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Castelo Branco Científica - Ano I - Nº 01 - janeiro/junho de 2012 - www.castelobrancocientifica.com.br Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 1 científica Revista ESPIRITUALIDADE E PASTORAL UNIVERSITÁRIA Giovani Marinot Vedoato 1 RESUMO O texto “Espiritualidade e Pastoral Universitária” propõe uma racionalidade, sobre a necessidade de um devido encontro entre a importância da espiritua- lidade para a pastoral e, por sua vez, a necessidade de uma pastoral universi- tária perpassada por uma adequada espiritualidade. Palavras-chaves: Espiritualidade. Jesus Cristo. Pastoral. Universidade ABSTRACT The text “Spirituality and University Pastoral” proposes an argument about the necessity of a suitable meeting between the importance of spirituality for the pastoral and, in turn, the necessity of a university pastoral permeated by an appropriate spirituality. Keywords: Spirituality. Jesus Christ. Pastoral. University. 1 O professor Pe. Dr. Giovani Marinot Vedoato é professor de Teologia Sistemática no Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória, em Vitória, e pro- fessor de Filosofia na Faculdade Castelo Branco, em Colatina – ES. É graduado em Filosofia, especialista em Psicopedagogia e Doutor em Teologia pela Pontifí- cia Universidade Santo Tomás de Aquino. Roma. Itália.

Espiritualidade e Pastoral Universitáriacastelobrancocientifica.com.br/img.content/artigos/artigo17.pdf · sobre a necessidade de um devido encontro entre a importância da espiritua-

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ESPIRITUALIDADE E PASTORAL UNIVERSITÁRIA

Giovani Marinot Vedoato1

RESUMO O texto “Espiritualidade e Pastoral Universitária” propõe uma racionalidade, sobre a necessidade de um devido encontro entre a importância da espiritua-lidade para a pastoral e, por sua vez, a necessidade de uma pastoral universi-tária perpassada por uma adequada espiritualidade.

Palavras-chaves: Espiritualidade. Jesus Cristo. Pastoral. Universidade

ABSTRACT

The text “Spirituality and University Pastoral” proposes an argument about the necessity of a suitable meeting between the importance of spirituality for the pastoral and, in turn, the necessity of a university pastoral permeated by an appropriate spirituality.

Keywords: Spirituality. Jesus Christ. Pastoral. University.

1 O professor Pe. Dr. Giovani Marinot Vedoato é professor de Teologia Sistemática no Instituto de Filosofi a e Teologia da Arquidiocese de Vitória, em Vitória, e pro-fessor de Filosofi a na Faculdade Castelo Branco, em Colatina – ES. É graduado em Filosofi a, especialista em Psicopedagogia e Doutor em Teologia pela Pontifí-cia Universidade Santo Tomás de Aquino. Roma. Itália.

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INTRODUÇÃO

Vivemos num tempo histórico perpassado pelo tema da espiritualidade. De fato, em todas as esferas da sociedade humana, a espiritualidade se faz notar. É comum em palestras de economistas, profi ssionais da saúde, do direito e outros, o tema receber um especial destaque. Mesmo em setores onde outro-ra só reinava o tributo, a razão, hoje cresce o interesse pela espiritualidade como uma demanda da condição humana moderna. Verdadeiramente o ser humano atual, na sua grande maioria, é um ser sedento de transcendência, de espiritualidade.

Exemplo de tal ordem são os setores da autoajuda e da questão fi nanceira. Quem não leu o livro de James Hunter, O Monge e o Executivo, um dos livros de espiritualidade e autoajuda mais vendidos dos últimos tempos? E na questão fi nanceira, quem nunca participou de palestras com o tema espi-ritualidade e negócios?

Inquestionavelmente, o tema está na pauta corrente. Se veio para fi car, não sabemos! Todavia, está aí, e ignorá-lo é estupidez, com certeza.

ESPIRITUALIDADE Mesmo que as religiões se advoguem o direito de entender o termo somente a partir do universo religioso, seu sentido é mais global, transcende a mera relação ser humano e divindade.

Em perspectiva macro-histórica, corriqueiramente, a expressão designa “es-pírito”, o que, portanto, indica que, toda vez que alguém faz algo, faz com espírito. Logo, todo ser humano está dosado de espiritualidade.

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Aparentemente, essa defi nição ampla de espiritualidade não carrega em si nenhum problema. Parece, mas não é bem assim. Isso porque, se por um lado garantimos o dado universal do tema, por outro, quando pensamos a infl uência da cultura grega sobre a nossa, a situação se complica um pouco. Vamos ao problema.

“A palavra espiritualidade deriva de ‘espírito’. E, na mentalidade mais comum, espírito se opõe a matéria. Os ‘espíritos’ são seres imateriais, sem corpo, muito diferentes de nós. Nesse sentido, será espiritual o que não é material, que não tem corpo. E se dirá que uma pessoa é ‘espiritual’ ou ‘muito espiritual’ se vive sem se preo-cupar com o material, nem sequer com o seu próprio corpo, procu-rando viver unicamente de realidades espirituais”2.

Qual é o problema para nossa cosmovisão? Matizada por uma cultura gre-ga dualista e dicotômica, que divide céu e inferno, bem e mal, mar e terra, corpo e matéria, essa visão, ao entrar e perpassar nossa cosmovisão, postula grandes problemas. Sim, pois espiritualidade nesse cenário estará demarca-da e infl uenciada pela ruptura entre matéria e espírito, sociedade humana e transcendência, ou seja, não existirá encontro entre espiritualidade e inserção histórica e espiritualidade e transformação social. Portanto, espiritualidade não se coadunará com a cotidianidade das pessoas, com a vida de forma con-creta. Será um tema restrito somente à transcendência e não da imanência. Eis um grande problema para a relação cristianismo e história.

2 CASALDÁLIGA, P. & VIGIL, J. M. Espiritualidade e Libertação, p. 21.

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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ

A espiritualidade cristã não aceita essa infl uência da cultura grega sobre o termo espiritualidade. Nela, a forte oposição entre matéria e espírito é ina-ceitável, isso porque, espírito não se opõe a matéria e vice-versa. A espiritu-alidade cristã acontece na vida, na cotidianidade dos fi lhos e fi lhas de Deus, sem ruptura. Mesmo entendendo o ser humano como dual; espírito-corpo, ela não está submissa às concepções da cultura grega.

Na espiritualidade cristã não seguimos o nosso próprio espírito, como uma espécie de espiritualidade autônoma, mas seguimos uma realidade maior que nós mesmos: seguimos e nos deixamos guiar pelo próprio Espírito de Deus. Portanto, sem pretender ser a melhor entre muitas, a espiritualidade cristã se defi ne a partir de um encontro entre Deus e o ser humano e o humano com Deus, condicionando o agir humano em sintonia com o Espírito de Deus.

A abertura do humano em direção a Deus é fundamental para que a mística aconteça, ou seja, pela mística Deus fala ao coração humano e o humano se sente envolvido pelo mistério de Deus. Mística signifi ca um profundo en-contro do humano com o mistério de Deus.

“Quando as pessoas personalizam a experiência do mistério, sen-tem-se como que habitadas por ele e convidadas ao diálogo, à ora-ção e a cair de joelhos diante de sua sacralidade.”3

3 BOFF, L., & BETO, F., Mística e espiritualidade, p. 17.

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É dessa realidade que nasce a espiritualidade cristã. Se na mística o mistério de Deus fala ao humano, na espiritualidade o humano fala e age no mundo a partir de Deus. A partir da espiritualidade cristã, o espírito da pessoa ou até mesmo de um grupo, uma vez relacionado com o Espírito de Deus que se antecipa a toda realidade humana, nos leva para uma outra realidade da existência espiritual. Uma vida de espiritualidade signifi ca abertura a Deus e deixar-se guiar pela vida à luz do Espírito de Deus. Em termos de ação prática, signifi ca praticar Deus na vida a partir da vida de Deus.

Em termos mais teocêntricos e cristológicos, a espiritualidade indica para o Deus de Jesus e, o próprio Jesus.

“À luz da fé cristã nós descobrimos a presença de Deus no cosmo, na vida humana e na história como amor gratuito e salvação precisa-mente porque Jesus Filho de Deus e fi lho de Maria de Nazaré, com sua palavra, atividade, morte e ressurreição, nos faz entrar vitalmen-te nessa descoberta. A partir desse encontro de fé, nossa espirituali-dade só pode ser ‘religiosa’ e ‘cristã’ mesmo.”4

Em termos mais cristológicos, espiritualidade cristã em sentido macro indica uma vida deixando guiar-se pelo espírito de Jesus. De forma bem simples, se tivéssemos que falar de espiritualidade para crianças, diríamos que espiritu-alidade é deixar Jesus nos tomar pelas mãos e nos conduzir para a realização de coisas boas, assim como ele realizou.

4 CASALDÁLIGA, P., Nossa espiritualidade, p.10-11.

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Nesse sentido, a espiritualidade cristã provoca mudanças na interioridade e exterioridade do ser humano. Provoca uma verdadeira metanoia – conver-são – na direção do Deus de Jesus e na forma de se relacionar com o mundo. Diante do Deus de Jesus, surge uma abertura incondicional, uma sede per-manente pelo encontro com o divino. Diante do mundo, surge uma práxis autenticamente cristã que busca incessantemente a construção de uma socie-dade mais justa e solidária, a partir do que disse e fez Jesus, agora traduzida para o nosso tempo. Assim, ao falar de espiritualidade cristã necessariamente temos que falar de práxis cristã.

PASTORAL

A palavra pastoral indica para duas realidades importantíssimas na vida dos cristãos: primeira, pastoral reclama para o aprofundamento do tema de Jesus como o bom pastor e, segunda, pastoral indica consequentemente à luz do estilo de pastoreio vivido por Jesus para a ação da igreja na história.

De fato, na raiz da palavra pastoral está a palavra pastor. Em termos mais evangélicos aparece Jesus como o bom pastor, conforme atesta o evangelho de João.

“Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a vida pelas ovelhas. O em-pregado que trabalha somente pelo dinheiro, não é pastor, e as ove-lhas não são dele. Por isso, ele abandona as ovelhas e foge quando o lobo chega. Então o lobo ataca e espalha as ovelhas. O empregado foge por trabalha somente por dinheiro, e não se importa com as ovelhas. Eu sou o bom pastor. Assim como meu Pai me conhece

5 Jo 10, 11-14.

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e eu conheço o Pai, também conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem”5.

Como age o verdadeiro e o falso pastor na citada passagem bíblica? O ver-dadeiro pastor que é Jesus, em contato com as ovelhas é movido por uma ação carinhosa, cuidadora e gratuita. Seu amor pelo rebanho não pode ser medido e tabulado quantitativamente. É um amor capaz de dar a própria vida em prol do rebanho. É um amor que não exige a reciprocidade do amado em relação ao amante, ou seja, é um amor que acontece independente da res-posta humana. Não é o caso do falso pastor, ou do empregado que é movido pelo dinheiro. Nele, só existe zelo pelo rebanho se existir pagamento, salário. Quando falta ou atrasa o salário, as ovelhas estarão entregues à própria sorte.A palavra pastoral, no sentido cristão, indica para as atitudes de Jesus como bom pastor. Assim, na mesma dinâmica, quem faz ou realiza pastoral deve cuidar amorosamente do rebanho, o povo de Deus na história. Portanto, fazer pastoral é recordar e realizar a anamnese – memória – de Jesus nos nossos dias.

Como igreja, fazer pastoral é agir a partir de Jesus. Então, toda ação evan-gelizadora na história deve ser uma ação de pastoreio, de uma instituição que, perpassada pelo movimento de Jesus como o bom pastor, busca cuidar do rebanho amorosamente. Eis o que signifi ca pastoral em perspectiva ecle-siológica; a pastoral, em todas as suas iniciativas, inserção e criatividade, só tem sentido, enquanto é atuação da missão de Jesus entre nós. Na verdade, um transformar o mundo à luz do que fez e disse Jesus, como povo de Deus – ekklesia - em marcha para o Reino.

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PASTORAL UNIVERSITÁRIA

Se a palavra pastoral norteou para o pastoreio de Jesus e a ação da igreja no mundo, consequentemente a conceituação de pastoral universitária indicará na mesma ordem. Todavia, na especifi cidade de sua ação, ela indicará para a ação dos cristãos na história, especifi camente, no meio universitário. Por-tanto, entende-se por pastoral universitária, uma articulação de estudantes cristãos que de uma maneira sistemática e ecumênica procuram construir a dinâmica do Reino de Deus na vida universitária. Vale lembrar aqui, as pala-vras do documento de Aparecida que diz:

“É necessária uma pastoral universitária que acompanhe a vida e o caminhar de todos os membros da comunidade universitária, pro-movendo um encontro pessoal e comprometido com Jesus Cristo e múltiplas iniciativas solidárias e missão necessária” (DAp. 343).

Qual seria o objetivo fundante de tal realidade? Evangelizar, de forma ar-ticulada, os jovens universitários, formando seres humanos conscientes de si e de seu papel na transformação da academia e da vida em sociedade em direção ao Reino de Deus.

Para a pastoral universitária, os cristãos são chamados a desempenhar um papel evangelizador e transformador nos processos históricos que fazem parte. Logo, a academia é lugar de evangelização e transformação. À luz do documento de Aparecida, a pastoral universitária, em seu pastoreio, tem como função organizar ações evangelizadoras na perspectiva de uma acade-mia mais em conformidade com o ideal de Jesus, o bom pastor.

PASTORAL UNIVERSITÁRIA E ESPIRITUALIDADE

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Uma devida pastoral universitária não pode existir fora do horizonte da espi-ritualidade. Se por um lado o termo pastoral universitária indica para a forma como os cristãos pastoreiam e agem nos meios universitários, por outro, o tema da espiritualidade obriga a pensar um agir em sintonia com Jesus, o bom pastor, e uma ação na ordem do eclesial, como orienta a igreja. Logo, tanto na ação da pastoral, como na ação fundada na espiritualidade, esse agir deve ser um agir evangélico e eclesial. Ele deve obedecer a Jesus, o Mestre, o Bom Pastor e à igreja, uma devota seguidora da missão desencadeada por Jesus. Nessa ordem, eis alguns horizontes imprescindíveis de uma pastoral universitária em curso e preocupada com uma efi caz espiritualidade no mun-do acadêmico.

a. Evangelizar o mundo universitário – Evangelizar o mundo universitário é apresentar a boa nova de Jesus sem imposições. Ele, o Bom Pastor, pode tornar-se uma fi gurar apaixonante e encantadora, quando pensamos seu pro-jeto de vida, suas atitudes e opções fundamentais. Nele, encontramos uma vida de doação, de promoções de solidariedade em que o mais importante está vinculado ao serviço a Deus, à vida e aos seres humanos. Com Ele, podemos reencantar uma vida cristã na academia, no sentido da alegria e do compromisso, da prazereidade e do serviço, da festa e da mudança social e da beleza e da ética. Podemos conhecer, seguir Sua causa e prosseguir nela.

b. Aprender a viver com outros – Como cristãos, não somos o mundo, mas simplesmente mais um no mundo. Portanto, o despertar para o outro é uma questão-chave para o futuro do cristianismo. No caso da academia, além de vislumbrar a necessidade do encontro com outros cristãos, precisamos pen-sar na necessidade do diálogo com outras formas de ser religioso. Portanto,

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estamos no campo da valorização do pluralismo religioso, de outras formas de ser e, consequentemente, diante da possibilidade de aprender com outros. Logo, uma autêntica pastoral universitária mais que ecumênica também de-verá ser do diálogo inter-religioso, do diálogo entre as religiões. Logo, diante do diverso, cabe uma ação de bom pastor. Perante o diferente, cabe uma ação acolhedora e fraterna. Mesmo que tenhamos determinadas especifi cidades como cristãos, essa forma de ser não pode matar o diverso, pelo contrário, deve incluir e integrar adequadamente o plural, o diferente. A pastoral e a es-piritualidade no meio universitário deverão, por conseguinte, caracterizar-se como lugar de acolhimento e inclusão, sobretudo com o diferente e diverso de nós.

c. A caminho da humanização – A função primordial da pastoral universitária e sua proposta de espiritualidade não é de doutrinar os universitários. Seu objetivo frontal não é o eclesiástico, a norma, o dogma e, sim, o evangélico, a boa nova de Jesus. Isso porque, se observarmos atenciosamente as pági-nas dos evangelhos, não foi do interesse de Jesus doutrinar religiosamente as pessoas. Seu projeto primeiro versou sobre o Reino de Deus e uma vida humana a caminho dele. No trilho do que disse e fez Jesus, o objetivo da pas-toral universitária deverá concretizar relações mais humanas e humanizantes no meio universitário. Efetivar, à luz de uma espiritualidade posicionada, o cuidado amoroso com os universitários de forma geral.

d. Em defesa da vida com valor supremo – Por fi m, a pastoral universitária, impulsionada por sua espiritualidade contextualizada e inserida, terá como intuito maior cuidar da vida com valor supremo. A ovelha a ser cuidada não é uma parte, uma molécula... É um ser humano! E mais: A ovelha a ser cuidada não é simplesmente um jovem, uma jovem... É a vida de forma geral. Em sentido mais amplo é a vida em perspectiva macro, ou seja, a defesa e pro-

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moção de todas as formas existentes, de todos os seres vivos. É o surgimento e a descoberta de uma consciência de interdependência que deve existir para com todas as coisas existentes do planeta. Daí, a urgência de uma pastoral universitária cuidadora e pastora da vida em sentido cosmológico, e de uma espiritualidade universitária aberta à vida em geral, como dom sagrado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para uma efi caz edifi cação deste modelo de pastoral universitária e espiritu-alidade no meio universitário, sugerimos os seguintes passos:a. Formação humana para a maturação – Pode ajudar os universitários a amadurecerem na vida cristã e a praticarem o projeto de Jesus acerca do ser humano e da vida;b. Criação de espaços de convivência – Pode ajudar os universitários a vi-venciarem com abertura relações mais humanas e religiosas no contato com outras formas de ser;c. Privilegiar a oração, o diálogo e a refl exão em grupo – Pode ajudar os universitários a descobrirem que, além da espiritualidade, a função do ensino superior acadêmico é de preparar para a vida, com uma postura ética, con-tribuindo para a sua inserção no contexto social como agente transformador;d. Redescoberta da função da religião – Pode ajudar os estudantes a desco-brirem que a religião, além de religar o ser humano ao divino, também tem uma função social, política e pública.

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REFERÊNCIAS

AZEVEDO, M., Encontros e desencontros: vivendo a fé em mundo plu-ral. São Paulo: Loyola, 1991. BOFF, L. & BETTO, F. Mística e Espiritualidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.

CASALDÁLIGA, P. & VIGÍL, J. M. Espiritualidade da Libertação. São Paulo: Paulus, 1993.

CASALDÁLIGA, P. Nossa Espiritualidade. São Paulo: Paulus, 1998.

CELAM. Conclusões de Aparecida. São Paulo: Paulus, 2007.

CNBB. Roteiros de nucleação e iniciação da pastoral universitária. Bra-sília: CNBB, 1999.

GUITIÉRREZ. G., Beber no próprio poço. Petrópolis: Vozes, 1987.

VEDOATO, G. M. Teologia, Teologia da Libertação, Pluralismo Religio-so. Vitória: Flor&Cultura, 2008.