nascido rica como merecia, tivesse morado na Europa e freqentado melhores escolas...Ou se, pelo menos, tivesse as roupas certas e uma pol-puda conta bancria, meu mundo seria ma-ravilhoso. Todos os meus problemas desapa-receriam. Eu cara na armadilha to conhecido do se pelo menos. Se pelo menos isso fosse como aquilo, tudo estaria bem. Eu estaria bem. Essa iluso no durou muito. Quando a fan-tasia se extinguiu, eu me deparei com meu

  • 48pior pesadelo. Descobri que tudo o que eu era... era eu: uma mulher magricela, imper-feita, de classe mdia, zangada e egosta. Levei 17 anos para chegar a um acordo a respeito de tudo o que eu sou. O lado bri-lhante e o belo, o falho e o imperfeito. E at hoje ainda h aspectos que precisam ser trabalhados. A razo para trabalharmos a sombra que s assim conseguiremos nos sentir inteiros, poremos um fim ao sofrimento e deixaremos de nos esconder do resto do mundo. Nossa sociedade nutre a iluso de que todas as recompensas vo para os que so perfeitos. Mas muitos esto percebendo que tentar ser perfeito muito custoso. As conseqncias de tentar se equipar pessoa perfeita po-dem nos destruir fsica, mental, emocional e espiritualmente. Tenho trabalhado com tan-tas pessoas boas que sofrem de males diver-sos... vcios, depresso, insnia e problemas em seus relacionamentos. Pessoas que nun-ca ficam bravas, jamais se colocam em pri-

  • 49meiro lugar, nem mesmo rezam por si mesmas. Algumas partes de seus corpos es-to tomadas pelo cncer e elas no sabem por qu. Enterrados em seus corpos, soca-dos no fundo de suas mentes, esto todos os seus sonhos, sua raiva, sua tristeza e seus desejos. Elas foram criadas para se colocar por ltimo, porque o que fazem as pessoas de bem. A coisa mais difcil para elas se libertar desse condicionamento e descobrir quem so, na verdade. Porque elas merecem amar a si mesmas, receber perdo e com-paixo e tambm poder expressar sua raiva e seu egosmo. Dentro de ns mesmos, possumos todas as caractersticas e seu plo oposto, todas as emoes e impulsos. Temos de nos revelar, apropriar-nos do que somos e incorporar tudo isso: o bom e o mau, a escurido e a luz, o forte e o fraco, o honesto e o desones-to. Se voc pensa que fraco, precisa ir em busca do seu oposto e descobrir sua fora. Se voc dominado pelo medo, deve mergulhar e encontrar sua coragem. Se voc

  • 50gulhar e encontrar sua coragem. Se voc uma vtima, tem que encontrar o algoz dentro de si mesmo. seu direito de nas-cena ser inteiro: ser por completo. Basta apenas uma mudana em sua percepo, uma abertura em seu corao. Quando voc diz eu sou isso para o aspecto mais pro-fundo, mais sombrio de voc mesmo, ento est apto a alcanar a verdadeira luz. Apenas quando aceitamos inteiramente a escurido somos capazes de assumir a luz. Ouvi dizer que o trabalho da sombra a trilha do guer-reiro do corao. Ela nos leva a um lugar novo em nossa mente onde somos obrigados a abrir o corao para nosso eu completo e para toda a humanidade. Num seminrio recente, uma mulher se le-vantou chorando. Chamava-se Audrey e es-tava em desespero. Tinha pensamentos ter-rveis, ela admitiu, e estava envergonhada e embaraada com a possibilidade de cont-los, porque ento saberamos como ela era m. Depois de uma longa conversa, ela fi-

  • 51nalmente confessou que odiava a filha. Ela estava to inibida que eu mal conseguia ou-vir o que ela dizia. Ela repetia baixinho, v-rias vezes seguidas, a frase: Eu odeio a mi-nha filha. Todos os presentes olhavam para ela, alguns com pena, outros com horror. Trabalhei um pouco com Audrey, que estava tudo bem, se o que ela estava sentindo era dio. Ela precisava aceitar o dio que sentia pela filha. Perguntei quantas pessoas naque-la sala tinham filhos. Quase todos levanta-ram uma das mos. Pedi-lhes que fechassem os olhos e tentassem se lembrar de uma o-casio em que poderiam ter sentido dio de seus filhos. Todos descobriram que se lem-bravam de pelo menos uma vez em que isso tinha acontecido. Ento fiz com que eles i-maginassem que benefcio eles haviam ex-trado do dio. Alguns disseram sanidade; outros, amor; e outros disseram alvio e e-moo. Todos perceberam que no tinham tido nenhum controle sobre a emoo pro-

  • 52priamente dita. Mesmo quando no queri-am sentir dio, muitas vezes o sentiam. Ao ver que no estava sozinha, Audrey sen-tiu-se em condies de permitir-se ter dio, sem censura. Expliquei que todos ns preci-samos do dio para conhecer o amor, e que o dio s tem poder quando reprimido ou negado. Perguntei a Audrey o que acontece-ria se ela assumisse seus sentimentos de dio e esperasse para descobrir seus benef-cios em vez de reprimi-los. Ela ainda parecia envergonhada, cabisbaixa, e ento lhe contei uma histria. Certo dia, dois gmeos saram com o av para dar um passeio ao ar livre. Caminharam entre as rvores at que chegaram a uma antiga cocheira. Quando os meninos e o av entraram para explorar a cocheira, um dos garotos imediatamente comeou a reclamar: Vov, vamos sair daqui. Esta cocheira velha est cheirando a esterco de cavalo. O meni-no permaneceu perto da porteira, furioso

  • 53porque seus sapatos novos estavam sujos de esterco. Antes que o velho pudesse res-ponder, viu seu outro neto correndo alegre-mente entre as baias da cocheira. O que voc est procurando?, perguntou ele ao segundo menino. Por que est to feliz?. O garoto olhou para cima e disse: Com tanto esterco de cavalo, deve haver pelo menos um pnei por aqui. Agora, a sala estava em silncio. O rosto de Audrey parecia radiante. Ela comeava a perceber o benefcio de sua raiva o pnei nesse aspecto dela mesma. Essa mudana de percepo permitiu a liberao da energia negativa que ela carregara durante anos. Audrey percebeu que seus sentimentos de dio eram um mecanismo de defesa, que protegia seus limites junto s pessoas que ela amava. Mesmo tendo lhe causado uma dor muito grande, esse dio tambm fora o catalisador da jornada espiritual e servira de impulso para que ela procurasse exteriorizar sua verdade interior.

  • 54 Havia mais ouro para brotar. Duas semanas depois do curso, a filha de Audrey telefonou para ela. Como Audrey estava se sentindo bem em relao filha, assumiu o risco e lhe contou como se sentira naqueles ltimos a-nos. Audrey explicou-lhe como havia assu-mido aquele dio durante o curso, e, quando Audrey acabou de falar, a filha comeou a chorar. Chorou copiosamente, liberando anos de dor e de vazio, e expressou toda a raiva que sentira pela me. Quando acabou, con-vidou a me para almoar com ela. Sentadas em frente uma da outra, elas foram capazes de sentir a ligao especial que me e filha tm, e juraram solenemente que, dali em diante, iriam expressar toda e qualquer emo-o para que nada mais as afastasse de no-vo. Se Audrey no tivesse sido corajosa o sufici-ente para expressar seu dio, a recuperao no teria sido possvel. Tanto a me quanto a filha tinham tantas emoes reprimidas

  • 55que bastava estarem juntas num lugar para haver uma exploso. O dio precisava ser expresso e assumido, s assim seu bene-fcio seria revelado. O dom do dio de Au-drey era o amor, que deu a ela um relacio-namento novo, belo e honesto com a filha. Todos os aspectos do nosso ser tm um lado benfico. Todas as emoes e caractersticas que possumos nos mostram o caminho do esclarecimento, da unicidade. Todos ns te-mos uma sombra que parte da nossa reali-dade total, e essa sombra est presente para nos indicar em que ponto estamos incomple-tos. Ela nos ensina a ter amor, compaixo e perdo, no somente pelos outros, mas por ns mesmos. E, quando incorporamos nossa sombra, ela pode nos curar. No apenas nossa renegada escurido que encontra seu caminho nos recessos da nossa sombra. H uma sombra de luz, um lugar onde en-terramos nosso potencial, nossa competncia e nossa autenticidade. As partes sombrias da psique s so sombras quando esto repri-

  • 56midas e escondidas; quando as trazemos luz da mente e encontramos seus talentos sagrados, elas nos transformam. E ento ficamos livres. Durante um dos meus cursos, percebi isso claramente numa mulher que vivia mascando chicletes, era brigona e do contra; ela pare-cida ter um dane-se invisvel tatuado na testa. Pam questionava tudo, enquanto de-clarava firmemente que no tinha nenhum problema em aceitar seu lado sombrio. Ela tinha razo: a escurido era a zona em que ela se sentia vontade. No se importava de ser chamada de estourada ou autoritria. Pam considerava essas palavras elogiosas. Quando eu disse a Pam que ela era um do-cinho, ela olhou para mim com desgosto e total incredulidade. Eu? Um docinho? Nun-ca! Ela era totalmente incapaz de se ver como uma pessoa delicada, suave ou femini-na. Deixei-a sozinha, confiando em que, no decorrer do fim de semana, eu mostraria o caminho a ela. No dia seguinte, sentindo-me

  • 57segura o suficiente depois de um movi-mento catrtico de meditao, pedi a algu-mas pessoas que ficassem no meio do grupo para que fossem abraadas pelas restantes. Eu nunca havia feito isso antes, mas era evi-dente que Pam e algumas outras manti-nham-se estagnadas, no evoluam, e preci-savam de amor. Quando pusemos os braos em volta de Pam, ela desabou, gemendo inconsolavelmente e chamando pela me. Por mais de uma hora, um grupo de dez pes-soas ou mais ficou sentado consolando Pam. Enquanto ela extravasava anos de dor, solido e tristeza. Embora parecesse que as lgrimas dela ja-mais acabariam, Pam rendeu-se, afinal, e nos permitiu am-la incondicionalmente. Mais tarde, descobri que ela havia sido a-bandonada quando era criana e nunca se encontrara com sua me; no tinha nem mesmo uma foto sua do tempo de beb. Na verdade, ela contratara um detetive particu-lar, que tentara localizar sua me naqueles

  • 58ltimos anos. No ltimo dia do curso, Pam estava assumindo e incorporando suas quali-dades ternas e gentis. Todos se admiraram com a transformao dela. Exatamente uma semana depois, Pam teve notcias do deteti-ve e recebeu sua primeira foto de quando era beb. Duas semanas depois, ele localizou a me de Pam, e as duas conversaram pela primeira vez. Uma vez incorporada a sombra, ela pode ser curada. Quando est s, ela se converte em amor. Se o ouro se encontra na escurido, muitos de ns o tm procurado no lugar errado. Como Deepak Chopra diz, com freqncia: Dentro de cada ser humano h deuses e deusas em embrio, com um nico desejo: eles querem nascer. Ansiamos por ver as sementes da nossa divindade florescer, mas esquecemos que toda semente necessita de solo frtil para crescer. Aquele lugar escuro, terroso e essencial dentro de ns nossa sombra. um campo que precisa ser aceito,

  • 59amado e cultivado para que as flores do nosso ser desabrochem. EXERCCIOS Quando voc fizer esses exerccios, impor-tante estar bem atento, porque as respostas esto todas dentro de voc, mas preciso fazer muito silncio para poder ouvi-las. Re-serve para si mesmo um bom espao de tempo, certifique-se de que o telefone esteja desligado e renda-se totalmente ao proces-so. Recomendo que voc reserve pelo menos uma hora para esses exerccios. Vista roupas que o deixem vontade e sente-se no seu lugar preferido da casa. Se quiser, acenda algumas velas e coloque uma msica suave para ajudar a criar uma atmosfera de sedu-o para si mesmo. Deixe mo um dirio e uma caneta ou um lpis com que voc goste de escrever. Providencie um gravador e uma fita para registrar as prximas etapas, assim no precisar abrir os olhos para ler o que

  • 60vem a seguir, quando estiver fazendo os exerccios. Depois de tudo pronto, feche os olhos e res-pire cinco vezes, profunda e lentamente. Inspire contando at cinco, prenda o ar con-tando at cinco e, ento, expire bem deva-gar pela boca. Use a respirao para relaxar o corpo inteiro. Concentre toda a ateno na respirao enquanto prossegue, j que esse um dos melhores meios de acalmar a men-te. Agora, com os olhos fechados, imagine-se entrando num elevador e fechando a porta. Pressione um dos botes do elevador e des-a sete andares. Imagine que est descendo fundo em sua conscincia. Quando a porta se abre, voc v um magnfico jardim sagra-do. Tente visualizar tudo o que se refere a ele. Observe as rvores, as flores, os pssa-ros. De que cor est o cu? Est claro, de um azul brilhante, ou rendilhado de nuvens? Sinta a temperatura e a brisa acariciando seu

  • 61rosto. Como voc est vestido? Est usan-do uma roupa de que gosta muito? Imagine-se com sua melhor aparncia. Tire os sapa-tos e sinta o cho sob os ps. Tem grama ou arenoso? Est seco ou mido? Voc v um caminho revestido de pedra ou de mrmore? H cascatas ou esttuas? Voc v algum a-nimal por a? Permanea pelo menos um mi-nuto olhando em volta, em todas as dire-es, e observe o que mais existe no seu jardim. Quando tiver terminado de criar o jardim, crie um lugar destinado meditao, onde voc possa ficar para encontrar todas as res-postas que sempre procurou. Mantenha-se durante um minuto explorando o seu lugar interior sagrado e comprometa-se a visit-lo com freqncia. Volte sua ateno para a respirao e inspire e expire de novo cinco vezes, lenta e profundamente. Conduza-se a um estado ainda mais profundo de relaxa-mento consciente.

  • 62Agora, faa a si mesmo a srie de pergun-tas que vem a seguir, e v com calma para que voc possa ouvir sua voz interior. Depois de cada pergunta, abra os olhos por um momento e escreva as respostas no dirio. A melhor maneira de fazer isso escrever r-pido e qualquer coisa que venha mente. No existem respostas certas ou erradas. No se preocupe com o que estiver escre-vendo, permita-se sentir e expressar qual-quer coisa que precise emergir por esse pro-cesso. Quando tiver a resposta para a pri-meira pergunta, feche os olhos, volte ao seu jardim e sente-se no seu lugar de meditao. Respire mais duas vezes, lenta e profunda-mente, antes de se fazer a segunda pergun-ta, e assim por diante. No tenha pressa.

    1. Do que que eu tenho mais medo? 2. Quais os aspectos da minha vida que

    precisam ser mudados? 3. O que pretendo conseguir ao ler este

    livro?

  • 634. O que mais temo que algum des-

    cubra sobre mim? 5. O que mais me atemoriza descobrir

    sobre mim mesmo? 6. Qual foi a maior mentira que j contei

    a mim mesmo? 7. Qual foi a maior mentira que eu j dis-

    se a outra pessoa? 8. O que pode me impedir de fazer o tra-

    balho necessrio para transformar a minha vida?

    Quando terminar esse exerccio, leve o tem-po necessrio para escrever em seu dirio e expressar no papel qualquer coisa a mais que precise vir tona. Ento, espere um momento para se conscientizar da coragem e do trabalho rduo com que voc se empe-nhou nesse exerccio e siga para o prximo captulo.

  • 64Captulo 3

    O Mundo Est Dentro de Ns

    No estamos no mundo, o mundo est den-tro de ns. A primeira vez que ouvi isso, fiquei confusa. Como pode o mundo estar dentro de mim? Como possvel que voc, um outro ser humano, viva dentro de mim? Levei um bom tempo para entender que o que, de fato, est dentro de mim so milha-res de qualidades e caractersticas que cons-tituem cada ser humano e que, sob a super-fcie de cada pessoa, est o projeto de toda a humanidade. O modelo hologrfico do Uni-verso nos ensina que cada um um micro-cosmo do macrocosmo. Cada um de ns de-tm o conhecimento do Universo inteiro. Se voc cortar o holograma do seu carto de crdito em pedacinhos e focalizar um feixe de laser em um deles, ver a figura comple-ta. Da mesma forma, se examinar um ser humano, voc encontrar o holograma do Universo. Esse projeto universal vive em nos-so DNA.

  • 65 O dr. David Simon, mdico, diretor do Cho-pra Center for Well Being e autor de The Wisdom of Healing, d a seguinte explicao para isso: Um holograma uma imagem tridimensional derivada de um filme bidimen-sional. A nica caracterstica do holograma que a figura completa tridimensional pode ser criada de qualquer parte do filme. O todo est contido em cada pedao; por isso chamado de holograma. Da mesma forma, cada aspecto do Universo est contido em cada um de ns. As foras que abrangem a matria por todo o cosmo se encontram em cada tomo do corpo. Cada cordo do meu DNA carrega a histria completa da evoluo da vida. Minha mente contm o potencial de todo pensamento que tenha sido ou venha a ser expresso. Compreender essa realidade a chave para a porta da vida a entrada para a liberdade sem limites. Viver essa rea-lidade a base da verdadeira sabedoria.

  • 66Ao compreender que voc tem tudo o que v nos outros, seu mundo todo se altera. Nosso objetivo neste livro mostrar que po-demos encontrar e incorporar tudo aquilo que amamos e tudo aquilo que odiamos nos outros. Ao recuperar nossas caractersticas perdidas, abrimos a porta do Universo interi-or. Quando fazemos as pazes com ns mes-mos, espontaneamente fazemos as pazes com o mundo. Uma vez aceito o fato de que cada um de ns personifica todas as caractersticas do Universo, podemos acabar com o pretexto de que ns no somos tudo. A maioria das pessoas aprendeu que diferente das ou-tras. Algumas se consideram superiores, e muitas se acham incapazes. Nossa vida moldada por esses julgamentos. So eles que nos levam a dizer: Eu no sou igual a voc. Se voc educado como branco, pre-cisa acreditar que diferente dos negros. Se cresce como negro, deve achar que dife-rente dos asiticos ou dos hispnicos. Os

  • 67judeus crem-se diferentes dos catlicos, enquanto os conservadores se consideram diferentes dos liberais. Cada uma de nossas culturas nos ensinou a acreditar que somos fundamentalmente diferentes dos demais. Acabamos por adotar preconceitos existentes em nossa famlia e entre os amigos. Voc diferente porque gordo e eu sou magro. Sou inteligente e voc burro. Sou tmido e voc expansivo. Sou paciente e voc a-gressivo. Falo alto e voc fala mansamente. Essas crenas mantm a iluso que estamos separados. Criam tanto barreiras internas quanto externas, que nos impedem de as-sumir por inteiro nosso ser e que nos man-tm apontando o dedo acusadoramente para os outros. A chave tomar conscincia de que no h nada que possamos ver ou perceber que tambm no faa parte de ns. Se no pos-sussemos determinada caracterstica, no a poderamos reconhecer num outro. Se voc

  • 68for levado pela coragem do outro, isso no passa do reflexo da coragem que existe em voc. Quando considera algum egosta, pode ter certeza de que voc capaz de demonstrar o mesmo grau de egosmo. Em-bora essas caractersticas no sejam expres-sas o tempo todo, cada um de ns tem a capacidade de atuar de acordo com qualquer uma delas. Fazendo parte do mundo holo-grfico, somos tudo o que vemos, tudo o que julgamos, tudo o que admiramos. No importa a cor da pele, o peso ou a escolha religiosa, compartilhamos as mesmas quali-dades universais. Todas as pessoas so i-guais em sua essncia. O renomado mdico ayurvdico, dr. Vasant Lad, diz: Em cada gota est o oceano, e em cada clula est a inteligncia de todo o cor-po. Quando conseguimos alcanar a gran-deza desse fato, comeamos a perceber a imensidade de quem somos. Homens e mu-lheres foram criados da mesma forma, assim partilham todas as qualidades humanas. To-

  • 69dos ns temos poder, fora, criatividade e compaixo. Como tambm ganncia, luxria, raiva e fraqueza. No h caracterstica, qua-lidade ou aspecto que no possuamos. Es-tamos plenos de luz divina, amor e talento, e igualmente cheios de egosmo, reserva e hostilidade. Estamos destinados a conter o mundo inteiro dentro de ns; parte da tarefa de ser totalmente humano encontrar amor e piedade para cada aspecto de ns mes-mos. Da mesma forma que a mente huma-na, tal a mente csmica. A maioria das pessoas vive com uma viso estreita do que ser humano. Quando deixamos que nossa condio humana incorpore nossa universali-dade, podemos nos tornar facilmente aquilo que queremos ser. Em Love and Awakening, John Welwood emprega a analogia do castelo para ilustrar o mundo dentro de ns. Imagine um castelo magnfico, com corredores interminveis e milhares de aposentos. Cada cmodo do cas-telo perfeito e tem um dom especial. Cada

  • 70aposento representa um diferente aspecto de voc mesmo e uma parte completa do castelo inteiro e perfeito. Como uma criana, voc explorou cada centmetro do seu caste-lo, sem vergonha ou esprito crtico. Sem medo, procurou as preciosidades e os segre-dos de cada cmodo. Amorosamente, voc assumiu cada aposento, fosse ele um ba-nheiro, um quarto ou uma adega. Cada um e todos os cmodos eram nicos. Seu castelo estava cheio de luz, amor e maravilhas. En-to, um dia, algum chegou l e lhe disse que um dos aposentos era imperfeito, que com certeza no pertencia ao castelo. Suge-riu-lhe que, se quisesse ter um castelo per-feito, voc deveria fechar aquele quarto e trancar a porta. Como desejava ser amado e aceito, voc rapidamente fechou o quarto. medida que o tempo foi passando, mais e mais gente foi at o seu castelo. Todos de-ram sua opinio sobre os aposentos, de quais gostavam e os que lhe desagradavam. E, aos poucos, voc foi fechando uma porta depois da outra. Seus aposentos maravilho-

  • 71sos foram sendo trancados, ficaram fora do alcance da luz, mergulhados na escuri-do. Um ciclo havia comeado. Desse momento em diante, voc passou a fechar cada vez mais portas, pelas mais di-versas razes. Fechou portas porque tinha medo ou porque achou que os quartos eram muito arrojados. Trancou a porta de outros por julg-los muito conservadores. Outras portas foram fechadas porque alguns caste-los que voc visitou no tinham cmodos como aqueles. E outras, ainda, porque seu lder religioso lhe disse que voc deveria manter distncia de certos quartos. Voc fechou toda porta que no se encaixasse nos padres da sociedade ou em seu prprio i-deal. Acabou-se o tempo em que o seu castelo parecia no ter fim e o seu futuro se apre-sentava brilhante e cheio de emoes. Voc j no cuidava mais de cada cmodo com o mesmo amor e admirao. Aposentos dos

  • 72quais voc se orgulhava, agora queria que desaparecessem. Voc tentou imaginar for-mas de se livrar deles, mas eles faziam parte da estrutura do castelo. Chegou um momen-to em que voc, tendo fechado a porta de todo e qualquer cmodo de que no gostas-se, acabou por se esquecer completamente deles. No princpio, voc no percebeu o que estava acontecendo; tinha se tornado um hbito. Com tanta gente dando palpites to diferentes sobre qual a aparncia que um magnfico castelo deveria ter, tornara-se mais fcil dar ateno aos outros do que sua voz interior: a nica que amava seu cas-telo inteiro. Na verdade, o fato de fechar aquelas portas comeou a lhe dar segurana. Logo voc se viu morando em poucos e a-pertados cmodos. Aprendera a fechar as portas para a vida e sentia-se vontade fa-zendo isso. Muitos trancaram tantos aposen-tos que se esqueceram de que algum dia foram um castelo. Passaram a acreditar que eram apenas uma casa pequena, de dois quartos, necessitando de consertos.

  • 73 Agora, imagine seu castelo como o lugar on-de voc abriga tudo o que voc , a parte boa e a parte m, e que todas as caracters-ticas que existem no planeta tambm esto em voc. Um de seus cmodos amor, ou-tro coragem; outro, elegncia; e outro graa. H um nmero infinito de aposentos. Criatividade, feminilidade, honestidade, inte-gridade, sade, sensualidade, poder, timidez, dio, ganncia, frigidez, preguia, arrogn-cia, doena e maldade so aposentos do seu castelo. Cada um deles uma parte essenci-al da estrutura, e cada aposento tem seu oposto em algum lugar do seu castelo. Fe-lizmente, nunca ficamos satisfeitos sendo menos do que somos capazes de ser. Nosso descontentamento com ns mesmos nos mo-tiva a ir em busca de outros cmodos perdi-dos do castelo. S conseguiremos achar a chave da nossa individualidade se abrirmos todos os aposentos do castelo.

  • 74O castelo uma metfora para ajud-lo a perceber a enormidade do seu ser. Cada um possui esse lugar sagrado dentro de si mes-mo. de fcil acesso, se estivermos prontos e ansiosos por ver a nossa totalidade. A mai-oria das pessoas tem medo do que poder encontrar por trs das portas desses quartos. Assim, em vez de partir numa aventura, para encontrar nosso eu escondido, cheio de e-moes e maravilhas, conservamo-nos fin-gindo que os quartos no existem. O ciclo continua. Mas, se voc quer de fato mudar o rumo da sua vida, ter de entrar em seu cas-telo e abrir vagarosamente todas as portas, uma a uma. Precisar explorar seu universo interior e recuperar tudo o que havia rejeita-do. S na presena do seu eu integral voc poder apreciar sua magnificncia e gozar a totalidade e a singularidade da sua vida. Quando comecei a buscar o mundo que ha-via dentro de mim, pensei que fosse uma tarefa impossvel. Eu achava que o mundo era uma confuso, mas que eu no era. Pen-

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  • 75sei: No sou uma assassina. No sou uma moradora de rua. Na verdade, eu no queria descobrir que tinha todas as qualidades do mundo, j que, a meu ver, eu no era como as pessoas que eu criticava ou julgava mal. Porm, minha meta passara a ser verificar como o mundo poderia existir dentro de mim. Todas as vezes que eu via coisas ou indivduos que me desagradavam, dizia mim mesma: Sou assim, eles vivem dentro de mim. Durante o primeiro ms, fiquei desa-pontada, porque na verdade no encontrava nenhuma das coisas ruins dentro de mim. At que um dia, quando eu estava lendo dentro de um trem, tudo mudou. Uma mu-lher no meu vago berrava com o filho. Eu estava ocupada dizendo a mim mesma que jamais trataria um filho meu assim e como era terrvel uma mulher repreender daquela forma o filho em pblico, quando uma vozi-nha dentro da minha cabea sussurrou: Se o seu filho tivesse espirrado leite achocolata-do por toda a sua roupa de seda branca,

  • 76voc teria uma crise de nervos. De repen-te, as peas do quebra-cabea se encaixa-ram. claro que eu era capaz de ficar furio-sa com uma criana. No queria admitir isso para mim mesma; por esse motivo, quando via uma pessoa prestes a ter um ataque de raiva, eu a censurava em vez de me solidari-zar com ela. Isso tirou o foco de mim mes-ma. Percebi que era a qualidade demonstra-da por cada pessoa que estava dentro de mim, no a pessoa em si. No sou a mulher furiosa do trem, mas certamente tenho a impacincia e a intolerncia que ela revelou naquele momento. O que descobri foi meu potencial para agir da mesma forma que as pessoas a quem eu mais asperamente censurava. Ficou evidente que eu precisava ficar atenta s caractersti-cas dos outros que mais me aborreciam. Comecei a reconhec-las como aposentos que eu fechara. Eu tinha, sim, de saber que eu tambm podia gritar com meu filho se eu tivesse tido um mau dia. Olhei para um mo-

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  • 77rador de rua e perguntei a mim mesma: Se eu no tivesse famlia nem educao e perdesse meu emprego, ser que eu me tor-naria uma moradora de rua? A resposta era sim. Se eu alterasse as circunstncias da mi-nha vida, era fcil perceber que eu poderia ser qualquer outra pessoa e fazer qualquer outra coisa. Tentei ser todos os tipos de pessoas: alegre, triste, brava, gananciosa e ciumenta. Gente gorda foi um alvo especial para mim. Meu pai sempre fora pesado, e ele estava includo no meu preconceito. Subitamente, ele me pareceu diferente. Eu nascera com ossos delicados e um metabolismo rpido. Percebi que, se meu metabolismo mudasse e eu con-tinuasse a comer o tipo de alimento a que estava acostumada, eu tambm ficaria gor-da. Mas ainda havia reas em que eu tinha dificuldade. No conseguia me imaginar sen-do uma assassina ou um estuprador. Como poderia matar algum a sangue-frio? Era fcil me imaginar matando algum que hou-

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  • 78vesse tentado ferir a mim ou minha fa-mlia, mas... e quanto queles crimes brutais e sem sentido? Percebi que no tinha vonta-de de matar naquele momento; porm, se tivesse ficado encerrada num cubculo por 14 anos e tivesse sido espancada diariamente, ser que eu no teria a capacidade de matar a sangue-frio? A resposta era sim. Isso no fez do assassinato um ato aceitvel, mas me permitiu ver que eu admitia a possibilidade de ser qualquer pessoa. Daquele dia em diante, quando eu tivesse dificuldade para ser qualquer coisa, eu pode-ria me desdobrar. Por exemplo, no conse-guira ainda me imaginar como uma pedfila; assim, me perguntava que espcie de pessoa faria sexo com uma criana. Uma pessoa degenerada, terrvel, pervertida. Perguntei a mim mesma: Eu conseguiria ser uma pes-soa degenerada, terrvel, pervertida? Eu procurava imaginar as piores circunstncias que poderiam ter me acontecido quando era criana e conclu que, se eu tivesse sofrido

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  • 79maus-tratos e sido vtima de estupro, quando ainda era uma menina e eu houves-se vivido sem amor, teria crescido de uma maneira diferente. Tendo passado por aque-las circunstncias, no haveria como predizer o que eu seria ou no capaz de fazer. No julgue um homem antes de calar os sapatos dele. Mesmo assim, para mim era difcil as-sumir algumas dessas caractersticas. Eu precisava encarar a possibilidade de que um demnio morava dentro de mim. s vezes, a questo no se voc tem um trao de carter especfico no momento, mas se pode chegar a apresentar essa caracterstica sob diferentes circunstncias. Tentei me colocar no lugar de todo tipo de pessoa com quem no simpatizava ou que me causava repulsa. Algumas eram mais difceis de aceitar, com outras eu levava mais tempo, mas foram muito poucas as que no consegui assumir dentro de mim. Com o passar do tempo, minha voz interior, que passara a vida julgando tudo e todos, silen-

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  • 80ciou. O silncio da mente era algo com que eu sonhara durante toda a minha vida, e naquele instante eu sentia essa possibilidade surgir. Percebi que eu s julgava as pessoas quando elas demonstravam um tipo de qua-lidade que eu no podia aceitar em mim mesma. Se algum se mostrava muito exibi-do, passei a no censur-lo mais, porque j sabia que eu, tambm, gostava de me so-bressair em pblico. Da em diante, eu me permitiria ficar irritada e apontar acusadora-mente para outra pessoa somente quando me convencesse por completo de que de-terminado comportamento era inaceitvel para mim. Mantenha a mo estendida diante de voc e aponte para algum. Perceba que tem um dedo apontando para a outra pessoa e trs apontando para trs, na sua direo. Isso serve para nos lembrar de que, quando estivermos culpando algum, estamos ape-nas negando um aspecto de ns mesmos. O processo de esconder e negar partes de mim mesma comeou a ficar quase cmico

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  • 81medida que percebi toda a energia que eu estava usando para no ser um certo tipo de pessoa. Se voc no se enxergar como um microcosmo de todo o Universo, continuar a viver como um indivduo isolado. Voc olha para fora, em vez de procurar em seu interi-or as respostas e a direo a seguir, e faz julgamentos sobre o que bom e o que mau. Mantm a iluso de que voc e eu no estamos realmente ligados e permanece es-condido atrs de uma mscara para se sentir seguro. Mas, se abranger a totalidade do Universo dentro de si mesmo, voc vai in-corporar a totalidade da raa humana. Recentemente, fui ao Colorado para dirigir um seminrio para um casal, Mike e Marilyn, e sua empresa de marketing. Quando che-guei casa deles, samos, levando os filhos deles, para um almoo rpido em que discu-tiramos o trabalho de liberao emocional. Durante a refeio, tivemos uma conversa sobre um mundo maravilhoso onde todos reconheceriam que cada um de ns tem um

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  • 82projeto de todo o Universo dentro de si. Mike e Marilyn j estavam familiarizados com a teoria hologrfica e se sentiam entusias-mados. No entanto, quando voltamos para o carro, depois do almoo, Mike virou-se para mim e disse: Mas h algumas coisas que eu sei que no sou. No me surpreendi; isso acontece com freqncia logo depois que uma pessoa concorda com a idia de que tudo. Aconteceu comigo tambm. Assim, perguntei a Mike: O que voc no ? Mike respondeu: No sou um idiota. Olhei para o espelho retrovisor, por onde Mike olhava diretamente para mim, e lhe disse: Se voc tudo, tambm um idiota. Fez-se um si-lncio mortal no carro. A mulher de Mike e as crianas olhavam para mim, atnitas. Eu tinha dito a Mike que ele era um idiota. En-to ele comeou a me falar sobre todos os idiotas que conhecia, explicando que no era parecido com nenhum deles. A carga emo-cional que acompanhava suas palavras era to grande, enquanto ele descrevia as pes-

  • 83soas, que percebi que essa era uma ques-to muito problemtica para ele. Continuamos o percurso enquanto Mike es-gotava seu repertrio sobre idiotas. Por fim, perguntei a ele: Voc alguma vez j fez qualquer coisa que um idiota faria? Ele pen-sou na minha pergunta e rapidamente disse que sim, mas acrescentou que no seria possvel comparar o que ele havia feito com o que os idiotas que ele conhecia costuma-vam fazer. Esses outros eram realmente grandes idiotas. Eu lhe disse que a psique no consegue distinguir entre pequenos e grandes idiotas um idiota um idiota. Co-mo a palavra idiota tinha tanto peso para ele, perguntei a Mike se ele achava que isso poderia ser um sinal para lhe mostrar algu-ma coisa. No preciso dizer que foi um longo passeio. Pedi a Mike que pelo menos considerasse a minha opinio de que ser idiota era um as-pecto dele que ele havia rejeitado em deter-

  • 84minado momento e que, agora, tinha uma oportunidade de recuperar. Como ele podia ser tudo, menos um idiota? E, de qualquer forma, o que havia de errado em ser um idi-ota? Perguntei mulher dele e aos filhos se algum deles se importaria se eu os chamasse de idiota. Ningum mais revelou ter proble-mas com a palavra. Perguntei se eles haviam tido experincias desagradveis com idiotas. Ningum teve. Ao chegar em casa, ns nos agasalhamos para sair do carro. Estava dezoito graus a-baixo de zero, e eu nunca estivera num lugar de clima to frio. Assim, eu fiquei l, aturdi-da, tremendo, esperando que a porta da frente fosse aberta. Mike levou alguns se-gundos remexendo nos bolsos e, ento, co-meou procurar s apalpadelas pelo interior do carro. Finalmente, ele olhou para ns e disse: Quando samos, acho que fechei a porta deixando as chaves dentro de casa. Depois de um momento de silncio, pergun-tei: Que tipo de gente se trancaria fora de

  • 85casa temperatura de dezoito graus abai-xo de zero? Todos responderam ao mesmo tempo: Um idiota! Mike riu, e Marilyn aca-bou encontrando sua chave; assim, pudemos entrar na casa. Mais uma vez, o Universo ajudou-me no meu trabalho. Depois de ter conseguido me esquentar, sen-tei-me com Mike para tentarmos identificar o momento em que ele havia decidido no ser um idiota. Ele se lembrava de ter feito algu-ma coisa boba quando era criana e de ou-tros terem rido disso. Naquele momento, jurou a si mesmo que isso nunca mais acon-teceria. Ele fechou um cmodo do seu caste-lo porque achou que era ruim. Como Gun-ther Bernard disse, com tanta propriedade: Ns escolhemos esquecer quem somos e depois esquecer que esquecemos. Alguns aspectos nossos que escondemos de ns mesmos, como o caso de Mike, que recusava seu lado idiota, tm um poder de influncia particular na nossa realidade pre-

  • 86sente. Tm vida prpria e esto sempre tentando chamar nossa ateno para serem aceitos e integrados ao nosso eu. Inconsci-entemente, Mike procurou se rodear de idio-tas, para dessa forma poder viver essa parte de si mesmo que renegara. Mike no conse-guia ser tolerante com seus prprios erros, por isso via as pessoas que erravam como idiotas. Odiando esse seu aspecto, ele odiava todos os que tivessem essa falha. Isso influ-enciava a maneira como ele tratava os cole-gas no trabalho. Os empregados o conside-ravam uma pessoa difcil e, s vezes, irracio-nal. Sugeri a Mike que esse aspecto que ele rejei-tava em si mesmo, chamado por ele de idio-ta, tinha seus benefcios. Pedi-lhe para fe-char os olhos e me dizer a primeira palavra que lhe viesse mente quando eu lhe per-guntasse qual era o benefcio corresponden-te a idiotice. Ele respondeu: Determinao. Como Mike no queria ser considerado um idiota, ele havia se esforado muito na escola

  • 87e se tornara um bom estudante. Fora para a faculdade e chegara ao mestrado, tornan-do-se finalmente um contador. Ele trabalhara muito para atingir o topo de sua carreira e se mantinha a par das notcias locais e mundi-ais, como se espera de toda pessoa educada. Mike estava muito chocado com o que disse-ra. Perguntei-lhe se, j que o aspecto idio-ta tinha dado a ele toda a determinao para chegar onde chegara na vida, ele no gostaria de perdoar e assumir essa faceta de si mesmo. Hesitando um pouco, ele disse que sim, embora precisasse de um pouco de tempo para digerir nossa conversa. No dia seguinte, Mike parecia mais jovem e mais animado. No tinha certeza ainda de que assumir e amar esse aspecto que ele chamara de idiota seria a melhor coisa a fazer, j que levara quase quarenta anos negando isso. Mas, depois de uma longa conversa, ele percebeu que, por no ter as-sumido essa parte de si mesmo, atrara para sua vida muitas pessoas que realmente agi-

  • 88am como idiotas. Expliquei-lhe que isso uma lei espiritual que o Universo sempre nos guia de volta para incorporarmos a tota-lidade de ns mesmos. Atramos todos aque-les e tudo aquilo de que precisamos para espelhar os aspectos que nos pertencem e dos quais nos esquecemos. Cada aspecto de ns precisa de compreen-so e piedade. Se no estivermos dispostos a nos conceder esses sentimentos, como po-demos esperar que o mundo se comporte de maneira diferente? Assim como ns somos, tambm o Universo. O amor que cada um dedica a si prprio precisa mergulhar em cada nvel do nosso ser e nutri-lo. H aque-les que amam seu eu interior mas so inca-pazes de se olhar no espelho por mais de um minuto para verificar a prpria aparncia. Outros gastam tempo e dinheiro com seu exterior e acabam odiando o que fica por dentro. Chegou a hora de trazer todo o seu ser para a luz, s assim voc poder escolher conscientemente a mudana de cada rea de

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  • 89sua vida interior e exterior. Cada parte do seu ser tem alguma coisa para lhe dar. Ao se amar e se assumir integralmente, voc ser capaz de amar e de assumir verdadeiramen-te a todos ns. EXERCCIOS Antes de mais nada, remova do ambiente tudo aquilo que possa distra-lo. Voc vai precisar do seu dirio, lpis e caneta. Se qui-ser, ponha uma msica suave para ajudar a relaxar. Agora, feche os olhos e respire uma vez, lenta e profundamente. Use a respirao para acalmar a mente e entregar-se ao exer-ccio. Respire mais cinco vezes, vagarosa e profundamente. Ao Encontro do Seu Eu Sagrado Imagine novamente um elevador dentro de voc. Entre nele e desa sete andares. Quando voc sair do elevador, ver um be-lssimo jardim. Ande por ele e observe as

  • 90flores e as rvores sua volta. Olhe para as folhas verdes e viosas, sinta a fragrncia das flores. O dia est lindo e os pssaros esto cantando. Observe a cor do cu. Lem-bre-se de como voc se sente seguro e vontade em seu jardim. Espere um pouco e respire de novo, profundamente, inalando a beleza do seu jardim sagrado. Procure um lugar calmo para se sentar e improvise um assento confortvel para fazer meditao; o lugar onde voc se sentir melhor. Certifique-se de que as roupas que voc est usando so de um tecido cujo toque se assemelha a carcias em seu corpo e que o faz sentir-se desejvel e magnfico. Sente-se, ento, e feche os olhos. Num instante um aspecto seu vai aflorar conscincia. Esse aspecto ser voc em sua melhor forma. Ser voc em sua totalidade, cheio de amor e piedade, com fora e poder. Esse aspecto o seu eu sagrado. Convide esse ser magnfico a pene-trar completamente na sua conscincia. Vi-sualize a si mesmo, concentrado e completo,

  • 91revelando o seu mais alto potencial sen-tindo a paz e o silncio. Agora pea a seu eu sagrado que se sente prximo a voc. Pegue na mo dele e olhe-o bem dentro dos olhos. Pergunte-lhe se ele estar l para gui-lo e proteg-lo durante a semana. Pergunte-lhe, ento, o que voc precisa fazer para abrir seu corao e deixar sair qualquer resduo emocional, antigo e nocivo, que voc esteja carregando. Agora, abrace esse seu aspecto sagrado, agradea-lhe por ter vindo v-lo e prometa-lhe que voltar, com freqncia, a visit-lo e ao seu jardim. Abra os olhos e registre no dirio a sua expe-rincia. O que viu, qual era a aparncia do jardim, como voc estava e como se sentiu. Com que se parecia seu eu sagrado? O que ele tinha a dizer? V devagar. Quanto mais voc escrever, mais sabedoria se expressar por seu intermdio. Pegue uma folha de pa-pel e desenhe a figura do seu eu sagrado.

  • 92No se preocupe com a aparncia do de-senho; voc no est participando de ne-nhum concurso. Fique pelo menos cinco mi-nutos desenhando. O Encontro Com a Sua Sombra Feche os olhos e respire cinco vezes, deva-gar e profundamente. Quando estiver na quinta respirao, retenha o flego tanto tempo quanto for confortvel para voc, e ento solte o ar bem devagar. Use a respira-o para acalmar a mente e mergulhe fundo na sua conscincia. Imagine-se no elevador e desa sete andares. Quando abrir a porta, voc estar num lugar muito escuro e lgu-bre. Imagine as piores circunstncias poss-veis. Observe os cheiros, a poluio, o lixo por toda parte. Voc pode estar numa ca-verna cheia de ratos, cobras, baratas e ara-nhas. Invoque um lugar a que voc jamais desejou ir. Quando tiver criado esse lugar, continue a respirar, lenta e profundamente, e ento examine num canto a forma mais

  • 93desprezvel do seu ser. Deixe que uma imagem sua nas piores condies aparea na sua mente. Tente sentir e perceber tudo a seu respeito: com o que voc se parece, qual o seu cheiro, como se sente. Agora deixe vir sua mente uma palavra que descreva a pessoa que voc est vendo. Depois de pas-sar com essa pessoa um perodo de tempo suficiente para poder conhec-la, abra os olhos. Escreva a palavra que surgiu na sua mente e tudo o que voc sentiu durante a visualizao. Fique escrevendo por, pelo me-nos, dez minutos. Deixe que sua conscincia expresse todo e qualquer pensamento ou sentimento que tenha surgido em relao a essa experincia. O Eu Sagrado Abraa o Eu Sombra Feche os olhos e volte ao seu jardim sagra-do. Crie um ambiente seguro, consagrado, para fazer seus exerccios. Use de novo a respirao para acalmar a mente e mergu-lhar profundamente na sua conscincia. To-

  • 94me seu elevador interior para descer os sete andares e chegar no jardim. Caminhe por ele, admirando sua beleza. Quando sen-tir a confortadora presena que o cerca, pro-cure um lugar para fazer sua meditao. As-sim que estiver confortavelmente instalado e se sentir seguro, projete a imagem do seu eu sagrado. Imagine que est se aquecendo em toda sua luz. Quando a imagem estiver pronta, invoque o aspecto escuro e sombrio do seu eu. Pea ao seu lado sagrado para abraar a sombra do seu eu. Deixe que a parte amorosa e bela segure em seus braos a outra parte assustadora, escura e desagra-dvel. Diga a esse aspecto sombrio de voc mesmo que ele est em segurana e que voc vai passar um tempo trabalhando para compreend-lo e aprender a am-lo. Leve tanto tempo quanto necessitar, e no fique desapontado se a sua sombra no deixar que voc a abrace. Prossiga e tente todos os dias, at que ela o permita. Freqentemente, nossa resistncia surge na visualizao; as-sim, depois de dez minutos ou mais, despe-

  • 95a-se de seus dois aspectos e volte ao seu quarto. Pegue a folha de papel e alguns lpis e de-senhe sua experincia. Permanea fazendo isso por cerda de cinco minutos. Quando acabar, escreva em seu dirio sobre a medi-tao e a experincia com os desenhos du-rante, pelo menos, dez minutos.

  • 96Captulo 4

    A Recuperao de Ns Mesmos

    A projeo um fenmeno fascinante que a grande maioria das escolas deixa de ensinar aos estudantes. uma transferncia involun-tria do nosso prprio comportamento para outras pessoas, dando-nos a impresso de que determinadas caractersticas esto pre-sentes nos outros. Quando sofremos de an-siedade no que diz respeito s nossas emo-es ou partes inaceitveis da nossa perso-nalidade, atribumos esses aspectos como um mecanismo de defesa a objetos exteri-ores a ns ou a outras pessoas. Quando so-mos intolerantes com as outras pessoas, por exemplo, estamos inclinados a atribuir nosso sentimento de inferioridade a elas. Eviden-temente, h sempre um gancho que favo-rece nossa projeo. Alguma qualidade im-perfeita em outra pessoa ativa uma parte de ns mesmos que quer nossa ateno. Dessa forma, tudo o que no assumimos em rela-

  • 97o a ns mesmos projetamos em outras pessoas. S percebemos aquilo que somos. Gosto de pensar nisso em termos de energia. Imagine que existem cem diferentes tomadas de luz em seu peito. Cada tomada representa uma qualidade diferente. As que ns conhecemos so envolvidas por uma chapa de proteo. Esto seguras: nenhuma eletricidade vai es-capar dali. Mas as qualidades que no consi-deramos boas, que ainda no assumimos, tm uma carga. Assim, quando surgem ou-tras pessoas que representam uma dessas qualidades, elas se conectam diretamente a ns. Por exemplo, se negarmos nossa raiva ou nos sentirmos mal com ela, atrairemos gente zangada para nossa vida. Abafaremos nossos prprios sentimentos de raiva e criti-caremos as pessoas que consideramos col-ricas. J que mentimos para ns mesmos sobre nossos sentimentos, o nico meio de encontr-los v-los nos outros. As outras pessoas refletem as emoes e os sentimen-

  • 98tos que escondemos, o que nos permite reconhec-los e recuper-los. Instintivamente, ns recuamos diante de nossas projees negativas. mais fcil e-xaminar aquilo que nos atrai do que aquilo que nos causa averso. Se fico aborrecido com sua arrogncia, porque no estou as-sumindo a minha prpria. Isso tambm arrogncia, que agora estou demonstrando sem perceber, ou a arrogncia que renego, a qual serei capaz de demonstrar no futuro. Se fico aborrecido com a arrogncia, preciso examinar bem de perto todos os recantos da minha vida e me perguntar o seguinte: no passado, quando fui arrogante? Estou sendo arrogante neste momento? Pode acontecer que eu me comporte com arrogncia no fu-turo? Com certeza eu estaria sendo arrogan-te se respondesse no a essas perguntas sem me examinar com cuidado ou sem per-guntar a outras pessoas se alguma vez me viram agindo com arrogncia. O ato de julgar algum arrogante; portanto, evidentemen-

  • 99te, todos temos a capacidade de ser arro-gantes. Se eu incorporar minha prpria arro-gncia, no me aborrecerei com a dos ou-tros. Vou perceb-la, mas ela no me afeta-r. A tomada da minha arrogncia estar envolvida por uma chapa de proteo. S quando voc mente para si mesmo ou odeia alguma caracterstica sua que recebe uma carga emocional originada do comportamen-to de outra pessoa. Quando comecei a coordenar seminrios, fiquei petrificada. Permaneceria, todas as semanas, diante de um grupo e tentaria de-sesperadamente ser eu mesma. Com medo de que no gostassem de mim, trabalhei com afinco para ser autntica. Os seminrios que eu coordenava na poca eram em Oa-kland, Califrnia, e, a cada trs participantes, dois eram negros. Eu estava emocionada com a perspectiva de fazer parte de uma comunidade, e havia me comprometido a apoiar os participantes na busca para atingir seus objetivos. Quando comecei a apresentar

  • 100 meu terceiro seminrio, uma mulher se levantou e, com agressividade na voz, come-ou a falar. To logo Arlene abriu a boca, sentimentos muito fortes comearam a bro-tar do fundo de mim mesma. Era muito difcil ouvir o que aquela mulher dizia, porque eu estava ocupada demais sentindo raiva. Pen-sei que, se tudo o que essa mulher pretendia era me criar dificuldades, ela deveria sentar-se e calar a boca. No era comum eu me surpreender reagindo a um participante. Fui para casa, aborrecida, e tentei incorporar a mim mesma as caractersticas que vira na-quela mulher grosseria, raiva, agressivida-de e mesquinharia. Durante as quatro semanas seguintes, todas as vezes em que eu coordenava uma sesso, Arlene se levantava, e seu tom variava entre condescendente e um pouco rude. Percebi que eu estava perdendo muito do meu tem-po livre tentando imaginar por que essa mu-lher me aborrecia tanto. Nada do que eu fi-zesse me impedia de continuar julgando-a.

  • 101 Certo dia, sentindo-me derrotada, telefo-nei para uma mulher que tambm estava no seminrio e com quem eu j trabalhara e lhe perguntei por que Arlene me detestava. Su-san respondeu: Debbie, no se preocupe com ela; ela no passa de uma racista. Des-liguei o telefone, sentindo-me fraca e nause-ada. Rapidamente, disse a mim mesma: No sou racista. Tentei trazer memria as lembranas de infncia de amigos negros que fizeram parte da minha vida. Lembrei-me de lhes haver ensinado natao e de ter competido com eles. Pensei em meu pai e em como ele lutou pelos direitos civis: ele foi o primeiro advogado a ter um scio negro na Flrida. Eu tinha certeza de que ele no era racista. Naquela noite, deitada na cama e pensando sobre a prxima sesso do meu seminrio, eu ainda ouvia as palavras de Susan: Ela no passa de uma racista. Essas palavras no paravam de soar em meus ouvidos. Quando eu estava quase conseguindo dor-

  • 102 mir, ouvi uma voz dentro da minha cabe-a perguntando: O que voc pensou da Ar-lene na primeira vez em que ela se levantou e criou dificuldades para voc? De repente, senti uma presso no peito e tinha medo do pior. O que eu me lembrei de ter pensado na hora foi: Voc, sua cadela idiota! Essas pala-vras ressoaram pelo meu corpo. Pensei: No pode ser, no sou racista. No poderia ter tido esse pensamento, nem sequer a inten-o disso. Meu corao disparou, com medo. Mas me sentei, sozinha, frente a frente com minha prpria condio de racista. Essa era a minha sombra. Chorei de vergonha durante horas, com a profunda sensao de que havia trado todos os meus amigos de Oakland que tinham me amado e confiado em mim. No importava o que eu fizesse, continuava incapaz de acei-tar: Sou racista. Tudo em que eu acredita-ra sobre possuir todas as caractersticas voou pela janela. Passei horas em frente a um espelho dizendo: Sou racista, sou racista,

  • 103 tentando aceitar essa parte de mim mesma, em busca de algum bem-estar. Quanto mais eu repetia aquelas palavras, mais fcil aquilo ia se tornado. Sabendo que naquelas palavras havia um benefcio corres-pondente, comecei a procurar por ele. Lem-brei-me ento de meu pai falando intermina-velmente sobre direitos iguais e de como nenhum de ns podia se ausentar enquanto no entendesse que ramos todos iguais. Essa paixo do meu pai se tornou a minha prpria paixo. Percebi que o fato de no querer ser racista fizera com que eu me es-forasse para fazer muitas amizades com negros. Tambm me transmitiu a necessida-de de apoiar aqueles que eram discrimina-dos. poca em que tudo isso acontecia, eu estava empenhada em levantar fundos para uma organizao chamada Possibilidades dentro da Priso, que auxiliava presos prim-rios a modificar suas vidas. Quando, final-mente, incorporei a idia de ser racista,

  • 104 senti como se tivesse tirado de cima de mim um peso enorme que estava me asfixi-ando. Na noite seguinte, fui para o meu seminrio sentindo-me completa e cheia de esperan-as. No meio da atividade, Arlene levantou a mo, como fizera durante toda a semana. Hesitando um pouco, chamei-a para falar. Estvamos conversando sobre o prximo seminrio da comunidade, portanto eu esta-va particularmente preocupada com o que ela poderia dizer. Eu queria que tod