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96816147 Antoine Prost Doze Licoes Sobre a Historia

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Doze lições sobre a história

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Antoine Prost

Coleção

HISTÓRIA & HISTORIOGRAFIA

Doze lições sobre a história

TRADUÇÃO

Guilherme João de Freitas Teixeira

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Título original: “Douze leçons sur l’histoire”, de Antoine Prost.

Copyright © Éditions du Seuil, 1996

COORDENADORA DA COLEÇÃO HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA

Eliana de Freitas Dutra

PROJETO GRÁFICO DE CAPA

Teco de Souza

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA

Tales Leon de Marco

REVISÃO

Aiko Mine

REVISÃO TÉCNICA

Vera Chacham

EDITORA RESPONSÁVEL

Rejane Dias

AUTÊNTICA EDITORA LTDA.Rua Aimorés, 981, 8º andar. Funcionários30140-071. Belo Horizonte. MGTel: (55 31) 3222 68 19TELEVENDAS: 0800 283 13 22www.autenticaeditora.com.br

Todos os direitos reservados pela Autêntica Editora.Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida,seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópiaxerográfica, sem a autorização prévia da editora.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro)

Índices para catálogo sistemático:

1. Historiografia 907.2

Prost, Antoine, 1933- .

Doze lições sobre a história / Antoine Prost ; [tradução de GuilhermeJoão de Freitas Teixeira]. — Belo Horizonte : Autêntica Editora , 2008.

Título original: Douze leçons sur l‘histoire.

Bibliografia.

ISBN 978-85-7526-348-8

1. Historiografia 2. História - Metodologia I. Título.

08-07528 CDD-907.2

CAPA: Sobre imagem dePuvis de Chavannes. Le Bois sacré

(detalhe). Grand Amphithéâtre de la.Archives Giraudon. Sorbonne, Paris

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SUMÁRIO

Introdução....................................................................................

Capítulo I – A história na sociedade francesa(séculos XIX e XX)........................................................................

Capítulo II – A profissão de historiador.........................................

Capítulo III – Os fatos e a crítica histórica....................................

Capítulo IV – As questões do historiador.......................................

Capítulo V – Os tempos da história..............................................

Capítulo VI – Os conceitos...........................................................

Capítulo VII – A história como compreensão...............................

Capítulo VIII – Imaginação e atribuição causal............................

Capítulo IX – O modelo sociológico.............................................

Capítulo X – A história social.........................................................

Capítulo XI – Criação de enredos e narratividade........................

Capítulo XII – A história se escreve...............................................

Conclusão – Verdade e função social da história.........................

Referências...................................................................................

Lista dos livros em destaque..........................................................

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Introdução

Se é verdade – aliás, este estudo tenta fazer tal demonstração – que ahistória depende da posição social e institucional de quem a escreve, nãoficaria bem ocultar o contexto em que estas reflexões foram elaboradas;tendo surgido de um curso, o título deste livro – Lições sobre a história – éutilizado em seu sentido próprio.

Com efeito, a formação dos estudantes em história inclui, tanto nauniversidade da qual sou professor quanto em um grande número deoutras, o ensino de historiografia ou de epistemologia que, através dediferentes abordagens, visa suscitar um olhar crítico sobre o que se fazquando se pretende fazer história. Esse ensino inscreve-se, por sua vez,em uma tradição secular: antes de ter sido professado, em seu tempo, porPierre Vilar ou Georges Lefebvre, ele havia sido inaugurado em 1896-1897, na Sorbonne, por Charles-Victor Langlois e Charles Seignobos,cujo curso foi publicado, em 1897, com o título – que teríamos adotadode bom grado – Introduction aux études historiques.

No entanto, trata-se de uma tradição frágil e ameaçada; até o final dadécada de 1980, na França, a reflexão metodológica sobre a história foiconsiderada inútil. É verdade que alguns historiadores, tais como Ch.-O.Carbonell, F. Dosse, F. Hartog, O. Dumoulin e ainda outros, chegaram amanifestar interesse pela história da história, mas eles deixaram a reflexãoepistemológica nas mãos dos filósofos (R. Aron, P. Ricœur). É significa-tivo que, atualmente, as únicas obras de síntese disponíveis em livrariasejam iniciativas oriundas do exterior: o livro Histoire et mémoire, de J. LeGoff, foi publicado, inicialmente, em italiano; por sua vez, o compêndiode E. Carr deve-se a George Macaulay Trevelyan lectures de Cambridge, assimcomo o livrinho – que continua sendo notável – de H.-I. Marrou, De la

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DOZE LIÇÕES SOBRE A HISTÓRIA

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connaissance historique, contendo as aulas administradas em Louvain, na cá-tedra Cardinal-Mercier. Os inspiradores da escola dos Annales – F. Braudel,E. Le Roy Ladurie, F. Furet, P. Chaunu – multiplicaram as coletâneas deartigos ou promoveram a publicação de obras coletivas, por exemplo,aquelas organizadas por J. Le Goff e P. Nora; no entanto, Marc Bloch,com seu livro Apologie pour l’histoire – infelizmente, inacabado – foi oúnico que se empenhou em explicar o ofício de historiador.

Aliás, essa é a conseqüência de uma atitude deliberada: até aqui, oshistoriadores franceses haviam feito pouco caso das considerações gerais.Para L. Febvre, “filosofar” constituía “o crime capital”;1 na aula inauguralno Collège de France, ele já havia observado que “os historiadores não pos-suem grandes necessidades filosóficas”. E, para confirmar sua afirmação,citava o “depoimento irônico” do poeta Charles Péguy (1988):

Habitualmente, os historiadores fazem história sem meditar a respeitodos limites, nem das condições dessa matéria. Sem dúvida, eles têmrazão; é preferível que cada um exerça seu ofício. De maneira geral,um historiador deveria começar por fazer história sem delongas: casocontrário, nunca conseguirá fazer seja lá o que for!2

Tal postura vai além da simples divisão das tarefas: mesmo que lhesfosse oferecida tal oportunidade, inúmeros historiadores recusariam em-preender uma reflexão sistemática sobre sua disciplina. Tal rejeição relativaàs filosofias sobre a história é considerada por Philippe Ariès, em seu livroLe temps de l’histoire, como “uma insuportável vaidade”: “Elas são ignoradasou postas de lado, deliberadamente, com um simples dar de ombros, comose tratasse de falatório teórico de amadores sem competência: a insuportávelfutilidade do técnico que permanece confinado dentro de sua técnica, semnunca ter tentado observá-la de fora!” (ARIÈS, 1986 p. 216).

Abundam as declarações para confirmar a pertinência desse depoi-mento. Tendo freqüentado assiduamente os historiadores, sem se eximirde criticá-los, Paul Ricœur – em sua obra, Temps et Récit, I – cita a estepropósito, de forma um tanto pérfida, Pierre Chaunu:

A epistemologia é uma tentação que deveria ser afastada resoluta-mente [...] No máximo, admite-se que seja oportuno que essa tarefa

1 Resenha do livro de Marc Bloch, Apologie pour l’histoire, na Revue de métaphysique et de morale (LVII,1949), em Combats pour l’histoire (FEBVRE, 1953, p. 419-438): “O autor não poderá ser acusado defilosofar – o que significa, na boca de um historiador, estejamos certos disso, o crime capital” (p. 433).

2 Ver a aula de Lucien Febvre em Combats pour l’histoire (1953, p. 3-17; em particular, p. 4).

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INTRODUÇÃO

seja executada por alguns mentores – não é esse, absolutamente,nosso caso, nem alimentamos tal desejo – a fim de que os robustosartesãos de um conhecimento em construção – aliás, essa seria anossa única pretensão – fiquem mais bem preservados das perigosastentações da mórbida Cápua. (RICŒUR, 1983-1985, p. 171)

Com efeito, os historiadores franceses adotam, naturalmente, a pos-tura de um modesto artesão: para a foto de família, eles posam em seuateliê e exibem-se como homens de ofício que, após uma longa aprendi-zagem, dominam os recursos de sua arte. Elogiam a beleza da obra evalorizam a habilidade, em vez das teorias de que estão entulhados – emsua opinião, inutilmente – os colegas sociólogos. Inúmeros são aquelesque, no começo de seus livros, se eximem de definir – tarefa consideradaobrigatória pelos colegas alemães – os conceitos e os esquemas de inter-pretação utilizados. Por maior força de razão, eles julgam que a elabora-ção de uma reflexão sistemática sobre sua disciplina é algo de pretensiosoe perigoso: isso corresponderia a reivindicar uma posição de fundador deescola que é uma atribuição rejeitada por sua modéstia – mesmo que sejafingida – e que, sobretudo, deixá-los-ia expostos à crítica, nem um poucobenevolente, de colegas que, eventualmente, pudessem ter a impressãode que eles pretendem ensinar-lhes o ofício. Segundo parece, a reflexãoepistemológica atenta contra a igualdade dos “mestres” da corporação;eximir-se de levá-la a efeito é uma forma de evitar, por um lado, perderseu tempo e, por outro, expor-se às críticas dos pares.

Felizmente, essa atitude está em via de mudar. A indagação metodo-lógica tornou-se mais freqüente, tanto nas revistas mais antigas – por exem-plo, a Revue de synthèse –, quanto nas mais recentes, como Genèses. Por suavez, em seu sexagésimo aniversário, a revista dos Annales retomou umareflexão que, desde então, continua a ser elaborada.

É verdade que se alterou a conjuntura do fazer história. O complexode superioridade dos historiadores franceses, orgulhosos de pertence-rem, em maior ou menor grau, à escola dos Annales – cuja excelência, su-postamente, é elogiada pelos historiadores do mundo inteiro – começou atornar-se, não propriamente irritante, mas injustificado. A historiografiafrancesa fragmentou-se e três questões têm lançado a dúvida relativamen-te a suas antigas certezas. Assim, as tentativas de síntese aparecem comoilusórias e votadas ao fracasso; a ênfase é atribuída, neste momento, àsmicro-histórias e monografias sobre temas cujo inventário permanece ili-mitadamente aberto. Por outro lado, a pretensão científica – compartilhada,

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DOZE LIÇÕES SOBRE A HISTÓRIA

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apesar de seu desacordo, por Seignobos e Simiand – vacila sob os efeitosde um subjetivismo que incorpora a história à literatura; o universo dasrepresentações desqualifica o dos fatos. Por último, o empreendimentounificador de Braudel e dos defensores de uma história total que fossecapaz de recapitular a contribuição de todas as outras ciências sociais re-dundou em uma crise de confiança: à força de servir-se de questões, con-ceitos e métodos que ela pede de empréstimo à economia, sociologia,etnologia e lingüística, a história passa, hoje em dia, por uma crise deidentidade que suscita a reflexão. Em poucas palavras, F. Dosse transfor-mou, acertadamente, essa constatação em título de um livro: a históriaencontra-se, atualmente, “em migalhas”.

Neste novo contexto, um livro de reflexão sobre a história nada tema ver com o manifesto de uma escola. Em vez de uma tomada de posiçãoteórica, destinada a valorizar determinadas formas de história, desvalori-zando as outras, trata-se de participar de uma reflexão comum para a qualtodos os historiadores estão convidados; atualmente, nenhum deles podeevitar o confronto entre o que julga fazer e o que faz.

Posto isto, não vale dissimular que esta reflexão empreendeu, aqui,o itinerário didático de um curso destinado a estudantes universitários doprimeiro ciclo. Tive prazer de apresentá-lo repetidas vezes; minha im-pressão é a de que ele correspondia a uma expectativa, até mesmo, a umanecessidade. Portanto, resolvi ordená-lo e introduzir notas de referência,ou seja, torná-lo mais consistente e aprimorá-lo, sem perder de vista seupúblico-alvo. Resolução que implica evidentes serventias: o leitor tem odireito de esperar, por exemplo, determinadas informações mais perti-nentes sobre aspectos peculiares aos historiadores experientes, a críticahistórica de acordo com Langlois e Seignobos, ou os três tempos da histó-ria segundo Braudel. Do mesmo modo, para garantir a nitidez do texto,tive de sacrificar algumas liberdades de estilo e todas as alusões.

Naturalmente, como qualquer professor, elaborei estas aulas a partirde reflexões elaboradas por outros. Tive um verdadeiro prazer na leiturade Lacombe, Seignobos, Simiand, Bloch, Febvre, Marrou; ou, entre osautores do exterior, Collingwood, Koselleck, Hayden White, Weber eainda muitos outros – seria impossível mencionar o nome de todos. Odesejo de fazer compartilhar este prazer levou-me a apresentar longascitações, integrando-as no meu próprio texto; de fato, pareceu-me desti-tuído de interesse repetir bem, pessoalmente com menos qualidade, oque já havia sido afirmado com brilhantismo por uns, com humor por

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INTRODUÇÃO

outros, e com pertinência, por todos. Daí, os “boxes” que não deverãoser postos de lado pelo leitor afobado em chegar à conclusão: tais textosconstituem, muitas vezes, etapas essenciais da argumentação.

Como se pode ver, em vez de um manifesto pretensioso ou de umensaio brilhante, este livro é uma modesta reflexão com o objetivo de serútil: eis uma ambição de que sou capaz de avaliar a amplitude. Alémdisso, trata-se de uma forma, semelhante a outras, de reencontrar a postu-ra – tão apreciada pelos historiadores franceses – do artesão que explica oofício aos aprendizes...

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