128
| 1 |

8 poetas blogueiros hoje

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Esta obra é fruto da pesquisa A (À) margem da edição: a poesia, dos mimeográfos aos blogs, realizada pelo programa de Iniciação Científica do CEFET-MG, fomentado pela FAPEMIG. Nela o leitor encontrará os poemas dos seguintes poetas-blogueiros: Fernanda Bião, Taynara Irias, Vitor Hugo Morales, Matheus Alexandre, P.C. Ventura, Guilherme Fernandes, Luiz Carlos Vieira, Sabine Ribeiro.

Citation preview

| 1 |

| 5 |

8 poetas-blogueiros hoje foi produzido durante a pesquisa A (À) margem da edição: a poesia, dos mimeógrafos aos blogs, realizada pelo programa de Iniciação Científica do CEFET-MG, fomentado pela FAPEMIG, no período de 2012 a 2014, por alunos e professores do curso de Bacharelado em Letras-Tecnologias da Edição, Departamento de Linguagem e Tecnologia.

• • •

Coordenação editorial: Prof. Andrea Soares SantosConsultoria editorial: Prof. Pablo GuimarãesOrganização: Izabel Maria Fonseca Vieira SáRevisão: Prof. Andrea Soares Santos e Izabel Maria Fonseca Vieira SáCapa e diagramação: Ana Sofia Alencar Castro

• • •

AgradecimentosAgradecemos aos poetas-blogueiros, por participarem até o final da nossa pesquisa, e ao prof. Pablo Guimarães, por sua consultoria ao projeto editorial.

SUMÁRIO

Introdução09

Fernanda Bião Construções da Alma

15

Taynara IriasA incoerência da alma

27

Vitor Hugo MoralesPoesia, filosofia, pouca e pequena

43

Matheus Alexandre O eu escrito

61

P. C. VenturaPoesias para beber

73

Guilherme FernandesO globo …ocular

87

Luiz Carlos VieiraÀs arvores do caminho

101

Sabine RibeiroUma biografia

113

| 9 |

Introdução

Entre os 26 poetas hoje, antologizados por Heloísa Buarque de Holanda, na década de 70 do século passado, e esses nossos 8 poetas-blogueiros hoje, há um lapso temporal profundamente marcado pelo advento das novas tecnologias de informação e comunicação.

E, dentre outros objetivos, era justamente o impacto dessas tecnologias no fazer poético e nos modos de fazer circular a produção daí decorrente que pretendíamos investigar ao propor, em 2012, o projeto de pesquisa “A (À) margem da edição: a poesia, dos mimeógrafos aos blogs”, pelo programa de Iniciação Científica do CEFET-MG, fomentado pela FAPEMIG.

É, pois, no mínimo curioso que o resultado desse esforço investigativo se nos apresente na forma do bom e velho livro impresso, com a antologia de agora mimetizando, ainda que guardadas as proporções, aquela anterior, de 1975. Para entender isso é necessário reconstituir, ainda que de modo breve, o percurso percorrido até aqui.

Realizada no período de 2012 a 2014, esta pesquisa pretendeu contrastar as atitudes, nos âmbito da criação e da edição, dos chamados poetas marginais da década de 70 e de autores que contemporaneamente veiculam suas produções por meio de blogs. Numa manobra algo espelhada na da própria Heloísa Buarque de Hollanda que, no prefácio de 26 poetas hoje, afirma ter escolhido para compor a sua antologia “os trabalhos que estavam mais ao alcance de seu conhecimento”, optamos por tomar como objeto de análise um corpus de blogs de poesias produzidos por membros da comunidade do CEFET-MG.

Divulgamos nossos propósitos, convocamos alunos, professores e servidores cefetianos e eis que nos vimos, numa ponta, diante desses oito poetas-blogueiros e, noutra, diante de autores que, conforme nos ensina Glauco Mattoso em O que é poesia marginal (1981), queriam divulgar o seu trabalho em uma época em que o mercado editorial era fechado para novas concepções.

Mas a questão, em essência, permanece a mesma. Entre supor-se autor e ser consagrado autor – ou autor consagrado (o que dá na mesma) –, o passo é passar ao livro. Mas não nos referimos apenas ao “fazer o livro”. Esse não é problema. As tecnologias do nosso “hoje” facilitam a publicação e a circulação de um modo

| 10 |

que certamente empolgaria os poetas da geração-mimeógrafo. Por isso, podemos apresentar aqui a vocês, leitores, nosso 8 poetas-blogueiros hoje, seja em formato e-pub ou impresso, visualizável ou palpável.

A questão é, então, como se passa à história. Os poetas da geração mimeógrafo lograram a notoriedade que hoje lhe atribuímos porque foram antologizados por ninguém menos que Heloisa Buarque de Hollanda, inseridos por ela na linha valorativa de nossa história literária, publicados por editora reconhecida, consagrados pela crítica, e, hoje, frequentam (pelo menos no caso de alguns) catálogos de grandes editoras comerciais. Os oito poetas que aqui apresentamos, têm, ao contrário, diante de si uma longa estrada, que poderá ser ou não percorrida.

Realmente há, entre os “à margem da edição” dos anos 70 e esses nossos cefetianos blogueiros do século XXI, muitas diferenças. De contexto, de propósitos, de concepções de poesia, de visão de mundo, de temáticas, de habilidade de manejo linguístico, etc. É o que o conhecimento prévio do leitor sobre a geração-mimeógrafo, em confronto com critérios de escolha dos poemas aqui reunidos, sobre os quais falaremos a seguir, os próprios poemas e as entrevistas com os autores certamente apontarão.

Acreditamos, porém, que o primeiro passo foi/ é, para todos os poetas, sempre o mesmo: escrever, considerar o que se escreve como sendo poesia e desejar ser lido. É em celebração a essa atitude, à coragem desse primeiro passo, que fizemos este livro.

A escolha dos poemas

Justificar a seleção de textos para uma antologia literária nunca é fácil. Em uma escolha como essa, definir critérios torna-se uma tarefa melindrosa, uma vez que estão latentes questões como o que pode ser considerado uma boa literatura, seja quando se consideram valores pessoais, mercadológicos ou aqueles ditados pelos padrões estéticos da crítica especializada acadêmica. Apesar de o nosso corpus de autores não ser grande, apenas 8 poetas1, deparamo-nos com uma quantidade enorme de poemas, na casa de centenas. Como o nosso objetivo na

1 Recebemos um total de 18 inscrições, porém apenas 8 blogueiros formalizaram o compromisso de participar de todas as etapas da pesquisa.

| 11 |

pesquisa nunca contemplou um julgamento de valor estético, não poderíamos utilizar como critérios os padrões acadêmicos. É claro que, na nossa escolha, ficam implicadas as nossas formações como profissional da Linguagem e estudante de Letras. Um gosto, queira ou não, já conformado ou influenciado pelos valores estéticos do cânone literário.

No momento de escolher os poemas, decidimos que o objetivo principal seria apresentar ao leitor as variedades que essa poesia feita nos blogs poderia apresentar, deixando, assim, o julgamento estético para a recepção. Escolhemos poemas com diversas formas e temas. Em alguns, há maior trabalho com a linguagem, em outros, maior preocupação com a expressão. Entretanto, o leitor poderá verificar que há muitas semelhanças entre as produções. Enquanto realizávamos a pesquisa, ao longo da análise dos blogs, notamos, por exemplo, que há a predominância da primeira pessoa nos poemas; há também boa quantidade de temas relacionados a questões existenciais, nas quais “o tempo” ganha destaque. Essa perplexidade diante da realidade poderia ser explicada pelo fato de a maioria dos poetas-blogueiros serem muito jovens, mas nos textos dos autores mais maduros, os questionamentos existenciais também aparecem.

Como mencionado, durante a pesquisa, realizamos um questionário com os poetas-blogueiros, que também serviu de base para a escolha dos poemas. Quando perguntados sobre o que consideravam o que era poesia, a maior parte dos poetas manifestou uma visão de poesia próxima à concepção de poesia dos autores do Romantismo , ou seja, de uma poesia, primeiramente, como forma de expressão. Notamos que nos casos em que esse aspecto era mais valorizado, os poemas correspondiam a essa visão. Já nos poemas dos autores que salientaram os aspectos linguísticos da construção poética, podemos notar maior trabalho com a linguagem. Como dissemos, não há julgamento de valor estético aqui. Não pretendemos dizer que uma obra seja melhor do que a outra, mas que se direcionam a propósitos diferentes, e na escolha dos poemas de cada poeta-blogueiro, tentamos selecionar aqueles que, ao nosso olhar, correspondem melhor à concepção de poesia do próprio autor.

Além da escolha dos poemas, outra decisão, inicialmente, tornou-se um desafio: o projeto gráfico da edição. Como a

| 12 |

proposta inicial da pesquisa era produzir uma antologia digital, preocupava-nos optar por um suporte que justificasse a “retirada” dos textos de seu suporte original, oferecendo recursos iguais ou superiores aos dos blogs. Por isso mesmo, a pura e simples transposição para um e-pub sempre nos pareceu insuficiente, já que o blog, além de se configurar como suporte para os textos, é também uma ferramenta de distribuição. Entretanto, qualquer outro formato digital, requereria profissionais da área de programação, o que não poderíamos custear. Sendo portanto, o e-pub a nossa única opção viável, decidimos, juntamente com ele, fazer uma versão impressa; porém surgiu outro obstáculo: os custos com uma impressão que contivesse imagens. Se, por um lado, a versão digital nos permitiria explorar recursos gráficos, a versão impressa nos solicitava contenção.

A solução para o nosso dilema nos foi apresentada pelos próprios resultados da pesquisa. Incialmente, como hipótese, esperávamos encontrar uma produção poética intimamente relacionada com os recursos multissemióticos que as plataformas dos blogs oferecem. Entretanto, percebemos que os recursos de imagens, sons e vídeos foram pouco utilizados pelos poetas-blogueiros cefetianos. No caso desses escritores, a partir da análise dos poemas, dos próprios blogs e das entrevistas, ficou claro que o foco da criação é na palavra escrita. E, por essa razão, priorizamos o texto verbal e excluímos de alguns poemas as eventuais imagens a eles relacionadas. Percebemos que elas são, na maioria quase absoluta dos casos, ilustrativas e não fazem parte do processo de criação poética, como até esperávamos encontrar no início da pesquisa. E o mais importante: que o valor dado ao livro impresso, pelos poetas-blogueiros, como forma de divulgação de suas obras, era superior ao valor dado ao blog. Assim, o livro impresso tornou-se o nosso produto principal, e o digital, um meio alternativo.

Ao refletirmos sobre a valorização do livro impresso, vale ressaltar a perspectiva dos autores quanto à função dos blogs. Além da divulgação, muitos o consideram uma ferramenta de armazenamento. Dessa maneira, temos recuperado o sentido original de diário dos blogs em sua associação à visão de poesia como forma de expressão. É perceptível em alguns dos blogs a mistura entre o eu real dos ‘blogueiros’ e o eu ficcional dos

| 13 |

poemas. Retirados de seu suporte original, o que fica é o eu poético e a construção de uma autoria, legitimada por um objeto que se mostrou imperativo para essa construção: o livro.

Percebemos, dessa maneira, que o objeto livro, feito de papel e publicado por uma editora, ainda é o caminho principal para uma legitimação de autoria, ao menos no imaginário dos nossos poetas-blogueiros. Cabe neste momento, lembrar do que dissemos no início desse texto: que os poetas dos mimeógrafos, ao serem publicados em uma antologia (26 poetas hoje) organizada por uma pesquisadora de renome, Heloísa Buarque de Holanda, deixaram de ser poetas marginais para entrar no rol de poetas legitimados por uma crítica.

Assim como os poetas da geração mimeógrafo possuíam o seu público leitor, os poetas blogueiros, hoje, também são lidos. Dado o alcance da internet, talvez sejam até mais lidos do que outrora o foram os poetas marginais. Entretanto, não é somente a presença de um público leitor que legitima a autoria de uma poeta, mas também a crítica. No sentido apresentado pelo filósofo André Lefevere, em Tradução, Reescrita e Manipulação da Fama Literária, são as reescrituras que fazem com que um autor seja reconhecido como tal e que o fazem permanecer no cânone literário. Entre as reescrituras, Lefevere inclui, além dos textos críticos, a edição e a antologização. Assim, não é de se admirar o superior valor que nossos poetas-blogueiros dão ao livro físico.

Por fim, devemos destacar que não podemos fazer grandes generalizações. O nosso corpus é limitado, e há uma inumerável quantidade de blogs de poesia na rede; mas acreditamos ter demonstrado que a transição do suporte livro para os meios tecnológicos não seja algo tão simples e óbvio como muitos eufóricos acreditam. A respeito dessas e de outras questões, o trabalho desenvolvido durante a pesquisa gerou conclusões cuja extensão desse texto não nos permite expor. Gostaríamos, acima de tudo, que o leitor desfrutasse da leitura dos poemas, seja por meio do livro impresso, do livro digital ou recorrendo às publicações no seu suporte original.

Andrea Soares Santos (orientadora)Izabel Maria Fonseca Vieira Sá (bolsista)

| 15 |

Fernanda Bião Construções da Alma

Endereço eletrônico: http://construcoesdaalma.wordpress.com

| 17 |

Silêncio

Quando o silêncio se faz cá foraCá dentro, o barulho é ensurdecedor

Clama um coração aflitoEm busca de um pouco de alegria

Um pouco da energia de genteQue aquece sem acenderA chama existente

Do amor, quem sabe?Da companhia, talvez?E a esperança, possível?Um dia de cada vez…

| 18 |

É tempo de renovação!

Florzinha pequenina nasce na janela.Rasteira parece uma menininha.Aponta cores cheia de sutilezas.Na verdade, a sua cor é mistério.Ontem pequena sementeSonha em ser gente grandeComo seriam suas pétalas, suas folhasMistério!Até chegar o grande dia!Coberta pelo sol da manhãPerdia delicadamente o orvalho da noite.Eis que bela preciosa,Estende seus bracinhos aos céusE com um espreguiçar lindo diz:Bom dia vida!

Poema dedicado a Jair Prosdocimi Quites. Presença paterna em dias iluminados e opacos.

| 19 |

Educar

EducarVerbo transcendenteAção de mudançaCaminho da esperançaEducarPalavra pequeninaForça poderosaQue faz crescer e sonharEducarCaminho sem voltaOuvir e falarPleno caminharEducarNinho de possibilidadesEsteira para a igualdadeNo alfabeto ou na arteEducarMenino e meninaDever e lazerBasta compreenderEi, você!Permita sentir a mudançaAguce bem seus sentidosE deixe a mágica acontecer.

| 20 |

Ousadia

Luto pela liberdade do cárcere da existência A gaiola dos costumes me algemaE minhas asas já nasceram cortadas.

Fujo da mentira de mim mesmaDas ilusões que escarnecem das ideiasDas palavras bonitas e trameirasE do medo que me afasta da coragem.

Procuro a luz da consciência Nesse palco sem cor, sem brilhoOnde seus expectadores Só veem movimentos repetitivos e mortos.

Clamo o sol do esclarecimentoPara que eu veja direitoO que está escondido atrás da cortina da vida.

Mistério?Pra quê?Preciso é compreender Para saber me mover.

| 21 |

O tempo

O tempo se abreChovem anosChovem caminhosChovem possibilidadesO tempo passouCom ele, a saudadeA dor que machucaA lágrima pulsanteO tempo é alegriaDe noite, de diaEm cimaEmbaixoPasseia com a vidaEstadia certeiraHistória vividaE, quem sabe, contada

| 22 |

Alma solitária

Ando sóSomente euO vento bate em minha faceSinto o calor do meu corpo.

Reflexões assomam à minha menteMovimentam emoçõesLágrimas que teimam em cairSeguro-as dentro de mim.

Procuram-se explicaçõesPara falas não ditasOs conflitos mal resolvidosSinalizam a necessidadeDe ouvir a própria verdadeQue dói e acalentaTransfigura a face da mentira.

E criaPara alémUma nova vida.

| 23 |

Promessas

Promessas são lampejos de desejosVontades que se aproximam do concretoNem sempre verdades

Promessas são rios em busca da correntezaSol com preguiçaCéu nublado

Promessas são esperançasDe um coração que clama o afetoNem sempre correspondido

Às vezes, entendido como o sim é o não.Um lapso de loucura visceralCorre pelas veias, algo animal.

Promessas, prometido, lugar igual.A luz que tremeEm meio à escuridão

| 24 |

E este corpo que fala?

Passos lentos ou acelerados, coração que bate no compasso, obedecendo à cantiga da vida andante.

Experiências que circulam pelas veias como sangue. Olhos [vivos e

cintilantes. Boca que se aperta ao degustar os sabores.

Os ventos trazem os odores para dentro das narinas, que se conectam com uma memória de cores e lembranças.

Circuitos abertos e fechados, luzes e escuridão fazem parte da iluminação cerebral.

Uma boca – várias funções – delícias a serem vividas.

Respiro – vai e volta – troca – dou de mim e levo de muitos.

Mãos que acariciam – toque sagrado – trabalho.

Pés a caminho. Sempre! Quais? Nunca acabado.

Semblante que revela sentimentos. Medo do medo. Alegria [em ser

alegre. Raiva da estagnação.

Corpos são tantos! Entretanto, todos carregam joias a serem desvendadas – a Alma!

| 25 |

Entrevista com o autor

1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog?

Ter a oportunidade de reunir meus textos poéticos e disponibiliza-los virtualmente.

2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece algum outro meio de produção independente?

Pelo fácil acesso a informações que o blog proporciona. Acredito que o meio virtual é acessível a mais pessoas. Conheço o site: http://www.recantodasletras.com.br/ e a Editora Literacidade (http://literacidade.com.br/) em que meus poemas já foram publicados em antologias.

3. O que é poesia para você?

É uma expressão da alma. Uma maneira do ser estabelecer um diálogo entre a sua existência e o mundo. Expressando seus sentimentos, suas angústias, sua visão do óbvio.

4. Você lê livros de poesia de outros autores?

Pablo Neruda, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Fernando Caio de Abreu e autores não tão conhecidos.

5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a ferramenta de comentários?

Leio e às vezes utilizo a ferramenta de comentários.

6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim, quais seriam esses autores?

Não só outros poetas, mas a filosofia existencial influencia e muito. Bem, gosto muito de Fernando Pessoa e Clarice Lispector.

| 26 |

7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê?

Almejo! Gostaria de organizar um livro com os meus poemas e imagens de algum(a) fotógrafo(a). Acredito que a reunião de texto com imagens causam um impacto maior nas pessoas. Procuro, por meio das minhas palavras, chegar ao coração das pessoas. Escrevo por inspiração, por angústia, pela expressão do meu silêncio. Assim como sou tocada pelas palavras de outros autores (eles e elas conseguem descrever o que sinto e não consigo expressar), também acredito que meus textos possam ter esse objetivo.

| 27 |

Taynara IriasA incoerência da alma

Endereço eletrônico: http://incoerenteequivoco.blogspot.com.br

| 29 |

Entre os tics e tacs

Passam as ruas, os carros, os homens...Passam correndo, quentes, enormes!Sangram os pés, as mãos, o peito...

Vêm o sol, a chuva, a lua.Nas pupilas dilatadas, cidade escura...

sono... apaga os sonhos.Um punhado de estrelas para mais tarde

mas as janelas continuam fechadas.Escorrem os pensamentos...

Dentro das paredes:tic-tac, tic-tac, tic-tac,

Tic Tac, tic tac, tic tacs,Afinal, são apenas duas calorias.

| 30 |

Posição Pronomial

Tantos meuspoucos nós

me prendemna possessão do que não sou eu.

| 31 |

Planta

É tanto projetoque introjeto em mim

a ideia de seguir sempre o mesmo trajeto,fazer os laços se encontrarem no mesmo ponto

e não amolecer o olhar, desfocar as lentesjá cansadas de enxergar sem sentir.

São tantos planosque já nem posso ver o tijolo que obstruiu

a ponte que me atravessa.São muitas hipóteses

duramente construídas somente paraesfriar as chances de novos ANDARes...

É tanto projetoque começo a me projetar

em sonhos, ilusões e caminhosque não cabem no meu papel.

| 32 |

O jogo do social insociável

Vai! Que é a bola da vez!Falar para não escutar,já pensar em como não fazere justificar, inventar não ir alémdo espaço que marcaram.

Espera a sorte na quadra, quina...A ficha cai.Arrumem outra nova ou peguem de volta!Entrem também!Pingue-pongue social,aqui o jogo não para.

| 33 |

Passageiro

Observo as gotas se chocarem contra o vidro embaçadoe elas nunca me atingem.As luzes escorrem do outro lado da janela...tudo que vejo é o contraste da noite nos faróis e postes.

Pneus soam sobre o asfalto molhadoe em um deslize meus pés se lançam sobre as poças, brincam

[no chão,como em um tempo em que eu não tropeçava para entrar na

[dança.Mas o semáforo finge o verde e a carcaça de metal range com

[os freios.

Chove forte em mime estou fechado num bloco retangular,Cinza e Quente. Não há equilíbrio.Trancado em um corpo estranho,em movimento constante.Tudo é só de passagem.

Já muito distante, penso no trajeto que fiz...quanta gente embarcou, em quantos buracos caí.Passageiro da minha vidae ela não passa por aqui.TROCADOR, em que ponto eu desci?Acho que esqueci de mim.

| 34 |

Beijos e Cadeados

No encontro dos olharesa visão se anulava.Em que se acredita sem sentir?

Era cegueira e tambémfome de beijos e cadeados...À beira do caos, correram – dois lados.Traçaram paralelos...

Condenados à linha tênueentre aperto e espaço,eternizaram o encontro em uma estátua.– Elevaram ao centro.Estático, o sentimento entrou em coma.

| 35 |

Das revisões interiores

Coloquei todas as peças no tabuleiro,eu contra mim no Xadrez.Eu era tantas que nem sabia.Pensei em fugir, mas por todos os lados me conheciam!O Xeque veio a cavalo.Entre celas e estrada,quem quer que eu Mate?

| 36 |

A bordadeira

Espera pelos filhos sentada na encosta.Hoje eles vêm – pensa e lança os olhos distantes.As mãos varridas pelo tempotecem pequenas esperançasque ela estende no varal.Semeia poesia pelo vento...Essa é sua forma de sorrir.Pela estrada íngreme, ninguém vem, faz frio...– Pudera! Com esse tempo aqui! É área de risco.Entrou e se cobriu com as flores que fez brotar no vazioem um chorar das nuvens a casa se desfez.Recebeu outra visita.

| 37 |

Emersão

O corpo dela é praiafrente ao oceano imerso em seus olhosprofundos. Ele, marinheiro de primeira viagemmergulha como criança sem salva-vidas.

E a taquicardia que não volta,desde o dia em que ela levou todo o seu peitoem uma de suas ondas.

Longe dela o mundo é só aquário.

Ele fica ali, com os olhos frente ao vidroobservando, distante, o que dele se foie vai...tudo o que teve agora é só paisagem.

| 38 |

Fogo de palha

Eu, jardim cheio invernoe seu corpo frio, jogado pelos butecos.

Café com blues,seus olhos dizendo blue, blue, blue.

Ensaio penetrar e me desconcerto.Já em alto-mar você esquenta meu inverno.

A superfície finge ao interno:

Fogo e palha,

minha cama e o suor de nossa única noite...

Na chama de nossos corposo amor de inverno

se queimou.

| 39 |

Leis da natureza

O vento agora sopra suave sobre a serramas o coração dele segue soprando a chama.

Início de noite... frio penetrando a pele,cinzas de cigarro espalhadas pelo piso

e o violão gemendo baixinho nas mãos do poeta...As folhas de outono à fogueira encantam...O que seu peito Chama não vai se apagar.

A(r)mou mais fundoaté a estação passar,

outra vez.

| 40 |

Lamentos e além

Quando a alma grita no papel, não há barulho.Há um silêncio inquietador

rompendo os laços invisíveis, como algo que corróiaté que se perca o controle.

E se a carne sangraé porque o coração já amaciou demais

e agora endurece,transpondo o que resta por dentro.

O olhar perscruta e escurece.Sorrisos vazios,

paixões exaltadas,o dar de mãos congeladas...

Pingue-pongue.

Quem quer jogar é só entrar na roda.Benditos sejam os jogadores!

Não existem perdas ou ganhos.É que o lugar é confortável.

Água e açúcar e muita tinta cinza.

Preciso das cores de volta em minha íris.Lavar o corpo e a alma,

expor ao sol,deixar queimar

até esquecer do frio de ontem.

As curvas são o sentido incoerente da alma.A resposta.

Como o pássaro que quebra as asase se lembra que sabe andar,aprende a ter mais impulso

vai voar mais alto.

Alcançou o infinitoquem já colocou demais os pés sobre o chão

e os olhos além.

| 41 |

Entrevista com o autor

1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog?

Tenho duas principais motivações (difícil definir uma). A primeira é a vontade de despertar nas pessoas um olhar diferente sobre as coisas mais comuns, aquilo que passa despercebido na rotina dos dias. Ainda que eu não produza nada muito novo, tudo o que cada um escreve passa por um filtro diferente, então já é uma forma singular de mostrar/sentir o mundo. E a minha outra motivação para produzir um blog é porque publicar, de certa forma, estimula uma produção mais constante, além de ser um excelente meio para “arquivar” os textos. Mesmo que eu não esteja publicando constantemente, a opção “rascunho” sempre é utilizada e os textos ficam lá, salvos, apenas esperando um ajuste, uma reescrita ou só a coragem de clicar em “publicar”.

2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece algum outro meio de produção independente?

Eu escolhi o blog porque é um meio mais interativo, excelente para se começar a publicar, pois as pessoas podem comentar, criticar, elogiar e responder. Além disso, não tem nenhum custo financeiro. Conheço outros meios de publicação independente, como os fanzines.

3. O que é poesia para você?

É matéria de vida, a corda bamba que me permite caminhar entre os extremos e até mesmo cair. A poesia é a minha maneira de entender ou desentender as coisas, de inquietar a alma ou aquietar o espírito. É uma forma sem fôrma para se expressar. É uma maneira fotográfica, dançante e musicada até mesmo para dizer o que incomoda.

4. Você lê livros de poesia de outros autores?

Sim, leio livros de poesia sempre. Tenho vários espalhados pela casa e sempre levo um na bolsa, assim eu vou lendo aos poucos. Não gosto de ler livros de poesia como se fossem romances.

| 42 |

Acho que cada poesia conta alguma coisa, por isso preciso de um tempo a mais para cada uma e distanciamento entre elas, senão eu misturo os versos de uma na outra e faço o livro inteiro virar um poema (o que não deixa de ser poético! rs).

5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a ferramenta de comentários?

Leio muitos blogs de poesia, porque é uma ótima forma de encontrar bons poetas vivos e desconhecidos, principalmente os mais jovens. Tenho o costume de utilizar a ferramenta de comentário quando gosto do poema, acho que o escritor precisa saber disso, perceber minha visão sobre o que ele escreveu. Acho os comentários extremamente importantes para incentivar o escritor. Quando não gosto dos poemas e não tenho nada de construtivo para falar eu não comento nada, às vezes só não me agrada, o que não significa que seja ruim.

6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim, quais seriam esses autores?

Com certeza a leitura de outros poetas me influencia. Acredito que a produção artística venha da “traição da memória”, como Mário de Andrade definiu. Sendo assim, acho que minha poesia é uma mistura de influências, tendo um pouco da sutileza da Adélia Prado, da simplicidade bela da Líria Porto, da desconstrução do magnífico de Manoel de Barros, da subjetividade da Cecília Meireles, da força poética do Drummond, do tom realista de Ferreira Gullar e de mais uma lista imensa de grande parte dos poetas que já li.

7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê?

Sim, tenho o desejo de publicar um livro de poesias. Acho que o livro compõe o texto, completa e propicia um olhar interessante e diferenciado da produção literária, porque é um recorte da obra, precisa-se escolher quais poemas vão ou não para o livro, às vezes “eles conversam” e propiciam leituras diferentes daquelas feitas em outros meios. Livros de poesia são muito interessantes.

| 43 |

Vitor Hugo MoralesPoesia, filosofia, pouca e pequena

Endereço eletrônico: http://poesiapequena.blogspot.com.br

| 45 |

Sentir-se mal por dizer a verdadeMaltratar o coração só pra ver se ainda bateMentir por julgar necessidadeE se vingar por pura maldade.Eis a consequência: a realidade.

| 46 |

Tic tac.

Toca o tempo, corre sedentoNo ponteiro do relógio.Corre sozinho quem antesCorria junto.Hoje se cala quem falavaDe palavra em palavraPra falar ao relentoDa teoria do fim do mundo.Antes não se reclamavaDa dor e da agoniaSe de amor era ou de foliaSó se cantava e escrevia.

Meu bem, me falam tantoDe tecnologia e evoluçãoDizem que o meu tempoO tempo já levou.Que hoje correm novos pensamentosE uma nova revolução industrial.Mas eu ainda não entendoOs mesmos são os sentimentosE ninguém ainda os decifrou.E nem sabem mais como transformarUm triste fim em alegre canção.

Embriagam-se tão menos quantoNo meu tempo eram sãos.E dizem que o ventoSopra diferente do meu tempoCom menos conversa e poesiaE mais poluição.Mais sintetismo, sem os sentidos.E menos coração.

| 47 |

A passeio

É só mais um passo,Uma parte da vida inteira.Aprendi a pôr ponto finalNo lugar de vírgula.

Aprendi a deitarE só levantar à tarde.Também a mentirA deixar de ladoO que você quer que deixe de existir.

Afinal, se no seu mundo eu não preciso ver tudoNo meu você só anda a passeio.

| 48 |

Pequena poesia

Minha Pequena... Peque na poesia,Porque na poesiaPecado não há de se pagar.

| 49 |

Tu vieste como um vento,Ficaste como um furacão,E foste como uma brisa.

| 50 |

Dê-me os motivos certos e um ponto de apoio e moverei o mundo.

| 51 |

Loucura desse mundo

Não confio em ninguém, pois não há prova do contrário.Existe um gosto pela imoralidade e vulgaridade, que não há mais

[amor em forma de poesia. Puroe livre.Só a putaria de uma sociedade corrompida por valores invertidos. Não existem mais pessoas que amam o romantismo.Essas foram corrompidas pela podridão de outras. O perdão se cansa.E acabamos virando homens vorazes em uma selva onde ser o melhor

[é ser o pior. Tenta-se amar uma, duas, infinitas vezes.Mas diante desse avanço tecnológico do século 21, esqueceram-se

[de escrever.Esqueceram-se da embriaguez e da sinceridade.Daí não existe mais amor.O sexo era proibido, coibido .Hoje é obrigatório e ai de quem não faz...

| 52 |

Consciências livresSão consciências sujas.

| 53 |

Folha em branco

Quando nascemos, somos como uma longa folha em branco.Essa folha é o tempo. À medida que vamos andando sobre elavamos deixando marcas, amassos, rasgos e rabiscos.É por isso que sempre vamos envelhecendo.Pois mesmo que pudéssemos fazer o caminho contrárioPreferiríamos a folha em branco em frente a ser escritaDo que andar sobre os rasgos e rabiscos do passado.

| 54 |

Corda bamba

Sou inconstânciaTal qual verso, prosaUma hora sou sol, Outra, voz sem nota.Sou do rock, sou do sambaOutra do choro, do boleroFinjo um tango, eu não negoDesafino, erro o prantoMas no meu canto eu sossego.Na melodia da viola, do violãoQue desse samba, nessa corda bambaAinda encontro algum perdão

| 55 |

Samba de varanda

Nesse passo, Desce que eu passo.Ouvir seu choro mansoNa varanda, no violão.Daí me perco no descansoQue descaso Eu faço poesia e não oração.Passe Que eu abro a portaVai em frente, vem embora.Só não troque, não me tranqueNão fico fora!Na sacada, na solidez.No coração. Minha viola, na virada do solDa varanda ele também vaiManso, de volta, sem perdão.

| 56 |

Péssima memória

Tudo que eu queria era ter uma péssima memória.Assim as decepções nunca me marcariam.Viveria todo dia conhecendo novas pessoas e me iludindo com

[as suas grandezas.

| 57 |

Tal como piano.

Sou como um piano.Solitário, imóvel e fechado.Revestido com uma madeira sólida e robusta.Mas por dentro uma construção tão delicadaDe cordas entrelaçadas, Que numa leve encostadaSoam notas de alegria ou de tristeza profunda.

| 58 |

Entrevista com o autor

1 . Qual é a principal motivação para você produzir um blog?

Ter um lugar para guardar poesias e filosofias que tenho em certas épocas da minha vida. Também um meio de publicação e compartilhamento.

2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece algum outro meio de produção independente?

Blogs são fáceis de criar e manter sem custo, com potencial de atingir um público grande. Conheço alguns professores que já publicaram livros de poesias, porém não sei detalhes.

3. O que é poesia para você?

Uma forma de protestar, criticar, evoluir o pensamento. Vejo a poesia como uma fuga para certos sentimentos e opiniões de forma mais livre.

4. Você lê livros de poesia de outros autores?

Sim, porém poucos.

5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a ferramenta de comentários?

Leio alguns poucos de amigos e geralmente comento diretamente com o autor(a).

6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim, quais seriam esses autores?

Sim. Poetas e filósofos, como Machado de Assis, Nietzsche, Edgar Allan Poe, León Tolstói, Augusto dos Anjos e Álvarez de Azevedo, influenciam e influenciaram muito minhas ideias.

| 59 |

7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê?

Sim e muito. Muitos amigos e leitores dizem que escrevo bem, e vejo a publicação como uma forma de renda extra. Além de que sinto falta de livros mais curtos, com poesias curtas e simples como leitura de cabeceira. Vejo a poesia e filosofia pequena – tal como é o nome do meu blog – como uma forma de popularizar também o hábito da leitura de poesias. Muitas vezes a falta de paciência ou de tempo é um empecilho para iniciar o gosto pela poesia. A poesia curta e simples.

| 61 |

Matheus Alexandre O eu escrito

Endereço eletrônico: http://oeuescrito.tumblr.com

| 63 |

Quem dera eu fosse artista, poder transformar palavras em poesia, cores em rostos, corpos e paisagens. Transformar

paisagem em fotografia, rocha em escultura, sons em música. Quem dera eu fosse artista, e seria iluminado, e

iluminaria todos ao redor, despertando sorrisos e lágrimas, abraços e beijos, encantando casais e amigos, pais e filhos, médicos e motoristas, crianças e adultos. Quem dera eu

fosse artista, e o que sinto e o que vejo, o que sonho e o que conquisto, amores e desamores, tristezas e alegrias, todo o meu mundo se tornaria um livro daqueles de poesia, tudo eu transformaria em poesia. Quem dera eu fosse artista e a

arte enfim faria parte de mim.

| 64 |

E no momento em que você disse que algumas coisas são perfeitas, eu percebi que você falava de nós.

| 65 |

E tem sim aqueles dias em que ao invés de encontrarmos Luz no fim do Túnel, encontramos mais Túneis.

| 66 |

Descobrir que vocês são sim diferentes e que talvez o “x” da questão não esteja em serem iguais e sim em

compartilharem entre si um mesmo sentimento: Amor; e uma mesma virtude: respeito.

| 67 |

Quando saí na rua, alguns pedaços de céu quase me acertaram… E era quase inútil desviar. É que de repente o

mundo inteiro resolveu desabar.

| 68 |

Tava meio sem vento, então girei a vela e mudei a direção… Mas aí fica aquele medo de ter feito a coisa errada, sabe? Bem, no momento isso era o certo para mim, talvez não para os outros ao meu redor, mas para mim sim. Temos que confiar no nosso instinto, ele nos trouxe até aqui…

uma vez ou outra pode parecer loucura largar tudo e mudar totalmente o rumo, mas isso pode significar evitar um naufrágio em alto-mar. No momento? Reagrupando,

juntando forças, aprimorando, adquirindo conhecimentos, porque quando for pra valer, estarei pronto.

| 69 |

Não me interessam os corpos. Corpos são todos iguais, carne, pele e osso, e desfalecem com o tempo, enrugam-se e, quando o tempo é tal que não podem mais suportar, morrem. Almas, cada qual com sua individualidade, são

alegres, inteligentes, umas jovens, outras maduras, trazem experiências e conhecimentos, almas identificam-se, almas

são eternas. Quando corpos se encontram, trombam-se, encaixam-se e partem… Almas unem-se, completam-se, e

suas uniões são perenes.

| 70 |

Pode ter durado uma fração do tempo: micro, nano, pico segundos, mas se é eterno, marca na mente por mega, giga,

tera-décadas.

| 71 |

Entrevista com o autor

1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog?

A grande ideia do blog é que os textos têm a capacidade de tocar o nosso íntimo e assim promover mudanças. Chamo esse fato de um encontro com o nosso verdadeiro “Eu” e daí o nome do Blog: “O Eu Escrito”. Minha ideia portanto era promover mais desses encontros, tocar mais pessoas com textos que eu escrevo ou que leio e me inspiram.

2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece algum outro meio de produção independente?

O Blog é um meio rápido, gratuito e de grande acessibilidade. Não conheço outro meio que una os três quesitos citados.

3. O que é poesia para você?

Diferente do significado literal dessa forma de escrever, com todas as rimas e regras fonéticas e etc, para mim, poesia são textos dotados de algum tipo de sentimento. Um grande desabafo em que o autor conta aos leitores dores e alegrias que ele tenha, ou que ele simplesmente identificou em alguma parte do mundo externo, que é constituído por pessoas com quem ele conviva, ou por tendências mundiais. Dessa forma, a Poesia busca despertar as pessoas para pontos de vistas para os quais elas ainda não tenham se atentado; ou, uma forma de confortar através das palavras dando ânimo e força.

4. Você lê livros de poesia de outros autores?

Não possuo o hábito de ler livros de poesias.

5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a ferramenta de comentários?

Sim. quando disponível, utilizo a ferramenta de comentários como forma de fornecer um “feedback” ao autor do que foi lido.

| 72 |

6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim, quais seriam esses autores?

Com toda certeza meu modo de escrever é influenciado pelo que leio. Minhas principais influências estão em Clarice Lispector e Marla de Queiroz, a primeira pelo modo feroz de dizer ao mundo seu modo de ser, escancarado e sem medo de mostrar até seus piores fantasmas; mas também por ser uma escrita que transmite toda a coragem e força pra enfrentar o mundo e a forma como ela a enxerga. No segundo caso, uma poesia serena, dotada de um tom de esperança que busca inspirar as pessoas a buscar seus sonhos mesmo contra todas as adversidades... ou em outros textos a magia e a serenidade de um Amor tranquilo, ensinando que o Amor pode ser Perene sem ter que durar a eternidade; Ser Perene é em estado transitório para o Amor e para qualquer coisa.

7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê?

Sim, sem dúvida essa é minha maior expectativa em relação aos meus textos. Transformar minha Poesia em algo palpável, ao alcance das mãos. Trazer cor e vida aos textos nas páginas de um livro. O motivo, não sei bem ao certo. Talvez porque esse seja um modo de eternizar um trabalho, do qual julgo ter sido merecedor.

| 73 |

P. C. VenturaPoesias para beber

Endereço eletrônico: http://urbano-lumiere.blogspot.com.br

| 75 |

Papos psicóticos

Conversa em sala de espera de consultório psiquiátrico:– que transtorno você tem?– transtorno bipolar, e você?– Ah, eu tenho síndrome de Aspergen.Aquele ali tem deficit de atenção.Aquele outro é maluco mesmo.Esse aqui o tico e o teco não se entendem.O de camisa amarela surtoue ficou pinel de todo.Santa Loucura! Protegei a diversidade neurológica!

| 76 |

Curta 197

Em companhia de morcegosinquietações ecoam paroxítonas.Trago a poetisa para a minha cama,o primeiro orgasmo se aproximatão logo ela verseja a terceira rima.Quando a musa longe mensageiaa nota breve de meus olhosserenamente ondula e serpenteia.

| 77 |

Curta 195

Como não querer aquela mulherque costura a rede de meus pensamentosem trama fina e linha forte?Como não armazenar aquele sorrisoque acende minha alma escancaradaem chamas inquietas e solfejadas?Levo meus pensamentos indiscretos para a cama:Ella é um ponto geográficono mapa de meus destinos.

| 78 |

Objetos 50

Objetos para pesquisa em tecnologias emocionais:espectrômetros para medir a massa dos sonhos;microscópios que visualizem pensamentos profundos;geradores para um choque de realidade no quotidiano;geoprocessadores para direcionamento de pessoasà procura de um norte objetivo na vida.

| 79 |

Curta 220

Dou-te como presenteum pensamento simples:o tempo não existe.Apenas seus silêncios genéricose um pequeno ruídoda areia descendo a ampulhetaou do pingar das clepsidras.

| 80 |

A iara e o caboclo

Olhos fascinadosPela sereia saindo das águas.Iara morena em banho de cachoeiraLímpidas águas calcáriasLímpidos olhares amendoadosComo castanhas andaluzas.Cabelos em anéis opaciadosPela etérea fumaça de uma fogueira.Chocalho nas mãosEntoando cantos aos seres da floresta.Duendes? Deuses? Ânimas?Espíritos das matas? Sacis?Vozes de animaisCorais onomatopeicosCães, micos-estrela, gralhas,Formigas, cigarras, cupins.Barulho de rioMeu coração que palpitaCometa, estrela cadenteEstrela fixa ou errantePlanetas, meteoros e meteoritos.Fascínio pela Iara morenaNas águas calcáriasE nas pedras ensolaradasAcompanhando o curso do rio.Iara morena jogou feitiçoE caboclo mergulha diretoNo profundo escuro do rio.

| 81 |

Diapositivos

O beija-flor azulbebe a gota de chuva do arco-íris.A manhã clareia,um cavalo branco sobre a grama molhada.Beija-flor azul,manhã,cavalo branco,gota de chuva,arco-íris.Imagens de um despertar?Fotografias abandonadas sobre a mesaantes de dormir.Fotogramas, diapositivos superpostosem minha mente dispersiva.

| 82 |

Notas de leitura em revista de bordo 17

1. Eta Marieta! Regularidade, tempestade! Quem tem Marieta não precisa de Catherine Deneuve!

2. N’Ella tudo é bom, mas atenção: precisa ser um bom degustador, senão não funciona. N’Ella tudo é possível, desde delicadezas ambrosianas até temperos fortes. Esteja preparado para as novidades!

3. Negras, vermelhas ou louras fortes. Boa pedida para o inverno. Ou seja, cerveja!

4. Os tabus da África são os fantasmas brancos assombrando nas plantações das planícies. Os tabus não são materiais, são espirituais.

5. As imagens de um não fotógrafo em exposição no Rio de Janeiro refletem a importância da fotografia como linguagem e arte mais que produção e profissão. Veja Laguirre.

6. O mestre das Curvas se aventurou também nas Ciências. As Curvas das Ciências mostram brinquedos gigantes para explicar noções de engenharia e matemática. Que pena que as escolas (e muitos pedagogos) atrapalham a continuidade da busca de conhecimento pelas crianças.

7. Condição e vontade nem sempre andam juntos. Quando se cruzam nos caminhos boas transformações podem ocorrer.

8. Simplicidade e versatilidade: este é um ideal de terceira-idade (da minha pelo menos). Sou idoso criminoso (bebo uma dose e dirijo a mais de 60 km/h, limites dos radares urbanos) e busco absorver as duas características com afinco.

9. Com boina preta vou a Palmas. Às Palmas. Lugares onde o sol provoca traumatismo craniano e derrete o botox dos cérebros de algumas pessoas, onde a mandioca (ou aipim, sepreferirem) é a mais saborosa do Brasil. Ah, e tem a tapioca

| 83 |

com rúcula e carne de sol da barraca da Léa. “É caro mas é muito bom”. Eta Marieta. Se apareceres lá, te baterei palmas até dar calos nas mãos. E protejam o Jalapão.

10. Escambo o escambau. troca justa. Mas não troco por nada no mundo meu disco de vinil dos Tincoãs. Quem tem um disco de vinil dos Tincoãs? Nunca conheci quem tivesse um. Faz-me sentir uma pessoa rara.

11. Tempestade tropical dá prêmios a quem sabe se equilibrar. Surfar é melhor que navegar.

12. A moda está na moda, de novo. A mesma que veste desnuda para exibir a ausência do traje. Está na moda a roupa invisível do rei.

| 84 |

Entrevista com o autor

1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog?

A motivação principal é correr o risco de ser lido. E o blog é também um espaço de armazenamento interessante dos trabalhos. Ele fica acessível ao autor também, podendo ser retrabalhado a qualquer momento. Faço uma cópia dele, claro, mas é um espaço de armazenamento e de leitura. 2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece algum outro meio de produção independente?

Eu nunca achei que minhas poesias fossem boas. Tinha um certo receio de apresentá-las e elas não serem aceitas. O blog me permite experimentar como autor e ter um certo retorno dos leitores. De tempos para cá eu as publico esporadicamente no Facebook©. O retorno de leitores é muito pequeno. O blog tem uma média de umas 30 visitações por dia, mas essa medida não é confiável. Quando jovem fazíamos muitas publicações avulsas mimeografadas e distribuíamos entre amigos. O blog é uma mídia fácil, aberta, gratuita.

3. O que é poesia para você?

Pergunta muito difícil. Tão difícil quanto à poesia. A poesia tem de ser uma síntese de temas e narrativas que permite diversas leituras e interpretações. Ela deve ser apropriada pelo leitor através de uma identificação quase imediata. Ela deve incentivar uma releitura diferente tempos depois. Ela deve ser degustada aos poucos e não deglutida às pressas. Ela precisa contar muitas histórias ao mesmo tempo em pouco espaço. Ela precisa encantar.

4. Você lê livros de poesia de outros autores?

Muitos. Sou um leitor voraz de poesia.

| 85 |

5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a ferramenta de comentários?

Sim, e se gosto, faço comentários.

6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim, quais seriam esses autores?

A leitura em geral influencia minha poesia. Os autores que mais influenciam minha poesia não são necessariamente poetas. São Guimarães Rosa, José Saramago, José Maria Rilke, Bob Dylan, Oswald de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, e cronistas de vários matizes. Minha poesia é meio crônica, na verdade. Eu escrevo muito sobre as vivências cotidianas.

7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê?

Sim, penso em publicar no próximo ano. Preparo uma coletânea. Gostaria de deixar livros de poesia como legado.

Guilherme FernandesO globo …ocular

Endereço eletrônico: http://ogloboocular.blogspot.com.br

| 89 |

No meio de um oceano branco, lá se encontrava aquele grande continente cor da infinitude do universo. Lá estava meu mundo... sua alma escondida atrás daqueles globos oculares.

| 90 |

Litterae Lunarum I

Do alto ela enxergaTudo o que se escondeE na sombra quem pecaÉ a imagem de um homem

Ilumina, luz de diamanteNão julga, só sabe(E a sensação agonizante)Virtude só existe guardadaNuma foto de estante

O olhar retribuídoViu-se condenadoSente-se despidoPela culpa do pecado

Fogo, foge e queimaUm passo e se descuidaE ali ele jaz morto

Veneno, resto de cicuta

| 91 |

Litterae Lunarum II

Quando quebra o céuA luz da lua,E a sombraÉ medo e assombra,Não há anjos lá nas nuvensSó há sonhos na penumbra.

E a quem revira e esperaA lua nega o diaE reflete o céu na terra,Uma eterna noite vazia!

Abre o sol a portaE revolta aquela cena,A lua nasce mortaE finalmente morre plena!

| 92 |

Recólica

Neste mundo, a lógica se tornaFiguras de linguagem,E o dicionário que transbordaNos transtorna e nos transformaEm espelho e miragem.

O silêncio toma a formaDe sábia ironia,E se hoje eu digo algoJá não importa o que dizia.

Poescuro argumento imaginagético,A eloquência que se manifestaEm linguagem vazia.Por isso o que escrevoNão é retórica ou poética,É apenas poe(re)sia!

| 93 |

Vazio

I

A desalmada poesiaSó corpoSó copoSem águaSem conteúdo

Olho...Olho...Só vejo nadanadanadaMe afogoE fico igual a ela

Vazio,Morto,Poesia sem conteúdoÉ paladar sem gosto

II

Ex-téticaPura,TransparenteTanto que não se vê

Tétano

Pa-tética

III...

| 94 |

IV

Vazia...Engana os olhosNão toca a almaNem mesmo a queNão h(á-lma)

| 95 |

A lápide

Minha lápide escrita a lápisNuma língua mortaUma mosca tortaA sobrevoaMinha voz já não maissoaE eu já nada sou

Já não sonho com meu sonoO vento como soproÉ como o tempoLouco como venenoO que sobra é acúmuloIN TVMVLO SVMVSE eu já nada sou

Apesar de tudoUm poucoMuitoMintoPois apesar de mortoSintoE isso é a vida:O limbo!

| 96 |

A caverna

A raiva de uma fera que chora;Ouço graves gritos numa gruta,A besta perdida de voz brutaEstava escondida até agora

Acostumada a viver na cá--verna, nunca viu a luz do dia.Preto e cinza, ódio, cor amár--ela não era cega e nem via

A besta era o homem jogado,Preso na caverna de Platão.Preferia conviver com ratosA se libertar daquela prisão!

| 97 |

Formas

Já não há maisO que ser que--bradoA esperança foi cruelmenteAssassinada

Ela foi a última a morrerAntes dela a apatiaE antes da apatiaTodas as outras sensações

O que restou então?Apenas sombrasSem formasSem fomeVagando até o fim

Fim de quê?Fim de quem?

Se não há mais forma,Qual a forma da não-forma?Vestida em um uniformeDisformeO que ela nos informa?

Se não há mais formaDe que forma o poemaacaba?Talvez como sombraa m o r f aDe um monte de palavras

| 98 |

Fic- (sou) -ção

Um projeto de autoriaSou minha própria ficçãoQuem mente?Minha mente?

Sou-me feitoFeito produto,Multiplicado sensorial...Sou o resultadoDo meu circuito elétrico,Sou produto (divisão?)Entre o homem e o animal?

Mas chega de neurose,Sou ficção, sou inventado,E nessa neural psicoseSou um texto conformado

| 99 |

Ser ou não sou?

Ser não soude PedraPessoa boaou má-quinaSujo, (pecado inicial), lavoa minha mácula

O poeta, criador,Um pouco sem saberIn consciência falaSobre o que não consegueVer

Criatura inocenteÉ jogada no papelPoesia ser-humanoNão existe (no) alémdo véu.

Escrito, um roteiroQue acha que sabe que ageInconsequente emMáquina-açãoJá a minha mácula--sãoas manchas da caneta(Na branca folha de papel)Escritas à mão(Não é? Não é não!)

| 100 |

Entrevista com o autor

1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog?

Ter a oportunidade de divulgar meus textos e poemas em um espaço amplo, que possa ser acessado por muita gente.

2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece algum outro meio de produção independente?

É a melhor oportunidade que tenho para divulgar meus poemas, já que publicar um livro é muito difícil. Não conheço outro meio de produção independente.

3. O que é poesia para você?

Poesia é uma maneira de expressão através da arte, que permite brincar com a linguagem em seu nível máximo de criatividade.

4. Você lê livros de poesia de outros autores?

Sim.

5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a ferramenta de comentários?

Sim. Não utilizo a ferramenta de comentários.

6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim, quais seriam esses autores?

Um pouco, influencia, principalmente, na inspiração dos temas, mas nem tanto no estilo. Os autores são, principalmente, Carlos Drummond de Andrade e poetas independentes que jogam com a linguagem.

7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê?

Sim, seria a realização de um sonho.

| 101 |

Luiz Carlos VieiraÀs arvores do caminho

Endereço eletrônico: http://www.ideiasesurtos.blogspot.com.br

| 103 |

Folha Seca

Caía leve ao baile do ventoSeca e áspera como a pele de uma velhaAmarelo e marrom que se abraçam e se coloremE com o mesmo pesar se posta à porta da minha casaE boia na poça feita por mimQue sentado na soleira não sentia, mas vinha

O olhar fixo na última de centenasCalafrios me subiam e aclaravamAs nuvens pesadas vinham em manadaE o vento cortante trazendo-a até minha frenteQue um dia invejou a árvore verdeQue hoje vê sua última folha morta

| 104 |

Um Mergulhador

Mergulhado em minha própria menteMe vejo afundando, afundandoMe vejo descendoMe vejo me afogando

Começo a sentir o peso de toda essa água acima de mimComeço a perder meu ar e a me movimentar de acordo com

[o movimento da águaComeço a perceber que tentar nadar é inútilJá que há muita pressão e escuridão ao meu redor e acima

[de mim

Afogando em meus próprios pensamentosComeço a pensar na falta que muitos sentimentos me fazem

[agoraNa falta que muitas pessoas me fazem agoraNo mundo do qual eu havia despencado para estar no fundo

[deste mar negro

Ainda afundando em meus pensamentos geladosNão sinto mais calor, não sinto mais meu corpoNão tenho mais fôlegoNão tenho mais vontade

Quando tudo começa a se tornar um borrãoQuando minha visão começa a falharQuando sinto que ao fundo chegueiEis que vejo um mergulhador vindo sobre mim.

| 105 |

Por Um Fim

Abri as janelas e vi a planícieVi aquele azul diferenteDeixei aquele vento carregado de novos perfumes entrarEu respireiExpirei o que tinha preso no pulmão

Abri aquela porta pesadaEmpurrei-a com firmezaPus meus pés pra foraDa janela via-se um dia lindoJá lá fora, tudo era cinza

Estava muitos graus abaixo de zeroE eu não tinha agasalhoA neve estava muitos centímetros mais espessaE meus sapatos se atolavamFui assim mesmo

Disseram-me: “não vá!”Em todos os idiomas imagináveisMas teimeiFoi um passo largoE não chorei

E eu me atrevi a correrE eu me atrevi a gritarSozinho, na neve, tentei me encontrarSoquei os murosChutei as pedras

Eu sangreiMe quebreiEnfim, choreiE já cegoA casa voltei

| 106 |

Na Tal Segunda-Feira

A Tiso

Como macio sinto o toqueAquele que me dá o enfoqueEm apenas uma parte da históriaTudo pode esperarPorque mais perto da glóriaNão há como chegar

A alegria que seu cheiro me trazÉ a mesma que ao meu tédio desfazE que ao sorriso que ali demonstraIlumina a quadra, o bairro, a naçãoSoa-me como um mantraDo qual só me interessa a fração

Que de mente ainda não entendoE do que não entendo, tenho medoMas com medo, abraço-me ao apegoE me deito em cama de sossegoPara me despertar em outro dia, depois das dez e meia.

| 107 |

Do Aviso

Chega de mansinhoCom todo o seu pesoSorriso tímido e traseiro geladoSenta-se em cima do que fomentavaRecém tirado do fornoDaquilo que estava dentro de mimEnrolado em um fio fino de consciênciaEnsopado em um lago de devaneios.

Chega devagar e mansaCom passos felpudos e sorrateirosSorri-te um sorriso sedutorSeduz-te a mergulhar em um mar glacialEscuro e misteriosoSeduz-te ao fundoDaquela água pesada.

Que o pôr do sol é um confortoPode serUma aparente felicidade em revê-loQue se vai para trás daquele horizonteLá longeTrazendo uma erma sensaçãoParasita da beleza que se foiFixadora da tristeza que chegou.

Ela sempre se deita às seis da manhãDepois de negociar com o solA hora de voltarSob um manto de estrelasSob a luz de uma luaQue te convida a pensar.

Será possível se libertarSozinho, algum diaOu alguém virá me salvarDestrancando esses cadeados

| 108 |

Ainda haverá interesseDepois de passar por meu aviso“Ainda estou de luto”.

| 109 |

Poças - de - Pular

Quando era criançaBrincava de pular em poças d’águadeixadas ali pela chuvaE sorria despreocupadoE pulava, e sorria, pulandoDe poça em poça, até crescerPor anos esqueci como era bomBrincar nas poças - de - pularE agora que a vida me abraçaQue a fantasia é desmascaradaQue a realidade dança nua perante meus olhosTudo o que quero são minhas poças - de - pularQuero me sujarQuero meu desleixoQuero me desfazer da imagemNão me importar com o que vão pensarE me jogar nas poças - de - pularMe encharcar, me sujar, me sujar, me molharDançar e rir despreocupadoE que todos olhemPara contente eu ficarCom as minhas poças - de - pular

| 110 |

Fora d’água (Em vão)

Fora d’águaMe debatoSufocoLuto

Nasci aquiFora d’águaFracasseiLutei

EspereiVieram me pescarAsfixieiLutei

Me contorciRespireiEm vãoLutarei

Em vão...

| 111 |

Entrevista com o autor

1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog?

Porque queria me expressar de alguma maneira, apesar de me sentir sempre  tímido  quando alguém lia. No início, nem o divulgava. Mas alguns professores o encontraram na internet, divulgaram por mim, elogiaram e me motivaram.

2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece algum outro meio de produção independente?

Escolhi o blog porque tinha preguiça de manuscrever os poemas. Hoje algumas pessoas usam o Tumblr© e até mesmo o próprio Facebook© pra suas produções.

3. O que é poesia para você?

Poesia é a melhor maneira de gritar seus pensamentos, tristezas, preocupações...

4. Você lê livros de poesia de outros autores?

Não. Prefiro ler crônicas. Enxergo todas as músicas como poesia, entretanto. Escuto Laura Marling, Ewert and The Two Dragons, Elis Regina, Manu Chao... entre outros. Esses me inspiram muito.

5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a ferramenta de comentários? 

Sim, leio. Principalmente dos meus melhores amigos. Não uso a ferramenta comentários. Costumo comentar pessoalmente ou pelo Facebook© .

6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim, quais seriam esses autores? 

Não costumo ler livros de poesia. Mas romances, crônicas, artigos, aulas e música me inspiram bastante. Gosto de ler Khaled Hosseini.

| 112 |

7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê? 

Não sei. Não acho que meus poemas sejam bons o suficiente para interessarem alguma editora, haha.

| 113 |

Sabine RibeiroUma biografia

Endereço eletrônico: http://www.umabiografia.blogspot.com.br

| 115 |

Não quero ter o mesmo fim dos românticos que me precederam, que ao contrário do que contam, não foi de tuberculose que morreram e sim de desespero. Conto as crises de loucura que me assolam e, a cada número, morro um pouco. Sou posto em choro ainda que rouco. Não sou um poeta do meu tempo. Meus medos não são meus contemporâneos. Anseio pelo futuro, mas não me esqueço dos alicerces, muitas vezes vermelhos, dessa nação que diz caminhar pra frente.

| 116 |

Por tempos tive algo pelo que escrever, um motivo não dos melhores. E numa tarde quente, ele se foi, deixando um buraco de dar inveja a qualquer um. Um buraco fácil de ser preenchido. Fiz o melhor para mim, preenchi-o com uma folha em branco.

| 117 |

Auto exorcismo:Ato de escolher atos, hábitos ou palavras que lhe façam esquecer algo, alguém ou algum momento.

| 118 |

Aos Livres e Inspirados.

E amanhã é segunda, meu povo,e a labuta começa de novo,e a saúde se acaba um po’co,e o tempo se esvai num côco.

E o velho caminhante,e o novo errante,caminham e erramnos chãos em chamas,com os pés em lamas,carregando flâmulas.

De um lugar em que donzelas,tão singelas,têm segredos delas,e seus caprichos.

Deitam com homens nobres,que cheiram a vinho e podes,mas preferem os bichos.

| 119 |

Olho para os olhares que me olham.E o que eles olham?Será que eu sei?Será o mesmo que eu olho?

E o que eu olho?

| 120 |

Agosto,desgosto,tem gosto

de encosto.

| 121 |

Amarrarei todos os males do mundo embaixo da minha [cama antes de levantar.

Serei juiz, bandido e vítima de um mesmo crime.Serei Napoleão, Picasso e Madonna.Serei Al Capone, Elvis e os Beatles.Serei Cleópatra e Ramsés.Dormirei ao lado de reis e rainhas.Serei um deus com cabeça de elefante e corpo de gente.Terei como amigos uma lebre e um chapeleiro louco.Um coelho com pressa e um gato sorridente serão meus

[companheiros.Serei o dono da verdade e o maior mentiroso que já existiu.

Serei tudo isso e mais um pouco,e ainda assim serei eu.

| 122 |

Eu vou me inspirando em loucos,em pessoas que morreram aos poucos.Vou beijando amantes toscose sorrindo pra velhos rostos.

No entanto, me entrego aos trancose abraço os barrancos.Amacio os bancose mexo os flancos.

Eu vou me inspirando em loucos,em pessoas que morreram aos poucos.(Algumas) Vítimas do vício de pensar,(outras) da insanidade de escrevere (outras até) da arte do não saber.

Vivo na ânsia de que isso não me alcanceEscrevo, penso e não sei.Mas morrer de loucura...Que valha a pena.

| 123 |

E o vidro com a fita vermelha preserva o que chamávamos [de amor.

Em leves tons de cereja e licor,em formato arredondado,agora com um odor mais amargo,como algo passado que deveria ter sido melhor preservado, usado e abusado,mas fora descartado.

Não! O que estou a dizer?! Que algo tão bem guardado, em [vidro enfeitado, fora ali descartado?!

De modo algum! Aquele bombom tão bem enrolado fora [guardado para ser preservado.

Antes de doce cereja escorria o licor, agora és dono do odorde algo não mais chamado amor, mas que é mais bem tratado.

| 124 |

O que você acha de viver?

Cumpra com suas tarefas.Não desobedeça as regras.Sorria para as câmeras.Feche a cara para os políticos.

Coma arroz e coma feijão,proteínas e macarrão.Feche as portas,tranque as janelas.Sente-se e assista à televisão.

Coma comida congelada,afinal, ninguém tem mais tempo pra cozinhar.

Abrace seus filhos,deixe-os usar a internet,enquanto vê a novela.

Bom dia, boa tarde e boa noite, rapazes,marido...Durmam cedo, acordem cedo,tomem banho na hora certa e escovem seus dentes 5 vezes

[ao dia.

Agora repita tudo durante sua vida inteira.

| 125 |

E que loucura é essa que vocês dizem que move tudo?

| 126 |

Entrevista com o autor

1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog?

Exercitar minha criatividade em diferentes modos de expor minhas emoções.

2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece algum outro meio de produção independente?

Praticidade, principalmente, e a possibilidade de alcançar pessoas de todo o mundo, e receber críticas e comentários quase que instantâneos.

3. O que é poesia para você?

Poesia pra mim pode ser uma expressão de emoções sem o menor intuito estético, pode ser uma composição de palavras com o intuito só de ser belo. Poesia pra mim é a exposição do belo.

4. Você lê livros de poesia de outros autores?

Não frequentemente.

5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a ferramenta de comentários?

Sim. Sim.

6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim, quais seriam esses autores?

Sim. Autores independentes como eu, a maioria de blogs também.

7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê?

Nunca pensei nisso, mas acredito que sim. Pra talvez alcançar um público maior, difundir o meu estilo e influenciar futuros poetas, quem sabe.

| 127 |