6628029 14Estudo de ComposiCOes de Custo de ServiCos Executados Em Obras de Restauro

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MARCIO JOPPERT

ESTUDO DE COMPOSIES DE CUSTO DE SERVIOS EXECUTADOS EM OBRAS DE RESTAURO

Dissertao submetida ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense como

requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Engenharia Civil. rea de

concentrao: Engenharia Civil.

Orientador: Prof. VICENTE CUSTDIO MOREIRA DE SOUZA PhD Co-orientador: Prof. NELSON PORTO RIBEIRO - DSc

Niteri, RJ 2003

J81

Joppert, Marcio Estudo de composies de custo de servios

executados em obras de restauro / Marcio Joppert . Niteri, RJ : [s.n.], 2003. 117 f.

Orientador: Vicente Custdio Moreira de Souza. Dissertao (Mestrado em Engenharia Civil) -

Universidade Federal Fluminense, 2003.

1. Construo civil Conservao e restaurao. 2. Construo civil Custos. 3. Edificaes - Manuteno. I. Ttulo.

CDD 692.5

MARCIO JOPPERT

ESTUDO DE COMPOSIES DE CUSTO DE SERVIOS EXECUTADOS EM OBRAS DE RESTAURO Dissertao submetida ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Engenharia Civil. rea de concentrao: Engenharia Civil. Aprovada em __________________________________________ Prof. Vicente Custdio Moreira de Souza, PhD Universidade Federal Fluminense __________________________________________ Prof. Carlos Alberto Pereira Soares, DSc Universidade Federal Fluminense __________________________________________ Prof. Nelson Porto Ribeiro, DSc Universidade Federal do Esprito Santo

Niteri 2003

AGRADECIMENTOS Ao Prof. Vicente Custdio de Souza, pelo incentivo em minha carreira e estmulo participao neste Programa de Ps-Graduao. Ao Prof. Nelson Porto Ribeiro, pela colaborao no referencial terico desta dissertao, sem o qual esse trabalho no teria a forma atual. Aos colegas do Grupo Casares, em especial a Jeanne Marques e a Ktia Allende, pela ajuda nos trabalhos realizados no laboratrio. Aos colegas do mestrado, em especial aos tambm parceiros nos almoos das sextas, Alessandra, Carlos Henrique, Isabela, Manoel, Ricardo, Thais e Viviane. R.G. Crtes Engenharia, pelo fornecimento de materiais utilizados no programa experimental. pera Prima Arquitetura e Restauro, na figura do arquiteto Wallace Caldas, pelo subsdio tcnico e por compreender minha ausncia algumas vezes do trabalho, para realizar esta dissertao. colega de trabalho Carla Codeo Coelho, pela edio dos desenhos. amiga Rita, a quem gosto como uma irm, pela sua generosidade e disposio na reviso desse trabalho. Aos meus pais por minha formao e ao meu irmo por sua amizade. CAPES pelo suporte financeiro ao longo do curso. minha filha Manuela, recm chegada, por ter alegrado meus dias nessa reta final de trabalho. minha esposa Kika, pela sua pacincia e tolerncia nos momentos de estresse, pelo carinho, dedicao e pelo nosso amor.

De todas as obras humanas, as que mais amo So as que foram usadas. Os recipientes de cobre com as bordas achatadas e com as Mossas Os garfos e facas cujos cabos de madeira Foram gastos por muitas mos: tais formas So para mim as mais nobres. Assim tambm as lajes Em volta das velhas casas, pisadas e Polidas por muitos ps, e entre as quais Crescem tufos de grama: estas So obras felizes.

Admitidas no hbito de muitos Com freqncia mudadas, Aperfeioam seu formato e tornam-se valiosas Porque delas tantos se valeram. Mesmo as esculturas quebradas Com suas mos decepadas, me so queridas. Tambm elas So vivas para mim. Deixaram-nas cair, mas foram carregadas. Embora acidentadas, jamais estiveram altas demais. As construes quase em runa Tm de novo a aparncia de incompletas Planejadas genorosamente: suas belas propores J podem ser adivinhadas; ainda necessitam porm De nossa compreenso. Por outro lado Elas j serviram, sim, j foram superadas. Tudo isso Me contenta.

(Bertold Brecht)

RESUMO As edificaes, com o passar dos anos, que normalmente j sofrem com os desgastes fsico-qumicos e biolgicos, podem sofrer tambm com aes equivocadas do homem ou com a falta de manuteno.Este trabalho reuniu algumas anomalias, comuns aos sistemas construtivos de edificaes, situadas prximas ao Rio de Janeiro, nos perodos colonial e imperial e estudou as tcnicas que satisfaam ao quesito de qualidade em obra de restaurao. Seguiu-se a anlise dos servios para compor os seus custos, considerando os procedimentos especficos do restauro arquitetnico e outros procedimentos coadjuvantes, porm necessrios para a salvaguarda do monumento, como proteo e acesso provisrios, se for o caso, para execuo do objetivo principal, que o tratamento da anomalia. A composio dos custos est baseada em ndices da construo civil publicados por empresas pblicas e privadas e apropriaes de laboratrio e de observaes prticas colhidas em campo e atravs de entrevistas, pelo autor.

ABSTRACT Normally through the years, the buildings already suffer with the physical, chemical and biological wearing offs. They can also suffer with the wrong action from men or/and lack of maintance. This work has selected some anomalies, common to the cariocas building systems from the colonial and the imperial periods as well in order to analyse the techniques that fulfilled the quality criteria in the restoration work. That was followed by the detailed analysis of each work involved in order to make up its cost. Futhermore, it was taken into consideration the specific procedures of the restoration and secondary procedures used as protection and provisional passage ways to execute the main objective, that is, the restoration. The costs composition is based on indices of the civil construction published by public and private enterprises and personal research with pratical field work.

Niteri2003 .....................................................................................................................i AGRADECIMENTOS ..................................................................................................i RESUMO........................................................................................................................i ABSTRACT....................................................................................................................i 1 INTRODUO ..................................................................................................15 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 2 CONSIDERAES GERAIS........................................................................ 15 PROBLEMATIZAO .................................................................................17 OBJETIVOS.................................................................................................. 18 METODOLOGIA..........................................................................................19 ESTRUTURAO ........................................................................................ 20

DESCRIO DOS SERVIOS .......................................................................21 1.2 2.2 2.3 2.4 2.4.1 2.4.2 2.4.3 2.5 2.6 2.6 2.7 Hidratao da cal virgem............................................................................. 21 revestimentos ................................................................................................ 25 CAIAO ..................................................................................................... 29 RECUPERAO ESTRUTURAL DE ALVENARIAS .................................. 31 Consolidao de fissuras em alvenaria de tijolo macio ..........................31 Consolidao de fissuras em alvenaria de cal e pedra.............................. 35 Reestruturao de alvenaria de pau a pique.............................................. 36 CONSOLIDAO DE REBOCOS BASE DE CAL...................................38 MINORAO DOS EFEITOS DA UMIDADE ASCENDENTE ..................39 CONSOLIDAO DE MADEIRA COM ENXERTO DE PRTESE........... 44 EMENDA EM VIGA DE MADEIRA REFORADA COM TALAS DE AO 46 2.8 2.9 2.10 RECONSTRUO ESQUADRIAS EM MADEIRA......................................48 recuperao de telhado colonial .................................................................. 50 RESTAURAO DE CANTARIAS em gnaissE............................................57

16 2.11 3 4 TRATAMENTO DE ELEMENTOS METLICOS ........................................64

TRABALHO EXPERIMENTAL...................................................................... 62 COMPOSIO DE CUSTOS........................................................................... 66 4.1 4.2 4.2.1 4.2.2 4.3 4.3.1 4.3.2 4.4 4.4.1 4.4.2 4.5 4.5.1 4.5.5.1 4.5.1.2 4.5.2 4.5.2.1 4.5.2.2 CRITRIOS CONSIDERADOS.................................................................... 66 HIDRATAO DA CAL............................................................................... 68 Consideraes........................................................................................... 68 Memria ................................................................................................... 69 APLICAO DE ARGAMASSA................................................................... 71 Consideraes........................................................................................... 71 Memria ................................................................................................... 73 CAIAO ..................................................................................................... 82 Consideraes........................................................................................... 82 Memria ................................................................................................... 83 REESTRUTURAO DE ALVENARIAS ..................................................... 85 Consolidao de fissuras em alvenaria de tijolo macio ..........................85 Consideraes ........................................................................................ 85 Memria................................................................................................. 86 Consolidao de fissuras em alvenaria de pedra e cal..............................88 Consideraes ........................................................................................ 88 Memria................................................................................................. 89

4.5.3 - Reestruturao de alvenaria de pau a pique .............................................. 91 4.5.3.1 Consideraes ........................................................................................ 91 4.5.3.2 4.5 4.5.1 4.5.2 4.6 4.6.1 4.6.2 Memria................................................................................................. 95

CONSOLIDAO DE REBOCOS BASE DE CAL...................................97 Consideraes........................................................................................... 97 Memria ................................................................................................... 98 MINORAO DOS EFEITOS DA UMIDADE ASCENDENTE ..................99 Consideraes........................................................................................... 99 Memria ................................................................................................. 101

17 4.8 4.8.1 4.8.2 4.9 CONSOLIDAO DE MADEIRA COM ENXERTO DE PRTESE......... 102 Consideraes......................................................................................... 102 Memria ................................................................................................. 104 EMENDA EM VIGA DE MADEIRA REFORADA COM TALAS DE AO 106 4.9.1 4.9.2 4.10 Consideraes......................................................................................... 106 Memria ................................................................................................. 107 reconstruo de esquadria eM madeira..................................................... 108 Consideraes ....................................................................................... 108 Memria ................................................................................................. 109 recuperao de telhado colonial ................................................................ 111 Consideraes ....................................................................................... 111 Memria ................................................................................................. 119 RESTAURAO DE CANTARIAS EM GNAISSe ...................................... 120 Consideraes ....................................................................................... 120 Memria................................................................................................ 122

4.10.1 4.9.2 4.11

4.11.1 4.11.2 4.12

4.12.1 4.12.1 4.13

TRATAMENTO DE ELEMENTOS METLICOS ......................................127 Consideraes ....................................................................................... 127 Memria................................................................................................ 128

4.13.1 4.13.2

Foto 1 Fissura em alvenaria de adobe ............................................................................... 32 Figura 2 Substituio e retirada de tijolos ........................................................................ 34 Figura 3 Trmino da substituio dos tijolos e revestimento da consolidao .............. 34 Figura 4 Vista da fissura e esquema da furao ................................................................ 36 Foto 2 - Tabique sem revestimento ....................................................................................... 38 Foto 3 Fasquios novos colocados ........................................................................................ 38 Figura 5 - Seo tpica da canaleta ....................................................................................... 42 Figura 6 Detalhe das placas drenante e de estabilizao ................................................. 43 Foto 4 Trincheira drenante................................................................................................. 43 Foto 5 Placa drenante.......................................................................................................... 44 Foto 6 Fundo da calha ......................................................................................................... 44 Figura 7 Detalhe da tala de ao .......................................................................................... 48 Foto 7 Emenda de topo com talas de ao........................................................................... 48 Figura 8 Esquema da porta com elevao e corte ............................................................ 49 Figura 9 Detalhe da calha de drenagem ............................................................................ 53 Foto 8 Cobertura destelhada .............................................................................................. 54 Foto 9 Desenvolvimento de sub cobertura Tyvek............................................................. 54 Foto 10 Aplicao de contra caibro e ripamento .............................................................. 55 Foto 11 Assentamento de telhas ......................................................................................... 55 Foto 12 Corte de acabamento do rinco............................................................................ 55 Foto 13 Telhado arrematado .............................................................................................. 56 Foto 14 Cumeeira com bebedouro/suspiro........................................................................ 56 Foto 15 Movimentao diria da proteo provisria ..................................................... 56 Foto 16 lavagem com adstringente e escovao ................................................................ 62 Foto 17 trs aplicaes de AB57 sobre polpa de papel..................................................... 62 Foto 18 Moagem de gnaisse ................................................................................................ 63 Foto 19 Colmatao de aberturas e falhas ........................................................................ 63 Foto 20 Embasamento em gnaisse com desplacamento ................................................... 64 Foto 18 Arranque da alvenaria .......................................................................................... 63 Foto 19 Cintamento da parede ........................................................................................... 63

Quadro 1 Encargos incidentes sobre o salrio/hora, adaptado de DIAS, P.R.V. .......... 67 Quadro 2 Salrio-hora (agosto de 2003), encargos e alguns benefcios.......................... 68 Quadro 3 Produo estimada e fator de utilizao .......................................................... 69 Quadro 4 Custo dos utenslios utilizados........................................................................... 70 Quadro 5 Composio do custo da pasta de cal................................................................ 71 Quadro 6 Custo de andaime torre com 2,0 m x 1,0 m em planta.................................72 Quadro 7 Custo/m3 das cirandas........................................................................................ 74 Quadro 8 Custo do m3 dos agregados aps o preparo ..................................................... 75 Quadro 9 - Composio do custo da confeco da masseira ..............................................75 Quadro 10 Custo por m3 dos utenslios no preparo de argamassa .................................75 Quadro 11 Composio da argamassa I - de cal e areia (1:3) ......................................... 76 Quadro 12 Composio da argamassa II - de cal e terra preta (1:3)..............................76 Quadro 13 Composio da argamassa III - de cal, areia e saibro (1:1,5:1,5) ................ 77 Quadro 14 Composio da argamassa IV - de cimento, cal e areia (1:1:3).................... 78 Quadro 15 Composio de custo do anteparo protetor ................................................... 79 Quadro 16 Custo/m2 dos utenslios de aplicao de argamassa ...................................... 79 Quadro 17 Consumo de mo de obra em revestimento ................................................... 80 Quadro 18 Custo/m2 de aplicao da argamassa I R$ 41,72 ........................................ 80 Quadro 19 Custo/m2 de aplicao da argamassa II R$ 41,32....................................... 81 Quadro 20 Custo/m2 de aplicao da argamassa III R$ 41,48 ..................................... 81 Quadro 21 Custo/m2 de aplicao da argamassa IV R$ 44,07 .....................................81 Quadro 22 Custo dos utenslios para preparao de tinta .............................................. 83 Quadro 23 Custo da preparao da tinta.......................................................................... 83 Quadro 24 Custo dos utenslios utilizados na caiao......................................................84 Quadro 25 Custo da caiao............................................................................................... 84 Quadro 26 Composio do custo da plataforma de servio (exterior/interior) ............. 87 Quadro 27 Composio do custo da costura de fissura em alvenaria de adobe ............ 87 Quadro 28 Clculo do custo mensal de perfuratriz .........................................................89 Quadro 29 Composio da argamassa de colmatao ..................................................... 90 Quadro 30 Custo unitrio da consolidao da fissura .....................................................90 Quadro 31 Composio do custo da argamassa de recheio ............................................. 93 Quadro 32 Consumo de mo de obra em h/m2 de pau a pique .......................................94 Quadro 33 Projeo do tempo consumido por andaime.................................................. 95 Quadro 34 Composio do custo da soluo imunizadora .............................................. 96

16 Quadro 35 Composio de custo da alvenaria.................................................................. 96 Quadro 36 Composio de custo da consolidao de reboco .......................................... 98 Quadro 37 Composio do custo da canaleta de drenagem .......................................... 102 Quadro 38 Custo do desgaste de ferramenta .................................................................. 104 Quadro 39 Composio do custo da argamassa ............................................................. 105 Quadro 40 Composio do custo da consolidao com enxerto em argamassa ..........105 Quadro 41 Composio do custo da consolidao com enxerto em madeira ..............105 Quadro 42 Consumo de mo de obra em horas.............................................................. 107 Quadro 43 Composio de custo da emenda .................................................................. 108 Quadro 44 Custo de aquisio das ferramentas ............................................................. 109 Quadro 45 Custo do material aplicado............................................................................ 110 Quadro 46 Consumo da mo de obra empregada em horas ......................................... 110 Quadro 47 Composio do custo da porta ...................................................................... 110 Quadro 48 - Consumo parcial de mo de obra para execuo do telhado...................... 113 Quadro 49 Custo parcial de mo de obra ....................................................................... 119 Quadro 50 Custo da preparao da soluo biocida...................................................... 122 Quadro 51 Custo da aplicao da soluo biocida ......................................................... 122 Quadro 52 Custo da preparao da soluo adstringente............................................. 123 Quadro 53 Custo da aplicao da soluo adstringente ................................................ 123 Quadro 54 Custo da preparao da frmula do AB57 ..................................................123 Quadro 55 Custo da aplicao do emplastro de AB57...................................................124 Quadro 56 Custo da preparao do rejunte ................................................................... 124 Quadro 57 Custo da aplicao do rejunte ....................................................................... 125 Quadro 58 Custo do preparo da resina para injeo..................................................... 125 Quadro 59 Custo da consolidao de desfolhamento..................................................... 126 Quadro 60 Custo da preparao da argamassa.............................................................. 126 Quadro 61 Custo da colmatao do bordo desplacado .................................................. 127 Quadro 62 Custo do tratamento superficial ................................................................... 127 Quadro 63 Consumo de mo de obra dos sub servios em tratamento de gradis .......129 Quadro 64 Consumo de insumos para tratamento de gradis........................................ 129

1

INTRODUO

1.1

CONSIDERAES GERAIS Este estudo dedica-se a definir uma metodologia para compor o custo de

determinados servios que normalmente precisam ser realizados em edificaes histricas, degradadas pelas intempries, por agentes qumicos, fsicos ou biolgicos, pela ao do homem ou pela falta de manuteno. A observao de edificaes em processo de deteriorao, dentro de uma determinada regio, limitada e unificada por fatores distintos tais como a tradio nas tcnicas construtivas empregadas, as caractersticas similares nos materiais construtivos utilizados e sujeitos a fatores semelhantes de degradao a intempries, mostra que algumas anomalias so comuns a quase todas as edificaes que esto sofrendo esse processo. Esse estudo se concentrar nos servios ditos comuns em obras de restauro, que foram eleitos em razo da alta freqncia em que necessitam ser realizados. As edificaes, com o passar dos tempos, podem apresentar recalques diferenciais nas fundaes, que fazem suas alvenarias portantes acomodarem-se com tenses internas que propiciam o aparecimento de fissuras. A estrutura de madeira do telhado, que no incio de sua vida funcionava adequadamente, com o passar do tempo padece do fenmeno da fluncia, que so deformaes diferidas no tempo para o mesmo carregamento inicial. A ocorrncia de um ou mais fenmenos conjugados afeta a edificao, e pode permitir a entrada de gua atravs das fissuras nas alvenarias ou pelas fendas desenvolvidas nos elementos que compem o telhado, como calhas, rufos, espiges, cumeeiras e rinces. A exposio da edificao umidade acelera a deteriorao de pinturas, revestimentos,

16 argamassas de assentamento de alvenarias e elementos de madeira, por ao de fungos e/ou xilfagos, pelo desgaste ou pela deteriorao qumica das argamassas. Alm da umidade proveniente de infiltraes pluviais, existe a contribuio da umidade ascendente nas alvenarias, proveniente do solo em torno das fundaes. A umidade penetra em estado lquido na base da alvenaria e geralmente no encontra empecilho para percolar. O material poroso da alvenaria propicia o transporte da gua para cima, por efeito de capilaridade, e a determinada altura a coluna dgua evapora e sai para a atmosfera, estabelecendo assim um equilbrio hidrodinmico entre o teor de gua que penetra e o teor de gua que evapora. Um dos maiores inconvenientes do fluxo de umidade dentro da alvenaria a possibilidade de transporte de sais dissolvidos. Quando a soluo evapora ocorre a cristalizao e deposio dos sais nos vazios, com conseqente aumento de volume, o que pode provocar enormes presses dentro dos poros e conseqentemente a ruptura dos materiais que compem a alvenaria (BEICHEL, 1997, p.358). Para no alongar muito a quantidade de servios custeados, esse trabalho focalizar algumas anomalias e os respectivos servios de reparao, que podem ser encontradas em edificaes construdas com tcnicas dos perodos colonial e imperial na cidade do Rio de Janeiro e nas suas proximidades. Assim, os servios que integram esse estudo so a hidratao de cal virgem, a aplicao de revestimentos com argamassas base de cal e a pintura base de cal, que foram experimentados no Laboratrio de Estruturas da Ps-graduao em Engenharia Civil da UFF, alm de consolidao de alvenarias fissuradas, consolidao de rebocos base de cal descolados do substrato, minorao da umidade ascendente em alvenaria atravs de canaleta de drenagem, consolidao de madeiramento, com a tcnica de enxerto de prtese, em madeira similar original, com resina e aplicao de reforos com talas metlicas em vigas de madeira, recuperao e consolidao de esquadrias de madeira, recuperao de telhado colonial de edificao tombada, restaurao de cantarias e tratamento de elementos metlicos.

17 1.2 PROBLEMATIZAO Nas ltimas dcadas houve um crescente interesse na preservao de bens culturais. Assim, uma srie de polticas de incentivos tem sido implementada visando preservar e/ou restaurar bens imveis com interesse histrico. Como exemplo dessas polticas tem-se a revitalizao do Pelourinho, em Salvador, Bahia, do corredor cultural, no Centro do Rio de Janeiro, do porto de Fortaleza, onde se localiza o Centro Cultural Drago do Mar, entre outros. Um projeto destinado a restaurar um patrimnio arquitetnico pode requerer uma interao multidisciplinar, tais so as incertezas relativas s tcnicas mortas utilizadas no passado. Assim, comum, em um projeto complexo, que cincias como Arqueologia, Histria e Engenharia, entre outras, sob a coordenao de outra com viso humanstica, geralmente a Arquitetura, interajam para a sua realizao. Hoje se dispe de planilhas de empresas como as da Editora PINI (tabelas de composies de preos para oramentos TCPO, 1975) e as da Empresa de Obras Pblicas (EMOP, 1997) do Governo do Estado do Rio de Janeiro, que servem de referncia para a elaborao da composio de custos de servios especficos. Essas planilhas, contudo, normalmente destinam-se realizao de obras novas, no contemplando determinados procedimentos especficos que so prprios dos servios em obras de restauro. Nesse trabalho, alguns servios valeram-se de apropriaes feitas por essas duas empresas complementadas por apropriaes executadas em campo e/ou em laboratrio. A avaliao incorreta nos custos dos servios pode levar uma empresa, aspirante a executar determinada obra, a perder a concorrncia, no caso de composies super-dimensionadas, ou a arcar com os prejuzos decorrentes de composies sub-dimensionadas, caso a mesma vena a concorrncia. A engenharia de custos proposta nesse trabalho pode ser aperfeioada e adaptada atravs do acompanhamento e controle, durante a execuo da restaurao, onde, atravs de um trabalho paciente e disciplinado, o residente do canteiro de obras

18 poder confirmar ou adaptar para a nova situao as composies de custos que interessem empresa para qual trabalha. O mercado de obras de restaurao tem-se mostrado competitivo, com o surgimento de empresas interessadas em explorar esse segmento e ter seu nome associado a empreendimentos de preservao do patrimnio histrico. Por outro lado, tem-se observado algumas vezes a falta de preparo dos contratantes na apropriao de custos, com o sub-dimensionamento de suas bases oramentrias, estipulando preos unitrios ou finais deficitrios para adequar-se ao volume de recursos disponveis. Assim, grande a responsabilidade do oramentista, pois alm de desenvolver o oramento em prazos curtos, deve faz-lo de forma a obter o preo mnimo competitivo e auferir o lucro esperado.

1.3

OBJETIVOS Este trabalho tem como objetivos:

descrever os procedimentos, os materiais, os equipamentos e os profissionais necessrios para a execuo dos servios elencados inicialmente; elaborar planilhas de composio de custos unitrios dos servios definidos, que sirvam de parmetro para que os profissionais envolvidos em oramentos de projetos de restaurao apropriem seus respectivos custos de maneira adequada e acurada. Os servios foram escolhidos em funo de sua alta freqncia de ocorrncia,

em obras de conservao e de restaurao, e pela oportunidade de serem observados pelo autor nas obras em que foi residente ou teve conhecimento. Assim, tm-se: servio bsico - hidratao da cal virgem: beneficiamento da matria prima; revestimentos (traos em volume): o cal e areia no trao 1:3- argamassa I; o cal e terra preta no trao 1:3- argamassa II; o cal, saibro e areia no trao 1:1,5:1,5- argamassa III; o cimento, cal e areia no trao 1:1:3- argamassa IV;

19 caiao; reestruturao em alvenarias: o de tijolo macio cru (adobe); o de cal e pedra; o de pau a pique; consolidao de rebocos base de cal; minorao dos efeitos da umidade ascendente; consolidao de madeiramento, com enxerto de prtese; emenda em vigas de madeira reforada com talas de ao; recuperao e consolidao de esquadrias de madeira; recuperao funcional de telhado colonial em edificao tombada (estudo de caso); restaurao de cantarias; tratamento bsico de elementos metlicos (limpeza, desoxidao e aplicao de protetivo).

1.4

METODOLOGIA Alguns servios necessrios na restaurao de edificaes histricas so

compostos de procedimentos comuns Engenharia Civil, e outros especficos da restaurao arquitetnica. Assim, tomando como base as composies dos custos das TCPO (1975) e da EMOP (1997), j citadas, as apropriaes da demanda de materiais em laboratrio e no campo, o consumo de mo de obra, apontado em obras que tenham em seu escopo servios comuns a esta pesquisa, e entrevista com arteses e restauradores, sero demonstradas as composies de custos dos servios eleitos. Na primeira etapa do trabalho foi feita uma investigao, com a identificao das principais anomalias normalmente encontradas, em edificaes antigas, atravs de pesquisa bibliogrfica e observaes prticas, em edificaes antigas. Seguiu-se o estudo de algumas tcnicas utilizadas na restaurao dessas anomalias, com a apropriao de consumo de mo de obra e de materiais e o custo dos utenslios e equipamentos empregados na realizao dos servios.

20 O termo composio de custo, muitas vezes utilizado neste trabalho, o custo direto, definido por DIAS (2001, p.12) como a soma dos insumos que ficam incorporados ao produto, que, acrescido do custo indireto, definidos pelo mesmo autor como a soma de itens de custo como a administrao da obra, as tarifas das concessionrias de servios pblicos e aqueles que incidem sobre o preo de venda ou valor nominal da nota fiscal, como administrao central e impostos, formam o custo total do empreendimento. A soma do custo total com o lucro esperado resulta no preo de venda do empreendimento. As composies de custos estudadas no contemplam o consumo de homens-hora de algumas categorias, como engenheiro, arquiteto, mestre, encarregado, almoxarife, operador de guincho, vigia e demais categorias consideradas como formadoras do custo indireto. A apropriao dos custos indiretos feita em separado no oramento e uma funo das caractersticas de cada obra.

1.5

ESTRUTURAO No Captulo 2 so apresentados os servios eleitos, com as descries dos

procedimentos necessrios ao seu desenvolvimento obtidos das consideraes de alguns autores, ou observados na prtica de laboratrio e/ou de campo. A descrio do programa experimental, no Captulo 3, inclui a especificao tcnica dos materiais e dos utenslios utilizados, assim como a apropriao do consumo de insumos componentes dos custos dos trs servios que foram experimentados. No Captulo 4 so apresentadas, sob a forma de Quadros, as composies de custos unitrios dos servios de restaurao e de manuteno dos servios eleitos e finalmente, no Captulo 5, so feitas consideraes sobre alguns critrios adotados nas composies de custos e, em seguida as concluses do trabalho.

2

DESCRIO DOS SERVIOS

1.2

HIDRATAO DA CAL VIRGEM Com a crescente utilizao do cimento Portland, a partir do final do sculo

XIX, em substituio pasta de cal, a produo da mesma decresceu no ltimo sculo e atualmente, no Rio de Janeiro, encontrada industrializada, sob a forma hidratada em p. Para servios de restaurao do patrimnio histrico normalmente exigido o uso de pasta de cal, obtida atravs da hidratao da cal virgem em pedras (CaO), por sua melhor performance em relao cal hidratada em p, que pode possuir na sua composio anidrido carbnico, xidos no hidratados e uma parcela de material j carbonatado, portanto com menor poder aglutinante (GUIMARES, 1997, p.259). A cal virgem resulta da dissociao trmica do calcrio, dolomito ou concha calcria. Quando provm de rochas carbonatadas puras, a cal virgem um produto inorgnico de cor branca. A presena de outra colorao indica que a cal virgem contm impurezas. Ao ser colocada em contato com a gua, a cal virgem reage de modo exotrmico, formando o hidrxido de clcio, Ca(OH)2 pasta de cal, com desprendimento de calor da ordem de 272 (kcal/kg de cal) para cales altas em clcio. Isso significa que 1 kg de cal suficiente para elevar 2,3 kg de gua da temperatura de 12o C para 100o C (GUIMARES, 1997, p. 72), o que torna o procedimento de hidratao da cal um procedimento cauteloso e, portanto, naturalmente mais dispendioso. O ciclo da cal, derivado do calcrio puro, para emprego na construo civil, pode ser resumido nas reaes escritas abaixo: MINERAL (CaCO3) + CALOR CaO + CO2 (CALCINAO)

22 CaO + H2O Ca(OH)2 + CALOR Ca(OH)2 + CO2 CaCO3 + H2O (HIDRATAO) (CARBONATAO)

A pasta de cal ao endurecer tem as pequenas partculas de hidrxido aglomeradas, que assim formam cristais, e esses vo aumentando em nmero e tamanho medida que a gua vai evaporando. No caso de argamassas, esses cristais se entrelaam formando uma malha espacial resistente, que incorpora os gros inertes. Alm do desenvolvimento natural do cristal do hidrxido, o mesmo reage com o anidrido carbnico atmosfrico, transformando-se em carbonato. Nessa transformao h o aumento de volume da estrutura cristalina unitria na ordem de quatro vezes. Esse aumento dos cristais provoca expanses e compactao da matriz da argamassa, que assim refora as interfaces da malha formada e enrijece o sistema. O produtor de cal virgem mais prximo da capital fluminense situa-se na regio metropolitana de Belo Horizonte e a quantidade mnima vendida de uma tonelada. Assim, por se tratar de produto com qualidade decrescente com o passar do tempo e com validade mxima de 90 dias (GUIMARES, 1997, p. 105), contados a partir da fabricao, quando bem estocado, interessante montar uma estrutura mnima para receber, estocar, hidratar e maturar pelo menos 1000 kg de cal virgem. A relao entre o peso de cal virgem e o volume de pasta obtido, ou seja, o rendimento, depender das caractersticas da jazida de calcrio e do processo de calcinao do minrio. Seguem alguns exemplos de rendimentos pesquisados. item 04.092 das TCPO (1975) p.48 670 kg cal/m3 de pasta; exemplo prtico nmero 1 PIANCA (1973 p.189) 800kg cal/m3 de pasta; no Laboratrio de Estruturas, a hidratao em pequena escala de 150 kg de cal virgem produziu 240 l de pasta de cal. Extrapolando essa relao, resulta em 625 kg cal/m3 de pasta, que foi o rendimento considerado na composio de custos. As etapas descritas a seguir renem alguns controles, com testes de qualidade, alm dos utenslios utilizados e de uma rotina com procedimentos para uma hidratao segura e completa da quantidade mnima comercializada.

23 Etapas: I) Recebimento da cal virgem no canteiro ou depsito central (GUIMARES, 1997, p.96). Controle expedito recomendado pela Associao Brasileira dos produtores de Cal - ABPC: teste de qualidade I (finura) - hidratao com agitao da amostra por alguns minutos em um pequeno recipiente. A mistura forada a passar na peneira # 200 com o auxlio de um leve esguicho dgua. Quando o filtrado estiver claro, a parte retida deve ser pequena (menor que 15% da amostra, avaliao a olho); teste de qualidade II diluir 1 parte de HCl em 9 partes de gua. Essa soluo, ao ser colocada sobre a amostra de cal, no deve produzir excesso de bolhas, o que indicaria elevado teor de pedras no calcinadas. Caso a reao seja tranqila e se, aps alguns minutos de agitao, a quantidade de precipitado resultante do ataque cido for inferior a 12 %, trata-se de cal de boa qualidade. II) Hidratao da cal virgem apropriao necessria para a hidratao de 1000 kg de cal em pedra. Equipamentos e utenslios: 4 tonis de plstico rgido de 200 l; 4 caixas dgua de amianto de 500 l; 4 tonis de plstico rgido de 70 l; 5 baldes de 12 l; 2 conjuntos de EPI (culos, luva, capacete, jaleco de manga comprida, bota de borracha);

24 peneira # 2,36 mm, do tipo ciranda quadrada, ajustada dimenso da caixa de 500 l; peneira redonda # 20 mm, ajustada boca do tambor de 200 l, com conteno lateral em forma tronco-cnica; carrinho para transporte dos tonis carregados; carrinho de mo; 1 enxada, 1 p de bico reto e colher grande de pedreiro. Procedimentos: encher com gua os tonis de 200 l at a altura de 50 cm; passar o contedo de 1 saco (30 kg) em grade de malha quadrada com 20 mm de abertura sobre o tonel com gua; moer as pedras retidas; misturar e homogeneizar por aproximadamente 5 minutos; caso a mistura borbulhar intensamente, acrescentar mais gua; aps esfriar (4 horas), descarregar o contedo dos 4 tonis de 200 l,

forando os gros maiores com uma colher de pedreiro atravs de uma ciranda horizontal de peneira # 2,36 mm sobre uma das caixas de 500 l; o excedente de gua de cal poder ser guardado nos tonis de 70 l para hidrataes posteriores;

25 o volume de pasta de cal hidratada produzido por 8,5 sacos de 30 kg dever caber com folga na caixa de maturao de 500 l, para permitir os procedimentos de mistura e homogeneizao da pasta; deixada em repouso, a pasta precipitar e a gua excedente ir sobrenadar. A fim de evitar-se carbonatao pr-matura do hidrxido de clcio, necessrio manuteno de um espelho de gua sobre a pasta; tampar e aguardar 24 horas; durante 15 dias a pasta em maturao depositada nas caixas de 500 l dever ser misturada 3 vezes ao dia (5 minutos cada), para homogeneizao e ganho de plasticidade. Decorrido esse prazo de maturao, a cal hidratada est apta para ser empregada como aglutinante em argamassas ou pinturas. Nesse trabalho, o procedimento de hidratao ocorreu em dias quentes, portanto no houve a necessidade de aquecimento prvio da gua utilizada. Quando a hidratao se realizar em temperaturas mais baixas, recomenda-se seguir a instruo de KANAN (I-1996), aquecendo a gua de hidratao para no retardar o processo ou at mesmo inviabiliz-lo.

2.2

REVESTIMENTOS O custo da restaurao de revestimento depende do estado em que ele se

encontra, se possui pintura decorativa ou no, se externo ou interno e em que altura mdia se realiza o trabalho. A existncia de pintura decorativa, com interesse histrico, sobre o reboco com descolamento do emboo, pode exigir tcnica apurada para uma consolidao segura, como escoramento, conteno da superfcie descolada, furao e preparao para injeo de resinas, de elevado custo, na interface emboo/reboco sob a pintura que se deseja preservar.

26 O fato de o revestimento ser externo pode gerar custo adicional, devido aos procedimentos de cura na argamassa aplicada, em painis sujeitos a insolao e ventos. Se o servio realizado em nvel elevado e distante do solo, os custos da locao e da montagem/desmontagem de andaimes devem ser considerados. O estado da deteriorao do revestimento original influencia, no caso de remoo cuidadosa na limpeza e na preparao da superfcie da base. Por ltimo, o tipo de agregado utilizado na argamassa afeta discretamente o custo do m2 de revestimento aplicado. Abaixo segue uma rotina de recebimento e preparao da areia, o agregado mais nobre dentre os manipulados no programa experimental, assim como os procedimentos de aplicao e cura da argamassa. Etapas: I) Recebimento da areia no canteiro. Classificao granulomtrica (GUIMARES, 1997, p. 184): fina - 0,15 a 0,6 mm; mdia - 0,6 a 2,4 mm; grossa - 2,4 a 4,8 mm. Teste recomendado (GUIMARES, 1997, p.188) colocar uma amostra de areia em um frasco, adicionar certa quantidade de gua, agitar noventa vezes horizontalmente e deixar em repouso por 20 minutos. Se a fase lquida da mistura for clara, a amostra ensaiada de boa qualidade; se for turva, provavelmente trata-se de areia de m qualidade. Se a relao entre as alturas dos gros maiores e dos gros finos for maior que 0,75, considera-se atendida a condio granulomtrica. II) Operao de cirandagem.

27 Esse procedimento necessrio quando se deseja aproximar as texturas das argamassas original e reparadora e consiste na separao da areia nas faixas granulomtricas, acima mencionadas, para recomposio semelhante curva granulomtrica desejada. Este um procedimento trabalhoso, que aumenta o custo com a preparao da argamassa destinada a prteses. A seqncia de peneiramento est descrita a seguir: cirandar a areia recebida na peneira # 4,8 mm e desprezar a parte retida; cirandar a areia passante grossa na peneira # 2,4 mm e estocar a parte retida no silo de agregado grosso; cirandar a areia passante mdia na peneira # 0,6 mm e estocar a parte retida no silo de agregado mdio; cirandar a areia passante fina na peneira # 0,15 mm e estocar a parte retida no silo de agregado fino; a areia passante na peneira # 0,15 mm pode ser utilizada em at 10 % do volume total de agregado empregado na confeco de argamassas de cal, de preferncia em servios de acabamento. Neste trabalho foi considerada uma perda de 10 % do agregado decorrente da eliminao da frao de gros acima de # 4,8 mm. Quando for necessria a recomposio granulomtrica de um trao especificado por ensaios laboratoriais, para atender a textura do revestimento original, o custo do m3 de areia recomposta dever ser incrementado em funo das diferenas entre as curvas granulomtricas da areia recebida no canteiro e da efetivamente empregada no preparo da argamassa. III) Preparo da argamassa (KANAN, III-1996). Mistura-se aglutinante e aglutinado, manualmente ou de preferncia em misturadora de eixo horizontal, na proporo desejada. Terminada a mistura, recomenda-se armazen-la em recipientes com tampa e aguardar 21 dias para

28 maturar. Antes da aplicao, a argamassa deve ser novamente misturada, para resgatar a plasticidade e a trabalhabilidade.

IV)

Aplicao da argamassa (KANAN, IV e VI-1996). Recomenda-se que a aplicao da argamassa seja feita em 4 camadas,

sendo a 1a o chapisco, a 2a e a 3a de no mximo 12 mm e a 4a e ltima de acabamento de no mnimo 3 mm. As superfcies a serem revestidas devero estar limpas, isentas de poeira e umedecidas sem encharcamento (preferencialmente utiliza-se vaporizador nesta operao ou um aspersor agrcola carregado com gua de cal, que mais barato e resistente ao servio). O profissional encarregado de realizar a aplicao da argamassa dever faz-lo com colher de pedreiro e arremess-la com fora suficiente para promover o maior impacto possvel e assim garantir a devida compactao da mesma. Aps a aplicao de uma camada, ela dever ser apenas sarrafeada, mantendo sua superfcie rugosa, para uma melhor ligao fsica entre as camadas. A aplicao da camada subseqente dever ser feita com a anterior ainda mida. Vinte e quatro horas so mais que suficientes no clima geralmente quente do Rio de Janeiro, para propiciar a ligao qumica entre as camadas. Antes da aplicao de uma camada recomendado a aspersso com gua de cal na camada anterior ou no chapisco, para melhorar a ligao qumica entre camadas e diminuir a velocidade da perda de gua da camada de argamassa a ser aplicada. A aplicao da 4a e ltima camada pode ser feita espalhando-se a argamassa no sentido ascendente com uma desempenadeira de madeira e posterior desempeno. Aps o desempeno poder ser dado acabamento camurado com espuma, assim que a superfcie tenha coeso suficiente, ou alisado e queimado a colher, conforme a textura desejada. Na camada de acabamento costuma-se usar agregados com granulometria mais fina, para favorecer o acabamento e trao mais rico (1:1,5).

V)

Cura mida da argamassa aplicada

29 Dependendo das condies climticas, os painis externos rebocados devero ser protegidos, com lona plstica ou tecido absorvente encharcado com gua, para diminuir o efeito desidratante da insolao e dos ventos, evitando assim a evaporao prematura e surgimento de fissuras de retrao que podem diminuir a longevidade de revestimentos externos, pois possibilitam a invaso de guas pluviais. O umedecimento peridico do material recm aplicado, atravs de equipamento atrs discriminado, por sete dias, proporciona uma cura mais lenta, com carbonatao mais profunda e maior desenvolvimento dos cristais formados.

2.3

CAIAO No Egito antigo j se usava uma mistura de cal e cola, chamada de tmpera,

para decorao de suas paredes. As colas mais usadas eram a clara de ovo, a goma arbica, a gelatina e a cera de abelha. Posteriormente verificou-se que a tinta ficava mais encorpada utilizando-se uma suspenso de cal hidratada em gua salina. O cloreto de sdio aumenta a solubilidade do hidrxido de clcio, ou seja, a carga do agente da pintura por unidade de volume de tinta (GUIMARES, P.108, 1997). Em edificaes histricas, a adio de sal no recomendada, pois o mesmo solvel e pode danificar os materiais porosos das mesmas. Os aditivos, que em algumas situaes tm sido utilizados com sucesso em pinturas base de cal na restaurao de edificaes antigas, so a casena e o leo de linhaa. Contudo, antes de se optar pela utilizao destes aditivos, recomenda-se que sejam realizados testes em pequenas superfcies para avaliar o resultado. Etapas: I) Preparo da tinta A seguir sero relatadas algumas receitas para elaborao de tintas base de cal, incluindo ainda o modo de preparao de aditivos e sua influncia nas propriedades do produto.

30 Indicaes de KANAN (V-1996): para preparar pigmentos - dispersar o pigmento em gua quente e adicionar a disperso pasta de cal, para obter a tonalidade desejada: o 400 g de pigmento junto com 5 l de pasta para obter tons claros; o 1000g de pigmento junto com 5 l de pasta para obter tons escuros; para preparar a casena comum comercial diluir 25 ml de casena em gua quente e adicionar a esta mistura 1 l de pasta de cal. Diluir a pasta aditivada em gua at obter inicialmente uma consistncia de um creme grosso, o qual posteriormente dever ser mais diludo at obter a consistncia desejada; 1:5 deve ser suficiente; caso seja usado leo de linhaa, ele deve ser utilizado na proporo de 1 colher de sopa (10 ml) para cada balde (18 l) da mistura cremosa e fina; deve-se coar o creme de cal preferencialmente com uma peneira fina; a cal para caiao est pronta quando uma gua clara paira sobre a mesma; 10 demos cruzadas de uma cal afinada devem ser suficientes para uma caiao de boa qualidade. II) Preparao da superfcie: limpeza da base com escovas de nylon com cerdas duras; tratamento com fungicida, se a superfcie apresentar indcios de fungos e sinais de umidade; pulverizao da base com gua, sem encharcar, imediatamente antes da caiao;

31 devem ser evitados o calor direto ou dias muito quentes para executar uma caiao. III) Aplicao: aplicao da 1a camada com brocha de dimetro = 100 mm sobre rea umedecida e aguardar prazo mnimo de 24 h entre demos; as demais camadas so aplicadas em direo ortogonal anterior e precedidas de suave umedecimento; a secagem lenta. So necessrias vrias semanas para secagem completa da caiao;

2.4

RECUPERAO ESTRUTURAL DE ALVENARIAS Dentre os tipos de sintomas patolgicos que uma alvenaria pode apresentar

optou-se para serem custeados a costura de fissuras em alvenaria de tijolos macios e em alvenaria de pedra assentada com argamassa de cal e areia e a reestruturao de alvenaria de pau a pique arruinada.

2.4.1 Consolidao de fissuras em alvenaria de tijolo macio O tipo de reestruturao proposto aqui, baseado na experincia, a consolidao de fissuras e brechas desenvolvidas em paredes portantes atravs da tcnica de substituio da argamassa de assentamento danificada e dos tijolos fraturados por outros em bom estado, assentados com argamassa de cal e saibro, promovendo a costura das aberturas e a devida amarrao dos elementos que compem a alvenaria. Os dados para composio do servio foram obtidos atravs de entrevista com a arquiteta residente Francyla Bousquet Santos, na obra de restaurao da Igreja de Nossa Senhora do Rosrio de Donana, em Campos dos Goytacazes, no

32 Estado do Rio de Janeiro, executada no ano de 2002. As paredes da igreja so formadas por tijolos de barro cru, ou tijolo de adobe com 10 cm x 20 cm x 40 cm, assentados com argamassa de cal, areia e barro. Esse tipo de alvenaria sensvel umidade e, para que ela tenha vida longa, necessrio que seu revestimento seja ntegro e bem mantido. A disseminao das fissuras (Foto 1), no caso da igreja, foi originada pela desintegrao dos frechais sobre as alvenarias, deixando as mesmas merc dos empuxos horizontais dos caibros do telhado, segundo diagnstico do engenheiro Geraldo Fillizola. Aps o escoramento das paredes e recuperao do telhado, com a troca das peas comprometidas, eliminou-se a causa das deformaes e das fissuras, possibilitando ento a consolidao da alvenaria.

Foto 1 Fissura em alvenaria de adobe Fonte: Arquivo da pera Prima

Para substituir os tijolos danificados, um muro em adobe arruinado, na divisa do ptio da igreja, foi desmontado, e seus tijolos reaproveitados, diminuindo assim o custo do servio. Algumas paredes da igreja, com 1 m de largura na base, tinham fissuras transpassantes importantes. O tratamento consistiu na retirada dos tijolos superficiais, anexos fissura em seguimentos de 1 m de extenso ao longo da mesma, limpeza, saturao com gua e assentamento dos tijolos, com substituio daqueles danificados, fazendo os mesmos atravessarem a projeo original da

33 fissura, deixando-a assim costurada. O servio era executado em uma face de cada vez. Nas camadas centrais, evitava-se a retirada de tijolos devido dificuldade e preferencialmente embrechava-se as gretas maiores com argamassa e cacos cermicos. A produo mdia de 1 pedreiro e 1 ajudante de 1 m/h por face de parede. A resistncia da argamassa de assentamento encontrada na edificao era baixa e favoreceu a retirada dos tijolos prximos s fissuras. No caso de argamassas mais resistentes, assentando tijolos cozidos, a produo da equipe de trabalho ser tanto menor quanto maior for a resistncia da alvenaria. Aps a consolidao da fissura, o revestimento foi recomposto com argamassa cuja textura era compatvel com a argamassa original remanescente. O detalhe executivo da costura de fissura est representado nas figuras 1, 2 e 3.

Figura 1 - Retirada do revestimento e dos tijolos no tero central Fonte: Cerne Engenharia e Projetos

34

Figura 2 Substituio e retirada de tijolos Fonte: Cerne Engenharia e Projetos

Figura 3 Trmino da substituio dos tijolos e revestimento da consolidao Fonte: Cerne Engenharia e Projetos

35 2.4.2 Consolidao de fissuras em alvenaria de cal e pedra A consolidao de fissuras em alvenaria de cal e pedra, estudada neste item, foi executada pela Concrejato Restauro, na obra das Casas Casadas, aps monitoramento atravs de testemunhos de gesso, os quais demonstraram a estabilizao da estrutura. O servio de consolidao seguiu as recomendaes do consultor estrutural Bruno Del Soldato. Diferentemente do tratamento de fissura em alvenaria de tijolo macio, em que a regularidade e o peso dos blocos favorecem a retirada dos elementos danificados para a substituio por blocos novos, com devida amarrao, a alvenaria de pedra geralmente formada por blocos irregulares e pesados, que, amarrados aos blocos anexos, praticamente inviabilizam a substituio daqueles que foram transpassados por fissuras. Assim para a consolidao da fissura recomenda-se a seqncia de procedimentos descritos a seguir: escarificao da argamassa de revestimento ao longo da fissura, em forma de V, para uma melhor ancoragem da argamassa de colmatao em ambos os lados da alvenaria; furao com broca de 25 mm ao longo da fissura, em nveis mltiplos de 50 cm, at o centro da parede, com inclinao descendente de 45 no sentido de fora para dentro, para instalao de dreno purgador de 20 mm, em mangueira cristal, em um dos lados da alvenaria, conforme Figuras 4; limpeza do volume interno da fissura com jato de ar; insero dos drenos purgadores nos furos produzidos e fixao dos mesmos com cola e colmatao da fissura escarificada nas duas faces da parede, com argamassa forte de cimento, areia e saibro no trao 1:2:2; verificao da intercomunicao entre drenos atravs de jato de ar; incio da injeo pelo dreno inferior, com pasta de cimento, diluda em gua, para diminuio da viscosidade e aumento da penetrao. A alimentao do fluxo da injeo feita com a adaptao de um funil mangueira cristal; interrupo da injeo e fechamento do dreno assim que o purgador imediatamente acima drenar;

36 reincio da injeo pelo dreno que transbordou e repetio dessa seqncia at que toda a fissura seja completada, ou seja at o transbordamento do dreno mais alto. O aplicador da calda dever ser auxiliado no monitoramento da colmatao da fissura no lado oposto aplicao, a qual eventualmente pode romper devido presso hidroesttica da calda injetada; aps 24 h, as pontas excedentes dos purgadores podem ser cortadas e a argamassa de colmatao ser retirada para aplicao do acabamento definitivo.

Figura 4 Vista da fissura e esquema da furao Fonte Cerne Engenharia e Projetos

2.4.3 Reestruturao de alvenaria de pau a pique A porosidade e a permeabilidade dos materiais que compem o pau a pique o tornam vulnervel ao da umidade, que, com o passar do tempo, acaba comprometendo a estrutura de madeira em seu interior. A umidade presente na argamassa de barro, utilizada para preencher o reticulado de vazios da estrutura de madeira, responsvel pelo incio do processo de degradao da madeira e pode propiciar o ataque de agentes biolgicos. Os tabiques encontrados no Solar Visconde do Rio Seco, na Praa Tiradentes, e nas Casas Casadas, nas Laranjeiras (o autor desta dissertao trabalhou como engenheiro residente nestas duas

37 edificaes), na Cidade do Rio de Janeiro, ambas centenrias, tinham suas estruturas de madeira praticamente desintegradas pela ao de xilfagos. Algumas paredes de pau a pique, das Casas Casadas, aparentemente em bom estado, eram reprovadas no teste de percusso no revestimento, com percusso mais moderada que o teste em revestimento de argamassas de cimento Portland. Aps a retirada do revestimento, foi revelado o precrio estado da estrutura interna de madeira (Foto 2). Seguiu-se ento a remoo das varas, que so pequenas madeiras, de seo circular, aplicadas na horizontal, que estavam totalmente deteriorados, e de algumas rguas, elementos verticais, apodrecidos, para posterior substituio por elementos novos em madeira de lei (Foto 3). Para reforar o pau a pique, foram aplicadas malhas de fio de ao galvanizado, tambm chamadas de telas de galinheiro, em ambos os lados da estrutura, amarradas com fio de ao galvanizado. A estrutura foi pulverizada atravs de aspersor manual, com o princpio ativo fenil pirazol, diludo em querosene desodorizado na proporo de 1:100, para imunizao. Os vazios da estrutura foram ento recheados manualmente com argamassa com pasta de cal hidratada em p, areia e terra vermelha (no trao 1:5:3), uma tcnica conhecida como taipa de sopapo. Segundo Leal (1977, p.35), as terras mais usadas so a vermelha e a roxa, que proporcionam liga na medida adequada ao manuseio. Aps a cura desse recheio, 24 horas no mnimo, a nova superfcie estava apta a receber uma camada de chapisco e ser emboada com argamassa de cal e areia, como uma parede comum.

38

Foto 2 - Tabique sem revestimento Fonte: Marcio Joppert

Foto 3 Fasquios novos colocados Fonte: Marcio Joppert

2.5

CONSOLIDAO DE REBOCOS BASE DE CAL Algumas vezes o reboco descola-se do emboo, podendo desplacar ou

permanecer na mesma posio. Esse fenmeno pode ocorrer devido deficincia na ligao fsica, no caso de reboco aplicado sobre emboo liso, ou fraqueza da ligao qumica, que ocorre quando o reboco aplicado sobre emboo carbonatado sem a devida preparao. Pode ser tambm em decorrncia da incompatibilidade dimensional entre as duas camadas, causada por diferenas no mdulo de elasticidade e/ou no coeficiente de dilatao trmica. A consolidao pretendida neste trabalho s possvel quando o reboco a ser tratado conserva alguma integridade. A percepo dos trechos de reboco descolados pode ser obtida atravs da percusso com martelo de borracha, que produz um som cavo, caracterstico do descolamento. Alguns rebocos chegam a estufar, deixando evidente o defeito da superfcie curva em relao prumada do revestimento, dispensando a verificao percussiva.

39 Definida a rea a ser consolidada, executada uma srie de furos com broca de vdea, de dimetro 8 mm, espaados de 25 cm, at a profundidade do descolamento, de maneira que os furos se distribuam de maneira uniforme sobre a superfcie afetada. Utilizando-se seringa de 60 cc, de uso veterinrio, feita inicialmente a saturao dos tecidos a serem ligados, com gua atravs dos furos abertos. A seguir feita a injeo de resina de base acrlica, diluda em gua na proporo de 1:1, que pode ser carregada com carbonato de clcio, completando primeiro a linha de furos mais baixa e prosseguindo no sentido ascendente, tomando-se cuidado com possveis vazamentos, os quais podem ser fechados com pasta de gesso, assim como os furos completados com a resina. No caso de superfcies muito grandes ou instveis conveniente precaver-se contra o empuxo da consolidao, que tende a aumentar o estufamento ou at mesmo arruinar o reboco remanescente, utilizando-se uma frma para conteno, revestida com espuma, do parmento vertical a consolidar, fixada com escoras inclinadas apoiadas no pavimento ou buchas e parafusos alojados na alvenaria perifrica que esteja com o revestimento em bom estado.

2.6

MINORAO DOS EFEITOS DA UMIDADE ASCENDENTE Uma edificao bem conservada deve ser estanque pelo telhado, pelas

fachadas, pelas empenas, pelas instalaes e pelas fundaes. Mesmo um bom programa de manuteno de edificao antiga pode sofrer os efeitos danosos da ascenso capilar da umidade, proveniente do solo de fundao, caso a mesma esteja situada em uma formao geolgica retentora de umidade ou com o lenol fretico esteja prximo da superfcie. Esse aqfero pode conter sais solveis dissolvidos. Alm disso, existe a possibilidade da percolao de gua atravs da alvenaria dissolver outros compostos solveis das argamassas de assentamento e de revestimento, lixiviando as argamassas. Entre os efeitos da umidade do subsolo est a formao de eflorescncias na superfcie do revestimento, em regio situada pouco acima do nvel do terreno. uma situao que apresenta a inconvenincia de manchar a pintura das paredes, mas indica tambm que a gua esta evaporando na superfcie e os sais dissolvidos,

40 contidos nela, esto sendo eliminados. Pior acontece quando a evaporao da gua acontece no interior da alvenaria. Ao evaporar, a gua precipita os sais solveis que se depositam nos vazios e passam por um processo de cristalizao. A cristalizao de sais um fenmeno expansivo e em funo do tamanho do poro, em algum momento a presso da dilatao cristalina sobrepujar a coeso da matriz da argamassa e ou dos blocos formadores da alvenaria. Nesse momento haver a ruptura e a desestruturao da alvenaria. A dessalinizao da alvenaria de uma edificao antiga, construda com materiais porosos e permeveis, no um objetivo to custoso e que deve ser implementado. Abaixo est uma rotina de dessalinizao prescrita pelo prof. Nelson Porto Ribeiro, que normalmente atinge o objetivo: demolio e retirada da argamassa de revestimento contaminada; ensacar e retirar imediatamente da obra os escombros; retirar a argamassa de assentamento at a profundidade 15 mm; lavar a alvenaria com gua abundante e esfregar com escova de nylon; se for necessrio dever ser aplicado emplastos de pasta de cal, que age como um seqestrador de sais; repetir o procedimento de lavagem com retirada da pasta de cal e deixar secar. Em edificao assentada em terreno mido, sujeita a freqentes

manutenes da pintura e caso a dessalinizao da argamassa no seja necessria, pode-se executar uma canaleta de drenagem em torno da edificao, para rebaixar o nvel do lenol fretico, de forma localizada, e minimizar o acesso de gua at a alvenaria histrica. Esse tipo de interveno foi executado na Igreja Nossa Senhora da Luz, na praia da Luz em So Gonalo, defronte baa de Guanabara. Os

41 detalhes da canaleta executada esto nas figuras 5 e 6, sendo os materiais listados abaixo correspondidos pela numerao da segunda figura. 1. alvenaria perifrica da edificao; 2. tabeira em argamassa de cimento e areia (1:3), aditivada com impermeabilizante e espessura de 3 cm; 3. tampa em grelha de ferro fundido; 4. concreto magro; 5. trincheira drenante (seixo rolado com dimetro a 1), ver Foto 4; 6. enchimento em bloco de concreto; 7. mesma argamassa de 2; 8. pintura impermeabilizante; 9. placa pr moldada drenante, ver Foto 5; 10. geotxtil filtrante; 11. placa pr moldada estabilizadora; 12. fundo pr moldado, assentado sob solo firme, com caimento de 1 %, ver Foto 6.

42

Figura 5 - Seo tpica da canaleta Fonte: Arquivo da pera Prima

43

Figura 6 Detalhe das placas drenante e de estabilizao Fonte: Arquivo da pera Prima

Foto 4 Trincheira drenante Fonte: Arquivo da pera Prima

44

Foto 5 Placa drenante Fonte: Arquivo da pera Prima

Foto 6 Fundo da calha Fonte: Arquivo da pera Prima

2.6

CONSOLIDAO DE MADEIRA COM ENXERTO DE PRTESE A interrupo do processo de degradao da madeira pode levar a situaes

em que a pea anmala ainda possui capacidade resiliente, estando em condies de continuar a desempenhar sua funo estrutural. Nos casos em que h deteriorao de tecido lenhoso, este dever ser removido, com ferramentas manuais ou eltricas, at uma profundidade em que a madeira encontre-se s e tenha boas condies de aderncia. A retirada da parte deteriorada elimina odores atraentes a possveis hspedes xilfagos.

45 No caso de peas que possam ser removidas para uma posio favorvel ao trabalho, caso seja conveniente, possvel ento executar a consolidao, que nos caso de pequenos volumes pode ser feita com uma prtese de argamassa em que o aglutinante uma resina termo endurecida e a carga pode ser areia fina com umidade zero, especialmente preparada para este fim ou um outro tipo de carga neutra, como a vermiculita. Quanto s resinas, numa escala decrescente de resistncia e de custo, tem-se a resina epxi, de polister e de base acrlica, entre outras, sendo esta ltima indicada apenas para servios, no estruturais, de estucatura, que devero ser escolhidas em funo da importncia do servio e da disponibilidade de recursos do contratante. Escolhidos os tipos de resina e de carga, deve-se ter ateno ao pot life, ou seja, ao tempo disponvel de trabalho aps a mistura dos componentes: resina e endurecedor, no caso da resina epxi, ou resina e catalisador, no caso da resina de polister, que em ambos os casos tm o pot life influenciado pela temperatura, quanto mais elevada ela for mais rpido se dar o endurecimento. O restaurador experiente mistura os componentes, em quantidades adequadas a cada etapa da consolidao, para evitar o desperdcio de material. Antes de se adicionar o agregado deve ser separada uma pequena quantidade da resina, para fazer-se a imprimao da cavidade, para uma melhor penetrao na superfcie da madeira. Um trao de argamassa que mostrou uma boa performance foi a adio de 1 kg de areia preparada para 1 kg de Sikadur 32 gel. Essa resina possui baixa viscosidade e especfica para penetrar em pequenos orifcios. A adio crescente de carga eleva a viscosidade da mistura, diminuindo assim sua capacidade de penetrao. Quando invivel a retirada da pea a ser consolidada e a aplicao deve ser feita em cavidade executada em sua parte inferior, a tendncia o escorrimento do reparo. Nessas situaes deve-se escolher uma resina que possua propriedades tixotrpicas, como a Sikadur 31. Caso o volume a ser preenchido seja grande, e aumente o consumo de resina, com conseqente elevao no custo, pode ficar interessante a utilizao de prtese em madeira seca, com caractersticas semelhantes madeira a ser consolidada, colada com resina. Nesse caso dever ser feita previamente a

46 preparao da cavidade, que retirar o tecido deteriorado e uma parte de tecido sadio, formando um prisma de base retangular com geometria idntica da prtese a ser enxertada. A definio do volume a ser retirado poder ser feita utilizando-se um traador eltrico, dotado de gabarito paralelo, e um formo afiado, para definio das esquinas da base. A retirada das fibras mais fundas pode ser feita com uma tupia porttil de alta rotao e a limpeza final com um formo. O fundo da cavidade deve ser plano e paralelo superfcie externa da pea. O servio feito com qualidade reconhecido quando a colocao da prtese feita de maneira ajustada, ou seja, com pequena folga e pouco espao para ser completado com resina. A insero completa da prtese ajustada necessita da energia de algumas marteladas, com martelo de madeira dura, com a expulso do excesso de resina, o qual oportunamente poder ser removido.

2.7

EMENDA EM VIGA DE MADEIRA REFORADA COM TALAS DE AO A composio de custo desse tipo de reforo pode servir de parmetro para

compor o custo de outro tipo de reforo em estrutura de madeira, que utilize elementos de ao aparafusados. Essa emenda foi executada algumas vezes nas Casas Casadas em Laranjeiras na cidade do Rio de Janeiro, onde foram apropriadas todas as etapas do servio. As Casas Casadas compem um edifcio de trs pavimentos, com seis casas geminadas, em que apenas a casa quatro seria restaurada e as outras cinco teriam apenas as fachadas, as paredes estruturais divisrias das unidades e o madeiramento do telhado preservados e recuperados, sendo o restante da edificao demolido, devido ao adiantado estado de deteriorao em que se encontravam. As paredes divisrias estruturais, feitas em alvenaria de pedra assentada com argamassa de cal e areia, engastavam o barroteamento e estavam afastadas sete metros umas das outras. O barroteamento, feito em ip com seo de 16cm x 20 cm suportava os assoalhos e os forros, e apresentava-se em vrios locais arruinado, principalmente prximo dos apoios, devido umidade da alvenaria.

47 Foi contratado um empreiteiro para executar o arrancamento de todo madeiramento, dos pavimentos 1, 2 e 3, comeando pelos forros e sancas e seguidos pelos assoalhos. Por ltimo, restou o arrancamento dos barrotes espaados de 60 cm, muitos em bom estado, que se engastavam e contraventavam as paredes divisrias. Cada barrote, com comprimento total de 7,60 m, pesava aproximadamente 220 kg e estava imerso 30 cm na alvenaria. Para facilitar a retirada e o transporte dos barrotes, a equipe de demolio os cortou em sees afastadas de 20 cm das alvenarias. Aps a retirada, restou um grande estoque de barrotes, em bom estado, com aproximadamente 6,60 m de comprimento. No trabalho de restaurao da casa IV houve a necessidade de consolidar barrotes usando a tcnica de enxertos com argamassa de resina carregada com areia ou com prtese de madeira, ambas j comentadas neste estudo. As peas que apresentavam degradao superior a 30 % eram descartadas e teriam de ser substitudas por novas. O problema foi a dificuldade de encontrar peas de madeira com as caractersticas geomtricas das originais, tanto na seo quanto no comprimento. Assim, com a disponibilidade de barrotes originais estocados, foram feitas as emendas de topo dos barrotes, solidarizados com talas em chapa de ao com espessura de 8 mm, fixados com barras rosqueadas, arruelas e porcas de dimetro 16 mm, conforme detalhe fornecido pelo engenheiro Bruno Del Soldato, reproduzido na Figura 7. As emendas foram concebidas para trabalhar numa situao limite extrema a 1 m de distncia do apoio. Aps a execuo das emendas (Foto 7), os barrotes foram assentados em bero preparado na alvenaria, de maneira que as emendas em barrotes vizinhos ficassem alternadas.

48

Figura 7 Detalhe da tala de ao Fonte: Carla Codeo Coelho Foto 7 Emenda de topo com talas de ao Fonte: Marcio Joppert

2.8

RECONSTRUO ESQUADRIAS EM MADEIRA As esquadrias de portas e janelas, do perodo colonial, so estruturas com

detalhamento simples e consistem normalmente na unio lateral de tbuas, lavradas manualmente, com encaixe ao longo da espessura meia madeira e reforadas com travessas cravadas ou cavilhadas, onde normalmente so instaladas as dobradias, conforme figura 8. Em algumas esquadrias, com avarias menos importantes, possvel preencher pequenos volumes com prteses, utilizando a tcnica desenvolvida no item 2.7, no prprio canteiro de obras. No caso de uma tbua, componente da esquadria estar muito deteriorada, a esquadria dever ser desmontada, para esse elemento deteriorado ser substitudo por um novo, confeccionado conforme o modelo original em madeira seca e similar utilizada na esquadria. A reproduo dos modelos originais pode exigir a utilizao de ferramentas capazes de executar rebaixos e encaixes, nem sempre disponveis na obra. Em algumas obras, que tenham em seu escopo a restaurao de esquadrias, pode ser possvel fazer-se a desmontagem, por exemplo, de duas esquadrias iguais avariadas, que combinadas resultem em uma esquadria nova e bem acabada, tendo-se praticamente apenas o custo da mo de obra na execuo da desmontagem/remontagem dessa esquadria resultante. Restam a fabricao e

49 montagem de esquadria para substituir aquela que foi desmontada para reaproveitamento. Em geral, as empresas responsveis pela obra de restaurao no possuem em seu quadro funcional, carpinteiros de esquadria qualificados para desenvolverem completamente a fabricao de uma esquadria. Normalmente so convidados alguns carpinteiros autnomos, que avaliam o servio e que concorrem pelo menor preo. Uma forma de se calcular o custo deste item pode ser desenvolvido levandose em considerao um determinado modelo de esquadria, o tempo gasto pela equipe de carpinteiro e ajudante, os materiais empregados e um prmio dado equipe como um incentivo a produo.

Figura 8 Esquema da porta com elevao e corte Desenho: Carla Codeo Coelho

50 2.9 RECUPERAO DE TELHADO COLONIAL O telhado objeto deste estudo cobre a Casa do Bispo, situada no Rio Comprido, na cidade do Rio de Janeiro. A edificao, construda no sculo XVIII e reformada no sculo XIX, um patrimnio tombado pelo IPHAN, onde na poca da obra funcionava a Fundao Roberto Marinho, que solicitou a recuperao do entelhamento colonial constitudo de telhas capa e canal com 50 cm de comprimento til. O motivo da solicitao deveu-se instabilidade das telhas capa, decorrente de um detalhe construtivo mal realizado. Normalmente este tipo de telha fixado ripa com fio metlico em forma de duplo gancho, para evitar o escorregamento e ou o arrancamento em fortes ventanias. O detalhe encontrado era tambm um fio com duplo gancho, mas nenhuma telha era fixada ao madeiramento. A ltima telha, prxima cumeeira, era enganchada na penltima, que era enganchada na antepenltima, e assim sucessivamente, at a terceira telha. Esta telha sem gancho, situada sobre a alvenaria, era argamassada num detalhe colonial conhecido como cachorro. Aconteceu algumas vezes de uma fiada inteira, a partir da terceira, deslizar e cair na calada, prximo a veculos estacionados. Por tratar-se de edificao tombada, foi exigido pelo rgo fiscalizador que, alm dos servios normalmente executados em recuperao de telhados, fosse aplicada uma subcobertura, com a propriedade de ser impermevel gua infiltrada por alguma telha que por ventura esteja quebrada e ao mesmo tempo permevel fuga de vapores provenientes do forro. A seguir est uma relao dos servios contratados e executados: montagem de plataforma de servio, apoiada em andaime fachadeiro devidamente contraventado, 1 m abaixo do beiral; instalao de acesso provisrio, em tbua com detalhe anti derrapante, sobre o telhado;

51 retirada cuidadosa das telhas, para possibilitar a visita ao forro, para executar a sua proteo com chapas (madeirite, eucatex ou espuma com densidade 45) e para implantao de passarelas de acesso, ver cobertura destelhada na Foto 8; demolio da telha argamassada de cumeeira e retirada dos escombros; retirada cuidadosa das telhas argamassadas no cachorro; demolio das telhas argamassadas sobre a empena e retirada dos escombros; retirada cuidadosa das ripas para serem reaproveitadas; varredura com vassoura de piaava dos caibros e demais peas de madeira situadas prximas do entelhamento; limpeza com retirada de pregos dos caibros; higienizao do forro em gamela, compreendendo catao manual, varredura e aspirao mecnica e retirada do entulho; desenvolvimento de subcobertura Tyvek, fixada provisoriamente com prego G 15 x 15 e arruela confeccionada em frmica, com transpasse de 10 cm em cada desenvolvimento, (ver Foto 9); imprimao com fenil pirazol, diludo em querosene desodorizado na proporo 1:100, de toda ripa nova, em maaranduba, introduzida; colocao de ripa espaadora sobre os caibros, chamada de contra-caibro, pregada com prego G 16 x 21, para fixao e proteo da subcobertura, (ver Foto 10);

52 colocao de ripa com galgao adequada ao comprimento da telha, pregada com prego G 17 x 27, (ver Foto 10); colocao de calha de drenagem, com dimetro 75 mm, assentada com argamassa sob o cachorro e colada com silicone na borda da 1 subcobertura desenvolvida. Essa calha possui drenos de 3/8 que atravessam a alvenaria a cada 6 m e podem pingar eventualmente, caso alguma telha quebre, conforme a Figura 9. limpeza das telhas, passveis de reaproveitamento, com detergente neutro e escovas de nylon; corte e dobra de gancho em fio de cobre, com dimetro de 2 mm, para fixao de todas as telhas no ripamento; preparo de argamassa de cimento, areia e terra vermelha no trao 1:3:3, para assentamento de todas as telhas; assentamento das telhas, (ver Foto 11); corte das ltimas telhas prximas cumeeira, caso seja necessrio e assentamento delas; corte de cacos de telhas para confeco de bebedouro na cumeeira, (ver Foto 14); colocao de suspiro de3

/8, em mangueira cristal na cumeeira, para

eliminao dos vapores, (ver Foto 14); colocao das telhas de capa da cumeeira com argamassa; arremate da massa de assentamento da cumeeira; corte das telhas nos rinces e espiges e assentamento delas, (ver Foto 12);

53 arremate com massa dos rinces, (ver Foto 13); corte de cacos de telhas para confeco de bebedouro nos espiges; colocao das telhas de capa do espigo com argamassa e arremate da massa; arremate das telhas sobre as empenas; limpeza do telhado; arremate da cimalha no beiral e limpeza da alvenaria; caiao da parte superior das fachadas e empenas; desmontagem e desmobilizao dos andaimes.

Figura 9 Detalhe da calha de drenagem Desenho: Carla Codeo Coelho

54 Durante o desenvolvimento dos servios existe uma rotina diria bsica, que a proteo provisria com lona emborrachada pesada, do tipo carreteiro, aberta no incio do expediente e fechada ao final da jornada de trabalho. Essa lona deve ser firmemente esticada e presa com tirantes de nylon aos andaimes na parte inferior e na parte superior deve cobrir a cumeeira e estar ancorada ao outro lado da edificao por meio de tirantes, conforme Foto 15.

Foto 8 Cobertura destelhada Fonte: Arquivo da pera Prima

Foto 9 Desenvolvimento de sub cobertura Tyvek Fonte: Arquivo da pera Prima

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Foto 10 Aplicao de contra caibro e ripamento Fonte: Arquivo da pera Prima

Foto 11 Assentamento de telhas Fonte: Arquivo da pera Prima

Foto 12 Corte de acabamento do rinco Fonte: Arquivo da pera Prima

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Foto 13 Telhado arrematado Fonte: Arquivo da pera Prima

Foto 14 Cumeeira com bebedouro/suspiro Fonte: Arquivo da pera Prima

Foto 15 Movimentao diria da proteo provisria Fonte: Arquivo da pera Prima

57 2.10 RESTAURAO DE CANTARIAS EM GNAISSE As rochas podem ser classificadas quanto gnese em trs grupos principais: as gneas, que so formadas pelo resfriamento do magma oriundo da crosta e do manto superior, as sedimentares, que so consolidadas pela cimentao de depsitos de sedimentos erodidos e as metamrficas, que so resultantes de transformaes fsico-qumicas, decorrentes do aumento de temperatura e presso, sofridas pelas rochas dos dois primeiros grupos. O gnaisse uma rocha metamrfica, derivada do granito, que sofreu transformaes fsicas decorrentes de alteraes geolgicas, como o processo de formao de montanhas e/ou pela proximidade de magma no interior da crosta terrestre, em que houve a elevao da temperatura e da presso. Pode ser identificado pela separao em camadas dos minerais constituintes, pela pouca quantidade de matriz entre os gros bem desenvolvidos, com moderado coeficiente de dilatao trmica e orientao constante dos cristais (BRAGA, 2003, p.27). A cidade do Rio de Janeiro est assentada sobre uma grande formao gnissica, que aflora em diversos pontos com composies ligeiramente modificadas. A disponibilidade desse material propiciou seu uso em diferentes perodos da histria carioca. O gnaisse pode ser encontrado, na forma aparente, com as faces afeioadas, estruturando embasamentos de alvenarias, arrematando o contorno de vos, decorando escadas e balaustradas, etc, ou na forma bruta, em blocos assentados com ou sem argamassa, em alvenarias e ou muros revestidos ou aparentes. Essa pedra s vezes confundida, sendo indevidamente chamada de granito devido semelhana e constituio idntica. Em sua composio predominam os minerais silicosos, sendo os principais o feldspato, o quartzo, a mica, o anfiblio e o piroxnio. A estratificao em camadas dos gros uma caracterstica que distingue o gnaisse da falta de orientao definida na textura dos granitos. O gnaisse, assim como o granito, muito duro e resiste bem abraso, e no Rio de Janeiro foi muito utilizado como pavimentao, na forma de paraleleppedos.

58 O carter geolgico e mineralgico que proporciona aos gnaisses uma boa longevidade tambm responsvel pelo encarecimento da mo de obra empregada no afeioamento manual de cantarias. O canteiro, que o profissional encarregado de dar feio s pedras, raro de ser encontrado, segundo OLIVEIRA (1996, p.65). Os principais agentes causadores de deteriorao nos gnaisses so as infiltraes causadas por chuvas cidas, devido poluio atmosfrica, e pela umidade, que pode conter sais solveis e aes mecnicas. Esses agentes podem propiciar desfolhamentos paralelos ao plano de clivagem da pedra, criando espao para o crescimento de vegetao oportunista. Abaixo est apresentada uma srie de servios, com os procedimentos apropriados a restaurao de cantarias gnissicas. Esses procedimentos foram retirados de um relatrio tcnico, elaborado pela empresa Velatura Restauraes Ltda, componente do projeto de restaurao das fachadas do prdio do MECIR, antiga caixa de amortizao, de propriedade do Banco Central, no Centro do Rio de Janeiro. aplicao de biocida para extermnio de ptinas biolgica e de vegetao j desenvolvida; execuo de limpeza inicial, que deve ser feita com gua corrente, detergente com pH neutro (Detertec 7) a 5%, e o uso de escovas de cerdas macias. Antes do incio da limpeza, reas que apresentarem desfolhamento e/ou desagregao por pulverulncia, devem ser

demarcadas para que no sofram ainda mais com o processo de limpeza com escovao, (ver Foto 16); retirada de manchas ocasionadas por ataques diversos s rochas, que normalmente uma operao delicada, porque envolve uma srie de procedimentos que no so muitos simples e nem sempre apresentam resultados satisfatrios, de forma que o restaurador experiente j est acostumado a ter que conviver com determinados tipos de manchas para no ter que optar por solues radicais, que acabam atacando a integridade fsica das rochas histricas, ou seja, muitas vezes prefervel a mancha do que correr o risco de se deteriorar mais ainda a pedra. No

59 caso, as manchas verificadas so ptinas de material inorgnico, sendo as amareladas provenientes de determinados elementos da constituio do gnaisse, como xidos de ferro. Os procedimentos propostos so adotados h longo tempo por experimentados restauradores do Centro Internacional para o Estudo da Preservao e Restaurao de Bens Culturais (ICCROM) de Roma. As manchas de material inorgnico (escuras) encontradas tendem a sair totalmente com a simples lavagem. Contudo, em casos onde isso no se verificar, dever ser usado emplastros com a frmula AB57 do ICCROM: para cada litro de gua dever ser adicionado: o o o o 30g de bicarbonato de amnia; 50g de bicarbonato de sdio; 25 g de EDTA (sal bisdica); 60 g de carboximetilcelulose, agente tixotrpico, que no apenas fixa a mistura em paramentos verticais, mas, sobretudo, mantm a soluo, base de sais solveis, na superfcie ptrea, impedindo a penetrao demasiada da mesma, devido alta viscosidade, o que poderia ser prejudicial pedra. Essa formulao, aplicada com trincha (ver Foto 17), tem sido alterada com sucesso, atravs da substituio do agente tixotrpico por polpa de papel na forma de emplastro. O emplastro dever ser protegido de uma rpida evaporao com filme de polietileno, e, se necessrio, com plstico preto por cima. A durao do emplastro no dever exceder sessenta minutos e, aps a retirada do mesmo, dever ser efetuado enxge copioso com gua corrente. A cargo da fiscalizao da obra, o emplastro poder ser repetido outras vezes. As manchas de xidos de ferro, em geral com maior dificuldade para serem removidas, podem ser tratadas com razovel sucesso utilizando-se o cido oxlico aplicado de maneira controlada; aplicao de novo rejunte dever ser executado com uma argamassa de cal e areia no trao 1: 3 em volume, qual adicionado 10% do volume

60 da pasta de cal em resina polivinlica do tipo Rhodops 503 D. A adio da resina conveniente para incrementar a plasticidade da argamassa ao mesmo tempo em que, pela pequena quantidade adicionada, no compromete sua permeabilidade. Poder tambm, para efeito de igualar colorao, ser juntado a esta argamassa gnaisse modo (ver Foto 18), em proporo igual areia que for retirada do trao inicial. Essa massa pode ser til, tambm, para o preenchimento de orifcios e falhas, que possam significar um local privilegiado para a entrada de gua (ver Foto 19); consolidao de reas com desfolhamento far-se- com a aplicao de resina de polister injetada com seringa de injeo, de uso veterinrio. Para tanto, a rea a ser consolidada dever estar limpa, seca e sem poeira. importante que a resina a ser utilizada contenha protetivo contra raios ultravioleta, pois a resina de polister, embora mais resistente que as epoxdicas, tambm sofre a ao da luz. Para obteno de uma resina com viscosidade mais baixa, portanto com uma maior capacidade de penetrao, a mesma poder ser diluda em estireno, que o monmero mais indicado. Os eventuais escorrimentos devero ser limpos

imediatamente com estopa embebida em acetona, evitando-se que este produto entre em contato com a superfcie consolidada. Essa resina poder ser usada como adesivo caso haja necessidade de se consolidar fragmentos e lascas soltas. No caso de prteses maiores e em posies mais vulnerveis; recomendvel a utilizao de pinos metlicos de ao inox ou de lato; aps as consolidaes localizadas, com resina de polister, e aps a cura total desta resina, as pedras devero novamente ser limpas com gua corrente e, aps secagem, devero receber tratamento final com hidrofugante base de silano-siloxano (Nitoprimer 40 da Fosroc). Este produto dever ser aplicado com trincha, por toda a superfcie da pedra. A propriedade mais til deste produto o poder hidrfugo que ele confere ao material tratado, qualidade extremamente desejvel para a conservao

61 do monumento arquitetnico. Contudo, eles so capazes tambm de realizarem a consolidao da superfcie ptrea. Algumas consideraes podem ser feitas sobre esse relatrio: o uso do carboximetilcelulose, encontrado apenas na Casa do Restaurador em So Paulo, na formulao do AB57 encarece a mistura e em um pas como o Brasil, em desenvolvimento, ficaria invivel sua utilizao na construo civil, sendo o mesmo substitudo, com desvantagem tcnica, pela polpa de papel. A utilizao da formulao do AB57, pode ser justificada na retirada de crostas negras de esttuas; caso seja necessrio proceder a limpeza de mrmores, dever ser adicionado a um litro dgua apenas carbonato de amnia; a recomendao de aplicao controlada do cido oxlico, para retirada de manchas de xido de ferro em gnaisse, deveria ser mais enftica, pois realmente uma aplicao menos criteriosa pode trazer bons resultados imediatos, porm as conseqncias podem ser desastrosas pelo ataque do cido a outras intruses, desse minrio, disseminadas pela pedra; cabe frisar a diferena entre desfolhamento e desplacamento. A primeira anomalia o descolamento da superfcie externa ou casca paralela ao plano de clivagem da rocha, sem perda de volumetria, enquanto a segunda a evoluo da primeira, que quando no tratada desprende-se e cai (ver Foto 20); alguns produtos utilizados em restaurao so controlados pela polcia federal, como acetona e bicarbonato de amnia, sendo necessrio a obteno de licena especial para sua compra e transporte.

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Foto 16 lavagem com adstringente e escovao Fonte: Arquivo da pera Prima

Foto 17 trs aplicaes de AB57 sobre polpa de papel Fonte: Arquivo da pera Prima

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Foto 18 Moagem de gnaisse Fonte: Arquivo da pera Prima

Foto 19 Colmatao de aberturas e falhas Fonte: Arquivo da pera Prima

64Foto 20 Embasamento em gnaisse com desplacamento Fonte: Arquivo a pera Prima

2.11

TRATAMENTO DE ELEMENTOS METLICOS A descrio dos sub servios abaixo uma adaptao do relatrio, j

mencionado no item anterior, do projeto de restaurao das fachadas do prdio do MECIR. Para a limpeza e desoxidao das grades das janelas do embasamento, no conveniente que as mesmas sejam retiradas, e o trabalho dever ser feito in loco. No tratamento de superfcies metlicas corrodas existem trs mtodos possveis: o uso de solventes, o uso de redutores qumicos e eletroqumicos, e mtodos mecnicos. Podem ser utilizados separadamente ou em conjunto. Aqui proposto o mtodo mecnico com o uso de esptulas e escovas de ao para retirada do grosso da pintura existente, seguida de uma limpeza por chama: uma chama alta temperatura (oxi-acetilnica) passada sobre a ferrugem, que devido diferena existente nos coeficientes de dilatao desta ltima e do ferro, esta salta fora crepitando. Os materiais orgnicos so tambm eliminados por carbonizao. Para complementar a limpeza mecnica, dever ser efetuada uma limpeza qumica com a utilizao de solventes clorados no inflamveis (tricloroetano). Tratase de um processo muito efetivo para remoo de graxas e gorduras de peas metlicas. A princpio no foram observadas partes faltantes nos gradis da fachada do MECIR; contudo, qualquer substituio dever ser feita com a reposio de peas de ao de mesma bitola e de mesma caracterstica metalrgica. No sero admitidas prteses em perfis metlicos comerciais. Para o processo de soldagem das peas e prteses a serem inseridas, dever ser utilizado o processo da solda por presso, onde se aceitar o tipo de solda sob presso por resistncia eltrica.

65 Para inibir o desenvolvimento de ferrugem so usados, comumente, os pigmentos anticorrosivos, como o zarco (xido verm