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Castelo Branco Científica - Ano IV - Nº 08 - julho/dezembro de 2015 - www.castelobrancocientifica.com.br 1 Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 UMA ABORDAGEM CONCEITUAL E DESCOMPLICADA SOBRE OS CRIMES CONTRA A HONRA Ivan Carlos De Lorenci RESUMO: O presente estudo aborda de maneira simples quais são os crimes contra a honra e quais as consequências relativas à impropriedade de se atacar a honra de alguém. Honra é o profundo sentimento de grandeza, de glória, de virtude e de probidade que cada um faz de si próprio, portanto a questão é sensivelmente subjetiva, haja vista que cada ser humano tem embutido em seu subconsciente a valoração de seus atributos personalíssimos. Assim, a ofensa a qualquer de seus atributos pessoais se caracteriza como fato típico e antijurídico e, desta forma, requer punição ao ofensor por parte do Estado, que tem obrigação precípua de tutelar a individualidade de cada pessoa. Os crimes contra honra são denominados e punidos pela lei como calúnia, injúria e difamação, os quais serão abordados neste estudo. PALAVRAS-CHAVE: Honra, Moral, Calúnia, Difamação e Injúria. ABSTRACT: The present study aproaches in a very simple way which are the crimes against the honor and the consequences related to the impropriety to attack the someone's honor. Honor is the deep feeling of O presente artigo é uma adaptação de um estudo publicado pelo autor em 2002 no site jurídico www.direitonet.com.br sob o título “Dos Crimes Contra a Honra – Reflexão”. O autor possui Graduação e Pós-Graduação em nível de Especialização em Direito Penal e Processual Penal pelo Centro Universitário do Espírito Santo - UNESC. É servidor Técnico Administrativo efetivo do Instituto Federal do Espírito Santo - IFES/Campus/Colatina e professor de Direito Trabalhista e Tributário dos Cursos do PRONATEC do mesmo Instituto Federal.

UMA ABORDAGEM CONCEITUAL E DESCOMPLICADA SOBRE OS CRIMES ...castelobrancocientifica.com.br/img.content/artigos/artigo137.pdf · CONTRA A HONRA Ivan Carlos De Lorenci RESUMO: ... Nos

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Castelo Branco Científi ca - Ano IV - Nº 08 - julho/dezembro de 2015 - www.castelobrancocientifi ca.com.br �1

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

UMA ABORDAGEM CONCEITUAL E DESCOMPLICADA SOBRE OS CRIMES

CONTRA A HONRA�

Ivan Carlos De Lorenci�

RESUMO:

O presente estudo aborda de maneira simples quais são os crimes contra a honra e quais as

consequências relativas à impropriedade de se atacar a honra de alguém. Honra é o profundo

sentimento de grandeza, de glória, de virtude e de probidade que cada um faz de si próprio, portanto a

questão é sensivelmente subjetiva, haja vista que cada ser humano tem embutido em seu subconsciente

a valoração de seus atributos personalíssimos. Assim, a ofensa a qualquer de seus atributos pessoais se

caracteriza como fato típico e antijurídico e, desta forma, requer punição ao ofensor por parte do

Estado, que tem obrigação precípua de tutelar a individualidade de cada pessoa. Os crimes contra honra

são denominados e punidos pela lei como calúnia, injúria e difamação, os quais serão abordados neste

estudo.

PALAVRAS-CHAVE: Honra, Moral, Calúnia, Difamação e Injúria.

ABSTRACT:

The present study aproaches in a very simple way which are the crimes against the honor and the

consequences related to the impropriety to attack the someone's honor. Honor is the deep feeling of

�O presente artigo é uma adaptação de um estudo publicado pelo autor em 2002 no site jurídico www.direitonet.com.br

sob o título “Dos Crimes Contra a Honra – Reflexão”.

�O autor possui Graduação e Pós-Graduação em nível de Especialização em Direito Penal e Processual Penal pelo

Centro Universitário do Espírito Santo - UNESC. É servidor Técnico Administrativo efetivo do Instituto Federal do

Espírito Santo - IFES/Campus/Colatina e professor de Direito Trabalhista e Tributário dos Cursos do PRONATEC do

mesmo Instituto Federal.

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

greatness, glory, virtue and the probity that each one makes from itself, so the point is perceptibly

subjective, considering each human being has in the subconscious the value of their personal attributes.

This, the offense to any of the personal attributes characterizes as atypical fact and anti-law and, this

way, it recquires punishment to the offender by the state, which has the primary obligation to protect the

individuality of each person. This crimes against honor that are nominate and punishment by the law as

slander, injury and defamation, which on will be approached in this study.

KEYWORDS: Honor, Ethical, Slander, Defamation and Injury

INTRODUÇÃO

A honra, na concepção comum, é o conjunto de atributos morais, intelectuais e físicos de uma pessoa,

porém esse conceito é muito singelo consoante à importância do atributo honra para o ser humano.

Desta forma há que se caracterizar a honra em objetiva e subjetiva. Objetiva porque diz respeito ao

conceito que os outros fazem de alguém, portanto quem ataca a honra objetiva de outra pessoa também

estará criando uma situação em que poderá acarretar uma mudança de conceito da sociedade em

relação à pessoa ofendida.

Quanto à honra subjetiva, podemos equacionar na forma do sentimento e no juízo que cada um faz de si

mesmo. Esta é dividida em honra-dignidade, que diz respeito às qualidades morais da pessoa; e honra-

decoro que preza pelas qualidades intelectuais e físicas. .

Justamente por ser tão importante para cada pessoa é que a honra tem capítulo especial no Código Penal

Pátrio, que caracteriza os crimes contra a honra em Calúnia, Difamação e Injúria.

1 - CALÚNIA – é imputar falsamente fato tipificado como criminoso a alguém, ou seja, atribuir a

algum indivíduo a responsabilidade pela prática de algum fato previsto como criminoso. Não importa

se a manifestação se refere a crime de ação pública ou privada(em regra é privada), importa, sim, a

atribuição de um fato concreto pelo caluniador responsabilizando o caluniado pela autoria do fato.

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A calúnia se consuma quando o fato propagado chega ao conhecimento de uma terceira pessoa, mesmo

porque, se trata de crime que atinge a honra objetiva.

A tentativa é possível desde que, uma vez iniciada a execução, por alguma circunstância alheia a

vontade do agente, a consumação não se efetiva.

A calúnia verbal não admite a tentativa, pois, ou o agente profere a ofensa e o

crime está consumado, ou não o faz e, nesse caso, o fato é atípico. Na forma

escrita, entretanto, a tentativa é admissível, como, por exemplo, no caso da

carta contendo a calúnia que se extravia (GONÇALVES, 2011, p. 238).

Na calúnia é possível a aplicação da exceção da verdade, ou seja, a possibilidade do sujeito que cometeu

um crime tido como calunioso, provar a veracidade do fato imputado. Se o agente provar que o fato

realmente ocorreu, este deverá ser absolvido por falta de tipicidade.

Entretanto, o §3º, incisos I, II e III do art. 138 do Código Penal, possui algumas exceções, casos em que

mesmo sendo verdadeiras as suas acusações não se admitirá a prova da verdade. As exceções são as

seguintes:

1. Se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por

sentença irrecorrível;

2. Se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141;

3. Se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença

irrecorrível.

Os indicados no nº I do art. 141 do CP são: Presidente da República, ou chefe de governo estrangeiro.

A retratação é cabível se o ofensor se retrata cabalmente da calúnia imputada e, neste caso, ficará isento

de pena.

A calúnia está prevista no Código Penal em seu Art. 138, com pena de detenção de seis meses a dois

anos e multa.

2–DIFAMAÇÃO – é difamar alguém propagando fato que atente contra a sua reputação. Neste caso a

ofensa está em prejudicar a boa reputação da vítima, deve-se observar ainda que mesmo que a

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manifestação seja verdadeira, ainda assim persistirá o crime.

A difamação também fere a honra objetiva porque ataca justamente o conceito que os outros fazem da

vítima quanto a sua reputação. Se consuma quando o fato chega ao conhecimento de terceiro e quem,

sabendo do fato, o propaga, também incorrerá em difamação. Desta forma, objetivamente falando, as

pessoas não devem fazer considerações com outros de fatos negativos de que tenham conhecimento

sobre uma ou outra pessoa.

Na difamação também cabe a aplicação da exceção da verdade, porém somente se o ofendido é

funcionário público e a situação ocorreu em razão do exercício da sua função. Neste caso é interesse do

Estado a apuração dos fatos.

A retratação é cabível se o ofensor se retrata cabalmente da difamação imputada e, neste caso, ficará

isento de pena.

A difamação é punível conforme o Art. 139 do Código Penal com detenção de três meses a um ano e

multa.

3 - INJÚRIA – é atribuir a alguém qualidade negativa ofensiva a sua dignidade ou decoro. Aqui não se

fala em fato determinado, deve-se observar a manifestação de desrespeito com a vítima, atribuindo-lhe

valores depreciativos quanto à sua pessoa ou à sua honra subjetiva.

A dignidade é atingida toda vez que se ataca às qualidades morais da pessoa. O decoro diz respeito às

suas qualidades físicas e intelectuais.

A injúria apresenta três situações: injúria simples, que é a prevista no caput do art. 140, ou seja, a injúria

estará caracterizada se houver ofensa à dignidade ou ao decoro da pessoa que se pretende ofender.

Como qualificadoras do crime temos a injúria real (§2º do art. 140) e a injúria preconceituosa (§3º do

art. 140) que são apresentadas no Código Penal como situações que agravam a pena do ofensor.

A injúria pode ser qualificada como real quando o ofensor escolhe como caminho para ofender a vítima

uma simples agressão. Portanto, para a sua configuração é importante que a injúria consista em

violência ou vias de fato, de modo que seja recriminável e que cause ofensa à honra subjetiva.

Outra qualificadora é a injúria preconceituosa que consiste na utilização de elementos referentes à raça,

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cor, etnia, religião, origem ou condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Aqui, não se deve

confundir a injúria qualificada pelo preconceito com o racismo. O racismo consiste em separar alguém

em virtude de raça, cor ou da religião. A injúria preconceituosa é executada mediante palavrões,

xingamentos, tocantes à raça, cor, etnia, religião, origem ou condição de pessoa idosa ou portadora de

deficiência.

A injúria se consuma no momento em que a vítima se sente ofendida, visto que o crime tem natureza

pessoal. A injúria está prevista no Código Penal no Art. 140, punível em regra com detenção de um a

seis meses, ou multa. Portanto, é um insulto que macula a honra subjetiva, arranhando o conceito que a

vítima faz em si mesma (NUCCI, 2011, p. 694).

Cumpre salientar que na injúria não se aplica o instituto da retratação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nestas breves considerações, cumpre observar algumas lições práticas:

1 . Não se deve ferir a honra de uma pessoa, seja ela objetiva ou subjetiva.

2. Nos crimes contra a honra a consumação ocorre quando a ofensa chega ao conhecimento de

terceiros, nos casos de calúnia e difamação, e quando a ofensa chega ao conhecimento da vítima,

no caso de injúria.

3 . Não se deve propagar fato tipificado como crime a alguém, sendo este fato sabidamente falso.

4 . Não se deve propagar fato que possa causar prejuízo à reputação de alguém.

5. Não se deve desrespeitar quem quer que seja com ofensas às suas qualidades e aos seus

sentimentos.

As pessoas se caracterizam por suas atitudes e manifestações, desta forma há que se respeitar a

individualidade de cada um, seus defeitos e suas qualidades. A incolumidade física e moral deve ser

protegida de toda e qualquer ofensa. A honra, portanto, tem que ser respeitada por ser atributo moral de

caráter personalíssimo e o Estado, como garantidor da ordem e da justiça, tem o dever de tutelar quem

se sentir atingido em sua honra, evitando que crimes como calúnia, difamação e injúria agridam a

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valoração moral e pessoal de cada indivíduo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BITTENCOURT, César Roberto. Código Penal Comentado. São Paulo: Saraiva, 2002.

BRASIL. Código Penal. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Vademecum. São Paulo:

Saraiva, 2013.

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Especial. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2007,

GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. – São Paulo:

Saraiva, 2011.

JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal. 25ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

LORENCI, Ivan Carlos De. Dos Crimes Contra a Honra – Reflexão. https://www. direitonet.com.br,

2002.

MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 18ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal: Parte Especial. – 7. ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2011.