A Adoção Do Concurso Para a Seleção e Desenvolvimento de Projeto de Arquitetura Para Obras Públicas

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A adoo do concurso para a seleo e desenvolvimento de projeto de arquitetura para obras pblicas

Cleverson Lautert CruzDiretor-Geral Adjunto do Ministrio Pblico do Trabalho. Ex-Assessor de Controle Interno do Ministrio Pblico do Trabalho. Ex-Assessor Jurdico da Procuradoria-Geral do Trabalho. Graduado em Administrao pela Universidade de Braslia e em Direito pela Universidade Paulista. Ps-graduado em Direito Pblico e em Administrao Pblica.

Publicado em 04/2014. Elaborado em 04/2014.

Analisa-se a aplicabilidade do concurso para a seleo de projetos de arquitetura e engenharia, confrontando os conceitos e diretrizes estabelecidas pelo ordenamento jurdico brasileiro com a prtica executada pelos gestores pblicos e com a jurisprudncia aplicvel.

Resumo: Este artigo busca desenvolver a anlise crtica da aplicabilidade da modalidade licitatria de concurso para a seleo de projetos de arquitetura e engenharia, confrontando os conceitos e diretrizes estabelecidas pelo ordenamento jurdico brasileiro com a prtica executada pelos gestores pblicos e com a jurisprudncia aplicvel.Palavras-chave: Licitao; Contrato Administrativo; Concurso; Projeto de Arquitetura.

1. INTRODUO Verifica-se que a qualidade das obras pblicas est diretamente relacionada com a qualidade dos projetos apresentados. Segundo estudos desenvolvidos no Tribunal de Contas da Unio (CABRAL, 2002, pp. 125 e 126): notrio que a m qualidade das obras pblicas est diretamente relacionada baixa qualidade dos projetos bsicos, onde o resultado deste quadro o no atendimento ao interesse pblico, na medida em que os recursos pblicos so aplicados em obras de baixa qualidade tcnica, que, em futuro prximo, precisaro ser recuperadas ou refeitas.A gnese da m qualidade das obras pblicas, portanto, est na m qualidade dos projetos apresentados, que so contratados das mais diversas formas pela Administrao Pblica, nas palavras[1] do Ministro-Chefe da Controladoria Geral da Unio, Jorge Hage, durante o 6 Encontro de Lideranas do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (ZAMPIER, 2011): A est o embrio dos futuros problemas de sobrepreo, de jogo de planilha, de a empresa pleitear aditivos alm dos limites legais. Tudo vem da falta de ter um bom projeto.Seja por contratao direta, seja por procedimento licitatrio, muitas contrataes para a confeco de projetos de arquitetura e engenharia acabam no produzindo documentos satisfatrios a orientar e executar uma futura obra pblica, recaindo em graves prejuzos ao Errio e ao interesse pblico, normalmente em razo da incipincia dos profissionais prestadores do servio.Essa situao levanta o questionamento sobre a possibilidade da deciso de escolha do procedimento de seleo do projetista interferir diretamente na qualidade do projeto decorrente, com a obteno da proposta mais vantajosa Administrao.Configurado como servio de natureza predominantemente intelectual, o ordenamento jurdico no Brasil determina que seja adotada preferencialmente a modalidade de concurso, seguida das demais modalidades do tipo tcnica ou tcnica e preo, e, caso a questo no se revista de maior complexidade intelectual ou tcnica, ser realizada pelo menor preo.Cumpre ressaltar ainda que a Lei n 8.666, de 21 de junho de 1993, permite a contratao direta dos servios tcnicos especializados, incluindo os projetos, conforme rol[2] descrito pelo seu art. 13, desde que atendidos os demais requisitos configuradores da hiptese e com a sustentao no art. 25 da mesma Lei. Todavia, a contratao direta a exceo e somente pode ser adotada desde que cumpridos todos os restritivos legais.Assim, de forma a garantir a eficcia do comando previsto pelo inc. XXI do art. 37 da Constituio da Repblica, impe-se a aplicao prioritria das modalidades licitatrias previstas pela lei, dentre as quais foi eleito o concurso como preferencial para a prestao de servios tcnicos especializados (1 do art. 13 da Lei n 8.666/93).Embora previsto anteriormente como obrigatrio desde a edio da Lei n 125, de 3 de dezembro de 1935, o concurso, como modalidade licitatria, tem sido pouco desenvolvido no mbito jurisprudencial e doutrinrio, caracterizados ainda pela equivocada interpretao de seu contedo e aplicao.A recente revogao da Smula n 157[3] do Tribunal de Contas da Unio acirrou a discusso sobre o assunto, delimitando novas restries e necessidades para melhor atendimento do interesse pblico.Este artigo busca, dessa forma, colaborar com a anlise crtica da aplicabilidade do concurso como instrumento de seleo para projetos de arquitetura destinados s obras pblicas, especialmente em razo da representatividade da profisso de arquiteto e urbanista desde a criao do Conselho de Arquitetura e Urbanismo, e das discusses atuais sobre a questo.

2. O CONCURSOA utilizao do concurso como modalidade licitatria para a contratao de projetos de arquitetura tem suscitado diversas interpretaes e dvidas quanto aos procedimentos autorizados pela legislao para sua exequibilidade prtica.Como objeto de seleo por concurso, a arquitetura apresenta caractersticas distintivas das demais ordens de aplicao dessa modalidade de seleo. Como ressaltado por Veloso (2011, p. 94), a ideia transcende o mero projeto, interferindo na imagem, cultura e representatividade de uma sociedade:E, no entanto, para muitos, como o arquiteto Lcio Costa, a qualidade esttica que distingue a arquitetura de uma construo. Finalmente, caberia aqui destacar a crescente preocupao com a qualidade tectnica do edifcio projetado, conceito que vai ao encontro da consistncia construtiva assinalada por Pion, e resgata a noo grega de tekton (carpinteiro ou construtor), que rene tanto tcnica como esttica, enfim, a potica da construo, em seu sentido primeiro (arch) e indissocivel, e da qual derivam os termos arquiteto (primeiro ou principal construtor, o que facilmente associado idia de deus) e Arquitetura, como arte de construir.Embora sua previso legal, verifica-se que a ausncia de regulamentao e as incertezas de aplicao prejudicam a utilizao da modalidade preferencial de concurso dada pela lei em relao aos servios especficos relacionados, resultando na situao exposta por Sobreira (2009):No Brasil, apesar da tradio de sua arquitetura, ainda no existe uma poltica consolidada sobre a idealizao do espao pblico, que seja baseada no concurso como instrumento de promoo da qualidade arquitetnica. (...) mesmo que em alguns casos o concurso seja previsto em lei como um instrumento preferencial de contratao pblica, tal preferncia no se concretiza em prtica.O concurso como modalidade licitatria est previsto pelo inc. IV do art. 22 da Lei n 8.666/1993, com definio dada pelo 4 do mesmo dispositivo legal, nos seguintes termos:Art. 22. (...)4Concurso a modalidade de licitao entre quaisquer interessados para escolha de trabalho tcnico, cientfico ou artstico, mediante a instituio de prmios ou remunerao aos vencedores, conforme critrios constantes de edital publicado na imprensa oficial com antecedncia mnima de 45 (quarenta e cinco)dias.Em um recorte de aplicabilidade, constata-se que h possibilidade de utilizao do concurso para a seleo de projetos de arquitetura, caracterizado pelo processo pelo qual uma obra de arquitetura concebida. Contudo a questo que se apresenta como poderia ser realizado e quais seriam os seus limites.O Instituto dos Arquitetos do Brasil IAB, por seu presidente Srgio Magalhes (2013, p. 8), defende que cada obra pblica precisa ser considerada como um instrumento para qualificar o ambiente urbano e o concurso de projeto, escolhendo a melhor proposta, a sua garantia.Inicialmente cumpre diferenciar o concurso pblico previsto pelo inc. II do art. 37 da Constituio da Repblica da modalidade licitatria concurso, pois se caracterizam de natureza e finalidades diversas e, por muitas vezes, tem gerado confuso entre os operadores do direito, inclusive em normas internas, como ilustra o seguinte julgado do Tribunal Regional Federal da 3 Regio:ADMINISTRATIVO. CONCURSO PBLICO. SERVIDORES CIVIS. COMPETENCIA DA PRIMEIRA SEO. I -EMBORA O PAR. 2, ITEM II, DO ARTIGO 10 DO REGIMENTO INTERNO DO TRIBUNAL EXPRESSE O TERMO 'CONCURSO PBLICO', NO SE TRATA DAQUELE DESTINADO AO PREENCHIMENTO DE VAGAS NA ADMINISTRAO PUBLICA E SIM DO REALIZADO COM FINS LICITATORIOS. II - DECLINA-SE DA COMPETENCIA, REMETENDO-SE OS AUTOS A E. VICE-PRESIDENCIA, PARA REDISTRIBUIO A UMA DAS TURMAS DA PRIMEIRA SEO. (REOMS 90030162140, DESEMBARGADOR FEDERAL SILVEIRA BUENO, TRF3 - PRIMEIRA TURMA, DOJ DATA: 12.08.1991).O concurso de interesse do estudo no o destinado ao provimento de cargos pblicos, regulamentado pela Lei n 8.112, de 11 de dezembro de 1990, mas a modalidade licitatria estabelecida em atendimento ao disposto pelo inc. XXI do art. 37 da Carta Magna que, conforme Jorge Ulisses Jacoby Fernandes (2008, p. 126), pretende um resultado concreto do trabalho predominantemente intelectual, tcnico, cientfico ou artstico.As incorrees interpretativas quanto ao concurso no se limitam ao seu fundamento legal. Diante da baixa discusso e aplicao da modalidade de concurso para a seleo de projetos de arquitetura, constata-se pouca produo literria e jurisprudencial sobre o assunto, sendo as existentes, por mais das vezes, equivocadas e conflitantes. o que se depreende da manifestao de Jos Cretella Jnior (2006):A Legislao Federal bem pobre a respeito do concurso, limitando-se, o primeiro diploma a abordar o tema, o Decreto-lei n 200/67 a admitir sua realizao para projetos, com estipulao de prmios, obedecidas as condies que se fixarem em seu regulamento (art. 144). A Lei n 5.194/66, ao disciplinar o exerccio das profisses de Engenheiro, Arquiteto e Agrnomo, admite-o tambm, e probe a concorrncia de preos para trabalhos profissionais (art. 83).Duas impropriedades principais ressaltam da manifestao do autor. A primeira, referente inaugurao da modalidade de concurso para projetos, na qual se comprova que o procedimento seletivo especfico foi previsto desde a edio da Lei n 125/1935 com carter obrigatrio para a realizao de obras pblicas. Inclusive, a modalidade de concurso, j em maro de 1957, possui notrio exemplo de aplicao indicada por Lucas Rocha Furtado (2013, p. 184) da seguinte forma:A fim de que se possa melhor entender essa modalidade de licitao, podemos citar o processo para a escolha do projeto arquitetnico de Braslia, vencido por Lcio Costa, como exemplo de concurso realizado pelo Governo Federal.A segunda impropriedade se refere vedao conferida pelo art. 83 da Lei n 5.194, de 24 de dezembro de 1966, proibio revogada expressamente pelo art. 126 da Lei n 8.666/93.Da mesma forma se observa que, embora as valorosas contribuies do saudoso Hely Lopes Meirelles (2010) para a formao do Direito Administrativo Brasileiro, muitas das vises defendidas acerca dos procedimentos licitatrios, em considervel parte, no mais prosperam. Em relao ao concurso no diferente, pois o mestre Meirelles (2010, p. 90) assim se posiciona:O concurso exaure-se com a classificao dos trabalhos e o pagamento do prmio ou da remunerao, no conferindo qualquer direito a contrato com a Administrao. A execuo do projeto escolhido ser objeto de nova licitao, j agora sob a modalidade de concorrncia, tomada de preos ou convite, da qual no poder participar seu autor, salvo como consultor ou tcnico, nos termos do art. 9, 1.Conforme se discutir adiante, essa ortodoxia do posicionamento de Meirelles no pode ser tida, atualmente, de maneira absoluta. A dinmica e evoluo dos procedimentos licitatrios com o aperfeioamento das tcnicas e mecanismos de controle interno e externo, alm do controle social e o desenvolvimento do acesso informao com a internet, acabam por exaurir o contedo do posicionamento doutrinrio de diversos autores.Existem ainda diferenas considerveis em relao aos procedimentos definidos em mbito internacional, tanto sob o prisma conceitual quanto de aplicabilidade da modalidade licitatria concurso.Destarte, h necessidade imperativa de se diferenciar a modalidade licitatria de concurso com a sistemtica de concurso utilizada no estudo comparado, pois os procedimentos adotados no exterior, especialmente em pases do bloco europeu, em muito se afastam do modelo de contratao pblica adotado pela Lei n 8.666/93 e do comando insculpido no inc. XXI do art. 37 da Constituio da Repblica Federativa do Brasil.Conforme Sobreira (2014, p. 137), a seleo por concurso de projetos adotada pela Unio Internacional dos Arquitetos apresenta caractersticas e requisitos que se contrapem ao sistema adotado no Brasil, tal como a obrigatoriedade de contratao do projeto premiado para desenvolvimento do projeto executivo. Segundo o mesmo autor, outras caractersticas peculiares so adotadas no mbito da Comunidade Europia (Directiva 2004/18/CE) e Pases Escandinavos.Verifica-se, ainda, que no h consenso quanto caracterizao da aplicao da modalidade de concurso para a seleo do melhor projeto de arquitetura, pois, como enfatiza Sobreira (2014, p.138), o Royal Architectural Institute of Canada (Raic) (INSTITUT ..., 2009a) no considera o concurso uma forma preferencial de contratao de servios de arquitetura, e sim uma modalidade, entre outras, de contratao, condio que se mostra obrigatria na Frana para projetos acima de determinado valor previsto no Cdigo de Obras Pblicas da Frana (FRANA, 2006). Embora ateste a variedade de modalidades para seleo de projeto de arquitetura, o RAIC elenca algumas vantagens tcnicas do concurso.Os principais quesitos em relao configurao do sistema de seleo de projetos por concurso j foi analisado por Sobreira (2014, p. 134), recaindo-se nas seguintes concluses preliminares: Existem na legislao elementos fundamentais que destacam a preferncia ao concurso na contratao e projetos e os princpios bsicos a serem seguidos na elaborao de regulamentos. A preferncia sugerida na lei (por no se tratar de uma obrigatoriedade) no se traduz em uma prtica cotidiana e o resultado o nmero reduzido de concursos. Apesar das diretrizes bsicas apresentadas, percebe-se a necessidade de regulamentao dos concursos, a fim de evitar a diversidade de formatos e procedimentos. Apesar de eventuais lacunas e limitaes, a Lei n 8.666/1993 deve ser considerada uma referncia positiva para uma eventual proposta de regulamentao de procedimentos. O que se observa que a no obrigatoriedade e principalmente a ausncia de regulamentao do procedimento fazem dos concursos uma modalidade pouco usual na administrao pblica brasileira e eventualmente criticada por alguns segmentos da gesto pblica e da profisso, apesar das vantagens e dos atrativos potenciais do processo e do reconhecido esforo de diversas instituies, particularmente o Instituto de Arquitetos do Brasil, na promoo desses eventos.Verifica-se ainda que os procedimentos adotados para a realizao dos concursos pblicos de seleo de projetos de arquitetura no se limitam aos aspectos administrativos de sua conduo e escolha, pois atingem o direito subjetivo dos demais candidatos no eleitos pela banca, uma vez que os examinadores concentram seus esforos em descrever os motivos da escolha dos vencedores, mas olvidam-se em detalhar os fatores de no qualificao dos vencidos, caracterizada por Veloso (2011, p. 96) da seguinte maneira:Esta talvez a parte mais obscura do processo de avaliao posto que os pareceres esclarecem muito mais sobre os critrios de eleio dos primeiros colocados (a maioria por consenso ou, em alguns casos, por maioria de votos), deixando dvidas quanto aos quesitos que levaram excluso. Enfim, a nfase no acerto dos vencedores. Aos demais, restam apenas incertezas.Em suma, em que pese previso do concurso para a seleo de projetos de arquitetura, constata-se que os procedimentos adotados para sua execuo, as disfunes na aplicao e a ausncia de regulamentao especfica acabam dificultando a sua ampla utilizao no Brasil.

3. O DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DE ARQUITETURA DECORRENTE DO CONCURSO A defesa do desenvolvimento do projeto de arquitetura pelo prprio autor vencedor do concurso, nas manifestaes das instituies de classe dos arquitetos e urbanistas, tais como o Instituto dos Arquitetos do Brasil e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo, se sustenta, principalmente, na alegao da impossibilidade de fracionamento do projeto concebido e na questo de direitos autorais, sobre o prisma moral, bem como da responsabilidade tcnica.Verifica-se tambm que lavra certa confuso acerca das restries impostas pela Lei n 8.666/93 sobre a limitao da participao do autor do anteprojeto na futura licitao de desenvolvimentos arquitetnico, no escopo executivo de detalhamento. Pela declarao de rgos de classe da arquitetura, h considervel dvida acerca das determinaes legais sobre o assunto.Em recente manifestao publicada no stio da internet do Instituto dos Arquitetos do Brasil - Departamento Nacional (IAB/DN, 2014), discutindo o teor do Edital de Concurso AA n 01/2014-BNDES publicado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social - BNDES, constata-se a seguinte alegao:O concurso do BNDES para a construo do prdio anexo, no Rio, est dando o que falar. Isso porque o arquiteto vencedor no poder acompanhar o desenvolvimento do projeto, e ainda ter de ceder os direitos autorais para o banco.Duas principais impropriedades declaradas, consoante ser desenvolvido: a primeira, referente impossibilidade do arquiteto vencedor (autor do anteprojeto) acompanhar o desenvolvimento posterior; a segunda, acerca da induo de erro quanto cesso de direitos autorais entidade promotora.Sob uma primeira anlise, do ponto de vista concreto, no se verifica qualquer restrio no edital publicado pelo BNDES para que o vencedor do concurso participe do processo de acompanhamento do seu desenvolvimento em nvel executivo. Pelo contrrio, dispe expressamente o respectivo edital (BNDES, 2014):10.5 O BNDES, a seu exclusivo critrio, poder contratar o vencedor do Concurso para realizar as adequaes necessrias ao desenvolvimento dos demais projetos decorrentes do anteprojeto vencedor, visando a garantir a manuteno da concepo arquitetnica original e a harmonizao e perfeita integrao entre os projetos.Essa mesma situao ilustrada por Hamilton Bonatto (2012, p. 81), onde ressalta que um exemplo interessante e recorrente para quem trabalha com licitaes de obras pblicas e servios de engenharia o da contratao de profissional para readequar projeto de sua autoria.Contudo, convm destinar extrema prudncia nessa condio, pois dever estar plenamente configurada a necessidade da adequao, de maneira restrita s definies e especificaes j existentes no projeto original, de forma a evitar que o Administrador se utilize dessa situao como subterfgio ao procedimento licitatrio para o desenvolvimento dos projetos.Alis, um dos fatos que acirrou a discusso sobre a utilizao do concurso como modalidade licitatria para a seleo de projeto de arquitetura destinado obra pblica justamente a publicao do edital de concurso pelo BNDES, especialmente em razo de dois pontos principais: a inteno de atendimento das diretrizes emanadas pelo Tribunal de Contas da Unio na forma do Acrdo n 3.468/2012 Plenrio, que revogou a Smula 157, e do Acrdo n 3.361/2011 Segunda Cmara; e a representatividade econmica do prmio do concurso, estabelecido em R$ 1.200.000,00 (um milho e duzentos mil reais) ao vencedor.A limitao de contratao do autor do projeto bsico previsto pelo inc. I do art. 9 da Lei n 8.666/93 no se confunde com qualquer limitao para contratao do autor de anteprojeto selecionado por concurso. Determina o referido dispositivo legal:Art. 9 No poder participar, direta ou indiretamente, da licitao ou da execuo de obra ou servio e do fornecimento de bens a eles necessrios:I - o autor do projeto, bsico ou executivo, pessoa fsica ou jurdica;Constata-se que a limitao se aplica contratao do autor do projeto bsico, ou executivo, dotado das caractersticas de detalhamento suficientes execuo da obra nos termos dos incisos IX e X do art. 6 da Lei n 8.666/93, na fase subsequente de contratao de efeitos concretos.A delimitao legal se justifica no sentido de evitar que o autor do projeto bsico ou executivo - como elemento necessrio e orientador da licitao nos termos do inc. I do 2 do art. 7 do Estatuto das Licitaes - possa incluir requisitos que o beneficiaro na fase subsequente de execuo, restringindo a competitividade e prejudicando o interesse pblico preconizado pelo inc. XXI do art. 37 da Constituio da Repblica.Todavia, verifica-se que a prpria lei no desvinculou a possibilidade de acompanhamento da execuo do projeto por seu autor, limitando somente a questo de sua participao na execuo da obra vinculada, pois o 1 do art. 9 do Estatuto das Licitaes:Art. 9 (...) 1 permitida a participao do autor do projeto ou da empresa a que se refere o inciso II deste artigo, na licitao de obra ou servio, ou na execuo, como consultor ou tcnico, nas funes de fiscalizao, superviso ou gerenciamento, exclusivamente a servio da Administrao interessada.O anteprojeto, por sua limitao tcnica quanto ao detalhamento inerente ao projeto bsico, dessa forma, no configura a possibilidade de limitao exposta pelo inc. I do art. 9 da Lei n 8.666/93.No prprio exemplo descrito pelo Edital de Concurso AA n 01/2014-BNDES, embora o corpo do instrumento convocatrio determine a possibilidade de contratao do vencedor do concurso, a entidade promotora fez publicar, no dia 23 de maro de 2014, um documento denominado Fato Relevante[4], no qual descrita a confirmao da futura contratao direta, por inexigibilidade de licitao, nos seguintes termos:Esses valores, buscados pelo BNDES ao optar pela modalidade concurso, sero garantidos com a participao do Arquiteto vencedor, que ser contratado por inexigibilidade de licitao, desde que preenchidos os requisitos legais, para realizar as adequaes necessrias ao desenvolvimento dos demais projetos decorrentes do anteprojeto vencedor. (grifou-se).Por outro lado, ao se verificar a grande probabilidade de que o autor vencedor do concurso seja contratado em decorrncia de sua vitria na seleo anterior, constatam-se nuanas de ilegalidade do procedimento j apontadas pelo Tribunal de Contas da Unio nos termos do Acrdo n 3.361/2011 Segunda Cmara, onde o Ministro-Relator, Raimundo Carreiro, assim entendeu:13. A exceo s poderia ocorrer se a Administrao, ao invs de realizar o certame, justificasse a inexigibilidade com demonstrao inequvoca de que somente o escritrio efetivamente contratado era capaz de executar o projeto escolhido.14. Essa demonstrao, no entanto, jamais foi feita, pois, como dito acima, a Administrao partiu da premissa que somente o vencedor do concurso poderia executar seu prprio projeto, e a que repousa a irregularidade.A contratao direta subsequente do vencedor do concurso para o desenvolvimento do projeto de arquitetura e, no mnimo, a coordenao dos complementares, no apresenta sustentao legal vlida, nos termos do julgado mencionado, pois, em nenhum momento, a lei de regncia estabelece essa possibilidade ao Administrador Pblico.Destarte, as alternativas para a execuo promovem a criatividade discricionria do Administrador, que justifica a contratao do vencedor do concurso de diversas formas.Uma dessas formas a prpria contratao como prmio do concurso, que contraria toda a doutrina conceitual de caracterizao do concurso, pois produto premiado ainda estar por ser desenvolvido.Outra a contratao por inexigibilidade de licitao fundada no inc. II do art. 25 c/c o inc. I do art. 13, ambos da Lei n 8.666/93, apresentando a recente variao de que a contratao se daria para a adaptao ou desenvolvimento do anteprojeto de arquitetura em razo da elaborao dos projetos complementares.A inexigibilidade de licitao mencionada no se justifica pelos dois principais prismas de anlise, considerados por Joel de Menezes Niebuhr (2008, p. 56) como pressupostos objetivos e subjetivos.Sob o primeiro, no h inviabilidade de competio concretamente configurada, uma vez que, indubitavelmente, no somente o vencedor do concurso que ter condies de atender ao interesse pblico buscado, ou, em outras palavras, a escolha do vencedor em concurso no representa a vinculao da Administrao em desenvolver o anteprojeto apresentado. Nas palavras de Niebuhr (2008, p. 56), no basta que o profissional seja reputado notrio especialista, porque, antes de lev-lo em considerao, essencial que o servio visado requeira os prstimos de algum assim qualificado.O segundo se refere especializao. No porque um concorrente venceu um concurso onde foi selecionada a melhor produo que implica, necessariamente, na especializao para o projeto e alta aptido para desenvolver as demais fases da proposta, pois essa questo no foi aferida durante a seleo do concurso.Ou seja, o concurso pode selecionar um autor do anteprojeto altamente qualificado para concepo arquitetnica, mas pode no dispor de qualificao tcnica necessria ao desenvolvimento da proposta at o nvel executivo, inclusive com a compatibilizao de interferncias dos projetos complementares.A especializao, pressuposto de ordem subjetiva, segundo Niebuhr (2008, p. 56) pertinente s qualidades do profissional a ser contratado, que deve demonstrar experincia, estudos aprofundados, trabalhos cientficos, publicaes, cursos de ps-graduao, etc.. Assim, pela lio apresentada, comprova-se que no h qualquer requisito exigido nesses termos para o vencedor do concurso ser contratado.A prpria ideia condutora do concurso se contrape especializao exigida na forma da lei. Como explicita Sobreira (2014, p. 131), os concursos so utilizados quando a escolha da melhor ideia se sobrepe escolha do profissional com mais experincia ou notoriedade e, assim, no h como justificar a contrao calcada em quesito que se mostra superado pela prpria modalidade licitatria escolhida para a seleo.Conforme leciona Maral Justen Filho (2008, p. 162) sobre o tema, a Lei no se satisfez em qualificar os servios como tcnicos [...] a Lei refere-se a servios tcnicos profissionais especializados, onde, desenvolvendo a questo, o autor ilustra que trata-se de um servio tcnico. Mas, alm de tcnico, profissional. E, alm de profissional, especializado. No basta uma habilitao genrica para o desempenho dessa qualidade de servios. Logo, comprova-se a hiptese de que a vitria no concurso no proporciona o grau de especializao exigido para a contratao direta, pois se configura mero pressuposto de direito autoral e responsabilidade tcnica, a ser apurada no caso em concreto.Sobre o requisito de especializao, Justen Filho (2008, p. 162) ainda refora que:A especializao significa a capacitao para o exerccio de uma atividade com habilidades que no esto disponveis para qualquer profissional. A especializao identifica uma capacitao maior do que a usual e comum, envolvendo uma parcela definida e delimitada do conhecimento humano. A especializao produzida pelo domnio de uma rea restrita, com aprofundamento que ultrapassa o conhecimento normal. O especialista aquele prestador de servio tcnico profissional que, ademais, dispe de uma capacitao diferenciadora, que a ele permite o atendimento de modo mais perfeito e satisfatrio s necessidades relevantes.Contudo, convm registrar-se uma ressalva quanto possibilidade de contratao direta ps-concurso, caracterizada pela estrita necessidade de adequao dos projetos j apresentados (e no a sua complementaridade), notadamente em razo da proteo dos direitos autorais no que se refere a aspecto moral, consoante ser tratado adiante.Hamilton Bonatto (2012, p. 82) adianta a questo da seguinte maneira:Est claro que perante o direito autoral que protege o profissional que elaborou o projeto inicial, no h alternativa para a Administrao Pblica, a no ser contratar este mesmo profissional, autor do projeto original, para a elaborao das alteraes necessrias em seu prprio trabalho, tornando a licitao inexigvel.Em suma, verifica-se que, segundo o entendimento jurisprudencial e da doutrina, o sistema adotado pela lei n 8666/93 no prev a possibilidade de destinao da contratao direta como prmio resultante de concurso, nem a contratao direta do vencedor da seleo para desenvolvimento das etapas subsequentes ou para os projetos complementares.4. OS EFEITOS DO CONCURSO NO TEMPO Outra caracterstica inerente ao concurso e demonstra a possvel incompatibilidade da contratao direta como medida ps-concurso decorrente, especialmente se considerado o tempo de ocorrncia do fato.Em comentrio ao inc. I do art. 13 da Lei n 8.666/93, Maral Justen Filho (2008, p. 164) ressalta que todas expresses possuem, porm, um mesmo ncleo. Trata-se da previso tcnico-cientfica, terica e antecipatria do desenvolvimento de uma tarefa futura. Logo, a execuo caracterstica da contratao especializada antecipatria do desenvolvimento de uma tarefa futura.Essa questo particular desenvolvida por Justen Filho (2008, p. 253) da seguinte forma:Nas modalidades comuns (concorrncia, tomada de preos e convite), a execuo da prestao por parte do terceiro faz-se aps a licitao. Os interessados formulam proposta e o vencedor ser contratado para executar uma determinada prestao. No concurso, o interessado dever apresentar (como regra) o trabalho artstico ou tcnico j pronto e acabado. No h seleo entre propostas para futura execuo. (...) no cabe ao vencedor desenvolver, aps o julgamento, alguma atividade de execuo.Ou seja, pelo exposto verifica-se que a situao de contratao direta decorrente de concurso artificialmente fabricada pelo prprio procedimento seletivo, sem haver previso legal expressa nesse sentido, uma vez que eventual contratao somente poder ser subsidiada pela inviabilidade pura de competio, dada pela funo normativa autnoma do caput do art. 25 da Lei n 86.66/93 condio altamente questionvel considerando as razes de origem que orientam a inexigibilidade.Contrario sensu, verifica-se que interpretao dada pela doutrina e jurisprudncia no possui plena compatibilidade com o texto normativo, uma vez que o descritivo legal estabelece uma relao de causa-efeito do concurso, gerando a possibilidade de desenvolvimento posterior, que ignorada pelos doutrinadores e pelas Cortes de Contas.Do ponto de vista de atendimento ao interesse pblico, h necessidade de se ponderar as definies dadas ao concurso pela doutrina majoritria, pois, como se verifica no caso em apreo, o interesse pblico no se finaliza com a escolha do melhor anteprojeto de arquitetura. Portanto, no est satisfeito com o produto do concurso. Logo, o prmio (ou remunerao) no se d em razo de um produto pronto e acabado, mas sim em razo de uma concepo apta a ser desenvolvida.A possibilidade de execuo de servio posterior foi levantada por Jacoby Fernandes (2008, p. 129), embora reconhecendo a posio da doutrina ptria, da seguinte maneira:O assunto, contudo, merece maior reflexo, quando se discute a possibilidade de a Administrao escolher, mediante concurso, a empresa ou profissional para a realizao do servio do seu interesse. Deve-se reconhecer tal possibilidade, embora aceitvel como regra, a noo de que a execuo do servio posterior ao edital e anterior ao julgamento.Com efeito, o 1 do art. 13 da Lei n 8.666/93 claro em estabelecer que os contratos para a prestao de servios tcnicos profissionais especializados devero, preferencialmente, ser celebrados mediante a realizao de concurso.Ou seja, o comando legal estabelece a condio da realizao de concurso para que os contratos destinados prestao de servios tcnicos profissionais especializados sejam celebrados, numa clara situao de causa-efeito de que o concurso originar um contrato para a prestao dos servios particularizados. Somente haver a consequncia (contrato) se for realizado o concurso que o antecede.Considerando a premissa de que a lei no inclui palavras inteis, desprovidas de contedo normativo, no haveria sentido em estabelecer o contrato como ato decorrente do concurso, legalmente definido[5] como todo e qualquer ajuste entre rgos ou entidades da Administrao Pblica e particulares, em que haja um acordo de vontades para a formao de vnculo e a estipulao de obrigaes recprocas, seja qual for a denominao utilizada, se o concurso se exaurisse com a entrega do prmio (ou remunerao) e eventual transferncia dos direitos patrimoniais estabelecidos pelo art. 11 da Lei n 8.666/93, expressamente dispensado pelo 4 do art. 62 da mesma Lei.Constata-se, em suma, pela definio clara da lei, que a interpretao doutrinria (que orienta a interpretao jurisprudencial atual) pode estar equivocada, uma vez que o comando legal estabelece que os contratos para a prestao de servios se configura, indubitavelmente, como uma ao futura de execuo decorrente do prlio licitatrio realizado. Em outras palavras, o concurso premia a concepo do projeto, a produo artstica, que ser posteriormente desenvolvida pelo autor (servio a ser prestado) para permitir a concretizao do interesse pblico.Essa constatao se coaduna com a definio tcnica do projeto, que apresenta diversas atribuies e reas de conhecimento, mas deve ser considerado integral, in totum, pois se referem nica obra, cujo planejamento se origina desde a demanda, passando pelo projeto e construo, chegando sua operao e manuteno. Nesse sentido, a lio de Magalhes (2013, p. 6):Como visto, as compras pblicas de servios de projeto criaram procedimentos que vieram a configurar um verdadeiro fatiamento das atividades projetuais.O projeto deixou de ser uma unidade conceptiva e passou a ser composto por partes erroneamente consideradas autnomas, a serem agrupadas segundo a convenincia do construtor ou do contratante como se faz em supermercado.O parcelamento das atividades inerentes ao projeto, quando no presentes justificativas tcnicas para sua considerao integral, considerado obrigatrio pela doutrina dominante e pela jurisprudncia do Tribunal de Contas da Unio[6], notadamente em observncia ao previsto pelo 1 do art. 23 da Lei n 8.666/93.Contudo, pode se considerar que h plena justificao tcnica para a contratao integral do projeto, considerando que a concepo a ser seguida una, indissocivel, que no pode ser parcelada. Neste ponto, constata-se novo equvoco de interpretao do que sujeito ao parcelamento e do que se constituem escalas e aspectos caractersticos de um processo nico.Essa condio bem ilustrada por diversos autores renomados da rea de projetos e arquitetura, na qual Srgio Magalhes (GREGOTTI, 1975 apud MAGALHES, 2013, p. 7) ressalta:[] o projeto elaborado em processo compositivo, complexo e assequencial, onde o percurso no retilneo, mas de paciente e contnua reelaborao.Defende-se, portanto, uma simultaneidade de escalas, da maior menor e vice-versa, em um sistema sem hierarquias, mas de permanentes ajustes entre sntese e anlise, entre gnese e produto, entre partido e detalhe. A reelaborao constante do projeto ocorre desde a concepo da ideia ao longo da totalidade do processo de projetao.Todavia, considerando a tpica atribuio de fiscalizao exercida pelo Poder Legislativo com o auxlio de seus Tribunais de Contas, o Administrador Pblico se v limitado adequada aplicao da lei em virtude de interpretaes equivocadas das Cortes de Contas sobre o assunto, optando, normalmente, pela opo mais confortvel e prevista de forma subsequente nas licitaes das demais modalidades, por melhor tcnica, tcnica e preo ou menor preo, tal como relata Lucas Rocha Furtado (2013, pp. 184 e 185):No caso de projeto arquitetnico, temos observado determinadas situaes em que a Administrao tem preferido adotar outras modalidades de licitao concorrncia, tomada de preos ou mesmo o convite utilizando o critrio da tcnica e preo ou melhor tcnica para julgar as propostas, nos termos do art. 46, caput, da Lei n 8.666/93.

5. OS RISCOS DA CONTRATAO COM SEDE EM CONCURSO A sistemtica atual adotada, sem a criao do vnculo legal estabelecido obrigatoriamente pelo contrato, determina a ponderao dos riscos do impasse quanto ao valor e s condies de contratao eventual decorrente, uma vez que o vencedor do concurso no obrigado a se submeter aos requisitos (inclusive de habilitao) exigidos pelo Poder Pblico, nem acordar com os valores propostos pela Administrao. Essa situao gera extremo risco para a atividade administrativa, pois poder condenar o processo de adequada produo do projeto que atender ao interesse pblico.Mesmo nos casos em que a contratao direta do autor original possa entender-se admitida, a falta de concordncia em relao ao preo poder impossibilitar o adequado atendimento ao interesse pblico representado no projeto escolhido, uma vez que a proposta premiada no poder ser utilizada pela Administrao sem as alteraes necessrias e autorizadas pelo seu conceptor.Ressalta-se ainda que essa condio em relao ao preo de observncia obrigatria pela Administrao, tanto sob o prisma legal com o comando inserto pelo inc. III do Pargrafo nico do art. 26 da Lei n 8.666/93, quanto pelo atendimento ao Princpio da Economicidade, consoante leciona Bonatto (2012, p. 83): Ainda, faz-se necessrio comprovar que o preo acertado est adequado ao mercado, de forma a validar o procedimento, isto , a contratao deve demonstrar que atende ao Princpio da Economicidade.Alm disso, algumas questes adicionais trazidas anlise do Administrador Pblico aumentam os riscos da adoo da modalidade e a insegurana subjetiva do procedimento, tais como ressaltados por Sobreira (2014, p. 136):Apesar de importantes exemplos de concordncia e sucesso, no se pode ignorar a parcela dos gestores pblicos que ainda veem os concursos como um processo complexo, caracterizado pela perda do poder de deciso; ameaa discricionariedade do gestor; ausncia do dilogo no processo de desenvolvimento do projeto; e que temem a subjetividade do julgamento e as incertezas sobre a viabilidade tcnica e oramentria dos eventuais premiados.Assim, verifica-se que a sistemtica adotada decorrente da interpretao equivocada da lei determina uma situao de insegurana no procedimento, pois, comprovando-se a necessidade de contratao posterior do autor-vencedor, seja para desenvolvimento ou adequao dos projetos de arquitetura, o processo coloca a consecuo de seus objetivos em risco e ao alvitre do particular.

6. A EXISTNCIA DE OBRIGATORIEDADE LEGAL Algumas instituies defendem ainda a obrigatoriedade legal para a adoo do concurso como modalidade licitatria adequada para contratao dos projetos de arquitetura com base na aplicabilidade do disposto pelo art. 2 da Lei n 125/1935, que assim estabelece:Art. 5 Nenhum edifcio pblico de grande propores, ser construido sem prvio concurso para escolha do projeto respectivo.No concurso tomaro parte smente profissionaes habilitados legalmente. (redao original)Embora no se registre a revogao expressa do dispositivo legal, verifica-se a sua perda de eficcia.O Tribunal de Contas da Unio, nos termos do Acrdo n 2.923/2010-Plenrio, remeteu a avaliao da regularidade do procedimento analisado ao cumprimento de requisitos expressos da Lei n 125/1935, especialmente no que concerne aos artigos 1 a 4, indicando a validade da eficcia da norma legal em relao especfica a esses requisitos, uma vez que no foi lanada norma posterior que versasse sobre o mesmo assunto.Todavia, em relao ao contedo material do art. 5 da Lei n 125/1935, verifica-se que no subsiste mais condio de considerar vlida sua aplicabilidade, notadamente em razo da edio da Lei n 8.220, de 4 de setembro de 1991, que disciplinou a questo da exigncia do concurso para a seleo de projeto arquitetnico.Ou seja, pela interpretao sistemtica do ordenamento, constata-se que o contedo disposto pelo art. 5 da Lei n 125/1935 foi absorvido pela norma posterior (Lei n 8.220/1991), que conferiu a forma de execuo do concurso de acordo com os ditames constitucionais decorrentes do advento da Carta Magna de 1988, no mais subsistindo a validade do comando normativo anterior.J quanto s novas regras estabelecidas pelo escopo da Lei n 8.220/1991, tambm se verifica sua inaplicabilidade com a revogao expressa determinada pelo art. 126 da Lei n 8.666/93, ficando a matria do concurso adstrita s definies constantes do 4 do art. 22 e do 1 do art. 13, ambos do Estatuto das Licitaes, alm de alguns dispositivos esparsos na mesma lei.Dessa forma, a escolha do concurso como modalidade licitatria para seleo dos objetos aplicveis se reveste da discricionariedade do Administrador, como leciona Jess Torres Pereira Jnior (2007, p. 183): toda norma instituidora de opo preferencial para a Administrao abre, ao mesmo tempo, espao para que o preencha a autoridade com ato de matriz predominantemente discricionrio.Logo, do ponto de vista legal, conclui-se que no h obrigatoriedade do Administrador Pblico em adotar a modalidade de concurso para a seleo de projetos de arquitetura para as obras pblicas.

7. DOS DIREITOS AUTORAIS E RESPONSABILIDADE TCNICA Outro ponto de argumentao da impossibilidade de ciso do projeto de arquitetura escolhido mediante concurso refere-se questo dos direitos autorais, previsto pelo inc. X do art. 7 e pelo art. 26, ambos da Lei n 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, e de responsabilidade tcnica.Quanto responsabilidade tcnica, as diversas nuanas e particularidades de normatizao tcnica e utilizao das metodologias adequadas a cada caso permitem a avaliao pericial objetiva para a caracterizao da responsabilidade sobre determinado fato ou ao, estando expressamente descrita pela OT-IBR 003/2011, emitida pelo Instituto Brasileiro de Auditoria de Obras Pblicas IBRAOP, da seguinte forma:4.4 A responsabilidade por defeitos precoces nas obras atinge tambm os projetistas ou empresas de consultoria, por falhas ou omisses nos projetos, ainda que os mesmos tenham sido recebidos e aprovados pela Administrao Pblica.J quanto aos direitos autorais, a situao diferente.Segundo Magalhes (2013, p. 6), o ato de projetar no se limita concepo, pois atinge todo o processo de elaborao, adequao, reviso e acompanhamento, at que a obra seja concluda, ressaltando que:O que faz a mgica da autoria de um projeto que, ao inici-lo, o projetista tem disponvel todas as possibilidades de escolher. Ele pode fazer todas as formas, utilizar todos os materiais, desenhar todos os sonhos.Mas o projeto consiste, justamente, em abandonar milhes de possibilidades e optar por apenas uma aquela que a sua sensibilidade, a sua tcnica e o seu conhecimento concebem.Projetar escolher. autoral.A questo assume especial relevncia ao avaliar-se a situao dos direitos autorais do vencedor do concurso de arquitetura, pois a manuteno, inalienvel e irrenuncivel, do direito moral sobre a obra configura um espectro de anlise extremamente subjetiva, que atinge o foro ntimo, personalssimo, do autor, embora o art. 111 da Lei n 8.666/93 seja clara no sentido de que os direitos disponveis (dentre eles o patrimonial) decorrentes da autoria devem ser cedidos Administrao.Nesse ponto se verifica que a Resoluo n 67 do Conselho de Arquitetura e Urbanismo visa estabelecer os parmetros de defesa dos direitos autorais em relao aos projetos de arquitetura. Embora se possa entender que a norma do Conselho de Arquitetura e Urbanismo padece de vcio de legalidade, por adentrar em campo que extrapola a competncia do conselho e pr-determina ao Poder Judicirio os parmetros de violao do direito autoral e suas consequncias, h necessidade de que o dano moral decorrente da eventual violao do direito autoral seja apurado no caso concreto e individual, uma vez que se trata de apurao de ndole subjetiva.A alternativa seria permitir ao projetista revisor a possibilidade de realizar alteraes significativas no projeto, desde que tecnicamente justificveis, utilizando-se do disposto pelo art. 16 da Lei n 12.378, de 31 de dezembro de 2010, que assim estabelece:Art. 16. Alteraes em trabalho de autoria de arquiteto e urbanista, tanto em projeto como em obra dele resultante, somente podero ser feitas mediante consentimento por escrito da pessoa natural titular dos direitos autorais, salvo pactuao em contrrio.Todavia, permanece a possibilidade de repdio do autor originrio em relao s alteraes do seu projeto como contedo inafastvel de apreciao pelo Judicirio, mas que dever ser tratado como caso excepcional, considerando-se o grau de subjetividade envolvido.Constata-se, assim, que a proteo dos direitos autorais do projetista original garantida restritivamente quanto s modificaes de sua obra, oportunidade em que as adequaes necessrias podero, excepcional e justificadamente, ser contratadas diretamente pela Administrao, como aponta Bonatto (2012, pp. 82 e 83): Assim, a razo da escolha do executor, neste caso, fica justificada, posto que no h possibilidade de competio frente ao direito autoral do profissional que elaborou o projeto inicial.

8. O AMBIENTE DE EXECUO DO CONCURSO Infelizmente, h necessidade de avaliar-se a questo da utilizao do concurso sob o prisma da possibilidade e risco do desvio administrativo, notadamente diante do fato que o concurso excepcionado, pelo 1 do art. 45 da Lei n 8.666/93, do requisito do julgamento objetivo previsto pelo caput do mesmo dispositivo.Da mesma forma, justamente esse quesito que influencia grande parte dos Administradores Pblicos a adotarem excepcionalmente a modalidade de concurso, pois a margem de contestao acerca de um julgamento subjetivo expressivamente mitigada, reduzindo a carga de trabalho processual da seleo e contratao de um projeto para futura obra pblica.Constata-se, contudo, que h deficincia tcnica na elaborao dos editais de concurso realizados no Brasil para a seleo de projetos de arquitetura, pois os procedimentos ficam adstritos a uma etapa inicial, com grande margem discricionria em prejuzo da avaliao objetiva e tcnica. Essa constatao foi apontada por Veloso (2011, p. 95), aps amplo estudo dos editais de concurso realizados no Brasil, da seguinte forma: Assim, nem sempre se fazem presentes as etapas 2 (estabelecimento de critrios) e 3 (atribuio de pesos), que, segundo Bazerman (2006), devem constituir um processo racional de tomada de deciso.Todavia, na triste realidade brasileira de ocorrncia de aes de corrupo e desvios, a adoo de critrios subjetivos e, muitas vezes, injustificveis (vez que representam o sentimento e a carga tcnico-emocional da banca seletora), reduzem significativamente os mecanismos de controle e, consequentemente, elevam os riscos da ao a patamares inaceitveis na Administrao Pblica (segundo metodologia recomendada pelo Tribunal de Contas da Unio - COSO II, nos termos do Acrdo n 1.062/2014-Primeira Cmara).Essas circunstncias colocam em dvida se o procedimento de concurso realmente o mais indicado para privilegiar a arquitetura, pois h uma inter-relao de influncia personalssima na escolha do projeto indicado como o vencedor da seleo. A condio ressaltada por Trostup (1999) e Fialho (2007) citados por Masa Veloso (2011, p. 92) da seguinte maneira: Nos julgamentos de concursos, o que est em anlise no o objeto arquitetural, mas sua representao grfica e textual, no raro impregnada de recursos retricos[7] visando o convencimento do jri, concluindo que, assim, o tipo de concurso e a composio do jri tambm tm rebatimento nos procedimentos de avaliao.A questo crtica do examinador no processo de seleo, que muitas vezes no permite a adequada escolha da proposta que melhor atende ao interesse pblico, no caso de obras pblicas, tambm enfatizada por Veloso (2011, p. 93) da seguinte forma:J a crtica da qualidade arquitetnica tem carter mais subjetivo, pois alm de aspectos tcnicos e funcionais, inclui juzo de valores estticos e socioculturais, sendo fortemente influenciada pelo contexto social, pela formao (acadmico-profissional) e tambm pela viso de mundo do avaliador.A anlise do desenvolvimento de operaes da Polcia Federal em conjunto com o Ministrio Pblico Federal, envolvendo grandes construtoras como a Incal (Construo do TRT da 2 Regio Barra Funda) e da Delta Construes (Operao Saqueador), demonstra o poder de influncia de empreiteiras nas aes executadas pelo Poder Pblico no tocante s obras realizadas.Por uma anlise sistemtica de inteligncia, no h necessidade de maior esforo de exegese para se concluir que h risco considervel de que a interferncia de empreiteiras atinja a gnese da contratao, representada por todo planejamento e descrita nos projetos da construo, especialmente em se tratando de futuras obras de grande vulto (inc. V, art. 6 da Lei n 8.666/93).Em um cenrio poltico, de interferncia na atuao administrativa, especialmente em ano eleitoral, no h como desconsiderar a fora das empreiteiras na atividade pblica e sua vinculao com a atividade poltica, pois a maior parte das campanhas eleitorais financiada por empresas desse ramo de atividade, conforme noticiou o Estado de So Paulo (ROSSI; BRAMATTI, 2012). Contudo, essa prtica tende a ser mitigada, especialmente em razo do julgamento da Ao Direta de Inconstitucionalidade n 4.650-DF pelo Supremo Tribunal Federal, demandando um aperfeioamento dos mecanismos de controle sobre a questo.Assim, constata-se que a discusso acerca da utilizao do concurso como modalidade de seleo de projetos de arquitetura para construo de obra pblica apresenta diversos prismas relevantes de anlise, no se limitando ao privilgio da defesa da boa arquitetura.

9. CONCLUSO Em concluso, constata-se que carece uma adequada regulamentao do concurso para a seleo de projetos para obras pblicas, corroborando com o entendimento de Sobreira (2014, p. 136), que assim se manifesta:Acredita-se que a regulamentao do procedimento, se devidamente detalhada e fundamentada, reduziria a desconfiana da administrao pblica em relao ao procedimento e contribuiria para a popularizao dos concursos (e eventualmente sua obrigatoriedade), como forma de seleo que prioriza a qualidade do projeto esta, vale salientar, condio fundamental para a economicidade, viabilidade tcnica e sustentabilidade do empreendimento.O desenvolvimento da regulamentao do concurso para seleo de projetos de arquitetura acaba restringindo, sob o aspecto formal, a capacidade intelectual-criativa do arquiteto concorrente. Todavia esse procedimento gera maior segurana ao ente promotor, pois se aproxima de uma seleo mais organizada racionalmente, ou, segundo Perrenoud (1999), citado por Veloso (2011, p.92), se coadunam com uma avaliao normativa.Entretanto, o desenvolvimento normativo caminha no sentido contrrio, caracterizado pela adoo geral do Regime Diferenciado de Contrataes Pblicas RDC, pois o Substitutivo Medida Provisria n 630, de 24 de dezembro de 2013, apresentado pela Senadora Gleisi Hoffmann na Comisso Mista do Congresso Nacional, foi aprovado recentemente e encontra-se trancando a pauta das Casas Legislativas fator que determina a sua apreciao pelo Plenrio em breve.Pelo texto aprovado, de m qualidade tcnica e legislativa, a possibilidade de priorizar a qualidade tcnica da arquitetura ficar limitada adoo da fase tcnica, na licitao por tcnica e preo admitida pelo RDC, com limitao esttica do projeto arquitetnico includo no anteprojeto de arquitetura, nos termos do inc. I do 2 do art. 9 da Lei n 12.462, de 4 de agosto de 2011.O processo de converso da citada medida excepcional tem suscitado a manifestao contrria das entidades de classe[8] da arquitetura e urbanismo, conforme noticiado pelo jornal Correio Brasiliense de 1 de abril de 2014, da seguinte forma:As instituies que representam os projetistas do pas, alm de entidades estudantis, promovero manifestao a favor da arquitetura e contra a Medida Provisria 630/13, que amplia os poderes do Regime Diferenciado de Contratao (RDC). O ato pblico ser realizado em frente ao Anexo II da Cmara dos Deputados, na prxima quarta-feira (2/4), a partir das 14h.Conforme a matria veiculada, o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, Haroldo Pinheiro, declara que a promiscuidade existente quando projeto e obra ficam por conta das construtoras, pois isso induz baixa qualidade, reajustes, superfaturamentos e atrasos. Quem projeta obra pblica no deve construir e vice-versa.O posicionamento tambm defendido por Magalhes (2013, p. 6), que alerta: Mas no apenas no mbito do pblico que a prtica ruinosa. Igualmente para a qualidade das obras no usufruto social dos equipamentos, que as obras erguidas sob o signo da indefinio e dos sobrepreos tm consequncias nefastas".Verifica-se, pois, certo paradoxo nas aes adotadas pelos conselhos e entidades representativas de classe, pois defendem a seleo do projeto por concurso, onde um profissional da respectiva rea ser selecionado de acordo com os parmetros estabelecidos pelo promotor da licitao (e no de acordo com os requisitos de capacidade profissional do candidato) fator que determina, em contraposio, a negativa de que os profissionais empregados de empreiteiras ou grandes escritrios no possuem a mesma qualificao tcnica ou superviso de classe dos demais avulsos que participaro do certame. Olvidam-se, dessa forma, de tutelar os interesses de todos os profissionais sob sua alada.Diante das lacunas de regulamentao para o concurso como modalidade licitatria, incluindo as aes decorrentes da seleo (ps-concurso), constata-se a necessidade de se fomentar o debate sobre o assunto, como bem enfatiza Sobreira (2014, p. 154): Deve-se estimular (e no evitar) o debate sobre os potenciais pontos de controvrsia, uma vez que o debate pblico ser inevitvel e necessrio para que se consiga a desejada regulamentao dos concursos.A compatibilizao da boa tcnica e desenvolvimento da arquitetura defendida pelos profissionais da rea com a realizao de obras pblicas no sistema regulamentar brasileiro ainda se mostra um horizonte distante, havendo necessidade de mobilizao no sentido de coadunar os interesses envolvidos em prol do interesse pblico.

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notas[1] Em matria veiculada pela Agncia Brasil, de autoria de Dbora Zampier.[2] Rol de interpretao restritiva, conforme FERNANDES (2009, p. 694).[3] Smula 157 TCU: A elaborao de projeto de engenharia e arquitetura est sujeita, em princpio, ao concurso ou ao procedimento licitatrio adequado e obediente a critrio seletivo de melhor qualidade ou de melhor tcnica, que o escopo do julgamento, independentemente da considerao de preo, que h de vir balizado no Edital.[4] Fatos Relevantes - Edital de Concurso AA n 01/2014-BNDES, Disponvel em http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Hotsites/Concurso_Anexo_BNDES/Edital/. Acesso em 2 abr. 2014.[5] Lei n 8666/93, Art. 2. Pargrafo nico. Para os fins desta Lei, considera-se contrato todo e qualquer ajuste entre rgos ou entidades da Administrao Pblica e particulares, em que haja um acordo de vontades para a formao de vnculo e a estipulao de obrigaes recprocas, seja qual for a denominao utilizada.[6] Acrdo n 3.361/2011 Plenrio.[7] Nota da autora: Retrica aqui definida como arte do convencimento atravs de expresses orais, textuais ou grficas/ imagticas.[8] Alm do CAU/BR e do IAB, assinam o documento: Conselho de Engenharia e Agronomia (Confea), Federao Nacional de Arquitetos e Urbanistas (FNA), Associao Brasileira de Ensino de Arquitetura (Abea), Associao Brasileira de Escritrios de Arquitetura (AsBEA), Associao Brasileira de Arquitetos Paisagistas (Abap), Associao Nacional dos Servidores Pblicos Engenheiros, Arquitetos e Agrnomos do Poder Executivo Federal (ANSEAF), Federao Brasileira de Associaes de Engenheiros (FEBRAE), Associao dos Arquitetos,Agrnomos e Engenheiros Pblicos de So Paulo (AEP.SP) e a Federao dos Estudantes de Arquitetura (FeNEA).

Abstract:This article seeks to develop a critical analysis of the applicability of bidding modality of public tender for the selection of architectural and engineering projects, comparing the concepts and guidelines established by Brazilian law and practice performed by public managers and the applicable case law.Keywords: Bidding, Administrative Contract; Public Concourse; Architecture Project.