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MESTIAGEM E IDENTIDADE TNICA NO PARAGUAI - VALDIR ARAGO DO
NASCIMENTO
Cadernos do LEME, Campina Grande, vol. 5, n 1, p. 1 26. Jan./Jun. 2013. 1
MESTIAGEM E IDENTIDADE TNICA NO PARAGUAI:
Uma Contribuio ao Debate
Valdir Arago do Nascimento
Mestiagem: noes e conceitos
perfeitamente razovel a noo de que a mestiagem, enquanto fenmeno humano,
vem tendo sua atuao desde as mais remotas pocas no devir histrico da humanidade;
sendo, portanto, muito mais antiga do que se supe. Todavia, o termo mestiagem pode ser
considerado recente e, por conta disso, ainda envolto em inmeras incertezas conceituais.
Enquanto o vocbulo mestio tem sua existncia datada desde o sculo XII, a mestiagem,
com a significao que lhe atribuda hoje em dia, data do sculo XIX (LAPLANTINE e
NOUSS, 2001).
O conceito de mestiagem costuma ser verbalizado pelo senso comum
indissociavelmente relacionado noo de mistura, de juno e de assimilao. Pode-se
interpelar algum na rua e perguntar-lhe, a pretexto de uma matria jornalstica ou pesquisa
de opinio, qual o significado de mestiagem ou, ainda, o que um mestio; que a resposta,
com sinnimos diferentes ou no, ser elaborada e enunciada fazendo uso das palavras
acima mencionadas. Isso se deve, presumivelmente, origem do vocbulo tributrio que Mestre em Antropologia (PPGAnt/UFGD) e Bacharel em Cincias Sociais (UFMS). E-mail:
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das construes semnticas oriundas da Biologia; particularmente de um dos seus ramos,
reputado como um dos mais ilustres atualmente: a gentica.
A terminologia tcnica prpria das cincias naturais denomina mestiagem todo o
processo biolgico que envolve o cruzamento de raas, de subespcies com variedades
diversas, no cerne de uma espcie comum; tendo, como resultado dessa amlgama, o
mestio. Ainda que o vocbulo tenha sido empregado genericamente pelos meios de
comunicao e outras mdias quando se referem ao fenmeno, os profissionais da rea,
bilogos e zologos, no costumam fazer uso do termo, preferindo palavras como
cruzamento e/ou hibridismo. Assim, o mestio, o de sangue misturado, o hbrido na
acepo biolgica dos termos nada mais do que o indivduo (de natureza animal ou
vegetal) produzido atravs do acasalamento entre organismos morfolgica e/ou
geneticamente distintos de linhagens ou de variaes existentes no seio de uma mesma
espcie.
As questes que remetem categoria de mestiagem trazem consigo, em sua base,
uma gama de incertezas, tanto histricas quanto conjunturais, tanto conceituais quanto
epistemolgicas. Conceituais na medida em que tem sua origem etimolgica inegavelmente
associada mistura e, consequentemente, relacionada a construes semnticas que contm
no seu bojo vocbulos que denotam confuso, indistino, descontinuidade e degenerao.
Epistemolgicas porque so tomadas de emprstimo, por outras reas do conhecimento,
concepes oriundas de esferas que, embora no se negue sua relevncia na elaborao de
sentidos em uma dada sociedade, estruturalmente no guardam afinidades com os
fenmenos notadamente os de cunho sociocultural aos quais so conclamados a
representar.
Em que pese importncia das Cincias Biolgicas no que respeita ao conceito de
mestiagem, este no se encerra somente nessa definio quando aplicado s Cincias
Sociais em geral, particularmente s que tm o homem e a cultura como objeto de pesquisa.
No entanto, o problema enfrentado por essas cincias do social, por assim dizer, o uso de
tal conceito biolgico aplicado aos fenmenos socioculturais de culturas particulares e
divergentes em contextos de contato. O problema reside, de acordo com Gruzinski (2001:
36), em ceder quando da anlise e interpretao do fenmeno que se estuda ao
entendimento de que a mestiagem est intimamente relacionada ao conceito de pureza
indissociavelmente atrelado ao maniquesmo dicotmico onde o portador da pureza seria
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reputado como o bom; e o portador da mestiagem, ou seja, o mestio seria o impuro, o
ilegtimo, o irremediavelmente contaminado.
Em verdade, os pargrafos acima apenas apontam a complexidade que guardam os
conceitos elaborados em torno da noo de mestiagem. Dentre as vrias construes de
sentido que permeiam o vocbulo em questo, Gruzinski (2001) assevera que so muitas as
palavras que se aplicam mestiagem e afogam sob uma profuso de vocbulos a
impreciso das descries e a indefinio do pensamento. Para este autor, a concepo que
remete a palavra mistura no tem apenas o inconveniente de ser vaga. Em princpio,
mistura-se o que no est misturado, ou seja, elementos homogneos, isentos de qualquer
contaminao (2001: 42).
Nesse sentido, as mestiagens ou, melhor dizendo, os conceitos a elas vinculados,
esto indivisivelmente atrelados s categorias que objetivam a identificao e a
classificao. Tencionam categorizar e explicar os fatos de natureza biolgica que,
inegavelmente, acabam por ultrapassar as esferas semnticas em que tais fatos se originam.
Segundo Laplantine e Nouss (2001: 71), a propsito do carter aglutinador do
conceito de mistura, esta no tem nada de circunstancial, de contingente, de acidental.;
pois para os autores, a mistura dada pelo vir a ser inerente condio humana, que o
encontro, nascimento de algo diferente que no estava contido nos termos em presena.
Desse modo, desnecessrio, na concepo dos autores em questo reivindicar a
miscigenao, fazer a defesa da mestiagem como se estivssemos confrontados com uma
alternativa, porque ela no seno o reconhecimento da pluralidade do ser e do devir.
(2001: 84). Assim, a mestiagem se constitui como um pensamento e, em primeiro lugar,
uma experincia da desapropriao, da ausncia e da incerteza que pode brotar de um
encontro (LAPLANTINE e NOUSS 2001: 7).
A propsito da meno miscigenao, tida como sinnimo de mestiagem e, por
conseguinte, de mistura racial, Zarur (2009) chama a ateno sobre os equvocos conceituais
que o conceito encerra. Para Zarur, um dos problemas lgicos em relao ao conceito em
questo centra-se na crena errnea da existncia de raas; pois, analisa o autor, para que
haja a mistura pressupe-se que existam raas. Assim:
Como raas humanas so uma fico para muitos cientistas, sem raas no haveria o mestio. Porm, pode-se contra argumentar que o mestio existe, se apenas ele existe. Nesta viso no existem raas, mas uma nica espcie humana, o prprio mestio, resultante da mistura dos homens mais diversos. Assim, a
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mestiagem resulta da mistura biolgica de famlias, comunidades e pessoas diferentes e no de raas. A mestiagem deve ser considerada uma metfora que exprime a unidade humana. Mestiagem , portanto, a metfora biolgica para fraternidade. J a semntica de raa divide e hierarquiza os seres humanos. Raa um conceito nascido para o dio e para a opresso (ZARUR, 2009: 5).
Atualmente, os cientistas que se dedicam Biologia e Gentica no so unnimes
no que diz respeito ao conceito de raa. Para muitos, do ponto de vista biolgico, esta no
existe, ou seja, tal constatao ratifica a tese defendida por muitos antroplogos ao longo
da histria da disciplina de que as categorias raciais so sociais, culturais e humanamente
construdas. Tais construes, grosso modo, tendem a elaborar uma classificao que
objetiva rotular as pessoas levando em considerao apenas suas caractersticas fenotpicas,
tais como a pigmentao epitelial, a textura do cabelo ou a configurao e dimenso
anatmicas do nariz. Assim, o conceito de raa usado largamente para justificar o racismo,
ainda que velado, no caso brasileiro, e para determinar a condio social dos indivduos.
A Mestiagem no Paraguai
Segundo alguns estudiosos, a mestiagem teve incio com a expanso martima
europia do sculo XVI, que teve como precursores Portugal e Espanha. A empreitada
ocasionou a conquista de novas terras e rotas de comrcio, como o continente americano e o
caminho para as ndias pelo sul da frica.
Os primeiros povos a sofrer os efeitos dessa conquista foram os habitantes dessas
terras ditas desconhecidas; ou seja, os povos que a historiografia convencionou denominar
de indgenas. Na Amrica, a chegada e o posterior estabelecimento das colnias por parte
dos conquistadores plasmou indelevelmente a vida cultural e social dos habitantes originais,
legando a eles mudanas incontestveis de vrios matizes; como bem observou Pacheco de
Oliveira (1998: 54): um fato histrico a presena colonial que instaura uma nova
relao da sociedade com o territrio, deflagrando transformaes em mltiplos nveis de
sua existncia sociocultural.
Um dos povos indgenas que sofreu com esse processo de colonizao foi o Guarani,
que foi alijado de sua liberdade de escolha quanto ao seu destino histrico, vendo
interrompida sua trajetria cultural; tendo sido irreparavelmente subsumido,
involuntariamente, aos objetivos de conquista e explorao da coroa espanhola. Nesse
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processo encabeado pela ideologia expansionista europia, os Guarani foram os mais
afetados, como assinala Monteiro (1992: 475):
Embora tenha afetado direta ou indiretamente a demografia, a distribuio espacial e a organizao poltica de todos os povos da regio, o processo de penetrao colonial, em suas mltiplas facetas, atingiu de modo particular os Guarani, que sofreram profundas transformaes decorrentes de prticas e polticas impostas pelos principais agentes da expanso europia.
Segundo Susnik (1966), quando da ocorrncia das grandes conquistas expansionistas
a regio conquistada agregava vrios povos sob as mais diversas denominaes, tais como
os Cari, os Tobatine, os Guarambarense, os Tap e os Guayr para citar alguns elencados
por Susnik. Chamorro (1999) informa ainda que, nessa poca, foram contatados
aproximadamente 14 grandes grupos de populaes genericamente chamados de Guarani.
Chamorro (1999: 7) alerta ainda para o fato de que esses povos apesar de
partilharem da mesma matriz lingustica e cultural, mantinham entre si tambm diferenas
significativas, que os configuravam como unidades sociais e territoriais independentes e
circunstancialmente inimigas entre si. Contudo, Meli (1989) afirma que no obstante as
divergncias entre os subgrupos para alm das denominaes particulares preponderou
genericamente o vocbulo de Guarani, visto haver uma unidade entre os dialetos utilizados
por estes povos; bem como as similitudes existentes entre suas organizaes sociopolticas e
em suas manifestaes culturais.
Historicamente, pelo menos no que diz respeito Histria oficial, indubitavelmente
presente no imaginrio do povo paraguaio, o que se tem um mito fundador, onde o
indgena guarani e o conquistador espanhol estabeleceram relaes e alianas desprovidas de
conflitos; ou seja: so representados como se fossem oriundos das esferas mais refinadas da
diplomacia e da tolerncia mtua.
Estrag (2010) e Potthast (2010) relatam que esse mesmo mito fundador encerra em
sua estrutura verses sobre a passividade e docilidade com que foram recebidos os
colonizadores espanhis por parte dos Guarani a ponto de lhes entregar mulheres e
alimentos sem solicitar nada em troca. Nessas verses lendrias, as autoras observam que
esto ausentes os registros de mais de cem anos de intensos embates entre os Guarani e os
espanhis.
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Desse modo, o mito fundador que privilegia e evoca as particularidades sobre a
gnese de uma nao e a nascena de um povo, engendra e manipula uma representao de
carter uniforme dessa nao sobre si mesma; representao que posteriormente ser
rearticulada, retrabalhada, reencenada, parafraseada e satirizada pelos mais diversos veculos
de transmisso cultural educao escolar oficial, literatura, msica popular, artes plsticas,
smbolos oficiais de um pas de que dispe e aciona as estruturas de governo responsveis
pela idia de cultura nacional.
Nesse sentido, pertinente a anlise de Chau (2006: 9) quando assevera que um
mito fundador aquele que no cessa de encontrar novos meios para exprimir-se, novas
linguagens, novos valores e idias, de tal modo que, quanto mais parece ser outra coisa,
tanto mais a repetio de si mesmo. Portanto, esse mito tem por base, segundo Chau
(2006), a imposio de um vnculo interno que subjaz sob a superfcie de um passado tido
como origem, ou seja, com um passado que se caracteriza pela imortalidade, pela
permanncia e que se mantm inexoravelmente inelutvel; no admitindo, por essa mesma
razo, a existncia de um esforo que privilegie a distino temporal e a consequente
compreenso do presente como tal.
A respeito do incio do processo de mestiagem entre espanhis e os Guarani,
Estrag (2010) informa que no incio do processo de conquista, os indgenas eram tratados
com certo respeito, ainda que estrategicamente pensado para ganhar a confiana e obter a
colaborao dos Guarani. Segundo a autora, poca se instituiu uma espcie de sistema
social onde a reciprocidade familiar, por parte de indgenas e espanhis, era socialmente
aceita e at estimulada. Tal sistema permitia aos espanhis no somente a obteno de
amantes, mas tambm o concurso da parentela das mulheres indgenas nas mais variadas
atividades, desde o trato com a terra at o apoio poltico, quando este se fazia necessrio. Em
troca, os espanhis forneciam aos indgenas, alm de armas, instrumentos e utenslios que
facilitavam a vida domstica e cotidiana.
O processo de mestiagem, segundo Velzquez (2011)e Brezzo (2010), se
intensificou com a fundao de Assuno. Isso se deu devido s alianas estabelecidas entre
os Cari e os espanhis contra os malones chaquenhos, e pela ausncia quase total de
mulheres espanholas. Tal ausncia ocorreu em face do desinteresse dos espanhis em
relao s terras paraguaias.
Estrag (2010) atribui o desinteresse dos espanhis em relao ao Paraguai
descoberta, por parte dos conquistadores, da inexistncia de ouro e prata na regio e ao
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isolamento a que estes estavam submetidos. Diante desses fatos, os indivduos que l j
estavam se viram merc de sua prpria sorte, ou seja, por sua conta e risco. Assim, Estrag
(2010) concorda com Brezzo (2010) e Velzquez (2011) no que respeita ao comeo do
processo de mestiagem no Paraguai; ou seja, aceita o fato que em face da escassez de
mulheres espanholas, os espanhis esposavam as ndias guarani e, com isso, davam incio
a uma gerao mestia em terras paraguaias.
O antroplogo Bartolomeu Meli (2011: 120), a respeito da mestiagem que ocorreu
no Paraguai, tece o seguinte comentrio: [...] A historiografia do Paraguai, ao colocar a
mestiagem como uma chave interpretativa do seu processo colonial, sugere que os espaos
foram respeitados e que a nova sociedade foi formada com incluses saudveis e sem
excluses traumticas. Ressalta-se que nenhum dos historiadores supracitados Estrag,
Brezzo e Velzquez comungam com as concluses dessa historiografia do Paraguaia a
que se refere Meli.
Essa construo historiogrfica a que Meli faz meno, teve seu recrudescimento no
Ps-Guerra da Trplice Aliana (1870), notadamente com a publicao do lbum Grfico de
la Repblica del Paraguay: 100 aos de vida independente. Essa publicao teve o mrito,
segundo Brezzo (2010: 25), de situar os povos indgenas como sujeitos histricos em um
perodo anterior ao descobrimento o que facultou a construo de uma histria Guarani
livre das elucubraes elaboradas pelos cronistas coloniais..
O demrito da publicao em questo foi o de engendrar e transmitir nacionalmente a
idia de que o Paraguai constitua em sua origem uma nao mestia superior s naes
indgenas. Nao mestia que se assemelhava a uma nao de raa branca, peculiar, sui
generis, especial. Por conta dessas concepes, a intelectualidade responsvel pela
reconstruo da nao no perodo Ps-Guerra, apesar de reconhecer a mestiagem como
parte do processo de formao do povo paraguaio, no a aceitava; e no aceita at hoje
(BREZZO, 2010).
Meli (2011) se insurge contra uma noo historiogrfica que, de acordo com suas
elucubraes, engessou a identidade do homem paraguaio em torno de um mito fundador,
onde o mote o encontro entre a cultura guarani e a cultura espanhola-colonial, bem como
as alianas estabelecidas entre elas, desembocando, assim, no mito maior: a miscigenao.
Para o autor em questo, tal mestiagem muito mais fruto de elaboraes e acontecimentos
culturais do que de encontros genticos. Note-se que Meli no nega a ocorrncia da
mestiagem, apenas relega a segundo plano os componentes de matiz gentica que
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inegavelmente lhe so inerentes, privilegiando, desse modo, a interpretao do fenmeno
como fato preponderantemente cultural.
O antroplogo paraguaio Chase-Sardi (1990) tambm no aceita como vlida a
verso onde figura o mito hispnico-guarani como fator preponderante da constituio da
cultura paraguaia. Para este pesquisador, inconcebvel a tese de que na formao da cultura
paraguaia no entram as inmeras contribuies deixadas pelos indgenas. Chase-Sardi
acredita piamente na verso, da qual um dos defensores, que assevera que os valores
culturais que efetivamente exerceram preponderncia na formao cultural paraguaia seriam
aqueles legados ao povo pelos indgenas.
Carvalho (1997), adotando, em parte, as posies tericas de Chase-Sardi, refuta
quando reflete sobre a constituio identitria do povo paraguaio a interpretao que
concebe a ndole do povo paraguaio como tributria e herdeira do colonizador espanhol.
Para ele, ainda que se observe nos meandros de sua conduta algumas particularidades da
psicologia do homem paraguaio, tais como modstia, resignao, humildade, sentimento de
igualdade e solidariedade, nada disso tem a ver em seu conjunto com a herana
hispnica. Para o autor no restou, do processo da colonizao espanhola no Paraguai,
nenhuma herana cultural positiva, de comportamento e/ou costumes, que pudessem
explicar o modo de ser paraguaio.
No entanto, Carvalho reconhece embora no campo das possibilidades as
influncias existentes entre os ndios Guarani e os espanhis na constituio dessa
psicologia do homem paraguaio: De onde viria a raiz dessa conduta? No pode ser de seu
ancestral ndio exclusivamente. possivelmente o perfil de uma juno simbitica entre as
culturas hispnica e guarani (CARVALHO, 1997: 22).
Carvalho no atribui ao colonizador espanhol o apreo igualdade e solidariedade.
Para ele, essas caractersticas estavam presentes no ndio Guarani, e seria deles que o povo
paraguaio herdou seu amor pela igualdade e sua solidariedade. Afirma que o colonizador
espanhol no s no detinha tais caractersticas, como acalentava outras menos nobres, tais
como o individualismo e a crueldade. Desse modo, no exerccio da mestiagem, como
assinala Carvalho, o colonizador no legou mais que isso formao do carter nacional do
paraguaio (CARVALHO, 1997).
Ainda de acordo com as informaes de Meli (2010), a mestiagem no Paraguai
deixou de existir, praticamente, antes mesmo do trmino do sculo XVI. O autor baseia sua
afirmao no fato de, quela poca, ter havido uma diminuio considervel do contingente
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de indivduos de origem espanhola que costumeiramente entravam no pas, pelos motivos j
apontados pelos autores acima. O autor informa ainda que, poca da colonizao, os
indgenas estavam vivendo em comunidades separadas e autnomas separadas nas quais se
deu a entrada de mestios que se consideravam espanhis e que impuseram a sua condio
poltica e cultural aos indgenas, cada vez menos autnomos em suas comunidades
(MELI, 2010: 21).
Assim, o autor analisa que a continuao da mestiagem, a partir do final do sculo
XVI, se deu somente no campo sociocultural e poltico, dado o fato de no haver pelo
menos de forma considervel o afluxo de espanhis com destino s terras recm-
conquistadas.
Outro fator importante abordado pelo autor em tela diz respeito noo errnea de
uma mestiagem enquanto fenmeno social generalizada em todo o Paraguai. Meli
(2010) observa que outras regies do pas no foram ocupadas, pelo menos de imediato,
pelos colonizadores. Regies como o Chaco Paraguaio, para citar um exemplo, que sofreu
uma colonizao tardia e parcial, na avaliao do autor, no chegaram, em termos de
mestiagem, a ter ocorrncia. No entanto, o autor no renuncia o fato de ter havido unies
mistas em solos chaquenhos, mas enfatiza que tais unies se deram, provavelmente, entre
membros de sociedade diferentes, mas que conviviam nem sempre pacificamente na
mesma regio.
Outra noo equivocada e muito comum no Paraguai a crena de que os
camponeses paraguaios pelo menos em sua maioria so predominantemente de origem
indgena noo desmontada pelas acuradas anlises de Meli (2011). Atravs de um exame
pormenorizado calcado em vasta bibliografia e dados estatsticos o autor mostrou que os
camponeses no Paraguai so, sim, espanhis e no indgenas; como acredita em larga
medida o imaginrio sociocultural paraguaio. Assim, para Meli, a mestiagem teve seu
lugar no mundo guarani; entretanto gentica e culturalmente o que subsistiu dos
indgenas no seria mais do que um simples resduo, de muito pouca, ou nenhuma,
relevncia.
A propsito do pargrafo acima, reforam as anlises de Meli as constataes de
pesquisa publicada recentemente edio de fevereiro de 2011 na revista europeia
International Journal of Immunogenetics erealizada por uma equipe franco-paraguaia. A
pesquisa demonstra a preponderncia, em mestios paraguaios, dos genes espanhis.
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Para consecuo da pesquisa, foram comparados o sangue paraguaio com o sangue
espanhol principalmente de indivduos de origem andaluza, de onde provieram grande
parte dos conquistadores do sculo XVI, e com o sangue de indgenas Guarani. Os autores
do trabalho afirmam que os Guarani do Paraguai so geneticamente muito diferentes dos
espanhis e tambm dos mestios paraguaios. A concluso aponta distncias genticas muito
prximas entre mestios paraguaios e espanhis; entretanto, incrivelmente distantes entre
mestios paraguaios e guaranis do Paraguai.
Identidade tnica: Conceitos e Consideraes
Se pensarmos a construo e manuteno da identidade, ou das identidades, a partir
do vis sociocultural, fatalmente seremos forados a aceitar que estas so produtos sociais e
culturais inegavelmente vinculados, sociolgica e antropologicamente falando, s
manifestaes e vontades da sociedade que os gerou. Assim, o que se tem o fato de que as
identidades, quaisquer que sejam suas matrizes, so socialmente construdas. O que no quer
dizer que no haja agncia por parte dos indivduos que compem uma sociedade, no se
quer dizer que estes sejam meros autmatos. Mas inegvel que fazem suas escolhas
identitrias baseados nos contextos socioculturais em que esto inseridos.
No processo de feitura das identidades, so arregimentadas para sua confeco as
matrias-primas oriundas das esferas socioculturais mais diversas, tais como a Histria, a
Geografia, a Biologia, a Religio, as instituies de cunho produtivo e reprodutivo e a
memria coletiva de um povo (CASTELLS 2006: 23). Desse modo, de acordo com
Canclini: Ter uma identidade seria, antes de mais nada, ter um pas, uma cidade ou um
bairro, uma entidade em que tudo o que compartilhado pelos que habitam esse lugar se
tornasse idntico. O autor conclui sua anlise assegurando que Aqueles que no
compartilham constantemente esse territrio, nem o habitam, nem tm, portanto, os mesmos
objetos e smbolos, os mesmos rituais e costumes, so os outros, os diferentes (CANCLINI,
1998: 190).
Diante do exposto, pertinente a anlise de Silva (2009: 85) quando assevera que em
face da inexistncia natural das comunidades, estas precisam ser inventadas, ou imaginadas.
Nesse processo de construo social, se faz necessria a elaborao de redes e liames pr-
concebidos no intento de juntar as pessoas em torno de uma noo de sentimento comum,
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sem o qual essas pessoas no seriam mais do que elementos isolados em contextos infrteis,
do ponto de vista sociocultural.
desse e nesse contexto que a identidade tnica, tambm ela, retira elementos
para sua composio enquanto sistema que propicia a diferenciao entre os indivduos de
grupos diferentes que, apesar disso, dividem um mesmo espao em determinada regio.
Cardoso de Oliveira (1976) concebe o conceito de identificao tnica
indissociavelmente relacionado ocorrncia e recorrncia por parte de membros de grupos
tnicos do emprego de uma nomenclatura que remete, essencialmente, a aspectos raciais,
nacionais e/ou religiosos diante da necessidade de identificao em face de grupos exgenos
ou mesmo do seu grupo de origem. Nesse sentido, pode-se entender o uso dos caracteres
escolhidos para compor determinada identidade tnica como uma estratgia de distino
adotada por grupos tnicos de origem diversa quando em situao de contato e constante
interao. Nesse encontro, os grupos tnicos se afirmam, como observa Cardoso de Oliveira
(1976), atravs da negao ou aceitao da outra identidade com a qual interagem.
Assim, facilmente detectvel o fato de que a identidade tnica emerge ou
acionada em determinadas condies particulares, notadamente s situaes que envolvem
conflito, considerado, de acordo com Grnewald (1999: 13), como parte integrante dos
processos inerentes constituio de grupos sociais, e [...] como forma estruturante da
interao social, sendo motor de determinadas relaes sociais ou, mais especificamente,
fora propulsora da atividade poltica que perpassa a constituio do grupo tnico.
Para Barth, as categorias tnicas oferecem um recipiente organizacional que pode
receber contedo em diferentes quantidades e formas nos diversos sistemas socioculturais.
Podem ter grande importncia, mas no necessariamente; podem colorir toda a vida social,
mas tambm ser relevantes apenas em determinados setores de atividade. Assim, Barth
(2000) acredita que:
importante reconhecer que apesar das categorias tnicas levarem em conta diferenas culturais, no podemos pressupor qualquer relao de correspondncia simples entre as unidades tnicas e as semelhanas e diferenas culturais. As caractersticas a serem efetivamente levadas em conta no correspondem ao somatrio das diferenas objetivas; so apenas aquelas que os prprios atores consideram significativas (BARTH, 2000: 32-33).
Ou seja, compartilhar algumas similitudes, sejam elas advindas de hbitos culturais,
lingusticos ou sociais, no condio para que se percam caractersticas identitrias, vises
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de mundo e idiossincrasias h muito arraigadas. A cultura original de um grupo tnico no
se perde ou se mescla simplesmente, mas se reveste de uma nova funo (CUNHA, 2009:
237). Portanto, onde indivduos de culturas diferentes interagem poder-se-ia esperar que as
diferenas se reduzissem, uma vez que a interao simultaneamente requer e cria uma
congruncia de cdigos e valores.
foroso, aqui, ressaltar que a identidade, ou identidades, irremediavelmente
tributria das relaes gestadas no seio da sociedade, ou seja, edificada e se consubstancia
na interao recproca entre indivduo e sociedade, no deixando de considerar que
identidade de um grupo no se define por um conjunto de fatos objetivos, ela o produto
de significados experienciados (YOUNG, 1995: 161).
No que concerne manifestao tnica, o instrumental conceitual empregado para
propiciar a identificao imprescindvel, isso porque tal aparato conceitual acaba por
espelhar as caractersticas identitrias escolhidas, adotadas e declaradas pelos indivduos ou
grupos tnicos quando confrontados com situaes reais nos processos inter-relacionais.
Para Meli (2006), citando um autor mais perto da realidade paraguaia, a identidade
no to somente a busca de razes; ou, ainda, a permanncia em uma nica maneira de ser.
Para ele, a identidade est constantemente em movimento, em construo e desconstruo
incessante. Tal plasticidade identitria seria fruto, na opinio do autor, da insatisfao do
homem com a sua prpria condio humana, que sempre, incontestavelmente, incerteza e
devir. Nas palavras de Meli (2006: 6-7), estamos sempre Insatisfeitos conosco mesmos, do
que somos e com o que nos espera, estamos em transformao at outra coisa.
Pedrojuaninos e assuncenos: dilogos convergentes
A propsito de um trabalho de campo realizado entre 2011 e 2012 nas cidades
paraguaias de Pedro Juan Caballero e Assuno, com vistas prospeco de dados
etnogrficos sobre identidade tnica para posterior confeco de dissertao de mestrado
em Antropologia , interagi com vrios interlocutores ao longo da minha estada nessas
cidades. No decurso da realizao do trabalho de campo, um detalhe me chamou a ateno:
apesar de sua ascendncia indgena, os paraguaios, em sua maioria tanto em Pedro Juan
Caballero quanto em Assuno , no aludiram a essa ancestralidade quando inquiridos
acerca da constituio de sua identidade tnica. Em conversas com alguns interlocutores,
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no houve meno quanto influncia indgena, a no ser em relao lngua e tradio
culinria, na formao do homem paraguaio.
Aqueles que mencionaram sua ascendncia indgena o fizeram de maneira a torn-la
menor, desimportante e quase inexistente. O pedrojuanino Miguel Ortega, quando inquirido
sobre sua ascendncia indgena, respondeu que
Olha, eu acho que ns paraguaios somos descendentes dos ndios mesmo, sabe. Mas ns no temos mais nada deles, talvez uma coisa ou outra, mas muito pouco. A gente civilizado, a gente fala trs idiomas, conversa com todo mundo, com os turistas que vm aqui. Ento, acho que, tirando o idioma deles, o guarani, que at hoje a gente fala, no ficou muita coisa. [Miguel Ortega, 40 anos, casado, vendedor (Funcionrio do Shopping West Garden, PY), ensino mdio completo. Pedro Juan Caballero, 2012]
Aqui, o conhecimento dos idiomas portugus, espanhol e guarani acionado como
sinal diacrtico de diferenciao entre o paraguaio e o indgena guarani. O fato de saber se
comunicar em vrias lnguas distancia, na opinio de Miguel, o ndio guarani do homem
paraguaio atual, reputado, pelo interlocutor em questo, como cosmopolita, um cidado do
mundo por excelncia.
A noo de civilizao aceita e empregada por Miguel traz consigo a marca da
distino, para ele, a diferena entre o paraguaio atual e o indgena guarani pode ser
facilmente percebida na distncia cultural existente entre ambos, distncia expressada
atravs do domnio que o paraguaio contemporneo acredita ter dos cdigos e
pressupostos simblicos necessrios sua insero, e consequente aceitao, no mundo por
ele considerado como civilizado.
Em Assuno, quando perguntei a um paraguaio sobre sua herana indgena, esse
me respondeu que
Ah, no. Isso foi h muito tempo, no comeo do pas. De l pra c teve muita mistura. Hoje me dia t tudo civilizado, no tem mais ndio como os de antigamente. Nem a lngua que eles falavam existe do mesmo jeito. Hoje o guarani [falando da lngua] uma mistura de espanhol, guarani, castelhano. S os mais antigos [os idosos] falam a lngua de maneira correta. Na verdade, ns paraguaios somos igual a vocs: no comeo do Brasil no era tudo ndio? Pois , aqui tambm. S que vocs no so ndios mais. E ns tambm no. Isso foi h muito tempo. Agora todo mundo
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civilizado. [Estevo Mndez, 53 anos, casado, comerciante (dono de uma banca de jornal), ensino mdio incompleto. Assuno, 2012].
O depoimento de seu Estevo ilustra a viso de outros interlocutores, quando
inquiridos acerca de sua herana indgena, deixa claro como o paraguaio, pelo menos
aqueles com os quais interagi, se v diante do espelho. Isto , apesar de reconhecer sua
matriz cultural indgena, com eles no se identifica. Para ele, essa herana esgarou-se, ficou
perdida no tempo e no tem reflexo no homem atual. Visualiza os indgenas como
selvagens e que hoje isso no existe mais.
Em relao fala de seu Estevo no que diz respeito lngua guarani, Meli (2011)
esclarece que o guarani outrora falado pelos indgenas que primeiro habitaram o pas, no
guarda nenhuma semelhana com a lngua falada pelas comunidades presentes atualmente
na regio. O que ocorre que, tanto a lngua quanto o territrio, sofreram uma colonizao
por etapas; da, nesse processo, as estruturas comunicativas foram alteradas, provocando a
consequente perda de significado de smbolos lingusticos e mudanas tnues de
significantes, desencadeando a descaracterizao e a transformao do idioma de origem
indgena. Tanto assim que Meli (2011) assegura que atualmente, uma pessoa que tem
razoveis conhecimentos do idioma guarani, ainda que seja falante fluente, tem extrema
dificuldade de interpretao quando se depara com textos antigos.
O Paraguai pode ser considerado um pas que historicamente sempre manifestou a
importncia de sua herana indgena, principalmente atravs dos livros escolares,
estrategicamente elaborados para ajudar a compor sua identidade nacional. Identidade que se
quer crer afastada da imagem do ndio, estereotipada quando as autoridades pretendem
oferecer uma imagem grfica paraguaia em estampas comemorativas onde os ndios so
representados imersos na espessa selva chaquenha, cobertos de plumas ou mesmo nus e,
portanto, alijados de qualquer resqucio daquilo que o imaginrio paraguaio considera
civilizao. No entanto, inegavelmente, no respondeu e no responde aos reclamos e s
prementes necessidades que assolam essa populao at hoje. Assim, pode-se inferir que,
para se ter respeito, tanto por parte do Estado quanto por parte do povo, o nativo tem de
parecer sado de um tnel do tempo aberto entre a atualidade e a Idade da Pedra. A propsito
dessa imagem representativa do indgena enquanto fssil, que povoa grande parte do
imaginrio das pessoas, independentemente de sua nao, Pacheco de Oliveira (1999: 197)
comenta que estas imagens e esteretipos associados ao ndio sempre destacam a sua
condio de primitividade e o consideram como muito prximo da natureza..
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Ilustra a anlise exposta no pargrafo acima a resposta dada por seu Estevo, quando
inquirido sobre a identidade dos indgenas que reivindicam terras em protesto pelas ruas de
Assuno.
Mas e essas pessoas que ocupam as ruas reivindicando terras, eles no so ndios?
Pergunto ao seu Estevo.
Olha, no so igual queles de antigamente, voc pode ver, eles vestem roupas, calados, ndio pra mim aquele do mato, da floresta, com arco e flecha, esses a s querem causar problemas. [Estevo Mndez].
No tocante relao entre ndios Guarani e a populao paraguaia, Meli assevera
em entrevista concedida ao socilogo espanhol Mariano Martin Zamorano que o dilogo
entre as culturas algo complexo. A complexidade mencionada por Meli referente
dificuldade de dilogo existente entre as duas culturas: a guarani indgena e cultura
paraguaia, bem como a consequente incompreenso mtua entre ambas. Disso resulta, por
parte dos membros da cultura paraguaia, a negao, talvez inconsciente, de no ter herdado
nada da cultura indgena (MELI apud ZAMORANO, 2010).
No entanto, outros interlocutores reconheceram, em relao s caractersticas
fenotpicas, a presena dos indgenas na sua constituio fsica e histrica
No tem como negar que ns somos descendentes de ndios. Basta voc andar pelas ruas que voc vai perceber a semelhana fsica deles com a gente. Alm do mais, tem a questo da lngua guarani, ns herdamos deles isso. Tem gente que tem preconceito, acha que eles nem so mais ndios s por que no andam pelados por a exibindo arco e flecha. Mas a verdade, que se voc pegar um paraguaio adulto da cidade, levar para uma aldeia, vesti-lo e pint-lo como um ndio, no tem como saber quem quem. [Ariadne de Pdua Cristaldo, funcionria de uma casa de cmbio, 39 anos, casada, superior em Cincias Contbeis incompleto. Assuno, 2012]
Em verdade, o preconceito contra os indgenas gritante. Ainda que a maioria da
populao do Paraguai seja composta de mestios, estes no reconhecem tal condio,
sentindo-se, por vezes, ofendidos quando chamados de ndios, como atesta o depoimento de
Meli
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[...] a maior injria que se pode fazer a um apa paraguaio, que muitos deles o somos, (porque eu sou paraguaio) somos indgenas, biologicamente somos indgenas. Mas a maior injria que se pode fazer, cham-lo de ndio [...]. O preconceito contra os indgenas sentido de tal forma por estes que, quando saem para trabalhar fora de suas aldeias, disfaram sua identidade na tentativa de evitar o desprezo e a discriminao de que so objeto por parte dos paraguaios (MELI apud ZAMORANO 2010: 123).
Apesar da aparente contradio entre os escritos e depoimentos de Meli no tocante
herana biolgica legada ao paraguaio pelos ndios em um momento afirma que o
paraguaio tem muito pouco dos indgenas, em outro momento afirma serem os paraguaios
biologicamente indgenas acredito que o autor defende que, biologicamente, ainda que
de maneira pouco acentuada, os paraguaios sejam, em alguma medida, sim, indgenas.
Talvez no indgenas Guarani, mas podem ser herdeiros biolgicos de outras naes que
habitavam a regio antes da chegada dos espanhis, como as elencadas por Susnik (1966).
Schaden (1974) tambm j havia afirmado essa inegvel caracterstica do povo
paraguaio, ou seja, a condio de mestio [...] notrio que a cultura Guarani e seu
substrato biolgico esto profusamente representados na atual populao mestia, mormente
a do Paraguai. Para Schaden, a constatao dessa mestiagem sustenta a tese na qual a
cultura paraguaia concebida como uma cultura hbrida bero-indgena sui generis,
merecedora de cuidadosa anlise antropolgica. Esse cuidado, para o autor, devido a
enorme pluralidade de aspectos, variando entre formas quase-tribais e rurais, de um lado, e
culturas urbanas de acentuado carter civilizatrio, de outro (SCHADEN, 1974:11).
A opinio sobre sua ascendncia indgena emitida pelos interlocutores, como visto
acima, no so unnimes. Outros pesquisadores, norteados por campos cientficos diversos,
colheram depoimentos que contradizem as afirmaes supracitadas. Brandalise (2011), em
pesquisa realizada para confeco de tese de doutorado em Comunicao na USP,
identificou, entre seus interlocutores, paraguaios que, alm de reconhecer sua ascendncia
indgena, dela se orgulhavam, como demonstra a autora atravs da fala de dois de seus
interlocutores: somos uma mistura de espanhis com guaranis, mas nossa alma guarani,
isso a essncia de ser paraguaio (Mario, 22);Somos todos indgenas que vivem na cidade
e falam espanhol, guarani e um pouco de portugus tambm (Jun Carlos, 79)
(BRANDALISE, 2011: 157).
De acordo com a avaliao da autora, Mesmo pertencendo a diferentes geraes,
eles conseguem definir com clareza a sua ascendncia indgena e preservam elementos de
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sua cultura.. Brandalise (2011) acredita que o aparato simblico-cultural que remete ao
cabedal de conhecimentos materiais e imateriais dos indgenas Guarani so acionados para
compor, reiterar e manter a identidade tnica dos interlocutores por ela contatados.
Segundo Brandalise (2011), os aspectos da cultura indgena Guarani, trazidos baila
pelos paraguaios que compuseram sua amostra, servem para alimentar ou para reforar a
identidade nacional paraguaia, uma vez que a cultura e a trajetria indgena do povo
paraguaio que muitas vezes se auto-define como guarani motivo de orgulho para
nossos entrevistados [Grifos meus]. Desse modo, a autora conclui que isso significa que
alm da herana da matriz cultural colonial europia, a Espanha, o pas tambm reconhece a
herana da matriz cultural dos nativos sul-americanos, os povos indgenas no caso, os
Guarani (2011: 158).
Concordo, em parte, com as anlises da autora supracitada. Em verdade, quando
inquiridos a respeito do que particulariza sua cultura, o povo paraguaio em sua maioria
remete sua herana cultural indgena, notadamente culinria, cermica, ao consumo do
terer e aos aspectos lingusticos. No entanto, o mesmo no acontece quando a questo
resvala para o campo da identidade tnica autoatribuda, ou seja, apesar de reconhecerem
sua ascendncia indgena, com ela, como observado acima (excetuando os
interlocutores/entrevistados de Brandalise), no se identificam.
A propsito das discordncias entre os depoimentos emitidos pelos vrios
interlocutores paraguaios em relao a sua ascendncia indgena, necessrio dizer que
como bem observaram Poutignat e Streiff-Fenart (1998: 159) [...] a manipulao dos
limites tnicos podem remeter a uma relao de foras entre diferentes componentes de um
grupo tnico. No entanto, o que realmente importa ser conhecido, ou reconhecido, que
qualquer que seja o grupo considerado a questo de saber o que significa ser membro do
grupo nunca se torna objeto de consenso, e que as definies de pertena esto sempre
sujeitas contestao e redefinio por parte dos segmentos diferentes do grupo. Nesse
sentido, pertinente a anlise de Geraldi (2003: 42) quando assevera que Assumir a relao
dialgica como essencial na constituio dos seres humanos no significa imagin-la sempre
harmoniosa, consensual e desprovida de conflitos.
Ademais, as opinies contrrias e contraditrias que podem emergir das falas de
nossos interlocutores e geralmente emergem nada mais so do que partes constituintes
do objeto em anlise e, portanto, passveis de exame minucioso por parte do pesquisador.
Tais opinies controversas, por vezes conflitantes e aparentemente desconexas possibilitam
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ao etngrafo a reestruturao e consequente interpretao do que Malinowski (1966
[1935]: 317) chamou de fatos invisveis; que, embora subjazam o fenmeno, dele podem
dizer mais do que os dados flagrantemente manifestos.
Consideraes finais
O processo de colonizao mundial ocorrido nos idos do sculo XVI, levado a cabo
pelo mundo europeu, acarretou a destruio em massa de inmeras populaes indgenas
que habitavam as Amricas, bem como a destruio de sua cultura em todas as suas
manifestaes. No entanto, aos remanescentes, restou adaptao aos ditames e objetivos
dos colonizadores espanhis e portugueses.
A mestiagem espanhola-guarani ocorrida no Paraguai no comeo da colonizao
europia inegavelmente transformou a vida dos indgenas que aqui habitavam, plasmando de
maneira indelvel os corpos, as mentes e a cultura dos nativos. Aos corpos foram
acrescentados genes europeus; s mentes foram incorporadas vises de mundo estritamente
europias, e cultura foram agregadas inmeras contribuies de origem espanhola. No
entanto, as contribuies mencionadas no se constituram como vantagem aos povos
indgenas, visto a contraprestao por conta dessas contribuies terem sido demasiado
altas.
Ao longo da histria do Paraguai, a mestiagem foi um elemento constante na
realidade sociocultural dos habitantes. Moldou as principais caractersticas sociais do Pas,
mudou as formas com as quais a terra era trabalhada, subverteu a ordem de poder
estabelecida entre os povos indgenas no comeo, e ao longo, do processo de colonizao
atravs do aporte de armas aos seus aliados, que por sua vez as utilizam contra seus
inimigos, tambm indgenas.
A maioria da populao paraguaia, como atestam os trabalhos de Mela e de outros
pesquisadores, da atualidade no aceita enquanto componente de sua identidade tnica
sua ascendncia indgena. No negam as contribuies legadas cultura paraguaia por estes
povos, principalmente os Guarani, como observado ao longo deste texto. No entanto, no
admitem serem chamados de ndios, posto que os representam como selvagens e
incivilizados. Essa representao guarda estreito vnculo com as polticas de
branqueamento e constituio identitria elaboradas pelo Estado, que visa construir uma
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identidade paraguaia dissociada de sua matriz indgena e associada noo de civilizao
herdada dos colonizadores europeus.
O mito fundador, baseado na mestiagem hispnico-guarani, nada mais seria do uma
manifestao do Estado paraguaio na construo de sua identidade nacional, onde o indgena
seria um remanescente de outro tempo, de outra era, onde o paraguaio ainda no tinha
atingido sua plena civilizao, tal qual a concebe o imaginrio sociocultural em voga, e com
o qual o homem paraguaio atual acredita no guardar nenhuma semelhana, a no ser,
timidamente, com a lngua.
Tal assertiva pode ser comprovada atravs da anlise e esforos envidados pelo
Estado paraguaio em transformar o indgena guarani em um fssil histrico, como se pode
observar da meno s estampas onde os ndios so representados como que sados de um
eldorado recm-descoberto. Contudo, essa representao no afeta a todos, existindo aqueles
que se reconhecem indgenas ou mestios a ponto de, segundo Brandalise (2011), se
orgulharem de sua condio.
A populao paraguaia , ainda que a maioria no admita, sim, mestia. So,
inegavelmente, como asseveram Meli (2010) e Schaden (1974), biologicamente indgenas.
Mesmo que a mestiagem tenha deixado de existir, pelo menos de forma contundente, no
final do sculo XVI, so incontestveis as influncias, biolgicas e culturais, legadas ao
povo paraguaio pelo contato havido entre os espanhis e os Guarani.
Quanto s crticas de Meli referentes ao processo de mestiagem no Paraguai, este
autor no nega a existncia desse processo, apenas no o aceita como mito fundador da
nacionalidade, ou chave-interpretativa por excelncia, da identidade e nacionalidade
paraguaia. Seu esforo tem como principal objetivo desmoronar as noes historiogrficas
que concebem a inter-relao espanhol-guarani como nico fator a plasmar a existncia
sociocultural paraguaia.
No entanto, a mestiagem no foi apenas espanhola-guarani, mas tambm de matriz
indgena diversa (como apontam algumas polmicas correntes tericas), dado o fato de a
mestiagem no ter comeado no Paraguai com a chegada do colonizador espanhol, mas
tambm com as inmeras populaes indgenas vindas dos mais diversos continentes, sob as
mais diversas denominaes e bem antes do sculo XVI, como atestam as contribuies de
Susnik (1961, 1966, 1982).
No que diz respeito meno sobre as correntes tericas polmicas acima, destaca-
se a que advoga a idia de que o patrimnio histrico da raa Guarani pertence civilizao
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dos astecas do Mxico e dos Incas do Peru. De acordo com essa tese, os espanhis
destruram grande parte da riqueza cultural e material dos indgenas, e o que sobrou, foi por
ele, o colonizador espanhol, apropriado e reestruturado para servir aos seus propsitos
(SILVA, 1939: 25).
O processo de mestiagem no se deu de maneira pacfica, como querem acreditar
grande parte dos cronistas paraguaios. Tambm no ocorreu de forma homognea em toda a
regio colonizada, como se pde observar das elucubraes a respeito do Chaco paraguaio e
sua colonizao tardia. No foi to somente hispnico-guarani, mas envolveu diversas outras
etnias que habitavam, ou transitavam pela regio. A constatao desses fatos histricos
demonstra que a mestiagem, em que pesem as interpretaes elaboradas para explic-la, ou
justific-la, no fenmeno de fcil compreenso, muito pelo contrrio: percebe-se o quo
intrincado so, e podem ser, as pesquisas que intentam construir conhecimento cientfico
digno desse nome.
A mestiagem no Paraguai ainda est em curso. No mais aquela mencionada por
Mela, encerrada segundo ele nos fins do sculo XVI. Com o fim da Guerra da Trplice
Aliana, o pas se viu forado a reconstruir sua sociedade, dado o fato de a Guerra ter
dizimado grande parte de seu contingente demogrfico. A estratgia para repovoar o pas,
adotada pelo governo da poca, foi o incentivo imigrao atravs de campanhas que
visavam fomentar o afluxo de estrangeiros s terras paraguaias. Desse expediente resultou a
convergncia de imigrantes de vrias nacionalidades ao Paraguai, principalmente italianos,
argentinos, espanhis, franceses, brasileiros, portugueses, alemes, uruguaios, austracos,
britnicos, dentre outras. Inegavelmente esses imigrantes trouxeram ao Paraguai uma
importante contribuio, tanto em termos socioculturais quanto em termos polticos e
econmicos, concorrendo de maneira contundente para a estruturao de uma nova
sociedade e, por conseguinte, uma cultura nacional diversa (SALAZAR, 2005).
Desse modo, fica patente a continuao do processo de mestiagem, no mais
tributrio e calcado na noo de mito fundador; mas uma associao de indivduos, biolgica
e culturalmente considerados, dada pelas necessidades socioculturais impostas pelo Ps-
Guerra. Em um mundo extremamente globalizado, onde as fronteiras fsicas so frudas e
permeveis, umas mais que outras, a mestiagem, a miscigenao, o hibridismo ou qualquer
nome que se d ao fenmeno onde o encontro de pessoas tem lugar, algo incontestvel e
facilmente verificvel, usando a viso ou a audio: a primeira denota os fentipos e sua
irrecusvel convergncia, a segunda denota a pluralidade de sotaques na fala de inmeras
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pessoas, de idiomas falados pelos povos separados por distncias abissais, tanto geogrficas
como social e culturalmente consideradas.
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