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8.2 Equilíbrio Macroeconómico de uma Pequena Economia Aberta
Vamos agora considerar o caso de uma pequena economia aberta com perfeita
mobilidade de capitais.
Relativamente ao regime cambial, vamos assumir que, no longo prazo, a taxa de câmbio
nominal é flexível (tal como os preços e os salários). Por outro lado, vamos assumir que,
no curto prazo, o Banco Central se compromete a manter a taxa de câmbio nominal fixa.
8.2.1 Equilíbrio de longo prazo de uma pequena economia aberta
Mercado de trabalho:
O produto, o emprego e o salário real continuam a ser determinados no mercado de
trabalho, tal como no caso da economia grande.
***** ,,)()( YNwwNwN DS ⇒=
Mercado cambial:
Em equilíbrio de longo prazo, assumimos que se verifica a teoria da paridade dos poderes
de compra. A taxa de câmbio real tende a manter-se estável.
ππ −=∆⇒=∆ f
e
e
e
e
''
0
2
Por outro lado, para que não existam oportunidades de arbitragem, as rentabilidades dos
activos financeiros na economia e no exterior têm de ser iguais (estamos a assumir que a
mobilidade internacional dos fluxos financeiros é perfeita).
''
e
eii f ∆−=
As duas relações anteriores implicam que as taxas de juro reais na economia pequena e
no exterior sejam iguais.
ffff rriie
eii =⇔−−=⇒
∆−= ππ''
A taxa de juro real é, portanto, determinada pelo exterior. Em equilíbrio, é
necessariamente igual à taxa de juro real internacional. Se fosse inferior (superior),
haveria saída (entrada) de capitais. O consequente excesso de oferta (procura) de moeda
nacional – excesso de procura (oferta) de moeda estrangeira – provocaria uma
depreciação da moeda nacional.
Y
r
BPfr
entrada de capitaisapreciação
saída de capitaisdepreciação
Figura: Equilíbrio no mercado cambial.
A taxa de juro nominal pode obter-se adicionando a taxa de inflação à taxa de juro real.
3
Mercado de bens e serviços:
Sendo a taxa de juro real determinada internacionalmente, o equilíbrio no mercado de
bens e serviços passa a ser garantido por ajustamentos da taxa de câmbio real.
** )()( eeZeXIGCY ⇒−+++=
Y
r
fr
IS
*Y
e e
ee
Figura: Equilíbrio no mercado de bens e serviços.
Mercado monetário:
Tal como no caso da economia grande, a procura real de moeda depende apenas de
variáveis já determinadas (produto e taxa de juro). Sendo a oferta nominal de moeda
escolhida pelo banco central, o nível de preços de equilíbrio é aquele que faz com que a
oferta real de moeda seja igual à procura real de moeda.
( ) *** , PP
MiYL
SD ⇒=
A taxa de câmbio nominal e as restantes variáveis nominais podem ser calculadas a partir
deste nível de preços.
eP
Pee
P
Pe
f
f⋅=⇒⋅=
∗
∗ ''
4
CN
SN
ND
PM
gN
≡
*N
*
PWPW
NN
Y
*Y
)(N
Y
Y
r
*Y
IS
SM
()*
PM
S
*PP
PM
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**
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IG
CY
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−−
=
),
(*
iY
LD
*D L
PM
EquilíbrioGeraldeumaPequenaEconomiaAberta(LongoPrazo)
BP
fr
r=
*
* iπ
+=
**
ri
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8.2.2 Equilíbrio de curto prazo de uma pequena economia aberta (câmbios fixos)
Mercado cambial:
Numa pequena economia aberta com câmbios fixos, a taxa de juro tem de ser igual à taxa
de juro internacional, caso contrário haveria um fluxo de capitais no sentido da economia
com taxa de juro superior.
ff iie
eEii =⇒
∆−=''
Para manter a taxa de câmbio fixa, o banco central pode “comprar” (para evitar a
depreciação) ou “vender” (para evitar a apreciação) moeda nacional pagando, por
exemplo, com moeda estrangeira.
Mercado de bens e serviços:
À taxa de juro determinada internacionalmente, para que o mercado de bens e serviços
esteja em equilíbrio, é necessário que o produto seja aquele que é dado pela curva IS.
Mercado monetário:
A intervenção do banco central, no sentido de manter a taxa de câmbio fixa, altera a base
monetária (e, portanto, a massa monetária). Se o banco central “comprar” (“vender”)
moeda nacional para evitar a depreciação (apreciação), a oferta de moeda no mercado
monetário diminui (aumenta).
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Como os preços são considerados fixos, a oferta real de moeda é determinada
endogenamente de forma a equilibrar a procura de moeda.
O equilíbrio no mercado monetário acaba por estabelecer-se, obrigatoriamente, à taxa de
juro internacional, e ao produto que equilibra o mercado de bens e serviços.
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8.2.3 Efeitos da política monetária
i) efeitos de curto prazo
Como o banco central não pode, ao mesmo tempo, manter a taxa de câmbio fixa e
controlar a oferta de moeda, não existe a possibilidade de escolher realizar uma política
monetária expansionista.
A política monetária consiste, simplesmente, em manter os câmbios fixos.
ii) efeitos de longo prazo
Tal como numa economia grande, todas as variáveis reais são determinadas
independentemente da oferta nominal de moeda (neutralidade da moeda). Uma variação
da oferta de moeda faz apenas com que variem, na mesma proporção, o nível de preços e
os salários nominais.
Como a taxa de câmbio real se mantém inalterada, ocorre uma depreciação da taxa de
câmbio nominal, em resultado do aumento do nível de preços interno.
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8.2.4 Efeitos da política orçamental
i) efeitos de curto prazo
Uma política orçamental expansionista faz aumentar a procura agregada. O aumento do
produto pressiona no sentido do aumento da taxa de juro (devido ao aumento da procura
de moeda), que se transmite à taxa de câmbio.
Um pequeno aumento da taxa de juro induz movimentos de entrada de meios financeiros
(aumenta a procura de moeda nacional), que pressionam no sentido da apreciação da taxa
de câmbio.
Para manter a taxa de câmbio fixa, o banco central aumenta a oferta de moeda, anulando
o excesso de procura de moeda. A taxa de juro mantém-se, assim, constante, tal como a
taxa de câmbio.
A expansão provocada pela política orçamental expansionista é acentuada pela política
monetária expansionista, que anula o fenómeno de “crowding-out”.
O aumento do produto é acompanhado de uma diminuição do desemprego.
ii) efeitos de longo prazo
Uma política orçamental expansionista age sobre o mercado de bens e serviços,
aumentando a procura agregada. Numa economia grande, o equilíbrio restabelece-se por
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meio de uma subida da taxa de juro. Numa economia pequena, a taxa de juro real é
determinada pelo exterior, não podendo, portanto, ajustar-se.
A diminuição da procura agregada ocorre devido à apreciação da taxa de câmbio real,
que torna as importações mais baratas e as exportações mais caras. Este efeito pode
designar-se por “crowding-out” externo .
No mercado de capitais, a diminuição da poupança pública é compensada pelo aumento
da poupança externa (défice da balança corrente). A política orçamental expansionista
provoca, portanto, défices gémeos.
Como a taxa de juro se manteve constante (igual à taxa de juro internacional), os efeitos
de longo prazo não se fazem sentir no mercado monetário.
8.2.5 Efeitos de um choque de produtividade
i) efeitos de curto prazo
Estando, no curto prazo, o produto determinado pela procura agregada, um aumento da
produtividade faz aumentar o desemprego.
ii) efeitos de longo prazo
O progresso técnico faz aumentar o produto natural, tanto numa economia grande como
numa pequena economia aberta.
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Numa economia grande, a diminuição da taxa de juro faz aumentar a procura agregada,
de forma a que esta iguale a oferta agregada. Numa pequena economia aberta, esse
mecanismo de ajustamento não funciona, dado que a taxa de juro real é (no longo prazo)
igual à taxa de juro real internacional.
A variável de ajustamento no mercado de bens e serviços é a taxa de câmbio real. Após
um aumento da produtividade (e consequente aumento da oferta agregada), terá de
ocorrer uma depreciação da taxa de câmbio real para que aumente a procura agregada
(aumentam as exportações e diminuem as importações).
O aumento do produto reflecte-se, também, num aumento da procura real de moeda. Se o
Banco Central mantiver constante a oferta nominal de moeda, então, para que o mercado
monetário se equilibre, é necessário que o nível de preços desça (de forma a que a oferta
real de moeda também aumente).
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