7 Carlos Lacerda Proposta Udenista Luciana Lamblet Subtitulo VF

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    Revista Eletrnica Novo Enfoque, ano 2012, v. 15, edio especial, p. 34 39

    CARLOS LACERDA E A PROPOSTA UDENISTA DE POLTICA

    ECONMICA INTERNACIONAL DO BRASIL COM OS ESTADOS UNIDOS1

    PGAS, Karen Garcia

    2

    LAMBLET, Luciana

    3

    Palavras-chave: UDN. Economia Internacional. Relao Brasil-EUA.

    O governo Goulart foi marcado por inmeras crises, o que mesmo com a

    exceo de qualquer julgamento partidrio significou acima de tudo a ascenso dosmovimentos sociais, ou seja, a emergncia popular a todos os nveis, em ameaa

    ordem estabelecida. No plano da inspirao ideolgica surgia uma nova concepo de

    nacionalismo, que se afastava daquela dada a Juscelino Kubitschek e prxima postura

    da ltima fase getulista. O corte imperialista passa a identificar toda e qualquer posio

    nacionalista, tanto no plano da economia como no plano da poltica. A questo discutida

    agora o papel do Brasil como tradicional aliado dos Estados Unidos. Para uma UDN

    ortodoxa consistia num alinhamento poltico incondicional com os Estados Unidos e oreforo proposta da poltica externa independente iniciada no governo de Jnio

    Quadros, antecessor de Joo Goulart.

    Essa abertura da UDN ao capital estrangeiro e a sua intensa oposio ao

    monoplio do capital estatal no desenvolvimento de uma poltica industrial,

    principalmente no que relacionou a rea dos recursos naturais, como foi o caso da

    implantao de uma poltica industrial de petrleo na Era Vargas, trouxe ao partido a

    alcunha de entreguistas, pelos nacionalistas, varguistas, a favor de um monoplio estatal

    no desenvolvimento de uma poltica industrial. Poltica essa que para a sua eficincia

    envolvia um trip com relao a trs capitais: o estadual, o privado e o estrangeiro. O

    que no Governo Goulart tomou propores ainda maiores nos embates entre

    nacionalistas e udenistas a respeito do capital estrangeiro, devido crise financeira que

    assolava ao Brasil e a relao que o Brasil matinha de aliana econmica com os

    1 - Resumo expandido do trabalho apresentado no IX Simpsio de Histria da Universo.2

    - Acadmica do Curso de Histria e Pesquisadora do PIBIC&T da Universidade Castelo Branco.3 - Professora da Universidade Castelo Branco. Doutoranda em Histria Social pela Universidade FederalFluminense.

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    Estados Unidos. Essa relao econmica entre Brasil e EUA foi vista como uma forma

    do governo americano controlar a economia e a poltica brasileira atravs da ajuda

    econmica com crditos e recursos financeiros, principalmente no que se referiu ao

    estmulo ao desenvolvimento industrial, pois vivendo uma situao de grande crise

    econmica e os industriais brasileiros no possuindo capital e subsdios necessrios para

    fazer progredir tal empreendimento, havia a necessidade de se contar com a ajuda do

    crdito e capital externos.

    A UDN, que mantinha relaes com os Estados Unidos, em que seus partidrios

    regionais alegavam justamente a busca do capital estrangeiro para financiar obras de

    desenvolvimento de infraestrutura e econmico de suas respectivas regies, assim como

    no mbito da poltica nacional econmica em que seus partidrios elaboravamprogramas com abertura para capital estrangeiro sujeito sano da lei. O problema

    vinha dessa relao entre a crise econmica, a ascenso popular to combatida pelos

    udenistas, que diziam caminhar para a desordem e que seria uma revoluo com vias a

    implantao de um regime comunista. Deste modo, a relao econmica da UDN com

    os Estados Unidos era vista de uma forma a produzir benefcios econmicos para as

    suas campanhas polticas, alm da unio na luta de combate ao comunismo, fazendo

    com que as esquerdas acusassem os udenistas de conceder interveno poltica emilitar americana no cenrio poltico-econmico brasileiro.

    Com a emergncia popular, houve a intensificao do movimento sindical, com

    a ocorrncia multiplicada de greves, inclusive greves polticas em torno das reformas de

    base e com o destaque para o surgimento de lideranas autnticas anti-peleguistas e a

    defesa do mandato sindical. Houve tambm uma politizao crescente das associaes

    estudantis com novas propostas de reformas universitrias e tambm na cultura popular

    com a mobilizao dos setores rurais, no mais isolados como antigamente, atravs dossindicatos e das Ligas Camponesas, com as consequentes ameaas ao sistema senhorial,

    com greves inditas e invaso de terras.

    No campo poltico-econmico e social, UDN e PSD se configuram como

    partidos semelhantes no que tange s linhas gerais dos interesses econmicos, a

    principal diferena entre ambos se configura: em uma postura antiestatista e favorvel

    ao capital estrangeiro udenista, enquanto os pessedistas defendem uma linha mais

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    progressiva ao mesmo tempo, e com igual nfase, a interveno estatal e o capital

    estrangeiro. Isso provoca no quadro do cenrio poltico brasileiro a unio de partidos

    adversrios defendendo interesses afins e a divergncia entre grupos do mesmo partido

    como a Bossa Nova, no caso udenista, e a Ala Moa, no caso pessedista.

    Porm no que tange aos interesses econmicos da UDN e do PSD tambm

    importante atentar para as peculiaridades das sees regionais e de mbito nacional; os

    primeiros que vo causar justamente os conflitos ideolgicos-pragmticos do partido,

    que ser o motivo justamente da separao da Bossa Nova da UDN no governo Goulart.

    Assim, as tendncias clientelsticas da UDN e do PSD so semelhantes no interior da

    regio Leste (Bahia, Minas Gerais, Esprito Santo) e na regio Norte. No entanto, na

    zona canavieira do Nordeste, no Cear e nas zonas de pecuria mais antiga da regioCentro-Oeste a poltica de clientela da UDN teria um sentido conservador senhorial,

    enquanto o PSD revelaria um clientelismo mais consensual, no interior da regio

    Centro-Leste e nas regies novas da Regio Centro-Oeste

    A ao econmica do Ibad (Instituto Brasileiro de Ao Democrtica) para o

    favorecimento com fundos de origens principalmente americanas dos candidatos

    ostensivamente antijanguistas e anticomunistas da Ao Democrtica Parlamentar

    tornou-se objeto de CPI (em junho de 1964, relatada pelo udenista Pedro Aleixo e

    presidida pelo pessedista Ulisses Guimares. O financiamento da campanha imprensa,

    televiso, propaganda, transportes etc. seria depois por vrios beneficirios e pelo

    prprio embaixador americano Lincoln Gordon. Porm o efeito foi desastroso: o PTB

    duplicou sua bancada no Congresso (s na Guanabara, a Aliana Trabalhista Socialista

    chega ao dobro dos votos da UDN, mesmo com os xitos administrativos do governo de

    Lacerda), a Frente Parlamentar Nacionalista se afirmou, as reformas de base passaram a

    dividir as opinies no Congresso, associado campanha pela volta do presidencialismo.

    Logo aps as eleies de outubro, em nota oficial aos brasileiros, a direo da

    UDN se afirma totalmente contrria poltica trabalhista de Goulart. Sendo contra o

    reajuste dos salrios, que diz no ser feito de forma planejada, levava a vrias

    distores, que inflamam as tenses sociais. Com isso, os trabalhadores pouco

    qualificados recebem uma bem menor remunerao em comparao aos professores

    universitrios e categoriais das patentes das Foras Armadas. So reiteradas denncias

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    j tradicionais de corrupo administrativa com a conivncia de personagens do

    governo e condena a ilegitimidade da ao das organizaes sindicais, que so

    oficiosamente convocadas para as greves polticas e, principalmente, aponta a ciznia

    nas Foras Armadas, distraindo de sua funo de garantidoras da ordem (25/11/ 62,

    Arquivo UDN). As reformas de base sero apenas aprovadas se estiverem fora da rea

    da demagogia e da mistificao e respeitadas nossas tradies crists e democrticas

    (25/11/62, Arquivo UDN). Assim como tambm quanto a fase final do segundo

    governo Vargas, a oposio udenista tambm ataca diretamente a figura pessoal do

    presidente. Embora a defesa do regime parlamentarista constasse nos programas

    udenistas desde a sua fundao, a UDN se divide quanto ao plebiscito (a 6/1/63): os

    fiis ao parlamentarismo permaneceram lderes como Pedro Aleixo, Milton Campos e

    Adauto Lcio Cardoso; favorveis ao presidencialismo, Afonso Arinos, e os

    governantes Juraci Magalhes, Carlos Lacerda e Magalhes Pinto: estes interessados

    pelo fato de objetivarem as suas prprias candidaturas sucesso presidencial. O

    resultado do plebiscito deu a vitria esmagadora ao presidencialismo e reforou

    objetivamente os poderes de Joo Goulart. Assim, Goulart viu restaurada a legitimidade

    popular de seu mandato e contribuiu para a exacerbao da luta oposicionista e para o

    envolvimento de altos chefes militares na conspirao para a derrubada do governo.

    A oposio dos udenistas aos projetos de reforma agrria e a emenda

    constitucional, em nveis diferentes entre si de radicalizao, baseiam-se em quatro

    tipos de motivaes semelhantes, porm com igual nfase num determinado ponto, de

    acordo com a ala que defende a Bossa Nova ou a tradicional ruralista: a defesa de

    especficos interesses econmicos contra a desapropriao das terras ou contra o modo

    de indenizao; a defesa de especficos interesses econmicos, contra a extenso da

    legislao trabalhista aos trabalhadores rurais; a denncia da reforma constitucional

    como caminho para a subverso comunista, atravs, inclusive, da ampliao dos poderes

    presidenciais de Joo Goulart e a denncia da reforma constitucional como golpe de

    poder eleitoral. O ltimo ponto se refere ideia do udenista Aliomar Baleeiro, de que a

    emenda constitucional daria uma poderosa arma poltica para que Jango fosse o rbitro

    quando a desapropriao, o que levaria a uma quebra do PSD e da UDN.

    Assim o debate em torno do capital estrangeiro gerou tanto polmica quanto

    agrria e desuniu ainda mais a UDN. Essas discusses acaloravam mais o debate entre

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    parlamentar entre PSD e UDN que se dividiam em dois principais projetos o de Celso

    Brant, limitando a remessa de lucros (20/11/61), e de Srgio Magalhes, impedindo

    agncias pblicas de conceder emprstimos ao Brasil a firmas de propriedade ou

    controlada por estrangeiros (3/11/63). Assim, devido aos efeitos que a campanha

    nacionalista produziu nos partidos de centro e de centro-direita, dava-se um alto nvel de

    desintegrao udenista no tocante votao nominal no Congresso.

    na Conveno Nacional de Curitiba que o deputado Jos Aparecido apresenta

    o manifesto da Bossa Nova a favor das reformas agrria, tributria, bancria e urbana;

    da poltica externa independente; da democratizao do ensino, da consolidao de

    Braslia, do monoplio estatal do Petrleo, a Eletrobrs e ao Plano Trienal do governo

    (24/4/63, Arquivo UDN). A Bossa Nova defende a reforma agrria com emendaconstitucional, incluindo at mesmo a tese do PTB de arrendamento compulsrio;

    enquanto para os conservadores e lacerdistas a Constituio intocvel. No

    encerramento da Conveno, Bilac Pinto, o presidente do partido, conclama as Foras

    Armadas para interromper o curso visvel desse processo revolucionrio, restituindo a

    famlia brasileira a tranquilidade, reiterando os ataques contra o governo infiltrado de

    comunistas (28/4/ 63 Arquivo UDN).

    Logo, pode-se perceber o quanto importante foi a participao da UDN na

    poltica e na economia brasileira, principalmente durante o governo de Joo Goulart

    quanto s reformas de base, principalmente no que tange economia como a agrria,

    tributria e trabalhista. Nos programas elaborados e debates parlamentares e na votao

    nominal no Congresso.

    As brigas entre esquerda e direta que tanto caracterizou o governo de Jango

    tambm foi a marca da ao poltica udenista, nos vetos das propostas nos congressos e

    na reorganizao dos setores sociais principalmente militares e aliana com os Estados

    Unidos em nome da ordem e contra o comunismo que levaria deposio do governo

    de Joo Goulart.

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    Problemtica e Enquadramento Conceitual e Terico

    O trabalho se prope a compreender as propostas udenistas de relao

    econmico-diplomtica do Brasil com os Estados Unidos. E visa tambm

    problematizao do conceito de entreguismo, alcunha dada aos partidrios da UDN eque se tornou de senso comum na Historiografia.

    Procedimentos Metodolgicos

    1- Arquivo UDN. Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro:BOLETIM DA UDN. O Preo da Liberdade a Eterna Vigilncia. 1952. 7

    Caderno. IHGB

    2- Arquivo Nacional.LACERDA, Carlos. (1961) A UDN na Encruzilhada. (mensagem a Conveno

    do Recife), Rio, folheto impresso, sem outras referenciais.

    3- Biblioteca Nacional.Jornal. TRIBUNA DA IMPRENSA. 1950. 2 edio. v: 2

    Resultados Parciais

    A influncia efetiva do pensamento udenista na poltica econmicabrasileira; com a implantao de vrios dos seus projetos partidrios direta

    ou indiretamente.

    Os projetos udenistas no estiveram distantes em muitos casos dos processosImplantados; o liberalismo udenista no se tornou totalmente derrotado.

    RefernciasBENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. A UDN e o udenismo. Rio de Janeiro: Paz

    e Terra, 1981.

    DELGADO, Lucilia de A. N. & FERREIRA, Jorge (org.). O tempo da experincia

    democrtica: da democratizao de 1945 ao golpe civil-militar de 1964. Rio de

    Janeiro: Civilizao Brasileira, 2008.