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Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br 1 Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 LUDICIDADE: O VALOR DA MÚSICA, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL MARGON, Dayany Corti RESUMO O presente trabalho estudou a importância da música, dos brinquedos e das brincadeiras no desenvolvimento infantil, considerando seus aspectos lúdicos, tendo como foco principal a influência da sua prática na aquisição da leitura e da escrita na Educação Infantil. A análise deste estudo mostrou que música, brinquedos e brincadeiras auxiliam no processo de aquisição da leitura e da escrita sendo um facilitador deste processo, promovendo uma aprendizagem significativa e prazerosa. PALAVRAS-CHAVE Ludicidade. Música. Alfabetização. INTRODUÇÃO O processo ensino-aprendizagem acontece por diversas maneiras e, na Educação Infantil, a ludicidade torna-se essencial. A inserção de música, brincadeiras e brinquedos no cotidiano promove uma aprendizagem mais rica e prazerosa, levando as crianças a internalizarem conceitos que so- mente a audição não permite.

LUDICIDADE: O VALOR DA MÚSICA, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS ...castelobrancocientifica.com.br/img.content/artigos/artigo73.pdf · necessita ter liberdade para realizar suas brincadeiras,

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Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

LUDICIDADE: O VALOR DA MÚSICA, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

NA EDUCAÇÃO INFANTIL

MARGON, Dayany Corti

RESUMOO presente trabalho estudou a importância da música, dos brinquedos e das brincadeiras no desenvolvimento infantil, considerando seus aspectos lúdicos, tendo como foco principal a influência da sua prática na aquisição da leitura e da escrita na Educação Infantil. A análise deste estudo mostrou que música, brinquedos e brincadeiras auxiliam no processo de aquisição da leitura e da escrita sendo um facilitador deste processo, promovendo uma aprendizagem significativa e prazerosa.

PALAVRAS-CHAVELudicidade. Música. Alfabetização.

INTRODUÇÃOO processo ensino-aprendizagem acontece por diversas maneiras e, na Educação Infantil, a ludicidade torna-se essencial. A inserção de música, brincadeiras e brinquedos no cotidiano promove uma aprendizagem mais rica e prazerosa, levando as crianças a internalizarem conceitos que so-mente a audição não permite.

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A brincadeira é um dos caminhos mais interessantes e democráticos ofe-recidos às crianças no resgate do espaço fundamental no universo infantil. É um espaço privilegiado que reúne a possibilidade e o potencial para de-senvolver as características lúdicas, objetivo de proporcionar aos alunos desenvolver potencialidades intelectuais, perspectivas, afetivas e sociais, uma das necessidades básicas para o desenvolvimento da criança, pois é por meio dela que procura entender o que a cerca, concretizar a vivência das fantasias e encontrar soluções para alguns de seus problemas, brincar é fundamental, desperta a criatividade, o raciocínio, o significado de ganhar e perder, o convívio com outras crianças no mesmo grupo, e assim podem conhecer umas as outras e ao espaço. Para que tudo isto ocorra, a criança necessita ter liberdade para realizar suas brincadeiras, usar sua criativida-de para elaborar suas próprias regras, sendo verdadeiramente espontâneas, pois, sabemos que a motivação é fator determinante para o aprendizado.

A música como aspecto lúdico influencia diretamente no processo de al-fabetização, constituindo-se como um meio integrador, motivador e faci-litador deste processo. A música como atividade criativa pode estimular o desenvolvimento da capacidade afetiva e cognitiva do indivíduo, compon-do-se como um excelente recurso estimulador da leitura de textos. Nesta perspectiva, o tema desta pesquisa surgiu da necessidade de estu-dar a importância da música, das brincadeiras e dos brinquedos no desen-volvimento infantil considerando seus aspectos lúdicos, tendo como foco principal a influência dessa prática na aprendizagem da leitura e da escrita.A observação, durante o período de estágio em Educação Infantil, do cons-tante uso de música, brincadeiras e brinquedos como instrumento auxiliar no processo de alfabetização e nossos estudos acerca da importância da presença lúdica em salas de aula, levou-nos a acreditar que esse tema é importante, pois investiga a influência da música como estímulo à leitura,

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via procedimentos construtivistas. Esse tema contribuirá com a educação, no sentido de possibilitar a obten-ção de dados que mostrem que a aprendizagem e o gosto da leitura desen-volvem-se através de música, brincadeiras e brinquedos, contribuindo para que a criança construa o processo de leitura e musicalização do que lê. Também contribuirá nas áreas de conhecimento da leitura e da escrita, des-tacando à importância do aluno ser alfabetizado em um contexto em que esteja presente a ludicidade, fazendo da música parte do cotidiano da vida escolar do aluno. Isso permitirá que a criança desenvolva uma aprendiza-gem significativa e prazerosa através de jogos e brincadeiras com auxílio da música sendo facilitadora desse processo.Assim, enquanto pesquisadora, a intenção era compreender o valor da musi-calidade na prática cotidiana como metodologia de trabalho que tem influên-cia significativa no processo de ensino aprendizagem, e, principalmente, até que ponto ela tem valor no processo de alfabetização na Educação Infantil.A busca desta resposta foi realizada em uma pesquisa na Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental “Luiz Mônico”, no município de São Roque do Canaã, Espírito Santo. Quando o objeto de estudo nasceu do interesse de compreender como música, brincadeiras e brinquedos in-fluênciam para a aquisição da leitura e da escrita, pois brincando a criança se relaciona com o outro, troca experiências e com isso aprende. E como a ludicidade através do valor da música contribui no processo de alfabetiza-ção na educação infantil, uma vez que conforme Dinello (1997) “a ativida-de lúdica contém as máximas possibilidades de expressão comunicativa e é a base das aprendizagens e da construção, tanto da inteligência como da personalidade total”.

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LUDICIDADE COMO FONTE PRAZEROSA DE CONHECIMENTO

A ludicidade nos lembra da alegria e de brincadeiras, fazendo-nos reviver a infância nos remetendo às cantigas de roda e muitas brincadeiras.“A ludicidade permite a liberdade emocional necessária para explorar e ex-perimentar, para envolver-se emocionalmente numa criação e para permitir descobrimentos incentivados pela curiosidade” (SALOMÃO, 2007, p. 44).O lúdico permite que a criança explore a relação do corpo com o espaço, provocando possibilidades de deslocamento e velocidade, criando condições mentais para sair de enrascadas. O movimento lúdico torna-se fonte prazero-sa de conhecimento. Esse movimento caracteriza a Educação Infantil.

Pelo lúdico a criança faz ‘ciência’, pois trabalha com imaginação e produz uma forma complexa de compreensão e reformulação de sua experiência quotidiana. Ao combinar informações e percepções da realidade, problematiza, tornando-se criadora e construtora de novos conhecimentos (RONCA; TERZI, 1995, p. 98).

O valor da ludicidade de permitir que a criança descubra diferentes cami-nhos do conhecimento e da convivência com o outro é incalculável, pois a ludicidade permite liberdade emocional necessária para que ela explore e experimente o novo de maneira natural, graças ao grande poder da ludici-dade de absorver totalmente a criança.Através da brincadeira, do jogo, da música, enfim de todas as possibilidades que a ludicidade lhes oferece, a criança constrói o mundo como ela gostaria que ele fosse, através da sua imaginação, por isso é indispensável que os adul-tos respeitem sua linguagem secreta expressa pela ludicidade.

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A ludicidade torna-se fonte de inspiração para a construção do conhecimento da criança. Aprender brincando e construir conhecimento tornam-se uma mes-ma realidade. A esse respeito, Ronca e Terzi (1995, p.102) afirmam que: “É impossível divorciar o lúdico do processo de construção do conhecimento”. Sua importância nas atividades pedagógicas contribui, de maneira espe-cial, para a estruturação de novas ideias e concepções.

A beleza fundamental de uma aula, tantas vezes negligenciada, re-side no fato de que, quando um solitário professor, lá em sua sala, com seus alunos, vive, com seriedade e profissionalismo, o movi-mento lúdico, ele não está simplesmente dando uma aula, mas está reconstruindo o Mundo e refazendo a História (RONCA; TERZI, 1995, P. 103).

Finalmente, os procedimentos metodológicos a serem abordados durante as aulas devem ser estimuladores, coesos, e com perspectivas que subsi-diarão todo o percurso da aprendizagem das crianças, principalmente em se tratando da alfabetização destas.

MÚSICA: AS ORDENS DO GATO

O gato que lhe espreita - mandou virar pra direitaO gato chamado Romão – mandou retornar posição A gata chamada Sueda – mandou virar pra esquerda De novo o gato Romão – mandou retornar a posiçãoO gato com sua prima – mandou bater pra cimaO gato que vem cabisbaixo – mandou bater pra baixo

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O gato que é tenente – mandou dar um passo pra frenteO gato que é capataz – mandou dar um passo pra trásO gato que não faz nada – mandou que desse uma rodada O gato que usa laço – mandou que lhe desse um abraçoFonte: Lenga - lengas birutas e capengas, de Elvira Drummond Com esta música as crianças terão domínio de elementos psicomotores, evidenciando a lateralidade que é a capacidade de vivenciar os movimen-tos, utilizando os dois lados do corpo, ora o lado direito, ora o lado esquer-do, e o ritmo, para fazer o que se pede no tempo certo. Além de ajudar na leitura e escrita, pois é uma atividade lúdica e coletiva.

ALFABETIZAÇÃO: LENDO E ESCREVENDO COMO AUXÍLIO DO LÚDICO

A alfabetização é um tema de interesse e sempre presente em nossa rea-lidade educacional. A complexidade que o tema envolve vem desafiando pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento e multiplicando os es-tudos sobre essa temática.Embora o termo “alfabetização” possua diferentes sentidos, neste trabalho sig-nifica processo de ensino aprendizagem do sistema alfabético da leitura e da escrita. Sobre este assunto, Ferreiro e Teberosky (1999) afirmam que aprender a escrever não é apenas um processo cognitivo, mas também uma atividade social e cultural, essencial para a criação de vínculos e conhecimentos. A alfabetização, numa perspectiva interdisciplinar, envolve tanto a forma-ção do homem quanto a necessidade de ação do educador. Pressupõe um comprometimento com a totalidade, traçar uma linha de demarcação entre as pretensões ideológicas e a realidade. Assim, a alfabetização é um ele-

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mento significativo do processo de letramento, sem o qual não seria possí-vel decifrar qualquer texto.Na atividade educacional, o processo da alfabetização é o momento em que ocorre uma transformação psicológica, social e política do educando. Através do processo de alfabetização o indivíduo perde a sua condição de ser natural para tornar-se um ser social e ativo. Esse aspecto visa criar situ-ações básicas, a fim de que o educando aprenda e desenvolva habilidades que lhe serão exigidas nas etapas posteriores de sua formação. Alfabetização refere-se a um processo formativo da pessoa humana, no qual o ato da escrita torna-se uma produção cultural com qualidades espe-ciais, portanto deve capacitar as crianças a produzir a escrita. É exatamente essa produção que define a qualidade e o nível da relação que a criança estabelece com a linguagem. É através dela que virá a aptidão às ciências com o auxílio da arte, da musicalidade, através do processo lúdico.Cagliari (2005, p.9), a esse respeito, acrescenta que:

O processo de alfabetização inclui muitos fatores, e, quanto mais ciente estiver o professor de como se dá o processo de aquisição de conhecimento, de como a criança se situa em termos de desenvolvi-mento emocional, de como vem evoluindo o seu processo de intera-ção social, da natureza da realidade linguística envolvida no momen-to em que está acontecendo a alfabetização, mais condições terá esse professor de encaminhar de forma agradável e produtiva o processo de aprendizagem, sem os sofrimentos habituais.

Dessa forma, acreditamos que o professor ao utilizar a música como aspec-to lúdico na alfabetização poderá influenciar positivamente no desenvolvi-mento da leitura e da escrita, uma vez que ele estará aproximando o sujeito ao seu objeto de conhecimento de maneira diversa da situação formal da

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alfabetização escolar, assim a criança trabalhará prazerosamente com tex-tos que lhes são cotidianos. A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96) determina que a arte é um componente curricular obrigatório em todas as séries do ensino fundamental. Assim como o teatro, a dança e as artes plásticas, a música se insere no contexto da educação regular como uma das linguagens artísticas que, integrada às demais disciplinas, têm o dever e a responsabilidade de educar.

A MÚSICA COMO FONTE PRAZEROSA DOAPRENDIZADO DA LEITURA E DA ESCRITA

A música como arte de comunicação é praticamente tão antiga quanto o ser humano, uma vez que estudos apontam que desde os primórdios da humanidade, a mesma possa ter servido como subsídio para as primeiras manifestações orais dos homens.Por ser uma arte tão antiga, “a música está presente em todas as culturas, nas mais diversas situações: festas e comemorações, rituais religiosos, ma-nifestações cívicas, políticas etc.” (RCNEI, 1998, v. 3, p.45). Por isso, se faz presente nos processos de educação a um longo tempo, favorecendo uma interação sociocultural significativa.A esse respeito, Ferreira (2008, p. 13) afirma que:

A música é, por essa razão um tipo de expressão humana dos mais ricos e universais e também dos mais complexos e intrincados. Por-tanto, valerá muito ao professor utilizar a música em suas aulas, mas é preciso dedicar-se ao seu estudo, procurando compreendê-la em sua amplitude, desenvolvendo o prazeroso trabalho de sempre escutar os mais variados sons.

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A principal vantagem de utilizar a música no cotidiano escolar é a abertura de caminhos comunicativos que despertam e desenvolvem nos alunos sen-sibilidade mais aguçada no aprendizado da leitura e da escrita. O trabalho com textos relacionados à tradição oral envolvendo cantigas de roda e outras músicas permite às crianças, em fase de alfabetização, direcionar-se em textos cujo conteúdo já conhecem oralmente, pois estes já lhes são familiares através de momentos de lazer, festas, comemorações, através do contato com seus familiares e outros eventos da comunidade.

MÚSICA: DESFILE DA BICHARADA

Olha lá a bicharadaVai agora desfilarAtenção de prontidão,Pra assumir a posição.Se passar um camelo – ponha a mão no seu cabeloSe passar uma coelha – ponha a mão na sobrancelhaSe passar um piolho – ponha a mão no seu olhoSe passar uma perdiz – ponha a mão no seu narizSe passar uma ovelha – ponha a mão na sua orelhaSe passar a vaca louca – ponha a mão na sua bocaSe passar a serpente – ponha a mão no seu denteSe passar outro camelo – ponha a mão no cotovelo Se passar a formiga – ponha a mão na sua barrigaSe passar a vaca moucha – ponha a mão na sua coxa

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Se passar um coelho – ponha a mão no seu joelhoSe passar um jacaré – ponha a mão no seu péSe passar um gambá – fique quieto onde está!Fonte: Lenga - lengas birutas e capengas, de Elvira Drummond

Assim sendo, conforme a descrição do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil “a linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da auto-estima e autoconhe-cimento, além de poderoso meio de integração social” (1998, p. 49).Para Ferreira (2007, p.10), “o professor deve usar a música para ensinar, e nunca para atormentar”.Portanto, utilizar música pode-se constituir em recursos riquíssimos em nossas aulas. É certo que a comunicação verbal é a primeira no estágio da comunicação humana, nesse sentido, temos a música como aliada nessa comunicação e na formação do aluno.

APRENDENDO COM O LÚDICO: BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS

O mundo lúdico é um mundo onde a criança está em constante exercício. É o mundo da fantasia, da imaginação, do faz-de-conta, do jogo e da brin-cadeira. Podemos dizer que o lúdico é um grande laboratório que merece toda atenção dos pais e educadores, pois é através dele que ocorrem experi-ências inteligentes e reflexivas, praticadas com emoção, prazer e seriedade. Através do brinquedo, dos jogos e das brincadeiras ocorre a descoberta de si mesmo e do outro, portanto, aprende-se.

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As atividades lúdicas, dentre elas, os jogos e as brincadeiras, têm o poder sobre a criança de facilitar o progresso de cada uma das funções psicoló-gicas, intelectuais e morais, bem como de influenciar vários outros bene-fícios pedagógicos, fazendo com que os conteúdos sejam facilitados, uma vez que motivam ao mesmo tempo em que divertem. Neste sentido, Kishi-moto (2010, p. 01) afirma que “sua importância se relaciona com a cultura da infância, que coloca a brincadeira como ferramenta para a criança se expressar, aprender e se desenvolver”.

Maluf (2003, p. 33), ao refletir sobre esse assunto, enfatiza que:

É através do brincar que a criança vai diferenciando o seu mundo in-terior (fantasias, desejos e imaginação) do seu exterior, que é a reali-dade por todos compartilhada. Cada criança expressa os seus desejos, fantasias, vontades e conflitos. Faz-se necessário que o professor es-tabeleça uma conexão entre o prazer, o brincar e o aprender. Ocorrerá uma estimulação da imaginação e da fantasia da criança indo muito além de uma intenção educativa.

Porém, percebe-se por vezes, uma marginalização dessas atividades, que muitas vezes são utilizadas como passatempo sem importância, além de serem consideradas por alguns educadores, como meras obrigações diá-rias da Educação Infantil, sendo necessário desconstruir tal visão para que possamos preservar a cultura lúdica, muito importante para o desenvolvi-mento das crianças.

Para que a ludicidade esteja inserida na prática cotidiana escolar, é necessário que um currículo seja desenvolvido, abrangendo a temática de forma substancial:

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Os recentes estudos têm mostrado que as atividades lúdicas são fer-ramentas indispensáveis no desenvolvimento infantil, porque para a criança não há atividade mais completa do que o brincar. Pela brincadeira, a criança é introduzida no meio sociocultural do adulto, constituindo-se num modelo de assimilação e recriação da realidade (SANTOS, 1999, p.7).

É preciso conhecer as crianças com as quais estamos trabalhando e possi-bilitar o seu desenvolvimento integral. Deste modo, o planejamento tam-bém é visto como um momento de escolher e identificar os brinquedos e brincadeiras adequados à faixa etária e às características do grupo infantil. Kishimoto (2010) orienta a análise do brincar à luz dos artigos 9º a 12º das Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil.

Segundo o artigo 9º, precisamos observar as interações que acontecem a partir das relações com a professora, com as crianças, com os materiais, com o ambiente, com a instituição e com a família.

Também segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação In-fantil, é importante garantir experiências diversas, daí a necessidade de o professor ampliar cada vez mais as vivências da criança com o ambiente físico, com o brinquedo, as brincadeiras e com as outras crianças, per-mitindo que ela aprenda com seu corpo em movimento num espaço de liberdade, despertando nessa criança a paixão de conhecer e o prazer de descobrir o mundo, interligando a ética e o conhecimento necessários para um aprendizado efetivo.

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Kishimoto (2010, p. 05) ainda afirma que:

São numerosas e variadas as experiências expressivas, corporais e sensoriais proporcionadas às crianças pelo brincar. Não se podem planejar práticas pedagógicas sem conhecer a criança. Cada uma é diferente, tem preferências conforme sua singularidade. Em qual-quer agrupamento infantil, as crianças avançam em ritmos diferen-tes. Dispor de um tempo mais longo, em ambientes com variedade de brinquedos, atende aos diferentes ritmos das crianças e respeita a diversidade de seus interesses.

O brincar é, sem dúvida, um meio pelo qual os seres humanos, principal-mente as crianças, exploram uma grande variedade de experiências em diferentes situações e com diversos objetivos.

A criança envolve-se com o brincar em vários ambientes: em casa, na rua, no clube e na escola... Em cada situação o brincar tem um sentido e uma adequação diferente.

Nesse sentido, para Machado (1994 p. 37): “[...] o brincar é um grande canal para o aprendizado, senão o único canal para verdadeiros processos cognitivos”.

O papel do professor é de garantir que, no contexto escolar, a aprendizagem seja contínua e inclua fatores além dos puramente intelectuais: o social, o emocional, o físico, o estético, o ético e o moral devem se combinar com o intelectual para tornar a aprendizagem mais abrangente e formadora.

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Assim, o lúdico em situações educacionais proporciona não só um meio real de aprendizagem, como permite também que adultos perceptivos e competentes aprendam sobre crianças e suas necessidades.

No contexto escolar isso significa professores capazes de compreender onde as crianças estão em sua aprendizagem e desenvolvimento geral, o que por sua vez, dá aos educadores um ponto de partida para promover novas aprendizagens nos domínios cognitivo e afetivo, para a construção de saberes significativos.

A discussão da utilização pedagógica de jogos tem o suporte das teorias psicogenéticas de Piaget e Vygotski, que mostram sua importância para a compreensão das relações sociais da criança (KISHIMOTO, 2003).

Interessante ainda seria utilizar jogos no ensino da Matemática e das demais disciplinas, pois a resolução de problemas associa o intelectual ao prático, vincula habilidades básicas a outras mais complexas, vincula ensino à apren-dizagem – essencialmente ele vincula o brincar ao trabalhar, facilitando a assimilação de conteúdos aparentemente difíceis e complicados.

As atividades lúdicas também são fundamentais para o desenvolvimento da criatividade. As pesquisas mostram que as crianças que vivem a fantasia e o brincar de boa qualidade livremente, são consideradas grandes fantasis-tas e passam grande tempo imersos em pensamentos imaginativos.

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Nesse sentido, Rodrigues (2000, p. 30) nos ensina que:

Quando toda criança indiscriminadamente puder brincar em espa-ços alternativos, com equipamentos diversificados, jogar com ou-tras crianças de várias faixas etárias, descobrir o novo, manipular e construir brinquedos, desafiar seus limites, construir regras, ser ins-trutiva e espontânea – transformando-se um busca, super-homem, batman, rambo... – estará atingindo o principal objetivo que é o de fazer com que ela incorpore a sua essência e constitua-se num sujei-to mais inteligente e social.

METODOLOGIA

Para desenvolver este estudo, tive como base, um acompanhamento do de-senvolvimento do processo de aquisição da leitura e da escrita de uma criança de nosso convívio que faz parte do corpo discente da EMEIEF “Luiz Môni-co”. A observação de um projeto intitulado “Recreio Cheio de Histórias” que foi trabalhado nesta instituição de ensino e que tinha como subtema “brincar de ler”, tendo a música como principal metodologia de trabalho, vivenciando atividades de corpo-movimento, canções folclóricas e populares, trabalhadas em forma de textos em um caderno de leitura onde as crianças liam para os pais e os pais liam para as crianças, fazendo registro do que chamou mais a atenção da família. O registro poderia ser feito através de desenhos, recorte, colagens ou escrita. Na escola a criança apresenta o que fez para a turma, contando o que leu em casa. Trata - se de uma atividade coletiva chamada caminhos da leitura, envolvendo a prática de leitura, tendo como objetivo incentivar o hábito de ler juntamente com toda a família. O presente trabalho consiste numa pesquisa de caráter qualitativo, aplica-

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da na Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental “Luiz Mônico”, que atende a dois níveis de ensino da Educação Infantil, primeiro período (pré I) e segundo período (pré II) que compreendem a faixa etária de quatro, cinco a seis anos, Ensino Fundamental séries iniciais e finais. Como instrumentos de coleta de dados, além da observação e do acompa-nhamento do projeto de leitura desenvolvido na instituição, foram aplicados nove questionários, assim distribuídos: 4 (quatro) para educadores e 5 (cin-co) para crianças com a idade média de cinco e seis anos, alunos do segundo período (pré II) de Educação Infantil. Sendo utilizados ainda, o embasamen-to teórico de alguns autores como Dinello e suas atribuições acerca da ex-pressão lúdico-criativa e implicações no cotidiano escolar, Viégas, Ferreira e o auxílio dos Parâmetros Curriculares Nacionais para Educação Infantil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise dos resultados e observações obtidas na realização desta pesqui-sa, comparadas à realidade da escola com as respostas aos questionários e às referências curriculares para Educação Infantil contidas no RCNEI, que afirmam que “a integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter significativo à linguagem musical” (1993, v.3, p.45) fo-ram reveladoras e significativas.Os educadores desenvolveram o seu trabalho partindo do princípio de ler sem saber ler, em que as crianças praticam a leitura sem ter se apropriado amplamente dela. Nesse contexto a música impulsiona de forma prazerosa ajudando os pequenos a lidar com a realidade de uma maneira simbólica, oportunizando o acesso ao mundo adulto.

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O incentivo à leitura é um dos objetivos de todo o sistema escolar. A lei-tura, se for estimulada, acaba em prazer. Além do prazer de entrar num mundo imaginário, a leitura iniciada na infância pode ser a chave para um bom aprendizado escolar. Segundo VIÉGAS (1997, p. 13):

Ler para gostar de ler, ler para conhecer a língua, ler para conhecer o mundo. O ler para gostar de ler seria a garantia da leitura-prazer: lei-tura com a finalidade de divertimento, de gozo; o ler para conhecer a língua seria o momento apropriação da estrutura da língua portu-guesa, o ler para conhecer o mundo seria o momento de desvendar, de descobrir os conhecimentos construídos (...) Primeiro a sedução, o encantamento, a paixão, a emoção; depois a tomada de consci-ência do que se está fazendo, a razão, o conhecimento, o domínio. Se o objetivo é gostar de ler, a metodologia precisa ser o prazer, o deleitar-se e só.

Analisando os resultados, percebe-se que o trabalho realizado com mú-sica, brinquedos e brincadeiras por essa instituição de ensino além de ser motivador para as crianças, o que se confirma nos questionários por elas realizados, levou a grande maioria, cerca de 90 % dos alunos do segundo período de Educação Infantil a aprender a ler brincando e fazendo o uso da música em seu dia-a-dia, sendo que foi através destes questionários que os educandos criaram “as bases para as distinções auditivas da linguagem, uma prefiguração da alfabetização” (DINELLO, 1997, p. 95), isso mostra que a música tem grande valor no processo de alfabetização, que represen-ta um requisito mínimo de inserção social. Dessa forma, a música brinquedos e brincadeiras na Educação Infantil constituem-se como um excelente recurso estimulador e que naturalmente favorece o aparecimento de situações problemas, auxiliando e propiciando condições para que as crianças desenvolvam a linguagem oral e escrita de

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uma forma natural e prazerosa em suas vidas.Os jogos e brincadeiras quando bem planejados constituem uma excelente situação de aprendizagem dos alunos colocando-os em ação, tornando-os corresponsáveis por seu processo de aprendizagem. É preciso fortalecer a infância para que a criança que existe em cada ser humano floresça na idade adulta, assegurando a sobrevivência da sensibilidade, da afetividade e da capacidade de encantamento. Portanto, o aluno não é apenas objeto no processo pedagógico, e sim, um sujeito ativo, que participa e contribui para a construção do seu saber.Além disso, música, brincadeiras e brinquedos auxiliam nas atividades mo-toras, o que proporciona uma coordenação motora bem definida nas crianças dessa instituição, mostraram também grande facilidade de expressão.Esta pesquisa, porém, finaliza-se com a crença de que a música influencia positivamente no desenvolvimento psicossocial e cognitivo das crianças tornando-se um processo facilitador da aprendizagem da leitura e da escrita. Pode-se garantir que a música é um fator determinante na personalidade do indivíduo, uma forma de expressão social e cultural e é cada vez mais usada para alfabetizar, resgatar a cultura e ajudar na construção do conhe-cimento de crianças. Ela atrai a criança, serve de motivação, deixa-a mais atenta, contribuindo para a elevação de sua autoestima. Esta pesquisa verificou a importância da música, dos brinquedos e das brin-cadeiras no contexto escolar como elementos integradores e motivadores no processo de ensino aprendizagem da leitura e da escrita, contribuindo para um ambiente estimulante, prazeroso e rico. Observando que a prática interdisciplinar proporciona uma aprendizagem mais significativa e perce-bendo na realidade cotidiana a influência da música, dos brinquedos e das brincadeiras no desenvolvimento cognitivo das crianças que incorporaram a aquisição da leitura e da escrita de forma prazerosa e significativa.

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REFERÊNCIAS

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