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A Abolição no Parlamento 65 anos de lutas Volume i 2 a Edição Brasília - 2012 1823 - 1888

A Abolição No Parlamento - 65 Anos de Lutas (1823-1888) - Volume 1 - Senado Federal

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Documentos sobre abolição da escravatura no no Senado brasileiro

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  • A Abolio no Parlamento

    65 anos de lutasVolume i

    2a Edio

    Braslia - 2012

    1823 - 1888

  • Senado FederalMesaBinio 2011/2012

    Senador Jos SarneyPresidenteSenador Anibal Diniz1o Vice-PresidenteSenador Waldemir Moka2o Vice-PresidenteSenador Ccero Lucena1o SecretrioSenador Joo Ribeiro2o SecretrioSenador Joo Vicente Claudino3o SecretrioSenador Ciro Nogueira4o Secretrio

    Suplentes de SecretrioSenador Casildo MaldanerSenador Joo DurvalSenadora Maria do Carmo AlvesSenadora Vanessa Grazziotin

    Doris Marize Romariz PeixotoDiretora-Geral

    Claudia Lyra NascimentoSecretria-Geral da Mesa

  • A Abolio no Parlamento: anos de luta

    7*t

  • SENADO FEDERAL

    A Abolio no Parlamento: anos de luta

    Volume I

    Secretaria Especial deEditorao e Publicaes _ SEEP

    Braslia t

  • Crditos

    RevisoBrbara Aguiar, Marco Aurlio Couto, Fernando Varela, Rafael Chervenski, Maria Suely Bueno, Maria Maciel, Marianna de Carvalho, Thaza dos Santos, Thalita de Arajo, Lusa Lima, Jhessyka Cotrim, Ktia Priess

    Coordenao-geral de revisoCndida do Amaral

    Diagramao eletrnicaJackson Ferreira Barbosa, Raimilda Bispo dos Santos, Valdete Cardoso da Silva, Jos Batista de Medeiros, Ana Farias, Rodrigo Melo, Raul Grilo, Fabiana dos Santos, Marcus Victor do E. Santo

    Produo digital dos originaisAurlio Jonhson Alves de Ribeiro, Jackson Ferreira Barbosa

    Projeto grfico e organizaoAna Farias, Eduardo Percio, Raul Grilo, Rodrigo Melo

    Coordenador-geral da produoEduardo Percio

    Iniciativa da Segunda Edio

    Diretoria-GeralAcordo de Cooperao Tcnica no 001/2012 entre Senado Federal e Secretaria de Polticas de Promoo da Iguadade Racial.

    1SPHSBNB1S&RVJEBEFEF(OFSPF3BBEP4FOBEP'FEFSBM

    " BCPMJP OP QBSMBNFOUP BOPT EF MVUB BQSFTFOUBPEPQSFTJEFOUF+PT4BSOFZoFE

    Braslia : Senado Federal, Secretaria Especial de Editorao e Publicaes, 2012. 2 v.

    Inclui bibliograa

    1. Abolio da escravido Brasil. 2. Abolicionismo 3. Escravido no Brasil I. Brasil. Congresso Nacional. 4FOBEP'FEFSBM4FDSFUBSJBEF"SRVJWPo**4SJF

    CDD 326

  • "QSFTFOUBtFEJ

    Durante as comemoraes do centenrio da Abolio, o Senado Federal publicou coletnea de documentos sobre a luta pelo m da esDSBWJEPOP#SBTJMOPTBOPTRVFUSBOTDPSSFSBNFOUSFBOPTTBQSJmeira Assembleia Constituinte a de 1823 e a Lei urea. Esta obra reeditada agora, na tarefa sempre importante de lembrar uma data DFOUSBMEBWJEBCSBTJMFJSBFBJOEBFTFNQSFOBFTQFSBOBEFRVFTBJCBNPTSFTHBUBSUPEPPIPSSPSRVFFMBRVJTEFJYBSQBSBUST-FNCSBSB"CPMJPOPFTRVFDFSBUSBHEJBEBFTDSBWJEP

    Em 13 de maro de 1888, as ruas da Capital do Brasil tinham o QPWPFNGFTUBOBFYBMUBPEPTIFSJTEBWJUSJB"MVUBTFFTUFOEFSBpor 70 dos 300 anos de sofrimento e oprbrio da raa negra. Chegara BPmNDPNBMJCFSUBPEPTRVFBJOEBFSBNFTDSBWPTOBRVFMFmNEFTDVMPoONFSPRVFEFTNFOUFPNJUPEFRVFKQSBUJDBNFOUFno havia escravido no Brasil.

    A lei singela: declarada extinta desde a data desta lei a escravi-do no Brasil. &SBBQFOBTVNQFRVFOPUFYUPMFHBMNBTTVBTQBMBWSBTFBMDBODFDPOTUJUVBNTBOHVFEPSTPGSJNFOUPF MVUB0UFYUPFSBBTPNBEFUBOUPTIFSJTFNSUJSFTRVFQFMBWJEBFQFMBQBMBWSBBCSBBSBNBDBVTBEBMJCFSEBEF/BCVDPBmSNBWBRVFFSBTPDPNFPde uma grande caminhada. um claro de liberdade, mas apenas uma porta de entrada numa imensa obra de resgate de mulheres e IPNFOTDSJBOBTFWFMIPTRVFIBWJBNTJEPFTDSBWPTPVFSBNEFTDFOEFOUFT EF FTDSBWPT 6NB PCSB RVF OP SFBMJ[BNPT RVF OVODBrealizaremos em sua plenitude pois car para sempre a mancha JOEFMWFMEPTPGSJNFOUPoNBTRVFQSFDJTBNPTOPTFTGPSBSBDBEBEJBUPEPTPTEJBTTFNQSFQBSBSFBMJ[BS5VEPRVFGPSGFJUPQBSBEJTcriminar favoravelmente o negro ser sempre incomensuravelmente NFOPT EP RVF P RVF GPJ GFJUP QBSB EJTDSJNJOMP OFHBUJWBNFOUF FNFOPTUBNCNEPRVFBEJTDSJNJOBPRVFBJOEBTPGSF

    A histria da escravido africana no Ocidente tristemente ligada a nossa histria. Ela comeou com as navegaes portuguesas

  • na costa da frica, com a introduo do escravo negro na Europa. Descoberto o Brasil, o primeiro pensamento foi o da escravido do indgena. O Padre Manuel da Nbrega comeou o combate contra FTTBEFTHSBBDPNCBUFEFRVFGPJDBNQFPP1BESF"OUOJP7JFJSBPelo combate dos jesutas, pela inaptido dos ndios para os grandes esforos de nossa primeira indstria, logo vieram os negros. J no TDVMP97*PONFSPEFFTDSBWPTOFHSPTOP#SBTJMJHVBMPVTFBPEBpopulao branca.

    No pensemos apenas na falta da liberdade de ir e vir, de decidir TFVEFTUJOP"FTDSBWJEPFSBVNBUPSUVSBDPOUOVBTFNMJNJUFTRVFno fossem a morte e o desespero.

    Durante todo o sculo XVII concorreram no Brasil a luta contra a escravido do indgena brasileiro e a aceitao da escravido do afriDBOP"DBOBEFBDBSNPTUSPVTFPOJDPJOTUSVNFOUPFDPONJDPda colonizao. Assentava ela no uso brutal e completo da servido negra. Nem um vislumbre de luz pode ser encontrado. Os mercados de madeira e especiarias caram sempre no patamar do sonho e da fantasia. O Pas os dois Estados, o do Brasil e o do Maranho viWJBOBQPCSF[BFYUSFNB

    No Dilogos das Grandezas do Brasil, um dos primeiros livros brasileiros, Ambrsio Fernandes Brando lembra as condies de OPTTBNJTSJBFFYQMJDBi&UPEPTBTTJNVOTDPNPPVUSPTGB[FNTVBTMBWPVSBTFHSBOKFBSJBTDPNFTDSBWPTEF(VJORVFQBSBFTTFFGFJUPDPNQSBNQPSTVCJEPQSFPFPEPRVFWJWFNTPNFOUFEPRVFgranjeiam com os tais escravos.

    O capital, mostrou Celso Furtado, tinha um efeito perverso: era NBJTCBSBUPSFQPSBTiQFBTwoBTTJNNFTNPFSBNUSBUBEPTDPNPOPFOUFTDPNPQFEBPTEFFRVJQBNFOUPoEPRVFEBSMIFTVNNOJNPEFDPOEJPEFTPCSFWJWODJBNBJTCBSBUPVTBSTFNNBOVUFOPFSFQPSEFQPJTEPRVFHBTUBSDPNiUBYBEFNBOVUFOPwFQSPMPOHBSBWJEBEPiBOJNBMwoUBNCNBTTJNFSBNUSBUBEPT

    No Brasil, como j tinha acontecido nos Aores e em Cabo Verde, os negros se adaptaram com facilidade ao montono trabalho do BDBSFTDPOEJFTOBUVSBJT0TONFSPTTPFMPRVFOUFTFSBNmil no m do sculo XVI, mais de 150 mil no m do sculo XVII. Ao MPOHPEPTDVMP97***FBUB*OEFQFOEODJBGPSBNUSB[JEPTUBMWF[mais dois milhes.

  • A ideia abolicionista surgiu no m do sculo XVIII, e suas priNFJSBTDPOTFRVODJBTGPSBNPBMWBSEFBCPMJPHSBEVBMEF%+PT*oRVFSEJ[FSEF1PNCBMoEFo Pennsylvania Gradual Aboli-tion Act, de 1780, e a proibio do trco pela Dinamarca em 1792 e pela Inglaterra em 1807/08. Nas regies escravistas a emancipao comeou 40 anos depois da Revoluo Francesa e se concretizou em menos de 60 anos. Um nico episdio teve um rumo diferente, o da JOEFQFOEODJBEP)BJUJDPNTFVIFSPTNPFTVBUSBHEJB

    Na Inglaterra, o problema estava relacionado com a situao ameSJDBOB"UBJOEFQFOEODJBBNFSJDBOBPUSmDPEFFTDSBWPTBGPStalecia. A primeira moo para proscrever a escravido na Casa dos Comuns de 1776. Nessa poca, num dos esboos da Declarao de *OEFQFOEODJBP3FJ(FPSHF***FSBBDVTBEPEFQBSUJDJQBSEPUSmDP"QFTBSEBQSFTTPRVFB*OHMBUFSSBGB[OPDPNFPEPTDVMP9*9DPOUSBPUSmDPoRVFBFTUBBMUVSBBFOGSBRVFDJBoBBCPMJPOBTDPMOJBTJOHMFTBTTTFEFN

    Nos Estados Unidos, o compromisso para se fazer a sua grande $POTUJUVJPQBTTBQFMPTJMODJPTPCSFBRVFTUPEPOFHSP&TTFBEJBmento foi pago, mais tarde, com a tragdia da guerra civil. Na Frana, FNB%FDMBSBPEPT%JSFJUPTEP)PNFNFEP$JEBEPDBMBsobre o assunto, e s em 1794 a Conveno proclama a abolio.

    Mas em 1801 volta a escravido, para ser abolida denitivamente em 1848./P#SBTJM+PT#POJGDJPQFOTBWBRVFPFRVBDJPOBNFOUPEBMJCFS

    dade dos negros, com sua integrao completa sociedade, era uma QSFMJNJOBSEBEFmOJPEP&TUBEP/BRVFMFTEJBTEBJOEFQFOEODJBRVBOEPTBJVEFTVBBQPTFOUBEPSJBQBSBGB[FSEP#SBTJMVNBOBPFuma s nao, escreveu sua Representao sobre a escravatura.$MBNBWBRVFFSBUFNQPEFDPNFBSBiFYQJBPEFOPTTPTDSJNFT

    e pecados velhos. E insistia: educao, amparo maternidade e WFMIJDFJOUFHSBPFDPONJDBFTPDJBMUNRVFBDPNQBOIBSBFYUJOPEPUSmDPFBMJCFSUBP&NEPFYMJPOB'SBOBMFNCSBWBi4FNBFNBODJQBPEPTBUVBJT DBUJWPTOVODBP#SBTJMmSNBS TVBJOEFQFOEODJB OBDJPOBM F TFHVSBS F EFGFOEFS B TVB MJCFSBM DPOTtituio. Sem liberdade individual no pode haver civilizao, nem TMJEBSJRVF[BOPQPEFIBWFSNPSBMJEBEFFKVTUJBFTFNFTUBTmMIBTdo Cu, no h nem pode haver brio, fora e poder entre as naes.

  • A lei de 7 de novembro de 1831, proibindo o trco e emancipanEPPTBGSJDBOPTOVODBGPJPCTFSWBEB&MBFSBDMBSBi"SU5PEPTPTFTDSBWPTRVFFOUSBSBNOPUFSSJUSJPPVQPSUPTEP#SBTJMWJOEPTEFfora, cam livres. Ela signicava a liberdade de pelo menos metade EPTFTDSBWPTOBRVFMFNPNFOUPFEFNBJTVNNJMIPUSB[JEPTBOUFTEFRVBOEPPUSmDPDPOUJEP.BTOPDPOKVOUPB MFHJTMBPCSBTJMFJSBUJOIBVNWB[JPKVSEJDPRVFMJUFSBMNFOUFDPMPDBWBPTFTDSBWPTGPSBEBMFJ5FPSJDBNFOUFRVFNWJWJBOP#SBTJMPVFSBDJEBEPbrasileiro e portanto, sob a proteo da Constituio, no poderia ser escravizado ou era estrangeiro ou aptrida e a lei brasileiSBOPQPEJBBMDBOMP5PHSBOEFFSBBDPOTDJODJBEBIJQPDSJTJBDPOWFOJFOUFRVFOVODBTFNFYFVOBMFJEFQPJTTJHOJmDBSJBSFDPOIFDFSBFYJTUODJBEBDPOUSBEJPEFTGBBUF[EBT"TTFNCMFJBTEF#BIJBF.JOBTRVFQFEJBNBSFWPHBPEBMFJQBSBOPTFSFNPCSJHBEPTBWJPMMBUPEPTPTEJBTTPNBWBTFNBJTGPSUFPTJMODJPDPOveniente de magistrados e legisladores.

    At a campanha abolicionista, a escravido nunca conseguiu se UPSOBSVNUFNBEPQFOTBNFOUPOBDJPOBM"PMPOHPEBDPMOJBPVWJVTFBQFOBTBWP[EPTKFTVUBTDPOUSBBFTDSBWJEPEPOEJP"TNBOJGFTUBFTFTPCSFUVEPBTWJPMODJBTDPNPBTEBTHVFSSBTEBTNJTTFTPTCPUBGPSBEPTQBESFTPTNFEPTQSPWPDBEPTQFMBTJODVSTFTdos capites do mato e dos bandeirantes, tudo isso se passava em argumentos espordicos, junto Corte, junto aos ministros, junto Igreja. No era uma discusso brasileira.

    A escravido negra, em si, era tratada com grande naturalidade, DPNPVNGBUPEBWJEB"TSBSBTWP[FTTPFYDFFT/PQBSFDFIBWFSNBJTRVFBBDFJUBPEPNBSUSJP0T1BMNBSFTTPWJTUPTDPNPVNBruptura da ordem, como um desao ao Estado, no como um drama social, como uma tragdia humana. A anlise de Vieira, em sua WFMIJDFEFWJTJUBEPSOB#BIJBEFRVFBOJDBTPMVPQBSBPDPOnJUPTFSJBBiMJCFSBMFTFHVSBMJCFSEBEFwEBEBBJNQPTTJCJMJEBEFOBUVSBMEPIPNFNTFDPOGPSNBSDPNBFTDSBWJEPoFRVF MFWBSJB MFNCSBWBEJTTPMVPEP&TUBEPFTDSBWPDSBUBRVFFSBP#SBTJMoBBOMJTFEFVieira parecia ser s mais uma doidice do velho sonhador.

    Os homens do sonho mineiro no chegaram a formular o probleNB.BJTUBSEFPTEPDVNFOUPTEPT"OESBEBTEF"OUOJP$BSMPTFN1817, de Jos Bonifcio em 1823, nunca foram debatidos ou contestados: foram ignorados. Talvez, como levantava Nabuco, tivessem tido

  • parte em seu ostracismo, dada a notria ligao dos vencedores de 1823 com os interesses escravagistas.

    A coligao dos interesses de proprietrios rurais e tracantes foi BGPSBEPNJOBOUFEBQPMUJDBCSBTJMFJSB'BMBOEPEPHSBOEFQBTTPRVFGPJB MFJEFEFTFUFNCSPEF&VTCJPEF2VFJSTEJ[JBRVFPUSmDPTBDBCPViQFMPJOUFSFTTFEPTBHSJDVMUPSFTDVKBTQSPQSJFEBEFTestavam passando para as mos dos especuladores e tracantes de escravos. Essa fora segurava as discusses, at mesmo no Conselho de Estado, com Nabuco de Arajo, Pimenta Bueno (a voz de Pedro **QFMBFNBODJQBPHSBEVBM

    +FRVJUJOIPOIB4PV[B'SBODP4BMMFT5PSSFT)PNFNDPNCBUJEPTQPS0MJOEB1BSBOIPT&VTCJPRVBOEPmOBMNFOUFTFEJTDVUFBMJCFSEBEF'PSBRVFGBSDPNRVFPTHSBOEFTpassos sejam dados pelos conservadores, com Eusbio, Rio Branco e Ouro Preto.

    Feita a abolio, os negros foram tratados como um fundo de tacho, sem importncia bastante para receber uma ateno especial do Estado. A Repblica os ignorou. Quando o pensamento brasileiSP TFWPMUPVOPWBNFOUFQBSBFMFT DPNPHOJPEF(JMCFSUP'SFJSFDPOTUBUPVTFTFVQBQFMGVOEBNFOUBMFNOPTTBGPSNBPNBTEFNPramos para tratar do problema da integrao social, do resgate de OPTTBEWJEBEPHJHBOUFTDPQSPCMFNBIVNBOPRVFBMJFOPVFOUSFPTmais pobres dos mais pobres toda uma parte dos brasileiros, tornanEP P CSBORVFBNFOUPOFDFTTJEBEF GVOEBNFOUBM EB BTDFOTP TPDJBMO negro continuou, ao longo do tempo, sendo tratado como um no humano, como coisa, sem direitos.""CPMJPGPJVNBDPOTUSVPDPMFUJWBFNRVFTFFNQFOIBSBN

    numa unio nunca vista, negros e brancos. Foi um esforo de mobiMJ[BPTPDJBMFQPQVMBSRVFFNQPMHPVP#SBTJM"IJTUSJBEBMVUBsimples: a histria da tentativa dos proprietrios de terra e de esDSBWPTRVFUVEPWJOIBBEBSOPNFTNPoEFJNQFEJSFBEJBSBFNBOcipao; a luta do desespero contra a esperana. Vencida a batalha do trco, os proprietrios se empenharam para impedir a abolio. Um CBOEPEFIPNFOTGPJBQFRVFOBMJOIBEFGSFOUFEPFOPSNFFYSDJUPpreso ao eito. Seus nomes so sagrados, como se diria na oratria EBRVFMBQPDBFPTEFWFNPTEFDMJOBSDPNSFWFSODJBBMHVOTUJOIBNsido escravos, como Lus Gama; outros eram descendentes de escravos, como Andr Rebouas, Ferreira de Meneses, Jos do PatrocOJP7JDFOUFEF4PVTB'SBODJTDP("DBJBCBEF.POUF[VNBPVUSPT

  • FSBNCSBODPT DPNP +FSOJNP4PES3VJ#BSCPTB(VTNP-PCP/JDPMBV.PSFJSB+PP$MBQQ"OUOJP1SBEP$BTUSP"MWFT+PBRVJNSerra, ngelo Agostini, Sousa Dantas, Jos Bonifcio o Moo, Cristiano Ottoni, Joo Alfredo. Foram jornalistas, advogados, escritores, polticos.0HSBOEFMEFSEFUPEPTFMFTGPJ+PBRVJN/BCVDP2VBOEPDIFHB

    Cmara dos Deputados a voz da liberdade, amada como nenhuma PVUSBPGPJFNOPTTBIJTUSJB/BCVDPDPOTUBUBBJOTVmDJODJBEBMFJde 28 de setembro por ela a escrava nascida a 27 de setembro de QPEFSJBTFSNFFNEFVNEPTDIBNBEPTJOHOVPTRVFcaria em cativeiro provisrio at 1932 e coloca a Abolio como a RVFTUPGVOEBNFOUBMEP1BT

    A repercusso da mensagem de Nabuco universal, corre mundo e, sobretudo, percorre o Brasil. No ano de 1884, a vitria parece prYJNB/P$FBSPOEFPTKBOHBEFJSPTIBWJBNUPNBEPBJOJDJBUJWBEFOFHBSPUSBOTQPSUFEPTFTDSBWPTBPTOBWJPTGB[TFBFNBODJQBPOPdia 25 de maro. A 20 de junho a vez do Amazonas.&ORVBOUP JTUP PT MJCFSBJT IBWJBNTF UPSOBEP BCPMJDJPOJTUBT 0

    Imperador chama Dantas para formar Ministrio. Mas seu prograNBOPTBUJTGB[/PiA pedidos do Jornal do Commercio, Gusmo -PCP DPNP i$MBSLTPOw, 3VJ #BSCPTB DPNP iGrey, Nabuco como iGarrisonw iPT JOHMFTFTw GB[FNVNDPNCBUFEJSJP%PPVUSP MBEPPTiDMVCFTEBMBWPVSBwGPSNBNTFFQSFQBSBNTFQBSBBMVUBBSNBEBO projeto emancipacionista, apresentado por Dantas, no consegue passar. A Cmara dissolvida.

    Mas as iniciativas do Cear e do Amazonas do a partida a atos localizados de libertao. Porto Alegre, Uruguaiana, So Borja, Viamo, Conceio do Arroio, no Rio Grande do Sul; o largo de So Francisco, em So Paulo; o largo de So Francisco e a rua do Teatro, OP3JPEF+BOFJSPB"CPMJPBWBOBNVOJDQJPBNVOJDQJPRVBSUFJSPBRVBSUFJSP$IFHBB-FJEPT4FYBHFOSJPTEF4BSBJWBRVFVNBEFSSPUBFOPS

    me. Nabuco, falando em nome dos abolicionistas decepcionados, adWFSUFRVFB.POBSRVJBDPSSFSJTDPFNUFOUBSJNQFEJSB"CPMJPQPTTWFMRVFiVNHSBOEFDJDMPOFEFJOEJHOBPWBSSBEJBOUFEFTJOPs a escravido, no s o ministrio, [...] mas alguma coisa mais....

    Em 1888, desemboca todo o movimento nacional. Os proprietSJPTQBVMJTUBT"OUOJP1SBEPGSFOUFUPNBNBJOJDJBUJWBEFDPODSF

  • tizar a emancipao. A 12 de fevereiro de 1888, a cidade de So Paulo BMGPSSJBTFVTFTDSBWPT"EFBCSJMBWF[EFB1SJODFTB*TBCFMMJCFStar Petrpolis. Num incidente com o chefe de polcia da capital, impopular pela represso, cuja demisso lhe pede a Princesa, Cotegipe FODPOUSBPQSFUFYUPQBSBEFJYBSPHPWFSOPDIBNBEP+PP"MGSFEP"EFNBJPBCSFTFBTFTTP"3FHFOUFSFDFCJEBDPNnPSFT"

    7 de maio, o Ministrio apresenta o programa abolicionista. No dia 8 MJEPPQSPKFUPiEFDMBSBEBFYUJOUBBFTDSBWJEPOP#SBTJMw/BCVDPQFEFBEJTQFOTBEFQSB[PT"THBMFSJBTFYQMPEFN

    No dia 13 de maio, um domingo, o Senado faz uma sesso especial. A Princesa desce de Petrpolis. No Pao, sanciona a lei. PatroDOJPBKPFMIBTFBTFVTQT0TQSTUJUPTFODIFNBDJEBEF.BDIBEPconta no Memorial de Aires: i"JOEB CFNRVF BDBCBNPT DPN JTUP&SBUFNQP&NCPSBRVFJNFNPTUPEBTBTMFJTEFDSFUPTFBWJTPTOPpoderemos acabar com os atos particulares, escrituras e inventrios, OFNBQBHBSBJOTUJUVJPEB)JTUSJBPVBUEB1PFTJBw

    Nas primeiras pginas de 0 Abolicionismo +PBRVJN/BCVDPBEWFSUFi)NBJPSBEPGVUVSPBEFBQBHBSUPEPTPTFGFJUPTEFVNSFHJNFRVFIUSTTDVMPTwoIPKFKTPRVBTFDJODPoiuma escola de desmoralizao e inrcia, de servilismo e irresponsaCJMJEBEFQBSBBDBTUBEPTTFOIPSFTFRVFGF[EP#SBTJMP1BSBHVBJEBescravido.

    E prossegue:i2VBOEPNFTNPBFNBODJQBPUPUBMGPTTFEFDSFUBEBBNBOIB

    MJRVJEBPEFTTFSFHJNFEBSJBMVHBSBVNBTSJFJOmOJUBEFRVFTUFTRVF TQPEFSJBN TFS SFTPMWJEBTEF BDPSEP DPNPT JOUFSFTTFT WJUBJTEP1BT QFMPNFTNPFTQSJUPEF KVTUJB FIVNBOJEBEFRVFE WJEBBPBCPMJDJPOJTNP%FQPJTRVFPTMUJNPTFTDSBWPTIPVWFTTFNTJEPBSSBODBEPTBPQPEFSTJOJTUSPRVFSFQSFTFOUBQBSBBSBBOFHSBBNBMdio da cor, ser ainda preciso debastar, por meio de uma educao viril e sria, a lenta estraticao de trezentos anos de cativeiro, isto , de despotismo, superstio e ignorncia."UBRVJ/BCVDP+OPNFV.BSBOIPFNPOFHSP$PTNF

    RVFDIBNBWBBTJNFTNPEFo Imperador das liberdades Bentevi e foi PHSBOEFMEFSEB#BMBJBEBUJOIBBQSFPDVQBPEFiGB[FSVNBFTDPMBVNBFTDPMBOP2VJMPNCPwQPSRVFUJOIBOPPEFRVFOPCBTUBWBBliberdade. O Quilombo do negro Cosme, com mais de 3.000 negros,

  • FSBVNDBNJOIPQBSBB MJCFSEBEF.BTPWFMIP$PTNFTBCJBRVFQSFDJTPMJCFSUBSTFUBNCNQFMBFEVDBP&TUPVDPOWFODJEPEFRVFP#SBTJMVNBEFNPDSBDJBSBDJBMFOP

    h dvida disso. Mas carregamos enorme carga de preconceito. Se no temos segregao racial, a discriminao racial faz parte de nosTPRVPUJEJBOPOVNBGPSNBFTQFDJBMNFOUFJOTJEJPTBBEJTDSJNJOBPFODPCFSUBNBTDBSBEBFTDPOEJEBBUNFTNPJODPOTDJFOUF"FYDMVso dos negros e da comunidade negra coincide em grande parte com BEPTQPCSFT.BTNFTNPRVFTVQFSQPTUBTFMBTOPQPEFNTFSDPOfundidas. Os negros, entre os pobres, so os mais pobres; entre os RVFOPDPOTFHVFNPBDFTTPFEVDBPBNBJPSJBFOUSFPTEPFOUFTos mais graves."RVFTUPEPTEFTDFOEFOUFTEFFTDSBWPOP#SBTJMEFWFTFSFODB

    rada com objetividade. O grave problema o atraso social, a proNPPIVNBOBRVFmDPVFTUBHOBEBEBOEPBPTOFHSPTVNBQPTJPde marginalidade dentro de nossa sociedade. As terrveis estatsticas RVFNPTUSBNPQSPCMFNBOPSFQSFTFOUBNBCTUSBFT&MFTTJHOJmcam realidades intolerveis: a perpetuao da fome, da misria, da ignorncia, da marginalizao social. O maior nmero de negros entre os mais pobres, os menos educados, os mais desempregados no BDPOUFDF TQPSRVFEFTDFOEBNEFQPCSFT EFQPVDP FEVDBEPT EFEFTFNQSFHBEPTBDPOUFDFQSJODJQBMNFOUFQPSRVFTPOFHSPT&OPIDPNPOFHBSPRVFBDPOUFDFVVOTGPSBNFTDSBWPTPVUSPTGPNPTsenhores. Uns eram negros, outros eram brancos. O trabalho de resHBUFOPBDPOUFDFVQSFDJTPGB[MP""CPMJPVNBPCSBFNBCFSUP4FVTBOPTNPTUSBNRVF

    QPVDPNVJUPQPVDP GPJ GFJUPEFQPJTEBRVFMB GFTUB JOJDJBM)NVJUPPRVFGB[FS'BBNPTVNmea culpa. Ns no realizamos o ideal de igualdade, de justia social. Ns ainda estamos engatinhando no QBHBNFOUPEFOPTTBEWJEBDPNPTEFTDFOEFOUFTEPTFTDSBWPT)NVJUPPRVFGB[FSQSFDJTPGB[MP

    , mais uma vez, hora de aplaudir o passado e comear o futuro.

    Jos SarneyPresidente do Senado Federal

  • "QSFTFOUBtFEJ

    Ao ensejo das comemoraes do Centenrio da Abolio da escraWBUVSBOP#SBTJMP4FOBEP'FEFSBM KVOUBTFTEJWFSTBTJOJDJBUJWBTFNBOJGFTUBFTRVFBTPDJFEBEFCSBTJMFJSBFNTFVTEJWFSTPTTFHNFOtos ociais e comuni trios, realiza para rememorar o longo processo vivido pelo pas entre a escravatura e a liberdade, suas implicaes DPOKVOUVSBJTEPMBEPFDPONJDPQPMUJDPFTPDJBM

    O Senado Federal, depositrio de valioso acervo documental soCSFB)JTUSJBEP#SBTJMQVCMJDBBUSBWTEFTVB4VCTFDSFUBSJBEF"SRVJWPFTUBQFTRVJTBJOEJUBTPCSFPQSPDFTTPBCPMJDJPOJTUBFNOPTTP1BTFNRVFBUSBWTEFVNBDSPOPMPHJBRVFTFSFQPSUBBDPNBSFQSFTFOUBPGFJUBQPS+PT#POJGDJPP1BUSJBSDBEB*OEFQFOEODJB Assembleia Geral Constituinte Legislativa, tratando da escravido, BUBUSBNJUBPEJTDVTTPFWPUBPEPQSPKFUPRVFTFUSBOTGPSNPVna Lei noEFDIBNBEBEF-FJVSFBRVF MJCFSUPVdo jugo escravo parte da populao negra, ao tempo do perodo coMPOJBMTFNQSFNBJPSRVFBQPQVMBPCSBODBNBTRVFTWTQFSBTda Abolio continha apenas um remanescente de cerca de 720.000 FTDSBWPTEFWJEPTEJWFSTBTMFJTRVFQSPHSFTTJWBNFOUFGPSBNFTUBbelecendo critrios de liberao.

    A luta pela abolio da escravatura no Brasil remonta aos temQPT EPT RVJMPNCPT DPN B USBHEJB QJDB EP ;VNCJ EB 3FQCMJDBdos Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas, no sculo XVII, e USBOTQPSUBTFPCKFUJWBNFOUFQBSBPSFDJOUPEP1BSMBNFOUPFNMFWBOEPBBOPTQBSBRVFPTBCPMJDJPOJTUBTUSJVOGBTTFNTPCSFPTescravocratas. 0USmDPEFFTDSBWPTFSB UP MVDSBUJWPRVBOUPEFTVNBOP.PS

    riam 25% no transporte, sendo, mesmo assim, o lucro de mais de 500%. Com a perseguio aos tracantes, motivada pelo sistema ecoONJDPRVFTFJNQVOIBDPNB3FWPMVP*OEVTUSJBMJOUFSFTTBEBFNmo de obra livre e livre mercado, bem como amenizar a concorSODJBCSBTJMFJSBOPTTFVTQSPKFUPTDBOBWJFJSPTOBT"OUJMIBTNVJUBT

  • WF[FTPTOBWJPTOFHSFJSPTRVBOEPTFHVJEPTQPSBMHVNWBTPCSJUOJDPiBGVOEBWBNBDBSHBwFDPNFMBBTQSPWBTEPUSmDPRVFNFTNPBTsim, perdurou por muitas dcadas. " JNQPSUODJBEFTUBPCSB RVF TFQVCMJDB DPNVNB JOUSPEVP

    do eminente jurista e escritor Afonso Arinos, de mostrar, passo a passo, toda a evoluo do iderio favorvel e contrrio escraviEPSFWFMBSBMVUBPEFCBUFBBSHVNFOUBPRVFNBOUJOIBPiTUBUVTRVPwFBTOPWBTJEJBTRVFRVFSJBNUSBOTGPSNMPFYQPSBQSPHSFTTJWBDPOTPMJEBPEBDPOTDJODJBOBDJPOBMFNGBWPSEBMJCFSUBPEPTFTDSBWPTDPNBTBEFTFTRVFGPSBNTVSHJOEPOPTEJWFSTPTTFUPSFTEBTlideranas sociais.

    Esta obra destaca, entre outras, fases importantes do processo; a Lei do Governo Feij, em 1831; o Bil Aberdeen, em 1845; a Lei de EuTCJPEF2VFJSP[FNB-FJEP7FOUSF-JWSFFNB-FJEP4FYBHFOSJPFNFmOBMNFOUFB-FJVSFB3FTTBMUBBEJONJDBEFTUFNPWJNFOUPBUSBWTEFSFGFSODJBTUFYUPTEPTEFCBUFTFQSJODJpais pronunciamentos dos mais destacados personagens da poca: parlamentares, jornalistas, inte lectuais, poetas etc., entre eles: Jos #POJGDJP7JTDPOEFEF+FRVJUJOIPOIB1FSEJHP.BMIFJSP1JNFOUBBueno, Silveira da Mota, Luiz Gama, Castro Alves, Andr Rebouas, 'FSSFJSBEF"SBKP+PBRVJN4FSSB+PP$MBQQ'FSSFJSBEF.FOF[FTJos do Patrocnio, Souza Dantas, Eusbio de Queiroz, Visconde do Rio Branco, Andrade Figueira, Baro de Cotegipe, Rui Barbosa e JoBRVJN/BCVDP

    Da leitura, vista de documentos e ilustraes deste livro merguMIBTFFNOPTTBIJTUSJBQBSBNFMIPSTFDPOIFDFSBTOPTTBTSB[FTFa evoluo de nossa nacionalidade, a ndole do nosso povo, e, princiQBMNFOUFBOPTTBUFOEODJBFWPDBPQBSBPEJMPHPOBTPMVPEPTHSBOEFTFDSVDJBJTQSPCMFNBTQPJTFORVBOUPOPOPSUFEB"NSJDBa escravido foi varrida pelas armas e lavada pelo sangue de irmos, BRVJTFQSPDFTTPVTBMWPBMHVOTJODJEFOUFTQFMBGPSBEBQBMBWSBFEBTJEFJBTQFMBOFHPDJBPmDBOEPEFTUBFYQFSJODJBNJMFOBSEBIVNBnidade o escravismo suas cores, cnticos, rituais, crenas, temperos e outros traos na miscigenao de nossa raa, na forma o de nosso folclore, na consolidao de nossa cultura e de nossa feio nacional.

    A Lei urea foi aprovada na Cmara dos Deputados com apenas nove votos contrrios e no Senado com seis, e aps a assinatura desta

  • MFJQFMB1SJODFTB*TBCFM+PBRVJN/BCVDPVNEPTHSBOEFTCBMVBSUFTEFTUFNPWJNFOUPQSPDMBNPVQBSBBNVMUJEPSFVOJEBBFN GSFOUF TBDBEBEP1BMDJP *NQFSJBM i/PINBJT FTDSBWPTOPBrasil. &BTTJNBFTUFQSJNFJSPFDPEP#SBTJMMJWSFEFFTDSBWPTTVDFEFTF

    em 19 de junho do mesmo ano, o ltimo suspiro da escravido, um projeto de autoria do Baro de Cotegipe autorizando o Governo a indenizar os proprietrios dos escravos libertos. /FTUFBOPEFFNRVFUSBOTDPSSFPQSJNFJSPDFOUFOSJPEB

    "CPMJPRVBOEPBDVSJPTJEBEFJOUFMFDUVBMFBJOUFMJHODJBCSBTJMFJSBDFSUBNFOUFSFnFUJSPTPCSFP#SBTJMFTDSBWPFTUBPCSBTPCSFTVBMJCFSUBPOPQPEFSEFJYBSEFTFSDPNQVMTBEB

    Senador Humberto Lucena Presidente

  • Centenrio da Abolio

    %JTDVSTPEP4FOBEPS"GPOTP"SJOPTOBTFTTPTPMFOFDPNFNPrativa do Centenrio da Abolio Escravatura.

    O Centenrio da Abolio deve ser comemorado na sede do Congresso Nacional, no s como data festiva, mas como oportunidade QBSBSFnFYFTEFDBSUFSTDJPIJTUSJDPEFTQJEBTEFQSPQTJUPTJEFPMHJDPTQPMUJDPQBSUJESJPTPVEFSFTTFOUJNFOUPTSBDJBJT3FnFYFTRVFDPOEV[BNBVNBWJTPFRVJMJCSBEBFKVTUBEPOPTTPDPOUFYUPTPDJBMQBTTBEPQSFTFOUFFGVUVSPOPUPDBOUFJOnVODJBEBFTDSBWJEPFEBNJTDJHFOBPOPDPOUFYUPTPDJBMCSBTJMFJSP&TDSBWJEPFNJTDJHFOBPJOUJNBNFOUFMJHBEBTBPTRVBTFDJODPTDVMPTEFGPSNBPFdesenvolvimento do nosso povo. "HSBOEF&ODJDMPQEJBEF$JODJBT4PDJBJTEB&EJUPSB.D.JMMBO

    provavel mente a melhor sntese cientca sobre o assunto da escravido em geral, estuda o problema no mundo, desde os primrdios, na Antiguidade, at a Guerra de Secesso, nos Estados Unidos, sem FTRVFDFS B QBSUF EFEJDBEB BP#SBTJM" BCPMJP OPT &TUBEPT6OJdos, ocorrida 15 anos apenas antes da nossa, com ela contrasta, de forma impressionante, pelo seu imenso custo histrico. L, a ferocidade devastadora da luta entre o Sul e o Norte encobre, pela sombra da tragdia, a formidvel ao do Presidente Lincoln e do seu vitorioso governo. No Brasil houve luta tambm (basta recordar a NBJPSFBNBJTEVSBEPVSBEFUPEBTRVFGPJBEF1BMNBSFTOPTDVMP97**

    NBTBTPMVPEPQSPCMFNBTGPJQPTTWFMOPTDVMP9*9BPtermo de uma grande campanha sem guerra. Longa campanha de persuaso nacio nal pela oratria parlamentar, pela ao da imprensa, QFMBDPORVJTUBEPBQPJPEFUPEBBTPDJFEBEF0QSJNFJSPCSBTJMFJSPNBSDBOUFBTFNBOJGFTUBSTPCSFPBTTVOUPGPJOJOHVNNFOPTEPRVF+PT#POJGDJPP1BUSJBSDBEB*OEFQFOEODJB&NFMFQSFQBSPVMPOHBFYQPTJPOPTTBQSJNFJSB"TTFNCMFJB$POTUJUVJOUFOBRVBMcombatia, em linguagem candente, o trco de africanos para o Bra

  • TJM%FOVODJBWBPTIPSSPSFTEBRVFMFDPNSDJPFPTDSJNFTFYJHJEPTpela sua prtica, bem como criticava com vigor os donos de escravos, SFGFSJOEPTFFTQFDJBMNFOUFBPTQSPQSJFUSJPTEFUFSSBTBPTQBESFTFaos magis trados, visando assim, diretamente, s altas camadas sociais da poca. &NP.JOJTUSPEB +VTUJB%JPHP"OUOJP'FJKFYQFEJVP

    primeiro ato proibitivo do trco, mas tal medida no produziu resultado. O passo inaugural dado efetivamente nesse assunto foi o decreto do ilustre Euzbio de Queiroz, Ministro da Justia, a 14 de PVUVCSPEFRVFWFJPEBSWFSEBEFJSBFmDDJBBPBUPQSPJCJUJWPEFDiogo Feij.

    A Abolio continuou abrindo caminho pelas leis. Em 1871 veio B-FJEP7JTDPOEFEP3JP#SBODPPVEP7FOUSF-JWSFRVFEBWBMJCFSdade aos nascituros de escravos, ao completarem 20 anos. Em seguiEBGPJB-FJEPT4FYBHFOSJPTEP(BCJOFUF4PVTB%BOUBTFNBQPJBEBOPFYUSBPSEJOSJPQBSFDFSEFVNKPWFNEFQVUBEPDIBNBEPRui Barbosa.

    O Imprio Brasileiro continuava, atravs de leis, a resolver o proCMFNB RVF UBOUP TBOHVF m[FSB EFSSBNBS 3FQCMJDB "NFSJDBOBMas, no Brasil, o caminho do Legislativo, aberto por Jos Bonifcio, foi acompanhado e estimulado pelos estudos dos historiadores, DPNP1FSEJHP.BMIFJSP QFMB FMPRVODJB EPT PSBEPSFT QBSMBNFOUBSFTDPNP+PBRVJN/BCVDPQFMPEFTUFNPSEPT KPSOBMJTUBTDPNPJos do Patrocnio; pelos versos de poetas, como Castro Alves; pela BEFTPDSFTDFOUFEFNVJUPTTFOIPSFTRVFBMGPSSJBWBNTFVTFTDSBWPTFmOBMNFOUFQFMPBQPJPDSFTDFOUFEP*NQFSBEPSFYQSFTTPBmOBMOBparticipao direta de sua lha, a Princesa Regente Isabel. Imitando (JMCFSUP'SFZSFTFSJBQPTTWFMFTDSFWFSTFVNBIJTUSJBEB"CPMJPFNMJWSPRVFUJWFTTFQPSUUVMPi5SPOPF4FO[BMBw""CPMJPGF[BMHVOTHSBOEFTIPNFOTEP*NQSJPUBOUPRVBOUP

    FTUFTm[FSBNB"CPMJP&NNFJPBVNBEBTTVBTDPOGFSODJBTGBmosas no Teatro Santa Isabel, do Recife, a propsito da escravido e SFGFSJOEPTFBP7JTDPOEFEF3JP#SBODPFYDMBNPV+PBRVJN/BCVDPi/PGPJPOPNFEF1BSBOIPTRVFGF[HSBOEFBFNBODJQBPEPTFTDSBWPTGPJBFNBODJQBPEPTFTDSBWPTRVFGF[HSBOEFPOPNFEFParanhos! Realmente: s pelas grandes causas se fazem os grandes nomes.

  • A escravido dos negros na Europa comeou bem antes das viagens de Colombo ou de Cabral. Desde meio sculo antes do descobrimento do Brasil, j os navegadores portugueses levavam negros da GSJDBQBSB-JTCPBDJEBEFRVFDIFHPVBBCSJHBSEF[FOBTEFNJMIBSFTEFMFT0TDIBNBEPTiQPNCFJSPTwBGSJDBOPTTWF[FTNVMBUPTFSBNintermedirios na captura de ne gros, de vrias naes africanas, aprisionados nas lutas entre tribos e vendidos aos tracantes porUVHVFTFTFN"OHPMB$PTUBEB.JOB(VJO.PBNCJRVFPVPVUSPTpontos apropriados. Na frota de Cabral, talvez j viessem escravos OFHSPTEFTFSWJP1FMBTi%FOVODJBFTF$POmTTFTEP4BOUP0G DJPwOPTDVMP97*PCTFSWBTFBDPOTUBOUFQSFTFOBEPTFTDSBWPTFdas escravas entre os padres, os governadores e outras autoridades, em suma, entre os poderosos e ricos senhores, desde o primeiro sculo. A literatura menciona sempre escravos, desde o romantismo da i&TDSBWB*TBVSBwEF#FSOBSEP(VJNBSFTBUPTFTDSBWPTEPNTUJDPTligados s famlias dos personagens, na primeira parte inicial da obra de Machado de Assis.

    No Brasil, como nos Estados Unidos, a escravido, por doloroTPRVFTFPEJHBGPJVNBDPOEJPEPEFTFOWPMWJNFOUPFDPONJDPSFTVMUBOUFEBFYQMPSBPFYUFOTJWBEB UFSSBOBDVMUVSBEBDBOBEFBDBSEP UBCBDPEPBMHPEPFEPDBG TVDFTTJWBNFOUF&SBVNBGPSNBQSJNJUJWBEFPSHBOJ[BPEPUSBCBMIPTFNRVBMRVFSBMUFSOBUJva, como havia acontecido, no Egito, na Grcia, em Roma, muitos sculos antes do trco de escravos negros para as Antilhas, os Estados Unidos e o Brasil. A importao americana comeou para as Antilhas, antes de chegar ao Brasil, e os ingleses participavam larga mente EFTTF USmDP QBSB P)BJUJ BT *MIBT7JSHFOT 4P%PNJHPT F PVUSBTDPMOJBT4NBJT UBSEF KOPTDVMP9*9DPNPEFTFOWPMWJNFOUPJOEVTUSJBMEFWJEPBPDBSWPTFTUSBEBTEFGFSSPNBRVJOBSJBFBPDSEJUPCBODSJPPT3PUTDIJMETPEFTTBQPDB

    PTJOHMFTFTIBWFOdo abolido a escravido nas suas terras da Amrica, comearam a DBNQBOIBDPOUSBPUSmDPOP#SBTJMQPSRVFPUSBCBMIPFTDSBWPCBSBUFBWBBRVJQSPEVUPTRVFFMFTUBNCNFYQMPSBWBN0OPUWFMFTUVEPEPNFVTBVEPTPBNJHPFNFTUSF"GPOTPEF5BVOBZTPCSFBi)JTUSJBdo Trco Africano no Brasil Colonial reproduz a estrofe do poeta (BSDJBEF3F[FOEFOBTDJEPFNmOTEPTDVMP97RVFEJ[

  • i7FNHSTPNBB1PSUVHBM$BEBBOP UBNCNT *MIBTDPJTBRVFTFNQSFWBJ&USFTEPCSBPDBQJUBM&N$BTUFMBFOBT"OUJMIBTw

    Assim, a dura luta travada contra ns pela Inglaterra, no sculo XIX, aps a lei Aberdeen, com a apreenso de navios negreiros at FNQPSUPTOBDJPOBJTFSBUBMWF[NBJTBQPJBEBFNJOUFSFTTFTFDPONJDPTEPRVFFNSB[FTNPSBJT

    Por outro lado, o decreto de Euzbio de Queiroz, de outubro de 1850, realmente proibitivo do trco, de fato o estimulou a princpio, QPSRVFBVNFOUPVPQSFPEBDBSHBIVNBOBFQPSUBOUPPTMVDSPTEPTUSBmDBOUFTQPSUVHVFTFTFCSBTJMFJSPTRVFWJWJBNSJDBNFOUFOB$PSUFTFNRVFTF*IFTQVEFTTFOBWFSEBEFEVSBOUFBOPTDPJCJSPDSJNF.BT B "CPMJP OJDP SFNEJP TF BQSPYJNBWB " DBNQBOIB

    OBDJPOBMDPORVJTUBWBUFSSFOP"TGSPOUFJSBTFOUSFPTQBSUJEPTTFFTbatiam, no Parla mento, diante da causa comum. As contradies dos partidos Liberal e Con servador determinavam O crescimento do Partido Republicano, fundado a 3 de dezembro de 1870, com o fecundo manifesto de Saldanha Marinho e Quintino Bocaiva, no RVBMEJHBTFEFQBTTBHFNOPTFBMVEFBPTJTUFNBQSFTJEFODJBMNBTBPDPOUSSJPUPNBWBTFQPSNPEFMPP1BSMBNFOUBSJTNP3FQVCMJDBOPGSBODTRVFOBTDJBUBNCNFOUPDPNBEFSSPUBEF/BQPMFP***OBguerra contra a Prssia de Bismark. /BCVDPOPTFVMJWSPi0"CPMJDJPOJTNPwQVCMJDBEPFNEJ[

    i4PCBCBOEFJSBEB"CPMJPDPNCBUFNIPKFMJCFSBJTDPOTFSWBdores e republicanos, sem outro compromisso.

    ""CPMJPTFBQSPYJNBWBBTTJNEFGPSNBJSSFTJTUWFM/PBOPEFBEFBCSJMJOTUBMBWBNTFBTTFTTFTQSFQBSBUSJBTEB$NBSBdos Deputa dos, mas a sesso legislativa s foi aberta, ocialmente, como era de regra, a 3 de maio, no glorioso Palcio da Cadeia Velha, RVFBJOEBDIFHVFJBDPOIFDFSOBNJOIBJOGODJBMFWBEPQPSNFVQBJA Fala do Trono foi lida pela Regente do Imprio, Princesa Isabel, na BVTODJBEPQBJP*NQFSBEPSRVFTFFODPOUSBWBOB&VSPQB""CPlio aparece no seguinte tpico do documento:

    i"FYUJOPEPFMFNFOUPTFSWJMQFMP JOnVYPEPTFOUJNFOUPOBDJPOBMFEBTMJCFSBMJEBEFTQBSUJDVMBSFTFNIPOSBEP#SBTJMBEJBO

  • UPVTFQBDJmDBNFOUFEFUBMNPEPRVFIPKFBTQJSBPBDMBNBEBQPSUPEBTBTDMBTTFTDPNBENJSWFJTFYFNQMPTEFBCOFHBPQPSparte dos proprietrios. Quando o prprio interesse privado vem FTQPOUBOFBNFOUFDPMBCPSBSQBSBRVFP#SBTJMTFEFTGBBEBJOGFMJ[IFSBOBRVFBTOFDFTTJEBEFTEBMBWPVSBIBWJBNNBOUJEPDPOmPFNRVFOPIFTJUBSFJTFNBQBHBSEPEJSFJUPQUSJPBOJDBFYDFPRVFOFMFmHVSBFNBOUBHPOJTNPDPNPFTQSJUPDSJTUPFMJCFSBMdas nossas instituies.

    A resposta a esta Fala do Trono s foi lida na Cmara dos Deputados a 21 de maio, portanto, j depois da Lei urea. Mas a Cmara OPEFJYPVEFDPOTJHOBSPGBUPOBTTFHVJOUFTFNFNPSWFJTQBMBWSBT

    i4FOIPSBo"GPSUVOBQFSNJUJVRVF1SJODFTB*NQFSJBM3FHFOUFem nome do Imperador, fosse reservada a glria de presidir aos dois atos mais importantes da nossa vida poltica, depois da reforma da Constituio do Imprio. O ltimo, de data recenUTTJNBFQFMPRVBMIEFDBCFSB7PTTB"MUF[B*NQFSJBMPNBJTJOWFKWFM UUVMP DPMPDB P #SBTJM FN DJSDVOTUODJBT RVF SEVBTFNCPSBBmHVSBNTF$NBSBEPT%FQVUBEPTDPNPPQPOUPEFQBSUJEBNBJTmSNFEBTVBQSPHSFTTJWBFWPMVPFDPONJDBw

    /PmNEPBOPOPNTEFOPWFNCSPP*NQFSBEPSBPSFHSFTTBSda Europa, onde estivera em tratamento de sade, encerra a sesso EP1BSMBNFOUPDPNB'BMBEP5SPOPEBRVBMDPOTUBPTFHVJOUFUSFDIP

    i1PEFNPTEFTWBOFDFSOPTEPNPEPQBDmDPQPSRVFTFPQFSBBtransformao do trabalho, em virtude da lei de 13 de maio, cuja decretao tanto me consolou das saudades da ptria, minorando os meus sofrimentos f sicos.

    Voltemos, porm, origem imediata da Lei urea. No dia 7 de NBSPSFUJSBWBTFPHBCJOFUFQSFTJEJEPQFMP#BSPEF$PUFHJQFFOPdia 10, subia ao poder o novo Ministrio cheado pelo Conselheiro Joo Alfredo. Com o incio da sesso legislativa de 3 de maio, o MiOJTUSJPBQSFTFOUPVTF$NBSBOPEJB/PEJTDVSTPEFBQSFTFOtao, armou o Presidente do Conselho:

  • i%JSFJTPNFOUFRVFP.JOJTUSJPTFUJWFSPBQPJPEP1BSMBNFOUPIEFFTGPSBSTFRVBOUPGPSQPTTWFMQBSBRVFFTTFQSPHSBNBTFDPOWFSUBFNSFBMJEBEFFTPCSFUVEPQBSBRVFTFFGFUVFRVBOUPBOUFTBSFGPSNBEPFMFNFOUPTFSWJMRVFBBTQJSBPOBDJPOBMFRVFPHBCJOFUFUFNPFNQFOIPFNGB[FSUPQFSGFJUBRVBOUPBPQJOJPQCMJDBBJOEJDBFRVFS"NBOITFSBQSFTFOUBEBBQSPQPTUBEP1PEFS&YFDVUJWPQBSBRVFTFDPOWFSUBFN*FJBFYUJOPimediata e incondicional da escravido no Brasil. (Aplausos no SFDJOUPFOBTHBMFSJBT

    -PHPOPEJBTFHVJOUFWFJPiQPSPSEFNEB1SJODFTB*NQFSJBMRegente e em nome de S. M. o Imperador, o projeto de lei. A redao era a mais simples e enrgica:

    i"SUEFDMBSBEBFYUJOUBBFTDSBWJEPOP#SBTJM"SU3FWPHBNTFBTEJTQPTJFTFNDPOUSSJPw

    Quem apresentou o projeto Cmara, em nome do governo, foi P.JOJTUSPEB"HSJDVMUVSB3PESJHP4JMWBRVFBUSFDFOUFNFOUFOPaceitava a Abolio imediata. Votaram a favor, no dia 13 de maio, 83 Deputados e, contrariamente, apenas nove.

    Neste momento, peo licena para declinar perante os Constituintes brasileiros, com sincera emoo, os nomes de dois Deputados RVFIVNTDVMPOPEJBEFIPKFWPUBSBNQFMB"CPMJPEBFTDSBWJEPOP#SBTJMNFVBW$FTSJP"MWJN%FQVUBEPQFMB1SPWODJBEF.JOBT(FSBJTFPBWEFNJOIBFTQPTB3PESJHVFT"MWFT%FQVUBEPpela Provncia de So Paulo.

    No mesmo dia 13 de maio passou o projeto da Cmara ao Senado, onde falaram a favor os Senadores Souza Dantas, autor da Lei EPT4FYBHFOSJPTEFFP1SFTJEFOUFEP$POTFMIP+PP"MGSFEP$POUSB B BQSPWBP GBMPVP4FOBEPSnVNJOFOTF$POTFMIFJSP1BVlino de Souza, lho do ilustre Visconde do Uruguai, de conhecida tradio conservadora. Como o Senador Paulino prolongasse seu EJTDVSTPGPJBEWFSUJEPEFMJDBEBNFOUFEFRVFB1SJODFTB*TBCFMBHVBSEBWBPUFYUPOP1BPQBSBTBODJPOMPBWJTPRVFQSPWPDPVBBNWFMrplica do orador:

    i7PVUFSNJOBS/PTFGB[FTQFSBSEBNBEFUPBMUBIJFSBSRVJBw

  • Com esta frase respeitosa e galante estava fechado o ciclo glorioso da Abolio no Brasil. Fechado, como devia ser, pelo Parlamento, represen tante de todo o povo.

    i4FOIPS Presidente, senhores Constituintes:

    Como membro mais idoso desta Assemblia Nacional ConstiUVJOUFQFPB%FVTRVFBJOTQJSFOFTUFTFYFNQMPTJNPSSFEPVSPTEB OPTTB IJTUSJB F OP TF JOnVFODJF QFMPT RVF UFNFN P QSPgresso, em todas as suas formas. /PEFWFNPT SFDFBSNVEBOBT RVFOPT MFWFNBVNBOPWB

    "CPMJPBEBFYUSFNBQPCSF[BBEPBOBMGBCFUJTNPBEBDBSODJBEF IBCJUBFT EF IJHJFOF EF TBEF EF UBOUBT DBSODJBT RVFtornam incompleta a liberdade e transformam a vida de muitos milhes de brasileiros, neste m de sculo, em um cativeiro de homens livres. Marchemos para a Abolio da escravido social.

    Afonso Arinos

  • Representao de Jos Bonifcio Assembleia Geral Constituinte Legislativa do Imprio do Brasil. 31

    Projeto de Lei do Deputado Clemente Pereira extinguindo o comrcio de escravos (31-12-1840). 51

    Decreto dispondo sobre sentena de morte (11-9-1826). 51

    Acordo Anglo-Brasileiro (extino do trco), de 23-11-1826. 53

    Projeto dispondo sobre pena de morte para os escravos (11-4-1829). 59

    Projeto do Deputado Antnio F. Frana, acabando com a escravido em 1880 (15-5-1830). 63

    Projeto dos Deputados B. P. de Vasconcelos, Mendes Viana, Duarte Silva e M. F. R. de Andrada, sobre venda em hasta pblica de escravos do Arsenal de Marinha (17-7-1830). 63

    Projeto dos deputados sobre: extino da escravido no Brasil, compra de alforria e liberdade para os africanos contrabandeados (16-6-1831) 67

    Lei do Governo Feij (Lei de 7-11-1831). 69

    Decreto de 12-4-1832 sobre exames de embarcaes suspeitas de importao e reexportao de escravos. 75

    Proposta do Ministro Aureliano de Souza sobre pena de morte para escravos que matassem ou ferissem seu senhor (10-6-1833). 81

    Dois projetos do Senador J. A. Rodrigues de Carvalho sobre matrculas de escravos e apreenso de embarcaes que tragam escravos (25-4-1834). 85

    Sumrio Cronolgico

  • Lei no 4, de 10-6-1835 (Pena de morte). 93

    Projeto do Senador Joo V. de Carvalho, Conde de Lages, sobre a proibio de escravos no servio dos estabelecimentos nacionais, exceto em agricultura ou criao (22-9-1835). 95

    Decreto sobre direito de Petio de Graa ao Poder Moderador na pena de morte. (9-3-1837). 99

    Projeto do Senado no 133, do Marqus de Barbacena, proibindo a importao de escravos para o Brasil (30-3-1837). 100

    Nota do Ministro Paulino J. S. de Souza sobre violao do Acordo Anglo-Brasileiro de 1826 (11-1-1844). 107

    Protesto da Legao Imperial do Brasil em Londres contra o Bill (25-7 -1845). 121

    O Bill Aberdeen (8-8-1845). 125

    Protesto do Governo Imperial contra o Bill Aberdeen (22-10-1845). 129

    Projeto do Deputado Silva Guimares a favor da liberdade para os nascidos de ventre escravo (22-3-1850). 143

    Projetos dos Senadores Holanda Cavalcanti e Cndido B. de Oliveira sobre trco de escravos (maio de 1850). 143

    Pedido de discusso do art, 13 do PL no 133/1837 do Marqus de Barbacena (Filisberto Caldeira Brant) sobre trco de escravos (12-7-1850). 156

    Emendas ao PLS - 133/1837. 157

    Lei no 581, de 4-9-1850 (Lei Eusbio de Queiroz) sobre trco de africanos. 159

    Decreto no 708, de 14-10-1850, regulando a Lei no 581. 162

    Projeto do Deputado Silva Guimares considerando livres os que nascessem de ventre escravo, (4-6-1852). 179

    Projeto contra trco de africanos (apud Perdigo Malheiro). 180

    Resoluo sobre a competncia dos Auditores da Marinha para processar e julgar rus envolvidos em trco (23-9-1853). 185

    Decreto n 1.303 emancipando, depois de quatorze anos, os africanos livres que foram arrematados por particulares. 187

  • Decreto n 1.310, de 2-1-1854 manda executar a Lei de 10-6-1835 sem recurso, salvo o do Poder Moderador, em caso de pena de morte para os escravos. 191

    Lei n 731, de 5-6-1854 punio para capito ou mestre, Piloto ou contramestre de embarcao que zesse trco de escravos. 192

    Projetos n 117 e s/n do Baro de Cotegipe (J,M,Wanderlei) sobre comrcio interprovincial de escravos e sobre alforria (11-8-1854). 193

    Projeto do Senador Silveira da Mota proibindo a venda de escravos em leiles, preges e exposies pblicas (18-6-1860). 197

    Projeto n 39, de 1862 do Senador Silveira da Mota proibindo venda de escravos em prego e em exposio pblica (9-5-1862). 205

    Projeto do Senador Silveira da Mota relacionando os que no podem possuir escravos (26-1-1864). 211

    Decreto n 3,310, de 24-9-1864, concedendo emancipao a todos os africanos livres no Imprio. 212

    Lei n 1,237, de 24-9-1864 considerando os escravos pertencentes s propriedades agrcolas como objeto de hipoteca e de penhor. 214

    Projeto do Senador Visconde de Jequitinhonha sobre alforria para os achados de vento. 234

    Projeto do Senador Visconde de Jequitinhonha sobre alforria aos escravos que estivessem sentando praa nos corpos de linha como voluntrios. 236

    Projeto do Senador Silveira da Motta proibindo estrangeiros residentes no Imprio de adquirirem ou possurem escravos. 236

    Projeto de resoluo do Senador Visconde de Jequitinhonha considerando livre o ventre da escrava que tivesse sido legada ou doada para servio, por determinado tempo, sem a transmisso de domnio e sem a clusula expressa de voltar ao antigo cativeiro. 237

    Exposio de Motivo do Marqus de So Vicente (Pimenta Bueno) ao Imperador apresentando projetos de sua autoria. 241

    Projeto do Marqus de So Vicente, n 1 liberdade para os lhos de mulher escrava. 246

    Projeto do Marqus de So Vicente, n 2 criao de junta central protetora da emancipao em cada provncia. 248

    Projeto do Marqus de So Vicente, n 3 matrcula de escravos (isentos de taxa) na coletoria das respectivas parquias ou municpios. 253

    Projeto do Marqus de So Vicente, n 4 libertando todos os escravos em cinco anos. 255

    Projeto do Marqus de So Vicente, n 5 emancipao dos escravos de ordens religiosas. 256

    Trecho de Joaquim Nabuco sobre os projetos do Marqus de So Vicente. 258

    Decreto da Assemblia Geral Legislativa estabelecendo o conceito de livre ventre (reproduo do original). 262

    Projeto do Deputado Tavares Bastos mandando dar cartas de alforria a todos os escravos e escravas da Nao (aditivo Lei do Oramento) 26-6-1866. 264

    Fala de Trono de 22.5.1867 (cf, elemento servil). 267

    Discurso de Jos Bonifcio, sobre as questes nanceira e servil (sob enfoque econmico), em 17.7.1867. 270

    Projeto de Jos Thomaz Nabuco de Arajo sobre emancipao de escravos (fuso dos cinco projetos do Marqus de So Vicente, de 1866). de 20-8-1867. 322

    Redao nal do Projeto de Nabuco de Arajo, assinado pela Comisso que o estudou. 327

  • Projeto no 3, de 15.8.1870, do Deputado Teodoro M. F. Pereira da Silva (sobre penas para escravos). 341

    Projeto no 18, 23-5-1 870, do Deputado Arajo Lima (libertando os lhos de mulheres escravas). 342

    Projeto no 19, de 23-5-1.870, do Deputado Perdigo Malheiro (contra pena de aoites para escravos). 343

    Projeto no 20, de 23-5-1.870, do Deputado Perdigo Malheiro (sobre alforria). 344

    Projeto no 21, de 23-5-1.870, do Deputado Perdigo Malheiro (dando ao lho da mulher escrava a obrigao de servir gratuitamente ao senhor at 18 anos). 346

    Projeto no 22, de 23-5-1 870, do Deputado Perdigo Malheiro (sobre alforria). 348

    Projeto no 69, de 3-6-1 870, de Theodoro M, p, da Silva (registro de escravos). 348

    Projeto no 121, de 7-7-1 870, do Deputado Jos de Alencar (iseno de taxa dos escravos comprados para serem libertados). 350

    Relatrio da Comisso Especial da Cmara dos Deputados, encarregada de dar Parecer sobre o elemento servil. 351

    Projeto no 200, de 1.870, apresentado pela Comisso encarregada de dar Parecer sobre o elemento servil. 394

    Voto em separado de Rodrigo da Silva (membro da Comisso encarregada de dar Parecer sobre o elemento servil). 400

    Anexos do Parecer da Comisso. 427

    Parecer da Comisso Especial nomeada para estudar o Projeto (contendo a proposta e as emendas). 465

    Redao nal do Projeto na Cmara. 520

    Redao Final do Projeto no Senado. 525

    Lei no 2.040 de 28 de setembro de 1871. 525

    Reproduo do original do texto nal, do Projeto no Senado. 531

    Decreto no 4.815, de 11-11-1871 , regulamentando o art. 6o do 1o da Lei 2.040. 538

    Decreto no 4.835, de 1o-12-1871, aprova o regulamento para a matrcula especial dos escravos e dos lhos livres de mulher escrava. 541

    Decreto no 4.960, de 8-5-1.872, alterando o regulamento aprovado pelo Decreto no 4.835, na parte relativa matrcula dos lhos livres de mulher escrava. 563

    Decreto no 5.135, de 13-11-1.872, regulamentando a Lei no 2.040, de 28-9-1871 (Lei do Ventre Livre). 564

    Projeto no 30, de 1869, do Deputado Manoel Francisco Correa, concedendo loterias para libertao de escravos. 335

    Projeto no 31, de 1869, do Deputado Manoel Francisco Correa, mandando proceder a nova matrcula de escravos e considerando livres os que fossem dela excludos. 336

    Projeto s/no 1869, proibindo venda de escravos em leilo e em hasta pblica, (ACD, 1869, T II, p, 53). 337

    Decreto no 1.695, de 15-9-1869, proibindo venda de escravos em prego e em exposio pblica. 337

  • Projeto G, de 3-5-1.877, sobre o trco interprovincial (reproduo do original). 611

    Projeto de Lei de 8-10-1.877 (aditivo ao Projeto de Lei do Oramento para 1.877 -1.878) reproduo do original. 613

    Manifesto da Sociedade Brasileira contra a escravido. 619

    Discurso do Senador Silveira da Mota, em 26-6-1883, sobre a sentena dada por Juiz de Direito de Pouso Alto a respeito da liberdade de africano introduzido como escravo no Brasil depois da Lei Feij. 635

    Discurso do Senador Lafayette, em 27-6-1883 sobre requerimento do Senador Silveira da Mota. 641

    Discurso do Senador Christiano Ottoni, em 30-6-1883, na discusso do requerimento de Silveira da Mota e sobre matrcula de escravos. 645

    Manifesto da Confederao Abolicionista do Rio de Janeiro. 671

    Manifesto da Sociedade Abolicionista Baiana ressaltando o papel do legislador na luta pela Abolio e propondo medidas de libertao de escravos com 50 anos (para homens) e 45 (para mulheres) e xao do valor para o escravo e para seu trabalho (cf. auto-resgate pelo seu prprio servio). 593

  • 1823

  • A Representao de Jos Bonifcio de Andra-da e Silva estava para ser apresentada As-sembleia Geral Constituinte Legislativa do Imprio do Brasil, quando ela foi dissolvida (--). Jos Bonifcio, junto com outros deputados, foi preso e deportado. Existia, to-davia, uma cpia do documento com algum de sua confiana, o que permitiu dela se tomasse conheci mento. Essa Representao foi publi-cada em Paris no ano de . nela, Jos Boni-fcio mostra a necessidade de abolir o trfico da escravatura, de melhorar a forma de vida dos cativos e de promover a sua progressiva emancipao.

    Chama a ateno para o fato de sermos a ni-ca Nao de sangue europeu que ainda comer-cia clara e publicamente escravos africanos.

    A Representao uma verdadeira diatribe contra Portugal, a Igreja e o Clero da poca, assim como contra a ganncia dos brasileiros explorando os escravos na lavoura.

    Conclui com a apresentao de um projeto em que solicita o trmino do comrcio de escrava-tura africana em quatro ou cinco anos, exor-tando os legisladores a colabo rarem nesse trabalho.

  • Ano t

    Representao de Jos Bonifcio

    Representao de Jos Bonifcio Assembleia Geral Constituinte Legislativa do Imprio do Brasil.

    Chegada a poca feliz da regenerao poltica da Nao brasileira, e devendo todo o cidado honrado e instrudo concorrer para to grande obra, tambm eu me lisonjeio que poderei levar ante a As-sembleia Geral Consti tuinte e Legislativa algumas ideias, que o estu-do e a experincia tm em mim excitado e desenvolvido.

    Como cidado livre e deputado da Nao, dois objetos me pare-cem ser, fora a Constituio, de maior interesse para a prosperidade futura deste Imprio. O primeiro um novo regulamento para pro-mover a civilizao geral dos ndios no Brasil, que faro com o andar do tempo inteis os escravos - cujo esboo j comuniquei a esta As-sembleia. E o segundo, uma nova lei sobre o comrcio da escravatura e tratamento dos miserveis cativos. Este assunto faz o objeto da atu-al representao. Nela me proponho mostrar a necessidade de abolir o trco da escravatura, de melhorar a sorte dos atuais cativos, e de promover a sua progressiva emancipao.

    Quando verdadeiros cristos e lantropos levantaram a voz pela primeira vez na Inglaterra contra o trco de escravos africanos, hou-ve muita gente interesseira ou preocupada que gritou ser impossvel ou no poltica a abolio porque as colnias britnicas no podiam escusar um tal comrcio sem uma total destruio: todavia, passou o bill e no e arruinaram as colnias. Hoje em dia que Wilberforces e Buxtons trovejam de novo no Parlamento a favor da emancipao progressiva dos escravos, agitam-se outra vez os inimigos da huma-nidade como outrora: mas espero da Justia e generosidade do povo ingls, que se conseguir a emancipao, como j se conseguiu a abo-lio de to infame trco. E porque os brasileiros somente continu-aram a ser surdos aos gritos da razo e da religio crist, e direi mais, da honra e brio nacional? Pois somos a nica Nao de sangue euro-peu que ainda comercia clara e publicamente os escravos africanos.

    Eu tambm sou cristo, lantropo e Deus me anima para ousar le-vantar a minha fraca voz no meio desta augusta assembleia a favor da causa da justia, e ainda da sua poltica, causa a mais nobre e santa, animar coraes generosos e humanos. Legisladores, no temais os

  • A Abolio no Parlamento: anos de luta t Volume I

    urros do srdido interesse; cumpre progredir sem pavor na carreira da justia e da regenerao poltica; mas todavia cumpre que sejamos precavidos e prudentes. Se o antigo despotismo foi insensvel a tudo, assim lhe convinha ser por utilidade prpria: queria que fssemos um povo mesclado e hetero gneo, sem nacionalidade, e sem irman-dade, para melhor nos escravizar. Graas aos cus, e a nossa posio geogrca, j somos um povo livre e independente.

    Mas como poder haver uma Constituio liberal e duradoura em um pas continuamente habitado por uma multido imensa de escra-vos brutais e inimigos? Comecemos, pois, esta grande obra pela ex-piao de nossos crimes e pecados velhos. Sim, no se trata somente de sermos justos, devemos tambm ser penitentes: devemos mostrar face de Deus e dos outros homens que nos arrependemos, e tudo o que nesta parte temos obrado h sculos contra a justia e contra a religio, que nos bradam acordes que no faamos aos outros o que queremos que no faam a ns. preciso, pois, que cessem de uma vez os roubos, incndios, e guerras que fomentamos entre os selvagens da frica. preciso que no venham mais a nossos por-tos milhares e milhares de negros, que morriam abafados no poro de nossos navios, mais apinhados que fardos de fazenda: preciso que cessem de uma vez todas essas mortes e martrios sem conta, com que agelvamos e agelamos ainda esses desgraados em nos-so prprio territrio. tempo, pois, e mais que tempo, que acabemos com um trco to brbaro e carniceiro; tempo tambm que vamos acabando gradualmente at os ltimos vestgios da escravido entre ns, para que venhamos a formar em poucas geraes uma Nao homognea, sem o que nunca sere mos verdadeiramente livres, res-peitveis e felizes. da maior necessidade ir acabando tanta hete-rogeneidade f sica e civil; cuidemos pois em combinar desde j, em combinar sabiamente tantos elementos discordes e contrrios, e em amalgamar tantos metais diversos, para que saia um todo homog-neo e compacto, que no se esfarele ao pequeno toque de qualquer nova convul so poltica. Mas que cincia qumica e que desteridade no so precisas aos operadores de to grande e dif cil manipulao? Sejamos sbios e prudentes, porm, constantes sempre.

    Com efeito, senhores, nao nenhuma talvez pecou mais contra a huma nidade do que a portuguesa de que fazamos outrora parte. Andou sempre devastando no s as terras da frica e da sia, como

  • Ano t

    disse Cames, mas igualmente as do nosso Pas. Foram os portugue-ses os primeiros que, desde o tempo do infante D. Henrique, zeram um ramo de comrcio legal de prear homens livres e vend-los como escravos nos mercados europeus e americanos. Ainda hoje, perto de 40 mil criaturas humanas so anual mente arrancadas da frica, pri-vadas de seus lares, de seus pais, lhos e irmos, transportadas s nossas regies, sem a menor esperana de respirarem outra vez os ptrios ares, e destinadas a trabalhar toda a vida debaixo do aoite cruel de seus senhores, elas, seus lhos, e os lhos de seus lhos para todo e sempre!

    Se os negros so homens como ns e no formam uma espcie de brutos animais; se sentem e pensam como ns, que quadro de dor e de misria no apresentam eles imaginao de qualquer homem sensvel e cristo? Se os gemidos de um bruto nos condoem, im-possvel que deixemos de sentir tambm certa dor simptica com as desgraas e misrias dos escravos; mas tal o efeito do costume e a voz da cobia que veem homens correr lgrimas de outros homens, sem que estas lhes premam dos olhos uma s gota de compaixo e de ternura. Mas a cobia no sente nem discorre como a razo e a humanidade. Para lavar-se pois das acusaes que merecia lanou sempre mo e ainda agora lana de mil motivos capciosos, com que pretende fazer a sua apologia; diz que um ato de caridade trazer escravos da frica, porque assim, escapam esses desgraados de se-rem vtimas de despticos reis; diz igualmente que, se no viessem esses escravos, cariam privados da luz do evangelho, que todo cris-to deve promo ver e espalhar; diz que esses infelizes mudam de um clima e pas ardente e horrvel para outro doce, frtil e ameno; diz, por m, que devendo os criminosos e prisioneiros de guerra serem mortos imediatamente pelos seus brbaros costumes um favor que se lhes faz, conservar a vida, ainda que seja em cativeiro.

    Homens perversos e insensatos! Todas essas razes apontadas va-leriam alguma coisa se vs fosseis buscar negros frica para lhes dar liberdade no Brasil e estabelec-los como colonos; mas perpetuar a escravido, fazer esses desgraados mais infelizes do que seriam, se alguns fossem mortos pela espada da injustia, e at dar azos certos para que se perpetuem tais horrores de certo um atentado manifes-to contra as leis eternas da justia e da religio. E por que continua-ram e continuam a ser escravos os lhos desses africanos? Comete-

  • A Abolio no Parlamento: anos de luta t Volume I

    ram eles crimes? Foram apanhados em guerra? Mudaram de clima ruim para outro melhor? Saram das trevas do paganismo para a luz do Evangelho? No, todavia, seus lhos e lhos desses lhos devem, segundo vs, ser desgraados para todo o sempre. Fala pois contra vs a justia e a religio, e s vs podeis escorar no brbaro direito pblico das antigas naes, e principalmente na farragem das chama-das leis romanas: com efeito, os apologistas da escravido escudam--se com os gregos e romanos, sem advertirem que entre os gregos e romanos no estavam ainda bem desenvolvidos e demonstrados os princpios eternos do direito natural e os da religio; e todavia, como os escravos de ento eram da mesma cor e origem dos senhores, e igualmente tinham a mesma, ou quase igual, civilizao que a de seus amos, sua indstria, bom comportamento e talentos os habilitavam facilmente a merecer o amor de seus senhores, e a considerao dos outros homens; o que de nenhum modo pode acontecer em regra aos selvagens africanos.

    Se ao menos os senhores de negros no Brasil tratassem esses miser veis com mais humanidade, eu certamente no escusaria, mas ao menos me condoeria da sua cegueira e injustia. Porm, o habi-tante livre no Brasil, e mormente o europeu, no s, pela maior par-te, surdo s vozes da justia e aos sentimentos do evangelho, mas at cego a seus prprios interesses pecunirios e felicidade domstica da famlia.

    Com efeito, imensos cabedais saem anualmente deste Imprio para a frica; e imensos cabedais se amortizam dentro deste vasto pas, pela compra de escravos, que morrem, adoecem, e se inutili-zam, e demais pouco trabalham. Que luxo intil de escravatura tam-bm no apresentam nossas vilas e cidades, que sem eles poderiam limitar-se a poucos e necessrios criados? Que educao podem ter as famlias, que se servem destes entes infelizes, sem honra nem re-ligio? De escravas que se prostituem ao primeiro que as procura? Tudo porm se compensa nesta vida; ns tiranizamos os escra vos, e os reduzimos a brutos animais, e eles nos inoculam toda a sua imo-ralidade, e todos os seus vcios.

    E, na verdade, senhores, se a moralidade e a justia social de qual-quer povo se fundem, parte nas suas instituies religiosas e polticas e parte na losoa, para dizer assim, domstica de cada famlia, que quadro pode apresentar o Brasil, quando o consideramos debaixo

  • Ano t

    destes dois pontos de vista? Qual a religio que temos, apesar da be-leza e santidade do Evangelho, que dizemos seguir? A nossa religio pela maior parte um sistema de supersties e de abusos antissociais; o nosso clero, em muita parte ignorante e corrompido, o primeiro que se serve de escravos, e os acumula para enriquecer pelo comr-cio, e pela agricultura, e para formar, muitas vezes, das desgraadas escravas um harm turco. As famlias no tm educa o, nem a po-dem ter com o trco de escravos, nada as pode habituar a conhecer e amar a virtude e a religio. Riquezas e mais riquezas gritam os nos-sos pseudoestadistas, os nossos compradores e vendedores de carne humana; os nossos sabujos eclesisticos; os nossos magistrados, se que se pode dar um to honroso ttulo a almas, pela maior parte, venais, que s empunham a vara da Justia para oprimir desgraa-dos, que no podem satisfazer cobia, ou melhorar a sua sorte. E ento, senhores, como pode grelar a justia e a virtude e orescerem os bons costumes entre ns? Senhores, quando me emprego nestas tristes consideraes, quase que perco de todo as esperanas de ver o nosso Brasil um dia regenerado e feliz, pois que se me antolha que a ordem das vicissitudes humanas est de todo invertida no Brasil. O luxo e a corrupo nasceram entre ns antes da civilizao e da in-dstria; e qual ser a causa principal de um fen meno to espantoso? A escravido, senhores, a escravido, porque o homem, que conta com os jornais de seus escravos, vive na indolncia, e a indolncia traz todos os vcios aps si.

    Diz porm a cobia cega que os escravos so precisos no Bra-sil, porque a gente dele frouxa e preguiosa. Mentem por certo. A Provncia de So Paulo, antes da criao dos engenhos de acar, tinha poucos escravos, e todavia crescia anualmente em povoao e agricultura, e sustentavam de milho, feijo, farinha, arroz, toucinhos, carnes de porco etc., a muitas outras provncias martimas e interio-res. Mas conceda-se (caso negado) que com efeito a gente livre do Brasil no pode com tantos trabalhos aturados da lavoura, como na Europa, pergunto, se produzindo o milho, por exemplo em Portugal, nas melhores terras quarenta por um, e no Brasil acima de duzentos, e as mais sementeiras proporo; e estando as horas do trabalho necessrio da lavoura na razo inversa do produto da mesma; para que se precisa de maior robustez e trabalhos mais aturados? Os la-vradores da ndia so, porventura, mais robustos do que um branco,

  • A Abolio no Parlamento: anos de luta t Volume I

    um mulato, um cabra do Brasil? No por certo, e todavia no morre aquele povo de fome. E por que eles no tm escravos africanos, dei-xam as suas terras de ser agricul tadas, e o seu pas um dos mais ricos da Terra, apesar de sua pssima religio e governo, e da impoltica infernal da diviso em castas?

    Hoje em dia, a cultura dos canaviais e fabricao do acar tm crescido prodigiosamente, cujo produto j rivaliza nos mercados p-blicos da Europa com o do Brasil e ilhas do Golfo do Mxico.

    Na Conchinchina no h escravos, e todavia a produo e expor-tao do acar j montava em 1750, segundo nos diz o sbio Poivre, a 40 mil pipas de duas mil libras cada uma, e o seu preo era barats-simo no mercado; ora, advirta-se que todo este acar vinha de um pequeno pas sem haver necessidade de estragar matas e esterilizar terrenos, como desgra adamente entre ns est sucedendo.

    Demais, uma vez que acabe o pssimo mtodo da lavoura de des-truir matas e esterilizar terrenos em rpida progresso, e se forem in-troduzindo os melhoramentos da cultura na Europa, de certo poucos braos, a favor dos arados e outros instrumentos rsticos, a agricul-tura ganhar ps diaria mente, as fazendas sero estveis, e o terreno, quanto mais trabalhado, mais frtil car. A natureza prvida e sbia em toda e qualquer parte do globo d os meios precisos aos ns da sociedade civil, e nenhum pas necessita de braos estranhos e fora-dos para ser rico e cultivado.

    Alm disto, a introduo de novos africanos no Brasil no aumen-ta a nossa populao, e s serve de obstar a nossa indstria. Para provar a primeira tese bastar ver com ateno o censo de cinco ou seis anos passa dos, e ver-se- que apesar de entrarem no Brasil, como j disse, perto de 40 mil escravos anualmente, o aumento desta classe ou nulo, ou de muito pouca monta: quase tudo morre ou de mis-ria, ou de desesperao, e todavia custaram imensos cabedais, que se perderam para sempre, e que nem sequer pagaram o juro do dinheiro empregado.

    Para provar a segunda tese, que a escravatura deve obstar a nossa indstria, basta lembrar que os senhores que possuem escravos vi-vem, em grandssima parte na inrcia, pois no se vem precisados pela fome ou pobreza a aperfeioar sua indstria, ou melhorar sua lavoura. Demais continuando a escravatura a ser empregada exclu-sivamente na agricultura e nas artes, ainda quando os estrangeiros

  • Ano t

    pobres venham estabelecer-se no pas, em pouco tempo, deixam de trabalhar na terra com seus prprios braos e logo que podem ter dois ou trs escravos entregam-se vadiao e desleixo, pelos caprichos de um falso pundonor. As artes no se melhoraram: as mquinas que poupam braos, pela abundncia extrema de escravos nas povoaes grandes so desprezadas. Causa raiva ou riso ver vinte escravos ocu-pados em transportar vinte sacos de acar, que podiam conduzir uma ou duas carretas bem construdas com dois bois ou duas bestas muares. A lavoura do Brasil, feita por escravos boais e preguiosos, no d os lucros com que homens, ignorantes e fanticos se iludem. Se calculamos o custo da aquisio do terreno, os capitais emprega-dos nos escravos que devem cultivar, o valor dos instrumentos rurais com que devem trabalhar cada escravo, sustento e vesturio, mols-tias reais e afetadas e seu curativo, as mortes numerosas, lhas de mau tratamento e da desesperao, as repetidas fugidas aos matos e quilombos, claro ca que o lucro da lavoura deve ser muito pequeno no Brasil, ainda apesar da prodigiosa, fertilidade de suas terras, como mostra a experincia.

    No Brasil, a renda dos prdios rsticos no depende da exten-so e valor do terreno, nem dos braos que o cultivam, mas sim da mera indstria e inteligncia do lavrador. Um senhor de terra de fato pobrssimo, se pela sua ignorncia ou desmazelo no sabe tirar proveito da fertilidade de sua terra, e dos braos que nela emprega. Eu desejava, para bem seu, que os possuidores de grande escravatu-ra conhecessem que a proibio do trco de carne humana os far mais ricos; porque seus escravos atuais viro a ter ento maior valor, e sero por interesse seu mais bem tratados. Os senhores promove-ro os casamentos e estes populao. Os forros aumentando, para ganharem a vida, aforaro pequenas pores de terras descobertas ou taperas, que hoje nada valem.

    Os bens rurais sero estveis, e a renda da terra no se confundir com a do trabalho e indstria individual.

    No so s estes males particulares que traz consigo a grande escravatura no Brasil, o Estado ainda mais prejudicado. Se os se-nhores de terras no tivessem uma multido demasiada de escravos, eles mesmos aproveitariam terras j abertas e livres de matos, que hoje jazem abandonadas como maninhas. Nossas matas preciosas em madeiras de construo civil e nutica no seriam destrudas

  • A Abolio no Parlamento: anos de luta t Volume I

    pelo machado assassino do negro, e pelas chamas devastadoras da ignorncia. Os cumes de nossas serras, fonte perene de umidade e fertilidade para as terras baixas, e de circulao eltrica, no esta-riam escalvados e tostados pelos ardentes estios do nosso clima. pois evidente que, se a agricultura se zer com os braos livres dos pequenos proprietrios, ou por jornaleiros, por necessidade e inte-resse sero aprovei tadas essas terras, mormente nas vizinhanas das grandes povoaes, onde se acha sempre um mercado certo, pronto e proveitoso, e deste modo se conservaro, como herana sagrada para nossa posteridade, as antigas matas virgens, que pela sua vastido e frondosidade caracterizam o nosso belo pas.

    de espantar pois que um trco to contrrio s leis da moral humana, e s santas mximas do evangelho, e at contra as leis de uma s poltica, dure h tantos sculos entre homens que se dizem civilizados e cristos! Mentem, nunca o foram.

    A sociedade civil tem por base primeira a justia, e por m prin-cipal a felicidade dos homens; mas que justia tem um homem para roubar a liberdade de outro homem, e o que pior, dos lhos deste homem, e dos lhos destes lhos? Mas diro que se favorecerdes a liberdade dos escravos ser atacar a propriedade. No vos iludais, senhores, a propriedade foi sancionada para bem de todos, e qual o bem que tira o escravo de perder todos os seus direitos naturais, e se tornar de pessoa a coisa, na frase dos jurisconsultos? No pois o direito de propriedade que querem defender, o direito da fora, pois que o homem, no podendo ser coisa, no pode ser objeto de propriedade. Se a lei deve defender a propriedade, muito mais deve defender a liberdade pessoal dos homens, que no pode ser proprie-dade de ningum, sem atacar os direitos da providncia, que fez os homens livres, e no escravos; sem atacar a ordem moral das socie-dades, que a execuo estrita de todos os deveres prescritos pela natureza, pela religio e pela s poltica: ora, a execuo de todas estas obrigaes o que constitui a virtude; e toda legislao e todo governo (qualquer que seja a sua forma) que a no tiver por base, como a esttua de Nabucodonosor, que uma pedra desprendida da monta nha a derribou pelos ps; um edif cio fundado em areia solta, que a mais pequena borrasca abate e desmorona.

    Gritam os tracantes de carne humana contra os piratas barba-rescos, que cativam por ano mil, ou dois mil brancos, quando muito,

  • Ano t

    e no gritam contra dezenas de milhares de homens desgraados, que arrancamos de seus lares, eternizando em dura escravido toda a sua gerao. No basta responder que os compramos com o nos-so dinheiro; como se dinheiro pudesse comprar homens! Como se a escravido perptua no fosse um crime contra o direito natural, e contra as leis do Evangelho, como disse. As leis civis, que consen tem estes crimes, so no s culpadas de todas as misrias que sofre esta poro da nossa espcie, e de todas as mortes e delitos que come-tem os escravos, mas igualmente o so de todos os horrores, que em poucos anos deve produzir uma multido imensa de homens deses-perados, que j vo sentindo o peso insuportvel da injustia, que os condena a uma vileza e misria sem m.

    Este comrcio de carne humana pois um cancro que ri as en-tranhas do Brasil, comrcio, porm, que hoje em dia j no preciso para aumento da sua agricultura e povoao, uma vez que, por sbios regulamentos, no se consinta a vadiao dos brancos, e outros ci-dados mesclados, e a dos forros; uma vez que os muitos escravos que j temos, possam, s abas de um governo justo, propagar livre e naturalmente com as outras classes, uma vez que possam bem criar e sustentar seus lhos, tratando-se esta desgraada raa africana com maior cristandade, at por interesse prprio; uma vez que se cuide enm na emancipao gradual da escravatura, e se convertam brutos imorais em cidados teis, ativos e morigerados.

    Acabe-se pois de uma vez o infame trco da escravatura africa-na; mas com isto no est tudo feito; tambm preciso cuidar seria-mente em melhorar a sorte dos escravos existentes, e tais cuidados so j um passo dado para a sua futura emancipao.

    As leis devem prescrever estes meios, se que elas reconhecem que os escravos so homens feitos imagem de Deus. E se as leis os consideram como objetos de legislao penal, por que o no sero tambm da proteo civil?

    Torno a dizer porm que eu no desejo ver abolida de repente a escra vido; tal acontecimento traria consigo grandes males. Para emancipar escra vos sem prejuzo da sociedade, cumpre faz-los pri-meiramente dignos da liberdade: cumpre que sejamos forados pela razo e pela lei a convert-los gradualmente de vis escravos em ho-mens livres e ativos. Ento os moradores deste Imprio, de cruis que so em grande parte neste ponto, se tornaro cristos e justos,

  • A Abolio no Parlamento: anos de luta t Volume I

    e ganharo muito pelo andar do tempo, pondo em livre circulao cabedais mortos, que absorve o uso da escravatura: livrando as suas famlias de exemplos domsticos de corrupo e tirania; de inimigos seus e do estado; que hoje no tm ptria, e que podem vir a ser nos-sos irmos, e nossos compatriotas.

    O mal est feito, senhores, mas no o aumentemos cada vez mais; ainda tempo de emendar a mo. Acabado o infame comrcio de escravatura, j que somos forados pela razo poltica a tolerar a existncia dos atuais escravos, cumpre em primeiro lugar favorecer a sua gradual emancipao, e antes que consigamos ver o nosso pas livre de todo deste cancro, o que levar tempo, desde j abrandemos os sofrimentos dos escravos, favore amos e aumentemos todos os seus gozos domsticos e civis; instruamo-los no fundo da verdadeira religio de Jesus Cristo, e no em momices e supers ties: por todos estes meios ns lhes daremos toda a civilizao de que so capazes no seu desgraado estado, despojando-os o menos que puder mos da dignidade de homens e cidados. Este no s o nosso dever, mas o nosso maior interesse, porque s ento conservando eles a esperana de virem a ser um dia nossos iguais em direitos, e comeando a gozar desde j da liberdade e nobreza da alma, que s o vcio capaz de roubar-nos, eles nos serviro com delidade e amor; de inimigos se tornaro amigos e clientes. Sejamos pois justos e bencos, senhores, e sentiremos dentro da alma que no h situao mais deliciosa que a de um senhor carinhoso e humano, que vive sem medo e contente no meio de seus escravos, como no meio da sua prpria famlia, que admira e goza do fervor com que esses desgraados adivinham seus desejos, e obedecem a seus mandos, observa com jbilo celestial e como maridos e mulheres, lhos e netos, sos e robustos, satisfeitos e risonhos, no s cultivam suas terras para enriquec-lo, mas vm voluntariamente oferecer-lhe at as premissas dos frutos de suas ter-rinhas, de sua caa e pesca, como a um Deus tutelar. tempo pois, que esses senhores brbaros, que por desgraa nossa ainda pululam no Brasil, ouam os brados de conscincia e da humanidade ou pelo menos o seu prprio interesse, seno mais cedo do que pensa, sero punidos das suas injustias, e da sua incorrigvel barbaridade.

    Eu vou, nalmente, senhores, apresentar-vos os artigos, que po-dem ser objeto da nova lei que requeiro: discuti-os, emendai-os, am-pliai-os segun do a vossa sabedoria e justia. Para eles me aproveitei

  • Ano t

    da legislao dos dinamarqueses e espanhis, e principalmente da legislao de Moiss, que foi o nico, entre os antigos, que se con-doeu da sorte miservel dos escravos, no s por humanidade, que tanto reluz nas suas instituies, mas tambm pela sbia poltica de no ter inimigos caseiros, mas antes amigos, que pudessem defender o novo Estado dos hebreus, tomando as armas, quando preciso fosse, a favor de seus senhores, como j tinham feito os servos do patriarca Habraho antes dele.

    Artigo Dentro de quatro a cinco anos cessar inteiramente o comrcio da escravatura africana; e durante este prazo, de todo escravo varo que for importado se pagar o dobro dos direitos existentes; das escravas porm s a metade; para se favorecer os casamentos.

    Artigo Todo escravo, que for vendido depois da publicao desta Lei, quer seja vindo da frica, quer dos j existentes no Brasil, ser registrado em um livro pblico de notas, no qual se declarar o preo por que foi vendido. Para que este artigo se execute risca ca autorizado qualquer cidado a acusar a sua infrao, e provado o fato, receber metade do valor do escravo dos contratantes que o subnegaram ao registro.

    Artigo Nas alforrias dos escravos, cujo preo de venda no constar do re-gistro, se proceder a uma avaliao legal por jurados, um dos quais ser nomeado pelo senhor, e outro pela autoridade pblica a quem competir.

    Artigo Nestas avaliaes se atender aos anos de cativeiro e servio do es-cravo, ao estado de sade, idade do mesmo: por exemplo, as crian-as at um ano s pagaro o 12 do valor do homem feito; as de um at cinco s o sexto; as de cinco at 15 dois teros; as de 15 at 20 trs quartos; de 20 at 40 o preo total; e da para cima ir diminuindo o valor proporo.

    Artigo Todo escravo, ou algum por ele, que oferecer ao senhor o valor por que foi vendido, ou porque for avaliado, ser imediatamente forro.

  • A Abolio no Parlamento: anos de luta t Volume I

    Artigo Mas se o escravo, ou algum por ele, no puder pagar todo preo por inteiro, logo que apresentar a sexta parte dele, ser o senhor obrigado a receb-la, e lhe dar um dia livre na semana, e assim proporo mais dias, quando for recebendo as outras sextas partes at o valor total.

    Artigo O senhor que forrar escravos gratuitamente, em prmio da sua bene cncia, poder reter o forro em seu servio por cinco anos, sem lhe pagar jornal, mas s o sustento, curativo e vesturio: mas se um estranho o forrar na forma dos artigos 5 e 6 poder contratar com o forro o modo da sua indeni zao em certos dias de trabalho, cujo contrato ser revisto e aprovado pelo juiz policial curador dos escravos.

    Artigo Todo senhor que forrar escravo velho, ou doente incurvel, ser obriga do a sustent-lo, vesti-lo e trat-lo durante sua vida, se o forro no tiver outro modo de existncia: e no caso de o no fazer, ser o forro recolhido ao hospital, ou casa de trabalho custa do senhor.

    Artigo Nenhum senhor poder vender escravo casado com escrava sem vender ao mesmo tempo, e ao mesmo comprador, a mulher e os -lhos menores de 12 anos. A mesma disposio tem lugar a respeito da escrava no casada e seus lhos dessa idade.

    Artigo Todos os homens de cor forros, que no tiverem of cio ou modo cer-to de vida, recebero do estado uma pequena sesmaria de terra para cultivarem, e recebero outrossim dele os socorros necessrios para se estabelecerem, cujo valor iro pagando com o andar do tempo.

    Artigo Todo senhor que andar amigado com escrava, ou tiver tido dela um ou mais lhos, ser forado pela lei a dar a liberdade me e aos -lhos, e a cuidar na educao destes at a idade de quinze anos.

    Artigo O escravo senhor legal de seu peclio, e poder por herana ou por doao deix-lo a quem quiser, no caso de no ter herdeiros forados: e se morrer abintestado, e sem herdeiros, herdar a Caixa de Piedade.

  • Ano t

    Artigo O senhor no poder castigar o escravo com surras, ou castigos cru-is, seno no pelourinho pblico da cidade, vila, ou arraial, obtida licena do juiz policial, que determinar o castigo vista do delito: e qualquer que for contra esta determinao ser punido com pena pe-cuniria arbitrria e bem da Caixa de Piedade, dado porm recurso ao Conselho Conservador da Provncia.

    Artigo Todo escravo que mostrar perante o juiz policial, ou Conselho Pro-vincial Conservador, que tem sido cruelmente maltratado por seu senhor, tem direito de buscar novo senhor; mas se for estropiado, ou mutilado barbaramente, ser imediatamente forro pela lei.

    Artigo Os escravos podem testemunhar em juzo no contra os prprios senho res, mas contra os alheios.

    Artigo Antes da idade de 12 anos no devero os escravos ser empregados em trabalhos insalubres e demasiados; e o conselho vigiar sobre a execuo deste artigo para bem do estado e dos mesmos senhores.

    Artigo Igualmente os Conselhos Conservadores determinaro em cada provn cia, segundo a natureza dos trabalhos, as horas de trabalho, e o sustento e vesturio dos escravos.

    Artigo A escrava, durante a gravidez e passado o terceiro ms, no ser obri-gada a servios violentos e aturados; no oitavo ms s ser ocupada em casa; depois do parto ter um ms de convalescena; e passado este, durante um ano no trabalhar longe da cria.

    Artigo Tendo a escrava o primeiro lho vingado, se engravidar de novo, ter alm do que acima ca determinado, uma hora de descanso mais fora das horas estabelecidas; e assim proporo dos lhos vingados que for tendo: car forra logo que tiver cinco lhos, porm sujeita a obedecer e morar com o marido se for casada.

    Artigo O senhor no poder impedir o casamento de seus escravos com mulhe res livres, ou com escravas suas, uma vez que aquelas se

  • A Abolio no Parlamento: anos de luta t Volume I

    obriguem a morar com seus maridos, ou estas queiram casar com livre vontade.

    Artigo O governo ca autorizado a tomar as medidas necessrias para que os senhores de engenho e grandes plantaes de cultura tenham pelo menos dois teros de seus escravos casados.

    Artigo Dar igualmente todas as providncias para que os escravos sejam ins trudos na religio e moral, no que ganha muito, alm da felicida-de eterna, a subordinao e delidade devida dos escravos.

    Artigo O governo procurar convencer os procos, e outros eclesisticos, que tiverem meios de subsistncia, que a religio os obriga a dar li-berdade a seus escravos, e a no fazer novos infelizes.

    Artigo Para que no faltem os braos necessrios agricultura e indstria, colocar, o governo, em execuo ativa, as leis policiais contra os vadios e mendi gos, mormente sendo estes homens de cor.

    Artigo Nas manumisses que se zerem pela Caixa de Piedade sero prefe-ridos os mulatos aos outros escravos, e os crioulos aos da Costa.

    Artigo O dia dessas manumisses ser um dia de festa solene com assistn-cia das autoridades civis e eclesisticas.

    Artigo Para recompensar a benecncia e sentimentos de religio e justia, todo senhor que der alforria a mais de oito famlias de escravos, e lhe distribuir terras e utenslios necessrios, ser contemplado pelo governo como benemrito da ptria, e ter direito a requerer mercs e condecoraes pblicas.

    Artigo Para exercitar o amor do trabalho entre os escravos e sua maior felici-dade domstica, estabelecer o governo em todas as provncias caixas de economia, como as de Frana e Inglaterra, onde os escravos possam pr a render os produtos pecunirios dos seus trabalhos e indstrias.

    Artigo Na Caixa de Piedade acima mencionada, alm das penas pecuni-rias j estabelecidas, entraro: 1) a metade mais das quantias que

  • Ano t

    custarem as despesas eclesisticas de missa em casa, batizar e casar fora da matriz etc.; 2) as duas teras partes dos legados pios, que pelo Alvar de 5 de setembro de 1786, foram aplicados para o Hospi-tal Real e casa de expostos de Lisboa; 3) os bens vacantes sem her-deiros e senhores certos, que de tempo imemorial foram doados aos cativos, e tudo mais que lhes aplicado na lei de dezembro de 1775; 4) o dzimo do rendimento das irmandades e confrarias, o qual ser cuidadosamente arrecadado e entregue pelos magis trados, que es-to encarregados de lhes tomar conta; 5) um por cento da renda de todas as propriedades rsticas e urbanas dos conventos e mostei ros, o qual ser arrecadado e scalizado religiosamente pelo bispos ou autoridades superiores das provncias; 6) uma joia determinada pelo regi mento geral, que se dever fazer, a qual devero dar todos os que obtiverem mercs de hbitos de Cristo, ou de honras e foros passados pela mordo mia-mor do Imprio; 7) enm, mais um meio por cento, que devero pagar os que arrematarem contratos e rendas nacionais.

    Artigo Fica, outrossim, autorizada esta caixa a receber e administrar todos os legados e doaes que lhe hajam de fazer, como de esperar, todas as almas pias e generosas.

    Artigo Para vigiar na estrita execuo da lei, e para se promover por todos os modos passveis o bom tratamento, morigerao e emancipao sucessiva dos escravos, haver na capital de cada provncia um Con-selho Superior Conservador dos escravos, que ser composto do presidente da provncia, do bispo, ou em falta deste, da maior auto-ridade eclesistica, do magistrado civil da maior graduao, e de dois membros mais, escolhidos pelo governo dentre os Conselheiros Pro-vinciais. Presidiro por turno e mensalmente o presidente e o bispo.

    Artigo Alm deste conselho, haver nas vilas e arraiais uma mesa composta do proco, capito-mor, e juiz de vara branca ou ordinrio, ou em sua falta de um homem bom e dos mais honrados e virtuosos do povo, escolhido pelo conselho. Esta mesa decidir sumariamente dos ne-gcios e causas que lhe pertencerem, e dar apelao e agravo para o conselho, que tambm decidir anal sumariamente.

  • A Abolio no Parlamento: anos de luta t Volume I

    So procuradores e scais natos os juzes andadores das irmanda-des e confrarias dos homens de cor, que existirem na capital, ou nas vilas e arraiais das provncias.

    Eis aqui tendes, senhores, o que me sugerira por hora o amor da ptria, e o zelo da justia e da piedade crist. A vs compete corrigir, aumentar, e aperfeioar o meu magro e desalinhado trabalho; e a mim me bastar a consolao de haver excitado mais esta vez a vossa aten-o sobre um assunto to ponderoso quanto necessrio. O vastssi-mo Brasil, situado no clima o mais ameno e temperado do universo, dotado da maior fertilidade natural, rico de numerosas produes, prprias suas, e capaz de mil outras que facilmente se podem nele cli-matizar, sem os gelos da Europa, e sem os ardores da frica e da n-dia, pode e deve ser civilizado e cultivado sem as fadigas demasiadas de uma vida inquieta e trabalhada, e sem os esforos alambicados das artes e comrcios exclusivos da velha Europa. Dai-lhe que goze da li-berdade civil, que j tem adquirido; dai-lhe maior instruo e morali-dade, desvelai-vos em aperfeioar a sua agricultura, em desempear e fomentar a sua indstria artstica, em aumentar e melhorar suas estradas e a navega o de seus rios; empenhai-vos em acrescentar a sua povoao livre, destruin do de um golpe o peonhento cancro que o roi, e que enfraquece a sua fora militar, fora to necessria nas atuais circunstncias, que no pode tirar de um milho de escravos, e mais, que desgraadamente fazem hoje em dia um tero pelo menos da sua mesclada populao: ento ele ser feliz e poderoso. A natu-reza fez tudo a nosso favor, ns porm pouco ou nada temos feito a favor da natureza. Nossas terras esto ermas, e as poucas, que temos roteado, so mal cultivadas, porque o so por braos indolentes e forados; nossas numerosas minas, por falta de trabalhadores ativos e instrudos, esto desconhecidas, ou mal aproveitadas; nossas pre-ciosas ma tas vo desaparecendo, vtimas do fogo e do machado des-truidor da igno rncia e do egosmo; nossos montes e encostas vo-se escaIvando diaria mente, e com o andar do tempo faltaro as chuvas fecundantes, que favore am a vegetao, e alimentem nossas fontes e rios, sem o que o nosso belo Brasil em menos de dois sculos car reduzido aos pramos e desertos ridos da Lbia. Vir ento esse dia (dia terrvel e fatal) em que a ultrajada natureza se ache vingada de tantos erros e crimes cometidos.

  • Ano t

    Eia pois, legisladores do vasto Imprio do Brasil, basta de dormir: tempo de acordar do sono amortecido, em que h sculos jazemos. Vs sabeis, senhores, que no pode haver indstria segura e verdadeira, nem agricultura orescente e grande com braos de escravos viciosos e boais.

    Mostram a experincia e a razo que a riqueza s reina onde imperam a liberdade e a justia, e no onde mora o cativei-ro e a corrupo. Se o mal est feito, no o aumentemos, senho-res, multiplicando cada vez mais o nmero de nossos inimigos domsticos, desses vis escravos, que nada tm que perder, antes tudo que esperar de alguma revoluo como a de So Domingos. Ouvi pois, torno a dizer, os gemidos da cara ptria, que implora socor-ro e patrocnio: pelejemos denodadamente a favor da razo e da humanidade, e a favor de nossos prprios interesses. Embora contra ns uivem e ronquem o egosmo e a vil cobia, sua perversa indig-nao, e seus desentoados gritos sejam para ns novos estmulos de triunfo, seguindo a estrada limpa da verdadeira poltica, que lha da razo e a moral.

    E vs, tracantes de carne humana, vs senhores injustos e cruis, ouvi com rubor e arrependimento, se no tendes ptria, a voz impe-riosa da conscincia, e os altos brados da impaciente humanidade; alis, mais cedo talvez do que pensais, tereis que sofrer terrivelmente da vossa voluntria cegueira e ambio; pois o castigo da divindade se tardio s vezes, de certo nunca falta. E qual de vs querer ser to obstinado e ignorante, que no sinta que o cativeiro perptuo no somente contrrio religio e a s poltica, mas tambm contrrio aos vossos futuros interesses, e vossa segurana e tranquilidade pessoal.

    Generosos cidados do Brasil, que amais a vossa ptria, sabei que sem a abolio total do infame trco de escravatura africana, e sem a emancipao sucessiva dos atuais cativos, nunca o Brasil rma-r a sua inde pendncia nacional e segurar, defender a sua liberal constituio; nunca aperfeioar as raas existentes e nunca formar como imperiosamente um exrcito brioso uma marinha orescente. Sem liberdade indivi dual no pode haver civilizao nem slida ri-queza; no pode haver moralidade e justia; e sem estas lhas do cu, no pode haver brio, fora e poder entre as naes.

    (Nota: Essa Representao foi publicada em Paris, na Tipograa de FIRMIN DIDOT,

    Impressor DEIRei, 24-Rua Jacob, MDCCCXXV).

  • 1826

  • J em , mais especificamente em de maio, o Deputado Clemente Pereira apresenta proje-to pedin do a extino do comrcio de escravos em de de zembro de , ou seja, num perodo de anos. O projeto em apreo mandava apre-ender e vender em hasta pblica o navio en-contrado com carga de escravos.

    Em setembro deste mesmo ano, encontramos a Lei do dia , que proibia que fossem as senten-as de mortes executadas sem antes irem pre-sena do imperador. Dois meses depois (--), efetivou-se o Acordo Anglo-Brasileiro, visando a regular e abolir o trfico de escra-vos, no prazo de trs anos.

  • Ano t

    Projeto de Lei (lido na sesso de 19-5-1826) do Deputado Clemente Pereira, extinguindo o comrcio de escravos em 31-12-1840.

    Projeto de Lei para a abolio do comrcio de escravos

    Projeto de Lei do Deputado Clemente Pereira extinguindo o comrcio de escravos (31-12-1840).

    Art. O comrcio de escravos acabar em todo o Imprio no ltimo dia do ms de dezembro do ano de 1840, e desde esta poca car sendo proibida na introduo de novos escravos nos portos do mes mo Imprio.

    Art. Todo o navio que, passado o referido prazo, for encontra-do levando a seu bordo alguma carga de escravos, ser apreendido e vendido em hasta pblica; e metade do seu produto se entregar aos apreensores e a outra metade ser aplicada a favor daqueles que caro libertos.

    Art. Uma lei acomodada s circunstncias da expressada po-ca regular a forma e modo de educar e empregar utilmente os mes-mos libertos.

    Pao da Cmara dos Deputados, 18 de maio de 1826. Deputado Clemente Pereira.

    (ACD, 1826, Tomo I, p. 851)

    Lei de 11 de setembro de 1826, que dispe sobre sentenas de morte.

    Lei de --

    Decreto dispondo sobre sentena de morte (11-9-1826).

    Dom Pedro, por graa de Deus e unnime aclamao dos povos Im-perador Constitucional e Defensor Perptuo do Brasil: Fazemos sa-

  • A Abolio no Parlamento: anos de luta t Volume I

    ber a todos os nossos sditos que a Assembleia Geral decretou, ns quere mos a lei seguinte:

    Art. A sentena proferida em qualquer parte do Imprio que impuser pena de morte no ser executada sem que primeiramente suba presena do Imperador, para poder perdoar, ou moderar a pena, conforme o artigo 101, pargrafo oitavo, da Constituio do Imprio.

    Art. As excees sobre o artigo precedente em circunstncias ur gentes so da privativa competncia do poder moderador.

    Art. Extintos os recursos perante os juzes e intimada a sen-tena ao ru, para que no prazo de oito dias, querendo, apresente a sua petio de graa, o relator do processo remeter a Secretaria de Estado competente as sentenas, por cpia, por eles escritas, e a petio de graa, ou certido de no ter sido apresentada pelo ru no prazo marcado e pela mesma Secretaria de Estado ser comunicada a imperial resoluo.

    Mandamos portanto a todas as autoridades a quem o conheci-mento e execuo da referida lei pertencer, que a cumpram, e faam cumprir, e guardar to inteiramente, como nela se conter. O Se-cretrio de Estado dos Negcios da Justia a faa imprimir, publicar e correr. Dada no Palcio do Rio de Janeiro, aos 11 dias do ms de setembro de 1826, Quinto da Independncia, e do Imprio.

    IMPERADOR, com Rubrica e Guarda. (L.S.) Visconde de Caravelas

    Carta de lei pela qual Vossa Majestade Imperial manda executar o decreto da assembleia geral que houve por bem sancionar, para pro-porcionar a todos os rus condenados a pena de morte o meio de po-derem gozar do benef cio concedido pela Constituio do Imprio, no art. 101, 8, tudo na forma acima declarada.

    Para Vossa Majestade Imperial ver. Registrada . 2 do Livro 1 de Leis, que serve nesta Secretaria

    de Estado dos Negcios da Justia. Rio de Janeiro, 14 de setembro de 1826.

    Vicente Ferreira de Castro Silva. Pedro Machado de Miranda Malheiro.

  • Ano t

    Foi publicada esta Carta de Lei nesta Chancelaria-Mor do Imp-rio do Brasil. Rio de Janeiro 16 de setembro de 1826.

    Francisco Xavier Raposo de Albuquerque.

    Registrada na Chancelaria-Mor do Imprio do Brasil . 57 do Livro 1 das Leis. Rio de Janeiro, 16 de setembro de 1826.

    Demetrio Jose da Cruz. Domingos Lopes da Silva Arajo a fez.

    (Coleo das Leis do Imprio do Brasil 1826 a 1829, vol. II, p. 48-49)

    O Acordo Anglo-Brasileiro, assinado em 23 de novembro de 1826, foi acertado entre D. Pedro I, Imperador Constitucional e Defensor Perptuo do Brasil, e Sua Majestade o Rei Jorge, do Reino Unido da Gr-Bretanha e Irlanda, sobre a regulao e abolio do comrcio de escravatura na costa da frica, no prazo de trs anos.

    Acordo Anglo-Brasileiro (extino do trco), de 23-11-1826.

    Nosso Imperador Constitucional e Defensor Perptuo do Brasil etc. Fazemos saber a todos os que a presente Carta de conrmao, apro vao e raticao virem, que em 23 de novembro do corrente ano se concluiu e assinou nesta Corte do Rio de Janeiro entre ns e o muito alto e muito poderoso Prncipe Jorge, Rei do Reino Unido da Gr-Betanha e Irlanda. Nosso irmo e primo, uma conveno pe-los respectivos plenipo tencirios, munidos de competentes poderes, com o m de colocar termo ao comrcio de escravatura da costa da frica; Satisfazendo nos assim aos sentimentos do nosso corao, e vontade e desejos manifestados a tal respeito por todos os soberanos e governos das naes civilizadas, e principalmente por sua majesta-de britnica, da qual conveno e teor o seguinte.

    Em nome da Santssima e Indivisv