19
Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br 1 Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 O LÚDICO COMO RECURSO PEDAGÓGICO DESSABATO, Monique dos Santos RESUMO No campo da educação o lúdico eleva a prática social infantil, elevando a prá- tica social e a auto-estima, o educador é incentivado a atuar dessa forma no processo ensino aprendizagem. Reformulando com criticidade sua prática pe- dagógica com ideia e incentivo. Os jogos interagem despertando no educando o prazer com o social. Estes, contribuem com o desempenho do educador de forma prazerosa, permitindo ao educando a percepção de que o jogo é um ele- mento atrativo ao referido processo. A reflexão deve ser incutida na mente do educando desde seu primeiro contato com a escola, a princípio espera-se que o educando desperte para o novo ambiente. O desafio do lúdico na educação infantil é desenvolver no educando o raciocínio lógico, aguçar a curiosidade, despertar táticas de jogos e manusear materiais pedagógicos. PALAVRAS-CHAVE: Educação. Jogos. Educador. Ensino INTRODUÇÃO O lúdico, por trabalhar o aspecto fundamental do desenvolvimento infantil – o movimento – a ação motriz, tem como elementos significativos de seu conteúdo – o jogo e brincadeira. Através do lúdico a criança interage com o meio ambiente, expressa sua

O LÚDICO COMO RECURSO PEDAGÓGICOcastelobrancocientifica.com.br/img.content/artigos/artigo69.pdf · Por ele, a criança toma contato com as outras, se habitua a considerar o ponto

Embed Size (px)

Citation preview

Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br 1

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

O LÚDICO COMO RECURSO PEDAGÓGICO

DESSABATO, Monique dos Santos

RESUMO

No campo da educação o lúdico eleva a prática social infantil, elevando a prá-tica social e a auto-estima, o educador é incentivado a atuar dessa forma no processo ensino aprendizagem. Reformulando com criticidade sua prática pe-dagógica com ideia e incentivo. Os jogos interagem despertando no educando o prazer com o social. Estes, contribuem com o desempenho do educador de forma prazerosa, permitindo ao educando a percepção de que o jogo é um ele-mento atrativo ao referido processo. A reflexão deve ser incutida na mente do educando desde seu primeiro contato com a escola, a princípio espera-se que o educando desperte para o novo ambiente. O desafio do lúdico na educação infantil é desenvolver no educando o raciocínio lógico, aguçar a curiosidade, despertar táticas de jogos e manusear materiais pedagógicos.

PALAVRAS-CHAVE: Educação. Jogos. Educador. Ensino

INTRODUÇÃO

O lúdico, por trabalhar o aspecto fundamental do desenvolvimento infantil – o movimento – a ação motriz, tem como elementos significativos de seu conteúdo – o jogo e brincadeira.Através do lúdico a criança interage com o meio ambiente, expressa sua

Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br2

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

criatividade para solucionar problemas diante das mais variadas situações que perfazem o contexto de sua aprendizagem, impulsionando o desenvol-vimento de suas potencialidades.A análise do significado dos jogos e das brincadeiras, pode contribuir como fonte de informação àqueles que lidam com crianças, facilitando a compre-ensão de seus gestos, preferências, a participação e a não participação, os sentimentos, a socialização e a capacidade de abstração.A cada etapa em que a criança vivencia, ela aborda o significado do jogo na cultura, pretendendo mostrar sua influência no desenvolvimento huma-no. Somente o saber do professor não está garantindo maior mobilidade à agilidade do aluno (tenha ele a idade que tiver). Assim é preciso trabalhar o aluno como uma pessoa inteira, com sua afetividade, suas percepções, sua expressão, seus sentidos, sua crítica, sua criatividade, inserindo-o num contexto cultural que evolui constantemente e onde ele consiga acompa-nhar tal evolução e adaptar-se.A brincadeira tem seu significado interpretado no trabalho, enfatizando que a atividade lúdica pode se revestir de profunda seriedade. Percebe-se, que a maior parte do tempo é dedicada ao brinquedo e esta dedicação e este interesse se dão a partir do momento em que são oferecidas à criança objetos ou situações como forma de entretenimento.Esta atitude do adulto em oferecer à criança objetos ou situações como for-ma de entretenimento só tem características do lúdico se for absorvida pela criança sob o sentimento de prazer, por isso essa necessidade inerente deve ser respeitada e entendida como um aspecto importante na vida da criança.Segundo Jean Piaget, devido às suas implicações educacionais de acordo com o grau de complexidade mental da criança, que procura compreender o seu mundo através de um relacionamento ativo com pessoas e objetos, ao deparar-se com situações e acontecimentos, ela vai se adaptando através

Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br 3

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

da construção sucessiva de estruturas, às quais apresentam formas de pro-gresso com relação às anteriores. Garante uma equilibração cada vez mais complexa, que culmina com o alcance do raciocínio abstrato.O brinquedo educa, e o educador, ao utilizá-lo como recurso pedagógico mobiliza os esquemas mentais integrando as várias dimensões da persona-lidade, especialmente a cognitiva.Na ação pedagógica, se a interferência do professor subtrair ao aluno sua iniciativa, impondo-lhe soluções para os problemas surgidos, muito pouco se exigirá de seu aparelho cognitivo. Se, por outro lado, o professor dei-xar que a própria criança resolva os problemas, ou se interferir apenas no sentido de fornecer pistas, o esforços de chegar a um bom resultado levará a criança a voltar sua atenção para os meios de ação, que redundará em tomada de consciência.O brinquedo é visto como fator de interação e como forma privilegiada de acesso a todas as camadas sociais. Por ele, a criança toma contato com as outras, se habitua a considerar o ponto de vista de outrem, e sair de seu egocentrismo. A brincadeira de grupos a que todos têm acesso.

O LÚDICO COMO RECURSO PEDAGÓGICO

O lúdico é uma atividade que tem valor educacional intrínseco. Jogar edu-ca, assim como viver educa.

A criança procura o lúdico com uma necessidade e não como dis-tração (...) É pelo lúdico que a criança se revela. As suas inclinações boas ou más, a sua vocação, as suas habilidades, o seu caráter, tudo que ela traz latente no seu eu em formação, torna-se visível pelo jogo e pelos brinquedos que ela executa. (KISCHIMOTO, 1993, p., 106).

Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br4

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

É sabido que o lúdico tem sido utilizado como recurso pedagógico.São várias as razões que levam os educadores a recorrer ao lúdico e a utilizá-lo como um recurso no processo ensino aprendizagem.O jogo corresponde a um impulso natural da criança, e neste sentido, satisfaz uma necessidade interior, pois o ser humano apresenta uma tendência lúdica.A atitude do jogo apresenta dois elementos que a caracteriza: o prazer e o esforço espontâneo. O jogo é prazer, pois sua principal característica é a capacidade de atrair o jogador de forma intensa e total, criando um clima de entusiasmos. É este aspecto de envolvimento emocional que torna o jogo uma atividade de forte teor motivacional, capaz de gerar um estado de vibração e euforia.Em virtude dessa atmosfera de prazer dentro da qual se desenrola, o jogo é portador de um interesse intrínseco, canalizando as energias no sentido de um esforço total para a consecução de seu objetivo. Portanto, o jogo é uma atividade excitante, mas também, esforço voluntário. Estes dois elementos coexistem em situação de jogo: “o prazer conduzido ao esforço espontâneo e o esforço intensificando o prazer”. Daí ser o jogo uma atividade libera-dora da espontaneidade.A situação de jogo mobiliza os esquemas mentais: sendo uma atividade física e mental, o jogo aciona e ativa as funções psico-neurológicas e as operações mentais, estimulando o pensamento. Quando nos referimos às características do jogo, afirmamos que ele já é por si uma forma de ordena-ção do tempo, do espaço e dos movimentos, sendo que esta ordenação se expressa principalmente através das regras.O jogo integra as várias dimensões da personalidade: afetiva, motora e cognitiva. Como atividade física e mental que mobiliza as funções e as operações, o jogo aciona as esferas motoras e cognitivas, e, à medida que gera envolvimento emocional, apela para a esfera afetiva. Neste particular,

Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br 5

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

o jogo se assemelha à atividade artística, como um elemento integrador dos vários aspectos da personalidade. O ser que brinca e joga é também, o ser que age, sente, pensa, aprende e se desenvolve.

Todos os jogos são, por sua própria essência, educativos. Reserva--se, porém, o nome de jogos e de brinquedos educativos e certos jogos ou brinquedos combinados de maneira que proporcionem um desenvolvimento sistemático de espírito ou inculquem conhecimen-tos positivos. (CLAPARÉDE, 19566, p., 435-438).

A ideia de aplicar o jogo à educação difundiu-se, principalmente, a partir do movimento da Escola Nova e da adoção dos chamados “métodos ati-vos”. No entanto, esta ideia não é tão nova nem tão recente, quanto possa parecer. Em 1632, Comenius terminou de escrever sua obra Didática Mag-na, através da qual apresentava sua concepção de educação. Ele pregava a utilização de método “de acordo com a natureza” e recomendava a prática de jogos, devido ao seu valor formativo.No século XVIII, ROUSSEAU e PESTALOZZI afirmaram que a educa-ção não deveria ser um processo artificial e repressivo, mas um processo natural de acordo com o desenvolvimento mental da criança, e levando em consideração seus interesses e suas tendências inatas. Salientavam a importância dos jogos como instrumento formativo, pois além de exercitar o corpo, os sentidos e as aptidões, os jogos também preparavam para a vida comum e para as relações sociais.FROEBEL, que viveu de 1782 a 1852 preparava uma pedagogia da ação, e mais particularmente do jogo. Ele dizia que a criança, para se desenvolver, não devia olhar e escutar, mas agir e produzir. Essa necessidade de criação, de movimento, de jogo produtivo deveria encontrar seu canal de expansão através da educação. Como a natureza da criança tende à ação, a instrução

Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br6

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

deveria levar em conta seus interesses e suas atividades espontâneas. Por isso, considerava que o trabalho manual, os jogos e os brinquedos infantis tinham uma função educativa básica: é através dos jogos e dos brinquedos que a criança adquire a primeira representação do mundo e, é por meio deles, também que ela penetra no mundo das relações sociais, desenvol-vendo seu senso de iniciativa e auxílio mútuo. No seu trabalho docente, FROEBEL pôs em prática a teoria de valor educativo do brinquedo e do jogo, principalmente no jardim da infância: para isso elaborou um currí-culo centrado em jogos para desenvolvimento da percepção sensorial, da expressão e para iniciação à matemática.Como vemos, alguns dos grandes educadores do passado já reconheciam o valor pedagógico do jogo, e tentavam aproveitá-lo como agente educador. GUY JACQUIM diz que “o jogo é para a criança a coisa mais importante da vida. O jogo é, nas mãos do educador, um excelente meio de formar a personalidade da criança. Por essas duas razões, todo educador, pai ou mãe, professor, dirigente de movimento educativo, deve não só fazer jogar como utilizar a força educativa do jogo”.Brincando e jogando, a criança aplica seus esquemas mentais à realidade que a cerca, aprendendo e assimilando-a. Brincando e jogando, a criança reproduz as suas vivências, transformando o real de acordo com seus de-sejos e interesses. Por isso, pode-se dizer que, através do brinquedo e do jogo, a criança expressa, assimila e constrói a sua realidade.É importante que as crianças participem ativamente no desenvolvimento dos jogos: da apresentação do jogo, da discussão das regras, das possibilidades de jogar, da sua participação como elemento do conjunto de jogadores.O lúdico na perspectiva construtivista, constitui-se num recurso pedagó-gico de inestimável valor na construção da escrita e da leitura, além de propiciar o desenvolvimento da inteligência social e moral da criança.

Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br 7

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

O uso do brinquedo e do jogo educativo com fins pedagógicos remete-nos para situações de ensino-aprendizagem e para o desenvolvimento infantil. Se considerarmos que a criança aprende de modo intuitivo, adquire noções espontâneas, em processos interativos envolvendo o ser humano inteiro com suas cognições, afetividade, corpo e interações sociais, o brinquedo desempenha um papel de grande relevância para desenvolvê-la.Ao permitir a ação intencional (afetividade), a construção de representações mentais (cognição), a manipulação de objetos e o desempenho de ações sen-sório-motoras (físico) e as trocas nas interações (social), o jogo contempla várias formas de representação da criança ou suas múltiplas inteligências, contribuindo para a aprendizagem e o desenvolvimento infantil. Quando as situações lúdicas são intencionalmente criadas pelo adulto com vistas a esti-mular certos tipos de aprendizagem, surge a dimensão educativa. Desde que mantidas as condições para a expressão do jogo, ou seja, a ação intencional da criança para brincar, o educador está potencializando as situações de aprendizagem. Utilizar o jogo na educação infantil significa transportar para o campo do ensino-aprendizagem condições de maximi-zar a construção do conhecimento, introduzindo as propriedades do lúdico, do prazer, da capacidade de iniciação e ação ativa e motivadora.O jogo não pode ser visto, apenas como divertimento ou brincadeira para desgastar energia, pois ele favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, social e moral. Para PIAGET (1697), o jogo é a construção do conhecimento, principalmente, nos períodos sensório-motor e pré-opera-tório. Agindo sobre os objetos, as crianças, desde pequenas, estruturam seu espaço e seu tempo, desenvolvem noção de causalidade chegando a representação e, finalmente, à lógica.As crianças ficam mais motivadas a usar a inteligência, pois querem jogar bem, sen-do assim, esforçam-se para superar obstáculos, tanto cognitivos quanto emocionais. Estando mais motivadas durante o jogo, ficam também mais ativas mentalmente.

Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br8

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

O lúdico, por ser livre de pressões e avaliações, cria um clima de liberdade, propício à aprendizagem e estimulando a moralidade, o interesse, a desco-berta e a reflexão.

É no brincar, e somente no brincar que o indivíduo, criança ou adul-to, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somen-te sendo criativo que o indivíduo descobre o seu eu (self) (WINNI-COTT, 1971, p., 80).

Sabe-se que experiências positivas dão segurança e estímulo para o desen-volvimento. O jogo propicia a experiência do êxito, pois é significativo, possibilitando a autodescoberta, a assimilação e a integração com o mundo por meio de relações e de vivências.O ato de brincar é tão antigo quanto o próprio homem, pois este sempre ma-nifestou uma tendência lúdica, isto é, um impulso para o jogo e a brincadeira.A compreensão do lúdico dos tempos passados exige, muitas vezes, o au-xílio da visão antropológica. Ela é imprescindível especialmente quando se desejar discriminar o brinquedo em diferentes culturas. Comportamentos considerados como lúdicos apresentam significados distintos em cada cul-tura. Se para a criança europeia a boneca significa um brinquedo, um obje-to, suporte de brincadeira, para certas populações indígenas tem o sentido de símbolo religioso.Do ponto de vista histórico, a análise do lúdico é feita a partir da imagem da criança presente no cotidiano de uma determinada época. O lugar que a criança ocupa num contexto social específico, a educação a que está sub-metida e o conjunto de relações sociais que mantém com personagens do seu mundo. Tudo isto permite, compreender melhor o cotidiano infantil, é nesse cotidiano que se forma a imagem da criança e do seu brincar.

Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br 9

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

...O homem participa da vida cotidiana com todos os aspectos de sua individualidade, de sua personalidade. Neste, colocam-se em funcionamento todas as suas capacidades intelectuais, suas habili-dades manipulativas, seus sentimentos, paixões, idéias, ideologias. (HELLER, 1989, p., 16,17).

De acordo com HUIZINGA, a cultura surge sob a forma de jogo, sendo que a tendência lúdica do ser humano está na base de muitas realizações na esfera da Filosofia, da Ciência e da Arte (em especial da poesia), no campo militar e político e mesmo na área judicial.Embora o caráter lúdico dessas realizações seja mais evidente nas socieda-des arcaicas, ele aparece também nas sociedades mais complexas, muitas vezes atuando ou disfarçando, HUIZINGA explica sua concepção dizendo:

...Mesmo as atividades que visem à satisfação imediata das necessi-dades vitais, como por exemplo, a caça, tendem a assumir nas socie-dades primitivas uma forma lúdica. A vida social reveste-se de for-mas suprabiológicas, que lhe conferem uma dignidade superior sob a forma de jogo, e é através deste último que a sociedade exprime sua interpretação da vida e do mundo. Isto não quer dizer que o jogo se transforma em cultura, e sim que, em suas fases mais primitivas, a cultura possui um caráter lúdico, que ela se processa segundo as formas e no ambiente do jogo. (HUIZINGA, 1971, p., 3).

HUIZINGA caracteriza o lúdico como atividade voluntária; não diferencia o jogar das crianças e o jogar dos animais pela liberdade inerente a ambos; vê no jogo, uma função dispensável, supérflua, pela possibilidade de ser adiada ou suspensa, e porque ainda pode ser praticado nas “horas de ócio”.Afirma também, não haver diferenças entre o jogo e o ritual por terem uma fun-ção cultural reconhecida com características fundamentais em comum; o “lugar

Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br10

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

sagrado” e a limitação de tempo. Associam ao jogo palavras ligadas à estética--tensão, equilíbrio, contraste e variação; e qualidades como ritmo e harmonia.O jogo tem uma função significante encerrando um determinado sentido, admite a existência de alguma coisa “em jogo” que transcende às neces-sidades imediatas da vida, conferindo um sentido à ação. E para explicar o significado da essência do jogo, afirma que seria demasiado chamar-lhe “espírito” ou “vontade”. Mas, ao mesmo tempo diz que o simples fato do jogo encerrar um sentido, implica na presença de um elemento não mate-rial em sua própria essência.HUISINGA cita que há divergências entre as numerosas tentativas de defi-nição do jogo-descarga da energia vital superabundante, satisfação de um certo “instinto de imitação”, necessidade de distensão, preparação do jo-vem para tarefas mais sérias.O elemento comum a todas as características, segundo HUIZINGA, é o pressuposto de que o jogo se acha ligado a algo que não tenha propriamen-te uma finalidade biológica.

O que para ele, explica parcialmente o problema, pois a grande maioria preocupa-se apenas superficialmente em saber o que o jogo é em si mesmo e o que ele significa para os jogadores numa abordagem direta, sem contu-do prestar atenção a seu caráter profundamente estético, deixando de lado a característica fundamental do que há de realmente divertido nele.

(...) A intensidade do jogo e seu poder de fascinação não podem ser ex-plicadas por análises biológicas. E contudo, é nessa intensidade, nessa fascinação, nessa capacidade de excitar que reside a própria essência e a característica primordial do jogo. (HUIZINGA, 1971, p., 5).

Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br 11

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

Portanto para HUIZINGA, o divertimento resiste a toda análise e interpre-tação racionalista. A realidade do jogo ultrapassa a esfera biológica, assim, é impossível que esteja fundado em interesses meramente materiais, sua realidade é relativamente autônoma.É comum opor-se o trabalho ao lúdico, considerando o primeiro como uma “ati-vidade séria”. Enquanto o lúdico não estaria associado ao conceito de seriedade.A maioria dos adultos, incluindo professores, faz uma grande diferença entre “TRABALHO e LÚDICO”. Nesse ponto de vista comum, folha de “exercícios” são incluídas como “trabalho” e “lúdicos” como “diversão”. Os que defendem esse ponto de vista dizem que as crianças têm que aprender a viver e trabalhar num mundo dos adultos e as salas de aula têm a função de prepará-las para tal. Essas pessoas também acham que as crianças tem que brincar mas reservam essa necessidade para as atividades de recreio, ginásti-ca ou “playground”. Quando jogos são permitidos nas salas de aulas, eles só podem ser levados a efeito depois do “trabalho” dos alunos.Mesmo que alguns jogos não levem a um aprendizado, é surpreendente como as crianças aprendem enquanto brincam (KAMILL, 1994, p., 171).Essa ideia refletiu-se na educação durante muito tempo, e apesar dos con-ceitos proféticos dos grandes educadores, a pedagogia tradicional sempre considerou o jogo como uma pseudo-atividade.Alguns educadores tentando contrapor a conduta lúdica à “conduta séria”, di-zem que o jogo seria desprovido de estrutura organizada, em oposição às ati-vidades consideradas “sérias” que seriam regulamentadas. Porém, a existência dos jogos com regras é um argumento suficiente para contradizer essa ideia.Não existe razão para contrapor o trabalho ao lúdico, como também não existe oposição entre atividade lúdica e “atividade séria”. O jogo pode se confundir, por vezes, com o próprio trabalho, principalmente no caso do trabalho espon-tâneo, e a atividade lúdica pode se revestir da mais profunda seriedade.

Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br12

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

O caráter “não-sério” apontado por HUIZINGA não implica que a brinca-deira infantil deixe de ser séria. Quando a criança brinca, ela faz de modo bastante compenetrado. A pouca seriedade a que faz referência está mais relacionada ao cômico, ao riso, que acompanha, na maioria das vezes, o ato lúdico e se contrapõe ao trabalho, considerado atividade séria.Ao postular a natureza livre do jogo, HUIZINGA a coloca como atividade voluntária do ser humano. Se imposta, deixa de ser jogo.Se a criança é séria, é que, por meio de suas conquistas no jogo ela afirma seu ser, proclama seu poder e sua autonomia (CHATEAU, 1987, p., 26).O lúdico representa para a criança o papel que o trabalho representa para o adulto. Como o adulto se sente forte por suas obras, a criança sente-se cres-cer com suas proezas lúdicas. Um homem feito procura provar a si mesmo, e aos outros, seu próprio valor por um resultado real: obra artística, lucros de comerciante, construção de casa, filhos bem criados, o aposentado que perdeu o trabalho pelo qual afirmava seu lugar na sociedade humana, seu valor social, procura um substituto desse trabalho no cuidado de seu jardim.Para PIAGET, o que distingue a atividade lúdica da não lúdica é apenas uma variação de grau nas relações de equilíbrio entre o eu o real, ou melhor, entre a assimilação (que é aplicação dos esquemas ou experiências anteriores a uma nova situação, incorporando-a) e a acomodação (modificação dos es-quemas anteriores, ajustando-os à nova situação). Dentro dessa concepção, o jogo começa quando a assimilação predomina sobre a acomodação.Trabalho e jogo tornam-se coisas diferentes quando as pessoas crescem, mas essa diferenciação nunca é completa mesmo na idade adulta. “Tra-balho puro” significa as tarefas desagradáveis que temos que fazer para recompensas externas. “Jogo puro” representa as coisas que fazemos para nosso próprio prazer, por razões mais intrínsecas do que extrínsecas. Al-guns jogos, porém, envolvem muito trabalho e alguns trabalhos são in-

Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br 13

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

trinsecamente gratificantes. Os “Hobbies” dos adultos e as atividades de lazer (esporte, cozinhar, fazer cerâmica, tocar algum instrumento, subir montanhas, esquiar e visitar velhas ruínas) geralmente requerem uma dose grande de esforço. Trabalho e jogo podem ter elementos comuns (motiva-ção intrínseca, prazer, aprendizado e o sentido de realização).

O LÚDICO COMO AGENTE SOCIALIZADOR

No início do processo de escolarização, a criança é inserida em um am-biente novo e desconhecido. Ela será integrada a um novo meio social, através do relacionamento com outras crianças e adultos, onde estabelece-rá as primeiras normas em sociedade, ou seja, os primeiros processos de socialização.Inicialmente, o lúdico na vida da criança tem caráter egocêntrico e espontâneo. Porém, à medida que a criança cresce, torna-se cada vez mais socializada.No período de 07 a 10 anos, os jogos tornam-se cada vez mais em destaque às atividades de linguagem. Os jogos tornam-se cada vez mais coletivos e menos individualistas, uma vez que a criança já tem noção do que sejam cooperação e esforço grupal, e exige regras definidas para regulamentar o jogo. Ela observa e controla os outros membros do grupo para verificar se estão seguindo adequadamente as regras.A violação das regras gera grandes discussões. Nesta fase, surge um forte sentimento de competição. O fato de perder torna-se quase intolerável para algumas crianças, dando origem a cenas de choro e até mesmo de agres-são. A criança precisa de ajuda para aprender a vencer, sem ridicularizar e humilhar os derrotados e para saber perder esportivamente, sem se sentir diminuída ou menosprezada.

Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br14

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

Quando o educador manifesta uma atitude de compreensão e aceitação, e quando o clima da sala de aula é de cooperação e respeito mútuo, a criança sente-se segura emocionalmente e tende a aceitar mais facilmente o fato de ganhar ou perder como algo normal, decorrente do próprio jogo. O papel do educador é fundamental no sentido de preparar a criança para a com-petição sadia, na qual impera o respeito e a consideração pelo adversário.

O interessante para nós, é que se trata exatamente, do aspecto da so-cialização elaborado no seio dos próprios grupos infantis, ou seja, educação da criança e pelas crianças. (FERNANDES, 1979, p., 176).

O espírito competitivo deve ter como tônica o desejo do jogador de superar a si próprio, empenhando-se para aperfeiçoar cada vez mais suas habilida-des e destrezas. A situação de jogo deve constituir um estímulo desencade-ador do esforço pessoal tendo em vista o auto-aperfeiçoamento.Jogo supõe relação social, supõe interação. Por isso, a participação em jogos contribui para a formação de atitudes sociais, respeito mútuo, soli-dariedade, cooperação, obediência às regras, senso de responsabilidade, iniciativa pessoal / grupal. É jogando que a criança aprende o valor do grupo como força integradora e o sentido da competição saudável e da colaboração consciente e espontânea.Para os psicólogos soviéticos liderados por VIGOSTSKY, a atividade de brincar favorece a socialização de várias maneiras:1. Habilidades, papéis e valores necessários à participação da criança na vida social são por ela internalizados durante as brincadeiras em que ela imita comportamentos adultos. Exemplo: brincar de casinha, escolinha.2. Há situações no brinquedo que levam uma criança à auto-avaliação. Exemplo: quando ela, pela primeira vez, se compara às outras participantes.

Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br 15

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

3. Outras situações permitem desenvolvimento moral. Exemplo: quando a criança, por si mesma, procura ajudar um companheiro.4. Os jogos com regras, à medida que estas são internalizadas pela criança, levam-na à subordinação de seus impulsos, ao autocontrole e desenvolvem sua autodeterminação.5. O brinquedo dá origem a situações imaginárias que vão libertando a criança das limitações da percepção das situações concretas em que ela se encontra, permitindo-lhe atuar a partir de representações mentais.6. O conflito entre o desejo infantil de dominar os “objetos humanos”, tal como o adulto os domina, e a incapacidade infantil de realizá-lo de ime-diato é resolvido na situação imaginária do brinquedo. Conflitos e tensões entre os desejos infantis e suas limitações (em grande parte impostas pelos adultos) são resolvidos no brinquedo.Um dos maiores objetivos da escola é a socialização das relações e do conhecimento elaborados culturalmente. Por isso, não deveríamos isolar as crianças em suas carteiras, mas, sim, incentivar o trabalho de grupo, a busca de soluções coletivas, a troca de ideias que acontece por ocasião dos jogos, onde a cooperação é mais importante que a competição. Durante as atividades didático-pedagógicas a atitude do professor é muito importante. Em se tratando de crianças pequenas não podemos esquecer que elas ainda, na maioria das vezes, não ultrapassaram o período de egocentrismo. Para a criança, nesta fase, o mundo gira em torno dela, ou seja, tudo está centrado nela. Ela só consegue ver as coisas, a princípio, a partir do seu ponto de vista. É difícil para uma criança pequena compreender o ponto de vista dos demais companheiros do grupo em que ela esteja participando.O papel do professor durante os jogos deve ser o de provocar a participa-ção coletiva e desafiar o aluno na busca de encaminhamento e resolução dos problemas, pois é através do jogo que podemos despertar e incentivar

Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br16

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

a criança para o espírito de companheirismo e de cooperação. Gradativa-mente, ela vai assumindo e compreendendo sua posição como membro de um grupo social.Para que os jogos contribuam pedagogicamente com o processo de cons-trução do conhecimento da criança é preciso:* Diminuir o autoritarismo (poder de mando) do professor;* Criar situações para o desenvolvimento da autonomia;* Incrementar as ações que favorecem a troca de opiniões e sugestões das questões surgidas durante a atividade.“A brincadeira é a melhor maneira de a criança comunicar-se, ou seja, um instru-mento que ela possui para relacionar-se com outras crianças”, afirma Winnicott.Brincando, a criança aprende sobre o mundo que a cerca e tem a opor-tunidade de procurar a melhor forma de integrar-se a esse mundo que já encontra pronto ao nascer.Brincando, a criança irá, pouco a pouco, se conhecendo melhor e com isso aceitará a existência do outro. Brincar é uma realidade cotidiana na vida das crianças, e para que elas brinquem é suficiente que não sejam impedidas de exercitar sua imaginação. Brincando organiza suas relações emocionais e consequentemente estabelece suas relações sociais.A brincadeira é, para a criança, um espaço de investigação e construção de conhecimento sobre si mesma e sobre o mundo.A brincadeira expressa a forma como uma criança reflete, ordena, desor-ganiza, destrói e reconstrói o mundo a sua maneira. É também um espaço onde a criança pode expressar, de modo simbólico, suas fantasias, seus desejos, medos, sentimentos agressivos e os relacionamentos que vai cons-truindo a partir das experiências que vive.

Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br 17

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

REFERÊNCIAS

ABERASTURY, Arminda. A criança e seus jogos. 2ª ed., Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

ARAUJO, Vânia Carvalho de. O Jogo no Contexto da Educação Psicomo-tora. São Paulo: Cortez, 1992.

BARROS, Célia Silva Guimarães. Psicologia e Construtivismo. São Pau-lo: Ática, 1994.

BEE, Hele. A criança em seu desenvolvimento. 3ª ed., São Paulo: Harper e Row do Brasil, 1994.

BORGES, Teresa Maria Machado. A Criança em idade pré-escolar. África, 1994.

BRASIL, Constituição (1988) – Ed. Atual, 1999 – Brasília.

BRASIL. (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional). Apresentação Carlos Roberto Jamil Cury. 6ª ed., Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

COSTALLAT, Dalila Molina de. Psicomotricidade: a coordenação viso-motora e dinâmica manual da criança infratora, método de avaliação e exercitação gradual básica. Trad. De Maria Aparecida Pasbst. 4ª ed., Porto Alegre: Globo, 1991.

Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br18

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

DINELLO, R. A expressão lúdica na educação infantil. 3ª ed. Santa Maria: Pallotti, 1995.

FERREIRA, Idalina Ladeira. Atividades na educação infantil. 4ª ed., São Paulo: Saraiva, 1991.

FLAVELL, J.H. A psicologia do desenvolvimento de Jean Piaget. São Pau-lo: Pioneira, 1995.

FLINCHUM, B. M. Desenvolvimento motor da criança. Rio de Janeiro: Interamericana, 1991.

GARANHANI, Marynelma Camargo. Atividades Lúdicas: Sugestões para o período de Adaptação da Criança à Escola. In Revista do Professor, 49, Janeiro a março, 1997.

GOUVÊA, Ruth. Recreação. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

HELLER, Agnes. O Cotidiano e a História. São Paulo: Paz e Terra, 1960.

HUIZINGA, Johan Homo Ludens. O Jogo Como Elemento da Cultura. São Paulo: Perspectiva, 1971.

INTERESSANTE, Revista Super, 1999.

JACQUIM, Guy. A Educação pelo Jogo. São Paulo: Flamboyant, 1963.

Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br 19

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

KAMII, Constande & Declark Geórgia. Reinventando a Aritmética: Impli-cações da Teoria de Piaget. São Paulo: Papirus, 1994.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educa-ção. São Paulo: Cortez, 1996.

__________, Jogos Tradicionais Infantis: O Jogo, a Criança e a Educação. Rio de Janeiro: Vozes, 1993.

LANZ, Rudolf. A pedagogia Waldorf: caminhos para um ensino mais hu-mano. 2ª ed., São Paulo: Summus Editorial, 1993.

MOURA, Maria Aparecida Andrade. Atividades lúdicas na educação in-fantil. São Paulo: Pioneira, 1996.

NACIONAIS, Parâmetros Curriculares: Língua Portuguesa. Secretaria de educação fundamental. 2ª ed., Rio de Janeiro: D.P. & A. 2000.

PIAGET, Jean. A Formação do Símbolo na Criança. Rio de Janeiro: 2000.