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BERTUCCI, R. A. Introdução à análise da língua portuguesa. Curitiba: Intersaberes, 2015 (v. preliminar) 1 6. ELEMENTOS ANAFÓRICOS INTRODUÇÃO Neste capítulo, vamos tratar dos modos de nos referirmos a seres e eventos no mundo. Destacaremos, aqui, os elementos anafóricos que, num texto, constituem a retomada de elementos e contribuem para a referenciação e progressão textuais. Para isso, vamos relacionar os elementos aqui analisados a três áreas fundamentais da linguística: a sintaxe, a semântica e a pragmática. Partiremos das noções de sentido e referência, passando pelas definições de dêixis e de anáfora; depois, analisaremos tanto alguns tipos de anáfora, quanto questões sintáticas relativas a elementos anafóricos. Como se verá, as expressões de valor anafórico têm uma importância extrema para a construção de sentido e progressão textuais, exatamente por carregarem um valor semântico bastante fundamental e que precisa de um contexto para sua referência. 1.1 REFERÊNCIA E SENTIDO Começaremos por trazer dois fenômenos bastante discutidos na área de semântica: referência e sentido. Vamos assumir que a relação de referência ocorre quando uma dada expressão nos leva a uma entidade no mundo. Por exemplo, a expressão Terra nos leva a um planeta específico do sistema Solar, este no qual nos encontramos; a expressão Pelé nos leva a um famoso atleta. O mais interessante é que diferentes expressões podem se referir a um mesmo objeto no mundo. Por exemplo, ao dizermos o único planeta habitado do sistema Solar, teremos como referência a Terra; se dissermos o terceiro planeta na ordem desse mesmo sistema, obteremos o mesmo planeta; se dissermos este belo planeta onde vivemos, teremos a mesma referência. Tal evidência nos leva a um outro conceito, o de sentido. Em semântica, chamamos de sentido às maneiras pelas quais encontramos uma referência no mundo, ou seja, o sentido é o modo pelo qual estabelecemos as relações de referência. Vamos ver um exemplo? Imagine que seu amigo diga a sentença em (1), para você.

6. ELEMENTOS ANAFÓRICOS

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BERTUCCI, R. A. Introdução à análise da língua portuguesa. Curitiba: Intersaberes, 2015 (v. preliminar)

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6. ELEMENTOS ANAFÓRICOS

INTRODUÇÃO

Neste capítulo, vamos tratar dos modos de nos referirmos a seres e eventos no mundo.

Destacaremos, aqui, os elementos anafóricos que, num texto, constituem a retomada de

elementos e contribuem para a referenciação e progressão textuais. Para isso, vamos relacionar

os elementos aqui analisados a três áreas fundamentais da linguística: a sintaxe, a semântica e a

pragmática. Partiremos das noções de sentido e referência, passando pelas definições de dêixis e

de anáfora; depois, analisaremos tanto alguns tipos de anáfora, quanto questões sintáticas

relativas a elementos anafóricos. Como se verá, as expressões de valor anafórico têm uma

importância extrema para a construção de sentido e progressão textuais, exatamente por

carregarem um valor semântico bastante fundamental e que precisa de um contexto para sua

referência.

1.1 REFERÊNCIA E SENTIDO

Começaremos por trazer dois fenômenos bastante discutidos na área de semântica:

referência e sentido. Vamos assumir que a relação de referência ocorre quando uma dada

expressão nos leva a uma entidade no mundo. Por exemplo, a expressão Terra nos leva a um

planeta específico do sistema Solar, este no qual nos encontramos; a expressão Pelé nos leva a

um famoso atleta.

O mais interessante é que diferentes expressões podem se referir a um mesmo objeto no

mundo. Por exemplo, ao dizermos o único planeta habitado do sistema Solar, teremos como

referência a Terra; se dissermos o terceiro planeta na ordem desse mesmo sistema, obteremos o

mesmo planeta; se dissermos este belo planeta onde vivemos, teremos a mesma referência.

Tal evidência nos leva a um outro conceito, o de sentido. Em semântica, chamamos de

sentido às maneiras pelas quais encontramos uma referência no mundo, ou seja, o sentido é o

modo pelo qual estabelecemos as relações de referência. Vamos ver um exemplo? Imagine que

seu amigo diga a sentença em (1), para você.

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BERTUCCI, R. A. Introdução à análise da língua portuguesa. Curitiba: Intersaberes, 2015 (v. preliminar)

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(1) Ontem fui ao cinema com a Maria.

Mas, você não sabe ou não se lembra exatamente quem é a Maria. Por isso, diz a ele: “acho

que não a conheço”. Então, ele retruca, com a sentença em (2):

(2) Claro que conhece, é aquela amiga da Paula, que estuda Letras.

Com isso, você logo diz: “Ah, sério?! Que legal!! Mas, eu não sabia que ela se chamava

Maria”. Esses exemplos nos ajudam a entender bem a noção de referência e sentido. A sentença

em (1) não te fez chegar à referência pretendida pelo amigo e, nesse caso, ao faltar a referência,

você não construiu todo o sentido do texto pretendido pelo seu amigo. Por outro lado, em (2),

quando ele utilizou um novo sentido ao mesmo referente, com a expressão aquela amiga da

Paula, que estuda Letras, ele fez com que você encontrasse, na sua mente, o referente pretendido.

Ou seja, esse sentido, ao contrário do simples nome próprio, te fez chegar ao referente pretendido.

O mais importante de tudo é que, depois da conversa, você mesmo(a) adquiriu mais um sentido

para aquela pessoa da qual, até então, você não sabia o nome.

Esse fato ilustra o que se passa conosco praticamente todos os dias. Em nossas relações,

estamos sempre nos referindo a pessoas por uma expressão que nem sempre é conhecida por

aquele com quem conversamos, e vice-versa. Ou ainda, podemos nos referir a um objeto

qualquer, do qual precisamos, e, ao solicitar a outra pessoa, ficamos procurando sentidos

diversos que a façam encontrá-lo facilmente. Às vezes, dá certo; às vezes não, e precisamos ir,

nós mesmos, buscá-lo. Essa é a prova de que as referências dependem dos sentidos para que

entendamos a construção de sentido de um texto, seja ele um texto longo ou curto; escrito ou

falado.

É importante frisar o seguinte: um mesmo sentido pode ter referentes diferentes,

especialmente quando se leva em conta questões temporais. Por exemplo: o atual presidente do

Brasil nos dá uma pessoa em 2015; outra em 2002; outra em 1990; outra em 1950 e assim por

diante. O mesmo pode ocorrer com o atual chefe do Pedro, se o Pedro for uma pessoa que muda

muito de emprego; ou mesmo com o homem mais rico do mundo, que pode mudar em questão de

semanas ou meses, dependendo dos rendimentos. Aliás, o livro dos recordes, nesse sentido, é

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uma fonte inesgotável de sentidos nos quais os referentes podem se alternar com frequência,

especialmente porque há quebras de recordes a todos os instantes no planeta.

1.2 DÊIXIS E ANÁFORAS

Bem, amigo leitor, com esses conceitos de sentido e referência em mente, podemos partir para

o entendimento dos elementos anafóricos em si. Em primeiro lugar, vamos assumir que esses

elementos têm uma função de referência textual (lembre-se que texto, aqui, refere-se às

modalidades de fala e escrita). Do ponto de vista gramatical, essa referência pode ser feita por

expressões dêiticas, aquelas que têm valor pronominal e que precisam de um referente claro na

situação para que o texto (ou a sentença) faça sentido.1 Nos exemplos a seguir, você poderia

dizer quem, de fato, comprou o chocolate branco (3a), em qual país tudo acaba em pizza (3b), e

quem esteve onde, em que dia e não viu quem e quando volta (3c)?2

(3) a. Ele comprou um chocolate branco.

b. Neste país, tudo acaba em pizza.

c. Estive aqui hoje, mas não te vi. Amanhã eu volto.

Bem, se sua resposta foi “depende do contexto, ou seja, depende de quem está pronunciando a

frase em (3a), em qual país a frase em (3b) foi emitida, onde, quando, quem e para quem o texto

em (3c) foi escrito (ou proferido)”, você acertou na mosca! Como falantes de português, sabemos

que o pronome ele tem um sentido claro: terceira pessoa do singular. No entanto, sua referência

depende exclusivamente do contexto de pronúncia da sentença.

Do mesmo modo, o pronome demonstrativo este, em (3b), tem o sentido de algo que está

próximo do falante, mas a sua referência depende exatamente do lugar em que esse falante está,

ou para o qual está apontando. Na mesma linha de raciocínio, outros pronomes como eu e te (3c)

e outros advérbios como aqui, hoje e amanhã (3c), precisam de um contexto claro para que

sejam preenchidas as suas referências na sentença.

1 O capítulo 2 de Levinson (2007) é uma excelente fonte de estudos sobre o tema da dêixis.

2 Nas universidades que mantêm um mural de recados nos corredores, mensagens como a exposta em (3c) são

bastante comuns.

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Se você olhar no dicionário, vai encontrar o sentido (ao que ali é chamado de significado) de

uma série de dêiticos, tais como os pronomes pessoais (eu, ele, nós etc.), os oblíquos (me, lhe,

nos etc.), os demonstrativos (esse, esta, aquilo etc.), advérbios (aqui, hoje, amanhã etc.), verbos

(vir, trazer, levar, subir etc.) e preposições (antes, após, depois, diante etc.). Nesse sentido,

podemos dizer que os dêiticos carregam um sentido que permanece sempre o mesmo, ou seja, eu

significa sempre primeira pessoa do singular, aqui significa sempre o lugar de onde se fala, hoje

é sempre a data na qual se fala e assim por diante. No entanto, a referência dos dêiticos muda,

conforme o contexto – mais ou menos como ocorre com as expressões que encontramos no livro

dos recordes, como o maior bolo do mundo, que muda à medida que alguém faz um bolo maior

que o anterior.

Por tudo isso, os dêiticos formam um recurso poderoso na língua, além de contribuírem para

um outro fenômeno extremamente relevante para a coesão textual: os processos anafóricos.

Chamamos de anáfora as expressões linguísticas que se referem a um elemento no texto, com o

qual estabelecem correferência. Vejamos alguns exemplos.

(4) a. Vi o Paulo no mercado. Ele foi lá comprar um chocolate branco.

b. Eu moro na Itália e vou dizer: neste país tudo acaba em pizza.

Na sentença em (4a), o pronome ele se refere a o Paulo, enquanto o advérbio lá, retoma o

mercado; portanto, dizemos que há uma relação anafórica direta (de correferencialidade) entre os

referidos elementos. O mesmo ocorre no caso de (4b), em que neste país retoma a Itália, sendo

portanto, uma anáfora. Bem, mas aí, você vai me questionar dizendo: mas você não disse que ele,

lá e este eram dêiticos?

De fato, disse. E são dêiticos, sim. É que esse nome é genericamente atribuído a todas as

expressões cujo sentido permanece, mas a referência, não, conforme explicamos antes. Acontece

que, num texto específico, como esses em (4), a referência é dada no contexto, de modo que se

estabelece uma correferência entre dois elementos, o que dá origem à relação anafórica. Em

outras palavras, os dêiticos são uma excelente ferramente para o estabelecimento de relações

anafóricas no texto, exatamente por sua referência vazia, que pode ser preenchida por diferentes

entidades em contextos igualmente diversos.

Outra fonte importante de relações anafóricas são os pronomes relativos. Como se viu na

seção 3.2.2, as orações subordinadas adjetivas são sempre iniciadas por um deles. O papel

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desses pronomes é justamente o de retomar um elemento no período a que se faz referência e ao

qual se acrescenta a informação da oração adjetiva. Relembremos alguns exemplos.

(5) a. O aluno que comprou o chocolate estuda Letras.

b. O aluno comprou o chocolate. O aluno estuda Letras.

(6) a. O João se mudou para a cidade onde/na qual a Maria nasceu.

b. O João se mudou para esta cidade. Maria nasceu nesta cidade.

Nas frases em (5a) e (6a), encontramos exemplos de pronomes relativos, que retomam um

elemento específico em cada sentença: em (5a), o pronome relativo que retoma o sintagma o

aluno, cuja repetição se dá em (5b); em (6a), os pronomes onde ou na qual substituem a

expressão esta cidade. Neste último caso, como observamos na seção 3.2.2, o uso da preposição

em, no pronome na qual, ou em onde (que significa em algum lugar), é uma exigência do verbo

nascer (nascer em algum lugar).

1.3 TIPOS DE ANÁFORA

Vamos ressaltar que as anáforas podem ocorrer com ou sem a presença de dêiticos no texto. O

primeiro tipo delas que queremos apresentar é anáfora direta, que consiste na retomada de um

elemento por repetição, como nos exemplos em (5b) e (6b), acima, ou por outras formas, desde

que o elemento de correferência seja diretamente recuperado no texto. É o que acontece com os

pronomes nas sentenças em (4).

Diferentemente das referidas sentenças, os trechos em (7) mostram relações anafóricas com

outras expressões. Mas, seriam casos de anáfora direta?

(7) a. O João me viu na rua, mas o palhaço nem olhou pra minha cara.

b. A Maria escreveu um livro. A premiada obra trata da vida de Dom Pedro I.

Aqui, as relações anafóricas são dadas por sintagmas nominais iniciados por artigo definido e

não por dêiticos. No caso de (7a), o que se tem não é uma retomada simples, mas uma

referenciação com peso avaliativo do enunciador em relação ao João, já que o retoma com a

expressão o palhaço. Além disso, a retomada não é por anáfora direta, porque a retomada do

elemento referido não é direta. De modo similar, em (7b) a expressão anafórica utilizada, a

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premiada obra, retoma a expressão um livro, mas acrescenta uma

informação que não fora dada antes: a de que a obra recebeu algum

prêmio. Aqui, no entanto, poderíamos pensar em anáfora direta, por

causa da proximidade (quase uma sinonímia) das palavras livro e obra.

Outra forma de anáforas sobre a qual queremos tratar neste

capítulo é a anáfora indireta.3

Em geral, esse tipo de anáfora

acontece quando o falante utiliza um processo de retomada por

inferência, ou seja, porque sabe que o ouvinte vai entender a retomada

graças ao seu conhecimento de mundo ou da situação. Vejamos

alguns exemplos.

(8) a. O João estava vindo de carro, quando o pneu furou.

b. Paulo reclama dos impostos. Além disso, o empresário alega

que as vendas caíram.

c. Um cachorro entrou na sala. O animal ficou deitado sobre

uma carteira.

No primeiro caso, em (8a), a expressão o pneu é um modo de

retomar o carro, que aparece na primeira oração. Ali, para fazermos a

interpretação dessa anáfora, associamos o pneu ao veículo, exatamente porque sabemos que

pneus fazem parte da estrutura básica de um automóvel. Já em (8b), não temos qualquer relação

textual ou sobre o conhecimento de mundo que nos leva a associar a expressão o empresário ao

sujeito Paulo. No entanto, nesse contexto, não há mais ninguém para receber a referência para a

expressão o empresário; sabemos que apenas Paulo pode ser correfente de o empresário e, de

maneira indireta, fechamos a cadeia anafórica entre esses dois elementos. Também foi isso o que

fizemos em (7), acima.

Finalmente, a sentença em (8c) apresenta um caso típico de hiperonímia. Chamamos de

hiperônimo as expressões que denotam uma categoria e congregam em si outras subcategorias.

Às subcategorias, chamamos de hipônimos. No caso de (8c), essa relação se dá entre as

expressões o cachorro e o animal. Como animal é uma categoria que congrega em si a

3 Anáforas indiretas e associativas são ambas tratadas aqui sob o rótulo da primeira. Recomendo ao leitor

interessado a leitura dos textos de referência para uma diferenciação mais técnica. Ver, por exemplo, Koch (2005) e Marcuschi (2005).

Elipse e repetição

A elipse é um recurso

coesivo forte, quando, em

determinados contextos, o

referente fica implícito na

sentença, como em Alguns

alunos gostam de

linguísticas, outros não, em

que o substantivo aluno fica

implícito no texto. Também a

repetição tem um papel bem

importante em uma série de

contextos, especialmente em

textoas poéticos ou

argumentativos, em que se

quer enfatizar algo. Veja-se

por exemplo, os sonetos de

Vinícus de Morais. Para

maiores análises, Sousa e

Machado (2014).

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subcategoria cachorro, além de uma série de outras (gato, cavalo, baleia, homem etc.), dizemos

que é seu hiperônimo. No sentido inverso, como cachorro é uma subcategoria de animal,

dizemos que é seu hipônimo. Em geral, as relações de hiperonímia são bastante utilizadas nas

construções textuais, orais e escritas, sendo um recurso imprescindível para os processos

anafóricos.

Um processo comum de retomada textual é aquele em que a anáfora não apenas se refere a

um elemento citado anteriormente, mas congrega em si uma parte textual anterior, resumindo-a e,

por vezes, com valor avaliativo. Essa forma de retomada chamada de encapsuladora ou

resumitiva pode ser observada nos casos a seguir.4

(9) a. O João saiu com os amigos e não falou nada pra Maria. Isso deixou ela furiosa.

b. O governo decidiu aumentar novamente os impostos. Essa política de reajustes sem

fim pode levar o governador a uma perda de prestígio político.

Em (9a), o pronome isso se refere a uma atitude tomada por João e que deixou Maria furiosa:

sair com os amigos sem falar nada pra ela. Veja que, aqui, a anáfora não retoma apenas um

elemento citado anteriormente, mas todo o período anterior. De modo similar, em (9b) a anáfora

utilizada é essa política de reajustes sem fim, que se refere ao fato de o governo ter aumentado os

impostos novamente. Nesse caso, você, leitor, deve ter percebido que, além de se referir a um

trecho do texto que veio antes, a anáfora também acrescenta uma opinião de quem escreveu: o

fato dos reajustes serem considerados uma forma de governar (uma política) e não terem fim, por

terem ocorrido novamente.

1.4 ANÁFORAS E SINTAXE

Do ponto de vista sintático, temos, ainda alguns pontos interessantes para observar sobre as

anáforas. O primeiro deles diz respeito à sua posição nas sentenças. Em geral, os processos de

retomada ocorrem com a apresentação da entidade e, em seguida, com sua retomada. O inverso,

embora possa ocorrer, é menos frequente. Os casos em (10) ilustram esse comentário.

4 Para anáforas encapsuladores ver Cavalcante (2003), Koch (2005) e Sousa e Machado, 2014.

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(10) a. Quando encontrei o Paulo, ele estava indo comprar um chocolate.

b. #Ele estava indo comprar um chocolate, quando encontrei o Paulo.

Enquanto a retomada pronominal, com ele, é natural e aceita por todos os falantes em (10a),

na sentença seguinte o mesmo não ocorre: praticamente nenhum falante do português brasileiro

aceitará que ele, em (10b), se refira a Paulo. Pode, no entanto, estar se referindo a um outro

indivíduo (o João, por exemplo), que tinha sido citado anteriormente na conversa.

Outro fato muito interessante relacionado à sintaxe das expressões anafóricas diz respeito à

expressão si mesmo(a), uma anáfora típica, e ao uso do dêitico ela como anáfora. Em geral, os

falantes de português brasileiro não utilizam a expressão si mesmo(a) no cotidiano, preferindo o

pronome ele/ela para fazer essa retomada anafórica. As sentenças a seguir exemplificam o caso

do qual estamos tratando.

(11) a. A Maria gosta da Joana.

b. A Maria gosta de si mesma.

c. A Maria gosta dela.

Ao observarmos as sentenças em (11), podemos concluir que, num contexto adequado, (11c)

pode se referir tanto à sentença em (11a), quanto à sentença em (11b), ou seja, (11c) carregaria

uma ideia de ambiguidade, já que seria possível em mais de um contexto. Sendo assim,

poderíamos concluir que si mesmo(a) ocorre nos mesmos contextos que ele/ela?

Se você disse “não”, acertou na mosca de novo! As pesquisas na área de sintaxe revelam que

algumas expressões podem estabelecer relações anafóricas apenas na mesma oração de seu

referente. É exatamente isso o que ocorre com si mesmo(a). A prova de que isso é verdade é dada

pela comparação entre os exemplos em (12).

(12) a. A Maria gosta da Joana. Ela também gosta do Paulo.

b. A Maria gosta da Joana. *Si mesma gosta do Paulo.

Observe que, enquanto (12a) possui uma sequência de orações plenamente aceitável, em que

ela retoma a Maria, a sequência em (12b) não pode ser continuada com a expressão si mesma, já

que esta não está na mesma oração de seu referente. Concluímos, portanto, que si mesmo(a) não

é sinônimo de ele/ela, ainda que possam ser intercambiáveis em algumas situações.

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Para encerrar esta seção, gostaria de tratar de um último caso de ambiguidade referente aos

elementos anafóricos, e que é chamado por Cançado (2012, p. 79) de “ambiguidade por

correferência”. Para a autora, essa ambiguidade não é gerada pelos itens lexicias em si (como

manga, ou banco, por exemplo), nem apenas pelas estruturas sintáticas das sentenças. É, na

verdade, a possibilidade de o pronome ter mais de um referente na sentença que causa a

ambiguidade. Vejamos os exemplos em (13).

(13) a. O professor corrigiu o texto do aluno com a caneta dele.

b. A Maria viu a Joana beijando o seu namorado na festa.

Observe que em (13a), a ambiguidade por correferência ocorre porque o pronome dele pode

ser correfernte de dois elementos na senteça: o professor ou o aluno, ou seja, a caneta pode

pertencer ao docente ou ao discente. Da mesma forma, em (13b) a expressão seu pode retomar a

Joana, o ouvinte a quem a frase foi enunciada, e até mesmo a Maria (ainda que isso seja menos

provável). Sendo assim, Joana pode ter beijado o próprio namorado, o namorado da pessoa para

quem a frase foi dita, ou o namorado da Maria. Tais frases se constituem exemplos claros de

ambiguidade por correferência.

Antes de encerrar o capítulo, vale um breve comentário sobre referências complexas que

envolvem diversos elementos anafóricos num mesmo texto. Novamente, Cançado (2012) é quem

nos inspira a trazer esse tema à discussão. Vejamos um exemplo.

(14) Todo filho pensa que ele vai ser um pai melhor para o seu filho do que o seu pai lhe foi.

Veja como essa sentença é complexa! O que ela informa é que para qualquer indivíduo x, que

é filho, esse x, pensa que vai ser um pai para seu filho, melhor do que o pai de x foi para x. Veja

que, assim, a variável x pode ser substituída por qualquer nome possível de ali entrar, como João,

Pedro, Antônio, José e outros. E, à medida que esse x se alterar, também serão alterados seu pai e

seu filho. Por tudo isso, casos como (14) podem ser chamados de complexos, mas nada que uma

análise bem cuidada não consiga esclarecer. Mãos à obra, agora, com as atividades. Bom

trabalho!

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SÍNTESE

Neste capítulo, discutimos aspectos linguísticos referentes a elementos anafóricos em

português brasileiro. Primeiro, estudamos questões relativas aos sentidos e referências que as

expressões podem denotar. Depois, analisamos a importância dos dêiticos para o estabelecimento

de retomadas anafóricas na língua. Em seguida, analisamos alguns tipos de anáforas, como direta,

indireta e encapsuladora para, finalmente, analisarmos a pontos importantes sobre a sintaxe das

expressões anafóricas.

ATIVIDADES

Atividades de autoavaliação

01 – Sobre referência e sentido, assinale a afirmativa INCORRETA.

a) Referência pode ser definida como a possibilidade de uma expressão levar o indivíduo a

uma entidade no mundo.

b) Sentido são as maneiras pelas quais encontramos uma referência no mundo.

c) Uma entidade no mundo sempre tem várias referências, mas apenas um sentido.

d) Uma entidade no mundo pode ter vários sentidos, mas apenas uma referência.

02 – Sobre as expressões dêiticas, assinale V, para verdadeiro, e F, para falso.

( ) Expressões dêiticas têm valor pronominal, por isso, apenas pronomes podem aparecer no

grupo dos dêiticos.

( ) Dêiticos dependem do contexto em que ocorrem para ter sua referência preenchida.

( ) Os dêiticos carregam um sentido que nunca muda, ao contrário de sua referência.

A sequência correta, de cima para baixo, é:

a) F, V, V

b) V, F, V

c) F, V, F

d) V, F, F

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03 – Assinale a alternativa correta sobre anáforas.

a) Anáforas são expressões linguística cuja referência muda, mas o sentido permanece o

mesmo, de modo que precisam do contexto para serem analisadas.

b) As anáforas nunca têm carga opinativa em sua constituição, porque sua função é

meramente de retomada de elementos.

c) As anáforas são sempre associadas a dêiticos, pois sem estes, aquelas não existem.

d) Anáforas são expressões linguísticas que se referem a um elemento no texto, com o qual

estabelecem uma relação de correferência.

04. Associe os tipos de anáfora às definições que seguem

(1) Anáfora direta

(2) Anáfora indireta

(3) Anáfora encapsuladora

( ) A anáfora não apenas se refere a um elemento citado anteriormente, mas congrega em si

uma parte textual anterior, resumindo-a e, por vezes, com valor avaliativo.

( ) Retomada de um elemento por repetição, ou por outras formas, desde que o elemento de

correferência seja diretamente recuperado no texto.

( ) O falante utiliza um processo de retomada por inferência, ou seja, porque sabe que o ouvinte

vai entender a retomada graças ao seu conhecimento de mundo ou da situação.

05. Marque V, para verdadeiro, e F, para falso, nas afirmações sobre as sentenças a seguir.

(1) Ela vai cortar o cabelo da Maria.

(2) Todo patrão tem um funcionário que quer se livrar dele.

( ) Por restrições sintáticas, o pronome não pode ser correferencial a Maria na sentença em (1).

( ) Na sentença em (1), ela se refere a um elemento fora do texto, mas presente no contexto.

( ) Na sentença em (2), dele faz referência ao sintagma nominal mais próximo, no caso, um

funcionário.

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( ) Na sentença em (2), o caso de ambiguidade é gerado pela possibilidade de dupla

correferência do pronome dele.

Atividades de aprendizagem

(UEL, 2015) - Leia o texto a seguir.

01. Sobre os elementos linguísticos presentes no texto, assinale a alternativa correta.

a) O pronome “a” (linha 1) refere-se à “cavalgada”.

b) O pronome “estes” (linha 2) refere-se a “muros”.

c) O pronome “lhes” (linha 3) refere-se a “guerreiros”.

d) O pronome “todos” (linha 4) refere-se a “árabes”.

e) O pronome “quem” (linha 5) refere-se às “virgens do mosteiro”.

(ENEM, 2014)

Há qualquer coisa de especial nisso de botar a cara na janela em crônica de jornal — eu

não fazia isso há muitos anos, enquanto me escondia em poesia e ficção. Crônica algumas vezes

também é feita, intencionalmente, para provocar. Além do mais, em certos dias mesmo o escritor

mais escolado não está lá grande coisa. Tem os que mostram sua cara escrevendo para reclamar:

moderna demais, antiquada demais. Alguns discorrem sobre o assunto, e é gostoso compartilhar

ideias. Há os textos que parecem passar despercebidos, outros rendem um montão de recados:

“Você escreveu exatamente o que eu sinto”, “Isso é exatamente o que falo com meus pacientes”,

“É isso que digo para meus pais”, “Comentei com minha namorada”. Os estímulos são valiosos

pra quem nesses tempos andava meio assim: é como me botarem no colo — também eu preciso.

Na verdade, nunca fui tão posta no colo por leitores como na janela do jornal. De modo que está

sendo ótima, essa brincadeira séria, com alguns textos que iam acabar neste livro, outros

espalhados por aí. Porque eu levo a sério ser sério... mesmo quando parece que estou brincando:

essa é uma das maravilhas de escrever. Como escrevi há muitos anos e continua sendo a minha

verdade: palavras são meu jeito mais secreto de calar.

LUFT, L. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2004.

Os textos fazem uso constante de recursos que permitem a articulação entre suas partes.

Quanto à construção do fragmento, o elemento

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a) “nisso” introduz o fragmento “botar a cara na janela em crônica de jornal”.

b) “assim” é uma paráfrase de “é como me botarem no colo”.

c) “isso” remete a “escondia em poesia e ficção”.

d) “alguns” antecipa a informação “É isso que digo para meus pais”.

e) “essa” recupera a informação anterior “janela do jornal”.

03. Explique as alternativas da questão anterior, classificando as possíveis anáforas e

mostrando a quais elementos elas se referem no texto.

(UEL, 2014) - Leia o trecho a seguir.

– Sou playboy! – dizia Pardalzinho a todos que comentavam sua nova indumentária. Tatuou no

braço um enorme dragão soltando labaredas amarelas e vermelhas pelo focinho, o cabelo

ligeiramente crespo foi encaracolado por Mosca. Sentia-se agora definitivamente rico, pois se

vestia como eles. O cocota pediu a Mosca que comprasse uma bicicleta Caloi 10 para que

pudesse ir à praia todas as manhãs. Rico também anda de bicicleta. Iria frequentar a praia do

Pepino assim que aprendesse o palavreado deles. Na moral, na moral, na vida tudo é uma

questão de linguagem. Alguns bandidos tentaram fazer chacota do seu novo visual. O traficante

meteu a mão no revólver dizendo que não tinha cara de palhaço. Até mesmo Miúdo prendeu o

riso quando o viu dentro daquela roupa de garotão da Zona Sul.

(LINS, P. Cidade de Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p.261.)

04. Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, o termo a que o pronome

sublinhado se refere.

a) “Sentia-se agora definitivamente rico”: Mosca.

b) “pois se vestia como eles”: Mosca e Miúdo.

c) “assim que aprendesse o palavreado deles”: bandidos.

d) “chacota do seu novo visual”: bandidos.

e) “quando o viu dentro daquela roupa de garotão”: traficante.

05. (UNICAMP, 2013) – Os textos abaixo integram uma matéria de divulgação científica

sobre o tamanho de criaturas marinhas, ilustrada com fotos dos animais mencionados.

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a) Pode-se afirmar que a compreensão do texto 2 depende da imagem que o acompanha.

Destaque do texto a expressão responsável por essa dependência e explique por que seu

funcionamento causa esse efeito.

b) No que diz respeito à organização textual, que diferença se pode apontar entre os dois textos,

quanto ao modo como o pronome ‘eles’ se relaciona com os termos a que se refere?

(FUVEST – 2013) - Examine o seguinte anúncio publicitário:

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a) Qual é a relação de sentido existente entre a imagem de uma folha de árvore e as expressões

“Mapeamento logístico” e “caminho”, empregadas no texto que compõe o anúncio acima

reproduzido?

b) A que se refere o advérbio “aqui”, presente no texto do anúncio?

07. Relacione a questão anterior com o conteúdo analisado neste capítulo 6.

08. (ENEM-2013)

Adolescentes: mais altos, gordos e preguiçosos

A oferta de produtos industrializados e a falta de tempo têm sua parcela de responsabilidade no

aumento da silhueta dos jovens. “Os nossos hábitos alimentares, de modo geral, mudaram muito”,

observa Vivian Ellinger, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia

(SBEM), no Rio de Janeiro. Pesquisas mostram que, aqui no Brasil, estamos exagerando no sal

e no açúcar, além de tomar pouco leite e comer menos frutas e feijão.

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Outro pecado, velho conhecido de quem exibe excesso de gordura por causa da gula,

surge como marca da nova geração: a preguiça. “Cem por cento das meninas que participam do

Programa não praticavam nenhum esporte”, revela a psicóloga Cristina Freire, que monitora o

desenvolvimento emocional das voluntárias.

Você provavelmente já sabe quais são as consequências de uma rotina sedentária e cheia

de gordura. “E não é novidade que os obesos têm uma sobrevida menor”, acredita Claudia Cozer,

endocrinologista da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica.

Mas, se há cinco anos os estudos projetavam um futuro sombrio para os jovens, no cenário atual

as doenças que viriam na velhice já são parte da rotina deles. “Os adolescentes já estão sofrendo

com hipertensão e diabete”, exemplifica Claudia.

DESGUALDO, P. Revista Saúde. Disponível em: http://saude.abril.com.br.

Acesso em: 28 jul. 2012 (adaptado).

08. Sobre a relação entre os hábitos da população adolescente e as suas condições de saúde,

as informações apresentadas no texto indicam que

a) a falta de atividade física somada a uma alimentação nutricionalmente desequilibrada

constituem fatores relacionados ao aparecimento de doenças crônicas entre os

adolescentes.

b) a diminuição do consumo de alimentos fontes de carboidratos combinada com um maior

consumo de alimentos ricos em proteínas contribuíram para o aumento da obesidade

entre os adolescentes.

c) a maior participação dos alimentos industrializados e gordurosos na dieta da população

adolescente tem tornado escasso o consumo de sais e açúcares, o que prejudica o

equilíbrio metabólico.

d) a ocorrência de casos de hipertensão e diabetes entre os adolescentes advém das

condições de alimentação, enquanto que na população adulta os fatores hereditários são

preponderantes.

e) a prática regular de atividade física é um importante fator de controle da diabetes entre a

população adolescente, por provocar um constante aumento da pressão arterial sistólica.

09. A questão acima do ENEM (2013) apresenta estratégias importantes na elaboração das

alternativas e que estão relacionadas a tópicos vistos até aqui neste livro. Seguem algumas

questões para ajudá-lo a refletir sobre essas relações.

a) Na alternativa A, temos um caso de retomada anafórica. Qual é ele, a quem retoma e como se

origina?

b) Por que a alternativa B é falsa? Como a relação de hiperonímia poderia ajudar a verificar essa

falsidade?

10. (ENEM-2013)

Gripado, penso entre espirros em como a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios

entre línguas. Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe que disseminou pela Europa, além do

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vírus propriamente dito, dois vocábulos virais: o italiano influenza e o francês grippe. O primeiro

era um termo derivado do latim medieval influentia, que significava “influência dos astros sobre

os homens”. O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper, isto é, “agarrar”. Supõe-se

que fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo infectado. RODRIGUES, S. Sobre palavras.Veja, São Paulo, 30 nov. 2011.

Para se entender o trecho como uma unidade de sentido, é preciso que o leitor reconheça a

ligação entre seus elementos. Nesse texto, a coesão é construída predominantemente pela

retomada de um termo por outro e pelo uso da elipse. O fragmento do texto em que há coesão

por elipse do sujeito é:

a) “[...] a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre línguas.”

b) “Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe [...]”.

c) “O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que significava

‘influência dos astros sobre os homens’.”

d) “O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper [...]”.

e) “Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo

infectado.”

11. No mesmo trecho, há outras formas de referência por elipse. Encontre pelo menos uma

e indique a quem se refere.

(UFMG, 2012)

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12. INDIQUE os elementos a que cada um destes termos, ou expressões, faz referência no

texto:

Adultos (linha 2):

Caçadores mercenários (linha 2):

Ela (linha 4):

Nos exemplos acima (linha 8):

Essa sintonia (linha 20):