6a Aula - Teorias da Modernização

Embed Size (px)

Citation preview

  • 5/27/2018 6a Aula - Teorias da Moderniza o

    1/7

    1

    ASOCIOLOGIA POLTICADURKHEIMIANA :TEORIAS DA

    MODERNIZAO

    I. Referncias:ALMOND, G. The Appeals ofCommunism. Princeton: Prince-ton Univ. Press, 1954.

    DEUTSCH, Karl. Social Mobili-zation and Political Development.The American Political Science

    Review, Vol. 55, Nmero 3, pp.493-514, Setembro, 1961.

    HUNTINGTON, Samuel. P. AOrdem Poltica nas Sociedadesem Mudana. So Paulo: Forense,1968.

    _________________. PoliticalDevelopment and Political Decay.World Politics, Volume 17,

    Nmero 3, pp. 368-430, Abril,

    1965.PARSONS, Talcott. Sociedades:

    perspectivas evolutivas e compa-rativas. So Paulo: Pioneira,1969.

    _________________. Socialstructure and personality. Lon-don: Free Press, 1964.

    II. A ordem social comoproblema terico:

    i.

    Do prisma marxista, o carterperemptoriamente burgus daordem social capitalista [isto, a posse de capital comofundamento maior da hierar-quizao social] tenderia aser progressivamente refor-ado com o aprofundamentoda acumulao;

    ii. Ou seja, o predomnio polti-co dos burgueses tenderia aser ampliado e cristalizadopela acumulao capitalista[pelo menos at que a eclosode um processo revolucion-rio...];

    iii. luz de O Capital, ao menos,o estudo dos corolrios e con-tradies da acumulao so-

    brepujaria o estudo da ordemsocial em si, j que seria apa-rentemente por emulao daacumulao que determinadaordem social, notadamenteburguesa, seria erigida e re-ajustada. Com efeito, nomarxismo a questo da ordemsocial somente angariaria real

    centralidade quando doamontoamento de contradi-es determinadas peloprprio avano do capita-lismo, isto , j sob circuns-tncias contingentementerevolucionrias;

    iv. J no mbito da sociologiade matriz durkheimiana, aocontrrio, os anteparos decada padro de integraosocial so uma questosempre crucial;

    v. Do ponto de vista durkhei-minano, imperioso queenfoquemos as conexesbiunvocas entre ordena-mento poltico e acumula-o capitalista;

    III.A ordem social comoproblema histrico:

    i. Supondo um territrio ondea economia fosse organiza-da segundo um molde no-capitalista, exequvel sus-tentar a previso de que,estabelecido um conjuntode nexos com capitalismointernacional, ocorreria

    substancial reforo dopoder da elite nativa[revigorado por novosinstrumentos de domi-nao e cooptao tipi-camente capitalistas,como a imprensa demassas e os corpos po-liciais regulares];

    ii. No entanto, a histriamundial dos anos1950/60 trazia tonaepisdios que lanavam

    sombra sobre essa ex-pectativa. Afinal, opice da Guerra Friaemulava naturais ques-tionamentos sobre aefetiva capacidade dacivilizao atlntica-setentrional em seduzircom seus modos de vi-da os povos recente-mente descolonizados.E, nesse contexto, opoder persuasivo doComunismo se con-vertia, naturalmente,em matria de primeiragrandeza no universodos estudos polticosnorte-americanos;

  • 5/27/2018 6a Aula - Teorias da Moderniza o

    2/7

    2

    iii. Aps a ecloso de profun-das rupturas polticas emCuba (1959), Arglia(1962), Imen (1962), Zan-zibar (1964) e Sudo (1964),seria ainda razovel crerque todos os regimes aemergir desses novos ventosadotariam uma postura ne-cessariamente alinhada aoBloco Ocidental?

    Os autores que abaixo vi-sitaremos deram distintas

    respostas a tal questiona-mento. Suas proposiesconstituram um campode elucubraes tericasacerca dos nexos entremodernizao capitalistae estabilidade poltica.

    IV. Parsons: a ordempoltica liberal-burguesa

    como corolrio da moder-nizao capitalista:

    i. O primeiro pioneiro adebruar-se sobre o nexoentre a modernizao capi-talista das sociedades des-colonizadas e a ordem po-

    ltica foi o grande continu-ador de Durkheim, TalcottParsons;

    ii.O primeiro elemento aressaltar no mbito daconstruo parsoniana sua opo metodolgicapor enxergar a interaosocial como inteligvel apartir de quatro subsiste-mas analiticamente distin-tos: o sistema cultural, osistema social, o sistemade personalidade e o or-ganismo comportamental.Vejamos como ele definecada um destes quatro pla-nos:

    1. Sistema Cultural: seria oconjunto de padres cultu-rais de avaliao, respons-vel por conferir ou negar

    legitimidade ordemnormativa vigente na socie-dade. Ele constituiria o fun-damento, por exemplo, dos

    juzos morais feitos duranteo dia-a-dia da interao so-cial. Nas sociedades tradici-onais, com efeito, o sistemacultural estaria fundamen-

    tado em orientaes tradi-cional-religiosas, possi-velmente corporificadasnas artes visuais e nas refe-

    rncias orais cotidianas.

    2. Sistema Social: seria aordem normativa padroni-zada atravs da qual a vidade uma populao se orga-niza coletivamente. Numasociedade tradicional, po-demos pinar como partede um sistema social hipo-ttico uma norma rigida-

    mente observada, segundoa qual mulheres vivas deuma determinada tribo s

    podem demonstrar simpatiapor um segundo matrim-nio aps determinado rito,sendo punidas com o ostra-cismo cotidiano aquelasque desobedeam a tal tra-dio.

    3. Organismo Comporta-mental: poderia ser definidocomo o comportamento deorganismos humanos vi-vos, abrangendo suas ne-cessidades e pulses org-nicas. Colocamos nesta ca-tegoria nossos desejos ali-

    mentares ou sexuais,por exemplo. Estas ne-cessidades de preserva-o estariam, por sua

    vez, sujeitas aos est-mulos do ambiente noqual a interao socialse d. Alm disto, claro,nossas pulses estariamsujeitas a diversas pres-ses culturais e sociaisdesde o perodo de so-cializao primria deum indivduo.

    4. Sistema de Persona-lidade: poderia ser de-finido como a organi-zao aprendida do in-divduo que se compor-ta, na qual o processode socializao prim-ria sempre uma ins-tncia crucial. Quandoafirmamos, no mbitode uma sociedade tradi-cional, que jovens des-temidos esto mais

    bem aparelhados paraexecutar o papel de ca-ador ou guerreiro, esse sistema que temosem mente.

  • 5/27/2018 6a Aula - Teorias da Moderniza o

    3/7

    3

    iii.Na perspectiva de Tal-cott Parsons, haveria umapermanente interao entre

    estas quatro dimenses. Porexemplo, a personalidadedo indivduo, assim como oconjunto de pulses fisio-lgicas j aludido, seriamconjuntamente capazes desuscitar alvos a serem per-seguidos pelo mesmo. Es-tes alvos seriam objeto derestrio ou excitao porparte dos sistemas culturale social. E, ademais, a pr-pria conformao da perso-nalidade seria, de certaforma, explicada pela inte-rao entre as pulses fsi-cas e os limites scio-culturais circundantes;

    iv.Parsons identificou qua-tro nveis analticos distin-tos que deveriam ser neces-sariamente observados. En-tre estes, haveria uma hie-rarquia de fatores condicio-nantes. Isto , algumasdestas dimenses seriammais ricas em energia doque outras, sendo por isso

    classificadas acima nestaescala. Quanto a isto, o or-ganismo comportamental,

    seguido pelo sistema depersonalidade, constituiri-am as categorias analticasmais ricas em energia cria-dora e transformadora.

    Esta vivacidade no seria tofacilmente identificvel nosoutros dois planos restantes o sistema cultural e osistema social . particu-larmente ricos em informa-o como normas a se-guir, ou punies previstasem caso de eventuais viola-es, etc. , liderando poristo outra escala, que Par-sons denominou hierarquiade fatores de controle.

    Citao: [...] sistemas com mui-

    ta informao e pouca energiaregulam os sistemas com muitaenergia, mas pouca informao.

    {Parsons, 1969: 22}.

    v. O esquema adiante til na compreenso daproposio de Parsons:

    vi.

    Um atributo marcante daproposio de Parsons, espe-lhando Durkheim, a recusa aexplicaes individualistas pa-ra o comportamento humano.Ao contrrio, ele identifica ainteriorizao das normas ex-teriores que garantem a inte-grao social:

    Citao: [...] a manuteno deuma ordem normativa exigeque seja implementada de v-rias formas; preciso havermuita obedincia emborafreqentemente incompleta s expectativas comportamen-tais estabelecidas pelos valorese pelas normas.

    A condio mais fun-damental para tal obedin-cia a interiorizao, pelosseus membros, de valores enormas [...]{Parsons, 1969: 29}.

    vii. Outra dimenso desua construo a ressaltar seu foco nos padresestatisticamente relevan-tes, e no nas idiossincra-sias individuais. Para ele,ento:

    Citao: [...] por mais im-

    portante que possam ser asvariaes individuais na de-terminao da ao concre-ta, so os padres comunsde grandes grupos de sereshumanos [...] que constitu-em o substrato orgnico ma-cio da ao. [Desta for-ma,] [...] o ncleo de umasociedade, como um siste-ma, a ordem normativa

    padronizada atravs da quala vida de uma populao seorganiza coletivamente.{Parsons, 1969: 17}

  • 5/27/2018 6a Aula - Teorias da Moderniza o

    4/7

    4

    viii. Estabelecidos esses eixosprincipais da construo par-soniana, parece indicado queexaminemos especificamentecomo esta pode ser til com-preenso da ordem social numasociedade em transio tar-dia para o capitalismo;

    ix.Examinemos primeiramentesua posio acerca da ordemnas sociedades tradicionais.Quanto a elas, Parsons faz alu-so a quatro complexos orga-

    nizacionais permeando os sis-temas cultural e social responsveis pela reprodu-o da ordem social. Vejamossua explicao a respeito:

    Citao: Quatro caracte-rsticas das sociedades hu-manas [...] [podem ser] ci-tadas como tendo significa-do premente e universalcomo pr-requisitos ao de-senvolvimento cultural:tecnologia, organizao de

    parentesco baseada no tabudo incesto, comunicao

    baseada na linguagem, e re-ligio. {Parsons, 1964}

    x. Conseguintemente, po-demos intuir que a mudanasocial siga um lento curso nes-tas sociedades, uma vez queos eixos coercitivos que de-terminam sua conformaoso tendentemente muito es-tanques. Afinal, a linguagem,a tecnologia e a religiosidadeapresentariam, ali, padroevolutivo muitssimo lento. E,ademais, a organizao de pa-rentesco constituiria um cons-truto hierrquico muito inerte,

    quase imalevel;

    xi. Na construo parsonia-na, nada obstante, uma socie-dade tradicional poderia a par-tir de certo ponto enveredarpela senda da transformao e, de sua perspectiva oci-dental, do aprimoramento desde que dois dos anteparosacima aludidos viessem a serrelaxados. Na sua prpria ex-plicao:

    Citao: [H alguns comple-xos organizacionais] particu-larmente relevantes para aemergncia das sociedades doprimitivismo,

    [entre eles,] [...] a estratifi-cao, envolvendo uma primeiraruptura com a atribuio por pa-rentesco, e a legitimao cultural,

    com agncias institucionalizadasque independam de uma tradioreligiosa difusa {Parsons, 1964]

    xii. Trocando em midos, asamarras que ali obstruiriam atransformao social tenderi-am a ser afrouxadas desde quedois dos complexos organi-zacionais acima citados ga-

    nhassem contrapartes mais so-fisticadas e maleveis. Emtermos precisos:

    a. A distribuio do statussocial por parentesco viesse aser deslocada por um sistemamais flexvel de estratifica-o;

    b. A legitimao religiosados bens simblicos fosse lu-xada por mecanismos institu-cionalizados mais dinmicosde atribuio de valor imateri-al.

    xiii. Ou seja, a ventilaodesses dois complexos orga-nizacionais acima aludidos

    abriria terreno, no limite,para a incorporao tam-bm a essas sociedadesdos anteparos da reprodu-o social que tipificariam,as modernas sociedades doOcidente;

    Citao: Fundamental estrutura das modernassociedades so, tomadosem conjunto, quatro ou-tros complexos: a organi-zao burocrtica do com

    vistas a um objetivo cole-tivo, sistemas de mercadoe monetrios, um sistemalegal generalizado e uni-versal, e a associao de-mocrtica com lideranaeleita e participao me-diada com vistas a darsuporte s orientaes po-lticas. {Parsons, 1964}

    xiv.Esses novos com-plexos culturais adqui-rem na construo par-soniana tons de umainevitabilidade, pois elesno teriam despontadono Ocidente seno porconstiturem o tipo de

  • 5/27/2018 6a Aula - Teorias da Moderniza o

    5/7

    5

    sistema cultural e sistemasocial mais bem ajustado,

    seja histrica- ou dedutiva-mente, ao imperativo de inte-grao sob as formas maiscomplexas de subsistnciaque teriam despontado noAtlntico Norte;

    xv. Em resumo, Parsons (fiel tradio de Durkheim) noenxerga razo consistente pa-ra duvidar da ruptura da or-dem hierrquica de uma soci-

    edade apenas em funo deum processo de moderniza-o econmica. Fatalmente,novos mecanismos de coer-o e premiao seriam cria-dos para garantir a reprodu-o da ordem sob novas cir-cunstncias materiais.

    V. G. Almond e K. Deu-tsch: a reiterada confian-a no esquema durkhei-miano

    i.Em 1954, com o mundoj imerso na Guerra Fria,Gabriel Almond publica o

    trabalho The Appeals ofCommunism;

    ii.

    Nesse trabalho, eledemonstra concordar comas linhas gerais do enten-dimento de Parsons, e de-senvolve argumentos luzdos quais era possvel ante-ver que a transio para ocapitalismo deveria seracompanhada, tambm nassociedades onde tal transi-o ocorre tardiamente, pe-lo avigoro das hierarquiassociais, e, naquelas circuns-tncias, pela crescente es-tabilidade da ordem bur-guesa;

    iii. Esse prognstico, alis,seria tambm extensvel prpria transio russa aocapitalismo. E, quanto a es-ta, o episdio da Revolu-o Sovitica poderia sermeramente interpretadocom um desvio ocasional etemporrio de uma transi-o histrica ainda por secompletar;

    iv.Almond realiza entoentrevistas com vrios psi-canalistas freudianos orto-

    doxos, com vistas obten-o de evidncias clnicasafianadoras da hiptese deque desordens emocio-nais de alguma naturezapoderiam incrementar apropenso individual simpatia por pelo comu-nismo. Pelas suas conclu-ses, extremamente excn-tricas do prisma hodierno, asusceptibilidade causacomunista poderia ser ex-plicada, entre pacientes in-gleses e norte-americanosde classe mdia, por desa-justamento emocional e

    hostilidade neurtica ge-neralizada.

    Citao: O Partido comumente acolhedor hostilidade neurtica eaos sentimentos e neces-sidades emocionais asso-ciados a ela. {Almond,1954: 269}

    v. No entanto, paraalm de desordens psica-nalticas, Almond reco-

    nhece que as asperezas eprivaes da vida cotidi-ana no III Mundo em

    transio como um ce-nrio favorvel, no casodos indivduos educadose de classe mdia, sfrustraes traumticasresponsveis por favore-cer a simpatia pela causarevolucionria. J naqui-lo que diz respeito aosindivduos de extraoinferior, as motivaesrevolucionrias de ordemambiental seriam tenden-temente muito mais con-cretas;

    vi. Ou seja, combatertais asperezas (com filan-tropia externa) seria umaforma de evitar o quadroscio-ptico responsvelpor emular comporta-mentos que culminariacom a construo meca-nismos disfuncionaisde integrao social.

  • 5/27/2018 6a Aula - Teorias da Moderniza o

    6/7

    6

    vii. Outro autor que teceuconculses semelhantes foiKarl Deutsch. Em seu difun-

    dido artigo Social Mobiliza-tion and Political Deve-

    lopment, de 1961, este cien-tista poltico norte-americanoempreende um estudo qualita-tivo do estgio daquilo quedenominou mobilizao so-cial em diversos pases doquela chamado III Mundo:

    Citao: Mobilizao social onome dado ao processo geral demudana, que acomete partes subs-tanciais da populao de pasesque se movem de modos de vidatradicionais para outros mais mo-dernos. Ela denota um conceitoque remete um sem-nmero de

    processos especficos de mudana,como cmbio de residncia, deocupao, de enquadramento soci-al, do crculo de associados face-a-face, de instituies, de papis, demodos de agir, de experincias eexpectativas, e, finalmente, dememrias pessoais, hbitos e ne-cessidades, incluindo um novo pa-dro de afiliao de grupo e novasimagens da identidade pessoal{Deutsch, 1961}

    viii.Deutsch identifica umsignificativo avano da ex-posio modernidade, e,

    conseguintemente, no nvelde mobilizao correspon-dente a vrios pases. Da suatica, ento, estes estavamse tornando um pouco me-nos como a Etipia e umpouco mais como os EstadosUnidos. [Deustsch, 1961];

    ix. Desse prisma, as institui-es responsveis pela inte-grao social das sociedadesdescolonizadas convergiriam,a seu ritmo, para o padroprevalecente no AtlnticoNorte. E, ademais, essa con-vergncia tenderia a ser com-pletada aceleradamente:

    Citao: Os pases em desen-volvimento da sia, frica, e

    partes da Amrica Latina podemter que cumprir... em apenas

    poucas dcadas um processo decmbio poltico que na histriada Europa Ocidental e Amricado Norte consumiu vrias gera-es; [...] {Deutsch, 1961}

    G. Samuel Huntington odivrcio entre moderni-zao tardia e ordem

    burguesai. Como j sugerido anteri-ormente, a conjuntura inter-nacional dos anos 1960 fa-voreceria a divergncia, en-tre os autores ligados Te-oria da Modernizao,acerca da simultaneidadeentre modernizao capita-lista e estabilidade hierr-quica. Nesse contexto, des-pontam os argumentos deSamuel Huntington, crticoda anteviso parsonianaacerca dos vnculos cont-guos entre a exposio tar-dia modernizao e o avi-goro da ordem poltica in-terna. Propondo a provvelabertura de um hiato entre

    modernizao econmica epoltica, este autor aludiu funcionalidade de um auto-ritarismo modernizante nasregies para as quais o capi-talismo ento se difundia;

    ii.Com efeito, ele buscarefutar a crena de que odesenvolvimento polti-

    co era o destino infalveldas sociedades descolo-nizadas, propondo que areverso dos avanos jalcanados por elas seriasempre uma probabili-dade. Ele pontua aindaque a modernizao so-cial, longe de levar ime-diatamente ao desenvol-vimento poltico, geravacostumeiramente insta-bilidade e decadnciapoltica:

    Citao: [...] um erro con-cluir que, na prtica, a moder-nizao implica a racionaliza-o da autoridade, a diferenci-ao da estrutura e a extensoda participao poltica. [...] a

    modernizao sempre envolvemudana e, usualmente, a de-sintegrao de um sistema po-litico tradicional, mas no en-volve necessariamente ummovimento significativo emdireo a um sistema politicomoderno.{Huntington, 1968: 47}

  • 5/27/2018 6a Aula - Teorias da Moderniza o

    7/7

    7

    Citao: A modernizao social eeconmica subverte os velhos pa-dres de autoridade e destri as

    instituies politicas tradicionais.No cria necessariamente novospadres de autoridade ou novasinstituies polticas. Mas cria anecessidade predominante dasmesmas em vista da ampliao daconscincia poltica e da participa-o politica. {Huntington, 1968:467}

    iii. luz desses argumentos,ao invs de enfatizar apenasa modernizao econmica,supondo como seu indefect-vel corolrio o reforo daordem poltica, as polticasexternas estadunidenses comvistas ao avano da acumu-lao nos pases perifricosdeveriam envolver, como ei-xo central, a conservao da

    ordem poltica. E nessecontexto que Huntingtonsanciona a sustentao tem-porria de regimes de for-a com vistas a salvaguar-dar a modernizao;

    Citao: O vcuo de poder e de au-toridade que existe em tantos pasesem modernizao pode ser preen-

    chido temporariamente por uma li-derana carismtica ou pela foramilitar. {Huntington, 1968: 467}

    iv.Huntington acaba afianan-do, assim, a intromisso es-trangeira no universo polticodos pases atrasados, mesmoque essa redunde na multipli-cao de regimes de exceo

    comprometidos com a defesada ordem planetria burguesa.

    v.No obstante, ele toma ocuidado de advertir que a esta-bilidade poltica dessas regiessomente seria plenamente as-segurada caso neles se sedi-mentasse um conjunto partid-rio, ou ao menos um nico par-tido, que seja firmemente

    comprometido com o ordena-mento burgus da sociedade:

    Citao: Golpes militares e juntasmilitares podem incentivar a moder-nizao, mas eles no produzemuma ordem poltica estvel.

    Ao invs de confiar nos mili-tares, a poltica americana deve serdirecionada criao de ao menosum partido forte e no-comunistanos pases em modernizao.{Huntington, 1965: 429}Ou ainda:Ou as elites estabelecidas en-tram em competio em si paraorganizar as massas por interm-dio do sistema politico existenteou as elites dissidentes as orga-nizam para derrubar esse siste-ma. No mundo em modernizaoquem controla o futuro quem

    organiza a sua politica. [Hun-tington, 1968: 467]

    vi.Como hoje sabemos, osargumentos de Huntington fo-ram extremamente repercuti-dos pelos crculos interaca-dmicos estadunidenses, as-sim como influenciaram in-tensamente o debate pblico

    desse pas. De acordo comUm survey realizado porKenski, em 1974, [...] cientis-tas [polticos norte-americanos] apontaram majo-ritariamente o livro Ordempoltica nas sociedades emmudana como a obra mais

    importante (57,6%) etambm a mais til(59,4%) para a teoria do

    desenvolvimento poltico[MELLO, Natlia Nbregade. O DesenvolvimentoPoltico em Huntington eFukuyama. Lua Nova, SoPaulo, Nmero 80, pp. 97-125, 2010, em referncia a:Kenksi, 1975].

    vii. Fora dos muros dauniversidade, igualmente,

    o impacto de suas ideiasfoi igualmente avassala-dor, em certo sentido legi-timando a poltica externaestadunidense quando es-sa passou a estimularabertamente a tomada dopoder por juntas militaresem vrios pases perifri-cos: Coria do Sul (1960),

    Brasil (1964), Argentina(1966), Chile (1973), en-tre tantos outros casos.