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Frutas do Brasil, 35 Uva Fitossanidade 82 INTRODUÇÃO A produção de uvas no Brasil encontra- se principalmente nas Regiões Sul, Sudeste e Nordeste, com destaque para os Estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Pernambuco e Minas Gerais. O Estado do Rio Grande do Sul concentra aproximadamente 50% da área cultivada no Brasil, que, segundo a Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE –, tem se mantido estável em aproximadamente 60 mil hectares desde 1985. Sobre a videira, já foram relatadas aproximadamente 160 espécies de insetos que se alimentam da planta, porém, poucas atingem a situação de praga que exija a adoção de medidas de controle. Em determinadas regiões, dependendo da localização e do manejo do parreiral, insetos como o percevejo-da-soja (Nezara viridula) ou lagartas de solo dos gêneros Agrotis sp. e Spodoptera sp., podem alimentar-se de folhas e/ou frutos, porém, tais insetos são considerados de importância secundária. Além disso, dependendo da finalidade da produção (mesa ou processamento), a exigência por qualidade é diferenciada, fazendo com que a importância das pragas seja alterada. Nos últimos anos, em razão da necessidade crescente de uvas principal- mente para processamento, muitos produtores têm implantado novos parreirais e estão encontrando limitações de ordem fitossanitária, que praticamente inviabilizam o cultivo em determinadas áreas. Nessas situações, a presença de insetos como a pérola-da-terra Eurhizococcus brasiliensis e a filoxera Daktulosphaira vitifoliae, pragas de difícil controle, tem sido responsável pelo declínio e morte de plantas. Além desses insetos, em parreirais adultos, a presença de cochonilhas da parte aérea e cigarrinhas, embora de ocorrência localizada nos parreirais, freqüentemente danifica as plantas, podendo provocar a sua morte. Este capítulo tem o objetivo de apresentar as principais pragas associadas à cultura da videira no Brasil, relacionando as medidas de controle que podem ser adotadas pelos viticultores. Em decorrência das poucas informações disponíveis, principalmente em relação à biologia dos insetos que atacam a cultura no Brasil, muitos dados foram adaptados de espécies similares que ocorrem em outros países, entretanto, ressalta-se que ainda é necessária a comprovação local. Nesse sentido, qualquer informação adicional em relação ao que é apresentado neste capítulo, pode ser encaminhada aos autores, para que o trabalho seja ampliado em edições futuras. DESCRIÇÃO DAS PRINCIPAIS PRAGAS Pérola-da-terra Eurhizococcus brasiliensis (Hempel, 1922) (Hemiptera: Margarodidae) Descrição e bioecologia A pérola-da-terra, Eurhizococcus brasiliensis (Hempel 1922) (Hemiptera: Margarodidae), é uma cochonilha subterrânea que ataca as raízes de plantas cultivadas e silvestres (Fig. 1). Várias espécies de plantas entre anuais e perenes são hospedeiras do inseto, destacando-se a videira e fruteiras de clima temperado 6 PRAGAS Marcos Botton Eduardo Rodrigues Hickel Saulo de Jesus Soria

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Frutas do Brasil, 35Uva Fitossanidade82

INTRODUÇÃO

A produção de uvas no Brasil encontra-se principalmente nas Regiões Sul, Sudestee Nordeste, com destaque para os Estadosdo Rio Grande do Sul, São Paulo, SantaCatarina, Paraná, Pernambuco e MinasGerais. O Estado do Rio Grande do Sulconcentra aproximadamente 50% da áreacultivada no Brasil, que, segundo aFundação Instituto Brasileiro de Geografiae Estatística – IBGE –, tem se mantidoestável em aproximadamente 60 milhectares desde 1985.

Sobre a videira, já foram relatadasaproximadamente 160 espécies de insetosque se alimentam da planta, porém, poucasatingem a situação de praga que exija aadoção de medidas de controle.Em determinadas regiões, dependendo dalocalização e do manejo do parreiral, insetoscomo o percevejo-da-soja (Nezara viridula)ou lagartas de solo dos gêneros Agrotis sp. eSpodoptera sp., podem alimentar-se de folhase/ou frutos, porém, tais insetos sãoconsiderados de importância secundária.Além disso, dependendo da finalidade daprodução (mesa ou processamento), aexigência por qualidade é diferenciada,fazendo com que a importância das pragasseja alterada.

Nos últimos anos, em razão danecessidade crescente de uvas principal-mente para processamento, muitosprodutores têm implantado novos parreiraise estão encontrando limitações de ordemfitossanitária, que praticamente inviabilizamo cultivo em determinadas áreas. Nessassituações, a presença de insetos como apérola-da-terra Eurhizococcus brasiliensis e afiloxera Daktulosphaira vitifoliae, pragas dedifícil controle, tem sido responsável pelo

declínio e morte de plantas. Além dessesinsetos, em parreirais adultos, a presença decochonilhas da parte aérea e cigarrinhas,embora de ocorrência localizada nosparreirais, freqüentemente danifica as plantas,podendo provocar a sua morte.

Este capítulo tem o objetivo deapresentar as principais pragas associadas àcultura da videira no Brasil, relacionando asmedidas de controle que podem ser adotadaspelos viticultores. Em decorrência das poucasinformações disponíveis, principalmente emrelação à biologia dos insetos que atacam acultura no Brasil, muitos dados foramadaptados de espécies similares que ocorremem outros países, entretanto, ressalta-se queainda é necessária a comprovação local.Nesse sentido, qualquer informação adicionalem relação ao que é apresentado nestecapítulo, pode ser encaminhada aos autores,para que o trabalho seja ampliado em ediçõesfuturas.

DESCRIÇÃO DASPRINCIPAIS PRAGAS

Pérola-da-terraEurhizococcus brasiliensis(Hempel, 1922) (Hemiptera:Margarodidae)

Descrição e bioecologia

A pérola-da-terra, Eurhizococcus

brasiliensis (Hempel 1922) (Hemiptera:Margarodidae), é uma cochonilhasubterrânea que ataca as raízes de plantascultivadas e silvestres (Fig. 1). Váriasespécies de plantas entre anuais e perenessão hospedeiras do inseto, destacando-sea videira e fruteiras de clima temperado

6PRAGAS

Marcos Botton

Eduardo Rodrigues Hickel

Saulo de Jesus Soria

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83Frutas do Brasil, 35 Uva Fitossanidade

(Tabela 1). A praga ocorre principalmentena Região Sul do Brasil, onde acredita-seque a mesma seja nativa, e também noEstado de São Paulo. Recentemente, apérola-da-terra foi constatada atacando acultura da videira no Vale do São Francisco,em Petrolina, PE. A cochonilha sedesenvolve nas raízes e somente é preju-dicial na fase de ninfa, no Brasil, visto queos adultos são desprovidos de aparelhobucal. O inseto é considerado a principalpraga da videira, sendo responsável peloabandono da cultura em várias regiões emconseqüência das dificuldades de controle.

A cochonilha reproduz-se através departenogênese facultativa, apresentando umageração por ano (Fig. 2). O ciclo biológico doinseto, partindo da fase de cisto com ovos,que na Região Sul do Brasil ocorre de outubroa janeiro, caracteriza-se por possuir corbranca-acinzentada, repleto de ovos, bastantefrágil e quebradiço (Fig. 3), o qual rompe-seliberando os ovos e as ninfas móveis doprimeiro instar (Fig. 4). Nesse período, queocorre de novembro a março, as ninfaseclodidas pressionam e rompem as paredesfrágeis do cisto, permitindo a dispersão dapraga. O primeiro instar é móvel e caminhade forma ativa até encontrar uma raiz para sefixar e alimentar.

Formigas-doceiras, principalmente aespécie Linepithema humile (Mayr), geralmenteestão associadas a infestações da pérola-da-terra em busca dos excrementos açucaradosda cochonilha. Essa associação (protoco-operação) resulta no transporte (forese) dasninfas de primeiro instar para novos pontosdo hospedeiro ou entre plantas. Além dotransporte das ninfas no interior do parreiral,as formigas protegem a cochonilha do ataquede inimigos naturais e, ao cavarem galerias,facilitam a sobrevivência do inseto sob osolo. A disseminação do inseto ocorreprincipalmente por meio da movimentaçãode mudas enraizadas infestadas pela praga,tanto de videira como de outras fruteiras declima temperado e ornamentais. O transportetambém pode ocorrer conjuntamente aequipamentos agrícolas contaminados.

Fig.1. Pérola-da-terra em raízes de videira.

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Fig.2. Ciclo biológico da pérola-da-terra emplantas de videira.

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Frutas do Brasil, 35Uva Fitossanidade84

Tabela 1. Relação dos hospedeiros nos quais constatou-se a pérola-da-terraEurhizococcus brasiliensis.

Espécie

AboboreiraAlecrimAlfaceAmarilisAmeixeiraAmendoimAmoraAzedinhaBatata-doceBatatinhaBrinco-de-princesaCamomilaCana-de-açúcarCapim de folha largaCarquejaCarurú-bravoCastanheira portuguesaCenouraCerejeiraChicória (=Almeirão)ChuchuzeiroChorãoCinamomoCipó-de-veadoCraveiroCrisântemoDáliaErva-de-bichoErva lancetaErva mateEucalíptoFigueiraFuncionáriaGardêniaGerânioGirassolGoiabeiraGoiabeira serranaGuaxumaLíngua-de-vacaLírio-do-brejoMacieiraMandiocaMamoeiroMarmeleiroMelanciaMelãoMilhoMorangueiroNaboNabiça, Rábano bravoNogueiraNogueira pecãPalmeiraPepino

Continua...

Nome científico

Cucurbita pepo L.Rosmarinus officinalis L.Lactuca sativa L.Amaryllis sp.Prunus salicina Lindl.Arachis hypogea L.Morus nigra L., Morus alba L.Oxalis articulata Sav.Ipomoea batatas Lam.Solanum tuberosum L.Fuchsia sp.Matricaria chamomilla L.Saccharum officinarum L.Digitaria sp.Baccharis genistelloides Pers.Phytolacca decandra LCastanea vesca Gaerth.Daucus carota L.Prunus avium L.Cichorium endivia L.Sechium edule Sw.Salix humboldtiana Willd.Melia azedarach L.Convolvulus ottonis MeissnerDianthus caryophyllus LChrysanthemum sp.Dahlia sp.Polygonum acre HBK.Solidago microglossa DC.Ilex paraguariensis St.-Hil.Eucalyptus spp.Ficus carica LGazania ringens \hibr.Gardenia jasminoides Eii.Pelargonium zonale Herit.Helianthus annus L.Psidium guajava L.Feijoa sellowinana (Berg)Sida rhombifolia LRumex sp.Hedychium coronarium KoehneMalus domestica LManihot utilissima Pohl.Carica papaya LCydonia oblonga Mill.Citrullus vulgaris Schrad.Cucumis melo L.Zea mays L.Fragaria vesca L.Brassica campestris L.Raphanus raphanistrum LJuglans regia L.Carya illinoensis (Wang.) KochArecastrum romanzoffianum MCucumis sativus L.

Família

CucurbitaceaeLabiataeCompositaeAmaryllidaceaeRosaceaeLeguminosaeMoraceaeOxalidaceaeConvolvulaceaeSolanaceaeOenotheraceaeCompositaeGramineaeGramineaeCompositaePhytolaccaceaeFagaceaeUmbelliferaeRosaceaeCompositaeCucurbitaceaeSalicaceaeMeliaceaeConvolvulaceaeCaryophyllaceaeCompositaeCompositaePolygonaceaeCompositaeAquifoliaceaeMyrtaceaeMoraceaeCompositaeRubiaceaeGeraniaceaeCompositaeMyrtaceaeMyrtaceaeMalvaceaeCompositaeZingiberaceaeRosaceaeEuphorbiaceaeCaricaceaeRosaceaeCucurbitaceaeCucurbitaceaeGramineaeRosaceaeCruciferaeCruciferaeJuglandaceaeJuglandaceaePalmaeCucurbitaceae

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85Frutas do Brasil, 35 Uva Fitossanidade

Tabela 1. Continuação.

Espécie

PereiraPessegueiroPinheiro

QuiabeiroQuinaQuivizeiroRabaneteRomãzeiraRoseiraSalsaSálviaSempre noivaSojaUva do JapãoVassouraVideira

Nome científico

Pyrus communis L.Prunus persica (L.) StokesAraucaria angustifolia (Bertol.)O. KuntzeHibiscus esculentus L.Solanum pseudoquina St.-Hil.Actinidia deliciosa Lang. Et Ferg.Raphanus sativus L.Punica granatum L.Rosa sp.Carum petroselinum BenthSalvia splendes SellowHelichrysum sp.Glycine max (L.) MerrillHovenia dulcis Thunb.Baccharis sp.Vitis sp.

Família

RosaceaeRosaceaeAraucariaceae

MalvaceaeSolanaceaeActinidaceaeCruciferaePunicaceaeRosaceaeUmbelliferaeLabiataeCompositaeLeguminosaeRhamnaceaeCompositaeVitaceae

Fonte: adaptado de Gallotti, 1976.

Fig.3. Cisto branco com ovos da pérola-da-terra.

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Fig.4. Eclosão das ninfas a partir dos cistosbrancos

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A partir do segundo instar, as ninfasperdem as pernas, encerram-se no interiorda exúvia que converte-se numa cápsulaprotetora, assumindo formato esférico.O máximo crescimento começa em outu-bro-novembro, possui formato globoso,de coloração amarela, sendo denominadade pérola-da-terra (Fig. 5). O completodesenvolvimento das ninfas origina fêmeasque podem morrer dentro do próprio cisto

(reprodução assexuada), após realizar apostura ou então, rompê-lo e subir àsuperfície como fêmea móvel para umeventual acasalamento (reprodução sexua-

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Frutas do Brasil, 35Uva Fitossanidade86

Fig.5. Cisto amarelo da pérola-da-terra.

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Fig.6. Fêmea móvel da pérola-da-terra.

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Fig.7. Macho alado da pérola da terra.

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fêmeas móveis após a fecundação, bemcomo os fatores que levam ao aparecimentode machos na espécie.

Nos meses mais frios, mesmo complantas de videira em repouso vegetativo,as ninfas de segundo e terceiro instar dapérola-da-terra não interrompem o desen-volvimento, caracterizando ausência deestratégia de dormência ou diapausa.

Sintomas e danos

A sucção da seiva efetuada pelapérola-da-terra nas raízes provoca umdefinhamento progressivo da videira, comredução da produção e conseqüente mortedas plantas. Em parreirais adultos, as folhasamarelecem entre as nervuras de maneirasimilar à deficiência de magnésio; os bordosdas folhas encarquilham-se para dentro,ocorrendo em alguns casos, queimadurasnas bordas (Fig. 8). Plantas com estessintomas, geralmente têm baixo vigor,entrenós curtos, entram em declínio emorrem (Fig. 9). No caso de novos plantios,no primeiro ano as plantas desenvolvem-se normalmente; a partir do segundo ano,

da), retornando em seguida para o interiordo solo (Fig. 6). Embora pouco comum, nareprodução sexuada, as ninfas podempassar por dois instares, pré-pupa, pupa eoriginar machos alados (Fig. 7) que vivemno máximo 2 dias e, a princípio, servemapenas para copular com as fêmeas móveis.Poucas informações encontram-sedisponíveis sobre o que ocorre com as

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87Frutas do Brasil, 35 Uva Fitossanidade

possuírem o sistema radicular maisdesenvolvido. O período mais indicadopara avaliar a presença do inseto no parreiralé no início da brotação, arrancando-se asplantas fracas e observando-se a presençadas ninfas nas raízes (Fig. 1).

Controle

As seguintes práticas culturais devemser adotadas pelos produtores visandoconviver com o inseto nas áreas infestadas.Nos plantios novos, o ideal é escolheráreas não infestadas pela pérola-da-terra.Entretanto, caso isso não seja possível, asseguintes medidas são recomendadas:

• Fazer análise do solo, corrigir eadubar a área de acordo com as reco-mendações para a cultura utilizando sempreque possível adubo orgânico.

• Realizar o preparo do solo, inclusivecom subsolagem, de modo a permitir queas raízes tenham um bom desenvolvimento.

• Utilizar mudas de boa procedênciae livres de viroses. A ausência de virosesauxilia no desenvolvimento das plantasresultando em maior tolerância ao ataqueda praga.

Fig.9. Plantas definhadas em decorrência do ataque da pérola-da-terra.

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Fig.8. Sintomas do ataque da pérola-da-terra nas folhas de videira.

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a brotação é fraca e desuniforme, ocorrendoa morte das plantas atacadas geralmenteno terceiro ano. Plantas adultas, normal-mente demoram mais para morrer por

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Frutas do Brasil, 35Uva Fitossanidade88

• Utilizar porta-enxertos resistentesà pérola-da-terra como o 39-16 e o 43-43.Mesmo com o emprego desses porta-enxertos, o controle químico é necessário.

• Controlar as plantas invasorashospedeiras do inseto presentes na área.Nos primeiros anos, caso o produtor queiracultivar outras espécies para aproveitar oterreno no interior do parreiral, deve utilizarculturas anuais não hospedeiras da praga,como o alho e o feijão (Tabela 1).

Quando o ataque ocorre em parreiraisadultos, adotar os seguintes procedimentos:

• Realizar a adubação do parreiralconforme as recomendações para a cultura,empregando adubo orgânico sempre quepossível.

• Não cultivar plantas hospedeirasdo inseto (Tabela 1) no interior do parreiral.É comum produtores cultivarem espéciescomo a batata-doce (Ipomoea batatas) nointerior do parreiral ou plantarem figueirasou roseiras nas bordas, visando aproveitaro espaço. Essas espécies proporcionam oaumento da população da praga na área,sendo responsáveis pela reposição do insetoque atacará as plantas de videira.

• Manter o parreiral livre de plantasinvasoras hospedeiras do inseto. Nas áreasinfestadas, é comum encontrar espéciesinvasoras que também são atacadas pelapérola-da-terra como a língua-de-vaca(Rumex sp.). As plantas invasoras servemde reservatório natural do inseto na área,contribuindo para aumentar a infestaçãodo parreiral.

• Evitar a utilização de equipamentoscomo a enxada rotativa no interior da área,visto que tal prática aumenta a dispersãodo inseto.

• Com relação ao emprego deinseticidas, o vamidothion (Kilval 300) foiempregado com sucesso no controle dapraga. Entretanto, o inseticida foi retiradodo mercado brasileiro na safra 1999/2000.Atualmente, o controle químico é realizadonas áreas infestadas segundo indicação naTabela 2.

Os dois inseticidas devem seraplicados no solo, durante o mês de novem-bro, período em que inicia o ataque dasninfas primárias às raízes da videira. Emsituações de alta infestação, a dosagemrecomendada pode ser dividida em duas,aplicando-se em novembro e janeiro.O índice de controle da praga reduzconforme aumenta a idade das plantas.Por isso, é fundamental estabelecer umprograma de controle do inseto napropriedade a partir do primeiro ano deplantio. O thiamethoxam, por sergranulado, deve se aplicado diretamenteno solo, cavando-se um sulco ao redor daplanta, de modo que as raízes possamabsorver o produto. O imidacloprid, deveser diluído em água e regado no solo, naregião onde encontra-se o sistema radicular,aplicando-se de 2 a 4 L de calda por planta.Quando o inseto encontra-se atacandoplantas adultas, a redução na populaçãodo inseto não tem sido significativa. Nessassituações, a redução na população da pragaé gradual, devendo-se realizar o tratamento

Tabela 2. Inseticidas indicados para o controle da pérola-da-terra Eurhizococcus

brasiliensis na cultura da videira. Bento Gonçalves, RS, 2000.

Inseticida

Actara 10 GR(Thiamethoxam 1%)

Premier 700 GrDA(Imidacloprid 70%)

Idade dasplantas (anos)

123123

Dosagem (g produtocomercial/planta)

12 - 2020 - 3030 - 40

0,2 - 0,30,3 - 0,50,5 - 0,8

Classetoxocológica

IV

IV

Carência(dias)

45

60

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89Frutas do Brasil, 35 Uva Fitossanidade

por mais de uma safra. Em casos deinfestação elevada, é conveniente replantaras mudas, aplicando o programa detratamento recomendado para plantasnovas. Quando o tratamento é realizadoem plantas em produção, deve-se respeitara carência dos dois inseticidas.

Os produtos devem ser aplicadosquando as plantas estiverem em plenaatividade, evitando períodos de estiagem.É importante limpar as invasoras próximoàs raízes para evitar que as mesmasabsorvam o inseticida, reduzindo ocontrole. Evitar empregar cama-de-aviáriocom presença de serragem ou maravalhaantes da aplicação dos produtos, pois amesma adsorve os inseticidas reduzindo oefeito do tratamento.

Caso o inseto não esteja presente napropriedade, adotar as seguintes medidaspara impedir que a praga seja introduzida:

• Evitar o transplante de mudas deuso doméstico com torrão, como flores,fruteiras e condimentos provenientes deáreas infestadas (Tabela 1).

• Ao comprar mudas de videira, darpreferência às de raiz nua, as quais devemser lavadas para verificar a presença dapérola-da-terra. Em caso de dúvida quantoà presença do inseto, as mudas podem sertratadas com fosfina para eliminar o insetoconforme indicado por Dal Bó & Crestani(1988).

• Ao utilizar equipamentos prove-nientes de locais onde o inseto encontra-sepresente, providenciar a limpeza dosmesmos antes de utilizá-los na propriedade.

FiloxeraDaktulosphaira vitifoliae(Fitch, 1856) (Hemiptera:Phylloxeridae)

Descrição e bioecologia

A filoxera é um inseto sugador queapresenta formas que diferem entre sidependendo da época do ano. O ciclo

biológico do inseto é complexo e apresentatodas as formas somente em videirasamericanas. Na primavera, a partir dosovos de inverno depositados no ritidomapelas formas ápteras sexuadas, ocorre aeclosão das ninfas que causam galhas nasfolhas (Fig. 10). Cada fêmea galícola repro-duz-se partenogeneticamente, ovipositan-do de 500 a 600 ovos no interior de cadagalha (Fig. 11). Dependendo das condiçõesclimáticas, destes ovos podem surgir novasfêmeas galícolas que irão completar váriasgerações nas folhas durante o ano, oufêmeas radícolas, que migram para as raízes

Fig.10. Galhas nas folhas em razão doataque da filoxera.

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Fig.11. Fêmea da filoxera e posturas locali-zadas no interior da galha.

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Frutas do Brasil, 35Uva Fitossanidade90

Sintomas e danos

Os danos da filoxera são observadosnas folhas de cultivares de porta-enxertossensíveis à forma galícola, onde a pragaprovoca galhas características (Fig. 10). Esseataque impede o desenvolvimento dasbrotações, reduz a atividade fotossintética,chegando a paralisar o desenvolvimento daplanta. Em infestações severas, o insetoataca as gavinhas e ramos tenros. Muitasvezes, porta-enxertos atacados no camponão obtêm porte suficiente para realizaçãode enxertia de inverno na safra seguinte(Fig. 14).

Quando o ataque ocorre na raiz,normalmente são observadas nodosidadesresultantes do entumescimento dos tecidosdas radicelas (Fig.12). As nodosidades sãocausadas pela sucção contínua do insetopresente nas raízes e resultam numa menorcapacidade de absorção de nutrientes, alémde servir como porta de entrada parapodridões de raízes. Como conseqüência,

das plantas e, ao sugarem, provocamnodosidades nas radicelas (Fig. 12).

Ao final do verão, alguns ovos defêmeas radícolas originam formas aladas,as quais abandonam o solo e retornam paraas folhas. Essas formas ovipositam doistipos de ovos: um menor que originamachos ápteros, e outro maior, que originafêmeas ápteras. As formas ápteras sexuadas,após o acasalamento, reiniciam o cicloovipositando ovos de inverno (um porfêmea). Das formas galícolas, tambémpodem surgir fêmeas aladas que originamas formas sexuais ápteras. O ciclo biológicodo inseto é ilustrado na Fig.13.

Nem todas as formas e/ou fases dociclo de vida ocorrem em determinadasregiões, visto que as etapas do ciclo estãoassociadas às condições de clima esuscetibilidade de hospedeiros. Nas videi-ras de origem européia (viníferas) geral-mente não ocorrem as formas galícolas, eas radícolas passam o inverno nas nodo-sidades e tuberosidades produzidas. A bio-logia dessa espécie ainda necessita serestudada nas condições brasileiras.

Fig.12. Nodosidades causadas pelo ata-que da filoxera em raízes de videira.

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Fig.13. Ciclo biológico da filoxera na culturada videira.

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91Frutas do Brasil, 35 Uva Fitossanidade

Controle

Não existe controle químico que possaser empregado de forma econômica para ocontrole da forma radícola da filoxera.A maneira mais eficiente para evitar osdanos do inseto é por meio do emprego deporta-enxertos resistentes (Tabela 3).

Consideram-se resistentes à praga,genótipos com valor igual ou superior a 16.Os valores 14 e 15 só devem ser utilizadospara plantações em solos arenosos ou deelevada fertilidade.

Fig.14. Porta-enxerto de um ano com ata-que da filoxera nas folhas.

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Fig.15. Falhas na brotação das plantas emrazão do ataque da filoxera nas raízes.

a planta reduz o desenvolvimento, podendomorrer (Fig. 15). Isso tem ocorrido emáreas altamente infestadas pela praga, ondesão plantadas cultivares de pé-franco deIsabel e Niágara.

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Fonte: adaptado de Bravo & Oliveira, 1974.

Tabela 3. Resistência de espécies de Vitis à forma radicular dafiloxera.

Espécie/Híbrido Grau de resistência

Vitis cordifolia 19

Vitis rupestris Martin 19

Vitis riparia Gloire 19

Vitis riparia grand glabra 19

Vitis cordifolia x Vitis rupestris 19

Vitis berlandieri x Vitis riparia 420 A 19

Vitis riparia x Vitis rupestris 3306 19

Vitis riparia x Vitis rupestris 3309 19

Vitis berlandieri nº 1 19

Vitis berlandieri nº 2 18

Vitis cinerea 18

Vitis riparia x Vitis berlandieri 34-E 18

Vitis aestivalis 17

Vitis monticola 17

Vitis riparia x Vitis rupestris 101-14 17

Vitis rupestris du Lot 16

Chasselas x Vitis berlandieri 41-B 16

Mourvèdre x Vitis rupestris 1202 16

Aramon x Vitis rupestris nº 1 16

Vitis riparia x Vitis berlandieri 33 15

Vitis solonis 15

Vitis candicans 14

Jacquez 13

Herbemont 12

Vialla 12

Noah 11

Cliton 10

Othelo 10

Vitis labrusca 5

Vitis californica 5

Espécies asiáticas 2

Vitis vinifera 0

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Frutas do Brasil, 35Uva Fitossanidade92

SR: sem restrições.

Embora cultivares americanas (V.

labrusca) produzam por meio de pé-franco,sempre recomenda-se o uso de mudasenxertadas. Nas situações em que cultivaresamericanas de pé-franco estejam altamenteinfestadas pela filoxera, recomenda-se asubstituição das mesmas por mudasenxertadas ou, em algumas situações, visandorecuperar o vigor, o uso da adubação foliar.

A forma galícola, quando ocorre emquadras matrizes de porta-enxertos ouplantios novos para posterior enxertia nocampo, deve ser controlada sistema-ticamente (a intervalos quinzenais) a partirdo aparecimento dos primeiros sintomas,com os produtos indicados na Tabela 4.

Atentar para a possibilidade de aparecimentode ácaros em função do desequilíbrio causadopela aplicação seqüencial de inseticidas deamplo espectro. Em situações de elevadainfestação, os produtos indicados nãoapresentam eficiência satisfatória visto ogrande potencial biótico do inseto.

Cochonilhas

As cochonilhas são insetos quedanificam as plantas pela sucção de seiva,provocam fitotoxicidade devido à injeçãode enzimas digestivas, depositam excre-ções açucaradas nas folhas, resultando no

Tabela 4. Inseticidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento parao controle das principais pragas da videira. Bento Gonçalves, RS, 2000.

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aparecimento da fumagina e, às vezes, sãoresponsáveis pela transmissão de agentespatogênicos. As espécies descritas a seguirsão importantes em vinhedos da região Suldo Brasil.

Cochonilha-pardaParthenolecanium persicae(Fabricius, 1776)(Hemiptera: Coccidae)

Descrição e bioecologia - O insetoapresenta uma geração por anomultiplicando-se principalmente porpartenogênese telítoca (Fig. 16). A presençade machos na espécie é rara. A fêmeaadulta apresenta forma globosa, de corparda acinzentada com estrias escuras nodorso, medindo de 7 a 9 mm decomprimento por 3,5 a 4,5 mm de largura(Fig. 17). O inseto localiza-se nos ramosdo ano e inicia a oviposição em meados denovembro, continuando até o final dejaneiro. Cada fêmea coloca de 1.500 a2.000 ovos de cor avermelhada, os quaisse acumulam embaixo da carapaça. Apósfinalizar a oviposição, a fêmea morre, poréma carapaça continua a proteger os ovosdurante a incubação que dura, conformeas condições ambientais, de 15 a 30 dias.As ninfas recém-eclodidas movem-serapidamente sobre folhas e brotospodendo ser transportadas pelo vento agrandes distâncias. Dois a três dias após a

Fig.16. Ciclo biológico da cochonilha-parda.

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Fig.17. Grupamento da cochonilha-pardaem ramos de videira.

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Fig.18. Ninfas do segundo instar da cocho-nilha-parda em ramos de videira.

eclosão, as ninfas fixam-se ao longo dasnervuras na face inferior da folha, ondepermanecem até o mês de maio. Nessa fase,o inseto tem a forma oval-achatada,apresentando coloração clara e medindoaproximadamente 1,4 mm de comprimento.

Durante o outono, quando a circu-lação da seiva diminui, a ninfa sofre maisuma muda (segundo instar) atingindo de2,0 a 2,7 mm de comprimento (Fig. 18).Essas ninfas permanecem por algumas

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Frutas do Brasil, 35Uva Fitossanidade94

semanas nas folhas e, à medida que caem,deslocam-se para as partes mais lenhosaspara hibernação, acumulando-se nos galhos,podendo alcançar, às vezes, a base do troncoda planta. O inseto entra em diapausa comoninfa de segundo instar, passando o invernopraticamente imóvel. No início da primavera,as ninfas passam para o terceiro instar quandocompletam o desenvolvimento. Durante omês de novembro, as ninfas transformam-seem fêmeas adultas e ovipositam, reiniciandoo ciclo biológico. É comum formigas-doceirasassociarem-se a esta cochonilha em buscados excrementos açucarados.

Sintomas e danos - A espécie normal-mente ataca os ramos novos de forma agre-gada. As brotações das plantas infestadascrescem menos, reduzem a produção e, de-pendendo da intensidade de infestação po-dem secar. Na ausência de formigas doceirasassociadas, o desenvolvimento da fumaginasobre os excrementos do inseto deprecia osfrutos comercialmente. As infestações maisfreqüentes têm sido observadas sobreCouderc 13 e Seibel.

Controle - A poda de inverno ajuda aeliminar o inseto dos ramos infestados. Apósa poda, utilizar um inseticida (Tabela 4)associado 1% de óleo mineral ou vegetal.A adição de óleo visa auxiliar na ação dosinseticidas, porém, dependendo das cultiva-res, como a Concord, pode ocorrer fitotoxi-cidade, sendo necessário utilizar menoresconcentrações. Além disso, atentar que oemprego dos óleos pode acelerar o início dabrotação das videiras. É importante que ocontrole seja direcionado à fase de ninfa, quegeralmente ocorre no início da brotação,visto que, quando a fêmea está completa-mente desenvolvida, os inseticidas nãoatingem os ovos mantidos sob a carapaça,reduzindo a eficiência do tratamento. Alémdisso, o período de alimentação do inseto émaior, aumentando os danos à planta.

O tratamento de inverno com caldasulfocálcica a 4º Bé auxilia no controle do

inseto, porém, isoladamente, não é eficazpara reduzir altas infestações. Caso sejautilizada calda sulfocálcica no inverno,observar um período de 40 dias paraempregar óleo mineral ou vegetal.

É comum encontrar larvas do dípteropredador Belvosia sp. (Syrphidae) associadasaos grupamentos de ninfas da cochonilha-parda, a qual ataca posturas de P. persicae.Sempre que possível, a manutenção dopredador deve ser preservada nos parreirais.

Cochonilha-algodãoIcerya schrottkyi (Hempel, 1900)(Hemiptera: Margarodidae)

Descrição e bioecologia - As fêmeassão ovais, rosadas, apresentando de 5 a7 mm de comprimento. O corpo dacochonilha não é revestido por carapaça.No tórax e abdômen encontram-se porosque secretam cera branca que acabaencobrindo todo o corpo do inseto, dandouma aparência esbranquiçada característica(Fig. 19). O ciclo biológico de I. schrottkyi

ocorre de forma semelhante ao dacochonilha parda. A fêmea adulta fazpostura dentro do ovissaco no final daprimavera, e a eclosão das ninfas ocorreem novembro e dezembro. As ninfas recém-eclodidas dirigem-se às folhas, ondepermanecem até a queda. No mês de maio,mais desenvolvidas, voltam aos ramos etronco, onde se fixam passando o inverno.A postura é realizada nos meses de outubroe novembro, quando as fêmeas morremdeixando nova geração. A reprodução épartenogenética.

Sintomas e danos - A cochonilhaincide sobre ramos e tronco (lenho velho)resultando no enfraquecimento da planta,com conseqüente perda da produção.

Controle - O ataque dessa praganormalmente é de poucos indivíduos porplanta, permitindo aos produtores eliminá-las manualmente. Em situações de altainfestação, empregar os inseticidas indicadosna Tabela 4.

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Cochonilha-do-troncoHemiberlesia lataniae (Signoret,1869), Duplaspidiotus tesseratus(Charmoy, 1899) e D. fossor(Newstead, 1914) (Hemiptera:Diaspididae)

Descrição e bioecologia - Essascochonilhas freqüentemente estãoassociadas aos vinhedos da Região Sul doBrasil. São espécies semelhantes quantoao tamanho e forma da carapaça,dificultando a identificação no campo.Praticamente não existem informaçõessobre a biologia dessas cochonilhas nacultura da videira o que dificulta oestabelecimento de medidas de controle.

Sintomas e danos - As cochonilhasinfestam de forma agregada os ramosvelhos da parreira, localizando-se abaixodo ritidoma (Fig. 20). Ao se alimentar ascochonilhas depauperam as plantas,podendo provocar a morte.

Controle - Nas situações em queocorrem infestações elevadas do inseto, ocontrole químico é recomendado (Tabela 4).Entretanto, como a cochonilha normalmentese localiza sob o ritidoma, dificultando ocontato com os produtos aplicados,recomenda-se previamente realizar umalimpeza da casca. Essa operação, pode serfeita manualmente com escovas ou utilizando

calda sulfocálcica a 4º Bé durante o inverno.Aproximadamente 30 a 45 dias após otratamento com a calda, o ritidoma começaa se desprender, facilitando o contato doinseticida sobre as cochonilhas. O uso dacalda sulfocálcica encontra restrições de usopelos produtores em virtude da ação corrosi-va sobre os arames do parreiral. Embora esteassunto seja bastante controverso, no casoda aplicação no tronco, é possível utilizaruma haste com dupla saída (Fig. 21),adaptada ao pulverizador costal, de modoa atingir os dois lados do caule, evitando ocontato com o arame. O aplicador tambémpode ser utilizado para direcionar otratamento das cochonilhas somente nasplantas infestadas. Após o uso da caldasulfocálcica, é importante lavar o equi-pamento de aplicação com uma solução devinagre a 10% para retirar os resíduos dacalda, evitando a corrosão.

Fig.19. Cochonilha-algodão no tronco davideira.

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Fig. 20. Cochonilhas-do-tronco sob a cascada videira.

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Fig.22. Grupamento da cigarrinha-das-fru-teiras no tronco da videira.

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Embora não existam levantamentos deinimigos naturais destas cochonilhas nosparreirais, é comum encontrar as carapaçasperfuradas em razão da emergência deparasitóides. Por esse motivo, é importanteque o controle químico da cochonilha sejadirecionado somente para as plantasinfestadas, visando preservar as espéciesbenéficas presentes no parreiral.

estudos sobre a biologia desta espécie nacultura da videira. Observações de campoindicam que o inseto passa o inverno deforma agregada, protegido sob o ritidoma(Fig. 22). A partir do início da brotaçãoocorre a dispersão da praga no parreiral.As posturas são realizadas numa ooteca, e nointerior encontram-se os ovos, em númerode 100 ou mais. Normalmente o ataque dacigarrinha está associado a formigas,principalmente do gênero Camponotus sp.que se alimentam de substâncias açucaradasexcretadas pelo inseto.

Sintomas e danos

Ao se alimentar continuamente dasplantas, o inseto injeta saliva tóxica,provocando hipertrofiamento do parênqui-ma cortical, reduzindo o desenvolvimentodos ramos atacados (Fig. 23). No caso decultivares viníferas, as folhas seguintes ao

Fig.21. Haste de dupla saída adaptadapara aplicação no tronco da videira.

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Cigarrinha-das-fruteirasAethalion reticulatum(L., 1767) (Hemiptera:Aetalionidae)

Descrição e bioecologia

O inseto normalmente encontra-seassociado a cultivares viníferas. Não existem

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Fig.23. Ramos de videira hipertrofiados peloataque da cigarrinha-das-fruteiras.

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Fig.24. Folhas avermelhadas resultantesdo ataque da cigarrinha-das-fruteiras.

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ponto de alimentação avermelham, apresen-tando sintomas semelhantes a viroses(Fig. 24). Sobre os excrementos da cigarrinha,quando não encontram-se formigas doceirasassociadas, pode aparecer a fumagina.

Controle

Como o inseto apresenta hábitogregário, as ninfas são facilmente destruídasmanualmente o que pode ser feito nomomento da poda de inverno. Com relaçãoao controle químico, alguns viticultorespreferem carregar, com o material da poda,um pequeno pulverizador manual comcapacidade para 1 ou 2 L contendo soluçãoinseticida para aspergir nas colônias doinseto. A cigarrinha é altamente sensívelaos inseticidas (Tabela 4), entretanto, emsituações de alta infestação, pode sernecessário tratar todo o parreiral. Nessescasos, o tratamento deve ser repetido após20 a 30 dias, com o objetivo de atingir asninfas que eclodiram após a aplicação,visto que os produtos não atuam sobre asposturas.

Ácaros

Os ácaros que atacam a videira têmsido mais prejudiciais às cultivares viníferasproduzidas em regiões tropicais onde oclima é seco, favorecendo a multiplicação.As espécies mais freqüentes associadas àcultura da videira e que podem serconsideradas pragas são as seguintes:

Ácaro-brancoPolyphagotarsonemuslatus (Banks, 1904)(Acari: Tarsonemidae)

Descrição e bioecologia - O ácaro-branco é uma praga polífaga e cosmopolita,possui tamanho reduzido (machos e fêmeasmedem aproximadamente 0,17 e 0,14 mmde comprimento, respectivamente),dificilmente visualizados a olho nu.O macho, mesmo sendo menor que afêmea, possui o hábito de carregar a pupadesta para acasalamento no momento daemergência. Os ovos são depositadosisoladamente na face inferior das folhas.O ataque ocorre somente nas folhas novasda videira, não havendo presença de teias.

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Fig.25. Encurtamento dos ramos de plan-tas de videira em virtude do ataque doácaro-branco.

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Sintomas e danos - O ataque doácaro branco resulta num encurtamentodos ramos da videira como resultado daalimentação contínua das folhas novas(Fig. 25). Em situações de elevadainfestação, as folhas ficam coriáceas equebradiças podendo ocorrer a queda dasmesmas. O ataque é mais importante emplantas novas, tanto em mudas como nosporta-enxertos, visto que a praga reduz odesenvolvimento, atrasando a formaçãodo parreiral.

Controle - Nas situações de elevadainfestação, o controle deve ser realizadocom acaricidas específicos (Tabela 4).O ácaro-branco também é sensível aoenxofre, devendo-se direcionar o trata-mento às brotações novas. Entretanto, ouso do enxofre pode causar fitotoxicidadeem cultivares americanas.

mento, possui coloração amarelo-esverdeadacom duas manchas escuras no dorso docorpo (Fig. 26). Vive principalmente napágina inferior das folhas e tece teia. Altastemperaturas e ausência de chuvas favorecemo desenvolvimento da praga.

Fig.26. Ácaro-rajado com as manchas ca-racterísticas no dorso do corpo.

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Sintomas e danos - Os sintomas deataque iniciam como pequenas áreascloróticas nas folhas, entre as nervurasprincipais, e, posteriormente, o local de ataquefica necrosado. Na página superior das folhascorrespondente às lesões, surgem tonsavermelhados. Altas infestações podemcausar desfolhamento e também ataque aoscachos, causando bronzeamento das bagas.

Controle - O ácaro-rajado deve sercontrolado eliminando-se as plantashospedeiras da praga presentes no parreiralantes da brotação da videira. Na Região Suldo Brasil, tem sido comum os produtoresutilizarem a ervilhaca como cobertura mortano interior do parreiral, realizando adessecação no início da brotação. Os ácarospresentes nessa planta acabam migrando paraa videira, causando danos à cultura. Outraprática que deve ser evitada é o empregoexagerado de adubos nitrogenados, visto queplantas com altos teores de nitrogênio favo-recem o desenvolvimento da praga. Evitar oemprego de produtos pouco seletivos aosinimigos naturais, principalmente inseticidaspiretróides, que provocam aumento napopulação do ácaro. Ao utilizar o controlequímico (Tabela 4) as aplicações devem serdirecionadas para a face inferior das folhas.

Ácaro-rajadoTetranychus urticae (Koch, 1836)(Acari: Tetranychidae)

Descrição e bioecologia - O ácaro-rajado mede cerca de 0,5 mm de compri-

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Ácaro-da-erinoseColomerus vitis (= Eryophyes vitis)(Pagenstecher, 1857)(Acari: Eriophyidae)

O ácaro-da-erinose é específico davideira, possui cor amarelada medindoaproximadamente 0,16 mm de com-primento. As fêmeas ovipositam de formaagregada nas pilosidades das folhas e, aoocorrer a eclosão das larvas, iniciam-se osdanos à videira. A espécie reproduz-seprincipalmente por partenogênese.

Sintomas e danos - As folhas atacadasexibem galhas de diferentes tamanhos,resultado do inchamento da parte superiorque corresponde a manchas brancas eaveludadas na face inferior (Fig. 27). O ácaroda erinose também pode atacar as gemas,causando deformações e até a morte dasmesmas.

Controle - O ácaro-da-erinose é facil-mente controlado com enxofre aplicadodurante o período vegetativo da cultura(Tabela 4). No inverno pode-se empregar acalda sulfocálcica a 4º Bé.

Os ácaros predadores Euseius alatus (DeLeon), E. brazilli (El-Banhawi), Neoseiulus

fallacis (German) e Typhlodromus neotunus(Danmark & Muma), pertencentes à famíliaPhytoseiidade, foram encontrados emcultivares viníferas na região de BentoGonçalves, RS e devem ser preservadoscomo agentes de controle biológico dosácaros fitófagos.

Besouros-desfolhadores-da-videira Maecolaspis aenea(Fabricius, 1801), M. trivialis(Boheman, 1858) e M.geminata (Boheman, 1859)(Coleoptera:Chrysomelidae)

Descrição e bioecologia

Os besouros-desfolhadores queatacam a videira são insetos pequenos(3 a 5 mm de comprimento), de cor verde-metálica (Fig. 28). As larvas vivem no soloalimentando-se das raízes; os adultos sãopolífagos atacando além da videira espéciescomo a roseira, algodão, batata-doce, feijãoe citros, entre outros. Não existeminformações disponíveis sobre a biologiadestes besouros na cultura da videira e aidentificação das espécies está sendo revista.O período de ataque dos adultos vai deoutubro a janeiro, com picos em dezembro.Os adultos não são facilmente visíveis pelosviticultores, pois localizam-se sob as folhase, ao sentirem a presença de pessoas ou oagitar dos ramos, imobilizam-se e caem nosolo. M. aenea ocorre na região sul eM. trivialis, na região central do Brasil,principalmente nos Estados de Minas Geraise São Paulo.

Fig.27. Sintoma do ataque do ácaro-da-erinose em folhas da videira.

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Fig.28. Besouro-desfolhador atacando folhasda videira.

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Frutas do Brasil, 35Uva Fitossanidade100

Fig.30. Queda de bagas em razão do ataque de besouros-desfolhadores.

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Fig.31. Adulto do gorgulho-da-videira.

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Sintomas e danos

Os adultos atacam folhas e brotosnovos, causando perfurações caracte-rísticas (Fig. 29). Os danos resultam emmenor desenvolvimento das plantasreduzindo a atividade fotossintética. Outrodano causado pelo inseto é a queda prema-tura das bagas. Ao se observar os cachosdanificados, estes possuem o pedicelo dasbagas roídos, exibindo o tecido lenhoso(Fig. 30).

Controle

O controle normalmente é realizadocom a aplicação de inseticidas (Tabela 4) po-dendo ser necessário mais de uma pulve-rização dependendo da intensidade de ataque.

Gorgulhos-da-videiraNaupactus ssp. ePantomorus ssp.(Coleoptera: Curculionidae)

Descrição e bioecologia

Poucos registros bibliográficos estãodisponíveis referentes à presença deCurculionidae na cultura da videira noBrasil. Com base no ciclo biológico deespécies que ocorrem em outros países,sabe-se que os adultos emergem do solo desetembro a março (Fig. 31). As fêmeasovipositam nas fendas da parte aérea daplanta ocorrendo a eclosão das larvas dedezembro até maio-junho. À medida queas larvas eclodem, estas caem no soloenterrando-se rapidamente. A larvacompleta seu desenvolvimento e passa àfase de pupa no solo por um período nãodefinido, presumindo-se não inferior a9 meses. O período total do ciclo biológicotambém não se conhece, mas estima-senão ser inferior a 14 meses.

Fig.29. Perfurações em folhas de videira causadas peloataque de besouros-desfolhadores.

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Sintomas e danosOs danos consistem no definha-

mento das videiras, resultante da açãomastigadora das larvas no sistema radicularpodendo ser porta de entrada para doenças

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de solo. Os adultos, quando em elevadasinfestações, podem causar danos signifi-cativos, alimentando-se das folhas edestruindo brotos novos, impedindo odesenvolvimento das plantas. Entretanto,as espécies brasileiras não têm causadograndes prejuízos, tendo somente relatos desurtos esporádicos.

Controle

O combate mecânico dos coleópterosdesse gênero é facilitado pelo tamanho evisibilidade dos mesmos. Em casos ondeisso não é possível, os adultos podem sercontrolados com inseticidas químicos(Tabela 4).

Mosca-brancaBemisia argentifollii(Hemiptera: Aleyrodidae)

Descrição e biologia

O adulto da mosca-branca é de corbranca, apresenta dois pares de asasmembranosas e alimenta-se sugando a seivada planta (Fig. 32). Os adultos medemaproximadamente 1 a 2 mm de comprimento,sendo as fêmeas maiores que os machos. Asposturas são colocadas isoladamente nasfolhas, e somente as ninfas de primeiro instarsão móveis. O inseto passa por quatro instaresaté atingir a fase adulta, e todos os estádioshabitam a face inferior das folhas. Apenas oadulto é capaz de migrar até novas plantas;os estádios imaturos permanecem o tempotodo no mesmo hospedeiro.

Sintomas e danos

A mosca branca pode causar danosdiretos e indiretos às culturas. Os danosdiretos são causados pela sucção da seivaprovocando alterações no desenvolvimentovegetativo e reprodutivo das plantas. O insetotambém pode provocar o amadurecimentoirregular dos frutos, dificultando o reconhe-

cimento do ponto de colheita. A excreção desubstâncias açucaradas, característica dasmoscas-brancas e outros sugadores, cobre asfolhas e frutos servindo como substrato parao aparecimento da fumagina, que reduz oprocesso de fotossíntese (Fig. 33). O danomais sério é o indireto, como vetor de vírusque ocorre na maioria das culturas que amosca branca infesta. Esse fato ainda não foirelatado para a cultura da videira.

Fig.32. Mosca-branca atacando folhas devideira.

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Fig.33. Folhas e frutos com excreção desubstâncias açucaradas expelidas pelamosca branca.

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Frutas do Brasil, 35Uva Fitossanidade102

Fig.34. Adulto do bicudo-da-videira.

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Controle

Para o controle da mosca-branca,recomenda-se eliminar os hospedeirosalternativos do inseto localizados dentro oupróximo ao parreiral e evitar o escalona-mento de cultivos. Não existem inseticidasregistrados para o controle da praga na culturada videira. Em situações emergen-ciais, osmétodos de controle químico empregadospara hortaliças (França et al., 2000), a princípiopodem ser utilizados na cultura da videira.

Broca-do-caule-da-videiraNeoterius sp. (Coleoptera:Bostrichidae)

Descrição e bioecologia

A broca ou passador ocorre na RegiãoSul a partir de maio, sendo mais freqüentenos meses de junho, julho e agosto, quandoé observada realizando revoadas no crepús-culo. As fêmeas ovipositam na axila dainserção da folha. As larvas recém-eclodidaspenetram o tecido cortical e fazem túneis notecido lenhoso dos galhos. Não foramencontradas informações sobre a biologia doinseto na cultura da videira no Brasil.

Sintomas e danos

Os adultos e larvas perfuram os ramosdo ano, abrigando-se na região da medula docaule, e também a região axilar das gemas. Odano é observado pela inutilização dos ramosafetados, sendo mais severo nos enxertosnovos onde a praga faz perfurações, chegandoa matá-los. A presença do inseto ficaevidenciada pelo aparecimento de goma eserragem nas proximidades das galerias. Ascultivares mais preferidas são a Cabernet,Semillon e Riesling. Em setembro, a praga éencontrada, principalmente, nos ramosdeixados no chão após a poda.

Controle

Uma vez que estádios imaturos doinseto se abrigam na medula do caule,

recomenda-se retirar do vinhedo os restosda poda de inverno e queimá-los.

Bicudo-da-videiraHyphantus olivae (Vaurie,1963) (Coleoptera: Curcu-lionidae)

Descrição e bioecologia

O adulto é um besouro de aproxima-damente 12 mm de comprimento, de corcastanho-escura, com rostro ou bico típicoda família Curculionidae (Fig. 34). Os adultossão fracos, voadores e alimentam-se dasplantas à noite. Durante o dia, permanecemescondidos sob detritos no solo, sob a cascaou nas rachaduras dos mourões. As larvasvivem no solo.

Sintomas e danos

Os adultos alimentam-se das gemas,impedindo que ocorra a brotação.

Controle

A utilização de mourões de cimentocontribui para reduzir a infestação noparreiral, pois não oferecem abrigo aos

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103Frutas do Brasil, 35 Uva Fitossanidade

demora aproximadamente duas semanas,período que pode se prolongar por até77 dias dependendo das condiçõesambientais. A cópula é realizada no quartoou quinto dia após a emergência do adulto.Após o acasalamento e o amadurecimentodos ovários, a fêmea fecundada procura ofruto da planta hospedeira, na qual faz postura,continuando seu ciclo. Em resumo, o ciclocompleto (ovo-ovo), demora, em condiçõesideais, cerca de 30 dias, podendo se prolongaraté 3 meses ou mais. Os valores de biologiasão referenciais, pois dependem dohospedeiro em que a mosca foi criada e doperíodo do ano.

insetos. Os mourões de madeira não devemapresentar casca e, quando apresentaremrachaduras, deve-se fazer tratamento comprodutos químicos repelentes, tais como ocarbolineum.

Alguns viticultores têm empregadoarmadilhas para a captura do inseto, asquais são constituídas de cascas de árvoresou lascas de toras, colocadas a intervalosregulares nas entrelinhas. Todas as manhãs,na época de maior ataque (agosto aoutubro), as armadilhas são verificadas, eos insetos coletados, destruídos. Nãoexistem informações disponíveis sobrecontrole químico da praga.

Mosca-das-frutasAnastrepha fraterculus(Diptera: Tephritidae)

Descrição e bioecologia

A mosca-das-frutas apresentacoloração amarela, medindo cerca de8 mm de comprimento. Os adultospossuem duas manchas sombreadas nasasas, uma em forma de “S”, que vai da baseà extremidade da asa, e outra na forma de“V” invertido, no bordo posterior. A fêmeaapresenta, no extremo do abdômen, aterebra, que funciona como aparelhoperfurador e ovipositor (Fig. 35). Antes deiniciar a reprodução, as fêmeas necessitamamadurecer os ovários. Para isso, alimen-tam-se de substâncias à base de proteínase açúcares, que geralmente encontram nosfrutos de espécies como goiabas, pêssegos,ameixas, uvas, pêras, nectarinas e outras,cultivadas ou nativas. A oviposição de A.

fraterculus é isolada, colocando um só ovoa cada postura. O número médio de ovoscolocados por fêmea é de 400, sendodepositados cerca de 30 ovos por dia numperíodo de aproximadamente 65 dias. Apósa oviposição, as larvas eclodem em 3 a 4dias alimentando-se nas bagas da uva. Aslarvas passam por três instares até a fase depupa, que ocorre no solo e dura de 10 a 15dias no verão, e até 30 a 45 dias no inverno.O período larval, na temperatura de 25ºC,

Fig.35. Moscas-das-frutas, com destaquepara o ovipositor na fêmea.

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Sintomas e danos

A mosca-das-frutas ataca princi-palmente uvas para mesa. O ataque é maiorem cultivares tardias. O dano consiste naqueda prematura dos frutos, depreciandocomercialmente os cachos. A picada doinseto é imperceptível a olho nu, porém,em uvas brancas, pode-se observar, atravésda cutícula semitransparente, as galeriasformadas pela alimentação das larvas.A baga é destruída no momento da saídada larva para empupar.

Controle

Não existem informações específicasde manejo e controle da praga para a culturada videira. As recomendações, adaptadas deoutras culturas, são as seguintes:

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Frutas do Brasil, 35Uva Fitossanidade104

Fig.36. Armadilha para monitoramento damosca-das-frutas.

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• Monitoramento dos adultos atravésde armadilhas do tipo McPhail (Fig. 36)contendo atrativo alimentar como suco deuva ou vinagre de vinho tinto a 25%.O atrativo deve ser renovado semanal-mente, no momento da avaliação. Como apraga normalmente vem de fora doparreiral, recomenda-se instalar as armadi-lhas (4/ha) nas bordas do vinhedo. Outroatrativo que pode ser empregado é a torula,utilizando-se 4 pastilhas por litro de água.

• A partir da constatação da presençado inseto, deve-se fazer aplicação de iscatóxica em 25% da área do parreiral e repeti-la, semanalmente, ou logo após cada chuva.A isca é formulada com proteína hidrolizadaou melaço a 7%, adicionando-se um inseti-cida na dosagem comercial (Tabela 4).

• Os períodos de carência dos inseti-cidas devem ser respeitados.

• Em pequenos parreirais, o ensaca-mento dos cachos pode ser empregado paracontrolar a praga.

Vespas e abelhas

Vespas e abelhas são insetos benéficosao homem, porém, em virtude da escassezde alimentos durante o verão, acabamindo buscá-los nos cachos de uva emmaturação. As vespas ou marimbondospossuem mandíbulas bem desenvolvidas erompem a película das bagas para sugar osuco que, ao extravasar, atrai grandequantidade de abelhas (Fig. 37). As abelhasacabam afugentando as vespas da bagarompida, levando-as a romper outra bagaem seguida, até secarem todo o cacho(Fig. 38). As principais vespas e abelhasque atacam a videira são Synoeca syanea,Polistes spp., Polybia spp., Apis mellifera eTrigona spinipes.

O ataque de vespas e abelhas aoscachos de uva deve-se à falta de alimento(floradas) no período de maturação dauva, que vai de dezembro a março. Estesinsetos, preferem néctar a qualquer exudatoadocicado, sendo a primeira fonte dealimento flores e não frutos. A falta defloradas está associada à ausência de matasnativas próximas aos parreirais, queforneceriam flores durante os meses deverão. Outra situação comum, é a falta deplanejamento dos apicultores, que muitasvezes, superpovoam as áreas próximas aosvinhedos.

Controle

Plantio de áreas marginais aos vinhe-dos de plantas como o trigo mourisco ougirassol, que florescem no mesmo períodode maturação da videira. O plantio do trigomourisco pode ser iniciado na primeira semanade dezembro, escalonando-se o plantio acada 15 dias. Essa prática irá suprir as abelhasde alimento no período crítico de ataque.

• Quando o número médio de insetosatingir mais de um adulto por armadilha/semana, deve-se realizar aplicação deinseticida em cobertura total (Tabela 4).Após a pulverização total da área, a iscatóxica deve continuar sendo empregada, bemcomo o monitoramento da praga. O controledeve ser repetido somente quando apopulação (detectada através das armadilhas)voltar a atingir o nível de controle, respei-tando-se um intervalo mínimo de 15 diasentre as aplicações de inseticidas em cober-tura total.

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105Frutas do Brasil, 35 Uva Fitossanidade

As matas próximas aos parreirais devemser reflorestadas com espécies comoeucalipto, angico, canela-lajiana e sassafrás,louro, pau-marfim, cambuim, maricá,fedegoso, carne-de-vaca, palmeiras e butiás,ampliando a fonte de alimento para essasespécies. Também pode ser fornecidoalimento artificial às abelhas em come-douroscoletivos.

Fig.38. Bagas rompidas em razão do ata-que de vespas e abelhas.Fig.37. Ataque de vespas e abelhas em uva.

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Quando possível, ensacar os cachosde uva próximo à colheita. Em últimocaso, empregar fungicidas repelentes àsabelhas, como o captan.

A destruição dos ninhos de vespas eabelhas deve ser feita com muito critério,pois as mesmas são valiosas auxiliares napredação de pragas e polinização deculturas.