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3Missões - Jul/Ago 2005

SUMÁRIOJulho/agosto 2005/06

MURAL DO LEITOR -------------------------------------04 Cartas

OPINIÃO -------------------------------------------------05 As terras indígenas Mário José Gonçalves / Aparecido Barbosa de Lima

PRÓ-VOCAÇÕES ---------------------------------------07 A importância das "borboletas" na vida Rosa Clara Franzoi

VOLTA AO MUNDO ------------------------------------08 Notícias do Mundo Boletim Rádio Vaticano / El Observador / Fides / Zenit

ESPIRITUALIDADE ---------------------------------------10 Vocação à santidade Salvador Medina

CIDADANIA ----------------------------------------------12 Reforma agrária e corrupção Alfredo J. Gonçalves

TESTEMUNhO ------------------------------------------13 Consagradas para o mundo Maria Lúcia de Jesus

TESTEMUNhO ------------------------------------------14 Só Deus basta Imelda Stefani

FORMAÇÃO MISSIONÁRIA ---------------------------15 A Missão no Concílio Vaticano II Ramón Cazallas Serrano

MISSÃO hOJE ------------------------------------------19 Caminhando juntos Luiz Balsan

DESTAQUE DO MÊS -----------------------------------20 As CEBs e o 11º Intereclesial Nelito Nonato Dornelas

ATUALIDADE ---------------------------------------------22 O 2º Congresso Vocacional Carlos Alberto Chiquim

INFÂNCIA MISSIONÁRIA ------------------------------24 Vamos amar e cuidar das nossas crianças? Roseane de Araújo Silva

CONEXÃO JOVEM -------------------------------------25 Jornada Mundial da Juventude André Cunha de Figueiredo Torres

ENTREVISTA ----------------------------------------------26 Etiópia, um país legendário e fascinante Rosa Clara Franzoi

AMAZÔNIA ----------------------------------------------28 Sares: Serviço de Ação, Reflexão e Educação Social Cláudio Perani

VOLTA AO BRASIL --------------------------------------30 Notícias do Brasil CESE / CIMI / CNBB

E D I T O R I A L

RecURSOS natURaIS e MISéRIa

Um olhar para o mundo em busca de rumo para vida.

Arte: Cleber P. Pires Foto2: Jaime C. Patias

constante exploração de riquezas naturais sem trazer benefícios à população local, cedo ou tarde gera indigna-ção e crises. A situação da Bolívia traz alguns elementos ilustrativos do que representa o domínio e a exploração dos recursos naturais pelas transnacionais. O fato gerador da crise naquele país foi a aprovação da Lei dos Hidrocarbo-

netos, que entre outras medidas, condiciona novas explorações de recursos naturais à permissão dos povos indígenas, além de exigir mudança dos contratos das multinacionais, obrigando as petrolíferas a adotarem o regime de risco, de produção e de ganhos compartilhados. Embora tenha aumentado o controle estatal, a lei não supriu muitas exigências da população. A Bolívia possui a segunda maior reserva de gás natural da América Latina (1,5 trilhão de metros cúbicos). A população indígena Aymara, Quéchua e Guarani, que representa 65% dos 9 milhões de habitantes do país esperava que a riqueza melhorasse seu nível de vida. Mas, desde 1990, quando ocorreram as primeiras descobertas do gás, o quadro social piora ano a ano. De acordo com o último censo de 2001, 63% da população é constituída de pobres. A precária condição de vida da classe mais pobre e a pro-teção dos direitos dos indígenas vêm gerando protestos desde o final dos anos 90. O serviço de águas de Cochabamba era privatizado, efetuado pela empresa americana Inter-national Water (na Bolívia, Águas de Tunari). Com tarifas que aumentaram em até 200%, o boliviano, para pagar a água, utilizava 22% do seu salário mensal. No início de janeiro deste ano, houve uma greve fortíssima para pressionar a saída de Águas de Illimani dominada pela Suez (maior empresa de águas do mundo), que tem como sócio o próprio Banco Mundial, que cobrava 445 dólares americanos para instalar água e esgoto numa residência, o equivalente a nove salários mínimos da região e dizia atender 100% dos moradores de El Alto, quando na realidade só atingia 15%. O governo boliviano emitiu um Decreto Supremo, que equivale à nossa medida provisória, para a saída da Suez.

Agora as lideranças bolivianas exigem a nacionalização do gás, do petróleo, da energia e da água. Politicamente enfraquecidos e dependentes de financiamento externo, países pobres que buscam empréstimos sabem que, para obtê-los, devem facilitar a privatização de seus recursos naturais. A indignação popular da Bolívia é um exemplo a ser seguido pelos países que permitem passivamente que seus recursos naturais indispensáveis à qualidade de vida do povo sejam entregues à exploração predatória. Isso mostra que grupos organizados, detentores de informação e de conhecimento e com consciência de cidadania, estão aptos a exigir respeito aos seus direitos e garantir a democracia. A população não entende porque os governos ficam do lado das empresas estrangeiras e não do povo. Como aceitar que um político eleito pela população para defender o patrimônio do Estado, crie todas as facilidades para beneficiar as transnacionais e coloque-se contra a população que exige um direito legítimo? O que dizer da Lei Kandir que no Brasil concede isenção total de impostos sobre os nossos minérios e tudo que é exportado... Na Bolívia, como no Brasil e em tantos países, sempre as riquezas se vão e o que sobra é a miséria.

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Ano XXXII - no 06 Julho/Agosto 2005

Rua Dom Domingos de Silos, 11002526-030 - São PauloFone/Fax: (11) 6256.8820Site: www.revistamissoes.org.brE-mail: [email protected]

Redação

Diretor: Jaime Carlos Patias

Editor: Maria Emerenciana Raia

Equipe de Redação: Joaquim F. Gonçalves, Cristina Ribeiro Silva e Rosa Clara Franzoi

Colaboradores: Alfredo J. Gonçalves, Vitor Hugo Gerhard, Lírio Girardi, Luiz Balsan, Salvador Medina, Michelangelo Piovano, Júlio César, Marinei Ferrari,Roseane Araujo

Agências: Adital, Adista, CIMI, CNBB, Dom Hélder, IPS, MISNA, Pulsar, Va-ticano

Diagramação e Arte: Cleber P. Pires

Jornalista responsável:Maria Emerenciana Raia (MTB 17532)

Administração: Eugênio Butti

Sociedade responsável: Instituto Missões Consolata(CNPJ 60.915.477/0001-29)

Impressão: Edições Loyola(11) 6914.1922

Colaboração anual: R$ 35,00AG: 545-2 CC: 38163-2 - BRADESCOSoc. Missionários de N.S. Consoladora(a publicação anual de Missões é de 10 números)

MISSõES é produzida pelosMissionários da ConsolataFone: (11) 6256.7599

Missionários da ConsolataRua Josimo de Alencar Macedo, 413Cx.P. 207 - 69301-970 Boa Vista/RRFone: (95) 224.4109

Membro da PREMLA (Federação de Imprensa Missionária Latino-Americana)

Mural do LeitorLeigo e Missão

Vibramos com os artigos sobre os lei-gos (rubrica Formação Missionária, escrita pelos padres Luiz e Lírio nas últimas quatro edições). Nós havíamos falado sobre a Ação Católica num encontro na paróquia. Eu entrei para a JEC em novembro de 1955 (há 50 anos!). Já naquele tempo estávamos preocupados em atender às classes menos favorecidas. Foi bom vol-tar ao passado e ver a preocupação dos colégios católicos em nos envolver nos movimentos, buscando solução para as injustiças sociais (fome, desemprego...). Não era uma Igreja paternalista, mas que dava o anzol e ensinava a pescar. Eu sou fruto deste milagre. Nunca es-moreci ante os desafios que surgiram na caminhada. Aprendi a reivindicar não só os meus direitos, mas também daqueles que não tinham vez, nem voz. Nunca aproveitando dos tradicionais “jeitinhos”, mas procurando os trâmites legais. E a cada conquista agradecia a Deus por ter aprendido a colocá-lo acima de tudo, a fazer a experiência d’Ele, através da oração diária da imitação de Cristo, participando do Apostolado da Oração, das Filhas de Maria e de outros movimentos.

Alenyr VizeuParaíba do Sul, RJ

Espiritualidade

Adorei o texto sobre Nossa Senhora Consolata, edição de junho, de autoria de Salvador Medina. É muito bom conhecer a história, além da origem do nome Con-solata. Cada vez mais a revista melhora. Assim, estamos também disponibilizando no site da paróquia São Brás, em Plata-forma, na coluna “combustível espiritual” os ótimos textos. Fica aqui o convite para todos viajarem conosco no trem da Missão: www.tremdamissao.cjb.net

Até mais! Sucesso!

Diniz Giuseppi Salvador, Bahia

Romaria e Noite ItalianaEspero que todos estejam bem e

sempre trabalhando com dinamismo mis-sionário na coordenação e elaboração da revista Missões, excelente no conteúdo e qualidade. Pena que muitos não têm

esse “olhar clínico” para ver e buscar nela o “remédio” para as suas vidas. Mas o importante é que a revista está chegando às mãos de muitas famílias.

Aqui no Rio Grande do Sul, dia 1o de maio realizou-se a 10a Romaria Estadual do Trabalhador e da Trabalhadora, em Caxias do Sul. Promovida pela Pastoral Operária do Estado, a Romaria, este ano teve como tema: “Trabalho, fonte de dig-nidade, direito de todos!”. Cerca de 10 mil pessoas debateram direito ao emprego, educação, saúde e moradia.

Outro evento foi o 1o Filó Italiano, realizado em Três de Maio para celebrar os 130 anos da chegada dos imigrantes italianos no Sul do país. A Noite Italiana foi promovida pela ACITRE - Associação Cultural Italiana de Três de Maio e Região. Celebrou-se uma missa em italiano, gru-pos de cantores e de dança animaram o evento e pratos típicos da culinária italiana, junto com um bom vinho, fizeram parte da programação.

Teresinha TurraRocinha, Três de Maio, RS.

Assinatura de Missões

Foi com muita alegria que efetuei meu cadastro para ser assinante da revista Missões. Mais feliz ainda fiquei ao receber o primeiro exemplar como assinante. Eu já era leitora de "empréstimos" e da Internet. Aproveito para parabenizar toda a equipe e, em especial os padre Salvador Medina e Stephen Murungi, residentes em Salvador, Paróquia São Brás, Plataforma. Foi atra-vés deles que me apaixonei pelos artigos desta revista. Fiquem com Deus!

Cledinalva dos Reis NunesSalvador, BA.

4 Jul/Ago 2005 - Missões

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o que afirmam os maus intencionados, que apostam no fracasso e são contra os investi-mentos públicos em políticas de apoio à causa indígena. Ao contrário, melhor que o branco, o índio responde mais positivamente aos inves-timentos de apoio que lhe são feitos. O senso de honra mais rígido que o do branco, aliado ao sentimento de vida coletiva e de partilha numa vida em comum, garante um bom resultado no

investimento corretamente aplicado no apoio da promoção da qualidade de vida nas comunidades indígenas, principalmente quando apoiado em ações motivadoras discutidas bilateralmente com as partes envolvidas.

No geral o desapego a um consumismo doentio, uma cultura de respeito às crianças, aos idosos, às viúvas, à solidariedade numa socie-dade sem excluídos, apoiada numa economia solidária de subsistência e de justa distribuição dos alimentos e dos poucos pertences, seriam fortes ingredientes para um resultado positivo na definição de uma correta política para a questão indígena, se ela viesse sobretudo de um processo de discussão e participação do

demarcação das terras indígenas brasileiras deve ser feita de forma urgente e irreversível, porque se essa discussão se prolongar sem solução concreta por mais tempo, não teremos mais povos indígenas

a preservar, mas simples grupelhos que serão confundidos com os caboclos, trabalhadores rurais mal remunerados, ribeirinhos, caiçaras, mas nunca reconhecidos como índios. É o que deseja a cultura do branco, com raras exceções: dizimar para não dividir espaços nem riquezas. Num primeiro momento a razão está com a simples e imediata demarcação: isolar para proteger, para preservar. As reservas têm sido criadas como se fossem solução final adequada para a questão. Mas só isto não basta. Todas as culturas evoluem, desde que não sejam dizimadas. Nosso índio não é idiota, nem pretende continuar na idade da pedra lasca-da. Quer evoluir, mas a seu modo. Para isto ele quer respeito e quer tempo, como pessoa humana e como povo. Somente a demarcação das terras não assegura um bom futuro eco-nômico, social e cultural para as comunidades indígenas. É preciso mais. Desde os tempos do antigo Serviço de Proteção aos Índios não temos uma política séria e correta a respeito da questão indígena. Tudo parece ser tratado como mero problema administrativo, como é a questão das estradas etc., e não como uma questão que precisa ter tratamento adequado com políticas claras para um povo que nos antecedeu nesta terra. Na maioria das vezes o problema é levado adiante com critérios nem sempre recomendáveis porque procura não afetar interesses políticos de quem se sente incomodado com a proximidade dos índios, sob alegação de que impedem o desenvolvimento, ou procurando não afetar também o bolso de quem gananciosamente se beneficia de terras fáceis e baratas.

É imperioso que nessa política haja uma mudança de tratamento unilateral da questão indígena. Os índios já tiveram uma evolução considerável e possuem lideranças próprias, idôneas e aptas a representá-los na discussão por soluções mais adequadas e para o enca-minhamento do processo de condução da sua vida. O primeiro passo é reconhecer que têm condições de participar do processo de condução da questão. O segundo é possibilitar mecanismos de participação nesse processo.

Índio custa dinheiro e não dá retorno. É

As terrAs indígenasde Mário José Gonçalves e Aparecido Barbosa de Lima

Apovo indígena na sua formulação e não dos gabinetes do Poder Público, sofrendo toda sorte de influência negativa dos mais variados interesses que se opõem à causa. Sem isto não é possível um projeto de desenvolvimento econômico sustentável, social e cultural do povo indígena. A inimputabilidade, a incapacidade civil e a tutela do Estado garantidos na Cons-tituição Federal não pretendem reduzir o povo

indígena a um bando de alienados mentais que não consegue prover a própria vida. Pelo contrário, impõem cuidados e atenção espe-cial a um povo altivo, cheio de sabedoria e de senso de Justiça, que merece ser tratado com a mesma dignidade de qualquer ser humano. Principalmente na partilha da escolha do seu próprio destino. Ainda que a solução possa parecer utópica, é um desafio que precisa ser encarado o mais rápido possível. Não há como adiar mais.

Mário José Gonçalves e Aparecido Barbosa de Limasão membros da Comissão de Direitos Humanosda Diocese de Jales, SP.

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33ª Assembléia dos Povos Indígenas de Roraima, 2004.

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o dia 10 de junho, o ministro Carlos Aires de Brito, do Supremo Tribunal Federal, deferiu Liminar para suspender todas as ações possessórias que tramitam na Justiça Federal de Roraima em favor de ocupantes não-índios da terra indígena Raposa Serra do Sol. Com isso, as famílias macuxi que vivem na aldeia

Brilho do Sol, não são mais obrigadas a deixar a reserva, con-forme havia sentenciado o juiz Helder Girão Barreto.

Além da ação possessória impetrada por José Wilson da Silva, Aires de Brito “suspendeu até o julgamento do mérito da Reclamação 3331”, outras ações ingressadas na Justiça Federal de Roraima pelos arrozeiros Paulo César Quartieiro, Genor Luis Faccio e Nelson Itikawa e pelo pecuarista João Gualberto Sales.

O ministro acatou os pedidos da Advocacia Geral da União, Funai e da própria comunidade Brilho do Sol, por entender que é do Supremo a competência para julgar as ações que envolvem a terra indígena Raposa Serra do Sol, homologada em 15 de abril pelo presidente Lula.

Joênia Wapichana, assessora jurídica do Conselho Indígena de Roraima (CIR), peticionou ao STF que suspendesse imedia-tamente a execução do mandado de manutenção e reintegração de posse concedido pela 1ª Vara de Justiça Federal de Roraima a José Wilson da Silva, ex-comandante da Polícia Militar (PM).”Essa

decisão é mais uma vitória que fortalece a homologação da Raposa, permite que os indígenas possam viver e trabalhar com tranqüilidade. A gente agora aguarda que o STF acabe com a ação possessória que deu origem ao mandado. Esse foi o outro pedido que fizemos ao tribunal”, explicou a advogada.

José Wilson foi um dos proprietários de terra que entrou na Justiça em 2004 com ações possessórias que questionavam a portaria 820, de 1998, que estabelecia a demarcação em área contínua da Raposa Serra do Sol. A maioria dessas ações foi revogada porque o plenário do STF as julgou prejudicadas pela “perda de objeto” – já que as terras, agora, eram indí genas –, mas a ação possessória em questão não constava da lista analisada pelos ministros.

A comunidade Brilho do Sol fica na região do Baixo Cotingo, no sul da Raposa Serra do Sol. Ela faz parte de um grupo de quatro aldeias que foram reocupadas pelos indígenas no segun-do semestre do ano passado, como uma estratégia para fazer resistência à expansão dos arrozais dentro da terra indígena. No dia 23 de novembro de 2004, quatro aldeias e dois retiros indígenas tiveram as casas queimadas por um grupo suposta-mente liderado pelos rizicultores. O caso está sendo investigado pela Polícia Federal.

Fonte: CIR

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Supremo ‘derruba’ Liminar que mandava retirar índios da aldeia

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A importânciAdas "borboletas" na vida

de Rosa Clara Franzoi

urante a Segunda Guerra Mundial, na Checoslováquia, um trem noturno estava correndo em alta velocidade, bem lotado. O maquinista e seu ajudante, atentos, olhavam a estrada iluminada pelos faróis do trem. De repente, os dois viram à frente uma sombra, como se fosse uma grande mão fazendo sinal para

parar. Bastante assustados, frearam o trem e desceram para ver o que estava acontecendo.Quando descobriram, respiraram aliviados. O que acontecera? Uma borboleta entrara no farol do trem e batia as asas diante da lâmpada, criando uma imagem de mão. Mais tranqüilos, foram andando para frente pelos trilhos e a mais ou menos uns 30 metros, pararam aterrorizados: a ponte sobre a qual deveriam passar não existia mais, fora totalmente destruída por uma bomba...”

“Acaso” e “coincidências” não existemNeste fato, relatado como verídico, percebemos uma importante

lição vocacional. O maquinista e seu ajudante estavam atentos, perceberam o sinal e assim puderam fazer também o passo seguinte que foi o de acolhê-lo e atendê-lo, evitando a terrível catástrofe. Eles eram livres, poderiam não ter dado atenção e considerado aquilo uma bobagem. Se observarmos com atenção, nossa vida está repleta de “sinais”: uns nos indicam passagem livre, outros nos colocam em estado de alerta, outros ainda nos mandam parar. Hoje, vivemos todos correndo pela vida, no mais das vezes em alta velocidade e não nos damos conta de quanta coisa ao nosso redor nos fala, nos transmite mensagens, nos dá algum sinal indicador. E menos ainda desconfiamos de onde e por quem estes sinais nos chegam. Precisamos nos convencer de uma coisa: “Nada, absolutamente nada, acontece por acaso”. Aquele Alguém, que é o Senhor das nossas vidas e que nos

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Quer ser um missionário/a?

Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva MoratelliAv. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui02611-011 - São Paulo - SPTel. (11) 6231-0500 - E-mail: [email protected]

Centro Missionário “José Allamano” - Pe. Joaquim GonçalvesRua Itá, 381 - Pedra Branca02636-030 - São Paulo - SPTel. (11) 6232-2383 - E-mail: [email protected]

Missionários da Consolata - Pe. César AvellanedaRua da Igreja, 70-A - CXP 325369072-970 - Manaus - AMTel. (92) 624-3044 - E-mail: [email protected]

o “acaso” não existe. tudo é previsto por alguém que nos ama.

quer realizados e felizes, vai semeando muitas “borboletas” em nosso caminho. Mesmo aquilo que julgamos mera coincidência, tem sua procedência e seu objetivo. Tudo é previsto.

Nós somos livres para aceitar ou não Deixando-nos plena liberdade de aceitar ou não, estes

sinais vão orientando e mostrando os caminhos melhores que nos ajudam a construir bem o nosso futuro. A vida moderna nos enche de atrativos que nos roubam a maior parte do tempo que deveríamos dedicar à reflexão. Vivemos uma intensa poluição sonora e visual que enche rapidamente a nossa mente e nosso coração, não deixando mais espaço nenhum. Não que tudo seja ruim, mas também nem tudo é bom. Cabe a nós instalarmos filtros para fazermos a seleção. Para selecionar é preciso parar e descer, como fizeram o maquinista e seu ajudante. Saber parar e descer à realidade pode ser uma preciosa oportunidade para tomar rumos novos e acertados para o futuro.

Viver por viver não leva a lugar nenhumJovem! A vida é importante, porém, mais importante é o seu

sentido. Alguém já disse: “Diga-me em que você gasta seu tempo livre, no que você gasta o dinheiro de que dispõe, em que você pensa continuamente, quais são as suas maiores preocupações, os temas de suas conversas... e eu delinearei o seu futuro”. Se quiser aprofundar mais o tema, leia o texto de Mt 7, 24-29, sobre a casa construída na rocha.

Rosa Clara Franzoi é irmã missionária e animadora vocacional.

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ItáliaO jovem missionário

Quem é o jovem missionário? Que é a POIM? Como se transmite o amor pela missão aos mais jovens? Como fazer com que as crianças e os jovens italianos se apaixonem pela POIM? Estas foram as interrogações que se buscou responder no Segundo Congresso Nacional dos encarregados diocesanos e regionais da Pontifícia Obra da Infância Missionária (POIM), realizado entre os dias 17 e 19 de junho, em Vico Equense, Salerno.

O slogan escolhido para o Congresso foi “Jovens unidos pela missão!”. Foram três dias de formação e animação missionária, com partilha das experiências das Igrejas locais e de avaliação das iniciativas do Secretariado Nacional.

UgandaAssembléia dos Bispos da AMECEA

“Pedimos a todos, sacerdotes, religiosos, fiéis leigos, governos e agências não-governamentais, que trabalhem unidos para deter a difusão desta chaga que está devastando as populações de nossa região”. É o forte apelo dos bispos da AMECEA (Associação dos Membros das Conferências Episcopais da África Oriental) para combater a difusão da AIDS na região. O apelo foi lançado na conclusão da 15ª Assembléia Plenária da Associação, realizada em Uganda. A men-sagem reitera a exigência de ir até as raízes da difusão da AIDS: pobreza, avidez e corrupção, ignorância e analfabetismo, desemprego, guerra e presença de refugiados e desabrigados internos, discriminações entre sexos, comportamentos imorais, desrespeito dos direitos das crianças. Durante a Assembléia, os bispos debateram também outros problemas que afetam a região: o impacto da globalização, o can-celamento da dívida, os conflitos no Sul do Sudão, em Darfur, no Norte de Uganda, e as tensões entre Etiópia e Eritréia.

Coréia do Sul“Igreja que recebe” a “Igreja que doa”

Aumenta o senso de missão na comunidade cató-lica coreana. “De Igreja que recebe, queremos cada vez mais ser Igreja que doa”, afirmou a Conferência Episcopal da Coréia.

Diversos grupos e movimentos eclesiais, institutos religiosos, paróquias, associações, estão organizando um verão marcado pela missão Ad Gentes, promovendo Fontes: Boletim Rádio Vaticano, El Observador, Fides, Zenit.

iniciativas de missão e experiências de voluntariado dirigidas a jovens, famílias, estudantes e seminaristas, em diversos países do mundo. O objetivo é sensibilizar sempre mais sobre o tema da “responsabilidade uni-versal” da missão, e ajudar especialmente pequenas Igrejas locais que estão crescendo, enviando também profissionais que podem iniciar projetos úteis ao de-senvolvimento das comunidades locais. Por isso, a Arquidiocese de Seul olha para a pequena realidade mongol. Um grupo de cerca de 30 voluntários está se preparando para ir à Mongólia ocupar-se de projetos nos setores da agricultura e da irrigação, e oferecer um curso de um mês aos jovens da área.

VaticanoEscravidão das mulheres

Com a constatação de que a prostituição é “um ultraje à dignidade da mulher”, um Congresso cele-brado no Vaticano buscou caminhos para enfrentar o desafio que a crescente demanda do comércio sexual propõe. Ao inaugurar o encontro, o cardeal japonês Stephen Fumio Hamao, presidente do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itineran-tes, convidou os presentes a “assumir a defesa dos direitos das mulheres”. O I Encontro Internacional de Pastoral para a libertação das mulheres de rua foi convocado pelo organismo vaticano presidido pelo purpurado e foi celebrado entre os dias 13 e 14 de junho no Palácio de São Calisto. A cada ano, a vida de um milhão de pessoas fica abalada pelo tráfico de seres humanos. Na Tailândia, por exemplo, entre 150.000 e 200.000 mulheres, muitas delas menores de idade, acabam na rua, constatou-se no encontro. Meio milhão de mulheres procedentes da Europa oriental são escravizadas e obrigadas a prostituir-se nas ruas da Europa ocidental.

Estados UnidosConferência Binacional sobre Migração

Bispos, sacerdotes, dirigentes políticos e movi-mentos leigos encontraram-se, de 23 a 26 de junho, na cidade de El Paso, Texas, na primeira Conferência Binacional sobre Migração, promovida pela Igreja Católica do México e dos Estados Unidos. “Juntos no caminho da esperança, já não seremos estranhos” foi o lema proposto. Um tema que diz respeito aos quase 500 mil mexicanos que, a cada ano, cruzam a fronteira, em busca de trabalho, e à comunidade hispânica nos EUA, em seu conjunto, que já conta 45 milhões de pessoas. A conferência baseou-se numa carta que os bispos de ambos os países subs-creveram, em 2003. Nesse documento defendiam a “globalização da solidariedade entre os povos”, termo contido na exortação apostólica pós-sinodal “Ecclesia in América”, de João Paulo II. Os trabalhos da Con-ferência abordaram temas como a ajuda pastoral aos trabalhadores agrícolas, o desenvolvimento das políticas migratórias em ambos os lados da fronteira, os direitos humanos dos clandestinos e as vítimas do tráfico de seres humanos.

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INTENÇÃO MISSIONÁRIA

Para que os batizados sejam agentes transformadores, irradiando a luz do Evangelho

sobre as ideologias e as estruturas da sociedade.

de Vitor Hugo Gerhard

batismo torna pública a nossa condição de filhos de Deus e membros da Igreja. Também nos introduz na fé de nossos pais, herança bendita que nos faz ver com outros olhos a trajetória da humanidade, seus feitos fabulosos e suas fragilidades. O batismo nos torna sujeitos ativos na história humana, capa-

zes de intervir nela de forma decisiva. Em sua carta Encíclica Redemptoris Missio, de 1991, o papa João Paulo II nos lembra que a presença dos cristãos no mundo é sempre uma via de mão dupla. Na medida em que somos capazes de irradiar o Evangelho nas culturas, somos igualmente influenciados por elas, num processo de crescimento e transformação.

É bem verdade que nem todos os cristãos são capazes de perceber a força do seu batismo, e vivem mais no acostamento das estradas da vida do que propriamente andando sobre elas e colaborando na construção de projetos que promovam a digni-dade humana, a justiça e a paz. Mas isso não invalida o sentido do sacramento e seu significado. O pluralismo cada vez mais avassalador das ideologias e sua força promovida pelos meios de comunicação, parecem estar condicionando não só o agir dos cristãos, mas sua própria identidade. É comum escutar que o mais importante é ter Jesus no coração, como se a fé fosse algo necessariamente privado e subjetivo, como se a vontade de Deus para com Sua obra criada não estivesse revestida de um projeto com critérios e metas bem definidas.

Também se escuta com certa freqüência que a Igreja e os cristãos devem se ocupar dos assuntos religiosos, deixando para o “mundo” cuidar de si mesmo. O caminho não está nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Sacralizar o profano ou profanizar o sagrado nunca deu certo. Deixá-los separados, como duas ins-tâncias autônomas parece também não ser o caminho. A relação entre fé e vida parece ser o caminho espinhoso a ser seguido, se acreditamos que um dia haverá um só rebanho e um só Pastor.

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Para que os sacerdotes, os religiosos e as religiosas, os seminaristas e os leigos dos países

missionários, enviados à Roma para lá concluir sua formação, encontrem na “Cidade Eterna”,

uma oportunidade de enriquecimento espiritual.Também fiz meus estudos complementares em Roma. Já faz

quase duas décadas e eles me servem ainda hoje como duas vertentes para o ministério sacerdotal. De um lado, os estudos acadêmicos, sempre necessários para entender melhor as coi-sas. De outro lado, a experiência da internacionalidade. Estar em Roma, rodeado de estudantes de todas as partes do mundo, pode significar um enriquecimento pessoal que vale quase como outro curso superior. Costumo dizer que um agente da evangeli-zação deve cuidar sempre de, ao menos, quatro dimensões que formam a pessoa. A dimensão intelectual. Cuidar bem do dom da inteligência que nos foi dado é tarefa permanente e necessária. O cuidado na leitura diária, o aperfeiçoamento da linguagem, o tempo para a reflexão pessoal, são alguns dos aspectos a serem sempre levados em consideração. A dimensão humano-afetiva. Nestes tempos de grandes agitações e instabilidade emocional a que somos submetidos, um bom cuidado da nossa afetividade é fundamental, para não nos perdermos nos atoleiros dos afetos desordenados ou da necessidade de doses cada vez maiores de adrenalina. A auto-estima faz parte da vida de todos aqueles que desejam manter uma vida afetiva saudável. A dimensão operativa. Somos homens e mulheres capazes de produzir, de transformar, de intervir na criação, como continuadores da obra do Senhor. O fruto do nosso trabalho servirá, não só para o nosso sustento, como também para dizer, de alguma maneira, quem nós somos. A dimensão transcendental. Por mais que alguns queiram negar, somos seres necessariamente espirituais, voltados para a transcendência e carentes do alimento espiritual. Encontrar o tempo e as motivações suficientes parece ser urgente nestes tempos de distração, de busca do prazer e do predomínio do efêmero.

Neste sentido, a experiência em Roma pode ajudar em todas essas dimensões. Iluminar o entendimento com os estudos, para definir com mais clareza os critérios que irão nortear a ação missionária. Abrir os horizontes do coração, para relações afetivas mais amplas e universais, ajudando-nos a perceber a amplitude das culturas e a riqueza do gênero humano. A troca de experiências na variada e copiosa iniciativa pastoral e evan-gelizadora, tão diferente e ao mesmo tempo tão igual em todos os rincões da terra. Variada porque fruto dos carismas... igual porque fruto do mesmo Espírito. Por fim, Pedro e Paulo, Santa Mãe Maria e todos os Santos e Santas que gravitam em Roma, certamente irão inundar os espíritos de uma paixão incontida pelo Reino do Senhor. O difícil, às vezes, é voltar para casa e recomeçar cada dia, curtir a saudade dos tempos de Roma e realizar plenamente o ministério a que somos chamados.

Vitor Hugo Gerhard é sacerdote e coordenador de pastoralda Diocese de Novo Hamburgo, RS.

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Vocaçãode Salvador Medina

oje, no mundo da rua e dos lares, do trabalho e do lazer, da ciência e da tecnologia, dos negócios e da economia, das artes em geral e da comunicação, da política e da diplomacia, se escuta falar bem pouco de santidade. Parece coisa do passado, fora de moda, arcaica e fora do cotidiano da gente. Como se ninguém

quisesse ser santo, como se todo mundo se protegesse para não ser chamado de santo, nem aparecer como tal. Estranha constatação num contexto de tantas espiritualidades.

Na verdade, não é bem assim! Já escutei várias pessoas das Comunidades Eclesiais de Base, jovens e adultos de diferentes movimentos religiosos, crianças da Infância Missionária e pes­soas da terceira idade confessar, na intimidade da comunicação: “quero ser santo!” Já li em vários textos de Constituições da Vida Consagrada, como nos corações de muitos religiosos autênticos, projetos de santidade.

A morte e o funeral de João Paulo II permitiram aos comuni­cadores e formadores de opinião pública apresentar ao mundo o espetáculo e o mistério do sagrado, do santo, da santidade e da santificação, sob o prisma do cristianismo e, particular­mente, da Igreja Católica. Em muitos dos surpreendidos ou entristecidos espectadores, admiradores do personagem ou seguidores do mesmo Jesus Cristo por ele vivido e anunciado, deve ter ficado alguma idéia sobre a santidade. Pessoalmente me aproximei de várias pessoas perguntando sobre a santidade.

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gente do passado. Não! Hoje também temos santos e santas. Aliás, em cada época o

Espírito Santo suscita os que são necessários.

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Dia Nacional da Juventude, 2004 - Praça da Sé, SP.

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ajuda a santificar a terra e a criação em geral. O ser humano, além de encarnado e inculturado no presente imanente, busca o transcendente, esse mesmo que Jesus de Nazaré revelou como Pai da misericórdia, com entranhas de Mãe compassiva. Com Ele a humanidade, através da fé, entra em diálogo permanente, escuta suas revelações e eleva orações. Esse Divino que se fez humano nos libertou do pecado e da morte e nos tornou santos para a eternidade.

Este chão também dá santoA santidade não é uma planta selvagem, ela precisa ser

cultivada; também não é exclusiva deste ou daquele terreno. Este chão também dá santo. Tampouco podemos afirmar que os santos são gente do passado. Não! Hoje também temos santos e santas. Aliás, em cada época o Espírito de Deus suscita os santos necessários. Ao mesmo tempo, que ninguém pense que santos são apenas os canonizados oficialmente pelo papa, na Igreja Católica. Todas as Igrejas e religiões, na medida em que formam seres plenamente humanos, estão gerando santos ou santas que poderão ajudar na transformação deste mundo “de selvagem em humano e de humano em divino”. Estarão cola­borando assim na construção do Reino de Deus, anunciado e instaurado por Jesus Cristo, durante sua vida histórica, lá na Palestina, e do qual esperamos fazer parte, na hora definitiva, junto com toda essa imensa multidão, que ninguém consegue contar, vinda da grande tribulação dos tempos (cf. Ap 9, 14­17). Lá viveremos a verdadeira comunhão dos santos.

Salvador Medina é sacerdote missionário e pároco da Paróquia São Brás, Salvador, BA.

Colhi algumas respostas: “é algo do passado, conservador e antiquado, regido por longas listas de normas morais e comportamentais sem peso científico”; “é algo muito difícil de atingir e por isso mesmo para gente importante, heróis, personagens ou líderes de religiões ou movimentos espirituais”; “trata­se de alguma coisa relacionada com templos, mesquitas, conventos ou lugares sagrados, onde se reconhecem os poderes e valores de alguns poucos mortais, mas só depois da morte”.

Santidade:um projeto de vida

Pensando bem, uma vez que re­conhecemos a vida como um dom divino e nos assumimos responsáveis por vivê­la bem e para o bem, nos encontramos com a verdadeira e única vocação: a santidade como projeto de vida. Todos, independente do estado de vida ­ solteiros ou casados, consa­grados, ordenados ou leigos ­ somos chamados a ser santos ou perfeitos, como o Pai do céu: “Sede perfeitos, como vosso Pai celeste é perfeito”, tal como convida Jesus no Sermão da Montanha (Mt 5, 48). Ele nos exorta a viver as relações humanas segundo a lei do amor fraterno e o poder do serviço entre iguais e diferentes, trabalhando com responsabilidade e carinho a “terra mãe” e parti­lhando o pão cotidiano com justiça solidária. Podemos nos inspirar em Jesus como recomenda Pedro, um dos primeiros chamados: “como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso procedimento” (1Pd 1, 15); e sermos guiados, iluminados e fortalecidos pelo Espírito santificador (cf. 1Pd 1, 2) que nos impulsiona a construir e celebrar a paz, dizendo com a vida e a voz: “santificado seja o teu nome” (Mt 6, 9).

Para ser santo é preciso ser humanoNo parágrafo anterior nos referimos à vida como dom, à

vocação como missão e à santidade como projeto. Tratamos a vida como dom divino, a vocação como chamado de Jesus e a santidade como obra do Espírito santificador. Mas todos esses componentes de fé e obediência ao Pai do céu, de amor e doação fraternal no seguimento do Filho enviado do Pai e de esperança na ação solidária animada pelo Espírito Santo consolador e liber­tador, exigem uma “carne”, uma humanidade, para a encarnação e uma “cultura” para a inculturação. Queremos então dizer, que a santidade é encarnada e inculturada, do contrário não chega a ser resposta pessoal à vocação universal.

Para ser santo é preciso primeiro ser humano: quanto mais humano, mais santo e, quanto mais santo, mais humano. Na medida em que aprende a viver e a conviver com os outros, os diferentes, buscando tecer as relações sociais com respeito e dignidade, suscitando e construindo comunidades animadas pelo amor doação, o ser humano se humaniza. Também aprende a amar e quem ama até se doar, gratuitamente, se faz santo e ajuda os outros a se santificar. O ser humano procura sempre viver com dignidade e qualidade e para isso trabalha, cultiva, constrói, transforma, compra, troca, vende etc. Se faz mais hu­mano ao partir e repartir os bens, a terra e o pão, sem perder a esperança na fraternidade cósmica e universal. Também apren­demos a partilhar e quem partilha até se repartir se faz santo e

Para Refletir1. Podemos identificar alguns santos ou santas entre os membros das nossas Igrejas, congregações, instituições e comunidades. Por que os catalogamos assim?

2. Como podemos viver hoje a fé, a esperança e a caridade, virtudes fundamentais que nos permitem ser profundamente humanos e santos?

3. Tentemos fazer um levantamento e definir o perfil da santidade para hoje.

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Nascer do sol no oeste de Showa, Etiópia.

11Missões - Jul/Ago 2005

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as instâncias e o prestígio público em benefício do patrimônio privado. Público e privado tornam-se facilmente intercambiáveis, a tal ponto que o próprio político não saberia mais distinguir um do outro. Que dirá o povo que muitas vezes o elegeu!

Ao lado do patrimonialismo, como filhotes bastardos de um pai comum, proliferam com abundância o coronelismo, o perso-nalismo, o populismo, e outros “ismos”, tão freqüentes quanto nocivos. Evidente que nesse emaranhado de fios que tecem e mesclam o espaço público e o privado, o terreno torna-se fértil a desvios, a práticas corruptas e a alianças inescrupulosas. Quando o véu se rasga e as “maracutaias” vêm à tona, das duas uma: ou os políticos correm para se proteger uns dos outros, ou para apontar o dedo em riste sobre os adversários. O resultado é que as CPIs da corrupção, que têm sido a grande maioria, costumam abrir-se com ímpeto profético e promissor, para logo serem melancolicamente abortadas.

O pior é que muitos políticos que antes erguiam a CPI como um bordão contra os corruptos, hoje procuram desativar essa “bomba”, a qual, segundo sua nova forma de pensar, pode com-prometer os rumos da política econômica ou antecipar o calendário eleitoral. Os antigos arautos da ética e da transparên cia agora parecem preferir as trevas à luz. Enquanto isso, o Congresso Nacional permanece paralisado, movendo-se apenas em reação aos torpedos das Medidas Provisórias.

Na contramão desse vício histórico e estrutural da tradição política brasileira, marcham os trabalhadores e trabalhadoras sem-terra. Na contramão, silenciosamente gritam as filas do INSS, os buracos das estradas, o peso insuportável dos tributos, os famintos à beira de latifúndios improdutivos, os desempregados e subempregados, os migrantes aos milhares e milhões, enfim a imensa multidão dos “sem”. Na contramão, organizam-se e lutam os movimentos sociais, com os pés no chão, com as mãos entrelaçadas e com e esperança teimosa de construir uma sociedade justa, solidária e democrática.

Alfredo J. Gonçalves é sacerdote carlista, assessor da Comissão para o Serviço da Caridade, Justiça e Paz – CNBB.

Reforma agráriae corrupção

ma rápida olhada em jornais, revistas e noticiários televisivos, por um lado, e na chamada imprensa alternativa ou nanica, por outro, evidencia dois temas de destaque nas últimas semanas: a reforma agrária e a corrupção. O primeiro tema se sobressai devido à Marcha Nacional pela Reforma Agrária, realizada

entre Goiânia e Brasília, de 1º a 17 de maio, com cerca de doze mil pessoas. Quanto ao segundo tema, tem sido, recentemente, manchete de capa em numerosos veículos de comunicação. Na cabeça, entre tantos outros, o escândalo de propina envolvendo o alto escalão dos Correios e o “mensalão”.

O que uma coisa tem a ver com a outra? Enquanto os tra-balhadores e trabalhadoras rurais pressionam o governo federal pela agilização da reforma agrária e por uma política econômica voltada para as necessidades mais urgentes da população de baixa renda, a corrupção revela o desvio de vultosos recursos financeiros pelo ralo da tradicional promiscuidade entre o público e o privado. Se, à prática da corrupção, juntarmos o montante orçamentário desviado para o pagamento de juros e serviços da dívida externa, mediante o superávit primário, será fácil concluir porque os serviços públicos sofrem de deterioração crescente e de precariedade crônica.

Patrimonialismo brasileiroUma outra olhada no clássico estudo de Raymundo Faoro

poderia nos fornecer uma chave de leitura para entender o mo-mento presente. Afinal, quem não conhece a própria história, está condenado a repetir seus erros. Na minuciosa análise sobre a formação do patronato brasileiro, feita na obra “Os Donos do Poder”, o autor utiliza o conceito de patrimonialismo para explicar a apro-priação privada da “rex publica”. Ou seja, os políticos tradicionais passam a administrar o município, o estado ou a nação como se fossem extensões de sua propriedade particular. Utilizam o erário,

de Alfredo J. Gonçalves

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12 Jul/Ago 2005 - Missões

Na contramão da corrupção lutam os trabalhadores,

que no final das CPIs, são os que pagam a conta.

Trabalhadores sem-terra na Esplanada dos Ministérios.

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de Maria Lúcia de Jesus

SEARA foi concebido em 28 de janeiro de 1969, e em 21 de dezembro de 1994 aprovado pela Igreja. Seu fundador, Frei Eurico de Melo OFM Capuchinho, viveu a maior parte de seu ministério sacerdotal entre as cidades de Ponta Grossa e Curitiba, no Paraná. Dedicou-se de forma apaixonada à vida

consagrada e ao sacerdócio. Iniciou as primeiras reflexões, sobre a fundação de uma forma de vida totalmente consagrada a Deus, com rapazes e moças que se sentiam vocacionados. Porém, queriam permanecer em suas realidades diárias, ou seja, sem separar-se da família e de suas profissões.

Chamadas a transformar A Consagração Secular é uma vocação ainda recente no

sentido de existência oficial na Igreja. É, por isso, ainda pouco conhecida, mas de grande importância no mundo, que cada vez mais exige “alas avançadas de guerrilheiros do Evangelho”, nas ações e decisões que acontecem “fora dos muros” da Igreja. Agem de forma diferen-ciada, nos espaços da comunicação, da política, da economia, da construção da “paz e bem” no mundo cada vez mais globalizado.

Formação, compromisso e expansãoA formação dos membros do Instituto é feita em

sua própria realidade. Segue os mesmos passos de qualquer Instituto religioso, isto é: dois anos de

período inicial onde a candidata conhece o Instituto; dois anos de prova, o que corresponde ao Noviciado na vida religiosa; cinco anos de votos temporários e a formação permanente nos votos perpétuos. O Instituto Franciscano SEARA está presente em nove estados brasileiros, no Paraguai e em Portugal. Possui 14 membros no período inicial, 18 no período de prova, 20 com votos temporários, 64 com votos perpétuos e 12 associadas. A sede do Instituto se encontra em Tijucas do Sul, Paraná, no Eremitério Santa Clara. Lá, segundo Frei Eurico, é o “ninho quente” onde a família SEARA se reúne para retiros, encontros de formação, reuniões do Conselho e encontros das fraternidades. No Eremitério mora uma fraternidade de vida contemplativa que acolhe as irmãs que chegam.

Expressões do rosto de CristoPodemos dizer que são três os modelos de Vida Consagrada:

Contemplativa, Apostólica e Secular, de acordo com o mistério de Cristo que querem expressar. A Consagração Secular existiu nos primeiros três ou quatro séculos da era cristã como primeira forma de

Vida Consagra-da. Ela foi sendo suplantada pela Consagração Re-ligiosa. Para ma-nifestar ao mundo o rosto de Jesus que reza e bus-ca a solidão para os encontros com o Pai, nasceu a Vida Consagrada Contemplativa. Para manifestar ao mundo o ros-to de Jesus que

anuncia o Reino de Deus pela palavra, ensino, cura, perdão, bênção e expulsão dos demônios, nasceu a Vida Consagrada Apostólica. Para ma-nifestar ao mundo o rosto de Jesus que é amigo, convive e caminha lado a lado com as pessoas de seu tempo, radiante de graça, nasceu a Vida Consagrada Secular. Jesus tem seu “jeitinho” de fazer o convite: “Vem e segue-me!”

Deseja conhecer-nos um pouco mais? Comunique-se conosco: Eremitério Santa Clara - Estrada Rio Abaixo – Rincão - 83190-000, Tijucas do Sul, PR.

Maria Lúcia de Jesus, Moderadora Geral do Instituto,é técnica de enfermagem e atual Secretária de Saúdeda Prefeitura Municipal de Cafelândia, PR.

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13Missões - Jul/Ago 2005

Consagradaspara o mundo

O SEARA Franciscano é um Instituto Secular de vida

contemplativa e fraterna vivida no mundo e a partir do mundo,

segundo o espírito de São Francisco de Assis.

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de Imelda Stefani

atração pela vida missionária começou cedo em mim, quando eu tinha meus oito anos. Na preparação à primeira comunhão, assisti o filme “Molokai – a ilha maldita”, que contava a história da vida e trabalho he-róico do padre Damião Weuster, chamado de apóstolo dos leprosos. Fiquei cativada. Foi um amor à primeira

vista que orientou para sempre a minha vida. Olhando para trás, vejo que Deus me acompanhou com muito amor e ternura, na infância, adolescência e juventude, através de pessoas que me ajudaram a fazer um bom discernimento vocacional. Contudo, o desejo de um dia tornar-me uma missionária parecia muito distante. Eu não conhecia nenhum Instituto. Procurei, então, compensá-lo, dedicando parte do meu tempo como catequista na minha comunidade paroquial. Ainda adolescente, com 14 anos, comecei a trabalhar numa fábrica, onde permaneci por sete anos. Aos 20 anos tive a oportunidade de conhecer dois Institutos Missionários ao mesmo tempo. Lembro-me que foi uma enorme alegria aquele dia. Estava se abrindo uma porta para a realização do meu sonho. Dos dois, escolhi o das Missionárias da Consolata, porque após as primeiras informações, percebi que a espiritualidade do fundador, o Bem-aventurado José Allamano, como também aquele específico carisma da missão, respondiam melhor ao que eu sentia no coração.

Não perdi mais tempo. Com 21 anos comecei a fazer parte da família, muito contente de estar colocando a minha vida a serviço de Deus na missão. Tive a graça de viver os anos de minha formação religiosa e profissional em Turim; isto me dava

a oportunidade de ir ao Santuário de Nossa Senhora Consolata para confiar-lhe meus desejos e ouvi-la, assim como fazia o nosso fundador.

Na VenezuelaAos 35 anos fui destinada às missões da Venezuela. Com

outras três irmãs, fomos iniciar uma comunidade no Amazonas venezuelano, na localidade de Têncua, Alto Ventuari, entre os indígenas yé cuana. O salto da Europa para a Venezuela foi muito grande em todos os sentidos. De Caracas, viajamos 18 horas de ônibus, mais uma hora numa pequena aeronave e 12 horas de canoa. Em compensação, a paisagem era belíssima. Tínhamos diante de nossos olhos um estupendo tapete verde. Minha primeira exclamação foi: “Senhor, estou mesmo indo aos extremos confins da terra!”

A comunidade indígena nos acolheu com muita festa e alegria. Pouco a pouco fomos aprendendo a difícil língua que falavam. Procurávamos entender a sua cultura, usos e costumes, entrar um pouco na sua religiosidade. Tudo aquilo era tão novo para nós! Nos primeiros anos trabalhamos no campo da educação, acompanhando os professores locais, ajudando-os a melhorar a sua formação e abrindo várias escolinhas, pois o nível de analfabetismo era muito elevado. Com os adultos foi possível fazer um caminho de evangelização, dialogando sobre seus ritos religiosos para entender-lhes o sentido. Algumas famílias depois de um tempo de catecumenato pediram para ser batizadas. Assim começou uma pequena comunidade cristã que continua crescendo e dando frutos ainda hoje. Missa? Somente uma vez por mês, devido à grande distância e a escassez dos meios. Fazíamos belas e animadas celebrações da palavra. Como sempre, no início as dificuldades não faltaram. Num só ano trocamos três vezes de casa, até que foi construída a nossa, no estilo dos yé cuana. Eles não usam móveis e por isso, nossas malas serviam de armário e uma única mesa funcionava para todas as utilidades. Esta experiência me ajudou muito a viver o essencial, o “só Deus basta”. Depois de 25 anos de vida religio-sa, não deixo de agradecer a Ele pelo grande dom da vocação missionária e na fidelidade renovo a cada dia o meu “sim” na sua presença que me diz: “não temas. Eu estou contigo todos os dias até o fim dos tempos”.

Imelda Stefani é missionária da Consolata na Venezuela.

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Só Deus bastaIr. Imelda nasceu em Selva Del Mantello,

província de Treviso, Itália. Provém de uma família de agricultores, rica em valores

humanos e cristãos, na qual aprendeu a viver a fé na vida cotidiana. É formada em

Ciências Sociais.

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14 Jul/Ago 2005 - Missões

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de Ramón Cazallas Serrano

o dia 7 de dezembro de 1965, há quase quarenta anos, o papa Paulo VI, juntamente com os padres conciliares, aprovava o Decreto Conciliar Ad Gentes sobre a atividade missionária. Foi um momento feliz para a Igreja universal, especialmente para a missionária.

Este Decreto fez um caminho sofrido na assembléia conciliar, entre aqueles que queriam dar simples normas disciplinares e os que queriam uma teologia missionária para a Igreja universal. O Espírito Santo se fez presente através, sobretudo, dos bispos missionários e daqueles nativos dos assim chamados “países de missão”. Começava a surgir um episcopado africano e asiático, sem esquecer a contribuição dos bispos latino-americanos que trabalhavam em dioceses verdadeiramente missionárias.

Missionária por naturezaA Igreja é enviada a todos os povos, obedecendo ao man-

dato do seu fundador. Todas as raças e culturas são chamadas a receber a boa notícia que Jesus traz com o seu Evangelho. Ela é peregrina e deve anunciar a todos os povos que encontra em seu caminho a salvação, ou o alegre anúncio da vida e as palavras de Jesus de Nazaré.

A Missão tem como fonte a Trindade Santa. As três pessoas estão presentes na origem da Missão com amor eterno. Para entender este amor, o Filho, através da Encarnação, veio para fazer-nos participantes da sua natureza divina, e sendo rico,

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A Missão no

Concílio Vaticano IIApresentaremos neste artigo as

idéias básicas do Vaticano II sobre a Missão e as instituições

missionárias, e mais tarde falaremos sobre a Missão Ad Gentes hoje.

Basílica de São Pedro, Vaticano, 18 de abril de 2005: missa para eleição do novo pontífice.

fez-se por nós necessitado, para que nos tornássemos ricos da sua pobreza (Cfr 2 Cor 8, 9). Desde a antiguidade os santos padres proclamam que “nada estaria remido que não tivesse sido primeiro assumido por Cristo”.

O programa de Jesus quando se apresenta na sinagoga de Nazaré é o programa da Missão: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos” (Lc 14, 18).

O Espírito Santo está presente na Missão, a precede, a acompanha e a segue e dirige com a sua presença. A Igreja continua esta missão e explicita, através de sua história, a mis-são do próprio Cristo, que foi enviado a evangelizar os pobres. Movida pelo Espírito Santo, deve seguir o mesmo caminho de Cristo: o caminho da pobreza, da obediência, do serviço e da

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15Missões - Jul/Ago 2005

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16 Jul/Ago 2005 - Missões

imolação própria até a morte, morte da qual Ele saiu vencedor através da ressurreição. A atividade missionária emana intima-mente da própria natureza da Igreja. E a Missão entre os gentios difere da atividade pastoral que se exerce com os fiéis, ela usa o diálogo ecumênico. Não foi à toa que o ecumenismo nasceu na Missão, perante o escândalo que muitas vezes a divisão produ-zia nos não-cristãos. Este conceito será aprofundado nos anos seguintes, considerando o diálogo ecumênico e inter-religioso como os pilares do novo conceito de missão Ad Gentes.

A Missão Ad Gentes é aquela que tem como destinatários aqueles que ainda não crêem em Cristo. Ad Gentes é uma expressão latina que quer dizer “aos povos”, entendendo-se aqueles que ainda não conhecem Jesus Cristo.

A Igreja local como sujeito da MissãoAté o Vaticano II, praticamente a Missão era considera-

da como tarefa dos missionários, homens e mulheres que davam a própria vida pela causa do Evangelho. As Igrejas locais ajudavam na colaboração e com o envio temporário de alguns evangelizadores. O Concílio muda este con-ceito, colocando a obra missionária no coração daquelas Igrejas, das velhas e das novas. A Igreja particular, pela obrigação que tem de representar o mais perfeitamente possível a Igreja universal, deve ter consciência que foi também enviada aos habitantes do mesmo território dos que não crêem em Cristo, a fim de ser, pelo testemunho da vida de cada um dos fiéis e de toda a comunidade, um sinal a apresentar-lhes Jesus de Nazaré. Paulo VI anos mais tarde, dirá em Kampala, (Uganda): “vocês, africanos, devem ser os missionários da África. Na América Latina, durante a Conferência de Puebla, as Igrejas do continente serão convidadas a dar desde a própria pobreza . O Con-cílio mudou o conceito de Missão, já não existe quem dá e quem recebe. Todas as Igrejas são ricas na vitalidade dos carismas, independentemente da sua situação social.

As Igrejas dão e recebem, se convertem em Igrejas irmãs, parti-lham os dons e carismas. A partir deste princípio, é consolador ver hoje os antigos países missionários (Espanha, Itália etc.) recebendo nas suas Igrejas particulares missionários africanos, latino-americanos ou asiáticos. A Missão é transversal e não mais caminha em uma única dimensão.

“Os bispos, cada um com o seu presbitério, cada vez mais penetrados do sentido de Cristo e da Igreja, devem sentir e viver com a Igreja universal. Deve manter-se íntima a comunhão das Igrejas jovens com a Igreja inteira, cujos elementos tradicionais elas devem juntar à sua cultura própria, para fazer crescer a vida do Corpo místico por meio de trocas mútuas. Por isso, devem cultivar-se os elementos teológicos, psicológicos e humanos que podem contribuir para fomentar este sentido de comunhão com a Igreja universal”. (Ad Gentes n.20).

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Comunidade cristã em Nampula, Moçambique.

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Concílio Vaticano II.

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17Missões - Jul/Ago 2005

A adaptação como atitudeO Concílio não conhece ainda a palavra inculturação. Fala

de adaptação num sentido mais profundo que a materialidade da palavra. A teologia, a liturgia, a catequese, a pregação e até mesmo a vida religiosa devem confrontar-se com as culturas, usos e costumes dos povos. O Evangelho deve ser pregado com categorias que o povo entenda e manifeste na própria cultura a novidade do cristianismo.

Depois do Concílio, a teologia e mesmo o magistério da Igreja vão desenvolver todos estes conceitos inseridos nos contextos da inculturação, pluralismo e riquezas culturais, porque as sementes do Verbo já estão presentes antes que o missionário chegue.

“É necessário que em cada grande espaço sociocultural, se estimule uma reflexão teológica tal que, à luz da tradição da Igreja universal, as ações e as palavras reveladas por Deus, consignadas na Sagrada Escritura, e explicadas pelos padres

Os leigos também são missionáriosDe diversas maneiras e em diferentes contextos, o Concílio

fala da vocação missionária inerente a todo batizado. O discípulo de Jesus, através do Batismo, recebe a missão de anunciar com a sua vida o seu Evangelho. O número 21 do Decreto Ad Gentes é muito rico e importante para conhecer o papel do leigo na obra da evangelização: “a Igreja não está fundada verdadeiramente, nem vive plenamente nem é o sinal perfeito de Cristo entre os homens se, com a hierarquia, não existe e trabalha um laicato autêntico. De fato, sem a presença ativa dos leigos, o Evangelho não pode gravar-se profundamente nos espíritos, na vida e no trabalho de um povo. Por isso, é necessário desde a fundação da Igreja prestar grande atenção à formação dum laicato cristão amadurecido”. Estas e outras afirmações são realidade plural na nossa sociedade. Cada vez mais aumentam os leigos que querem se unir à Missão. As realidades temporais são campos para uma profunda espiritualidade missionária no anúncio de Cristo em outros povos.

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Irmãzinhas de Jesus de Charles de Foucauld, Santa Terezinha de São Felix do Araguaia.

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Comunidade cristã no Sudão. di una missione

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18 Jul/Ago 2005 - Missões

Sobre os missionários e leigos O principal dever dos homens e das mulheres é dar

testemunho de Cristo pelo exemplo e pela palavra, na família, no seu ambiente social e no âmbito da profissão. Importa que neles transpareça o novo homem, criado segundo Deus na justiça e na santidade da verdade. De-vem manifestar essa vida nova no âmbito da sociedade e da cultura pátrias, segundo as suas tradições nacionais. Devem conhecer essa cultura, purificá-la e conservá-la, desenvolvê-la segundo as recentes situações, e finalmente aperfeiçoá-la em Cristo (Ad Gentes n. 21).

Convençam-se por isso vivamente todos os filhos da Igreja de sua responsabilidade para com o mundo. Fomentem em si um espírito verdadeiramente católico. Empenhem-se com afinco na obra da evangelização. Contudo, saibam todos que seu primeiro e principal dever pela difusão da fé consiste em viver profundamente a vida cristã. Pois seu fervor no serviço de Deus e sua caridade para com os outros trarão novo sopro espiritual a toda a Igreja, que aparecerá como sinal levando às nações, a “luz do mundo” (Mt 5,14) e o “sal da terra” (Mt 5,13) (Ad Gentes n. 36).

Vive o Povo de Deus em comunidades, principalmente diocesanas e paroquiais, e nelas aparece de certo modo visivelmente. Em conseqüência cabe-lhes também teste-munhar Cristo diante das nações.

Não pode crescer nas comunidades a graça da reno-vação, se não dilatar cada uma os espaços da caridade até os confins da terra, cuidando igualmente dos de longe como dos membros próprios.

Assim toda a comunidade reza, coopera e exerce atividade entre os povos por seus filhos que Deus escolhe para esse excelentíssimo ofício. (Ad Gentes n. 37)

da Igreja e pelo magistério, sejam sempre de novo investigadas. Assim se entenderá mais claramente o processo de tornar a fé inteligível, tendo em conta a filosofia ou a sabedoria dos povos” (Ad Gentes n.22).

Os Institutos missionárioscomo sentinelas da Missão

“Visto que uma obra missionária, como prova a experiência, não pode ser realizada pelos indivíduos isolados, a vocação comum reuniu-os em Institutos, nos quais, pelo esforço comum, se formassem convenientemente e executassem essa tarefa em nome da Igreja e segundo a vontade da autoridade hierárquica. Os Institutos, desde há muitos séculos que têm suportado o peso do dia e do calor, consagrando-se inteiramente ou em parte à empresa apostólica. A essas Igrejas, fundadas à custa do seu suor e até do seu sangue, prestarão serviço com zelo e experiência em fraterna cooperação”. (Ad Gentes n.27).

Os Institutos missionários com a própria espiritualidade, formação e estilo de vida, devem ser a memória viva da Missão na Igreja e, como dizia João Paulo II na encíclica Redemptoris Missio: “a missão está ainda nos seus começos”. Estas são, se-gundo o meu parecer, as idéias básicas da Missão no Concílio. Estas raízes cresceram como uma grande árvore nestes 40 anos. E agora estamos perante um panorama enorme sobre a Missão. O que, onde e como é a Missão veremos na próxima edição.

Ramón Cazallas Serrano é missionário e diretor do Instituto Superior de Teologia e Pastoral de Bonfim, BA (ISTEPAB).

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Caminhando juntos

de Luiz Balsan

documento “Missão e ministérios dos cristãos leigos e leigas”, número 62, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), coloca claramente uma perspectiva de Igreja Corpo Místico de Cristo. Nela, o Espírito se manifesta de forma generosa, distribuindo dons de formas diferentes. São Paulo, o escritor

do Novo Testamento que mais trata dos carismas entendidos como dons do Espírito, nos coloca alguns marcos fundamentais. Diz que a cada pessoa são dadas diferentes manifestações do Espírito; e diz também que estes dons, distribuídos de formas diversas, são para o bem do Corpo de Cristo. Aliás, este é o verdadeiro critério para avaliar o real valor de um carisma: não o fato da pessoa realizar coisas extraordinárias, mas o serviço que presta à comunidade. Paulo escreve três capítulos sobre os carismas, na Primeira Carta aos Coríntios – capítulos 12, 13 e 14 – para falar da importância destes dons. A teologia de Paulo é bonita e prática. Põe em evidência a diversidade, lembrando, porém, que esta diversidade conduz à unidade: distribuição de dons para serem colocados a serviço da comunidade, em favor de uma única missão.

Diversidade e comunhãoPara que a variedade esteja realmente a serviço da unidade

e, portanto, do bem comum, é preciso caminhar juntos, refletir juntos, buscar caminhos de unidade. É este caminho que a pa-

róquia Santa Margarida, de Curitiba, coordenada pelos padres Lírio Girardi e Durvalino Condicelli, vem procurando viver. O dia 13 de março de 2005, teve uma importância fundamental nesta caminhada, pela realização da Assembléia Paroquial. Estavam presentes, além dos sacerdotes que nela atuam, os leigos representantes dos diversos grupos, das pastorais e das cinco comunidades que formam a paróquia. O objetivo funda-mental era a aprovação do Plano Paroquial de Evangelização. Na verdade, este dia se apresentava como uma espécie de conclusão de uma caminhada que já tinha mais de dois anos. Caminhada esta que foi agregando o estudo da realidade de cada comunidade e os objetivos que se quer alcançar, iluminados pelas orientações da Igreja local e provocados pelos grandes desafios do mundo de hoje.

Momento de sínteseA Assembléia se desenvolveu em passos progressivos:

cada comunidade e cada Pastoral Paroquial apresentou um relatório. Era o ponto de partida para saber sobre a caminhada da paróquia. Num segundo momento, a Assembléia elegeu os novos coordenadores do CPP (Conselho Pastoral Paroquial), que serão as pessoas que, ao lado dos sacerdotes, vão coordenar a caminhada da paróquia. Num terceiro momento a Assembléia discutiu e aprovou o Plano de Evangelização. Foi o momento oficial em que a comunidade definiu as diretrizes da ação evan-gelizadora para promover a dignidade da pessoa, renovar-se e colaborar na construção de uma sociedade justa e solidária e escolheu pistas de ação para a realização dessas diretrizes.

Rumo a seguirEm nossa vida, continuamente nos deparamos com a distância

que existe entre o sonho de Deus e a realidade do mundo. Tal diferença aponta para os rumos da nossa ação evangelizadora. Por isso as pastorais procuram abranger uma diversidade de

serviços. Existe, porém, um velho provérbio que diz que “não há vento favorável para quem não sabe para onde vai”. Dentro de uma realidade ampla de Igreja, sempre há alguns aspectos que são mais urgentes e mais importantes e que, por isso, centralizam os esforços e energias. Nesta Assembléia, a paróquia de Santa Margarida escolheu duas prioridades que constituirão seu principal foco de atenção nos próximos anos: juventude-adolescência e família. Outros dois aspectos vão receber uma atenção particular: acolhida e liturgia. Esta escolha representa um ponto de chegada, enquanto é fruto de uma longa caminhada de estudo e reflexão; mas é, acima de tudo, ponto de partida, pois agora começa o momento decisivo, de empenho e comunhão, para que este sonho possa se tornar realidade.

Luiz Balsan é missionário, professor de Espiritualidadee doutor em Teologia.

A paróquia Santa Margarida, em Curitiba, implanta Plano de Evangelização.

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Sebastião Paz (Vice-Coordenador), Lia Cristiane Litz (Secretária) e Edson Ferreira (Coordenador).

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20 Jul/Ago 2005 - Missões

As CEBs e o 11º IntereclesialMuitas pessoas têm a impressão de que as Comunidades Eclesiais de Base estão

diminuindo, mas na verdade elas estão crescendo e com grande vitalidade.

de Nelito Nonato Dornelas

epois do Concílio Vaticano II houve uma onda de entusiasmo, de esperança, aí nasceram as Comu-nidades Eclesiais de Base (CEBs). Elas cresceram rapidamente pelo Brasil e América Latina, e também pelos países da Ásia, Europa, África, Oriente e Amé-rica do Norte. Depois houve um tempo de parada,

de menos entusiasmo e um certo cansaço, que na verdade, foi um tempo de acúmulo de forças.

Agora, tudo nos leva a crer que virá uma força nova. Se olharmos a Igreja, nós estamos, sem dúvida, num momento de mudança. O pontificado de João Paulo II anunciou uma nova etapa. Com a chegada de Bento XVI, nós podemos criar forças novas e pensar o que podemos construir. É o momento de ela-borar novos projetos para a Igreja e a sociedade.

Numa Igreja de CEBs e não apenas com CEBs, as Comu-nidades Eclesiais de Base ensinam que o mais importante é que nós colaboremos em todos os níveis, criando dentro da Igreja uma cultura de participação. Que celebremos a nossa fé em comunidade e que não seja somente o sacerdote, a freira ou os coordenadores, mas que toda comunidade forje a própria liturgia, as suas pastorais, e abra caminhos novos. Quanto mais participativos forem seus membros, mais solidária e missionária será a comunidade.

Uma Comunidade Eclesial de Base saindo de si para levar seu entusiasmo e suas descobertas às outras comunidades, se fortalecerá e poderá ser estímulo para que outras sejam também solidárias, participativas e evangelizadoras. Conforme nos diz dom Pedro Casaldáliga: “que assumamos nosso batismo, sejamos mais audaciosos e tenhamos uma visão de totalidade”.

Em nível existencialOutro fenômeno que também é promissor para as CEBs,

ainda que não pareça, é o surgimento do fenômeno religioso. Sem dúvida há uma sede enorme de religião e essa sede atra-vessa todos os setores e segmentos sociais. As elites estão desiludindo-se com este modelo de vida materialista, hedonista e individualista e parecem estar buscando mais sentido para sua existência.

As camadas populares, por causa da crise, da dificuldade, da luta, da humilhação sofrida, estão querendo um espaço onde possam sentir-se mais gente, mais próximas da força maior e percebem que a grande presença que pode animar toda pessoa, em qualquer situação, é Deus.

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As CEBs precisam estar atentas a duas questões: primeiro, aproveitar esse momento religioso para animarem-se a si mes-mas, fazendo uma experiência religiosa mais profunda. Então, essa força religiosa vai incentivá-las a sair de si mesmas. Uma comunidade sai de si quando se compromete com as causas sociais, com os pobres, com a luta, com a melhoria da região, do bairro, das situações, enfim, aquilo que as CEBs sempre souberam fazer e fizeram muito bem. Então o fenômeno religioso em vez de ser uma força alienante, pode transformar-se numa grande força de reanimação das CEBs. Visto desta forma, o próprio movimento carismático não é uma força oposta, mas uma energia que as CEBs podem haurir para si mesmas. Por isso, as Comunidades Eclesiais não podem terminar sua bus-ca existencial na experiência religiosa, porque, aí sim, elas se tornarão alienadas e alienantes.

O segundo elemento importante é a valorização da Bíblia. A Bíblia, vista como a Palavra de Deus, está cada vez mais presente na evangelização. Os leigos estão buscando estudar mais teologia. Há muitos cursos de formação e de Bíblia em

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10º Inreclesial das CEBs, Ilhéus, BA.

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21Missões - Jul/Ago 2005

As CEBs e o 11º IntereclesialAs CEBs podem impregnar na sociedade a cultura da soli-

dariedade, de tal maneira que, a primeira idéia que nos vem à mente quando acordamos seja: solidariedade! Porque os sím-bolos que nos cercam falam de solidariedade. Então, os atos solidários fluirão como uma coisa natural e não serão esforços grandes porque será natural em nós. A uma cultura individualista, responderemos com solidariedade.

O 11º Intereclesial de CEBsAssim, chegamos em 2005. E, com ele, transportado nas

asas do Espírito, mais um vagão do trem das CEBs, que vem sendo esperança de vida, abrindo a porta da Igreja para acolher e partilhar, militando nas causas do “outro mundo possível”. A estação que nos espera é a cidade de Ipatinga, em Minas Ge-rais, diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, onde celebraremos, de 19 a 23 de julho, o 11º Intereclesial de CEBs, cujo tema é “CEBs e a espiritualidade libertadora” e o lema: “Seguir Jesus no compromisso com os excluídos”. Dois encontros específicos antecederão ao Intereclesial: um na Arquidiocese de Vitória, Espírito Santo, nos dias 14 a 17 de julho, que é o Encontro Intercontinental de CEBs e o outro, em Coronel Fabriciano, de 16 a 18 de julho, dos povos indígenas. Este trem tem dois trilhos: o primeiro fundamenta-se no seguimento de Jesus e o segundo refere-se ao nosso compromisso com as causas dos excluídos. Nestes trilhos circula a energia que vem do chão. O trem atravessa a história, está em movimento e esta energia provém do seu próprio movimento, é a nossa espiritualidade que está bem no centro do 11º Intereclesial.

Esta viagem teve início há trinta anos, quando fora colocada, por iniciativa de Dom Luiz Gonzaga Fernandes, a primeira loco-motiva em movimento, em Vitória, no Espírito Santo. O nosso encontro acontecerá numa região que tem vivido intensamente todos os acontecimentos, que marcaram estes últimos quarenta anos. Nossa diocese foi criada em 1965, quando da última ses-são do Concílio Vaticano II, da qual participara o nosso primeiro bispo, Dom Marcos Antônio Noronha. Por sua iniciativa flores-ceu em toda a extensão destas terras mineiras um verdadeiro canteiro de CEBs. Incentivadas pelos bispos que o sucederam, este modelo eclesial permanece vivo e se fortalece com a preparação do 11º Intereclesial. O bispo anfitrião, Dom Odilon Guimarães Moreira, conclama: “este é o ano do 11º Intereclesial. Pessoas que se reúnem para celebrar a fé e a vida, para ouvir e refletir a Palavra de Deus e que têm um compromisso com o outro, representarão a sua comunidade ou sua diocese. Este Intereclesial será uma bênção para nossa Igreja diocesana. São 3.600 delegados vindos de todo o Brasil e além-fronteiras. Brancos, afros e amarelos virão! Índios darão sua parcela com sua presença e atuação. Evangélicos não faltarão”.

Nelito Nonato Dornelas é sacerdote e membro da Secretaria Nacional do Intereclesial das CEBs. ([email protected])

todas as partes. As CEBs já os fazem como forma de aumentar e aprofundar a sua cultura religiosa. Mesmo que a conjuntura atual não favoreça a visibilidade das Comunidades Eclesiais, elas estão aí e abrem novos horizontes e novas oportunidades.

Em nível social Vivemos numa situação social desafiadora. O próprio sistema

político neoliberal nos desafia. Mas, ele já mostra sinais de fragi-lidade e tem provocado reações em todo o mundo. Está cansado e se apresenta como um barco que está deixando entrar água pelo casco. Ao mesmo tempo, de dentro do sistema, continua nascendo e se constituindo uma cultura de solidariedade em âmbitos globais.

Sabemos que as forças populares, organizadas em peque-nas Comunidades Eclesiais de Base, sozinhas não mudarão o grande sistema, mas podem enfrentá-lo, por meio de uma cultura de solidariedade. Talvez aí as CEBs tenham uma chave nova para este novo milênio. A cultura de solidariedade possui uma energia própria e anima as Comunidades de Base.

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O 2º CongressoVocacional do Brasil

stamos vivendo os momentos decisivos preparatórios para o 2º Congresso Vocacional em âmbito nacional, que se realizará em Itaici, Indaiatuba, São Paulo, de 2 a 6 de setembro. Paróquias, dioceses e regionais da CNBB estão promovendo encontros de formação e de aprofundamento do tema, “Igreja, povo de Deus a ser-

viço da vida” numa perspectiva de provocação para uma missão específica dentro da comunidade, da Igreja e da sociedade, “Ide também vós para minha vinha!” (Mt 20, 4).

A Igreja no Brasil, que muito já avançou na consciência vocacional, na prática dos ministérios e no serviço de animação vocacional, graças, sobretudo, a dois grandes eventos: o 1º Con-gresso Vocacional do Brasil, em 1999, com o tema: “Vocações e Ministérios para o Novo Milênio”, e o lema: “Coragem! Levanta-te, Ele te chama!” (Mc 10, 49b) e o Ano Vocacional (2003), com o tema: “Batismo, fonte de todas as vocações”, e o lema: “Avancem para águas mais profundas” (Lc 5, 4), sente a necessidade de resgatar alguns conceitos fundamentais, como: “povo de Deus”, “vocação à santidade”, “carismas e ministérios”, para dar conti-nuidade à caminhada vocacional.

A Comissão Episcopal para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada, em comunhão com os animadores vocacio-nais da Igreja no Brasil definiram como objetivo geral “Animar e celebrar a caminhada vocacional da Igreja, povo de Deus a serviço da vida”. Todas as ações a serem realizadas nas oficinas do Congresso visam reafirmar a consciência de que a Igreja é povo de Deus, assembléia dos chamados (PDV 34), convocada e reunida pela Trindade (LG 4); proclamar a vocação universal à santidade, na diversidade das vocações, dos carismas e dos ministérios (LG 5), para a formação e o desenvolvimento da vida em comunidade (DGAE 117); assumir com renovado ardor o incentivo e a organização de meios para o surgimento, a pro-moção e o acompanhamento das vocações para os ministérios ordenados, vida consagrada e ministérios dos cristãos leigos e leigas (PDV 39) e fortalecer a convicção de que toda vocação é para a missão, serviço à pessoa humana, particularmente aos pobres e excluídos (GS).

A preparaçãoCom a finalidade de preparar os animadores e animadoras

vocacionais para esse significativo evento, o texto-base está focado em três partes, a saber: a primeira contempla o resgate da

Ede Carlos Alberto Chiquim

memória da caminhada vocacional da Igreja no Brasil, o período anterior ao Concílio Vaticano II, o surgimento das pastorais na década de 70, entre elas a Pastoral Vocacional e a sua evolução até os dias de hoje. A segunda parte aprofunda o tema central do Congresso: a Igreja, povo de Deus a serviço da vida, tendo como base o estudo da parábola dos trabalhadores da vinha (Mt 20, 1-16). E a última parte apresenta os fundamentos teológicos e indicações pastorais. O tema de estudo priorizou a teologia e a eclesiologia do Concílio Vaticano II e procurou valorizar a caminhada vocacional, resgatando os fatos mais significativos

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O 2º CongressoVocacional do Brasil

da experiência das comunidades. O 2º Congresso Vocacional deverá ser um marco divisor de águas, ou seja, apresentar um salto qualitativo na ação vocacional de nossas comunidades. A animação vocacional não poderá mais ser entendida como um trabalho de suplência, isto é, de fazer aquilo que os outros agentes evangelizadores não fazem. A questão vocacional deverá ser entendida como uma dimensão essencial na vida de nossa Igreja. Ela faz parte do mandato de Jesus, “ide também vós para a minha messe” (Mt 20, 4); “segui-me e vos farei pescadores de homens” (Mt 4, 19); “eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10). É missão de toda a Igreja proclamar a boa nova de Jesus, despertando no coração dos fiéis o desejo de conhecê-lo e de segui-lo. Portanto, o desper-tar vocacional deverá ser feito por todos os batizados. Cabe à animação vocacional a missão de colaborar no discernimento e acompanhamento, suscitando no coração dos adolescentes e jovens, o amor apaixonado por Jesus Cristo, pelos irmãos e a adesão à sua Igreja.

Igreja ParticularA partir do 2º Congresso Vocacional, cada diocese deverá

empenhar-se em aprofundar entre os fiéis, o conceito de vocação como uma relação dialógica com Deus, em função da comunidade, na construção do Reino ; o sentimento de pertença e a dimensão de comunhão. E feliz será a Igreja Particular que assumir a di-mensão vocacional como uma de suas prioridades, pois despertar cada batizado para o seu compromisso na comunidade e na sociedade é acordá-lo para o sentido da vida e para a dimensão da graça. Uma Pastoral Vocacional imbuída do espírito eclesial e, sobretudo, da fidelidade a Cristo, o Bom Pastor, aquele que torna

clara para cada batizado, a vontade de Deus, está cumprindo sua missão. O bispo diocesano, cada presbítero, religioso e religiosa, catequista, professor e todos os que exercem um ministério na comunidade deverão ser os primeiros animadores vocacionais. A Igreja como um todo deverá estar imbuída desse Espírito de Deus, que sopra e “torna novas todas as coisas”. A Igreja Parti-cular deverá ser acordada para o sentimento de diocesaneidade e de pertença. Pertencer à Igreja significa fazer parte dela e estar integrado, assumindo sua vida e missão. O batizado é inserido no corpo de Cristo que é sua Igreja. “Eu sou a videira; vós sois os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5).

Nenhum batizado, pastoral, movimento eclesial, diocese, congregação religiosa ou organismo, pode viver de forma inde-pendente da sua Igreja, porque quando Deus constituiu o corpo, o formou “não para a divisão, mas para que os membros sejam solícitos uns com os outros. Se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele; se um membro é honrado, todos os membros se alegram com ele” (1Cor 12-25-26).

Nosso compromissoVale a pena recordar que um Congresso Vocacional, even-

to de caráter nacional, traz grandes benefícios para a vida da Igreja. Há uma revitalização da caminhada de comunidades que acabaram, por diversas circunstâncias, se acomodando. Outras que, vendo novas experiências, saem do rotineiro e acabam adentrando mais ao fundo, duc in altum, renovando a sua ação evangelizadora.

Desde já convocamos todos que trabalham nessa missão a organizar e estruturar a animação vocacional nas dioceses, Institutos e Congregações e implantar as equipes vocacionais paroquiais, integradas com as outras pastorais. Não se pode falar em animação vocacional sem ter presente a importância da catequese, principalmente a do Sacramento da Confirma-

ção, o envolvimento dos grupos de jovens como instrumento de amadurecimento da fé em seus membros e a importância da família na descoberta do sentido da vida. Frutos desse Con-gresso estão sendo esperados: o investimento na formação permanente e na mística dos animadores; a criação de uma cultura vocacional, onde toda a comunidade se sinta co-respon-sável para o despertar de seus membros, através da oração e do chamado direto e a valorização dos ministérios dos cristãos leigos e leigas na Igreja.

Carlos Alberto Chiquim é sacerdote e secretário executivo do Regional Sul 2 - CNBB.

De 2 a 6 de setembro será realizado o Segundo

Congresso Vocacional, em Itaici, São Paulo, com

o tema “Igreja, povo de Deus a serviço da vida”.

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Encontro Vocacional no Colégio “Cor Jesu”, DF.

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Participantes da 27ª Assembléia do Serviço de Animação Vocacional do Regional Sul 1.

23Missões - Jul/Ago 2005

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vamos amare cuidar das nossas crianças?

a mesma maneira que Dom Carlos Forbin Janson, fundador da Infância Missionária, tomarei como ponto de partida nesta edição a China, um dos maiores países do mundo, com uma população também grandiosa. Neste país uma pesquisa feita nos últimos 25 anos, apresentou registros de abusos

na infância como uma prática bastante disseminada. Entre os 3.500 adolescentes pesquisados, 50% dos meninos e cerca de 33% das meninas sofreram algum tipo de agressão na infância. Esta pesquisa, financiada em parte pelo UNICEF, demonstrou na relação entre abuso infantil e saúde mental que as crianças maltratadas têm uma maior propensão a se tornarem alcoólatras ou a adotarem um comportamento violento. Em nosso país a violência e o abuso contra nossas crianças ainda é freqüen-temente silenciado, tanto pela família, quanto pelos vizinhos, médicos e educadores, conseqüência dessa omissão são as nossas crianças marcadas irreversivelmente.

Uma das situações mais preocupantes em nosso meio são as crianças e adolescentes explorados sexualmente. Esse fato agrava-se principalmente na região fronteiriça onde o controle e fiscalização são desafios para o poder público. Dados coletados por um grupo de pesquisa da Universidade de Brasília falam de

de Roseane de Araújo Silva

“E agora me digam se eu tenho direito,se sou cidadão, ou por Deus não fui feito?”

Fr. Domingos dos Santos

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104 municípios fronteiriços, onde este crime já possui o caráter transnacional, como por exemplo, Oiapoque, no Amapá e Foz do Iguaçu, no Paraná e sua tríplice fronteira. Na verdade, nesta pesquisa consta um número bem maior de municípios onde foram detectadas redes de exploração sexual de crianças e adolescentes comercialmente. Estas redes de turismo sexual costumam agir principalmente no interior dos estados, onde “recrutam” suas vítimas. Dos municípios envolvidos, 31,8% são da região Nordeste, 25,7% do Sudeste, 17,3% da região Sul, 13,6% do Centro-Oeste e 11,6% da região Norte, contando ainda com crianças e adolescentes beneficiários de programas sociais. Um crime silencioso e da mesma maneira assustador é o de pedofilia na rede mundial de computadores, amplamente divulgado na mídia.

O povo é santuário de Deus (Sl 114)A vida nos coloca um desafio a cada dia: as nossas crianças e

adolescentes em qualquer situação são os pequeninos do Reino de Deus Pai-Mãe. Elas esperam com ternura uma sociedade fraterna e igualitária, construída a partir dos adultos. Jesus dedicou muito carinho e atenção às crianças do seu tempo, uma vez que as mesmas eram tidas como inferiores: “quem receber em meu nome uma destas crianças, estará recebendo a mim. E quem me receber, não estará recebendo a mim, mas Àquele que me enviou. (...) E se alguém escandalizar um destes pequeninos que acreditam, seria melhor que fosse jogado ao mar com uma pedra de moinho amarrada no pescoço” (Mc 9, 37 e 42).

O Estatuto da Criança e do Adolescente em seu 4º artigo reforça como “dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimenta-ção, à educação, (...) à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária” (Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990). A exemplo de Dom Carlos Janson devemos assumir esta causa e defender as nossas crianças daqueles que roubam o que elas têm de mais precioso: a infância. A IM nasceu da necessidade e da triste realidade que enfrentavam as crianças chinesas, como todos sabem. As crianças e adolescentes bra-sileiras esperam concretamente uma atitude nossa, junto aos Conselhos Municipais de Segurança, denunciando este crime e buscando políticas públicas eficazes no combate à exploração sexual e na criação de projetos sociais de combate à pobreza. Nas palavras de Dom Carlos, o protagonismo das nossas crianças nos mostra que um outro mundo é possível sim! Das crianças do mundo – sempre amigas!

Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da rede pública do Paraná.

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InfânciaMissionáriaInfânciaMissionária

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que pode irmanar todos os membros da família humana.” Desta forma, a juventude católica do mundo todo aceita o desafio de ser evangelizadora a partir do encontro pessoal com Jesus, o Cristo. Vamos à Colônia para partilhar a experiência de Jesus com nossos irmãos jovens do mundo. Como disse um jovem na XV JMJ (em Roma 2000), não vamos à Jornada simplesmente para ver o papa ou para fazer um “turismo espiritual” ... vamos à Jornada para encontrar Jesus; vamos, sim, a convite do Papa – mas o centro de nossa peregrinação é o encontro com Jesus e a partilha de nossas experiências de fé com outros jovens que fazem esta mesma opção.

De 11 a 15 de agosto acontecerá aquilo que vem sendo chamado de Pré-Jornada – os jovens que vão chegando de todos os países do mundo se dividem nas dioceses da Alema-nha para conhecer mais de perto a realidade da Igreja naquele

país e trocar experiências desta vivência. São dias de oração, partilha da Palavra, ação solidária, shows, passeios culturais, e muito mais. Enfim, esta é uma grande festa e um importante encontro da juventude que se sente missionária no mundo.

Mais informações poderão ser obtidas nos sites:www.vatican.va ou www.wjt2005.de

André Cunha de Figueiredo Torres é sacerdote, Diretor do Instituto Dom Bosco, São Paulo.

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Jovens comemoram Dia Mundial da Juventude.

oão Paulo II ao ser eleito papa, em 1978, falou de sua confiança nos jovens como futuro do mundo e espe-rança da Igreja. Em 1984, se reuniu pela primeira vez com eles, em Roma, no Domingo de Ramos. Naquele encontro o papa confiou-lhes a “cruz da Jornada Mundial da Juventude”.

A primeira Jornada Mundial da Juventude (JMJ) aconteceu em 1986, em Roma. Depois se seguiram encontros na Argen-tina (1987), Espanha (1989), Polônia (1991), Estados Unidos (1993), Filipinas (1995), França (1997), novamente em Roma (no Jubileu do ano 2000) e Canadá (2002). Os encontros em nível mundial acontecem a cada dois (ou três) anos, reunindo, aproximadamente, um milhão de jovens – a X JMJ nas Filipinas reuniu cerca de 4 milhões de jovens e foi a maior concentração da história da JMJ. Nos anos que se intercalam, as Jornadas acontecem localmente (nas várias dioceses do mundo!) – estes dois âmbitos da celebração das Jornadas da Juventude têm o objetivo de fortalecer a consciência de Igreja.

Alemanha 2005Ao término da XVII JMJ (Canadá – 2002), João Paulo II

marcou o próximo encontro com os jovens do mundo para a Alemanha em 2005 – a cidade de Colônia (Köln) foi escolhida para sediar este encontro. O papa Bento XVI, antes mesmo de assumir oficialmente a missão de ser o pastor da Igreja Universal, confirmou sua presença na JMJ. Assim, a juventude de todo o mundo está sendo convidada a participar da XX Jornada Mundial da Juventude, de 11 a 21 de agosto de 2005. O lema desta JMJ é tirado do Evangelho segundo Mateus: “Viemos adorá-Lo”. Na mensagem que escreveu aos jovens, preparando a XX JMJ, o querido papa João Paulo II, motivava-os a partir do lema citado acima, dizendo: “Sede adoradores do único Deus, reconhecen-do-lhe o primeiro lugar na vossa existência! A idolatria é uma tentação constante do homem. (...) Jovens, não cedais a falsas ilusões nem a modas efêmeras, que muitas vezes deixam um trágico vazio espiritual! Recusai as soluções do dinheiro, do con-sumismo e da violência dissimulada que por vezes os meios de comunicação propõem. (...) Adorai Cristo: Ele é a Rocha sobre a qual construir o vosso futuro e um mundo mais justo e solidário. Jesus é o Príncipe da paz, a fonte de perdão e de reconciliação,

de André Cunha de Figueiredo Torres

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A XX Jornada Mundial da Juventude (JMJ) será realizada entre os dias 11 e 21 de

agosto, na cidade alemã de Colônia.

Jornada Mundialda Juventude

25Missões - Jul/Ago 2005

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de Rosa Clara Franzoi

Etiópia possui relíquias arqueológicas das mais antigas, é um dos poucos países que escapou ao colonialismo europeu e conseguiu conservar quase inalterada a própria identidade cultural: língua e alfabeto. Tem um calendário próprio, e um modo tradicional de contar as horas, medir o tempo e muitas outras coisas...

Como se vive o social, o econômico, o político e o cultural num país tão diferente?

Para responder a esta pergunta, seria preciso ultrapassar tanto a dimensão do sensível e do emocional, quanto da razão cartesiana e entrar no espaço ético-estético-político-histórico, ou seja, no mundo da vida do povo etíope. Tarefa impossível para mim que entrei neste país há pouco tempo e atuo em poucos e reduzidos espaços desta terra fascinante. E acrescente-se o fato que o contexto social, cultural e político está mudando velozmente também na Etiópia, onde até agora, a tradição, era o ponto focal de toda e qualquer leitura. Se o contato com lín-guas, alfabetos, modo de organizar e contar o tempo, a história e a vida, tão diferentes dos nossos, questiona a nossa lógica e força o alargamento do nosso horizonte, a aplicação das medidas neoliberais com todas as suas características muito nos preocupa. Se por um lado as “comunicações” unem todos os grupos e etnias, revelando os limites que se escondem por detrás de certas tradições - por exemplo a triste realidade da mulher -, a tecnologia abre novas oportunidades de conheci-mento e criatividade e os mercados penetram todos os espa-ços sociais... Por outro lado, os desequilíbrios e perturbações que o neoliberalismo está provocando na Etiópia em todas as dimensões da vida social, econômica, política e cultural antes regidas por princípios milenares, causam apreensão, pois não conseguimos imaginar o futuro.

A Etiópia com sua história milenar, suas profundas ligações com o cristianismo e a sua complexa cultura, parece fugir a toda classificação. Que presença e que voz tem a Igreja Católica e como atua no campo da evangelização?

A Igreja Católica na Etiópia é uma Igreja numérica e politi-camente insignificante – apenas cerca de 0,5% da população. Esta constatação cria uma sensação de impotência e um certo

complexo de inferioridade que paralisa o dinamismo e a coragem profética da mesma (The Church we want to be n. 34-2002). Em algumas áreas, existem comunidades vivas e atuantes. Na maioria dos casos porém, é uma Igreja dependente da ajuda externa, seja de recursos humanos – missionários(as) – , seja de recursos econômicos. Assim mesmo, a Igreja Católica é reconhecida em todo país pela sua atuação no campo da promoção humana, sinal e comunhão entre as diferentes etnias e religiões.

Desde quando as missionárias e missionários da Consolata estão presentes na Etiópia e como se harmonizam com uma cultura tão diversa?

Em forma de sonho, a presença é muito antiga, desde quando o fundador, o Bem-aventurado José Allamano, aos 13 anos, se encontrou com o grande e legendário missionário cardeal Massaia. Mas, na realidade, uma presença concreta deu-se a partir de 1916 – com a chegada dos primeiros padres e irmãos e em 1924 com a das irmãs, até 1942, quando com a Segunda Guerra Mundial, missionárias e missionários foram obrigados a deixar os campos florescentes da missão. O retorno foi possível somente muitos anos mais tarde – os padres em 1970 e as irmãs em 1974. O sábio conselho do fundador: “... um somente é o objetivo comum: fazer

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Melânia Lessa é catarinense, criada no Estado do Paraná. Irmã missionária, trabalha há quase quatro anos na Etiópia. Nesta entrevista, descreve o seu trabalho neste país africano.

Etiópia, um país legendário e fascinante

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o bem, o maior bem possível unicamente para a glória de Deus” (carta a Mons. Barlassina em 3/11/1915) e a realização deste seu sonho é que nos sustenta nesta missão. Para nós irmãs, caminhar ao lado da mulher etíope, mulher bela, forte e corajosa é uma experiência que dá novo significado em nossa vida.

Que desafios a Igreja enfrenta na Etiópia diante das vertigi-nosas mudanças de um mundo globalizado?

São vários os desafios e multifacetados. Em primeiro lugar, porque as conquistas da globalização não beneficiam a todos. Incham as cidades, crescendo, portanto, o número dos mendi-gos, moradores e crianças de rua, prostituição... Avassalador é o avanço do vírus HIV, que deixa milhares de órfãos. Preocupante é a perda dos valores culturais das diferentes etnias, que gera um grande desequilíbrio especialmente na família. Também nos preocupa a exploração das diferenças étnicas pelos políticos inescrupulosos. A grande falta de trabalho, o alcoolismo, a fome, as doenças... martirizam o povo etíope e com ele também nós sofremos.

Quais são os sinais de vida que conseguem alimentar a esperança dos cerca de 67 milhões de habitantes do país, que na sua maioria vivem com padrões de vida abaixo da pobreza?

Por mais que a situação pareça, muitas vezes impermeá-vel a qualquer possibilidade de utopia, o nosso povo continua esperando na vida. É impressionante! Um clima de “sagrado”, fé simples, espírito de renúncia e sacrifício (jejum) e uma terna devoção a Nossa Senhora, constituem o chão desta esperan-ça. O desejo de libertação inerente à pessoa humana e que se fortalece em meio à opressão e o sofrimento é sinal de vida. Também o são a possibilidade de educação que, aos poucos

vem sendo oferecida à grande parte da população, a atenção e o incentivo dado à valorização e participação da mulher na construção de uma nova sociedade – exemplo significativo é a “Associação das Mulheres Advogadas da Etiópia”, que luta pela emancipação da mulher e na defesa dos seus direitos.

Dentre as muitas experiências que já viveu neste país, qual você julgaria mais significativa?

Sair do Brasil e ir para a Etiópia, já é por si só uma expe-riência muito significativa. Ao chegar, eu senti dentro de mim sentimentos de indignação e impotência e ao mesmo tempo de maravilha e intensa ternura para com o povo. Impossível aprender as três línguas principais faladas na Missão para onde havia sido enviada. Muito sofrido foi o processo de escolha de prioridades de ação, diante da miséria e dos apelos insistentes do povo pedindo o pão da Palavra, o pão do saber e o pão de cada dia... Após um breve curso de língua “Oromo”, passei seis meses visitando as comunidades com um missionário da Consolata, argentino, padre Jorge Pratolongo. O nosso primeiro objetivo foi “desvelar e cultivar” os valores das diferentes comunidades, sinalizando nossa vontade de construir com o povo comunidades de Jesus Cristo, comunidades fraternas e missionárias. Algumas destas comunidades, acostumadas a sempre receber, entraram em crise; outras, porém, envolveram-se com um entusiasmo contagiante. Recordo com emoção o compromisso de uma comunidade – a de Alangana – situada no alto da montanha e rodeada de muçulmanos. Esta comunidade nos surpreendeu com gestos de sabor das primeiras comunidades cristãs. Na caminhada quaresmal de 2003, durante um período de intensa

fome, o grupo de jovens se dispôs a cultivar os campos dos idosos e doentes, tanto católicos como ortodoxos e muçulmanos; foi feita a par-tilha generosa da colheita de batatinhas com as comunidades das terras baixas onde a fome campeava voraz; houve a participação alegre e maciça das mulheres, até então um grupinho tímido e pouco perseverante. As poéticas, mas sofridas caminhadas em meio à floresta, mon-tanha acima, sempre com aquela ladainha de saudação típica dos “Oromos”: Akkan, Bultani, que significa como tem passado a noite? Ngaa, paz! ou Urgaa, sinto um perfume ao encontrar você! E ainda Fayyaa, saúde ... tudo era motivo de gratidão a Deus pelo grande dom da vocação missionária. Realmente, a Missão nos humaniza, nos leva ao essencial, ilumina a nossa fé e toda a nossa vida.

Rosa Clara Franzoi é irmã missionária e animadora vocacional.

Etiópia, um país legendário e fascinante

Ir. Melânia em sua missão na Etiópia.

27Missões - Jul/Ago 2005

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28 Jul/Ago 2005 - Missões

Serviço de Ação, Reflexão e Educação Social

SARES nasceu em 2004, a partir de um pedido do arcebispo de Manaus, Dom Luís Vieira, à Companhia de Jesus. Sua aspiração era constituir um Centro que pudesse aprofundar a temática sociopolítica, prestando um serviço às diferentes forças sociais preocupadas com a construção de uma sociedade

melhor. Desde o início, foi decidido que o Centro tinha que ser interinstitucional, integrando pessoas de diferentes Congregações Religiosas e leigos de diversas Instituições. Quase imediatamente foram feitos vínculos com o Instituto Missões Consolata e com o Instituto dos Irmãos Maristas. Sendo que o Centro é um serviço da Igreja, sua inspiração está na fé cristã. Participam do projeto os padres Cláudio Perani e Roberto Jaramillo, jesuítas, Ricar-do Castro, da Consolata, além de Márcia de Oliveira e Edenei Barroso Salvador.

Brevemente, desejamos apresentar aqui alguns princípios que nos orientam.

de Cláudio Perani

OO objetivo do Serviço de Ação, Reflexão e

Educação Social é a solidariedade com os pobres, pois procura planejar, organizar e se

posicionar em favor de sua luta.

Traços de uma espiritualidade encarnadaNosso encontro com Deus realiza-se e é fortalecido, fun-

damentalmente, através do encontro com os irmãos. Algumas mediações:

Encontro com os outros, que são para nós, intelectuais, as lideranças dos movimentos sociais e as pastorais sociais.

A interdisciplinariedade: o diálogo entre as diferentes disci-plinas, a relação religioso/secular, igreja/sociedade; tudo isso representa um desafio e uma riqueza, um caminho ascético para sair de si mesmo e encontrar o outro (imagem e apelo), para estar aberto às tradições dos outros. O serviço, que significa possibilidade para estar à disposição das necessidades dos

Alunos e professores do curso da FAS composto de membros de movimentos e pastorais sociais de Manaus.

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outros (“não vim para ser servido, mas para servir”). O político, entendido como o nível de vida ordinário, cotidiano, onde se manifesta o Espírito Santo, a voz de Deus; noutras palavras, a valorização da criação, do profano, fora do templo, como espaço de encontro com Deus que possa permitir uma fé mais evangélica e um verdadeiro diálogo com Deus também no templo.

Uma atitude de indignação diante da realidade de injustiças existente, que não permita uma fácil acomodação e nos aproxime do Deus da justiça, aliado dos pobres. Uma institucionalidade leve, quer dizer, um mínimo de burocracia que permita maior espaço e tempo para o encontro com as pessoas e com Deus.

Todas essas mediações exigem um esforço de escuta e de itinerância. Escuta para ouvir a voz dos irmãos e irmãs e, deste modo, a voz de Deus. Itinerância porque estamos sempre à procura de caminhos novos, de idéias, paradigmas, parceiros, alianças... Essas mediações recebem luz plena através do encontro com a Palavra de Deus, a oração, a Eucaristia. É bom também lembrar, que estamos tateando nesta direção, tendo isso como ideal a ser alcançado com a graça de Deus.

Contato e solidariedade com os pobresO contato direto com os pobres, atualmente, é muito limitado.

A obra entra em contato com os representantes das reivindica-ções populares, com os que trabalham com os pobres, com as lideranças dos movimentos e com aqueles que querem ajudar.

Em particular, visitamos famílias de sem-teto que ocupam terrenos e as crianças e seus pais das escolinhas de reforço. Nosso objetivo maior é a solidariedade com os pobres, pois procuramos planejar, organizar, nos posicionarmos em favor da luta dos pobres.

Desafios da conjunturaAqui apresentamos os desafios que consideramos mais pre-

sentes no trabalho: conseguir estar presente na caminhada dos movimentos populares; colocar a Amazônia e seus problemas e saídas no centro da nossa análise; a falta de paradigmas e a mudança rápida da conjuntura real e, por conseqüência, dos valores, dos conceitos, dos modelos de análise; a dificuldade de completar a análise econômica e política com a perspectiva cultural; conseguir capacitar lideranças autóctones para serem protagonistas da caminhada; ajudar a Igreja a se abrir mais para a realidade social, num trabalho não exclusivamente assistencial; conhecimento e análise do mundo da droga.

Outras novidadesA interinstitucionalidade: o projeto, como foi dito, não é pro-

priedade da Companhia de Jesus. Esta começou os contatos e costurou os primeiros passos. Mas as idéias, as ações, as estruturas, integram membros de várias instituições: uns como parceiros/colaboradores, outros como verdadeiros integrantes da obra. Desejamos avançar mais nessa linha.

A intercongregacionalidade: no nível eclesial temos não uma simples parceria, mas uma aliança entre as Congregações dos Maristas, da Consolata e dos Jesuítas.

A parceria com a Universidade Federal e com o mundo da academia revela grande competência e uma abertura para estar mais a serviço da sociedade. Isso enriquece a caminhada do povo e abre mais a Universidade em favor dos setores popula-res. O SARES pretende ser uma ponte entre os dois mundos, intelectual e popular, a fim de enriquecê-los.

Áreas de atuação do sares:

1. assessorias a diversos grupos e movimentos: (CrB, CPt, universidade Indígena da Venezuela, Pastoral social de Pre-sidente Figueiredo, escolas de Fé e Política de Manaus, CNBB Norte I, Congregações religiosas, equipe Itinerante).

2. escola de Formação Política - eFP 2.1. Formação para a Ação Social - FAS 2.2. Formação para a Intervenção Política Local – FIP-L

3. organização e sistematização do acervo - biblioteca

4. Conhecimento de pesquisas amazônicas - publicações Projetos eM aNdaMeNto:1. Observatório civil e educativo do tráfico, consumo e produção

de drogas na amazônia (otda).2. Formação para a Intervenção Política Internacional - FIPI.

Grupo de alunas na biblioteca do SARES.A assessoria está voltada para apoiar e orientar, sem pre-

tender impor nenhuma linha própria. No âmbito da sociedade: promover um maior engajamento

sociopolítico das pessoas, sempre olhando para o “outro” en-quanto sujeito reconhecido em sua subjetividade, resgatando sua atuação social e política; priorizar a perspectiva das categorias mais excluídas, reconhecendo seu valor e seu potencial de atuação política. No âmbito político: favorecer uma “política nova”, refletindo sobre o papel importante dos partidos, sabendo, ao mesmo tempo, que não representam o único caminho para um projeto de sociedade; o SARES não pretende limitar-se à cidade de Manaus e sua ulterior concretização se dará à medida de sua maior inserção na Região Amazônica vista como totalidade e além das próprias fronteiras; o diferencial proposto pelo SARES está numa nova assessoria metodológica mais participativa e mais envolvente. A preocupação permanente com o intercâmbio de experiências é que vai ajudar a equipe a pensar a Amazônia na sua diversidade e globalidade.

Cláudio Perani é sacerdote jesuíta e membro do Sares.

algumas afirmações no debate sobre orientação do sares

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30 Jul/Ago 2005 - Missões

Curitiba (PR)Extensão Universitária em Missiologia

O COMIDI (Conselho Missionário Diocesano) de Curitiba e a PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Paraná promovem o 2º Curso de Extensão Universi-tária em Missiologia, com o objetivo de contribuir na formação missionária para agentes multiplicadores e animadores da Dimensão Missionária da Arquidioce-se, contribuindo para que as comunidades assumam e vivenciem o anúncio do Evangelho, na realidade local, além-fronteiras e Ad Gentes, além de promo-ver e reavivar a identidade missionária da Igreja em todos os níveis da comunidade eclesial, motivando a organização e implementação dos COMIPAs. O curso será realizado de agosto a dezembro de 2005, sempre no segundo sábado de cada mês. Informações pelo e--mail: [email protected] (Ir. Ivone)

São Paulo (SP)Eleita nova Direção Provincial IMC

Reunidos entre os dias 15 e 16 de junho, em São Paulo, no Centro Missionário José Allamano, após o retiro anual, os missionários da Consolata do Brasil elegeram o novo Superior Provincial, padre Lírio Gi-rardi, bem como o Vice-provincial, padre Jaime Carlos Patias e os Conselheiros Elio Rama, Giovanni Crippa e Pietro Plona. Padre Lírio, natural de Rio do Oeste, Santa Catarina, exercia o cargo de Vice-provincial e era pároco da Paróquia Santa Margarida, em Curitiba. Substitui padre Michelangelo Piovani, que foi Superior Provincial durante 6 anos. A nova Direção Provincial tomou posse no dia 16, por um período de 3 anos.

Porto Alegre (RS)Kaingang sofrem preconceito

“´É hoje que vou tirar essa bugrada daqui´. Foi com essas palavras que o Secretário Municipal do Meio Ambiente nos tratou ao chegar aqui no dia 4 de junho. Por muito tempo nos chamaram de bugre para dizer que somos bicho do mato, que somos animais, que dá para matar, eliminar. Mas nós não aceitamos isso. Exigimos respeito, e queremos que justiça seja feita contra toda discriminação e preconceito. E temos certeza que a população de Porto Alegre não pensa assim e tem esse respeito por nós”. Assim protestaram os Kaingang que vivem no Morro do Osso, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, após uma tentativa do Secretário Municipal de Meio Ambiente, Beto Moesch, de retirar, sem ordem judicial, os barracos onde vivem os indígenas. Alguns dos barracos foram construídos

no Parque do Morro do Osso, mas a grande maioria deles fica fora dos limites do parque. A comunidade, de cerca de 20 famílias, é formada por indígenas de várias aldeias do estado. Eles reocuparam o Morro em 9 de abril de 2004 e reivindicam da Fundação Nacional do Índio (Funai) o estudo da área, que vinha sendo utilizada pela prefeitura de Porto Alegre como atrativo turístico, pela presença de sítios arqueológicos e cemitérios indígenas no local. A Funai visitou os indígenas em fevereiro de 2005 e comprometeu-se a enviar um relatório informando as conclusões da visita. Segundo a equipe do CIMI em Porto Alegre, nada foi encaminhado pela Fundação.

Salvador (BA)CESE realiza Assembléia Geral

A Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) realizou nos dias 8 e 9 de junho, a sua XXXII Assembléia Geral anual, no Centro de Treinamento de Líderes, em Salvador, Bahia. Estiveram presentes, além das igrejas associadas da CESE, representantes de igrejas e or-ganismos religiosos e ecumênicos convidados, como a Igreja Batista Nazareth, o CLAI - Brasil (Conselho Latino-americano de Igrejas), o CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs), Cáritas e Diaconia. Ao final da assembléia, a CESE , o CONIC e demais organismos ecumênicos presentes divulgaram uma nota cobrando do governo e da sociedade civil ética na política e o fim da impunidade. As Igrejas Cristãs do Brasil constatam, no documento, “um nítido mal-estar na vida democrática do País provocado pela imposição progressiva da agenda neoliberal nas entranhas do governo, que se expressa em muitos aspectos das reformas realizadas ou em curso (...): na prevalência do agronegócio sobre a agricultura familiar e na lentidão da Reforma Agrária (...); na aceitação passiva do endividamento público, sem qualquer restrição à especulação financeira; e, ainda, na opção por políticas compensatórias desacompanhadas do atendimento estruturante e universal segundo uma perspectiva de direitos”.

Brasília (DF)Pastorais Sociais e Organismos

Na reunião das Pastorais Sociais e Organismos da CNBB, realizada de 2 a 3 de junho, em Brasília, foram levantados os principais temas que interessam a todas as Pastorais Sociais: mística e espiritualidade, políticas públicas, direitos humanos e economia soli-dária. Além disso, ficou decidido que serão mapeadas ações que têm a participação conjunta das Pastorais Sociais como: Campanha da Fraternidade, Semana Social, Mutirão de Combate à Fome e Grito dos Excluídos. Outro assunto abordado foi a 4ª Semana Social Brasileira, em que se constatou a relevância da multiplicação dos seminários regionais por todo o país, mas, também, foi verificada a pouca partici-pação dos movimentos sociais e entidades ligadas à Igreja nestes eventos. Para mudar essa realidade, foi proposta a realização de uma oficina nacional com a participação das entidades e movimentos em setembro, em Brasília.

Fontes: CESE, CIMI, CNBB.

Padres Giovanni, Jaime, Lírio, Elio e Pietro.

Cle

ber

P. P

ires

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na oração, junto aos missionários e colegas, que amadurecemos os compromissos cada vez mais exigentes do seguimento de Jesus, na fé e no dia-a-dia. E também com nossos professores

é que se abriu um horizonte da realidade constitutiva do ser humano, do mundo e de Deus no tabuleiro da vida.

No Brasil, em Moçambique e na Tanzânia o fruto da missão foi tomando corpo e nos dando forças para alimentar toda a se-riedade da nossa entrega a serviço da libertação e da causa de Jesus. Por isso, agradecemos a todos que direta ou indiretamente nos proporcionaram viver este momento. Muito obrigado”.

Bento, Cláudio e StanslausDiáconos missionários da Consolata

Nome: ................................................................................................................................................

Endereço: .........................................................................................................................................

Cidade: ........................................................................................... UF: ........................................

CEP: ............................................................................................... Telefone: .................................

E-mail: ..............................................................................................................................................

PREENCHA, RECORTE E ENVIE JÁ o cupom pelo correio.Rua Dom Domingos de Silos, 110 - 02526-030 - São Paulo TELEFAX.: (11) 6256.8820

01 assinatura R$ 35,0002 a 09 assinaturas R$ 25,00 cada assinatura10 ou mais assinaturas R$ 20,00 cada assinatura

Tabela de preços A Revista Missões publica 10 edições no ano. Nos meses de Jan/Fev e Jul/Ago a edição é bimensal.

por BOLETO BANCÁRIO

por CHEQUE NOMINAL E CRUZADO

por DEPÓSITO BANCÁRIO pelo Banco Bradesco, agência 0545-2 c/c 38163-2.

Desejo receber MISSÕES Novo/a leitor/a Renovação

Colaboração anual R$ 35,00 Quantidade

o dia 18 de junho, no Santuário Paróquia Santa Edwirges, bairro do Sacomã, São Paulo, foram ordenados diáconos os seminaristas Bento Eugê-nio Muhita (moçambicano), Cláudio Moratelli (brasileiro) e Stanslaus Joseph Mnya-

wani (tanzaniano). A celebração foi presidida pelo bispo dom Odilo Pedro Scherer, Secretário Geral da CNBB e concelebrada pelos padres Lírio Girardi (Superior Provincial IMC) e Elio Rama (Reitor do Seminário Internacional IMC em São Paulo), entre outros numerosos sacerdotes. Participaram da celebração colegas diáconos, seminaristas, religiosas e numerosos fiéis das comunidades da Paróquia Santa Madre Paulina de He-liópolis onde os neo-ordenados realizam serviços pastorais.

AgradecimentoNo final da celebração o neo-diácono

Cláudio Moratelli leu uma mensagem de agradecimento em nome de todos:

“Há uma frase lapidar que expressa o caminho de quem se empenhou em responder com a vida ao chamativo projeto utópico evangélico de Deus: ‘A vocação nasce na família, cresce na comunidade, amadurece na oração e dá fruto na missão’. Com nossos pais, irmãos, irmãs e parentes, foi que descobrimos a presença convidativa de Deus. Já nas comunidades foi que sentimos o direcionamento pelo qual o vento de Pentecostes nos encaminha-va. Respondendo ao chamado Consolata do Pai, outros irmãos entraram nos seminários do Instituto conosco, todos querendo ser missionários. Mas, na busca muitos partiram, partiram para o encontro com outras opções de vida. A nós tocou continuar, e foi

Ordenação de três novos diáconos

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