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Orelhas: Nos últimos anos, o número de turistas que visitam áreas naturais tem aumentado de forma surpreendente. Entretanto, essa tendência não tem sido acompanhada pelo planejamento e administração adequados aos locais visitados, principalmente em áreas ecológica e culturalmente frágeis. Publicada originalmente pela The Ecotourism Society, esta obra apresenta uma série de abordagens atuais sobre planejamento e gestão, com o objetivo de fornecer uma visão mais abrangente possível do ecoturismo. Assim, os autores apresentam técnicas específicas para tratar de questões importantes: • planejamento para o ecoturismo; • elaboração de recomendações; • maximização de benefícios econômicos; • administração de visitantes; • projetos de instalações de baixo impacto; • aumento da participação da comunidade; • garantia de benefícios para a comunidade e tantas outras. Os capítulos apresentam estudos de caso e inúmeros exemplos que ilustram o atual estágio de desenvolvimento do planejamento e gestão do ecoturismo, oferecendo aos leitores os elementos básicos para a elaboração de projetos ecoturísticos bem-su-cedidos, e exploram sua aplicação no contexto de exemplos práticos extraídos de experiências em diversos países de todo o mundo. 4° capa: Com a iniciativa de traduzir Ecoturismo: um guia para planejamento e gestão, editado pela The Ecotourism Society, a Editora SENAC São Paulo procura oferecer a estudantes e profissionais da área um guia prático para a implementação dos princípios do ecoturismo.

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Ecoturismo : um guia para planejamento e gestão / Kreg Lindberg, Donald E. Hawkins (editores) ; prefácio de David Western ; tradução de Leila Cristina de M. Darin ; revisão técnica de Oliver Hillel; 3a ed. - São Paulo : Editora SENAC São Paulo, 2001. Título original: Ecoturism : a guide for planners and managers. Bibliografia. ISBN 85-85578-58-0 1. Ecologia 2. Turismo 3. Turismo-Administração I. Lindberg, Kreg II. Hawkins, Donald E. III. Western, David. 95-3364 __________________ CDD-338.4791068 Índices para catálogo sistemático: 1. Ecoturismo : Planejamento e gestão 338.4791068

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ECOTURISMO

UM GUIA PARA PLANEJAMENTO E GESTÃO

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The Ecotourism Society unindo conservação e viagem no mundo inteiro The Ecotourism Society é uma organização internacional sem fins lucrativos, inteiramente dedicada à localização de recursos e à construção do conhecimento especializado necessário para fazer do turismo um meio viável para a conservação e o desenvolvimento sustentável. A organização presta serviços para operadores turísticos, profissionais ligados à conservação, administradores de parques, autoridades governamentais, proprietários de alojamentos, guias, pesquisadores, consultores e outros profissionais que, no mundo todo, visam a implementar projetos ecoturísticos. A Sociedade está documentando as melhores técnicas para implementar princípios ecoturísticos através da colaboração de uma crescente rede global de profissionais atuando ativamente na área. A organização estabeleceu os seguintes objetivos gerais a longo prazo: � Criar programas de educação e treinamento. � Oferecer serviços de informação. � Estabelecer padrões e critérios para a profissão. � Formar uma rede internacional de instituições e profissionais. � Pesquisar e desenvolver modelos avançados na área do ecoturismo. Para maiores informações sobre os projetos da The Ecotourism Society e para afiliação contatar: THE ECOTOURISM SOCIETY P.O. Box 755 North Bennington, VT 05257 Tel 001 (802) 447-2121 / Fax 001 (802) 447-2122 © 1993. The Ecotourism Society. Primeira Edição Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reprodu-zida através de quaisquer meios, sem permissão por escrito do editor: The Ecotourism Society, P.O. Box 755, North Bennington, VT 05257. ©1995 SENAC-SP Direitos para a Língua Portuguesa reservados para o SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - Administração Regional no Estado de São Paulo.

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ECOTURISMO UM GUIA PARA PLANEJAMENTO E GESTÃO

3a edição Editores

Kreg Lindberg (Pesquisador Associado, The Ecoturism Society)

Donald E. Hawkins

(Diretor do Instituto Internacional de Estudos sobre Turismo, Universidade George Washington)

Prefácio de David Western

Tradução de Leila Cristina de M. Darin Revisão técnica de Oliver Hillel

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ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DO SENAC NO ESTADO DE SÃO PAULO Presidente do Conselho Regional: Abram Szajman Diretor do Departamento Regional: Luiz Francisco de Assis Salgado Superintendente de Operações: Darcio Sayad Maia Área de Referenda: Centro de Educação em Turismo e Hotelaria/SENAC-SP EDITORA SENAC SÃO PAULO Conselho Editorial: Luiz Francisco de Assis

Salgado Clairton Martins Luiz Carlos Dourado Darcio Sayad Maia A. P. Quartim de Moraes

Editor. A. P. Quartim de Moraes ([email protected]) Coordenação de Prospecção Editorial: Isabel M. M. Alexandre ([email protected]) Coordenação de Produção Editorial: Antonio Roberto Bertelli ([email protected])

Capa: Sidney Itto Projeto Gráfico: Marina M. Watanabe

Gerência Comercial: Marcus Vinícius B. Alves ([email protected]) Vendas: José Carlos de Souza Jr. ([email protected]) Administração: Rubens Gonçalves Folha ([email protected]) ESTA OBRA FOI COMPOSTA PELA LATO SENSO - BUREAU DE EDITORAÇÃO EM TIMES NEW ROMAN E IMPRESSA PELA BARTIRA GRÁFICA E EDITORA EM OFFSET SOBRE PAPEL OFFSET 90G/M2 DA COMPANHIA SUZANO EM MARÇO DE 2001. Todos os direitos desta edição reservados à Editora SENAC São Paulo Rua Rui Barbosa, 377 - le andar - Bela Vista - CEP 01326-010 Caixa Postal 3595 - CEP 01060-970 - São Paulo - SP Tels. (11) 287-7615 / 284-7957 / 251-5876 / 251-5562 Fax (11) 289-9634 E-mail: [email protected] Home page: http://www.sp.senac.br

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sumario Prólogo .................................................................................... 9 Prefácio: Definindo Ecoturismo

David Western ........................................................ 13

Introdução: O Ecoturismo como um Fenômeno Mundial Héctor Ceballos-Lascuráin .................................. 23

1. O Planejamento Ecoturístico para Áreas Protegidas Elizabeth Boo .......................................................................... 31 2. Desenvolvendo e Implementando Diretrizes Ecoturísticas para

Áreas Naturais e Comunidades Vizinhas Sylvie Blangy e Megan Epler Wood ................................. 59

3. A Administração do Visitante: Lições do Parque Nacional de Galápagos George N. Wallace.............................................................. 95

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8 ecoturismo 4. Questões Econômicas na Gestão do Ecoturismo

Kreg Lindberg e Richard M. Huber Jr ............................. 143

5. Uma Janela para o Mundo Natural: O Projeto de Instalações Ecoturísticas David L. Andersen ............................................................ 197

6. Etapas Básicas para Incentivar a Participação Local em Projetos de Turismo de Natureza Katrina Brandon............................................................... 225

7. O Ecoturismo e o Desenvolvimento da Comunidade: A Experiência de Belize Robert H. Horwich, Dail Murray, Ernesto Saqui, Jonathan Lyon e Dolores Godfrey.................................... 257

Editores e Colaboradores ...................................................... 285 Índice Analítico de Países e Locais....................................... 291

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prólogo

Nos últimos anos, o número de turistas que visitam áreas naturais tem aumentado de forma surpreendente. Infelizmente, essa tendência não tem sido acompanhada pelo planejamento e administração ade-quados dos locais visitados, principalmente em áreas ecológica e culturalmente frágeis. Apesar das conferências e das inúmeras publi-cações dedicadas ao ecoturismo, poucas têm abordado os aspectos metodológicos do planejamento e gestão.

The Ecotourism Society (Sociedade de Ecoturismo) está publi-cando Ecoturismo: Um Guia para Planejamento e Gestão para suprir essa falha. Esta obra apresenta uma série de abordagens atuais sobre planejamento e gestão, com o objetivo de fornecer uma visão o mais abrangente possível do ecoturismo. Nossa intenção, porém, não é oferecer um guia completo, definitivo, sobre o seu desenvolvimento. Na verdade, esperamos que esta seja simplesmente a primeira de uma série de publicações sobre o tema. Estamos cientes de que o ecoturismo é uma área interdisciplinar ampla, que envolve muito mais do que os tópicos tratados aqui. Além disso, é um campo ainda em desenvol-vimento, e a expectativa é de um aprimoramento cada vez maior dos aspectos metodológicos.

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10 ecoturismo

Selecionamos um grupo de autores que são especialistas nessa área. Contudo, as visões e opiniões expressas pelos autores não são necessariamente as da The Ecotourism Society. Gostaríamos de ressaltar, ainda, que os estudos de casos não devem ser interpretados como definições do que é ou não é o ecoturismo, mas sim como ilustrações de aspectos específicos de gestão.

Gostaríamos de agradecer a todos aqueles que contribuíram para que esta publicação fosse possível. The Liz Clairbone, Art Ortenberg Foundation generosamente forneceu o financiamento básico para o projeto. Um agradecimento especial deve também ser dispensado aos autores e revisores. Dentre estes últimos destacam-se:

Ray Ashton Water and Air Research, Inc.

Rebeca Johnson Oregon State University

Robert Aukerman Colorado State University

Kurt Kutay Wildland Adventures

Miguel Cifuentes World Wildlife Fund

Jan Laarman North Carolina State University

Thomas Cobb New York State Department of Recreation and Historic Preservation

Boris Gomez Luna Manu Nature Tours

John Dixon The World Bank

Craig MacFarland Charles Darwin Foundation for the Galápagos Isles

Marco Vinicio Garcia Alan Moore University of Tennessee

Robert Healy Duke University

Paula Palmer

Art Pedersen Len Ishmael Development Planning Services David Richards

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prólogo 11 Jorge Roldán Inter-American Investment Corporation

Geoffrey Wall University of Waterloo

George Wallace Colorado State University

George Stankey Oregon State University

Michael Wells

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prefácio definindo ecoturismo

David Western

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O ecoturismo explodiu no mundo das viagens e da conservação como um tsunami, um verdadeiro maremoto; porém, suas origens são definitivamente mais evolutivas que revolucionárias. As raízes do ecoturismo encontram-se na natureza e no turismo ao ar livre. Os visitantes que, há um século, chegaram em massa aos parques nacionais de Yellowstone e Yosemite foram os primeiros ecoturistas. Os viajantes pioneiros que se embrenharam por Serengeti há 50 anos, e os aventureiros caminhantes do Himalaia que acamparam no Anapur-na 25 anos mais tarde eram tão ecoturistas quanto os milhares que hoje fotografam os pingüins da Antártida, acompanham a migração em grupo de Belize, ou dormem nas habitações comunitárias dos nativos de Bornéu.

O século XX assistiu a uma mudança drástica e incessante nas viagens a áreas naturais. A África é um bom exemplo. O safári de caça de 1909 de Theodore Roosevelt para capturar as maiores cabeças e chifres que ele pudesse encontrar, é um exemplo clássico de sua época. Por volta da metade deste século, safáris fotográficos eram definitivamente mais populares do que as caçadas, embora também baseados nos "Big Five" (os cinco grandes mamíferos mais populares entre os caçadores: o leão, a zebra, o elefante, o kudu e o rinoceronte). Por

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16 ecoturismo volta dos anos setenta, o turismo de massa e individual, ainda interessado nos mamíferos grandes, estava depredando hábitats, molestando animais e destruindo a natureza. Hoje, esse comportamento está mudando. Mais visitantes estão conscientes do dano ecológico que podem provocar, do valor da vida natural e dos interesses das populações locais. Excursões especializadas - safáris de aves, competições esportivas em regiões naturais, caminhadas pela natureza e outros -são cada vez mais comuns. Esse grupo crescente, mas pequeno, constitui o que chamamos de ecoturismo. E, surpreendentemente, o ecoturismo está tornando toda a indústria de viagens mais sensível ao meio ambiente.

Mas ecoturismo é mais do que uma pequena elite de amantes da natureza. É, na verdade, um amálgama de interesses que emergem de preocupações de ordem ambiental, econômica e social. Vejamos a conservação, por exemplo. Foram-se os dias felizes nos quais o diretor geral do Parque Nacional de Yosemite mostrava satisfação ao constatar o número anual de visitantes. Nos últimos anos, os riscos de um fluxo elevado de visitantes às áreas naturais tornaram-se uma grande preocupação, e os conservacionistas têm trabalhado muito com o objetivo de aliar o turismo à preservação da natureza.

O turismo é hoje uma das maiores atividades econômicas do mundo - uma forma de pagar pela conservação da natureza e de valorizar as áreas que ainda permanecem naturais*. De que forma os dólares dos turistas podem reverter para a conservação e torná-la auto-sustentável, ou como o valor não-monetário que as pessoas atribuem às regiões naturais pode ser quantificado, é uma questão central de um novo ramo da economia verde: o desenvolvimento sustentável.

E, por fim, a responsabilidade social. Conservacionistas, economistas e turistas, todos compreendem que não se pode preservar a natureza à custa da população local. Como responsáveis pela terra — como aqueles que mais podem perder com a conservação -, os

* Ver dados sobre a indústria turística na "Introdução". (Nota do Revisor Técnico.)

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prefácio 17 moradores das comunidades locais devem participar do processo. Uma política justa e sensata e uma economia equilibrada devem ter como meta fazer dos moradores locais sócios e beneficiários da conservação, e não seus inimigos implacáveis.

Ecoturismo, em outras palavras, envolve tanto um sério compromisso com a natureza como responsabilidade social. Essa responsabilidade deve ser assumida também pelo viajante. A expressão viagem responsável, outra designação para ecoturismo, envolve objetivos semelhantes. The Ecotourism Society oferece uma definição um pouco mais completa: "Ecoturismo é a viagem responsável a áreas naturais, visando preservar o meio ambiente e promover o bem-estar da população local"*.

O interesse crescente pelo ecoturismo entre os governos dos países em desenvolvimento, os operadores comerciais, as organizações assistenciais e os conservacionistas dá a dimensão de seu enorme potencial econômico e conservacional. Os ecoturistas gastam bilhões de dólares todos os anos. Mas a importância do ecoturismo vai muito além desses números. Os ecoturistas gostam de utilizar os recursos e a mão-de-obra local. Isso se traduz em entrada de divisas do exterior, projetos adequados ao meio ambiente e engajamento dos moradores da região na indústria de viagens.

A ênfase do ecoturismo nos recursos locais e no emprego de mão-de-obra da região torna-o uma opção atraente para os países em desenvolvimento. Países ricos em áreas naturais, mas em situação desfavorável dada a pobreza rural e a ausência de receitas de exportação, são bons exemplos. O Quênia lucra cerca de 500 milhões por

* Em agosto de 1994, no Brasil, o Grupo de Trabalho Interministerial em Ecoturismo, que reuniu o Ministério da Indústria, Comércio e Turismo e o Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal, além da Embratur, Ibama, empresários e consultores, chegou à seguinte conceituação: "Ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas" {Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo, MICT/MMA, março de 1995 ). (N. do R.T.)

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18 ecoturismo ano com o turismo*. Os lucros diretos e os indiretos são responsáveis por cerca de 10% do produto nacional bruto do Quênia. A renda proveniente do turismo, gerada a partir da extensa rede de áreas protegidas da África Oriental, representa a maior fonte de rendimentos da região. A Costa Rica gerou 336 milhões de renda com o turismo, em 1991, e registrou um aumento de 25% em relação aos três anos anteriores. O turismo de natureza é a força motriz das economias de muitas ilhas tropicais do Caribe, Pacífico e Índico. O ecoturismo deu a Ruanda e Belize um lugar de destaque no mapa.

Ecoturismo é provocar e satisfazer o desejo que temos de estar em contato com a natureza, é explorar o potencial turístico visando à conservação e ao desenvolvimento, é evitar o impacto negativo sobre a ecologia, a cultura e a estética.

Proteger a natureza através de sua venda não é nenhuma novidade; mas também não é novidade que há riscos envolvidos em tal empreendimento. O Parque Nacional de Yellowstone foi transformado em produto e salvo, graças à construção de hotéis e um acesso à ferrovia local e graças à divulgação de sua existência para um país urbanizado, carente de áreas naturais. Mas não demorou muito para que milhares de visitantes, com seu amor descontrolado, ameaçassem acabar com Yellowstone. O urso cinzento - que, alimentado e domesticado, agia de forma perigosa, atacando os turistas que o alimentavam - foi uma das muitas vítimas. Encontrar o equilíbrio certo entre conservação e turismo é o principal desafio dos planejadores de parques nos Estados Unidos, desde a década de 40.

Se os pontos positivos e negativos do turismo não são novidade, os números ligados a ele certamente estão criando situações inusitadas. Todo ano, quatrocentos milhões de turistas em trânsito criam uma avalanche de problemas e desafios que seriam inimagináveis há 50 anos, como uns poucos exemplos podem ilustrar.

* A menos que sejam explicitadas de outra forma, todas as referências monetárias deste livro estão em dólares americanos. (Nota do Editor.)

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prefácio 19

Ecologia. Quantos visitantes uma área pode comportar? A vulnerabilidade das espécies e dos hábitats, os problemas de poluição, de descarga de lixo e de perturbação de processos ecológicos fundamentais, provocados pelo turismo, são muito pouco compreendidos. Quantos visitantes um guepardo pode tolerar? Que mudanças em um hábitat podem ser consideradas aceitáveis, se pensarmos nos alpinistas que cortam os arbustos do Himalaia à procura de madeira para combustível? O impacto de uma indústria do turismo em franca expansão está muito além de nossa capacidade de avaliar danos e prejuízos. Estética. O impacto pode ser avaliado tanto em termos do que os visitantes toleram quanto dos danos ecológicos provocados. Um turista feliz em pagar alguns dólares para observar um alce em Yellowstone, cercado por alguns espectadores curiosos, irá recusar-se a gastar 3.000 dólares para participar da disputa entre os vinte ônibus que procuram aproximar-se de um leão em Serengeti. Valores e crenças tornam o quadro mais complexo. Os níveis aceitáveis de uso são muito mais baixos em Serengeti do que em Yellowstone, porque o visitante está pagando um alto preço para "sentir-se próximo à vida selvagem".

Multidões destroem o apelo estético, e a disposição do visitante em pagar diminui. O ecoturismo reflete um conjunto cada vez mais sofisticado de expectativas. Se a Costa Rica não pode oferecer a sensação de proximidade com a vida selvagem, o interesse passará então a Belize, à Guiana ou a algum lugar ainda por descobrir. Por seu próprio caráter, o ecoturismo suscita expectativas e provoca o risco do turismo predatório: um número grande de amantes da natureza é atraído a um lugar recentemente descoberto, para depois de um tempo abandoná-lo, já deteriorado. Economia. Já não é mais suficiente medir os benefícios do turismo em termos de renda bruta ou líquida. Tratar um parque como uma ilha econômica é inaceitável em países pobres. Que medidas adotar em relação ao câmbio estrangeiro ou à taxa de serviço? O custo compensa a drenagem na economia? E os custos extras e os custos de oportuni-

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20 ecoturismo dade do turista? E a dependência e a vulnerabilidade econômicas que o turismo pode trazer? Poucos países estão dispostos a correr o risco de depender indevidamente de uma indústria vulnerável à Guerra do Golfo ou a uma avalanche de seqüestros. A economia do turismo de natureza não é mais uma questão de balancete de uma só coluna. Aspecto social. A cultura já foi um elemento esquecido na conservação. Hoje não é mais assim. Em um mundo cada vez mais consciente de direitos e responsabilidades, destinar terras para parques pode implicar riscos e injustiças. A desapropriação dos moradores locais tornou-se uma questão central da conservação. Conservação e turismo que neguem os direitos e interesses das comunidades locais estão fadados ao fracasso, quando não considerados totalmente ilegais. As questões são complexas e profundas. O turismo pode destruir culturas antigas e arruinar economias indígenas. Bastam algumas pessoas despreparadas para desvirtuar o turismo.

As grandes oportunidades e os temíveis riscos do turismo de natureza constituem o cerne da missão ecoturística. Será que o ecoturismo pode realmente contribuir para a conservação e o desenvolvimento numa escala global? O turismo pode trazer benefícios reais às comunidades locais, utilizar a mão-de-obra e as habilidades da população local, criar mercados locais estáveis e promover melhorias na saúde e na educação? As respostas dependem de como definimos a missão do ecoturismo e da dimensão com que lidamos com a questão. Eis aqui o dilema. Para muitos puristas, o verdadeiro ecoturismo é o turismo de baixo volume que prioriza questões de ordem ambiental.

Essa definição restrita faz algum sentido. Afinal, o termo ecoturismo foi criado exatamente para definir esse tipo exclusivo de turismo de natureza. Mas qual seria a importância do ecoturismo se nos ativéssemos a uma definição rígida e restrita? Quantas florestas uns poucos criadores de aves bem-intencionados podem proteger contra pequenos proprietários, lenhadores ou moradores da região? Quantos recifes de coral um punhado de mergulhadores pode proteger da pesca abusiva?

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prefácio 21 Para responder a essa questão, é preciso levar em consideração o

potencial cada vez maior do turismo convencional ligado à natureza. Tomemos como exemplo o Parque Nacional Amboseli, na região sul do Quênia. Nessa região, a renda gerada por mais de 250 mil visitantes é dez vezes maior do que a renda produzida pelo povo Masai com a criação de gado. A renda proveniente do turismo, sempre que garanta a melhoria de vida dos povos de Masai e do Quênia, é um bom motivo para conservar a vida selvagem de todo o ecossistema.

Onde podemos traçar a linha divisória entre turismo de alto e baixo volume e turismo de alto e baixo impacto? De certa forma, a tendência atual é usar o conceito de ecoturismo para designar qualquer grupo remotamente ligado a viagem natural ou cultural. Por mais que desejemos uma definição restrita de ecoturismo, na realidade, os princípios adotados por um turismo de massa podem trazer mais benefícios para a conservação - e reduzir danos - do que um pequeno mercado elitista.

Visto desse ângulo, o ecoturismo está deixando de definir-se como turismo de natureza de pequena escala para estabelecer-se como um conjunto de princípios aplicáveis a qualquer tipo de turismo que se relacione com a natureza. Creio que tal evolução será benéfica para a conservação. Evidentemente, o que importa não é a escala ou o objetivo, mas o impacto. Um vírus acidentalmente transmitido por um único amante da natureza bem-intencionado pode ameaçar o gorila da montanha. Umas poucas sementes, transportadas na lama das botas de um caminhante, podem introduzir uma erva daninha intrusa em um frágil ecossistema montanhoso. Por outro lado, milhares de visitantes indiferentes ao meio ambiente, reunidos no pavilhão aquático das Fontes de Tsavo's Mziraa, têm provocado pouco dano visível e contribuído muito para preservar o local.

Se acreditamos que ecoturismo diz respeito à harmonia entre turismo, conservação e cultura, seu papel é ilimitado. No entanto, o ecoturismo corre o risco de se descaracterizar se adotarmos um conceito amplo demais, que abranja todo tipo de turismo ligado à natureza.

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22 ecoturismo Uma forma de contornar o dilema é começar pelas pequenas coisas, mas com grandes objetivos - focalizar o mercado especificamente voltado para a natureza, tendo em mente as questões mais cruciais. As percepções e experiências adquiridas podem então ser ampliadas e aplicadas ao turismo de modo geral. Ecoturismo: Um Guia para Planejamento e Gestão representa um importante começo. Nele apresentamos os maiores desafios e uma série de sugestões de como lidar com eles. Assim, indicamos meios para examinar a demanda, o uso e o impacto, a distribuição de renda, o inventário dos recursos, a elaboração de programas, o planejamento, a gestão, o treinamento e a participação da comunidade local.

Não se pode esperar que o ecoturismo enfrente esses desafios, se ele não for encarado como uma disciplina profissional que abrange os inúmeros interesses e habilidades relacionados ao turismo cultural e de natureza. Tal é o propósito que nutre The Ecotourism Society e sua mais recente publicação.

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Introdução o ecoturismo como um fenômeno mundial

Héctor Ceballos-Lascuráin

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Há apenas alguns anos, a palavra ecoturismo não existia e muito menos os princípios que hoje ela representa. É verdade que viajantes naturalistas existem há muito tempo, como Humboldt, Darwin, Bates e Wallace. Mas suas experiências foram poucas e esporádicas, tão isoladas que não produziram benefícios socioeconômicos significativos para os lugares visitados, nem as atividades desenvolvidas pareciam ter a intenção de ser um meio para a conservação de áreas naturais, de culturas nativas ou de espécies em perigo de extinção.

Foi somente com o advento da viagem aérea a jato, com a enorme popularidade dos documentários televisivos sobre a natureza e sobre viagens, e com o interesse crescente em questões ligadas à conservação e ao meio ambiente, que o ecoturismo passou a ser verdadeiramente um fenômeno característico do final do século XX e, tudo leva a crer, do século XXI.

O turismo, de modo geral, já é a indústria civil mais importante do mundo. De acordo com o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (World Travei and Tourism Council-WTTC), o turismo é hoje a maior indústria do planeta, e, para 1993, a expectativa era de que gerasse, em nível mundial, mais de 3,5 trilhões, o equivalente a 6% do produto nacional bruto mundial. A indústria do turismo é maior do que a do

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26 ecoturismo automóvel, do aço, da eletrônica ou da agricultura. A indústria de viagens e turismo emprega 127 milhões de trabalhadores (um em cada 15 trabalhadores em todo o mundo). Ao todo, a expectativa é de que a indústria do turismo duplique até o ano 2005 (WTTC, 1992).

Nessa perspectiva, dados da Organização Mundial de Turismo (World Tourism Organization - WTO) indicam que o turismo internacional cresceu mais de 57% na década passada, sendo que, para esta década, espera-se um aumento de 50%. Embora a taxa de crescimento esteja diminuindo, está previsto um crescimento anual médio de 3,7% para a década de 90; calcula-se que o número de 450 milhões de viajantes internacionais de 1991 se eleve para 650 milhões até o ano 2000. Em 1989, o turismo de natureza gerou aproximadamente 7% de todos os gastos com viagens internacionais, segundo estimativas da Organização Mundial de Turismo (WTO, 1992).

As áreas naturais, em particular as áreas protegidas legalmente, sua paisagem, fauna e flora - juntamente com os elementos culturais existentes - constituem grandes atrações, tanto para os habitantes dos países aos quais as áreas pertencem como para turistas de todo o mundo. Por esse motivo, as organizações para a conservação reconhecem a enorme relevância do turismo e estão cientes dos inúmeros danos que um turismo mal-administrado ou sem controle pode provocar no patrimônio natural e cultural do planeta.

O ecoturismo, como componente essencial de um desenvolvimento sustentável, requer uma abordagem multidisciplinar, um planejamento cuidadoso (tanto físico como gerencial) e diretrizes e regulamentos rígidos, que garantam um funcionamento estável. Somente através de um sistema intersetorial, o ecoturismo poderá, de fato, alcançar seus objetivos. Os governos, as empresas privadas, as comunidades locais e as organizações não-governamentais, todas têm um importante papel a desempenhar. Acredito firmemente que cada país deve criar planos nacionais de turismo, como parte de uma estratégia integral de planejamento, que incluam preocupações de ordem ambiental e diretrizes ecoturísticas. Conselhos nacionais de

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introdução 27 ecoturismo (com representantes dos diversos setores envolvidos no processo) foram criados recentemente em vários países, com resultados promissores. Já que os limites geográficos constituem, cada vez menos, barreiras à comunicação (devido à modernização dos meios de transporte e dos serviços, e aos acordos comerciais e econômicos), as estratégias ecoturísticas podem também ser traçadas a partir de um enfoque regional. Diferentes países podem reunir esforços para oferecer pacotes integrados que sejam atraentes no crescente mercado mundial dos serviços ecoturísticos.

Problemas crônicos, como a falta de orçamento e a falta de mão-de-obra especializada de muitas áreas protegidas, especialmente em países em desenvolvimento, poderiam finalmente começar a ser resolvidos, se fossem criados mecanismos adequados para fazer jorrar os dólares do turismo dentro dos sistemas de parques nacionais. Além disso, a pobreza alarmante de muitas áreas rurais do mundo poderia talvez diminuir, caso fossem elaboradas as fórmulas certas para envolver as comunidades locais no processo ecoturístico.

É importante enfatizar que o ecoturismo não deveria ser restrito às áreas protegidas legalmente, uma vez que estas poderiam acabar sofrendo muita pressão. Promover o ecoturismo em áreas naturais que não têm nenhuma proteção oficial pode estimular as comunidades locais a conservarem os recursos e as áreas naturais próximas por iniciativa própria, e não devido a pressões externas*.

O ecoturismo é um fenômeno complexo e multidisciplinar. Muitos aspectos devem ser levados em conta a fim de que ele seja um empreendimento bem-sucedido para todos os envolvidos: consumidores, administradores, povos nativos e fornecedores. Inventários sistemáticos e detalhados das atrações ecoturísticas (tanto naturais como culturais) de um país, uma região ou um local devem ser elaborados,

* Vale lembrar a criação, em 1993, do mecanismo das Reservas Particulares de Proteção à Natureza (RPPN), pelo Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal, e Ibama, segundo o qual proprietários podem oferecer à conservação seus terrenos, recebendo, em troca, incentivos fiscais e tratamento prioritário em projetos de desenvolvimento sustentável. (N. do R.T.)

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28 ecoturismo tendo-se sempre em mente que esses inventários são diferentes daqueles cuja natureza é científica, e que eles devem refletir o quão atraentes são as características listadas (e não constituir uma mera descrição clínica e imparcial de seu significado biológico ou arqueológico).

O treinamento é um componente vital. Cursos e seminários dirigidos a diferentes públicos (operadores turísticos, guias de campo, donos de hotéis, administradores de parques, grupos da comunidade local, funcionários do governo) são extremamente necessários. Programas de treinamento devem ter uma natureza prática, aliando as atividades de sala de aula ao trabalho de campo.

Instalações físicas adequadas nas áreas naturais e em suas pro-ximidades são fundamentais para o desenvolvimento eficaz do ecoturismo. Planejamento, projeto e critérios de construção adequados devem ser aplicados, a fim de minimizar o impacto sobre o meio ambiente, fornecer um certo grau de auto-suficiência funcional e contribuir para a melhoria da qualidade da experiência do visitante. Infelizmente, não há centros de interpretação* na maior parte das áreas protegidas dos países em desenvolvimento. É preciso um cuidado especial para que as instalações sejam acolhedoras, pedagogica-mente apropriadas, e fáceis de operar e manter, sempre de acordo com a realidade socioeconômica de cada caso. Uma vez que muitas áreas protegidas situam-se em lugares de difícil acesso e distantes dos serviços tradicionais, é prudente empregar o que se conhece informalmente como "ecotécnicas", tais como energia solar (para aquecimento da água e/ou fornecimento de eletricidade), captação e reutilização da água da chuva, reciclagem do lixo, ventilação natural, e o uso de técnicas e materiais de construção nativas. Os prédios, as estradas, as trilhas, a sinalização, as torres e os locais de observação devem ser

* Centros de Interpretação da Natureza ou Centros de Visitantes são espaços destinados a apresentar as características de uma Unidade de Conservação ou de áreas naturais para o público em geral. Através de museus, salas de projeção, visitas guiadas, painéis ou folhetos explicativos, o visitante pode ser informado sobre aspectos biológicos, geológicos, históricos ou socioeconômicos da região. (N. do R.T.)

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introdução 29 todos projetados de maneira a não interferir abruptamente no meio ambiente, e tornar mais rica a experiência do visitante.

Desde 1990, muitas conferências e simpósios têm sido organizados tendo como tema o ecoturismo. Hoje, a maior parte dos governos se interessa pelo assunto. Em muitas partes do mundo, investidores privados estão também voltando sua atenção para o fenômeno. É hora de agir com praticidade, criando projetos realistas e concretos que possam comprovar os benefícios reais e potenciais que tanto têm sido proclamados. Este livro oferece uma excelente introdução a uma nova era de implementação ecoturística.

referências bibliográficas World Tourism Organization. 1991. Yearbook of Tourism Statistics. Madrid, Spain. World Travei and Tourism Council. 1992. The WTTC Report: Travei and Tourism in the World Economy. Brussels, Belgium.

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1 o planejamento ecoturístico para áreas protegidas

Elizabeth Boo

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O ecoturismo é hoje alvo da atenção de um grande número de pessoas. Administradores de áreas protegidas estão procurando levar um número cada vez maior de visitantes a parques e reservas. Comunidades próximas às áreas protegidas estão usufruindo de novas oportunidades de emprego em virtude do turismo. Especialistas em desenvolvimento rural estão pesquisando o potencial econômico do ecoturismo, e governos estão considerando esse potencial como fonte de entrada de divisas. Escritórios de turismo estão começando a criar políticas para o ecoturismo; agências de financiamento do setor privado estão avaliando a viabilidade financeira de investimentos. Com os novos roteiros na natureza, conhecidos como ecoturismo, a indústria do turismo está em plena expansão. Jornalistas especializados estão tentando captar o que há de mais atual nesse conceito inovador; vídeos sobre ecoturismo proliferam. E, é claro, os turistas - a grande força por detrás de todo esse entusiasmo - estão se tornando cada vez mais aventureiros, mais ligados à natureza e mais participativos quando viajam. Como nunca antes, turistas visitam parques e reservas no mundo todo e estão encarando essa experiência como uma forma de conhecer e apreciar o meio ambiente natural.

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34 ecoturismo E quais os interesses dos conservacionistas nessa explosão do

ecoturismo? Seu objetivo é determinar se o ecoturismo constitui um instrumento legítimo para a preservação da diversidade biológica e para a promoção do desenvolvimento sustentável. Essa hipótese precisa ser confirmada ou rejeitada por meio de estudos de casos.

Há uma grande expectativa entre os gerenciadores sobre o que exatamente o ecoturismo pode gerar. Há também uma preocupação geral em relação aos desafios que ele propõe.

O impacto teórico do ecoturismo é bem conhecido. Os custos potenciais são a degradação do meio ambiente, as injustiças e insta- bilidades econômicas, as mudanças socioculturais negativas. Os be nefícios potenciais são a geração de receita para as áreas protegidas, a criação de empregos para as pessoas que vivem próximo a essas áreas e a promoção de educação ambiental e de conscientização sobre a conservação.

Esses custos e benefícios potenciais provocam reações conflitantes em relação ao ecoturismo. Tanto visualizamos oportunidades que podem incentivar nossos projetos, como problemas que podem dificultar nosso trabalho. Nossa tarefa, hoje, é procurar os pontos em comum entre o ecoturismo, a conservação e o desenvolvimento, e encontrar formas de minimizar custos e maximizar benefícios.

Há muitos pontos de intersecção entre o ecoturismo e os objetivos conservacionistas. Segundo o Fundo Mundial para a Vida Selvagem {World Wildlife Fund - WWF) esses pontos são: a administração de áreas protegidas, o desenvolvimento sustentável de áreas-tampão, a educação ambiental dos consumidores e as decisões políticas.

Um dos pontos de intersecção que requer providências urgentes refere-se à administração de áreas protegidas. A situação atual é preocupante. As áreas protegidas do mundo todo têm recebido um fluxo cada vez maior de visitantes. Esse fluxo tem aumentado drasticamente - duplicando ou triplicando em um ano - e muitas dessas áreas não estão preparadas para o turismo. Elas estão a cargo de pessoas sem treinamento em gestão de turismo.

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o planejamento ecoturístico para áreas protegidas 35 Além de ter que enfrentar novos desafios em relação à administração,

esses parques não dispõem de verbas nem de pessoal, e abrigam uma série de atividades de subsistência dentro de suas fronteiras. Todos esses fatores ameaçam a conservação das áreas protegidas. Algumas das ameaças poderiam ser minimizadas se os benefícios potenciais do turismo fossem aproveitados. Felizmente, a maioria dos ecoturistas está ansiosa e disposta a contribuir para a conservação das áreas que visitam. As pessoas querem participar mais da conservação quando viajam. Entretanto, é preciso haver oportunidades para que elas contribuam, tais como sistemas de cobrança de ingressos, alojamentos que pertençam às pessoas da comunidade local e sejam administrados por elas, ou cooperativas de artesanato nativo. Para que tudo isso seja possível, o sistema deve funcionar bem - o que requer planejamento.

Mas como uma área protegida pode preparar-se para o ecoturis-mo? Onde encontrar os exemplos? E os modelos? E as diretrizes? Nos últimos meses, o WWF recebeu de administradores muitos pedidos de assistência para elaborar planos ecoturísticos porque há pouca informação sobre onde o ecoturismo ocorre e como funciona. Em resposta a tais pedidos, escrevemos Diretrizes para Diagnóstico e Planejamento do Ecoturismo, especialmente para administradores de áreas protegidas. Esse documento é parte da série de publicações técnicas do WWF sobre Áreas Selvagens e Necessidades Humanas.

Diretrizes para Diagnóstico e Planejamento do Ecoturismo é uma tentativa de ajudar os parques a estabelecerem um determinado tipo de relação com o turismo. Essa proposta ainda está sendo testada e aprimorada. Nosso primeiro estudo de caso que utilizou esse diagnóstico ocorreu na Reserva de Blue Mountain/John Crow Mountain, na Jamaica. Até a presente data, a primeira etapa do processo de planejamento já foi concluída.

Diretrizes para Diagnóstico e Planejamento do Ecoturismo pode servir como um conjunto de considerações para ajudar administradores de áreas protegidas a refletirem sobre alguns dos principais

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36 ecoturismo temas relacionados ao ecoturismo. O diagnóstico pode ainda ser utilizado como instrumento para a promoção de um processo de planejamento mais formal, que resultaria num plano ecoturístico oficial para a área. O escopo do documento é limitado. Em primeiro lugar, ele pressupõe um administrador para a área, e, portanto, destina-se às áreas consideradas protegidas. Ele não inclui territórios virgens fora do sistema de áreas protegidas, embora esses também estejam recebendo cada vez mais turistas. Em segundo lugar, o documento oferece diretrizes para o processo de planejamento mas não fornece instruções sobre como implementar cada seção. Por exemplo, para realmente poder criar um plano ecoturístico, os planejadores necessitarão de maior assistência nas etapas do desenvolvimento de um plano de administração financeira. Eles também precisarão de informação sobre a construção de infra-estrutura e instalações am-bientalmente adequadas. O diagnóstico deve ser usado juntamente com outros recursos.

Esse documento será em breve acompanhado por um outro semelhante, que oferece orientações sobre o planejamento ecoturístico para as comunidades locais, e um terceiro documento sobre planejamento, destinado aos governos, deverá ser elaborado em seguida. Juntos, os três instrumentos poderão permitir que regiões coordenem propostas de planejamento para o ecoturismo.

Ainda não se sabe ao certo o valor da conservação e do desen-volvimento sustentado do ecoturismo. Também é difícil avaliar até que ponto as vantagens podem ser maximizadas e os riscos diminuídos. Mas é certo que, sem planejamento e gestão, o ecoturismo fracassará. Este capítulo oferece o resumo de um processo inicial de planejamento, que deverá ajudar os parques a se prepararem para o turismo.

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o planejamento ecoturístico para áreas protegidas 37 resumo de diretrizes para diagnóstico e planejamento do ecoturismo para administradores de áreas protegidas

Muitos parques e reservas estão enfrentando um súbito aumento no número de visitantes que recebem. A maioria das áreas protegidas não está preparada para esse novo hábito do consumidor. Muitas dessas áreas não foram designadas nem projetadas como locais turísticos, e carecem de fundos e de pessoal para satisfazer as necessidades de um número cada vez maior de viajantes que curtem a natureza. Como a maior parte dos adminis-tradores de áreas protegidas não se preparou para o turismo, eles estão hoje enfrentando o desafio urgente de gerir o crescimento do turismo a fim de que possa ser benéfico tanto para o parque como para as comunidades vizinhas.

Em resposta à popularidade crescente do ecoturismo, os admi-nistradores de áreas protegidas precisam avaliar que nível de turismo é o melhor para cada área, para então arquitetar uma estratégia que atinja o nível desejado. A estratégia deverá guiar o desenvolvimento e gestão do ecoturismo a fim de assegurar que a área protegida não seja excessivamente ocupada nem destruída por turistas, de criar mecanismos capazes de gerar empregos e renda para a área protegida e para as comunidades próximas, e de oferecer educação ambiental aos visitantes. Uma estratégia ecoturística de desenvolvimento e gestão permitirá que os administradores de áreas protegidas fomentem ou desestimulem o ecoturismo, conforme o que for apropriado, tanto em termos de números como de atividades. As diretrizes que seguem foram elaboradas para auxiliar os administradores de parques no processo de criação dessa estratégia. Com a estratégia correta, parques e reservas podem minimizar os riscos do ecoturismo e enfatizar seus benefícios.

O objetivo das Diretrizes para Diagnóstico e Planejamento do Ecoturismo é criar uma estratégia para as áreas protegidas que dese-

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38 ecoturismo jam melhor administrar os turistas. Um bom gerenciamento pode implicar a promoção ou a limitação do turismo em determinada área*. estratégia

Esta estratégia constitui-se de três fases. Em primeiro lugar, avalie a situação atual e potencial do turismo.

Qual é o status dos recursos naturais? Qual é o nível de demanda e de desenvolvimento do turismo? Quem lucra com ele? Quais são os custos? Qual é o potencial de desenvolvimento do turismo?

Em seguida, determine uma situação de turismo desejável e identifique

os passos para concretizá-la. Decida qual é o melhor tipo de turismo para a área. A decisão deve refletir o equilíbrio entre as necessidades do visitante, os recursos naturais, as comunidades vizinhas e os governos hospedeiros. Quando a decisão for tomada, determine o que precisa ser feito, que requisitos são necessários para cada tarefa, quem as executará, quanto tempo será despendido, e qual será o tipo de financiamento. Priorize essas atividades.

Por fim, escreva um documento sobre a estratégia ecoturística.

Documente a estratégia, publique-a e divulgue-a junto a potenciais fontes de assistência técnica e financeira, bem como junto a outras partes interessadas.

* No Brasil, as Unidades de Conservação (UCs) têm como documento principal de planejamento o Plano de Manejo, que leva em consideração os aspectos mencionados neste capítulo. Em cada Estado, existe um órgão responsável pela gestão das UCs. Em especial, o Instituto Florestal e a Fundação Florestal de São Paulo e a FEEMA do Rio de Janeiro contam, em suas bibliotecas, com vários estudos para Planos de Manejo, à disposição dos interessados para consulta. O Ibama, ligado ao Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal, é responsável pelos Planos de Manejo das UCs federais. No Núcleo de Comunicação e Informação do Centro de Educação em Turismo e Hotelaria do SENAC de São Paulo, diversos Planos de Manejo podem ser consultados. (N. do R.T.)

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o planejamento ecoturístico para áreas protegidas 39 Essas três fases, que serão descritas brevemente nas seções seguintes,

constituem o processo de criação de uma estratégia ecotu-rística para uma área protegida. Quando a estratégia estiver pronta, suas atividades precisam ser postas em prática, o que muitas vezes requer bastante trabalho.

primeira fase: avaliar a situação atual

O desenvolvimento e a gestão do ecoturismo representam uma questão fundamental no gerenciamento de recursos naturais, com a qual muitos administradores de áreas protegidas precisam lidar. Por essa razão, a primeira fase do diagnóstico começa com o exame do próprio parque (para simplificar, o termo parque será utilizado doravante para fazer referência a qualquer tipo de área protegida - parque nacional, reserva particular, reserva de biosfera e outras)*. A primeira seção enfoca as características dentro dos limites do parque e trata de questões como recursos naturais, infra-estrutura, sistemas de visitação e quadro de funcionários. Estes últimos geralmente são responsáveis pela supervisão dessas áreas, considerada parte de suas obrigações.

Há também áreas que não se encontram sob jurisdição imediata do administrador e que, direta ou indiretamente, afetam o turismo dentro do parque. As áreas em questão podem pertencer à esfera local, regional, nacional, e, em alguns casos, à esfera internacional, e serão abordadas na seção "Ultrapassando os Limites do Parque". Essa seção examinará a interação entre as comunidades locais (nível local); a infra-estrutura regional; outras atrações (nível regional dentro do país); as questões legais, políticas e orçamentárias (nível nacional); e

* No Brasil, as instituições oficiais empregam a expressão Unidades de Conservação (UCs) para designar áreas protegidas legalmente. Podem ser Áreas Naturais Tombadas, Áreas de Proteção Ambiental (APAs), Áreas de Relevante Interesse Ecológico, Áreas de Proteção Especial, Estações Ecológicas, Parques, Reservas Biológicas ou Florestais. (N. do R.T.)

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40 ecoturismo o grau de participação do setor privado (níveis local, regional, nacional, internacional).

Por exemplo, em nível nacional, a maior parte das áreas protegidas pertencem aos sistemas de parques, e geralmente obedecem a leis nacionais. Um determinado administrador de parque pode considerar que as leis nacionais estão fora de sua jurisdição, mas é importante que ele saiba que leis podem afetar o turismo dentro de seu parque, para decidir se há alguma que ele pode modificar a fim de melhorar a situação turística dentro de sua área. Embora as mudanças só possam ocorrer, em nível nacional, em meio de processo legal, os administradores precisam entender como o processo funciona, quem detém o poder de decisão, e de que forma podem intervir no processo. Esse mesmo princípio aplica-se a questões locais, regionais e internacionais.

Informações sobre a primeira fase do processo podem ser obtidas através de pesquisa de fontes primárias, de entrevistas e de coleta de dados de fontes secundárias. Fontes potenciais de informação podem incluir: autoridades e funcionários do parque, autoridades e documentos governamentais, comunidades locais, o setor privado e os representantes da indústria do turismo, e organizações conservacionistas. Nessa fase, pode ser útil contratar um pesquisador independente para redigir um relatório.

A seguir, apresentamos uma série de questões que servirão de orientação para avaliar a situação atual do turismo. Essas questões foram elaboradas com a intenção de estimular um processo de reflexão, e, em muitos casos, precisarão ser modificadas para atender a situações particulares dentro dos parques. Pode haver outras perguntas pertinentes que deverão ser acrescentadas à lista.

A redação do relatório da primeira fase do diagnóstico refletirá alguma subjetividade por parte do pesquisador, mas a meta é ser tão objetivo quanto possível. Portanto, para responder às perguntas abaixo, o pesquisador deve definir as palavras no contexto do local. Isso possibilitará que os participantes utilizem as mesmas definições e a mesma informação como ponto de partida.

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o planejamento ecoturístico para áreas protegidas 41 características dentro dos limites do parque As perguntas seguintes referem-se aos recursos naturais do parque. � Por que o parque foi criado? Pode haver várias respostas para esta questão. Se esse for o caso, anote e forneça dados. � Faça uma breve descrição dos recursos naturais do parque. Os recursos estão intactos ou ameaçados? (Especifique as ameaças no contexto do local.) Ameaça é tudo aquilo que pode afetar a capacidade de reprodução e sobrevivência de uma espécie, como o turismo, a derrubada de árvores para obtenção de madeira, a mineração, a agricultura predatória, a caça e pesca ilegais, e outros. Explique. � Que inventários ou estudos foram elaborados sobre a fauna e a flora da área protegida? Inventários são estudos sobre áreas biogeográficas ou sobre espécies. Os tópicos podem ser: tipos de florestas, aves, entomologia, recursos minerais e questões hidrológicas. � Quais desses inventários são relevantes para o planejamento do ecoturismo no parque? Faça um breve exame daqueles que são relevantes e explique sua utilidade. � Que locais e/ou animais selvagens são as maiores atrações turísticas atuais e potenciais do parque? Por que são considerados atrações turísticas? � Algum desses locais tem recursos naturais frágeis? (Defina.) Alguma espécie está ameaçada ou corre risco de extinção? Explique. � Que estudos foram feitos para quantificar o impacto do turismo sobre esses recursos? Cite-os e examine-os criticamente. Se não há estudos formais, existe algum tipo de informação anedótica? � Existem estudos sobre o impacto do turismo em outros parques que possam ser úteis para o caso em questão?

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42 ecoturismo As perguntas que seguem, referem-se a informações sobre turistas e ao volume de visitas. � Há no parque um sistema para registrar dados estatísticos sobre visitantes? Em caso positivo, descreva-o. � Quantas pessoas visitam o parque por ano? (Faça uma estimativa, se não houver registros; indique se o valor foi estimado.) � Qual é a proporção de visitantes estrangeiros e residentes no próprio país? � Que outra informação demográfica você tem sobre os visitantes? (Exemplo: idade, país de origem, etc.) Se não houver registro oficial, talvez os donos de pousadas e os guias turísticos tenham dados estatísticos ou anedóticos que possam ser úteis. � Quais são as temporadas altas e baixas? Por quê? � O que os visitantes fazem no parque? Faça uma lista das atividades e indique as mais populares. � Que pesquisas/levantamentos foram feitos em relação à visitação ao parque? Quais foram os resultados? � Qual é a quantia média que os turistas gastam no parque? (Faça um cálculo aproximado se não houver números oficiais.) Como é gasto esse dinheiro? � Que tipo de esquemas promocionais ou de marketing o parque tem procurado adotar para atrair turistas? Anexe folhetos e material de marketing ao relatório da primeira fase. � Com base em dados concretos, que volume de visitas pode ser esperado para o futuro? � A que mercado o parque visa em termos reais e potenciais (turistas locais, turismo de estrangeiros em massa, elites de estrangeiros, outros)? De que maneira isso afeta o tipo de experiência do visitante e a infra-estrutura desejados?

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o planejamento ecoturístico para áreas protegidas 43 As próximas perguntas referem-se à infra-estrutura do parque. � Liste toda a infra-estrutura existente no parque. (Exemplos: centros de visitação, trilhas, banheiros, restaurantes/lanchonetes, lojas de presentes e alojamentos.)

� Essas instalações são utilizadas? Com que freqüência? Quem as utiliza? Faça uma lista para cada instalação. Descreva as instalações. Elas são novas ou antigas? Estão em bom estado de conservação? Quem é responsável pela manutenção? � As instalações são de propriedade do governo, do setor privado ou outro? Se pertencem ao setor privado, ele é local, nacional ou estrangeiro? Especifique cada caso. � Que instalações/infra-estrutura contribuem para a educação ambiental dos visitantes? (Exemplos: placas interpretativas nas trilhas, folhetos informativos no centro de visitação, vídeos.) � Que tipos de materiais educativos o parque fornece? Descreva-os. � Quem prepara e produz esses materiais? Qual é o público-alvo? � Como o material educativo é distribuído? Ele é útil? � Que instalações/infra-estrutura, dentro do parque, contribuem financeiramente para ele? (Exemplos: sistema de cobrança de ingressos, lojas de presentes, lanchonetes.) Como contribuem? O que o parque lucra com cada uma delas pode ser quantificado? � Que instalações/infra-estrutura, dentro do parque, contribuem financeiramente para os moradores das áreas vizinhas? (Exemplos: lojas de presentes, restaurantes, alojamentos.) De que forma contribuem? O que os moradores da região lucram com cada uma delas pode ser quantificado?

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44 ecoturismo Estas perguntas referem-se aos funcionários. � Quantos funcionários do parque estão em contato direto com os turistas? Que tipo de emprego têm? Eles são assalariados ou voluntários? Qual é a fonte de recursos para os salários? � Que tipo de treinamento os funcionários receberam para trabalhar com os turistas? Explique. � O número de funcionários é adequado ao volume de turistas? Eles estão preparados para proteger adequadamente os recursos naturais do parque? Explique. ultrapassando os limites do parque As perguntas seguintes enfocam a interação entre o parque e as comunidades locais. � Identifique os indivíduos do local, as comunidades e as organizações não-governamentais envolvidas com ou afetadas pelo turismo do parque. Faça uma lista de cada um deles. As pessoas envolvidas com o turismo trabalham em regime de período integral ou parcial? � Quais são os custos e benefícios do turismo para essas pessoas? Especifique. Os custos podem ser: disputa pelo uso da terra, destruição provocada por animais selvagens, interação cultural indesejável e outros. Os benefícios podem ser, entre outros, os ganhos financeiros, as oportunidades de emprego e a educação ambiental. � Identifique os tipos de negócios relacionados ao turismo ou outros produtos e serviços que envolvam a população local. � Liste os tipos de produtos e serviços vendidos por vias informais ou autônomas, os métodos de venda utilizados, a porcentagem aproximada de participação no mercado desses vendedores ambulantes, as técnicas de produção e qualquer outra informação relevante.

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� Quem possui ou tem acesso aos meios de produção, em cada um desses casos? � Há cooperativas ou associações turísticas na área? Quem faz parte delas? Quais são suas atividades? Elas são eficazes? � Que outras atividades econômicas/empregos têm os moradores das comunidades locais que não estão envolvidos com turismo ou que só participam dele em regime de tempo parcial? As próximas perguntas referem-se à infra-estrutura regional (dentro do país). � O parque é acessível? Descreva sua localização e a região que o circunda. � Que meios de transporte os turistas estrangeiros geralmente utilizam para chegar até o parque? E os turistas do próprio país? � Qual é a condição das estradas? Há dificuldades relacionadas a épocas do ano (época de chuvas, outras)? Quem é responsável pela manutenção das estradas? Estas três perguntas referem-se a outras atrações regionais. � Que outras atrações turísticas existem na região? (Estas podem ser históricas, culturais, naturais, de eventos ou urbanas.) Faça uma lista para cada uma delas e anote o número anual de visitantes. Quais dessas atrações são mais importantes que o próprio parque? � Há algum pacote turístico que inclua o parque como parte de um itinerário maior de viagem? Há algum outro tipo de interação entre o parque e outras atrações turísticas da região? � Que centros populacionais situam-se num raio de 150 km do parque? Liste a cidade (ou local), o número de habitantes e a distância do parque.

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46 ecoturismo As perguntas seguintes relacionam-se a questões de caráter nacional, referindo-se, por exemplo, à estrutura legal e a considerações políticas e orçamentárias. � Quais são os documentos legais existentes (ou propostos) que regulamentam as atividades turísticas do parque? � Quais são as leis e regulamentos desses documentos que se referem especificamente às atividades turísticas? Cite-os. � Quais são os objetivos do turismo em relação ao parque? � Há uma seção para o turismo no plano de administração do parque? Em caso positivo, ela é eficaz? Em caso negativo, quais são as dificuldades? � O parque tem zonas para determinadas atividades? Há uma zona turística? � Quem é responsável por criar e fiscalizar as políticas de turismo na área protegida - a administração do parque, as autoridades ligadas ao turismo, outros? Se mais de um grupo é responsável, eles trabalham juntos ou de forma independente? Essa forma de trabalhar é eficaz? Em caso negativo, por que não? � Há um sistema para a cobrança de ingressos na área protegida? Em caso positivo, descreva-o. Em caso negativo, por que não há? � A renda arrecadada pelo sistema de cobrança de ingressos vai para o governo central ou fica na área protegida? Explique o processo. � Qual é a fonte de financiamento da administração do parque nacional? (Por exemplo, o tesouro nacional, doações externas, fundos fiduciários ou legados.) � Essa fonte é adequada para as atuais atividades de gestão do turismo? Há fundos disponíveis para futuras atividades de gestão? � Como o orçamento total para áreas protegidas é distribuído entre os vários parques e reservas?

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o planejamento ecoturístico para áreas protegidas 47 As perguntas que seguem referem-se à participação do setor privado. � De que forma o setor privado participa do turismo no parque? � O parque trabalha em conjunto com operadores turísticos ou agências de viagem particulares? Eles são nacionais ou estrangeiros? O parque mantém alguma relação de exclusividade? � Como o parque seleciona as agências/operadores de viagem com os quais irá trabalhar? � O setor privado participa de algum projeto ligado à conservação no parque ou nas áreas vizinhas? Descreva. � O parque/governo tem alguma política ou regulamento em relação à participação do setor privado no parque? segunda fase: determinar o nível de turismo desejado e criar um plano

A segunda fase constitui-se de um workshop (ou de uma série de

workshops), formado por um grupo heterogêneo, com o objetivo de analisar a atual situação do turismo no parque, decidir como ela pode ser aprimorada e criar um plano para isso. A situação do turismo pode ser incrementada por meio do aumento ou redução do número de turistas, da mudança de seus horários de visita e das atividades que desenvolvem, da melhoria das instalações e serviços oferecidos, de uma maior proteção aos recursos naturais, ou da ampliação do número de beneficiários do turismo. Nesse processo, é fundamental que os participantes sejam muito criativos.

Para decidir como melhorar a situação do turismo no parque, o grupo deve primeiro avaliar os objetivos do turismo, que podem ser: oferecer uma nova forma de proteção aos recursos, trazer divisas estrangeiras para o país, promover educação ambiental para visitantes nacionais e internacionais e criar novas oportunidades de emprego para as comunidades próximas.

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48 ecoturismo Com base nessa discussão, o grupo procurará chegar a um consenso

sobre o número desejável de turistas e de atividades turísticas na área. Deve haver um equilíbrio entre interesses diversos, tais como a conservação dos recursos naturais, a promoção do desenvolvimento sustentável nas comunidades locais, a melhoria da balança comercial e o enriquecimento da experiência dos turistas. Uma vez que o grupo tenha chegado a um consenso sobre o perfil do turismo no parque, uma estratégia ecoturística deve ser criada. Ela deverá consistir de um plano de ação que estabeleça os passos necessários para se obter e gerenciar o nível desejável de turismo.

Essa estratégia deverá incluir uma lista de atividades necessárias para desenvolver o ecoturismo no parque. Tais atividades podem envolver o treinamento dos guardas-florestais em gestão de turismo, a construção de um centro de recepção de visitantes, a preparação adequada de locais para diminuir os danos que possam ser causados pelos visitantes, a criação de um sistema de monitoramento ecológico, a publicação de folhetos promocionais, o estabelecimento de cooperativas artesanais com as comunidades locais, a pressão junto ao governo para implementação de um sistema de cobrança de ingressos cuja renda reverta para o parque, e a seleção dos operadores de viagem que levam os grupos ao parque. A estratégia deve detalhar as atividades obedecendo ao critério da prioridade e descrever os requisitos necessários para o cumprimento da tarefa, identificar quem irá gerenciar/realizar a atividade, indicar o tempo previsto para sua realização e qual será seu custo. Dessa forma, ficará claro para os futuros financiadores como o parque planeja desenvolver o ecoturismo. Ao determinar as prioridades, é importante verificar se há áreas, no parque, mais ameaçadas pelo turismo, que requeiram atenção imediata.

Quando a estratégia começar a ser, de fato, implementada, um sistema de monitoramento da estratégia deverá ser criado. Deve haver algum tipo de procedimento que permita um feedback sobre a estratégia, para que se possa avaliar seu impacto e modificá-la ou adaptá-la, se necessário. Uma estratégia é um processo dinâmico.

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Metodologia Uma vez que desenvolver o plano turístico ideal para uma área envolve muitas questões, diferentes grupos devem participar da discussão. Deveria haver representantes do parque, das comunidades vizinhas, da indústria do turismo, do Ministério do Meio Ambiente ou dos Recursos Naturais, da Secretaria de Turismo e dos grupos em prol da conservação. Um mediador pode ser útil nesses encontros. 3 workshop (ou série de workshops) tem quatro objetivos: � reunir representantes de vários setores em torno de metas que promovam o desenvolvimento da indústria do turismo no parque; � criar um elo entre os grupos e formar uma comissão ecoturística para o parque; � identificar o melhor programa para o desenvolvimento do ecoturismo; � determinar a estratégia para viabilizar esse programa. características dentro dos limites do parque Um dos quatro componentes desejáveis da estratégia deve considerar os recursos naturais do parque. � Crie mecanismos para monitorar o impacto ecológico do turismo. Para tanto, obtenha informação de outros locais turísticos.Liste os requisitos necessários para esse projeto e as pessoas encarregadas do monitoramento; calcule o tempo requerido para pesquisa e implementação e os custos envolvidos. � Coordene a elaboração de inventários dos locais turísticos em áreas naturais, dos ecossistemas, ou das espécies que não foram adequadamente estudadas. Isso é particularmente relevante para aqueles que são ou poderão tornar-se atrações turísticas. Liste o que é necessário para realizar esse projeto e

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50 ecoturismo

as pessoas que deverão elaborar os inventários; calcule o tempo requerido para completar a tarefa e os custos envolvidos. Outro componente importante da estratégia é a informação sobre os visitantes e os níveis de visitação. � Crie um sistema para registrar dados sobre os visitantes, o qual inclua não só números, mas também informação demográfica. Liste os requisitos necessários para a realização desse projeto e as pessoas que irão concretizá-lo; calcule o tempo requerido para a criação e implantação de um sistema de registro e os custos envolvidos. � Elabore uma série de questionários para o visitante. Questionários podem complementar os dados fornecidos pelo sistema de registro e prover valiosa informação administrativa e de mercado. Eles podem incluir perguntas como; O que lhe agra da ou desagrada no parque? Como você soube da existência do parque?, etc. Liste os requisitos necessários para esse projeto e as pessoas encarregadas dos questionários; calcule o tempo de elaboração dos questionários e os custos para aplicá-los e processar as informações. O terceiro componente da estratégia considera a infra-estrutura do parque. � Faça um plano completo de toda a infra-estrutura existente ou que se deseje construir no parque: trilhas, sinalização, instalações e outros. Consulte os especialistas a fim de inteirar-se das mais recentes inovações em estruturas ecologicamente adequadas que utilizam materiais do local. Liste o que é preciso para concretizar esse projeto e as pessoas responsáveis pelo plano geral; calcule o tempo de elaboração do plano e o custo envolvido. � Quando o plano geral estiver completo, liste as atividades prioritárias (que aprimorem as estruturas existentes ou criem

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novas estruturas), selecione os arquitetos e empreiteiros e inicie a construção. Certifique-se de que produtos e serviços do local sejam utilizados o máximo possível. Liste o que é necessário para a realização desse projeto e as pessoas responsáveis pela coordenação da construção; calcule o tempo que o projeto demandará e o custo envolvido. O quarto componente da estratégia deverá levar em consideração os recursos humanos do parque. � Decida que tipo de conhecimento técnico e, portanto, que quadro de funcionários é necessário para gerenciar o nível desejável de turismo. O quadro compõe-se de uma equipe administrativa, guardas florestais, guias e outros. Contrate o pessoal necessário. Liste as pessoas que serão responsáveis pelos funcionários; calcule o tempo necessário para contratá-los e os custos envolvidos. � Decida que tipo de treinamento em gestão turística é necessário para os funcionários. O tipo de treinamento pode variar segun do o cargo exercido. Determine a melhor forma de oferecer o treinamento. Pode-se contratar um professor para ir ao local, enviar as pessoas a programas formais de treinamento, ou promover visitas dos funcionários a um local onde haja pessoal treinado. Liste as informações técnicas que os funcionários do parque devem ter e quem será responsável pelo treinamento; indique qual o melhor método, quanto tempo será necessário para contratar o pessoal e quais os custos envolvidos. ultrapassando os limites do parque Estas considerações tratam da interação entre o parque e as comunidades locais.

� Uma vez identificadas as comunidades que serão afetadas pelo turismo, o passo seguinte é interagir com elas. A interação

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dependerá das condições culturais e socioeconômicas locais. Por exemplo, em alguns lugares pode ser mais adequado interagir com as pessoas mais velhas, e, em outros, com toda a comunidade. Promova encontros especiais com cada comunidade, para discutir o interesse que elas têm no turismo e o papel que gostariam de desempenhar em relação ao turismo no parque. Liste o que é necessário para trabalhar com as comunidades e as pessoas responsáveis pelas relações com as comunidades; calcule o tempo requerido para fazer os contatos iniciais e os custos envolvidos. � Selecione representantes de comunidades para participar dos planos de desenvolvimento do turismo e para integrar a comis são ecoturística do parque. � Dê assistência e apoio às comunidades que queiram maiores informações sobre o plano de turismo proposto para o parque, que tenham preocupações a respeito, ou que desejem ter acesso ao treinamento ou ao financiamento a fim de participar do processo de desenvolvimento do turismo. Liste os requisitos necessários para assistir a comunidade e as pessoas a cargo dos contatos; calcule o tempo requerido para estabelecer esses contatos e os custos envolvidos. � Mantenha encontros regulares com as comunidades para certificar-se de que elas estão se beneficiando com o turismo e tendo o mínimo de prejuízo. Liste as pessoas que serão encar regadas de contatar as comunidades, o tempo que esta tarefa levará e os custos que acarretará. As considerações seguintes referem-se à infra-estrutura regional (dentro do país).

� Decida que projetos regionais (estradas, clínicas de saúde, alojamentos, etc.) precisam ser desenvolvidos em apoio ao plano ecoturístico proposto para o parque.

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� Influencie os grupos certos (do governo, do setor privado) a implementar o que for necessário. É importante ressaltar os benefícios que o ecoturismo no parque trará para toda a região. Liste os requisitos necessários para pressionar os grupos e as pessoas empenhadas nessa tarefa; calcule o tempo a ser despendido e os custos envolvidos. A próxima consideração refere-se a outras atrações regionais.

� Descubra se há outras atrações turísticas na região com as quais o parque gostaria de integrar-se, a fim de criar pacotes turísticos regionais. Essa seria uma forma de promover e divulgar o parque. Contate pessoas ligadas a essas atrações, que possam ser bons parceiros, e tome as providências necessárias. Liste as habilidades requeridas no trabalho com outros locais e as pessoas encarregadas do marketing; calcule o tempo necessário para a tarefa e os custos envolvidos. As considerações a seguir abordam temas de caráter nacional, tais como a estrutura legal, as políticas adotadas e as questões orçamentárias.

� Identifique quem está oficialmente a cargo da gestão do turismo no parque (indivíduo, órgão público ou consórcio).

� Defina as zonas turísticas do parque. Sinalize-as com placas oficiais. Liste os requisitos necessários para o zoneamento e as pessoas encarregadas dele; calcule o tempo requerido para essa tarefa e o custo que ela acarretará.

� Determine o preço do ingresso no parque. A melhor estratégia pode ser estabelecer preços diferentes para turistas estrangeiros e residentes no próprio país. Os preços podem cobrir taxas diárias, semanais, para grupos e outros. Crie um sistema de cobrança de ingressos e determine a estrutura material e os recursos humanos necessários. Liste os requisitos técnicos necessários para a elaboração de um sistema de cobrança de

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ingressos e as pessoas responsáveis por essa atividade (ela pode envolver um processo legal nacional); calcule o tempo que será preciso para criar o sistema e quanto ele custará. � Estude o orçamento nacional para parques. Há algum mecanismo financeiro que permita que a renda dos ingressos reverta para o parque? Se não houver, tome providências para criar um, verificando como mecanismos semelhantes foram implantados em outros países. Esse procedimento pode ser muito trabalhoso, mas é crucial para a viabilização financeira do parque. Liste os requisitos necessários para criar um sistema financeiro e as pessoas que estarão a cargo desse projeto; calcule o tempo requerido para sua realização e os custos envolvidos. � Determine como será feita a distribuição orçamentária dentro do próprio parque. Se o turismo é uma prioridade para o parque, destine fundos adequados para seu desenvolvimento a fim de preparar o parque para lucrar com o turismo. Liste os requisitos necessários para planejar o orçamento e as pessoas encarregadas do orçamento do parque; calcule o tempo reque rido para a conclusão dessa tarefa e o custo que ela implicará. Estas considerações finais enfocam o modo como os vários níveis interagem com o setor privado. � Decida com quais operadores turísticos é melhor trabalhar e que papel eles devem desempenhar. (Por exemplo, eles devem levar seus próprios guias ou isso fica a cargo do parque?) Liste as pessoas que deverão entrar em contato com os operadores turísticos; calcule o tempo que a tarefa demandará e o custo que acarretará. � Decida que tipo de informação o parque precisa ou deseja ter sobre a demanda de turismo. (Por exemplo, informação demo gráfica sobre visitantes e o que lhes agrada ou desagrada no parque.) Consulte operadores turísticos para aprender mais

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sobre a demanda de turismo. Estude e pesquise para completar a informação que falta. Liste os requisitos necessários para o levantamento de dados e as pessoas que serão responsáveis pela informação turística; calcule o tempo que essa tarefa requer e os custos envolvidos.

� Decida de que forma promover e divulgar o parque. Isso pode significar promover uma campanha do tipo "visite o parque", contatar jornalistas da área de turismo para escrever histórias, publicar folhetos, ou deixar tudo nas mãos dos operadores turísticos. Crie um plano de marketing. Indique os requisitos necessários para promover o parque, o tempo previsto para essa tarefa e os custos envolvidos. terceira fase: escrever um documento sobre a estratégia ecoturística

Uma vez que o grupo determina uma estratégia, é preciso que alguém seja indicado para registrar, publicar e divulgar as informações. Dessa maneira, a estratégia ecoturística pode chegar ao conhecimento de fontes potenciais de recursos financeiros, de doadores, de investidores, ou de outros, que possam oferecer assistência técnica para a administração do parque a fim de viabilizar a estratégia.

A estratégia ecoturística preencherá uma outra função: tornar-se-á o plano ecoturístico oficial da área. Todo incremento ou atividade turística deverá seguir as diretrizes estabelecidas no plano. Quaisquer alterações no documento devem ser aprovadas pela comissão ecoturística do parque. A estratégia deve ser incorporada ao plano geral de administração da área protegida.

Dada a importância desse documento, é fundamental que ele seja redigido com rigor profissional, imediatamente após o trabalho do workshop. Por essa razão, é aconselhável contratar um consultor para essa fase, de preferência o mesmo profissional das etapas anteriores.

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56 ecoturismo metodologia

A metodologia para o documento da estratégia envolve a elaboração, a publicação e a distribuição.

Em primeiro lugar, nomeie alguém que assuma a coordenação da terceira fase (um responsável, um consultor profissional). O responsável freqüentará o workshop e registrará os resultados. No final do workshop, o responsável fará uma breve apresentação dos resultados para os participantes, para garantir que o relatório reflita os interesses do grupo. O responsável, então, redigirá o relatório da terceira fase e o encaminhará para que seja examinado pela comissão ecoturística.

Após tomar conhecimento dos comentários críticos dos reviso-res, incorpore as últimas alterações da comissão ecoturística e procure uma gráfica. Em seguida, escolha o layout da publicação. Esse processo requer a identificação do público-alvo. Uma vez que este foi definido, especifique o número de cópias necessárias. Finalmente, se for preciso, procure fundos para a publicação.

Determine o melhor método de distribuição e então, se necessário, procure verbas. Finalmente, faça circular o relatório junto a todas as partes envolvidas e a possíveis doadores e assessores técnicos. Divulgue o relatório conforme o necessário.

conclusão

Os parques estão cada vez mais interessados no ecoturismo. Não só estão recebendo um número maior de visitantes a cada ano, como também seus administradores estão começando a ver o turismo como uma nova fonte de renda e emprego. Mas, para incorporar o ecoturismo e manter o equilíbrio entre custos e benefícios, os parques precisam estar preparados. As diretrizes apresentadas visam a ajudar os administradores de parques no processo de planejamento. Elas podem

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o planejamento ecoturístico para áreas protegidas 57 ser úteis como pontos de reflexão para administradores que lidam com o ecoturismo e desejam saber mais sobre ele. Ou podem também ser utilizadas como um guia para o processo formal de planejamento, envolvendo muitas pessoas interessadas em ecoturismo na área e resultando numa estratégia ecoturística oficial para o parque.

É importante salientar que o processo aqui descrito serve apenas como referência para o planejamento. Ele deve ser utilizado como um ponto de partida e modificado, conforme necessário, para adaptar-se a determinadas situações. O processo integral de desenvolvimento de uma estratégia ecoturística deverá ser individualizado tendo em vista as especificidades de cada parque. Portanto, este documento não é uma receita oficial, mas um conjunto de sugestões para a elaboração do plano. O ingrediente principal é a criatividade dos planejadores. Outro elemento crucial para tornar esse processo viável são recursos financeiros adequados. Como já foi mencionado, a maioria dos parques está sofrendo grandes cortes no orçamento. Para criar e implementar um plano ecoturístico é preciso haver fundos disponíveis para todas essas atividades. Estamos confiantes de que os governos, os conservacionistas e a indústria do turismo reconhecerão a importância dos planos ecoturísticos e apoiarão seu desenvolvimento.

O propósito desse exercício de planejamento é garantir que as áreas protegidas ocupem uma posição de autoridade em relação ao crescimento ecoturístico. A indústria do ecoturismo só terá sucesso se os recursos naturais forem protegidos. E eles só serão bem protegidos se houver uma estratégia correta de gestão, e se os administradores de parques e as comunidades locais assumirem o papel de liderança no processo.

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2 desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas para áreas naturais e comunidades vizinhas

Sylvie Blangy e Megan Epler Wood

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Define-se ecoturismo como viagem responsável a áreas naturais, com o fim de conservar o meio ambiente e promover o bem-estar da comunidade local. Esse tipo de viagem depende da conservação dos recursos da área natural. Há, portanto, uma parceria natural entre as empresas privadas que organizam experiências de viagem pela natureza e as entidades (governamentais, não-governamentais e privadas) responsáveis pela proteção das áreas naturais. Essa parceria pode, de fato, proporcionar uma verdadeira experiência ecoturística por meio do aumento da consciência do público sobre proteção ambiental; da provisão de recursos econômicos para a gestão das áreas naturais; da maximização dos benefícios econômicos para as comunidades locais; do estímulo à compreensão das diferenças culturais; e da diminuição dos efeitos adversos dos visitantes sobre o meio ambiente natural e cultural.

O turismo relacionado com a História Natural sempre existiu, mas, desde 1980, tem havido um aumento considerável desse tipo de viagem. Na década de 80, muitos operadores turísticos tiveram um aumento anual de 20% no número de seus clientes. Uma quantidade cada vez maior de turistas visita hoje as regiões mais remotas da Terra, da Antártida à Nova Guiné. As áreas naturais estão ameaçadas pelo

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62 ecoturismo súbito crescimento do turismo, e a zona rural ao redor desses locais populares é, em geral, seriamente afetada pela invasão de visitantes estrangeiros. Seria extremamente positivo para os órgãos locais, res-ponsáveis pela administração dos visitantes, que os operadores turísticos e as organizações ambientais instruíssem os turistas sobre o comportamento adequado, antes que eles chegassem às áreas protegidas. A necessidade de divulgar as diretrizes elaboradas para proteger cenários ecológicos e culturais frágeis é, hoje, maior do que nunca.

As diretrizes funcionam como um poderoso instrumento de comunicação para reduzir o impacto dos visitantes. Elas podem ser particularmente úteis, quando regulamentos que orientam o comportamento do visitante ainda não foram criados. O ideal é que todas as áreas protegidas tenham diretrizes para visitantes. Contudo, há muitos casos em que os órgãos locais, estaduais e federais não oferecem nenhuma informação aos turistas. Operadores turísticos particulares, organizações ambientais, comunidades locais, associações profissionais, e até companhias aéreas desempenham um papel cada vez mais importante na educação dos visitantes.

tipos de diretrizes

Os objetivos das diretrizes ecoturísticas variam de acordo com a entidade que as formula. Elas devem auxiliar o visitante a planejar uma viagem e a escolher um roteiro ecológico, a minimizar o impacto de caminhadas e acampamentos, e a ser um viajante responsável em termos ambientais, sociais e econômicos.

A maioria das diretrizes destina-se aos turistas que visitam áreas naturais, parques e áreas protegidas. Diretrizes bem planejadas devem levar em conta os vários tipos de visitantes e, como outros instrumentos de comunicação, devem visar cuidadosamente o público que deverá beneficiar-se delas.

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desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 63 Os tipos de visitantes listados abaixo podem ser orientados por meio de

um conjunto geral de diretrizes ou de uma série específica para cada grupo*.

Visitantes em excursões (grupos) Praticantes de atividades náuticas e mergulhadores

Visitantes individuais de um dia (day-use)

Caçadores de souvenirs

Mochileiros e campistas individuais Ornitólogos e observadores amadores de aves

Cientistas Ciclistas Colecionadores/coletores Usuários de caminhonetes ou jipes Fotógrafos amadores Esquiadores de cross-country Fotógrafos profissionais e produtores de cinema

Usuários de trenós motorizados

Diretrizes que estipulem normas para os serviços a visitantes são

também úteis. Nessa categoria, os administradores de áreas protegidas são os mais indicados para assumir a liderança. Se a área protegida encontra-se sob um sistema de concessão, exigências específicas podem ser definidas e acordadas por meio de um contrato, antes que seja permitida a implantação de um esquema turístico na área. Se não há sistema de concessão, o meio mais eficaz de evitar o impacto negativo é controlar as operações turísticas, as pousadas e outras acomodações, e quaisquer outras empresas privadas da região, por intermédio de diretrizes tão detalhadas quanto possível.

Finalmente, diretrizes que visam aos profissionais envolvidos na divulgação de informações para os visitantes - guias turísticos, hote-

* Na realidade, há dezenas de segmentos de mercado entre os freqüentadores de áreas naturais, e a listagem se refere apenas a alguns deles. A cada ano, novas modalidades de recreação na natureza se tornaram conhecidas, como montanhismo, espeleologia e escaladas de cachoeiras. Entre nós, são usados, por vezes, termos em inglês, como hiking e trekking. Hiking, em geral, refere-se a caminhadas de um dia, e trekking envolve pernoites no trajeto. (N. do R.T.)

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64 ecoturismo leiros, agentes de informação, funcionários do comércio - podem ser elaboradas por associações de classe. Seu papel deve ser o de melhorar os serviços e proteger o meio ambiente, garantindo, assim, a qualidade de vida e trabalho na região. processos e parceiros no desenvolvimento de diretrizes

Os administradores de áreas protegidas que procuram atrair turistas deveriam considerar as diretrizes como um dos meios mais econômicos para a administração do visitante. Oferecer diretrizes é um serviço muito importante para o visitante que necessita e aprecia sugestões e informações sobre comportamentos adequados e que, em geral, gosta de ter acesso a elas. A falta de informação e compreensão é responsável por muitos dos danos culturais e ambientais provocados pelos turistas. Informações simples e baratas, aliadas a técnicas de divulgação, podem evitar danos irreversíveis à região.

Todas as entidades envolvidas com os visitantes deveriam participar da elaboração das diretrizes. Esse procedimento pode ajudar a evitar propostas coincidentes (sugeridas por partes diferentes), e tornar as diretrizes mais abrangentes. É aconselhável consultar as diretrizes que já existem e trabalhar com as organizações que as conceberam. Para os administradores de áreas protegidas, tornar as diretrizes parte de um programa integrado com a comunidade é uma forma eficaz de garantir que as pessoas do local participem e se engajem na implementação. Além disso, contribui para preparar a comunidade para os diversos tipos de comportamento do turista, com os quais ela poderá se deparar. Há várias etapas no desenvolvimento de diretrizes para a administração do bom visitante. A natureza e o estágio de desenvolvimento das diretrizes ajudarão a identificar os parceiros certos com quem trabalhar.

A primeira etapa é aquela na qual princípios devem ser estabelecidos como alicerce para a construção de diretrizes. Tais princípios

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desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 65 constituem os fundamentos que permitirão determinar os objetivos das diretrizes. Por exemplo, trata-se de uma área prioritariamente recreativa, onde a proteção aos recursos vem em segundo lugar, ou é exatamente o oposto?

Na segunda etapa, diretrizes são elaboradas depois que os princípios básicos foram acordados. As diretrizes sugerem o comportamento adequado dos visitantes em uma série de situações freqüentes, como, por exemplo, o modo de armazenar comida nos acampamentos e o que fazer com todo o lixo. "Leve de volta tudo o que trouxe" é uma recomendação clássica*. À medida que as diretrizes se tornam mais elaboradas, vão se tornando mais específicas. Em última análise, elas constituirão a base dos regulamentos.

Na terceira e última etapa, regulamentos podem ser criados a partir das diretrizes. Entretanto, é preciso funcionários para fiscalizá-los, e pesquisadores que possam fazer diretrizes apoiados em dados de campo, sobre o impacto específico do visitante sobre o solo, a água, as espécies em risco de extinção e os tipos de hábitat.

Para a criação de um sistema eficaz de diretrizes, devem colaborar as seguintes organizações:

Comunidades que desejam informar os visitantes sobre os costumes

locais podem contribuir muito para os princípios e diretrizes relacionados com os hábitos e costumes sociais.

Empresas privadas - operadores domésticos e internacionais, reservas

particulares, serviços de alojamento, companhias aéreas e vendedores de equipamentos - todos querem informar seus clientes. Na elaboração de diretrizes, eles geralmente trabalham bem em conjunto com organizações ambientais sem fins lucrativos. As diretrizes podem ser informativas e úteis para visitantes, antes de suas viagens. Diretrizes específicas para cada local são mais eficazes quando a equipe de administração da área protegida trabalha em cooperação

"Tire apenas fotografias, deixe apenas pegadas e leve apenas recordações" é um lema utilizado entre nós. (N. do R.T.)

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66 ecoturismo com os operadores turísticos. As informações destes últimos podem ser valiosas em seções que descrevem os procedimentos recomendados para controlar o comportamento de grupos de visitantes em diversos hábitats.

Organizações ambientais sem fins lucrativos podem tomar a iniciativa e redigir as diretrizes, caso elas não estejam disponíveis, para áreas naturais frágeis, como foi feito pela Asociación Tsuli Tsuli/Audubon da Costa Rica. Ou podem contribuir com seu conhecimento especializado, trabalhando em conjunto com operadores turísticos e administradores de áreas protegidas, a fim de desenvolver um conjunto integrado de diretrizes.

Guias turísticos e outros intérpretes podem querer trabalhar juntos

para estabelecer padrões ecoturísticos, como, por exemplo, o código de conduta preparado pelos operadores comerciais e guias no arquipélago Rainha Carlota, na Colúmbia Britânica, Canadá. Diretrizes elaboradas por guias turísticos podem ser bem específicas e fornecer informações de apoio muito úteis sobre zonas e locais perigosos, onde é preciso um cuidado especial a fim de proteger espécies em risco de extinção. Guias turísticos que estão diariamente em contato com visitantes podem constituir a fonte mais rica de informações em todas as fases do desenvolvimento das diretrizes.

Muitas das diretrizes existentes, citadas neste artigo, foram criadas por órgãos estaduais e nacionais dos Estados Unidos (ver Tabela 2-1). Além deles, operadores turísticos particulares estão, cada vez mais, estipulando suas próprias diretrizes, devido à falta de diretrizes nos países em desenvolvimento. Como o turismo continua crescendo rapidamente nesses países, operadores turísticos responsáveis estão tomando a iniciativa. Mas eles não podem fazer tudo sozinhos.

Os operadores turísticos consultados para a elaboração deste artigo mostraram grande interesse nas diretrizes criadas por administradores das terras locais, órgãos regionais, organizações não-governamentais e comunidades dos países em desenvolvimento. Tais

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desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 67 entidades estão preparadas para produzir um conjunto preciso de padrões para orientar o comportamento do visitante em suas áreas. Regulamentos que devem ser rigorosamente cumpridos seriam até mais úteis, mas as diretrizes são uma etapa importante para a elaboração de regulamentos. Os visitantes precisam estar informados acerca dos hábitats e espécies frágeis, que requerem cuidado especial, em determinada área natural.

Uma amostra do conjunto de diretrizes que serviram de base para a redação deste artigo pode ser encontrada na Tabela 2-2, no final deste capítulo. Essas diretrizes representam um ponto de referência útil para o estilo e as técnicas descritos nas próximas seções.

técnicas para a elaboração de diretrizes

Aqui estão alguns dos pontos-chave que devemos considerar quando começamos a compilar uma série de diretrizes. � Decida quem é o público-alvo das diretrizes (ex.: visitantes em geral, operadores turísticos, grupos de usuários). � Identifique o tema ou a área de interesse central das diretrizes (ex.: proteção ambiental ou conscientização sobre aspectos culturais). � Consulte os guias que levam os turistas às áreas naturais. � Obtenha auxílio técnico de cientistas que estudaram o impacto do turismo. � Reúna todas as partes interessadas. Forme uma comissão, que pode ser constituída por moradores, gestores de recursos, guias, operadores comerciais, proprietários de pousadas, funcionários ligados ao parque e vendedores locais. � Use as diretrizes de outras áreas como modelo. � Estipule objetivos e formule uma maneira de avaliar se eles foram alcançados (ex.: diminuição do maltrato aos animais e da erosão de trilhas).

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68 ecoturismo � Elabore o documento e encaminhe-o, quantas vezes for necessário, aos especialistas técnicos para revisão e crítica. � Crie um plano de distribuição do documento. dicas sobre o estilo

As diretrizes têm por objetivo solicitar cooperação. Elas devem ser redigidas com habilidade, levando em consideração a maneira como o leitor as interpretará e utilizará. Escreva em tom amigável e evite linguagem técnica, que o leitor pode ter dificuldade em compreender. Se as diretrizes são fáceis de ler e estão escritas em um estilo que predispõe o viajante a cooperar, o tempo gasto em sua elaboração será mais do que compensado. Fazemos as seguintes sugestões quanto ao estilo da redação: � Seja claro: dê todas as explicações e ilustre as conseqüências com exemplos. � Seja positivo: evite uma linguagem proibitiva. Estimule o comportamento responsável. � Use desenhos e figuras para ajudar a explicar as conseqüências. � Traduza as diretrizes para o maior número possível de línguas. � Imprima em papel reciclado, se possível. � As diretrizes devem ser complementadas com sugestões sobre os melhores locais e formas de observar a vida selvagem, com orientações sobre segurança e com uma lista de contatos para maiores informações. Pedidos de doações também podem ser incluídos. � O nome, o endereço e o telefone dos responsáveis pelas diretrizes devem estar claramente impressos. � A possibilidade de formulação de um questionário, para os visitantes, sobre a eficácia das diretrizes deve ser considerada.

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desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 69

pontos para revisão das diretrizes

Ao elaborar as diretrizes, leve em consideração os aspectos ecológicos, sociais e econômicos, listados abaixo.

Os interesses ecológicos são a espinha dorsal do programa de diretrizes que, geralmente, são elaboradas por especialistas em recursos naturais, com experiência em impacto do turismo sobre os ecossistemas locais.

Tratamento do lixo Locais de observação e fotografia Tratamento dos dejetos humanos Alimentação e contato com os

animais Coleta de lenha para fogueira e autonomia de combustível

Cuidados com animais de estimação

Localização das fogueiras nos acampamentos

Proteção dos mananciais de água

Identificação de lugares para acampamento

Níveis de ruído das pessoas acampadas, dos veículos e dos rádios

Comportamento nas trilhas, nas estradas e na água

Impacto visual dos visitantes sobre outros visitantes

Proteção das espécies em risco de extinção

Tamanho do grupo

Distâncias adequadas para a vida selvagem

Coleta de souvenirs naturais

Compra de souvenirs naturais Leis do comércio internacional

As comunidades locais são as mais indicadas para criar diretrizes sociais. Se isso não for possível, a entidade responsável pelas diretrizes deveria solicitar ampla colaboração de líderes locais.

Costumes e tradições locais Vestuário Crenças religiosas Linguagem Permissão para fotografias e outras concessões sociais

Invasão de privacidade

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70 ecoturismo

Comportamento em relação à mendicância

Direitos dos índios

Cumprimento de promessas Autoridades locais Uso e abuso de dispositivos tecnológicos

Áreas tora dos limites

Permutas e barganhas Bebidas alcoólicas Fumo Gorjetas

As diretrizes econômicas são um componente importante das questões sociais. À medida que o ecoturismo se desenvolve, os ecoturistas estão sendo solicitados a reconhecer não só seu impacto sobre o meio ambiente e a cultura, mas também sobre as economias estrangeiras. Portanto, é importante considerar a integração de sugestões sobre a seleção dos bens e serviços que os turistas compram. O objetivo, em todos os casos, será reduzir o escoamento da renda do turismo para fora da região, e garantir o máximo de retorno financeiro para as comunidades locais e áreas protegidas. Como as diretrizes econômicas são um conceito novo, pode ser que seja necessário explicar, nas diretrizes, como a renda proveniente do turismo pode constituir uma alternativa econômica sustentável para a população local, que, de outra forma, precisaria recorrer ao uso insustentável dos recursos para sobreviver. Diretrizes relativas à economia local incluem:

Compra de produtos locais Uso de restaurantes e alojamentos

de propriedade local Pagamento de serviços e de ingressos

Comportamento adequado em retenção às gorjetas

Doações para entidades locais sem fins lucrativos

fundos e agências financiadoras

Órgãos nacionais e regionais podem promover programas de diretrizes com baixo custo, utilizando o tempo da equipe para o

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desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 71 projeto. Órgãos públicos podem estimular grupos locais a conceberem e adotarem seus próprios documentos, com a destinação de uma pequena verba para contratar um mediador para as reuniões, ou para ajudar no projeto e na publicação de um folheto.

Operadores internacionais têm demonstrado disposição para ajudar seus parceiros locais a redigirem diretrizes, incluindo operadores domésticos, administradores de terras públicas e comunidades locais. Organizações não-governamentais locais e internacionais geralmente dispõem de fundos para projetos de educação ambiental. Empresas turísticas interessadas em promover o ecoturismo deveriam ser solicitadas a destinar fundos para a elaboração, impressão e distribuição das diretrizes locais.

implementando as diretrizes

As diretrizes para os turistas são necessárias em diferentes ocasiões, durante as férias. Diretrizes específicas são mais adequadas quando estão disponíveis no local. Se após a leitura das diretrizes o turista puder observar o impacto do turismo ou constatar a fragilidade da área natural sob proteção, ficará muito mais claro para ele o que é permitido ou proibido fazer.

É particularmente eficaz complementar as diretrizes escritas com explicações. O momento ideal para dar as informações é antes da saída para um passeio de um dia pela região. Guias especializados em turismo de natureza devem estar bem informados sobre o impacto do turismo. Devem explicar as diretrizes, dar exemplos de impactos que tenham observado e estimular perguntas. Durante o passeio, os guias devem saber quando dizer "não". Nas áreas protegidas, deveria ser estabelecida uma política que proibisse o pagamento aos guias que permitem maior proximidade com a vida selvagem. Um fundo especial para os guias e para o seu treinamento pode ser criado pela administração da área protegida, a fim de desobrigar os visitantes do

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72 ecoturismo oferecimento de gorjetas altas a determinados guias. Uma política que dê aos turistas a oportunidade de gratificar os guias, sem recompensar o mau comportamento, é a ideal.

Grande parte do impacto do turismo pode ser causado por visitantes desobedientes. Por exemplo, nadadores inexperientes, que mergulham pela primeira vez na vida, pisarão nas pontas dos corais para ajustar as máscaras ou para inspirar. Os visitantes deveriam conhecer as conseqüências de um contato inadvertido com recursos frágeis, antes de se inscreverem para um passeio. Áreas que não são frágeis deveriam ser reservadas para os visitantes que precisam aprender como evitar os danos aos recursos.

distribuição

E muito importante que as diretrizes estejam acessíveis aos turistas durante toda a visita. Algumas formas possíveis de divulgação são:

Manuais de viagem Centros de visitação (folhetos e

sinalização) Mapas de estradas e caminhos Material escrito na entrada do

parque, cartazes, placas Brochuras promocionais Quartos de hóspedes Literatura preparatória elaborada pelos operadores turísticos Bolsos de poltronas de avião Balcões de aluguel de carro

Balcões de vendas de artigos esportivos (equipamentos para mergulho, pesca, caminhada e ciclismo)

Em viagens aéreas ou em centros de visitação, os turistas podem

aprender muito com filmes ou vídeos que reforcem as diretrizes escritas. A mensagem visual ilustra as conseqüências do mau comportamento de uma maneira muito mais eficaz do que o material escrito.

A publicidade em torno de diretrizes novas pode ser uma forma de incrementar o processo de distribuição. O operador internacional

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desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 73 International Expeditions divulgou suas diretrizes nos jornais, numa campanha formal de mídia. A campanha era dirigida a viajantes internacionais e agentes de viagem. As diretrizes foram impressas em um encarte e incorporadas a brochuras. Em alguns casos, recomenda-se o uso de anúncios por rádio ou televisão. A distribuição de cartazes e folhetos em reuniões com grupos interessados e o uso de editoriais podem também ser formas eficazes de divulgar as mensagens.

É importante que os turistas sejam conduzidos até os centros de visitação ou quiosques onde se encontram as diretrizes. De nada adiantará se os visitantes não tiverem acesso ao material visual/escrito relativo às diretrizes, antes de visitarem uma área natural frágil. Esse é um problema muito comum. Os funcionários da área protegida devem garantir que motoristas de ônibus e guias conduzam seus clientes aos locais de informação e, naturalmente, que esses locais estejam bem supridos de material. Fornecer folhetos de baixo custo a todas as companhias de transporte particulares que levam os turistas às áreas naturais é outra maneira de assegurar que eles leiam as diretrizes antes de visitarem as regiões frágeis.

avaliação

Pouco tem sido feito para avaliar a eficácia das diretrizes. Entretanto, é possível pedir aos viajantes que já estão retornando, que preencham um questionário no qual comentem até que ponto sua viagem transcorreu de acordo com as diretrizes divulgadas.

Se os objetivos das diretrizes foram cuidadosamente definidos e referem-se a espécies e locais específicos, a eficácia das orientações pode ser determinada, avaliando-se o nível relevante de impacto do turismo sobre a espécie ou área selvagem em questão. No caso das diretrizes da Associação Salve o Manati, da Flórida, as organizações responsáveis pelas diretrizes registraram que a mortalidade e os danos causados aos manatis diminuíram significativamente, desde que as

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74 ecoturismo diretrizes foram distribuídas em conjunto com uma ampla campanha junto ao público.

Se um questionário for impresso no verso das diretrizes, ele pode servir como importante mecanismo de resposta do consumidor. Esse feedback pode ser extremamente valioso e fornecer exemplos que podem ser incorporados a um documento revisado. Distribua várias urnas em locais de fácil acesso, a fim de que os visitantes depositem seus questionários. Solicite aos funcionários do parque que recolham os questionários dos visitantes que estão de saída. Forneça aos funcionários um caderno para que sejam anotados os comentários verbais que os visitantes fazem ao partir. Usar as diretrizes como instrumento de feedback pode reverter em grande benefício para a manutenção do parque, na medida em que permite à administração perceber os pontos problemáticos de maneira mais ágil. E os questionários dão aos visitantes a oportunidade gratificante de colaborar para o controle da conservação.

assistência técnica

Quem está preparado para dar assistência técnica? As seguintes organizações podem ser bons pontos de referência.

The National Audubon Society (Sociedade Nacional Audubon) tem

filiais por todos os Estados Unidos, América Central e do Sul. Essas associações locais reúnem cientistas altamente competentes, ornitólogos amadores e naturalistas, que podem, em muitos casos, fornecer informação fidedigna sobre o impacto do turismo. A Audubon elabora diretrizes tanto em nível local como nacional. A National Audubon Society pode colocar à disposição cópias de sua "Ética de Viagem".

Recreation Equipment, Inc. (REI) pode oferecer um grande número de

seus dois folhetos Diretrizes para o Mínimo Impacto e

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desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 75 Crianças na Natureza, para qualquer organização ou pessoa que queira orientar campistas e caminhantes de regiões afastadas.

Wildland Adventures tem diretrizes para empresas que podem ser úteis para outros operadores de viagem. Além disso, Kurt Kutay, dono da Wildland Adventures, está envolvido na preparação de diretrizes para indústrias (operadores de turismo de natureza na América do Norte), em nome da The Ecotourism Society.

International Institute for Peace through Tourism (Instituto In-

ternacional para a Paz por intermédio do Turismo) está preparando um questionário com o objetivo de redigir um código de ética para a indústria do turismo como um todo.

The Ecotourism Society tem, em seus arquivos, diretrizes para as áreas

naturais do mundo todo. Cópias de todas as diretrizes listadas nas páginas seguintes, sob o título Diretrizes Recomendadas podem ser obtidas, mediante solicitação, pelo preço da fotocópia e do envio postal. Assistência para pesquisa sobre diretrizes aplicáveis a áreas ou casos específicos pode ser obtida por um custo adicional.

U.S. Forest Service (Serviço Florestal dos EUA) tem o programa "Não

Deixe Vestígios". Ele está preparado para fornecer materiais e responder a perguntas sobre a experiência de campings e caminhadas de mínimo impacto, no Sistema Florestal Nacional dos EUA. Além de diretrizes escritas, seu programa oferece treinamento para diversas áreas.

diretrizes existentes

Setenta conjuntos de diretrizes de todas as partes do mundo foram consultados para a elaboração deste capítulo. Eles foram classificados segundo o tipo de organização, o público-alvo, os tópicos,

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76 ecoturismo as mensagens e as estratégias. Seis tipos diferentes de organizações elaboram diretrizes ecoturísticas. Grupos ecumênicos e religiosos, por ex., assembléias eclesiásticas

Governos, por ex., órgãos locais e nacionais de administração de terras

A indústria do turismo, por ex., operadores turísticos

Varejistas de equipamentos para camping

Organizações ambientais não-govemamentais

Associações de consumidores

Ás organizações ecumênicas e religiosas foram as primeiras a criar códigos de ética para os turistas. Tais diretrizes visavam a abordar problemas sociais, como a prostituição infantil. Essa iniciativa contribuiu para a criação de programas mais abrangentes, que recomendam o respeito e o zelo pelo meio ambiente natural nos países em desenvolvimento.

A indústria do turismo de natureza, comercial ou sem fins lucrativos, foi a pioneira no campo da ética de viagem em relação ao meio ambiente. Suas diretrizes destinam-se a viajantes naturalistas e oferecem princípios, inspirados no bom senso, sobre o comportamento adequado em regiões naturais.

Os órgãos estaduais e federais dos Estados Unidos têm chamado a atenção do visitante para os programas de proteção às espécies em risco de extinção. Eles têm procurado veicular informação sobre conservação aos viajantes que visitam áreas públicas. Fiscalização e regulamentos com multas são parte desses programas.

Varejistas, como o REI (Recreational Equipment, Inc.), têm utilizado seus catálogos e pontos comerciais para promover a conscientização ambiental, através da distribuição de diretrizes a seus clientes.

Associações de consumidores "verdes" - como a COOP AMERICA, por exemplo - fornecem sugestões úteis a seus associados para a escolha de um roteiro ecológico.

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desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 77 diretrizes recomendadas

Alista que segue constitui uma seleção representativa de diretrizes bem redigidas. Todas elas podem ser obtidas por intermédio da The Ecotourism Society ou diretamente das organizações.

A Code of Ethics for Tourists/Código de Ética para Turistas

(Ecumenical Coalition on Third World Tourism, c/o Center for Res-ponsible Tourism, P.O. Box 827, San Anselmo, Califórnia 94979, Tel. 415-258-6594). Esse código de ética é o mais conhecido, o mais difundido, e, provavelmente, o primeiro a ter sido elaborado; enfatiza os costumes sociais para o viajante, incluindo regras para pechinchar e vestuário adequado.

Travei Ethic for Environmentally Responsible Travei/Ética de Viagem

para Viagens Ambientalmente Responsáveis (The National Audubon Society, Travei Program, 950 Third Avenue, New York, New York 10002, Tel. 212-546-9140).Trata-se das diretrizes mais abrangentes sobre questões ambientais, sociais e econômicas. O documento incentiva os viajantes, operadores turísticos e guias a se empenharem em dar apoio à conservação nos países hospedeiros.

Antarctica Tour Operator and Visitor Guidelines/Diretrizes aos

Visitantes e Operadores Turísticos da Antártida (Society Expedi-tions, Mountain Travei and Travei Dynamics, contatar Society Ex-peditions, 3131 Elliot Avenue, Suite 700, Seattle, Washington 98121, Tel. 206-285-9400). Três operadores turísticos elaboraram dois conjuntos de diretrizes, baseadas no Tratado da Antártida. As diretrizes ao visitante foram adotadas por todos os operadores turísticos marítimos dos Estados Unidos. As diretrizes aos operadores turísticos propõem uma melhor organização, a fim de evitar a visitação excessiva. São oferecidas sugestões úteis para o tratamento do esgoto e do lixo a bordo.

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78 ecoturismo Gwaii Haanas Code of Conduct/Código de Conduta de Gwaii Haanas

(Charlotte Husband, Box 733, Queen Charlotte City, British Columbia, V0T 1SO, Canada). Essas diretrizes foram elaboradas para e pelos operadores turísticos comerciais, guias e visitantes, com a finalidade de proteger o Arquipélago Gwaii Haanas, também conhecido como Reserva do Parque Nacional de South Moresby. As diretrizes representam um documento consensual, endossado pelos operadores como código de conduta para operações comerciais e visitantes. Esse abrangente conjunto de diretrizes inclui sugestões para a visitação a sítios arqueológicos e culturais, pesca de peixes e mariscos, e visitação a áreas de ninhos de aves. As diretrizes também aconselham o emprego de tripulações e guias locais.

Ecotravel Principies and Practices/Princípios e Práticas da

Ecoviagem (Wildland Adventures, 3516 NE 155th Street, Seattle, Washington 98155, Tel. 206-365-0686). Único documento que expli-citamente utiliza uma definição de ecoturismo (a definição da The Ecotourism Society), tais diretrizes ensinam a compreender e respeitar os complexos ecossistemas a serem visitados, e promovem o interesse pelo bem-estar da população local.

A Code of Environmental Ethics for Nature Travei/Código de Ética

Ambiental para Viagens à Natureza (Asociación Tsuli Tsuli/ Audubon de Costa Rica, Apartado 4710-1000, San José, Costa Rica, Tel. 506-40-8775). Bom exemplo de diretrizes adaptadas para um país tropical, esse código foi elaborado a partir da ética publicada pela National Audubon Society.

Guidelines for Wildlife Viewing in Southeast Alaska/Diretrizes para a

Observação da Vida Selvagem no Sudeste do Alasca (Alaska Department of Fish and Game, Division of Wildlife Conservation, Box 240020, Douglas, Alaska 99824, Tel. 907-465-4265). O documento concentra-se na observação da vida selvagem de um hábitat costeiro, frio, boreal.

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desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 79 Guidelines for Protecting Manatees/Diretrizespara a Proteção dos

Manatis (Florida Department of Natural Resources, Save the Manatee Club, U.S. Fish and Wildlife Service, 100 Eighth Avenue SE, St. Petersburg, Florida 33701-5095, Tel. 813-896-8626). Elas visam proteger as espécies em risco de extinção pelo controle da velocidade dos barcos, de regulamentos para mergulhadores e da divulgação de zonas estaduais e federais protegidas.

Code of Birding Ethics/Código de Ética para Observadores de Aves

(National Audubon Society-Western Regional Office, 555 Au-dubonPlace, Sacramento, Califórnia 95825, Tel. 916-481-5332). Esse código oferece excelentes orientações aos que se dedicam à observação de aves, um tipo altamente especializado de visitante. Ele ressalta a importância da cortesia entre os observadores, das técnicas adequadas de identificação e da ética para fotografias.

Plant Conservation Guidelines: Scientists and Teachers/Diretri-zes

para a Conservação de Plantas: Cientistas e Professores (Plant Conservation Roundtable, c/o World Wildlife Fund, 1250 24th Street NW, Washington, D.C. 20037, Tel. 202-293-4800). Especialmente destinadas aos coletores de plantas, as diretrizes sugerem formas de avaliar a população antes de colher as plantas.

Ethics for Traveling Outdoorsmen and Researchers/Ética dos

Viajantes Aventureiros e Pesquisadores (Outdoor Ethics Guild, Bruce Banurski, General Delivery, Bucks Harbor, Maine 14618). Esse documento destina-se aos coletores/pesquisadores que precisam registrar suas descobertas para partilhar dados, trabalhar com pesquisadores locais e fornecer relatórios finais aos países hospedeiros.

"Leave No Trace" Land Ethics/Ética da Terra: "Não Deixe Vestígios"

(U.S. Forest Service, "Leave No Trace" Coordinator, Inter-mountain Region, Recreation and Lands, Federal Office Building, 324 25th Street, Ogden, Utah 84401, Tel. 801-625-5250). Trata-se das diretrizes mais completas sobre viagens por áreas naturais que utili-

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80 ecoturismo zam a ética de comportamento em relação à terra conhecida como "não deixe nenhum vestígio". Elas incluem orientações únicas sobre como planejar viagens por regiões naturais e trabalhar com grupos de animais.

Minimum Impact Camping: Techniques for the New Wilderness Ethic/Acampamento com Mínimo Impacto: Técnicas para a Nova Ética em Regiões Naturais Desertas (Recreation Equipment, Inc., P.O. Box 88126, Seattle, Washington 98138, Tel. 206-395-3780). Diretrizes gerais e muito bem apresentadas para todos os viajantes com espírito de aventura.

Talamanca Guidelines/Diretrizes de Talamanca (Asociación de

Talamanca para Ecoturismo y Conservación (ATEC), Puerto Viejo de Talamanca, Limón, Costa Rica). Orientações ecoturísticas elaboradas por uma comunidade local do litoral caribenho. Um dos poucos grupos locais que expressam suas expectativas sobre os visitantes.

Dance EtiquettelEtiqueta de Dança (The Eight Northern Pue-blos,

Department of Tourism, 1100 St. Francis Drive, Santa Fe, New México 87503). Diretrizes sociais com orientações sobre fotografia, alimentação, vestuário, artefatos para coleta, costumes locais e comportamento adequado em cerimônias.

Guidelines for Visitors to Mesa Country/Diretrizes aos Visitantes do

Território Mesa (Office of Public Relations, The Hopi Tribe, P.O. Box 123, Kykotsmovi, Arizona 86039). O documento foi escrito depois que muitos visitantes abusaram da hospitalidade dos Hopi. Os visitantes são lembrados de que são hóspedes e devem respeitar os costumes da população local.

conclusão

As diretrizes são um componente essencial de um plano completo de

gestão ecoturística. Elas deveriam estar sistematicamente afixa-

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desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 81 das em todo local muito visitado e acompanhar outros instrumentos de administração do visitante, como pesquisas permanentes sobre o movimento de visitantes, atividades de interpretação da natureza, cadastramento de guias, zoneamento e sistemas de patrulhamento.

Uma vez que, para alcançar os objetivos do ecoturismo, é vital modificar o comportamento do visitante, entidades públicas, privadas e sem fins lucrativos, associações e comunidades locais estão começando a determinar seus próprios padrões. Estabelecer um padrão profissional e procurar as melhores formas de tornar o comportamento dos visitantes mais adequado é fincar os dois alicerces sobre os quais se construirá um programa ecoturístico.

É fundamental que as organizações locais, nacionais e internacionais troquem informações e trabalhem juntas para definir diretrizes. Elas devem elaborar um conjunto básico de diretrizes que possam ser utilizadas por uma grande variedade de locais e atividades. Elas devem orientar o comportamento do visitante numa ampla gama de circunstâncias. Quando o plano geral de diretrizes estiver completo, novas orientações mais específicas podem ainda ser formuladas pelos grupos de usuários de recursos.

Deve-se evitar um controle exagerado do comportamento do turista; porém, há muitas maneiras de tornar as diretrizes mais eficazes sem prejudicar o espírito de férias do visitante. � Estimule o espírito de cooperação, usando as diretrizes como uma espécie de "compromisso moral". � Estimule as associações dos usuários de recursos (por exemplo, clubes de mergulhadores ou de caminhantes) a adotarem as diretrizes como forma de aprimorar os princípios éticos da associação e de promover a responsabilidade pela conservação. � Utilize as diretrizes como parte de campanhas de conscientização ambiental para ampliar a compreensão sobre viagens ambientais e éticas de conservação. � Utilize as diretrizes como parte de um currículo para programas de treinamento de guias.

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82 ecoturismo

� Use as diretrizes para ajudar os turistas a avaliarem o desempenho de seus operadores turísticos.

Criar diretrizes para os viajantes é um passo crucial para a elaboração de um programa ecoturístico. É uma forma positiva e eficaz de incentivar as pessoas a se conscientizarem de seu próprio comportamento e a contribuírem para a conservação e para o desenvolvimento sustentável do turismo no mundo inteiro. Tabela 2-1. Lista das Diretrizes Ecoturísticas Consultadas (obtidas por intermédio da The Ecotourism Society) Obs.: o título da recomendação aparece em primeiro lugar, seguido pela organização que a elaborou ou publicou. Operadores turísticos, Negócios, Alojamentos Gwaii Haanas Code of Conduct/Código de Conduta de Gwaii Haanas: grupo de guias de recursos, operadores turísticos e visitantes. Antarctica Tour Operator Guidelines/Diretrizes aos Operadores Turísticos da Antártida: Society Expeditions, Mountain Travei, Travei Dynamics. Code of EthicslCódigo de Ética: Oceanic Society Expeditions. Ecotravel Principies and Practices/Princípios e Práticas da Ecoviagem: Wild-land Adventures. Fundamentais of Ecotourism/Fundamentos do Ecoturismo: International Expeditions, Inc. Suggested Traveler Environmental Guidelines/Diretrizes Ambientais Sugeridas ao Visitante: Associação Americana de Agentes de Turismo. Questionnaire for Ecotourism — Related Business/Questionário sobre Negócios Relacionados com o Ecoturismo: The New Keys, Costa Rica. Viajantes Ambientais e Culturais Travei Ethic for Environmentally Responsible Travel/Etica de viagem para Viagens Ambientalmente Responsáveis: The National Audubon Society. A Guide for the Green Tourist/Guia para o Turista "Verde": New England Governors' Conference, Inc.

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desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 83 Code of Eco-Tourism/Código de Ecoturismo: Doug and Gail Cheeseman, Ecology Safaris, Inc. Code of Ethics for TouristsICódigo de Ética para Turistas: Ecumenical Coalition on Third World Tourism. How to Make Yourself Welcome in the South Pacific/Como Se Fazer Bem-Vindo no Pacífico Sul: Justice in Tourism Network, New Zealand. Locais e Cenários Específicos Antarctica Visitor Guidelines/Diretrizes ao Visitante da Antártida: Society Expeditions. Guidance for Visitors to the Antarctica/Orientação para os Visitantes da Antártida: New Zealand Antarctic Research Programme. Antarctic Traveler's Code for Visitors and Tour CompaniesICódigo de Viagem à Antártida para Visitantes e Operadores Turísticos: Oceanites, EUA. Oceans and Islands Visitors' Code/Código dos Visitantes de Oceanos e Ilhas: Salen Lindblad Cruising, U.S.A. Guidelines for Wildlife Viewing in Southeast Alaska/Diretrizes para a Observação da Vida Selvagem no Sudeste do Alasca: Alaska Department of Fish and Game. Minimum Impact Code/Código de Mínimo Impacto: Annapurna Conservation Área Project, Nepal. To All Hikers of the Inca Trail in the Historic Sanctuary of Machu Picchu/A Todos os Caminhantes da Trilha Inca no Histórico Santuário de Machu Picchu: Ministry of Culture, Tourism, Agriculture in Peru. Galápagos National Park Rules/Regulamentos do Parque Nacional de Galápagos: Special Expeditions. Key Largo Reef Etiquette/Regras de Comportamento em Recifes Grandes e Keeping your Keel off Coral/Como Evitar Tocar as Quilhas nos Corais, Florida: ambos da The National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA). Desert Back-Country Ethics/Etica para Regiões Distantes e Desertas: Organ Pipe Cactus National Monument, Arizona. Recommendation for Travelers Visiting Natural Areas in Peru/Recomendações para os Viajantes que Visitam as Áreas Naturais do Peru: Fundación Peruana para la Conservación de la Naturaleza. Protect our Coral Reefs/Protejam nossos Recifes de Corais: Reef Preservation Fund, Belize Audubon Society. Visitor's Guide to Antarctica/Guia do Visitante da Antártida: Turismo y Hoteles, Cabo de Hornos, Santiago, Chile.

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84 ecoturismo A Guide to Responsible EcotourismIGuia para o Ecoturismo Responsável: Asociación Tsuli Tsuli (Audubon) de Costa Rica. Observadores da Vida Selvagem Tips on Watching WildlifelDicas para Observar a Vida Selvagem: Colorado Division of Wildlife. Manatees (a guide for boating and snorkeling)/Manatis (um guia para navegadores e mergulhadores') e Guidelines for Protecting Manatees/Diretrizespara a Proteção dos Manatis: ambos obtidos por intermédio de Save the Manatee Club, Florida Power and Light Company, Florida Department of Natural Resources, and the U.S. Fish and Wildlife Service. Rules and Guidelines for Approaching Humpback Whales in Hawaiian Wa-ters/Regulamentos e Diretrizes para a Aproximação da Jubarte nas Águas do Havaí: Sea Life Park Education Department, Hawaii. Guide for Viewing Wintering Bald Eagle/Guia para Observar a Águia de Cabeça Branca (águia-do-mar) : U.S. Forest Service, Oregon Department of Fish and Wildlife, and the U.S. Bureau of Land Management. The Bears and You/Os Ursos e Você: Alaska Department of Fish and Game, and the U.S. Forest Service. Encountering Marine Mammals in Alaska/Encontrando Mamíferos Marinhos no Alasca: Alaska Department of Fish and Game. Code of Birding Ethics - Good Rules for Wildlife Watchers/Código de Ética para Observadores de Aves -Boas Regras para Observadores da Vida Selvagem: Sacramento Audubon Society. Bird-Watching Etiquette — The Need for a Developing a PhilosophyIRegras de Bom Comportamento para Observadores de Aves —A Necessidade de Desenvolver uma Filosofia: Richard J. Glinsky and The National Audubon Society. The Ten Commandments of Birding Etiquette/Os Dez Mandamentos do Bom Comportamento para a Observação de Aves: Victor Emmanuel. Guidelines for Viewing Wildlife/Diretrizes para a Observação da Vida Selvagem: Alaska Department of Fish and Game and U.S. Forest Service. Especialistas Plant Conservation Guidelines: Scientists and Teachers/Diretrizes para a Conservação de Plantas: Cientistas e Professores: Plant Conservation Committee, World Wildlife Fund. Ethics for Traveling Outdoorsmen (researchers) /Ética dos Viajantes Aventureiros (pesquisadores) e Ethics for Traveling Outdoorsmen (hunters and fisher-men)IÉtica dos Viajantes Aventureiros (caçadores e pescadores): ambos obtidos por intermédio de Bruce Bandurski, Outdoor Ethics Guild.

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desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 85 The Scientific Codes of Ethics/Código Científico de Ética: Jean Colvin, Univer-sity of California, Research Expedition Program. Campistas, Caminhantes, Mochileiros "Leave No Trace" Land Ethics/Ética da Terra: "Não Deixe Vestígios": U.S. Forest Service, National Park Service, and Bureau of Land Management. Minimum Impact Camping — Techniques for the New Wilderness Ethic/Acam-pamento com Mínimo Impacto — Técnicas para a Nova Ética em Regiões Naturais Desertas: Recreation Equipment, Inc. (REI). The Wilderness Ethic, Back-Country Use/ A Ética para Regiões Naturais Desertas, Uso em Regiões Distantes: Rocky Mountain National Park, Colorado. Minimum Impact Techniques/Técnicas de Mínimo Impacto: Weiminuche Wilderness, San Juan National Forest, Colorado. Hiking with Minimun Impact/Caminhada com Mínimo Impacto: Zion National Park, Utah. Minimum Impact Camping and Hiking/Acampamentos e Caminhadas com Mínimo Impacto: Crater Lake National Park, Oregon. Back-Country Etiquette, and Grizzly Country - Bear Us in Mind/Regras de conduta em Regiões Distantes e no Território do Urso Cinzento — Não se Esqueçam de Nós: Yellowstone National Park, Wyoming. South MoresbylGwaii Haanas Minimum Impact Camping/Acampando com Mí-nimo Impacto em Gwaii Haanas e South Moresby: Canadian Park Service. Wilderness Camping, General Guidelines/Acampamento em Regiões Naturais Desertas, Diretrizes Gerais: The High Peaks Region. Planejando e Escolhendo uma Viagem Guidelines for Planning Travel/Study Experiences, Third World Travei — Buy Critically, Suggestions for Responsible Travelers Taking a Cruise, and Respon-sible Traveling — When Planning a Trip or Buying a Package Tour/Diretrizes para o Planejamento de Experiências de Viagem/Estudo, Viagens no Terceiro Mundo — Seja Crítico ao Comprar, Sugestões aos Viajantes Responsáveis que Fazem Cruzeiros e Viajando com Responsabilidade - Quando Planejar uma Viagem ou Comprar um Pacote Turístico: todos obtidos por intermédio do The Center for Responsible Tourism. How to Support Responsible Tourism - The Ethical Traveler/Como Dar Apoio ao Turismo Responsável - O Viajante Ético: Co-op America, Travel Links. How "Green" is your Eco-Tour?/Quão "verde" é seu roteiro ecológico?: Michael Passoff, Earth Island Institute.

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86 ecoturismo What to Look for in an Ecotourism Outfitter/O que Exigir de um Equipamento Esportivo Ecoturístico: Kurt Kutay, Wildland Adventures. Buyer Beware - Entry RefusedlAtenção, Comprador - Entrada Proibida: World Wildlife Fund, Division of Law Enforcement. Povos Indígenas, Eventos Culturais, Sítios Arqueológicos Dance Etiquette, and Courteous Behavior When Visiting Our Pueblos/Etiqueta de Dança e Comportamento de Cortesia ao Visitar Nossos Pueblos: Eight Pueblo Council, New Mexico. Guidelines for Visitors to Mesa Country/Diretrizes aos Visitantes do Território Mesa: The Hopi Tribe, Arizona. Chaco Etiquette/Etiqueta para Chaco: Chaco Culture National Historical Park. What is Ecotourism?/O que é Ecoturismo?: Talamanca Association for EcoTourism and Conservation. Dos and Don'ts About Belizean Archeology/Como Comportar-se Diante da Arqueologia Belizenha: The Association for Belizean Archeology. Empreendedores e Arquitetos Guidelines for Maya Participation in Ecotourism Planning and Develop-mentlDiretrizes para a Participação dos Maias no Planejamento e Desenvolvimento do Ecoturismo: Betty B. Faust, Southern Oregon State College. Framework for Responsible Design for Ecotourism Facilities/Diretrizes para o Projeto Responsável de Instalações Ecoturísticas: David L. Andersen, The Andersen Group Architects, Ltd. Suggestions for Ecotourism Facilities and Small Development Checklistl Sugestões para Instalações Ecoturísticas e Lista de Verificação para Desenvolvimentos de Pequena Escala: Ecotourism Group of San Ignacio, Cayo District, Belize. Guidelines on Design and Construction for Sustainable ResoxtDevelopment/Di-retrizes sobre Projeto e Construção do Resort Objetivando o Desenvolvimento Sustentável: U.S. National Park Service. Guidelines for Ecotourism Facilities/Diretrizes para Instalações Ecoturísticas: Stanley Selengut, Maho Bay Camps, Inc.

Tabela 2-2. Diretrizes-Modelo para Turistas

As setenta diretrizes examinadas oferecem as seguintes sugestões para os viajantes.

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desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 87 Impacto Social Prepare sua viagem com bastante antecedência. Descubra o máximo que puder sobre as pessoas e o local que você vai visitar. Peça a sua agência de turismo ou operador turístico que lhe forneça informação detalhada sobre o país de destino. Essa informação deve estar disponível quando você comprar a viagem. Vá à biblioteca para obter maiores dados. Fique bastante tempo em cada lugar. Reserve tempo suficiente para conhecer e compreender uma área. Evite visitas superficiais. Certifique-se de que seu roteiro inclui oportunidades de encontrar e interagir com as pessoas do local. Procure explorar bem uma região, em vez de ficar borboleteando de um lugar para outro. Não crie barreiras. Não se limite a seu grupo. Relacione-se com outras pessoas. Use o transporte e o serviço locais. Seja receptivo, faça perguntas e procure comunicar-se na língua nativa. Observe, escute e aprenda com os outros. Aceite as diferenças, siga os costumes locais. A cultura, os costumes, as crenças religiosas, o estilo de vida e as manifestações artísticas são diferentes de seu país natal. Aceite-as, respeite-as e compreenda-as. Procure não ofender seus anfitriões. Seja culturalmente sensível, principalmente ao tirar fotografias, pechinchar e escolher seu vestuário. Peça permissão antes de tirar fotos. Lembre-se: o negócio só é bom quando é bom para as duas partes. Considere os efeitos de sua visita. Não dê mostras exageradas de riqueza (por exemplo, dispositivos tecnológicos). Tenha um cuidado especial com sua linguagem e seus gestos. Não deixe os bons costumes em casa. Não estimule a mendicância de crianças. Aja como um embaixador ao voltar a seu país. Compartilhe sua experiência. Mantenha contato com as pessoas que conheceu. Não faça promessas que não possa cumprir, como, por exemplo, enviar fotos. Contribua para os projetos locais e transmita sua experiência a outros viajantes. Impacto Ambiental: para Viajantes em Geral Faça a escolha certa antes de viajar. Seja criterioso ao escolher um operador turístico. Certifique-se de que ele se rege por princípios ambientalmente fundamentados. Quando planejar viajar, informe-se sobre as leis e regulamentos das áreas que pretende visitar e siga-os à risca. Se você viaja por conta própria, escreva ou telefone solicitando as diretrizes, ou contate o administrador da área que vai visitar. Leve consigo os equipamentos adequados. Deixe apenas suas pegadas; reúna, recolha, leve consigo. Não deixe nada atrás de si: papéis velhos, lixo, sobras, resíduos, material descartável, restos de comida ou mesmo pontas de cigarro. Deixe o local tão limpo quanto estava antes do

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88 ecoturismo impacto humano. Informe-se sobre os regulamentos para desfazer-se de dejetos humanos. Utilize as áreas reservadas, onde for possível, ou enterre os dejetos longe das nascentes e cursos d'água. Papéis e material orgânico podem ser queimados, se não houver perigo de incêndio. Use os recursos naturais com eficiência. Utilize a energia, a água e outros recursos com eficiência e de acordo com os hábitos locais. Participe de programas locais de reciclagem, se existirem. Leve sabonete ou detergente biodegradável e utilize-os bem longe das nascentes de água. A coleta de lenha do solo pode ser proibida em áreas secas ou desmatadas. Fogões portáteis são aconselháveis (evitam incêndios). De forma geral, seja auto-suficiente no abastecimento de combustível. Não esgote os recursos locais. Transporte-se por meio de sua própria força muscular. Vá a pé, de bicicleta, de canoa, ou use o transporte público local, onde for possível. Impacto Ambiental: para Caminhantes e Campistas Mantenha-se nas trilhas. Nunca use atalhos. Quando passear pelos campos, escolha uma trilha e evite pisar na vegetação. O uso freqüente pode provocar a erosão do terreno ou a destruição da vegetação. Isso ocorre principalmente em tundras árticas e desertos áridos, mas pode acontecer em qualquer região. Manter-se na trilha inclui também veículos. Carros, ônibus, caminhonetes, bicicletas, barcos a motor, canoas e caiaques devem utilizar as áreas destinadas a transportes, respeitar os limites de velocidade e orientar-se através de mapas que assinalem as zonas frágeis, tais como as áreas de vegetação alpina, de tundra e de recifes de corais. Motoristas não familiarizados com tipos específicos de terrenos devem contratar guias. Acampe com mínimo impacto, ao pernoitar. Acampe nas áreas indicadas. Se não houver áreas reservadas para acampamentos, acampe longe dos cursos d'água. Use os locais previamente determinados para fogueiras. Na praia, remova e espalhe as cinzas. Evite acomodar grupos grandes em pequenas áreas de cam-ping. Acampe em grupos pequenos; o ideal é menos de seis pessoas e nunca mais do que doze. Evite poluição sonora, fale baixo, esteja consciente de seu impacto sobre os outros usuários. Deixe em casa animais de estimação ou mantenha-os presos a correntes. Impacto Ambiental: para Colecionadores/Coletores Leve apenas fotografias como recordação. Não leve plantas, animais, conchas, corais, fósseis, artefatos, pedras ou ovos sem permissão. Introdução de plantas e animais exógenos. A introdução de plantas e animais exógenos, intencional ou acidental, pode destruir o equilíbrio ecológico de uma

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desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 89 região. Algumas regiões são muito cuidadosas com a entrada de plantas não-na-tivas. Por exemplo, a Nova Zelândia, a Antártida e as Ilhas Galápagos estão reduzindo a importação de organismos por meio da verificação cuidadosa da presença de espécies exógenas em viajantes, antes que eles ingressem no território. Examine as roupas, sapatos e equipamento de camping para evitar a introdução acidental de fauna e flora exógenas. Coleta de alimentos. Devem ser levados em conta o tamanho apropriado, os limites de quantidade e as épocas de colheita. Saiba que pode haver leis nacionais. Para garantir a preservação dos estoques e recursos, os operadores comerciais das Ilhas Rainha Carlota (no Código de Conduta de Gwaii Haanas) especificaram, em suas diretrizes, os regulamentos locais para pesca e coleta de moluscos e frutos (os regulamentos tratam de questões como limites de quantidade, proibição de captura e soltura, manutenção de registros e posse de licença). Impacto Ambiental: para Fotógrafos e Observadores da Vida Selvagem Parte da experiência do visitante é observar a vida selvagem. Aprenda a aproximar-se discretamente e a resistir à tentação de chegar mais perto. Fotógrafos podem intervir negativamente nas áreas selvagens. Use lentes telefotográficas -quanto maior o alcance, melhor -, evite usar flash com a maioria dos mamíferos e nunca atraia animais com comida. Observe os animais da distância que eles consideram segura; fique à distância. Todo animal tem uma "distância de fuga", isto é, ele permitirá que você se aproxime até um determinado ponto, antes de tentar fugir. Os observadores não devem violar a distância de fuga. As distâncias variam de acordo com as espécies, os indivíduos e as condições ambientais, e dependem do meio de transporte utilizado. Aqui estão alguns exemplos de distâncias, sugeridas nas diretrizes. � Pingüins, pássaros em ninhos, focas comuns: comece a uma distância de 5 metros. � Morsas, lontras, marsupiais, rebanhos de planícies: mantenha uma dis tância mínima de 8 metros. � Manatis: 16 metros de um indivíduo ou de um grupo. � Focas da família dos otarídeos: 18 metros. � Baleias: não mais próximo que 90 metros e em velocidade comparável à delas, aproximando-se não pela frente ou por trás, mas de um ângulo paralelo. � Jubartes: evite a aproximação deliberada num raio de cerca de 90 metros. Se a embarcação tiver mais de 30 metros de comprimento, evite aproximar-se a menos de 40 metros. Na presença de baleias e filhotes,

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permaneça a uma distância de, pelo menos, 270 metros. Em uma aeronave, fique a pelo menos 300 metros. � Ursos: o mais longe possível. Evite aproximar-se deles; mantenha grande distância. Observe com binóculos de grande alcance ou instrumentos óticos semelhantes. Aprenda a aproximar-se e afastar-se. Aproxime-se dos animais selvagens lenta e silenciosamente. Evite movimentos bruscos. Não se esqueça de afastar-se da mesma forma. Para aproximar-se, você pode ter que rastejar no chão ou agachar-se. Aprenda a compreender os sinais que indicam que você está próximo demais. Conheça o comportamento do animal selvagem que indica que você está perto demais. O Departamento de Caça e Pesca do Alasca registrou o comportamento de animais perturbados. Sinais de medo, estado de alerta, ansiedade, agressão e ataque são descritos para pássaros, mamíferos terrestres e marinhos, e peixes. Em geral, animais perturbados interrompem suas atividades regulares, como, por exemplo, a alimentação, e começam a olhar para os observadores e a adotar posturas agressivas. Conheça as conseqüências de uma aproximação indevida. Se você se aproximar demais, lembre-se de que poderá ser responsável pela perda ou morte de filhotes. Se os pássaros dos ninhos voarem, assustados, os filhotes e os ovos poderão morrer de calor ou frio excessivo, os predadores poderão comer a prole e os ovos desprotegidos, e os ninhos poderão ser abandonados. A agitação pode provocar, nos animais, um gasto desnecessário de energia. Familiarize-se com os regulamentos locais. Respeite sempre as áreas de proteção e nunca ultrapasse os limites. Não entre em regiões sinalizadas como santuários; as placas de sinalização têm um papel fundamental. O mapa náutico da Flórida, por exemplo, mostra às embarcações e aos mergulhadores como proteger o manati, obedecendo às placas de velocidade e às zonas. Se houver regulamentos ou políticas locais nas áreas que você está visitando, respeite-os. Dicas básicas. Permaneça na periferia de agrupamentos de animais. Não cerque um grupo. Nunca se interponha entre os animais e seus filhotes. Não isole um indivíduo do grupo. Dê passagem aos animais. Não assuste os pássaros, fazendo-os abandonar os ninhos. Não tente tocar os animais. Siga estas regras básicas: mantenha o acampamento limpo, estoque a comida em uma árvore, acampe longe das trilhas e não alimente os animais. O que você não deve fazer. É geralmente prejudicial e freqüentemente perigoso: alimentar com a mão, molestar, perseguir, perturbar, capturar ou tentar vender animais selvagens ou os produtos derivados de qualquer ser vivo. Algumas espécies estão protegidas por leis. Os manatis, os mamíferos marinhos, os corais,

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desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 91 a flora e a fauna da Antártida, e muitas outras espécies, estão sob a proteção do Ato das Espécies em Risco de Extinção ou do Ato do Mamífero Marinho, dos Estados Unidos. A Convenção para o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Extinção (CITES) documentou listas de espécies proibidas de serem comercializadas. Os regulamentos locais de cada país visitado devem também ser respeitados. Conheça os regulamentos para compra e venda legal de animais e plantas. Consulte o folheto Atenção Comprador para informação sobre a aquisição de troféus, carnes e seres vivos. De volta ao lar. Filie-se a organizações ambientais. Envolva-se em programas de conservação. Mantenha-se atualizado e envie dinheiro a projetos locais de conservação. Mantenha contato com seus companheiros de viagem e informe-os das últimas notícias sobre projetos para os quais vale a pena contribuir. Retribua, o máximo que puder, às autoridades e a seus anfitriões, por tudo que você recebeu. Impacto Econômico Ao escolher um operador turístico, procure saber: O que ele faz com os lucros? Ele contrata guias locais e usa serviços e provisões locais? Quando estiver viajando, gaste dinheiro em empreendimentos locais. Compre artesanato tradicional e itens manufaturados com recursos renováveis. Não prive as pessoas de suprimentos raros e difíceis de obter. Não incentive o comércio ilegal comprando produtos feitos com espécies em risco de extinção. Faça compras, mas evite pechinchar com artesãos a ponto de tornar seu lucro apenas irrisório. agradecimentos

As organizações listadas abaixo forneceram informação para este estudo. Co-op America, Travel-Links 2100 M Street, NW, Suite 310 Washington, D.C. 20063 Tel: 202-872-5307 ou 800-424-2667

The Ecotourism Society Carla Garrison 801 Devon Place Alexandria, Virgínia 22314 Tel: 703-549-8979

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92 ecoturismo Department of Fish and Game South East Alaska Division of Wildlife Conservation Marilyn Sigman Box 240020 Douglas, Alaska 99824-0020 Tel: 907-465-4265

Recreational Equipment, Inc. Kathleen Beamer P.O. Box 88126 Seattle, Washington 98138-0126 Tel: 206-395-3780

International Expeditions, Inc. Tom Grasse 1 Environs Park Helena, Alabama 35080 Tel: 205-428-1700 International Institute for Peace Through Tourism Louis J. D'Amore 3680, Rue de la Montagne, Montreal, Quebec, Canada H3E2A8 Tel: 514-281-9956

U.S. Forest Service National "Leave No Trace" Coordinator William L. Thomson Intermountain Region, Recreation and Lands Federal Office Building 324 25th Street Ogden, Utah 84401 Tel: 801-625-5250

National Audubon Society, Inc. Margaret Carnwright, Travei Programs 950 Third Avenue New York, New York 10002 Tel: 212-546-9140

Wildland Adventures Kurt Kutay 3516 NE 155th Seattle, Washington 98155 Tel: 206-365-0686

National Outdoor Leadership School Bruce Hampton P.O. Box AA Lander, Wyoming 82520 Tel: 307-332-6973

World Wildlife Fund Ecotourism Program Officer Elizabeth Boo 1250 Twenty-Fourth Street NW Washington, D.C. 20037 Tel: 202-778-9624

A pesquisa realizada para a elaboração deste capítulo contou com o

inestimável apoio de Tod Nielsen, que idealizou e planejou o

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desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 93 projeto. Sylvie Blangy é extremamente grata a Nielsen por tê-la recebido no programa Discovery Tours, do Museu Americano de História Natural, no período em que ela se encontrava afastada do Departamento de Agricultura, na França. Megan Epler Wood gostaria de expressar sua gratidão à Vermont Community Foundation (Fundação da Comunidade de Vermont), pelo subsídio irrestrito que recebeu e lhe possibilitou a elaboração deste capítulo.

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3 a administração do visitante: lições do parque nacional de Galápagos*

George N. Wallace

* O Arquipélago de Fernando de Noronha, no Brasil, pode ser usado para algumas analogias com Galápagos, em que pesem diferenças fundamentais no nível de regulamentação turística. Em Fernando de Noronha, significativos impactos podem ser sentidos, sem que uma administração nacional tenha ainda sido implementada em sua totalidade. Também o Arquipélago de Abrolhos, no litoral da Bahia, poderá em breve enfrentar problemas similares. (N. do R.T.)

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O Parque Nacional de Galápagos, no Equador, não é apenas um parque - é um patrimônio mundial, uma reserva da biosfera, e, hoje, uma reserva marinha. Geologicamente, Galápagos ainda está em processo de evolução, por meio de intenso vulcanismo, e é a formação geológica mais recente da Terra. Isolado dos continentes, a adaptação de seus cágados, iguanas, tentilhões, cactos gigantes, girassóis, cor-vos-marinhos, aves oceânicas e de sua variada flora e fauna revela, como em nenhum outro lugar do planeta, a história de nosso passado, e anuncia nosso futuro. É possível que Galápagos seja o melhor lugar no mundo para estudar a evolução de ecossistemas. Estar diante de incríveis paisagens marítimas, litorâneas e terrestres, onde a vida selvagem se desenvolveu praticamente longe do contato humano, é uma experiência verdadeiramente única, semelhante a estar no mítico jardim do Éden. O arquipélago consiste em treze ilhas maiores, seis ilhas menores e quarenta e duas ilhotas e rochedos. Sua área total é de quase 8.000 km2, e as ilhas que o compõem se espalham ao longo de mais de 45.000 km2 de oceano.

Diferentemente de muitos parques do Equador e de outras partes da América Latina, onde há pessoas vivendo legal ou ilegalmente dentro das áreas protegidas, em Galápagos não é permitido viver dentro do parque, e a população das ilhas concentra-se nos menos de 4% de terras privadas. Há muitas viagens, por via aérea, do continente

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98 ecoturismo às ilhas de Santa Cruz e São Cristóvão. As excursões saem do aeroporto de Baltra, perto de Santa Cruz, ou das duas cidades portuárias mais importantes, próximas às pistas de pouso por onde os visitantes chegam: Puerto Ayora (que tem cerca de 6.000 habitantes), em Santa Cruz, ou Puerto Baquerizo (com cerca de 3.000 habitantes), em São Cristóvão. Atualmente, os locais de visitação estão restritos a uma modesta porção do arquipélago, e, assim, a maior parte de Galápagos permanece selvagem e recebe poucos visitantes. Desde as primeiras viagens comerciais, em 1969, está havendo um aumento lento e progressivo tanto dos serviços oferecidos como do número de turistas que chegam a Galápagos, e pôde-se constatar um crescimento mais acelerado depois que São Cristóvão transformou-se no segundo maior local de visitação turística. O número de visitantes foi de 7.000 em 1975, de 17.840 em 1985, e de quase 42.000 em 1989 (President's High Level Comission - Comissão de Alto Nível da Presidência, 1991). Curiosamente, em 1973, um plano mestre para o parque propôs um máximo de 12.000 visitantes; em 1981, um relatório da Comissão Presidencial previu um máximo de 25.000 visitantes.

Durante os primeiros dez anos de visitação, as estratégias iniciais de administração do parque e a assistência oferecida pela Fundação Charles Darwin (que mantém uma estação de pesquisa em Santa Cruz) funcionaram relativamente bem, com um pequeno número de visitantes, e foram sendo aprimoradas durante a década de 70. Desde então, os problemas econômicos e a redução do orçamento da Administração do Parque, a crescente pressão do setor privado, a falta de apoio político para seus administradores e a falta de liderança, planejamento e monitoramento adequados, combinados com o aumento do número de visitantes, têm criado sérias inquietações em relação à sustentabilidade dos recursos do parque e à sua capacidade administrativa. A imigração e o desenvolvimento urbano nas áreas adjacentes continuam em ritmo acelerado, acarretando uma série de novos desafios. A introdução de espécies exógenas continua a ser um sério problema e a política de concessões deixa muito a desejar. Além disso, acredi-

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a administração do visitante 99 ta-se que a qualidade da experiência do visitante está mudando, motivo pelo qual ela é, hoje, objeto de estudo (Machlis et al., 1990; Wallace, 1991; Maldonado, 1992).

No Parque Nacional de Galápagos, o roteiro tradicional é o cruzeiro de barco, com duração de uma semana, a vários locais de visitação. Em meados da década de 80, o preço das tarifas aéreas nacionais tornou-se mais acessível e Galápagos recebeu um grande influxo de visitantes equatorianos; essa situação provocou um aumento correspondente do número de excursões de um dia, que levam as pessoas das duas cidades portuárias para viagens curtas e que melhor se adaptam ao orçamento do turista equatoriano. Para realizar as várias excursões, há hoje cerca de seis iates, quatro navios (com capacidade para 34 a 90 passageiros), setenta e cinco lanchas (com capacidade para 8 a 16 passageiros) e dez barcos a vela. Via de regra, tais empreendimentos são lucrativos e a demanda por licenças para operar é grande. Nos últimos dez anos, o processo de emissão de licenças para operar embarcações de turismo comercial tem sido alvo de controvérsia e de disputas políticas e legais, e está fora do controle daqueles que realmente administram o parque. Os defensores do parque há muito argumentam que a capacidade de visitação está sendo desrespeitada e que novas licenças não deveriam ser emitidas. Os investidores que desejam obter licenças, contra-argumentam afirmando que não há provas de visitação excessiva, tendo pedido a vários políticos que interviessem em seu favor. Apesar de ser recente a criação de técnicas para avaliar e administrar o impacto do visitante, tais como "Limites Aceitáveis de Mudança" (Stankey et al., 1985) e "Administração do Impacto do Visitante" (Graefe, Kuss, e Vaske, 1990), a preocupação do Parque Nacional, durante a última década, tem sido a de procurar estabelecer alguns limites quanto ao número aceitável de visitantes. As estimativas sobre a capacidade de visitação têm sido amplamente debatidas, mas pouco defendidas (Moore, 1992).

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100 ecoturismo Para piorar a situação, as licenças para embarcações turísticas, ou

"cupos", como são chamadas, passam por um processo, sujeito a muitas manobras e manipulações, que se desenvolve em duas etapas: primeiro, o requerente obtém permissão da Marinha Mercante (DIG-MER) para navegar, e, em seguida, solicita permissão ao Ministério da Agricultura (MAG) para operar. Embora a Administração do Parque integre o Ministério, raramente é consultada. E, para tornar a situação ainda pior, os investidores estariam usando a licença da Marinha para obter um empréstimo para a construção de embarcações turísticas, e estariam então se valendo do argumento (geralmente com o apoio de políticos) de que seu investimento seria um fracasso financeiro, se não lhes fosse concedida uma "patente", ou licença, do MAG, para operar. Quase todos os que utilizam esse argumento têm obtido licenças.

Embora a Administração do Parque Nacional de Galápagos (SPNG) disponha de mais recursos do que outros parques do Equador, esses recursos são ainda muito modestos e limitam o investimento no quadro de funcionários, treinamento, equipamento e infra-estrutura. A receita gerada com a cobrança de ingressos de 40 dólares pagos por turistas estrangeiros, bem como as taxas pagas pelos visitantes equatorianos e pelos operadores turísticos, ajudam a financiar outras áreas protegidas do Equador. O futuro do parque depende das cidades portuárias próximas, que requerem, elas também, um investimento considerável. Como já mencionado, essas cidades cresceram rapidamente com o aumento de licenças concedidas para operadores turísticos. Puerto Ayora e Puerto Baquerizo não dispõem de água potável, tratamento de lixo sólido ou líquido, assistência médica, planejamento no uso da terra, instalações portuárias para carga e descarga de combustível e de mercadorias, e outros serviços necessários para atender a população local e os visitantes e proteger os recursos do parque.

Nos últimos anos, o arquipélago tem sido visto por muitos habitantes do continente como a "mina de ouro" do Equador, atraindo,

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a administração do visitante 101 assim, muitos imigrantes. Antes disso, a população nativa de Galápagos era muito pequena. O aumento populacional e a distância do continente exerceram uma pressão enorme sobre a exploração dos recursos materiais do parque, tais como entulho, areia, pedras e madeira. Os recursos pesqueiros, antes utilizados basicamente para consumo local, têm sofrido grande pressão para atender tanto o mercado nacional como o internacional. Recursos que antes eram intocados (como tubarões e holotúrias) ultimamente têm sido muito explorados pelos pescadores japoneses para exportação para Taiwan. A pesca quase descontrolada de lagostas tem sido imposta pela demanda de exportação para Miami.

Embora a década de 80 e o início dos anos 90 tenham apresentado questões problemáticas, o parque não está absolutamente ameaçado. Modificações e melhoramentos estão sendo feitos e muitas instituições estão auxiliando a fortalecer este grande parque mundial. Em 1991, o presidente do Equador declarou uma segunda moratória na emissão de novas licenças para operadores turísticos que desejassem promover excursões de barco, e formou uma comissão especial multisetorial para criar um plano para o ecoturismo e para a conservação de Galápagos. O autor deste ensaio trabalhou como consultor do comitê técnico dessa comissão. Desde então, o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas tem oferecido apoio considerável para a comissão, e o Banco Mundial, através de seu programa conjunto com o Fundo Mundial para o Meio Ambiente (Global Environmental Faci-lity - GEF), mostrou interesse em financiar parte das medidas apresentadas pela comissão; propostas estão sendo elaboradas (McFarland et al., 1991). Os próximos anos deverão assistir à implementação de uma melhor coordenação entre as entidades envolvidas. Já está havendo uma melhor administração no próprio parque.

Embora este capítulo tenha sido escrito antes da conclusão de nossa atual pesquisa em Galápagos, ele se baseia na experiência do autor com o parque e em seu contato, de vários anos, com a equipe da

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102 ecoturismo Fundação Charles Darwin, e assume um enfoque do tipo "lições aprendidas", que é, de modo geral, otimista. a política de concessões e a administração do visitante ontem e hoje

Vários aspectos marcantes têm caracterizado a administração do visitante no Parque Nacional de Galápagos. Em primeiro lugar, a Administração do Parque, com o auxílio da Fundação Charles Darwin (a mais importante organização não-governamental de Galápagos), tem treinado e formado guias turísticos encarregados de acompanhar todas as excursões. Uma vez que as viagens são feitas principalmente de barco, que fornece cama e comida a bordo, a necessidade de infra-estrutura nas ilhas mais distantes diminui consideravelmente. Embora muitos impactos sobre a terra sejam reduzidos, esse sistema sem dúvida cria impactos sobre baías e portos. Uma característica típica dos locais de visitação é que suas trilhas são curtas e bem demarcadas e os visitantes são instruídos a permanecer sempre nelas. Tais medidas têm tido relativo sucesso no controle de muitos impactos biofísicos nos cerca de cinqüenta e nove locais oficiais de visitação. Além disso, algumas ilhas que não têm espécies exógenas são expressamente excluídas de excursões de barco. É preciso salientar que alguns usuários do parque não são turistas, mas descendentes de antigos imigrantes (uma mescla de agricultores pioneiros, prisioneiros e outros aventureiros que chegaram depois de 1832), que há muito tempo vivem em Galápagos. Cientistas também habitaram as ilhas por algum tempo e foram responsáveis pela criação do parque e pela proposta de muitas políticas e atividades de gestão.

As conseqüências de utilizar guias e terceiros para administrar a visitação são difíceis de avaliar. Por um lado, é um sistema inovador, e reduz parte da necessidade de criar infra-estrutura para receber o visitante (roteiros interpretativos, sinalização, licenças, materiais edu-

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a administração do visitante 103 cativos e outros). Por outro lado, a tendência dos últimos anos tem sido a de reduzir a presença dos funcionários do parque, cujo número, conforme o visitante pode constatar, é cada vez menor. Embora o patrulhamento fosse comum na década de 70, alguns guias e capitães de embarcações comentaram que durante cinco anos - de 1986 a 1991 - não viram um só guarda-florestal patrulhando as áreas mais afastadas do parque. As prioridades mudaram, e o parque não dispõe de funcionários, barcos ou combustível para fazer as patrulhas. Além da função de receber as taxas nos aeroportos e de fornecer assistência à Estação de Pesquisa Charles Darwin em seu centro de visitantes e em suas unidades de reprodução de cágados e iguanas, os guardas-flores-tais têm um papel muito reduzido no contato com os visitantes ou nas atividades de administração do visitante no próprio parque.

Nas ilhas de Santa Cruz, São Cristóvão, Fernandina e Isabela, onde há potencial para uma série de atividades terrestres, típicas de outros parques nacionais, poucas áreas de visitação estão sob responsabilidade direta da Administração do Parque. Áreas de visitação referem-se aqui aos centros de visitantes administrados pelo parque, às áreas de acampamento, de piquenique ou de caminhadas, aos centros educacionais ou interpretativos, e às trilhas em uso. Além disso, quando estão patrulhando o parque, os guardas-florestais têm mostrado uma evidente falta de interação com os visitantes. A Estação de Pesquisa Charles Darwin possui um centro de visitação e atividades interpretativas fora do parque, que os funcionários do parque freqüentam com certa regularidade.

Devido ao aumento de licenças concedidas, as atividades dos operadores comerciais são tão numerosas e geraram uma tal rede de serviços de apoio nas cidades portuárias que o setor privado, embora dependa do parque para existir, tem hoje vida própria. As atividades turísticas estão em descompasso com a capacidade de gerenciamento do parque e da reserva marinha. O rápido crescimento, a diversidade, os recursos financeiros, a presença marcante e a força política do setor privado são fatores que fazem com que os administradores do parque

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104 ecoturismo (que não têm uma atuação ou força equivalentes) tenham dificuldade em planejar e implementar decisões sobre as quotas para os locais, os tamanhos dos grupos, os níveis aceitáveis de impacto, o zoneamento, os roteiros de viagem, o treinamento de guias e outros aspectos da administração do visitante e das concessões.

Embora os guardas-florestais e os administradores de Galápagos sejam bons, é preciso treinamento; ademais, o pagamento é muito inferior àquele oferecido pelo setor privado, e a rotatividade de pessoal é grande. Muitos membros do quadro de funcionários do parque revelaram ao autor deste capítulo que eles não se sentem "responsáveis" pelo parque ou pelo que ocorre nas comunidades vizinhas. Entre os fatores que colaboram para complicar mais a situação estão a grande extensão do parque, a falta de cooperação entre as agências que fazem estranhos acordos de jurisdição e de responsabilidades, a escassez de tempo e de recursos, e a frustração de ser incapaz de controlar o aumento do fluxo de visitantes. Tais problemas perdurarão, a menos que uma administração à altura seja implantada. Ques-tões administrativas específicas são descritas a seguir.

alguns problemas atuais

As inspeções dos barcos e dos equipamentos são realizadas de forma inadequada e alguns operadores não seguem as especificações relativas à saúde e segurança do visitante, especialmente quando se trata de excursões de um dia. A responsabilidade pelas inspeções cabe à Marinha e à Comissão Equatoriana de Turismo (CETUR) e deveria ser partilhada com os funcionários do parque. Os concessionários que mantêm um alto padrão acreditam que a Administração do Parque deveria, em conjunto com outros órgãos, fiscalizar os regulamentos para evitar que a qualidade dos serviços seja afetada.

A introdução de espécies é uma ameaça constante a Galápagos, especialmente às ilhas desabitadas, mas também às ilhas habitadas que já possuem muitas espécies exógenas agressivas, capazes de pôr em

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a administração do visitante 105 risco as espécies endêmicas absolutamente singulares do arquipélago, que evoluíram com tão poucas ameaças desse tipo. Não há quaisquer procedimentos de quarentena ou instalações para as mercadorias que chegam, como também não há inspeção dos passageiros. Grande parte do orçamento da Administração é gasto na tentativa de controlar espécies não-nativas como ratos, porcos, cabras, gatos e uma variedade de plantas. Há também um programa de reintrodução das espécies ameaçadas de extinção em locais onde a presença de espécies exóge-nas foi controlada.

O sistema de treinamento, de classificação e de pagamento dos guias criou uma divisão entre guias "naturalistas" (que, em geral, são do continente ou de outros países, e têm melhor nível de instrução e salários mais altos) e guias "auxiliares" (que geralmente são do local e tendem a ter um nível de instrução mais baixo e a receber salários menores). O sistema tornou-se polêmico, politizado e difícil de administrar. Tem havido pressão política no sentido de contratar guias locais e não dar muita ênfase às suas habilidades interpretativas, qualificação lingüística e compreensão dos princípios de administração do parque. A tensão que existe entre os próprios guias é improdutiva.

O plano administrativo do parque, particularmente o zoneamento e a estratégia de gestão dos visitantes, tornou-se inadequado em vista do atual nível de visitação. O plano deve ser atualizado e, mesmo assim, será difícil implementar mudanças sem a participação ativa dos operadores turísticos e de outros órgãos (Cifuentes, 1992).

Antes do aumento da emissão de licenças e das excursões diárias, muitos dos primeiros concessionários (75%) estipulavam itinerários fixos que possibilitavam a coordenação dos locais de visitação, e ajudavam a evitar o número excessivo de visitantes. A Administração do Parque, contudo, não solicitou itinerários fixos de muitos dos novos operadores que hoje atuam na região. O resultado é que oito dos dez locais mais populares, próximos às cidades portuárias, estão sofrendo um congestionamento que vem acompanhado por uma queda corres-

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106 ecoturismo pondente na qualidade da experiência dos visitantes e dos operadores, e por um possível aumento nos impactos biofísicos. Por outro lado, locais afastados das cidades portuárias geralmente são muito pouco visitados. Itinerários e/ou atribuições de zonas devem ser utilizados de forma mais equilibrada no futuro.

Novos locais de visitação - especialmente os de base terrestre situados no interior das ilhas maiores, onde um grande número de espécies já foi introduzido (Santa Cruz, São Cristóvão, Fernandina e a região sul de Isabela) - podem ser acrescidos à lista tradicionalmente utilizada pelos concessionários. Até recentemente, a Administração do Parque "não tinha o hábito" de projetar, construir e administrar as áreas de visitação, nem de promover a educação para o mínimo impacto - medidas que poderiam ser de grande utilidade para os visitantes que chegam sem fazer reserva e escolhem fazer excursões de um dia, ou para aqueles que combinam atividades comerciais e independentes (26%, Machlis et al., 1990). Um pequeno número de locais ao norte, na região interiorana próxima aos vulcões de Isabela e Cerro Azul, e possivelmente de Santiago, poderia ser gradualmente aberto à visitação para grupos reduzidos, com licenças especiais, acompanhados por guias, que deveriam utilizar práticas rigorosas para evitar a introdução ou circulação de espécies exógenas.

Comparadas às experiências dos visitantes nos parques nacionais americanos ou canadenses, as visitas aos locais turísticos de Galápagos são, necessariamente, mais homogêneas, e ocorrem nas chamadas "zonas de uso intensivo", que geralmente não permitem a grupos uma prolongada e despreocupada permanência, ou que limitam os encontros com outros grupos. Ademais, nas épocas de pico, as visitas podem parecer apressadas (Wallace, 1991). O atual zoneamen-to do parque respeita a condição dos recursos e impõe limites à visitação a ilhas ecologicamente virgens. Ele também inclui zonas de uso "intensivo e extensivo", mas nunca foi deliberadamente planejado para oferecer uma gama maior de oportunidades para o visitante (cenários diversificados e experiências que variam do uso intensi-

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a administração do visitante 107 vo/desenvolvido para o extensivo/primitivo) como ocorre em muitas partes do mundo. Devido às preocupações com a introdução de espécies, a "liberdade para passear à vontade" nunca será muito grande; mesmo assim, o sistema de zoneamento precisa ser aprimorado, bem como as metas de administração para cada área.

Antes do aumento da visitação e do número de operadores que realizam viagens de barco, as inadequações do zoneamento não constituíam um problema porque as excursões podiam, ocasionalmente, encontrar algum local sem outros visitantes, onde fosse possível apreciar por mais tempo e tranqüilidade a natureza. Uma vez que os locais mais populares oferecem aos visitantes o mesmo tipo de experiência, é importante planejar sistemas de administração com metas específicas (tais como quotas e padrões adequados aos locais que deliberadamente reservem experiências intensas e mais singulares). É importante, também, zonear e administrar os locais que são usados com freqüência pela população da região e do país, cuja ênfase é a recreação e não a observação e compreensão dos recursos bióticos e abióticos do parque.

Muitas pessoas que vão trabalhar no Parque Nacional de Galápagos não compreendem seu valor único de patrimônio mundial, e seu comportamento tem um impacto sobre o frágil meio ambiente. Isso é válido também para as tripulações a bordo dos barcos. A Administração não dispõe de recursos financeiros nem de um quadro completo de funcionários, e, até recentemente, não estava preparada para desempenhar o novo e importante papel de informar e educar a população local. A reduzida presença de guardas-florestais patrulhando áreas próximas às cidades é um outro fator agravante. Contudo, o fato de os funcionários do parque também residirem nessas mesmas comunidades pode representar uma possibilidade de melhoria, se esta for a prioridade.

Nos últimos anos, Galápagos tem recebido um maior número de visitantes equatorianos, que pagam 75% a menos pelas passagens aéreas do que os estrangeiros. Observadores detectaram uma diferen-

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108 ecoturismo ça nas motivações, uma vez que alguns equatorianos vão a Galápagos com a expectativa de desfrutar típicas férias à beira-mar e não estão interessados em ecoturismo ou turismo voltado à natureza. Para os que estão interessados na natureza, as excursões diárias são geralmente as mais escolhidas, porém, por serem mais econômicas, oferecem oportunidades muito menores de compreender os ecossistemas, a fauna e flora do parque, do que as excursões mais caras. A Administração colabora muito pouco para - e tem pouco controle sobre - a imagem do parque que é veiculada no continente e que é responsável pela expectativa dos visitantes. Embora haja um estudo em andamento para avaliar as motivações, expectativas e preferências dos visitantes de Galápagos (Wallace e Wurz, 1992), acredita-se que os turistas estrangeiros, que têm à sua disposição praias em muitos lugares, vão a Galápagos principalmente para fazer turismo de natureza, ao passo que os equatorianos podem viajar por uma série de outros motivos. razões para otimismo

Como mencionamos anteriormente, a Comissão do Presidente e seu Comitê Técnico, a Fundação Charles Darwin e a própria Administração do Parque propuseram atividades a fim de melhorar a situação de Galápagos. Dada a importância mundial do parque, muitas organizações nacionais e internacionais parecem interessadas e dispostas a ajudar a financiar as medidas necessárias. As organizações não-governamentais continuam a dar apoio e a oferecer recursos ao parque, e inúmeros concessionários já manifestaram interesse em implantar as mudanças necessárias.

Nos últimos quatro anos, está havendo uma estabilização e um ligeiro declínio no número de visitantes, o que deve dar aos administradores e concessionários condições para implementar mudanças. Essa situação parece ter sido provocada pelo surto regional do cólera, pelas tempestades, pela agitação política nos países vizinhos (Peru e Colômbia) e por outros problemas da região (divulgados nas recomen-

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a administração do visitante 109 dações aos viajantes do Departamento de Estado dos EUA) e não pela insatisfação dos visitantes. Na maioria dos casos, Galápagos se apresenta como uma experiência tão única e maravilhosa que os visitantes podem passar por situações desconfortáveis e ainda assim revelarem-se satisfeitos com a viagem [isto é, até que sejam entrevistados a fundo, quando então fazem sugestões para enriquecer a qualidade da experiência (Machlis, Costa e Cardenas, 1991)]. Além disso, uma viagem a Galápagos é um empreendimento caro e logisticamente complexo, uma experiência que, para a maioria dos visitantes, não se repetirá. Os pesquisadores descrevem a atitude em relação à experiência como resultado de uma situação que se presta perfeitamente à racionalização ("É claro que a viagem foi ótima, depois de todo o dinheiro, tempo e esforço que despendi; e, afinal, trata-se de Galápagos"). Em resumo, são necessários muitos contratempos para não se aproveitar uma ida a Galápagos, e a reação do visitante é ainda positiva, apesar dos vários problemas.

Em breve, os estudos iniciados pelo Comitê Técnico para auxiliar no aprimoramento do zoneamento e das estratégias de administração do visitante estarão completos. Uma série de sugestões foi proposta pela Comissão do Presidente para fomentar a coordenação permanente entre diversas organizações, tais como a Administração do Parque, a Agência de Planejamento e Desenvolvimento (INGALA), a Capitania dos Portos e a Marinha Mercante (DIGMER), a Comissão Equatoriana de Turismo (CETUR), a Estação Charles Darwin, e outras.

lições práticas aprendidas

O restante deste capítulo será dedicado ao exame das práticas de administração do visitante, tanto as antigas quanto as vigentes, e à análise dos problemas atuais e de algumas soluções que parecem estar emergindo do trabalho de diversas pessoas preocupadas com esse grande parque. Muito do que está registrado na história do arquipélago

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110 ecoturismo é relevante para a administração de visitantes e concessões ecoturísticas em outras áreas naturais protegidas. Talvez a lição mais óbvia a ser retirada de tudo isso é a de que não se deveria permitir que a visitação de um local ecoturístico ultrapassasse a capacidade administrativa de controlar tais visitas, sejam elas comerciais ou particulares. Há um relacionamento simbiótico ideal entre os concessionários e os administradores das áreas protegidas, que em Galápagos e em outros locais é, com freqüência, desequilibrado. Em um parque que cobre a extensa área de um arquipélago como Galápagos, os administradores precisam dos concessionários para transportar os visitantes e para ajudar a educá-los e a atender às suas necessidades. Os concessionários, por sua vez, contam com a administração para assegurar que os recursos naturais que as pessoas desejam ver sejam administrados de maneira sustentável, e que a qualidade da experiência do visitante seja mantida. Teoricamente, os administradores devem fornecer as trilhas, os centros de visitação, o patrulhamento, as inspeções, o material interpretativo, o zoneamento, o controle de espécies exógenas, e todos os demais fatores que asseguram que os concessionários tenham um bom "produto" a oferecer.

Nos países em desenvolvimento, como o Equador, os concessionários precisam investir na administração da área protegida como parte do custo da transação comercial. Julgamos que os ecoturistas, cientes do investimento e da colaboração do concessionário com a administração, pagarão de bom grado pela experiência (Wallace, 1992; Cronin, 1990; Durst, 1988). Parques e áreas naturais protegidas e bem administradas sempre serão produtos vendáveis que proporcionam benefícios para os setores público e privado. Os concessionários precisam lembrar ainda que os administradores de áreas protegidas devem levar em conta fatores que não se restringem ao valor econômico e recreativo da área. Eles têm grande responsabilidade em proteger bens científicos, históricos, culturais, espirituais, assim como os meios de subsistência, a biodiversidade, etc. É compreensível que, nos países em desenvolvimento, os administradores de áreas protegi-

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a administração do visitante 111 das - muitas delas recém-designadas - em geral relutem em permitir um número maior de visitantes, devido ao medo que têm do impacto que pode ser causado nos recursos da área e à desconfiança em relação à administração dos visitantes. Os administradores excessivamente protetores, que não querem permitir a operação dos concessionários, devem lembrar-se de que, em última análise, as áreas protegidas não sobreviverão sem pessoas que as conheçam e amem. São os visitantes que fomentam as políticas de conservação, que propiciam a mão-de-obra e os orçamentos para essas áreas e que fazem as doações para as organizações não-governamentais, como o World Wildlife Fund, a Nature Conservancy (Preservação da Natureza), a Fundação Charles Darwin e muitas outras, que, por sua vez, investem na administração das áreas protegidas. O equilíbrio precisa ser alcançado. permissões

Conforme já mencionamos, em todas as áreas deveria haver uma distinção entre a licença para operar como concessionário (a capacidade profissional e material de uma empresa de propiciar roteiros de qualidade de um tipo específico: roteiros marítimos, rafting, mergulho, caminhadas, ou prover alojamento) e a permissão para operar em uma determinada área. Cada área possui um conjunto de critérios específicos, que irão determinar se a permissão de uma concessão facilitará ou dificultará o trabalho do administrador. Nos países em desenvolvimento, a princípio, pode haver a necessidade de combinar as licenças e as permissões, mas somente se os administradores locais, familiarizados com as exigências específicas da área, tiverem a palavra final sobre o assunto. Se o sistema for claro, os investidores reconhecerão que devem obter uma permissão total antes de dar continuidade a qualquer investimento. Ser proprietário de um barco não é garantia de adequabilidade. Uma vez que a agência esteja convencida de que um operador realmente a ajudará a alcançar os objetivos do parque ou da área protegida, ela lhe concede o privilégio

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112 ecoturismo de operar na região, capacitando-o a obter lucros com a utilização dos recursos públicos que a todos pertencem. Muitos se esquecem de que isso é realmente um privilégio e não um direito. Os fatores que determinam as condições para a obtenção de uma permissão para operar são mais conhecidos pelos administradores e concessionários do que pelo governo, que não está familiarizado com a área protegida. Alguns desses fatores são: os solos, o terreno, o clima, as necessidades da população local, as motivações e experiências preferidas do visitante, o mix desejado de tipos de visitantes, os objetivos administrativos em relação aos recursos do parque, as áreas frágeis, e outros.

Se algum dia um processo independente de licenciamento puder assegurar o estabelecimento de padrões mais gerais e menos específicos ao local para treinamento, equipamento, seguros, contratos, solvência de uma empresa e outros pré-requisitos, de forma desvinculada de um local ecoturístico em particular, será justificável retirar parte da responsabilidade das mãos dos administradores de áreas protegidas. As associações de classe desempenham um papel legítimo ao ajudar a estabelecer os padrões para licenciamento e devem ser incluídas nos conselhos responsáveis pelas licenças. Em Galápagos, a decisão para a formação de uma comissão unificada foi tomada recentemente, de modo que o Ministério da Agricultura, a Administração do Parque, a agência de turismo nacional, a Marinha Mercante e as associações comerciais possam monitorar os procedimentos para licenciamento, mas o próprio Parque Nacional de Galápagos terá muito mais poder sobre a emissão de permissões para operações em sua área. Novamente, a lição essencial é que, na esfera da administração de concessões, os administradores da área devem ter o controle máximo sobre a emissão de permissões.

a presença dos funcionários do parque

Os estudos demonstram que a presença de guardas-florestais uniformizados - nas entradas do parque, em patrulha, oferecendo

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a administração do visitante 113 suporte nos centros de visitantes, a bordo de roteiros marítimos, inter-pretando e visivelmente administrando os recursos do parque - possui um impacto positivo sobre os visitantes (Manning, 1986). A presença de um funcionário público evidencia que o local é de propriedade comum e gera um sentimento de responsabilidade - nossos filhos poderão desfrutar de todas as riquezas que estão sendo preservadas. A presença de uma combinação de voluntários e funcionários do parque, organizações não-governamentais e concessionários é ainda mais favorável, porque implica um esforço conjunto. A presença exclusiva de representantes do setor privado não produz o mesmo efeito.

É de conhecimento geral que as regras, quando não são cumpridas, podem levar à anarquia e ao desrespeito entre visitantes e concessionários. Em Galápagos, a extração ilegal de areia e o descuido com a segurança dos visitantes são bons exemplos de regras que não são completamente cumpridas. Somente com os funcionários do parque em ronda, ou presentes de outra maneira, cria-se de fato a sensação da existência de jurisdição institucional e legal sobre as atividades administrativas. Ainda há uma grande carência dessa sensação em Galápagos.

A recepção dos visitantes no aeroporto por guardas impecavel-mente uniformizados que recolhem as taxas é um aspecto positivo, mas ainda não se está explorando a possibilidade de transmitir uma orientação pelo rádio do avião, com as boas-vindas oficiais, ou informações sobre o grave problema da introdução de espécies exógenas. A imagem do guarda-florestal como uma figura administrativa de autoridade e como fonte de conhecimento é substituída pela de um coletor de taxas. Há alguns anos, os guardas-florestais do parque eram realmente designados para acompanhar cruzeiros e interagiam mais com os visitantes. Alguns problemas que surgiram naquela época precisam ser solucionados, caso se almeje uma presença mais marcante para o parque.

Já que muitos visitantes não falam espanhol e muitos guardas-florestais do parque não falam inglês ou francês, algumas medidas especiais precisam ser tomadas. Em primeiro lugar, poderia ser exigi-

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114 ecoturismo do que as pessoas em treinamento para guias comerciais (em geral, bilingües) participassem de um estágio de seis meses no parque, onde poderiam acompanhar os funcionários da área protegida e, dessa forma, aumentar seu conhecimento sobre a administração do local, ao mesmo tempo em que atuariam como intérpretes e modelos de desempenho lingüístico (MacFarland, 1992). O aproveitamento de estudantes e de voluntários nesse tipo de função pode ser de grande utilidade e tornou-se comum em muitos países. Em segundo lugar, todos os guias deveriam atuar como intérpretes no contato dos turistas com os guardas-florestais, dando continuidade ao papel desempenhado durante o estágio. Na ausência de um guia bilingüe, os membros bilingües do grupo deveriam ser encorajados a fazer a interpretação. Em terceiro lugar, todos os funcionários do parque deveriam receber treinamento em interpretação e sobre como agir em várias situações que envolvem os visitantes. O contato com o visitante deveria ser encorajado. E, por último, além dos contatos informais, deveria haver um maior número de atividades programadas nas quais os guardas do parque atuassem como informantes ou intérpretes. Isso pode ser conseguido através do revezamento dos guardas-florestais ou de designações que os disponham aos pares com os guias comerciais, de modo a participarem da função educacional. Os guardas-florestais poderão ser extremamente úteis em barcos maiores, se os concessionários forem obrigados a desenvolver as atividades em grupos dispersos e menores, a fim de atender aos novos padrões de zoneamento. Felizmente, o retorno de guardas-florestais uniformizados não deve constituir um problema, já que os visitantes têm por hábito pedir-lhes informações.

As patrulhas são uma parte essencial da vida administrativa de uma área protegida. Os funcionários de parque devem saber tudo o que acontece em todas as partes de uma área - desde as remotas até as mais utilizadas. Para que o cumprimento dos regulamentos seja efetivo, os horários de patrulhamento devem ser tanto aleatórios quanto programados. A boa administração das concessões, com regras

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a administração do visitante 115 devidamente aplicadas a todos, exige uma presença maciça na área e um relacionamento cooperativo com os operadores turísticos. Raramente ela é conquistada se há consentimento para que os operadores turísticos trabalhem sozinhos, ou permissão para que alguns desrespeitem as regras, enquanto outros fazem o possível para observá-las. Em Galápagos, os concessionários têm demonstrado disposição para convidar guardas-florestais a acompanhar as excursões e são favoráveis à intensificação do patrulhamento e à monitoria das especificações para permissão. É muito mais fácil estabelecer esse tipo de relacionamento no início, quando a operação em uma área protegida ainda é encarada como um privilégio, e não retroativamente. O novo superintendente do Parque Nacional tornou o patrulhamento uma prioridade. Ele adquiriu barcos, rádios e outros equipamentos necessários aos patrulheiros e desenvolveu uma nova estratégia para o patrulhamento e para a redistribuição das tarefas dos guardas em todo o arquipélago (Izurieta, 1992). equilibrando oportunidades comerciais e não-comerciais para visitantes

Jamais deve haver um monopólio do setor privado sobre o movimento de visitantes. Uma parte do acesso e das atividades deveria ser proporcionada pelos concessionários e outra parte deveria ser diretamente fornecida pela área protegida. Este autor tem a opinião de que, para manter o equilíbrio administrativo, poucos parques deveriam comercializar mais de 50% de suas atividades. A necessidade de guias/equipamentos é mais evidente em um parque como o de Galápagos, que possui mais de 400 quilômetros de extensão e onde a viagem entre as ilhas é feita por barcos. Além disso, a existência de ecossistemas frágeis e ameaçados por espécies exógenas não permite a liberdade de movimento de grupos privados, que poderiam ser adequados em muitos outros parques. Contudo, até mesmo no arquipélago de Galápagos, há um grande potencial para o desenvolvimento

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116 ecoturismo de atrações que propiciem aos visitantes atividades como caminhadas, acampamentos, natação e mergulho em áreas menos frágeis, administradas pelo parque (as regiões interiores e algumas praias nas ilhas desertas de Santa Cruz, São Cristóvão, Fernandina, e partes da ilha Isabela, onde as ameaças aos ecossistemas virgens não são tão sérias).

Nas áreas mencionadas, há também a possibilidade de encorajar o desenvolvimento de pequenas concessões locais sobre as terras privadas, localizadas nas proximidades das terras administradas pelo parque. Tais concessões poderiam diversificar a oferta comercial em favor da população local, e reduzir algumas das pressões atualmente exercidas pela agricultura sobre o parque. Tanto as atrações administradas pelo parque quanto as de iniciativa local seriam alternativas bem-vindas, propiciando um equilíbrio ao pacote turístico predominante hoje. Essas opções não só reduziriam os custos para os visitantes domésticos como também criariam uma diversificação maior de oportunidades de experiência, que poderiam ser escolhidas por todos os visitantes. É o desenvolvimento de alguns locais de visitação administrados pelo parque que assegura a presença anteriormente referida de guardas-florestais como administradores e que pode eliminar grande parte da pressão sofrida pelos locais cada vez mais congestionados por visitação turística.

Para que isso aconteça, é necessário um treinamento que inclua técnicas de administração do visitante, tais como projeto de infra-estrutura, limites de uso, manutenção e conservação do local, informação ao visitante, sinalização, monitoramento e patrulhamento. Já que o impacto nos recursos do parque geralmente é determinado pelo tipo e pelo comportamento dos visitantes, e não por seu número, uma educação que promova comportamentos que reduzam os impactos é parte integral daquilo que se entende por "capacidade administrativa". Ao contrário dos roteiros comerciais, que requerem grupos grandes para serem economicamente viáveis, as áreas administradas pelo parque podem atender a grupos menores, interessados em participar de atividades autodirecionadas que oferecem experiências mais sin-

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a administração do visitante 117 gulares, como a proporcionada por alguns dos barcos menores que visitam locais distantes e menos freqüentados. Os centros de visitantes e os locais interpretativos desenvolvidos pelo parque e a mão-de-obra contratada por ele também são meios importantes para o fornecimento de oportunidades não-comerciais. Alguns exemplos importantes de meios para equilibrar as ofertas públicas e comerciais são: trilhas naturais guiadas por guardas-florestais, por voluntários ou trilhas autoguiadas; áreas destinadas a palestras para grupos de escolares, moradores da região ou visitantes; e áreas de piquenique localizadas e projetadas para uso da população local.

Deve ser observado que, quando o parque identifica locais novos e alternativos para sua administração, os roteiros comerciais podem também utilizar essas áreas, contanto que os grupos trazidos sejam de tamanho apropriado e estejam interessados em utilizar técnicas de baixo impacto. As áreas-piloto, que oferecem oportunidades restritas de acampamento e caminhada, podem ser utilizadas por indivíduos sem guias, por pequenos grupos que tenham recebido orientação dos funcionários do parque, ou ainda por visitantes menos experientes acompanhados por um guia. Uma praia recreativa tornou-se muito popular entre os visitantes domésticos e os habitantes da ilha que procuram opções de recreação que não envolvam viagens mais longas parque adentro. O desenvolvimento cuidadoso desse tipo de área, criada e consolidada próximo às comunidades da ilha, é um meio de fazer com que os habitantes prestem maior atenção em outras atrações que o parque tem a oferecer, alertando-os para a existência de áreas internas ao parque onde podem sentir-se à vontade, apesar de não serem turistas. As áreas recreativas de uso intensivo também propiciam uma oportunidade para que os habitantes do local misturem-se aos visitantes estrangeiros e aos roteiros guiados, em um contexto de lazer não-comercial.

Além disso, o Parque Nacional de Galápagos em breve estimulará os proprietários de terras privadas a desenvolverem locais recreativos onde os visitantes, acompanhados ou não por guias, chegarão por conta própria. Esses locais serão incluídos como parte de uma

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118 ecoturismo estratégia de administração geral para melhor distribuir o uso. Ao mesmo tempo em que as áreas administradas pelo parque estão sendo priorizadas, os funcionários, sob o patrocínio da UNESCO e da Estação Charles Darwin, estão sendo enviados para estudar em áreas onde a arte da administração do visitante está mais evoluída. estabelecendo um zoneamento que auxilie concessionários e administradores e enriqueça a experiência do visitante

É um fato inquestionável que os administradores de áreas protegidas precisam encontrar pessoas (turistas, cientistas, educadores, habitantes locais) que conheçam e amem a área que administram. É o apoio contínuo dessas pessoas que irá garantir as políticas e os orçamentos necessários à administração. Uma lição que vem sendo aprendida em Galápagos, assim como em muitos outros locais que se esforçam por aperfeiçoar a administração do visitante, é a de que o zoneamento deve ser feito tanto para proteger os recursos quanto para proporcionar a diversificação das experiências disponíveis aos visitantes. De forma semelhante, o monitoramento deveria observar o impacto (positivo e negativo) sobre o ambiente biofísico e sobre a experiência do visitante (Driver et al., 1987; Graefe et al., 1990; Stankey et al., 1985).

Além da legislação que determina a proteção de uma área, a seleção dos objetivos administrativos para qualquer unidade dentro de uma área protegida baseia-se, em grande parte, em dois aspectos. O primeiro refere-se às restrições dos recursos de natureza biofísica, tais como tipo de solo, altitude, precipitação, paisagem ímpar, características do ecossistema, necessidades da vida selvagem ou outros. O segundo diz respeito à disponibilidade, ao tipo, à localização e à distribuição das oportunidades de experiência desejadas pelos visitantes: conhecer um determinado tipo de vida selvagem ou mergulhar em um recife de corais para observar e facilmente entender a geologia de uma área. Isso implica uma certa combinação entre os fatores que

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a administração do visitante 119 motivam as pessoas a se dirigirem para um local, a experiência que elas procuram e o que os administradores podem propiciar, ao mesmo tempo em que protegem os recursos da área.

Sempre que diferentes tipos de objetivos administrativos forem considerados adequados para uma determinada porção da área protegida, as zonas devem ser estabelecidas e administradas pelas características contextuais que correspondem a esses objetivos administrativos. As características contextuais de uma determinada zona podem ser descritas em termos do que é desejável: densidade de visitação, número de encontros entre visitantes, quantidade de evidências de atividade humana e infra-estrutura, distância, tipo de viagem, equipamento adequado, grau de regulamentação ou liberdade do visitante. Todas essas características correspondem ao nível necessário de proteção de recursos, considerando-se as restrições biofísicas da área. Os pesquisadores descobriram que alguns fatores que motivam os visitantes podem ser combinados com características contextuais particulares, aumentando a probabilidade de satisfazer o visitante. Em cada zona, as características contextuais devem ser distintas e possuir integridade própria, de modo a corresponder aos diversos fatores de motivação do visitante que os estudos quase invariavelmente revelam (Driver e Brown, 1975, 1978). Onde os sistemas de zoneamento são ineficazes, as características contextuais perdem sua peculiaridade, em conseqüência de objetivos administrativos que não estão bem definidos.

Há vários anos as Ilhas Galápagos possuem zonas de uso intensivo, uso extensivo e uso científico (as últimas, inacessíveis, exceto para alguns visitantes)*. Nos locais populares da zona intensiva, a

* Nas oficinas de Capacitação em Ecoturismo realizadas em outubro de 1994 na Fazenda Intervales, Capão Bonito, em São Paulo, os consultores nacionais e internacionais estabeleceram um zoneamento baseado em: � Áreas de Uso Restrito (áreas preservadas, com pouca ou nenhuma visitação turística) � Áreas de Uso Intensivo (áreas com atrativos ecoturísticos, com visitação intensa) � Áreas de Recepção (onde se dá a chegada dos visitantes) � Áreas de Serviço (onde se localiza toda a infra-estrutura comercial e de serviços) � Áreas-Tampão (que separam e protegem áreas de uso restrito, com visitação limitada) � Ligações e corredores (unindo essas áreas e permitindo a chegada dos turistas). (N. do R.T.)

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120 ecoturismo oportunidade normal de experiência é um roteiro guiado de duas a três horas, onde encontros com outros grupos - em barcos grandes e pequenos - são a norma e excluem a possibilidade de visitas prolongadas ao local. As áreas recreativas próximas ao porto são classificadas como zonas de uso intensivo, mas teoricamente podem possuir objetivos administrativos e características contextuais que diferem dos de outros locais abertos à visitação, também demarcados como de uso intensivo. As áreas de zoneamento extensivo são administradas visando a oferecer uma experiência de densidade menor, mais pura e talvez mais singular, e podem ser inacessíveis a muitos roteiros que, no entanto, podem desejar ter acesso a experiências dessa natureza. Outras oportunidades de experiência em zonas de uso extensivo incluem escaladas em vários vulcões e podem atrair aqueles que desejam enfrentar desafios físicos, desenvolver atividades ao ar livre, fazer longas caminhadas ou usufruir de um isolamento maior.

O estabelecimento de objetivos eficientes na administração de visitantes e as estratégias de zoneamento correspondentes a esses objetivos exigem a avaliação periódica dos fatores de motivação, das expectativas e das preferências do visitante em relação às oportunidades de experiência e às técnicas administrativas. Espera-se que os estudos realizados recentemente nas Ilhas Galápagos (Wallace e Wurz, 1992) revelem a necessidade de aprimorar e expandir o atual sistema de zoneamento. A atual estratégia de zoneamento pode ser simples demais para atender às necessidades de um número cada vez maior de barcos (o tipo, o tamanho, a autonomia de distância e as instalações do barco escolhido são aspectos que afetam a experiência do visitante e pode ser necessário aliá-los à estratégia de zoneamento), as diversas preferências dos visitantes, os habitantes da região e o congestionamento nos locais populares de visitação-fatores estes que se juntam às complexas restrições do ecossistema e dos recursos.

Para ilustrar as necessidades e as possibilidades de zoneamento, apresentamos alguns tipos de zoneamento hipotéticos, criados espe-cialmente para as Ilhas Galápagos, e uma descrição detalhada dos

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a administração do visitante 121 objetivos administrativos, das oportunidades de experiência e das características contextuais para duas das zonas. tipos de zoneamento

Rural. Incluiria todas as áreas adjacentes ao parque, nas quais este trabalha com proprietários de terras privadas a fim de desenvolver atividades como os roteiros do canal de lava, em Santa Cruz, ou as trilhas de equitação e de caminhada, que ocorrem de forma contígua, numa combinação de terras privadas e terras pertencentes ao parque.

Recreativo/intensivo. Incluiria as áreas de recreação desenvolvidas

nas comunidades locais próximas ao parque (Tortuga Bay), ou os locais relativos ao parque dentro das comunidades. Esse tipo de zoneamento poderia incluir os postos dos guardas e os centros de visitantes, a Estação de Pesquisa da Fundação Charles Darwin, as instalações portuárias ou de transporte, e outros locais que abrigam o pessoal e as atividades do parque e são projetados para um grande número de visitantes.

Natural/intensivo. Incluiria os locais de visitação onde a vida

selvagem, o ecossistema, a história cultural ou natural são de grande valor, mas com restrições moderadas dos recursos. Níveis mais elevados de uso poderiam ser permitidos (o tamanho do grupo ainda seria específico ao local, mas tenderia a favorecer grupos maiores) em locais de distâncias variáveis das cidades portuárias.

Natural/extensivo. Incluiria os locais com vida selvagem, ecos-

sistemas, história cultural ou natural de importante valor, com restrições mais severas dos recursos (novamente, específicas ao local), limitando o tamanho dos grupos ou limitando as condições para obtenção de autorizações, pois se almeja uma experiência mais tranqüila e com um número menor de encontros, em locais de distâncias variáveis das cidades portuárias.

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122 ecoturismo Semiprimitivo. Englobaria as áreas desertas ou de praias remotas, em

geral existentes em ilhas maiores desabitadas, localizadas a mais de um quilômetro e meio de qualquer estrada ou das áreas de desembarque motorizado na praia. Áreas onde se exige que o transporte seja feito a pé, por animais ou barcos não motorizados, onde são maiores os riscos e os desafios enfrentados e as habilidades exigidas. As restrições nos recursos situam-se entre baixas e moderadas. O número de encontros com outros visitantes é mantido em níveis baixos e exige-se tanto a licença quanto a orientação da Administração do Parque ou o acompanhamento de guias especiais.

Científico/virgem. Englobaria as ilhas ou partes das ilhas onde o valor

do ecossistema é inestimável, com nenhuma ou pouquíssima introdução de espécies exógenas. Via de regra, são regiões remotas e desertas, com severas restrições de recursos. Quase sempre, as visitas são extremamente limitadas; geralmente, mas nem sempre, reservadas aos cientistas. Para que se possa chegar a essas regiões, é exigida uma autorização antecipada e o acompanhamento de guias especialmente treinados em técnicas de baixo impacto. Haveria muitas regulamentações estritas.

A seguir, apresentamos uma descrição mais completa para duas dessas

categorias, ambas novas para Galápagos. Zona recreativa/intensiva. Objetivos de administração: Criar áreas

administrativas, educacionais e recreativas facilmente acessíveis e próximas às comunidades localizadas nos "portões de entrada" do parque (os portos), que acomodam grande número de pessoas, implica fazê-las participar dos objetivos gerais do parque e de suas qualidades singulares, reduzindo a probabilidade de atividades inadequadas em quaisquer localidades destinadas ao turismo de natureza.

Oportunidades de experiência e características contextuais: As

atividades incluem natação, banho de sol, passeios de barco, piqueni-ques, contemplação de paisagens, contatos com outros visitantes,

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a administração do visitante 123 visitas a amostras e exibições educativas, e compras relacionadas ao parque.

Contexto físico: Existem numerosas estradas, trilhas, desembar-

cadouros, cais e outras estruturas no local. Os níveis de ruído são moderados. A paisagem permite a observação de áreas naturais à distância, tendo sido altamente modificada e consolidada para acomodar muitos visitantes. Os centros de visitantes fornecem água, eletricidade e sanitários, sendo que os últimos também estão disponíveis nas praias.

Contexto social: Tanto a densidade de visitantes quanto o número de

encontros entre eles são altos, e os habitantes locais e os turistas partilham de uma atmosfera de lazer. O pessoal do parque está muito presente, oferecendo assistência e vários programas e palestras. No parque, é oferecido um alto nível de segurança e de conforto, e há ainda uma grande variedade de oportunidades de hospedagem, alimentação e entretenimento à disposição dos visitantes.

Contexto administrativo: Quase não existem restrições quanto ao

tamanho dos grupos, mas há outras regulamentações rígidas, incluindo horário de funcionamento. Há a cobrança de taxas para algumas atividades. O acesso às áreas de paisagens naturais é restrito por barreiras, a vegetação é plantada e mantida, e, para garantir a administração eficiente do visitante; os guardas-florestais do parque fomentam a educação extensiva, fiscalizam as leis e cooperam com as autoridades locais.

Zona semiprimitiva. Objetivos de administração: Permitir àqueles

visitantes que buscam uma experiência mais autodirigida ou individualizada (praticando atividades ao ar livre em um contexto natural) o acesso às partes do parque onde existem muitas riquezas e aspectos naturais, onde as questões sobre a introdução de espécies exógenas são prementes, mas podem ser controladas devido à proximidade de postos da guarda-florestal. Reduzir também a pressão sobre

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124 ecoturismo os locais de visitação da zona natural/intensiva, oferecendo oportunidades aos visitantes que desejam alternativas para os roteiros tradicionais, feitos com o auxílio de guias.

Oportunidades de experiência e atividades ligadas às características contextuais: A caminhada, o acampamento, o uso de caiaque no mar, a escalada de vulcões, a observação da vida selvagem e o estudo da natureza. Existem oportunidades para praticar atividades ao ar livre, mas elas impõem um nível razoável de risco e de desafios e requerem resistência física.

Contexto físico: Trata-se de áreas remotas, geralmente a uma distância

de vários quilômetros dos locais de visitação ou dos corredores de transporte, situadas em terreno natural e que podem possuir uma certa mistura de espécies exógenas e endêmicas, mas raríssimas evidências de atividade humana. Nesse tipo de zona podem-se encontrar montanhas íngremes, cerrados, campos de lava ou praias remotas.

Contexto social: Os grupos não contarão com mais de cinco pessoas e

todas as trilhas e locais de acampamento terão quotas determinadas, de modo que não se deverá encontrar mais que dois outros grupos em um período de dois dias.

Contexto administrativo: As licenças são solicitadas e fornecidas com

base na ordem de chegada. Os itinerários são preparados e os locais para acampamento são estipulados. O prazo de estadia é de um a dois dias em qualquer local. As patrulhas de guardas-florestais são regulares, mas seu contato com os visitantes é opcional e breve. Antes da entrada, os visitantes assistirão a um vídeo de quinze minutos sobre técnicas de baixo impacto e sobre os regulamentos da área natural, bem como serão submetidos a uma verificação para controlar a presença de plantas exógenas e a adequação dos equipamentos.

Como os exemplos começam a ilustrar, uma vez estabelecidas as zonas ou "tipos de oportunidades", como às vezes são chamadas, as quotas para o local (número de pessoas ou barcos por vez) e outras

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a administração do visitante 125 regulamentações adequadas para o contexto podem ser fixadas. A capacidade de suporte (tanto a capacidade biofísica quanto a social), então, é relativa aos objetivos administrativos de determinada zona, os quais, por sua vez, baseiam-se em critérios ecológicos e em considerações acerca do equilíbrio ou da diversificação de oportunidades de experiência fornecidas aos visitantes em uma área protegida. Se Caleta Tortuga, uma pacata enseada não muito distante do aeroporto de Baltra, propicia uma situação ideal para uma experiência contínua e íntima com os mangues, então ela poderia ser zoneada como uma experiência natural/extensiva, até mesmo para roteiros diários, que, em geral, incluem apenas locais movimentados. Uma vez designada dessa forma, ela poderia ter uma quota local de talvez apenas dois a quatro grupos diários, com um sistema de reserva para manhã e tarde, a fim de permitir aos visitantes experienciar pelo menos um local, somente com a presença de seu grupo. Em geral, as experiências em áreas primitivas ou virgens implicam locais remotos, mas algumas podem se tornar mais acessíveis através do zoneamento criativo. Para um enfoque semelhante sobre zoneamento, utilizando terminologia diferente, veja Cifuentes (1992). Esses tipos de sistemas de zoneamento foram temas de debate do workshop que foi realizado nas ilhas Galápagos, em fevereiro de 1993.

No arquipélago de Galápagos, é importante que os concessionários entendam e ajudem a administrar qualquer sistema de zoneamento que seja desenvolvido. Isso é possível através da participação dessas pessoas no processo de planejamento, e, posteriormente, verificando-se se as expectativas do visitante, o tamanho e o comportamento do grupo, os equipamentos utilizados e as atividades planejadas condizem com aquelas apropriadas a uma determinada zona ou local. Embora grandes embarcações continuem chegando ao parque, uma vez que elas entrem em uma zona com quotas ou restrições locais, poderão desembarcar os visitantes em terra firme em pequenos grupos, ou em diferentes locais dentro da área, de modo a agir de forma coerente com os objetivos de administração. Em associação às espe-

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126 ecoturismo cificações do zoneamento, os itinerários ou os sistemas de reserva terão de recorrer à distribuição regional dos roteiros, de modo a facilitar sua atuação de acordo com as quotas locais que podem ser desenvolvidas.

Um princípio administrativo, na maioria das áreas protegidas, estabelece que o fluxo de visitantes nas zonas não administradas, para garantir a integridade das características específicas (especialmente o tamanho do grupo, o número de grupos por vez, duração da estadia, equipamentos permitidos, etc), tenderá a deslocar-se para locais desenvolvidos e movimentados, com densidades mais elevadas de pessoas, maior evidência de atividade humana e acesso mais facilitado. Os operadores turísticos devem reconhecer que um sistema de zoneamento bem planejado proporciona qualidade à experiência do visitante, e um número maior de opções que possibilitam aos fornecedores de equipamentos adaptarem-se às mudanças do mercado. Para oferecer uma experiência de qualidade, os roteiros de aventura, por exemplo, dependem essencialmente de zonas de baixa densidade, remotas e virgens. Em muitas áreas onde não há zoneamento, em pouco tempo os roteiros ecológicos e de aventura tornam-se inviáveis devido ao aumento da visitação, e começa-se a procurar a próxima experiência "inexplorada" em algum outro lugar. Até mesmo os visitantes que não penetram ou não passam muito tempo nas zonas primitivas gostam de saber que elas existem (Dixon e Sherman, 1990).

É provável que, em Galápagos, os principais objetivos administrativos sempre priorizem o sistema de zonas, tais como as hipotéticas zonas natural/intensiva e natural/extensiva, que oferecem roteiros guiados e trilhas bem demarcadas que concentram os impactos do visitante. Também é provável que elas sejam complementadas pelo aumento moderado no desenvolvimento de áreas recreativas próximas às comunidades e pelo aumento lento e cuidadoso das oportunidades para algumas experiências mais primitivas e singulares. Os projetos-piloto deverão demonstrar claramente a adequação desse tipo de zoneamento para Galápagos. Já que Galápagos constitui um recurso

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a administração do visitante 127 mundial para o estudo da evolução em nível de ecossistema, um número grande de locais do arquipélago, mais do que seria necessário na maioria dos parques, continuará inacessível a todos, exceto para um grupo altamente seletivo de cientistas e de outros visitantes especiais.

Convém lembrar que a gama de oportunidades é um traço inerente à maioria das estratégias de administração do visitante e ao zoneamento nos países desenvolvidos (Driver et al., 1988; Stankey et al., 1985 e 1979; Loomis e Graefe, 1992), mas que está apenas começando a firmar-se em muitas áreas protegidas e locais ecoturísticos de países em desenvolvimento, e, portanto, irá enfrentar uma série de modificações. Um excelente conceito de zoneamento que está sendo utilizado em algumas áreas protegidas de países em desenvolvimento é o de "zonas de uso do povoado", que identifica as áreas para caça, pesca, colheita e extração limitada de recursos (lenha ou areia, por exemplo), tradicionalmente importantes para a população local, e que são administradas de maneira condizente.

limites aceitáveis de mudança

Como sugerimos, o estabelecimento de um número que indica a capacidade de suporte para um parque ou área protegida não é de grande utilidade. O zoneamento eficiente com regulamentações específicas e adequadas ao local e à zona é muito mais produtivo. O conceito de capacidade de suporte evoluiu em diversos países desenvolvidos, tornando-se uma medida mais sofisticada em relação ao que realmente está ocorrendo nos recursos de um parque ou na experiência do visitante. Sabemos que não há correlação direta entre o número de visitantes e os impactos negativos que afetam o solo, a vegetação, a vida selvagem ou as experiências das outras pessoas. O grau de impacto depende de muitas variáveis que se somam à quantidade de visitação: o grau de consolidação do local (a construção de desem-barcadouros, trilhas ou mirantes resistentes à erosão, por exemplo);

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128 ecoturismo os fatores de motivação e o comportamento dos visitantes*; seus meios de transporte e formas de acomodação; a eficiência dos guias; o tamanho do grupo; e variáveis ambientais como o tipo de solo, declive, tipo de vegetação e estação do ano. Observações sobre lotação e outros impactos sociais variam de acordo com a zona visitada e com o que os visitantes esperam nela encontrar. Se forem atingidos limites inaceitáveis de impacto negativo, será mais razoável monitorar o impacto e efetuar mudanças na administração do visitante. Um método que possibilita esse controle é o processo de Limites Aceitáveis de Mudança (LAC), que é descrito a seguir de forma sucinta.

1. Selecione indicadores para os parâmetros de administração que mais o preocupam em uma determinada zona ou local. Estes seriam indicadores diretamente ligados às atividades dos visitantes que podem ser controladas: erosão do solo, expansão do local, lixo acumulado no leito do mar onde estão situados os ancoradouros, pressão sobre uma determinada espécie de vida selvagem (o número de incidentes envolvendo a agressividade de leões-marinhos em relação aos visitantes em um determinado local, num período de seis meses, poderia, por exemplo, ser um indicador). Tais indicadores deveriam ser tanto de natureza biofísica quanto social. Os indicadores sociais seriam as observações sobre lotação, o número de encontros diários com outros grupos num local, o número excessivo de reservas pelos operadores turísticos, o número mensal de violações das normas de segurança, o número de pessoas que deixam doações no centro de visitantes e assim por diante. Os indicadores demonstram de que forma estamos atuando em relação a alguns aspectos administrativos.

2. Estabeleça, para cada indicador, padrões que determinem alguns limites aceitáveis de mudança. Alguns impactos são inevitáveis, mas os administradores devem estar dispostos a explicitar a * Em especial, o impacto dos visitantes é função do grau de consumo e

conforto que os visitantes demandam. (N. do R.T.)

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a administração do visitante 129 quantidade de impacto que aceitarão antes de efetuarem mudanças em seu modo de administrar. Se, por exemplo, a erosão das trilhas é tão rápida que torna sua manutenção inviável, se as áreas de observação estão se ampliando excessivamente, se alguns animais estão mudando seu comportamento de forma inaceitável, algumas medidas administrativas devem ser tomadas (redução do tamanho dos grupos, recuo das áreas de observação, melhor consolidação de alguns locais, ou talvez a redução do número geral de visitantes). Um padrão aceitável para a agressividade do leão-marinho poderia ser fixado em até três incidentes mensais durante seis meses consecutivos ou em algum outro tipo de definição similar, dependendo da informação mais precisa fornecida por especialistas que conhecem o comportamento do animal e a incidência normal desse tipo de agressividade.

3. Monitore as condições e, se os limites aceitáveis forem excedidos, efetue mudanças administrativas que colocarão as condições sociais ou dos recursos novamente dentro dos limites. Com freqüência, as condições atuais já são inaceitáveis e devem ser retificadas. Se a agressividade do leão-marinho é inaceitável em locais de visitação utilizados de forma intensiva, pode ser necessário demarcar novas trilhas, solicitar aos visitantes que se comportem de forma diferente, ou, em casos extremos, mudar o tipo de oportunidade ou a zona (e, conseqüentemente, reduzir o número de visitantes). O monitoramento das condições exige que o parque esteja bem informado sobre as condições existentes, de modo a ser capaz de selecionar os indicadores e estabelecer padrões para então propor as mudanças.

O processo LAC obriga os administradores a lidar seriamente com os detalhes administrativos, indo muito além de qualquer cifra ditada pela capacidade geral de suporte. Ele é um componente importante de um tipo sofisticado de administração do visitante, capaz de responder racionalmente dúvidas como aquelas que surgiram nas Ilhas Galápagos em relação à existência ou não de excesso de visitação, à necessidade ou não de mais operadores turísticos no "espacio turístico" (esquema de oportunidades de exploração turística), ou aos riscos

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130 ecoturismo de criação de um local-piloto. Será difícil justificar as razões para mudanças no tipo ou no número de concessionários, no tamanho dos grupos, nos meios de transporte e em muitas outras decisões administrativas, se os gerenciadores da área protegida não desenvolverem (com os concessionários e outras pessoas) e descreverem objetivos administrativos que demonstrem especificamente de que forma os locais dentro de um parque ou reserva, que correspondem àqueles objetivos, estão sofrendo impacto. A capacidade e os limites não são estáticos. Eles variam de acordo com as mudanças no quadro de pessoal, com o orçamento, com episódios de cólera, com alterações nas populações de animais e com os níveis de stress mais elevados, gerados por tempestades provocadas por El Nino, ou com as mudanças que ocorrem com o passar do tempo nas expectativas e preferências dos visitantes. Os concessionários devem ser sensíveis o bastante para compreender que os administradores podem precisar mudar o roteiro ou as quotas locais, se limites inaceitáveis forem atingidos. O envol-vimento dos concessionários no processo de planejamento também é parte de qualquer planejamento LAC e lhes proporcionará um senso de propriedade em relação às estratégias de administração do visitante. Para maiores informações sobre o processo LAC, consulte Stankey et al. (1985). trilhas

Os elementos-chave na administração de visitantes e de conces-sionários em Galápagos, ou em qualquer área protegida, são os sistemas de trilha e os guias, aos quais nos dedicaremos agora. As trilhas são extremamente importantes em qualquer área protegida e raramente recebem a atenção que necessitam nas áreas protegidas ou locais ecoturísticos novos ou em desenvolvimento. Nas Ilhas Galápagos, a maioria das trilhas são resistentes à erosão e ao alargamento, mas aquelas que não possuem tal resistência são visivelmente problemáticas. A manutenção e a reconstrução das trilhas podem consumir uma

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a administração do visitante 131 quantia desproporcional do orçamento de uma área. A seleção e o projeto da rota de uma trilha, se feitos adequadamente, podem evitar a maior parte desses problemas, porém raramente são feitos no início. A maioria das trilhas forma-se pelo uso e não por um projeto. Deveria ser solicitada a participação dos concessionários no projeto e construção de trilhas, para que eles pudessem partilhar do esforço necessário para demarcar uma boa trilha, aumentando as responsabilidades relativas às trilhas. Nos EUA, se os fornecedores de equipamento são os principais usuários, são também, em geral, responsáveis de alguma forma pela manutenção das trilhas.

Uma das trilhas mais populares de Galápagos é a que sobe de forma íngreme a montanha em Bartolomé, o cartão-postal mais famoso do parque. Ela foi demarcada (ou formada) sobre solos arenosos, provavelmente de modo a evitar os lençóis de lava existentes nas proximidades. Os solos arenosos, movediços e incontidos, encontram-se com freqüência em declive íngreme, e os visitantes que procuram areia mais firme, caminhando pelas laterais da trilha, causaram uma gigantesca marca de erosão que se estende por vários quilômetros. Se a trilha tivesse sido originalmente traçada através dos lençóis de lava (que oferecem seu próprio material de trilha), se tivesse sido utilizado um declive adequado, e se a areia tivesse sido contida próximo ao cume, ela seria uma trilha quase imperceptível e de fácil manutenção, oferecendo excelentes oportunidades interpretativas dentro da rota. Uma nova demarcação, que siga esses critérios, exige a educação dos visitantes para que se mantenham na trilha dos lençóis de lava, mas, em termos financeiros, a educação custa menos do que a restauração ou reconstrução da trilha. Boas trilhas também são a chave para melhorar a capacidade administrativa em qualquer área. Construída a trilha, o controle do tamanho dos grupos e a manutenção das estruturas de drenagem são muito mais importantes do que seu volume de uso. Em Galápagos, grupos grandes causam os maiores prejuízos às trilhas, que sofrem um alargamento quando as pessoas aglomeram-se para ouvir o intérprete ou o guia. Os padrões de largura e de manutenção

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132 ecoturismo também são características contextuais relevantes, que mudam conforme as zonas (zonas primitivas possuem trilhas mais primitivas em termos de largura, dificuldade, direções determinadas e níveis de manutenção).

Seleção e treinamento de guias e intérpretes. O sistema dual de guias naturalistas e auxiliares, utilizado em Galápagos, contribuiu para uma estrutura de classe de fato e para uma dicotomia econômica que gerou o atrito entre aqueles que deveriam ser aliados naturais e ter como interesse comum um lugar tão maravilhoso. Um sistema desse tipo deve ser evitado e pode ser substituído por guias que partilham uma categoria dentro da qual diferentes níveis de proficiência são reconhecidos. Por ora, nos países em desenvolvimento, a promoção deveria ser possível, quer as pessoas possuam ou não instrução formal. Isso não significa que padrões e testes de conheci-mento e de capacidade não sejam necessários, ou que a instrução não deva ser encorajada. Na verdade, bolsas de estudos e outros incentivos estão sendo utilizados nas ilhas, a fim de estimular os candidatos locais a procurarem a educação formal, que inclui a aprendizagem de uma segunda e terceira línguas.

O parque ou a área protegida devem desempenhar um papel central no treinamento dos guias, já que um forte componente de administração dos recursos e dos visitantes deve ser incluído para que gerenciadores e concessionários sejam sócios. Além disso, nas Ilhas Galápagos, os funcionários do parque devem ter controle sobre o licenciamento dos guias que operam quase que exclusivamente nesse grande parque. Com os aprimoramentos do plano administrativo, a própria administração dos recursos se tornará um tema cada vez mais importante para a interpretação. Os guias e os guardas-florestais podem misturar-se em alguns momentos de suas atividades de treinamento ou de seus estágios e, posteriormente, durante as atividades de interpretação de campo; é crucial promover a idéia de que há uma missão e um conhecimento em comum. Mas incentivos devem ser fornecidos para que os guardas-florestais eficientes permaneçam no

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a administração do visitante 133 setor público, visto que há uma considerável pressão econômica para que os melhores se transfiram para o setor privado e tornem-se guias.

O sistema de guias em Galápagos já possui muitos aspectos positivos e ajuda a evitar muitos impactos, especialmente sobre a vida selvagem, os solos e a vegetação próximos aos locais das atrações. Contudo, um fator imediatamente visível ao observador externo familiarizado com a interpretação é que os guias tendem a dar ênfase a aspectos restritos de interpretação e a discorrer abundantemente sobre espécies de aves, répteis e plantas. É possível que o interesse dos visitantes pelas espécies tenha, com o passar do tempo, modelado as atitudes dos guias. Pode ser também que essa atitude resulte dos currículos escolares, que ainda estão centrados em taxonomias, ou talvez do treinamento de guias, que enfatiza a informação mas passa superficialmente por demonstrações práticas e exercícios que abarcam temas menos óbvios dentro das rotinas interpretativas.

A ênfase nas espécies tem contribuído para a idéia, comum entre os concessionários, de que os melhores locais são aqueles com o maior número de espécies e de animais, e de que há menos a fazer em outros locais. Isso significa que os locais ricos em fauna são visitados com freqüência e tendem a ser mais congestionados, algo que deve ser superado quando um novo esquema de zoneamento for desenvolvido. As Ilhas Galápagos possuem muitos outros temas interpretativos - vulcanis-mo, geomorfologia, correntes oceânicas, climatologia (El Nino), ecossistemas, teoria da evolução, vulnerabilidade dos organismos endêmicos à invasão de espécies exógenas, gigantismo, um céu noturno incrível, história cultural, importância para a ciência - que, se desenvolvidos e utilizados, poderiam transformar muitos locais em atrações interessantes e estimulantes. Em outras palavras, o treinamento e a seleção de bons guias e o material interpretativo podem efetivamente ampliar o número de locais considerados desejáveis pelo visitante e, por conseguinte, diminuir a pressão nos locais excessivamente freqüentados - outra lição que poderia ser aplicada a muitas áreas (ver Parque Nacional de Galápagos, Manual dos Guias para os Locais de Visitação, 1980).

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134 ecoturismo educação e informação para os empregados da indústria turística e para as comunidades locais

Em muitas áreas de terras virgens, a população local é solicitada a renunciar ao uso dos recursos naturais a fim de protegê-los para o público em geral. Em tais áreas, é grande a obrigação moral de fornecer compensações e benefícios gerados pela conservação aos habitantes locais, especialmente aos indígenas ou habitantes antigos (Wallace, 1992). Em Galápagos, onde apenas uma pequena porcentagem dos habitantes são nativos e onde as receitas em geral são mais altas do que no restante do Equador, o aspecto ético dessa questão não tem um peso tão grande, mas precisa ser considerado. Quando mecanismos de controle de crescimento estão ausentes (o mercado influi grandemente no planejamento integrado, a menos que ele seja feito antecipadamente) e as pessoas afluem para uma área que está progredindo, em pouco tempo essas pessoas passam a integrar a população local, e decisões devem ser tomadas em favor de seus empregos e bem-estar - às vezes, à custa da proteção dos recursos. Isso torna a informação e a educação sobre a importância dos recursos absolutamente cruciais e, quanto antes forem providenciadas, melhor. A capacidade administrativa engloba o grau de apoio da população local.

Os políticos costumam valorizar medidas que promovam o bem-estar local, em detrimento da proteção dos recursos, que foram, na verdade, a motivação inicial das pessoas. Esse é um dos sintomas mais sérios do desequilíbrio entre os setores público e privado. Isso torna absolutamente essencial a participação dos funcionários e dos defensores do parque nos interesses da comunidade local, e, quanto mais cedo isso ocorrer, melhor.

Algumas estratégias importantes a serem consideradas pelos administradores são: exposições educativas para a comunidade; informações nas escolas; viagens de campo; ocasiões especiais para convidar os habitantes a visitarem o parque; áreas de uso especial para os moradores; a inclusão de representantes locais no planejamento do

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a administração do visitante 135 parque; o treinamento e o emprego dos habitantes como funcionários do parque, como concessionários ou como guias turísticos; e a solicitação aos funcionários do parque para que lutem pelos interesses locais. Os concessionários podem prestar enorme ajuda, oferecendo educação sobre a conservação a seus empregados. As áreas protegidas deveriam até mesmo desenvolver e exigir tal treinamento como uma das condições para a concessão de licenças. Um bom exemplo já está sendo dado pelos operadores turísticos esclarecidos de Galápagos, cujos empregados - cozinheiros, tripulantes, mecânicos - podem tirar um, em cada dez dias, para acompanhar os roteiros guiados em terra firme, desfrutando dos recursos do parque e juntando-se aos convida dos, enquanto aprendem sobre as maravilhas do arquipélago. Essa é uma forma simples de envolver a população local, que passará a valorizar os recursos e deixará de considerá-los apenas como um modo de ganhar a vida.

Os funcionários do parque devem estar igualmente preocupados com a saúde, o saneamento, a educação e a recreação nas comunidades portuárias ou de entrada, e devem trabalhar no sentido de ajudar as comunidades a atingir sua própria capacidade administrativa, que é inseparável da administração do parque. O empréstimo de mão-de-obra e de equipamentos para que as comunidades possam executar tais projetos, em momentos cruciais, é um bom investimento (Jardel, 1989).

a integração de pesquisadores e organizações não-governamentais na gestão do turismo em áreas protegidas

Em Galápagos, os cientistas têm desempenhado um papel crucial na estabilização e na promoção da visitação e da administração da área protegida. No período compreendido entre 1981 e 1988, as crises econô-micas do governo equatoriano reduziram drasticamente o orçamento da Administração dos Parques Nacionais. Contudo, as atividades de proteção e de visitação tiveram prosseguimento graças à presença da Estação de Pesquisa da Fundação Charles Darwin e às contribuições provenientes

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136 ecoturismo de grupos internacionais para a conservação e de universidades que foram estimuladas pela Estação (MacFarland, 1992). As descobertas e atividades científicas fazem parte dos aspectos pitorescos de Galápagos e elas próprias são atrações para os visitantes. No arquipélago, os cientistas têm a louvável atitude de permitir que pequenos grupos de turistas acompanhem e até ajudem em suas atividades. Os estudantes vêm para as ilhas com o propósito de trabalhar e de fazer turismo. Estimuladas pela pesquisa, as publicações e a mídia atingem os países desenvolvidos e incentivam um tipo de visitação que é compatível com os objetivos dos administradores da área. Recentemente, as universidades equatorianas e estrangeiras forneceram a mão-de-obra e a pesquisa necessárias para que os administradores pudessem solucionar problemas administrativos. O ecoturismo está estreitamente relacionado com o turismo científico. Cabe aos administradores da área protegida garantirem que a pesquisa seja relevante para a área em que é conduzida e gere os produtos e benefícios previstos antes de seu início. Recentemente, as organizações não-governamentais de âmbito internacional deixaram de enfatizar a criação e designação de parques e áreas protegidas e passaram a priorizar sua administração. Elas estão ativamente envolvidas na gestão de algumas áreas e no treinamento de pessoal para órgãos nacionais e organizações não-governamentais. Elas são um recurso indispensável em períodos de cortes de orçamento e durante a formação de novos corpos de guardas-florestais em organizações administrativas. conclusão

Nos países em desenvolvimento, ainda são raros os órgãos res-ponsáveis pela administração de áreas protegidas que têm poder ou recursos suficientes para enfrentar a variedade de ameaças que rondam essas áreas, reduzem gradualmente seus recursos naturais e afetam as comunidades vizinhas. Nesses países, incluindo o Equador,

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a administração do visitante 137 devido à dívida externa, à pobreza e aos escassos recursos nacionais, há uma tendência tanto a contar com os recursos naturais para ajudar a pagar os débitos externos como a cortar os custos, passando a considerar organizações não-governamentais (grupos conservacionistas, bem como empresas de ecoturismo) como co-administradores de terras públicas (Ashton, 1991; Boo, 1990).

Como foi discutido neste capítulo, as concessões ecoturísticas e as organizações não-governamentais fornecem, sem dúvida, um complemento importante para a administração do parque. Contudo, elas não deveriam suplantar ou substituir os administradores do parque, os guardas-florestais ou os intérpretes, que são os verdadeiros responsáveis pela gestão das áreas protegidas. Ninguém está melhor preparado para proporcionar segurança a longo prazo e administração ecológica e igualitária de áreas protegidas do que os sistemas estaduais e nacionais — nesse caso, a Administração Nacional do Parque de Galápagos (Wallace, no prelo; Barborak, 1992; Cornelius, 1991; Boo, 1990; MacKinnon, et al., 1990; McNeely e Thorsell, 1989). Isso é particularmente verdadeiro no caso das áreas protegidas que possuem a importância nacional ou internacional de Galápagos. Muitos dos problemas que o Parque Nacional de Galápagos enfrenta atualmente são resultado das atividades do setor privado, que avançaram a uma velocidade que ultrapassou em muito a capacidade administrativa do parque e criaram um ritmo próprio, difícil de controlar.

Embora bem-intencionados, os empreendimentos turísticos que operam em áreas nacionais protegidas são comprados e vendidos; as organizações não-governamentais e os grupos de conservação mudam, perdem seus financiamentos, fragmentam-se ou são extintos. Os administradores de hoje são substituídos por outros que podem estar menos interessados na administração da "confiança pública". Terras virgens como as existentes em Galápagos são recursos infinitamente preciosos e devem ser as primeiras a serem protegidas por leis, por instituições públicas e por estratégias administrativas que atravessem gerações, a despeito de todas as mudanças políticas e sociais. A maior

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138 ecoturismo parte das operações ecoturísticas nas ilhas só poderá obter ganhos com o decorrer do tempo, promovendo um desenvolvimento lento e ajudando a fortalecer a capacidade administrativa do Parque de Galápagos, que será a base sobre a qual o próprio turismo se apoiará. Por outro lado, os funcionários do parque devem estar cientes de que a administração não pode ter sucesso sem a participação e sem o senso de propriedade e de compromisso partilhado pelos operadores turísticos, pelas organizações não-governamentais e por outras instituições que operam dentro e nas proximidades das comunidades do parque.

Esperamos que essa mensagem seja relevante para o relacionamento entre operadores turísticos e administradores de áreas protegidas em muitos lugares. O mesmo desequilíbrio existe em vários locais onde o autor deste artigo já trabalhou. As Ilhas Galápagos já estão à frente de muitas áreas. A Amazônia, a exemplo de Galápagos, poderia se beneficiar de um ecoturismo baseado em rios e barcos e de uma estratégia administrativa semelhante, que poderia levar os visitantes às áreas realmente protegidas e criar uma base econômica, tanto para os parques quanto para a população local. Atualmente, muitos roteiros na Amazônia chegam apenas a pousadas na selva, em trechos de floresta secundária e em terras privadas, e, portanto, não promovem a proteção a longo prazo de vastos ecossistemas virgens, que, dessa forma, continuarão vulneráveis às forças econômicas extrativas. Aqueles que analisam o estudo de caso apresentado neste capítulo deveriam reconhecer que se trata de uma explanação relativamente simples, feita por um observador externo, de uma situação dinâmica e complexa. Na época em que este trabalho for publicado, as coisas terão mudado por lá - velhos problemas estarão próximos de suas soluções e novos estarão surgindo.

Gostaria de encerrar este capítulo com uma história pessoal. Certo dia, enquanto trabalhávamos em Galápagos, retornávamos de Fernandina, a meio caminho de Santa Cruz. Eu estava doente, com disenteria. O capitão do barco da Administração do Parque convidou-me a sair de minha cabine para ver quinze ou vinte golfinhos que

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a administração do visitante 139 nadavam ao lado do barco e saltavam a alturas incríveis para fora da água. Paramos o barco, voltei para apanhar minha máscara e as nadadeiras e decidi juntar-me aos golfinhos - melhor morrer com eles. Desci aproximadamente dez metros e eles vieram nadando com vigor, desviando-se e saltando, mas sempre voltando, até que estavam perto o suficiente para que eu os pudesse tocar. Atordoado, subi para respirar e quando estava prestes a mergulhar novamente fomos miraculosamente alcançados por cinco leões-marinhos que pareciam distantes demais da terra para estarem realmente ali. Lá estávamos, três espécies de grandes mamíferos, dançando e brincando. Tirei minha luva e um leão-marinho brincalhão tirou-a do meu alcance enquanto eu tentava reavê-la. Perdi a noção do tempo e do número de mergulhos, mas minha condição física levou-me a um estado letárgico de sonho, que me deixava completamente à vontade em um lugar inverossímil, acompanhado por criaturas maravilhosas. Foi uma experiência riquíssima, que nem todo o dinheiro do mundo pode comprar.

Vale a pena lutar por áreas protegidas como as Ilhas Galápagos, e elas merecem a proteção eterna de todas as pessoas, para o próprio bem da humanidade. É um objetivo atingível, que pode ser estabelecido em muitos lugares. Que cada um de nós possa retribuir em forma de proteção a experiência que as maravilhas desses lugares nos oferecem.

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agradecimentos

Nossos agradecimentos aos revisores Kreg Lindberg, Alan Moore, George Stankey e especialmente a Craig MacFarland, presidente da Fundação Charles Darwin, e a Miguel Cifuentes, ex-diretor de Galápagos, por seus valiosos comentários. Gostaríamos ainda de agradecer a ajuda dos ex e atuais diretores do parque, Miguel Cifuentes, Fausto Cepeda e Arturo Izurieta, por sua contribuição durante os últimos três anos e pela disposição em considerar novas abordagens administrativas. Somos gratos ainda à Fundação Charles Darwin, ao Metropolitan Touring e ao U.S. Forest Service (Serviço Florestal dos EUA) pelo apoio a esta pesquisa e pelo trabalho junto à Administração do Parque e aos operadores turísticos comerciais.

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4 questões econômicas na gestão do ecoturismo

Kreg Lindberg e Richard M. Huber Jr.

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O ecoturismo é uma indústria extremamente ampla e em crescimento em muitos países. Uma das principais vantagens do ecoturismo é a de proporcionar um impulso que favorece tanto a expansão da conservação quanto o desenvolvimento do turismo. Sob o aspecto da conservação, o ecoturismo é o benefício que é mais facilmente vendido e, assim, é com freqüência incorporado nas decisões sobre o uso da terra. Em termos concretos, a cobrança de ingressos e de outras taxas associadas ao ecoturismo pode suplementar os orçamentos governamentais de conservação existentes, e fornecer incentivos para a conservação por intermédio do setor privado. Sob o aspecto do desenvolvimento econômico, o ecoturismo pode gerar oportunidades de emprego em regiões remotas. Além disso, geralmente acredita-se que o ecoturismo exige menos investimentos do setor público em infra-estrutura do que o turismo mais tradicional (embora possa haver correspondentemente uma quantidade menor de benefícios; resta ainda fazer uma rigorosa avaliação do investimento exigido para cada emprego criado ou para cada dólar em reservas cambiais obtido nos respectivos setores).

Contudo, muitos observadores expressam a preocupação de que o ecoturismo não atingiu seu potencial enquanto um instrumento de

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146 ecoturismo conservação ou de desenvolvimento econômico, em parte porque muitos projetos importantes não conseguem obter financiamento, em parte porque os países hospedeiros têm ainda que receber o potencial de receita integral inerente ao ecoturismo, e em parte porque uma parcela relativamente pequena da receita gerada reverte diretamente para a conservação e o desenvolvimento econômico.

Numa tentativa de expandir a contribuição do ecoturismo, este capítulo descreve, em linhas gerais, as estratégias para:

� estipular taxas turísticas; � utilizar o dinheiro arrecadado por meio dessas taxas para financiar o desenvolvimento do ecoturismo e de estratégias tradicionais de conservação; � aumentar a contribuição do ecoturismo para o desenvolvimento econômico de comunidades próximas às áreas onde se desenvolvem atividades ecoturísticas.

Há uma extraordinária variação entre as localidades, não só em relação às próprias atrações ecoturísticas, mas também em relação às condições políticas e econômicas. Por esse motivo, este capítulo esboça princípios básicos, bem como uma combinação de estratégias, para alcançar os objetivos econômicos comuns relativos ao ecoturismo. Cada localidade deve determinar seus objetivos econômicos e escolher as estratégias de gestão que melhor atinjam esses objetivos.

A coleta e a utilização de informação básica são, necessariamente, partes desse processo. O ecoturismo proporcionará os maiores benefícios e, dessa forma, cumprirá melhor seus objetivos quando sua gestão estiver bem suprida de informações. Infelizmente, há poucas coletas e análises de dados rigorosas. As informações necessárias são discutidas neste capítulo, pois uma gestão eficiente exigirá a coleta e a utilização desses dados. Na verdade, essas informações quase sempre serão cruciais até para justificar, de início, o ecoturismo como uma alternativa para atividades como o turismo tradicional ou a extração insustentável de recursos.

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 147 taxas turísticas: objetivos da receita e estimativa da demanda

Administradores de muitas áreas naturais têm recorrido às taxas turísticas como um mecanismo para cobrir os custos de administração do visitante, bem como os custos de estratégias tradicionais de conservação ou dos programas de desenvolvimento da comunidade. Contudo, as oportunidades de geração de receita proporcionadas pelo ecoturismo ainda não foram totalmente exploradas (Wells, 1992; Lindberg, 1991).

Este capítulo será dedicado principalmente à determinação de taxas para visitantes estrangeiros, uma vez que essas decisões podem ser tomadas com base na estratégia relativamente direta de maximizar o benefício econômico para o país hospedeiro. Taxas mais baixas para os residentes no país podem ser justificadas com base na eficiência econômica e na eqüidade (Lindberg, 1991), mas freqüentemente tais decisões também incluem considerações políticas e sociais que fogem ao objetivo deste capítulo. Os leitores interessados na experiência dos EUA e do Canadá em relação à fixação de preços para visitação doméstica devem consultar Aukerman (1990), Walsh (1986) e Ro-senthal et al. (1984). Childe e Heath (1990) também questionam a validade de os países em desenvolvimento subsidiarem os visitantes estrangeiros mediante a cobrança de taxas reduzidas.

Vários países, incluindo o Peru, o Equador e o Quênia, aumentaram as taxas para estrangeiros enquanto mantiveram taxas reduzidas para residentes (Olindo, 1991). Essa fixação diferencial de preços é comum dentro da indústria turística tradicional. Uma prática comum às empresas aéreas, por exemplo, é cobrar preços mais altos pelas passagens adquiridas perto da data de embarque, baseando-se na premissa de que os viajantes estão mais predispostos a pagar e têm menos opção de escolha. Da mesma forma, hotéis geralmente reduzem seus preços durante a baixa temporada em resposta às variações na demanda sazonal.

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148 ecoturismo Na verdade, ao proporcionar opções de turismo a

estrangeiros, os parques e instalações similares precisarão agir como empresas comerciais. Geralmente, tal comportamento exige mudanças burocráticas e, às vezes, legais. Ao mesmo tempo, os parques precisam dar prosseguimento às atividades tradicionais, como a conservação, e, quando oportuno, proporcionar recreação subsidiada aos residentes.

A fixação das taxas dependerá, em grande parte, dos objetivos locais e nacionais. Há dois objetivos possíveis: cobrar taxas que se equiparem ao custo do fornecimento do serviço (compensação de custo), ou cobrar taxas que irão gerar o maior lucro possível (propiciando, desse modo, receita para financiar as atividades tradicionais de conservação). É possível que haja objetivos adicionais, que podem modificar ou substituir esses dois. Por exemplo, as taxas podem manter-se baixas para incentivar a visitação, aumentando, assim, as oportunidades econômicas para o comércio relativo ao turismo na região. De forma alternativa, as taxas poderiam ser elevadas, a fim de estimular o setor privado a desenvolver as instalações ecoturísticas que não seriam rentáveis, contanto que as taxas para destinos públicos fossem mantidas artificialmente baixas.

Independentemente do objetivo, será necessário conhecer a demanda da atração ecoturística para fixar as taxas. Ou seja, quantos turistas visitarão a atração e quanto estarão dispostos a pagar? Métodos que possibilitam a avaliação dessa demanda serão descritos após a discussão dos objetivos gerenciais. Alguns exemplos de estudos de caso de fixação de preços com diferentes objetivos são apresentados depois da seção sobre os métodos.

objetivo de gestão 1: cobertura de custos

Este objetivo tem como interesse central estipular taxas turísticas de forma que elas gerem receita suficiente para pagar pelo fornecimento da atração ecoturística. As taxas deveriam, no mínimo, cobrir os custos de capital (tais como a construção de um centro de visitantes)

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 149 e os custos operacionais (tais como a manutenção das instalações, salários de guias, etc). Teoricamente, elas deveriam ainda cobrir os custos indiretos, como o custo do dano ecológico e o do impacto negativo sobre as comunidades locais, embora eles sejam de difícil mensuração. objetivo de gestão 2 : maximização de lucros

O enfoque deste objetivo é estipular taxas de modo que elas gerem o maior lucro possível. A receita gerada pelas taxas deve ultrapassar os custos do fornecimento da atração turística. Os lucros (receitas menos custos) podem então ser utilizados para auxiliar o financiamento de atividades tradicionais de conservação, opções de recreação subsidiadas para os residentes, ou outros objetivos do programa. Na prática, quase nunca há informação suficiente para que se possam determinar os custos financeiros com precisão, sem falar nos custos ecológicos e sociais do ecoturismo. Já que, para estabelecer as taxas, os dois objetivos acima exigem o conhecimento desses custos, uma alta prioridade deveria ser dada à obtenção de informações precisas em relação aos custos envolvidos (ver página 178, Alguns Princípios Gerais para a Política de Taxas Turísticas).

Os gestores que tentam maximizar os lucros deveriam ter em mente que esse objetivo não é o mesmo que maximizar receitas. A maximização de receitas geralmente resulta em tentar atrair o maior número possível de turistas, mas a maximização de lucros pode ocorrer em níveis mais baixos de visitação, visto que os custos financeiros, ecológicos e sociais do ecoturismo podem aumentar mais rapidamente do que as receitas, quando os níveis de visitação são altos.

outros objetivos de gestão

Do ponto de vista estritamente financeiro do proprietário da atração, os estrangeiros deveriam ter acesso às oportunidades do

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150 ecoturismo ecoturismo somente se as taxas cobrissem, ao menos, os custos. Contudo, objetivos adicionais podem levar os proprietários, particularmente no caso do governo, a propiciar oportunidades mesmo quando os custos não são cobertos. As taxas podem, por exemplo, permanecer baixas, a fim de manter altos níveis de visitação, proporcionando, dessa forma, oportunidades econômicas ao comércio turístico (entretanto, a perda resultante da receita gerada pelas taxas deveria ser explicitamente identificada e justificada). Ou então, as taxas para estrangeiros podem não ser suficientes para cobrir todos os custos, mas podem gerar receita suficiente para ajudar a subsidiar a visitação doméstica.

Os benefícios, tais como a geração de oportunidades de empregos ou de recreação local, podem ser substanciais. Por exemplo, Tobias e Mendelsohn (1991) estimaram que o valor da Reserva de Monteverde, administrada pela iniciativa privada, como um local de recreação para os moradores da Costa Rica, variava entre 97.500 e 116.200 dólares anuais.

De modo inverso, as altas taxas podem ser utilizadas não só para aumentar a receita, mas também para limitar ou dispersar os visitantes, quando determinados locais tornam-se abarrotados (Bamford et al., 1988). O Quênia, por exemplo, numa tentativa de atrair os turistas para locais menos visitados, optou pela cobrança de taxas mais altas em atrações muito procuradas; obviamente, essa estratégia exige que atrações similares estejam disponíveis para visitação (Leakey, 1990; EIU, 1991). Uma estratégia semelhante foi recomendada ao Nepal (Gurung, 1990, citado em Wells, 1992). Além disso, a experiência norte-americana sugere que altas taxas reduzirão a sujeira e o vandalismo em áreas naturais (Aukerman, 1990).

Essas estratégias dependem implicitamente de um equilíbrio entre os níveis de preço e de visitação: quando o preço aumenta, o número de visitantes diminui, e vice-versa. Esse é um princípio econômico básico, que não deveria ser ignorado; contudo, as taxas atuais são tão baixas para a maioria das atrações, que mesmo um

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 151 aumento substancial provavelmente terá pouco impacto sobre a demanda, em termos da escolha de um destino. As pesquisas realizadas com turistas, bem como o próprio comportamento do turista, sugerem que o preço é um fator relativamente irrelevante na escolha de um roteiro ecológico, e que, mesmo quando o preço é um problema, os turistas estão dispostos a pagar altas taxas se sabem que elas estão sendo utilizadas para enriquecer sua experiência ou para conservar a área específica que estão visitando (Lindberg, 1991; Aukerman, 1990; Bovaird, 1984). Vários parques aumentaram suas taxas sem afetar visivelmente os níveis de visitantes, e muitos outros podem fazer o mesmo. Na verdade, se essas receitas forem posteriormente utilizadas para aperfeiçoar a atração, a demanda provavelmente aumentará.

O preço pode representar um papel mais importante em termos da escolha das atividades no destino. Por exemplo, um aumento das taxas de todos os parques do Quênia pode ter um impacto relativamente pequeno sobre o número de ecoturistas que para lá se dirigem, mas um aumento equivalente das taxas apenas dos locais lotados pode encorajar os turistas a irem para locais menos visitados dentro do próprio Quênia.

A realização de qualquer um desses objetivos de gestão exige a existência de um número suficiente de turistas dispostos a pagar taxas altas o bastante para alcançar tais objetivos. Os gestores deveriam lembrar que a demanda para o ecoturismo pode ser extremamente imprevisível e dependente de fatores que escapam ao seu controle. Contudo, os métodos descritos a seguir podem ser utilizados para estimar essa demanda.

Método 1: avaliação de mercado. O conceito básico

subjacente a este método é o de que uma determinada atração pode ter uma expectativa de níveis de visitação e uma disposição para pagar taxas equivalentes às das atrações existentes, que são similares em atratividade ao consumidor, nos custos de viagem e em outros fatores de demanda (ver Figura 4-1 para uma relação de fatores de demanda comuns aos ecoturistas). Este método é básico para a determinação da

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152 ecoturismo viabilidade de investimentos no setor privado (para uma discussão da aplicação deste método no campo do turismo, ver Smith, 1989). Contudo, deve-se tomar cuidado ao avaliar como os novos empreendimentos ampliam a oferta de destinos, exercendo assim pressão descendente sobre os preços, tanto para novos empreendimentos quanto para os já existentes. Infelizmente, pousadas e outras instalações ecoturísticas não partilham informações sobre os níveis de visitação e de preços, de forma que se torna difícil estabelecer uma comparação. Ademais, poucos parques nacionais e outras instalações públicas vêm historicamente cobrando tais taxas; quando as taxas são cobradas, raramente baseiam-se em considerações comerciais como o custo do fornecimento do serviço e a disposição dos consumidores em pagar pelo serviço. Mesmo as reservas particulares, que geralmen-te cobram taxas mais altas do que os parques públicos, quase sempre estipulam taxas baixas, já que os custos são parcialmente determinados por outros programas, como fundações que promovem a pesquisa científica (Alderman, 1990).

Ainda que os dados sejam obtidos a partir de empreendimentos similares, eles devem ser modificados levando em consideração as diferenças existentes nos fatores de demanda, como a qualidade da atração e o custo de viagem. Teoricamente, será possível identificar uma atração que se classifica aproximadamente da mesma maneira em todos os fatores. Porém, é mais provável que as classificações sejam diferentes, e o discernimento deverá ser utilizado para estimar a taxa mais favorável. Um exemplo recente é a estimativa de que a taxa adequada para o usuário de um parque típico da América Central varia entre 5 e 10 dólares diários (Ashton e Haysmith, 1992). Essa estimativa baseia-se na classificação dos parques da América Central em relação aos parques da África e de outros países. Os parques localizados na América Central estariam em posição inferior em termos da qualidade da atração (facilidade de observar a vida selvagem, etc), e em melhor posição em termos de custo de viagem para o país de destino (pelo menos para o mercado norte-americano).

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 153

Figura 4-1. Fatores Comuns de Demanda

FATORES INTERNACIONAIS Renda. Turistas mais abastados geralmente viajam com maior freqüência e pagam preços mais altos. População. O número total maior de turistas geralmente significa maior demanda por locais específicos. Predileções. A demanda por férias ecoturísticas depende do nível de consciência e de preocupação acerca da conservação ambiental. *Imagem do Local de Destino. As atrações com fortes imagens positivas nos países de origem seduzirão um número maior de turistas. Costa Rica e Belize possuem excelente reputação dentro do mercado turístico dos Estados Unidos. Animais típicos como gorilas e carnívoros de grande porte irão gerar alta demanda. Atrações Competitivas. Quanto mais inusitada uma atração, maior a possibilidade da cobrança de taxas mais elevadas. Os gorilas de Ruanda, o Monte Everest, no Nepal, e Galápagos, no Equador, são atrações ímpares e caras. Custo da Viagem (tempo e dinheiro) ao País de Destino. Quanto mais baixo o custo da viagem do país de origem ao país de destino, maior será a demanda. FATORES LOCAIS/NACIONAIS *Qualidade da Atração. Locais que incluem atrações convidativas, variadas e fáceis de observar serão relativamente populares (esse fator reflete essencialmente como "a imagem de destino" é, de fato, vivenciada). *Qualidade da Experiência Geral do Passeio. Passeios que proporcionam experiências de qualidade mais elevada poderão cobrar taxas mais altas. A qualidade baseia-se em fatores como: limpeza e conforto do alojamento, confiabilidade e sabor da comida, cordialidade e instrução dos guias e demais funcionários, lotação adequada dos locais, etc. Estabilidade Política e Econômica. Os turistas preferem viajar para nações estáveis. O turismo na Guatemala, Sri Lanka, Peru, Ruanda e Nepal sofreu uma queda durante os períodos de instabilidade. *Atrações Complementares. Haverá maior demanda por locais com atrações populares próximas. A demanda por parques do Equador e do Peru é suplementada pela possibilidade de viajar para Machu Picchu nas mesmas férias. *Custo da Viagem (tempo e dinheiro) desde a Entrada no País até a Atração. As atrações que têm acesso mais fácil às principais cidades e circuitos turísticos existentes receberão maior demanda. *Esses fatores podem ser alterados por meio de gestão e planejamento minuciosos. Fonte: Desenvolvido a partir de Lindberg, 1991; Ashton & Haysmith, 1992.

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154 ecoturismo Levando-se em conta todos esses fatores, uma taxa entre 5 e 10 dólares foi considerada apropriada.

Atualmente, considerando-se que há poucas análises sistemáticas dos fatores de demanda do ecoturismo, a importância de cada um desses fatores deve basear-se, em grande parte, no julgamento intuitivo feito por pessoas familiarizadas com a atividade. Contudo, no futuro, pesquisas adicionais poderão ajudar a identificar a importância de cada fator, facilitando, assim, a aplicação mais extensiva dessa estratégia. Os parques poderiam, portanto, calcular suas taxas com base naquelas cobradas em outros locais, que fossem mais parecidos em termos de fatores importantes de demanda; as diferenças em fatores de menor importância teriam menos efeito sobre a fixação das taxas. Os resultados preliminares de uma pesquisa realizada na Costa Rica (Baldares e Laarman, 1990) sugerem que os fatores que afetam a determinação do nível da taxa apropriada são: renda do turista, qualidade da experiência, idade e grau de instrução do turista, e o número de outras áreas protegidas visitadas na Costa Rica (os dois últimos fatores podem revelar preferências).

Da mesma forma, as pesquisas feitas com turistas na Reserva Nacional Maasai Mara e no Parque Nacional de Amboseli, no Quênia (Henry, Waithaka e Gakahu, 1992; Henry e Western, 1988), sugerem que a qualidade da atração é o fator de maior importância, seguido pela qualidade da experiência geral da viagem e pela estabilidade política e econômica do país.

Apesar da falta de informações, geralmente é possível avaliar o mercado. Na Costa Rica, por exemplo, as taxas cobradas na Reserva Florestal de Neblina de Monteverde, de propriedade particular, poderiam servir como uma referência para as taxas dos parques nacionais. Monteverde não é administrada estritamente como um estabelecimento comercial, e as instalações existentes são mais extensas do que as dos parques nacionais, mas o fato de que Monteverde cobra taxas muito maiores do que os parques nacionais sugere que os últimos também poderiam elevar suas taxas.

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 155 Método 2: pesquisa da demanda turística. O conceito básico

subjacente a este método é o de que os turistas estimem sua própria demanda para a atração, em resposta a questões específicas de pesquisa. Na Costa Rica, uma pesquisa desse tipo revelou que tanto os costarriquenhos quanto os estrangeiros concordaram que os preços dos ingressos dos três parques nacionais mais populares (e de Monte-verde) deveriam ser elevados (Baldares e Laarman, 1990). Além disso, ambos concordaram que os estrangeiros deveriam pagar mais do que os costarriquenhos, muito embora essa não fosse a política governamental.

Os pesquisadores perguntaram aos turistas: "Pelo tipo de visita que você está fazendo aqui... quanto deveria custar o ingresso normal para os visitantes vindos de outros países?". A Figura 4-2 apresenta um resumo dos resultados. Um exame do gráfico mostra que a maioria dos residentes e dos visitantes vindos de outros países achava que os estrangeiros deveriam pagar mais do que os 25 colóns (0,30 dólar) cobrados. Muitos responderam que a taxa deveria ultrapassar 2,40 dólares. Essa informação pode ser estatisticamente analisada para determinar com maior precisão a taxa de maximização da receita (ver Método 3), mas uma avaliação visual da Figura 4-2 sugere que uma taxa de aproximadamente 1,20 dólar deveria ser cobrada dos estran-geiros.

O problema deste método é que os resultados provavelmente subestimam a demanda real e, por conseguinte, o nível potencial da taxa. Isso se deve, em parte, às dificuldades gerais na obtenção de respostas precisas para as pesquisas (quase sempre os turistas subestimam o que realmente estariam dispostos a pagar). Além disso, os pesquisadores observam que as respostas poderiam revelar valores mais altos se a pesquisa fosse realizada durante os meses de verão e não nos meses de inverno. Ademais, as respostas poderiam diferir se as questões fossem elaboradas de forma diferente. Por exemplo, poucos informantes indicaram que achavam adequada a taxa de 2,40 dólares ou mais. Contudo, se a questão tivesse sido reformulada para:

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156 ecoturismo

"Se a taxa de entrada fosse de 2,40 dólares, você teria cancelado seu passeio ao parque?", é provável que a maioria indicasse uma disposição em pagar essa taxa mais elevada.

Método 3: análise da curva de demanda. Provavelmente, a estratégia mais precisa é estipular as taxas utilizando a análise da curva de demanda. Uma curva de demanda mede quanto os turistas estão dispostos a pagar para visitar a atração, bem como o contrabalanço entre o preço e o número de visitantes. Desse modo, as curvas de demanda permitem aos gestores identificar as taxas de maximiza-ção da receita.

As curvas de demanda têm sido utilizadas para desenvolver os parques nacionais, através da aplicação do método hedônico de fixação de preços (Edwards, 1987) e do método de custo de viagem (Tobias e Mendelsohn, 1991; Durojaiye e Ikpi, 1988). Entretanto, pesquisas do tipo discutido no Método 2, mas projetadas e administradas para os padrões específicos de avaliação, geralmente serão mais simples e fáceis de aplicar em uma vasta gama de contextos. Os

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 157 pesquisadores podem ampliar a análise apresentada no Método 2, utilizando a análise estatística para estimar a taxa de maximização da receita. No caso da Costa Rica, a taxa de maximização foi estimada em 1,20 dólar. Como foi observado, essa estimativa é considerada baixa.

Método 4: gestão reativa e leilões baseados no mercado. O conceito básico deste método é o de reagir com a maior flexibilidade possível ao mercado turístico, alterando as taxas segundo as mudanças da demanda. Devido à imprecisão inerente à estimativa da demanda, bem como à instabilidade da atividade turística, este método é um importante suplemento aos três métodos discutidos anteriormente. Ou seja, com base nas pesquisas feitas com os turistas ou na avaliação de atrações equivalentes, as taxas deveriam ser fixadas em 10 dólares. Entretanto, se o número de visitantes continuar crescendo rapidamente, os gestores deverão propor a elevação das taxas. Da mesma forma, se o número de visitantes cair rapidamente, a redução das taxas deverá ser considerada. Além disso, se os gestores não podem utilizar um dos três primeiros métodos para avaliar a demanda, eles podem usar a gestão reativa para aumentar gradualmente as taxas até que seus objetivos sejam alcançados (cobertura de custos, maximização de lucros, etc).

O leilão de licenças ou de outras taxas turísticas normalmente alinhará as taxas com a demanda, já que os operadores turísticos oferecerão tanto quanto estiverem dispostos a pagar pela licença (contanto que o leilão seja administrado de maneira eficaz). Contudo, os leilões são, em geral, adequados apenas quando há um número limitado de licenças ou quando o preço dessas licenças é relativamente alto. Via de regra, isso ocorrerá no caso da caça e das atrações de turismo de alto valor, como, por exemplo, ver os gorilas nas montanhas, em Ruanda.

A dificuldade existente na gestão reativa no contexto das atrações de ecoturismo administradas pelo governo deve-se ao fato de que os órgãos públicos raramente possuem a flexibilidade necessária para

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158 ecoturismo reagir rapidamente às mudanças do mercado. Entretanto, os benefícios dessa flexibilidade podem exercer uma força poderosa sobre a descentralização de autoridade no estabelecimento de taxas.

O método mais apropriado para estipular taxas depende das condições locais, da disponibilidade de recursos para a condução de pesquisas e de análises, e de outras considerações. Em geral, a estimativa das demandas para novas instalações envolverá os Métodos 1 ou 4, já que eles não exigem um fluxo atual de turistas.

taxas de turismo: o financiamento do ecoturismo e os programas de conservação

As receitas estimadas precisam ser comparadas com os custos, a fim de se determinar se os objetivos de gestão serão atingidos (cobertura de custos ou maximização de lucros, por exemplo). Com freqüência, essa comparação assumirá a forma de uma análise financeira ou análise de custo-benefício, especialmente quando se busca um empréstimo para cobrir os custos. Tal análise é apresentada no primeiro estudo de caso.

caco 1: cobertura de custos nas fontes de águas sulfurosas de Santa Lúcia

As Fontes de Águas Sulfurosas de Santa Lúcia localizam-se na ilha de Santa Lúcia, no Caribe. Nos últimos oito anos, o turismo para Santa Lúcia aumentou aproximadamente 10% ao ano, com 24% de todos os turistas visitando o Monumento Nacional das Fontes de Águas Sulfurosas, uma área de fontes de águas quentes borbulhantes, promontórios vulcânicos e vegetação tropical. Numa tentativa de aperfeiçoar o produto turístico da ilha, o Conselho Turístico de Santa Lúcia, em associação com a Organização dos Estados Americanos (OEA), analisou se as receitas geradas pelas taxas de turismo seriam

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 159 suficientes para cobrir os custos envolvidos no aprimoramento da atração (Huber e Park, 1991).

A análise inclui os custos estimados para projetos de infra-estrutura e projetos educacionais e ambientais necessários à reabilitação do Monumento Nacional (ver Tabela 4-1). Os custos de capital incluem a construção de um centro de visitantes, restaurante, instalações sanitárias e uma sala de educação ambiental com exposições. Os custos adicionais incluem a manutenção e a programação. Ademais, um assistente turístico e quatro funcionários administrativos serão contratados (o quadro atual de pessoal inclui um administrador e guias turísticos).

Espera-se que os custos desse aumento sejam cobertos de três formas. Em primeiro lugar, estima-se que a melhoria da qualidade da atração gere um aumento no número de visitas. Em segundo lugar, os preços dos ingressos passarão de 3 dólares do Caribe Oriental (aproximadamente 1 dólar americano) para 5 dólares do Caribe Oriental. Os grupos de Santa Lúcia serão admitidos gratuitamente mediante prévio acordo. Em terceiro lugar, as receitas serão obtidas por intermédio do restaurante, da venda de artesanato e de outras concessões.

Os autores desse estudo de viabilidade utilizaram versões modificadas dos Métodos 1 e 2 para avaliar as taxas de turismo apropriadas e, desse modo, determinar se as receitas cobririam o custo do investimento. Eles entrevistaram os visitantes que se encontravam na região, a fim de determinar se os turistas estavam interessados nas melhorias que estavam sendo estudadas. Essas pesquisas (similares à pesquisa de amostra na Figura 4-3) e os dados históricos de visitação demonstraram que as fontes de águas sulfurosas já eram uma das atrações mais populares da ilha, que muitos turistas ficariam por mais tempo no local se houvesse instalações disponíveis, e, por último, que seria desejável a existência de várias instalações específicas, como centro de visitantes, painéis interpretativos e restaurante. Baseando-se nos resultados da pesquisa e no conhecimento de atrações similares, os autores estimaram que haveria um aumento no número de turistas e

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Tabela 4-1. Amostra da Análise de TIR (Taxa Interna de Retorno) para as Fontes de Águas Sulfurosas de Santa Lúcia (todos os valores em dólares do Caribe Oriental; 1 dólar americano = 2,70 dólares do Caribe Oriental) ANO

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003

CUSTOS DO PROJETO

Capital, Manutenção, Programação

46.000 717.760 142.000 65.000 65.000 65.000 65.000 65.000 65.000 65.000 65.000 65.000 65.000

Pessoal Adicional

55.200 55.200 55.200 55.200 55.200 55.200 55.200 55.200 55.200

Total de Custos

46.000 772.960 197.200 120.200 120.200 120.200 120.200 120.200 120.200 120.200 120.200 120.200 120.200

RECEITA ADICIONAL RESULTANTE DO PROJETO

Aumento do Número de Visitas

0 18.514 39.806 64.198 49.915 27.411 3.781 **

Aumento de Preços

0 155.520 163.296 171.461 180.034 189.036 198.487 200.000 200.000 200.000 200.000 200.000 200.000

Receita gerada por Concessões

0 48.878 53.766 59.142 60.000 60.000 60.000 60.000 60.000 60.000 60.000 60.000 60.000

Total da Receita Adicional

0 222.912 256.868 294.801 289.949 276.447 262.268 260.000 260.000 260.000 260.000 260.000 260.000

RECEITA LÍQUIDA DO PROJETO (receita adicional menos custos)

-46.000 -550.048 59.668 174.601 169.749 156.247 142.068 139.800 139.800 139.800 139.800 139.800 139.800

** O número anual de visitantes limita-se a 100.000, de forma que o item Aumento do Número de Visitas desaparece 1998, ano em que se espera que a em visitação atinja 100.000 pessoas mesmo sem o projeto. Taxa Interna de Retorno (TIR) para o projeto: 19,3%

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 161 Figura 4-3. Amostra de Questões para Determinar a Viabilidade de Expansão da Infra-Estrutura e dos Serviços Objetivo de Gestão n° 1: Coletar informações gerais sobre os visitantes. Pergunta: Em que país você vive? Pergunta: Quantas vezes você já visitou este país? Objetivo de Gestão n° 2: Determinar o grau de interesse nos locais ecoturísticos. Pergunta: Você já visitou algum parque nacional ou outras atrações naturais neste país? Em caso afirmativo, quais? Em caso negativo, você estaria interessado em fazer essas visitas futuramente? Muito Provavelmente � Provavelmente � Possivelmente �

Provavelmente Não � Não Sei � Objetivo de Gestão n° 3: Determinar o grau de interesse em outras atrações. Pergunta: Você estaria interessado em visitar um jardim botânico, um sítio arqueológico, um museu histórico ou outras atrações naturais ou culturais? Muito Provavelmente � Provavelmente � Possivelmente �

Provavelmente Não � Não Sei � Objetivo de Gestão n° 4: Determinar se o investimento em instalações adicionais deveria ser considerado. Pergunta: Numa futura visita, você passaria de um a três dias na área deste parque se houvesse mais instalações? Muito Provavelmente � Provavelmente � Possivelmente �

Provavelmente Não � Não Sei � Pergunta: Que tipo de instalações ou serviços você acha que enriqueceriam substancialmente a qualidade de sua experiência neste local? 1. Área de piquenique 6. Guias para trilhas 2. Bar/Restaurante 7. Folhetos 3. Centro de Visitantes 8. Outros (Favor citar) 4. Placas informativas ___________ 5. Trilhas para caminhadas ___________ Pergunta: Se desenvolvêssemos essas instalações ou serviços, você estaria disposto a pagar taxas mais altas pela experiência de melhor qualidade? Fonte: Adaptado de Huber e Park, 1991.

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162 ecoturismo que eles estariam dispostos a pagar ingressos mais altos por uma atração mais bem preparada para recebê-los.

Uma vez que os custos e as receitas associados ao projeto foram estimados, os autores utilizaram uma análise financeira para prever se o projeto seria viável. As técnicas de análise financeira serão apenas exploradas de forma sucinta neste capítulo; para obter maiores informações, os leitores interessados no assunto deverão consultar Brealey e Myers (1988) ou referências similares. Análises financeiras baseiam-se no simples conceito de que os projetos somente deveriam ser colocados em prática se fossem lucrativos, ou seja, se os seus benefícios excedessem o valor dos custos (os benefícios líquidos são positivos). Quando mais de uma alternativa produz benefícios líquidos positivos, deve-se escolher a alternativa que gere o maior benefício líquido.

Os benefícios e os custos do projeto geralmente ocorrem ao longo dos anos. Um dos conceitos centrais em análise econômica é que os custos e benefícios futuros têm menor valor do que os mesmos custos e benefícios atuais. A indexação é o processo pelo qual esses custos e benefícios futuros são reduzidos a um valor atual. Os projetos podem então ser avaliados com base em sua "taxa interna de retorno" (TIR), "valor presente líquido" (VPL), ou critério similar. A TIR é determinada pelo cálculo da "taxa de retorno" (uma taxa de juros), que apenas nivela os custos e os benefícios durante a vida do projeto (ou seja, o valor atual de todos os benefícios menos o custo é zero). Quando a TIR é mais alta do que o custo do empréstimo financeiro, o projeto é lucrativo e viável.

O VPL é o valor líquido de um projeto (benefícios menos custos), em dólares (ou outra moeda corrente), durante a vida desse projeto, dada uma determinada taxa de juros. Um VPL positivo é equivalente a uma TIR maior do que o custo de empréstimos financeiros. Embora o VPL seja um instrumento mais poderoso para os processos de tomada de decisões do que a TIR, esta é mais intuitiva. Contudo, os dois critérios baseiam-se na mesma informação e podem ser calcula-

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 163 dos com a utilização de planilhas eletrônicas, tais como as dos programas Lotus 123, Excel ou Quattro Pro.

Voltando ao exemplo das Fontes de Águas Sulfurosas (Tabela 4-1), espera-se que os custos estimados excedam os benefícios estimados nos primeiros dois anos de operação ("Receita Líquida do Projeto" negativa). A partir daí, o projeto irá gerar mais receitas do que custos. A TIR prevista para esse projeto é de 19,1%, suficientemente alta para justificar o financiamento.

Deve-se observar que esse estudo de caso envolve custos e receitas previstos, e não dados reais. Destinos como a montanha dos gorilas, em Ruanda, têm demonstrado a capacidade de o ecoturismo gerar lucros. O exemplo de Santa Lúcia, citado neste capítulo, foi usado por ser um destino mais "típico", que ilustra a capacidade esperada de cobrir custos mesmo com ingressos modestos.

Geralmente, ao propiciar a experiência ecoturística, o critério mínimo será a cobertura dos custos. Entretanto, em alguns lugares, a receita excederá os custos, com os lucros resultantes disponíveis para os programas de conservação, financiamento de outros programas governamentais, etc. As altas taxas para o turismo na montanha dos gorilas, em Ruanda, e o turismo de Galápagos, no Equador, por exemplo, são utilizadas em parte para financiar as atividades tradicionais de conservação dentro dos sistemas de parque. Tabela 4-2 e Figura 4-4 demonstram que o turismo na montanha dos gorilas não só tem coberto as despesas administrativas do parque, como também tem gerado lucros substanciais para os cofres do governo. No Quênia, espera-se que, em breve, as receitas geradas pelo turismo cubram o custo total de administração dos parques e das reservas existentes no país. Da mesma maneira, o turismo no Parque de Kota Kinabalu, em Sabah, na Malásia, gera fundos suficientes para cobrir o orçamento integral dos Parques de Sabah.

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164 ecoturismo caso 2: maximização de lucros nos parques da Zâmbia e de Ruanda

Dois estudos de caso provenientes da África empregam c Método 4 com o objetivo de maximizar a receita gerada pelas taxas turísticas. Uma vez que o nível de visitação é controlado e relativamente baixo nos dois casos, esses projetos provavelmente também objetivavam a maximização de lucros.

Como parte do Projeto de Desenvolvimento de Lupande, da Zâmbia, as concessões para expedições locais de safári de caça no Parque Nacional de Luangwa do Sul são leiloadas a operadores de viagem (Lewis, Kaweche e Mwenya, 1990). Supondo-se que o leilão é realizado de forma competitiva, esse método de venda dos direitos de caça maximiza as receitas obtidas pelas taxas. As rendas geradas pela concessão de caça (e os lucros das vendas de hipopótamos) são posteriormente canalizadas para um "fundo rotativo para conservação da vida selvagem", com 60% sendo utilizados para o manejo da vida selvagem e 40% alocados às lideranças locais para projetos comunitários.

Em 1987, as receitas geradas pelas taxas de concessão de caça destinadas ao manejo da vida selvagem eram de 146.000 kwachas (18.250 dólares), que eram suficientes para cobrir os custos recorrentes de 17.625 dólares gastos com o programa de escotismo do povoado, materiais de construção e de manutenção, e relações públicas. Outros órgãos governamentais também foram beneficiados pelas licenças de safáris de caça (que são cobradas separadamente das concessões e que totalizaram 36.130 dólares, em 1987), pela venda de presas de elefantes e pela aplicação de multas por caça ilegal.

Geralmente, ao estipular as taxas para a visitação à montanha dos gorilas, o Parque Nacional dos Vulcões, de Ruanda, utiliza a gestão reativa baseada no mercado. A popularidade da visitação aos gorilas resultou numa demanda que excede muitíssimo o limite de visitação, estipulado em cerca de 24 turistas por dia. Essa demanda

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 165 excessiva levou o governo a elevar as taxas para quase 200 dólares por pessoa para visitas de uma hora, gerando, assim, receitas de, aproximadamente, 1 milhão de dólares, em 1989 (Vedder e Weber, 1990). Já que a demanda excessiva ainda ocorria na época em que a guerra civil fez cessar o turismo na montanha dos gorilas, provavelmente o governo poderia ter aumentado as taxas ainda mais (embora fosse talvez necessário reduzi-las, devido ao desenvolvimento do turismo de visitação a gorilas em Uganda e no Zaire; esse tipo de redução já ocorreu no processo de mudança do preço em francos ruandeses para dólares).

Mesmo com a visitação limitada, o turismo na montanha dos gorilas gerou lucros substanciais. As cifras oficiais e as estimativas divulgadas demonstram que o turismo não só tem custeado o trabalho dos guias, mas também o dos guardas do parque, e tem gerado lucros para os cofres do governo central (ver a Tabela 4-2 e a Figura 4-4). Em 1989, por exemplo, as taxas turísticas geraram uma receita de 1 milhão de dólares, enquanto as despesas do parque foram inferiores a 200.000 dólares. Dessa forma, as taxas do ecoturismo vêm financiando não só o próprio ecoturismo, mas também os programas de conservação e os programas gerais do governo.

caso 3: a incorporação de outros objetivos de gestão na determinação dos preços do trekking turístico no Nepal

A decisão de manter níveis baixos de taxas, de forma a atingir outros objetivos gerenciais, provocará a redução das receitas geradas pelas taxas. Contudo, estratégias inovadoras, como as estruturas de cálculo de preços sobrepostos, podem ser implantadas a fim de minimizar a perda da receita. O Nepal, por exemplo, cobra atualmente taxas de 10.000 dólares para escalar o Monte Everest e 8.000 dólares para escalar outros picos de 8.000 metros. Previa-se, para o início do outono de 1993, uma taxa para o Monte Everest entre 50.000 e 70.000 dólares, em função do tamanho do grupo (Anônimo, 1992; Noland,

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Tabela 4-2. Maximização da Receita Gerada pelas Taxas Turísticas: O Caso do Turismo na Montanha dos Gorilas, em Ruanda (Todas as cifras em dólares americanos)

ANO

1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989

RENDA DAS TAXAS

7.072 8.954 10.195 12.240 36.513 88.837 114.917 135.281 261.198 298.780 348.276 378.821 512.195 1.000.000

DESPESAS

16.027 20.716 34.244 44.625 56.633 84.210 95.410 97.405 113.873 187.847 168.791 196.586 197.561 197.561

LUCROS (Perda)

(8.955) (11.762) (24.049) (32.385) (20.120) 4.627 19.507 37.876 147.325 110.933 179.485 182.235 314.634 802.439

Observação: As despesas incluem os salários de guias e guardas. Fonte: Ministério do Planejamento, 1989; Vedder e Weber, 1990.

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 167

1992). Ao mesmo tempo, as taxas para trilhas menos exigentes, escolhidas pela maioria dos turistas, serão dobradas, mas ainda permanecerão relativamente baixas, em um patamar de 15 a 25 dólares por semana. Provavelmente, essa combinação de taxas sustentará a demanda para os negócios de turismo de pequena escala, condicionados ao grande número de trekkers*, e manterá as receitas de taxas governamentais em níveis relativamente altos. taxas turísticas: um processo de tomada de decisões

As seções anteriores apresentaram, em linhas gerais, objetivos e métodos comuns, junto com exemplos de como determinados destinos

*Ver observação no Cap. 2, p. 63. (N. do R.T.)

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168 ecoturismo vêm utilizando as taxas turísticas para aumentar a receita. Esta seção esboça um processo genérico de tomada de decisões para a determi nação das taxas turísticas. Como ilustra a Figura 4-5, a primeira etapa consiste em determinar os objetivos das taxas (cobertura de custos, maximização de lucros ou critério alternativo). A segunda etapa deve avaliar se as receitas serão suficientes para cobrir os custos. Em caso positivo, os preços devem ser estabelecidos de maneira apropriada. Em caso negativo, os responsáveis pelas decisões devem determinar se objetivos como o fornecimento de oportunidades de recreação ou de emprego local serão suficientemente importantes para justificar o fornecimento de oportunidades ecoturísticas com uma perda financei ra. Se forem, deve-se procurar obter fundos adicionais para a cober tura dessas perdas. Qualquer que seja o objetivo escolhido, os resultados devem ser monitorados para que se possa determinar se os objetivos estão sendo atingidos. , a incorporação de impactos econômicos e sociais mais abrangentes

Este capítulo tratou da análise de projetos, tal como se eles fossem administrados comercialmente. Ou seja, aquele que toma as decisões está somente preocupado com os custos e benefícios financeiros resultantes do projeto. Em alguns casos, será apropriado analisar os projetos governamentais sobre as mesmas bases, mas, com freqüência, os governos estão interessados em custos e benefícios sociais mais abrangentes, de forma que a análise precisa ser ampliada.

Um método que possibilite tal análise é o da taxa interna de retorno : econômico (TIRE), que se baseia no conceito de que os preços de mercado nem sempre refletem o benefício ou o custo econômico para a sociedade, em parte devido aos subsídios e impostos públicos ou ao controle de preços e índices salariais. Como resultado, a TIRE utiliza preços "econômicos", em vez dos preços de mercado. Em termos práticos, isso significa que preços internacionais (de fronteira)

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170 ecoturismo serão utilizados para bens comercializados (tais como alimentos importados para turistas), com ajustes adequados para custos de transporte e comercialização; valores líquidos de impostos serão utilizados para bens não comercializados (como a mão-de-obra); e os pagamentos de transferência (como impostos e taxas) serão excluídos.

O segundo método, a análise de custo-benefício social (ACBS), expande a TIRE na medida em que reconhece que muitos benefícios (e custos) são importantes para a sociedade, mas que não possuem valor "econômico", no sentido de que não podem ser adquiridos e vendidos em mercados. Na verdade, o financiamento público de parques e áreas protegidas leva em consideração o fato de que as áreas naturais propiciam benefícios, tais como a proteção dos mananciais, a conservação de espécies, a recreação e outros (Dixon e Sherman, 1990; McNeely, 1988).

Obviamente, esses benefícios são muito mais difíceis de serem avaliados do que as receitas geradas pelas taxas, mas muito progresso tem sido feito nesse sentido. Uma vez que os benefícios e custos são estimados visando ao futuro, o projeto é analisado segundo o critério do VPL ou da TIR. Contudo, a taxa de desconto para projetos sociais é geralmente mais baixa do que a taxa utilizada para projetos financeiros. Assim, um projeto social com uma TIR de 10% pode ser considerado viável, mas um projeto financeiro com uma TIR de 10% pode não ser.

Como foi observado, a existência de benefícios de recreação subsidiados para os residentes constitui um princípio para o desenvol-vimento de programas ecoturísticos, mesmo quando os custos superam os ganhos financeiros gerados pelas taxas. Entretanto, esse princípio deveria ser explicitado e, sempre que possível, os verdadeiros benefícios aos residentes devem ser quantificados mediante técnicas como a análise do custo de viagem ou a avaliação de contingências.

Além disso, o fato de as áreas naturais proporcionarem tanto os benefícios financeiros do ecoturismo quanto os benefícios tradicionais, sem caráter financeiro, tem implicações importantes para as decisões sobre a área de terra a ser mantida em estado natural. Em

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 171 primeiro lugar, o turismo suplementa os benefícios tradicionais da conservação e, por conseguinte, amplia a justificativa econômica para a conservação. Em segundo lugar, os benefícios de conservação suplementam os benefícios turísticos, de forma que a conservação ainda pode ser justificada mesmo nos locais onde há pouco ou nenhum potencial turístico.

O Projeto Korup, na República dos Camarões, é um exemplo de benefícios tradicionais que suplementam o turismo, justificando o desenvolvimento de um parque nacional e de uma zona-tampão. A análise de custo-benefício social desse projeto resultou nos dados apresentados na Figura 4-6 (Ruitenbeek, 1989; comparar com Dixon e Sherman, 1990). O turismo gerou apenas 1.360.000 libras (cerca de 2.720.000 dólares em taxas de câmbio de 1992), em valor atual. Dados os custos de 15.239.000 libras, o turismo, por si só, não foi suficiente para justificar o projeto do parque. Porém, quando os benefícios turísticos foram combinados com outros benefícios, o parque tornou-se viável. Na verdade, neste caso, o turismo foi vital para assegurar que os benefícios excedessem os custos.

fontes de financiamento

Projetos viáveis podem ser enviados às agências financiadoras a fim de serem examinados. Há uma série de fontes de financiamento; algumas delas requerem, relativamente, pouca análise financeira ou de custo-benefício para justificar o financiamento. Algumas das fontes mais comuns são mencionadas neste capítulo.

Os projetos de ecoturismo que são financeiramente viáveis podem atrair financiamento de bancos ou de investidores locais. Quando essas fontes não estão disponíveis, o financiamento quase sempre pode ser obtido através de programas de desenvolvimento do governo, bancos internacionais de desenvolvimento ou agências de auxílio bilateral. Freqüentemente, essas fontes fornecem capital aos empreendimentos promissores do setor privado.

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172 ecoturismo

Figura 4-6. Análise do Custo-Benefício Social para o Projeto Korup (em milhares de libras esterlinas, resultados do caso-base,

taxa de desconto de 8%, 1989)

BENEFÍCIOS

Benefícios Diretos

Proteção das áreas pesqueiras 3.776 Custos de capital excluindo estradas (1989-1995)

7.697

Uso sustentado da floresta

3.291 Custos de capital de estradas 1.859

Controle de risco de enchentes 1.578 Custos de operação de longo prazo

4.761

Turismo 1.360 Crédito de mão-de-obra (custo negativo)

(2.404)

Produção de meios alternativos de subsistência

997 Custos de Oportunidade

Manutenção da fertilidade do solo

532 Ônus da perda do direito de usar a floresta

2.620

Valor genético 481 Ônus da perda do direito de derrubar árvores de corte

706

Benefícios Induzidos

Produtos agrícolas produzido para venda

3.216 Total dos Custos 15.239

Aumento da produtividade agrícola

905 Benefício Líquido 1.084

Silvicultura produzida

207 TIR do Projeto 8,3%

Total dos Benefícios

16.323 TIR do País 13,4%

Fonte: Adaptado de Dixon e Sherman, 1990 (a fonte original é Ruitenbeek, 1989).

Os projetos que não são financeiramente viáveis, mas são eco-nomicamente viáveis devido aos benefícios mais amplos que oferecem à sociedade, podem ser capazes de atrair subvenções ou empréstimos concedidos por órgãos governamentais, agências de auxílio bilateral ou organizações e fundações para a conservação de nações industrializadas. Também é comum que os governos federais forneçam incentivos (subsídios) que tornem o projeto financeiramente atraente. Um governo poderia, por exemplo, reduzir as taxas de

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 173 impostos ou decretar a isenção de rendimentos originados pela tributação, durante um determinado período de tempo (isenção fiscal); distribuir terras de sua propriedade para objetivos ligados ao turismo, contanto que a maior parte permanecesse sob controle e em estado natural; oferecer créditos de impostos para doações de terras a projetos ecoturísticos de conservação; propiciar isenção das tarifas de importação e dos impostos sobre mercadorias; e fornecer empréstimos a juros baixos. Os governos que procuram financiamento para projetos de ecoturismo e conservação podem explorar fontes similares, tais como fundações em prol da conservação, bem como as fontes disponíveis apenas aos governos, como o programa do Fundo Mundial para Meio Ambiente, administrado pelo Banco Mundial.

A campanha de levantamento de fundos deve esboçar um plano de financiamento que procurará ser auto-suficiente, diversificado, e buscar fontes de longo prazo para sustentar não só os custos de desenvolvimento do capital inicial e do capital que está sendo aplicado, mas também os custos operacionais adicionais de atividades especializadas (por exemplo, pesquisa e viagem). Fontes de financiamento mais inovadoras também podem ser exploradas, como conversões da dívida externa em projetos de conservação ou impostos turísticos. taxas de turismo: questões de gestão

A avaliação necessária para a fixação das taxas também pode fornecer dados para um planejamento futuro. Uma consideração importante, tanto para a conservação quanto para a indústria turística, é a estabilidade da demanda pelo ecoturismo em geral e por uma atração individual em particular. Um exame dos fatores de demanda (ver Figura 4-1) sugere que os aumentos esperados da população e do rendimento nos países de origem levarão, no futuro, ao aumento geral na demanda por atrações ecoturísticas. Entretanto, a demanda baseia-

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174 ecoturismo se parcialmente na preferência, que, no caso do ecoturismo, depende em grande parte da consciência do público e de sua preocupação com o ambiente natural. A demanda futura do ecoturismo dependerá, em parte, do nível de preocupação com a preservação do meio ambiente existente nos países de origem. É importante que seja levada em consideração a estabilidade econômica e política do país de destino. Há uma inevitável incerteza na previsão da demanda para o futuro, de modo que as estimativas das receitas que serão geradas pelo ecoturismo devem ser feitas com cautela.

O conhecimento dos fatores de demanda também pode ajudar os planejadores a escolher os locais apropriados ao desenvolvimento do ecoturismo e a determinar as prioridades para aperfeiçoar o produto ecoturístico. A quantificação dos fatores de demanda do turismo na Grécia, por exemplo, demonstrou que um aumento da promoção nos países de origem seria uma forma econômica de aumentar a procura, melhorando a imagem do país-destino (Papadopoulos e Witt, 1987). No caso do ecoturismo, outras áreas para investimento de baixo custo poderiam incluir a melhoria da qualidade da experiência, por meio do treinamento de guias ou do desenvolvimento das instalações. Uma avaliação rigorosa da importância dos respectivos fatores de demanda seria útil para esses objetivos. Nesse ínterim, as respostas às questões mais gerais de pesquisa (como as apresentadas na Figura 4-3) podem ser utilizadas, a fim de priorizar as oportunidades de aperfeiçoar o produto ecoturístico.

tipos de taxas e cobrança de taxas

Uma vez determinadas as políticas gerais de taxas, os gestores devem decidir que taxas específicas deveriam ser cobradas para bens e serviços e como cobrá-las. Embora exista alguma sobreposição de terminologia, são apresentadas, a seguir, algumas das categorias de taxas mais comuns.

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 175 Taxa de entrada (ingresso). É uma taxa cobrada para entrar em um

parque ou em uma atração similar. Taxa de admissão. É uma taxa cobrada para a admissão em uma

instalação específica, tal como um centro de visitação. Taxa de utilização. Trata-se de uma taxa cobrada pelo uso de um

objeto específico (binóculos ou equipamento de mergulho, por exemplo), serviço (guia) ou oportunidade (local para acampamento).

Taxa de licença ou autorização. Semelhante à taxa de utilização, esta

categoria inclui taxas de autorização para caça ou pesca. Taxas geradas por vendas e concessões. Souvenirs, alojamentos e

outros bens e serviços podem ser oferecidos diretamente pelo parque (com os lucros considerados como taxas turísticas), ou por um contrato de concessão (cujas receitas são consideradas um tipo de taxa turística).

As abordagens apresentadas a seguir são algumas das mais comuns

para a cobrança de taxas, embora sistemas alternativos, como passes anuais, também tenham sido sugeridos (Laarman e Baldares, 1990; Barborak, 1988).

Cobrança direta no local. Neste caso, as taxas são cobradas

diretamente dos turistas, geralmente no portão de entrada ou quando um bem ou serviço é adquirido. Há pelo menos dois benefícios nesse método: o primeiro é que ele vincula o pagamento das taxas diretamente ao serviço fornecido, e o segundo é que ele proporciona o contato direto entre os turistas e os funcionários do parque, oferecendo, portanto, a oportunidade de informar, controlar e registrar o número de visitantes.

Cobrança indireta por intermédio de operadores turísticos. Neste tipo

de sistema, as taxas são pagas pelo operador turístico, com o custo repassado ao turista como parte do preço do pacote de viagem.

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176 ecoturismo Essa estratégia assemelha-se à da cobrança direta, e, na verdade, é geralmente utilizada como um sistema complementar. Embora exista um contato menor entre o pessoal do parque e os visitantes, esse sistema pode contribuir para a cooperação entre o parque e a indústria turística do local. Além disso, com freqüência, ele reduz os custos administrativos ao mesmo tempo que permite que os níveis de visitação sejam controlados. Outro benefício é que as taxas estão ocultas no custo do pacote turístico, possivelmente reduzindo, dessa forma, o efeito das taxas mais altas sobre o nível de visitação. As dispendiosas licenças para visitar os gorilas de Ruanda, por exemplo, em geral não são vendidas diretamente aos turistas, mas aos operadores turísticos.

Cobrança indireta por intermédio de outros setores da indústria do turismo. Este método, com taxas geralmente cobradas pelos hotéis e meios de transporte, proporciona benefícios similares aos do sistema de taxa do operador turístico. Contudo, quase sempre é crucial para a aceitação da indústria que as taxas sejam arrecadadas quando há uma forte correlação entre as taxas e a utilização do parque. Os hotéis próximos ao Parque Nacional Marinho dos Recifes de Tobago, em São Vicente e Granadinas, por exemplo, pagam um imposto para ajudar a manter o parque (Rodgers, 1989), mas não se deveria solicitar aos hotéis distantes que pagassem essas taxas.

Fontes adicionais de receita também deveriam ser utilizadas, quando

adequado. Por exemplo, deveria ser proporcionada aos turistas e a outras pessoas interessadas na região uma oportunidade de doar fundos para a gestão do local de destino. Esse mecanismo pode gerar receita substancial e pode ser mais eficaz quando estabelecido por uma organização não-governamental. A organização não-governamental The Nature Conservancy, por exemplo, solicitou 150.000 dólares para a Estação de Pesquisa de Charles Darwin, nas Ilhas Galápagos, enviando pelo correio um pedido de doações aos turistas que assinaram o livro de hóspedes da Estação (Warner, 1989). Uma recente pesquisa dos operadores turísticos sugere que 63% dos ecoturistas estariam

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 177 dispostos a doar 50 dólares para a conservação da área que visitam; 27% pagariam 200 dólares.

O melhor sistema de cobrança de taxas para qualquer área em particular deverá basear-se no tipo de visitação (individual versus grupos), nível de cooperação com a indústria, nível de eficiência burocrática e em outros fatores relevantes. Os gestores podem utilizar, por exemplo, uma combinação de taxas para permitir que grupos distintos paguem pelos serviços específicos que recebem. A cobrança de um ingresso barato e de uma taxa relativamente alta pelo fornecimento de um guia pode gerar receita substancial vinda de turistas abastados interessados em contratá-los, ao mesmo tempo que mantém a visitação de turistas de menor poder aquisitivo, que muito provável-. mente freqüentarão o comércio do turismo local, sustentando, desse modo, a economia local. Contudo, deve haver o menor número possível de taxas diferentes, para evitar a confusão e a frustração do turista.

Independente do sistema implantado, os operadores turísticos deveriam ser previamente avisados (em geral, sugere-se um ano de antecedência) das mudanças no tipo ou na quantidade de taxas, de forma que possam ajustar seus preços de maneira adequada. Além disso, os esforços para informar os visitantes sobre a importância da receita gerada pelas taxas para a administração do parque geralmente aumentam o apoio para a existência de tais taxas.

alguns princípios gerais para a política de taxas turísticas

A exposição anterior ilustra os objetivos e os métodos específicos em relação às taxas turísticas. Contudo, ao estruturar as políticas de taxas de entrada, alguns princípios gerais devem ser observados.

Considerar as taxas turísticas como suplemento para os orçamentos

existentes e não como substituição desses orçamentos. Um dos principais fundamentos lógicos para desenvolver o ecoturismo é o de que ele pode proporcionar fundos necessários aos orçamentos de

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178 ecoturismo conservação. Se os orçamentos existentes forem reduzidos quando as receitas turísticas aumentarem, o ecoturismo proporcionará pouco benefício. Na verdade, os custos de infra-estrutura e de gestão, causados pela introdução ou pela expansão da visitação, podem realmente reduzir os fundos disponíveis para as atividades tradicionais de gestão. A instabilidade das receitas geradas pelo turismo também pode ser pior do que a instabilidade do fundo governamental existente. Sempre que possível, devem ser criados fundos fiduciários para garantir a estabilidade dos recursos, durante as baixas temporadas nos ciclos turísticos.

Destinar pelo menos parte das receitas de turismo aos parques que as geraram. A experiência nos EUA e em outras partes do mundo demonstra que alocar verbas para o parque aumenta a eficiência administrativa na arrecadação de taxas, bem como a responsabilidade nas despesas.

Estabelecer políticas nacionais para taxas, mas estabelecer taxas

sobre uma base descentralizada e específica aos locais. As políticas nacionais, como a escolha entre objetivos de cobertura de custos e de maximização de lucros, deveriam ser desenvolvidas para as taxas cobradas nas atrações públicas. Entretanto, os administradores de parques deveriam ter flexibilidade ao estabelecer taxas com base nas condições das riquezas específicas ao local e nas mudanças da demanda para a atração. Se as decisões permanecem com o governo central, a autoridade para modificar taxas deveria, pelo menos, ser o mais flexível possível. Os órgãos ligados ao executivo, por exemplo, tais como o departamento de parques, podem em geral responder mais rapidamente do que os órgãos ligados ao legislativo, como um congresso ou parlamento (Barborak, 1988).

Reconhecer que a cobrança de taxas não será viável para todas as

atrações. A cobrança de taxas pode simplesmente não ser viável financeiramente em locais com baixos índices de demanda ou altos custos administrativos.

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 179 Desenvolver e manter sistemas detalhados de administração contábil e

financeira para receitas e despesas. Decisões consistentes sobre os níveis de taxas exigem conhecimento do custo do fornecimento da oportunidade turística e também da receita gerada pelas taxas. Decisões eficazes só podem ser tomadas quando tal informação é sistematicamente colhida e incorporada ao processo de tomada de decisões. Quando possível, essa contabilidade deveria ser suplementada pela informação sobre os impactos ecológicos e sociais.

a utilização do ecoturismo para sustentar o desenvolvimento econômico

O ecoturismo vem sendo acolhido por muitos como uma oportunidade para gerar rendimentos e empregos em áreas relativamente intocadas pelas tentativas tradicionais de desenvolvimento. Com freqüência, tais objetivos são atingidos parcialmente, mas sabe-se que apenas uma pequena parcela do dinheiro gasto pelos turistas permanece no próprio local ou próximo a ele (Lindberg, 1991; Boo, 1990).

Existem pelo menos três razões para aumentar os benefícios gerados pelo desenvolvimento do ecoturismo e a participação nesse desenvolvimento. Em primeiro lugar, a conservação da área para atividades ecoturísticas reduz ou elimina a utilização tradicional dos recursos. Em segundo lugar, quando os habitantes recebem benefícios, geralmente apóiam o ecoturismo, chegando a ponto de proteger o local contra invasões ou outros tipos de transgressão. Mas se os habitantes assumem os custos sem receber os benefícios, com freqüência voltam-se contra o ecoturismo e podem intencional ou acidentalmente causar danos à atração. E, por fim, os ecoturistas, bem como os consumidores, geralmente sustentam a importância do turismo que beneficia os habitantes locais (Eagles, Ballantine e Fennell, 1992).

Esta seção discute os princípios e mecanismos para aumentar a contribuição do ecoturismo para o desenvolvimento econômico local.

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180 ecoturismo Para uma discussão mais abrangente do papel do ecoturismo no desenvolvimento sustentável, consultar Healy (1991).

A soma de dinheiro que realmente chega à região de destino, menos a quantia gasta para pagar bens e serviços externos, não tem sido adequadamente quantificada. Contudo, uma estimativa geral é a de que menos de 10% dos gastos do turista permanecem nas comunidades próximas aos destinos ecoturísticos. Até certo ponto, esse fato deve-se simplesmente à natureza da indústria do turismo; fundos substanciais são gastos com marketing e transporte, antes mesmo de o turista chegar ao destino. Porém, existem oportunidades para ampliar os benefícios econômicos locais do ecoturismo. Muitas delas estão sendo atualmente adotadas por programas patrocinados pelo governo e pela iniciativa privada. A medida que eles vão sendo implantados, deveríamos ser capazes de determinar quais os mais eficazes para atingir os objetivos de desenvolvimento econômico.

Alguns dos mecanismos para aumentar os benefícios locais originados pelo ecoturismo incluem: propriedade e administração local do recurso ecoturístico; leasing, propriedade parcial ou estruturas de participação de lucros entre a indústria turística e os habitantes locais; pagamentos diretos para as comunidades, oriundos de receitas turísticas; e emprego de mão-de-obra local na indústria do turismo. Na prática, o mecanismo mais apropriado, ou grupo de mecanismos, dependerá das condições culturais, políticas e econômicas locais. Os exemplos a seguir ilustram parte do que vem sendo feito.

exemplo 1: a propriedade local em Zimbábue

Nos anos 80, o Zimbábue desenvolveu o modelo de Programa de Administração de Áreas Comunitárias para Reservas Indígenas (CAMPFIRE), pelo qual os conselhos distritais foram dotados de "au-toridade" para manejar a vida selvagem nessas regiões (Heath, 1992; Murindagomo, 1990). De modo significativo, o Ministério do Turismo e Reservas Naturais exigiu que os conselhos demonstrassem o

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 181 endosso de seus membros e a capacidade de implantar um plano de administração da vida selvagem como pré-requisito para exercer essa autoridade.

Nos locais onde isso ocorreu, o CAMPFIRE permitiu aos conselhos distritais gerenciar diretamente e lucrar com a caça, o turismo fotográfico e outras formas de utilização da vida selvagem. No distrito de Guruve, por exemplo, a estação de caça de 1989 gerou 61.340 dólares zimbabuanos (cerca de 24.536 dólares) em dividendos para os bairros, com um adicional de 195.315 dólares, disponíveis para a compra de equipamentos, fundos para o conselho distrital e outros fins. O bairro de Kanyurira recebeu 18.924 dólares, dos quais a maior parte foi destinada a projetos comunitários e pagamentos diretos de 80 dólares para cada família. Comparativamente, cada família média da região ganhou 200 dólares com o algodão, durante o mesmo período (Murindagomo, 1990).

exemplo 2: pagamento direto e geração de empregos na Zâmbia

Como foi observado na seção sobre as taxas, o Projeto de Desen-volvimento de Lupanda, próximo ao Parque Nacional de Luangwa do Sul, permite que os benefícios gerados pela caça e por outras utilizações da vida selvagem sejam revertidos para a administração da vida selvagem e para as comunidades locais por intermédio do Wildlife Conservation Revolving Fund (Fundo Rotativo para Conservação da Vida Selvagem), segundo Lewis, Kaweche e Mwenya, 1990. Desses fundos, 40% são entregues aos dirigentes locais para projetos da comunidade; em 1986, isso equivaleu a 7.950 dólares.

Além dos benefícios financeiros diretos, 114 habitantes locais foram efetivamente empregados nos programas de conservação, em operações de caça e na caça seletiva de hipopótamos. O emprego da mão-de-obra local demonstra como o ecoturismo pode sustentar o desenvolvimento econômico rural. Como os empregos produzem sustentação para os programas de conservação que os geraram, o ecotu-

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182 ecoturismo rismo também contribui para a conservação. De fato, a caça ilegal de elefantes e rinocerontes pretos, que vinha aumentando significativamente, diminuiu pelo menos dez vezes no período entre 1985 e 1987. exemplo 3: pagamento direto no Quênia

O Quênia, há muito, é líder de sucesso financeiro no campo do ecoturismo, e espera-se que as receitas aumentem ainda mais, à medida que níveis mais altos de taxas sejam implementados. A expectativa é de que a receita originada pelos parques e reservas públicas salte dos 23,6 milhões de dólares obtidos em 1990 para 53,7 milhões em 1995 (em dólares de 1990), segundo o Kenya Wildlife Service (Serviço da Vida Selvagem do Quênia), 1990.

Umas das prioridades do Quênia é partilhar 25% da receita gerada pelas taxas de ingresso com as comunidades que circundam as áreas protegidas. Esse programa está explicitamente estruturado para reembolsar as comunidades pelos custos diretos e indiretos ligados à criação da área protegida. A distribuição dos fundos se baseará na incorrência dos custos, tais como perda de colheitas e de gado para dar lugar à conservação.

Esses exemplos envolvem as atividades relativamente lucrativas de caça de animais selvagens e de observação desses animais. Contudo, o conceito é válido para outros locais. Por exemplo, o Projeto da Unidade de Conservação de Annapurna {Annapurna Conservation Area Project -ACAP), no Nepal, gera anualmente 200.000 dólares de taxas, obtidas com o trekking, com os quais financia as suas atividades e os projetos da comunidade (Wells, 1992). O ingresso de 3,50 dólares do Parque e Reserva Florestal de Tavoro, em Fiji, gerou 8.000 dólares em receitas, entre março e novembro de 1991. Desse total, cerca da metade foi utilizada para pagar salários e despesas, e a outra metade foi destinada a projetos de desenvolvimento comunitário (Young, 1992).

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 183 aumento do desenvolvimento econômico mediante a redução de perdas e a otimização de parcerias

Talvez a maior oportunidade para propiciar benefícios locais seja empregar os habitantes locais na indústria do turismo e nas indústrias que o sustentam. O dinheiro gasto pelos turistas circula pela economia quando o setor turístico e seus empregados adquirem bens de outros empreendimentos. Portanto, o turismo pode sustentar não apenas o gerente da pousada local, mas também o fazendeiro local, que planta os alimentos vendidos para a pousada. Por outro lado, se essa pousada importa seus alimentos, o dinheiro "escapa" e produz menos benefícios. Para fomentar o desenvolvimento local, o turismo deveria ser parceiro de outros setores, de modo que o dinheiro ajudasse a desenvolver a economia local, ao invés de dispersar-se (o que constitui a economia local depende da região de interesse; ela pode ser uma vila, uma província ou alguma outra unidade). Os parágrafos seguintes ilustram oportunidades para reduzir a dispersão da receita turística.

Aperfeiçoar as parcerias dentro da indústria do turismo. Talvez a

oportunidade mais óbvia para que os habitantes do local se beneficiem do ecoturismo seja através do emprego na própria indústria. A curto prazo, esse emprego pode concentrar-se na mão-de-obra não-especializada. Contudo, devem ser desenvolvidos programas de treinamento, de forma que os habitantes sejam capazes de ocupar cargos especializados, tais como os de guias e gerentes. Além disso, deveria haver financiamento disponível para que os empreendedores locais pudessem criar suas próprias operações turísticas.

Aperfeiçoar o contato com o setor de transporte local. Geralmente os

ecoturistas necessitam locomover-se e querem utilizar os meios de transporte existentes no local, do mais tradicional ao mais moderno. Sempre que possível, barcos, canoas, mulas, táxis e carregadores devem ser utilizados. Em alguns casos, podem ser formadas cooperativas para comprar equipamentos de transporte mais caros. Os

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184 ecoturismo barcos que levam os turistas de Puno a Taquile, no Lago Titicaca, no Peru, por exemplo, são de propriedade de uma cooperativa local.

Aperfeiçoar o contato com a agricultura e a pesca. As despesas substanciais do turismo são geradas pela compra de alimentos, muitos deles importados de regiões distantes das próprias atrações turísticas (Miller, 1985). Os ecoturistas tendem a se interessar pela cozinha local, contanto que os padrões de qualidade sejam respeitados. Com freqüência, pousadas e restaurantes precisam estar mais dispostos a gastar o tempo extra, desenvolvendo fontes locais de alimentos. Enquanto isso não ocorre, os fazendeiros e distribuidores locais precisam reconhecer a importância da qualidade e confiabilidade.

Aperfeiçoar o contato com os setores de construção, equipamentos e

manutenção. Como a infra-estrutura do ecoturismo é tipicamente feita em pequena escala e localizada em lugares remotos, a mão-de-obra e os materiais locais são quase sempre utilizados em sua construção. Esse tipo de contato deveria ser mantido e expandido.

Desenvolver o artesanato local e outros souvenirs. Em geral, as vendas

de souvenirs são o meio mais fácil de os habitantes locais se beneficiarem com a presença de turistas, mas muitos locais vendem souvenirs vindos de outras regiões ou até mesmo de outros países. Ao invés desse procedimento, deveria ser assumido um compromisso para fomentar o artesanato local, levando em consideração o que é atrativo para os turistas.

Como os benefícios locais gerados pelo ecoturismo serão maxi-mizados? Utilizando o simples exemplo de uma pousada, o objetivo seria: desenvolver o turismo que maximiza os gastos na pousada (aumento da receita bruta); desenvolver programas que promovam a propriedade local e a administração local da pousada (aumento dos benefícios diretos para cada dólar de receita bruta); desenvolver fortes elos entre a pousada e os fazendeiros locais; e financiar programas que ajudem os fazendeiros a fornecer os produtos que a pousada ainda

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 185 importa de outras regiões (redução da dispersão e aumento dos benefícios indiretos).

Até certo ponto, esses contatos se desenvolverão de maneira espontânea para suprir as necessidades imediatas. Entretanto, o envol-vimento ativo dos líderes comunitários, funcionários do governo, indústria e organizações não-governamentais quase sempre será necessário. Por exemplo, a indústria pode trabalhar com as comunidades locais para identificar oportunidades de emprego ou para o fornecimento de bens, tais como alimentos e artesanato. Com freqüência, o governo desempenha um papel vital no fornecimento de crédito para empreendedores ou no treinamento mediante programas de extensão. As organizações não-governamentais podem desempenhar papéis importantes no treinamento e em outras atividades. Esses grupos distintos precisarão cooperar de modo a identificar as oportunidades para o desenvolvimento local; identificar os programas de treinamento e crédito, além de outros necessários para viabilizar essas oportunidades; implantar esses programas; e avaliar os fracassos e sucessos do programa, tentando novas estratégias, quando apropriado.

métodos de treinamento e emprego

Um exemplo de cooperação para aumentar o emprego é o programa de treinamento de guia turístico desenvolvido pela Estação Biológica La Selva, com financiamento do Fundo Mundial da Vida Selvagem, e em cooperação com o Serviço Nacional de Parques da Costa Rica e outras organizações (Paaby, Clark e González, 1991). Um grupo de 26 habitantes locais (selecionados entre 93 candidatos) participou de conferências de 40 horas e de 103 horas de caminhada monitorada no campo, que abarcaram tópicos desde a ecologia geral às técnicas de observação de aves.

Embora esse programa não tivesse a intenção de fornecer uma formação completa em interpretação (a maioria dos participantes não possuía conhecimentos de língua estrangeira, por exemplo), os resul-

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186 ecoturismo tados foram positivos. Os guias formaram uma cooperativa local (a Natucoop) e foram bem sucedidos em conseguir tanto empregos de meio período quanto de período integral.

Programas de treinamento também vêm sendo implantados para desenvolver fontes de alimentos confiáveis e de alta qualidade, para melhorar os padrões de saneamento, etc. Em Bali, na Indonésia, foi criada uma fazenda experimental a fim de aperfeiçoar a qualidade e a variedade de produtos hortifrutigranjeiros a serem vendidos aos hotéis turísticos e restaurantes. Um elemento importante desse programa foi o enfoque dado ao marketing, incluindo a organização de um abastecimento confiável de produtos (Inskeep, 1991). Enquanto isso, o Quênia reduziu suas importações de produtos alimentícios, que representava 77% do consumo de alimentos dos turistas em 1984, para 14% em 1988 (Dieke, 1991).

O Projeto da Unidade de Conservação de Annapurna, no Nepal (ACAP), não só reverteu a renda dos ingressos para a região local, mas também incluiu o treinamento para elevar a qualidade do serviço, padronizar menus e preços, e melhorar os padrões de saneamento e tratamento do lixo (Wells, 1992). Alguns programas de treinamento do quadro de funcionários podem ser desenvolvidos com financiamento público, enquanto outros podem ser proporcionados pelo setor privado como parte de um acordo de licenças que permita o estabelecimento de empreendimentos turísticos (Ankomah e Crompton, 1990, observam tais acordos em vários países). Vários programas de treinamento são descritos por Inskeep (1991).

Os programas de desenvolvimento econômico, como o treinamento e o fornecimento de crédito rural, têm enfrentado uma série de obstáculos e muitos têm fracassado ou apenas têm sido parcialmente bem sucedidos. Algumas dificuldades incluem o modelo ou a implantação inadequados do projeto, habilidades limitadas dos habitantes e pouca experiência com o público, e conflitos acerca da distribuição de renda. Desenvolver programas que treinem com sucesso os habitantes, obtenham créditos e alcancem os objetivos relativos ao desen-

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 187 volvimento econômico são alguns dos desafios mais importantes que o ecoturismo enfrenta hoje.

Além disso, via de regra, as decisões sobre quais programas adotar precisarão ser priorizadas, levando-se em consideração a limitação de recursos humanos e financeiros. Será que a prioridade deveria ser dada ao fornecimento de treinamento para guias locais ou para o desenvolvimento de insumos agrícolas locais? É mais importante desenvolver um programa de upgrading (mercados mais rentáveis) e, assim, atrair turistas que possam gastar mais, mas que, em contrapartida, requerem um volume maior de mercadorias importadas, ou desenvolver um ecoturismo de mochileiros, que poderia gerar uma receita bruta menor, porém mais estritamente ligada à economia local, e que possivelmente causaria menores danos ecológicos ao parque?

Essas questões podem ser parcialmente respondidas pela análise de fatores multiplicadores, uma medida de como o turismo (ou qualquer indústria) está ligado aos outros setores da economia. Os multiplicadores quase sempre são mal interpretados e usados incorretamente (Eadington e Redman, 1991; Archer, 1984). E da maneira como são atualmente empregados, os multiplicadores são mais úteis na comparação de atividades do que na comparação de diferentes tipos de desenvolvimento do turismo, ou na identificação de oportunidades para aumentar os contatos com outros setores. Ademais, os dados necessários para o cálculo de multiplicadores quase nunca estão disponíveis ou são de precisão questionável.

Contudo, o conceito básico de multiplicador é útil, e informações de grande valia podem ser obtidas pesquisando-se os modelos de emprego e de compra dos próprios empreendimentos turísticos; ou seja, pela identificação de sua integração com a economia local (Milne, 1992; Borge et al., 1990). A análise das respostas ajuda os planejadores a determinar que tipo de desenvolvimento turístico, tal como o de mochileiros versus upgrading, melhor atinge os objetivos de rendimentos ou de geração de emprego. Além disso, esse conceito pode ser utilizado para identificar aqueles setores - o de insumos

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188 ecoturismo agrícolas, por exemplo - que podem ser desenvolvidos para aumentar a integração e, por conseguinte, aumentar a quantia de dinheiro retida pela economia local.

Quando não é possível uma análise completa de fatores multi-plicadores, informação similar pode ainda ser obtida mediante um exame menos rigoroso da forma como o dinheiro flui através da indústria do ecoturismo. Os líderes comunitários poderiam, formal ou informalmente, entrevistar os empresários do ramo turístico para identificar as vias de saída do dinheiro da economia local (em muitos casos, o escoamento será óbvio e as entrevistas, desnecessárias). Posteriormente, essa informação pode ser utilizada para priorizar programas que reduzirão esse escoamento, e assim melhorar os benefícios locais. Se as pesquisas com os empresários do turismo demonstram que a maioria dos guias é contratada na capital, mas a maior parte dos alimentos consumidos pelos turistas origina-se da área local, a prioridade será desenvolver programas para treinar os habitantes locais como guias.

Entretanto, se a maior parte dos alimentos é importada de outras regiões ou países, então deve-se decidir entre a alocação de fundos para treinamento de guias, ou para o desenvolvimento de produtos agrícolas para o mercado turístico. As pesquisas feitas com as empresas poderiam ser utilizadas para determinar qual opção geraria o maior número de empregos. Dependendo das prioridades, a decisão sobre qual projeto financiar poderia basear-se nas seguintes considerações:

� o custo de cada projeto e em que medida ele atingirá seu objetivo (Os produtos agrícolas serão realmente aceitos? Os guias serão treinados de forma adequada?); � o número de empregos que será criado; � a necessidade desses empregos (Os empregos de guias turísticos serão mais necessários do que os da agricultura?); � a estabilidade dos empregos (Os produtos agrícolas ou de artesanato poderão ser vendidos se o turismo diminuir?).

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 189 o aumento dos gastos do turista na economia local

O inverso do método de redução de dispersão dos gastos é o aumento dos gastos do turista. Estudos na América Latina e na Tailândia sugerem que receitas extras podem ser obtidas pelo desenvolvimento de infra-estrutura e de serviços nas atrações ecoturísticas ou em locais situados em suas proximidades (Boo, 1990; Dixon e Sherman, 1990). Eles poderiam incluir alojamentos, restaurantes ou lanchonetes, lojas de venda de souvenirs, centros de visitantes, atividades culturais, etc. A Figura 4-7 (uma extensão da Figura 4-3) inclui uma amostra de questões para pesquisas, que auxiliarão a identificar oportunidades para aumentar os gastos com turismo e reduzir sua dispersão. Essas pesquisas também podem incluir questões relativas aos padrões atuais de gastos, identificando, desse modo, o impacto atual direto sobre as comunidades locais (em geral, os turistas estarão mais capacitados a identificar seus gastos quando estiverem viajando por conta própria do que quando em pacotes de viagem pagos antecipadamente).

Um planejamento minucioso é particularmente importante para desenvolver as instalações adicionais. Pode ser que seja melhor construir a infra-estrutura fora do parque, reduzindo dessa forma os impactos ecológicos negativos e, ao mesmo tempo, aumentando as oportunidades para que os habitantes locais participem na economia do turismo. Contudo, a construção das instalações nos povoados pode aumentar o impacto social e cultural e privar o parque da capacidade de controlar os impactos ecológicos.

É preciso ter cautela para evitar o prejuízo indireto ao meio ambiente, à cultura ou à economia locais. O artesanato não deve basear-se na utilização da flora e da fauna, quando isso colocar em risco as espécies ou os costumes locais. Freqüentemente, os souvenirs feitos com penas de aves e corais são citados como exemplos de como a produção de peças artesanais pode causar severos prejuízos às reservas naturais.

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190 ecoturismo Figura 4-7. Amostra de Questões de Pesquisa para Identificar Oportuni-dades que Aumentem os Gastos Turísticos e Reduzam a Dispersão Se desenvolvêssemos instalações para hospedagem ou restaurantes, você as utilizaria? Certamente � Provavelmente � É improvável � Não � Que tipos de instalações você preferiria? Caras e de alta qualidade � De qualidade e preço médios � Simples e baratas � Você comprou souvenirs durante sua viagem? Em caso positivo, você poderia informar quanto eles custaram, aproximadamente? Se aumentássemos nossa variedade de souvenirs, você compraria mais? Em que tipos de souvenirs você está mais interessado? 1. Objetos de arte local, de que tipo? _________ 2. Livros e outros materiais informativos. 3. Camisetas e outras peças de vestuário. 4. Outros itens; favor relacionar: _________ Você provou algum prato que lhe pareceu ser típico desta região? Sim � Não � Se não, por quê? 1. Não me foi oferecido. 2. Fiquei preocupado com a qualidade da comida. 3. Não gostei do sabor da comida local. Se fôssemos desenvolver XX, você estaria interessado e disposto a pagar para participar dessa atividade? (XX seria uma atividade suplementar, como um centro de visitantes, um evento cultural, etc.)

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questões econômicas na gestão do ecoturismo 191 Durante todo o processo de planejamento, deve-se levar em

consideração tanto as tradições culturais e econômicas quanto os desejos e preferências dos turistas. Em alguns casos, por exemplo, as cooperativas de artífices serão apropriadas do ponto de vista cultural (e atraentes para os turistas), enquanto, em outros casos, serão mais adequados os vendedores independentes.

O turismo também impõe novas demandas sobre as economias locais, particularmente àquelas das áreas remotas. O consumo dos produtos locais pode ser um benefício importante do ecoturismo, mas essa demanda deve ser administrada cuidadosamente, de modo a não abalar a economia local e o meio ambiente. No Nepal, por exemplo, a demanda do turismo por lenha aumentou o custo da madeira para os nepaleses, além de provocar grande desmatamento. Sempre existem meios para reduzir esses impactos; atualmente, o Projeto da Unidade de Conservação de Annapurna (ACAP) exige que os trekkers utilizem querosene em vez de lenha.

conclusão

O ecoturismo tem atraído substancial atenção devido à sua capacidade de proporcionar benefícios econômicos para o desenvolvimento rural e para a conservação. Em muitas regiões, o ecoturismo já fez contribuições vitais nessas duas áreas. Contudo, essa atenção também revelou que ainda há muito a ser feito. Este capítulo apresentou e ilustrou várias estratégias para a gestão do ecoturismo, de modo que seus benefícios sejam mantidos e expandidos.

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5 uma janela para o mundo natural: o projeto de instalações ecoturísticas

David L. Andersen

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Este capítulo enfoca o projeto, desenvolvimento e funcionamento de instalações que incorporam os princípios gerais do planejamento sensível ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentado. As questões discutidas irão, em muitos casos, transcender problemas estritamente ligados à arquitetura e ao desenvolvimento. Isso é um reflexo da complexidade da experiência do ecoturismo e da necessidade de se envolver a conservação do meio ambiente e a cultura local. Para este autor, as instalações são "janelas para o mundo natural" e funcionam como veículos para o aprendizado e a compreensão. Embora seja apenas um componente do ecoturismo, o projeto das instalações pode reforçar e aumentar a satisfação do ecoturista e sua compreensão do local. Proporcionar um alojamento confortável, com baixo impacto ecológico, é a chave para o sucesso de instalações ecoturísticas, porém estas deveriam também servir como janelas para o mundo natural e como meios para conhecer e compreender a natureza.

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200 ecoturismo à procura de definição e padrões éticos para as instalações

Muito embora o entorno das últimas áreas selvagens esteja sendo

vítima de madeireiros e, freqüentemente, de técnicas agrícolas impróprias, um número cada vez maior de instalações ecoturísticas, estações de campo e centros de aprendizagem sobre o meio ambiente está procurando oferecer oportunidades para se apreciar essas raras áreas inexploradas. Hoje, o ecoturismo representa uma parcela pequena, porém crescente, no mercado do turismo global. Informações detalhadas a respeito de instalações específicas podem ser encontradas no livro Rainforest: A Guide to Research and Tourist Facilities (Castner, 1990). Embora a obra constitua uma ampla revisão das instalações desenvolvidas em florestas tropicais na época de sua publicação, o recente e rápido crescimento das instalações ecoturísticas tem ultrapassado os esforços de catalogá-las.

O crescimento desse nicho de mercado tem sido limitado pela carência geral de infra-estrutura de suporte para o turismo. Para dar continuidade ao crescimento do ecoturismo como indústria, é importante que os governos e a iniciativa privada reúnam recursos técnicos, culturais e financeiros a fim de colocar em prática um programa que priorize o meio ambiente. Os governos e as comunidades locais precisam ter sensibilidade, clareza e vontade política para encarar o ecoturismo como uma oportunidade de crescimento limitado, a fim de impedir um desenvolvimento descontrolado que destrua o meio ambiente. O desafio que aqui se propõe é o de construir boas insta-lações, tendo sempre presente a compreensão de que o turismo não deve ser a única indústria da qual uma comunidade dependa para seu sustento econômico. Embora o ecoturismo possa ser visto por alguns como uma solução para as dificuldades econômicas de determinadas regiões, ele deve fazer parte de um plano econômico balanceado, de longo prazo, envolvendo outras indústrias sustentáveis.

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uma janela para o mundo natural 201 A preocupação com as instalações ultrapassa o âmbito do ecoturismo e

pode ser percebida em outros setores da indústria do turismo. Importantes redes hoteleiras, como a Marriott Corporation, estão tentando oferecer apartamentos "que não agridam o meio ambiente", isto é, estão utilizando materiais e técnicas de construção que resultam em baixo impacto ambiental. A Choice Hotels está equipando os quartos com recipientes para a coleta de materiais recicláveis e encorajando seus hóspedes à conservação. Essas atividades que respeitam a natureza de modo algum se equiparam ao ecoturismo, mas ilustram a influência que o conceito de instalação ecoturística pode ter sobre os padrões vigentes de hotelaria.

Alguns países, como Belize, Costa Rica, Equador e Venezuela, talvez levem uma vantagem em relação ao desenvolvimento do ecoturismo, porque dispõem de programas governamentais e de infra-estrutura. Ainda que muitos outros países não possam contar com isso, eles também têm a oportunidade de desenvolver seu próprio ecoturismo de maneira equilibrada, aprendendo com a experiência de indústrias ecoturísticas mais avançadas. A Costa Rica, por exemplo, ao mesmo tempo que está passando por uma experiência positiva de ecoturismo, está lutando a fim de resolver o problema de como preparar adequadamente o meio ambiente para lidar com a súbita popularização da vocação turística do país. De modo semelhante, Papua Nova Guiné tem um grande potencial para o ecoturismo. Mas será que a cultura dos últimos prováveis fabricantes de machados de pedra do mundo poderá sobreviver ao contato cada vez maior com estrangeiros? Qual será o efeito da chegada de barcos lotados de turistas sobre as tradições familiares e as práticas artesanais da população nativa das ilhas Trobriand, em Papua Nova Guiné? Obviamente, essas questões vão além da indústria do turismo, porém o responsável pelo projeto de instalações para o ecoturismo precisa estar ciente dos efeitos culturais e econômicos sobre a população nativa.

A sensibilidade do projeto de instalações construídas dentro dos frágeis limites da natureza deve revelar um forte elo com os princípios

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202 ecoturismo de conservação, implícitos no ecoturismo e nos empreendimentos científicos e educacionais. A criação de códigos de ética ambiental e de critérios gerais para projetos em ecoturismo são passos positivos para garantir que essa sensibilidade esteja, de fato, presente. Há um grande interesse na conservação daquilo que é natural, e as instalações ecoturísticas podem contribuir muito para criar condições de que os objetivos de conservação sejam alcançados. O empreendedor do ecoturismo, no entanto, é apenas um ator neste cenário da vida real. aspectos financeiros na implantação de instalações ecoturísticas

Pode ser que algumas comunidades e indivíduos garantam sua sobrevivência graças à meta do ecoturismo de salvar nosso planeta. Ainda hoje, infelizmente, muitas das instalações supostamente voltadas para o ecoturismo são grosseiras intromissões na paisagem. Tem sido fácil justificar o projeto (ou a falta dele) e a construção dessas instalações, com base no limite de verbas das organizações sem fins lucrativos que freqüentemente estão envolvidas no desenvolvimento de instalações educacionais e científicas. De modo similar, as entidades que visam a lucros com o ecoturismo, via de regra também dispõem de recursos financeiros limitados. Na verdade, as restrições no orçamento raramente permitem a participação de projetistas competentes.

O tamanho limitado de um empreendimento ecoturístico típico exclui a participação de grandes corporações hoteleiras, colocando as tarefas de projeto e construção nas mãos de pequenos empreendedores. Recursos financeiros escassos têm gerado planos e projetos mal-elaborados, mas também têm estimulado uma grande variedade de propostas de projeto. O característico enfoque "prático e simples" na gestão das instalações para o ecoturismo é talvez a melhor prova de que as construções podem adaptar-se às mudanças do ambiente natural para o qual elas oferecem acesso. Por iniciativa própria, esses empreendedores criaram soluções arquitetônicas simples e interessantes.

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uma janela para o mundo natural 203 Há, no entanto, um interesse crescente dos grandes hoteleiros pelo

ecoturismo. A economia de locais muito freqüentados parece estar direcionando o mercado do ecoturismo para grandes empreendimentos. Os tradicionais hotéis de primeira classe precisam ter, no mínimo, cinqüenta apartamentos, para compensar os gastos com funcionários e infra-estrutura. Já um pequeno proprietário pode sobreviver economicamente com doze a vinte apartamentos (ou menos), dependendo da economia local.* O tamanho máximo de uma instalação não deve exceder a capacidade de suporte do meio ambiente (National Park Service, 1992). O desafio que se propõe é o de encontrar uma maneira de os grandes operadores turísticos participarem desses projetos. Contudo, a iniciativa da Marriott Corporation e da Choice Hotels de desenvolver alojamentos que respeitem o meio ambiente, na indústria do turismo de massa, demonstra que a preocupação ambiental pode ser uma decisão acertada em termos empresariais.

Embora o tamanho reduzido das instalações ecoturísticas geralmente impeça a participação de grandes corporações hoteleiras, pequenos operadores também podem demonstrar preocupações de ordem ambiental. Um enfoque possível seria promover alianças estratégicas entre grandes hotéis urbanos e praianos e instalações ecoturísticas de pequeno porte. Essa parceria poderia beneficiar ambos: o operador do ecoturismo teria um fluxo constante de hóspedes, e os grandes hotéis poderiam ter as estadias de seus hóspedes prolongadas ou repetidas. Tais estratégias inovadoras podem ser decisivas para garantir que o ecoturismo não provoque um desgaste excessivo no meio que lhe serve como principal atração.**

* Nas instalações ecoturísticas brasileiras, a qualificação se dá, na maioria das vezes, por leitos, para pousadas simples. À medida que for promovido o upgrading das instalações, menor quantidade de leitos por apartamento com maior diária média permitirá melhor sustentabilidade ecológica e econômica. (N. do R.T.)

** No Brasil, tal parceria foi realizada pelos 26 hotéis de selva nas cercanias de Manaus, no Amazonas, em 1994, como o Tropical Hotel e o Lago Salvador Lodge. (N. do R.T.)

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204 ecoturismo As principais agências financiadoras, como o Banco Mundial ou o

Fundo Internacional de Investimento Ambiental dos Estados Unidos (Overseas Private Investment Corporation, OPIC), cada vez mais estão destinando verbas para infra-estruturas ecoturísticas. Como essas agências geralmente procuram grandes projetos, é preciso criar estratégias, como a da parceria, que combinem grandes oportunidades de financiamento com um impacto ecológico limitado.

aspectos organizacionais

Quando se considera uma determinada área adequada para o desenvolvimento de instalações ecoturísticas, uma série de questões conceituais, de ordem geral, precisa ser levantada.

� A área é especial o bastante para exigir proteção governamental? � A infra-estrutura é suficiente para dar suporte ao ecoturismo? � Existem estudos feitos sobre a fragilidade ecológica da área? � A implantação das instalações atende a atual demanda ou visa a uma futura demanda de mercado? É possível planejar um desenvolvimento em etapas? � As instalações oferecem uma variedade de opções de alojamento na região? A variedade propicia ao turista a oportunidade de prolongar sua estadia no local e estimula seu retorno? A existência de opções quanto ao tipo de alojamento também permitirá que a área seja visitada por uma clientela mais diversificada? � Como a instalação pode expressar as características particulares de uma área e de sua população? Encoraje e promova a participação e a colaboração da população nativa e dos operadores turísticos locais. � Como a região pode se beneficiar dos canais comuns de propaganda no que se refere aos empreendimentos da região?

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uma janela para o mundo natural 205

� Quais são as expectativas do visitante em relação aos aloja mentos na região? � Após verificar as condições do local de construção, o empreendedor

deve tomar as seguintes providências.

� Obter uma planta dos limites e demarcar o perímetro. � Obter uma descrição topográfica onde constem os intervalos das curvas de nível, para um estudo detalhado. � Localizar aspectos significativos do local, árvores, pântanos, riachos, construções existentes (se houver alguma), sítios arqueológicos, etc. � Consultar fotos aéreas do local para confirmar as informações obtidas. � Identificar as marcas de enchentes em estações chuvosas. � Averiguar os requisitos necessários para a aprovação estipula dos pelos órgãos locais e nacionais. � Identificar fontes sustentáveis de energia no local. � Identificar a classificação de zonas sísmicas.* � Avaliar as condições do solo e sua capacidade de suportar edificações. � Observar como a prevalência dos ventos e os fatores climáticos afetam o local durante todas as estações do ano. � Examinar o mapa da rede hidrográfica do local, observando se há atividades nas propriedades vizinhas que possam causar impactos no sistema de drenagem e na qualidade da água. � Verificar quais são os usos atuais e futuros das propriedades adjacentes. � Pesquisar a história do local para saber se houve ocupação prévia pelo homem. * Devido às características geológicas do Brasil, tal preocupação não é

significativa. (N. do R.T.)

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206 ecoturismo � Estudar quaisquer sítios arqueológicos significativos existentes na propriedade. � Estudar as tecnologias locais de construção. � Avaliar a disponibilidade de trabalhadores, qualificados ou não. � Identificar fontes de materiais de construção e métodos de transporte ao local, para minimizar o uso de materiais importados sempre que possível. procurando inspiração na natureza

Pode-se dizer que o que falta em muitas instalações ecoturísticas é uma certa dose de fantasia, aventura e descoberta. Embora grande parte dos visitantes seja atraída pela beleza e singularidade do ambiente natural, muitos turistas têm a expectativa de que os alojamentos vão lhes proporcionar um padrão semelhante ao dos centros urbanos. Não sou favorável à criação de um clima de parque de diversões ou à construção de suítes excessivamente luxuosas, mas é importante levar em consideração os requisitos indispensáveis a um abrigo básico. O alojamento deve ter um projeto descontraído e acolhedor, que corresponda às expectativas do turista, que viajou para ficar imerso em um cenário natural e selvagem mas quer gozar de algumas regalias no final do dia.

As expectativas dos ecoturistas não podem ser facilmente identificadas ou quantificadas. Trata-se de um mercado diversificado, que envolve uma série de motivações e necessidades. Enquanto alguns ecoturistas ficam contentes em dormir em uma barraca de acampamento, outros preferem (e pagam por) quartos fechados com banheiros privativos e demais comodidades. As instalações e a infra-estrutura precisam adaptar-se às necessidades atuais e futuras.

A natureza é, sem dúvida, a fonte de inspiração para o projeto arquitetônico de instalações ecoturísticas (ver Figura 5-1). Infeliz-

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uma janela para o mundo natural 207 mente, muitas instalações recentemente construídas são inspiradas nos projetos das grandes cidades, onde o mercado imobiliário e os materiais de construção industrializados ditam atmosfera, formas e cores estranhas ao cenário natural das instalações ecoturísticas. Muitas não estão em sintonia com a natureza e as técnicas e materiais de construção dos comerciantes da região, além de serem consideradas comuns e sem graça pelos visitantes.

A exemplo do falecido arquiteto Frank Lloyd Wright, que idealizou uma arquitetura orgânica para o desenvolvimento de estruturas básicas (Wright, 1954), os projetistas e empreendedores precisam assumir novas perspectivas e criar estilos arquitetônicos orgânicos, que pareçam brotar da natureza única de cada local, de forma tão integrada e espontânea como as flores que desabrocham nos campos. A arquitetura precisa ir além dos requisitos indispensáveis a um abrigo, e assumir-se como parte do cenário natural e como expressão das necessidades e desejos dos hóspedes.

O ecoturismo representa uma ruptura com a tradicional fórmula turística: sol, mar e areia. Ele convida à aventura, oferecendo oportunidades de aprendizado e de conservação, incitando uma experiência espiritual com a natureza. Para atingir plenamente esses objetivos, as instalações também precisam afastar-se da fórmula tradicional.

A melhor fonte de inspiração para o projeto de instalações ecoturísticas é o próprio local. As formas das plantas, das árvores e as formações geológicas em si são um rico acervo de estruturas arquitetônicas. Essas formas foram forjadas pela natureza ao longo de milhões de anos e representam modelos de eficiência, desempenho e beleza.

Para aproximar-se da natureza e começar a compreender seus segredos, é preciso abandonar as formas, as texturas e o aspecto dos produtos industrializados, e ignorar as flutuações do mercado imobiliário. O projetista de uma instalação ecoturística precisa sentir a terra e harmonizar-se com ela à medida que cria essa arquitetura orgânica. A proposta arquitetônica deve brotar naturalmente do solo e projetar-se suavemente pela paisagem (Good, 1990). Por exemplo, o projetista

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uma janela para o mundo natural 209 precisa observar o comportamento dos animais peculiares à área em questão, para que a disposição das construções não interrompa seus padrões de comportamento e de hábitat. O projetista e o empreendedor precisam passar algum tempo juntos no local, reunindo elementos para ampliar sua compreensão sobre a área e sua percepção do contexto natural ao qual o empreendimento deverá se integrar. O livro Design with Nature (McHarg, 1992) enfatiza que os projetistas precisam ter acesso a diversas alternativas para poder fazer escolhas responsáveis em benefício da natureza.

Não é possível prever, sem esse processo, as formas concretas que podem ser produzidas a partir de um enfoque de projeto orgânico. Elas são um reflexo das singularidades do local, do programa de desenvolvimento e da imaginação do projetista. É possível afirmar, no entanto, que a singularidade de um local pode provocar mudanças no plano de desenvolvimento, que, em última análise, irão contribuir para o sucesso da instalação ecoturística. O projeto final de uma instalação adequada ao local tornará mais rica a experiência do turista e lhe permitirá perceber que a visita é algo fora do usual, uma oportunidade preciosa de aprender a valorizar e sentir o mundo.

trabalhando com recursos locais: abordando a construção com um enfoque integrador

O ideal é que a instalação ecoturística seja criada a partir do diálogo entre a comunidade local e o empreendedor. Se o empreendedor é de fora da região do projeto, é fundamental não só envolver os moradores locais no processo de planejamento, mas também no quadro de funcionários do empreendimento já implantado. Do ponto de vista do empreendedor, a participação da comunidade local é desejável por três motivos: o conhecimento cultural e ecológico da população local pode contribuir para o projeto; é importante fomentar a participação e os benefícios locais para assegurar apoio, a longo prazo,

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210 ecoturismo para o ecoturismo na região; e, finalmente, a participação dos moradores locais pode reduzir impactos culturais negativos.

Também é importante trabalhar o máximo possível dentro da estrutura da comunidade/cultura, reconhecendo os valores da população local, bem como o tipo e a disponibilidade de recursos humanos na região. Para desenvolver um bom trabalho com a comunidade, o empreendedor precisa investir algum tempo a fim de saber, por exemplo, onde vivem as famílias mais tradicionais, ou de que forma os hábitos da comunidade podem afetar o desempenho da mão-de-obra local, e ainda informar-se sobre quaisquer outros fatores desconhecidos que afetem o desenvolvimento do projeto, do ponto de vista humano. Além disso, quando for necessário importar mão-de-obra, é importante, no processo de planejamento com a comunidade local, preparar-se para tal impacto, providenciando acomodações temporárias para os trabalhadores e suas famílias.

Em algumas áreas afastadas, o impacto da entrada de dinheiro estrangeiro pode ter um efeito negativo na rotina dos trabalhadores da construção civil ou dos técnicos operacionais. Na medida do possível, é preciso preparar a população local para o novo empreendimento que será implantado. Como o Secretário de Turismo de Belize, Glenn Godfrey, salientou, no Primeiro Congresso Mundial sobre Turismo e Meio Ambiente, o ecoturismo deve "permitir que as pessoas sejam mais, mas não necessariamente que tenham mais".

O turismo é uma indústria muito sensível, suscetível às percepções do turista. À segurança é um aspecto muito importante para viajantes estrangeiros e, por essa razão, o planejamento da instalação deve garantir a segurança pessoal dos visitantes e de seus pertences. Além disso, a população local de áreas atingidas pelo desenvolvimento do turismo precisa ser instruída a respeito da importância de evitar pequenos furtos e outros comportamentos agressivos. Isso pode requerer um esforço educacional para o qual, muitas vezes, o empreendedor não está preparado. Contudo, reduzir os inconvenientes causados por

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uma janela para o mundo natural 211 infrações ou por experiências interpessoais negativas pode contribuir muito para aumentar a atratividade da área a longo prazo.

Para o ecoturista estrangeiro, visitar uma instalação ecoturística representa uma experiência de transposição cultural. O projeto da instalação deve levar em conta a importância de fornecer um cenário que propicie essa experiência, embora não deva exceder-se na tentativa de proporcionar um nível de conforto que contraste com o estilo de vida local. Projetos que acentuem as diferenças de estilo de vida e de poder adquisitivo dos turistas podem provocar um ligeiro ressentimento na população local.

Qualquer mudança em uma área, como a construção de um empreendimento ecoturístico, terá um impacto sobre a região. Não é intenção do autor deste capítulo defender uma "taxidermia cultural". As culturas mudam e evoluem naturalmente. No entanto, é necessário que seja feito todo o possível para reduzir o choque de uma mudança súbita na cultura local.

critérios para o desenvolvimento de instalações ecoturísticas

Os seguintes critérios gerais são sugeridos como linha mestra para a elaboração de modelos mais detalhados, voltados para aspectos locais específicos e para as características ecológicas de um dado local. Com algumas exceções, os critérios e princípios que eles encerram talvez possam ser aplicados a outros tipos de desenvolvimento. Tais critérios constituem um guia geral e não devem ser considerados como uma lista completa ou como substitutos aos serviços de um profissional da área. questões relacionadas ao planejamento local

� Situe os prédios e as construções de modo a evitar o corte de árvores importantes e a minimizar a descontinuidade visual.

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212 ecoturismo

� Sempre que possível, utilize árvores cuja queda foi natural (como, por exemplo, árvores derrubadas em decorrência de vendavais ou outros fenômenos naturais).

� O sistema de trilhas deve respeitar os padrões de deslocamento e os hábitats da vida selvagem.

� Leve em consideração o controle da erosão na disposição de cada construção ou trilha.

� Desvie a água para fora das trilhas e estradas antes que ela ganhe fluxo e velocidade suficientes para criar problemas significativos de erosão.

� Praias e margens de rios não devem sofrer desmatamento excessivo. � Nas trilhas, reduza os pontos de travessia de rios e riachos. � Mantenha as áreas de vegetação adjacentes a lagos, lagoas, riachos

perenes e intermitentes como faixas-filtro para reduzir o escoamento de sedimentos e entulho.

� As edificações devem ser espaçadas a fim de permitir o deslo camento dos animais e o crescimento da floresta.

� O uso de automóveis e outros veículos deve limitar-se ao mínimo. � Providencie painéis informativos no início das trilhas, que

estabeleçam claramente as regras de comportamento e orientem o visitante na apreciação da natureza. Fixe regras adicionais nos quartos dos hóspedes.

� Instale placas de identificação junto às árvores e plantas do entorno imediato aos alojamentos, para que os visitantes se familiarizem com as espécies que possam encontrar nas áreas preservadas/protegidas, existentes nas imediações.

� Sempre que possível, empregue técnicas de baixo impacto nos locais das instalações, como passarelas de tábuas no lugar de trilhas, sejam estas pavimentadas ou não (ver Figura 5-2).

� Pastos, currais e cocheiras para cavalos e outros animais de pastejo devem estar localizados de modo a não poluir os mananciais ou outros recursos hídricos.

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uma janela para o mundo natural 213

� Examine cuidadosamente quaisquer fontes potenciais de som ou mau cheiro relacionadas às instalações, que possam ser perturbadoras do ambiente ou desagradáveis para o visitante. � O projeto deve considerar as variações sazonais, como as estações chuvosas e ângulos de inclinação solar. � A iluminação do local deve ser limitada e controlada a fim de evitar interferências nos ritmos circadianos dos animais. �

Um cuidado especial deve ser tomado no planejamento de trilhas que atravessem áreas intocadas. É aconselhável contratar um naturalista para auxiliar na disposição do sistema de trilhas de modo a reduzir a perturbação sobre os biossistemas animal e vegetal. Atenção especial deve ser dada também a animais que utilizam árvores como trilhas aéreas ou hábitat. Deve-se considerar cuidadosamente a disposição das estradas de acesso a um determinado local. A circulação de veículos dentro de áreas protegidas deve ser limitada e, se possível, completamente evitada. Um engenheiro civil também deve ser consultado em projetos de trilhas onde o controle da erosão se faça necessário. Vias de acesso para deficientes físicos devem ser providenciadas sempre que possível.

questões relacionadas ao projeto de edificações � No projeto das edificações, utilize técnicas de construção, materiais e conceitos culturais do local, sempre que estes forem compatíveis com o meio ambiente. � Construa edificações cujo estilo esteja em harmonia com o ambiente natural. Selecione os materiais de construção com base em critérios ambientais de longo prazo. � A preservação do ecossistema deve ter prioridade sobre projetos imponentes, que queiram impressionar o visitante.

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� Providencie a colocação de um limpador para a sola das botas, de chuveiros externos e similares, para manter condições adequadas de limpeza e garantir o bom funcionamento da instalação. � Considere a utilização de dossel para cobrir trilhas de uso intenso entre edificações, a fim de reduzir a erosão e proporcionar abrigo durante a estação chuvosa. � Desenvolva uma arquitetura coerente com as filosofias ambientais e/ou propósitos científicos. Evite contradições! � Providencie locais adequados para equipamentos de viagem, tais como mochilas, botas e outros acessórios para acampamento. � Sempre que possível, utilize soluções de baixa tecnologia. � Afixe um código de conduta para os visitantes e para os funcionários, que instrua sobre o comportamento em relação ao meio ambiente. � Coloque à disposição dos ecoturistas, no local, materiais de referência para estudos sobre o meio ambiente. � A mobília e outros acessórios de interiores devem ser fabrica dos com os recursos locais, exceto quando houver necessidade de material específico que não possa ser fornecido no local. � As instalações devem aproveitar matéria-prima local e recorrer ao trabalho de artesãos e artistas da região sempre que possível. � Evite o uso de produtos que consumam grande quantidade de energia e envolvam materiais perigosos. � As práticas de construção devem respeitar os padrões culturais e morais do local. A participação dos moradores deve ser incentivada como forma de obter informações para o projetista e fomentar um senso de propriedade e aceitação por parte dos residentes (ver Figura 5-3). � Construa sapatas manualmente, sempre que possível. � Uma consideração especial deve ser dada, no projeto, ao controle de insetos, répteis e roedores. Um projeto bem-elaborado

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216 ecoturismo deve procurar reduzir as oportunidades de invasão, em lugar de prever a eliminação dos animais nocivos. � As instalações para deficientes físicos devem ser providenciadas onde for viável. É preciso ter presente, contudo, que os terrenos irregulares de muitos locais de uso científico ou ecoturístico impede o acesso dessas pessoas. Instalações com preocupações educativas devem fazer do acesso igualitário aos deficientes uma prioridade. � Planeje tendo em vista futuras ampliações da obra, a fim de evitar possíveis demolições e desperdícios. � O planejamento da obra deve refletir preocupações ambientais no que se refere ao uso da madeira e de outros materiais de construção. Para maiores detalhes, consulte a obra First Cut: A Primer on Tropical Wood Use and Conservation, elaborado pela Rainforest Alliance. � Possibilidades de abalos sísmicos também devem ser levadas em conta no projeto. recursos energéticos e serviços de infra-estrutura � Os elementos da paisagem devem ser posicionados de forma a propiciar a ventilação natural das instalações e a evitar o consumo desnecessário de energia. � Considere o uso da energia solar, passivo ou ativo, ou de fontes de energia eólica. � Os encanamentos de água devem ser projetados com o mínimo de movimentação de terra, adjacentes às trilhas, quando possível. � As técnicas de geração de energia hidrelétrica devem ser utilizadas com o mínimo de distúrbio para o meio ambiente. � O uso de ar condicionado deve limitar-se a áreas onde o controle de temperatura é necessário, como nas salas de computadores dos setores de pesquisa. Para propiciar bem-estar, o

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218 ecoturismo

projeto deve utilizar técnicas de ventilação natural sempre que possível. questões ligadas ao tratamento de resíduos � Providencie, nas cabeceiras das trilhas, sanitários e recipientes para coleta de lixo ambientalmente adequados, para os hóspedes ou visitantes. � A localização de pastagens e potreiros para cavalos e outros animais de pastejo deve ser tal que não polua as fontes de água e outros recursos hídricos. � Providencie métodos para a remoção do lixo que não prejudiquem o meio ambiente. � Providencie uma armazenagem de lixo que seja segura em relação a insetos e outros animais. � Providencie meios de reciclagem. � Utilize tecnologias apropriadas para o tratamento de resíduos orgânicos tais como compostagem, fossas sépticas ou tanques de biogás. � Procure métodos de reciclar a água para usos não-potáveis e de tratar as águas contaminadas antes que elas sejam lançadas novamente ao meio natural. uma avaliação das instalações ecoturísticas: o "relatório verde"

Embora o estabelecimento de códigos de ética ambiental seja importante para o desenvolvimento adequado de projetos junto à natureza, não é necessário tornar-se escravo desses critérios. Uma postura radical tende a incompatibilizar desenvolvimento com preocupações ambientais. Uma solução mais eficaz talvez seja criar um sistema de avaliação de desempenho, que constitua um instrumento

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uma janela para o mundo natural 219 de controle sobre os empreendimentos turísticos, visando a informar os agentes de viagem e os visitantes a respeito de alguma inadequação do projeto em relação ao meio ambiente. A pressão do mercado iria, então, fomentar uma postura mais responsável em relação ao empreendimento turístico.

Ao criar um "relatório verde" para avaliar as instalações ecoturísticas, o propósito do autor não é o de julgar o que é adequado ou inadequado para os operadores de ecoturismo. A intenção é a de aumentar o nível de conscientização tanto do operador quanto do visitante. Os seguintes critérios referem-se, principalmente, às instalações físicas e ao modo de avaliar seu sucesso a partir da perspectiva do projeto.

� As dimensões do projeto são apropriadas para a comunidade local e compatíveis com a capacidade de suporte do meio ambiente? � Os membros da comunidade local participaram ativamente do planejamento e construção das instalações? � Os membros da comunidade local participam das atividades rotineiras do empreendimento? � As instalações serão desenvolvidas em etapas? Em caso positivo, as fases subseqüentes estão programadas de modo a permitir uma perturbação mínima ao meio e às instalações já existentes? � As estradas e trilhas estão dispostas de modo a minimizar os efeitos sobre o meio ambiente? � O projeto das instalações emprega formas tradicionais de construção e utiliza matérias-primas existentes nas imediações? � O projeto da construção estimula o visitante a contemplar o mundo natural sob uma nova ótica? � As instalações revelam alguma contradição em relação à meta de conservação do ecoturismo?

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220 ecoturismo � As instalações apresentam um projeto criativo ou algum traço especial que evidencie as características singulares da região e de seus arredores? � Espaços como a biblioteca, laboratório ou outras oficinas experimentais estão preparados para instruir adequadamente os visitantes? � As fontes de energia são sustentáveis e compatíveis com o meio ambiente? � Os materiais de construção são isentos de agentes tóxicos ou não-biodegradáveis? � São empregadas tecnologias apropriadas para o tratamento de resíduos orgânicos e de outros resíduos? É feita reciclagem? � As edificações e as áreas pavimentadas estão posicionadas de modo a evitar erosão? � A mobília e outros objetos dos alojamentos são compatíveis com o estilo arquitetônico e os parâmetros ambientais? � Há acomodações apropriadas para pessoas idosas e deficientes físicos? o futuro das instalações ecoturísticas

Do rio Ndoki, na floresta tropical da África, até as ilhas Tro-briand, em Papua Nova Guiné, os últimos redutos da natureza estão claramente perdendo terreno para o progresso humano. A conservação desses últimos frágeis fragmentos do Éden envolve um conjunto complexo de questões. O advento do ecoturismo talvez contribua para a solução, mas ele deve ser entendido apenas como parte de um panorama ambiental e econômico mais amplo. É dever dos empreendedores do ecoturismo serem cuidadosos ao projetar e construir as instalações, pois essa é sua oportunidade de demonstrar seu verdadeiro interesse pelo meio ambiente e de oferecer um exemplo para os turistas.

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uma janela para o mundo natural 221 Quando se observa o crescimento do ecoturismo nos últimos anos,

torna-se evidente que é preciso estabelecer limites para essa expansão. Para que o ecoturismo possa, de fato, contribuir para a qualidade ambiental, ele deve permanecer como um nicho pequeno dentro da grande indústria turística global. Ele precisa continuar a ter um enfoque integrador, firmemente baseado nas economias locais. Ele não pode ser uma mera fonte de lucro; precisa ser uma fonte de orgulho e de participação da comunidade local.

A própria instalação ecoturística deve ser a evidência visual de um desenvolvimento sustentado bem-planejado. Ela é o retrato fiel de nossa preocupação e de nossa compreensão do meio ambiente. Cada empreendimento será tão único quanto o meio natural no qual está inserido. Na verdade, ele deve ser uma extensão criativa do mundo natural e servir como uma janela que integre o visitante à natureza.

Em alguns países, o desenvolvimento próximo às áreas protegidas está, literalmente, sufocando a atmosfera natural, ela que é origem e razão desse desenvolvimento. Nos Estados Unidos, isso é bastante evidente em alguns parques nacionais mais populares. Essa tendência está se repetindo nos países em desenvolvimento. Um exemplo é o Parque Nacional Manuel Antônio, na Costa Rica: a construção do hotel e de outras instalações turísticas ao redor do parque provocou alterações no comportamento dos animais e, em alguns casos, eliminou completamente determinadas espécies.

Para que o ecoturismo seja um sucesso, os empresários e governos locais não devem considerar apenas as instalações isoladamente - não importa quão bem-projetadas ou planejadas elas possam ser. A adequação das instalações deve ser julgada dentro do contexto de um planejamento global para a área. Tal planejamento deve ser resultado da conciliação entre os interesses dos cidadãos e do governo que os representa. Ele precisa incluir, também, a contribuição da comunidade científica, que, com seu conhecimento especializado, pode dirigir a atenção para os aspectos ambientais mais críticos e para as implicações do desenvolvimento a longo prazo. É fundamental que a sensi-

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222 ecoturismo bilidade da região para aceitar a presença humana funcione como diretriz para o desenvolvimento (Leccese, 1992). O zoneamento de áreas para usos limitados no entorno de parques, matas ciliares e outras áreas ambientalmente frágeis, propiciará uma melhor adequação do projeto. Talvez seja necessário, também, estabelecer limites rígidos na implantação das instalações, a fim de evitar a especulação imobiliária das áreas naturais e o excesso de edificações.

Em função das mudanças nos padrões demográficos dos países desenvolvidos, a tendência é a de que os turistas sejam mais idosos nas próximas décadas. Por isso, sempre que possível, os empreendimentos ecoturísticos devem ser adaptados de modo a propiciar uma experiência agradável aos turistas idosos, bem como aos portadores de alguma deficiência física.

A arquitetura do ecoturismo deve ser encarada também como um veículo educativo, que amplie a consciência e a sensibilidade do ecoturista, cientista e estudante. Pesquisas feitas com turistas mostraram que a educação é um dos elementos mais importantes da experiência com o ecoturismo, embora ela seja, ainda, uma demanda que não é suprida de modo satisfatório. Por essa razão, a ênfase em um projeto inspirado no mundo natural visa não só a fornecer educação, como também a propiciar comodidade em um ambiente freqüentemente considerado hostil para os seres humanos. A criação desse tipo de ambiente educacional participativo irá enriquecer a experiência do visitante e o ensinará a apreciar o mundo natural.

Sempre que possível, os proprietários e os implementadores de instalações inspiradas no ambiente natural devem considerar os usos potenciais da instalação, além daqueles originariamente previstos. Providenciar espaços para usos múltiplos, por exemplo, pode abrir uma variedade de opções para os operadores de ecoturismo e para atividades educativas. A agricultura experimental, em pequena escala, pode ilustrar métodos de cultivo que estejam em harmonia com o meio ambiente.*

* Em alguns hotéis ecológicos modernos, elementos de infra-estrutura, como instalações de

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uma janela para o mundo natural 223 conclusão

Se o meio ambiente for visto como uma imensa biblioteca de recursos, então a instalação ecoturística poderá ser encarada como um inigualável laboratório para a aquisição do conhecimento que o eco-turista busca. A instalação ecoturística, quando devidamente projetada, pode tornar-se a janela que propicia o despertar do homem para o mundo.

A Conferência Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 (ECO-92), realizada no Rio de Janeiro, despertou a consciência global de que o mundo está interligado em sua busca pela sobrevivência. A indústria do turismo, mediante um projeto sensível de instalações ecoturísticas, pode dar uma contribuição positiva para a conservação e o intercâmbio entre culturas. Prover o ecoturista com uma experiência estimulante e acomodações confortáveis, de baixo impacto ecológico, pode ser uma meta realizável para o operador do ecoturismo. Os beneficiários não são apenas o ecoturista e o operador da instalação ecoturística, mas também a população local e o nosso planeta como um todo. A coragem e a imaginação do empreendedor de instalações ecoturísticas podem tornar-se o alicerce de uma nova consciência. A próxima geração de instalações para o ecoturismo abrirá uma nova janela para o nosso mundo natural. referências bibliográficas* Castner, J. L. 1990. Rainforest: A Guide to Research and Tourist Facilities.

Gainesville, Fla.: Feline Press.

tratamento de efluentes, captadores de energia eólica e solar ou viveiros de mudas, se transformam em atrativos turísticos em si mesmos. (N. do R.T.)

* Publicação recente, Guiding Principies of Sustainable Design, do National Park Service, 1993, Denver, Colorado, US Government Printing Office, é consulta obrigatória para os interessados. (N. do R.T.)

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224 ecoturismo Good, A. 1990. Parks and Recreation Structures (reimpressão da edição de

1938). Boulder, Colo.: Graybooks. Leccese, M. 1992. "Can Sight-seeing Save the Planet?" Landscape

Architecture, August, vol. 82, n° 8, pp. 53-56. McHarg, I. 1992. Design with Nature (reedição, originalmente publicado em

1969). New York : John Wiley & Sons. National Park Service. 1992. Sustainable Design: A Collaborative National

Park Service Initiative. Denver, Colo.: US Government Printing Office.

Wright, F.L. 1954. The Natural House. New York: Horizon Press. agradecimentos

Uma palavra de agradecimento a John e Karen Lewis, do Lapa Rios Resort, na Península de Osa, Costa Rica. Como nossos clientes, foram seus sonhos que inicialmente inspiraram nossas buscas em projetos de ecoturismo. Agradeço também a Gail, minha esposa e companheira de trabalho, que me encorajou a buscar possibilidades mais amplas para os projetos de ecoturismo.

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6 etapas básicas para incentivar a participação local em projetos de turismo de natureza

Katrina Brandon

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Aqueles que o praticam afirmam que o ecoturismo "é uma forma de ecodesenvolvimento que representa um meio prático e eficaz de promover o crescimento socioeconômico em todos os países..." (Ceballos-Lascuráin, 1991). Contudo, mesmo os adeptos do ecoturismo concordam que tal afirmação pertence mais à retórica do que aos fatos. Em muitos casos, o ecoturismo provocou uma série de problemas em vez de oferecer os benefícios reais almejados. Alguns dos problemas mais significativos foram os danos ecológicos e a degradação ambiental, o impacto negativo sobre a cultura local e a criação de dificuldades econômicas para a população local (Ceballos-Lascuráin, 1991; Boo, 1991; West e Brechin, 1991).

Embora esses problemas possam ser atribuídos a diversos fatores, há, na literatura sobre o tema, alguns tópicos recorrentes que explicam por que o ecoturismo não tem promovido o ecodesenvolvimento. O primeiro refere-se à ausência de empenho e de comprometimento político dos governos para "mobilizar os recursos - humanos, financeiros, culturais e morais - que garantem a integração dos princípios ecológicos com o desenvolvimento econômico" (Bunting et al., 1991). Outro tópico envolve a questão de que o turismo é, em geral, promovido por interesses variados de pessoas de fora da região. Como

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228 ecoturismo resultado, o turismo não se encontra estruturado de forma a satisfazer as necessidades locais, e os benefícios geralmente não permanecem na região (West e Brechin, 1991; Wells e Brandon, 1992). Finalmente, falta a integração das necessidades e preferências locais no processo de planejamento.

Nos últimos anos, tem havido uma tendência crescente para planejar e criar projetos ecoturísticos, em vez de simplesmente permitir que as atividades ecoturísticas sejam impulsionadas por forças de mercado. Há um consenso geral de que "o planejamento cuidadoso é necessário para evitar alguns dos efeitos negativos não previstos do turismo" (Ceballos-Lascuráin, 1991). Essa tendência representa uma mudança substancial, que implica deixar de promover uma série aleatória de atividades para implantar projetos planejados e organizados, que procurem administrar e controlar o desenvolvimento do ecoturismo em uma determinada área.

A ênfase de muitos desses projetos tem sido promover atividades de turismo de natureza que forneçam "fundos para a administração de áreas protegidas e gerem renda para as comunidades locais" (Wells e Brandon, 1992). No cerne de tais projetos está o desejo de maximizar o impacto socioeconômico e ambiental positivo para as comunidades locais e minimizar o impacto negativo. O Plano Estratégico para a Conservação Mundial, de 1980, ressaltava a importância do vínculo entre a administração da área protegida e as atividades econômicas das comunidades locais (IUCN, 1980). A proposta de incluir a população local no planejamento e administração de parques foi aceita com entusiasmo por conservacionistas e administradores de áreas protegidas, no Congresso Mundial sobre Parques Nacionais de 1982 (McNeely e Miller, 1984). Esse Congresso propôs maior apoio às comunidades adjacentes aos parques, por meio de medidas como a educação, a participação nos lucros e no processo de decisão, a implantação de esquemas de desenvolvimento compatível próximos a áreas protegidas, e, quando de acordo com os objetivos dessas áreas,

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etapas básicas para incentivar a participação local 229 o acesso aos recursos. Essa posição foi recentemente reiterada no Congresso Mundial de Parques de 1992, na Venezuela.

Uma análise recente de vinte e três projetos que procuravam vincular a conservação ao desenvolvimento, constatou que muitos tinham implantado atividades de turismo de natureza, mas somente pequena parte dos lucros gerados era usufruída pelos moradores locais ou destinada a uma maior proteção de áreas naturais adjacentes (Wells e Brandon, 1992). West e Brechin, ao examinarem mais de vinte e cinco casos, concluíram que "apenas sob determinadas condições.... e com o planejamento adequado, os benefícios do desenvolvimento econômico reverterão para a comunidade local", podendo "minimizar os impactos econômicos, sociais e culturais negativos sobre os habitantes locais" (1991). De forma semelhante, outro estudo de programas ecoturísticos concluiu que "um turismo socialmente responsável e ambientalmente viável não pode ser implementado sem um diálogo fundamentado e construído a partir das necessidades regionais, em termos regionais" (Johnson, 1990). Johnson (1990), West e Brechin (1991) e Wells e Brandon (1992), juntos, oferecem descrições de mais de cinqüenta programas. Ao longo deste capítulo, termos como poucos ou muitos são utilizados com base nesse universo de casos.

Este capítulo está interessado em atividades ecoturísticas que tenham como principal objetivo proporcionar benefícios às comunidades locais. O enfoque está voltado especificamente aos projetos que são elaborados visando a oferecer benefícios às comunidades locais, tanto em termos de conservação como de desenvolvimento, através do turismo de natureza. Ressaltamos aqui algumas das questões que emergem no trabalho com as comunidades locais, com a finalidade de garantir que o desenvolvimento do ecoturismo seja compatível com os objetivos econômicos, ecológicos e sociais da região. Este capítulo enfoca a necessidade de maior participação local no processo de planejamento ecoturístico e sugere formas de promover essa participação.

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230 ecoturismo Evidentemente, há muitos casos em que a ênfase no "projeto" pode não

ser adequada, ou casos em que a promoção de benefícios econômicos às comunidades não é prioritária. Por exemplo, um operador turístico pode querer trabalhar com uma comunidade local para mudar ou melhorar aspectos de um roteiro turístico novo ou já existente. Empresários locais podem decidir criar áreas de observação, pontos de venda de comida e artesanato, ou alojamentos. A administração do parque pode querer aprimorar a educação do visitante e diminuir o impacto sobre o meio ambiente. Todas essas atividades são válidas em vista do que se propõem. Entretanto, elas constituem iniciativas isoladas e não atividades mais abrangentes, voltadas para a comunidade local, tais como as que descrevemos aqui. Dez questões cruciais para estimular a participação da comunidade no turismo de natureza são identificadas e descritas a seguir:

� o papel da participação local � o engajamento efetivo como meta � a participação ao longo do projeto � a criação de investidores de risco � a união entre lucro e conservação � a distribuição dos lucros � o envolvimento de líderes da comunidade � o uso de agentes de mudança � a compreensão das condições específicas do local � o controle e a avaliação dos progressos.

Este capítulo não descreve os procedimentos concretos para a realização dessas etapas; há uma vasta literatura de referência para cada uma dessas áreas no contexto do desenvolvimento rural. E, por fim, está além dos limites aqui estipulados lidar com o impacto externo que pode afetar os projetos, e com a necessidade de mobilizar apoio político, freqüentemente vital para a implementação bem-sucedida de um projeto.

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etapas básicas para incentivar a participação local 231 exemplos de projetos de turismo de natureza

Há, no mundo todo, centenas de áreas que recebem o turismo de

natureza, mas raros são os exemplos de comunidades que foram bem sucedidas na realização da dupla meta de desenvolvimento da comunidade e proteção ambiental. O ecoturismo é, com freqüência, um veículo para unir essas duas metas. Nos últimos anos, muitos projetos têm utilizado o turismo de natureza para unir a conservação ao desenvolvimento. O objetivo central de tais projetos é promover o desenvolvimento socioeconômico e propiciar à população local fontes de renda que não ameacem os recursos naturais. Esses projetos são conhecidos como Projetos de Conservação e Desenvolvimento Integrados ou PCDIs (Wells e Brandon, 1992).

A descrição de dois PCDIs, a Unidade de Conservação de Anna-purna, no Nepal, e as Áreas de Refúgio de Invernagem das Borboletas Monarcas, no México, dá uma idéia dos desafios de se implementarem tais iniciativas. O caso de Annapurna reflete um dos melhores exemplos de atenção cuidadosa no design do projeto e em sua implementação; o caso das Monarcas revela as dificuldades que podem ser encontradas quando se procura aliar o ecoturismo ao desenvolvimento local. Descrições mais detalhadas de cada um deles podem ser encontradas em Wells e Brandon (1992).

Um dos espetáculos naturais mais bonitos do mundo é a migração anual de bilhões de borboletas monarcas para pequenos refúgios de invernagem, na região central do México. Em 1989, cerca de 100.000 turistas visitaram um desses refúgios. A ausência de oportunidades econômicas na região, o declínio da produtividade agrícola e o aumento da pobreza levaram ao estabelecimento de alojamentos e à prática da agricultura e pecuária em áreas centrais do refúgio. Um projeto de pequena escala, iniciado por uma organização não-gover-namental mexicana, tentou organizar as visitas à área, promovendo a criação de um centro de visitação e de interpretação, a distribuição da renda obtida (destinando parte da renda dos ingressos à comunidade

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232 ecoturismo local), o plantio de árvores e a manutenção de trilhas, além de criar uma loja comunitária e quiosques para a venda de comida. A organização não-governamental trabalhou também com o governo mexicano, a fim de elaborar um plano de desenvolvimento integrado para a região, embora o governo nunca o tenha adotado.

O local é ideal para o turismo de natureza: como em nenhum outro lugar, as espécies podem ser facilmente observadas, há um grande fluxo de visitantes e o potencial para que o turismo de natureza gere benefícios substanciais para a área é grande. Infelizmente, o projeto teve pouca participação da comunidade e não proporcionou estímulo suficiente para pôr fim à destruição do refúgio.

Diferentemente do caso mexicano, a Unidade de Conservação de Annapurna, no Nepal, abrange um território grande e geograficamente privilegiado. Mais de 30 mil trekkers visitam a região para caminhar pelo Himalaia e apreciar a diversidade cultural da área. O grande fluxo de turistas levou à criação de muitas pousadas e cantinas, propiciando renda para muitos membros da comunidade local. O turismo tornou-se importante para a economia local, mas também provocou sérios problemas ambientais. Florestas foram desmatadas a fim de prover combustível para o cozimento de alimentos e o aquecimento dos visitantes. A expansão agrícola, a poluição das águas, as instalações sanitárias precárias e o lixo nas rotas para trekking, tudo isso aumentou consideravelmente, e foi acompanhado por um rápido crescimento da população local.

O Projeto da Unidade de Conservação de Annapurna (ACAP) foi criado para minimizar o impacto negativo do turismo e promover a conservação e o desenvolvimento socioeconômico da região. Parte da renda foi destinada para o desenvolvimento local, a administração foi descentralizada e foi oferecido treinamento para indivíduos e organizações locais. A participação local viabilizou-se mediante a criação de uma comissão para a administração dos alojamentos, e a reativação de uma antiga comissão de manejo florestal, responsável por fiscalizar regulamentos, multar caçadores e pescadores ilegais, e controlar a

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etapas básicas para incentivar a participação local 233 extração de madeira. Como resultado, os índices de desmatamento foram consideravelmente reduzidos, as trilhas foram preservadas e as populações locais foram, cada vez mais, assumindo o controle sobre os recursos.

Esses dois projetos foram criados para fazer do turismo de natureza um meio para atingir objetivos de conservação e desenvolvimento. Os dois foram promovidos por organizações não-governa-mentais, embora tenham contado com a cooperação e o apoio do setor privado, da população local e de inúmeros órgãos governamentais. Ainda assim, houve uma diferença significativa entre ambos. No caso do projeto ACAP, a população local envolveu-se desde o início. Já no projeto das Monarcas, a comunidade local participou somente depois que a organização não-governamental e o governo identificaram os problemas e as atividades que poderiam solucioná-los.

o papel da participação local

Cada vez mais, os projetos de turismo de natureza estão sendo considerados um meio de incentivar as pessoas a administrarem as áreas naturais e a vida selvagem de forma sustentável, uma vez que os benefícios econômicos distribuídos às comunidades dependem de uma gestão bem orientada. Muitos desses projetos partem do princípio de que o turismo de natureza pode ser um poderoso instrumento para a conservação, através da geração de benefícios à população local. Porém, como mostraremos mais adiante, para alcançar as metas da conservação, é necessário o planejamento cuidadoso do projeto, a fim de que os benefícios atinjam seus objetivos e funcionem, de fato, como incentivo.

O turismo é o tipo de desenvolvimento que tende a modificar rapidamente a situação social e econômica das comunidades, com impacto tanto positivo quanto negativo. Tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento, as comunidades geralmente sentem que não têm poder para influenciar esses padrões de

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234 ecoturismo desenvolvimento. Projetos de turismo voltados para a comunidade local procuram envolver as comunidades a fim de que elas decidam o tipo de crescimento que gostariam de ter, para, então, ajudá-las a implementar seus planos.

Por que esses projetos deveriam envolver a população local? Parece pouco provável que práticas destrutivas, decorrentes do uso inadequado de recursos naturais, possam ser evitadas sem que se modifique a situação socioeconômica das comunidades. A melhor maneira de fomentar a mudança é permitir que as comunidades assumam o controle de seu crescimento e desenvolvimento. No contexto do turismo, há uma grande chance de que a falta de participação resulte em impacto social e econômico negativo. Muitos dados revelam que projetos que prevêem a geração de benefícios econômicos, sem efetivamente encorajar a participação local na identificação, planejamento, implementação ou avaliação de atividades de desenvolvimento, estão menos aptos a propiciar benefícios para toda a comunidade (Cernea, 1991).

Há alguns obstáculos evidentes quando se promove a participação da comunidade local no planejamento ecoturístico. É preciso muito tempo e energia, além de grande habilidade organizacional. Em muitos projetos, o trabalho de base necessário para viabilizar a participação pode parecer grande demais e exigir muito tempo. Para garantir a competitividade, o setor privado pode requerer ação imediata e respostas rápidas. Existe também o risco de que as necessidades e desejos da população local possam diferir de uma outra comunidade, ou mesmo divergir consideravelmente dentro de uma mesma comunidade. Para que o verdadeiro objetivo do ecodesenvolvimento possa ser alcançado, esses obstáculos devem ser especificados e incorporados ao projeto.

o engajamento efetivo como meta

Participação local significa "dar às pessoas maiores oportunidades de participação efetiva nas atividades de desenvolvimento. Isso

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etapas básicas para incentivar a participação local 235 significa proporcionar condições para que elas mobilizem seu próprio potencial, sejam agentes sociais em vez de sujeitos passivos, gerenciem os recursos, tomem decisões e controlem as atividades que afetam suas vidas" (Cernea, 1991). Abordagens participativas envolvem as pessoas no processo de seu próprio desenvolvimento. Considerar a participação local ou comunitária como um processo significa gerar benefícios sociais e econômicos, mas não se limita apenas a isso. O processo participativo auxilia as pessoas a adquirirem um controle mais efetivo sobre suas próprias vidas. A perspectiva participativa difere da abordagem beneficiária, na qual as pessoas recebem benefícios mas não têm poder de decisão. Por exemplo, um projeto de turismo de natureza pode gerar empregos para a população local em uma série de ocupações, como guias e guardas, ou vendedores de comida e artesanato. Esses empregos oferecem um importante benefício, todavia as pessoas da comunidade podem não estar necessariamente engajadas no processo de tomada de decisões.

Outra forma de estimular a participação local é consultar as pessoas da comunidade, embora geralmente haja confusão entre comunicar para e comunicar-se com (Wells e Brandon, 1992). Consultar os moradores e solicitar suas opiniões é, com freqüência, erroneamente entendido como participação. É verdade que colher opiniões ou oferecer benefícios são ambos elementos de uma abordagem participativa, mas nenhuma dessas atividades propicia o engajamento efetivo das pessoas. Em uma abordagem genuinamente participativa, a comunidade local é consultada e tem voz ativa na tomada de decisões.

Infelizmente, a maior parte dos projetos de turismo de natureza segue uma abordagem beneficiária e as decisões sobre os projetos, o emprego de mão-de-obra e o tipo global de desenvolvimento a ser promovido são, via de regra, tomadas sem participação da comunidade. Os grupos envolvidos no planejamento e na implementação de projetos de turismo de natureza, com freqüência, afirmam ter um sério compromisso junto à comunidade local, mas há poucos projetos que são verdadeiramente participativos ou que tenham, de fato, implanta-

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236 ecoturismo do processos que auxiliam as comunidades a controlarem seu crescimento e seus recursos de maneira mais adequada (Wells e Brandon, 1992; West e Brechin, 1991).

No projeto das borboletas monarcas, as pessoas foram tratadas como beneficiárias e não tiveram nenhum tipo de participação em seu planejamento. Embora alguns moradores do local tenham recebido "benefícios" com o aumento de oportunidades de trabalho, eles não se sentiram responsáveis pelo projeto. E o que é pior, eles acreditavam que os altos níveis de turismo na comunidade e a própria existência de um refúgio de borboletas haviam provocado muitos impactos negativos. O projeto do Nepal, ao contrário, foi planejado com o objetivo de auxiliar a comunidade local a administrar a região e seus recursos. As pessoas participaram desde o início e durante todo o processo, ajudando a identificar o que consideravam como problemas e sugerindo soluções. Os responsáveis pelo planejamento do ecoturismo precisam considerar os moradores locais como seus parceiros, e usar o processo de planejamento e as atividades ecoturísticas como instrumentos que dêem a eles condições efetivas de maior controle sobre suas próprias vidas.

a participação local ao longo do projeto

É fundamental engajar, desde o início, a comunidade local no projeto. Os primeiros passos envolvem a coleta de informação: "a verdadeira participação começa com o acesso à informação" (Johnson, 1990). Informação confiável sobre a comunidade e suas preferências é a base para o desenvolvimento de um plano ecoturístico bem elaborado. Coletar informação é essencial, quer a idéia do projeto tenha sido proposta pela própria comunidade, quer por algum outro grupo. Durante essa etapa, é possível identificar líderes comunitários; organizações locais; questões que a comunidade considera prioritárias; idéias, expectativas e inquietações que as pessoas têm em relação

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etapas básicas para incentivar a participação local 237 ao ecoturismo. Dados preliminares podem ser úteis quando se inicia um processo mais abrangente de coleta e intercâmbio de informações.

Na implantação de atividades turísticas, há pelo menos cinco áreas em que a população local pode contribuir: coleta de informações, consultas, processo de decisões, fase de implementação e avaliação. O processo de coleta e troca de informações conduz naturalmente à fase de planejamento. No caso do projeto ACAP, no Nepal, a etapa de coleta e troca de informações foi crucial. Durante a coleta de dados ficou claro que haveria uma oposição local maciça contra a criação de um parque nacional na área. Essa oposição era fruto de preocupações e problemas provocados pela desapropriação de terras da população local, no processo de criação de outros parques nacionais. O projeto, então, propôs a idéia de criar uma nova classificação para as áreas protegidas, que designaria uma área para múltiplos fins, e o governo aprovou a lei para a criação da Unidade de Conservação de Annapur-na. A coleta de dados e o diálogo logo no início do processo podem ser cruciais para o sucesso do projeto.

As informações podem ser coletadas tanto da comunidade como pela comunidade (excelente discussão sobre como fazer isso pode ser encontrada em Mascarenhas et al., 1991). O conhecimento e as opiniões, obtidos durante a etapa de coleta de informações, precisam ser apresentados e discutidos com a comunidade, juntamente com outros dados relevantes, tais como os resultados das pesquisas de mercado ou os planos do governo para a área. Uma vez que esta informação tenha sido divulgada, pode-se dar início ao processo de participação de representantes de diferentes grupos (consulta). A discussão com a comunidade em um fórum mais amplo pode dar ao plano maior consistência e levar à implementação, à medida que as decisões forem tomadas e os planos começarem a ganhar maior definição. O treinamento também pode ser um componente importante desta fase. As organizações locais podem precisar fortalecer-se e as pessoas podem necessitar de treinamento em algumas áreas especializadas, a fim de

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238 ecoturismo dirigir as organizações com maior eficiência e de administrar ou operar empreendimentos turísticos e serviços subsidiários. criando investidores de risco

Um dos objetivos da participação local é fazer com que as pessoas se sintam responsáveis pelo projeto. Além da participação direta, há muitas formas de as pessoas tornarem-se "investidores de risco" das atividades de turismo de natureza. Uma estratégia é promover a participação em dois níveis: individualmente ou como parte de uma organização. Por exemplo, o ACAP solicita às pessoas que contribuam com dinheiro ou trabalho para projetos comunitários, como reflorestamento e manutenção de trilhas, mas também estimula a participação individual. Os proprietários de pousadas são solicitados a investir na melhoria de suas instalações. Por sua vez, o projeto estimula o empreendimento privado, oferecendo aos proprietários treinamento e assistência técnica. O projeto também trabalha com grupos de proprietários de pousadas para desenvolver padrões de hospedagem e de refeições. Aperfeiçoando-se pelo treinamento individual e aprimorando seus serviços, os proprietários estão também fazendo um investimento a longo prazo na qualidade da área.

No projeto das borboletas monarcas, os benefícios provenientes do turismo baseiam-se na capacidade individual de determinadas pessoas enquanto empreendedores, como homens trabalhando como guias e mulheres vendendo comida. Ainda assim, esse tipo de atividade individual não requer um investimento a longo prazo, e, conseqüentemente, poucas pessoas são "investidores de risco" das atividades turísticas. Por exemplo, em vez de investir no projeto com trabalho ou com dinheiro, os moradores locais receberam comida (na verdade, como pagamento) por haver plantado árvores. Não é de surpreender que poucas árvores tenham sido cuidadas após o plantio, já que, uma vez plantadas, não eram vistas como "sua propriedade". A popula-

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etapas básicas para incentivar a participação local 239 ção local também teve pouca participação no planejamento e funcionamento da loja comunitária. De forma semelhante, a falta de envolvimento no processo de decisão e de controle sobre a receita comunitária proveniente dos ingressos levou à apatia em relação à renda coletada. Tudo parecia acidental, fora do controle da comunidade.

O turismo bem-sucedido cria investidores de risco em muitos níveis, e envolve a contribuição de indivíduos e de comunidades através de trabalho, dinheiro e outros recursos. Dessa forma, privilegiam-se o investimento e o controle locais, além de se estimular a participação da população no processo de decisões.

unindo benefícios e conservação

A justificativa para muitos projetos ecoturísticos é a de que o ecoturismo pode promover a conservação, mostrando a importância das áreas naturais para a geração de renda via turismo (Ceballos-Las-curáin, 1991). O argumento subjacente a esta visão é que as populações rurais têm poucas alternativas, além das atividades econômicas que degradam ou destroem os recursos existentes. O ecoturismo é considerado uma fonte de empregos e de renda, que deveria, por sua vez, promover o fim das práticas destrutivas. Segundo essa visão, o ecoturismo deveria propiciar benefícios de tal forma que eles agissem como incentivo, quer para a manutenção de práticas adequadas de manejo de recursos, quer para a redução de práticas destrutivas.

Para que o ecoturismo promova a conservação, é fundamental que haja um vínculo muito claro entre o benefício que as pessoas recebem e a proteção dos recursos. Os lucros do ecoturismo geralmente não ficam na região, e poucas pessoas da comunidade participam do turismo de alguma maneira significativa. Em muitos casos, os benefícios dependem da época do ano, e os empregos requerem baixa qualificação ou são limitados a poucas pessoas - fenômeno a que West

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240 ecoturismo e Brechin se referem como "contratação de nativos" (1991). Outro problema comum é que a relação entre os benefícios ecoturísticos e os objetivos de conservação é indireta (Brandon e Wells, 1991). Se os benefícios são poucos e/ou a relação não é clara, não é de surpreender que o ecoturismo não consiga promover nenhuma prática conservacionista.

O projeto de Annapurna levou em conta a necessidade de fixar os benefícios econômicos na região, de envolver a população local no turismo e de unir, o máximo possível, conservação e benefícios de desenvolvimento, por meio do turismo. Um dos problemas enfrentados pelo ACAP foi que o turismo estava levando ao desmatamento, pois os proprietários de pousadas cortavam árvores para fornecer calefação e água quente para os hóspedes. Além do benefício conservacionista de não destruir as árvores, era evidentemente de interesse dos proprietários pôr fim ao desmatamento a fim de proteger a beleza da região e garantir o fluxo de turistas na área. O ACAP reuniu os proprietários e todos concordaram em exigir que as expedições de trekking fossem encarregadas de trazer seu próprio querosene. Além disso, o ACAP forneceu aos proprietários de pousadas informações técnicas para a instalação de painéis solares e a reciclagem de água quente usada para a cocção de alimentos, embora os próprios proprietários tenham custeado essas melhorias.

Há muitas formas de fortalecer o vínculo entre os benefícios e os objetivos conservacionistas e criar incentivos positivos. Para ser um incentivo, o benefício deve ser considerado significativo para grande parte da comunidade. Nesse contexto, seria muito mais eficaz para um pequeno projeto turístico, por exemplo, converter muitos destruidores potenciais da natureza em guias por regime de tempo parcial do que contratar uma ou duas pessoas por tempo integral. A comunidade deve ter algum controle sobre as decisões; o vínculo torna-se mais forte se a comunidade tem uma participação tanto nos benefícios como nos objetivos de conservação. Os benefícios devem ser flexíveis para atender o interesse de grupos diferentes dentro da

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etapas básicas para incentivar a participação local 241 comunidade. E, finalmente, deve haver um bom nível de organização comunitária para reforçar o vínculo.

Para muitos projetos de turismo de natureza, o grande desafio é garantir que a renda, o emprego e outros benefícios provenientes do turismo ajudem a conservar os recursos. A melhor forma de alcançar isso é tornar o vínculo direto e óbvio; em outras palavras, a relação entre a conservação dos recursos e a geração de benefícios para a comunidade deve ser clara.

exemplos de perguntas de planejamento: benefícios como incentivos

O que garantirá melhor participação? Que atividades oferecem um vínculo direto entre os objetivos do projeto e os benefícios locais? Quem não se beneficiará com as atividades planejadas? Que tipo de investimento a longo prazo a comunidade local fará nas atividades? Quem estará envolvido no processo de tomada de decisões? Há maneiras de estruturar as atividades de forma que elas propiciem benefícios múltiplos, como empregos para alguns, treinamento para outros, e participação nos lucros para a população local?

distribuindo benefícios

Ao longo do processo de discussão e decisão sobre os benefícios, é importante considerar quem os receberá e como e por quanto tempo eles serão distribuídos. "Estruturas de poder, que tenham base na comunidade indígena, no Estado ou no mercado de turismo internacional, com freqüência determinam os locais que os turistas visitam, o que eles vêem e fazem, e quem, dentre os membros da comunidade indígena, recebe os benefícios econômicos de hospedar e oferecer serviços aos visitantes" (Johnson, 1990). Um processo efetivamente

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242 ecoturismo participativo e avaliativo pode identificar as elites ou pessoas estranhas à comunidade que provavelmente captarão os benefícios que venham a ser gerados.

O ACAP, do Nepal, tem por meta aumentar a renda da comunidade local e sua participação no manejo de recursos naturais. O projeto financiou uma série de atividades para incentivar o maior número de pessoas da comunidade local a participarem e tomarem decisões. Uma das metas iniciais do ACAP era incrementar os benefícios oriundos do turismo e reduzir o impacto negativo dos trekkers. O ACAP está ciente de que muitos dos benefícios do projeto têm favorecido os moradores locais que têm renda suficiente para instalar pousadas e cantinas. A equipe encarregada do projeto trabalhou com outros grupos, visando a estimular a plantação de árvores e reduzir o desflorestamento. Eles começaram a estudar formas de aumentar o número de pessoas envolvidas e a variedade de atividades nas quais elas participam. O projeto reconhece que elevar a renda e manejar os recursos é um processo longo e lento, mas está procurando oferecer um nível razoável de benefícios a um grupo grande de pessoas. O ACAP começou oferecendo benefícios a um segmento influente da população (proprietários de pousadas e cantinas), que já estava em boas condições e tinha dinheiro para investir em pequenos empreendimentos. Mas o projeto agora está procurando estender os benefícios a um grupo maior de pessoas.

No caso mexicano, os benefícios para a comunidade não eram claros para a maioria das pessoas. Os benefícios individuais eram muito limitados e dependiam de condições pessoais como, por exemplo, quem podia oferecer a melhor comida e dispunha do melhor local para vendê-la. Dessa forma, os benefícios eram limitados e distribuídos entre poucos.

Os projetos funcionam melhor quando um alto nível de benefícios pode ser oferecido a muitas pessoas, e quando elas percebem que esses benefícios são sustentáveis. Nem todos serão beneficiados diretamente; uma receita que dê apoio concreto para projetos de desen-

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etapas básicas para incentivar a participação local 243 volvimento da comunidade pode ser suficiente. Uma mescla entre benefícios individuais e comunitários pode ser a melhor forma de envolver muitas pessoas em pouco tempo.

exemplo de perguntas de planejamento: distribuição de benefícios

É melhor, por exemplo, que haja um hotel ou restaurante dirigido pela comunidade, com participação parcial nos lucros, ou é melhor para as pessoas da comunidade instalarem pousadas e restaurantes individualmente? Há pessoal capacitado para dirigir esses estabelecimentos? Algumas pessoas,vão permanecer por muito tempo em posições subalternas, sem novas oportunidades? A competição entre proprietários individuais vai enfraquecer o processo de decisão em grupo e sua capacidade administrativa? Há demanda turística suficiente para justificar investimentos múltiplos de muitas pessoas? Há artesanato que pode ser vendido? Que tipo de organização é mais adequada, a coletiva ou a individual? Quem pode trabalhar como guia? Que utilização dos recursos é destrutiva ou sustentável, e quem, na comunidade, é responsável por ela? Se os benefícios são amplamente distribuídos, as pessoas vão receber tão pouco que não vale a pena envolvê-las? Se, por outro lado, os benefícios são distribuídos entre poucos, isso será um incentivo para que outros participem ou excluirá muita gente e levará ao ressentimento e à distribuição desigual de renda?

identificando líderes comunitários

Quando se trabalha com comunidades, um dos primeiros passos é identificar os líderes. Algumas vezes, os projetos tentam dar início ao processo de participação local por meio das assembléias comunitárias. Mas estas, geralmente, não contam com a participação efetiva da comunidade, a menos que os gestores do projeto consigam identi-

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244 ecoturismo ficar e ganhar credibilidade junto aos líderes comunitários, que, por sua vez, irão ajudar a convocar a população local para participar das assembléias.

Todavia, identificar e trabalhar com os líderes comunitários não é sempre tão simples como pode parecer. Os planejadores dos projetos precisam estar cientes de que há muitos tipos de líderes e muitas formas de poder dentro das comunidades. Os líderes mais evidentes são aqueles que exercem um papel formal de liderança, como prefeitos, representantes da igreja, pajés ou professores. É relativamente fácil identificar as pessoas que exercem um papel formal em uma comunidade. Os líderes formais diferem dos líderes informais (formadores de opinião), que são aqueles que sabem tudo sobre a comunidade, e que as pessoas tradicionalmente consultam quando precisam de algum conselho ou ajuda em questões ou problemas específicos. Em geral, há muito mais líderes informais que formais. E, finalmente, há líderes que podem estar ocultos - pessoas poderosas que controlam o acesso da comunidade a recursos financeiros e a outros tipos de recursos. Um meio rápido de identificar os líderes comunitários é através de conversas com membros da comunidade, formalmente, mediante questionários e entrevistas, ou informalmente, em lugares onde as pessoas se reúnem, ou em suas casas.

Por que é importante identificar esses diferentes líderes? A resposta é que, quanto maior o número de líderes envolvidos, melhor é o planejamento e a execução da maioria dos projetos. Cada líder pode contribuir com seu próprio know-how e experiência. Por exemplo, alguns líderes são excelentes para planejar projetos ou dar início às atividades, outros são bons para conseguir a adesão das pessoas. A razão mais importante para identificar diferentes líderes é que a participação de cada um deles no processo faz com que o projeto comece a pertencer à comunidade.

Um outro motivo importante para identificar vários líderes comu-nitários é que cada um deles representará uma camada ou grupo diferente. A oposição aos projetos diminui consideravelmente se os

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etapas básicas para incentivar a participação local 245 líderes puderem representar os interesses da comunidade. Além disso, as pessoas que estão planejando o projeto, e que não pertencem à comunidade, precisam garantir que aqueles que não estão bem representados também tenham voz. Por exemplo, em muitas sociedades, os líderes formais são homens, e, quando eles esboçam os projetos, geralmente não levam em consideração atividades importantes que poderiam beneficiar ou prejudicar mulheres e crianças. De forma semelhante, líderes de determinados grupos econômicos ou sociais podem não levar em conta a perspectiva de outros grupos. Em geral, as pessoas esboçam bons planos com base naquilo que são e que sabem. Portanto, é fundamental envolver tanto os líderes formais como os informais a fim de garantir a representação efetiva de muitos grupos.

É importante salientar que, em muitos casos, os líderes podem não querer trabalhar juntos ou reunir-se. Em algumas comunidades, pode haver rixas entre grupos e líderes. Líderes poderosos e estruturas hierárquicas existentes podem não desejar a implantação de um processo participativo que questione o status quo e, portanto, sua liderança. Obviamente, esse dado deve ser levado em conta no planejamento de qualquer projeto. O que isso pode simplesmente implicar é que diferentes grupos e líderes irão participar de diferentes fases e itens do projeto.

exemplos de perguntas de planejamento: identificando líderes locais

Líderes formais: Quem são os professores, os curandeiros e os

agentes de extensão rural na região? Quem é a autoridade tradicional? Quem são os líderes políticos? Líderes informais: Quem sabe mais sobre as florestas? A quem você recorre quando está doente? Alguém está recebendo crédito agrícola? Quem empresta dinheiro? Alguém já trabalhou na cidade e voltou para cá? Quem contata o governo em nome da comunidade? Onde você faz suas compras?

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246 ecoturismo A capacidade de liderança em determinadas circunstâncias geralmente

está associada a diferentes tipos de pessoas. Por exemplo, pessoas que estão dispostas a promover mudanças e a arriscar são, em geral, mais jovens, têm maior grau de instrução e contatos fora da região. Pessoas que dão credibilidade ao projeto tendem a ser mais velhas e respeitadas, e têm melhor posição social e econômica. Pessoas que efetivamente implementam projetos são, em geral, de meia-idade, e têm um vínculo estreito com a comunidade (St. Julien, 1989). É interessante também incluir no planejamento pessoas que têm capacidade de liderança, embora não sejam consideradas líderes.

provocando mudanças: agentes e instituições

Há duas abordagens principais para organizar e manter a participação da comunidade nos projetos. A primeira é empregar agentes de mudanças — pessoas de fora da área em questão. A segunda é criar instituições ligadas ao turismo de natureza.

Em projetos de turismo de natureza, os agentes de mudança ou são pessoas de fora, comprometidas com metas de conservação e desenvolvimento, ou são grupos de operadores turísticos, interessados em promover o turismo de natureza nas comunidades. Pessoas "de fora" podem ser pessoas de fora da comunidade, da região ou do país. Usar agentes de mudança é, com freqüência, a maneira mais rápida de modificar as idéias e tecnologias locais e introduzir novas atividades nas comunidades.

A maioria das comunidades conta com uma variedade de organizações formais ou informais, que existem para agrupar as pessoas em torno de um ou mais interesses comuns. Os três tipos de organizações mais comuns são: associações para o desenvolvimento local, cooperativas e associações por interesses. As primeiras geralmente adotam métodos auto-suficientes, ou pressionam os governos para que forneçam os serviços necessários. Essas associações podem funcionar

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etapas básicas para incentivar a participação local 247 como excelente base para atividades de turismo de natureza, pois já visam a objetivos de desenvolvimento. As cooperativas solicitam das pessoas um bem comum (como trabalho, dinheiro ou colheitas), e, em troca, oferecem algum benefício econômico para seus membros. Em relação aos dois grupos anteriores, as associações por interesses são menos organizadas do ponto de vista econômico e concentram-se em alguma característica comum aos membros (como sexo, ocupação ou etnia).

A participação por meio de instituições ou organizações tende a ser mais eficiente e sustentável do que a participação individual (Uphoff, 1987). As instituições locais podem funcionar como agentes de mobilização, como uma forma de envolver diretamente as pessoas da região em projetos de turismo de natureza. Organizações também podem servir de ligação entre a comunidade e órgãos externos, como organizações governamentais, organizações não-governamentais ou grupos turísticos.

Organizações e instituições locais existem em quase toda parte, mas elas podem não estar preparadas para arcar com o planejamento, o orçamento, a contabilidade e a avaliação - aspectos importantes na promoção do turismo de natureza na comunidade. Os projetos podem ter de fornecer alguma orientação ou treinamento a essas instituições para fortalecê-las. O processo de fortalecimento das instituições foi definido por Midgeley (1986) como "a criação de procedimentos para a instalação do processo democrático de decisões em nível local, e o envolvimento da população nesses procedimentos, a ponto de que ela venha a encará-los como a forma natural de gerir os negócios da comunidade".

Fortalecer as instituições locais certamente leva mais tempo do que trabalhar com agentes de mudança. Essas duas abordagens podem ser combinadas para que os agentes de mudança trabalhem diretamente com as instituições locais, que, por sua vez, trabalharão com seus membros no treinamento e processo de decisões. Combinar as duas

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248 ecoturismo abordagens para provocar mudanças é uma das melhores maneiras de garantir o sucesso a curto e a longo prazo.

exemplos de perguntas de planejamento: identificando as organizações locais

Há grupos religiosos que promovem encontros? Há uma entidade que concede créditos? Há algum grupo recreativo, como, por exemplo, times de futebol ou cricket, ou um grupo de teatro? Há pessoas que se organizam em torno de atividades econômicas, como grupos de pescadores, fazendeiros, lenhadores, caçadores, coletores de junco, bordadeiras, criadores de galinha ou de gado? E quanto às pessoas que extraem seiva, retiram cascas das árvores ou coletam plantas medicinais? Há uma associação de mulheres ou de mães? E uma associação para o desenvolvimento local?

É muito mais fácil conseguir a adesão das pessoas a um projeto se elas

puderem participar através das organizações existentes. Um grupo pode estabelecer regras, programas e criar procedimentos, ou usar os que já existem, para ajudar a planejar e implementar ativida-des. Trabalhar com grupos que já estão organizados pode ser uma forma eficiente de lidar com as pessoas em uma área grande. No início, os encontros podem ser realizados com cada um dos grupos, e, mais tarde, podem ser organizados encontros mais amplos, com um ou dois representantes de todos os diferentes grupos da comunidade e com os líderes locais. Esses representantes podem encaminhar para seu grupo específico questões e planos, que serão então submetidos à discussão e exame. Talvez a questão mais crucial, quando se pensa em mudar, não seja quem se responsabilizará pela mudança, mas que processo será utilizado para viabilizá-la.

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etapas básicas para incentivar a participação local 249 compreendendo as condições específicas do local

Não há modelos de participação ou de turismo de natureza que funcionem bem em toda parte. Da mesma maneira, existem limitações para a implementação prática da participação local, em muitas atividades ligadas ao turismo de natureza. Muitas dessas limitações serão impostas pelas próprias condições da comunidade, outras serão impostas pelo limite dos recursos financeiros disponíveis ou pela necessidade premente de atrair turistas. A participação local requer tempo. É um processo mais trabalhoso e lento do que recorrer a decisões tomadas fora da região.

Em muitas sociedades, as estruturas de poder podem inibir a participação de um maior número de pessoas no processo de decisão ou dificultar o acesso às opiniões de certos grupos. Em outras, organizações locais poderosas podem querer priorizar a geração de renda e de empregos, sem se preocupar com a conservação da qualidade ambiental. Ou ainda, determinados grupos podem não estar dispostos a reunir-se, tornando difícil o consenso sobre qual a melhor atividade a desenvolver. Já outros projetos contam com a participação das organizações não-governamentais, da comunidade, do governo e do setor privado. Na maioria dos casos, a cooperação entre todos esses grupos e a sua cooperação com órgãos do governo será necessária para que os objetivos sejam alcançados. A escala do projeto determinará que tipo de participação local será mais apropriado.

Por exemplo, o projeto das borboletas monarcas tem um impacto primário em quatro ou cinco comunidades, particularmente em El Rosario, a comunidade adjacente ao refúgio. Seria adequado desenvolver um processo intensivo de participação local em El Rosario e obter informações de outras comunidade afetadas. Uma situação semelhante existe em Annapurna, onde alguns povoados recebem um fluxo muito elevado de turistas devido à forma como a trilha de Annapurna foi demarcada. A participação pode ter por base o nível de turismo adequado a uma determinada área, ou pode abranger, de uma

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250 ecoturismo maneira mais ampla, as pessoas das várias comunidades que tendem a ser afetadas.

A resposta ao que é mais apropriado depende das características socioeconômicas e culturais particulares e dos recursos de cada área. É impossível dar respostas definitivas sobre o que funciona melhor, pois as respostas variam segundo o contexto. Para planejar atividades de turismo de natureza, os projetos precisam ser abertos e flexíveis durante o processo de planejamento, e as pessoas do local precisam ser consultadas permanentemente sobre uma variedade de possibilidades.

monitorando e avaliando o processo

De forma geral, os projetos não dão atenção suficiente ao moni-toramento e à avaliação. No entanto, é relativamente fácil incorporar esses dois componentes a um processo participativo que está em andamento. Quando o monitoramento e a avaliação são parte de um processo, é possível fazer adaptações e mudanças à medida que o projeto se desenvolve. O equilíbrio entre metas de curto e longo prazo é fundamental. Uma abordagem participativa que vise a provocar mudanças estruturais pode requerer um tempo considerável, antes que resultados positivos possam ser claramente identificados. Porém, sem ela, a garantia de sucesso a longo prazo é impossível. A geração de benefícios a curto prazo, entretanto, pode também ser essencial a fim de conferir credibilidade ao projeto e pôr fim à desconfiança e ao ceticismo da população local.

Estabelecer alguns objetivos e indicadores principais para as atividades iniciadas pode permitir que os projetos avaliem o impacto de suas atividades sociais e econômicas e as metas da conservação, fornecendo dados úteis para futuros planejamentos. Informações sobre a comunidade são tão importantes quanto informações sobre o turismo e a visitação. Uma vez que o impacto do turismo (tanto

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etapas básicas para incentivar a participação local 251 positivo quanto negativo) é muito conhecido, não é difícil estabelecer indicadores que mostrem se o ecoturismo está levando ao ecodesen-volvimento.

Paul (1987) resume grande parte da literatura ao sugerir que os objetivos de uma abordagem participativa para projetos de desenvolvimento são: melhorar a eficácia dos projetos; aumentar a capacidade de os beneficiários assumirem responsabilidade por atividades do projeto; e facilitar a participação nos custos através da contribuição local com terra, dinheiro ou trabalho. Outros ressaltaram a importância de envolver investidores de risco a fim de estimular investimentos que apostem na realização das metas do projeto e, possivelmente, assegurar um compromisso maior com essas metas. Não é fácil avaliar se objetivos dessa natureza estão sendo alcançados, principalmente a curto prazo, enquanto os projetos ainda estão sendo implantados e antes que benefícios mais concretos sejam visíveis. Projetos cuja orientação é beneficiária geralmente determinam suas metas em termos de indicadores que podem ser facilmente observados, tais como níveis de renda, número de empregados, quantidade de artesanato vendido. O aumento desses índices será interpretado como sinal de sucesso do projeto. Esses fatores podem ser importantes mas não são suficientes. Projetos de turismo de natureza, com orientação partici-pativa, estão interessados em alcançar metas semelhantes às dos projetos beneficiários; entretanto, seu principal objetivo é criar um processo que leve a uma mudança que seja sustentável além da vida do projeto.

conclusão

Por que envolver as pessoas da comunidade em projetos ecoturísticos? Por inúmeras razões, que refletem objetivos morais, econômicos e ambientais. Do ponto de vista ambiental e econômico, se as pessoas da comunidade não participarem, é provável que, ao longo

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252 ecoturismo dos anos, os recursos sejam destruídos e o investimento perdido. Do ponto de vista moral, é preferível que a comunidade controle seu próprio destino em vez de ter de submeter-se a interesses externos. "Talvez uma das respostas mais significativas aos problemas do turismo seja a participação crescente dos povos nativos no estudo, discussão e planejamento de estratégias para assumir o controle do processo de tomada de decisões sobre o desenvolvimento" (Johnson, 1990).

De fato, há pouca experiência em gestão e planejamento ecoturísticos baseados na comunidade. E, embora haja relativamente poucos exemplos de ecoturismo gerido p ela comunidade, um dado positivo é que existe um número maior de comunidades co-administrando todo tipo de coisas, de florestas a sistemas de irrigação. Ainda que o ecoturismo seja com freqüência promovido por grupos conservacionistas, os grupos que trabalham com comunidades geralmente são formados por pessoas ligadas ao desenvolvimento rural e comunitário.

"Todos aqueles que pertencem à comunidade internacional para a conservação e têm um compromisso sério com a verdadeira meta de ecodesenvolvimento do turismo precisam ter maior compreensão científica e social das condições necessárias para alcançar esses objetivos em regiões rurais pobres, e força política suficiente para resistir às influências na política econômica cuja tendência é frustrar essas metas" (West e Brechin, 1991).

Este capítulo procurou expor algumas das questões com as quais se deparam as comunidades locais preocupadas com o desenvolvimento do ecoturismo. Cada uma das questões procurou abranger uma grande quantidade de informação sobre a experiência de desenvolvimento rural, aplicando-a de forma sucinta ao ecoturismo. Em termos gerais, as questões aqui resumidas podem ser agrupadas em três categorias para o planejamento de projetos ecoturísticos: quem deve participar, por que envolver as pessoas e como fazê-lo.

As seções relacionadas à primeira categoria examinaram os objetivos da participação e seu papel no ecoturismo, e argumentaram

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etapas básicas para incentivar a participação local 253 a favor do engajamento efetivo como meta das atividades ecoturísticas. A participação local é um meio de garantir que mais benefícios revertam para a comunidade, e de fortalecer a relação entre incentivos e benefícios. Além disso, confere às comunidades conhecimento e poder para que exerçam maior controle sobre a administração e o desenvolvimento de recursos. A seção sobre participação ao longo do processo mostrou que nunca é cedo demais para iniciar um processo participativo.

As seções voltadas para a questão sobre por que envolver as pessoas discutiram a importância da participação dos povos nativos no ecoturismo, a fim de que o turismo tenha mais condições de sensibilizar-se para com as necessidades locais. Tanto do ponto de vista ambiental como de desenvolvimento, é desejável que a população e as comunidades tenham um papel ativo no controle das atividades e dos recursos de seu entorno. O bom planejamento e administração são essenciais para manter ou melhorar a qualidade de vida da comunidade local e conservar as áreas naturais e a vida selvagem da região. Benefícios provenientes do ecoturismo - melhor acesso aos recursos, renda ou empregos - podem resultar na administração mais apropriada dos recursos naturais e da conservação, se a ligação entre benefícios e ecodesenvolvimento for clara e direta. E, por fim, o ecoturismo tem mais chances de constituir um incentivo para a conservação e um catalisador para o desenvolvimento local, se os benefícios forem am-plamente distribuídos.

A última seção resume alguns dos pontos da questão sobre como envolver as pessoas: como identificar os líderes comunitários, como provocar mudanças, como identificar condições específicas do local que serão relevantes, e a importância de procurar avaliar se o ecoturismo está levando ao ecodesenvolvimento.

Como West e Brechin ressaltam, uma vez que cada um desses passos foi trabalhado adequadamente, há uma série de questões políticas que podem limitar o potencial do ecoturismo em relação à conservação e aos benefícios socioeconômicos para a população local. O mais

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254 ecoturismo essencial é assegurar que a voz nativa tenha peso político real no processo de decisões sobre o desenvolvimento e gestão (Johnson, 1990). Este capítulo procurou esboçar um conjunto preliminar de passos, visando a orientar as atividades turísticas para esse objetivo. referências bibliográficas Boo, E. 1991. "Planning for Ecotourism". Parks, vol. 2, n. 3. November, pp. 4-8. Brandon, K. & M. Wells. 1992. "Planning for People and Parks: Design

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7 o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade: a experiência de Belize

Robert H. Horwich Dail Murray

Ernesto Saqui Jonathan Lyon e Dolores Godfrey

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Nos últimos anos, os conservacionistas vêm se preocupando cada vez mais com o impacto do turismo sobre os países em desenvolvimento. Apesar da sedução que o turismo exerce, por ser um empreendimento de baixo custo e alto lucro, o turismo de massa pode ter conseqüências negativas e de longo alcance para os povos nativos e o meio ambiente. Ele pode degradar o meio ambiente pela visitação excessiva (de Groot, 1983), provocar a inflação local (Yamauchi, 1984; Puntenney, 1990) e salientar as diferenças culturais e econômicas entre os habitantes locais e os viajantes mais abastados (Britton, 1980; Perez, 1980; Tambiah, 1991; Boo, 1991; Polit, 1991; Peters, 1991).

O ecoturismo não é apenas o ramo da indústria turística que cresce mais rapidamente (Ceballos-Lascuráin, 1991); ele também é considerado tanto um novo e promissor instrumento para preservar áreas naturais frágeis e ameaçadas quanto um meio de propiciar oportunidades para o desenvolvimento das comunidades dos países em desenvolvimento. Embora muitas empresas que se declaram ecoturísticas sejam claramente instrumentos de marketing para a promoção de viagens, mesmo os propósitos mais bem intencionados podem não alcançar seus objetivos.

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260 ecoturismo A administração deficiente de reservas ou parques pode levar à

destruição dessas áreas (de Groot, 1983), e a demarcação de terras para o uso exclusivo de viajantes da natureza pode deixar a população local do lado de fora da cerca, comprometendo os meios de subsistência das camadas rurais pobres e provocando sua oposição.

O ecoturismo genuíno deve basear-se em uma perspectiva de sistemas que inclua a sustentabilidade e a participação da população rural local, naquelas regiões onde o maior potencial para o desenvolvimento de atividades ecoturísticas pode ser encontrado. O ecoturismo deve ser encarado como um esforço cooperativo entre população local e visitantes conscientes e preocupados em preservar as áreas naturais e seus patrimônios culturais e biológicos, através do apoio ao desenvolvimento da comunidade local. Por desenvolvimento da comunidade entenda-se conferir poderes aos grupos locais para controlar e gerenciar reservas valiosas, por meio de mecanismos que não só sustentem as reservas, mas que também satisfaçam as necessidades econômicas, sociais e culturais do grupo.

o turismo em Belize

Belize, com sua impressionante combinação de aspectos culturais e naturais, tornou-se um destino de viagem muito popular. No período compreendido entre 1980 e 1990, as chegadas de turistas aumentaram cerca de 55% (Boo, 1990b). Em 1984, como resposta a esse afluxo e às potenciais receitas em dólares vindos dos turistas, o governo de Belize designou o turismo como a segunda prioridade para o crescimento estratégico. A Declaração de Integração da Estratégia e Política de Turismo, de 1988, estabeleceu vários objetivos importantes, incluindo a criação de um ambiente propício para o investimento do desenvolvimento (Boo, 1990b). Grande parte do turismo inicial dirigiu-se para Cayes, mas com a recente ênfase no ecoturismo, uma boa porcentagem de turistas dirige-se atualmente ao interior do país. Contudo, pouco dinheiro é gasto nos povoados rurais.

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o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 261 Belize tem desenvolvido projetos de modernização para conquistar o

potencial da indústria turística, tais como a conclusão de seu novo aeroporto, a construção de vários hotéis de grande porte, a renovação do mercado local em Belize City e o aprimoramento das empresas de serviços públicos nas duas principais regiões urbanas, Belize City e Belmopan. E o que é mais importante, o meio ambiente foi formalmente vinculado ao turismo no Ministério de Turismo e Meio Ambiente, que conferiu proteção e prioridade ao meio ambiente por intermédio do ecoturismo (Godfrey, 1990). Ênfase explícita é também dada ao controle local de pequenas operações turísticas em todos os níveis, desde a propriedade e a gestão até os cargos de prestação de serviço (Godfrey, 1990).

Graças ao sucesso de Belize no desenvolvimento de uma indústria ecoturística, tanto o governo quanto o setor privado consideram importantes a vida selvagem e a conservação florestal. A indústria vem atraindo receita estrangeira, utilizando áreas naturais sem construir instalações vultosas ou alterar os locais drasticamente. Sob orientação da Audubon Society de Belize, o desenvolvimento do parque e a conservação foram integrados com o desenvolvimento da economia local, por meio da utilização de guias locais, do fomento ao artesanato e do turismo de pousada. Esse desenvolvimento local tem sido mais significativo no Santuário Comunitário dos Babuínos, que foi classificado como área de transição de uma Reserva da Biosfera (Hartup, 1989), e no Santuário da Vida Selvagem da Bacia de Cockscomb (Boo, 1990b).

o santuário comunitário dos babuínos*

O Santuário Comunitário dos Babuínos (Community Baboon Sanctuary - CBS) foi fundado pelo Dr. Robert Horwich com a cola-

* Uma tradução mais exata seria Santuário Comunitário dos Bugios, uma vez que o gênero Alouatta, em português, é designado por bugio. (Nota do Tradutor.)

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262 ecoturismo boração de doze proprietários de terras em Bermudian Landing, um povoado rural a cinqüenta e três quilômetros a noroeste de Belize City. O CBS é um experimento de conservação e métodos de múltiplo uso da terra, em propriedades privadas (Alderman, 1990; Horwich, 1988, 1990; Horwich e Lyon, 1988). Visto que a maior parte de áreas naturais são de propriedade particular, e muitos proprietários estão cientes da liberdade e responsabilidade de possuir terras, os esforços de conservação voltaram-se para as necessidades de subsistência e para as práticas agrícolas dos fazendeiros e pequenos agricultores da região (Lyon, 1986).

O CBS foi fundado em 1985 para estimular os proprietários particulares a administrarem suas terras em benefício do bugio preto, Alouatta nigra. Uma vez que o CBS depende da total cooperação dos proprietários das terras, ele deve suprir as necessidades dessas pessoas e também as da vida selvagem. O princípio básico é simples. Solicita-se aos proprietários particulares que voluntariamente se comprometam a seguir o plano de uso da terra criado para cada fazenda, de modo a manter um bom hábitat para o bugio preto. O objetivo é manter um núcleo de floresta primária a partir do qual os grupos de bugios e outros tipos de vida selvagem possam facilmente fazer uso das florestas secundárias. Solicita-se aos proprietários que reservem aos macacos principalmente as faixas de floresta ao longo das margens dos rios, entre as fronteiras das propriedades na época do corte anual dos milharais, as trilhas aéreas em grandes áreas de corte, e as árvores específicas que fornecem alimentos para esses animais. Esses planos de gerenciamento também ajudam os proprietários a reduzir a erosão das margens dos rios e o tempo de pousio (recuperação nutricional adequada) para a terra, entre os plantios de corte e queimada.

O primeiro passo para a criação do CBS foi a circulação de petições, assinadas pela maioria dos aldeões de Bermudian Landing, inclusive pelos membros do conselho, que convidavam Horwich e seus colegas a estudarem a possibilidade da criação de um santuário. Após a aceitação informal do convite, foram cartografadas as terras

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o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 263 de doze aldeões, proprietários das fazendas que circundavam o povoado. A seguir, Horwich e seus colegas redigiram os planos de gestão e obtiveram o compromisso voluntário dos proprietários das terras. O compromisso foi prontamente acordado, devido à sua natureza voluntária e ao fato de que os fazendeiros possuíam terras adequadas. A presença de um homem do local atuando como intermediário também foi muito importante. Horwich expôs então a idéia de um santuário comunitário, numa reunião do povoado, diante do representante eleito para a região, que, a princípio, manifestou-se contra. Naquela época, a conservação e o ecoturismo eram conceitos novos e exóticos em Belize e o representante da região, que pouco conhecia ou entendia sobre conservação, estava relutante em apoiar o projeto. Contudo, no momento em que os aldeões entenderam a natureza voluntária do compromisso, aceitaram a idéia de forma entusiástica e unânime, e solicitaram a Horwich que tentasse atrair o turismo para o povoado. Já que todas as terras eram de propriedade privada, o governo federal manteve-se neutro a respeito do santuário. Somente depois de o santuário ter sido divulgado e o turismo ter aumentado, os órgãos governamentais manifestaram interesse por ele.

Com o auxílio do World Wildlife Fund dos Estados Unidos e de Jon Lycn, um ecologista especializado em botânica, o santuário foi expandido para incluir mais de uma centena de proprietários de terras e oito povoados, abarcando dezoito milhas quadradas (quarenta e sete quilômetros quadrados) de floresta ao longo do rio Belize, lar de mais de mil bugios pretos. Numa reunião do povoado, Lyon apresentou o projeto a cada um dos outros povoados e recebeu a mesma aprovação unânime. O CBS continua crescendo com o apoio financeiro que a Sociedade de Zoologia do Município de Milwaukee dá à Audubon Society de Belize (BAS).

Em 1987, sob a supervisão da BAS, foi contratado o primeiro administrador belizenho do santuário, Fallet Young, e um plano operacional foi estabelecido. Conforme sugestão do manual de operação, redigido por Horwich, Lyon, Young e Mick Craig, o diretor executivo

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264 ecoturismo da BAS, foi criado um comitê consultivo para trabalhar com a BAS na administração do santuário. Com o santuário sob administração e controle locais, os estrangeiros assumiram um papel consultivo, principalmente desenvolvendo programas. A maior parte das decisões do dia-a-dia eram deixadas para o administrador, que as relatava ao diretor da BAS.

Como em Belize não havia universidade e o acesso a conhecimentos técnicos era muito pequeno, e, como o administrador do santuário não possuía grau superior, Horwich e Lyon proporcionaram treinamento e acompanhamento pedagógico, utilizando textos didáticos de Biologia. Horwich e Lyon também propuseram idéias para programas, incorporando as sugestões do administrador, e redigiram um manual e textos da área, que o administrador utilizava como base formal para integrar seu próprio conhecimento da floresta. Young foi também estagiário em um workshop de conservação regional patrocinado pelo World Wildlife Fund. Com esse treinamento in loco, Young estava, enfim, preparado para ensinar seu assistente e outros membros do quadro de funcionários.

Os deveres do administrador incluíam uma reunião anual com os proprietários das terras, a orientação de turistas e a coordenação dessas visitas com os receptivos locais. Mais tarde, naquele primeiro ano, um assistente foi contratado pela BAS. Juntos, o administrador e o assistente deram aulas de campo para grupos de estudantes, reuniram dados sobre a fenologia das plantas, cuidaram do museu, abriram e mantiveram trilhas, plantaram um pequeno arboreto e uma estufa e executaram outras tarefas de manutenção. O administrador do santuário negociou doações e promoveu vendas no museu, bem como contratou e pagou trabalhadores e guias em regime de período parcial. O fato de o administrador ter providenciado todas as operações econômicas levou a algumas queixas de deslealdade e provocou inveja. Sem nenhum comitê consultivo funcionando no local, esses problemas continuaram. A BAS está atualmente trabalhando para reverter essa situação, mediante a criação de um forte comitê administrativo de

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o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 265 proprietários de terras de cada povoado, para supervisionar as operações in loco e implementar as quatro principais metas do santuário: conservação, educação, pesquisa e turismo. conservação

A principal função do administrador do santuário é trabalhar com cada proprietário de terra para assegurar-se de que as práticas agrícolas são condizentes com os planos administrativos que eles se comprometeram a apoiar. O aumento da população de bugios demonstra que o plano de conservação foi eficaz. Visto que nove entre dez proprietários estão cumprindo seus compromissos, parte desse aumento é atribuído às práticas aperfeiçoadas de administração das fazendas. Esse sucesso inicial está encorajando esforços no sentido de também proteger outras espécias nativas.

Uma segunda espécie em risco de extinção, a tartaruga de água doce (Dermatemys mawii), que é constantemente caçada para fins econômicos e de subsistência, desaparece rapidamente sempre que explorada (Moll, 1986). Informações sobre a reprodução sazonal da espécie estão sendo utilizadas, a fim de orientar a administração dos governos local e federal na proteção e uso sustentável da tartaruga. O santuário também planeja reintroduzir plantas e animais que desapareceram da região, incluindo aves de caça como o peru ocelado, e madeiras de lei como o mogno.

educação

O programa educacional do santuário visa a um grande número de pessoas, incluindo aldeões locais e crianças da escola local, beli-zenhos de todo o país, e visitantes estrangeiros (Horwich e Lyon, no prelo). O pequeno museu de História Natural, o primeiro museu de Belize, foi inaugurado em abril de 1989. Uma trilha autoguiada na

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266 ecoturismo floresta e um livro completo sobre a floresta tropical do santuário também fazem parte do programa educacional.

Originalmente, o museu foi projetado para ser um centro de recursos orientado para a conservação, disponível à população rural responsável pela proteção das florestas em que vive. Desde sua criação, tornou-se também uma importante atração turística. As exposições ilustram a importância das florestas tropicais, da regeneração da floresta após a agricultura depredatória, dos recursos hídricos, do mutualismo* e de outros temas ecológicos no contexto da conservação. Elas incluem materiais reunidos no local sobre história natural, cultura arqueológica e história.

A obra A Belizean Rain Forest: The Community Baboon Sanctu-ary (Horwich e Lyon, 1990) começou como um pequeno panfleto sobre os bugios, fornecido aos aldeões locais. O panfleto gradualmente transformou-se num manual, até tornar-se um livro de 420 páginas, que integra a informação sobre a flora e a fauna locais com o material de caráter geral sobre as funções e a importância das florestas tropicais. O livro é fornecido gratuitamente às escolas de Belize e é vendido aos turistas, com os lucros revertidos em benefício do santuário.

O sistema de trilhas de três milhas fornece aos visitantes informações sobre a floresta por meio de placas numeradas, cujos textos estão incluídos em A Belizean Rain Forest. Os guias do santuário complementam o texto com palestras preparadas e com seu conhecimento direto sobre os macacos. Sua familiaridade com a floresta e a vida selvagem local torna mais rica a experiência educacional dos

* Mutualismo é uma forma de associação entre seres vivos que é igualmente proveitosa para as espécies envolvidas. De acordo com alguns autores, o mutualismo só ocorre quando os parceiros dependem um do outro para a sobrevivência, como é o caso da relação entre certas algas e fungos para formar os liquens: nenhuma das espécies vive isoladamente. Para outros autores, o proveito mútuo, mantida a capacidade de sobrevivência isolada, também pode ser designado como mutualismo. Certas espécies de formigas das florestas tropicais estabelecem uma relação com plantas conhecidas como ingás, onde os insetos se alimentam de secreções das plantas, produzidas em cálices, e protegem as hospedeiras contra ataques de herbívoros. Tanto o ingá como as formigas, no entanto, podem ser encontrados vivendo separadamente. (N. do R. T.)

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o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 267 visitantes, que recebem mensagens educativas formais e informais sobre conservação.

Um documentário televisivo realizado em Belize, em 1988, estimulou o interesse dos belizenhos pelo santuário. Desde então, as visitas de grupos escolares aumentaram drasticamente, às vezes com centenas de estudantes comparecendo ao santuário num único dia. Funcionários extras estão trabalhando para controlar essas visitas e para ampliar o programa de ensino, a fim de incluir as escolas rurais e as de Belize City. Folhetos gratuitos sobre temas específicos (bugios, florestas tropicais) e o livro são oferecidos aos professores de primeiro e segundo graus em toda Belize.

pesquisa

A pesquisa propicia a base para a gestão e a educação do santuário, e os pesquisadores tornam-se turistas de longo prazo que contribuem economicamente para seus povoados. Os projetos incluem estudos da ecologia e comportamento do bugio, da ecologia da floresta e práticas de cultivo, a biologia das tartarugas de água doce, o comportamento de aves, os resíduos de pesticidas e herbicidas em peixes, estudos culturais, estudos da visão dos proprietários sobre a conservação do santuário e turismo (Hartup, 1989).

o turismo e a economia local

A integração dos interesses humanos com a conservação das florestas e

da vida selvagem é um dos principais objetivos do santuário. Depois que os aldeões propuseram a criação de uma base turística, as visitas feitas por estrangeiros e turistas belizenhos aumentaram, aproximadamente, de dez para 30 visitantes em 1985 e 1986, para 200 em 1987, 900 em 1988, 5.500 em 1989, e acima de 6.000 em 1990.

É possível alugar quartos em residências locais, e turistas de pernoite podem também acampar e fazer suas refeições em residências

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268 ecoturismo locais. Alguns turistas utilizam guias locais em barcos ou a cavalo. Todos esses serviços são providenciados pelos funcionários do santuário.

Uma doação de 11.000 dólares da Inter-American Foundation (Fundação Interamericana) foi utilizada para empréstimos a juros baixos aos aldeões. A oferta da doação foi redigida pela equipe da BAS e por Horwich, e foi submetida pela BAS à apreciação da Inter-Ame-rican Foundation. Os empréstimos foram feitos a cinco aldeões, com base nas propostas que eles apresentaram à BAS, por intermédio do administrador do santuário. A devolução do empréstimo deveria ser efetuada por intermédio do administrador; contudo, devido à mudança na equipe administrativa do santuário, os pagamentos foram suspensos durante um certo período. A BAS providenciou, então, a coleta desses pagamentos pelo comitê do santuário.

a história do ecoturismo no santuário comunitário dos babuínos

A princípio, considerando a falta de recursos e comodidade para o

turista, a idéia de promover a área como destino turístico parecia absurda. Quando a notícia se espalhou e os visitantes afluíram ao santuário, o potencial para o desenvolvimento turístico tornou-se evidente. Em 1987, quinze estudantes americanos que foram ao Ber-mudian Landing estudar os macacos experimentaram acomodar grupos de visitantes nas casas do povoado. Os estudantes faziam suas refeições com meia dúzia de famílias no povoado e moravam em barracas montadas nas propriedades das famílias hospedeiras. Esse procedimento foi viável e o programa teve continuidade em três ocasiões, na temporada de 1987-1988.

Nos primeiros anos, o turismo desenvolveu-se de maneira informal. Os adolescentes locais eram encorajados a trabalhar como guias, o acesso ao santuário era gratuito, e os turistas que chegavam eram recebidos pelas famílias locais, ansiosas para oferecer serviços de pousada. A cada ano, chegavam mais visitantes.

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o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 269 Em 1988, com o afluxo de excursões guiadas provenientes dos EUA, o

quadro de funcionários recém-nomeados constatou a necessidade de administrar as atividades do visitante. Os guias de excursões freqüentemente ludibriavam os guias locais e levavam os grupos pelas trilhas da floresta por sua própria iniciativa. As trilhas encontram-se em propriedades privadas, com cercas de criação de gado, campos cultivados e outros bens, de modo que o tráfego descontrolado pode causar danos às colheitas e reduzir as populações de vida selvagem sob proteção (Lippold, comunicação pessoal). A visitação não-admi-nistrada também impedia o contato entre os funcionários do santuário e turistas que queriam doar dinheiro para a conservação, especialmente para o CBS. Posteriormente, foi exigido que os visitantes pagassem 2,50 dólares por pessoa e que eles estivessem acompanhados por funcionários da entidade. As doações extras também passaram a ser aceitas e transferidas para & BAS, para depósito em uma conta do CBS. Uma pequena soma é retida para compras ou despesas contraídas pelo administrador do santuário, que deve prestar contas à equipe da BAS. Todas essas funções da BAS estão sendo gradativamente transferidas para o comitê local do santuário.

Já que o santuário necessitava de um local central para receber os visitantes, o museu, que funciona como sede das principais atividades do santuário, foi, em parte, criado tendo em vista essa função. Os responsáveis pelas atividades ajudaram a formalizar e consolidar o papel de administrador do santuário, seu escritório e suas tarefas administrativas. O museu, portanto, acomoda uma série de atividades integradas. Apesar das objeções das agências financiadoras de que o museu teria pouquíssima utilidade para justificar até mesmo o baixo custo de 12.000 dólares, ele é hoje uma atração turística.

o santuário da vida selvagem da bacia de cockscomb

A idéia de promover a conservação sediada em povoados e administrada localmente, chegou também a outros projetos financia-

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270 ecoturismo dos pela BAS. A Bacia de Cockscomb é um dos projetos que está beneficiando os moradores locais, mas sua história é bem diferente daquela do projeto do CBS.

O Santuário da Vida Selvagem da Bacia de Cockscomb {Cockscomb Basin Wildlife Sanctuary) foi declarado área protegida em 1984, após o estudo da ecologia da onça-pintada realizado pelo Dr. Alan Rabinowitz, da Sociedade de Zoologia de Nova York. Em 1986, 3.600 acres da Reserva Florestal foram declarados como santuário para as onças-pintadas e também para outras espécies de vida selvagem (Boo, 1990b). Com o sucesso do parque, e com o aumento geral do ecoturismo em Belize, o santuário foi ampliado para 102.000 acres, um tamanho apropriado para as onças-pintadas (Anônimo, 1990).

Antes da criação do parque, um pequeno povoado de índios maias foi localizado em Quam Bank, onde deveria situar-se o centro de atividades do novo parque. Uma vez que o parque foi criado, os maias foram forçados a desocupar a área sem qualquer explicação adequada. Com a colocação de placas e a presença de um administrador estrangeiro no local, os maias desalojados não entenderam o que estava acontecendo e lhes parecia que seus direitos legais estavam sendo violados. Por fim, foram remanejados para uma nova instalação no Centro Maia, a seis quilômetros do local original. Embora dois homens do povoado tivessem sido contratados como guardas, ainda havia ressentimento por parte dos aldeões em relação aos visitantes que passavam pelo povoado e não demonstravam interesse por eles. Além disso, os aldeões estavam então proibidos de caçar ou pescar na área recém-protegida.

Um voluntário da organização Peace Corps foi nomeado pela Audubon Society de Belize para administrar interinamente o santuário em 1985, mas as relações com os aldeões eram ainda extremamente limitadas. Em 1987, Ernesto Saqui, um professor maia do local, foi nomeado diretor do santuário. Com a nomeação de um membro local, as relações entre o parque e os aldeões melhoraram, e eles começaram a ver possíveis benefícios econômicos originados pelo ecoturismo.

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o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 271 Sete jovens aldeões foram treinados para conduzir roteiros organizados, mas tiveram que competir com os guias estrangeiros.

Apesar de sua localização remota, ao longo de uma estrada de seis quilômetros de extensão, em condições precárias de manutenção, a visitação ao parque cresceu de 25, em 1985, para 376 em 1986, 1.653 em 1987, 1.909 em 1988, 2.073 em 1989, e 2.017 em 1990. A maioria dos visitantes que vão ao santuário são estrangeiros e estudantes das escolas de Belize, incluindo a Universidade de Belize e a Faculdade de Pedagogia de Belize.

Com o tempo, os benefícios econômicos para os aldeões começaram a se materializar. De início, esses benefícios apresentaram-se na forma de salários ganhos pelos cozinheiros e outros prestadores de serviços locais. À medida que a visitação aumentava, as mulheres do povoado começaram a vender bordados e outros artesanatos à beira das estradas. Esse procedimento casual obteve algum sucesso, mas, por fim, o diretor do parque e o conselho do povoado apresentaram um plano mais organizado. Os aldeões construíram pequenas instalações cobertas de sapé para servirem como centro para venda de arte e souvenirs. A Audubon Society de Belize, como parte de suas obrigações administrativas em relação ao parque, organizou vários work-shops sobre marketing, diversidade de qualidade na produção artesanal, contabilidade e escrituração mercantil, a fim de ensinar às artesãs do local habilidades comerciais. Os lucros elevaram-se em 87% em apenas um ano. Em três anos e meio, quinze aldeãs haviam ganhado 28.000 dólares.

Atualmente, o parque possui algumas cabanas com instalações para cozinhar, e também local para acampamento para os visitantes de pernoite. As trilhas são amplamente desenvolvidas e bem conservadas. Um centro de visitantes, com exposições sobre a onça-pintada e outros felinos e suas presas, foi inaugurado em 1992.

Existem alguns projetos de pesquisa desenvolvidos por cientistas estrangeiros que incluem estudos sobre a onça-pintada e outros felinos, recenseamentos da população de aves, e levantamentos sobre a

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272 ecoturismo vegetação. O diretor colheu dados preliminares para reintroduzir os bugios no santuário. Uma vez que as florestas adjacentes estão sendo rapidamente eliminadas para o plantio de árvores cítricas, os bandos de bugios estão sendo transferidos do parque para o Santuário Comunitário dos Babuínos. Três grupos foram realocados com sucesso, em 1992, e as realocações continuarão por mais dois anos. problemas e potenciais do turismo sediado em povoados

Vários problemas têm surgido na promoção do turismo do Santuário Comunitário dos Babuínos, em parte devido à inexperiência na criação de reservas e à falta de planejamento turístico. Dado o isolamento geográfico do santuário, os esforços concentraram-se mais na divulgação da área do que no fornecimento de uma infra-estrutura para acomodações de pernoite para os visitantes. Na época, um pequeno hotel deveria ter sido construído e operado por uma cooperativa do povoado ou do santuário. Em vez disso, os interesses estrangeiros tentaram lucrar com o sucesso da área, planejando a construção de hotéis na região. Isso abalaria os alicerces de um turismo baseado na comunidade, afetando todo o sistema de integração, e a população local sofreria a privação dos privilégios e direitos experienciados em outros locais.

A falta de estrutura administrativa gera outro problema. O Santuário Comunitário dos Babuínos foi organizado sob a direção da Audubon Society de Belize, porque ela era a única organização para conservação controlada e gerenciada por belizenhos. Na época, a sociedade tinha um diretor executivo e um quadro de funcionários em período integral, e era sustentada com o patrocínio de um grupo norte-americano pró-conservação. Quando o apoio financeiro foi prematuramente retirado e o cargo de diretor executivo da BAS foi extinto, o quadro de funcionários do santuário ficou sem supervisão direta. Durante dois anos, os funcionários do santuário foram super-

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o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 273 visionados apenas pelo conselho administrativo voluntário da BAS. Como não havia comitê local, responsabilidades e ônus excessivos recaíram sobre o administrador do santuário durante esse período. Antes de organizar e promover a reserva, deveria ter sido formado um comitê dos proprietários de terras do povoado. Uma cooperativa legal teria envolvido um maior número de pessoas da comunidade no processo inicial de planejamento e implementação e teria evitado parte das rivalidades que surgiram intra e inter-povoados.

Os recursos e a comunicação ainda apresentaram outros obstáculos. Em substituição ao inconveniente telefone comunitário, um rádio permitiu a comunicação direta entre o quadro de funcionários do santuário e os turistas, através do escritório da Audubon Society de Belize. Os aldeões tiveram oportunidade de obter os empréstimos rotativos para propiciar serviços de pousada em suas casas, mas poucas famílias puderam tirar proveito disso, porque inicialmente houve uma falha na criação de um mecanismo adequado de coleta de empréstimos. Manter um fluxo contínuo de turismo de pernoite também tem sido difícil. Atualmente, Gail Bruner, do Zoológico de Atlanta, está criando um plano para divulgar o turismo para todas as comunidades do santuário.

Embora seja difícil avaliar os benefícios econômicos originados pelo ecoturismo, os dados turísticos de Hartup (1989) permitem uma avaliação parcial. Tomando-se como base os cerca de 3.000 visitantes estrangeiros em 1990, multiplica-se esse número pelo montante total gasto no local por todos os turistas entrevistados (excluindo-se as doações), e divide-se o produto dessa operação pelo número de turistas entrevistados, obtendo-se o resultado estimado de 21.605 dólares, gastos no povoado durante o ano de 1990. Dessa estimativa, 8,7% foi gasto com despesas de transportes, 9,8 com despesas de guias, 20,2 com acomodações, 43,2 com refeições, 12,3 com souvenirs, e 5,7 com pessoal/outros. Uma segunda estimativa pode ser obtida através da multiplicação das porcentagens de turistas que passaram uma ou mais noites no povoado, pelo número de 3.000 visitantes, e da multiplicação

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274 ecoturismo do produto dessa operação pela estimativa do que foi gasto com transporte, refeição e acomodação, resultando numa estimativa semelhante de 20.169 dólares, gastos em 1990. A maior parte desse montante fica com seis a dez famílias, entre aproximadamente vinte famílias existentes no povoado. Contudo, é provável que grande parte desse dinheiro fique na comunidade, por meio das compras locais e da contratação de mão-de-obra local, mas esses cálculos são mais difíceis de estimar.

Os resultados positivos do projeto do santuário são promissores, embora parte de suas contribuições sejam intangíveis. A maioria das pessoas na região julga que o projeto tem sido benéfico e quer sua continuidade. A cobertura feita pela televisão, rádio e imprensa tem promovido o orgulho nacional e regional. A cada ano, um número maior de visitantes chega à região, remunerando as famílias locais por serviços de pousada, de guias e por outros subprodutos originados pelo turismo. A proliferação dos bugios demonstra que a cooperação local na conservação está funcionando, fato que oferece estímulo para projetos futuros baseados em terras de propriedade privada e em modelos de subsistência local. Nem todas as reservas precisam estar encravadas em lotes virgens de mata selvagem para serem bem sucedidas.

O Santuário Comunitário dos Babuínos também possui, pelo menos, um resultado imprevisto, que irá posteriormente estimular o turismo. A abertura do museu, com sua exposição sobre a cultura e a história crioula local, marcou o início de um festival anual que faz com que a atenção da comunidade se volte às suas tradições culturais. À medida que o santuário desenvolveu-se e um número cada vez maior de visitantes começou a chegar, a consciência étnica também aumentou entre os aldeões crioulos locais. Um renascimento do canto folclórico, relato de histórias e artesanato feito de arbustos ocorreu paralelamente aos usos tradicionais de florestas tropicais. Esses usos da floresta incluem a extração de látex de borracha do sapotizeiro para a fabricação de goma de mascar, o trabalho de entalhe em pratos de

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o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 275 madeira, a produção de escovas, alicates e armadilhas para peixes, e o processamento do óleo de palmeira.

O santuário despertou, principalmente, um sentimento de orgulho e realização e provocou uma eco-conscientização geral. Essa educação gradual e intangível conferiu uma consciência de conservação à vida cotidiana dos aldeões. Compreensões obtidas em Bermu-dian Landing, através do processo de tentativa e erro, estão atualmente sendo utilizadas no planejamento de um novo e abrangente projeto integrado de conservação-ecoturismo em Belize.

a reserva comunitária dos manatis

Proprietários de terras, aldeões e visitantes estrangeiros acolheram o

conceito de conservação da comunidade, e o modelo do CBS está sendo utilizado em outros locais, em Belize. Um biólogo americano organizou os proprietários de terra em Ambergris Cay, uma grande ilha setentrional, para proteger as praias de nidificação de tartarugas marinhas. No rio Monkey, ao sul de Belize, foi formada uma cooperativa local, a fim de criar a Área de Preservação Natural do Rio Monkey como uma atração turística. Outro projeto em planejamento, a Reserva Comunitária dos Manatis, é ainda mais promissor, porque integra terras governamentais protegidas com terras privadas e está tentando superar alguns dos erros experimentais cometidos na criação do CBS, por meio da formação de uma cooperativa legal, com uma ampla base local, para supervisionar o santuário, e da construção de um hotel, a ser dirigido pela cooperativa local.

O projeto da Reserva Comunitária dos Manatis (Manatee Com-munity Reserve - MCR) teve início com uma série de visitas feitas à área por Horwich e Chris Augusta, uma artista americana que vem visitando a região nos últimos dez anos. Eles apresentaram um plano aos aldeões num encontro do povoado e colheram assinaturas de apoio da maioria dos presentes, convidando-os a dar prosseguimento ao

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276 ecoturismo plano. Uma proposta preliminar foi posteriormente submetida ao conselho do povoado de Gales Point e ao Ministro de Turismo e do Meio Ambiente, que é também o representante da área. Esse representante, posteriormente, organizou uma reunião no povoado, na qual vários políticos e funcionários do governo fizeram rápidas exposições aos aldeões. Foram proferidas palestras pelo Ministro de Turismo e do Meio Ambiente, pelo Presidente do Supremo Tribunal, que é do povoado, pelo Supervisor da Reserva Florestal, por um arqueólogo do governo, por um empresário estrangeiro bem-sucedido no ramo de hotelaria, e por Horwich. A palestra proferida por Horwich abarcou as possíveis falhas de um projeto como esse, bem como os possíveis ganhos.

Por solicitação, e com o suporte financeiro do Ministro e com a ajuda dos Departamentos de Florestas e Terras, Horwich e Lyon (1991) criaram uma proposta para um plano de uso múltiplo do solo. A Reserva Comunitária dos Manatis, que está sendo proposta e planejada pelos autores e por outros voluntários (Conselheiros de Conservação da Comunidade), abrange 170.000 acres de terras públicas e privadas e três grandes lagoas.

Os objetivos específicos de turismo e desenvolvimento local da MCR são três: em primeiro lugar, desenvolver uma reserva baseada na comunidade, a fim de assegurar o uso sustentável de recursos; em segundo lugar, manter e fortalecer a cultura rural da região (baseada no cultivo, pesca e caça); e, em terceiro, propiciar ao povoado uma fonte de renda suplementar por meio do turismo, que resulte em auto-suficiência econômica, em lugar da criação tradicional de empregos. As mudanças ocorrerão gradativamente, de acordo com os anseios da comunidade e sob seu controle. A conservação abrangerá a preservação do modo de vida rural, bem como a proteção da vida selvagem e de outros recursos naturais. O santuário se concentrará no desenvolvimento do turismo em torno do estilo de vida da comunidade, dando aos turistas uma experiência autêntica da vida do povoado, semelhante ao acesso à cultura crioula proporcionado pelo Santuário

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o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 277 Comunitário dos Babuínos. Permitir que os turistas desfrutem de uma "experiência intercultural" também deverá aliviar os aldeões da pressão em forjar uma aparência de opulência para os turistas (Moulin, 1980).

Como a região que circunda o povoado de Gales Point precisa ser considerada em sua totalidade, o plano de utilização múltipla do solo inclui o cultivo de produtos de subsistência e de produtos cítricos, bem como o ecoturismo (Horwich e Lyon, 1991). Com a utilização da filosofia da biosfera, o plano prevê áreas centrais, onde a interferência humana será mínima; zonas-tampão, destinadas a usos humanos específicos; e zonas de transição, onde as atividades humanas serão restritas, a fim de assegurar o uso apropriado do solo. O uso humano será limitado ao ecoturismo de baixo impacto nas áreas centrais, que foram selecionadas visando à proteção específica de espécies em risco de extinção, ecossistemas e mananciais. As zonas-tampão serão utilizadas principalmente para o corte seletivo de mogno, para a caça e a colheita, ou para a extração de recursos florestais, que não a madeira, como o látex para a fabricação de goma. Baseando-se no uso humano atual, as zonas de transição foram selecionadas como áreas destinadas à agricultura sustentável e ao ecoturismo. As restrições de zoneamento serão utilizadas para assegurar a sustentabilidade dos dois empreendimentos.

O hotel que está sendo construído com financiamento do governo será dirigido pelo pessoal do santuário, sob a supervisão da cooperativa local. Essa infusão de dinheiro do governo já está incitando os residentes a iniciarem a construção de suas próprias instalações turísticas. Um registro sistemático de manutenção e monitoramento do tráfego de turistas está projetado, a fim de propiciar dados essenciais para futuros planejamentos. Questionários simples de pesquisa, com acompanhamento regular, podem fornecer muitas informações acerca da visitação de turistas a um determinado local (Boo, 1990a e 1990b; Hartup, 1989).

Como em todos os projetos ecoturísticos, ao desenvolver a Reserva Comunitária dos Manatis, as mudanças exigidas pelo turismo precisam ser minuciosamente ponderadas de modo a manter intactas

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278 ecoturismo a unidade cultural e a integridade do povoado. Os guias do CBS são estimulados a enriquecer os roteiros com seus próprios conhecimentos culturais sobre as plantas e animais. Uma abordagem similar seria útil para os guias da MCR, que estão trabalhando fora de Gales Point.

Para melhor exibir e proteger as áreas naturais, exige-se uma preparação adequada. Para minimizar os problemas ambientais, todos os turistas deveriam ser guiados, ou, pelo menos, deveriam estar munidos de mapas de trilhas e um conjunto de regras que devem ser cumpridas. Sistemas de trilhas devem ser mantidos para facilitar a passagem e manter os turistas em áreas delimitadas. Um sistema similar de canais para a travessia de barcos precisa ser criado nas lagoas para o tráfego de barcos a motor, especialmente para proteger os manatis e outros tipos de vida selvagem. Os canais de barco nas lagoas podem incluir rotas delimitadas e limites de velocidade dentro de certas áreas. A localização e a demarcação de áreas específicas, onde é mais provável que os turistas possam observar a vida selvagem ou outras atrações naturais, são medidas que favorecem a promoção e o sucesso de roteiros ecológicos. A criação de tais áreas e a ênfase nos elementos únicos do local, que os turistas poderiam não perceber ou entender por si mesmos, fazem com que o sucesso dos roteiros aumente. No Santuário Comunitário dos Babuínos, por exemplo, os turistas quase sempre vêem os bugios porque os guias sabem onde e como encontrá-los. Em Gales Point, certas áreas, onde os manatis e alguns crocodilos americanos residem, interessariam aos naturalistas. Nesses casos, estabelecer locais permanentes de observação, como uma balsa ancorada ou uma torre, aumentaria ainda mais a possibilidade de contemplar a vida selvagem. Freqüentemente, coisas que os aldeões e guias locais consideram óbvias impressionarão os visitantes estrangeiros.

Finalmente, para agradar aos turistas, os aldeões de Gales Point deveriam valorizar seu povoado. Com o consenso do povoado, os empreendimentos poderiam incluir sanitários alternativos para o es-coamento de dejetos, tanto do povoado quanto dos turistas. Detritos

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o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 279 secos poderiam ser reciclados a fim de adubar os solos para o cultivo de flores típicas ou hortas. O planejamento e a construção de ancoradouros para barcos e piers deveriam ser feitos sob estrito controle local. sugestões para o planejamento do ecoturismo comunitário

O ecoturismo, a despeito da crescente ênfase na conservação e no desenvolvimento, ainda está em estágio experimental. Assim sendo, podemos aprender tanto com os fracassos quanto com os sucessos dos vários projetos existentes no mundo.

Apesar de algumas áreas, tais como as Ilhas Galápagos, já estarem experienciando a devastação causada pelo excesso de visitação (de Groot, 1983), estão surgindo projetos, como os existentes no Nepal e em Ladakh, para impedir a degradação do meio ambiente (Passoff, 1991; Puntenney, 1990; Goering, 1990). Alguns simplesmente fracassam devido à falta de controle local, como o de Hana, no Havaí (Farrell, 1990). Os projetos que parecem obter maior sucesso são aqueles administrados localmente, como as operações de turismo tribal de Kuna (Howe, 1982; Chapin, 1991). Os negócios mais promissores são aqueles que foram, desde o início, estabelecidos no local, em nível de povoado, utilizando uma abordagem integrada que prioriza a infra-estrutura adequada e o uso dos materiais locais, tais como o programa Turismo para Descoberta, no Senegal (Saglio, 1979).

A partir desses e de outros exemplos de sucesso, e de nossa própria experiência em Belize, oferecemos algumas sugestões para o planejamento do ecoturismo baseado na comunidade.

Em nível de povoado. Qualquer plano que inclua a utilização de recursos locais precisa ser planejado e implementado em nível de povoado, ainda que o projeto tenha um escopo mais amplo.

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280 ecoturismo Integração local. O ecoturismo genuíno deve integrar os habitantes

locais, tornando-os sócios iguais no projeto, implementação e em qualquer outro aspecto dos projetos que utilizem terras e recursos que façam parte dos padrões de subsistência (Boo, 1990b). Os sócios locais também devem reconhecer e beneficiar-se da parceria entre a conservação e o desenvolvimento da comunidade.

Capacitação local e legal, com base no conjunto da comunidade. A população local deve ser educada para defender a conservação e estar capacitada para gerenciar e administrar os empreendimentos de longo prazo, como uma administradora consciente da preciosidade dos recursos naturais. Os projetos devem ser baseados no conjunto da comunidade, visando à ampla participação, em vez de apoiados em facções ou indivíduos da elite do povoado. As organizações legais devem ser criadas para dirigir os parques ou os programas de turismo. Por conseguinte, deve haver um forte componente educacional.

Utilização de recursos existentes. Entre os recursos que devem ser utilizados estão as habilidades humanas, mão-de-obra e materiais, que deveriam ser supridos pela população local e pelos centros dos parques. Os líderes e gestores do turismo deveriam utilizar a mão-de-obra ou guias locais e estimular a compra de materiais da população local.

Escala apropriada. O projeto e desenvolvimento deveriam situar-se numa escala apropriada ao estilo de vida, estrutura social, visão cultural de mundo, padrões de subsistência e organização da comunidade, existentes no local. O ecoturismo deveria apenas ser considerado como uma indústria suplementar, e a prioridade deveria recair sobre a manutenção da agricultura, pesca ou outras atividades rurais.

Sustentabilidade. Trata-se aqui de trabalhar pela sustentabilidade de longo prazo e perpetuação dos esforços de conservação. As agências doadoras e os órgãos de financiamento devem ser conscientizados da necessidade do compromisso a longo prazo com os recursos, para prestar ajuda ao desenvolvimento e conservação da

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o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 281 comunidade. Em qualquer projeto de conservação voltado para o povoado, o suporte financeiro deve ser obtido para instalações turísticas próximas ao povoado e por ele dirigidas.

As necessidades locais e a conservação são primordiais. As necessidades dos turistas devem se tornar secundárias em relação à preservação de áreas naturais e suas riquezas, incluindo o próprio pessoal local. Os projetos de turismo devem ser estruturados para atrair os ecoviajantes que reconhecem seus papéis enquanto preservacionistas e estão dispostos a fornecer incentivos econômicos para a proteção dessas riquezas. Esse tipo de turista estará disposto a abster-se do luxo, conforto e comodidades dispendiosas do comércio turístico de massa, para vivenciar experiências autenticamente naturais e culturais, que se tornam cada vez mais raras. Os ecoturistas deveriam ser informados em vez de entretidos; educados, em vez de recreados. Turistas e grupos de turistas devem ser gentilmente administrados, de acordo com as necessidades dos recursos naturais e necessidades e anseios da população local. Os gestores do turismo, por ocuparem cargos estratégicos, têm a obrigação de educar seus clientes.

Os profissionais têm a obrigação de contribuir. Biólogos, antro-pólogos e outros pesquisadores do local deveriam adequar parte de seu estudo de modo a atrair mais mão-de-obra para o trabalho, envolvendo a população local na responsabilidade e benefícios da conservação.

A conservação é uma estratégia de desenvolvimento viável. Os governos federais devem ser estimuladas a criar políticas para a preservação de terras naturais, como estratégias viáveis de desenvolvimento, e para a reforma dos sistemas fundiários, de modo que a população rural possa possuir terras sem ter a obrigação concomitante de limpar, roçar ou cultivar os lotes em sua totalidade.

Apoio governamental. Tanto os governos quanto os grupos nacionais de conservação devem apoiar ativamente a população local no ecoturismo. Isso inclui apoio legal e financeiro e a criação de um canal de comunicação entre a organização em nível local e os sistemas do governo federal.

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282 ecoturismo Investidores e operadores turísticos conscientes. Os operadores

turísticos que oferecem destinos "ecoturísticos" devem trabalhar por intermédio das comunidades e estruturas locais de turismo. Os guias de excursões devem ter pleno conhecimento da vida e ecologia da região e devem incorporar componentes educacionais ao seu trabalho. Eles devem estimular os visitantes a comprar objetos dos santuários e fazer com que eles saibam como apoiar e contribuir para a conservação de qualquer local que visitem. Os investidores estrangeiros deveriam ser estimulados a aplicar recursos nos projetos ecoturísticos baseados na comunidade, como sócios igualitários ou investidores locais. Um investidor estrangeiro que demonstra interesse em ter um povoado como seu sócio, pode apresentar seu projeto a vários povoados; seu objetivo pode ser, por exemplo, a construção de um hotel, e, posteriormente, sua venda a uma cooperativa do povoado.

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editores e colaboradores editores Kreg Lindberg é pesquisador associado da The Ecotourism Society e assistente de pesquisa do Departamento de Recursos Florestais da Universidade Estadual de Oregon. Trabalhou para diversas organizações para a conservação nos Estados Unidos e em outros países. Além disso, redigiu inúmeros ensaios e relatórios sobre os aspectos econômicos do ecoturismo, incluindo Policies for Maximizing Nature Tourism's Ecological and Economic Benefits, publicado pelo World Resources Institute (Instituto Mundial de Recursos). Seu endereço para contato é: The Ecotourism Society, P.O. Box 755, North Bennington, VT 05257, USA; Tel.802-447-2121; FAX 802-447-2122. Donald E. Hawkins é professor de Estudos Turísticos e Diretor do Instituto Internacional de Estudos Turísticos na Universidade George Washington, em Washington, D.C. Recentemente, trabalhou como Diretor do Projeto Turístico EUA—Venezuela e do Projeto Turístico EUA—Argentina, ambos financiados pela Agência Norte-Americana de Comércio e Desenvolvimento. Produziu mais de 100 publicações, incluindo Tourism in Contemporary Society (Prentice-Hall), a edição geral da Série de Livros Didáticos e de Referência Profissional sobre Turismo e Recreação Comercial (Van Nostrand Reinhold), a co-edição e supervisão do World Travei and Tourism Review (CAB International) Volume I-III, e A Sala de Aula Ambiental (Prentice-Hall). Seu endereço para contato é: The

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286 ecoturismo George Washington University, 817 23rd St. N.W., Washington, D.C. 20052; Tel. 202-994-7087; FAX 202-994-1420. colaboradores David L. Andersen, do A.I.A. (Instituto Americano de Arquitetos), é fundador do Andersen Group Architects, Ltd., uma firma de arquitetura sediada em Mineápolis. Trabalhou junto ao Conselho Consultivo Profissional da Universidade Estadual de Iowa e é ex-presidente da Seção do Instituto Americano de Arquitetos em Mineápolis. David Andersen freqüentemente escreve e dá palestras sobre projetos de instalações ecoturísticas, e é membro da The Ecotourism Society. A Andersen Group Architects, Ltd., é hoje líder em projetos de instalações ecoturísticas na América Central, e oferece seus serviços especializados no mundo todo. Para maiores informações, contate: Andersen Group Architects, Ltd., Suite 211, 7601 Wayzata Boulevard, Minneapolis, Minnesota 55426, USA; Tel. 612-593-0950; FAX 612-593-0033. Sylvie Blangy é consultora em ecoturismo e atualmente está coordenando e editando um número especial do periódico Espaces sobre Turismo e Meio Ambiente na Europa. Ela também está dirigindo programas de treinamento e análises de viabilidade e mercado para os Departamentos Franceses de Turismo e Meio Ambiente, em territórios franceses como Guiana, Guadalupe, Martinica e ilha da Reunião. Sylvie Blangy passou dois anos desenvolvendo pesquisa sobre códigos de ética para turismo de natureza, recomendações e políticas de impacto mínimo para o programa Discovery Tours do Museu Norte-Americano de História Natural. Seu endereço para contato é: 123, Rue de la Carrierasse, 34090 Montpellier, France; Tel. e FAX: 67 52 09 94; Email: [email protected]. Elizabeth Boo é Diretora do Programa de Ecoturismo do World Wildlife Fund — US, onde trabalha desde 1986. Ela é autora de inúmeros relatórios e ensaios sobre ecoturismo, incluindo Ecotourism: The Potentials and Pitfalls, publicado pelo WWF. Seu mestrado em negócios internacionais pela Universidade George Washington concentrou-se no desenvolvimento econômico da América Latina. Seu endereço para contato é: World Wildlife Fund, 1250 24th Street NW, Washington, D.C.20037, USA; Tel. 202-778-9624; FAX 202-293-9211. Katrina Brandon é pesquisadora sênior no World Wildlife Fund e atualmente trabalha como consultora em política de biodiversidade para a Fundação

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editores e colaboradores 287 Rockefeller e para a Divisão de Política e Pesquisa do Departament Ambiente do Banco Mundial. Desde 1987, atua para o WWF em programas e projetos destinados a integrar conservação e desenvolvimento. Coordenou um programa, em quatro países latino-americanos, que promovia o desenvolvimento sustentável a partir da incorporação de questões ambientais ao processo de decisão sobre aspectos econômicos. É co-autora de um estudo do Banco Mundial intitulado People and Parks: Linking Protected Area Management with Local Communities e co-editora do World Development, edição de abril de 1992, cujo tema era "Integrando Meio Ambiente e Desenvolvimento". Seu endereço para contato é: World Wildlife Fund, 1250 24th Street, NW, Washington, D.C. 20037, USA; Tel. 202-293-4800; FAX 202-293-9211. Héctor Ceballos-Lascuráin é o Coordenador do Programa de Ecoturismo da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Coordenou o IV Congresso Mundial sobre Parques Nacionais e Áreas Protegidas, que contou com 1.800 participantes, de 130 países, em Caracas, Venezuela, em 1992. Ceballos-Lascuráin foi consultor junto ao WWF-US, na elaboração do Estudo Latino-Americano sobre Ecoturismo, publicado em Ecotourism: The Potentials and Pitfalls e tem dado palestras sobre ecoturismo, em conferências internacionais no mundo todo. É sócio-fundador da ECOTOURS, o primeiro operador ecoturístico do México. Ele pode ser contatado no seguinte endereço: The IUCN Ecotourism Program, Camino al Ajusco 551, Tepapan, Xochimilco 16020 México, D.F., México; Tel. 525-676-8734; FAX 525-676-5285. Megan Epler Wood é Diretora Executiva da The Ecotourism Society, que fundou em 1990, com a ajuda de consultores de várias partes do mundo. É Mestre em Biologia da Vida Selvagem pela Universidade Estadual de Iowa, e trabalhou para o World Wildlife Fund durante a década de 80. Ela recebeu uma bolsa Fulbright em 1989, para documentar a vida selvagem e projetos para a conservação nas florestas tropicais da Colômbia. Megan E. Wood é produtora profissional de documentários e produziu filmes e programas televisivos sobre temas ambientais para o World Wildlife Fund, a National Audubon Society e a National Geographic. Seu mais recente documentário foi um Especial da National Audubon intitulado The Environmental Tourist, que foi ao ar pela WTBS e PBS, em 1992. Dolores Godfrey trabalhou como Diretora Executiva da Audubon Society de Belize (BAS), em Belize City, Belize, de 1990 a 1992. O Santuário Comunitário dos Babuínos e o Santuário da Vida Selvagem da Bacia de Cockscomb encontravam-se sob a administração da BAS. Seu trabalho nessas áreas foi desafiador

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288 ecoturismo e gratificante, inspirando e mantendo aceso seu interesse pela participação da comunidade na gestão dos recursos. Atualmente, dedica-se ao Mestrado em Conservação de Recursos na Universidade de Montana, em Missoula, Montana, EUA. Robert H. Horwich obteve seu Ph.D. em 1967, pela Universidade de Maryland, e desenvolveu sua pesquisa de pós-doutorado na Índia, junto ao Instituto Smith-sonian. Com base em sua pesquisa sobre os processos de ligação afetiva no desenvolvimento de aves e mamíferos durante a primeira infância, propôs um método eficaz de reintroduzir filhotes de garças-azuis na vida selvagem. Desde 1967, estuda o comportamento dos primatas na Índia e na América Central, e, desde 1974, é pesquisador independente e conservacionista. Trabalhando com santuários comunitários em Belize e Wisconsin desde 1984, R. Horwich contribuiu sobremaneira para a criação do Santuário Comunitário dos Babuínos, em Belize. Atualmente, desenvolve e coordena o projeto da Reserva Comunitária dos Manatis, em Belize. Seu endereço é: Community Conservation Consult-ants/Howlers Forever, RD 1, Box 96, Gays Mills, Wisconsin 54631, USA. Richard M. Huber Jr. trabalha na Divisão de Meio Ambiente do Departamento Latino-Americano do Banco Mundial. Durante sete anos, dirigiu projetos em Trinidad e Tobago, e Grenada, nas Antilhas, para o Departamento do Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente da Organização dos Estados Americanos (OEA). Foi diretor da Associação de Guarda-Parques Urbanos, do Departamento de Parques e Recreação da cidade de Nova York, e, durante seis anos, foi voluntário e consultor do Corpo de Paz na América Latina. R. Huber é Mestre em Ciência Florestal pela Universidade de Yale. Jonathan Lyon está, atualmente, desenvolvendo sua pesquisa de doutorado na Universidade Estadual da Pensilvânia, onde estuda os efeitos da chuva ácida sobre as florestas dos Estados Unidos. Pesquisou sobre a restauração de prada-rias e áreas úmidas em Wisconsin, e estudou a recuperação das florestas tropicais úmidas, após as queimadas, no Santuário Comunitário dos Babuínos, em Belize. Desde 1985, trabalha com santuários comunitários; seu trabalho forneceu a base para a criação do Santuário Comunitário dos Babuínos e para o plano de administração das terras da Reserva Comunitária dos Manatis. Dail Murray leciona Antropologia Cultural e Sociologia na Faculdade de Viter-bo, Wisconsin, e está terminando o doutorado em Antropologia Cultural pela Universidade de Wisconsin-Madison. Realizou pesquisa de campo junto aos índios da Costa Salish e das comunidades da Velha Ordem Amish, nos Estados

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editores e colaboradores 289 Unidos. Participou da divulgação do Santuário Comunitário dos Babuínos durante sua fase inicial. Ernesto Saqui é diretor do Santuário da Vida Selvagem da Bacia de Cockscomb, em Belize, desde 1987. Participa de várias organizações comunitárias, é presidente do Maya Center Village Council, e foi uma figura central na criação do grupo de mulheres do Maya Center. É formado pela Faculdade de Pedagogia de Belize. George N. Wallace é professor associado da Universidade Estadual do Colorado, no Departamento de Recursos de Recreação e Arquitetura Paisagística, Escola de Recursos Naturais. Ministra cursos em gestão de áreas naturais, planejamento de ecossistemas em áreas selvagens, ciência social para gerenciadores de recursos naturais, bem como mini-cursos para administradores de áreas protegidas na América Latina. Desde 1967, trabalha na América Latina e desenvolve pesquisa nas áreas de ecoturismo, interpretação ambiental e ameaça às áreas selvagens. Ele fornece assistência técnica para áreas naturais no México, América Central e América do Sul, bem como para agências de administração das terras públicas dos Estados Unidos. Para maiores informações, contatar: George Wallace, Colorado State University, Forestry Building, Room 238, Fort Collins, CO, 80523, USA. David Western, o primeiro presidente da The Ecotourism Society, realizou estudos sobre os impactos do turismo de natureza em áreas selvagens durante mais de 15 anos. Desenvolveu uma pesquisa pioneira no Parque Nacional Amboseli, no Quênia, que ressaltava a importância de tornar as pessoas das comunidades locais beneficiárias do turismo de natureza. D. Western dá asses-soria ao turismo em áreas naturais no mundo inteiro, e continua a realizar pesquisas e análises de programas ambientais no Quênia. Chefia, em Nairobi, o escritório da Wildlife Conservation International, P.O. Box 62844, Nairobi, Kenya; Tel. 221699; FAX 215169.

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índice analítico de países e locais

países Belize, 153, 201, 257-279 passim Camarões, 171 Canadá, 66, 147 Costa Rica, 18, 66, 150, 153-155, 201, 221 Equador, 97-139 passim, 147, 153, 163, 176, 201 Estados Unidos, 147,150, 178, 221 Fiji, 182 Grécia, 174 Indonésia, 186 Jamaica, 35 México, 231-249 passim Nepal, 15, 150, 153, 165, 182, 186, 191, 231-249 passim, 279 Papua Nova Guiné, 201, 220 Peru, 108, 147, 153, 184 Quênia, 17, 18, 21, 147, 154, 163, 182, 186 Ruanda, 18, 153, 157, 163, 166-167 Santa Lúcia, 158-159, 163 São Vicente e Granadinas, 176 Senegal, 279

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292 ecoturismo Tailândia, 189 Uganda, 165 Zaire, 165 Zâmbia, 164, 181 Zimbábue, 180 locais Área de Preservação Natural do Rio Monkey, Belize, 275 Arquipélago Rainha Carlota, Canadá, 66 Ilhas Trobriand, Papua Nova Guiné, 201, 220 Monumento Nacional das Fontes de Águas Sulfurosas, Santa Lúcia, 158, 160, 163 Parque Nacional Amboseli, Quênia, 21, 154 Parque Nacional de Galápagos, Equador, 97-139 passim, 176, 279 Parque Nacional de Yellowstone, EUA, 15, 18, 19 Parque Nacional de Yosemite, EUA, 16 Parque Nacional do Sul de Luangwa, Zâmbia, 164, 181 Parque Nacional dos Vulcões (Parc National des Volcans), Ruanda, 164 Parque Nacional Manuel Antônio, Costa Rica, 221 Parque Nacional Marinho dos Recifes de Tobago, São Vicente e Granadinas, 176 Refúgio de Invernagem das Borboletas Monarcas, México, 231-249 passim Reserva Comunitária dos Manatis, Belize, 275-277 Reserva e Parque Florestal de Tavoro, Fiji, 182 Reserva Florestal de Neblina de Monteverde, Costa Rica, 150, 154 Reserva John Crow Mountain / Blue Mountain, Jamaica, 35 Reserva Nacional Maasai Mara, Quênia, 154 Santuário Comunitário dos Babuínos, Belize, 261-262, 266, 268, 272-278 passim Santuário da Vida Selvagem da Bacia de Cockscomb, Belize, 261, 269, 270 Unidade de Conservação de Annapurna, Nepal, 15, 231-249 passim