12
 CRIMES CONTRA A HONRA 1 – INTRODUÇÃO Os pov os primitivos sempre conferiram especial ênfase à proteção da honra. O códi go de Manu pr evia severas pu nicõ es pa ra as impu ta ções difamatórias e para as expressões injuriosas. Desde as mais remotas épocas, a honra era havida como um direito público dos cidadãos, de modo que todos os fatos ofensivos a esse direito inseriam-se na noção ampla de injúria. Esta, por sua vez, compreendia qualquer lesão voluntária e ilegítima à personalidade, em seus três aspectos: corpo, condição jurídica e honra. O Direito dos povos germânicos traçou de forma ainda incipiente a distinção en tr e as lesões à honra e à inte gr id ade corporal. Não ob st ante , apenas recentemente os crimes contra a honra adquiriram autonomia, em razão do bem  jurídico tutelado. Coube ao Código Penal francês (arts. 367 a 377) a diferenciação, feita pela primeira vez, entre calúnia e injúri a, significa ndo aquela a imputação de fato delituoso ou difamatório falso ou não comprovado verdadeiro, e esta a expressão de caráter ultrajante. Ao depois, a Lei de Imprensa de 17 de maio de 1819 substituiu o termo calúnia por difamação e eliminou o requisito da falsidade do fato imputado. A nota diferencial entre difamação e injúria passou a residir, então, na determinação do fato atribuído. Enquanto a difamação consistia na imputação de fato determinado lesivo à honra, a injúria era toda expressão ultrajante ou de desprezo dirigida a outrem. Essa distinção – mantida pela lei de 29 de julho de 1881 – foi acolhida, com poucas modificações, pela maioria das legislações penais subseqüentes. Na Alemanha, o Código Penal de 1870 denominava os crimes contra a honra, genericamente, como “injúria”, subdividida em injúria simples, difamação e calúnia. A difer ença entre calúnia e difam ação era tão-som ente probatória , isto é, se naquela o fato desonroso imputado era objetiva e subjetivamente falso, nesta (difamação) o fato atribuído não era comprovado verdadeiro (embora pudesse sê- lo). No Brasil, o código Criminal do Império (1830), inspirado pelo modelo francês de 1810, tipificava a calúnia e a injúria (arts. 229 e 236, respectivamente). De semelhante, o Código Penal de 1890 ocupava-se também da calúnia e da injúria, distinguindo-as em seu Título XI (Dos crimes contra a honra e a boa fama).  A lei de Imprensa de 1934 manteve essa sistemática, suprimindo apenas, na caracterização da injúria, o “gesto ou sinal insultante na opinião pública”. O Código Penal atual (1940) disciplina os crimes contra a honra em seu Capítulo V, distinguindo a calúnia (art. 138), a difamação (art. 139) e a injúria (art. 140). A calúnia – entendida como a falsa imputação de fato definido como crime – não foi equipara à denunciação caluniosa (art. 339) – como fez, aliás, o Código Penal Italiano – corretamente inserida entre os crimes contra a administração da  justiça (Título XI, Capítulo III ).

52200647 Crimes Contra a Honra

Embed Size (px)

DESCRIPTION

crime contra a honra

Citation preview

CRIMES CONTRA A HONRA 1 INTRODUO Os povos primitivos sempre conferiram especial nfase proteo da honra. O cdigo de Manu previa severas punices para as imputaes difamatrias e para as expresses injuriosas. Desde as mais remotas pocas, a honra era havida como um direito pblico dos cidados, de modo que todos os fatos ofensivos a esse direito inseriam-se na noo ampla de injria. Esta, por sua vez, compreendia qualquer leso voluntria e ilegtima personalidade, em seus trs aspectos: corpo, condio jurdica e honra. O Direito dos povos germnicos traou de forma ainda incipiente a distino entre as leses honra e integridade corporal. No obstante, apenas recentemente os crimes contra a honra adquiriram autonomia, em razo do bem jurdico tutelado. Coube ao Cdigo Penal francs (arts. 367 a 377) a diferenciao, feita pela primeira vez, entre calnia e injria, significando aquela a imputao de fato delituoso ou difamatrio falso ou no comprovado verdadeiro, e esta a expresso de carter ultrajante. Ao depois, a Lei de Imprensa de 17 de maio de 1819 substituiu o termo calnia por difamao e eliminou o requisito da falsidade do fato imputado. A nota diferencial entre difamao e injria passou a residir, ento, na determinao do fato atribudo. Enquanto a difamao consistia na imputao de fato determinado lesivo honra, a injria era toda expresso ultrajante ou de desprezo dirigida a outrem. Essa distino mantida pela lei de 29 de julho de 1881 foi acolhida, com poucas modificaes, pela maioria das legislaes penais subseqentes. Na Alemanha, o Cdigo Penal de 1870 denominava os crimes contra a honra, genericamente, como injria, subdividida em injria simples, difamao e calnia. A diferena entre calnia e difamao era to-somente probatria, isto , se naquela o fato desonroso imputado era objetiva e subjetivamente falso, nesta (difamao) o fato atribudo no era comprovado verdadeiro (embora pudesse slo). No Brasil, o cdigo Criminal do Imprio (1830), inspirado pelo modelo francs de 1810, tipificava a calnia e a injria (arts. 229 e 236, respectivamente). De semelhante, o Cdigo Penal de 1890 ocupava-se tambm da calnia e da injria, distinguindo-as em seu Ttulo XI (Dos crimes contra a honra e a boa fama). A lei de Imprensa de 1934 manteve essa sistemtica, suprimindo apenas, na caracterizao da injria, o gesto ou sinal insultante na opinio pblica. O Cdigo Penal atual (1940) disciplina os crimes contra a honra em seu Captulo V, distinguindo a calnia (art. 138), a difamao (art. 139) e a injria (art. 140). A calnia entendida como a falsa imputao de fato definido como crime no foi equipara denunciao caluniosa (art. 339) como fez, alis, o Cdigo Penal Italiano corretamente inserida entre os crimes contra a administrao da justia (Ttulo XI, Captulo III).

No Captulo V do Cdigo Penal esto definidos os crimes que atentam contra a honra, ou seja, os que atingem a integridade ou incolumidade moral da pessoa humana. A honra pode ser conceituada como o conjunto de atributos morais, intelectuais e fsicos referentes a uma pessoa ou, como o "complexo ou conjunto de predicados ou condies da pessoa que lhe conferem considerao social e estima prpria". Nos termos do art. l1 da Conveno Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de So Jos da Costa Rica), promulgada pelo Decreto n 678, de 6-11-92, "toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade". Como a honra um valor da prpria pessoa, difcil reduzi-la a um conceito unitrio, o que leva os estudiosos a encar-la a partir de vrios aspectos. Tem-se distinguido a honra dignidade, que representa o sentimento da pessoa a respeito de seus atributos morais, de honestidade e bons costumes, da honra decoro, que se refere ao sentimento pessoal relacionado aos dotes ou qualidades do homem (fsicos, intelectuais e sociais), qualidades indispensveis vida condigna no seio da comunidade. Atinge-se a honra dignidade quando se afirma que algum estelionatrio ou que praticou determinado furto; macula-se a honra decoro quando se diz que a vitima um aleijo, ignorante, sovina etc. Distinguem os autores a honra subjetiva, que se traduz no apreo prprio, na estima a si mesmo, o juzo que cada um faz de si, que pensa de si, em suma, o auto-respeito, da honra objetiva, que a considerao para com o sujeito no meio social, o juzo que fazem dele na comunidade. Em sentido contrrio distino pronuncia-se Fragoso, afirmando que a honra a pretenso "ao respeito da prpria personalidade" e que os delitos a serem estudados atingem essa pretenso, "interpenetrando-se os aspectos sentimentais e tico-sociais da dignidade humana". Embora se admita essa simbiose, a distino esquemtica pode ser til compreenso do contedo dos tipos penais. Fala-se, por fim, em honra comum, peculiar a todos os homens, e em honra especial ou profissional, que aquela referente a determinado grupo social ou profissional, cuja sensibilidade, s vezes, se reveste de contornos diversos da mdia. H crimes que atingem essas pessoas em relao aos seus deveres particulares, profissionais, em seus peculiares pontos de honra. Assim, como diz Marcelo Fortes Barbosa, " algo de muito mais srio chamar-se um militar de covarde, do que referir-se dessa maneira a um cidado do povo, que no tem no destemor nenhum centro de convergncia de atividades. O mesmo, dizer-se que um advogado "coveiro de causas", que o mdico um aougueiro, que um motorista um "barbeiro" etc. Vejamos ainda o que diz Fernando Capez (xxxxxx): a) Honra objetiva: diz respeito opniao de terceiros no tocante ao s atributos fsicos, intelectuais, morais de algum;

b)

Honra subjetiva: refere-se opinio do sujeito a respeito de si mesmo, ou seja, de seus atributos fsicos, intelectuais e morais; em suma, diz com o seu amor-prprio.

Capez comenta tambm que a doutrina distingue a honra dignidade da honra decoro, vejamos: a) b) Honra dignidade: compreende aspectos morais, como a honestidade, a lealdade e a conduta moral como um todo; Honra decoro: consiste nos demais atributos desvinculados da moral, tais como a inteligncia, a sagacidade, a dedicao ao trabalho, a forma fsica, etc.

De acordo ainda com Capez, distingue a doutrina a honra comum da honra profissional: a) Honra comum: aquela que todos os homens possuem; b) Honra profissional: diz respeito a determinado grupo profissional ou social, por exemplo, chamar um mdico de aougueiro. De acordo ainda com Capez, a previso de crimes contra a honra no se exaure no cdigo Penal; tambm a legislao penal extravagante dispe sobre esses mesmos delitos, mas cometidos em condies especiais. Dessa forma, primeiramente devemos sempre analisar se a ofensa honra se enquadra em um dos tipos penais previstos nas leis especiais, e s depois tentar enquadrar o fato em um dos tipos do Cdigo Penal. Podemos citar as seguintes leis especiais: a) b) c) d) Lei de Imprensa (Lei n 5.250/67); Cdigo Eleitoral; Lei de Segurana Nacional; Cdigo Militar.

2 CLASSIFICAO DOS CRIMES De acordo o Cdigo Penal Brasileiro atual, podemos classificar os crimes contra a honra em: a) Calnia (art. 138); b) Difamao (art. 139); c) Injria (art. 140). Em qualquer desses crimes o bem jurdico tutelado ser sempre a honra. 2.1 CALNIA 2.1.1 Conceito:

Calnia uma afirmao falsa e desonrosa a respeito de algum, inclusive mortos. Consiste em atribuir, falsamente, a algum a responsabilidade pela prtica de um fato determinado definido como crime, feita com m-f. Pode ser feita verbalmente, de forma escrita, por representao grfica ou internet. 2.1.2 Objeto Jurdico: Nesse crime o objeto jurdico a honra objetiva (a reputao, o conceito em que cada pessoa tida). 2.1.3 Ao Nuclear: A ao nuclear o verbo caluniar, que significa imputar falsamente fato definido como crime. O agente atribui a algum a responsabilidade pela prtica de um crime que no ocorreu ou que no foi por ele cometido. Trata-se de crime de ao livre, que pode ser praticado mediante o emprego de mmica, palavras (escrita ou oral), ressalvando-se que, se realizada atravs de meios de informao (servio de radiodifuso, jornais, etc.), constitui crime previsto na Lei de Imprensa. E quando a calnia for lanada em propaganda eleitoral, o fato ser enquadrado no cdigo Eleitoral. 2.1.4 Sujeito Ativo e Passivo: Tanto o sujeito ativo quanto o passivo ser qualquer pessoa. O sujeito passivo tambm pode ser atribudo aos de m fama e os irresponsveis (loucos ou menores); estes ltimos apenas no podero ser vtimas no crime de injira, caso lhes falte o necessrio entendimento. Os mortos tambm podem ser caluniados e seus parentes sero sujeito passivo. 2.1.5 Tipicidade objetiva e subjetiva: Duas so as figuras ou formas previstas no tipo objetivo: a) imputar falsamente (art. 138, caput) imputar atribuir; b) propalar ou divulgar sabendo falsa ( 1) propalar propagar, espalhar, e divulgar tornar pblico, bastando para tanto que se d conhecimento a uma s pessoa, pois no se pode confundir o ato (divulgar) com o seu resultado (divulgao). Podemos atribuir ao tipo subjetivo o Dolo de dano e o elemento subjetivo do tipo (proposto de ofender). Na figura fundamental, o dolo direto ou eventual. 2.1.6 Consumao: No momento em que chega ao conhecimento de uma terceira tem-se a consumao. No basta o prprio ofendido. necessrio haver publicidade (basta que uma pessoa tome conhecimento), pois apenas desse modo atingir-se- a

honra da pessoa (reputao). Se houver consentimento do ofendido, inexiste o crime. O consentimento do representante legal irrelevante. 2.1.7 Tentativa: Nesse crime a tentativa depende do meio usado. Trata-se de um crime formal ou de simples atividade. A calnia verbal, que se perfaz em um nico ato, por se tratar de crime unissubsistente, no admite tentativa; ou a imputao proferida e o fato est consumado, ou nada se diz e no h conduta relevante. A calnia escrita admite a tentativa, pois um crime plurissubsistente; h um iter, que pode ser fracionado ou dividido. 2.1.8 Inimputveis: Para os causalistas, como os menores de 18 anos de idade e outros inimputveis no cometem crime, no poderiam ser vtimas de calnia, j que para a caracterizao deste crime necessrio atribuir vitima a responsabilidade pela prtica de crime. Por outro lado, para os seguidores da teoria finalista, que retira o elemento culpabilidade do conceito de crime, os inimputveis poderiam sim ser vtimas de calnia. 2.1.9 Exceo da verdade: Nos termos do pargrafo 3o do artigo 138, o agente pode agir em sua defesa a exceo da verdade, provando a veracidade do fato imputado ao caluniado, excluindo dessa forma a tipicidade, j que o artigo exige a falsidade da informao para a perfeita formao do crime. No caber a exceo da verdade quando a lei atribuir presuno juris et de jure, como no caso de calnia contra o Presidente da Repblica ou chefe de estado estrangeiro. 2.1.10 Extino da punibilidade: Ocorrer a extino da punibilidade sempre que o agente fizer uma retratao completa, satisfatria e incondicional, reconhecendo publicamente seu erro. ato unilateral, pessoal e que independe da anuncia do ofendido, devendo ser realizada at a publicao da sentena de primeiro grau, sendo que aps este momento a retratao perde sua eficcia como forma de extino da punibilidade. 2.1.11 Pena e ao penal: As penas cominadas para quem calunia algum, imputando-lhe falsamente fato definido como crime, ou, sabendo falsa a imputao, a propala ou divulga, so de deteno, de seis meses a dois anos, e multa. A ao penal nos delitos contra a honra privada. No crime de calnia, portanto, somente se procede mediante queixa, salvo se praticado contra o

presidente da Repblica, chefe de governo estrangeiro ou funcionrio pblico, em razo de suas funes (art. 141, I e II, CP), hipteses em que a ao penal pblica condicionada requisio do ministro da Justia ou representao do ofendido, respectivamente (art. 145, pargrafo nico, CP). 2.2 DIFAMAO 2.2.1 Conceito: Difamao um termo jurdico que consiste em atribuir algum fato determinado ofensivo sua reputao, honra objetiva, e se consuma, quando um terceiro toma conhecimento do fato. De imputao ofensiva que atenta contra a honra e a reputao de algum, com a inteno de torn-lo passvel de descrdito na opinio pblica. A difamao fere a moral da vtima, a injria atinge seu moral, seu nimo. 2.2.2 Objeto Jurdico: Nesse crime o objeto jurdico a honra objetiva (o conceito, a reputao em que cada pessoa tida). Tal como o crime de calnia, protege-se a onra objetiva, ou seja, a reputao, a boa fama do indivduo no meio social. Interessa, sobretudo, a coletividade preservar a paz social, evitando que todos se arvorem no direito de levar ao conhecimento de terceiros fatos desabonadores de que tenham cincia acerca de determinado indivduo, ainda que tais fatos sejam verdadeiros. 2.2.3 Ao Nuclear: O ncleo do tipo o verbo difamar, que consiste em imputar a algum fato ofensivo reputao. Imputar consiste em atribuir o fato ao ofendido. A reputao concerne opinio de terceiros no tocante aos atributos fsicos, intelectuais, morais de algum. o respeito que o indivdio goza no meio social. A calnia e a difamao ofendem a honra objetiva, pois ainguem o valor social do indivduo. 2.2.4 Sujeito Ativo e Passivo: Trata-se de crime comum. O sujeito ativo (quem comete) pode ser qualquer pessoa humana (ser humano). Sujeito passivo (quem sofre) pode ser qualquer pessoa humana ou jurdica (Smula 227 do Superior Tribunal de Justia). 2.2.5 Tipicidade objetiva e subjetiva: A conduta imputar (atribuir). O fato deve ser determinado, mas no precisa ser especificado em todas as suas circunstncias. A Imputao no necessita ser falsa: ainda que verdadeira, haver o delito (exceo: o fato verdadeiro, atribudo a funcionrio pblico em razo de suas funes). A atribuio

dever chegar ao conhecimento de terceira pessoa, no se caracterizando o delito se o prprio ofendido quem a leva ao conhecimento de outrem. O delito comissivo e pode ser praticado por qualquer meio. O tipo subjetivo o Dolo de dano (direto ou eventual) e o elemento subjetivo do tipo (propsito de ofender). 2.2.6 Consumao: Consuma-se no instante em que terceiro, que no o ofendido, toma cincia da afirmao que macula a reputao. prescindvel que vrias pessoas tomem conhecimento da imputao. 2.2.7 Tentativa: No se admite a tentativa quando o caso for de difamao perpetrada pela palavra oral (hiptese de crimes unissubsistente, em que no h um iter criminis a ser fracionado); por meio escrito, plenamente possvel a tentativa (hiptese de crime plurissubsistente, havendo um iter criminis que comporta fracionamento), por exemplo: sujeito passivo que consegue interceptar a correspondncia antes que ela chegue ao seu destinatrio. 2.2.8 Inimputveis: Os menores e os doentes mentais podem ser sujeitos passivos do delito de difamao, uma vez que a honra um bem inerente personalidade humana. 2.2.9 Exceo da verdade: Como para este tipo de crime o dano ocorrer independentemente da veracidade da afirmao, somente se admite a exceo da verdade (alegao do ru de que o fato imputado verdico) como defesa se a difamao for contra servidor pblico e a ofensa relativa ao exerccio de sua funes (pargrafo nico, art. 139 do CP). 2.2.10 Extino da punibilidade: Ocorrer a extino da punibilidade sempre que o agente fizer uma retratao completa, satisfatria e incondicional, reconhecendo publicamente seu erro. ato unilateral, pessoal e que independe da anuncia do ofendido, devendo ser realizada at a publicao da sentena de primeiro grau, sendo que aps este momento a retatao perde sua eficcia como forma de extino da punibilidade. 2.2.11 Pena e ao penal:

As penas cumulativamente cominadas para aquele que difama algum, imputando-lhe fato ofensivo sua reputao, so de deteno, de trs meses a um ano, e multa. A ao penal nos delitos contra a honra privada (art. 145, caput, 1 parte, CP). De conseguinte, no crime de difamao, somente se procede mediante queixa, salvo se praticado contra o presidente da Repblica, chefe de governo estrangeiro ou funcionrio pblico, em razo de suas funes (art. 141, I e II, CP), hipteses em que a ao penal pblica condicionada requisio do ministro da Justia ou representao do ofendido, respectivamente (art. 145, pargrafo nico, CP). difamao se aplicam tambm causas especficas de aumento da pena do art. 141 do CP, in verbis: "Art. As penas cominadas neste Captulo aumentam-se de um tero, se qualquer dos crimes cometido: I - contra o Presidente da Repblica ou contra chefe de governo estrangeiro; II - contra funcionrio pblico, em razo de suas funes; III - na presena de vrias pessoas, ou por meio que facilite a divulgao da calnia, da difamao ou da injria; IV - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficincia, exceto no caso de injria. Pargrafo nico. Se crime cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro."'' 2.3 INJRIA 2.3.1 Conceito: Injria do latim injuria, de in + jus = injustia, falsidade. Injria um termo jurdico que consiste em atribuir algum qualidade negativa, que ofenda sua honra, dignidade ou decoro. um crime que consiste em ofender verbalmente, por escrito ou fisicamente (injria real), a dignidade ou o decoro de algum, ofendendo o moral, abatendo o nimo da vtima. 2.3.2 Objeto Jurdico: O objeto jurdico a Honra subjetiva (sentimento que cada pessoa tem a respeito de seu decoro ou dignidade). Ao contrrio dos delitos de calnia e difamao, que tutelam a honra objetiva, o bem protegido por essa norma penal a honra subjetiva, que constituda pelo sentimento prprio de cada pessoa

acerca de seus atributos morais (chamados de honra-dignidade), intelectuais e fsicos (chamados de honra-decoro). 2.3.3 Ao Nuclear: Consubstancia-se no verbo injuriar, que , conforme a definio de Nlso 2.3.4 Sujeito Ativo e Passivo: Trata-se de crime comum. O sujeito ativo qualquer pessoa, pois o tipo penal no exige qualquer condio especial do agente. Qualquer pessoal, inclusive os inimputveis, desde que tenha capacidade de discernimento do contedo da expresso ou atiturde ultrajante pode ser o susjeito passivo. No punvel a injria contra os mortos, salvo se praticada atravs da imprensa (art. 24, Lei n 5.250/67 Lei de Imprensa) 2.3.5 Tipicidade objetiva e subjetiva: Injuriar algum, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro. Consiste na atribuio genrica de qualidade negativas ou de fatos vagos e indeterminados. Prescinde da falsidade a imputao feita. Admite vrios meios de exceo (palavras, gestos, escritos, canes, imagens, caricaturas, etc.). Desnecessria a presena do sujeito passivo. Na injria no h a imputao de um fato, mas a opnio que o agente d a respeito do ofendido. O tipo subjetivo o Dolo de dano (direto ou eventual) e o elemento subjetivo do tipo que a inteno de ofender. Para os tradicionais, o chamado dolo especfico. No h forma culposa. 2.3.6 Consumao: Trata-se de delito formal. O crime se consuma quando o sujeito passivo toma cincia da imputao ofensiva, independentemente de o ofendido sentir-se ou no atingido em sua honra subjetiva, sendo suficiente, to-s, que o ato seja revestido de idoneidade ofensiva. Difere da calnia e da difamao, uma vez que para a consumao da injria prescinde-se que terceiros tomem conhecimento da imputao ofensiva. A injria no precisa ser proferida na presena do ofendido; basta que chegue ao seu conhecimento, po intermdio de terceiro, correspondncia ou qualquer outro meio. 2.3.7 Tentativa: Dependo do meio pelo qual praticada. possvel no caso de meio escrito, pois h um iter criminis passvel de ser fracionado (crime plurissubsistente); contudo, se a hiptese for de injria verbal (crime unissubsistente), inadmissvel

ser a tentativa; afinal, a palavra ou no proferida, tratando-se de nico e incindvel ato. 2.3.8 Inimputveis: A injria consitui ofensa honra subjetiva. Quando a ofensa disser respeito honra subjetiva, a existncia do crime deve ser condicionada capacidade de o sujeito ativo perceber a injria. Assim, os doentes mentais podem ser injuriados, desde que haja uma residual capacidade de compreender a expresso ofensiva. De igual modo, os menores podem ser injuriados, dependendo da sua capacidade de compreenso da expresso ou atitude ofensiva. 2.3.9 Exceo da verdade: inadmissvel no crime de injria. Em primeiro lugar, no interessa ao Direito comprovar a veracidade de opnies pessoais que consistam em ultrajes contra algum, ou seja, no importa verificar se realmente fulano cornudo, incompetente, bbado, trapaceiro. No crime de calnia, pelo contrrio, por se tratar de imputao de fato definido como crime, interessa Justia Pblica investigar se tal fato ou no verdadeiro. Em segundo lugar, no importa para a configurao do crime de injria a falsidade das ofensas, ao contrrio do crime de calnia. 2.3.10 Extino da punibilidade: No se aplica a retratao ao crime de injria por no estar previsto no artigo 143 do CP. Somente admissvel a retratao nos crimes de calnia e difamao. 2.3.11 Pena e ao penal: Comina-se injria simples, alternativamente, pena de deteno, de um a seis meses, ou multa. Se a injria consiste em violncia ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes (injria real), as penas abstratamente previstas so de deteno, de trs meses a um ano, e multa, alm da pena correspondente violncia (art. 140, 2). A segunda modalidade qualificada encontra-se insculpida no pargrafo 3, que comina pena de recluso, de um a trs anos, e multa, se a injria consiste na utilizao de elementos referente a raa, cor, etnia, religio ou origem. A ao penal privada (art. 145, caput), exceto se a injria for dirigida ao presidente da Repblica ou a chefe de governo estrangeiro (pblica condicionada requisio do ministro da Justia) ou a funcionrio pblico, em razo de suas funes (pblica condicionada representao do ofendido) art. 145, pargrafo nico. Na injria real, resultante desta leso corporal grave, a ao penal pblica incondicionada; se produzidas leses leves, a ao penal pblica condicionada

representao (art. 88, Lei n 9.099/95); na hiptese de vias de fato, a ao de natureza privada (art. 145, caput). 2.4 DIRENA ENTRE CALNIA, DIFAMAO E INJRIA Na calnia, o fato imputado definido como crime; na injria, no h atribuio de fato, mas de qualidade; na difamao, h a imputao de fato determinado. A calnia e a difamao atinguem a honra objetiva; a injria atinge a honra subjetiva. A calnia e a difamao consumam-se quando terceiros tomam conhecimento da imputao; a injria consuma-se quando o prprio ofendido toma conhecimento da imputao. A calnia consiste em imputar falsamente, a algum, fato definido como crime. Se acaso o fato for definido como contraveno penal dever ser configurada como difamao. A sua caracterizao exige os seguintes requisitos: a) imputao de fato determinado qualificado como crime; b) pessoa ou pessoas determinadas; c) falsidade da imputao. Exemplificando: A acusa B de ter furtado o celular de C, sendo tal acusao falsa, est configurado o crime de calnia. O crime de difamao consiste em imputar algum fato ofensivo a sua reputao, ou seja, o autor do crime profere fatos ofensivos, no definidos como crime, com a inteno de desacreditar a vtima. Para caracterizar o crime em questo necessrio os seguintes requisitos: a) imputao de fato determinado, diferente de crime; b) pessoa ou pessoas determinadas; c) fato determinado ofensivo a reputao sendo ele verdadeiro ou falso. Exemplificando: A espalha no trabalho que B um assduo freqentador de prostbulos, sendo este fato verdadeiro ou falso, constitui crime de Difamao, pois as pessoas no devem tecer comentrios desabonadores respeito de qualquer que seja a pessoa, sendo eles verdadeiros ou no. A injria consiste em ofender a dignidade ou decoro de algum. O crime de injria praticado atravs da imputao de uma qualidade negativa vtima, sendo este verdadeiro ou no, no havendo assim a necessidade da imputao de um fato determinado como na calnia ou difamao. So os requisitos: a) imputao de qualidade negativa; b) pessoa ou pessoas determinadas; c) qualidade negativa verdadeira ou falsa.

Exemplificando: A diz que B um idiota e um imbecil. Se so verdadeiras ou no as qualidades negativas imputadas a B, isto no interessa para o legislador, pois a depreciao da auto-estima de B j foi atingida, configurando assim crime de injria. importante anotar que os crimes de calnia e difamao atingem a honra objetiva da vtima, enquanto a injria atinge a honra subjetiva.