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    EDUCAO INCLUSIVA NA EDUCAO INFANTIL

    Relma Urel Carbone Carneiro1

    Resumo: Este artigo tem como objetivo desencadear uma reexo sobre aeducao inclusiva na educao infantil, considerando a educao inclusiva comoum modelo educacional referendado por polticas pblicas, no entanto aindadistante da realidade escolar. A reexo no sentido de pensar nas mudanasnecessrias desde a educao infantil, por ser esta a primeira etapa da educaobsica e perodo crtico no processo de desenvolvimento e aprendizagem de

    crianas com decincia. A construo da escola inclusiva desde a educaoinfantil implica em pensar em seus espaos, tempos, prossionais, recursospedaggicos etc., voltados para a possibilidade de acesso, permanncia edesenvolvimento pleno tambm de alunos com decincias, alunos esses que,em virtude de suas particularidades, apresentam necessidades educacionaisque so especiais. O texto aborda, entre outros aspectos, a necessidade de serepensar a prtica pedaggica como elemento fundamental de incluso escolarna educao infantil. A prtica pedaggica inclusiva dever se constituir pelajuno do conhecimento adquirido pelo professor ao longo de sua trajetria e

    da disponibilidade em buscar novas formas de fazer considerando a diversidadedos alunos e as suas caractersticas individuais.

    Palavras-Chave: Educao Inclusiva. Educao Infantil. Prtica Pedaggica.

    A educao brasileira tem discutido de forma mais efetiva, apouco mais de uma dcada, um novo paradigma em que a escola,1Doutora em Educao Especial pela Universidade Federal de So Carlos (UFSCAR). Docente

    do Departamento de Psicologia da Educao da Faculdade de Cincias e Letras da UniversidadeEstadual Paulista (Unesp), Araraquara. Membro do grupo de pesquisa Educao Especial:Contextos de Formao e Prticas Pedaggicas. E-mail: [email protected].

    DOSSI TEMTICOInfncia e Escolarizao

    Prxis Educacional Vitria da Conquista v. 8, n. 12 p. 81-95 jan./jun. 2012

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    segmento social fundamental na formao humana, dever oferecera todos os indivduos condies plenas de desenvolvimento. Esse

    paradigma recebe o adjetivo de novo porque historicamente aescola no se constituiu como espao aberto de educao para todapopulao brasileira. O movimento denominado de incluso escolar relativamente novo se considerarmos o grande perodo de exclusoescolar que muitas minorias historicamente marginalizadas viveram,sendo estas impedidas de usufrurem das oportunidades educacionaisdisponibilizadas aos que tinham acesso educao. A educao

    inclusiva pressupe uma reorganizao no sistema educacional deforma a garantir acesso, permanncia e condies de aprendizagema toda populao em idade escolar. Embora toda seja abrangente eenglobe uma variedade de segmentos, nesta reexo vamos nos atera um segmento populacional especco, alunos com decincia, que,por caractersticas distintas, muitas vezes requerem da escola aesdiferenciadas.

    A histria da educao de pessoas com decincia apresenta umquadro de total excluso. Esses indivduos eram institucionalizadose viviam longe do convvio social geral, passando por perodos emque eram separados em escolas ou classes especiais estabelecidas deacordo com as caractersticas de suas decincias, entendendo quesua participao em ambientes comuns s seria possvel mediante umprocesso de normalizao, at o momento atual que prev direitos

    educacionais iguais e equidade educacional.O entendimento da proposta de educao inclusiva requer umaanlise do modelo anterior com vistas a delimitar o papel da escola noprocesso de desenvolvimento e aprendizagem do aluno com decincia.

    A escola e a classe especial destinadas educao do deciente tinhamcomo meta a normalizao do sujeito de forma que pudesse seassemelhar o mximo possvel com os sujeitos normais, para ento, e s

    ento, poderem ser integrados ao convvio comum, nesse caso a escolacomum. Essa meta, alm de negar a condio de diferena e estabelecerparmetros homogneos de desenvolvimento, como se isso fosse

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    possvel, descaracterizou o papel da escola. De instituio responsvelpela formao das novas geraes, difundindo o conhecimento

    elaborado pela humanidade ao longo do tempo, passou a ter como focoprincipal, e na maioria das vezes, nico, a modicao do aluno comdecincia atravs da reabilitao de funes ou da habilitao para odesempenho de funes inexistentes em virtude da decincia. Com essaatuao a escola contribuiu para o no desenvolvimento acadmico dosalunos com decincia que caram alijados dos processos de educaoformal e, como era de se esperar, sem atingir a normalizao, pois a

    diferena uma condio inerente condio de humano e a aceitaodeste valor um imperativo inquestionvel. Morin (2011, p. 49-50)apresenta de forma belssima esse princpio.

    Cabe educao do futuro cuidar para que a ideia de unidade daespcie humana no apague a ideia de diversidade, e que a da suadiversidade no apague a da unidade. H uma unidade humana.H uma diversidade humana. A unidade no est apenas nostraos biolgicos da espcie Homo sapiens. A diversidade no

    est apenas nos traos psicolgicos, culturais, sociais do serhumano. Existe tambm diversidade propriamente biolgicano seio da unidade humana; no apenas existe unidade cerebral,mas mental, psquica, afetiva, intelectual; alm disso, as maisdiversas culturas e sociedades tm princpios geradores ouorganizacionais comuns. a unidade humana que traz emsi os princpios de suas mltiplas diversidades. Compreendero humano compreender sua unidade na diversidade, suadiversidade na unidade. preciso conceber a unidade do

    mltiplo, a multiplicidade do uno.

    Diante deste panorama, a concepo de educao inclusivatem se fortalecido no sentido de que a escola tem que se abrir para adiversidade, acolh-la, respeit-la e, acima de tudo, valoriz-la comoelemento fundamental na constituio de uma sociedade democrticae justa. Essa concepo pressupe que a escola busque caminhos para

    se re-organizar de forma a atender todos os alunos, inclusive os comdecincia, cumprindo seu papel social. Espera-se da escola inclusivacompetncia para desenvolver processos de ensino e aprendizagem

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    capazes de oferecer aos alunos com deficincia condies dedesenvolvimento acadmico que os coloque, de forma equitativa, em

    condies de acessarem oportunidades iguais no mercado de trabalhoe na vida.

    preciso comear do comeo

    A histria da educao infantil no Brasil nos remete ao surgimentodas creches, vinculadas histria da mulher trabalhadora, caracterizando-

    se como uma instituio substituta do lar materno. Durante o naldo sculo XIX e incio do sculo XX, essa concepo assistencialistaprevaleceu e o carter educacional dessa faixa etria foi desconsiderado.O estabelecimento da educao infantil como um direito de todas ascrianas s foi reconhecido com a Constituio Federal de 1988 e coma aprovao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional de 1996.

    A LDB define a educao infantil como primeira etapa daeducao bsica que tem como nalidade o desenvolvimento integralda criana at seis anos de idade, em seus aspectos fsico, psicolgico,intelectual e social.

    Considerando a proposta de educao inclusiva opo brasileirareferendada em suas polticas educacionais, entendemos que omovimento de re-organizao da escola tem que comear na educaoinfantil por ser esta, conforme prescrito na lei, a primeira etapa daeducao. Segundo Mendes (2010, p. 47-48),

    Os primeiros anos de vida de uma criana tm sido consideradoscada vez mais importantes. Os trs primeiros anos, porexemplo, so crticos para o desenvolvimento da inteligncia, dapersonalidade, da linguagem, da socializao, etc. A aceleraodo desenvolvimento cerebral durante o primeiro ano de vida mais rpida e mais extensiva do que qualquer outra etapa da

    vida, sendo que o tamanho do crebro praticamente triplicaneste perodo. Entretanto, o desenvolvimento do crebro

    muito mais vulnervel nessa etapa e pode ser afetado porfatores nutricionais, pela qualidade da interao, do cuidado eda estimulao proporcionada criana.

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    Diante da orientao sobre a educao de crianas comnecessidades especiais, apresentada na LDB, o MEC elaborou, em 2001,

    o Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil, Estratgiase Orientaes para a Educao de Crianas com NecessidadesEducacionais Especiais (BRASIL, 2001). Na introduo, tal documento,fala sobre a educao dos 0 aos 6 anos como sendo de responsabilidadeda educao, passando assim, aps trs anos da sano da LDB, ascreches e pr-escolas a serem a primeira etapa da educao bsica coma misso de estabelecer os fundamentos sobre os quais se rmam osprximos nveis de escolarizao. As atividades desenvolvidas em taisinstituies devem ser essencialmente pedaggicas. O texto enfatiza aimportncia da educao infantil e a necessidade de criar uma escolaque atenda a diversidade desde o incio. No item 5.1., sobre orientaesgerais para creches e pr-escolas, o documento recomenda que, paraatender as crianas com necessidades educacionais especiais, preciso:

    - disponibilizar recursos humanos capacitados em educaoespecial/ educao infantil para dar suporte e apoio ao docentedas creches e pr-escolas ou centros de educao infantil,assim como possibilitar sua capacitao e educao continuadapor intermdio da oferta de cursos ou estgios em instituiescomprometidas com o movimento da incluso;

    - realizar o levantamento dos servios e recursos comunitriose institucionais, como maternidades, postos de sade, hospitais,escolas e unidades de atendimento s crianas com NEE,entre outras, para que possam constituir-se em recursos deapoio, cooperao e suporte;

    - garantir a participao da direo, dos professores, dos paise das instituies especializadas na elaborao do projetopedaggico que contemple a incluso;

    - promover a sensibilizao da comunidade escolar, no que dizrespeito incluso de crianas com NEE;

    - promover encontros de professores e outros prossionaiscom o objetivo de reetir, analisar e solucionar possveisdiculdades no processo de incluso;

    - solicitar suporte tcnico ao rgo responsvel pela EducaoEspecial no estado, no Distrito Federal ou no municpio, como

    tambm ao MEC/SEESP;- adaptar o espao fsico interno e externo para atender crianascom NEE, conforme normas de acessibilidade. (BRASIL,2001, p. 24-26).

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    Diante da enormidade da tarefa apresentada no referidodocumento, aes precisam ser desenvolvidas no mbito da educao

    infantil com o objetivo de propiciar uma escola capaz de oferecertambm aos alunos com decincia, desde a mais tenra idade, condiesde se desenvolverem como cidados de fato e de direito.

    Descobertas cientcas tm colocado em pauta a necessidadede estruturao da educao infantil para o atendimento dealunos com necessidades educacionais especiais proporcionando-lhes oportunidades de desenvolvimento pleno de seu potencial,

    considerando suas especicidades. Conforme a Poltica Nacional deEducao Especial na Perspectiva da Educao Inclusiva (BRASIL,2007), a incluso escolar deve ter incio na educao infantil, quando sedesenvolvem as bases necessrias para a construo do conhecimentoe seu desenvolvimento global.

    Por sua trajetria histrica de no atendimento do aluno comdecincia, a escola comum no est preparada para tal tarefa, ou

    seja, nossa escola no inclusiva e no sabe ser, o que signica quesua transformao no sentido de cumprimento legal e de responderpositivamente aos anseios sociais, requer alteraes em toda a suadinmica. Essas alteraes envolvem vrios aspectos: estruturais,econmicos, instrumentais, de recursos humanos, pedaggicos etc.

    A construo da escola inclusiva desde a educao infantilimplica em pensar em seus espaos, tempos, prossionais, recursos

    pedaggicos etc. voltados para a possibilidade de acesso, permannciae desenvolvimento pleno tambm de alunos com decincias, alunosesses que, em virtude de suas particularidades, apresentam necessidadeseducacionais que so especiais. Talvez o maior desafio esteja naprtica pedaggica. Embora todos os aspectos mencionados sejamfundamentais e estejam atrelados uns aos outros, a ao pedaggicadirecionada e intencional contribuir em muito para a incluso em seu

    sentido pleno.A prtica pedaggica na educao infantil tem sido analisadaultimamente no sentido de superar aes que eram baseadas no cuidar,

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    promovendo reexes sobre seu papel de educar. No entanto, prticaspedaggicas arraigadas em um modelo educacional assistencialista e

    excludente no se modicam por decreto. Concepes precisam sermodicadas na busca desse ideal. Alm da mudana conceitual sobreo papel da educao infantil no desenvolvimento global e integral dacriana, quando falamos de construo de escola inclusiva temos quepensar tambm em uma mudana conceitual sobre a quem a escolase destina.

    A presena do aluno com decincia na escola comum tem se

    intensicado nos ltimos anos, porm essa presena nem sempre bem vinda em decorrncia da falta de experincias anteriores com talclientela. A escola inclusiva ter que construir uma histria de interaocom esses alunos de modo que se percebam indivduos capazes deaprender. Percepo envolve contato direto. Sem o estabelecimento deuma relao de ver, ouvir, tocar etc. no possvel conhecer o outro.

    A escola, com todos os seus atores, deve se abrir para essa experincia

    do conhecer. Muitas vezes considera-se a necessidade de preparo daescola para receber o aluno com decincia, incluindo nesse preparocursos de formao para todos os envolvidos no processo educacional.Embora sejam aes importantes e necessrias, por si s no modicamprticas. H que se permitir que a convivncia estabelea relaes depercepo capazes de levar s mudanas conceituais necessrias. Aospares, a convivncia desde a educao infantil em um modelo inclusivo

    pressupe a formao de novas geraes com concepes sem pr-conceitos sobre o outro. Se no categorizamos algo ou algum comosuperior ou inferior, esse trao no far parte de sua constituio.Conforme Arroyo (1998, p. 41),

    [...] nada justica, nos processos educativos, reter, separarcrianas, adolescentes ou jovens de seus pares de ciclo deformao, entre outras razes, porque eles aprendem noapenas na interao com os professores-adultos, mas nasinteraes entre si. Os aprendizes se ajudam uns aos outrosa aprender, trocando saberes, vivncias, signicados, culturas.

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    Alm da percepo do aluno como capaz, o professor que querfazer de seu trabalho uma ao inclusiva ter que pensar na modicao

    de sua prtica pedaggica. Nos dizeres de Sacristn (1995, p.76):

    A mudana em educao no depende diretamente doconhecimento, porque a prtica educativa uma prticahistrica e social que no se constri a partir de umconhecimento cientco, como se se tratasse de uma aplicaotecnolgica. A dialtica entre conhecimento e aco tem lugarem todos os contextos onde a prtica acontece.

    A prtica pedaggica inclusiva dever se constituir pela junodo conhecimento adquirido pelo professor ao longo de sua trajetriae da disponibilidade em buscar novas formas de fazer considerandoa diversidade dos alunos e as suas caractersticas individuais. Aindasegundo Sacristn (1995, p. 77):

    As mudanas educativas, entendidas como uma transformao

    ao nvel das idias e das prticas, no so repentinas nemlineares. A prtica educativa no comea do zero: quem quisermodic-la tem de apanhar o processo em andamento. A

    inovao no mais do que uma correo de trajectria.

    Anteriormente nos referimos ao fato de que no sabemos serinclusivos. Isso decorre das experincias culturais e sociais as quaisfomos submetidos. H menos de duas dcadas, cursos de formao de

    professores sequer referiam existncia das diferenas educacionaisadvindas das deficincias, o que resultou em uma formao e,consequente prtica, desvinculada de tal realidade. A formao inicial econtinuada dos professores da educao infantil com vistas superaode tal modelo imprescindvel. Essa formao deve abranger a reexosobre o papel do professor na formao de todos os seus alunos.

    No momento em que o professor detiver o conhecimentodos instrumentos de ao para efetivar sua prtica educativa eno s tiver o conhecimento, mas souber operacionalizar estesinstrumentos em favor de seu alunado, passar ento a ter

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    liberdade de criao e direcionamento de sua prtica embasadaem uma teoria viva. (ZANATA, 2004, p. 9).

    O fazer do professor da classe comum est diretamenteligado ao fazer para alunos ditos normais, ou seja, aqueles dentrodos padres estabelecidos socialmente como normais. E mesmopara esses existem divergncias tanto metodolgicas quanto no quese refere s relaes interpessoais travadas em sala de aula, pois sabido que a aprendizagem um fenmeno individual e particularsendo experienciada de forma diferente por diferentes sujeitos.No entanto, todo o planejamento do professor voltado para estealunado. No momento em que ele recebe em sua turma um aluno comnecessidades especcas, torna-se necessrio que seu planejamentoseja exvel a ponto de oportunizar modicaes efetivas sem,contudo, minimizar sua qualidade. Essa exibilizao curricular deveenglobar toda a prtica pedaggica do professor. O planejamentode suas atividades deve considerar as formas diferentes de aprenderdos alunos. Em caso de alunos com decincia, cada caractersticaespecca de aprendizagem deve ser considerada, passando por aesprticas na realizao da aula, buscando metodologias, estratgias erecursos condizentes com as necessidades individuais, culminandoem uma avaliao formativa que considere a evoluo de cada um. importante que a educao infantil se perceba imprescindvelno desenvolvimento e aprendizagem de alunos com decincia,

    considerando seu espao privilegiado para oportunizar experinciassignicativas que possibilitaro a esses alunos permanncia nos nveismais elevados de escolarizao.

    preciso buscar colaborao

    Vrios caminhos so possveis e necessrios no trabalho escolar

    buscando a construo de um modelo inclusivo. Em outros pases, temosacompanhado o estudo e a prtica de formas de colaborao dentro daescola, com o objetivo de unir o trabalho j existente que chamamos

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    de comum, ao trabalho especco, que chamamos de especial, a m degarantir a incluso, a permanncia e o sucesso de alunos com decincia

    na escola. A colaborao na escola pode ser exercida de vrias formasincluindo o estabelecimento de redes de apoio atravs de parcerias comoutros setores da comunidade como a sade, assistncia social, esportee lazer, ou atravs de parcerias entre a prpria equipe escolar, entre oprofessor da classe comum e o professor especializado.

    Friend (2002) ressalta vrias recomendaes sobre ideiasespeccas e estratgias para promover prticas colaborativas nas escolas,

    a primeira e mais fundamental seria levar professores e administradoresao entendimento de que a colaborao uma parte importante, crtica dofuncionamento da escola para se prolongar a uma comunidade comum.

    Walther-Thomas, Korinek e Mclaughlin (1999) abordam questessobre o desenvolvimento de relaes colaborativas e mecanismos paracriar e melhorar as redes de apoio colaborativo. Esses autores concordamque as comunidades colaborativas so de extrema importncia paraos alunos com necessidades educacionais especiais ou populaode risco. Quando se estabelece uma cultura colaborativa de suportenuma educao mais exclusiva, a principal mudana acontece com osprossionais da escola, ou seja, mudana signicativa nos papis dosmembros dos grupos. Entre outros aspectos, os autores enfatizam quelderes de todos os nveis (estado, municpio, escola) tm um papelativo mobilizando e motivando os participantes, estabelecendo direo,apoiando mudanas e compartilhando decises. Referem-se a uma viso

    clara, bem denida entre os administradores, professores, especialistas,estudantes e famlias, de que o futuro da escola deveria ser um sensocomum.

    Federico, Herrold e Venn (1999, p. 76-82), relatam umaexperincia de sucesso envolvendo o co-ensino, que ilustra que umprograma bem sucedido de incluso requer um compromisso total dodiretor. Segundo os autores, os professores da educao especial e regular

    no podem sustentar as responsabilidades de uma classe inclusiva por siprprios. Todas as pessoas envolvidas na experincia de incluso devemse dedicar para fornecer educao com excelncia para todos os alunos.

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    Ripley (1997) arma que colaborao envolve compromisso dosprofessores que iro trabalhar juntos, dos administradores da escola,

    do sistema escolar e da comunidade. Envolve tambm tempo, suporte,recursos, pesquisas, monitoramento, e, acima de tudo, persistncia.Contudo, a maior questo o tempo tempo para planejar, tempopara desenvolvimento e tempo para avaliao. Os planejamentos devemprover oportunidades de desenvolvimento de pessoal para encorajarprofessores e diretores a participar em classes, workshops, seminrios,e/ou conferncias prossionais na forma de ensino cooperativo.

    Dentre as possibilidades de colaborao na escola, o trabalhodo professor especializado em parceria com o professor comumganha destaque na educao infantil. A educao especial, que sempreteve um carter substitutivo, passa a ter um carter complementar nomodelo de educao inclusiva. A poltica educacional brasileira prevo atendimento educacional especializado aos alunos com decinciacomo forma de apoio ao trabalho escolar, devendo ser oferecido por

    professor especializado em perodo inverso ao da escolarizao doaluno. O professor especializado em educao especial, segundo asDiretrizes Nacionais para a Educao Especial na Educao Bsica(BRASIL, 2001), deve, entre outras atribuies, apoiar o professor daclasse comum. Conforme a Poltica Nacional de Educao Especial naPerspectiva da Educao Inclusiva:

    O atendimento educacional especializado identica, elabora

    e organiza recursos pedaggicos e de acessibilidade queeliminem as barreiras para a plena participao dos alunos,considerando as suas necessidades especcas. As atividadesdesenvolvidas no atendimento educacional especializadodiferenciam-se daquelas realizadas na sala de aula comum,no sendo substitutivas escolarizao. Esse atendimentocomplementa e/ou suplementa a formao dos alunos com

    vistas autonomia e independncia na escola e fora dela.O atendimento educacional especializado disponibiliza

    programas de enriquecimento curricular, o ensino delinguagens e cdigos especcos de comunicao e sinalizao,ajudas tcnicas e tecnologia assistiva, dentre outros. Ao longode todo processo de escolarizao, esse atendimento deve

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    estar articulado com a proposta pedaggica do ensino comum.(BRASIL, 2007, p. 16).

    Historicamente, o professor comum e o professor especializadotrabalharam separadamente em virtude do modelo segregativo destinadoaos alunos com decincia, de forma que um trabalho colaborativono faz parte da nossa experincia prossional. No entanto, a literaturatem apontado a colaborao como um meio ecaz para construo deescolas inclusivas. O desao posto criar modelos de colaborao emque o professor comum, com sua experincia na tarefa de ensinar e

    no manejo da classe, e o professor especializado, com experincia nasespecicidades relacionadas s decincias, unam esses saberes em proldo desenvolvimento e aprendizagem de todos os alunos.

    O trabalho de colaborao no se destina apenas a favorecer aosalunos com decincia, mas benecia a todos os alunos. Construir umaprtica exvel capaz de atender as diferenas individuais e oportunizaroutras formas de aprendizagem a todos os alunos promove um ambiente

    educacional democrtico e justo, alm de promover a prtica reexivado professor, elemento indispensvel para o novo paradigma que aeducao inclusiva aponta.

    A aprendizagem ocorre quando existem colaborao e interaopositiva entre alunos e professor. Assim ca mais fcil o professoroferecer oportunidades para desenvolver as potencialidades deseus alunos, favorecendo uma eciente adaptao e ao sobre o

    aprender. Essa interao pode no acontecer por vrios fatores comoo desconhecimento das condies cognitivas, fsicas ou sensoriais dosalunos e as pessoas envolvidas neste processo (aluno, professor e famlia)experimentam a sensao de frustrao e fracasso. Se as estratgias deensino no forem revistas e modicadas, o aluno acaba sendo rotuladoe sua aprendizagem ca comprometida. Neste momento, a colaboraoentre o professor especializado e o professor comum pode transpor

    barreiras e qualicar o trabalho pedaggico.A prtica colaborativa requer alterao na estrutura da escola de

    forma a modicar uma cultura de trabalho isolado entre os professores

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    e criar uma nova cultura em que os saberes so compartilhados parafavorecer a aprendizagem de todos os alunos.

    Consideraes nais

    A escola comum , por excelncia, um ambiente capaz de formargeraes com concepes diferentes sobre o outro, cidados comexperincias singulares de convivncia com o que h de mais humano emns, nossas diferenas. O preconceito, a discriminao, a estigmatizao

    so comportamentos aprendidos. A criana pequena, ao adentrar emum espao escolar em que as diferenas so bem vindas, vai aprenderde forma natural a valorizar o outro por aquilo que ele , que capaz derealizar. Aprender que no h limites para a aprendizagem humana e quea imposio de limites denuncia a limitao de seu autor. Desta forma,pensar em mudana de paradigma e em consequente transformaoda escola em inclusiva implica no reconhecimento de que a educao

    infantil o primeiro espao em que as mudanas devem se efetivar. Aconstruo de um ambiente inclusivo propicia condies para que todosos envolvidos no processo educacional possam dirigir a ateno sobresi mesmos e escutar o outro.

    INCLUSIVE EDUCATION IN EARLYCHILDHOOD EDUCATION

    Abstract:This paper aims to trigger a reection on inclusive education in earlychildhood education, considering education as an inclusive educational modelendorsed by public policies, but still far from school reality. The reection aimsto think about necessary changes since early childhood education,because thisis the rst stage of basic education and it is a critical period in development andlearning process of children with disabilities. The construction of the inclusiveschool since early childhood education involves thinking about its space, time,professional, educational resources etc..,turning to the possible access, retentionand development to students with disabilities, students that, because of their

    particular characteristics, have a special educational necessity. The text discusses,among other things, the necessity to rethink pedagogical practice as a keyof school inclusion in early childhood education. The inclusive pedagogical

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    practice should be constituted by the junction of the acquired knowledge bythe teacher throughout his career and by the availability to seek new ways todo it considering students diversity and their individual characteristics.

    Keywords:Inclusive Education. Early Childhood Education. PedagogicalPractice.

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    Artigo recebido em: 2/12/2011

    Aprovado para publicao em: 16/12/2011