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  1 ENSINO RELIGIOSO: O MITO COMO CONTRIBUIÇÃO NA EDUCAÇÃO HUMANA Elizandra dos Santos Brasil 1  Ivone de Lourdes Dmengeon² Resumo: O presente estudo sobre mito e Ensino Religioso, vem contribuir para que o leitor permita-se a oportunidade de construir uma análise comparativa própria e coletiva a respeito do mito na vida humana, mais precisamente dentro da dimensão religiosa. Todo desenvolvimento integral de que o ser humano é protagonista ou não, passa por representações abstratas, as quais tornam possível a ele portar-se diante da vida de maneira a extrair da sua experiência terrena, uma fagulha que o sustente para o sentido buscado como resultado das inquietações que estão encerradas desde antes de sua existência no mais profundo do seu ser. Toda pessoa mostra-se como que através de um véu. Traz em si parte de mistério e Do Mistério, da Transcendência. Sua dinamicidade se move de maneira excepcional, que às vezes foge de um instante de vislumbramento diante da maravilha que se é e que se pode vir a ser. E é com o objetivo de parar, entender-se, compreender os outros e o Outro que este momento de reflexão se faz propício. Palavras-chave: Ensino Religioso; Mistério; Sentido; Mito; Respeito. 1  Licenciada em Pedagogia pela UCS/RS. Aluna do Curso de Pós-Graduação/ Especialização em Metodologia do ER pela Faculdade Bagozzi e AEC/PR. Professora de Ensino Religioso da rede privada em Curitiba. [email protected] ² Licenciada em Pedagogia pela UNIANDRADE. Aluna do Curso de Pós-Graduação/ Especialização em Metodologia do ER pela Faculdade Bagozzi e AEC/PR. Professora da segunda série do Ensino Fundamental e Coordenadora do ER na Escola Cônego Camargo, em Curitiba. [email protected]

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    ENSINO RELIGIOSO: O MITO COMO CONTRIBUIO NA EDUCAO HUMANA

    Elizandra dos Santos Brasil1 Ivone de Lourdes Dmengeon

    Resumo: O presente estudo sobre mito e Ensino Religioso, vem contribuir para que o leitor permita-se a oportunidade de construir uma anlise comparativa prpria e coletiva a respeito do mito na vida humana, mais precisamente dentro da dimenso religiosa. Todo desenvolvimento integral de que o ser humano protagonista ou no, passa por representaes abstratas, as quais tornam possvel a ele portar-se diante da vida de maneira a extrair da sua experincia terrena, uma fagulha que o sustente para o sentido buscado como resultado das inquietaes que esto encerradas desde antes de sua existncia no mais profundo do seu ser. Toda pessoa mostra-se como que atravs de um vu. Traz em si parte de mistrio e Do Mistrio, da Transcendncia. Sua dinamicidade se move de maneira excepcional, que s vezes foge de um instante de vislumbramento diante da maravilha que se e que se pode vir a ser. E com o objetivo de parar, entender-se, compreender os outros e o Outro que este momento de reflexo se faz propcio. Palavras-chave: Ensino Religioso; Mistrio; Sentido; Mito; Respeito.

    1 Licenciada em Pedagogia pela UCS/RS. Aluna do Curso de Ps-Graduao/ Especializao em Metodologia do ER pela

    Faculdade Bagozzi e AEC/PR. Professora de Ensino Religioso da rede privada em Curitiba. [email protected] Licenciada em Pedagogia pela UNIANDRADE. Aluna do Curso de Ps-Graduao/ Especializao em Metodologia do ER pela Faculdade Bagozzi e AEC/PR. Professora da segunda srie do Ensino Fundamental e Coordenadora do ER na Escola Cnego Camargo, em Curitiba. [email protected]

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    O que mito? Desde os primrdios da humanidade estamos em meio e contribumos com as evolues. As descobertas, as criaes e invenes sempre foram uma constante na vida das pessoas. Parece que isso uma prova que o ser humano quer buscar algo que ao mesmo tempo parece estar ao seu alcance pela sua intel igncia e em contrapartida atravs das suas busca anseia pelo no desvendado como se fosse a resposta sobre as indagaes a respeito do mistrio de estar e permanecer vivo. O desconhecido interpela, incita, provoca a ao em favor de uma resposta que seja adequada s inspiraes mais ntimas que cada ser traz em seu interior. Onde est a origem da vida, ento? Qual o significado que ela tem para cada pessoa? Da a importncia de que todos aqueles que so compromissados com a educao faam o esforo de trabalhar a partir da sua formao, para que as diversas matizes a respeito da significao do sentido da vida seja abarcado de maneira a valorizar o que todas a Tradies Religiosas dizem. O mito fantasia, porm concretude. Mito a extenso do anseio, do desejo do ser humano de explicar e ser explicado, de entender e de ser entendido. Para ELADE (P.17 1972), .. . conhecer os mitos aprender o sentido da origem das coisas... Aprendem-se no somente como as coisas vieram existncia, mas tambm onde encontr-las e como fazer com que reapaream quando desaparecerem.Da a importncia de procurar conhecer o sentido de diferentes mitos, e de aplic-los no cotidiano abrindo oportunidade para que o respeito entre o diferente seja estabelecido e caminhe para uma permanncia sempre maior e eficaz; e para que todos sejam privilegiados da fonte de enriquecimento que as diversas tradies religiosas existentes tm a oferecer a partir das suas estruturas, doutrinas, ritos. O erro mais trgico e persistente do pensamento humano o conceito de que as idias so mutuamente exclusivas.(PCNs, p.20). Neste sentido, caminha-se para o fechamento em si mesmo e alargam-se as chances para o empobrecimento acrescido de uma ignorncia sovina e destrutiva. Um verdadeiro sentido da importncia do outro no curso das coisas, vem da descoberta de cada ser a respeito de seus prprios conceitos enquanto participante de uma comunidade

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    rel igiosa e/ou mesmo como ser religioso; isso possibil ita, (supe-se) um caminho para a alteridade e o abrir-se para enriquecer e ser enriquecido pelo desconhecido que advm de outrem no como ameaa mas como partilha benfica e como companheiros de jornada a procura do mesmo fim: o sentido da existncia. O mito, segundo a ENCICLOPDIA BRITNICA DO BRASIL, constitui uma realidade antropolgica fundamental , pois ele no s representa uma explicao sobre as origens do homem e do mundo em que se vive, como traduz por smbolos ricos de significado o modo como um povo ou civilizao entende e interpreta a existncia. (p. 85, 1997) O ser humano anseia por desvendar o seu fim ltimo, indaga-se de onde veio, o que faz aqui neste mundo e para onde vai, essas perguntas so pert inentes durante sua breve vida. Sua busca em prol do seu desenvolvimento cultural, social, psicolgico. Comea neste mundo e vai para alm desta vida, fecho de sua crena e procura. E o interessante que cada pessoa busca do seu jei to, segundo a crena na qual foi iniciado ou na qual fez a opo. O que importa o sentido da vida, almejado, ansiado por todos independente da condio tnica, social ou cultural.

    De acordo com VIESSER (p. 85. 2005), mito-mythos advm do grego, que significa etimologicamente fbula. Significando fbula, torna-se algo que transmitido oralmente por nossos antepassados, tendo como base a fidelidade do repasse na transmisso das narrativas; para que o ser humano possa compreender a realidade na qual vive e assim, para que construa seu conhecimento acerca do que acredita. A existncia humana em sua essncia uma fbula, onde o que se , no est escrito. Pode-se prever alguma coisa, mas nunca delimitar em certezas estticas, pois o ser humano dinmico, ativo. Com o passar do tempo faz parte da historicidade dos outros e vai construindo a sua de maneira criativa, nica, peculiar. J temos nos deparado com inmeras ferramentas que explici tam experincias que vm tentar ajudar o ser humano a construir-se como pessoa. Esse o desafio e o propsito da das buscas ininterruptas que este realiza por toda a sua existncia. O mito , seguindo esta idia, mais uma delas que, diga-se de passagem, alargam de maneira extraordinria as opes para o fim buscado. Ele materializa o que no concreto. Tem a funo de explicar algo

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    que no se v, mas que se acredita. Com este intuito, busca-se aqui oferecer, atravs desta abordagem a quem l, uma oportunidade de interpretar de maneira rica e criativa como o mito se aplica na vida humana, a part ir claro, da atuao nas entrelinhas feita por inferncia do Ensino Religioso. Ele est a como uma ferramenta que auxilia a destrinchar, a clarificar, a trazer tona, ao alcance das pessoas, com a preciso mais eficiente possvel , o que est implcito na cultura rel igiosa na qual est inserido e ou mesmo o que h em outras culturas. No d para fechar os olhos ou recusar-se a perceber que as crenas que envolvem o que o campo de trabalho do ER, exclusivamente matria para que ele se desenvolva, se aperfeioes e contribua para a harmonia entre as culturas e religies.

    na tradio oral de matriz africana que vamos buscar inspirao para o art igo. Apontando atravs do exemplo que .. . em cada indivduo, em cada povo, em cada cultura existe algo que relevante para os demais, por mais diferentes entre si (PCNs, p. 20) E isso precisa ser assimilado e visto de maneira a criar admirao pelo que ajuda e contribui no encontro da pessoa com sua essncia.

    O mito colabora quando se trata tambm da rel igiosidade das pessoas, ele est incutido na mente humana, fato indispensvel na existncia humana. Diante das diversas maneiras de como o viver e a vida se apresentam, como o ser humano conduz sua reflexo? Como ele interpreta a realidade que o cerca mesmo sem entender, ou ter aluses lgicas sobre suas dvidas e anseios? O mito da criao de matriz afro, segundo a CARTILHA DIVERSIDADE RELIGIOSA E DIREITOS HUMANOS: ... no principio havia uma nica verdade no mundo. Entre Orun (mundo invisvel, espiritual) e o Aiv (mundo natural) existia um grande espelho, assim tudo que estava no Orun se materializava e se mostrava no Aiy. Ou seja, tudo que estava no mundo espiritual se refletia exatamente no mundo material. Ningum tinha menor dvida em considerar todos os acontecimentos como verdades. E todo cuidado era pouco para

    no se quebrar o espelho da Verdade, que ficava perto do Orun e bem perto de Aiy.

    Neste tempo, vivia no Aiy uma jovem chamada Mahura, que trabalhava muito, ajudando sua me. Ela passava dias inteiros a pilar inhame. Um dia, inadvertidamente, perdendo o controle do movimento ritmado que repetia sem parar, a mo do pilo

    tocou no espelho, que se espatifou pelo mundo, Mahura correu desesperada para se

    desculpar com Olorum (o Deus Supremo) Qual no foi a surpresa da jovem quando encontrou Olorum calmamente deitado sombra de um iroko (planta sagrada, guardi

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    dos terreiros). Olorum ouviu as desculpas de Mahura com toda ateno, e declarou que, devido quebra do espelho, a partir daquele dia no existiria mais uma verdade

    nica. E concluiu Olorum: De hoje em diante, quem encontrar um pedao de espelho em qualquer parte do mundo j pode saber que est encontrando apenas uma parte da verdade, porque o espelho espelha sempre a imagem do lugar onde ele se encontra.

    Assim, como este, existem inmeros outros mitos que trazem ao

    entendimento indagaes a respeito do novo, da criao, da descoberta. o ser humano querendo explicar-se e buscando explicao acerca do que no conhece, mas deseja conhecer e por que no tocar e ser tocado? Sim, o E.R. dar e ser oportunidade ao educando (a) para que este se encontre e busque o que pode saciar sua sede infindvel do sentido da vida, do sentido a si mesmo e a tudo que o rodeia, formando conceitos e tendo explicaes para os seus questionamentos.

    Sobre o prisma da Enciclopdia Britnica do Brasil, vemos que o mito como uma narrativa tradicional, contudo religioso, que procura explicar os principais acontecimentos da vida das pessoas por meio do sobrenatural (p.85. 1997) conduz a um entendimento da realidade altura da capacidade humana para tal. J que adentramos com isso, no plano metafsico, onde com nossa inteligncia alcana-se parte da verdade que se mescla de concluses e expectativas...

    Mas que caractersticas, ento, o mito traz, que de certa forma materializa e ajuda e assimilar situaes para alm dos fatos corriqueiros? O mito envolve o ser humano em sua teia e faz com que os fatos do passado sejam parte do seu presente, mostra que a ao e a vida humana est interligada. O mito envolve acontecimentos supostos, relativos a pocas primordiais, ocorridos antes do surgimento dos homens. (histria dos deuses) ou com os primeiros homens (histria ancestral). (ENCICLOPDIA BRITNICA DO BRASIL, p.86. 1997). Parafraseando Eliade, o mito relata uma histria sagrada, um acontecimento que teve lugar num momento primordial , o tempo chamado dos comeos. O mito conta sobre as obras dos seres sobrenaturais, e que de repente passa a exist ir no plano natural; sempre uma forma de narrao de uma criao, descreve-se como algo foi produzido, como comeou a existir.

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    E continuando ainda, o objeto do mito so as diversas situaes em que se procura dar sentido ao mundo. mediao entre o sagrado e o profano. verdade escatolgica e tem o ser humano como o ponto de ligao entre a realidade e o seu sentido ltimo, a sua transformao ltima. O mito transcende a experincia do hic et nunc , o senso comum, e a razo. O mito no precisa de demonstrao. Por isso, uma linguagem apropriada religio. Abrange maior amplitude de mensagens, desde atitudes antropolgicas muito imprecisas, at contedos religiosos, pr-cientficos, tribais, folclricos ou simplesmente anedticos.

    O papel do mito para o ser humano

    O ser humano na busca incessante em desvendar o mistrio de sua existncia tenta compreender esta realidade atravs dos mitos que lhe so apresentados desde seu nascimento; ou pelo menos, convencer-se de que o existir no um acaso. As interrogaes pertinentes esto sempre em seu

    percalo: De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos? Esses questionamentos permeiam o mito da origem humana; que para Campbell (p.05, 1990) todas as pessoas procuram uma experincia de estar vivos, de modo que nossas experincias de vida no plano puramente fsico, tenham ressonncia no interior de nosso ser e de nossa realidade mais ntimos, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivos.. . portanto, estar vivo estar em sintonia com o interior de si prprio e, assim, procurar fazer o melhor fisicamente para que interiormente sinta-se bem e em paz. Realizando-se isso, ter-se- uma experincia de vida, onde os significados estaro se movimentado de maneira a construir o que se almeja enquanto resposta para a existncia.

    Vejamos como um pouco disso se d: segundo Campbell (p.09. 1990), os adolescentes criam os mitos por iniciativa prpria, ou seja, .. . tem suas prprias gangues, suas prprias iniciaes, sua prpria moralidade. ( . . . ) Eles no foram iniciados na sociedade. Eis a importncia de conduzir, de aprender para poder ensinar, ou seja, se educar ethos aos adolescentes e aos jovens, para que dentro de seus costumes conheam seus mitos e tornem-se

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    pessoas que respeitam e adquiram sabedoria de vida, para que no abarquem a tendncia de estarem entre os jovens que no crem em mais nada, onde suas vidas tornam-se um abismo, um vazio sem significado; donde, ento emerge as drogas, procuradas pelas solues rpidas que oferecem dos problemas que talvez nem sejam problemas, mas sim confuses e mal-entendidos. Atualmente, de acordo com Campell (p. 10. 1990), . . . as escolas visam somente especializao, deixando de lado as histrias sobre a sabedoria de vida, qual o pblico dos adolescentes e jovens mostra-se interessado em aprender. Portanto, importante ressaltar que se deve levar ao conhecimento dos jovens a introduo dos conhecimentos no-formais, a fim de lhes propor novas alternativas de vida. Para CAMPBELL (p.74. 1990), .. . o mito precisa servir a dois propsitos, induzir o jovem a part icipar da vida de seu mundo, e depois, desenganj-lo., ou seja, faz-se necessrio que conhea e atue sob seus costumes, para ento, conseguir o que realmente quer atingir. Numa entrevista

    concedida a Moyers, Campbell quando indagado, diz: Quando criana, voc educado num mundo de disciplina, de obedincia, e dependente dos outros. Tudo isso tende ser superado quando voc atinge a

    maturidade, de modo que possa viver no em dependncia, mas com uma autoridade

    auto-responsvel. Se voc no for capaz de cruzar essa barreira, poder se tornar um neurtico. Depois de ter conquistado, produzido o seu mundo, vem a crise de ser

    dispensado, a crise do desengajamento. MOYERS: E finalmente a morte?

    Campbel: E finalmente a morte. o desengajamento definitivo. Assim, o mito precisa servir aos dois propsitos, induzir o jovem a participar da vida do seu mundo e depois desengaj-lo. A idia folclrica desencadeia a idia elementar, que guia voc na direo da sua prpria vida interior. (p.74. 1990) Sendo o ser humano repleto de questionamento a respeito de tudo que o cerca, cabe a ele se envolver na complexidade de sua vida, no em suas complicaes, buscando as inmeras alternativas que enobrecem e valorizam sua existncia. Pois, conhecendo a existncia da diversidade de culturas e que h uma infinidade de mitos atravs dos quais a pessoas se apiam e ele se direciona para um it inerrio que remete a compreenso e o prepara para que se adapte ao mundo em que vive de maneira pessoal e coletiva.

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    Segundo ELADE (p.11, 1972) o homem um ser mortal, sexuado e cultural devido as irrupes do sagrado (ou do sobrenatural), exemplo disso Simba de O Rei Leo, que volta luta da vida devido interferncia do sobrenatural , ou seja, a apario de seu pai que o faz ver quem ele realmente e lhe encoraja a voltar ao Reino; isso pode ser aplicado analogicamente ao ser humano: desde sempre procura formas de encontrar-se consigo mesmo, vai a procura das diversas rel igies, a fim de identificar-se buscando mesmo sem saber o desvendar do mistrio de si mesmo; procura algo que o ajude a preencher o vazio no qual sente que est imerso. Nesse caso o mito, se refere a busca do verdadeiro eu, identidade pessoal , nica, irrepetvel; e s mais diversas realidades que faz com que o ser humano coloque um porqu s suas atividades do cotidiano. A tarefa de desvendar a sua origem rdua, sem a qual no h compreenso nem do mundo pessoal , quanto mais do coletivo e do sobrenatural . Para ELADE (p.16, 1972) o homem arcaico, resultado de um nmero de eventos mticos.. . que constituem uma histria sagrada, ou seja, o que , porque entes sobrenaturais permitiram que fosse assim; j para o homem moderno, ainda segundo ELADE, como hoje, porque houve contribuio de toda a sociedade; desde o descobrimento do fogo at os acontecimentos malficos ou benficos ocorridos com a humanidade o fazem ser um sujeito que est merc de tudo o que ocorre no passado e presente e que isso contribuir para os que futuramente passarem por aqui, ou seja, a vida est repleta da rica caracterst ica da histria. O ser humano dentro de sua perspectiva de ser em relao, busca o auto-conhecimento, interage e interfere no meio em que vive. Portanto, busca um envolvimento com o Transcendente como forma de encontrar e assumir sua identidade; por isso a compreenso dos mitos presente na vida humana relevante: de acordo com ELADE (p.18, 1972) conhecer os mitos aprender o segredo da origem das coisas, identificar de maneira inteligvel como o sentido existe e como encontr-lo no cotidiano. Desse modo, o conhecimento torna-se claro, passa da mente para o corao, a partir do momento que realmente se vivencia e conhece o que buscado, encontra-se o que se procura.

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    As aes humanas so reflexos dessa busca diante de todas as situaes que surgem no seu cotidiano. Cada soluo almejada perante o que aparentemente inexplicvel ou sem nexo, revela seu desejo de estar a procura do sentido para sua existncia. Com isso, a transcendncia, o querer ir alm do natural torna-se companheiro na jornada terrena do ser humano: em suas aes e utopias, mesmo sem que ele prprio o saiba; da as crenas, supersties, mitos incutidos e mesclados em sua existncia.

    Respeito ao diferente

    De acordo com o PCNER p. 20: .. . pelo esprito de reverncia s crenas alheias (e no s pela tolerncia) desencadeia-se o profundo respeito mtuo que pode conduzir a paz. Sob a perspectiva do ser em relao, abre-se campo para uma miscelnea de descobertas; faz-se necessrio conhecer as mais diferentes crenas que surgem e conseqentemente abrir-se para o novo que desponta em cada pessoa e aqui, em cada aluno oriundo das mais diversas realidades, sobretudo quando se fala a nvel de Brasil . O E.R., na escola, tende a unir as mais diferentes culturas, ou dimenses religiosas, a fim de que haja entendimento mtuo e a aquisio de novos conhecimentos a respeito das diversas religies existentes. A reverncia e o respeito maneira do outro acreditar e manifestar sua f, um paradigma a ser estudado com comprometimento, sem preconceitos, pois que este vem enfatizar no a viso sob determinado ngulo, mas sim, vem desmistificar o que foi se construindo no sentido negativo em relao s tradies religiosas, enquanto ponto de part ida para um entendimento mais harmonioso entre as pessoas. At aqui, se fizermos uma anlise, todos os fatores contribuem para a diversidade, desde o fato do ser humano em contato climtico quanto s questes regionais, nacionais, continentais, de ascendncia ou descendncia. Mas se a diversidade ponto de parada, sem o esforo de ir, alm disso, o E.R. como rea de conhecimento est incompleto. o E.R. que costura o

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    mito que cada um cria, expande e alarga horizontes, motiva para o respeito. Se cada um formado para viver com propriedade sua crena, este acaba respeitando o diferente do outro, porque acaba compreendendo que todos buscam respostas iguais que supram sua necessidade de transcender, mas claro, de maneira diferente e este um direito que no pode ser negado a ningum.

    Para ELADE (p.123, 1972), . . . a religio mantm a abertura para o mundo sobre-humano, ou seja, a rel igio contm valores absolutos para todas as atividades humanas, nas quais o ser humano se confronta com o mistrio compreendendo a linguagem que o mundo lhe oferece. Para tal explicao, imprescindvel que se identifique os modelos que os mitos lhe revelam, a fim de que se construa significao ao mundo, levando-se em conta que o que se busca despontar para as idias de realidade, de valor e de transcendncia (p.128,1972). O mito que envolve o ser humano precisa ser realmente desmistificado: nada de complicao e sim buscar entender a complexidade impossvel de se ignorar. Implantar ao invs da hegemonia de uma tradio rel igiosa a harmonia e o enriquecimento mtuo. difcil tal caminho, mas o encontro com o Transcendente perpassa pela experincia com o outro, portanto caminho necessrio. Toda ao transcendental interpele e possibilita refletir e agir em prol do outro: a alteridade tambm tem a ver com respeito, com valorizao do diferente. Essa uma das misses do E.R. na vida das pessoas, inserido na vida dos alunos (as). nesta finitude, neste mundo da precariedade, do efmero que o fenmeno religioso se fundamenta, se avoluma e se faz imprescindvel ser reconhecido - sutilmente como a ao mtica entre as pessoas. Trabalhando-o, d-se oportunidade para que a construo da liberdade na prtica da sua f seja cada vez mais incentivada e valorizada. Todos tm direito de ter ou optar pela religio que quiserem, pois segundo CAMPBELL (p.59,1990), toda rel igio verdadeira, de um modo ou de outro, mas faz-se necessrio compreend-la em sua essncia, no criando suas prprias metforas. O E.R. diz em sua prtica que muito bom que o conhecimento a respeito seja externado para outras pessoas: todo conhecimento patrimnio da humanidade, logo, a socializao s trar benefcios para todos.

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    A funo da escola, alm do conhecimento sistematizado contribuir para que o conhecimento religioso esteja ao alcance dos alunos. A escola formadora, portanto sua participao no cotidiano das pessoas um marco importante para a abertura s novas conquistas nesse campo. Quando a aprendizagem desenvolvida de maneira integral, a criana conhece a si, reconhece-se e conhece o outro, nisto consiste a educao de qualidade que trabalha a partir do seu prprio mito. Cabe escola conduzir o E.R. sob uma reflexo crtica, na qual se estabelece significados, faz-se comparaes.. . orienta-se para a compreenso da dimenso religiosa na qual o educando (a) est inserido e subsidiando-o em sua concepo de mundo, ajudar para que haja comprometimento com a construo do sentido da vida que ter como desfecho a experincia concreta com o Transcendente . Todos falam de uma fraternidade universal. Como aconteceria na prtica educativa? Para tanto, cabe aos educadores trabalhar com variedades de metodologias que despertem e auxiliem a motivao interna do educando para o conhecimento. Despertando neles o interesse por saber o porqu dos diferentes mitos existentes na vida das pessoas e o porqu ela devotam a eles tanta importncia. Faz-se necessrio tambm, que o educador (a) esteja seguro, para que consiga atingir os objetivos com os alunos; visando assim, a aquisio de novos conhecimentos e fortalecimento e nfase ao que j se sabe a respeito do desconhecido que est sendo oferecido sob um novo prisma. Faamos uma analogia com o mito afro: quando existe uma nica verdade absoluta, h a exclusividade que mata, empobrece e sufoca. Logo, todos caminhariam para tal fraternidade a partir da aceitao da verdade do outro, seus princpios religiosos tambm so relevantes. A importncia de estabelecer o dilogo entre os (as) educandos (as) se faz imprescindvel, o referencial religioso precisa ser aprofundado sem restries, sem resistncia o bem comum que se quer alcanar. Todo mistrio humano est encerrado num vaso de barro. preciso cautela, cuidado, para no magoar ou insinuar qualquer postura que venha ferir a maneira que cada um tem de buscar e refletir sobre os mitos que envolvem a origem de sua vida, de sua morte e para alm da morte: o encontro com o Ser Superior.

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    Consideraes finais: Enquanto cada grupo, pretender ser o dono da verdade, enquanto perdurar essa estrei teza de viso, a paz mundial permanecer um sonho inatingvel . (PCNs, p.20) O mito enquanto fato da vida diria da humanidade traz e sempre trar desafios a serem desvendados e trabalhados na educao das pessoas. O E.R. a rea que vai conduzir, reger a ao a fim de conseguir harmonizar os anseios religiosos que esto guardados no mago de cada ser; o conhecimento das diferentes tradies religiosas s tende a trazer benefcios. O mito que envolve o que parece ser inatingvel sob o olhar humano o segredo que motiva e apela para a busca da felicidade e conseqentemente do sentido da vida humana. No h humanidade sem crena, sem uma f. No h humanidade sem o mito, sem ser ou estar inserida num mito. Pois a verdade se veste de muitas caras e assim a viso mais ampla que a compreenso natural. O sonho pela

    paz ser alcanado medida que os passos so dados com conscincia e clareza do que se procura apresentar e assimilar. O mito enquanto reflexo da certeza sobre desconhecido abre portas para a descoberta de si e do outro como participante indispensvel na grande jornada da vida rumo a realizao plena.

    Referncias Bibliogrficas:

    Cartilha Diversidade Religiosa e Direitos humanos CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito . So Paulo: ed. Palas Athena.1990. ELIADE, Mircea. Aspectos do Mito, Edies 70, Lisboa ELADE, Mircea. Mito e Realidade Debate e Filosofia . So Paulo: Ed. Perspectiva. 1972. Enciclopdia Britnica do Brasil. Publicaes Ltda. Rio de Janeiro, So Paulo, v. 10, 1997.

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    Parmetros Curriculares Nacionais Ensino Religioso Edies AM So Paulo, 1997. VIESSER, Lizete Carmem. Fundamentos Pedaggicos do Ensino Religioso. IESDE, Curitiba: 2005.