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COARACI - BAHIA Ano de fundação 2010 - 38.350 exemplares publicados 650 distribuídos gratuitamente mensalmente durante 5 anos 59 Caderno Cultural População de Coaraci em 2015: estimada 19.770 pessoas - Fonte: IBGE. Diretoria de Pesquisas - DPE - Coordenação de População e Indicadores Socias – COPIS ESTATÍSTICAS DO CADASTRO DE EMPRESAS DE COARACI Em 2013 haviam 387 empresas atuantes em Coaraci e 389 unidades locais. 1.628 pessoas assalariadas. 2.090 pessoas ocupadas. Salário médio mensal 1,6 salários mínimos. Outras remunerações 22.356 mil reais. Uni-vos jornais do globo. Úteis sois à humanidade. Uns que só praticam roubo urram contra a liberdade, utilizando o poder ultrajam nosso Congresso, urubus que são, vão ter unicamente o avesso. Dr. José Almiro 1996

59º Caderno Cultural de Coaraci

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Revista Cultural mensal: Educação, Cultura e Arte.

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Page 1: 59º Caderno Cultural de Coaraci

COARACI - BAHIAAno de fundação 2010 - 38.350 exemplares publicados

650 distribuídos gratuitamente mensalmente durante 5 anos

59 Caderno Cultural

População de Coaraci em 2015: estimada 19.770 pessoas - Fonte: IBGE. Diretoria de Pesquisas - DPE - Coordenação de População e Indicadores Socias – COPIS

ESTATÍSTICAS DO CADASTRO DE EMPRESAS DE COARACI Em 2013 haviam 387 empresas atuantes em Coaraci e 389 unidades locais.

1.628 pessoas assalariadas. 2.090 pessoas ocupadas. Salário médio mensal 1,6 salários mínimos. Outras remunerações 22.356 mil reais.

Uni-vos jornais do globo. Úteis sois à humanidade. Uns que só

praticam roubo urram contra a

liberdade, utilizando o poder

ultrajam nosso Congresso,

urubus que são, vão ter

unicamente o avesso.

Dr. José Almiro 1996

Page 2: 59º Caderno Cultural de Coaraci

O RECONHECIMENTO DE CASTRO ALVESAutor Solon Planeta

Paginando o Caderno Cultural de Coaraci deparei-me com a crônica: “CARTA À CASTRO ALVES”, de Jailda Galvão que me sensibilizou humanamente e imensuravelmente, e me induziu e imaginariamente me autorizou a respondê-la como se fosse Castro Alves. Esforcei-me ao máximo para escrever estas modestas palavras não autorizadas pelo ilustríssimo conterrâneo que seria mais ou menos assim:

- Minha dileta e inestimável conterrânea Jailda Galvão foi com prazer e satisfação que recebi a tua “Carta” depois de tanto tempo residindo no infinito. Quase não recordava dessa existência, mas, retroagindo ao passado quero agradecer sensibilizado os louvores e elogios a mim dirigidos, mas também dizer da angustia e indignação quando tu relembras de Joaquim Silvério e de Domingos Calabar incorporados por políticos da nova era, que roubam e escravizam nossos heróis, como você citou, levando-me a imaginar que foi deveras debalde o sacrifício de Tiradentes, José do Patrocínio, Mathias Albuquerque, Antônio Luís Gonzaga e de tantos outros, impossível enumerar.

(Castro Alves para Jailda Galvão).

Também me sinto explorado, perseguido e atingido pelo sistema politico vigente no país. Peço ao poeta dos escravos a permissão para concluir, escrevendo que como diz a Bíblia naquele tempo casava-se e dava-se em casamento ou seja roubava-se um quinto do ouro e ainda matava-se as pessoas. Hoje roubam o dinheiro publico, levando as Instituições à falência, sucateando a nação e ainda criando novos impostos e obrigações, extorquindo e escravizando o contribuinte, pois só Deus sabe o tamanho da luta para consegui-lo:

...Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus?! Ó mar, por que não apagas Co'a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão?... Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão!... (Poema Navio Negreiro de Castro Alves...)

...Senhor Deus porque tão rígido e rigoroso,Com quem tinha tanto onde chegar.Tinha planos, tinha luta, E almejava uma lida muito rara, a alcançar.Ainda tão jovem, mais gênio, tão brilhanteao nos deixar fulgurosos, radiantes é tão difícil de entender e aceitar... (Solon Planeta)

E X P E D I E N T EDiretor: Paulo Sérgio Novaes Santana

Endereço: Rua José Evangelista de Farias, nº.16, 1º andar, Centro, Coaraci-Ba.Fones: (73) 8121-8056 - (73) 3241-2405.

Correção textual, redação e diagramação, imagens e artes: PauloSNSantanaInternete: O site: www.informativocultural.wix.com/coaraci - E-mail:

[email protected]/revistacoaraci — Impressão Gráfica Mais.

FROTA COARACIENSE EM 2014

1.241 automóveis - 121 caminhões - 3 caminhões Trator. 360 caminhonetes - 77 camionetas - 6 micro-ônibus - 1.118 motocicletas - 113 motonetas - 22 ônibus - Outros - 45 veículos. Total de Veículos 3.111 veículos – 5 Veículos utilitários.

Fonte: Ministério das Cidades, Departamento Nacional de Trânsito - DENATRAN - 2014.

59º CADERNO CULTURAL DE COARACI PAG 2

Texto adaptado por PauloSnsantana

Quase todas as noites, uma nuvem de fumaça proveniente da queima de lixo e entulhos, cobre a cidade de Coaraci, pessoas com renites, problemas respiratórios e a população em geral, reclamaram do problema. A fumaça pode ser percebida de todos os bairros da cidade. Pessoas afirmam que os transtornos ocorrem por causa da queima do lixão .

Um dos graves problemas ambientais nas cidades brasileiras (e do mundo todo) é o da deposição de lixos e resíduos de seus moradores. Este é um problema de grande monta e, em geral, o cidadão comum não pode fazer muito além de pressionar seus representantes políticos para a adoção de uma solução sustentável. Existe um nível, no entanto, em que todos podemos contribuir. Podemos procurar minimizar o uso de materiais poluentes como, por exemplo, sacos plásticos. Pessoas que moram em bairros com muitas casas e quintais costumam queimar seu lixo e restos de podas. Quando você queima o seu lixo os resíduos poluem o ar, sujam as casas de seus vizinhos e incomodam muito às pessoas que têm problemas respiratórios.

A fumaça também é incômoda para animais e plantas e, algumas vezes, o fogo colocado em quintais e chácaras se alastra provocando incêndios que se propagam até parques e outras áreas conservadas. Além disto você contribui para aumentar o efeito estufa que tantos problemas têm causado ao nosso planeta. Restos de poda podem ser armazenados em sacos plásticos e recolhidos pelo Serviço de Limpeza Urbana.

Fonte: Inf.do criativetv.com.

Estão queimando lixoem Coaraci à noite,

causando transtornos ambientais e adoecendo

a comunidade!

Page 3: 59º Caderno Cultural de Coaraci

MEU PRIMEIRO AMOR

A fazenda denominada meu primeiro amor, pertencia a Genaro Florêncio da Costa. Ele era um homem de feições largas, de grande estatura, falava grosso e alto. Ele era descendente de italianos e ouviu dizer que no sul da Bahia, era fácil conseguir terras. Então ele conseguiu uma gleba, e começou a trabalhar. No começo foi muito difícil, pois o capital que trouxera, não daria para mantê-lo por muitos anos, até o cacau plantado começasse a produzir os primeiros frutos. Então ele teve a ideia de plantar outras culturas, tais como: verduras, legumes, hortaliças para vender na feira. A ideia deu certo para seu Genaro, que era casado com uma linda mulher que conhecera aqui na região. Tinha três filhos que lhe ajudavam, no cultivo, e nas vendas na feira de Coaraci. Com o tempo, ele foi prosperando e comprando pequenas glebas próximas as suas. Os métodos eram os mais diferentes possíveis, nada ortodoxo, mas usando do abuso do poder, semelhante a uma cadeia alimentar, onde os maiores e mais fortes devoram os mais fracos. Assim , aquele homem se tornou um coronel poderoso, ao qual todos na redondeza temiam. A começar por seus empregados, que tinham muito medo dele, pois os seus métodos de administração beirava o estilo escravocratico. Mas dizem que vaso ruim não quebra. Aos 64 anos ele veio a quebrar. Partiu rapidamente para o além, o lugar que ele fora, só Deus sabe. Pois com tantos pecados nas costas, era difícil imaginá-lo no paraíso. Então, após sua morte, foi feito o inventário. E a fazenda meu primeiro amor, veio a pertencer ao seu filho mais velho, o Pedro Antonio da Costa. Esse herdeiro, assim que recebeu sua parte na herança, não demorou a casar-se, com Selmira, uma moça pobre da região. Ele era muito imperioso, não aceitava contrariedade, e ai daquele que desobedecesse as suas ordens. Com o tempo ele veio a gerar quatro filhos, sendo um deles, uma linda menina. De cabelos loiros, olhos verdes. Que não demorou a crescer e se tornar a mulher mais cobiçada daquele lugar. Um certo dia, apareceu na fazenda, um belo rapaz, moreno, alto, carismático, procurando por emprego. “Qual a sua experiência meu rapaz? Perguntou o capitão Pedro. Ele respondeu: eu lido com animais, amanso burro brabo, mexo com gado, pastoreio, ordenho, sei de tudo um pouco”. Imediatamente, o patrão, gostou daquele moço, e foi logo o contratando. Então o rapaz começou a cercar a moça e não demorou, começaram a namorar. Era um amor de conto de fadas. Mas, como a carne é fraca, a moça

engravidou do rapaz. O pai ao saber do acontecido (pois até aquele momento ele nem sabia do namoro, pois eles o mantinham escondido, pois ela tinha muito medo do pai), o capitão Pedro (pois era essa a sua patente, comprada, lógico) mandou seus jagunços dar um fim no rapaz, dizendo: ”Um pé de chinelo deste, que não tem nem onde cair morto. Veio tocar em minha filha”. A moça ao saber do acontecido, (pois só ela sabia que o rapaz, de nome Homero, era bastante rico. Seu pai tinha uma vasta fazenda mista, cacau e gado, por isso sentindo-se segura, traçou sonhos para se casarem). O moço a tinha conhecido na feira em coaraci, pois seu pai o mandara para fazer negócios com gado. E se encantou por ela. Então para ficar mais perto e tentar conquistá-la, foi trabalhar nesta fazenda. Então, ao saber que seu pai mandara matar seu quase noivo, vestiu escondida, o vestido de casamento de sua mãe, que já era falecida e foi prantear a sua dor em cima de uma pedra na beira do rio. Em um acesso de loucura ou insensatez, ela se atirou na água, morreu e o corpo foi descendo na correnteza. Mas como cada um reage de uma forma diferente diante de uma grande perda, ela achara que a vida sem aquele homem, não tinha mais sentido, então resolveu suicidar-se. Ao saber do acontecido, o capitão Pedro, arrependeu-se tremendamente do que fizera. Pois não imaginara que sua querida filha teria aquele fim. Então aquele homem, colocou nas suas costas mais uma cruz. Como se diz no popular, aqui se faz, aqui se paga. Para toda causa, há um efeito. Ninguém pense que cometendo o mal, vai sair por aí afora, exalando felicidade. O homem não tem estrutura para matar o próximo, pois ele não é Deus. Antigamente a lei era olho por olho e dente por dente. Sabendo do acontecido, um dos poucos amigos do coronel, foi à fazenda, para lhe informar que o rapaz que ele mandara matar, era filho de um barão pros lados de Itagibá, que era cercado por mais de trinta capangas e que não deixaria barato aquela situação. O capitão começou a tremer, pois havia pensado que o rapaz era um João ninguém, e agora sabia que o pai do moço viria com um exército de capangas pra cima dele. Não deu outra, quando o pai de Homero soube dos fatos, reuniu seus capangas, contratou mais quarenta e decidido rumou para Coaraci. Chegando lá na fazenda, foram recebidos a bala. Mas como o barão tinha um exército maior, lutaram por quase um dia, mas matou o desgraçado do coronel e seus capangas. Por isso o ditado, não brinque com aquilo que você não conhece.

FAZENDA MEU PRIMEIRO AMOR Autor Carlos Rocha

RESTAURANTEDE ZEQUINHA

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Page 4: 59º Caderno Cultural de Coaraci

O HOMEM DOS CINCO APELIDOS

Pedro do Quiosque, Pedro do Porco, Pedro da Linguiça, Pedro da Cachaça e

Pedro do Caminhão.

Pedro Pereira Santos, chegou em Coaraci à aproximadamente 60 anos, quando chegou aqui ele achou um lugar bonito, mas não tinha quase nada, a Praça Getúlio Vargas ainda era uns paus, uns bancos mau feitos, mas já calçada. Lembrou-se de uma briga entre dois oficiais da Policia Militar, um Capitão e um Tenente e que a confusão só acabou com a intervenção de Zé Neri, tudo aconteceu bem na sua rua. Disse que tempos depois soube que o Capitão foi assassinado em Itabuna pelo mesmo Tenente. Na época Pedro estava operado. Lembrou-se também de Carlos Fernandes, a quem conheceu desde criança, e disse que Carlinhos era muito prestativo e até fazia algumas mandados pra ele, lembrou-se do menino Roney Moreira, de quem conheceu muito bem os pais. Pedro disse que já estava em Coaraci quando assassinaram o Tenente Prudêncio. O fato ocorreu em uma avenida na margem norte rio Almada, onde hoje fica localizada a passarela. Me disse que o pai de Edvan de família muito conhecida em Coaraci, também morreu assassinado. Disse que foi um fato que mexeu com a comunidade e que aconteceu nas

imediações da Estação Rodoviária. Para Pedro quem determinava mesmo a lei no Estado naquela época era Juraci Magalhães e que em Coaraci não era diferente. Juracy era quem mandava na Bahia toda e seus correligionários tinham aquela fé, e aquela coragem sustentada na certeza da impunidade. Juracy era o Comandante da Bahia, e o pessoal dele fazia o que queria. Ele conta isso porque tinha um quiosque e ouvia muitos comentários sobre o assunto, além do que, tinha também um caminhão e viajava muito pelo Brasil e pela Bahia comprando e vendendo coisas e que sabia de muitos casos relacionados ao então Governador.....................................Conta que naquela época não se falava em ladrão de gado, muito menos de cacau, a energia era gerada aqui, tinha horário para acender e apagar, mas não se ouvia relatos de assaltos a fazendas, ou residências na cidade. A noite era tranquila e o dia muito bom e calmo. Seu quiosque era uma espécie de barraca, onde vendia agulha, sabão, café, farinha, querosene, velas, fumo, cachaça, etc...O quiosque ficava em frente à ponte Elvira Dantas. Contou que o filho de Elvira Dantas nasceu no mesmo dia que a sua filha, que hoje tem aproximadamente 50 anos.Ele conta que o rio Almada era limpo, todo mundo tomava banho, muitas lavadeiras de roupas passavam o dia lavando pra ganho, e ao lado do atual bar de Buga havia a sede dos sindicalistas de Coaraci, administrada por Nelson Moura, onde haviam festas semanais, ele também nos disse que o Sr. Varu pai de Antônio Lima morava onde mais tarde funcionou o bar de Pecadão. E continuou:- Minha filha tem 51 anos, e quem fez o parto quando ela nasceu foi o Dr. Ângelo. Naquele tempo a segurança em Coaraci era feita por poucos soldados e um delegado nomeado pelo Governador. Lembra de duas pessoas que deixaram boas recordações: Pombinho e João do Jeep, fretavam seus carros. Pombinho morava onde hoje esta localizado o comercio de Rói Coco, Pombinho transportava latas de querosene, João do Jeep era um grande homem, uma pessoa do bem, que recebeu este apelido por ser proprietário de um Jeep, ele era prestativo, servia a todos com muito boa vontade. Nos anos 60 quem governava Coaraci era Aristides de Oliveira depois veio

Jairo Góes, Gilberto Lírio... A politica naquela época era muito acirrada, a primeira nem tanto mais da segunda em diante sim. Era muito disputada, mas sem brigas, pra ele Joaquim Torquato e Antônio Lima fizeram uma grande politica... Ele me disse que naquela época chovia muito e que o pessoal brincava dizendo: - O cacau esta dando na raiz!...Pedro trabalhou um ano e pouco numa roça de cacau em Ubaitaba. Mais tarde abriu um comércio e dai em diante só trabalhou pra ele: - Eu gostei tanto da antiga como da nova Coaraci; O homem que sabe viver sempre estará bem em qualquer ocasião. Pra mim naquele tempo havia muito mais dificuldades que nos tempos atuais. Eu fui feirante durante uns 20 anos, vendia de tudo, da agulha ao jabá, vendia sacos de açúcar, vendia feijão, linguiça e porco. Vendia vinte e cinco sacos de farinha por semana. Negociei no quiosque por quase 40 anos, depois entreguei pra outra pessoa tomar conta e passei a viajar comprando, vendendo e matando porcos; em 1984 já possuía um caminhão, em 95 troquei por um caminhão grande e fiquei no comércio por fora, o quiosque continuou com outra pessoa.Hoje eu ainda moro na mesma residência, são 60 anos na mesma casa. E na mesma rua Dom Eduardo, a casa quem construiu fui eu, hoje fica em frente da casa de Nael. Quando cheguei lá, já haviam duas famílias no, uma delas a de Altino do Radio. Coaraci foi muito importante pra minha vida e acredito que pra vida de outras pessoas, a cidade evoluiu, cresceu, e hoje é uma das grandes cidades do sul da Bahia, aqui a pessoa pode viver eternamente, esta palavra eu disse a Valdivino outro dia. Coaraci é boa demais... Eu não tenho nenhuma queixa dessa cidade. Viajei por muitas estradas, mas sempre retornei pra minha cidade, onde estavam a minha família e os meus amigos, e estou hoje com 79 anos, com saúde e se pudesse faria tudo novamente. Eu tenho orgulho de ter sido um trabalhador honesto. Dizem que a pessoa honesta demais perde muitas coisas, mas eu não me arrependo não. Os grandes bens que ganhei durante a minha vida foram a minha família, meus amigos e meus irmãos.

Coaraci, Ba. 1967.Praça PIO XII, Igreja Católica e Parque Infantil

Av. Almerindo da Carvalho SantosCoaraci- Ba. 1979

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Quem foi LampiãoFonte: Livro. Quem foi Lampião

De Frederico Pernambucano de Mello

Nesse mundo de despotismos incríveis, Lampião foi paroxismo à demasiada, a culminância de tudo. Não há ficção que lhe chegue às alpercatas. Um Super-Homem na resistência, uma inteligência calculista e fulgurante, uma coragem ímpar, o carisma é eficaz no trato social, uma diplomacia atapetada de seduções para com possíveis aliados, uma vontade de ferro alongada em agulha de bússola exclusiva na orientação moral de toda uma vida. O bem era o que ele queria. O que recomendava. Bom era aquele de quem gostasse. Porque não sendo assim, na simples falta de apoio ou na traição, pecado máximo, nada lhe custava matar. E mata r ma l s inando p rev iamente o condenado, como se fora um deus, com a frase tornada sinistramente notória dos sertões:" vai-te pros infernos, cão!"...O capitão Virgulino sabia seduzir com paciência e até com doçura: " Olhe, o macaco vem vai; quanto a mim, estou sempre por aqui, às suas ordens..."

Ele não tinha menos de um metro e oitenta de altura, ombros largos curvados para frente, quadris estreitos, pernas finas, ossos longos e delgados, a musculatura rígida mas não volumosa, descarnada em tendões pela ação intensa em meio físico hostil, pela alimentação irregular e por um incrível cotidiano de sobressaltos que ocupou, desde a passagem da adolescência,

a sua vida de 41 anos. A pele, nas porções expostas ao sol, mostrava-se cor de chocolate, e os cabelos, negros, lisos, levemente ondulados, chegavam-lhe a roçar os ombros, untados por brilhantina da melhor qualidade, a que fazia juntar três pingos generosos de um dos bons perfumes que a França nos mandava a época: Fleur d'Amour. Pescoço curto, cabeça e pés pequenos proporcionalmente à altura, mãos desenvolvidas, dedos longos e finos, traços faciais harmoniosos igualmente finos, pelos escassos na face e no corpo, nada enfim de aberrasse do seu t ipo de caboclo, denominação brasileira dada ao mestiço do branco com o índio... Para além do desenho de tipo humano comum do Brasil, como é esse do caboclo, sua figura particularizava-se por um sinal de pele mais escura situado abaixo do olho direito - olho que vem a perder ainda menino, por mal de nascença precipitado em acidente - pelo predomínio crescente do branco no espaço da córnea (leucoma), com a queda parcial da pálpebra, no olho assim arruinado, e pela caminhada em movimento pendular lateral, o pé direito precisando ser sacudido para frente por conta de ferimento a bala que retira do órgão a função recuperadora ainda na fase inicial das aventuras. Da perda do olho direito ele viria a condição de falso canhoto, e, desta, o engano em que incorreram tantos cronistas ao considerá-lo um verdadeiro canhoto, especialmente por figurar, em fotografia de 1936, ajoelhado em posição de tiro com o coice do mosquetão calçado sobre o ombro esquerdo e a coronha apoiada na face desse mesmo lado. Em tudo, um atirador canhoto. Mas Lampião era um destro que precisou fazer uso da arma longa com um sinistro, no esforço de adaptação a que se vêem arrastados os que perdem o o lho correspondente ao lado predominante da função cerebral.

Foi o maior herói que a mitologia popular de linha épica foi capaz de criar no Brasil, a partir da existência real, recente e bem documentada de um dos mais audaciosos aventureiros que a história registra em qualquer tempo ou lugar. Seu nome completo, Virgulino Ferreira da Silva, de sabor português integral, escondeu-se toda uma vida por trás de vulgo gigantesco:

Lampião* ( como nome comum, lampião significa um tipo de luminária popular largamente utilizada antes da luz elétrica, funcionando com óleo e pavio.) Sua vontade, mantida a ferro e fogo, fez-se lei nas zonas rurais dos Estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia, Alagoas e Sergipe, em etapas de tempo que sucedem ao longo de 22 anos. Uma época. O tempo de Lampião, como se diz até hoje.Vaidoso e dado a poesia com os do meio em que viveu, sentia prazer em proclamar nome e vulgo, cedendo à fraqueza de reg is t rar, nessa apresentação, as contradições de seu temperamento, de par com a turbulência de uma vida de guerra permanente com que cedo se acostuma. E é assim que troveja muitas vezes a presença com esse verso extravagante:

Eu me chamo Virgulino, Ferreira, Lampião

Manso como cordeiro Brabo como um leão,

Trago o mundo em rebuliço Minha vida é um trovão.

Com a força Imperial de que chegou a dispor, poderia ter-se posto a serviço da redenção dos seus conterrâneos do nordeste do Brasil, região sabidamente pobre, sobretudo nas zonas semiáridas em que atuou com o bando. Em vez disso, como certos reis do velho testamento, preferiu passar toda uma existência entregue a pilhagens, as mais diversas sobre o seu povo, amealhando um tesouro considerável em dinheiro, ouro e pedras preciosas, patrimônio tanto mais chocante quando erguido em área a que não era estranha a miséria. O destino, irônico como tantas vezes, tramara para que esse tesouro se convertesse em condição de ruína para o próprio dono. E assim os fatos se deram. A tropa de polícia que o alcança e destrói na grota do Angico, vê-se animada bem mais do afã de enriquecer subitamente pela apropriação dos despojos de valor elevado, que do ideal de comprimento do dever militar. Não surpreende. Há informações de que teriam sido encontrados em seu poder cerca de mil contos de réis* em dinheiro, (mil réis foi a unidade monetária vigente no Brasil até 1942. O conto apresentava a unidade multiplicada por mil.No meado dos anos 30, um automóvel podia ser adquirido por oito contos de réis.), - fora o que aplicava a juro por todo sertão - e não menos de cinco quilos de ouro. E o requinte não se restringia ao tesouro que carregava consigo, com dificuldade crescente, já se vê, por conta do volume cada vez maior e da idade que avançava: também no trajo, no equipamento, nos utensílios e nas armas, as atitudes dignas de um monarca podiam-se notar. Se a vestimenta dos bandoleiros do Nordeste sempre se mostrou imponente, a ponto de muitos jovens cederem a tentação de se ligar aos grupos por conta dos fascínio que a beleza do trajo exercia sobre olhos habituados a cotidiano sem atrativos, a de Lampião refugia no destaque que o tornava inconfundível em meio aos seus homens. Começa pelo tecido. Enquanto o brim mais comum para confecção da calça e da túnica ela mescla azul ou o cáqui, ele preferia o tecido de cor grafite realçado por botões de ouro. ............................................ 59º CADERNO CULTURAL DE COARACI PAG 5

Page 6: 59º Caderno Cultural de Coaraci

Ambas normalmente em chita forrada, a estamparia de cores berrantes. As dele eram feitas em bramante da melhor qualidade, o mesmo padrão elevado encontrando-se nos bornais*( bolsa conduzida a tiracolo, em tecido resistente, alça larga, divisões internas, dois, três ou quatro botões na tampa, profusamente enfeitada nas partes visíveis. Dependendo da viagem, os cangaceiros e policiais - o uso era comum - carregavam duas ou quatro destas, com aprovisionamento de balas( suplementares), alimentos, remédios e mudas de roupa. Os bornais de bala ficavam por cima dos demais, com o que o seu peso não feria o corpo na caminhada. Ao ser morto, Lampião portava jogo de bornais em tecidos verde-oliva claro, inteiramente bordado nas cores amarelo-ouro, rosa, azul- real e vinho. (A palavra possui forma variante: embornal.), confeccionados em lonita de cor clara de tal modo bordados com flores e frisos que o tecido desaparecia por baixo das aplicações. Os botões, aqui de tamanho maior, também costumavam ser de ouro. Os lenços de pescoço iam de seda pura de procedência inglesa ao tafetá francês. Estampados vivamente em cores fo r tes . Monogra fadas . F inos . Nas cartucheiras, cintos, bainhas e correias em geral, o mesmo apuro. O funcional da resistência do couro bem escolhido, de curtição artesanal perfeita, aliado também nesse ponto a concessões estéticas francamente exageradas por conta do abuso no emprego de ilhoses esmaltados, de moedas de ou ro cu i dadosamen te marchetadas, de frisos e de pespontos em couro de cor contrastante. A estética corrente na zona rural chegava até nós através da Península Ibérica, p redominava nes tes a tav ios , que expressavam, assim, da frieza geométrica das faixas gregas, ao esoterismo oriental dos signos de Salomão, com passagem pela tradição mais recente da flor-de-lis, sugestão de poder tomada de empréstimo a casa real de França e disseminada naquele mundo ainda bruto.Sem prejuízo da virilidade nunca posta em dúvida, Lampião conhecia a fundo a arte da costura em pano e em couro, no que se fazia ainda uma vez irmão dos homens do século XVIII. E não somente costurava como bordava, valendo-se do auxílio de máquina norte-americana de acionamento manual, sempre que possível. Daí a capacidade de confeccionar o próprio trajo, preenchendo permanências ociosas em refúgios seguros, como a da seleção rigorosa do que encomendava a terceiros, invariavelmente debaixo de especificações meticulosas. Essa meticulosidade estando presente, aliás, em todas as vias pelas quais fluirão as aptidões de um talento que se ergueu a genialidade, florescendo, em curiosa abrangência de

contrastes, do Comando Militar, há um tempo racional e carismático, a arte pachorrenta da costura; do exercício da mais delicada diplomacia de sedução de aliados de peso junto à elite, a execução de músicas em feitio regional em sanfona de 8 baixos; da administração Impecável do grupo que chegou ao 120 homens, sob seu comando direto, e aos mais de 300, sob seu controle mediato, ao desempenho exímio dos ofícios nada faceis de vaqueiro, amansador de burro brabo e tropeiro.

Sem Limites no amor ao ouro e as pedras preciosas, usava, exagerando a moda entre bandoleiros, anéis em quase todos os dedos das mãos, alguns com Esmeralda, outros com Rubi, outros ainda com brilhante Solitário ou em chuveiro.

Houve dedo que teve a honra de receber mais de um anel. Aliança, crucifixo, lapiseira, tesoura de unha, tudo de ouro puro. De ouro também as 15 moedas antigas de que se achava adornada a bandoleira do mosquetão, em cuja boca de cano se encostavam duas alianças do mesmo metal. O grande chapéu de couro, de abas tradicionalmente levantadas na frente e atrás, trazia nas correias uma tal quantidade de ouro, inclusive moedas brasileiras de 4 centímetros de diâmetro, datadas de 1776, 1802 e 1885, além de duas libras esterlinas, tudo perfazendo um

total de 55 peças no metal nobre, que um jornalista que a este teve acesso, por morte do dono, caracterizou-o como:" verdadeira exposição numismática". Acrescente-se ao rol desse rei asiático o óculo-de-alcance retrátil de procedência alemã, em metal amarelo e estojo em couro; o punhal, de lâmina delgada de 80 centímetros de comprimento total, cabo de prata lavrada, com três alianças de ouro encrostados; e o facão curto - peça famosíssima com que lhe foi decepada a cabeça pela tropa - com cabo também de prata, esculpido no feitio de uma águia em repouso.Os itens de consumo de bebida não desmentiu a orientação para o luxo. Desde o licor de menta francês, consumido ainda nos anos 20, até o Conhaque Macieira, tipo 5 estrelas, importado de Portugal, bebida predileta dos anos 30, mais o Whisky White Horse, Old Tom Gin e outras tantas de boa p r o c e d ê n c i a , a l g u m a s e n v i a d a s especialmente ao sertão para o seu desfrute.

Nada desprezíveis os papéis de que se servia para correspondência, abundante por conta das cartas de cobrança que ele enviajava a média de 3 por dia a fazendeiros, comerciantes e chefes políticos, oscilando o valor das extorsões - entre 1 a 20 contos de réis. Ao colocar sob cerco a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, Em 1927, pede 400 contos de réis para não atacá-la mas é repelido. Já nessa ocasião, o papel com que se dirige ao prefeito do município trazia seu nome e vulgo datilografados na margem superior. A datilografia ainda não se popularizara no sertão à época, causando admiração o requinte do modernismo apresentado. Por volta de 1936, preocupado com falsificações de correspondências, mandou confeccionar na capital do Ceará cartões de visita e postais com a própria foto no anverso, numa das quais aparecia fumando, com o cachorro de estimação ao pé.

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Requinte e Modernismo se alinham também no afã por contar com o melhor armamento disponível. Do rifle de repetição norte-americano Winchester, modelo 1892, calibre 44, conhecido pelo sertanejo como cruzeta, com que estreia, evolui para autenticas armas de guerra, em torno de 1925, o mosquetão Mauser, modelo 1892, calibre 7 milímetros, procedência belga, trocado no ano seguinte pelo modelo 1908, de procedência alemã.

No início dos anos 30, apressa-se a galgar os benefícios técnicos trazidos pelo modelo 1922 do Mauser, no último dia que veio a dispor e que estava em suas mãos no momento da morte. Isto por não ter conseguido obter uma metralhadora portátil, por mais que se esforçasse. Das armas curtas, passa da pistola belga FN Browning, modelo 1900, calibre 7,65 milímetros, para a norte americana Colt, calibre 38 curto, e daí para a Luger Parabellum alemã, modelo P-08, calibre 9 milímetros, fabricação de 1918, com que irá até o fim. À margem da preocupação em se atualizar, o cangaceiro manteve sempre um chamego muito especial com rifle cruzeta, não somente por ser sua arma de estreia mais por ter permitido criar um processo de aceleração da cadência de tiros que foi capaz de dar a simples arma de repetição, um desempenho d igno de modelo automático. Desse processo, o chamado peamento, sumamente engenhoso em sua singeleza, além de original, resultou, provavelmente, o nome de guerra de seu criador, cuja boca de cano do rifle, tiroteios dos anos 20," não deixava de ter clarão", alumiando," no modo de um lampião", como nos disse Medalha Cangaceiro de Lampião), que aproveitou a oportunidade para reproduzir de memória um verso que ouviu do Chefe no inverno de 1923 em Santa Luzia da Baixa Verde, de Triunfo, Pernambuco, particularizando, com precisão de armeiro, a variante do Cruzeta de sua preferência:

Meu rifle é de 10 tiros,Desse da boca amarrada,Cruzeta do ponto brancoD'argolinha pendurada,Cano de aço legítimo,Da culatra reforçada.

Por ter sido tropeiro e convivido, já feito o salteador, com a classe rica do interior - ( classe sempre interessado em alianças com o cangaço, fosse para a preservação do patrimônio, fosse para o extermínio de inimigos, fosse ainda para divisão da rapina, que tudo isso ocorreu) - Lampião incorporava ao seu dia a dia novidades desconhecidas do matuto em geral. No fim dos anos 20, causavam sensação seu flash light, a capa de borracha e a garrafa térmica, mimos dos poderosos de seu convívio. Curioso ver a combinação do velho com o novo que o chefe cangaceiro promovia. Pés fincados numa assistência bandoleira ja de todo arcaica nos anos em que viveu, servindo de suporte ao espírito aberto às inovações que iam tangendo para o passado o velho sertão das superstições, do isolamento, da desconfiança como norma de sobrevivência, da rigidez de costumes, da presença quase viva do demônio nas relações do cotidiano, do fanatismo, da vingança privada, dos Padres de prole numerosa, do culto à coragem, do cangaço, enfim. Espanta vê-lo, assim, tão antigo no modo de vida, a conviver, desenvolto, com gramofone, o cinema, o telefone, o telégrafo, o automóvel, inclusive o caminhão e ônibus, a luz elétrica, as máquinas datilográfica e de costura, a garrafa térmica, o flash-light, o óculo-de-alcance, o binóculo, arma automática. Que instante mágico não há de ter sido aquele em que um de seus subgrupos, o de Balão, pode assistir, queixos caídos, a passagem do Zeppelin por sobre os campos Agreste de Serg ipe. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Como ninguém ignora,Na minha Pátria Natal

Ser cangaceiro é a coisa Mas comum e natural;

Por isso herdei de meu pai Este costume brutal...

Francisco das Chagas Batista.

A história de Antônio Silvino, 1907.

Os guerreiros da minha terra já nascem feitos. Não aprenderam esgrima nem tiveram instrução...

Brigar é do seu destino:- Cabeleira!

- Conselheiro!- Tempestade!

- Lampião!

Ascenso Ferreira. Catimbó, Recife, Ed. Rev. do Norte, 1927.

Nossos agradecimentos à:

...Drª Suzy Santana Cavalcante, Maria Célia Santana Cavalcante, ao Empresário Agostinho Pereira dos Reis, ao Arquiteto Dr. Renato Rebello, ao Artista Plástico Euflávio Madeirart, ao Professor da IFBA, Dr. Marcelo Silva colaboradores deste exemplar...

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ESTRADA DE FERRO

TEXTO PARA QUEM GOSTA DE HISTÓRIA E ANEXO

ALGUMAS FOTOS ANTIGAS DAS ESTAÇÕES E TRENS.

HISTÓRICO DA LINHA: A linha-tronco Ilhéus-Itabuna foi aberta em 1910 em seu primeiro trecho, por investidores ingleses da The State Of Bahia South Western Railway Company Limited, com a ideia de alcançar Conquista (Vitória da Conquista). O primeiro ramal, o de Água Preta (Uruçuca), que partia da estação de Rio do Braço, foi aberto ao tráfego em 1914 e estendido até Poiri em 1931. Em 1918 outro ramal tem iniciada a sua construção, estendendo-se até Itajuípe, aonde chegou em 1934. Foram as máximas extensões da ferrovia, que jamais se comunicou com outras do estado da Bahia ou com a Bahia-Minas, apesar de diversos projetos nesse sentido que jamais saíram do papel. Em 1950, os ingleses repassaram a estrada ao Governo, que mudou o nome para E. F. de Ilhéus. A estrada jamais chegou a Conquista, pelo que se diz, pelo fato de os ingleses já estarem satisfeitos com o que arrecadavam somente com a linha já e x i s t e n t e . E m 1 9 6 3 , j á e s t a v a decadentíssima a ferrovia, que em 1965 já não mais funcionava.........................

ESTAÇÃO DE TRENS DE URUÇUCA

A ESTAÇÃO: Na história dos transportes da região cacaueira de Ilhéus, temos de tomar dois marcos principais para traçar sua evolução: o lançamento da ferrovia e a fundação do Instituto de Cacau da Bahia. Até 1910, quando se inaugurou o primeiro trecho da linha de Ilhéus a Itabuna, apenas se usavam canoas e animais. Os rios por demais acidentados e o excesso de chuvas dificultavam o transporte, mas mesmo ass im a exportação de cacau era compensadora. Com o início do tráfego pela via férrea da Estrada de Ferro de Ilhéus a Conquista, a estação de Ilhéus foi inaugurada nesse ano, passando a servir como o seu ponto inicial e como porto de escoamento de cacau e outras culturas da região. O Instituto do Cacau, por sua vez, foi fundado em 1931. Uma das principais providências tomadas foi a construção de rodovias na região, que

convergiam para a rodovia-tronco que, como a ferrovia, ligava Ilhéus a Itabuna. A situação da ferrovia, porém, em 1950, quando foi resgatada dos ingleses para a União, era horrorosa: a descrição dos problemas nos relatórios desse ano, com falta de peças, falta de condições de trabalho e outros, era desesperadora, causada pela falta de verbas e prejuízos constantes. O edifício da estação Central (estação de Ilhéus) “ficava encravado no centro do pátio. Não possuía plataforma para embarque ou desembarque de passageiros, havendo somente um passeio de cimento, com 5 cm de altura”. Mesmo com a ferrovia em frangalhos, em 1954, a antiga ainda figurava em regime de concorrência caótica ao lado das rodovias. Partindo de Ilhéus, seus ramais atingiam então as bordas da antiga zona do cacau. O trem era um meio de transporte que estava ainda longe de suprir as necessidades de escoamento da produção agrícola. Apesar disso, a região não dispunha de um rendilhado de estradas tão bom, capaz de escoar rapidamente a produção. A deficiência era compensada, em parte, ainda por processos mais primitivos de transporte: a canoa e o animal de carga. A estação foi desativada por volta de 1964, quando se fechou a deficitária ferrovia, agora parte da Rede Ferroviária Federal – RFFSA, criada sete anos antes. A última fotografia de que se tem notícia do pátio da estação, já abandonado, é do ano de 1971 e está mostrada abaixo. Todo o pátio e suas construções parecem não mais existir hoje.

A ESTAÇÃO DE ARITAGUÁ

A estação de Aritaguá passava entre o morro e o rio, as quilometragens citadas no r e l a t ó r i o d o E s t ado d i f e r em da s quilometragens oficiais de 1960 (do Guia Geral de Estradas de Ferro do Brasil de 1960), há sempre dúvidas acerca de qual seria o trecho exato a ser aberto. Nos anos 1940, o nome da estação e do local foi alterado para Aritágua. A estação foi desativada por volta de 1964. Segundo o estudo de Manoel Ursino Tenório de Azevedo Junior: Viajando nos trilhos da história: roteiro turístico cultural no antigo trajeto da estrada de ferro de Ilhéus, Bahia (2005), a

estação ainda estava de pé em 2005, mas não cita suas condições ou seu uso.

ESTAÇÃO DE BANCO DO PEDRO

A estação de Banco do Pedro, parada em 1960, não tem a data de inauguração conhecida por mim; é possível que tenha sido aberta com a linha em 1918, quando se iniciaram as obras do ramal de Itajuípe, que, embora tendo todos os trens partindo ou baldeando em Rio do Braço, na linha-tronco, tinham em Banco do Pedro o seu ponto de bifurcação do outro ramal, o de Poiri. Ou seja, somente ali é que as linhas dos dois ramais se separavam. Aliás, é possível que se separassem aquém do rio, mera suposição para quem, como eu, não conheci nem o local e muito menos a ferrovia.

ESTAÇÃO DE ITABUNA

Desde outubro de 1911 a The State Of Bahia South Western Railway Company Limited, concessionária da estrada, estabeleceu, com previa autorização do Governo, o tráfego provisório entre as cidades de Ilhéus e Itabuna num percurso de 59 quilômetros. Mas somente a 21 de agosto de 1913, quando a linha estava em ordem e, como as obras de arte, se concluíram as estações, foi essa ferrovia inaugurada pela abertura do t r á f ego defin i t i vo (Mensagem do Governador da Bahia, 1914, p. 94-95).A estação de Itabuna foi, pois, inaugurada em 1913. “Seu apito estridente fez tremer a t e r r a , a l e g r a n d o o s m e n i n o s , i m p r e s s i o n a n d o a s m o c i n h a s , surpreendendo os velhos mateiros, afugentando os animais e colocando a cidade nos trilhos. Itabuna finalmente passava a ser servida pelo transporte moderno. O trem chegou para servir aos vinte mil habitantes da nova terra do cacau. O populacho entrava pelas rodas das locomotivas, com aplausos de muitos e restrições de poucos. Esses poucos diziam: 'eu é que não vou trocar o meu cavalo bom por este cavalo de ferro'. Tertuliano Guedes de Pinho externava a sua opinião favorável, elogiava os ingleses, donos da estrada de ferro, sem pronunciar-lhe os nomes porque não acertava. Henrique Félix e José de Aguiar eram formalmente adversários do trem de ferro, que chamavam de invenção da 'peste'.Da peste porque pela estrada a polícia chegava com mais facilidade e eles se dedicavam ao cangaço, possuíam jagunços, t o m a v a m e m p r e i t a d a s , a s m a i s desgraçadas, e temiam a polícia. Pouco dias depois, uma criança pescava no rio Cachoeira quando ouviu um rapaz e uma moça combinando para fugir no trem.No dia seguinte se deu a notícia de que um casal havia fugido no trem de ferro da antiga...

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Tabocas, embalados por um amor de pecado e correndo das perseguições paternas. Ele era um palhaço de circo e ela uma moça da sociedade. Eles foram o primeiro casal a fugir no trem” (Fontes: Carlos Pereira Filho, “Terras de Itabuna”). A estação foi desativada em 1964 e hoje parece ter sido demolida.

ESTAÇÃO DE ITAJUÍPE

O ramal de Poiri partia de Rio do Braço e na altura do distrito de Banco do Pedro realizava um influxo em uma nova artéria à esquerda, em sentido oeste, e que dava origem ao sub-ramal de Sequeiro de Espinho inaugurado em 15 de junho de 1913, mais tarde chamado de ramal de Pirangi. Este atingiria a referida cidade em 19 de novembro de 1934, perfazendo uma distância total entre Ilhéus e Pirangi de 60 km. A estação foi inaugurada em 1934 como ponta do ramal do mesmo nome, situação que perdurou até a desativação da ferrovia, em 1964. Nos anos 1940 a cidade e a estação tiveram o nome alterado para Itajuípe.......................................

ESTAÇÃO DE LAVAPÉS

A estação de Lavapés teria sido inaugurada em 1910, na linha que teve autorizada sua abertura provisória pelo Governo do Estado da Bahia. Ela ficava a apenas 1,3 adiante da estação de Almada. Foi desativada por volta de 1964, com a ferrovia.

ESTAÇÃO DE MUTUNS

A estação de Mutuns foi inaugurada em 1911, pela The State Of Bahia South Western Railway Company Limited, ou, na época, como também era chamada, a E. F. de Ilhéus a Conquista. A abertura foi provisória, como o foi a do primeiro trecho sete meses antes, autorizada pelo Governo do Estado da Bahia, e o trecho aberto desta vez, chamado na época de ramal da Almada, tinha apenas 5 km até a estação de Mutuns, e também o do sub-ramal do Mocambo – nome da época para o primeiro trecho aberto do futuro ramal de Poiri. Mutuns ficaria algum tempo como ponta do que seria a linha principal da ferrovia. Como as quilometragens citadas no relatório do Estado diferem das quilometragens oficiais

de 1960. Há sempre dúvidas acerca de qual seria o trecho exato a ser aberto, mas tudo indica que era de Rio do Braço a Mutuns, inclusive por outros estudos.

ESTAÇÃO DE POIRI

A estação de Itapira foi inaugurada em 1931 como ponta do ramal de Itapira, depois ramal de Poiri, mantendo-se nesta condição até o final do funcionamento da ferrovia, em 1964. “Em 1930, existia nesse local somente uma fazenda de cacau pertencente a Ramiro Teixeira. Com a chegada da ferrovia, formou-se em torno da estação (nota: ainda em construção), ainda em 1930, o povoado de São Miguel. A passagem dos trilhos, pelo seu território, muito influiu para o rápido desenvolvimento da localidade que logo foi promovida à categoria de distrito. Ganhou autonomia administrativa em 1961, passando a d enom ina r - s e Au r e l i n o L ea l , em homenagem ao (jurista baiano) Dr. Aurelino de Araújo Leal (1877-1924)” (IBGE). Antes dos trilhos alcançarem Itapira (Poiri), o cacau de Barra do Rocha, Ubatã, Piraúna e Conceição do Oricó descia o rio de Contas até Ubaitaba (na outra margem do rio de Contas, à frente de Poiri). Daí seguia de tropa até Taboquinhas, onde novo emba rque na s c anoa s e ra f e i t o ,dirigindo-se, por fim, para Itacaré, em busca do transporte marítimo que o levasse para Salvador. A chegada dos trens a Itapira afetou a navegação no rio de Contas. A produção cacaueira passou, então, a convergir para a ferrovia, acarretando grande diminuição no movimento portuário de Itacaré, que passou a contar somente com a produção do Taboquinhas e vizinhança. Nos anos 1940, a estação teve seu nome alterado para Poiri. Curioso: em nenhum histórico consultado aparece o nome de Itapira. O local, na construção da estação, chamava-se São Miguel, como visto acima. Parece que Itapira era o nome da estação em si: esse é o nome que consta nos guias de trens de 1931 até meados dos anos 1940. O nome seguinte, Poiri, manteve-se nos guias até o fim, em 1964. Sem os trilhos, a cidade entrou em decadência, com o crescimento dando-se do outro lado do rio de Contas, em Ubaitaba, à sua frente na outra margem.

ESTAÇÃO DO RIO DO BRAÇO

A ESTAÇÃO: A estação de Rio do Braço foi inaugurada em 1911, pela The State Of Bahia South Western Railway Company Limited, ou, na época, como também era chamada, a E. F. de Ilhéus a Conquista. A abertura foi provisória, como o foi a do primeiro trecho sete meses antes, autorizada pelo Governo da Província da Bahia, e o trecho aberto desta vez tinha apenas 5 km até a estação de Mutuns, e também o do sub-ramal do Mocambo – nome da época para o primeiro trecho aberto do futuro ramal de Poiri. Não a estação, que ficava na linha, no quilômetro 32, mas quase até a estação do Rio do Braço, no quilômetro 42. Como as quilometragens citadas no relatório do Estado diferem das quilometragens oficiais de 1960 (do Guia Geral de Estradas de Ferro do Brasil de 1960), há sempre dúvidas acerca de qual seria o trecho exato a ser aberto. Segundo o estudo de Manoel Ursino Tenório de Azevedo Junior: Viajando nos trilhos da história: roteiro turístico cultural no antigo trajeto da estrada de ferro de Ilhéus, Bahia (2005), a estação ainda está de pé. A estação foi desativada por volta de 1964.

ESTAÇÃO DE SAMBAITUBA

A estação de Sambaituba foi inaugurada em 1910, pela The State Of Bahia South Western Railway Company Limited, ou, na época, como também era chamada, a E. F. de Ilhéus a Conquista. A abertura foi provisória, autorizada pelo Governo do Estado da Bahia, e o trecho aberto ia de Ilhéus quase até Rio do Braço, em junho de 1910, com uma extensão aproximada então de 35 km (seria até pouco depois da estação do Lavapés). Segundo o estudo de Manoel Ursino Tenório de Azevedo Junior: Viajando nos trilhos da história: roteiro turístico cultural no antigo trajeto da estrada de ferro de Ilhéus, Bahia (2005), a estação de Sambaituba ainda está de pé, mas não cita suas condições ou seu uso atual. A estação foi desativada por volta de 1964.

É difícil de se imaginar esta casinha com um pátio ferroviário com desvios, funcionando como uma estação de trens... o prédio ainda estva de pé em 2008. Foto Manoel Ursino Tenório de Azevedo Junior, em 2005

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Pensamentos e memórias de Joaquim Moreira

Fonte: Livro “Pensamentos e Memórias de Joaquim de

Freitas Moreira

Quase sempre os homens se inclinam ou até mesmo se derramam de corpo e alma pelas mulheres de pouco siso, pra não dizer de pouca vergonha, ficando as outras no ostracismo.

Não vou ao enterro de ninguém. Também não quero que ninguém vá ao meu. Quanta gente acompanha por curiosidade ou para ter certeza que aquele morreu.

A velhice afasta as mulheres a não ser quando o dinheiro sobra.

No dia em que um filho visitar o pai é porque o pai não está doente. Este tem bens.

Sempre disse aos meus filhos e aos filhos dos outros: é melhor andar na frente do que atrás de alguém, que se julgue em cargos superiores a eles.

Velho quando gosta de mulher nova, quase sempre esta não lhe tolera.

Entre a mocidade e a velhice existe a maior contenda: o moço não quer morrer, também não quer envelhecer.

Entre a velhice e a mocidade, nem Deus pode intervir. A mocidade é fictícia. E a velhice é o caminho do triunfo para aqueles que sabem andar.

Assim é a vida: quando o filho chora a mãe amamenta; Quando a mãe geme os filho ouvem?

Toda mãe que pare filho, Tem que padecer de chorar,

Por não saber da sorte Que Deus tem pra lhe dá.

O patrimônio, na minha concepção, é o irmão da discórdia.

As pessoas sempre gostam daquilo que não têm.

Nas reuniões todos querem falar de uma só vez. Se esquecem que podiam calar. Falar só pode ser uma prá se entender

A PRISÃO DE BLACK

Um cachorrinho coaraciense

Baseado em fatos reais.Autor PauloSNSantana

Nos anos 80, aconteceu um fato sui generis

em Coaraci: A prisão de Black, cachorrinho de uma senhora residente na Rua Jaime Campos Ribeiro, conhecida por Dona Brasilina, a mãe de Dona Elenita. Black era um cãozinho danado de arisco que latia e avançava em tudo que se movia à sua frente:

- Todos tinham medo do cãozinho de estimação de Dona Brasilina. O bichinho era arisco e sempre alerta. Numa ocasião o danadinho que não respeitava estranhos, muito menos na sua porta, ameaçou morder alguém, que com o susto quase cai e se machuca. Foi um pega lá, corre ali, o danado do cãozinho não se controlava, avançava e latia e fugia de sua cuidadora. A situação saiu totalmente do controle e envolveu um Promotor de Justiça que comunicou o fato ao Juiz da Comarca, residente na mesma rua dos acontecimentos. Surpreso com situação inusitada, o Magistrado fez um bilhete para o Delegado na época Sr. Vavá, ordenando que mandasse prender o animal... O mandato foi cumprido.

Imaginamos a evolução dos acontecimen tos assim: - Os policiais pegaram a viatura, que na verdade era o carro do Delegado, e saíram para prender cachorro, a dona Brasilina ficou surpresa e assustada e não entendeu nada daquilo, muito menos o cãozinho, que deveria estar abanando o rabo e latindo para o policial amistosamente, devia estar saltando com suas patas sujas de lama sobre a roupa engomada do soldado. O bichinho brincava de pega-pega, enquanto o policial, cansado, pedia ajuda a Dona Brasilina pra agarra-lo: Dona Brasilina preocupada com o desfecho daquela situação segurou o cãozinho, que balançava o rabinho e lambia suas mãos e seu rosto, e o levou até a delegacia, onde deveria ficar trancafiado, até que o juiz decidisse o que fazer com ele. Quando se viu preso entre três paredes e uma grade enferrujada, e viu a sua dona sair deixando-o sozinho, o cãozinho começou a latir sem parar, incomodando a todos os encarcerados, criando-se um pandemônio:O carcereiro e os policiais ficaram nervosos, e o Delegado preocupado ligou para o Juiz e para o Prefeito, este último já estava sendo acossado pela dona do cachorro, sua eleitora fiel. Naquela época não havia o “Grupo dos Protetores dos Animais em Coaraci” se houvesse com certeza haveria uma manifestação popular. Finamente para alivio dos detentos, do carcereiro, dos policiais e do Delegado, e principalmente de dona Brasilina, o cãozinho foi liberado, e saiu do mesmo jeito que entrou, sem entender nada do que havia ocorrido, mesmo porque cachorro que se preza tem mesmo é que latir, só não pode é morder... Acredite se quiser!

Farmácia Genérica

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Crescimento e distribuição da população da região do cacau

Fonte: REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA

SUMÁRIO DO NÚMERO DE ABRIL-JUNHO DE 1954

Na Zona Cacaueira da Bahia os fatores que mais influíram no crescimento foram, desde o início do ciclo econômico do cacau, o constante aumento das necessidades de cacau nos centros industriais europeus e as possibilidades oferecidas pela terra, para o desenvolvimento da monocultura. No interior, ao contrário do que se verificava no litoral, a população era mais densa e concentrada. Coincidia com as faixas cacaueira e de transição que se assentavam em solos predominantemente oriundos da decomposição de rochas do complexo cristalino. Encontrávamos aí centros urbanos bem populosos como Ipiaú, Coaraci, Ibicaraí e Itabuna, que influíram no meio rural, tornando-se importantes centros comerciais......No interior, outro fator que tinha grande influência na distribuição espacial da população eram as vias de comunicação, representadas pelas rodovias......Antigamente nos rios se concentravam a população cacaueira, ou por causa da faci l idade de comunicação ou pela necessidade do abastecimento de água. Mais tarde, o Pardo e o Jequitinhonha, nos trechos navegáveis, por falta de outras vias de comunicação, ainda mantinham algum poder de atração sobre a população rural dos municípios de Canavieiras e Belmonte. Quanto a este último rio a situação já apresentava certa diferença em Itapebi e proximidades. O desenvolvimento de Itapebi se deu quando a BA-2 tocou as margens do Jequitinhonha. De Camacã até aquela vila a estrada não estavava

totalmente concluída. Grande parte dela ainda estava por encascalhar. No entanto já se notava alguma influência da estrada na vida da cidade e indiretamente, no aumento da produção cacaueira.Quando a estrada pode suportar um tráfego pesado a produção agrícola do baixo Jequitinhonha se desviou de Belmonte para Itapebi. Influências mais decisivas da estrada na distribuição da população observava-se mais ao norte, a partir de Camacã. Percorrendo-se a BA-2 ou a Ilhéus-Conquista verificava-se a existência de vários povoados, "filhos da estrada", e inúmeras fazendas que tinham a sua sede à beira da estrada. O mapa de distribuição da população representava bem a atração que essas estradas tinham sobre a população rural. De Gandu, passando por Ibirataia, Ubatã, Itajuípe, Itabuna, Buerarema até Camacã observava-se com nitidez o enfileiramento de povoados. O mesmo fenômeno podia ser visto de Ilhéus até Floresta Azul, povoado que era recente, "filho da estrada" (1938), situado a 10 quilômetros a oeste de Ibicaraí. O trecho Ibicaraí-Floresta Azul era uma "rua" no dizer de um morador daquela vila. De fato, era impossível dizer onde terminava Ibicaraí e começava Floresta Azul.Ainda ligado ao fator comunicação estava o desenvolvimento de Itabuna. Concorrendo com I lhéus , I tabuna já em 1940 apresentava uma população um pouco superior à daquela cidade. A estrada de ferro, primeiramente, e depois a política rodoviária do Instituto de Cacau da Bahia, foram as responsáveis principais do progresso de Itabuna, que a elevaram a principal centro coletor da zona cacaueira, no tocante à exportação, e a distribuidor da produção, via Ilhéus.A posição da cidade de Itabuna em relação às sedes dos distritos que compunham o município de Ilhéus lhe favoreceram muito.

Uruçuca, I ta ju ípe, Banco Centra l , Pimenteira, Coaraci, União Queimada, Barro Preto e Itapitanga, oito distritos entre onze cacaueiros estavam ligados a Ilhéus através de Itabuna, tornando-a também o centro econômico de 2/3 do município de Ilhéus. Outro trecho de forte concentração era o que se estendia pelo vale do rio de Contas. Tanto a população rural quanto as v i las e c idades se local izavam de preferência na margem esquerda do rio. Este fato era bem significativo quando se tinha em vista que a estrada sobe o vale, em direção a Jequié, pela margem esquerda era um atestado de que os rios do cacau não desfrutavam mais da importância que tiveram no passado.

Visão panorâmicade Coaraci

nos anos 50

Rua Rui Barbosa Anos 70

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PASSAGEM DE ÔNIBUS IDA E VOLTA PARA COARACI NOS ANOS 30 e 40 CUSTAVA 15$000QUINZE MIL RÉIS.

Fonte: Livro São Jorge dos Ilhéus de Jorge Amado

O homem recebeu o volante da mão do moleque que ia distribuir na rua e leu com indiferença: Aviso ao público: Marinho Santos, avisa ao público que, adquirindo o ônibus de Pirangi, do Senhor Zum-Zum, com privilégio dos horários de Segundas, Quartas e Sextas-feiras, resolve fazer os seguintes preço:

Itabuna.................................4$000, 4 mil réis Pirangi..................................5$000, 5 mil réis Guaraci.................................8$000, 8 mil réis

Ida e volta.............................15$000, 15 mil réis

Faço isso para bem servir o público que vem sendo espancado com preços absurdos, pois há dez anos que tenho ônibus em outras linhas cobrando mais ou menos assim e ainda não deixei de possuir os mesmos pagando meus compromissos em dia. E sempre prosperando. Digo mais que com este Ônibus que adquirir completei uma Frota de 15 ônibus, o qual posso enfrentar qualquer matéria de serviço sem fazer receio aos passageiros.

ÔNIBUS NOVO por estes dias está aqui. 2ªs, 4ªs e 6ªs - Preço 15$000. Ida e volta para Guaraci.

O ônibus ia para Guaraci, o mais novo dos povoados nascidos na zona do cacau. Ficava nos limites do município de Ilhéus com o sertão baiano, terra onde as fazendas de cacau de gado se confundiam, na raiz da Serra do Baforé. Uma mulher, aos berros, de dentro do ônibus, apressava o marido, que conversava na porta de um botequim:- Tá na hora, Filomeno... Ande depressa, preguiça!Os passageiros riam. O ônibus estava cheio. Marinho Santos fiscalizava o serviço do cobrador que ia de banco em banco, vendendo os bilhetes de passagem. O chofer pôs o motor em marcha, o passageiro atrasado entrou, iniciou uma discussão com a mulher. O cobrador reclamava contra um homem que lhe deu uma nota de 500 mil réis para que dela fosse cobrado o preço da passagem até Itabuna: 4 mil reis,(Para Guaraci era 8 mil réis). Marinho Santos terminou com o princípio de incidente puxando um maço de notas do bolso e fazendo o troco. Um passageiro reclamou:- Essa joça sai ou não sai? Outro apoiou:- Horário é como se não existisse... Não vale nada...- Nem parece uma terra civilizada... - Disse um terceiro. Um homem chegava correndo pela rua, a maleta na mão. Marinho Santos avisou: - Tá lotado. Nem um lugar mais... Os passageiros sorriam da cara de decepção do atrasado. Marinho consolava:- Daqui a uma hora sai outro. Pode esperar na agência, se quiser. O homem se encaminhou para agência. Marinho Santos bateu a porta do ônibus, o chofer buzinou afastando os carregadores, arrancou para os lados da estrada de rodagem. Dentro do ônibus, homens de roupa de casimira, que viajavam para Itabuna ou para Pirangi, se misturavam com outros que se dirigiam a fazendas, vestidos de culote calçados de botas. Um sírio tentava, apesar dos solavancos do ônibus, vender ali mesmo uns colares e anéis a um lavrador que os apalpava com desconfiança...

Padrões monetários da época

Ao longo do Império (1822-1889), República Velha (1889-1930) e primeira parte da era Vargas (1930-1945), a moeda brasileira foi o "mil-réis" — já que desde o século XVI o velho "real" não valia o custo da cunhagem. Com a Restauração [separação Portugal / Espanha, 1640], a moeda portuguesa voltou a circular no Brasil em 1654. Em 1669 circularam no país moedas de $80, $160, $320 e $640 réis. Em 1695 foram cunhadas na Bahia moedas de ouro de 1$000, 2$000 e 4$000; de prata, de $20, $40, $80, $160, $320 e $640; e foram introduzidas moedas de cobre de $10 e $20, cunhadas no Porto. Em 1749 o Maranhão passou a ter moeda própria, feita em Portugal, nos valores de $5, $10, $20, $40, $80, $160, $320 e $640. Em 1752 passaram a ser cunhadas em Minas Gerais moedas de $600, $300, $150 e $75 [Fonte: Irdeb].

A notação abreviada limitava-se ao cifrão ($) separando os mil-réis do resto.

Rodovia Ilhéus - Itabuna - ônibus em viagem

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FRANCELINO ALVES SOARES

Francelino chegou a Coaraci com apenas sete anos em 24 de

Agosto de 1954, no dia que Getúlio Vargas morreu.

Você foi delegado de Policia em Coaraci?-Sim. Na época de Delegado Calça Curta era muito melhor do que nos dias de hoje, porque havia um quadro de Delegados, eram quatro: Um titular, o primeiro, o segundo e o terceiro suplentes, nos dias de hoje muitas vezes não tem um De legado t i t u l a r nem um suplente. Qual época era mais violenta pra você, a atual ou a antiga?-A atual. Na minha época, havia violência mas não era como hoje. Nos dias atuais estão matando um hoje e amarrando outro pra matar amanhã. Todos os dias aqui em Coaraci acontecem crimes. Ninguém está conseguindo deter a violência. Hoje você chega numa Delegacia reclama, faz um BO como eles falam, e o acusado nunca é intimado, o delegado não intima. Seria necessário ouvir os dois lados. Ai você fica a ver navio. Antigamente você prendia um suspeito e ele ficava preso, atualmente a Policia prende e a Justiça solta, que você acha disso?- Pra cumprir a lei só com determinação da Justiça, ela não determina e nada acontece.A Policia tem o trabalho de fazer a diligência, gasta c o m b u s t í v e l , p e s s o a l , munição, etc. prendem o bandido e a Justiça solta, o que você acha disso?- O bandido é preso hoje e solto amanhã, e quando chega na Justiça se tiver emprego, residir na cidade, se trabalha ou já trabalhou, nunca foi preso, é p r i m á r i o . . . e s s e p r a fi c a r trancafiado é preciso cometer mil crimes primeiro. Se não tiver passagem pela Policia ele nunca ficará preso. Você relembra dos nomes dos delegados que já trabalharam em Coaraci?-Sim, eu conheci até João Batalha: João Batalha, Zé Pinto, Tenente Prudêncio, Tenente Leite, Sargento Rocha, Valdemar Ribeiro de Matos que passou por lá duas vezes, Ibernon, Nelson

Baracho, Vadinho, Astor Bonina, Scher, Francelino. (O Caderno Cultural conseguiu mais alguns nomes: João Sena, Vavá, Zé Gato, Zé Quinto, Borginho, Pedro Vieira, Zé Belarmino, Capitão Damasceno, Otoniel, Fábio Simões, Dra. Valéria, atualmente a Delegada Dra. Ana Cristina Soares Cabral).E você Francelino, por quanto tempo foi Delegado de Policia em Coaraci?-Por cinco anos.Tem muitas coisas que nos lembramos, entre elas, em uma certa feita eu prendi um ladrão de gado, no dia 1º de janeiro de 1986, passei a Delegacia pra Astor e fui para o extremo sul, quando eu voltei oito dias depois o cara estava na rua. Aquilo me surpreendeu, pois não era de costume ver aquilo acontecer, ai procurei Astor que me disse que a advogada entrou na Justiça e o juiz liberou o sujeito, só que quinze dias depois ele amanheceu morto na rua. Lembro-me que alguém me perguntou: - O Senhor sabe quem matou aquele bandido? Eu respondi: - A Justiça! Porque se ela não liberasse o bandido estaria vivo. Mesmo que ele não fosse ficar tantos anos na cadeia, mais talvez estivesse vivo. Se levasse pelo menos uns três anos preso, a vitima não estaria tão aborrecida né? Porque a vitima fica em tempo de morrer quando vê o bandido solto imediatamente depois do crime ser cometido.Francelino, é verdade que antigamente se prendia um bandido e o chefe político intercedia por ele, pra soltá-lo?-Acontecia sim, principalmente quando o Delegado dava mole, ou queria receber alguns favores em troca. No meu caso, não, eu nunca liberei ninguém pra politico nenhum. Nenhum deles, e todos eles são meus amigos até hoje, os mortos e os vivos, mas nunca atendi pedido de ninguém. Eu trabalhei pra fazer cumprir a lei, se foi preso problema dele, ele que apele na Justiça e peça que o libere, agora eu não.A delegacia em Coaraci está em péssimo estado, não t e m o s u m P r e s i d i o , antigamente era assim?-Naquela época tinha Delegacia e tinha Cadeia, não tinha como não ter. De uma casa de residência fazia-se uma cadeia, como aqui perto mesmo era cadeia...onde mora João Reis hoje era cadeia pública e em frente ao Ginásio de Esportes na beira do rio.Qual era o cont ingente Policial para dar apoio ao Delegado?-Aqui tinha pouca Policia, quando havia festa nós pedíamos apoio ao Quartel de Policia de Ilhéus. Quando nós pedíamos reforço eles mandavam.Pra você que acompanhou e v ivenc iou a h is tór ia da s e g u r a n ç a p ú b l i c a e m

Coaraci, quais os Delegados que marcaram época aqui?-O tenente Prudêncio, o Capitão Leite, Valdemar Ribeiro de Matos, Antônio Batista Scher, Astor Bonina de Cerqueira, esses deixaram seu nome na história. Eu acho que fu i um bom De legado. As to r e ra meu substituto sempre trabalhamos em parceria.C o m o v o c ê s f a z i a m a s diligências? Havia viaturas do Estado ou do Município?-Eu tinha um JEEP a gasolina eu pagava do meu bolso, isso eu fazia. Quando aceitei o cargo queria prestar algum serviço a comunidade. Nos dias de hoje a coisa é muito diferente, existem duas ou três viaturas, circulando dia e noite, na minha opinião gastando muito combustível e infelizmente o numero de crimes e de bandidos aumentando assustadoramente.Os Policias atualmente fazem rondas diuturnamente, e m u i t a s p r i s õ e s , m a s infelizmente a Justiça solta logo depois, e naquela época?-Naquela época tinha o meretriz, que era difícil de administrar, mais isso tudo agente cuidava direitinho, eu ia à Ruinha dos Três Braços, para São Roque, em Itamotinga, e com o meu Jeep. Um dia eu pedi a um Prefeito a gasolina e ele disse que ali era do Estado que não podia fazer nada. Nunca me ajudou. A limpeza da Delegacia e do Presidio, a aquisição do material de limpeza nós tínhamos que bancar porque a Prefeitura não dava nada. Isso na minha época, os cinco anos que eu passei lá.Você tomou conhecimento de crimes cometidos a mando de Coronéis do Cacau na sua época?- Não. São coisas que agente não pode provar. Mas se ouve muitas histórias, sim.Quais foram os Delegados que morreram no exercício da função aqui em Coaraci?- Eu me lembro do Tenente Prudêncio, do Sargento Rocha e de Antônio Scher.O tenente Prudêncio foi a s s a s s i n a d o p o r q u e s e desentendeu com um Coronel do Cacau, não foi?-Não sei. Ele foi assassinado no outro lado do Rio, perto da casa da família de Ataliba de Nivaldino. Aconteceu em 1960.O Sr. conhece a história de um Delegado de Coaraci que foi e x o n e r a d o p o r c o m p o r tamento inadequado?-Não, não sei. Alguém pode até ter falado, mas que eu saiba não.Naquela época os bandidos tinham mais respeito às autoridades do que hoje?-Respeitavam e muito. Todo mundo respeitava e não era só bandido não. Atualmente é um desrespeito muito grande, se um Policial for advertir alguma pessoa corre o risco de ser desfeiteado, pode até sair

humilhado. Ele vai ter que ouvir e não pode fazer nada, prender não pode. O Juiz não ordenou que prendesse. É assim que dizem, eu não conheço essa lei, não estou com o código penal nas mãos. Mas é assim que dizem. E com isso o cara fica ai à-vontade.Francelino o que você faria para melhorar a qualidade da segurança pública municipal?-A so lução esta em puni r exemplarmente o elemento perigoso, o bandido. Hoje ele nem é chamado atenção, e não tem nem onde prendê-lo, principal mente em Coaraci que não tem Delegacia e nem tem Presidio. O bandido sai daqui pra uma Cadeia de Isopor em Almadina e o cabra acaba de entrar e sai novamente. Fui Delegado por cinco anos e n i n g u é m f u g i a d a m i n h a Delegacia. De 1983 a 1988 não houve nenhum grande crime, ou assalto, não teve crime de pistolagem, e se não me engano nem crime comum, não havia trafico de drogas, nada disso. Eu sempre fiz tudo pra coibir o crime em Coaraci. Eu não tenho inimigo até hoje, que eu me lembre, assim, não tenho inimigo. Tem as pessoas que não gostam de mim, que não gostam de você, tem os vagabundos... Os atoas, que não gostam de ninguém nem deles...O Senhor ainda reside em Coaraci, reside na Cidade?-Sim. Eu vou sempre pra roça, sempre vive em roça e gosto muito de estar em contato com a natureza. Meus filhos moram fora: Três em São Paulo e um em Porto Seguro. Dois homens e duas mulheres.O senhor quer mandar alguma mensagem para os seus conterrâneos em Coaraci?-Eu gostaria que a Policia tivesse mais poder, porque eles não podem fazer nada. Hoje quem esta algemada é a Policia. Quanto aos bandidos ninguém diz nada, não se preocupam com isso, a bandidagem vem de lá de cima, do Congresso Nacional, você assiste a televisão e vê a toda hora denuncias de roubo e corrupção que ficam por isso mesmo. O cara assalta mata e não dá em nada...Tem uma lei que diz que se você estiver armado vai preso, perde a arma e vai cumprir prisão de cinco a oito anos...sem direito a fiança. Isso é tudo mentira, porque até hoje eu não vi nada disso funcionar. O cara assalta na rua, armado, mata e fica por isso mesmo. Hoje quando você se queixa de um arrombamento ou de um assalto, a autoridade pergunta se tem testemunha. Como? Quando você presta uma queixa quer que as autoridades investiguem...Você fica revoltado, e passa a desacreditar da Justiça e da policia... É isso.

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Enxertos do ABC da liberdade de imprensa em versos: De José Almiro Gomes

A Liberdade de imprensa Ao povo é uma garantia

Alguém se o contrário pensa Agride a democracia!

Aqueles que a liberdade Amam e lhe estendem a mão

Amigos são da verdade Arautos da aurora são!

B

Bravo povo! Este país Bebe na imprensa lições Belas que o fazem feliz

Bem feliz e sem canhões! Baluarte a imprensa é Bastião de luz seguro

Brigando contra a má fé Busca sonhos no futuro.

C

Censurar a imprensa, nunca! Calar a imprensa, jamais!

Criar uma lei adunca Convém, só a quem a faz Cuidado pois com tais leis, Controladas por senhores

Cavalheiros que talvez Cheguem nos trazendo dores!

F Feliz o povo que tem

Forte, livre, sem mordaça Favoravelmente quem

Fale por si e, de graça, Faça defesas, dê grito

Fustigando a quem não presta Falando alto ao infinito

Febril tendo a imprensa em festa!

R Respeito à imprensa merece

Rainha que é da verdade Rosto de sonho de prece Riso em flor da liberdade. Resta ainda dizer mais: Respectivamente ela é Radiante mãe da paz

Rosa rutila da fé!

U

Uni-vos jornais do globo Úteis sois à humanidade

Uns que só praticam roubo Urram contra a liberdade

Utilizando o poder Ultrajam nosso congresso Urubus que são, vão ter Unicamente o avesso!

Coaraci,25 X de 1996

FILOSOFANDO!

De PauloSNSantana

É preciso ser muito honesto para não ceder às tentações do meio politico. Politica é a arte do ’’toma lá, da cá!’’...

A vida é um mistério. Tem gente que depois de anos de existência ainda não sabe pra que veio...

Gilberto Gil escreveu em uma de suas músicas que Deus levou uma semana pra criar a raça humana, se isso foi verdade mesmo, o resultado da obra não agradou nem a ’’Ele’’ nem a ninguém. Muitos filhos da criação, nasceram cheios de defeitos e sem peças de reposição...

Você pode perder uma batalha para o seu inimigo, mas se ele for um mal caráter, com certeza ele perderá para ele mesmo.

O mal caráter ilude a todo mundo, menos a ele mesmo. O bom caráter é verdadeiro, e muitas vezes se surpreende com as próprias qualidades.

Pessoas sem personalidade quase sempre estão arrependidas de alguma decisão impensada e depois culpam os outros...

Tem gente que vive reclamando da vida que leva, outros levam a vida na valsa.

Algumas pessoas vivem insatisfeitas com o que tem, outras se satisfazem com qualquer coisa. A realização pessoal não está no que se consegue ter, mais no que se pode oferecer...

Politica e futebol tem uma coisa em comum, no futebol mesmo que o time seja ruim, seus torcedores continuam confiando e torcendo por ele.

Vê se pode!

O BAR NOVO MUNDO

Fonte: José Antônio Santos foi funcionário do Bar de 74 a 92

Era um ponto de encontro dos grandes homens da sociedade coaraciense, e uma referência para estrangeiros principalmente para os italianos e muitos fazendeiros ricos da região. Durante os micaretas sempre estava com suas mesas ocupadas, abria as suas portas diariamente, os horários de pico aconteciam do meio dia ao inicio da tarde e das 17 às 22 horas. Foi sorveteria e lançou os produtos da KIBON em Coaraci, foi um local onde se conversava sobre tudo, de politica e cotação de cacau, venda de terras, roças e fazendas e sociedade. Frequentaram o bar nomes como:Requ i ão , L ou r i va l Me l o , L ou r i va l

Mascarenhas, Durval Duarte, Luís Sena, Dr. Raimundo, Dr. Edgar, Dr. Ângelo, Raimundo Benevides, Alberto Aziz, Luiz Câmera, Renato Datolli, Vavá, Nino, Ademar Ribeiro, Lourival e Venâncio Davi, a família Pereira, Izídio Pereira, José Sales, Reinaldo Carrilho, Gildarte Galvão, Gilberto Lírio, Luís Moreira, Dr. Mário Albiane, Procópio, Coletor do Estado, Muritiba, Hilton Fortunato, e muitos outros. O Bar pertencia a João Reis.

DESCOMPRIMISO COM A EDUCAÇÃO EM COARACI

Enviado por RobertoPóvoas

Alguns pais ou encarregados de levar os alunos (as) para Escola sempre chegam atrasados e vão buscar depois do horário, prejudicando os alunos e funcionários. Por outro lado alguns funcionários encarregados de receber os alunos também chegam atrasados. O descompromisso de algumas pessoas com os horários estabelecidos pelas escolas em nossa cidade é visível e danoso ao processo educativo.

Portaria do Inep definiu datas e sistemática de realização da avaliação Do Todos Pela Educação. O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2015 já tem data para ser aplicado: entre 3 e 13 novembro em todos os estados e no Distrito Federal. Os resultados das avaliações. Em larga escala que fazem parte do sistema compõem o cá l cu lo do Índ i ce de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2015. A Prova Brasil será realizada nas escolas públicas de zonas rurais e urbanas nos 5º e 9º anos (4ª e 8ª séries do Ensino Fundamental regular de 8 anos).

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BAR NOVO MUNDO

Vamos intensificar nossotrabalho de preparaçãojunto a nossos alunosSucesso! Pró Angélica

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’’ALICE DO PAÍS SEM MARAVILHAS.’’

Crônica de Mariana Raynar

Estava tudo confuso, tudo bagunçado. Qual era a hora do começo? Qual era a hora do final? Quem estava certo? Quem estava errado? Os meses se passavam e aquela dor ainda continuava.Continuava também aquelas frases clichês de conforto, que não confortava nada. Aqueles incentivos de continuar, que só dava vontade de desistir. Desistir da faculdade, desistir dos amigos, da família, das viagens.Desistir daquele plano de rir das piadas sem graça, de agradecer mesmo sem gostar, de dizer sim quando queria dizer não, de ser o que já não suportava ser. Acordar todos os dias com a incerteza das suas escolhas, do seu mundo, do que realmente queria. No mundo de Alice nada era maravilha. Seus problemas passavam de um coelho apressado, um chapeleiro maluco e uma rainha de copas má. Seu problema tinha nome e sobrenome. Tinha também endereço e o seu endereço, infelizmente, batia com o dela. Residenciar no mesmo prédio que aquele importuno não era uma boa forma de esquecer o que não devia ter começado. Como sair de casa sem lembrar as loucuras vividas naqueles corredores, naqueles elevadores, naquele terraço? Como esquecer enquanto saía pra faculdade que todo aquele condomínio fora palco do seu amor, mas também do seu desamor? Fugir dali era a melhor saída,

pegar o primeiro metrô de volta para o seu interior pacato era o melhor jeito. Uma boba e inocente menina do interior, perdida nos mistérios da cidade grande. Mistério alto, loiro, olhos castanhos e sotaque engraçado. Com um metro e oitenta e um sorriso encantador. Mistério que a deixara embaraçada desde o primeiro dia que o viu, que a encantou com a sua coleção de MPB, que tocava Paralamas enquanto sorria e a olhava. Mistério que deu para uma estrela o seu nome, que a levou para conhecer o mar, que fez amor na praia, abaixo da luz do luar e das estrelas, que prometera amor eterno e depois de três meses desfilava pelas ruas com outra. Outra garota boba e inocente do interior, cuja qual ele iria deixar embaraçada e encantada com a sua coleção de MPB. Garota que ouviria tocá-lo Paralamas, enquanto admirava seu sorriso. A uma nova estrela ele daria o nome dela e esta mesma garota, conheceria o mar ao lado dele, ali mesmo fariam amor, e logo, esta daria espaço pra mais uma nova garota boba e inocente do interior, a quem este mistério problemático prometeria amor eterno. Era apenas mais uma cama de gato! Era simplesmente uma ilusão! Deixar tudo para trás era a escolha de Alice do País sem maravilhas! Ela desejava sentada em frente ao mar, cair de vez em um poço profundo, conhecer pessoas estranhas e impossíveis de existir, mas que a trataria bem, dizendo que ela era a Alice de anos atrás e que voltara para derrubar um monstro. Seus pais estavam enganados ao por este nome nela. Não era

princesa. Não era guerreira. Não era a prometida. Era somente uma boba e inocente menina do interior.Voar em pensamentos, dar asas a sua imaginação, lembrar dos momentos, sentir lágrimas rolarem, dá Adeus ao mundo que ela tanto desejara, mas que não servia para ela. Voar alto e acabar dando de cara com o seu mistério problemático vindo em sua direção. Respirar fundo e abaixar a cabeça. Difícil encará-lo. Perceber que ele passou direto ao encontro de mais uma garota, talvez boba e inocente, talvez do interior, mas, mais uma garota. Alice sabia que para ele, ela tinha sido apenas mais uma, mas ele não foi. Ele foi O Cara, ele foi O Tal. O cara que ela não ia esquecer, afinal, O Tal ali havia ensinado a ela, que uma garota boba e inocente do interior ou uma garota boba e inocente da cidade grande tem que ter cuidado com esse tipo certo de garoto errado. Dizer adeus a praia, a cidade dos seus sonhos, ao seu condomínio. Dizer adeus a ele, seu desamor que nem se quer lembrava mais dela e que eram vizinhos de apartamento. Dizer adeus a uma Alice boba. Tentar encarnar a garota esperta e curiosa do conto de Lewis Carroll e jamais esquecer que não precisa ser uma fábula para as histórias vividas ter uma lição de moral. Ah, Alice da vida real! Aprende que nem todo cara é um príncipe e às vezes a história fica mais divertida sendo contada por um lobo mal.

Movimentação das Instituições Financeiras em Coaraci em 2014

Foram efetuados depósitos a prazo no valor de 3.819.061 Reais. Depósitos à vista - governo: 17.599 Reais. Depósitos à vista - privado 3.738.336 Reais. Número de Agências três Agências. Obrigações por Recebimento 16.658 Reais. Operações de Crédito 31.722.651 Reais. Poupança 27.096.700 Reais. Fontes: Banco Central do Brasil, Registros Administrativos 2014.

Passagens da vida realDe Joaquim Moreira

Em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, lugar onde eu nasci, houve um negociante que tinha uma casa comercial que era um verdadeiro bazar. Tinha de tudo que se procurasse, inclusive manteiga e requeijão.Certa época, apareceu uma grande praga de ratos, chegou ao ponto de comer os gatos. O negociante comprava gato, pedia aos fregueses mas todo gato que chegava, os ratos comiam e só ficavam os ossos. O negociante resolveu botar o requeijão dentro de latas, tampou, derreteu a manteiga e pois dentro das garrafas. Amolou o facão, amarrou a rede dentro do seu estabelecimento e quando vinham os pelotões de ratos ele matava com o facão, matava muitos, ou cortava o rabo na intenção de matar. Nessa luta, muitos dos ratos morreram e outros só foram atingidos na calda. Os ratos então roeram as rolhas das garrafas, e metiam o rabo, lambuzando de manteiga e começavam a lamber. Os que não tinham rabo ficavam de fora a censurar:" Não façam isso! Vocês desgraçam com a manteiga do senhor José Antônio de Amorim...... Assim somos nós, que censuramos os artistas governantes, porque nos falta o rabo.

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Page 16: 59º Caderno Cultural de Coaraci

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Confira informações importantes sobre Coaraci, personalidades históricas, datas importantes, eventos, emancipação politica, políticos, causos engraçados, prosas e contos fantásticos. Veja os últimos dados do IBGE, viaje no mapa interativo da região, ouça músicas e o hino de Coaraci, saiba qual foi a evolução econômico-financeira do município nestes 62 anos, leia opiniões, criticas e muitas informações sobre o Rio A l m a d a , e t c . É s ó a b r i r e p e s q u i s a r ! P a r a i s s o b a s t a a c e s s a r o n o s s o s i t e : www.informativocultural.wix.com/coaraci, clicar na aba “Historia de Coaraci” e constatar. Este site foi criado para ser uma fonte de pesquisas de estudantes de todos os níveis de escolaridade da região, e para pessoas interessadas na história deste município. Compartilhe este site com parentes, amigos e conhecidos, e nos ajude a enriquecê-lo, enviando para o nosso e-mail: [email protected], histórias e imagens que marcaram o progresso da Terra do Sol. Confira!!!

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Quem não sabe o que quer é responsável pelo próprio fracasso,

quem acha que sabe demais, pode ser responsável pelo fracasso dos outros.

Por isso, pense antes de agir e só fale depois de pensar. PauloSNSantana

A passarela da Praça Pedro Procópio

está em péssimo estado.Em pior estado que esta imagem!