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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mestrado em Urbanismo V SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA CIDADE E DO URBANISMO “Cidades: temporalidades em confronto” Uma perspectiva comparada da história da cidade, do projeto urbanístico e da forma urbana. SESSÃO TEMÁTICA 1: MEMÓRIAS E PATRIMÔNIO CULTURAL INVENTÁRIOS E POLÍTICAS DE PRESERVAÇÃO Coordenador: SAMUEL KRUCHIM (FAU-PUCCampinas) Catalogar a cidade, experiências na Itália moderna 1890-1990 Marcos Tognon Scuola Normale Superiore Pisa, Itália Campinas 14-16 de Outubro de 1998

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  • PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE CAMPINAS Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

    Mestrado em Urbanismo

    V SEMINRIO DE HISTRIA DA CIDADE E DO URBANISMO Cidades: temporalidades em confronto

    Uma perspectiva comparada da histria da cidade, do projeto urbanstico e da forma urbana.

    SESSO TEMTICA 1:

    MEMRIAS E PATRIMNIO CULTURAL INVENTRIOS E POLTICAS DE PRESERVAO

    Coordenador: SAMUEL KRUCHIM (FAU-PUCCampinas)

    Catalogar a cidade, experincias na Itlia moderna 1890-1990

    Marcos Tognon

    Scuola Normale Superiore Pisa, Itlia

    Campinas 14-16 de Outubro de 1998

  • Sumrio Parte I. Premissas

    1. Introduo ao culto das cidades 5 2. Para uma definio de "relevo arquitetnico" 5

    Parte II. Experincias

    3. Cultores de arquitetura, Roma 1890-1930 8 4. Saverio Muratori, Veneza 1950-60 14 5. Massimo Carmassi, Pisa 1974-90 18 6. Concluses 21

    Parte III. Iconografia Elenco das ilustraes Roma 24 Veneza 24 Pisa 25 Pranchas I-XVIII Notas 26

  • Parte I PREMISSAS Introduo ao culto da cidade "Catalogar a cidade", neologismo exclusivo este estudo que ora apresentamos, quer

    corresponder uma larga srie de experincias, e verificaremos alguns casos italianos, e na qual poderemos colher certos princpios comuns, nos "comportamentos" e nas "condies culturais" entre os respectivos protagonistas e promotores.

    Portanto, catalogar nessa acepo no se refere a um procedimento limitado operaes sistemticas de organizao de dados em funo do estudo, do levantamento e da avaliao quantitativa sobre um objeto, no nosso caso, da cidade e dos seus componentes: catalogar sobretudo criar condies efetivas, meios analticos, sempre em direo a resultados concretos que devem se somar a outros dois grandes grupos de conhecimentos, aquele dos registros pertinentes a uma Histria da cidade, e, aquele dos valores operativos, enfim, projetuais que possam designar as novas intervenes edilcias. Catalogar a cidade entra necessariamente em uma acepo maior, do "culto da cidade".

    No se pode excluir que os nossos cultores, arquitetos e engenheiros, arquelogos, crticos e estudiosos humanistas, sejam motivados especialmente pelos riscos explcitos nas velozes transformaes que nos ltimos cem anos so submetidas as cidades e os seus respectivos patrimnios.

    E trs so os princpios comuns a essas experincias italianas, simetricamente dispostas nos ltimos cem anos, nas cidades artsticas Roma, Veneza e Pisa.

    Um primeiro comportamento que notaremos, entre os protagonistas da nossa temtica, ser o modo pela qual a cidade interpretada: certamente a cidade um conjunto, mas um conjunto "arquitetnico", pois a grande arte da construo que define todos os espaos e formas, da magnitude dos monumentos celebrativos, da presena das estruturas habitativas, at os conseqentes largos, praas, ruas; essa noo amparada por uma primeira, anterior, aquela na qual a cidade um "organismo que cresce", que se desenvolve, e a sua materialidade, a sua espacialidade nascem em funo das decises sedimentadas pela arquitetura, ao longo das diversas vicissitudes histricas.

    A cidade considerada como um registro privilegiado, entre outros, para a histria da cultura de determinada civilizao o segundo princpio. Nasce, aqui, a possibilidade de uma identidade delegada pelo lugar construdo ao habitante, uma identidade a partir do fenmeno edilcio e que vai alm do gosto, ou de uma Kunstwollen epocal: existe uma plena convico, entre os nossos estudiosos, que a cidade possa fornecer, orientar uma "sensibilidade receptiva" cultura formal e histrica que se repousa nos materiais e nas morfologias urbanas. Reencontrar essa "orientao" uma tarefa que alcana uma responsabilidade moral, tica, do estudioso, do cultor da cidade.

    Um terceiro comportamento, concluindo, ao catalogar a cidade, a importncia da fruio visiva. Desde o final do sculo XIX, podemos acompanhar na historiografia artstica o percurso gradual da "pura-visibilidade" 1, e, poderemos verificar esse mesmo primado, da "cidade visiva", nos passos dos nossos cultores.

    Para uma definio de "relevo arquitetnico" Ainda dentro das nossas premissas, uma definio julgamos ser urgente, sobretudo

    para o ouvinte brasileiro: deveremos afrontar uma grande tradio italiana do desenho, aquela relativa cultura do "rilievo". Recorremos "Enciclopedia Treccani" de 1936, para uma primeira definio "institucional" dessa prtica, em sua veste moderna:

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    Rilievo - La rappresentazione grafica di un fabbricato esistente, non gi nell'aspetto esteriore col quale si presenta a chi lo guarda, il che opera di pittura o ripresa fotografica, ma attraverso speciali elaborati nei quali siano riportate in scala conveniente le sue caratteristiche reali di forma e dimensione, presuppone la conoscenza delle caratteristiche stesse, conoscenza che raggiunge mediante la misurazione dei loro elementi. S'indicano con nome di rilevamento le operazioni di misurazione e con quello di rilievo anche l'insieme degli elaborati che ne rappresentano graficamente il risultato. Dovendo tali elaborati riprodurre la realt dell'edificio scevra da quelle deformazioni che sono tuttavia parte integrante della nostra percezione visiva, necessario servirsi di rappresentazioni di aspetti astratti e convenzionali rispondenti ai caratteri generali comuni a tutti gli edifici, vale a dire alla loro planimetria, con le piante, e alla loro altimetria con le sezioni e gli alzati o prospetti. 2

    Se a presente definio poderia favorecer uma equivalncia entre "rilievo" e o "levantamento arquitetnico" no metier do profissional brasileiro, veremos que nas nossas concretas experincias de estudo, de culto das cidades, as distncias entre as concepes italiana e brasileira so maiores 3; e, teramos boas justificaes para insistir em uma traduo de "rilievo" para portugus "relevo", uma conveno que aceitaramos por enquanto, at novos estudos sobre a prpria histria do desenho arquitetnico no Brasil.

    De fato, na nossa tradio de ensino arquitetnico, poderamos recorrer s atividades inauguradas por Grandjean de Montigny na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro no sculo passado. Um arquiteto francs digno do Prix de Roma, em 1799, e autor de uma importante publicao na Alemanha, justamente um "lbum de relevos" sobre o patrimnio do primeiro Renascimento toscano 4. Seria uma interessante hiptese acompanhar o ensino e a prtica do desenho na sede acadmica carioca, desde a segunda metade do sculo XIX at a reforma didtica de Lcio Costa, referncia central para as futuras faculdades moderna de arquitetura.

    Objetivamente, no possumos hoje, nas estruturas educativas voltadas formao do arquiteto no Brasil, essa ateno particular ao referido "relevo arquitetnico"; e portanto, valida essa premissa ao nosso estudo, alerta para a propriedade de um conjunto de conhecimentos centrais na ao dos cultores da cidade italianos.

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    Parte II EXPERINCIAS Cultores de arquitetura, Roma 1890-1930 [Pranchas I-VII] Roma, no final do sculo XIX, era ainda uma "capital" em construo: surgiam na

    periferia do centro histrico os novos e primeiros edifcios que abrigavam a burocracia central da nao 5; algumas intervenes urbanas j demonstravam uma nova face que a Urbe teria sob o reinado da Casa Savoia, como a via Nazionale (coligando a zona nordeste, dominada pela estao ferroviria, ao centro dos foruns romanos), o corso Vittorio Emanuele (um percurso entre o Vaticano e a praa Veneza), os primeiros ncleos habitativos construdos pelas Sociedades de crdito imobilirio privadas e estatais, e as grandes operaes de retificao e controle das enchentes do rio Tibres.

    No centro antigo, acompanhava-se com os olhos as mltiplas "ampliaes verticais" dos tantos palcios, predominantemente barrocos, uma natural converso das residncias nobres para edifcios multifamiliares, como tambm a instalao em vrias sedes tradicionais patrcias de embaixadas e gabinetes de representao poltica do Governo.

    Em Roma, portanto, eram colocados na mesma balana, a validade de um patrimnio local, existente e apreciado por geraes de modernos viajantes, estudiosos, artistas, e as apressadas necessidades espaciais de uma nova capital, transferida em 1871, augurando-se um prestgio como aquele das irms europias de grande visibilidade, a Paris de Haussmann, a Vienna de Frster.

    Na direo das obras, atrs das decises, estava o Ufficio d'Arte Comunale, o ncleo institucional que desde o Plano Regulador apresentado em 1873, era responsvel pela ampliao e transformaes de Roma capital: Ufficio que, como em outras cidades italianas, abrigava um corpo de engenheiros e tcnicos, alm de receber colaboraes externas, geralmente de renomados profissionais para situaes e contextos particulares.

    J nos referimos a uma balana entre as novas necessidades e implementaes edilcias e, no outro prato, o patrimnio construdo e to caro aos amantes da arte; evidentemente o peso das novas condies e necessidades ser prevalente, e, as consecutivas reformas contero muitos critrios que no favorecero um convvio, um equilbrio com o outro lado pendente, aquele da histria, do pitoresco e da singularidade de tantos redutos urbanos. E, possvel uma deduo quase "lgica" e comum a todas as operaes urbanas no final do sculo XIX, quando o higienismo, o sanitarismo, a regularidade e economia da circulao so motivos centrais na mentalidade positivista que predominam as decises dos saberes politcnicos. Em Roma se respirava assim o mesmo ar que tantas metrpoles europias j contaminavam os seus habitantes por muitos decnios, p das densas nuvens de demolio e de canteiros de obras freneticamente ocupados por centenas de operrios.

    A esse quadro metropolitano, um primeiro grupo de arquitetos e arquelogos, de literatos e amantes dos monumentos do uma resposta, reunindo-se, formalmente, sob o ttulo de "Associazione Artistica fra i Cultori di Architettura".

    Em 23 de janeiro de 1890 se proclama a associao; em 18 de fevereiro se anuncia o Statuto que, no segundo artigo, expe os princpios dos scios cultores:

    Art. - 2. L'associazione ha per iscopo di promuovere lo studio e rialzare il prestigio dell'architettura, prima fra le arti belle, ed a questo effetto si propone:

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    a) di consacrarsi allo studio dei monumenti che costituiscono il prezioso patrimonio storico ed artistico di Roma e dell'Italia, interessandosi alla loro tutela e buona conservazione cosicch i membri dell'associazione possano a buon diritto essere chiamati amici dei monumenti; b) di tenere pubbliche esposizioni di opere compiute e di progetti eseguiti da distinti cultori italiani ed esteri, anche se questi non facciano parte della associazione; c) di tenere conferenze e pubblicare articoli speciali sopra argomenti o questioni riflettenti la cultura ed il progresso degli studi nel campo dell'estetica, dell'archeologia e storia dell'arte; d) di assegnare premi di incoraggiamento e bandire concorsi sopra temi che interessino l'architettura o le arti ed industrie da questa dipendenti. e) di adoperarsi affinch per i nuovi edifici di carattere e scopo pubblico siano banditi concorsi e che questi abbiano il miglior esito per l'interesse ed il decoro dell'arte; f) di istituire una biblioteca nella quale, oltre le principali opere e periodici, siano raccolti disegni originali, fotografie, stampe, calchi, collezioni speciali e quanto altro pu giovare allo studio dell'architettura; g) di comunicare con le istituzione affini e con le individualit eminenti italiane e straniere, attivando lo scambio di notizie ed iniziative con tutti i centri artistici e con quanti hanno culto per l'arte; h) di organizzare escursioni artistiche fra i soci per lo studio e riproduzione dei monumenti. Essendo l'arte scopo esclusivo della Associazione questa deve rimanere estranea a qualunque manifestazione politica. 6

    Era uma respostas dos ento novos cultores romanos a um sentimento de "mal-estar"

    generalizado: um consenso geral, entre os arquitetos, do ento desprestgio da grande Arte em relao s outras "irms", pintura e escultura, desprestgio verificado especialmente nas grandes mostras nacionais de Belas Artes 7; uma crise do prprio modelo acadmico de ensino para a formao dos venturos arquitetos, em especial representado, em Roma, pela Academia de San Luca e pela Academia de Frana em Villa Medici, pois, a etapa considerada mais significativa nessas sedes era o percurso, o adestramento na realizao de relevos arquitetnicos retificando as obras originais, muito aqum das situaes modernas, tecnolgicas, pela qual um arquiteto deveria dar uma resposta em concorrncia com os engenheiros 8; razes corporativas, vale a pena ressaltar a fraca, dbil organizao entre os profissionais da edilcia, praticamente encerrada nas Sociedades regionais dos Engenheiros e Arquitetos, frente a situaes de grande interesse como os concursos, a regulamentao das atribuies em leis, decretos, os valores de pagamento e de prestaes de servios, a privados e orgos pblicos 9.

    O perfil de um cultor romano de arquitetura, e citamos alguns entre os 24 scios

    fundadores, como Pio Piacentini (1846-1928), Gaetano Kock (1849-1910), Ernesto Basile (1857-1932), Giuseppe Sacconi (1854-1905) era aquele traado geralmente por um admirvel currculo de realizaes importantes na Capital, especialmente com uma vitria em significativo concurso pblico, informado constantemente sobre as novidades francesas e alems, particularmente dotado por uma cultura do desenho artstico e tcnico, e crente, admirador, fiel s antigas construes, aos seus endereos para um moderno projeto,

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    Se agli altri dobbiamo insegnare, se alla nostra arte dobbiamo acquistare proseliti, dobbiamo quest'arte possederla completamente, e per possederla non conosco mezzo migliore che studiarla, e studiarla sui monumenti in compagnia di chi ugualmente invaso dal sacro fuoco dell'arte. 10

    Nos 4 decnios sucessivos, at meados da dcada de 1920 quando a Associao

    perder a sua autonomia e ser anexada ao Sindacato Nazionale Fascista Architetti, sero criadas muitas comisses internas, visando certos estudos de projeto, de restauro dos monumentos, de organizao de congressos, de exposies; sero feitos vrios votos de apoio ou oposio iniciativas pblicas relativas aos rumos da Capital, do ensino artstico. Os cultores visitaro monumentos, canteiros, cidades, e publicaro, alm do "Annuario", outros peridicos, opsculos e livros e dois; ser constitudo, um verdadeiro vivaz ambiente cultural, fornecendo Itlia grande parte dos seus melhores talentos e conhecimentos para a primeira metade do sculo XX, personagens maturos que ali encontraram um solo frtil para as suas convices como Gustavo Giovannoni, e tantos jovens que ali se debutaram como Marcello Piacentini, Arnaldo Foschini, Vincenzo Fasolo, Luigi Piccinato. Saberes da arquitetura e do urbanismo, discutidos e conquistados entre o calor das assemblias, das apresentaes de propostas, e que se confluiro em manuais, em publicaes peridicas e na monumental e j citada "Enciclopedia Italiana Treccani" de Giovanni Gentile 11.

    Era necessrio essa introduo panormica ao "ambiente" dos cultores para entender

    uma singular experincia promovida, e as suas devidas implicaes dentro do quadro de aspiraes que citamos brevemente acima: aquela experincia que nos interessa e nos motiva nessa comunicao, a construo de um Inventrio do patrimnio para os 15 bairros de Roma moderno, desde 1892.

    Intitulada Rioni di Roma, e sempre constituda por tantos membros quanto os bairros

    romanos, a Comisso assim se expressa no seu primeiro programa de trabalho:

    Come eseguire di fatti un inventario della enorme esuberante quantit di tesori artistici che possediamo? Abbiamo anche risoluto, per ora, di non chiedere per uso nostro l'inventario gi eseguito dalla Commissione Archeologica comunale e di fare affidamento sulle nostre forze soltanto. N l'inventario del Comune, bench accuratissimo, adeguato alla vastit dell'oggetto, n qualsivoglia altro inventario volesse eseguirsi, anche disponendo dei mezzi pi poderosi, potrebbe riuscire perfetto. Non dunque questa ampiezza o questa perfezione lo scopo al quale debbono tendere i nostri sforzi. 12

    Nesses contrastes com os atuais inventrios disponveis, os cultores da arquitetura

    desenham uma metodologia especial para catalogar a cidade de Roma:

    Questa commissione ha gi incominciato i suoi studi ed i suoi lavori, e, come ci rifer in elaborata relazione il suo benemerito segretario, ha diviso il compito di sorveglianza, assegnando a ciascuno dei suoi membri l'ispezione di due rioni, in guisa che ogni rione affidato a due membri della commissione. Un inventario dei monumenti minacciati sar innanzi tutto redatto da questa commissione

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    nell'anno corrente, e di quelli che devono esser demoliti, eseguir tutti gli studi ed i rilievi pi adatti a conservarne la memoria. Intende inoltre di eseguire o raccogliere rilievi e descrizioni degli edifici spettanti all'architettura civile e militare di Roma nel medio evo, preparando cos un ricco e nuovo materiale per le pubblicazioni sociali. 13

    A iniciativa dos scios-cultores ir, em 1895, coincidir com uma outra, aquela da

    elaborao do novo "Regolamento edilizio" pelo Municpio de Roma: o governo citadino comissiona a Associao para executar uma lista dos "monumentos" que seriam includos em uma regra especial de tratamento, da total preservao ao condicionamento de possveis reformas e restruturaes.

    Os cultores preparam um primeiro "Inventrio dos Monumentos", um simples elenco, organizado topograficamente segundo percursos virios, e introduzem um critrio seletivo, qualitativo, dispondo os monumentos citados em categorias de "conservao"

    [A Associao] Ebbe parimenti a riconoscere, come non volendo fossilizzare la citt, e soffocarne ogni vitale iniziativa, non fosse possibile conservare in modo assoluto tutti i singoli monumenti del passato, ma doversi con prudente e pratica scelta classificarli secondo l'importanza loro, e suggerire per ciascuno i provvedimenti pi acconci e conservarne ai posteri il beneficio. 14

    1895 portanto o ano na qual a Comisso "dei Rioni" confirma efetivamente a utilidade

    pblica do seu trabalho, e tal incentivo induz os cultores a novos passos, uma verso complexa do projeto inicial para "catalogar a cidade": o quadro das informaes a serem recolhidas e posteriormente confludas em um futuro e mais completo Inventario dei Monumenti, seria articulado ento por trs bases de dados, "Itinerario", "Cataloghi particolari" e "Schedario"

    L'itinerario conterr la nuda descrizione dei monumenti che si osservano percorrendo le pubbliche vie. I cataloghi particolari conteranno la sua enumerazione che si osservano penetrando nell'interno degli edifici. Lo schedario finalmente descriver ed illustrer i monumenti precedentemente notati nelle due prime parti. Molte sono le ragioni che consigliano questa divisione, ma sopratutto la necessit che il lavoro proceda spedito ed ordinato e che possa essere esaurito per parti. 15

    Ao catalogrfica que se coordena com uma outra, aquela da tutela do patrimnio

    Un monumento pu essere distrutto o danneggiato, pu essere decomposto nelle sue parti per sostituirle tutte od alcuna in altra forma, pu essere asportato per collocarlo in altra localit, pu essere alienato e trasportato fuori di Roma, pu esser deturpato con aggiunte di altre parti o nascosto con intonaci o pitture, pu esser privato dei necessari sostegni o delle opportune custodie, e via dicendo. Ognuno di questi fatti costituisce innovazioni pi o meno fatali al monumento e l'Associazione nostra si propone d'impedirne l'attuazione per quanto in suo potere o di menomarne le conseguenze. Non soltanto ai grandi e pi conosciuti edifici dovr estendersi la tutela dei commissari, ma dovr possibilmente

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    proteggere i piccoli e semicelati avanzi di ogni epoca e stile che, per fortuna, assai numerosi si conservano ancora nella nostra citt, e non solo all'esterno, nelle piazze o per le strade, ma nell'interno delle chiese, delle sagrestie, dei conventi, dei palazzi, delle case, negli appartamenti, negli androni, nei cortili, nei giardini, negli orti per le scale e ovunque.16

    Trabalho, mas sobretudo compromisso, voluntrio dos cultores que se revezam,

    anualmente, na comisso, orientados por um regulamento prtico mas sem esquecer a base moral que sustenta toda essa atividade 17.

    Uma especial ateno ficha catalogrfica, alma do "schedario", que rene e coordena outras informaes como os desenhos, a bibliografia, estudos a respeito das condies dos edifcios, relatrios arqueolgicos 18. Ficha que um "ncleo documental", enriquecido com os relevos arquitetnicos, tantos sumrios para o registro das ocorrncias estilsticas, quanto complexos e detalhados, na avaliao de estratos construtivos sobrepostos em uma mesma massa edilcia 19. Uma ficha que ampara, inclusive, as solues possveis de intervenes, reconstruo, projetos que viabilizem reviver e preservar os monumentos declinados 20.

    A primeira contribuio, decisiva dos cultores romanos nossa temtica principal,

    sobre a noo moderna de "monumento", estendida amplamente materialidade edilcia da cidade:

    Con la parola monumento intendiamo per brevit indicare ogni edificio pubblico o privato di qualunque epoca ed ogni rudere: che presentino caratteri artistici o memorie storiche importanti; come anche ogni parte di edificio, ogni oggetto mobile od immobile ed ogni frammento: che presentino tali caratteri. 21

    Estudando as inscries latinas em belas letras cavadas nos blocos de mrmore que

    os antigos, sabiamente, registravam a histria de cada uma das fbricas; estudando os brases e os emblemas, uma herldica arquitetnica; descrevendo e relevando portes, prticos, janelas cujas molduras testemunham um vocabulrio clssico da arquitetura de alto nvel, mesmo em simples edifcios, os cultores evidenciavam uma "arquitetura menor" romana 22. Com esse comportamento, os valores e preferncias cultivados no interior da Associao se destacavam daqueles de uma certa mentalidade predominante, esteticamente representada por Benedetto Croce. Se para o filsofo napolitano a arte barroca, por exemplo, no tinha nenhum mrito dada a sua "degradao" 23, os cultores romanos, de frente ao rico tecido arquitetnico herdado dos Seiscentos, dedicavam tanto ateno ao Palcio berniniano dos Barberini quanto a uma casa, menor e ento coeva, prxima igreja de S. Eustachio 24.

    Outra contribuio que colhemos um consenso, entre os mais ativos scios cultores, sobre uma "histria da arquitetura" contraposta quela dos especialistas, dos manuais de histria da arte no comeo do sculo, e, entre todos, Adolfo Venturi e a sua exaustiva Storia dell'Arte Italiana que apenas comeava a ser publicada em 1901. Contra uma histria de impresses, de pura referncia arquitetura como uma obra de pintura, o cultor Gustavo Giovannoni (1873-1947) propunha uma histria profunda do fenmeno edilcio: as tecnologias empregadas ao longo do tempo em um antigo mas vivo monumento, as atribuies documentais, atestadas na literatura, nos arquivos, relevos, comparaes cuidadosas com o "estilo" e a sua fatura 25.

  • 14

    Lembramos Giovannoni 26, mas poderamos citar Giovanni Battista Giovenale 27, Christian Helsen 28, autores, cultores cujas competncias se alargavam da arqueologia uma filologia dos documentos e indcios estilsticos, at uma disciplinada metodologia, catalogrfica 29.

    o "itinerrio" natural da prpria cidade, percorrendo as ruas e praas, seguindo a

    edilcia nos seus desdobramentos espaciais, ora privados, ora pblicos, um trilho "esttico" que designa a estrutura do catlogo de Roma. Os monumentos vo sendo fichados, individualmente, nesses roteiros topogrficos, mas os cultores no visam apenas um "guia monumental" da cidade artstica; aqui nasce uma preciosa oportunidade, aquela da descrio, de recomposio de "ambientes" urbanos, quadros, panoramas; e a questo "ambiental" ser convergida para o problema das novas intervenes urbanas

    E di vero ormai questo dell'edilizia l'argomento pi vivo dell'Architettura, in cui l'Arte rivendica pienamente i suoi diritti, ed a cui fanno capo nervosamente tutte le moderne tendenze relative ai mezzi di comunicazioni, alle abitudini di vita, alle grandi questioni d'igiene e di bellezza, come anche al senso di rispetto pei monumenti e pel loro ambiente. 30

    Antes da cunhagem, no contexto italiano, do termo "Urbanistica" e suas decorrentes

    implicaes como disciplina cognitiva e especializada no planejamento das cidades 31, desde os primeiros anos dos Novecentos, era nominado "edilizia" o corpus de conhecimentos disponveis para o projeto em escala urbana, em escala ambiental. "Edilizia" que no somente reunia um extenso universo de saberes j conquistados e convocados, mas que, precisamente, dispunha, na interpretao dos cultores, uma hierarquia precisa entre os valores em jogo

    I moderni mezzi della tecnica applicata alle comunicazioni, i moderni concetti, non solo d'igiene e di economia, ma anche di estetica edilizia, che favoriscono il decentramento cittadino, che richiedono per le vie e le piazze non pi un geometrico tracciato, ma un ritmo, un raggruppamento vario e pittoresco, una espressione individuale e viva, rappresentano ormai gli alleati nuovissimi del sentimento di conservazione e di rispetto di un ambiente monumentale ed artistico quale s' composto nei secoli. I piani regolatori generali e le speciali soluzioni edilizie divengono cos, in modo essenzialmente differente da quel che erano fino a pochi anni or sono, opera complessa di arte, di tecnica, di conoscenza profonda ed amorosa del carattere e delle opere monumentali di una citt. Niun compito quindi che questo potrebbe meglio rispondere al nostro programma ed alla nostra tradizione sociale. 32

    Os cultores so atentos leitores de Stbben 33, de Camillo Sitte 34; possuem

    correspondncia com grupos promotores, ingleses e norte-americanos, da Civic Art, do National Housing and Towm Planning Council, com aquele belga-francs da Art public 35; a Associao romana ocupa assim um importante papel, se no central, na maturao de uma moderna e especial "Urbanistica" italiana, nos primeiros vinte anos dos Novecentos, reunindo os diversos ganhos disciplinares obtidos na construo do Inventrio dos Monumentos uma cultura internacional, atualssima. So armas que os cultores apontaro sempre para o problema do Plano regulador de Roma e as devidas responsabilidades polticas 36.

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    O Inventrio dos Monumentos, em sua verso definitiva, ser publicado apenas parcialmente, um primeiro volume em 1912 37; os textos introdutivos dos cultores ao itinerrio dos bairros so muito sinceros na enumerao das bases morais e metodolgicas, confirmando essencialmente os trilhos e princpios ento definidos no regulamento da Comisso em 1896. Destacamos os deveres coletivos na tutela do patrimnio

    Ed dovere del Governo e del Comune tutelare ad ogni costo questo patrimonio, e coordinare alla conservazione di tali preziosi avanzi anche i lavori di pubblica utilit; ed dovere dei privati conservare gelosamente gli edifici ed in genere i tesori d'arte che possiedono, per quanto almeno contribuiscono al decoro della citt e ne perpetuano le memorie. Era ed dovere delle Istituzioni artistiche e storiche in genere di tutti gli studiosi d'antichit contribuire alla conservazione di questo sacro patrimonio col metterlo in evidenza, inventariarlo, illustrarlo e col segnalarne le minacciate manomissioni. A questi doveri non da tutti e non da sempre stato ugualmente soddisfatto. Manc, innanzi tutto, nelle autorit una visione chiara di ci che doveva divenire Roma chiamata ad essere capitale d'Italia; non fu intuita la convenienza di conservare alla vecchia citt il carattere che i secoli le avevano impresso, e preparare alla vita nuova un pi acconcio e libero campo d'espansione. 38

    Os procedimentos de reviso para a publicao

    A norma di regolamento si procedette ad una prima revisione, scambiando i fascicoli fra i commissari per controllarli e correggerli. E siccome nella prima redazione non tutti i commissari avevano seguito lo stesso metodo e criteri identici, furono date delle norme suppletive acciocch questo lavoro di revisione risultasse in pari tempo lavoro di unificazione. Pur tuttavia, quando la Commissione riunita esamin i fascicoli riconsegnati dai revisori, ebbe a costatare che disuguaglianze esistevano ancora e non di semplice forma; come del resto era inevitabile in un lavoro compilato da quindici persone separatamente. Fu allora nominata una Sottocommissione composta da tre soli membri con l'incarico di procedere collegialmente all'ulteriore lavoro di revisione e coordinamento.39

    O Inventario dei Monumenti apresentado em dois elencos, segundo o "Itinerrio"

    topogrfico, por "rione"

    Nell'itinerario, tutte le strade o piazze di ogni rione sono catalogate per ordine alfabetico, nessuna esclusa. Sotto il nome di ciascuna strada o piazza sono elencati uno ad uno tutti gli oggetti degni di nota: prospetti di palazzi, di chiese, di case; portici, campanili, cupole, fontane, stemmi, lapidi, epigrafi, edicole, cancelli, frammenti architettonici e scultor; insomma, ogni pi piccolo particolare che presenti interesse storico ed artistico, che in detta strada o piazza apparisca. Di ognuno di questi monumenti fissata l'ubicazione, avvertendo se si trovano ne centro della via o piazza, ovvero sopra uno dei lati, e precisando su quale dei lati, merc l'indicazione dei punti cardinali coordinati rispetto alla via o piazza [...] 40

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    e os "Elencos por categorias"

    Tutti i monumenti inventariati nell'Itinerario ritroviamo in questi elenchi; ma raggruppati secondo un differente ordinamento. Si sono voluti qui riunire in gruppi tutti i monumenti appartenenti ad una medesima categoria, e le categorie sono elencate per ordine alfabetico: Absidi, Acquedotti, Balconi, ecc., Ogni categoria stata suddivisa per stili od epoche, col metodo che appresso esporremo. Quelli poi della medesima epoca o stile, sono anche essi ordinati razionalmente; ma con criteri a seconda dei casi, tali per che renderanno facile il rintracciarli. 41

    Esse catlogo de Roma monumental certamente apresenta os seus limites, os seus

    problemas, e que os prprios cultores anunciam-no-los: as direes virias como orientao ao recolher os dados, baseando-se na constatao das fachadas 42, os problemas de atribuio quanto autoria projetual dos edifcios 43, os critrios de estilo e classificao conservativa 44, os oportunos limites cronolgicos 45. So limitaes que no escondem, no ofuscam essa notvel obra coletiva e pluridisciplinar que entrava no circuito orgnico de outras iniciativas dos "amigos dos monumentos", prevendo uma circunferncia cultural que abraasse, unitariamente, as manifestaes da grande Arte edilcia:

    Cos con termine della poderosa pubblicazione dell'Inventario dei Rioni di Roma che tra pochi giorni, arricchita da tutta una serie di belle illustrazioni, vedr finalmente la luce, con la chiusura di un ciclo di attivit sociale, coincider la preparazione della nuova pubblicazione periodica, l'inizio di una nuova opera di diffusione precedente, ma pur con quello coordinato nell'armonica unit delle molteplici tendenze che guidano l'Associazione e dei fini per cui essa sorta. Poich per noi rappresentano altrettante manifestazioni di un'unica energia la Coltura e l'Arte, gli studi sui monumenti del passato, la tutela della loro integrit e del loro ambiente, e la ricerca di elevare l'Arte nostra, di illustrarne le manifestazioni e di dare, insieme ad essa, sviluppo alle arti di essa sussidiarie, le Arti decorative. 46

  • 17

    Saverio Muratori, Veneza 1950-1959 [Pranchas VIII-XII]Devemos, por ordem cronolgica, apresentar um "caso italiano" at hoje muito pouco avaliado, e ainda acrescentamos, no entendido nas suas amplas e at hoje inditas acepes ao estudar um contexto urbano. Falamos de Saverio Muratori, um dos mais densos personagens do ps-guerra italiano, e o seu estudo decenal da cidade de Veneza. A tarefa delicada: Muratori no apenas o arquiteto que projeta, e significativa foi a sua

    obra tanto arquitetnica quanto urbanstica, mas um terico, rico em fundamentos e raciocnios, um interlocutor que restitui um dilogo com toda a histria do pensamento e da cultura humana para, posteriormente, constituir uma base a sua Erlebnis; assim, devemos operar alguns recortes, estabelecer algumas prioridades segundo os nossos limitados objetivos em relao ao rico comportamento intelectual de Saverio Muratori 47.

    Graduado em 1933 na Faculdade de arquitetura romana, com os professores Marcello Piacentini, Arnaldo Foschini, Vincenzo Fasolo, com o ento diretor Gustavo Giovannoni, Saverio Muratori tinha a seu favor uma oportunidade e tantas escolhas oferecidas no multiforme contexto cultural da Itlia fascista; a sorte lhe agraciara com aquele recurso que s o tempo, a regra da inevitvel sucesso das gerao, das pocas, poderia lhe oferecer: obter uma formao densa na j matura Faculdade de Roma, com alguns dos mais clebres protagonistas da vetusta Associao dos Cultores de Arquitetura, e escolher, na vida prtica, qual o movimento artstico para se engajar, qual revista para se manifestar, enfim, qual a arquitetura, entre a racionalista mais paradigmtica de um Giuseppe Terragni ou aquela mais "acadmica" do novo e caricatural Vitrvio, Gigiotti Zanini 48.

    Muratori colabora na revista Architettura, participa de concursos e projetos, divide autorias com ex-colegas da "Sapienza", Ludovico Quaroni, Mario De Renzi, e, no ps-guerra, assumir tambm o ensino superior como uma importante atividade, primeiro, professor no Instituto Universitrio de Arquitetura veneziano, entre 1950 e 1954, e desde 1955, em Roma 49.

    So justamente nesses anos venezianos que Muratori cumprir um programa, atingir uma meta prevista, planejada e executada sucessivamente em trs etapas, assinalados em seus textos publicados no perodo 1948 e 1959:

    Sviluppi del pensiero architettonico in Italia (1948) Vita e Storia delle citt (1950) Studi per una operante storia urbana di Venezia - I (1959) 50

    Trs referncias que, sucessivamente, criam uma base terica-moral para uma nova

    "posio do arquiteto" em relao cultura arquitetnica

    Il quadro dell'architettura, che prima della guerra ultima, pareva polarizzato sull'antinomia irriducibile di due indirizzi formali opposti - dove esigenze tecniche estetiche e pratiche non riuscivano n ad articolarsi in quesiti precisi e distinti, n a generare un tessuto connettivo pi ricco di rapporti e riferimenti vicendevoli - ora ha ceduto il posto a una molteplicit di problemi tendenti a un superamento progrediente dei limiti di partenza, in generale costituiti da astrazioni di principio, con una penetrazione sempre pi intima della realt, e con una ricostruzione dei dati stessi del tema. 51

    E portanto

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    Basti solo riflettere sullo spostamento del punto focale del movimento architettonico dall'aspetto tecnico razionalistico a quello umano, il continuo e progressivo abbandono della pianificazione astratta per rivivere la realt umana e l'opera umana nella sua complessa realt, e, quindi, il nascere di un nuovo essenziale interesse degli architetti per i basilari quesiti dell'essere e del fare, cio per la critica, cui corrisponde, per riflesso, una nuova attenzione della critica per la architettura, per cogliere l'accento caratteristico del nuovo clima culturale. 52

    Prximo e segundo passo: o que arquitetura, o que urbanstica

    Urbanistica ed architettura si trovano allora sullo stesso piano programmatico e pratico: su un piano pi o meno vasto, pi o meno complesso, esse fissano premesse, scelgono e valutano dati, pongono quesiti che impegnano nel vivo la coscienza dell'urbanistica come quella dell'architetto, e li risolvono via via nell'azione pratica. Ma quel fissare premesse, quello scegliere dati, quel porre quesiti sempre atto spirituale e soggettivo, intrinseco all'opera creativa concreta, vista nella sua originale unit, n mai da essa separabile se non a posteriori, astrattamente. E poich l'architettura stata sempre ritenuta arte, stato affermato che anche l'urbanistica, almeno in quanto azione creativa, pu considerarsi tale. E lo pu certamente a patto che di tale arte si abbia un concetto tanto largo da includere tutti quei valori che rendono, ad esempio, l'arte architettonica forma in tutto vitale e concreta, aderente alla vita, comprendente la vita e perci espressiva di questa vita nella sua essenza animatrice. E cos intesa la forma diviene depositaria di tutto universale che nell'uomo, la sintesi espressiva dell'umano in quanto atto assoluto e concreto, che si pone al di sopra della relativit del giudizio e al di fuori del tempo. 53

    O arquiteto-terico oferece "cidade" algumas interpretaes e hipteses que lhe

    possam garantir uma aderncia aos valores apenas distinguidos, categorizados, sem entrar no mrito qualitativo: "ambiente" 54, "estilos" e "linguagem arquitetnica" 55, "tcnica" 56, "passado" e "futuro citadino" 57, "sentimentos histricos" 58; uma "cidade fenomenolgica"

    Occorre pertanto una mentalit, un quadro culturale che abbia risolto il quesito della posizione reciproca di due ordini diversi di interessi, quelli contingenti e quelli universali, che si presentano al pensiero in modo nettamente diverso. Ed importante questa mentalit (ho parlato deliberatamente di mentalit, di disposizione d'animo e non di principii o di formule) in quanto un tale atteggiamento, l'unico sbocco reale cui pu approdare una trattazione teorica, ci accompagner poi senza tregua l'opera concreta e stabilir, non certo la validit del nostro operare che, qualunque esso sia, ha nell'adesione a un'esperienza di vita il suo fondamento, ma l'ampiezza del respiro e la ricchezza degli interessi connessi nella nostra opera. 59

    Vita e Storia della citt, um ttulo que expunha os dois aspectos em devida

    concorrncia com um terceiro ausente, a "tcnica", nos destinos da cidade 60; "vida" e

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    "histria" que seriam motrizes para uma regenerao cultural, para um novo comportamento dos cidados, dos polticos, dos urbanistas 61.

    Eram, em suma, concluses de uma reviso muratoriana sobre a histria da urbanstica, deste o Iluminismo e a instituio da "abstrao" como modelo geral da mentalidade definida ento tecninicista62, passando pelo sculo XIX, recordando Haussmann e Sitte 63, at as propostas dos modernistas, at Howard e Frank Lloyd Wright 64.

    O problema da "cidade antiga", do centro histrico e as devidas interpretaes por parte dos historiadores, do tcnicos, tambm mereceria uma reviso: os primrdios, e Saverio Muratori cita Winckelmann 65; os passos decisivos, se reconhece os cultores romanos de arquitetura, especialmente Giovannoni e a sua teoria do "diradamento" 66; a concepo presente e dominante, a "cidade-museu" 67.

    Se o primeiro passo de Muratori era alertar a urgncia de uma nova concepo da "teoria da arquitetura", envolvida com valores de referncia histricos e morais, filosficos e "vitais", o sucessivo restituia disciplina "Urbanistica" compromissos importantes naquele momento de reconstruo do ps-guerra, como as novas ampliaes das cidades e o restauro dos centros antigos destrudos.

    Cos la vera vita della citt dovuta ad un processo continuo e sempre attivo di rinnovamento e di conservazione, non disgiunti ma fusi in unit, processo che, anche nelle artificiose condizioni in cui vivono le citt del nostro tempo e la nostra civilt, sussiste a dispetto delle intrusioni insensate, degli interventi deleteri della cultura ufficiale. Si attua giornalmente una sorte di restauro d'uso, ci un continuo condizionamento alla vita (reazione e collaborazione dell'uomo con l'ambiente) che pu considerarsi il prototipo di ogni architettura e che dovrebbe essere preso a modello ideale di ogni progettare. 68

    E o terceiro avano no percurso muratoriano coincidia com o incio da atividade didtica

    em Veneza: chamado para ocupar a ctedra de "Caratteri distributivi degli edifici", Saverio Muratori propunha um curso, dentro do moderno currculo didtico do Instituto Universitrio de Arquitetura, na qual a cidade da laguna e a sua especial configurao seriam um justssimo laboratrio

    Esclusa ogni visione astrattista e separatista della forma, si pose quindi il problema di una trattazione tecnica che, anzich escludere i valori etici ed espressivi, li includessi nella struttura logico-economica fino dalle sue basi assicurandone la concretezza e individu nel tipo edilizio una visione della realt intesa nel suo senso unitario e nella sua continuit di sviluppo, individuale in ogni suo momento e caratterizzata da un orientamento selettivo e quindi storico, atto a un vitale e unificante scambio con l'ambiente. 69

    O "mtodo tipolgico" era uma abordagem direta e fiel s estruturas arquitetnicas no

    especial assentamento urbano veneziano, ou para reentrarmos na nossa original temtica, se tratava de uma "catalogao" da cidade, da mnima grande escala, dos fatores construtivos e estilsticos singulares no presente, sem esquecer o seus desenvolvimentos histricos

    [...] che il tipo [edilcio] non si individua se non nella sua applicazione concreta, cio in un tessuto edilizio; che, a sua volta, un tessuto

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    urbano se non nel suo termine totale, cio nell'organismo urbano e che il valore totale di un organismo urbano lo si afferra solo nella sua dimensione storica, poich, nella sua intrinseca continuit, la sua realt cresce col tempo e si attua solo come reazione e sviluppo conseguente alla condizione posta dal suo passato. 70

    Tal mtodo aplicado uma cidade como Veneza era sobretudo experimentar um caso

    quase extremo: dois fluxos de circulao, a cotidiana navegao e a convencional pedestre; bairros que se erguiam em blocos edilcios, dadas os problemas hidrulicos das novas ocupaes de terras altas; cidade sempre limitada e sensvel a substituies do tecido, e, assim, deveria assistir obrigatoriamente a sobreposio de estilos, de culturas, de costumes. Em nenhuma outra cidade italiana a arquitetura redundantemente a cidade, como em Veneza.

    [...] il vero di indagine fu, a parte una pi adeguata valutazione delle difficolt offerte dall'edilizia veneziana, il chiarimento in concreto del duplice aspetto che comporta ogni indagine edilizia, la individuazione di una linea di sviluppo storico, ci il rapporto che lega l'individualit del tipo con un nuovo aspetto individuale insorgente come sviluppo e differenziazione nell'ambito del primo; aspetti che a indagine compiuta si sosterranno a vicenda, si compenetreranno e si fonderanno in un unico, ininterrotto processo; ma che il ricercatore dovr creare, per costatarli, di isolarli e coglierli separatamente onde evitare equivoci e contaminazioni di valori gerarchicamente e strutturalmente distinti. 71

    O desenvolvido e detalhado texto publicado em 1959 na revista Palladio,

    praticamente um nmero monogrfico sobre a "histria urbana operante" muratoriana, impressiona pela extenso de anlise e de iconografia. O autor nos apresenta as suas motivaes didticas, as etapas de trabalho conduzidas com os alunos entre 1950 e 1954 72, como tambm as razes e as sucessivas zonas selecionadas em Veneza, na construo da sua histria urbana 73.

    A funo do relevo arquitetnico, o "rilievo dal vero" como declara metodologicamente Muratori, era representar inteiros ncleos da cidade, conjuntos coerentes que nasceram ou adquiriram vida em uma fase especfica e homognea na histria cultural veneziana, um relevo da situao atual acompanhado por outros, hipotticos e capazes de reconstruir as anteriores fases "vitais" dessas mesmas partes urbanas 74.

    Catlogo "histrico-crtico" da cidade: no h mais distino entre estruturas monumentais e aquelas habitativas; no existe mais a preferncia no entendimento do quadro "pitoresco", do percurso visivo, e sim, de todo o complexo de variantes arquitetnicas, dos espaos aos estilos, e resta como operao crtica justamente avaliar as hipteses de configurao histrica, das origens aos desdobramentos sucessivos 75.

    Em termos prticos, um "catlogo" estruturado pelas macro-unidades, os bairros, mas sempre referenciados ao plano geral da cidade, seguindo de qualquer modo, a mesma estratgia de ocupao das iniciais pequenas ilhas da laguna que se fundem, se cruzam, se interligam, progressivamente com o tempo 76. Esto presentes tambm alguns ensaios de relevos histrico-crticos de palcios civis, como a Casa Polo in Corte, no bairro S. Giovanni Grisostomo, e sua evoluo planimtrica desde o sculo XII 77.

    O papel da fotografia no catlogo muratoriano subsidirio ao texto e aos relevos, fornecendo um registro da situao coeva, e sem nenhuma pretenso quanto a um ponto de vista mais interessante ou "monumental", uma fotografia descritiva 78.

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    Dos tipos edilcios, se passa aos tipos urbanos, quando justamente os relevos evidenciam as diversas "Venezas": "cidade arquiplago", "cidade contnua", "cidade unitria", momentos de grande coerncia da massa edificada em relao escala temporal. Dos sculos IX-XII quando os assentamentos pontuais ultrapassavam o modelo linear de distribuio das fbricas, preparando-se para o apogeu do "gtico", at os Quatrocentos e Quinhentos, com as regularizaes e ampliamentos promovidos durante o "renascimento" 79.

    O discurso nas pginas de Palladio se expandia em tantos pargrafos, entre a filosofia e epistemologia, rumo a definies de conceitos, disciplinas, confirmando a dcada de reforma terica da arquitetura italiana promovida por Saverio Muratori: a "histria urbana" 80, a "arquitetura" 81, o "planejamento"

    La nostra indagine ci ha messo nell'avviso che una visione positiva e realistica del problema richiede un capovolgimento della impostazione: se tale l'attrezzatura tecnica di cui la citt dispone, occorrer trovare il modo che essa continui a dare un rendimento, che seguiti cio a funzionare cos come essa pu, cio entro i limiti di elasticit assegnatile dalla sua storia: fino al momento almeno in cui ci non sia pi possibile (ma in quel momento caduto qualunque interesse per l'attrezzatura tecnica sorpassata, il problema non esister pi). Occorrer partire non da quello che non c', ma da quello che c' dalla comprensione delle sue possibilit e del suo valore, che, come sempre, non sta in un fittizio valore di natura degli oggetti sempre pi o meno convenzionale, ma dal valore loro attribuito dal campo magnetico di una cultura, dal modo in cui sono interpretati e connessi. [...] Ecco dunque una legge programmatica estremamente convincente: pianificazione legittima solo quella che asseconda il moto di variazione funzionale che la realt esistente, cio la struttura, ammette. Ha perci i suoi limiti (che possono essere in casi estremi anche letali), ma solo perch ha i suoi limiti, ha le sue preferenze, cio a dire una particolare scala di valori, le sue categorie, le sue forme, un suo particolare senso economico, un suo interesse umano e sociale. 82

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    Massimo Carmassi, Pisa 1974-1990 [Pranchas XIII-XVIII]

    Ho iniziato molto presto a rilevare questa citt: nel 1963 Piazza dei Cavalieri, l'anno successivo "Piazza delle Vettovaglie": due riferimenti simbolici per un giovane studente di architettura. 83

    Construindo sempre uma discreta autobiografia em seus depoimentos e textos

    publicados, o arquiteto graduado em 1970, Massimo Carmassi, jamais revela, explicitamente, os sentimentos profundos e afetivos que sempre dedicou sua cidade natal, Pisa. Um culto cidade que lhe garantiria um amplificao, um incitamento pela j inata inclinao ao desenho, pelo projeto, pela criao, e obrigatrio reconhecer o vulto e a importncia contempornea da obra projetada por Carmassi, na Itlia e no exterior 84.

    Pisa, cidade toscana, que assumia no arco suave do rio Arno um preciso eixo entre as suas partes meridional e setentrional, se apresentava aos olhos do arquiteto como um evento construtivo realmente singular, estratificada, inspirando-lhe uma "idia" de cidade

    Spesso mi trovo ad immaginare citt quasi monocromatiche dove modesti scarti di colore contribuiscono a determinare un senso di serenit e ordine. Tutto ci rimanda ai temi della durata e della stratificazione, caratteristici del divenire di ogni citt antica. Le citt sono il risultato di innumerevoli sedimentazioni, del trascorrere incessante della vita e resistono al tempo in virt delle qualit dei materiali utilizzati per le costruzioni che le compongono. Le mie architettura impiegano materiali resistenti e semplici quasi per essere predisposte ad accogliere future modificazioni o ad inserirsi negli strati della citt. 85

    A experincia pisana que nos interessa nessa comunicao, e na qual Massimo

    Carmassi ser o idealizador e ponto de referncia constante, o trabalho de "rilievamento" da cidade executado pelo Ufficio Progetti do Municpio, entre os anos 1974 e, aproximadamente, 1990, ano de preparao de parte dos resultados para a publicao em um volume, o citado Pisa, il rilievo della citt.

    Se tratava de um estdio de arquitetura paralelo s instncias tcnicas municipais, inaugurado para viabilizar os projetos de interveno previstos no ento Plano regulador de Pisa, no centro histrico, e particularmente na recuperao de certas zonas centrais e propor, para a moderna periferia, novas unidades que respondessem certos programas, habitativos e educacionais. Um procedimento que no era indito no cenrio italiano, recordando sobretudo os anos entre-Guerras, quando vrios escritrios e respectivos profissionais liberais se prontificavam para desenvolver diversas escalas de intervenes, do Plano Regulador construo de prdios pblicas, sempre em paralelo aos quadros oficiais do "genio civile" citadino.

    As atividades que inicialmente se configuravam como assessoria profissional foram, sob a direo sempre de Carmassi, se estendendo em um programa maior, de estudos, da inteira Pisa. Diversas competncias, como aquela dos historiadores, dos engenheiros, dos arquelogos, foram se reunindo em precisas ocasies, como o restauro do Palcio Lanfranchi, ganhos certamente importantes de interlocutores que orientavam os membros do Ufficio Progetti nos estudos progressivos 86.

    Cidade estratificada como j dissemos: Pisa possua uma particular tipologia habitativa, as casas-torre que registram o perodo medieval da "Reppublica marinara" 87;

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    posteriormente, subjulgada ao Ducado Mediceo, no sculo XVI, a cidade perde o direito a qualquer autonomia cultural, e a sua arquitetura menor vem "coberta", dissimulada pelas proeminentes janelas e fachadas revestidas, segundo o modelo palacial florentino do tardo Renascimento 88. Soma-se, pelos sculos vindouros, as restruturaes, as ampliaes, as perdas de certos trechos da ltima muralha medieval, todas as vicissitudes de uma cidade histrica que se fermenta em perodos de intensa vida construtiva contrastados por aqueles da decadncia, das obras mal implementadas, as cicatrizes edilcias ainda abertas pelos dramticos bombardeamentos na segunda Guerra Mundial.

    A estratgia carmassiana no estudo de Pisa fundamentada justamente no registro grfico das condies citadinas, o relevo arquitetnico

    Abbiamo spinto la conoscenza degli edifici attraverso lo studio grafico dei rilievi e ci siamo accorti, ad esempio, di tutta una serie di anomalie che fanno apparire la tipologia urbana pisana ben pi complessa di quanto la si credeva; abbiamo anche scoperto la ricchezza delle stratificazioni nelle molteplici trasformazioni. La memoria della citt , in fondo, molto labile, nel senso che cambia continuamente; il rilievo sistematico (lo eseguiremmo anche per la periferia) diventa dunque un documento preciso, capace di restituirci la memoria di un determinato periodo. proprio grazie al rilievo che arriviamo a scoprire parti nascoste e dimenticate della citt, come certe zone abbandonate, seppellite dalla vegetazione e inaccessibili, situate lungo le mura. 89

    Desenha-se uma primeira planimetria da cidade antiga, confinada pelas muralhas, cuja

    diviso interna simtrica s unidades dos bairros e, em detalhe, com a indicao dos quarteires, dos lotes e de toda a situao entre a edilcia nova e aquela antiga preservada 90. a Pisa contempornea que o grupo de Carmassi desenha, indaga, grupo que desde o incio dos trabalhos conta com o apoio do curso superior de arquitetura florentino, e, assim, correspondendo a uma experincia didtica com os alunos e professores envolvidos 91.

    Carmassi, frente desta orquestra grfica, logo acordaria com a Administrao municipal pisana para a aquisio dos relevos completados externamente ao Ufficio Progetti, preocupando-se especialmente na realizao de um grande arquivo 92; os obstculos crescem, falta um apoio estvel poltico, e, selando a "concorrncia" e mesmo interrupo da atividade dos cultores pisanos, a Prefeitura cria um novo orgo para tutelar o patrimnio histrico 93.

    Analisando a produo atestada no volume Pisa, il rilievo della citt, testamento metodolgico do Ufficio Progetti, podemos compreender, imediatamente, a condio que todo estudo desenvolvido organicamente, ou seja, dependente de certas disponibilidades humanas, competncias e necessidades, possa oferecer, possa enriquecer e afirmar uma cultura to particularmente italiana como aquela do "rilievo": o catlogo carmassiano de Pisa apresenta contedos especficos, segundo a escala de desenho, segundo interesses por certas zonas citadinas e submetidas ento ao restauro e restrutturao, segundo as disposies grficas, mais detalhados ou no, quando certos valores monumentais reclamavam uma concentrao de esforos e de recursos variados.

    Esquematicamente, podemos dividir esse conjunto de relevos feitos pelo Ufficio Progetti em 4 grupos temticos 94.

    O primeiro relativo aos conjuntos monumentais, de altssimo valor artstico, desde o "Piazza dei Miracoli", assim definido por D'Annunzio, onde se situam a Catedral, o Batistrio, o Camposanto e a Torre pendente, ou a vasariana Piazza dei Cavalieri, o

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    conjunto militar do Arsenale para o rio Arno, rumo ao mar Tirrenio a oeste, a Fortaleza San Gallo, no outro extremo fluvial da cidade, a leste; alguns entre tantos outros que receberam uma campanha de relevamento grfico intensa, e no somente eram evidentes a preocupao do registro "estilstico" detalhado das moles, exemplar as pranchas para o Camposanto Monumental 95, mas tambm s questes volumtricas, representadas em perspectivas axonomtricas, especialmente aqueles conjuntos muito comprometidos por estruturas recentes, caso que se verifica com a Fortaleza San Gallo.

    O segundo grupo so os conjuntos habitativos ou funcionais, antigos e modernos, que formam quarteires e configuram uma grande parte do centro setentrional pisano. Os relevos, sempre proporcionais a essa pequena escala urbana, revelam em planimetrias especficas para cada cota e nas fachadas gerais, o resultado de uma edilcia amalgamada em uma coerncia, simples, de espaos conectivos. So nesses momentos, como a Piazza delle Vettovaglie, ou o quarteiro entre as ruas Coccapani e S. Andrea que se "escavam" os estratos e correspondncias a uma tipologia histrica da casa-torre. Quando previsto um projeto de restruturao em larga escala, como aquele para o quarteiro atrs da igreja de S. Michele in Borgo, os relevos avanam at as mnimas configuraes materiais, sem perder a idia geral que possa orientar tipologicamente a nova edificao 96.

    A desativada Fbrica Marzotto, edificada nesse sculo, assim como o antigo e abandonado Matadouro Pblico dos Oitocentos so registrados enquanto estruturas presentes e potenciais programas de reciclagem espacial 97.

    O sistema das muralhas medievais, que configura o ltimo poliedro das glrias de Pisa replubicana, compe o terceiro grupo de relevos: sistema porque o forte muro de pedras e tijolos se articula com outros componentes, uma verdadeira arquitetura linear, como as portas de entrada rumo ao burgo antigo, as partes terminais assinaladas pelo encontro com o rio Arno, incluindo basties e pontes ento fortificadas, portos e respectivos canais, conectando-se por fim s estruturas militares de vigilncia do percurso fluvial interno cidade. So nestes relevos que encontramos importantes registros grficos, de altssima qualidade, representando as densidades da massa muraria na sua composio, no seu degrado, nas suas diversas situaes topogrficas.

    O quarto grupo temtico de relevos cobre exatamente as necessidades de estudo de certos edifcios, individualmente. Seja uma casa-torre, situada na via Toselli, que detalhadamente relevada e, hipoteticamente, definida nas suas diversas fases histrico-construtivas, como certos monumentos, o j citado Palcio Lanfranchi, ou o centenrio Teatro Giuseppe Verdi, oferecem, todos, uma oportunidade para o projetista da arquitetura avaliar os limites entre conservao e reutilizao, entre valores histricos e valores contemporneos 98.

    As concluses desse estudo de Pisa atingem o teor do projetista: Massimo Carmassi um amante ativo da sua cidade, propositor, e o "catlogo" da velha edilcia pode servir, orientar, as novas direes de um campo delicado da cultura projetual arquitetnica, o restauro

    Il rilievo uno strumento fondamentale per la conoscenza della citt antica e la progettazione dei suoi restauri. Non sufficiente per accontentarsi di rilievi generici; necessario conoscere lo splendore delle murature, le irregolarit dei prospetti, le particolarit di ciascuna costruzione, le decorazioni, persino gli infissi per poter intervenire coerentemente. I miei interventi aspirano ad integrare un atteggiamento rigoroso basato sulla conoscenza analitica dei manufatti con modificazioni realizzate in maniera raffinata e attuale favorendo l'uso degli edifici senza violarne le qualit materiali e formali. bene trasformare il meno possibile un edificio antico ma ci

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    non in contraddizione con ipotesi di radicale muta mento d'uso. Ogni restauro dovrebbe tendere a rivelare tutte le qualit potenziali, ancora inespresse, dell'edificio. 99

  • Concluses Em sede conclusiva, mesmo que sem o amparo de uma apresentao anterior e

    detalhada da trama contextual de cada uma das nossas experincias, em Roma, Veneza e Pisa, devemos invocar dois pontos, dois primeiros juzos crticos que entrelaam, no arco de um sculo, os ns fundamentais para uma "cultura da cidade" na Itlia moderna.

    1. Que os devidos "catlogos" promovidos pelos nossos cultores romanos da arquitetura,

    por Saverio Muratori e por Massimo Carmassi, foram experincias que trouxeram resultados inditos no panorama italiano.

    Os membros da Associao romana, entre os sculos XIX e XIX, presenciavam tantas iniciativas, entre os especialistas mas, tambm, em tom divulgativo, na qual as cidades italianas eram apresentadas sob o enfoque do "ambiente artstico": destaca-se a srie, com tantas edies em pequenos fascculos, "Le cento citt d'Italia"; ou publicaes de grande prestgio que enriqueceram o fin-de-sicle italiano, como os lbuns de relevos alemes e franceses, colocavam em dia o tema dos "monumentos", do respectivo estudo e da necessria documentao visiva. E ainda guias particulares e gerais para Roma, antiga tradio afirmada no sculo XVIII, sculo do Grand Tour de estrangeiros pela pennsula, que passam a ser disseminados pelo sculo sucessivo, dadas as vantagens da imprensa moderna, em uma escala jamais vista. So alguns componentes entre os quais o Inventario dei Monumenti da Associao dos cultores de arquitetura responde, e, inova. No pela sua estenso como vimos, nem mesmo pelos recursos visivos, mas pela inteligente articulao entre informaes que podem servir ao estudioso, ao turista sagaz, Administrao pblica. O Inventario dei monumenti, obra coletiva, e como tal se comporta: vrias competncias, vrios saberes que se renem, da arqueologia histria urbana, da historiografia e o problema dos estilos aos projetos de restituio, de reconstruo, de registro, seguindo as "classes" dos monumentos, do patrimnio em risco.

    Saverio Muratori reconhecer esse passo decisivo 100; com Muratori que faremos um salto, mais do que indito, absoluto e nico, dentro da nossa contempornea "cultura da cidade": no h precedentes italianos para a sua concepo abrangente, orgnica, da edilcia urbana enquanto fenmeno nico. Os relevos muratorianos excedem todas as expectativas at ento consolidadas e dominantes, com o "catlogo de Veneza", com um sucessivo mas equivalente de "Roma" em 1963 101; "relevo urbanstico" enquanto desenho que restitua as planimetrias presentes e passadas do "corpo vivo" da cidade, pice da pesquisa das tipologias edilcias nos estudos para uma "operante storia urbana". Os excepcionais resultados venezianos de Muratori no evitaram a sorte que a prtica do relevo encontrar, nas instncias de formao institucional dos arquitetos, durante as reformas dos cursos superiores de arquitetura na Itlia naqueles mesmo anos 102. Se tantos se uniram para oporem-se ao rigoroso mestre Saverio Muratori 103, conta-se, no obstante a sutil lista de reconhecimentos crticos at hoje, a forte palavra de Manfredo Tafuri e a recentssima declarao de Leonardo Benevolo 104. E conta-se sobretudo com outra experincia pontual mas decisiva para a recente cultura do restauro dos centros histricos no final dos anos '60, aquela de Pier Luigi Cervellati no estudo para a preservao da velha edilcia de Bolonha: so catalogados

    [...] gli edifici antichi non solo secondo una graduatoria dei pregi storici e ambientali, ma soprattutto secondo le caratteristiche tipologiche (strutture architettoniche e specialistiche nodali; seriale, semplice, complessa, unica; strutture architettoniche a corte: per associazione, seriale, per associazione organica; strutture edilizie

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    minute su lotti stretti e profondi con giardini e orti interni; strutture edilizie miste) ha permesso su basi sufficientemente rigorosa, di trasformare la prima schedatura dei valori storico-ambientali da quantitativa in qualitativa. 105

    Esse detalhe metodolgico do projeto de catalogao bolonhs, publicado em 1973,

    serve no somente para verificar os destinos radicais daquela inicial metodologia "estruturalista" aplicada em Veneza106, mas para sugerir, para alinhar no fio vermelho muratoriano a nossa terceira experincia, em Pisa, com Massimo Carmassi e o Ufficio Progetti inaugurado em 1974.

    Carmassi concretiza uma recuperao disciplinar da grande cultura do desenho arquitetnico, em perfeita sintonia com as reaes, e falamos exclusivamente sobre o "desenho do arquiteto", mais evidentes na Europa e Estados Unidos - l-se Aldo Rossi, Lon Krier, Charles Moore - ao executar o relevo da sua cidade.

    Desenho arquitetnico, relevo arquitetnico que sempre um resultado de uma abordagem emprica, e tal preocupao regula as convenes e equivalncias grficas ao representar, nas diversas escalas, desde os conjuntos urbanos coesos estruturalmente, at a arqueologia das estratos materiais em uma construo delegada organicamente pela suas vicissitudes histricas. O degrado fsico, os componentes tcnicos de vedao, de sustentao, as articulaes e arranjos espaciais, so temas de uma acurada disciplina do desenho .

    Ao compor um "catlogo de Pisa" pelas suas estruturas citadinas existentes, do centro histrico periferia, o relevo apresentava a sua dignidade cientfica e operativa para, posteriormente, responder a um desejado controle total do patrimnio, uma requalificao constante, a um controle de todas as novas intervenes construtivas, pblicas e privadas. Mesmo com as sucessivas desiluses dos promotores desse catlogo e com o encerramento definitivo do Ufficio Progetti, Pisa pode se orgulhar, no panorama italiano atual, por ser a nica cidade que conserva tal depsito de informaes sobre o prprio patrimnio.

    As trs experincias revistas no concluram os metas inicialmente programadas, fracassaram entre os problemas de dinmica institucional das suas sedes: os cultores romanos e a nova ordem corporativa central do fascismo, Saverio Muratori e as resistncias ideolgicas dentro do Instituto Universitrio de Arquitetura de Veneza e, Massimo Carmassi, isolado em uma poltica instvel na definio progressiva de metas para a Administrao municipal. Experincias no concludas, mas substanciais, e que merecem inditos e mais abrangrentes estudos, pois as atuais literaturas crtica e histrica da arquitetura italiana ainda no se convenceram que h um lugar no Pantheon da arte edilcia para os cultores da cidade 107.

    2. Que a urgncia e a plena convico de um "catlogo da cidade" sempre a primeira e

    estimulante resposta concreta s dinmicas exigncias de trasformao urbanas. Quando falamos e insistimos em uma "cultura da cidade" que verificamos nas nossas

    experincias romana, veneziana e pisana, queremos exatamente indicar esse quadro de atitudes e informaes na qual vrias iniciativas de estudo do patrimnio existente - por certas ferramentas disciplinares como o relevo, por saberes institucionais como histria social e econmica, da arte e urbana - so os interlocutores privilegiados das decises projetuais, nas diversas escalas, ao lado das exigncias da vida.

    Catalogar a cidade antiga j seria, concluindo, propor uma nova cidade. Parte III

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    ICONOGRAFIA

    Roma Estudo e reconstruo dos monumentos romanos

    [Prancha I] [1] Igreja de S. Saba, planta geral das escavaes arqueolgicas, 1897-1910 Catalogo dei disegni di architettura, p. 45. [2] "Rilievo di una casa decorata a graffito al Vicolo Cellini", exposto Mostra di

    Topografia Romana 1911 Annuario di Architettura (1914), p. 116.

    "Inventario dei Monumenti"

    [Prancha II] [3] "Rione Colonna", frontispcio do invent rio do bairro romano Inventario dei Monumenti (1912), p. 59.

    [Prancha III] [4] "Pianta di Roma con la confinazione dei suoi XV rioni", gravura Inventario dei Monumenti (1912), s.n.

    [Prancha IV] [5] "Osteria del Gattovero, gi esistente al vicolo del Curdello", desenho de E. Retrosi Inventario dei Monumenti (1912), p. XXXI.

    [6] "Casamento (m. e got. e rin. 2 per.) Albergo dell'Orso. Studio del restauro

    dell'architetto C. Bazzani", desenho Inventario dei Monumenti (1912), p. 370.

    [Prancha V]

    [7] "Alberi secolari in via Porta San Sebastiano minacciati dalla Platea archeologica", foto

    Inventario dei Monumenti (1912), tav. 5. [8] "Graffito (m. e got.) rappresentante S. Michele nella spala occidentale della Porta

    S. Sebastiano", desenho Inventario dei Monumenti (1912), p. 427.

    [9] "Tabella stradale (rin 1 p.) in via Borgo nuovo", desenho Inventario dei Monumenti (1912), p. 465.

    "Architettura minore in Roma"

    [Prancha VI] [10] "Antico Porto di Ripetta (ora demolito)" Architettura minore in Italia - Roma I (1926), p. 4. [Prancha VII] [11] "Stemma dela Famiglia Annibaldi in Campidoglio"

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    Architettura minore in Italia - Roma II (1927), p. 35. Veneza [Prancha VIII] [12] "Quartiere di S. Bartolomio - I Fase: sec. XI-XII", desenho Studi per una operante storia urbana di Venezia - I (1959), tav. I. [Prancha IX] [13] "Quartiere di S. Bartolomio - II Fase: sec. XIV", desenho Studi per una operante storia urbana di Venezia - I (1959), tav. I. [Prancha X] [14] "Quartiere di S. Bartolomio - III Fase: inizio sec. XVI", desenho Studi per una operante storia urbana di Venezia - I (1959), tav. I. [Prancha XI] [15] "Quartiere di S. Bartolomio - IV Fase: situazione attuale", desenho Studi per una operante storia urbana di Venezia - I (1959), tav. I. [Prancha XII] [16] "Casa Polo in Corte 2 del Miliom a S. Giovanni Grisostono. Scheda campione tratta dallo studio sullo sviluppo dei tipi edilizi per fasi [XII-XV]", desenho Studi per una operante storia urbana di Venezia - I (1959), p. 147. Pisa "Il rilievo della citt" [Prancha XIII] [17] "Planimetria del quartiere di S. Maria", desenho Pisa: il rilievo della citt (1991), p. 13 [Prancha XIV] [18] "Il rudere a sud dell'area, assonometria", quarteiro de S. Michele in Borgo, desenho Pisa: il rilievo della citt (1991), p. 134. [Prancha XV] [19] "Camposanto Monumentale, prospetto esterno lato sud, dettaglio" Pisa: il rilievo della citt (1991), p. 46 [Prancha XVI] [20] "Casa torre in via Toselli, analisi delle fasi costruttive" Pisa: il rilievo della citt (1991), p. 117 [Prancha XVII] [21] "Le mura in corrispondenza della porta della postierla del Leone, dettaglio", desenho

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    Pisa: il rilievo della citt (1991), p. 43. [22] "Palazzi Comunali. Prospetto sui Lungarni", detalhe Pisa: il rilievo della citt (1991), p. 76. Relevo e restauro dos monumentos [Prancha XVIII] [23] Palazzo Lanfranchi, elevao norte, desenho Un palazzo, una citt (1980), tav. XIV. [24] Palazzo Lanfranchi, corte longitudinal, desenho Un palazzo, una citt (1980), tav. XXI.

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    Notas

    1 Cf. no mbito europeu Lionello Venturi, History of Art Criticism, Nova York, Duton, 1939; Roberto Salvini, La critica d'arte moderna, Florena,

    L'Arco, 1949; Gianni Carlo Sciolla, La critica d'arte del Novecento, Milo, Utet, 1995, parte II; no ambiente italiano Benedetto Croce, La pura visibilit e la estetca moderna (1923) in Pretesti ci critica, Bari, Laterna, 1929; S. Ludovici, "Premessa", in Storici, teorici e critici delle arti figurative (1800-1940), Roma, I.E.I., 1942, pp. 24 e ss.

    2 Giorgio Rosi, "Rilievo" in Enciclopedia Italiana Treccani, vol. 29, Roma, Instituto della Enciclopedia Italiana, 1936, p. 330; podemos verificar outras duas definies, mais recentes, cf. Mario Docci e Diego Maestri, Manuale di rilevamento architettonico e urbano, Roma-Bari, Laterza, 1994, pp. 3-4: "L'espressione rilevamento architettonico ha assunto, nel tempo, un significato preciso, riconosciuto internazionalmente, in cui sono racchiusi valori e procedure in grado di far progredire la scienza della materia [...] Il rilevamento, infatti, permette a chi lo esegue o allo studioso che lo utilizza, di individuare, analizzare e registrare l'origine di un edificio e le vicende da esso subite: di chiarire, in pratica, l'evoluzione delle fasi costruttive, dalla forma primigenia allo stato attuale, attraverso tutte le successive trasformazioni, di coglierne gli elementi caratteristici e quelli anomali, di evidenziarne la morfologia strutturale e le condizioni statiche. A questo scopo, i valori spaziali e architettonici vengono tradotti in un insieme di elementi numerico-grafici, adatti a mettere in evidenza sia il singolo elemento architettonico, sia, in generale, uno specifico organismo edilizio"; ainda cf. Enciclopedia di architettura Garzanti, Milo, Garzanti, 1996, pp. 724-25: "Rilievo [...] insieme di operazioni atte a determinare le dimensioni e la forma di un oggetto o, in senso architettonico, di un edificio. Il r. viene eseguito sulla base della conoscenza della posizione di un certo numero di punti appartenenti all'oggetto da rilevare, anche individuati rispetto a certi punti di riferimento. Il r. architettonico in genere consiste di una serie di elaborati grafici (piante sezioni, prospetti) capaci di indicare sia la forma e le dimensioni di un manufatto, sia i caratteri architettonici, sia lo stato di conservazione. uno strumento di conoscenza necessario e preliminare a qualsiasi tipo di intervento sui edifici esistenti. La restituzione grafica dei dati raccolti avviene secondo le regole e le modalit del disegno tecnico".

    3 Cf. Dicionrio Aurlio Eletrnico, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, s.d.: "Levantamento arquitetnico. Arquit.: 1. O conjunto das operaes de medida de comprimentos, larguras e alturas duma edificao, necessrias sua representao grfica em planta baixa, corte ou detalhe construtivo".

    4 V. Grandjean de Montigny, L'architeture toscane, 1819; sobre a fortuna dessa publicao, cf. Luciano Patetta, L'architettura dell'eclettismo [1975], Milo, Cittstudi, 1991, p. 239.

    5 Cf. Aa.Vv., Roma capitale 1870-1911 - uso e trasformazione della citt storica, Veneza, Marsilio, 1984; e tambm cf. Italo Insolera, Roma Moderna [1962], Turim, Einaudi, 1993, pp. 17-18; sobre a situao de Roma na primeira metade dos Oitocentos, ou seja, enquanto cidade "papal", cf. Italo Insolera, Idem, pp. 4-8: "Anche topograficamente Roma era ancora, nell'Ottocento, la citt barocca di tre secoli prima e la struttura che Paolo III, Gregorio XIII, Sisto V avevano cominciato darle nel Cinquecento rimaneva incompleta, raggiunta solo in parte dalle poche nuove costruzioni e per lo pi invece ancora in campagna tra i muri di cinta delle vigne e delle ville. La citt era divisa in tre parti. la maggiore, al di qua del Tevere, occupava tutta l'ansa del fiume e il Campo Marzio: le case si schieravano fitte lungo il fiume del quartiere dell'Oca accanto a Porta del Popolo, fino alla Bocca della Verit con l'unica interruzione del Porto di Ripetta. La massa compatta delle case non era interrotta che da pochissime piazze e rettifili: piazza Navona, piazza del Popolo, piazza del Quirinale, via Giulia, via Ripetta, il Corso, via del Babbuino, via condotti, via Panisperna. [..] Tutto attorno ai palazzi, come nella speranza di ricavar qualcosa dalla vicinanza con la ricchezza, le case del popolo, estremamente misere: avevano quell'aspetto di tante case di campagna messe una accanto all'altra [...] Non c'erano le strade attrezzate, i parchi e i servizi pubblici che c'erano gi allora nelle altre capitali [de Europa] e anche le case si presentavano in condizioni inadeguate".

    6 Statuto, in Associazione Artistica fra i Cultori di Achitettura. Annuario [nas prximas notas AACA.A], ano MDCCCXCI, Roma, 1891, pp. 9-10; cf. o primeiro Resoconto morale, in AACA.A, idem, p. 21: "Era ormai tempo adunque che l'architettura sorgesse a reclamare il suo posto d'onore e riconquistare il prestigio, la benevolenza ed il culto che le legittimamente dovuto. Questo il compito arduo s ma geniale e glorioso che voi vi assumeste, onorevoli colleghi, allorch, nel luglio del caduto anno, radunati nel palazzo delle belle arti, quando era per chiudersi quella mostra industriale ed artistica quale all'architettura fu fatta cos piccola parte, gittaste le prime basi della nostra associazione e ne dettaste il programma. Vi proponevate allora, come vi proponete oggi, di promuovere sempre pi lo studio dell'architettura, prima fra le arti belle, basandolo principalmente sull'investigazione e sul rilievo dei monumenti architettonici di tutte le epoche e di tutte i paesi e sul gusto individuale e tale esempi inspirato; e ritenevate, come ritenete, che divulgare le conoscenze dei monumenti antichi con pubblicazioni e conferenze, interessando il pubblico alle vicende della architettura, fosse il mezzo pi acconcio per riacquistare a questa divina arte i suoi credenti, i suoi devoti; e restituirle il perduto prestigio".

    7 Cf. o atento e ativo crtico Alfredo Melani, Esposizioni di Architettura, in Arte e storia, ano VIII, n. 6, 28 de Fevereiro de 1889, p. 42: "Qui e altrove ho scritto pi di una volta sulla poca o nessuna importanza che nelle esposizioni di Belle Arti desta la Sezione di architettura. Una volta, parmi, si aver proposto agli architetti di rappresentare i loro progetti nella forma prospettica, pi facile alla intelligenza del pubblico della forma geometrica, nella speranza che ci dovesse richiamare di pi l'attenzione di tutti. La cosa non venne tentata fin'ora; anche perch, per tentarla bisognerebbe che vi si intromettesse la iniziativa di un Collegio d'ingegneri e architetti; e per ora nessun Collegio d'Italia si mostrato sensibile all'insuccesso dell'architettura nelle Esposizioni di Belle Arti. [...] La lotta dell'architettura colla pittura e la scultura nelle esposizioni di belle Arti per me, impossibile".

    8 Obrigatoriamente devemos recordar a influente e monumental publicao do frans P.M. Letarouilly, Les difices de Rome moderne, em 4 volumes, Paris, 1840-57; cf. Mario Docci - Diego Maestri, Storia del rilevamento architettonico e urbano, Roma-Bari, Laterza, 1993, p. 215: "Il rilevamento sistematico di molti edifici romani, un'opera del Letarouilly basata sui grafici esatti, destinata a mostrare le principali fabbriche e i loro dettagli e da cui attingere idee per la progettazione di nuove costruzioni, ebbe l'effetto di spostare l'interesse del rilievo, come era gi accaduto nel secolo precedente, dall'oggetto preso in esame alla sua raffigurazione, cosicch l'edificio antico fin per divenire quasi esclusivamente un modello da copiare.[...] Come fa notare Luigi Vagnetti, vennero subito rimproverati a Letarouilly la scarsa apposizione di quote e la regolarizzazione tutta accademica degli organismi architettonici rilevati. Al secondo punto rispose , nei suoi scritti, lo stesso Letarouilly, sostenendo che il rilievo una precisa operazione critica, che deve cercare di risalire a un'immagine dell'edificio quale l'architetto avrebbe voluto che fosse e non deve fermarsi alla situazione di fatto che si presenta al rilevatore. La regolarizzazione dunque, in Letarouilly, una precisa scelta metodologica e operativa applicata al rilievo e non un'accettazione dei princip accademici".

    9 Cf. Giovanni Battista Giovenale, Rendiconto morale dell'anno 1893, in AACA.A, ano MDCCCXCIV, 1894, pp. 16-17: "Molti valorosi giovani, usciti dagli istituti di Belle Arti e che, non ostante la mancanza di un titolo legale, hanno potuto con progetti e con fabbriche dimostrare la loro valentia in architettura, lamentano che gli attuali ordinamenti impediscano loro di esercitare a fronte scoperta e con un riconosciuto diritto una professione nella quale si sono affermati eccellenti. un danno vero dell'arte escludere dallo esercizio codesti valenti, per concedere il monopolio dell'architettura ad ingegneri patentati che spesso nascondono l'ignoranza dell'arte con l'affettato disprezzo. [...] Necessario poi sopra ogni cosa

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    creare una chiara e netta divisione fra ingegneri ed architetti. [...] Questa divisione deve cominciare dalle scuole, proseguire nell'esercizio professionale e specialmente negli uffici tecnici governativi e municipali. Solo a questo patto pu sperarsi di vedere nuovamente apprezzata e rispettata l'arte nostra che oggi discreditano e calunniano esercitandola coloro che, nati pei numeri, mal sanno comprendere cosa sia forma e colore. Questa, egregi colleghi, questa la piaga! e vi ho accennato il rimedio! [...] questa o colleghi la vittoria destinata a rialzare il prestigio della Architettura prima fra le arti belle".

    10 Giovanni Battista Giovenale, Rendiconto della Presidenza dell'anno MDCCCXCI, in AACA.A, anno MDCCCXCII, 1892, p. 13. 11 Gustavo Giovannoni ser o encarregado das temticas relacionadas arquitetura e ao urbanismo na "Enciclopedia"; destacamos as duas

    publicaes peridicas dos cultores romanos, o Annuario di Architettura (Milano, Bestetti e Tumminelli), publicado apenas em 1914, e, a mais importantssima Architettura e arti decorative, (de 1921 a 1931), revista capital para a cultura arquitetnica italiana nos anos '20; para um recensiamento da produo bibliogrfica dos cultores v. Aa.Vv., Catalogo dei disegni di architettura, Roma, Centro Studi per la Storia dell'Architettura, s.d.; e, para um quadro maior sobre as iniciativas na Associao v. Marcos Tognon, Associazione Artistica fra i Cultori di Architettura - Annuario. Roma 1891-1928, seo "Indice tematico", Pisa, Scuola Normale Superiore, 1998, pp. 39-82.

    12 In Relazione della Commissione di tutela dei monumenti di Roma intorno al suo programma di lavori per l'anno MDCCCXCII, in AACA.A, ano MDCCCXCII, 1892, p. 15.

    13 In Giovanni Battista Giovenale, Rendiconto della Presidenza dell'anno MDCCCXCI, op. cit., p. 5; sobre o programa efetivo de catalogao, cf. Relazione della Commissione di tutela dei monumenti di Roma intorno al suo programma di lavori per l'anno MDCCCXCII, op. cit., pp. 16-17: "Di pi, essa [commissione] intende in modo speciale eseguire o raccogliere rilievi e descrizioni minute degli edifizii spettanti all'architettura civile e militare di Roma nel medio evo. Col fare ci essa: 1. previene, per l'avvenire, il danno, pur troppo in gran parte avvenuto, della sparizione di notevoli esempi della nostra architettura nella et di mezzo, distrutti senza essere stati studiati e delineati; 2. colma, allo stesso tempo, una lacuna molte volte lamentata nella storia architettonica della nostra citt, dove a differenza di altre regioni d'Italia, il culto dell'antichit classica e del Rinascimento ha soffocato ogni cura pei modesti, ma pur gloriosi avanzi, del nostro medio evo; 3. rende il massimo servigio, non solo agli studi artistici e topografici, ma anche a quelli storici; ed appresta un materiale ricco e nuovo per le pubblicazioni sociali; In conformit di quanto si detto la Commissione in quest'anno si occuper, o principier ad occuparsi: 1. delle fortificazioni Leonine di Borgo e del famoso corridore vaticano, innestato sulle costruzioni del secolo IX da Nicol III nel secolo XIII, e destinato, proprio inutilmente, ad essere demolito; 2. dell'insigne gruppo di fortificazioni dei Savelli sull'Aventino; 3. del gruppo di fortificazioni dei Conti sul Quirinale, costituito dalle immense torre delle Milizie e dei Conti e da quelle minori detto del Grillo e dei Colonnessi; 4. della torre e dei bastioni nella fronte di Castel Sant'Angelo, che fra breve saranno distrutti pei lavori del Tevere; 5. della torre e palazzo dell'Anguillara; 6. di quel maggior numero che potr di case medioevali, specialmente del Trastevere. Mentre l'inventario e gli altri lavori saranno in corso di esecuzione, la Commissione avr occasione, e non mancher, di prendere nota di tutti quegli oggetti d'arte che, o non sono stati osservati, o sono poco noti, o, sia sotto un punto di vista, sia sotto un altro, possono dar luogo ad una raccolta di riproduzioni. E per incominciar subito con un esempio pratico, essa fin da ora principier una collezione di stemmi, rendendo cos un segnalato servigio agli storici ed agli artisti, i quale troveranno, per la prima volta, una raccolta araldica romana, eseguita su monumenti autentici e di data certa; mentre fino ad ora hanno dovuto servirsi dei materiali, di rado sicuri, raccolti dal Gualdi, dell'Amidenio, dal Ciacconio o da altri, ovvero, sono stati costretti a cercare ci che desideravamo in chiese, palazzi e dappertutto, stentatamente ed il pi delle volte senza successo. Per coadiuvare e facilitare i lavori della Commissione, stata composta una bibliografia di quelle opere le quali sono pi necessarie a consultarsi. Essa gi si compone del Catalogo di varie centinaia di opere artistiche topografiche o storiche distribuite nelle seguenti classi: 1. Opere bibliografiche relative a Roma 2. Opere generali sulla storia dell'arte. Pittura, Scultura e Architettura. Arti minori. 3. Opere speciali sull'edilizia di Roma. 4. Guide artistiche, storia e descrizioni di Roma. 5. Opere speciali sulle chiese, palazzi, fontane e qualsiasi altro argomento".

    14 Gaetano Koch, Lettera al Sindaco di Roma, datada 17 de Junho de 1895, in AACA.A, ano MDCCCXCVI, 1896, p. 40, e segue-se, Ibidem, pp. 40, 46-49: "In base a questo criterio, fu immaginato di dividere tutti i monumenti in tre classi ben definite e nettamente distinte fra di loro come qui appresso specificato. Classe I - In questa classe, sono compresi gli edifici esistenti in Roma e suburbio, che avendo speciali caratteri artistici e storici, i quali impongono la loro assoluta conservazione, cadono sotto il disposto dell'articolo 20 del vigente regolamento edilizio, e che non possono quindi esser n distrutti, n spostati, n trasformati. [...] Classe II - In questa classe sono compresi quegli edifici, o parti di edifici ed in genere quei monumenti, che pur presentando speciali caratteri artistici e storici, che ne impongano la conservazione, possono pur tuttavia senza grave danno essere spostati, allo scopo di non impedire la esecuzione di qualche opera moderna di pubblica utilit, e ci temperando le disposizioni dell'articolo 21 del regolamento edilizio. Dovranno innanzi tutto questi edifizi essere studiati, descritti, rilevati ed illustrati nel modo il pi completo, sotto la direzione di persone competenti nell'arte e nella storia. Dovranno quindi le parti di valore storico-artistico essere ricostruite o messe in evidenza in nuove costruzioni, preferibilmente nella stessa localit ovvero trasportate e conservate nei pubblici musei. [...] L'elenco dunque comprender: a) prospetti, cortili, scale, od altre parti di edifici, che debbono essere decomposti e ricostruiti [...]; b) porte finestre, edicole, fregi, ecc. [...]; c) tutti gli stemmi, tutte le lapidi degli edifici che devono essere abbattuti; d) i monumenti sepolcrali nelle chiese e nei chiostri, che abbiano merito artistico od importanza storica, a qualunque epoca appartengono [...]; e) le fontane grandi e piccole, gli obelischi, le colonne od altri monumenti onorari, che non siano strettamente connessi con la decorazione e con la storia della piazza che li racchiude [...]; f) gli affreschi o graffiti che possono essere staccati e conservati [...]; g) gli infissi e decorazioni, che abbiano eccezionalissimo valore artistico, come imposte di porte, stalli corali intagliati od intarsiati, soffitti in legno ecc. Classe III - In questa classe sono compresi quelli edifici, che sebbene non siano ricordi unici di un'epoca, n tipi caratteristici di uno stile, n capolavori di un artista, pur tuttavia interessano grandemente la storia e l'arte. Di questi edifici pertanto, quando sia dimostrato che conservarli danneggerebbe vitali interessi del pubblico o dei privati, potr permettersi la trasformazione od anche la demolizione, a condizione che siano in antecedenza completamente studiati, descritti, rilevati ed illustrati, sotto la direzione di persone competente, come fu detto sopra. [...] Anche di questa categoria l'Associazione va compilando un coscienzioso inventario e vi comprende: a) un buon numero di case medievali e del rinascimento, che offrono interesse speciale sia per la topografia romana, sia per l'organismo della loro struttura, sia per qualche artistico particolare [...]; b) edifici di stile barocco, che ricordino periodi artistici, dei quali deve almeno conservarsi memoria; c) fabbriche moderne che per pregi singolari si raccomandino all'attenzione degli studiosi."

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    15 Cf. Regolamento per la commissione del Rione, in AACA.A, anno MDCCCXCVI, 1896, p. 29; sobre cada uma destes grupos, realmente etapas

    de trabalho na catalogao da cidade, evidenciamos os objetivos: Itinerario: " importantissimo affrettare la compilazione dell'itinerario, giacch quando sar esaurito in tutti i rioni si avr gi disponibile il materiale per la compilazione di vari elenchi importantissimi come ad es. quelle delle case medioevali, e l'altro dei palazzi barocchi ecc. e, ci che pi importa, si potr completare o correggere, ove occorra, l'elenco dei monumenti che l'Associazione ha presentato al Sindaco di Roma; elenco che stato redatto consultando con ogni cura la memoria e i libri, ma senza poter precedere una visita ordinata ed esauriente della citt e del suburbio", in Idem, ibidem, pp. 29-30. Catalogo dei particolari: "Questa seconda parte dell'inventario richiede tempo assai lungo e presenta non poche difficolt per essere completamente ultimata. Sar bene pertanto dividere i monumenti da catalogarsi in due gruppi distinti, riunendo nel primo quelli di facile accesso e quelli di difficile accesso nel secondo. [...] Nei palazzi e nelle case private appunto stanno rinchiuse, non solo statue e quadri, ma pregevolissime decorazioni in stucco e pittura, soffitti, pianciti, bronzi, stoffe e mobili artistici di inestimabile interesse. Ed tanto pi desiderabile far conoscere questi preziosi tesori d'arte, inquantoch pochi sono che ne abbiamo notizie, pochissimi che siano ammessi a visitarli, mentre grandissimo utile potrebbe cavarsene non solo per la storia dell'arte, ma anche per lo sviluppo e l'onore della nostra arte vivente.", in Idem, ibidem, pp. 30-31. Schedario: "L'inventario descrittivo o schedario, che costituisce la parte pi geniale del nostro compito, dovr prendere normale sviluppo appena sia terminata la compilazione dell'itinerario e procedere di pari passo con la compilazione dei cataloghi. Ogni monumento in quello ed in questi registrato dovr in separata scheda essere descritto ed illustrato", in Idem, ibidem, pp. 32-33.

    16 In Regolamento per la commissione del Rione, op. cit., pp. 27-28; e, so previstos mecanismos efetivos para obstruir possveis ameaas