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CENTRO DE ARQUEOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA 5.º Congresso do Neolítico Peninsular VICTOR S. GONÇALVES MARIANA DINIZ ANA CATARINA SOUSA eds. estudos & memórias 8

5.º Congresso do Neolítico Peninsular - repositorio.ul.ptrepositorio.ul.pt/bitstream/10451/31729/1/SOUSA_GONCALVES CNP_5.pdf · detectado após decapagem mecânica, não existindo

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CENTRO DE ARQUEOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

5.º Congressodo NeolíticoPeninsular

VICTOR S. GONÇALVES MARIANA DINIZ ANA CATARINA SOUSAeds.

estudos & memórias 8

Victor S. Gonçalves • M

ariana Diniz • Ana Catarina Sousa, eds.

5.º Congresso do Neolítico Peninsular Actas

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Casa das Histórias Paula Rego 7-9 Abril 2011

5.º Congresso do Neolítico Peninsular Actas

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Casa das Histórias Paula Rego 7-9 Abril 2011

VICTOR S. GONÇALVES MARIANA DINIZ ANA CATARINA SOUSA, eds.

estudos & memóriasSérie de publicações da UNIARQ (Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa)Direcção e orientação gráfica: Victor S. Gonçalves

8.GONÇALVES, V.S.; DINIZ, M.; SOUSA, A. C., eds. (2015), 684 p. 5.º Congresso do Neolítico Peninsular. Actas. Lisboa: UNIARQ.

Capa, concepção e fotos de Victor S. Gonçalves. Pormenor de uma placa de xisto gravada da Anta Grande da Comenda da Igreja (Montemor o Novo). MNA 2006.24.1. Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa.

Paginação e Artes finais: TVM designers

Impressão: Europress, Lisboa, 2015, 400 exemplares

ISBN: 978-989-99146-1-2Depósito Legal: 400 321/15

Copyright ©, os autores.Toda e qualquer reprodução de texto e imagem é interdita, sem a expressa autorização do(s) autor(es), nos termos da lei vigente, nomeadamente o DL 63/85, de 14 de Março, com as alterações subsequentes. Em powerpoints de carácter científico (e não comercial) a reprodução de imagens ou texto é permitida, com a condição de a origem e autoria do texto ou imagem ser expressamente indicada no diapositivo onde é feita a reprodução.

Lisboa, 2015.

Volumes anteriores de esta série:

1.LEISNER, G. e LEISNER, V. (1985) – Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz. estudos e memórias, 1. Lisboa: Uniarch.

2.GONÇALVES, V. S. (1989) – Megalitismo e Metalurgia no Alto Algarve Oriental. Uma aproximação integrada. 2 Volumes. estudos e memórias, 2. Lisboa: CAH/Uniarch/INIC.

3. VIEGAS, C. (2011) – A ocupação romana do Algarve. Estudo do povoamento e economia do Algarve central e oriental no período romano. estudos e memórias 3. Lisboa: UNIARQ.

4.QUARESMA, J. C. (2012) – Economia antiga a partir de um centro de consumo lusitano. Terra sigillata e cerâmica africana de cozinha em Chãos Salgados (Mirobriga?). estudos e memórias 4. Lisboa: UNIARQ.

5.ARRUDA, A. M. ed. (2013) – Fenícios e púnicos, por terra e mar, I. Actas do VI Congresso Internacional de Estudos Fenícios e Púnicos, estudos e memórias 5. Lisboa: UNIARQ.

6.ARRUDA, A. M. ed. (2014) – Fenícios e púnicos, por terra e mar, 2. Actas do VI Congresso Internacional de Estudos Fenícios e Púnicos, estudos e memórias 6. Lisboa: UNIARQ

7.SOUSA, E. (2014) – A ocupação pré-romana da foz do estuário do Tejo. estudos e memórias 7. Lisboa: UNIARQ.

5.º CONGRESSO DO NEOLÍTICO PENINSULAR 123

Fire walk with me. O sítio de Cova da Baleia e as primeiras arquitecturas domésticas de terra no Centro e Sul de Portugal

■ ANA CATARINA SOUSA, VICTOR S. GONÇALVES1

R E S U M O O sitio da Cova da Baleia foi alvo de uma extensa campanha de escavações rea-lizada em 2007, revelando contextos pré-históricos em excelente estado. A complexidade e a tipologia das estruturas de argila identificadas indicavam aparentemente uma cronologia neolítica, mas a componente estrutural revelava contradições com a cultura material, nome-adamente com a industria lítica e com a escassez de cerâmica (dois fragmentos de cerâmica cardial). Esta dicotomia contraditória já havia sido detectada na Baixa do Xarez (Gonçalves, Marchand e Sousa, 2008; Gonçalves, Sousa e Marchand, no prelo), onde não foi possivel obter datações absolutas. As primeiras quatro datações absolutas oscilam entre 8460 a 9250 BP, de 7580 a 7080 cal BC, cronozona Boreal. A extensão da área ocupada (2 ha), a estratigrafia e a tipologia indicam que Cova da Baleia tem uma ocupação que remonta ao Mesolítico antigo, possivelmente prologando-se pelo Mesolítico final, e com um episódio no Neolítico antigo cardial. Os dados de campo, os artefactos e as datas de radiocarbono confirmam a especifi-cidade deste sitio à escala regional e ibérica, a vários níveis: 1) Localização: situa-se numa área de interior, mas a maior parte de estes sítios, nesta cronologia e nesta região, implanta--se junto do Oceano Atlântico, directamente explorando os recursos aquáticos. 2) Dimensão: a maior parte dos sítios contemporâneos apresentam uma reduzida área escavada e são pro-vavelmente pequenos acampamentos. Cova da Baleia apresenta uma extensa área escavada (500 m2) e a área total ultrapassa os 2 ha. 3) Complexidade: Cova da Baleia revelou um ele-vado número de estruturas arqueológicas (128), 104 construídas com argila, a maior parte relacionada com a combustão. Corresponde ao maior e melhor preservado conjunto de estruturas de argila de combustão da Europa Pré-histórica. 4) Especificidade funcional: a cultura material está quase exclusivamente associada com a indústria lítica e os entalhes correspondem ao artefacto mais frequente. Com um elevado nível de preservação de elemen-tos orgânicos (ossos e carvão), escasseando os vestígios de fauna. Palavras ‑chave: Mesolítico antigo, Arquitectura de terra, Estremadura.

A B S T R A C T Cova da Baleia had an extensive rescue excavation conducted under the direction of A.C.S. in 2007, revealing prehistoric contexts in excellent condition. The comple-xity and typology of the clay structures identified seem to indicate a Neolithic chronology, but the structural component was inconsistent with the stone industry and almost absence of ceramics (including two sherds with Cardial decoration). This contradictory dichotomy had been also detected in Alentejo, at the Baixa do Xarez sites (Gonçalves, Marchand and Sousa, 2008; Gonçalves Sousa and Marchand, in print), but there has not been possible to get there any absolute dating. The first absolute datings (4), range from 8460 to 8250 BP, from 7580 to 7080 BCE, the Boreal period. The extent of area occupied, the stratigraphy and the typologi-cal indicators seem to indicate that Cova da Baleia presents a sequence of occupation, origi-nated in the Early Mesolithic, with a final episode in the Early Neolithic with Cardial.The field work, the artifacts and the radiocarbon dates allow us to confirm that this site differs from others at regional and european scale, in several strands: 1) Location. It lies within an inland area but the majority of sites in this chronology and in this region, implants very near the Atlantic Ocean, directed to the exploitation of aquatic resources. 2) Dimension. The majority of contemporary sites presents a small excavated area and are probably small camps. Cova da Baleia had a large excavation area (500 m2), and the whole of the site exceeds 2 ha. 3). Com‑plexity. Cova da Baleia highlighted a high number of archaeological structures (128), 104 built with clay, mainly related with combustion. It is the largest and best preserved collection of clay structures combustion of all prehistory of Western Europe. 4) Functional Specificity. Material culture is almost exclusively associated with the lithic industry and encoches are the most common artefacts. With a high degree of preservation of organic remains (human bones and charcoal), scarce debris fauna. Keywords: Early Mesolithic, Earth Architecture, Portuguese Estremadura.

5.º CONGRESSO DO NEOLÍTICO PENINSULAR124

FIRE WALK WITH ME. O SÍTIO DE COVA DA BALEIA E AS PRIMEIRAS ARQUITECTURAS DOMÉSTICAS DE TERRA NO CENTRO E SUL DE PORTUGAL ANA CATARINA SOUSA, VICTOR S. GONÇALVES P. 123-142

1. Cova da Baleia: apresentação preliminar

1.1. Localização e implantação

Cova da Baleia situa ‑se na Península de Lisboa, numa área que actualmente apresenta um denso coberto vege‑tal, próximo da Tapada Nacional de Mafra (espaço flores‑tal criado no século XVIII para montado do Palácio de Mafra). Freguesia e concelho de Mafra, coordenadas geográficas de 9º20’311’’ (Latitude); 38º58’434’’ (Longi‑tude) e coordenadas Gauss (Datum Lisboa): ‑104271,666 (X); ‑76275,678 (Y), 170 m (Z).

Em termos de substrato geológico, Cova da Baleia implanta ‑se numa área de Calcário com «choffatella» (Carta Geológica de Portugal 30C), na margem esquerda de um afluente da Ribeira do Cuco, um curso de água que desagua no Oceano Atlântico, na Praia de Ribeira de Ilhas. Actualmente, Cova da Baleia situa ‑se a cerca de 9 km do Oceano, mas é possível que, durante a ocupação pré ‑histórica deste local, a linha de costa se encontrasse mais recuada (Daveau, 1980).

Cova da Baleia situa ‑se na imediações da localidade da Barreiralva (Mafra), topónimo que é um sucedâneo

de «Barreira alva», tipo de argila usado até meados do século XX para produzir telhas, produção de considerá‑vel comercialização regional. Este enquadramento his‑tórico dos recursos de Barreiralva encontrou uma notá‑vel confirmação após as intervenções efetuadas no âmbito da minimização de impactos na Auto Estrada A21, onde se identificaram diversos fornos de materiais de construção, nomeadamente um forno romano (Forno 3 da Cova da Baleia), um forno medieval (Forno 2 da Cova da Baleia) e dois fornos modernos (Forno 1 da Cova da Baleia e Forno da Barreiralva) para além de for‑nos de cal (Sousa, 2008).

Face à concentração de ocorrências de estruturas pré‑‑históricas de argila, podemos com segurança afirmar que os recursos locais (terra argilosa, abundância de água e de matéria combustível) determinaram a explo‑ração económica desta região durante milhares de anos, até à época contemporânea.

Numa escala de abordagem mais próxima, a ocupação de Cova da Baleia encontra ‑se estruturada em dois núcleos, correspondendo a dois vales contíguos, numa raquete da linha de água subsidiária da Ribeira do Cuco, onde em finais do século XX foi instalada uma represa de água. Cova da Baleia corresponde ao núcleo escavado em 2007 e Cova da Baleia 2 foi identificado na fase final dos trabalhos de escavação, estando ainda apenas reco‑nhecido ao nível de superfície.

Os trabalhos arqueológicos de campo decorreram da intervenção efectuada pelo Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal de Mafra em 2007, no âmbito da mini‑mização de impactos da A21, e os trabalhos de gabinete decorrem no Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (UNIARQ) desde 2010, no âmbito de protocolo de colaboração celebrado entre a Câmara Municipal de Mafra e a UNIARQ.

1.2. Contextos arqueológicos

1.2.1. Morfologia da ocupação e estratigrafiaA ocupação mesolítica de Cova da Baleia encontra ‑se

situada numa vertente suave (oscilando entre 170 e 150 m), com uma extensão ocupada de cerca de 1 hec‑tare. A sua implantação em vertente deverá ter poten‑ciado a deposição de sedimentos de coluvião, pelo que apresenta uma espessa potência estratigráfica. A visibi‑lidade arqueológica à superfície era nula, tendo o sítio sido identificado após as primeiras decapagens mecâni‑cas, no âmbito do acompanhamento arqueológico da obra, tendo sido logo detectados fragmentos de argila de uma estrutura de combustão, ossos humanos e escassos materiais líticos. Também o núcleo Cova da Baleia 2 foi detectado após decapagem mecânica, não existindo qualquer indicador de superfície.

Numa área de intenso trabalho agrícola, a conservação dos contextos de Cova da Baleia foi apenas possível pela existência de circunstâncias deposicionais muito especí‑Fig. 1 Implantação de Cova da Baleia – orohidrográfica (base 1: 25 000).

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LA OCUPACIÓN DEL NEOLÍTICO ANTIGUO CARDIAL DE BENÀMER (MURO DE L’ALCOI, ALICANTE) GABRIEL GARCÍA ATIÉNZAR, PALMIRA TORREGROSA GIMÉNEZ, FRANCISCO JAVIER JOVER MAESTRE, EDUARDO LÓPEZ SEGUÍ P. 143-150

Mesolíticos geométricos, a grupos neolíticos en sucesi‑vas y diferentes fases (cardial y postcardial), constatán‑dose también las evidencias de una ocupación de la fase ibérica plena muy arrasada y por último una serie de evi‑dencias más recientes correspondientes a su transforma‑ción en campo de cultivo en época medieval ‑moderna, unido en los últimos años a la implantación de una can‑tera de extracción de áridos que han afectado de forma considerable al yacimiento.

2. Estratigrafía y estructuras de cronología cardial

Como hemos explicado anteriormente, la excavación arqueológica de Benàmer supuso la actuación en dos sectores diferenciados. La ocupación cardial del yaci‑miento se constató exclusivamente en el sector 1, ubi‑cado al norte de la zona de intervención, presentando una forma poligonal irregular de unos 1.968 m² (Fig. 2).

Mientras el nivel superior del sector 1 presentaba algu‑nos indicios de una ocupación de época ibérica, es en el nivel inferior del sector 1 donde se registraron diversos estratos y estructuras que podemos adscribir al Neolítico antiguo cardial o fase II de Benàmer (Torregrosa, Jover y López, e.p.).

El primer estrato de relleno, aparentemente de cronolo‑gía neolítica, correspondía a un posible suelo de ocupa‑ción que registramos bajo la unidad estratigráfica de relleno UE 1023. Se trataba de un estrato de relleno com‑puesto por tierra arcillosa de color gris negruzco, mezclada con arena de color pardo, que presentaba una textura

granulosa. Este sedimento se localizaba en la mitad sep‑tentrional del sector y no conservaba excesiva potencia. En este estrato se documentó la presencia de una estruc‑tura de piedras de tendencia circular (E.1008) formada por una fosa (E.1009), excavada en el suelo y rellena de cantos

Fig. 1 Localización del asentamiento de Benàmer (Muro de Alcoi, Alicante).

Fig. 2 Planta del Sector 1.

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calizos termoalterados, con planta de unos 2,15 m de diá‑metro y una profundidad en torno a los 20 cm.

A una cota más baja y correspondientes al asenta‑miento neolítico, se documentaron tres áreas diferencia‑das, una al norte del sector y las otras dos al suroeste y sureste respectivamente. Se trataría, a priori, de zonas de un sedimento muy oscuro posiblemente asociado a un paleosuelo.

Al norte del sector 1, fue localizada una gran área con un estrato de relleno (UE 1016) formada por una tierra de textura arenosa y arcillosa de coloración muy oscura, que presenta una composición homogénea con pequeños cantos y entre el que se documentaron varios fragmen‑tos de cerámica impresa cardial. En este paleosuelo de tierras negras es donde se localiza una serie de estructu‑ras. Cabe destacar la E. 1010, con planta de tendencia cir‑cular y diámetro de 2,03 m, formada por una fosa (E. 1011) rellena de un empedrado de cantos calizos y con una potencia de unos 15 cm, la E. 1012, de la que solamente se documentó la mitad dado que había sido alterada previamente durante los trabajos de la obra. Presentaba una fosa (E. 1013) rellena de un empedrado de cantos calizos, con un radio aproximado de 0,90 m y una potencia de unos 10 cm; la E 1014 también se docu‑mentó incompleta por el mismo motivo que la anterior, conservando una fosa (E. 1015) de planta irregular, exca‑vada en el suelo y rellenada de un empedrado, de unos 2 m de largo y 1 m de anchura, con una potencia de unos 18 cm; y por último, la estructura 1036, un nuevo empe‑drado de 2 m de diámetro con cantos calizos termoalte‑rados, que presentaba una potencia de casi 30 cm. Todas las estructuras contenían un sedimento entre los cantos que proporcionó material arqueológico, especialmente piezas líticas talladas y microcarbones y en el caso de la estructura 1036 fragmentos de cerámica con decoración cardial (Fig. 3).

En la zona sur del sector 1, se localizaron dos áreas separadas espacialmente, con un estrato de relleno homogéneo (UE 1017) compuesto por tierra de textura

arcillosa de color oscuro que presenta pequeños cantos y gravas y que correspondería a la UE 1016 de la parte septentrional del sector. En esta zona, se detectó la pre‑sencia de un área de dispersión de abundantes cantos calizos (UE 1049) que, aunque no parecía conservar una delimitación clara, sí podemos constatar que podría ser el resultado de una acción antrópica descontextualizada por los procesos erosivos. Entre esta estructura se docu‑mentaron abundantes materiales arqueológicos, espe‑cialmente sílex, lo que podría suponer un área de activi‑dad de talla. En este sentido, es muy destacada la presencia de núcleos en proceso de configuración, lascas de gran tamaño y algunos soportes retocados.

En lo que respecta a la estratigrafía general del sector, debemos señalar que por debajo de las unidades estrati‑gráficas 1016 y 1017 se localizó un estrato de contacto (UE 1039) entre ese nivel de tierra oscura y el inferior (UE 1025) compuesto por tierra arcillosa de color blanque‑cina que podría estar formado por limos carbonatados.

3. Algunos apuntes sobre las evidencias materiales

El registro cerámico consta de un reducido número de vasos, casi todos con decoración impresa cardial simila‑res a los documentados en yacimientos clásicos como Cova de l’Or, Cova de la Sarsa o Cova de les Cendres, entre los que destaca la presencia de bandas de triángu‑los. En su mayor parte, corresponden a recipientes cerra‑dos, de tipo olla, con aplique de cordones y decoración cardial sobre éste y las paredes del cuerpo. Son de escasa capacidad, a lo sumo 3 ‑4 litros. Se trata de un conjunto vascular utilitario en labores domésticas de cocinado y mantenimiento de alimentos similares, en especial, a los asociados a estructuras de combustión de la misma tipo‑logía en la Caserna de Sant Pau en Barcelona (Gómez et al., 2008, p. 29 ‑31, Fig. 2). El análisis petrográfico y tecno‑lógico de las pastas cerámicas llevado a cabo por S.B.

Fig. 3 Estructura de combustión UE 1010. Planta y fotografía.

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McClure, indica el dominio de los desgrasantes de cuarzo, de origen local, diferentes a los seleccionados en otros yacimientos neolíticos cardiales de la zona como Mas d’Is o Falguera (McClure, 2007), lo que valida la hipótesis de que se trata de producciones artesanales de carácter primordialmente doméstico (Fig. 4).

En relación con los fragmentos de vasos cerámicos, apa‑rece un conjunto significativo de conchas marinas princi‑palmente de caparazones de bivalvos sin señales de haber sido modificadas (Cerastoderma edule, Acanthocardia tuberculata, Glycymeris Glycymeris) y algunos caparazo‑nes de gasterópodos (Columbella rustica, Nassarius corni‑culum) con señales y perforaciones intencionales para ser convertidas en adornos (Barciela, e.p.).

El estudio del registro lítico tallado (Jover, e.p.) ha per‑mitido corroborar que las labores de talla con sílex, en su

mayor parte obtenido del entorno inmediato, serían rea‑lizados de forma recurrente en toda la zona próxima a las estructuras de combustión y, en especial, en la zona sur del sector 1, donde los restos estaban asociados a un importante cúmulo de piedras calizas de difícil interpre‑tación similares a las documentadas en algunos sectores de yacimientos franceses como Baratin (Courthézon, Vaucluse) (Sénépart, 1998, p. 431 ‑432; 2004), en el se interpreta que la acción de los procesos erosivos han alterado la presencia de algunas posibles estructuras. Se trata de una producción primordialmente sobre las‑cas aunque con un exhaustivo aprovechamiento de los soportes laminares, pudiendo diferenciar la presencia de lascas retocadas, lascas con muesca, láminas de retoque marginal o muy marginal, elementos de hoz y trapecios (Jean Cros, doble bisel). Conjunto, por otra parte, muy

Fig. 4 Selección de cerámicas decoradas con impresión cardial.

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similar al documentado en la Caserna de Sant Pau (Borrell, 2008) con la excepción de la ausencia de tala‑dros, presentes en éste y el resto de yacimientos neolíti‑cos del ámbito regional (Juan Cabanilles, 1984; García Puchol, 2005) (Fig. 5).

El estudio traceológico realizado por Amelia Rodrí‑guez de algunos de los soportes retocados ha determi‑nado el empleo de lascas retocadas y muescas en labo‑res domésticas, el uso de los geométricos como proyectiles y de los denominados elementos de hoz como tales (Rodríguez, e.p.), lo que viene a validar la idea de que estamos ante las evidencias materiales de un pequeño grupo humano asentado en la zona, que realizaría buena parte de sus actividades domésticas al aire libre y habría establecido sus campos de cultivo y zonas de pasto en las proximidades.

Respecto a posibles restos de construcción o estruc‑tura, se analizó un fragmento de mortero cuyos resulta‑dos han permitido constatar la presencia de carbonato cálcico (CaCO3) recarbonatado y sin recarbonatar de ori‑gen pirotecnológico y carbonato cálcico de origen geoló‑gico (Vilaplana et al., e.p.). El proceso de recarbonata‑ción del óxido de calcio, presente en las cenizas frescas de biomasa en contacto con los agregados silíceos, gene‑rados también durante la combustión de la biomasa, da lugar a silicatos cálcicos hidratados que, en contacto con matrices arcillosas adecuadas, generan un cemento natural enormemente compactado. Estas características han sido documentadas en la muestra analizada, lo que aboga por un conocimiento de las propiedades que el empleo de los desechos de combustión de la materia orgánica mezclada con la caliza deshidratada proce‑dente de los cantos integrantes de las estructuras de combustión en cuanto a sus cualidades como aglutinan‑tes en el amasado de morteros para labores constructi‑vas. Este es el paso previo del uso de la cal que, por otro

lado, ya está plenamente constatado en el yacimiento del III milenio cal BC de La Torreta ‑El Monastil (Martínez, Vilaplana y Jover, 2009).

El paisaje con el que se contextualiza Benàmer, según los estudios polínicos y antracológicos (Lopéz et al., e.p.; Machado, e.p.), se caracterizaría por un bosque de quer‑cíneas perennifolias, con un clima algo más térmico con síntomas de antropización del entorno del yacimiento. Destaca la presencia de gramíneas en los análisis de polen, así como los elementos herbáceos antropozoóge‑nos y con hongos coprófilos, lo que resulta indicativo de la exitencia de animales domésticos. Pero quizás, lo más significativo es la documentación de polen de cereal –Triticum ‑ lo cual supone suficientes indicios para admi‑tir que los campos de cultivo estarían ubicados en las proximidades del área de actividad constatada. Las prác‑ticas agrícolas y ganaderas se complementarían con la recolección de frutos silvestres (Peña Chocarro y Ruiz, e.p.) y la caza de especies como el ciervo y los lepóridos (Tormo, e.p.).

4. Cronología y contextualización

La fase de ocupación cardial de Benámer podría datarse hacia el 5400 ‑5300 cal BC, si tenemos en cuenta el conjunto material recuperado y valoramos las datacio‑nes efectuadas sobre dos muestras procedentes de dos unidades estratigráficas, atendiendo a las dataciones de vida corta disponibles para otros contextos cardiales de la fachada oriental de la península Ibérica (Bernabeu, 2006; García Atiénzar, 2009). Es el caso de Mas d’Is ‑6600±50 BP y 6600±50 BP ‑ (Bernabeu et al., 2003, p. 42, tab.2; Bernabeu, 2006) o de Barranquet ‑6510±50 BP y 6510±50 BP ‑ (Esquembre et al., 2008, p. 189). Las mues‑tras datadas en Benàmer, agregados de polen y una con‑

Fig. 5 Selección de industria lítica tallada.

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cha de un bivalvo marino, han aportado, una vez calibra‑das y con las correcciones oportunas en el de caso de esta última, rangos temporales muy distantes. En la primera de las muestras de Benàmer, el hecho de tratarse de agre‑gados de polen procedentes de una muestra de la UE 1017, además de las posibles contaminaciones en el pro‑ceso de extracción del mismo, hace que pueda ser consi‑derada una fecha un poco elevada (CNA ‑539: 6575±50 BP/5617 ‑5474 cal BC 2σ); mientras que en la segunda, sobre un caparazón de Cerastoderma edule procedente de la UE 1016 y una vez corregida por el efecto reservo‑rio (Beta ‑268979 ‑R: 6440±55 BP/5110 ‑4840 cal BC 2σ), la fecha obtenida es demasiado baja para el contexto cultu‑ral cardial recuperado. Aquí, los procesos de recarbona‑tación que se pueden dar en este tipo de caparazones por su entrada en contacto con sedimentos terrestres, per‑mite considerar su posible rejuvenecimiento. Con todo, la fecha de agregados de polen sería la más ajustada a la realidad, atendiendo al conjunto material recuperado y al resto de dataciones del ámbito regional.

Con todo esto, podemos proponer que en el sector 1 de Benàmer se asentó, ya entrada la segunda mitad del VI milenio cal BC, un pequeño grupo humano, cultural‑mente reconocido por la fabricación de cerámicas con decoración impresa cardial, que realizó toda una serie de actividades de producción y consumo en la zona. Este lugar constituyó, posiblemente, un amplio espacio abierto situado en los aledaños de las estructuras de hábitat o cabañas, donde se ha podido reconocer la rea‑lización de, al menos, actividades de molienda con ins‑trumentos sobre clastos de tamaño medio transporta‑bles, áreas de talla de sílex de procedencia local en su mayor parte, algunas evidencias de consumo por la pre‑sencia de un registro material variado (cerámica, con‑chas de moluscos marinos, restos óseos, etc.), pero todo ello asociado a un conjunto de estructuras de combus‑tión, ligeramente rehundidas, de tendencia circular y tamaño variado (entre 80 ‑130 cm de diámetro), caracte‑rizadas por estar rellenadas de cantos calizos termoalte‑rados dispuestos, en algunos casos, de forma ordenada. Estas estructuras se distribuían de forma casi equidis‑tante entre ellas y prácticamente concentradas en una zona dentro de la gran área excavada en el sector 1, situándose el área de molienda a unos cuantos metros hacia el este. La existencia de una estructura claramente superpuesta al resto, al haber sido efectuada con poste‑rioridad a la cubrición sedimentaria o amortización de casi todas ellas, es indicativo de que este espacio fue uti‑lizado de forma recurrente para las mismas labores. Aso‑ciadas a este conjunto de estructuras se documentaron los restos materiales señalados y especialmente, diversos vasos cerámicos con decoración cardial.

Por otro lado, el único yacimiento al aire libre del valle del Serpis donde se ha documentado un contexto cardial con estructuras coetáneas es Mas d’Is (Bernabeu et al., 2003, p. 42 ‑44). De este yacimiento, del que se han publi‑cado algunos datos sobre la documentación de dos casas

(casa 2 y casa 1), identificadas por la alineación de hue‑llas de postes, también se ha señalado la documentación en el sector 82, situado a unos 23 m de la casa 1, de una estructura de combustión de planta rectangular, com‑puestas por un cubeta excavada en el suelo, de unas dimensiones cercanas a 2,50 X 1,50 m, rellenada por can‑tos calizos termoalterados y diversos paquetes de tierras con carbones y materia orgánica. De esta estructura, interpretada como propia de usos culinarios, conside‑ran, a pesar de la distancia, que se debe relacionar con la Casa 1, datada a partir de muestras singulares de vida corta en el 6600±50 BP (5630 ‑5480 cal BC 2σ) (Bernabeu et al., 2003, p. 43).

El yacimiento con mayor número de similitudes con respecto a Benàmer es, sin duda, la Caserna de Sant Pau del Camp (Molist, Vicente y Farré, 2008), con materiales cerámicos cardiales en su nivel IV y dos dataciones sobre muestras singulares de animales domesticados que lo sitúa cronológicamente en torno al 5250 cal BC (Beta‑‑236174: 6290±50 BP y Beta ‑236175: 6250±50 BP). En este nivel IV fueron localizadas un conjunto significativo de estructuras ampliamente repartidas en los 800 m² de área excavada. Entre el amplio conjunto, se han podido diferenciar estructuras de combustión, donde los blo‑ques pétreos son empleados para mejorar la capacidad calorífica o bien hacer de intermediarios entre el pro‑ducto a cocer y la ignición, consiguiendo así una com‑bustión más lenta y más cerrada. Este tipo de estructuras son iguales a las documentadas en Benàmer y su inter‑pretación es perfectamente extrapolable.

Las estructuras de combustión de planta circular, tanto en la Caserna de Sant Pau (Molist, Vicente y Farré, 2008, p. 17, fig. 2), como en Benàmer, aparecen agrupadas en número variable, aunque de forma más uniforme en este último. En la Caserna destaca la concentración en torno a las estructuras 24 y 25, sin que podamos determinar la posible relación estratigráfica que se puede establecer entre ellas. Su disposición indicaría que algunas pudieron funcionar al mismo tiempo, ya que en ningún caso se cor‑tan ni se superponen. Por el contrario, en el caso de Benà‑mer es evidente, por su distribución, que algunas pudie‑ron funcionar al mismo tiempo y que, al menos una de ellas, es claramente posterior al resto del conjunto.

El yacimiento más próximo en el que se registraron dos estructuras similares a las de Benàmer, aunque de mor‑fología ovoide, es Calle Colón en Novelda (García Atién‑zar et al., 2006), cuya única datación sobre una muestra singular de carbón permite considerar que son algo más modernas (6390±40 BP; 5470 ‑5330 cal BC 2σ). El estudio efectuado en este yacimiento puso de manifiesto que la mayor parte de los cantos calizos que formaban parte de las estructuras documentadas presentaban tan sólo una de sus caras rubefactadas, principalmente, la que que‑daba expuesta a la parte superior, lo que estaría indi‑cando que el fuego se realizaría en contacto directo con las mismas. Este hecho, unido a la presencia de peque‑ños carbones aislados en el sedimento que rellenaba las

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estructuras, podría estar evidenciando la existencia de áreas vinculadas a actividades de transformación y coci‑nado de alimentos al depositar los mismos sobre las pie‑dras que previamente habían sido expuestas al fuego.

Estructuras similares también han sido documentadas en el yacimiento del Tossal de les Basses en Alicante (Rosser y Fuentes, 2007), con dataciones absolutas entre inicios del V y mediados del IV milenio cal BC (Rosser y Fuentes, 2007; García Atiénzar, 2009), del que todavía queda por determinar si estuvo ocupado de forma inin‑terrumpida durante todo este periodo. En el mismo, se ha documentado un área de hábitat, un área de enterra‑miento y un área de encachados similares a los presen‑tes en Benàmer. Es importante destacar que la principal concentración de estructuras circulares de encachados fue localizada en la zona 4, siendo la más alejada del área de hábitat. No obstante, existen otra serie de estructuras aisladas ampliamente repartidas por todo el yacimiento que ocupa varias hectáreas. La datación de una semilla de una de las estructuras con cantos quemados, pertene‑ciente a la segunda fase de encachados, ha aportado una cronología muy antigua dentro del contexto arqueoló‑gico al remontarse a inicios del V milenio cal BC (Rosser y Fuentes, 2007). Por otro lado, la interpretación pro‑puesta ha sido la misma que la considerada para las de Benàmer y Calle Colón, es decir, que se trata de estructu‑ras de combustión relacionadas fundamentalmente con la preparación y transformación de alimentos, y en este caso concreto, ante la presencia de numerosos caparazo‑nes de bivalvos comestibles, con la cocción de moluscos, probablemente al vapor (Rosser y Fuentes, 2007, p. 26). No obstante, dado que el mismo tipo de estructuras con similares características ha sido documento en yaci‑mientos de interior, donde no se consumieron moluscos marinos, como es el caso de Benàmer, parece evidente que se empleó una misma solución estructural para la cocción de diferentes tipos de alimentos.

Esta interpretación vendría apoyada por la existencia de paralelos etnográficos y la presencia, en la fachada oriental de la península Ibérica y en el sureste francés, de estructuras de idénticas características con una cronolo‑gía algo posterior a la reflejada aquí por el registro mate‑rial (Vaquer, 1990).

En el este peninsular destaca el recientemente publi‑cado yacimiento de Costamar (Flors, 2009) donde, con una adscripción cronológica un poco más moderna que Benàmer, fueron documentadas estructuras similares, pero algunas con un diámetro un poco mayor ‑E ‑61 ‑314 de 1,00 m; E ‑155 ‑408 de 2,30 m y E ‑230 ‑483 de 1,60 m ‑ (Flors, 2009, p. 152 ‑153, fig. 23.2, 3 y 4). Es importante destacar la asociación de algunas de estas estructuras (E ‑230 ‑483) con un importante lote de materiales cerá‑micos decorados con las técnicas inciso ‑impresas data‑das a inicios del V milenio cal BC (Flors, 2009, p. 163). De igual modo, también han sido documentadas en el yaci‑miento de la Dou (Alcalde et al., 2008, p. 219 ‑220; fig.4), situado en la Garrotxa (Girona) con cronología similar.

En cualquier caso, con independencia de cuál fuera su uso final, resulta evidente que se trataría de estructuras vinculadas a la combustión, en la que se aprovecharía la capacidad de las piedras para retener el calor tras una exposición al fuego.

La presencia de estas estructuras en varios yacimien‑tos del Neolítico antiguo ‑medio se ha interpretado apli‑cando un enfoque directo de evidencias etnográficas como son los hornos polinesios vinculados, posible‑mente, a actividades comunales (Sénepart, 2000), aun‑que esta interpretación debería ampliarse, en el caso del yacimiento de Benàmer y otras estructuras de similares características, a otras relacionadas con actividades domésticas cotidianas tal y como se desprende de la interpretación de algunas estructuras del yacimiento de La Terrasse (Vaquer, 1990).

Con todo lo expuesto, el conjunto de evidencias corres‑pondientes a la fase cardial de Benàmer, primer yaci‑miento cardial reconocido en el tramo medio del río Ser‑pis, muestra la realización de toda una serie de actividades domésticas de lo que podría ser una pequeña unidad básica de producción y consumo, de carácter familiar de la que, por desgracia, no se han documentado evidencias ni de almacenamiento ni de estructuras de hábitat o cabañas. Si atendemos a las evidencias de Mas d’Is, éstas últimas deberían ser de tendencia rectangular con las esquinas absidales (Bernabeu et al., 2003, p. 42 ‑43). No obstante, en el caso, de Benàmer tampoco tenemos constancia de fosos de gran tamaño como sí han sido documentados en Mas d’Is (Bernabeu et al., 2003; 2006; 2008), lo que permite considerar la posible existencia de enclaves dentro de valle, donde se realiza‑rían una serie de funciones de difícil interpretación mientras no se publiquen evidencias más clarificadoras sobre sus características morfológicas, de construcción del espacio delimitado.

En definitiva, lo que se puede interpretar de las eviden‑cias de la ocupación cardial de Benàmer es la existencia de una clara estructuración del espacio de hábitat y de las actividades productivas y de consumo cotidianas. Esta planificación contrasta con las características de la ocupación mesolítica donde todas las actividades y dese‑chos se concentran en un mismo espacio. Así, en la ocu‑pación cardial se observa la existencia de un área espe‑cífica destinada a la realización de actividades domésticas relacionadas la preparación y cocinado de alimentos en hogares circulares rehundidos en los que se empleaban cantos calizos para mantener el poder calorífico; un área de molienda a unos 15 m, asociada a algunos fragmentos cerámicos y en el extremo sur del área excavada, una importante acumulación de bloques de carácter antró‑pico, aunque desplazados y derivados por la acción ero‑siva, asociados a un conjunto de restos de talla de sílex. Por tanto, parece lógico considerar que en las proximida‑des se encontraría el área de hábitat o cabañas.

Benàmer formaría parte de un tipo de asentamientos, correspondientes a una unidad de producción y con‑

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sumo, que estarían ampliamente repartidos por el curso del río Serpis desde los momentos iniciales de la implantación cardial en la zona y probablemente, tam‑bién del curso del Riu d’Agres, además de otras cuencas como el Xaló o Girona, integrados en unidades de filia‑ción o linajes, que serían las unidades de producción más amplias en la que parece organizarse la produc‑ción.

1 Los resultados de este trabajo se insertan dentro del proyecto

«VIII ‑IV milenios cal BC: Arte rupestre, poblamiento y cambio cultural

entre las cuencas de los rios Júcar y Segura» (HAR2009 ‑13723) financiado

por el Plan Nacional de I+D+i 2008 ‑2011 del Ministerio de Ciencia

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