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70 anos sobre o fim da Segunda Guerra Mundial – Crimes de Guerra,
Crimes contra a Paz e Crimes contra a Humanidade: Interpretações,
análises e (in)conclusões.
Introdução:
Caro leitor, gostaria de iniciar este artigo com uma pergunta: Qual seria sua
interpretação caso você abrisse um jornal em Junho de 1941 e lesse o seguinte artigo?
Figura 1 - Jornal Correio de Uberlândia - Julho de 1941
Parece ser um jornal com apologia escancarada ao regime nazista, não é
verdade? Pasmem: Este artigo foi publicado no principal jornal da minha cidade, em
Julho de 1941. Nota-se claramente que o Jornal Correio de Uberlândia não só legitima a
Operação Barbarossa, como também prega que Hitler “(...) Está prestando ao universo
um serviço inestimável”.
Passando por este crivo, considerando os mais variados anacronismos possíveis
acerca do artigo neste jornal em comparação aos estudos atuais sobre Segunda Guerra
Mundial, podemos ter as seguintes conclusões:
1º: Independente de qualquer informação de guerra, vinda diretamente
fonte do jornal, era impossível saber ou estabelecer o que realmente se
passava durante a ofensiva fulminante da Wehrmatch em Junho de
1941, levando-se a crer que Hitler tinha razão ao lutar munido com o
benefício da dúvida, e de forma leal e justificável, uma vez que o Pacto
Ribbentropp-Molotov (que tornaram Alemanha e URSS aliadas em
1939) poderia ser quebrado a qualquer momento pela URSS.
2º: O status quo do regime de Stalin, embora reduzido a rumores de
atrocidades e horrores durante os expurgos da década de 30,
legitimariam qualquer ação de guerra de agressão em nome da
destruição do “bolchevismo ateu”.
3º: Que a URSS também fez uma guerra de agressão contra a Finlândia
em 1940 e quase foi derrotada, mostrando que Stálin não era flor que se
cheire.
4º: etc.
E bota etc nisto... As conjecturas, as inconclusões, as interpretações, a “névoa
de guerra” acerca da notícia, tudo leva a crer que o ano de 1941 seria um ano vital para
o fim do comunismo no planeta.
Mas geralmente, ao analisar mapas, tropas, movimentações, estratégias, táticas
e tudo o que tange ao teatro de operações, é comum se esquecer de um item vital: a
população civil no meio deste fogo cruzado.
Eis a triste realidade: Pode parecer difícil de entender, mas as únicas
campanhas rápidas com certo grau “tolerável” de letalidade civil na Segunda Guerra
Mundial ocorreram em apenas tres momentos: na França em 1940, no Norte da África
entre 1941 a 1943 e na Sicília em 1943. Digo “tolerável” pelo seguinte motivo: Quando
os planos dão certo, os exércitos marcham, o inimigo é empurrado ou cercado, e a linha
de frente avança continuamente até o fim. Mortes de civis a reveria, com bombas
incendiárias queimando bairros inteiros ou execuções sumárias de civis, embora
existentes no front, são mínimas.
O problema é quando os planos não vão de acordo com o planejado: Linhas de
frente tornam-se instáveis, atingem funis inexpugnáveis, e por fim o front fica
estagnado, geralmente em uma cidade declarada “Fortaleza” pelo país que a defende,
selando o destino de seus habitantes...
E quantas cidades não sucumbiram a estas batalhas? Stalingrado, Dresden,
Berlin, Varsóvia, Leningrado, Kharkov, Nanquim, Tóquio... A lista se estenderia
facilmente por pelo menos 15 linhas.
O que se dizia sobre fatalidades que atingiam civis?
Tem-se um fenômeno conhecido como conscrição forçada de homens,
geralmente em meio ao desespero de uma batalha decisiva.
Simplesmente o líder supremo da nação pegava todos os civis em
condições de lutar e jogavam estes indivíduos para os mais cruéis
campos de batalha. Stálin é popularmente conhecido pela frase “Uma
morte, uma tragédia. Milhões de mortes são estatísticas”. Kruschov,
responsável pela defesa de Stalingrado em seu momento mais crítico,
teria dito em Setembro de 1942: “Tempo é sangue”, iniciando o
recrutamento em massa de civis para o combate armado, sem estes
civis terem treinamento nenhum. Mao Tsé-Tung, ao liderar civis
dentro da guerrilha na China fala: “Todo poder emana da boca de um
fuzil”. Não obstante, Churchill também conclama os civis da Grã-
Bretanha ao dizer: “Não nos renderemos”, durante a batalha da
Bretanha entre 1940 à 1941. Hitler não hesitou em utilizar a
Volkssturm entre Março a Abril de 1945, com civis em combates
armados com faixas etárias que beiram ao escândalo em mentes
sensíveis aos direitos humanos: Crianças de 8 anos à idosos com 75
anos.
Figura 2 - Um adolescente de 14 anos, pertencente a Volkssturm (Milícia Nacional Alemã) recebe sua Cruz de ferro, por abater um tanque soviético nos subúrbios de Berlim.
A morte de civis na linha de frente volta e meia era creditado como
algo circunstancial ou por puro e simples azar do sujeito que tentava
sobreviver em meio ao caos. Fogo cruzado, bombas, franco-
atiradores... Enfim, tudo era “justificável” como obra do azar: o civil
pego no momento errado, na hora errada...
Ademais, como proposta desta nova seqüência de artigos, haverá uma tentativa
sistemática de abordar todos os lados possíveis acerca de três conceitos elaborados pela
ONU, após o fim da Segunda Guerra Mundial:
Crimes de Guerra: caracterizado pelos ataques de uma das partes
beligerantes (seja ela contra humanos ou bens materiais) em objetivos
não-militares; utilização de armas proibidas, que causam sofrimento
prolongado de um soldado ou civil faltamente ferido.
Crimes contra a Paz: caracterizado por uma nação que planeja, prepara,
inicia e se engaja até o fim em uma guerra de agressão, ou em uma
guerra que viole garantias de tratados de paz ou acordos.
Crimes contra a Humanidade: esta é fácil e tristemente chocante –
Genocídios, caracterizados por atos de perseguição, expurgo, agressão,
assassinato, de uma etnia e/ou grupo religioso.
A respeito da Segunda Guerra Mundial, começaremos pelo Holocausto. A
seguir, uma introdução sobre o tema, que será amplamente discutido desde sua origem,
até a realidade atual.
Parte 1 – O Holocausto.
Caro leitor: Sem meias palavras, não tem uma forma fácil de dizer isto pelo
artigo através de uma frase com teor mais “delicado”. Se você tem aversão a cenas
chocantes, recomendo que não olhe para a seqüência de fotos a seguir. Até mesmo para
historiadores militares, acostumado com fotos e cenas de pessoas destruídas pela guerra,
estas fotos são horríveis, quase insuportáveis, mas que dá uma clara noção sobre o que
estava acontecendo em suas imagens. Se você foi advertido e realmente quer ver, é por
sua conta em risco. Para entender bem o que aconteceu, leia as legendas logo abaixo das
fotos:
Em 15 de Dezembro de 1941, na Letônia...
Figura 3 - Em uma praia de dunas, com areia bem branca, estão sentadas dezenas de mulheres e crianças judias, apertando-se umas as outras devido ao frio glacial de Dezembro e o medo. Estamos na cidade de Liepaja, na Estônia, à beira do Mar Báltico.
Figura 4 - As mulheres são obrigadas a se despir, deixando suas vestimentas em uma pilha de roupa, pertencentes a outras mulheres. A sensação térmica era de aproximadamente -10ºC. Algumas destas mulheres e crianças choram, como se antevessem o que estava por vir.
Figura 5 - Quatro mulheres e uma menina posam para foto, provavelmente coagidas por um Oficial da SS. Nota-se uma garotinha ao lado da mãe tentando se esconder. Na parte superior direita, temos uma mulher de aproximadamente 20 anos com um bebe no colo. Um dos Oficiais relata que naquele momento separou duas balas de sua Luger.
Figura 6 - Quatro mulheres nuas em meio ao grupo anterior passam correndo em frente aos policiais letões. Algumas parecem não entender o que está acontecendo.
Figura 7 - Crianças são obrigadas a correr para a direção determinada pelos policiais letões... Percebam no rosto deles: choro, medo e terror... Motivo? A fileira que antecedia a vez deles recebe um tiro na nuca de oficiais da SS e caem dentro de um fosso. Estas crianças serão as próximas a serem executadas.
Figura 8 - Uma fileira de mulheres logo receberão o Coup-de-Glâce do pelotão de fuzilamento.
Figura 9 - Atrás da fileira, o poço propriamente dito.
Figura 10 - Após a execução, um "abutre" dispara em pessoas que ainda apresentavam sinais de vida. Este mesmo Oficial gritava "próximo" para a fileira de prisioneiros.
Eu, como autor deste artigo e professor, sempre penso duas vezes antes de
exibir tal conteúdo a fim de explicar o Holocausto... Querendo ou não, infelizmente há
quem diga que o Holocausto Judaico não existiu durante a Segunda Guerra Mundial, o
que é irônico, uma vez que o extermínio sistemático em massa de judeus foi um dos
crimes mais bem documentados da história (e pelos próprios nazistas).
Sem retirar o mérito da polêmica em torno do Holocausto, este será o
primeiro tema a ser abordado nesta série de artigos. E adianto que estas fotos, com
todo o teor aterrorizante inerente ao genocídio, são apenas a ponta do iceberg.
Por fim, deixe seus comentários, dúvidas ou sugestões. Sua participação é
muito importante para nós.
Por Daniel Ramsés,
Bacharel e Licenciado em História, pesquisador e professor na rede Estadual de Ensino
em Minas Gerais.
Fontes: DAVIES, Norman. Europa na Guerra (1939 – 1945). Tradução: Victor Paolozzi. Rio de
Janeiro: Record, 2009 – pp 293 – 297.
VALLAUD, Pierre. O Cerco de Leningrado. Tradução: Angêla M. S Corrêa. – São Paulo: Editora
Contexto, 2012 – pp 172 – 173.
Wikipédia (em inglês).
Fonte das fotos:
Jornal Correio de Uberlândia – Arquivo particular do próprio autor.
Volkssturm: Google images.
Sobre o Massacre de Liebaja: O Cerco de Leningrado in Google images.