8
N este número do boletim assinalamos a festiva data de 4 de Julho, aniversário da morte de Frei Bernardo, a que tradicionalmente chamamos “dies natalis”, isto é, o dia em que nasceu para o Senhor. Bernardo, desde cedo escolhido por Deus para O servir nos irmãos, foi dotado de graças extraordinárias, dons sobrenaturais destinados à sua própria santificação. Foi, particularmente, o dom da doença, o flagelo que o torturou ao longo da vida e o levou à morte prematura. Bernardo aceitou-a como um bem para a Igreja e para a salvação dos homens. Hoje, na celebração do 78.º aniversário da sua morte, é importante colhermos esta última lição: uma lição de saber morrer em Cristo. “Vivem os homens, nossos contemporâneos, inquietos e angustiados com o mistério da morte. A morte continua a ser – como sempre foi – um enigma. Os cristãos, à imitação dos seus santos, encontram em Cristo, na sua mensagem e, sobretudo, na sua morte e ressurreição a grande e definitva resposta”; (assim se exprimia D. Maurílio, arcebispo de Évora, relativamente à Serva de Deus - Madre Virgínia - cujo processo de canonização está em curso). Uma resposta, que só os Santos sabem dar, e que está maravilhosamente expressa e sintetizada naquele grito de felicidade proferido por frei Bernardo, no momento crucial da partida deste mundo: “Ó Santíssima Trindade! Ó Santíssima Trindade!” Instantes depois, voltando-se para os seus e consolando-os, diz: “Vou morrer; Deus aceitou o meu sacrifício. Não chorem; eu vou para o Céu… Jesus, Jesus, eu sou todo de Jesus…”. Demos graças e louvores ao Senhor pelas maravilhas que realizou neste Seu servo, Frei Bernardo de Vasconcelos. A celebração desta data – 4 de Julho – passará a ser para nós, devotos e amigos de Frei Bernardo, uma memória obrigatória. Para nós e para tantos que se sentem “obrigados”, pela força dos seus favores, a agradecer-lhe as graças; pela força dos seus exemplos, a seguir-lhe os passos. P arece-nos ser conveniente conhecermos as várias etapas da vida de Frei Bernardo, incluindo também, em termos de realidade histórica, a sua própria genealogia ou ascendência mais directa, uma vez que temos dados bem precisos, fornecidos por Arquivos Históricos. A família Teixeira de Vasconcelos (Marvão) situa-se, com essa designação, entre as distintas famílias portuguesas, cuja linhagem, mais recente, passamos a transcrever: “Família ilustre do Minho, proprietária da Casa do Marvão, em Celorico de Basto, descendente de Manuel Teixeira da Cunha e Andrade de Carvalho, que teve dois filhos, que receberam ambos carta de brasão de armas em 1790: Bernardo Coutinho Teixeira Alvares de Carvalho e Sebastião José Teixeira Carvalho da Cunha Coutinho. A esta família pertenceu Frei Bernardo da Anunciada Vaz Lobo Teixeira de Vasconcelos (1902 – 1932), mais conhecido por Frei Bernardo de Vasconcelos, monge beneditino, poeta místico e escritor, falecido com fama de santidade e cujo processo de beatificação está em curso”. Boletim Trimestral N.º 80 Julho - 2010 BOLETIM DA CAUSA DO SERVO DE DEUS Fundador: D. Gabriel de Sousa O.S.B. Direcção: Pe. Paulino L. de Castro O.S.B. Pe. Parcídio Rodrigues (Pároco) 78.º ANIVERSÁRIO DA MORTE DE FREI BERNARDO A FAMÍLIA TEIXEIRA DE VASCONCELOS Na varanda desta casa, na Foz do Douro, Frei Bernardo desfrotou dos benefícios medicinais do mar, entregan- do, por último, a sua bela alma a Deus Pe. Paulino L. Castro, O.S.B

78.º ANIVERSÁRIO DA MORTE DE FREI BERNARDO Ninfosbc.org.br/portal/images/stories/pdf/frei_bernardo_80.pdf · incompletos, entregou a sua alma a Deus, invocando ... do Marvão, em

  • Upload
    dodieu

  • View
    212

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Neste número do boletim assinalamos a festiva data de 4 de Julho, aniversário da morte de Frei Bernardo, a que tradicionalmente

chamamos “dies natalis”, isto é, o dia em que nasceu para o Senhor.Bernardo, desde cedo escolhido por Deus para O servir nos

irmãos, foi dotado de graças extraordinárias, dons sobrenaturais destinados à sua própria santificação. Foi, particularmente, o dom da doença, o flagelo que o torturou ao longo da vida e o levou à morte prematura. Bernardo aceitou-a como um bem para a Igreja e para a salvação dos homens.

Hoje, na celebração do 78.º aniversário da sua morte, é importante colhermos esta última lição: uma lição de saber morrer em Cristo. “Vivem os homens, nossos contemporâneos, inquietos e angustiados com o mistério da morte. A morte continua a ser – como sempre foi – um enigma. Os cristãos, à imitação dos seus santos, encontram em Cristo, na sua mensagem e, sobretudo, na sua morte e ressurreição a grande e definitva resposta”; (assim se exprimia D. Maurílio, arcebispo de Évora, relativamente à Serva de Deus - Madre Virgínia - cujo processo de canonização está em curso). Uma resposta, que só os Santos sabem dar, e que está maravilhosamente expressa e sintetizada naquele grito de felicidade proferido por frei Bernardo, no momento crucial da partida deste mundo: “Ó Santíssima Trindade! Ó Santíssima Trindade!” Instantes depois, voltando-se para os seus e consolando-os, diz: “Vou morrer; Deus aceitou o meu sacrifício. Não chorem; eu vou para o Céu… Jesus, Jesus, eu sou todo de Jesus…”.

Demos graças e louvores ao Senhor pelas maravilhas que realizou neste Seu servo, Frei Bernardo de Vasconcelos. A celebração desta data – 4 de Julho – passará a ser para nós, devotos e amigos de Frei Bernardo, uma memória obrigatória. Para nós e para tantos que se sentem “obrigados”, pela força dos seus favores, a agradecer-lhe as graças; pela força dos seus exemplos, a seguir-lhe os passos.

Parece-nos ser conveniente conhecermos as várias etapas da vida de Frei Bernardo, incluindo também, em termos de realidade histórica, a sua própria

genealogia ou ascendência mais directa, uma vez que temos dados bem precisos, fornecidos por Arquivos Históricos. A família Teixeira de Vasconcelos (Marvão) situa-se, com essa designação, entre as distintas famílias portuguesas, cuja linhagem, mais recente, passamos a transcrever:

“Família ilustre do Minho, proprietária da Casa do Marvão, em Celorico de Basto, descendente de Manuel Teixeira da Cunha e Andrade de Carvalho, que teve dois filhos, que receberam ambos carta de brasão de armas em 1790: Bernardo Coutinho Teixeira Alvares de Carvalho e Sebastião José Teixeira Carvalho da Cunha Coutinho. A esta família pertenceu Frei Bernardo da Anunciada Vaz Lobo Teixeira de Vasconcelos (1902 – 1932), mais conhecido por Frei Bernardo de Vasconcelos, monge beneditino, poeta místico e escritor, falecido com fama de santidade e cujo processo de beatificação está em curso”.

Boletim TrimestralN.º 80

Julho - 2010

BOLETIM DA CAUSA DO SERVO DE DEUS

Fundador: D. Gabriel de Sousa O.S.B. Direcção: Pe. Paulino L. de Castro O.S.B. Pe. Parcídio Rodrigues (Pároco)

78.º ANIVERSÁRIO DA MORTE DE FREI BERNARDO

A FAMÍLIA TEIXEIRA DE VASCONCELOS

Na varanda desta casa, na Foz do Douro, Frei Bernardo desfrotou dos benefícios medicinais do mar, entregan-do, por último, a sua bela alma a Deus

Pe. Paulino L. Castro, O.S.B

Frei Bernardo Julho 2010Página 2

Bernardo Vaz Lobo Teixeira de Vasconcelos nasceu na Casa do Marvão, em S. Romão do Corgo (Celorico de Basto), em 7 de Julho de 1902.Depois de ter feito os preparatórios no Colégio de Lamego, foi estudar na Universidade de

Coimbra. Ali se expandiu a sua alma de fogo em actividade, fecunda em obras de apostolado: como membro das Conferências de S. Vicente de Paulo; como redactor da revista “Estudos”, órgão do C A D C (Centro Académico da Democracia Cristã); como Vice-Presidente da direcção do mesmo C A D C e Presidente da Liga Eucarística, criada no C A D C para vivificar a piedade dos sócios.

Em Agosto de 1924 entrou na Ordem de S. Bento. Professou em 29 de Setembro de 1925. Recebeu as Ordens Menores em 5 e 6 de Janeiro de 1929.

Subir os degraus do altar, ser ordenando sacerdote, era a grande aspiração da sua alma; mas quis oferecer ao Senhor o sacrifício heróico de ficar privado da dignidade sacerdotal.

E Deus aceitou o seu sacrifício. D. Bernardo, como se ficou chamando como beneditino, foi uma hóstia em sangue, sofrendo em seu corpo os duros golpes com que Deus imolava a sua vítima. Sofreu, com resignação edificante, operações repetidas, dolorosíssimas, que lhe mutilavam a carne, a ponto de ele próprio chamar ao seu corpo uma “casa esburacada”; sofreu raspagens de ossos, extracção quase diária de pus das feridas, que eram chagas abertas no corpo; sofreu a imobilidade na cama, febre persistente, dores de intestinos e de rins, dificuldades de digestão, perturbações do coração.

O seu constante e multímodo sofrimento, aceite generosamente com amor e alegria, prolon-gou-se durante seis anos, em hospitais e sanatórios, no Porto, na Falperra, na Póvoa de Varzim e na Foz do Douro, até à madrugada de 4 de Julho de 1932, em que D. Bernardo, aos trinta anos, incompletos, entregou a sua alma a Deus, invocando a SS. Trindade e dizendo:

“Não chorem; eu vou para o céu... Jesus! Jesus! Eu sou todo de Jesus!...”

Desde então, numerosos peregrinos acorrem frequentemente ao túmulo de D. Bernardo, na freguesia onde nasceu. Invocam a sua intercessão e agradecem os favores que, por seu intermédio têm obtido.

Fonte : Patriarcado de Lisboa.

A 9 de Outubro de 1987 ficou concluído em Braga o Processo Diocesano em ordem à desejada Beatificação e Canonização de Frei Bernardo de Vasconcelos, falecido há 78 anos. O povo,

porém, não esperou pela decisão da Igreja, e desde a sua morte começou o venerá-lo como «santo» e a peregrinar até à sua sepultura.

Bernardo de Vasconcelos nasceu o 7 de Julho de 1902 no seio de urna distinta família, na Casa do Marvão, em S. Romão do Corgo, Celorico de Basto, distrito e Diocese de Braga.

Feito a curso liceal no Colégio de Lamego, dirige-se aos 17 anos para Coimbra, onde sofreu, no princípio, uma certa desorientação. Teve porém o felicidade de ser levado pelo mão de Deus para a C.A.D.C. Nessa Associação militavam numerosos jovens dos mais distintos na vida católica e cul-tural. Alguns deles vieram mesmo a exercer influência decisiva no panorama religioso e político da nossa Pátria.

Integrado nas Conferências de S. Vicente de Paulo, sentiu o problema dos pobres, a cujo bem, material e sobretudo espiritual se dedicou ardorosamente. Visitava-os, consolava-os e partilhava com eles todos os seus haveres. Quando em 1924 se despediu de Coimbra, deixou-Ihes todos os objectos escolares e um sobretudo cuja venda se converteu em alimentos para as famílias mais carenciadas.

Em 1931 escreverá a um colega:«Faz muito bem em se inscrever nas Conferências de S. Vicente de Paulo, obra das melhores, das

BERNARDO DE VASCONCELOS - RELIGIOSO BENEDITINO1902-1932

FREI BERNARDO DE VASCONCELOSMAIS UM SANTO PORTUGUÊS

Casa de Marvão

Frei BernardoJulho 2010 Página 3

mais frutuosas. Recordo com saudade os meus pobrezinhos e ainda aí tenho uma afilhadita, como recordação desses tempos».

Bernardo tem urna alma de poeta que se expande em versos inspirados; é conferente, escritor, secretário da revista Estudos, órgão do C.A.D.C.

Filiou-se na Congregação Mariana e é eleito Presidente da Liga Eucarística dos Estudantes, criada para vivificar a piedade dos seus sócios.

O estudo sério, o trabalho incansável e o apostolado activo, entusiasmam o seu coração ardente.

A oração, a leitura e meditação de bons livros, a comunhão diária e as longas visitas ao Santíssimo Sacramento, elevaram o seu espírito das banalidades da terra para a sublimidade celestial. Quantas vezes o viram, envolvido na capa de universitário, diante do Sacrário, na Sé velha de Coimbra! Em Janeiro de 1923 escreve:

«Sinto-me cada vez mais feliz e praza a Deus que eu possa vir a ser digno de tanta felicidade. Continuo a orientar a minha vida por um caminho austero e iluminado, conservando sempre bem arraigado à alma o lema que tomei: “ a renúncia é o caminho”. Conservo, com a graça de Deus, a mesma pureza de coração e também de acções».

Um facto vincou decididamente a sua vida: o retiro espiritual feito no Luso, com outros colegas universitários, em Fevereiro de 1923:

“Vou-me preparar melhor para uma confissão geral, que farei com uma alegria imensa. É a maior graça que Deus me pode conceder , como desejo”. No seu Diário Espiritual, anotou também:

«Servir a Deus é o ideal mais alto, é o ideal único - é o ideal».A sua vida interior não passava despercebida aos seus companheiros de estudos. Era até para

eles motivo de admiração e estímulo. Doutor José de Paiva Boléu, seu antigo colega, escreveu:«Um dia, uma pessoa que o não conhecia, ao vê-lo numa sessão solene, numa atitude não afectada,

e numa concentração natural do seu espírito, declarou-me que o Bernardo parecia um anjo a rezar.»Em Fátima, por ocasião de uma peregrinação, urna pessoa, que também o não

conhecia, declarava admirada, que nem a multidão, nem as cerimónias litúrgicas, nem a fé simples e entusiasta do bom povo da nossa terra, a impressionaram tanto como a resignação cristã, a coragem verdadeiramente heróica que se espelhava no rosto do Bernardo, enfileirado com os outros doentes para receber a bênção do Santíssimo».

Uma sua condiscípula, na Faculdade de Direito, deu este testemunho a 19 de Maio de 1924, depois de o ter ouvido recitar um soneto seu:

«Ouvi o Bernardo... Este, ou eu me engano muito, ou é já santo. Esta convicção mais se arraigou posteriormente, ao saber da sua resignação e da conformidade com a vontade do Senhor durante a sua longa doença...

A partir de certa altura convivi com ele, na persuasão de que seria santo... No seu apostolado activo e intenso e, sobretudo,no seu elevado misticismo, o Bernardo é um modelo vivo a apresentar aos jovens de Portugal».

Sob a orientação de alguns guias espirituais, sobretudo do jovem professor da Faculdade de Letras, o Doutor Manuel Gonçalves Cerejeira, mais tarde Cardeal Patriarca de Lisboa, decidiu entregar-se ao Senhor, na vida religiosa, na Ordem de São Bento.

Ao saberem, em segredo, que ele ia deixar Coimbra, os seus colegas, acorrem à estação do caminho de ferro, para se despedirem. Houve lágrimas, mas lágrimas de alegria. Pastas e fitas

voaram nos ares. Os passageiros, que iam no comboio, perguntavam o que era aquilo, que apoteose era aquela. Era alguém que deixava tudo para se unir ao Senhor.

O místico jovem ficou impressionado.«Recordo com íntima mas serena comoção aquela

despedida fraternal que tive em Coimbra. Para a minha alma sedenta de Deus e de O comunicar às almas todas, foi uma grande consolação».

A 16 de Agosto de 1924 ingressou no Mosteiro Beneditino de Singeverga. Pouco depois expande a sua alegria:

«Este delicioso isolamento tem-me feito um bem Mosteiro de Singeverga

Frei Bernardo Julho 2010Página 4

incalculável à alma. O Ofício Divino é um encanto!Que majestade e que poesia! Que esplêndidas orações da Igreja! Salmos de súplica, de

saudade de Deus, de louvor e de glorificação! Que beleza e fonte inexaurível da mais sã poesia! Como Deus é bom!».

À sua piedosa e santa mãe, que tinha feito o sacrifício da sua oferta ao Senhor escreve:«E o que fez a minha boa mãe? Reconheceu também que eu era de Deus, e a Ele me entregou de

novo. Perdeu-me? Restituiu-me a esse Bondosíssimo Senhor e a esse Inigualável Amigo».O seu ideal era ser sacerdote, celebrar a Santa Missa, sobre a qual escreveu coisas tão belas.

Resolveu porém fazer o acto heróico de renunciar a essa dignidade, a fim de obter para a sua Ordem, em Portugal, as graças necessárias para a seu estabelecimento e florescimento.

A oferta foi aceite. A cruz bate-lhe à porta e transforma-o numa «hóstia em sangue».Vai percorrer as casas do sua Ordem, quer em Portugal, quer em Espanha e na Bélgica, com

o sofrimento a dilacerar-lhe o corpo, com uma tuberculose vertebral. É internado em hospitais e clínicas, mas sempre debaixo do peso da cruz.

São seis anos de martírio numa imolação cruenta, com operações repetidas a mutilar a carne, a abrir canais, a raspar ossos, a extracção quase diária do pús, a imobilidade do corpo, a febre persistente, as dores dos intestinos e dos rins, as dificuldades da digestão, a fadiga cerebral, as perturbações do coração. Admiremos a grandeza da sua alma :

«Estou nas mãos de Deus. Tenho sofrido bastante; Só com o auxílio d’Ele poderia suportar certas dores. Ele lá tem os seus desígnios. Uns são destinados para pregar; outros para orar; outros para sofrer. Neste tempo em que o mundo é atravessado por uma onda de despudor e de baixeza moral, é mais necessária a expiação e o desagravo». Sofria, porém, inundado de alegria sobrenatural, vivendo aquilo que recomendava o um colega enfermo:

«Não te entregues à tristeza que só serve para inutilizar as nossas melhores energias... dilata o teu coração e deixa entrar nele o sol vivificador da alegria. Alegria, mas com tantas provações? Olha o que te digo: quem viste ainda sem cruz? A cruz segue-nos onde quer que vamos e temos de a levar; e, se a não quisermos erguer generosamente e levar nos nossos braços aos abraços, quer dizer, com todo o ardor do nosso coração - o que a fará mais levezinha - teremos de a levar atrás de nós, aos arrastos».

Noutra carta: «Para longe as tristezas doentias. Triste é o pecado, triste deve ficar quem ofende a Deus... Um bom cristão não tem o direito de se dar à tristeza».

A seu respeito escreveu o médico que o tratava no Porto : «No meu consultório conhecem-no todos; todos o respeitavam carinhosamente e todos, qualquer

que fosse o seu ideal religioso ou político, lhe chamavam o frade santinho».Quantas pessoas não impressionou Frei Bernardo com a sua vida de amor! Amou a todos e

amou-os com amor puro, delicado, ardente. Possuía o condão de atrair, aquecer e elevar as almas. Uma auréola de profunda simpatia envolve o seu nome. E tantos, no contacto com ele, experimentaram a maravilhosa atracção para a verdade, o bem, para Deus.

Na Foz do Douro, aos 30 anos de idade, no dia 4 de Julho de 1932, sem agonia, rodeado da família, a quem pedia perdão e consolava, suspirou :

«Ó Santíssima Trindade, ó Santíssima Trindade! Não chorem, eu vou para o Céu... Jesus, Jesus, eu sou todo de Jesus».

E expirou santamente.

(Da Revista “ Cruzada “, de Agosto-Setembro 1999 )

Missal da Casa de MarvãoPia Baptismal na Igreja de São Romão do Corgo

Frei BernardoJulho 2010 Página 5

“POEMAS PARA REZAR”

O testemunho de acrisolada amizade do poeta P.e Moreira das Neves para com Fr. Bernardo de Vasconcelos está plasmado numas dezenas de sonetos que lhe dedicou

e não publicou: ”O volume ficará naturalmente inédito porque hoje fica caríssimo qualquer publicação”, diz, em carta à sobrinha de Fr. Bernardo. Foi possível, porém, publicá-lo agora e leva o enternecedor título original – “O Monge que Morreu Cantando”.

Repare-se na perda que seria ficar no limbo do esquecimento uma pérola como esta:Também se reza ao arranjar um verso Numa simples palavra que se escreve.Rimado ou branco, alexandrino ou breve(…) Escrever é tornar a Dor mais levePois pode o próprio Deus ficar imerso E encher de sangue as veias do Universo”.Também Vergílio Ferreira, mesmo confessando-se agnóstico, apesar da educação religiosa que

recebera, não desdenhava dizer que escrever é uma forma de rezar. Com efeito, estes e tantos outros versos são verdadeira oração porque são “elevação da alma para Deus”.

O fisiologista Alexis Carrel define o homem como “um todo indiviso composto de tecidos, de líquidos orgânicos e de uma consciência”; e esta “prolonga-se para fora do continuum físico”. E tal como o corpo vivo está ligado ao universo material “pela necessidade constante do oxigénio, do ar e dos alimentos que a terra lhe oferece”, assim a oração é “o agente das relações naturais entre a consciência e o meio que lhe é próprio” – o espírito, que é onde habita o sentido do sagrado em que vivemos mergulhados.

Este sentido do sagrado, que, com o senso moral, o senso estético, e a inteligência teórica ou prática, nos compõe o espírito, merece-nos, não raro, pouca atenção, e a cada passo o deixamos atrofiar, perdidos que andamos em frívolos imediatismos. E todavia, este sentido do sagrado é-nos conatural como a respiração: esta imposta pela própria natureza; aquele, exigindo a adesão da inteligência e da vontade para podermos realizar a integridade da pessoa. E é na oração que o sentido do sagrado se traduz, através de expressões várias.

S. Luís de Gonzaga fazia equivaler a oração ao cumprimento do dever. Os místicos fazem da sua vida quotidiana uma oração constante saída das entranhas da alma em que a consciência se absorve em Deus sem soluções de continuidade. O homem comum, se não perdeu o sentido do sagrado, pára para rezar – na igreja, na intimidade do seu aposento ou mesmo, por algum momento, no meio da lufa-lufa da vida, recitando alguma fórmula breve, Ave Maria! Outros há que, para além disto, elevam a alma a Deus (ignorando-o, porventura) nas grandes realizações do espírito humano. Depois dos apóstolos e dos mártires do tempo primordial, depois dos pensadores da Antiguidade e da Idade Média, da nobreza das catedrais e do canto gregoriano, já no nosso tempo as conquistas científicas da Max Planck (teoria quântica), de Einstein (teoria da relatividade), de Louis Broglie (mecânica ondulatória), de Mme. Curie (radioactividade) que são elas senão verdadeiras orações, isto é, “tensão do espírito

humano para o substractum imaterial do mundo”? E, antes de todos estes e seu precursor, Pascal, foi pela via da mesma ciência – matemática, física, química – que mergulhou no próprio mistério do coração humano e no mistério divino da sua experiência mística de Jesus Cristo. E di-lo nos seus “Pensamentos”: “Deus estabeleceu a oração para comunicar às suas criaturas a dignidade da causalidade”. O ensinamento aqui contido é que a oração não modifica a ordem natural das coisas, modifica as pessoas e estas modificam as coisas, espiritualizando-as e remetendo-as a Deus.

Por isso, Moreira das Neves diz sobre Fr. Bernardo (que também rezava em verso):

“E rezava em silêncio – o céu me ajude (…) E naquilo que escreva em alvoroço A que me inspire apenas a virtude A que nada me saia contra a Lei Eu diga a Deus o que, sem Deus, não posso E diga ao mundo o que, sem Deus, não sei”.

Ernesto Campos

Frei Bernardo Julho 2010Página 6

Pe. Abel Matias, Monge Beneditino

Um dia o Bernardo abalou de terras de Basto para este Colégio Beneditino, forja onde tantos vultos das artes, do foro, da medicina, engenharia, do ensino e, mesmo, da igreja, temperaram

suas asas e rémiges para voos sublimes! Veio como todos, banhado em lágrimas de saudade, menino de 10 anos, arrancado ao colo de sua mãe, da solarenga e brasonada casa do Marvão, para os dormitórios com portas e janelas desconjuntadas do velho casarão da Ortigosa.

Não trazia planos de vida! Apareceu aqui, qual ave alada, nas asas do destino. Começou a palmilhar os mesmos corredores que todos, tiritou as mesmas nevadas, suou os mesmos sois e refrescou-se na mesma água da mina da quinta que, ainda hoje, corre e sedenta os actuais alunos; aqui ensaiou, como todos, os primeiros passos em sendas tortuosas para as grandes marchas da vida!

Cresceu em graça, sabedoria e elegância poética nas margens do Douro-Sul, rio que corre sublimado de regresso das vindimas a serpentear, rente às fragas do Marão, por entre vinhedos em festival de coloridos outonais, a navegar em mosto… socalcos, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão. Um universo virginal como se tivesse acabado de nascer e já eterno pela serenidade, pelo silêncio, que nem a passarada se atrevia a quebrar…um poema geológico! A beleza absoluta! Uma brisa de paz e frescura! Este mesmo silêncio e paz que um dia o Bernardo iria procurar no Mosteiro de Singeverga como estética da sua vida de monge beneditino.

Agora perguntai aos mesmos corredores cobertos de seculares poeiras, ao mesmo piso da calçada, ao mesmo vento que passa pelos píncaros da Serra das Meadas, se o Bernardo partia carteiras, escrevia nas paredes, pontapeava portas, rasgava livros, fugia à cidade, fumava o mesmo cigarro da revolta nos quartos de banho! Claro que sim, pois nas suas veias palpitava a mesma energia púbere como em todos vós ferve, em longas noites de insónia, a manchar, pela primeira vez, a brancura dos ricos lençóis de linho! Quando o amor desperta, é mais forte que as necessidades motivacionais de base somática.

Mas afinal foi mais forte que todos, como ele próprio, já Monge-Poeta, escrevia em “Cântico de Amor”:

Dando cumprimento às normas estatuárias, estabelecidas pelos fundadores da AAA,

para o melhor aluno de cada ciclo, do ano transacto (2008-2009) foram comtemplados com o prémio “Frei Bernardo” - Carácter e personalidade os seguintes alunos:

Tiago Miguel de Sousa Ruivo - 2.º cicloRicardo Henrique Teixeira Duarte - 3.º cicloDaniel Filipe Silva E. M. Freitas - Secundário

O Secretariado do Boletim “Frei Bernardo” felicita-vos pela distinção com que fostes agraciados.

FREI BERNARDO ALUNO DO COLÉGIO DE LAMEGO

PRÉMIO FREI BERNARDOCOLÉGIO DE LAMEGO

“Um dia tive sede de infinitoE senti-me num mundo insatisfeito…Ergueu-se alfim meu coração contritoA místicas alturas do meu peito

Preso na sede ardente, que crescia,Tive a viva intuição dum rumo aberto,Quando a minh’alma em trevas pressentia,Numa visão de paz, caminho certo.

E novos horizontes me sorriam…E por esses caminhos que se abriamEu comecei uma ascensão sem fim…

E nunca soube ao certo por onde iaNem se era eu que para Deus subia,Ou se era Deus que me levava a mim…”

Frei BernardoJulho 2010 Página 7

Na sua modéstia, esta folha não tem por fim apenas propagandear o nome do Servo de Deus; deseja, sobretudo, tornar conhecida a sua mensagem, sensibilizando para o divino as almas a

quem o terreno não basta. Assim o sente um numeroso grupo de fervorosos zeladores, que tudo fazem para aumentar o número dos leitores de Frei Bernardo.

Além do envio individual do boletim, pelo correio, como processo mais usual, mas mais dispendioso, adoptamos também a modalidade de criar núcleos ou centros de irradiação da Causa do Servo de Deus, limitados a pequenas zonas em que as pessoas se conhecem e se encontram com frequência. Aí os bons zeladores da Causa do Frei Bernardo se encarregam de fazer a distribuição do boletim, recolhendo também os donativos que os leitores e amigos, porventura, queiram oferecer e que fazem chegar ao Secretariado de Frei Bernardo. Nesta forma de divulgar o boletim pensou sempre D.Gabriel de Sousa – o promotor da Causa de Beatificação.

Limitámo-nos a prosseguir com esse trabalho, agora numa escala maior e recorrendo a um número mais elevado de pessoas que vamos conhecendo e que se oferecem para trabalhar connosco nesta obra que é da Igreja. Fazem com muita dedicação este trabalho diante dos amigos mais íntimos, como sejam: família, vizinhos amigos e elementos da paróquia que comungam nos mesmos ideais de fé e de serviço às comunidades.

Como o contributo monetário se torna necessário na prossecução deste trabalho, passamos a referir, como prometemos, os nomes dos grupos e seus zeladores que nos fizeram chegar essa preciosa ajuda desde o ínicio do ano em curso. São eles:

Adelino A. Pacheco Freitas Lima Lamoso (Paços de Ferreira) 5,00Alcídio Marinho Porto 20,00Antónia Nogueira da Cunha Baltar 30,00António Marinho Coelho Sousa, Engº. Porto 10,00Aurora Chambel Catarino Alves Barreiro 20,00Domingos Lucas Dias, Dr. Lisboa 20,00Lucas Fernando Gonçalves dos Santos Porto 15,00Maria Adelaide Teixeira N. Costa Roriz STS 25,00Maria dos Anjos de Jesus Correia Martins, Dr.ª Lamego 30,00Maria Luísa Alvarenga, Dr.ª Porto 50,00Pureza Gomes Ferreira Canidelo VNG 85,00 TOTAL 310,00

A todos os benfeitores que nos enviam as suas ofertas, em grupo ou individualmente, o Secretariado do Frei Bernardo agradece muito penhorado, qualquer que seja o montante. Que Deus vos recompense.

Como foi anunciado no número anterior, a romagem ao túmulo de Frei Bernardo, em S.Romão do Corgo, Celorico de Basto, ocorrerá no dia 3 de Julho, no dia anterior ao aniversário da

sua morte. Este ano contamos com um número muito significativo de devotos e amigos de Frei Bernardo, da paróquia de Roriz, Santo Tirso, paróquia onde está situado o Mosteiro de Singeverga, a que pertenceu Frei Bernardo.

Como seria de desejar que outros centros lhe seguissem o exemplo para que, em conjunto e no lugar onde se veneram os seus restos mortais, possamos cimentar mais e melhor o nosso conhecimento e total veneração ao Servo de Deus -Bernardo, que queremos possa ser elevado, muito em breve, à honra dos altares.

Aos amigos e devotos de Frei Bernardo, que vivem no Porto e imediações, e queiram inscrever-se nesta bela romagem, avisa-se que devem contactar o Sr. Ângelo Carneiro, digno Provedor da Irmandade de S. Crispim e grande devoto de Frei Bernardo. Os contactos são: 919 286 475 ou 225 368 927.

Qualquer outra informação que queiram obter ou dar, contactem, por favor, o Secretariado de Frei Bernardo, como vem anotado nesta página, com os contactos: 969 257 001 ou 222 007 283.

O NOSSO BOLETIM

ROMAGEM AO TÚMULO DE FREI BERNARDO

Frei Bernardo Julho 2010Página 8

À ATENÇÃO DOS LEITORESNo seguimento do texto das páginas anteriores,

reputamos da máxima importância apelar a todos os devotos e amigos de Frei Bernardo no sentido de comunicarem à Direcção do Boletim, sempre que sejam contemplados com uma graça obtida por intercessão do Servo de Deus.

Todas as graças são arroladas ao Processo para servirem de prova.

É importante que todos se consciencializem desta realidade.

Dirijam-se ao secretariaDo De Frei BernarDo:Mosteiro de S. Bento da Vitória

Rua das Taipas, 94 4050 – 598 PORTO

Tel. 222 007 283 • 969 257 001Email: [email protected]

FREI BERNARDOBoletim da Causa do Servo de Deus

Administração: Mosteiro de S. Bento da Vitória

Rua das Taipas, 94 - 4050 - 598 PORTO

Edição e Propriedade: Fábrica Paroquial

de S. Romão do Corgo, Pe. Parcídio Rodrigues

Impressão: Gráfica S. Miguel, Lda. - R. Norton de Matos, 731

Gulpilhares - 4405-671 V. N. de Gaia

Tiragem 2500 exemplares - Distribuição Gratuita

O BOLETIM NA INTERNET

A todos a quem chegar este boletim, o Secretariado do Frei Bernardo faz saber da nossa intenção em recorrermos também aos meios modernos da informática para o seu envio.Mantemos, como parece razoável, o envio pela forma tradicional - o Correio - para quem assim

preferir; mas para quem já entrou no mundo da informática e sabe das vantagens e facilidades que isso comporta, pedimos, encarecidamente, a vossa colaboração, enviando-nos o vosso E-mail para que tudo possa ser regularizado.

Sabemos dos altos custos de qualquer publicação e do seu envio pelo correio. Podendo evitar essa despesa, recebendo da mesma forma o boletim, agora no vosso computador, e até podendo reencaminhá-lo para outros amigos e familiares, estaremos todos a colaborar na obra da divulgação da pessoa do Servo de Deus - Bernardo de Vasconcelos.

Nossos e-mails: [email protected] ou [email protected]

NA MÃO DE DEUS

O Senhor vai chamando para Si alguns assinantes do nosso boletim, a celebrarem com Ele a sua Páscoa Eterna. Como é obrigação nossa, assinalamos os seus nomes, sempre que nos chegam

notícias. Hoje somos convidados a rezar pelo eterno descanso de:

Constância Costa Anunciada Martins - LagosEngº. Artur Vaz Osório - LisboaMaria da Glória Gonçalves – Covelo – Bilhó – Mondim de BastoMaria da Graça Alves Camões – Fontela – Mondim de BastoMaria de Lourdes Sampaio Melo Pereira de Almeida – Coimbra

GAUDEAMUS

Aproxima-se a festa do Patriarca São Bento e recordamos, uma vez mais, esta figura

tão carismática da Igreja Ocidental dos primeiros séculos. Se a Europa nasceu de alguém, o deve certamente a este pai e a outros “pais”, que a fecundaram e tornaram uma realidade civil izacional, com valores humanos e religiosos.

São Bento não foi, apenas, um homem santo, foi antes de mais, um homem com uma grande vontade de amar, viver e de procurar a Deus. A sua alegria estava em Deus, e a sua paz, que depois se tornou lema da Ordem Beneditina, é fruto desse encontro nas coisas da vida com o Pai Maravilhoso. É que “querendo antes cansar-se a trabalhar por Deus”(II Livro dos Diálogos do Papa Gregório M.) separou-se do mundo, e depois, voltou para ele, no sentido de quem traz uma novidade para todos os homens. Já dizia Jesus aos seus amigos “ Bendito sejais, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelastes aos pequeninos os mistérios do reino” (cf. Mt 11, 25). Assim, a Igreja, esposa de Cristo, celebra e relembra, com alegria a vida de Bento de Núrsia, com louvor aos céus por tão grande dom à humanidade. Somos herdeiros duma Europa beneditina, por conseguinte, herdeiros dos bens de São Bento: a Paz de Deus.

André Olim, O.S.B.