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    O CAMINHO DO CURADOR

    Seja qual for a casa em que eu entre,Entrarei para curar.- Juramento de Hipcrates

    Direo: SulElemento: TerraCriatura: Criaturas de quatro pernasRecurso Humano: AmorTipo de Meditao: Posio deitada

    Estilo de Vida: Correta comunicaoCaminho Qudruplo: Estar atentoBlsamo de Cura: Contar histriasInstrumento: TamborEstao: Primavera

    Na noite passada, quando dormia,Sonhei maravilhoso engano! Que tinha uma colmia de abelhasAqui dentro do meu corao.E as abelhas douradasConstruam favos brancosE doce melDe meus antigos fracassos.

    - Antnio Machado, Times alone

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    O corao um msculoocioso. Difere de todos osoutros msculos. Quantos

    movimentos de empurrar elevantar voc conseguefazer at que osmsculops de seus braose deu seu estmagofiquem to cansados quevoc obrigado a parar?Mas o msculo do coraocontinuar trabalhandoenquanto voc viver. Nose cansa porque tem umafase de descanso

    embutida em cada batida.Nosso corao fsicotrabalha com folga. E sefalamos de corao numsentido mais amplo, bemno meio de encontra-seimplcito o conceito dedescanso como propiciador de vida. Senunca perdssemos devista esse lugar central

    que o repouso ocupa emnossas vidas, ns nosmanteramos jovens. Vistosob essa luz, o repousono um privilgio, masuma virtude. No privilgio de alguns, quepodem dar-se ao luxo detomar um tempo para si,mas a virtude de todos osque se dispem a dartempo quilo que toma

    tempo dar o tempo quecada tarefa verdadeiramente requer.

    - Irmo David Steindl-Rast, Gratefulness, theheart of prayer.

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    PRESTAR ATENO AO QUE TEM CORAO E SIGNIFICADO

    O arqutipo do Curador uma estrutura mtica universal, quetodos os seres humanos tm dentro de si. Entre as culturas indgenas,esse smbolo apia o princpio de prestar ateno ao que tem corao e

    significado. Os Curadores, nas maiores tradies, reconhecem que opoder do amor a mais poderosa energia de cura de que o ser humanodispe. O Curador efetivo, em qualquer cultura, aquele que estende osbraos do amor: reconhecimento, aceitao, considerao, valor egratido.

    As pessoas de todo o mundo sempre demonstram uma s outrasseu reconhecimento de quatro maneiras: reconhecemos mutuamentenossos talentos; nossas mtuas qualidades de carter; nossasaparncias recprocas e o impacto que causamos uns sobre os outros.Quando o reconhecimento que recebemos mnimo, isto pode nostrazer sensao de inadequao ou de pouca auto-estima.

    Os Curadores de qualquer tradio so pessoas naturalmentecapacitadas na arte de reconhecer. Esto plenamente convencidos deque o maior remorso o amor que no se manifestou. Provavelmente, omais poderoso exemplo contemporneo de algum que cura atravs doamor incondicional Madre Tereza de Calcut. Nas tradiesxamnicas ela seria chamada de mulher de remdio.

    As Quatro Cmaras do Corao

    Muitas culturas nativas acreditam que o corao a ponte que

    liga o Pai Cu Me Terra. Para essas tradies, o corao de quatrocmaras, fonte de sustentao de nossa sade emocional e espiritual, definido como cheio, aberto, puro e forte. Essas tradies sentem que importante conferir diariamente as condies desse corao de quatrocmaras, perguntando: Estou com meu corao cheio, aberto, lmpidoe forte?.

    Quando nosso corao no est cheio, ns nos aproximamos daspessoas e das situaes s com metade dele. O sentimento queexperimentamos, como se devssemos fazer algo que no queremos, oterreno em que germina o corao pela metade. Sentir o corao s pelametade sinal de que estamos em m posio, e que hora de sairdessa situao.

    Quando nosso corao no est lmpido, ficamos confusos ecarregamos a dvida dentro dele. onde devemos parar para esperar.Os estados de ambivalncia e indiferena so precursores da confuso eda dvida. A passagem por qualquer um desses estados um lembretepara aguardarmos a clareza, em vez da ao.

    Quando nosso corao no est forte, falta-nos coragem de serautnticos ou dizer o que verdade para ns. Fora de corao tercoragem de ser tudo o que somos em nossas vidas. A palavra coragemvem do termo francs coeur, que quer dizer corao e,

    etimologicamente, significa a capacidade de defender nosso corao ounossa essncia. Quando exibimos coragem, demonstramos o poder

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    recuperador de prestar ateno quilo que tem corao e significadopara ns. Como mostra o poema asteca que se segue, a combinao decorao e sua relao com a autenticidade tem sido perene, usadoatravs de todas as pocas.

    Pessoa madura:corao to firme como uma pedra,corao to forte comoo tronco de uma rvore.Nobre face, sbia face;Senhor/senhora dessa faceSenhor/ senhora de seu corao.Maturidade:nobre face, firme corao.

    Os Seis Tipos de Amor Universal

    Manter a sade de nosso corao de quatro cmaras nos permiteexplorar e nos abrirmos aos seis tipos de amor universal:

    1. Amor entre companheiros e amantes;2. Amor entre pais e filhos;3. Amor entre colegas e amigos;4. Amor profissional entre mestre e aluno, terapeuta e cliente, e

    assim por diante;5. Amor por si mesmo;6. Amor incondicional ou espiritual.

    Oito Tipos de Cura

    Todos esses tipos de amor so portas para a cura. Quando nosabrimos a eles, nossa capacidade de manter um ponto de vistaequilibrado sobre esse assunto aumenta. Jeanne Achterberg, em seulivro Woman as healer, nos aponta os seguintes conceitos, quecontribuem para o alcance desse equilbrio:

    1. a cura a jornada de toda uma vida no sentido da inteireza;2. curar lembrar o que foi esquecido sobre vnculo, unidade e

    interdependncia, entre tudo que vivente e no-vivente;3. curar abrir os braos ao que mais temido;4. curar abrir o que estava fechado, suavizar o que se endureceu

    em forma de obstruo;5. curar penetrar no momento transcendente, atemporal, em que

    se experimenta o divino;6. curar criatividade, paixo e amor;7. curar buscar expressar o ser em sua plenitude, sua luz e sua

    sombra, o masculino e o feminino;8. curar aprender a confiar na vida.

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    Quando no desenvolvemos em ns qualquer um desses conceitos,encontramos fechada a porta para o amor e para a sade.

    O Princpio da Reciprocidade

    O amor consiste nisso, em duas solides quese protegem, tocam e sadam uma outra.

    - Rainer Maria Rilke, Selected poetry

    A cura envolve o princpio da reciprocidade, a capacidade deigualmente dar e receber, e a capacidade de vincular-se. Os oitoconceitos de Achterberg revelam esse princpio em ao. Paramantermos nossa sade e bem-estar necessitamos manter oequilbrio entre crescer e receber, e reconhecer quando um dos plosest mais desenvolvido do que o outro.

    Muitos povos indgenas considerariam os conceitos de

    Achterberg como maneiras de que os seres humanos dispem paraestar em correta relao com a Natureza e, portanto, com suaprpria natureza. O princpio da reciprocidade monitora o equilbrioexistente entre nossa natureza de amor e de sade. Octavio Paz, emseu livro The labirinth of solitude, coloca isso muito bem:

    O amor um dos exemplos mais claros desse duplo instinto que nosleva a mergulhar fundo em nosso eu e, ao mesmo tempo, emergir da para nosdescobrirmos no outro: morte e recriao, solido e comunho.

    FERRAMENTAS DE PODER DO CURADOR

    As ferramentas que conferem fora ao Curador so: os quatroblsamos universais para a cura, sesso de jornada e tambor,meditao em posio deitadae a de acalentar.

    Os Quatro Blsamos Universais de Cura

    Toda cultura apresenta suas prprias formas de manutenode sade e bem-estar. Em todo o mundo, os Curadores reconhecema importncia de manter ou recuperar os quatro blsamosuniversais da cura: contar histrias, o canto, a danae o silncio. Nassociedades xamnicas acredita-se que quando paramos de cantar edanar, no mais nos sentimos encantados por histrias ou ficamosperturbados com o silncio, estamos passando pela experincia deperda da alma, que abre as portas ao sofrimento e doena. OCurador que tem o dom restaura a alma com blsamos de cura.

    Contar histrias

    As culturas nativas transmitem seus valores, sua tica ecrenas espirituais por meio da msica, das danas, dos silncios

    rituais, da orao e de contar histrias. Como Peggy e Anna Waltersafirmam em seu livro The sacred:

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    A memria humana um grande armazm, de cujacapacidade geralmente utilizamos apenas uma frao. Nossos ancestraissabiam disso e treinavam a memria juntamente com os demais sentidos,para que a histria e as tradies do Povo pudessem ser preservadas e

    transmitidas. Uma das mais importantes tradies orais era contarhistrias e preservar as histrias originais.

    As recentes pesquisas de Joanne Martin e sua equipe, naEscola de Administrao de Empresas de Stanford, tornam claro queas histrias ilustrativas, contadas dentro das organizaes,estimulam maior comprometimento entre as pessoas, recebem maiscrdito e so mais lembradas que os dados estatsticos que provamcom fatos o mesmo ponto. Mesmo o pintor impressionista Degas eraradical com relao a esse conceito, como nos relata BrbaraShapiro em sua obra Edgar Degas: muito simples copiar o que

    voc v, mas melhor desenhar apenas o que voc v na memria.A voc reproduz apenas o que o impressionou, ou seja, oessencial... Esse essencial a base de todas as histrias que, nofim, traam os contornos de nossa prpria histria de vida.

    As culturas indgenas reconhecem que contar histrias podedar novos contornos experincia ou histria de vida de umindivduo. Muitos xams e pessoas que medicam so talentososcontadores de histrias. So chamados de deslocadores decontornos porque so capazes de mudar a forma da histria de umindivduo, ou mesmo de mudar os contornos de sua prpriaaparncia fsica. Um xam que possua tal capacidade consideradocomo catalisador de cura e agente de mudanas. Atualmente osdeslocadores de contornos so talentosas pessoas da rea mdica,terapeutas, sacerdotes, conselheiros e outros, que do assistnciaaos indivduos nos momentos de transio da vida.

    A capacidade de atender a nossa prpria histria de vida nospermite reabrir o corao e estabelecer a ligao com os outrosblsamos universais de cura. Em troca, isso nos d acesso aorecurso humano do amor, a mais poderosa fora de restabelecimentoque existe sobre a face da Me Terra.

    Sesso de Jornada e o Tambor

    Atender nossa histria de vida uma forma de dar atenoao que tem corao e significado. O meio que o Curador tem deauscultar o corao pela sesso de jornada, uma prtica xamnicautilizada para dar acesso informao guardada no eu divino ousagrado, e implementada modernamente por Michael Harner e pelaFundao de Estudos Xamnicos. Na sesso de jornada, a tradioxamnica se entrega sabedoria do corao, praticando a meditaoem posio deitada (a seguir), com acompanhamento do tambor, poraproximadamente vinte ou trinta minutos.

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    Atinge-se um estado natural alterado de conscincia por meidoda induo snica(batidas rpidas de tambor, geralmente de quatroa sete ciclos por segundo). Se o tambor no for usado sozinho, oucom outros tambores, pode ser tambm acompanhado de outrosinstrumentos, tais como chocalho, sino, ressonncia de varetas ou

    ossos, e canto ou salmodia. Alguns povos indgenas utilizam-sedessa tcnica para alcanar uma ligao com a cura e obterorientao espiritual. Quando embarcamos numa jornada comoessa, abrimo-nos possibilidade de remover os bloqueios eobstculos que nos impedem de receber e dar amor. Esta a prticapara desenvolver um corao cheio, forte, aberto e lmpido.

    O tambor a imitao humana das batidas do corao. Associedades xamnicas utilizam-se dele para facilitar o acesso curae sustentar a abertura do corao. Em sua pesquisa, Andrew Nehernos relata que a induo snica do tambor pode nos afetar oalinhamento da freqncia cerebral com estmulos auditivosexternos, e que esse alinhamento pode reequilibrar o sistemanervoso central.

    Na obra de Michael Hart, Drumming at the edge of magic, otamborista nigeriano Babatunde Olantunji descreve a instrnsecacapacidade desse instrumento para estabelecer o reequilbrio dosistema humano: De onde eu venho, dizemos que o ritmo a almada vida, porque todo o universo se movimenta em torno dele, equando samos do ritmo que surgem os problemas. Por esta razoo tambor o nosso segundo mais importante instrumento, depois davoz humana. especial.

    Melinda Maxfield continua o trabalho de Neher e refora osaber inato de Olantunji. Em sua pesquisa, descobriu que apercusso em geral, e o ritmo do tambor, em particular, facilitam oingresso s imagens de contedo ritualstico e cerimonial. O trabalhode Maxfiel refora a concluso de que a sesso de jornada,combinada com a induo snica do tambor, permite o acesso psicomitologia ou trabalho com imagens e memria na qual cadapessoa, capaz de chegar cura e ajuda, transforma a patologia. Acombinao de jornada/tambor pode ser uma forma ancestral doque hoje conhecemos como tcnica de reduo de estresse, bemcomo uma forma natural de induo a um estado alterado deconscincia.

    o amor que revela o eternoem ns e em nossos vizinhos.

    Miguel de Unamuno, Tragic sense of life

    Meditao em Posio Deitada

    Aposio deitada a postura de maior capacidade de cura queo corpo pode assumir. O organismo associa-a ao descanso e ao

    alimento que vm do receber e dar amor. a postura da rendio eda abertura. A postura deitada assumida na jornada uma forma de

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    colocar o corpo como canoa do esprito para abrir-se orientao ereceber a cura. Isso nos d oportunidade de analisar as experinciaspositivas e desafiadoras que precisamos enfrentar. A postura deitada utilizada em vrias e diferentes culturas como a melhor parareceber a cura.

    Toda jornada considerada sagrada. O indivduo necessrioapenas para observar o que revelado em termos de sentimentos,sensaes, lembranas, associaes, visionarizaes, sons, cheirose sensaes de vazio. O sagrado venerado por meio da observao elembranas do material revelado durante a jornada. Muitassociedades xamnicas acreditam que, enquanto estamos em nossacanoa do esprito, o Grande Esprito, os ancestrais, e nossos animaisaliados nos revelam o que necessrio para nossa cura e orientao.Uma prtica na jornada consiste em prestar ateno para ondevamos ou o que revelado. Dessa forma, honramos nossa prpriapsicomitologia, que traz em si o componente de cura para nossosmales.

    A psique se compe de trs partes: logos, nosso conhecimentoinato; eros, nossa natureza amorosa; e mythos, nosso sonharacordado, ou mito. Trazer nossa psicomitologia pessoa tona oprocesso de lembrar e recordar a sabedoria e o amor que nos soinerentes e naturais, por meio de nossos sonhos acordados ou mito.Atravs das imagens e da sesso de jornada a psique far refletir devolta a orientao ou trabalho de cura de que necessitamos. Ossonhos recorrentes ou imagens prediletas so geralmente os meiosde que nossa psique se utiliza para nos mostrar o que importante

    em nossa prpria natureza. Por exemplo, se sonhamosrepetidamente que estamos indo escola e fazendo exames, estapode ser uma importante mensagem para que prestemos maisateno aos repetidos desafios ou testes com que nos defrontamosnas situaes comuns de vida.

    O despertar religioso que no desperta o adormecidopara o amor, desperta-o em vo.- Jessamyn West (Warner, Women of faith)

    Nas sociedades xamnicas, os smbolos representam as pontes

    entre a realidade visvel e invisvel, e so mecanismos psicolgicos deenergia transformadora. Essas tradies acreditam que nossas prpriasestruturas simblicas contm revelaes divinas. As jornadas so vistascomo ferramentas de ensino que possibilitam a cura, o ensino e asvises. Cada pessoa presenteada com o que espiritualmentenecessrio. A jornada pode no incluir nenhuma das experinciasantecipadas pelo ego e sua agenda, mas sempre revelar o trabalhoespiritual que, de fato, desejado na inerente psicomitologia doindivduo. Consequentemente, importante confiar na sabedoria dapsique, e simplesmente observar o que revelado durante a jornada,

    sem controlar ou dirigir o processo. As tradies xamnicas afirmam

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    que, se nada ocorre durante a sesso, tempo de espera e integrao, eno de agir; ou, num sentido mais literal, tempo de no fazer nada.

    Quem quer que consiga enxergar atravs de todos osmedos, sempre estar seguro.

    - Lao Tse, Tao Te Ching(Mitchell)

    Na tradio xamnicas h trs mundos que podemos visitardurante uma sesso: o mundo mais alto, o mundo subterrneo eo mundo do meio. Todas as culturas apresentam mitos deascendncia e descendncia. Os mitos de ascendncia so, emltima anlise, histrias de viagens ao mundo mais alto, onde seencontram lugares magnficos, importantes mestres eexperincias de elevao e expanso. So quase sempresimbolizadas por visitas a jardins, vos nas asas dos pssaros, ouencontros com pessoas que so significativas para ns. Nessemundo, recebemos orientaes e cura.

    Os mitos descendentes so histrias sobre viagens aomundo subterrneo, onde nossos animais de fora e aliados nosfortalecem para enfrentarmos com coragem nossos testes edesafios internos e externos. As viagens ao mundo subterrneo aventuras em cavernas, descidas ao fundo dos lagos ou viagensatravs dos tneis so maneiras pelas quais recuperamospartes perdidas de ns mesmos.

    O mundo do meio o que chamamos de realidade omundo exterior da riqueza, das finanas, do trabalho, da

    criatividade e dos relacionamentos. Quando nos surpreendemosretornando ao aposento onde estamos realizando a jornada, nossaprpria psicomitologia nos est pedindo para trazer nossoremdio ou poder para nossa prpria vida.

    Sesso de Acalentar

    Algumas tradies xamnicas de partes da frica esociedades da Oceania atendem sade e ao bem-estar pelasesso de acalentar, uma prtica composta de quatro partes, paraestar em contato com os aspectos do bem, da verdade e da beleza

    de nossa prpria natureza. Nesta tcnica, deitamo-nos de costas ecolocamos as mos sobre o corao (em muitas culturas, as mossimbolizam a cura). Em silncio, reconhecemos as qualidades decarter que apreciamos em ns, reconhecemos nossa fora, ascontribuies que fizemos e continuamos a fazer, e agradecemospelo amor oferecido e recebido.

    Nessas sociedades, essa prtica geralmente levada a efeitotrs vezes ao dia: uma no perodo suave do dia, pela manh;outra no perodo forte do dia, tarde; e uma no perodo sutil, noite. A sesso de acalentar e os diferentes perodos do dia nos

    recordam que somos criaturas suaves, fortes e sutis. Atualmente

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    esse tipo de sesso de cura chamado de visualizao criativa, deafirmao ou de auto-estima.

    A sesso de acalentar e a sesso de jornada, como vimos,so formas de meditao em posio deitada. Essas formas demeditao so encontradas em vrias tradies espirituais e so

    usadas para se obter acesso ao amor. a melhor postura paraabraar e transformar as questes relativas ao medo, raiva econtrole. tambm utilizada para reabrirmos o eu para os vriosbraos do amor e para reequilibrar as quatro cmaras do corao.

    Tudo o que necessrio para tornar este mundo umlugar melhor para viver amar amar como Cristoamou, como Buda amou.- Isadora Duncan (Warner, Woman of faith)

    A RELAO DO CURADOR COM A NATUREZA

    Os povos nativos reconhecem que a ferramenta maisfortalecedora e de cura de que dispomos nossa ligao com anatureza e com o mundo natural. Muitas culturas indgenasreferem-se s rvores como pessoas de remdio do reino dasplantas, e as sociedades xamnicas ficam perturbadas quandograndes quantidades de rvores so demolidas e no replantadas.Os povos indgenas reconhecem que as rvores so essenciais sobrevivncia de todas as criaturas viventes, e assim asconsideram como possuidoras do grande remdio.Transculturalmente, plantam-se rvores nos nascimentos,casamentos, falecimentos e comeos importantes.

    Em muitas culturas, as rvores simbolizam atransformao, por sua capacidade de mudar, de estao paraestao. As tribos bantus da frica tm uma cerimnia deprimavera em que oferecem seus ferimentos pessoais etraumticos a uma rvore, com o objetivo de cura, com a intenode nunca mais falar em voz alta sobre essa dor. Nas sociedadespr-histricas da Europa,a arte das cavernas revelam o mesmoritual, que expresso pelo desenho da mo-rvore.

    Os povos nativos do mundo inteiro reconhecem a relao

    entre a natureza e cura. Santa Hildegarde de Bingen, mstica dosculo XII, descreveu a necessidade desse relacionamentointerligado (in: Fox, Original blessing): Toda a natureza encontra-se disposio da humanidade. Temos que trabalhar com ela,porque sem ela no podemos sobreviver. E um poema de autorannimo diz:

    rvore antiga apossou-seDe velha e profunda ferida, reabertaCura intemporal se aproxima

    Outras metforas e smbolos naturais atribudos aocaminho do Curador incluem a Me Natureza, o reino das

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    plantas, o reino mineral, e todas as criaturas de quatro pernas.Essa direo, na roda medicinal, aquela para a qual os povosnativos se voltam em busca das pessoas, rituais e cerimniasnecessrias sesso de cura.

    O Sul frequentemente associado primavera; assim,

    direo e estao so vistos como espaos de renovao,regenerao e manuteno da sade para vrios gruposindgenas. esta a direo da manuteno da sade do coraode quatro cmaras, lembrando-nos do poder de cura que seencontra nos tipos universais de amor, e que conduzem a umaviso equilibrada da sade. Nessa direo podemos curar nossosferimentos e liberar os recursos humanos que se encontramaprisionados dentro dos aspectos sombra do arqutipo da cura.

    Com um corao intrpido, um rato levanta umelefante.- Provrbio tibetano (Feldman, A world treasure)

    COMO O CURADOR /LDER LATENTE SE REVELA: OS ASPECTOSSOMBRA DO ARQUTIPO DO CURADOR, A CRIANA FERIDA DOSUL

    Experimentamos o lado sombra do Xam, quando no cuidamosde nossa prpria sade e bem-estar. Cuidar de nossa prpria sadeexige de ns um compromisso em relao aos padres afirmativos devida. Quando esses padres no se fazem consistentemente presentes,o

    lado sombra do arqutipo se revela na criana ferida do Sul, que exibepadres de comportamento de carncia e retraimento, e se amplia nafigura do mrtir. O arqutipo do Curador pode trazer consigo o aspectosombra, que revela nossa prpria natureza de dependncia e de padresde negao da vida. Muitas vezes nos referimos a esses padres comodependncias. Sob toda forma de dependncia pode encontrar-se umauma pessoa que um mrtir indulgente, no determinado a lutar porsua prpria sade e bem-estar. O reforo dos padres de negao devida abre as portas para a doena e o sofrimento.

    Quatro Formas Universais de Dependncia

    Diz-me quem amas e eu te direi que s.- Provrbio afro-americano (Feldman, A world treasure)

    Talvez o que classificamos como formas de dependncia, taiscomo lcool, drogas e sexo, sejam na verdade sintomas de um padromais profundo de dependncia do qual compartilhamos enquantoespcies. Olhando a dependncia sob uma perspectiva transcultural,descobri que isso verdadeiro e que existem quatro padres bsicos dedependncia, que todos os seres humanos compartilham:

    1. Dependncia de intensidade. O recurso humano no aplicado a expresso do amor.

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    2. Dependncia de perfeio. O recurso humano no aplicado aexpresso da excelncia e do correto uso do poder.

    3. Dependncia da necessidade de saber. O recurso humano noaplicado a expresso da sabedoria.

    4. Dependncia de apegar-se ao que no d resultados, em vez de

    dedicar-se quilo que d. O recurso humano no aplicado aexpresso da visionarizao e da viso do todo.

    A dependncia de intensidade quase sempre ocorre em indivduos queapresentam baixa tolerncia ao tdio. Quando as coisas se tornammuito lentas ou rotineiras, as pessoas dependentes de intensidadedramatizam, vo em busca do sensacionalismo, exageram suaexperincia de vida para sentir que existem. Muitas delas seencaminham para as drogas, lcool e sexo com o fim de intensificarsuas experincias e criar a iluso de mais vitalidade e vida. Aintensidade o aspecto sombra do amor. Quando corretamentedesenvolvida, o que aguarda para ser aplicado o recurso humano doamor e o apaixonado corao de quatro cmaras.

    A segunda dependncia a da perfeio. Algumas sociedadesindgenas vem claramente a diferena entre perfeio e sabedoria. Aprimeira no tolera o erro, enquanto a segunda os incorpora e aprendecom eles. Os dependentes de perfeio possuem baixa tolerncia emrelao a falhas, e exposio de vulnerabilidade de qualquer tipo.Igualam vulnerabilidade com fraqueza. Contrariamente a este ponto devista, as sociedades indgenas vem na vulnerabilidade uma expressode fora. Entendem naturalmente que a vulnerabilidade nasce do eu

    autntico. Sempre que nos encontramos dependentes de perfeiocomeamos a caminhar na procisso dos mortos-vivos, ou nostransformamos em manequins ambulantes. Negamos nossahumanidade e investimos toda nossa energia para manter uma imagemcultivada ou fachada que mostra como queremos ser vistos, em vez denos expor como somos. A perfeio o lado sombra da sabedoria e douso correto do poder. Embora a dependncia esteja bem desenvolvida, oque aguarda no outro lado para ser aplicado o recurso humano dopoder e a excelente capacidade liderana.

    A dependnciada necessidade de saber a terceira dependnciacompartilhada por toda a espcie humana. importante informar-se esaber; no entanto, nos casos de dependncia, a pessoa levadacompulsivamente pela necessidade de saber ou de compreender. Essaspessoas no apreciam surpresas ou acontecimentos inesperados.Quando nos encontramos dependentes da necessidade de saber,tornamo-nos mestres em controlar e temos grandes problemas comrelao a confiar. Tudo tem que ser restringido a compartimentos, asinformaes tm de ser controladas, e os relacionamentos, objeto detoda uma estratgia. Tornamo-nos dogmticos, rgidos, crticos earrogantes. Essas caractersticas compem o lado sombra da sabedoria.Se a dependncia est bem desenvolvida, o recurso humano da

    sabedoria aguarda ser aplicado. A sabedoria engloba as caractersticasde objetividade, clareza e discernimento.

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    A dependncia de apegar-se ao que no d resultado, em vez dededicar-se quilo que os traz, a quarta forma de dependncia. Averdade que a maior parte de nossa vida, quando a olhamos como umtodo, apresenta bons resultados. Apenas uma parte de nossa vida noapresenta bons resultados, mas no seu todo. Se a dependncia est

    exacerbada, existe a tendncia de ampliar as experincias negativas,dando-lhes uma proporo desmedida. Tendemos a encarar a vida sobprisma fixo, no reconhecemos nossos pontos cegos e somos incapazesde confiar em informaes intuitivas. Essa dependncia o lado sombradas quatro formas de ver: intuio, discernimento, percepo evisionarizao. As quatro formas de ver nos permitem o amplodesenvolvimento do dom da visionarizao e liberam a dependncia deapegar-se ao que no d resultados. Quando esta dependncia seliberta completamente, comeamos a ver as bnos, dons, talentos erecursos de que dispomos em nossas vidas.

    melhor prevenir do que remediar.- Provrbio peruano (Feldman, A world treasure)

    Os Oito Princpios Universais da Cura

    Os oito princpios universais da cura, utilizados pela maior partedas culturas, do sustentao sade e ao bem-estar. Quando noatendemos plenamente a esses princpios, encontramo-nos no ladosombra do arqutipo do Curador. Analise a tabela a seguir e verifiquepor si mesmo em que aspectos voc est dando suporte sua sade e

    bem-estar, e em que est se descuidando dessas questes:

    PROPICIAM SADE E BEM ESTAR NO PROPICIAM SADE E BEM ESTAR

    1. Dieta balanceada 1. Dieta no-desbalanceada2. Exerccios dirios e semanais 2. Falta de exerccio3. Tempo reservado a brincadeiras 3. Mau humor, falta de divertimento

    Lazer e riso e de brincadeiras4. Msica, sons e cantos 4. Ausncia de msica, de sons e cantos5. Amor, toque e sistemas 5. Falta de amor, de toque e de sistemas

    De apoio de apoio6. Engajar-se em programas de interesse 6. Falta de interesses, hobbiese atividades Hobbiese atividades criativas criativas7. Natureza, beleza e ambientes saudveis 7. Distanciamento da natureza, da beleza

    Saudveis e de ambientes saudveis8. F e crena na espiritualidade 8. Falta de f e de crena na espiritualidad

    PROCESSOS E LEMBRETES: PRTICAS ESSENCIAIS PARA ODESENVOLVIMENTO DO CURADOR INTERIOR

    1. Dedique ao menos quinze minutos por dia para a prtica dameditao em posio deitada. Registre sua experincia em seu dirio oucomece um novo, especialmente para meditaes.

    Meditao em posio deitada

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    Acesso ao Curador InteriorAcesso Qualidade do Amor e da Renovao

    Propsito

    O propsito da meditao em posio deitada reverenciar o

    tempo sagrado. Tempo dedicado introspeco, contemplao,descoberta e venerao do sagrado ou divino.

    Postura

    Deite-se no cho, de olhos abertos e delicadamente focalizadosnum ponto distante. Com os braos ao longo do corpo, mantenha umdos antebraos perpendicular ao cho, dobrado na altura do cotovelo.Tendo um dos braos levantados voc no adormecer, pois se o fizersua mo cair ao cho ou sobre seu corpo.

    Processo

    Quando o corao repousa, v festa em tudo.- Provrbio hindi, ndia Asitica (Feldman, A worldtreasury).

    Neste tempo e postura sagrados, voc pode escolherconscientemente entre curar a si mesmo ou aos outros. Pode entrar emcontato com sua energia interior de cura, de alento, de amor e deatendimento, pedindo por orientao e ajuda divinas para a cura das

    partes feridas de sua natureza.Esta postura a que mais se associa plenitude e experinciahumana direta do amor humano e divino. a postura que todos osseres humanos, universalmente, usam para descansar, dormir esonhar. Utilizada conscientemente, pode constituir-se um meio parafortalecer nossa auto-estima e para nutrir a si mesmo, na mesmaproporo que nutrimos aos demais.

    2. Reserve de cinco a dez minutos para a sesso de acalentar comoforma de confirmar e aumentar a auto-estima. A sesso xamnica deacalentar uma prtica qudrupla que honra seu eu maior, e lembra-o

    da rede que ampara e une todos os seres.Deite-se na postura do Curador interior: mo direita sobre ocorao e esquerda sobre a direita.Depois agradea:Por suas foras e talentos;As qualidades de carter que aprecia em si mesmo;As contribuies que tem feito e faz;Pelo amor oferecido e pelo amor recebido.

    3. Identifique sua dor uma histria que voc sempre conta, ligada

    a algum acontecimento traumtico que lhe aconteceu. Oferea essa dor auma rvore em especial, e nunca mais volte a falar sobre ela. Algumas

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    culturas indgenas se utilizam dessa prtica como forma de firmar umcompromisso para curar suas partes feridas.

    4. Pelo menos uma vez por ms faa uma sesso de jornada com

    tambor. Use a gravao em fita, de Michael Harner ou do I Ching,ou pea a algum que bata o tambor para voc.

    5. Reserve um momento dirio para conferir as condies da quatrocmaras de seu corao. Voc tem estado atento ao que tem corao esignificado para voc? Ou seu corao est sufocado de eu queria...?

    Orao do Curador

    Ouve, sonho meu!Isto, tu me disseste que deveria ser feito.Esta, me indicaste, deveria ser a maneira.Afirmaste que isto curaria os enfermos.Agora, ajuda-me.No me enganes.Ajuda-me Ser Solar.Ajuda-me a curar este homem enfermo.

    - Blackfeet (in: Bierhorst, The sacred path)

    SUMRIO DO ARQUTIPO DO CURADOR

    O arqutipo do Curador pede que estejamos atentos a tudo o quetem corao e significado. Desenvolvemos nosso Curador interiorquando atendemos s condies e ao bem-estar do corao de quatrocmaras; quando respeitamos e estendemos os braos ao amor por nsmesmos e pelos demais; e quando mantemos um ponto de vistaequilibrado com relao sade.

    CORAO DE QUATRO CMARAS Corao pleno. Corao aberto. Corao lmpido. Corao forte

    O corao de quatro cmaras nos permite experimentar os seis tipos de amoruniversal

    . Amor entre companheiros e amantes

    . Amor entre pais e filhos

    . Amor entre amigos e colegas

    . Amor atravs dos laos profissionais: mestres/estudantes; terapeutas/clientes etc.

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    . Amor por si mesmo

    . Amor incondicional ou espiritual

    QUATRO CATEGORIAS UNIVERSAIS DE RECONHECIMENTO HUMANO

    . Habilidades

    . Carter. Aparncia

    . Impacto que causamos sobre o outro

    OS BRAOS DO AMOR

    . Reconhecimento

    . Gratido

    . Valor

    . Aceitao

    . Considerao

    QUATRO BLSAMOS DE CURA: CONTAR HISTRIAS, CANTAR, DANAR E FAZER

    SILNCIO.

    QUATRO FORMAS DE DEPENDENCIA E QUALIDADES HUMANAS ESPERA DESEREM TRABALHADAS

    . Dependncia de intensidade (recurso humano: amor)

    . Dependncia de perfeio (recurso humano: poder)

    . Dependncia de saber (recurso humano: sabedoria)

    . Dependncia de apegar-se ao que no d resultados (recurso humano: viso)

    SESSO DE ACALENTAR

    . Agradecer por suas foras. Agradecer pelas qualidades que aprecia em si

    . Agradecer pelas contribuies que faz e que fez

    . Agradecer pelo amor que ofereceu e recebeu, e pelo amor que est oferecendo erecebendo.

    Questes

    Pense em suas respostas s questes que se seguem. Paradesenvolver o Curador interior, formule e responda diariamente denmero 10.

    1. Quais so meus contos infantis preferidos? Quais so as histriasde minha infncia que conto aos outros?

    2. Que histrias conto a meu respeito quando fao novosrelacionamentos? Quais so minhas histrias espirituais,familiares e de amor preferidos?

    3. O que sei sobre o amor?Quais foram as pessoas que se tornarammestres de meu corao? Faa um quadro-colagem com osmestres preferidos de seu corao, ou escreva-lhes cartas deagradecimento/

    4. Que bloqueios e obstculos se antepem s minhas manifestaes

    de amor. Que bloqueios ou obstculos se antepem minhacapacidade de receber amor?

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    5. Onde e com quem sinto que o amor que ofereo tem receptividade?Quem o catalisador de cura de minha existncia?

    6. Das quatro formas universais de reconhecimento, quais as quesempre tenho recebido? Quais as que nunca recebo?

    7. Das quatro formas de dependncia, com a qual me identifico

    melhor, e qual a que mais desenvolvi em mim?8. Reveja o equilbrio do ponto de vista sobre a cura de Jeanne

    Achterberg. Quais desses conceitos ou pontos de vista no seencaixam plenamente, ou no so levados em conta dentro de meuprprio conceito de cura? Como posso incorporar esses pontos devista minha vida diria?

    9. Dos oito conceitos universais de manuteno da sade e do bem-estar, quais as que mais sobressaem e quais os que menossobressaem em minha natureza?Use o resto do ano para pr osoito em equilbrio.

    10. Quais as condies de meu corao de quatro cmaras? Quandomeu corao mais pleno? Quando mais lmpido? Quando maisaberto? Quando mais forte?