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22 COTAS RACIAIS NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS: A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO RACISMO RATIFICADA PELO STF Alceu Álvares de Amorim Neto 1 Flávio Henrique Salomão Neto 2 RESUMO: O presente trabalho tem por escopo discutir a questão das ações afirmativas, instituídas por meio de cotas raciais nas universidades brasileiras. O estudo aborda os conceitos de igualdade formulados ao longo da história das Cartas Políticas brasileiras até chegar à atual Constituição Federal de 1988 e o problema da divisão da população brasileira em raças. A análise deste trabalho se concentra no fato de ser inviável e ineficaz a adoção de políticas de cotas raciais para solucionar o problema da exclusão social existente no País. Os fatores que influenciam na capacidade de um aluno alcançar uma vaga em uma universidade brasileira não é a cor da sua pele, mas diversos outros fatores como a renda da família, a educação dos pais, e outras variáveis como o tipo de escola que frequentava. A solução do problema somente será alcançada com a adoção de cotas sociais, que alcancem toda a parcela da população desfavorecida, sem a utilização de critérios raciais e, sobretudo, quando, efetivamente, houver investimentos no setor educacional brasileiro. PALAVRAS-CHAVE: Princípio da Igualdade. Cotas raciais. Inviabilidade. Ineficácia. Cotas sociais. ABSTRACT: The present work has for scope discuss question of affirmative actions, instituted through racial quotas in Brazilian 1 Acadêmico do IESI/FENORD, graduado em 2013. ² Professor do IESI/FENORD, Especialista em Direito Público e Direito Administrativo (FADIVALE), Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais (Universidad del Museo Social Argentino).

COTAS RACIAIS NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS … · A solução do problema somente será alcançada com a adoção de cotas sociais, que alcancem toda a parcela da população desfavorecida,

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COTAS RACIAIS

NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS:

A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO RACISMO

RATIFICADA PELO STF

Alceu Álvares de Amorim Neto1

Flávio Henrique Salomão Neto2

RESUMO: O presente trabalho tem por escopo discutir a questão das

ações afirmativas, instituídas por meio de cotas raciais nas

universidades brasileiras. O estudo aborda os conceitos de igualdade

formulados ao longo da história das Cartas Políticas brasileiras até

chegar à atual Constituição Federal de 1988 e o problema da divisão

da população brasileira em raças. A análise deste trabalho se

concentra no fato de ser inviável e ineficaz a adoção de políticas de

cotas raciais para solucionar o problema da exclusão social existente

no País. Os fatores que influenciam na capacidade de um aluno

alcançar uma vaga em uma universidade brasileira não é a cor da sua

pele, mas diversos outros fatores como a renda da família, a educação

dos pais, e outras variáveis como o tipo de escola que frequentava.

A solução do problema somente será alcançada com a adoção de cotas

sociais, que alcancem toda a parcela da população desfavorecida, sem

a utilização de critérios raciais e, sobretudo, quando, efetivamente,

houver investimentos no setor educacional brasileiro.

PALAVRAS-CHAVE:

Princípio da Igualdade. Cotas raciais. Inviabilidade. Ineficácia. Cotas

sociais.

ABSTRACT: The present work has for scope discuss question of

affirmative actions, instituted through racial quotas in Brazilian

1 Acadêmico do IESI/FENORD, graduado em 2013.

² Professor do IESI/FENORD, Especialista em Direito Público e Direito

Administrativo (FADIVALE), Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais (Universidad

del Museo Social Argentino).

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universities. The study addresses concepts of equality formulated

along of history Brazilian Political Letters to arrive the currently

Federal constitution in 1988 and the problem of Brazilian population

division in races. The analysis of this work concentrated on fact of be

inviable and ineffective adoption of political of quotes races to solve

the problem of social exclusion existent in Country. The factors that

influence on the ability of the student achieve a place at a Brazilian

university not is not skin color, but a many of others factors like

family income, parental education, and others variables such as the

type of school that attended. The solution of problem will only be

achieved with the adoption of races quotes, that achieve all plots of

disadvantaged population, without utilization of racial criteria and,

especially, when, effectively, there is investments in the Brazilian

education sector.

KEYWORDS:

Principle of Equality. Racial quotas. Infeasibility. Ineffectiveness.

Social dimensions.

1 INTRODUÇÃO

A Constituição Federal de 1988 consagra expressamente o

princípio da igualdade no caput do art. 5º da Carta Maior, segundo o

qual “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

natureza...”. Por meio deste regramento objetiva-se impedir a

criação de distinções, discriminações e privilégios arbitrários,

preconceituosos, odiosos ou injustificáveis.

A igualdade, durante todas as Cartas Políticas brasileiras,

sempre foi buscada como forma de concretizar a dignidade da pessoa

humana, embora, muitas vezes, apenas de maneira formal.

Neste contexto, as ações afirmativas surgiram como políticas

capazes de, em um curto espaço de tempo, possibilitar a concessão

de uma igualdade de oportunidades às parcelas da população que,

historicamente, foram marginalizadas e excluídas do contexto social.

Todavia, mesmo adotando este objetivo legítimo de concretizar

a igualdade no ordenamento jurídico pátrio, estas políticas públicas

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sempre foram alvo de inúmeras e intensas críticas, sobretudo após

a decisão do STF que julgou ser constitucional a política de cotas

raciais nas universidades brasileiras. Dentre os diversos argumentos

utilizados, um dos principais é exatamente a utilização da raça como

critério para determinar qual a parcela da população será

beneficiada pela ação afirmativa.

É exatamente sobre esta polêmica que o presente trabalho

monográfico tratará, não a partir apenas de teorias, mas com base em

dados científicos, e, principalmente, estatísticas apresentadas pela

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Instituto

de Pesquisas Avançadas em Educação (IPAE), bem como pelas notas

obtidas no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

2 PRINCÍPIO DA IGUALDADE NA ATUAL

CONSTITUIÇÃO FEDERAL

O papel exercido pelos princípios em um Estado Democrático

de Direito é de extrema relevância para a concretização da

democracia e, consequentemente, de todos os direitos humanos

fundamentais por ele contemplados.

O princípio da igualdade, que exige a igualdade para todos,

sempre foi contemplado por nossas Cartas Políticas, embora, apenas

formalmente: igualdade perante a lei. Diversamente, grande avanço

se viu com a Carta de 1988, ao atribuir ao princípio uma dimensão

material, visando garantir a participação efetiva de todos na

construção de uma sociedade livre de preconceitos (KAUFMANN,

2007, p. 233).

Assim, o princípio da igualdade na atual Constituição, evoluiu no que

diz respeito a sua concepção, ajustando em uma igualdade formal e

material. A formal aquela disciplinada pela lei, enquanto que a material

proporciona tanto a garantia individual, quanto afastar o favoritismo

nas oportunidades, com a intenção de mitigar as desigualdades de fato,

ou seja, dar tratamento desigual para os desiguais na medida de suas

desigualdades a fim de alcançar uma igualdade de oportunidades.

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Deste modo, toda diferenciação deve ser adotada por lei, e

pode constituir-se de qualquer elemento presente nas coisas, pessoas

ou situações. No entanto, para que seja harmônico com o princípio

da igualdade, o elemento discriminador, cuja adoção exige uma

justificativa racional, deve ter por escopo a promoção de um fim

constitucionalmente consagrado. Assim, o critério utilizado para a

diferenciação deve ser objetivo, razoável e proporcional

(NOVELINO, 2009, p. 412-413).

Portanto, a diferenciação somente será compatível com o

princípio da igualdade quando houver um fundamento lógico para a

adoção do critério discriminatório e esta justificativa estiver,

concretamente, ajustada com os valores protegidos pela Constituição

(MELLO, 2006). Este fundamento lógico empregado para justificar

a adoção das cotas raciais para o ingresso nas universidades públicas

brasileiras que será, em momento oportuno, objeto do presente

trabalho.

3 AÇÕES AFIRMATIVAS COMO FORMA DE COMBATER

A DISCRIMINAÇÃO

As ações afirmativas são uma das formas para proporcionar a

certas pessoas e/ou grupos de pessoas condições reais de igualdade

em relação a toda a sociedade. Tais ações mostram-se como grandes

aliadas à minimização e, inclusive, à eliminação dos efeitos de

diversas formas de discriminação, buscando-se, assim, gerar “o

desenvolvimento de uma sociedade plural, diversificada, consciente,

tolerante às diferenças e democrática, uma vez que concederia espaço

relevante para que as minorias participassem da comunidade”

(KAUFMANN, 2007, p. 220).

Desde o início do combate às práticas discriminatórias,

verificou-se que o mesmo pode se desenvolver, basicamente, de duas

formas. Na primeira, o Estado edita e adota normas que proíbem e

reprimem a discriminação, criminalizando atos discriminatórios a

cujos autores impõem-se sanções. Na segunda, adota-se uma política

com preceitos que beneficiam a inclusão de pessoas e grupos de

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pessoas excluídos de algum contexto. Esta é a ação afirmativa

(BRITO FILHO, 2012, p. 59).

Ressalte-se que os modelos não devem ser aplicados

isoladamente, pois um completa o outro. Isto é, nas ações afirmativas,

medidas repressivas devem ser adotadas; e no modelo repressivo,

além das sanções impostas pelo Estado, ações de (re)inclusão

também devem ser tomadas. Ademais, ambos os modelos possuem

idêntico fundamento: a igualdade entre as pessoas (BRITO FILHO,

2012, p. 60).

Mas, esta equidade buscada não pode ser apenas formal, mas,

material, de modo a tratar igualmente os iguais e, desigualmente,

os desiguais, fornecendo “os meios para reduzir ou compensar as

dificuldades subjacentes às desigualdades enfrentadas para cada

qual” (BERNARDES; FERREIRA, 2012, p. 72).

4 AS COTAS RACIAIS NO BRASIL

A adoção de programas de ações afirmativas nos EUA

importou uma verdadeira resposta ao sistema de segregação

institucionalizado que se iniciou logo após a abolição da escravatura.

O fato de, no Brasil, não ter havido este tipo de sistema, logicamente,

não impede a adoção de medidas semelhantes. Todavia, os modelos

a serem utilizados nesta apreciação serão outros, distintos daqueles

que impulsionaram a adoção das supra referidas medidas. No Direito

pátrio, o estudo das ações afirmativas deve ser realizado com base

na realidade aqui vivida, com o escopo de eliminar as razões que

concretamente impediram e ainda impedem o negro de se integrar

totalmente à sociedade.

Aqui, as ações afirmativas surgiram como forma de

consolidar a igualdade material, ou seja, “a igualdade de

oportunidades, em clara proposta assistencialista – e não como

resposta à segregação dantes implementada, como aconteceu nos

Estados Unidos” (KAUFMANN, 2007, p. 236).

O marco histórico para a adoção de políticas afirmativas na

modalidade cotas raciais no País ocorreu em 2001, quando

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participamos da Conferência Mundial de Combate ao Racismo e

Xenofobia, promovido pela ONU em Durban, África do Sul, onde

nossa delegação assumiu, abertamente, que éramos um país racista

e que existiria aqui um racismo institucional, que agiria de maneira

implícita2. Em seguida, o Brasil comprometeu-se,

internacionalmente, a adotar políticas de reparação.

Tal postura, todavia, segundo Maggie e Fry (2002 apud

FREITAS NETO, 2007, p. 16-17):

Gerou críticas diversas por conta do caráter

ideologicamente enviesado da delegação enviada a

Durban e da pouca divulgação dos debates

preparatórios, ficando as discussões restritas interna

corporis do assim chamado Movimento Negro.

Após a referida Conferência, começaram a surgir, no País,

as primeiras ações voltadas para a implantação de políticas

afirmativas de cunho racial.

Nas universidades, a adoção da política de cotas, pela reserva

de vagas iniciou-se em 2000, com a Lei nº 3.524, que trata dos

critérios de seleção e admissão de estudantes da rede pública estadual

de ensino em universidades públicas estaduais. Segundo o (IPAE)

(2010, p. 2), esta lei foi aplicada na Universidade do Estado do Rio

de Janeiro (UERJ) e na Universidade Estadual do Norte Fluminense

(UENF), e assegurava 50% das vagas para estudantes das redes

municipal e estadual de ensino.

2

Há diferença entre afirmar “há racismo no Brasil” e “O Brasil é um país

racista”. A veracidade daquela se deduz a partir da constatação da existência de

indivíduos racistas num país, fato do qual nenhum país escapa. Afirmar, porém,

que o país é racista depende necessariamente de ser a ideologia racista ali operante,

o que redunda na existência de conflitos de rua entre grupos racistas, difusão

midiática da ideologia, reflexos legais de tal ideologia por meio de medidas

indubitavelmente racistas que, por serem institucionais, são ipso facto explícitas.

A ideia de um racismo ao mesmo tempo institucional e implícito constitui, a nosso

sentir, uma insanável contradição em termos (FREITAS NETO, 2007).

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A Universidade de Brasília (UNB) e a do Estado da Bahia

(UNEB), também aderiram ao sistema de cotas, utilizando como

critérios os indicadores socioeconômicos, a cor ou a raça do

indivíduo (IPAE, 2010). A UNB foi a primeira instituição federal

a instituir o sistema de cotas, através do Plano de Metas para

Integração Social, Étnica e Racial aprovado pelo Conselho de Ensino,

Pesquisa e Extensão da Universidade (MACÊDO, 2009).Além disso,

criou-se o Decreto nº 4.886/2003, que instituiu a Política Nacional

de Promoção da Igualdade Racial, que tem como um dos objetivos

gerais:

Redução das desigualdades raciais no Brasil, com

ênfase na população negra, mediante a realização de

ações exequíveis a longo, médio e curto prazos, com

reconhecimento das demandas mais imediatas, bem

como das áreas de atuação prioritária (BRASIL, 2003).

Podem-se citar, ainda, a Lei nº 10.558/2002, conhecida como

Lei de Cotas, que cria o Programa Diversidade na Universidade, e

dá outras providências; o Decreto nº 4.876/2003, que dispõe sobre a

análise, seleção e aprovação dos Projetos Inovadores de Cursos,

financiamento e transferência de recursos, e concessão de bolsas de

manutenção e de prêmios de que trata a Lei nº 10.558, de 13 de

novembro de 2002, que instituiu o Programa Diversidade na

Universidade. Esse decreto foi modificado pelo Decreto nº

5.193/2004, que dá nova redação aos arts. 3º, 4º, 5º, 8º e 9º do referido

Decreto nº 4.876/2003. Por fim, vale lembrar ainda a Lei nº

12.288/2010, conhecida como o Estatuto da Igualdade Racial3.

Todavia, o tema cotas raciais é assaz polêmico e ainda carece

de inúmeros debates sobre a sua viabilidade e eficácia. Este é um

assunto que divide opiniões, embora seja pacífico que algo deve ser

3 O Prouni destina-se à concessão de bolsas de estudo integrais e parciais em cursos

de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições privadas de

educação superior. Criado pelo Governo Federal em 2004 e institucionalizado pela

Lei nº 11.096/2005, oferece, em contrapartida, isenção de alguns tributos àquelas

instituições de ensino que aderem ao Programa.

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feito para diminuir as desigualdades existentes entre os cidadãos de

diversos grupos sociais (IPAE, 2010).

É bem verdade que o Brasil, atualmente, possui a segunda

maior população negra do mundo (ficando atrás, apenas, da Nigéria)

(LESME, 2013). Além disso, é notório e indiscutível que o País possui

uma imensa dívida histórica com os negros. Todavia, é sabido,

também, que as cotas raciais já causaram prejuízos incalculáveis a

inúmeras pessoas, que não se viram beneficiadas por vagas e/ou

empregos a que, teoricamente, teriam direito. Na verdade, o que se vê

é que, com o passar do tempo, as cotas transformam-se em

instrumentos de divisão da sociedade em classes e concessão de

privilégios – os quais, ao invés de remediar conflitos, somente

servem para incitar preconceitos.

4.1 Ineficácia da política de cotas raciais

A análise sobre a ineficácia das cotas raciais para solucionar o

problema da desigualdade social e, assim, promover a inclusão dos

negros na sociedade será baseada nos estudos feitos por Simon

Schwartzman sobre os fatores que influenciam na inclusão de

negros e pardos em universidades brasileiras, sopesando,

sobretudo, os dados exibidos pelo IBGE, PNAD e IPAE, bem como

as notas obtidas no ENEM.

É indiscutível que o acesso à educação superior é essencial

para o País, pois traz benefícios para toda a sociedade, não sendo justo

que os mesmos se limitem a apenas certos grupos que tiveram

oportunidade de cursar boas escolas e melhor se preparar para os

exames vestibulares. A relação entre os resultados obtidos nos

vestibulares e a performance nos estudos e nas carreiras, contudo,

não é perfeita. É elementar para as instituições de nível superior e

para o País expandir a presença de pessoas de origens e condições

sociais diversas nas universidades, tornando-as mais plurais e

diferenciadas, social e culturalmente (SCHWARTZMAN, 2008).

A inclusão desses estudantes no ensino superior, segundo

Schwartzman (2008, p. 23), pode ser pensada de duas formas: a

primeira delas é através da ampliação do acesso, que, como é o caso

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das cotas raciais aqui tratadas, prevalece na discussão brasileira; e a

segunda se dá por meio de uma política mais variada de admissão de

alunos, que pode, em princípio, ser alterada ainda quando a dimensão

do sistema de educação superior permanece inalterado, ou pouco se

altera.

Deste modo, de início, é importante fazermos uma análise do

grau de exclusão existente no ensino superior do País, bem como

se ela vem aumentando ou diminuindo e quais seriam as boas e más

práticas de inclusão a serem adotadas.

Segundo a doutrina de Schwartzman (2008, p. 24), o ensino

superior no Brasil desenvolveu-se enormemente no período de 2001

a 2005, passando, de acordo com dados da PNAD, de 2,4 a 4,8

milhões de estudantes, ou seja, dobrou. Essa ampliação sobreveio,

especialmente, no ensino privado, que cresceu 48,5% no período, ao

contrário do setor público, que só cresceu 21,4%. Do ponto de vista

da inclusão social, o que se verifica é que o sistema tornou-se menos

excludente, tanto em relação à renda quanto à incorporação de alunos

não brancos, segundo a classificação do IBGE. O quadro a seguir

expõe as principais informações.

QUADRO 1 – CRESCIMENTO DA MATRÍCULA ENSINO

SUPERIOR, 2001-2005 2001 2005 Aumento

Total 3.458.642 4.867.984 Z Não brancos 801.961 1.500.608 87,1% Renda 1 a 3 quintos 394.357 659.227 67,2% Público 989.737 1.201.124 21,4% Não brancos 325.857 457.224 40,3% Renda 1 a 3 quintos 188.447 253.276 34,4% Particular 2.468.905 3.666.860 48,5% Não brancos 475.293 1.043.384 119,5% Renda 1 a 3 quintos 205.910 405.951 97,1% Fonte: PNAD 2001 e 2005

Verifica-se que a população de renda mais baixa (1 a 3

quintos), incluindo brancos, pretos e pardos, passou de 11,4% em

2001, para 13,54% em 2005; já a população não branca, subiu de

23,2% em 2001, para 30,8% em 2005, aumento importantíssimo em

um País marcado pela exclusão social. Os principais aumentos

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Fonte: PNAD 2005.

ocorreram no setor privado, onde o total de não brancos majorou

quase 120%.

Constata-se que nosso ensino superior desenvolve-se e integra

pessoas menos privilegiadas, e o impressionante é que isto ocorre

independente das políticas de inclusão, o que ratifica que sua

adoção não é de todo indispensável. É possível que, no setor

privado, a ampliação de estudantes de baixa renda seja reflexo do

Programa Universidade para Todos (Prouni). Porém, os alunos

beneficiados não chegam a 300 mil no período apurado, segundo o

Ministério da Educação. Ademais, o limite de renda fixado pelo

programa (1,5 salário mínimo per capita) abrange até o quarto

quinto da classificação de renda empregada aqui, e, possivelmente,

não está incluindo muitos alunos de renda efetivamente mais baixa

(SCHWARTZMAN, 2008).

Estas modificações no número de matrículas no ensino

superior no período de 2001 a 2005 refletem, também, a ampliação

do acesso à educação que vem ocorrendo em outros níveis de

educação, como se verifica no gráfico 1.

GRÁFICO 1

PROPORÇÃO POR COR E NÍVEIS DE EDUCAÇÃO

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Quanto à cor dos candidatos na população total, o gráfico revela

que aproximadamente metade das pessoas (49,91%) se autodeclara

branca, 43,16% se declaram pardas e, apenas, 6,26%, pretas (PNAD,

2005). No ensino fundamental, o percentual de pessoas pardas

(51,08%) é superior ao de brancas (43,00%), e o percentual destas é

quase 8 vezes maior que o de pessoas pretas (5,48%). No ensino

médio, as proporções não se alteram muito: o percentual de pessoas

pardas (43,30%) é bastante equivalente ao de pessoas brancas

(49,93%); porém, o percentual de pessoas pretas (6,15%) continua

baixo (embora com um leve aumento em relação ao ensino

fundamental), pois é 8,1 vezes inferior ao de pessoas brancas. Como

se vê, a diferença na inclusão se torna mais discrepante quanto maior

for o nível de escolaridade. Assim, no ensino superior, o percentual

de pessoas brancas (69,17%) ultrapassa 2,7 vezes o de pardas

(25,12%) e 15,2 vezes o de pretas (4,55%), fato que reflete claramente

o passado de desigualdades.

O entrave basilar ao acesso de alunos ao ensino superior, hoje,

não é a falta de vagas ou a carência financeira, nem a discriminação

social existente em seleções. Na verdade, corrobora-se com

Schwartzman (2008), para quem a grande peneira é o ensino médio,

que ainda não forma alunos suficientemente para suprir a expansão

do ensino. O alto ponto de corte de renda do Prouni se explica porque

o programa não teria candidatos se se voltasse, apenas, a estudantes

de baixa renda.

Neste sentido, Cláudio Moura Castro, assessor do sistema

Positivo de ensino, e João Luiz Martins, pró-reitor de Planejamento

e Desenvolvimento da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop),

defendem que, no atual momento, deve ser dada uma especial

atenção pelo Poder Público para a melhoria do ensino médio, que é

um problema. Martins (2013) indica como pontos críticos “o

elevado percentual de evasão, da ordem de 50%, e a própria

indefinição quando ao conceito que deveria nortear seu conteúdo

curricular” (FREITAS, 2013, p. 5).

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O ideal, segundo ambos, é que o ensino médio

conseguisse aliar a formação humanista ao

conhecimento tecnológico e de mundo e, ao final de três

anos, o aluno pudesse fazer a escolha quanto a ir para a

universidade ou fazer um curso técnico

profissionalizante. “O importante é que a escola de

nível médio esteja sintonizada com o século 21 e as

novas tecnologias”, afirma João Luiz Martins. “O

momento é de consolidar o ensino médio”, reforça

Moura Castro (FREITAS, 2013, p. 5).

No debate já destacado sobre a adoção e implantação das

cotas raciais, a tese de que o problema da inclusão de estudantes na

educação superior está nos ensinos médio e fundamental é

intensamente criticada como forma de desviar a atenção da questão

da ação afirmativa. Mas é notório que o problema do ensino médio é

realmente grave. Para exemplificar esta gravidade existente no

ensino, pode-se citar, de início, o número de alunos. Em Minas

Gerais, 86% dos alunos que cursam o ensino médio estão em escolas

públicas e, apenas, 14%, em escolas particulares. Por outro lado, os

números do ENEM, cuja nota é utilizada pelas universidades como

porta de entrada dão a dimensão desse abismo. Em 2011, em Minas,

entre as 100 escolas melhor classificadas no ENEM, só seis eram

públicas (todas federais – dentre colégios militares, escolas ligadas a

universidades federais ou Cefets), o restante, 94, particulares. Na

outra ponta, ou seja, das 100 escolas com pior desempenho, 99 são

estaduais e 1 municipal (FREITAS, 2013, p. 4).

Sendo assim, levando-se em consideração que o contingente

de alunos negros e pardos em escolas públicas supera

significativamente a de alunos brancos, por consequência, a

dificuldade daqueles em alcançarem vagas nas universidades

públicas brasileiras será muito maior, haja vista estes disporem de

maiores oportunidades para estudarem em escolas particulares e se

prepararem melhor para os vestibulares. Por outro lado, não se pode

esquecer que também existem diversos alunos brancos nas escolas

públicas e que, devido à deficiência do ensino, também têm

dificuldade de conquistarem vagas nas universidades públicas

brasileiras.

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Esta dificuldade a que são acometidos os estudantes de

ingressarem em universidades públicas também pode ser claramente

evidenciada no quadro a seguir, que demonstra que o setor público

oferece apenas 13,29% das vagas abertas em universidades públicas,

que são disputadas, em média, por 7,88 candidatos, número bastante

elevado se comparado à disputa pelas vagas no setor privado, que é

de apenas 1,3 candidatos por vaga.

QUADRO 2 – CONCLUINTES, CANDIDATOS E VAGAS

PARA O ENSINO SUPERIOR

Concluintes

do ensino

médio

Vagas no

ensino

superior

Candidatos Ingressantes

Candidatos

por

ingressantes

Setor

privado 302.709 2.011.929 2.622.604 1.303.110 2,0

Setor

público 1.547.509 308.492 2.431.388 287.242 8,5

Total 1.868.218 2.320.421 5.053.992 1.590.352 3,2

Fonte: Ministério da Educação. Censo Escolar 2005 e Censo do Ensino Superior, 2005

Além disso, Schwartzman (2008, p. 27) assevera que:

O ensino superior brasileiro é muito estratificado tanto

no setor público quanto no setor privado, com

instituições e carreiras mais competitivas nos dois

setores atraindo estudantes com melhor formação e

recursos, e outras mais abertas e baratas abrindo espaço

para estudantes com menos condições. Políticas de

inclusão devem lidar com a questão de quem são os

excluídos e, portanto, merecedores de políticas

específicas de atendimento: como selecionar, tomando

critérios sociais, e não somente de desempenho; em que

tipo de instituição (pública, privada) e carreiras (mais e

menos disputadas) estas políticas devem privilegiar; o

que fazer com estudantes menos qualificados uma vez

admitidos ao ensino superior.

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35

Neste contexto em que se busca situar quais parcelas da

sociedade são excluídas a fim de definir as políticas de inclusão a ser

adotadas, o debate sobre as cotas raciais destaca-se se comparado aos

critérios que consideram a condição socioeconômica e o tipo de

educação básica recebida, se pública ou privada.

Apesar de os critérios do IBGE evidenciarem uma forte

correlação entre o fato de ser uma pessoa parda ou preta e as suas

condições socioeconômicas e educacionais, estas meras diferenças

de cor não explicam a desigualdade social existente no País. Segundo

Schwartzman (2008, p. 28), no trabalho elaborado pelo IPAE,

juntamente com outros especialistas, sobre Desigualdade de renda

no Brasil, fala-se o seguinte sobre a discriminação no mercado de

trabalho:

Quando pretos e brancos igualmente produtivos têm a

mesma ocupação, no mesmo segmento do mercado de

trabalho, e os brancos recebem remuneração maior,

dizemos que existe discriminação salarial contra os

pretos. Além da cor, trabalhadores podem ser

discriminados por várias características, tais como

idade, sexo, religião etc.. A despeito desta representar

talvez a manifestação mais injusta da desigualdade, sua

importância quantitativa é limitada, uma vez que

responde por apenas 5% da desigualdade entre

trabalhadores e por uma fração desprezível da

desigualdade entre família (IPAE, 2006 apud

SCHWARTZMAN, 2008, p. 28).

Ressalte-se, portanto, que a pesquisa realizada pelo IPAE

(2006) revela que a desigualdade de renda entre trabalhadores

brancos e negros e/ou pardos é de apenas 5%, o que não pode ser

justificado apenas pela discriminação racial, mas por diversos

outros fatores.

Na verdade, Schwartzman (2008, p. 28) explica que os

principais motivos para tais diferenças são, primeiramente, o

rendimento no trabalho; em seguida, a educação; e, por último, a

divisão do mercado de trabalho em segmentos, sobretudo geográfica

(quando, por exemplo, pessoas com a mesma qualificação e

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atividades semelhantes auferem salários diferentes de acordo com a

região em que vivem). Em outras partes do trabalho, os autores

destacam que as diferenças existentes entre os grupos de cor no

Brasil ocorrem, principalmente, devido às diferenças educacionais,

que, por seu turno, influenciam na produtividade do trabalho.

Novamente, destaca-se que não é a discriminação racial o fator

que mais influência na diferença entre a renda auferida pelas pessoas

brancas e a recebida pelas pessoas pardas e/ou negras, mas sim o

nível da educação, o que comprova, ainda mais, a deficiência do

ensino no País.

Diante do exposto, os estudos realizados pelo IPAE (2006) já

nos permitem colocar em pauta a polêmica sobre a adoção de

políticas de cotas raciais para facilitar o acesso de pessoas pardas e

negras às universidades brasileiras. Como se constatou até o presente

momento, tal adoção resolveria o problema da desigualdade existente

no Brasil em apenas (e no máximo) 5%. Na verdade, como bem

coloca Schwartzman (2008), uma redução significativa dessa

desigualdade social somente poderá ser alcançada com investimentos

na produtividade do trabalho, na melhoria da educação, no

redirecionamento dos gastos sociais, e na integração dos mercados de

trabalho no País, processos que, apesar de estarem sendo realizados,

precisam ser intensificados.

Na seara educacional, uma fonte recente de informações sobre

o impacto das diferenças de cor pode ser extraída dos dados do

ENEM, embora não sejam representativos, já que a participação é

voluntária. Apesar disso, já inclui um número significativo de

pessoas. Em 2005, inscreveram-se para o exame cerca de 3 milhões

de jovens, dos quais aproximadamente 2 milhões fizeram as provas

e responderam a um questionário socioeconômico, que possuía uma

pergunta sobre “cor”, igual à do IBGE. A divisão é bastante

semelhante à da população, sendo 45,6% brancos, 38,2% pardos e

11,9% pretos. Avaliando os resultados da prova objetiva, verifica-se,

como era de se esperar, uma significativa variação do desempenho

em função da educação e da renda das famílias de origem dos

candidatos, e também diferenças por cor (Quadro 3)

(SCHWARTZMAN, 2008).

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QUADRO 3 – RESULTADOS DO ENEM 2005, POR RENDA

FAMILIAR E COR (PROVA OBJETIVA)

Média na prova objetiva Número de pessoas

Renda familiar

Até 1 s.m. 31,5 260.496

1 a 2 s.m. 35,2 645.469

3 a 5 s.m. 40,7 666.614

5 a 10 s.m. 48,5 207.967

10 a 30 s.m. 59,0 91.032

30 a 50 s.m. 62,7 16.157

Mais de 50 s.m. 61,3 8.232

Nenhuma renda 30,6 27.611

Cor

Branco 42,8 879.191

Pardo 36,8 737.492

Preto 35,6 229.579

Amarelo 40,6 64.915

Indígena 32,9 16.588

Total 39,51 1.927.765 Fonte: ENEM 2005.

Observe-se que a diferença na média das notas obtidas no

exame, levando-se em consideração a renda da família do candidato

é muito maior se comparada à sua cor, variando de 30,6 pontos

(nenhuma renda) a 61,3 pontos (mais de 50 salários mínimos), ao

passo que esta última varia de 42,8 pontos (brancos) para 35,6

pontos (negro), o que comprova, ainda mais, que a condição

socioeconômica das famílias supera a simples questão da cor.

Além disso, segundo Schwartzman (2008, p. 30):

Diferenças semelhantes surgem em termos da educação

dos pais. Filhos de mães que não estudaram têm em

média 31,8 na prova do ENEM, comparando com 56,2

pontos para os filhos de mães com educação superior

completa. Dentro de cada nível de renda ou educação,

as diferenças entre os grupos de cor são pequenas,

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sobretudo entre os de renda mais baixa, ou de mães com

menor educação. Nos níveis mais altos de educação, as

diferenças entre grupos de cor aumentam. Quando as

mães têm nível superior, a média do ENEM é de (...)

56,2 para brancos, 48,9 para pardos, e 44,3 para pretos.

(PEIXOTO, 2008).

Assim, os dados até então exibidos ratificam que: 1) as diferenças

de renda e educação familiar são os principais fatores ligados aos

resultados do ENEM, que são um indicador razoável da chance de os

candidatos ingressarem em uma universidade mais competitiva; 2)

existem diferenças nos grupos de cor que persistem em vários grupos

de renda e educação familiar; 3) tais diferenças majoram-se na medida

em que alarga a renda e a educação das famílias, como se tais fatores

nas famílias pretas e, em menor grau, nas pardas não fossem

satisfatórios para que os filhos obtivessem ganhos análogos no

desempenho escolar (SCHWARTZMAN, 2008).

Não há provas de que tais diferenças sejam efeito da

discriminação, embora isso possa ser um fator. Elas podem resultar do

fato de os ganhos sociais e econômicos melhores das famílias pardas

e pretas serem recentes, ou que os cursos superiores dos pais tenham

sido feitos em carreiras e instituições de menor qualidade, ou que tais

famílias ainda não tenham acumulado “capital cultural”, requisito para

um bom desempenho escolar (SCHWARTZMAN, 2008). Ou seja,

outra vez, há vários fatores que podem interferir no desempenho

escolar e no ENEM dos candidatos negros e pardos, fatores que não se

limitam à discriminação racial.

Com relação a esta questão da discriminação, o ENEM

possui várias perguntas acerca da sua percepção e experiência.

Poucos são aqueles que se dizem preconceituosos, mas cerca de 30

a 40% veem preconceitos nos colegas e nas próprias famílias. Mais

da metade dos pretos, e 16% dos pardos, afirmam já terem sofrido

discriminação, independentemente de que natureza seja. Apesar

dessas declarações, as estatísticas demonstram que, na verdade, o

fator que influencia nas diferenças de resultado e oportunidades

educacionais não é a discriminação; continua sendo a renda das

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famílias, a educação dos pais, e outras variáveis como o tipo de escola

que o jovem frequentou (SCHWARTZMAN, 2008).

Portanto, não basta criar políticas de cotas raciais para o

ingresso em universidades; esta medida é ineficaz, pois não resolverá

o problema da inclusão social de pessoas negras e pardas. Na

verdade, esta é uma medida mais simples e barata, mas que não

resolve, e sim acaba desviando a atenção do verdadeiro problema. É

preciso que haja investimentos, principalmente, no ensino básico e

em instrumentos que proporcionem melhor renda e educação às

famílias pardas e negras e, em menor escala, às carentes famílias

brancas.

5 COTAS SOCIAIS: INCLUSÃO SOCIAL DOS

DESFAVORECIDOS E EXTINÇÃO DA

INSTITUCIONALIZAÇÃO DO RACISMO RATIFICADA

PELO STF

A recente decisão do STF de julgar constitucional a política de

cotas nas universidades brasileiras, ao invés de eliminar ou amenizar

o suposto racismo e discriminação existentes no País, provocaram,

ainda mais, a frustração da parcela da população que não se viu por

ela beneficiada.

O que se verifica em nosso cotidiano é que esta questão do

racismo e da discriminação existentes no Brasil não foi suficiente

para obstar a concepção de uma sociedade plural, diversificada e

miscigenada como a nossa, na qual se valorizam as mais variadas

culturas, principalmente a de origem negra, fato que pode ser

visivelmente comprovado na própria identidade do povo brasileiro,

que se destaca em todo o mundo pelo samba, pelo pagode, pelo

chorinho, pelo carnaval, pelo futebol, pela capoeira e pela mulata.

Além disso, não se pode afirmar que o racismo e que a discriminação

foram capazes de impedir que diversos pardos e negros se

destacassem no cenário nacional, seja na política, na magistratura,

nas universidades, nas artes ou nos esportes, como é o caso do Rei

Pelé, negro e mundialmente idolatrado.

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Verifica-se que, além dos critérios biológicos já citados, que,

devido à grande miscigenação, impedem a divisão do País em

raças, esta divisão também não pode ser feita em seu aspecto

cultural, pois o Brasil se transformou em um País completamente

misturado. Esta situação deveria ter sido observada pelo STF quando

da sua decisão. Todavia, ao invés de resolver um problema de

acesso às universidades brasileiras pela parcela da população que é

reconhecidamente desfavorecida, tal decisão despertou, na verdade,

sentimentos de ódio racial, verificando-se, assim, uma

institucionalização do racismo no País.

Defende-se o posicionamento de que a decisão tomada pelo

Supremo feriu o princípio da igualdade material previsto na

Constituição Federal de 1998, na medida em que, inicialmente, não

se vislumbrou nela uma justificativa racional. Além disso, o critério

escolhido para a concessão das cotas raciais, qual seja a própria

raça, não teve como atributos a objetividade, a razoabilidade e a

proporcionalidade, embora a finalidade maior das mesmas seja

plenamente acolhida pelo ordenamento jurídico pátrio, que é a

promoção da inclusão social de grupos desfavorecidos.

Neste sentido, Bernardes e Ferreira (2012, p. 74-75)

asseveram que:

A ação afirmativa só será constitucional se os fatores

discriminantes utilizados na identificação dos

respectivos beneficiários forem condizentes com as

dificuldades que a atuação estatal tentar atenuar ou

remediar. Caso a desigualdade de “condições de

partidas” advenha de motivações financeiras, por

exemplo, não há por que privilegiar outras pessoas que

não as portadoras de dificuldades econômicas, pois a

medida seria inadequada para atender à finalidade

pretendida.

É dizer, se a justificativa para reservar vagas em

instituições públicas de ensino superior radicar na

desigualdade entre aqueles que frequentaram e os que

não frequentaram escolas particulares – sob a

presunção de que a qualidade destas é melhor – ou entre

os vestibulandos que trabalham e os que não trabalham

para ajudar a família – daí se presumindo que estes

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últimos não tiveram o mesmo tempo útil de preparação

para o vestibular –, não faz sentido atribuir cotas

conforme critérios diversos (critérios

exclusivamente raciais, por exemplo). Do contrário, a

medida importaria em discriminação arbitrária que

elevaria as mesmas dificuldades enfrentadas pelos

vestibulandos trabalhadores e/ou egressos de escola

pública, mas que não preenchessem os critérios raciais

exigidos ao gozo das cotas. Ou seja, se eleger fator

discriminante equivocado, toda ação afirmativa poderá

ser considerada inconstitucional.

Conforme se pode extrair da explicação dada pelos nobres

doutrinadores, não se pode afirmar que a fixação da raça como

critério para possibilitar o acesso às universidades brasileiras seja

viável em um País marcado pela forte desigualdade social e pela

enraizada miscigenação. Não há como compensar a grande dívida

que a sociedade tem com os negros se não é possível, por meio de

critério objetivo, estabelecer quem é negro no País.

Tal critério (a raça) é demasiadamente subjetivo, conforme já

se pôde verificar ao longo deste trabalho e completamente

desarrazoado e desproporcional, já que, como se viu, diversos fatores

que influenciam na capacidade de um aluno conquistar uma vaga em

uma universidade pública brasileira, dentre os quais se destacam a

educação recebida e a renda da sua família, e não exclusivamente a

cor da sua pele.

Na verdade, o que se verifica no Brasil é que o problema da

exclusão social dos negros e pardos não é oriundo de uma política

segregacionista, como ocorreu nos Estados Unidos, através do

sistema Jim Crow. Logo, a questão não pode ser reduzida a uma

problemática de cor, apenas.

De todo modo, é inegável que, no Brasil, os negros foram

injustamente excluídos do seio da sociedade, fato que pode ser

claramente verificado através dos indicadores sociais, cujos piores

índices estão entre os afrodescendentes. Todavia, como bem coloca

Kaufmann (2007, p. 258):

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O que se quer demonstrar é que talvez o preconceito

arraigado na sociedade não se constitua no fator

exclusivo a impedir a representatividade dos negros nas

classes sociais mais elevadas. Fortes indícios

demonstram que o verdadeiro anátema dos negros se

localiza na precária situação econômica em que se

encontram, tornando-os despreparados para uma

competição justa no mercado de trabalho e na educação.

Por este motivo, acredita-se que a cotas sociais sejam a melhor

solução para o problema da exclusão social existente no País, uma

vez que, essas sim, alcançariam todos aqueles que carecessem das

condições educacionais e socioeconômicas necessárias para lhes

proporcionar o acesso às universidades públicas brasileiras.

Desta forma, acredita-se, por exemplo, que apenas o

mandamento constante do art. 1º da Lei das Cotas seria suficiente

para solucionar (a curto prazo) o problema da exclusão social, não

sendo necessária a previsão constante do art. 3º, que trata

especificamente do negros, pardos e indígenas. Vale destacar, assim,

a disposições trazidas pelos referidos dispositivos:

Art. 1º - As instituições federais de educação superior

vinculadas ao Ministério da Educação reservarão,

em cada concurso seletivo para ingresso nos cursos

de graduação, por curso e turno, no mínimo 50%

(cinquenta por cento) de suas vagas para estudantes que

tenham cursado integralmente o ensino médio em

escolas públicas.

Parágrafo único - No preenchimento das vagas de que

trata o caput deste artigo, 50% (cinquenta por cento)

deverão ser reservados aos estudantes oriundos de

famílias com renda igual ou inferior a 1,5 salário-

mínimo (um salário-mínimo e meio) per capita

(BRASIL, 2012).

(...)

Art. 3º - Em cada instituição federal de ensino

superior, as vagas de que trata o art. 1º desta Lei serão

preenchidas, por curso e turno, por autodeclarados

pretos, pardos e indígenas, em proporção no mínimo

igual à de pretos, pardos e indígenas na população da

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unidade da Federação onde está instalada a instituição,

segundo o último censo do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE).

Parágrafo único - No caso de não preenchimento das

vagas segundo os critérios estabelecidos no caput deste

artigo, aquelas remanescentes deverão ser completadas

por estudantes que tenham cursado integralmente o

ensino médio em escolas públicas (BRASIL, 2012).

Não se pode olvidar, todavia, que a política de cotas sociais é

uma medida provisória, uma vez que, como já se viu, o problema

maior a ser resolvido no País é a deficiência do ensino médio.

Enfim, acredita-se que, assim, finalmente, será assegurada a

observância da igualdade material de direitos preconizada pela Carta

Magna brasileira, sem a consequente concessão injusta de privilégios

ou vantagens para uma parcela da população que, sequer, pode ser

individualizada.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A violação do direito à igualdade constitui um verdadeiro

atentado à fonte material suprema de direitos fundamentais e

fundamento da República Federativa do Brasil, qual seja a dignidade

da pessoa humana.

Não há empecilhos para que a lei estabeleça distinções entre

certas pessoas ou grupos de pessoas, uma vez que, como se viu,

“o papel da lei não é outro senão o de implantar diferenciações”

(NOVELINO, 2009, p. 412). Por consequência, o simples fato de

uma lei, por si só, fixar um fator discriminatório não é suficiente para

que seja considerado ofendido o princípio da igualdade.

Todavia, para que seja harmônico com o princípio da

igualdade, o critério discriminador necessita de um fundamento

lógico, que, por sua vez, dever estar ajustado com os valores

protegidos pela Carta Magna. Assim, o critério utilizado para a

diferenciação prescinde de atributos objetivos, razoáveis e

proporcionais.

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É exatamente este fundamento lógico empregado para

justificar a adoção das cotas raciais para o ingresso nas universidades

brasileiras que foi arguido neste trabalho, pois não se vislumbra a

possibilidade de solucionar o problema da exclusão social do País

através da mera adoção de políticas de cotas raciais que, obviamente,

utilizem a raça como critério para determinar os beneficiários da

medida, se não é possível determinar, em um País fortemente

marcado pela miscigenação, quem é negro. Trata-se de um critério

subjetivo e passível de manipulação e erro.

Ademais, como se viu, as estatísticas provam que o fator que

influencia nas diferenças de resultado e oportunidades educacionais

não se limita à discriminação; continua sendo a renda das famílias, a

educação dos pais, e outras variáveis como o tipo de escola que é

frequentada. Note-se, que o critério raça é inviável e ineficaz.

Dentre estes fatores, o que merece mais destaque é exatamente

a deficiência do ensino público, carência esta que foi reconhecida

quando da criação da nova Lei de Cotas, pois, além do prazo de

quatro anos estipulado para que as universidades, Ifes e Cefets façam

as devidas adaptações para assegurar aos novos alunos igualdade de

condições com os demais, todos os Estados da Federação, também

neste mesmo prazo, terão a obrigação de melhorar o ensino médio,

de tal modo que, a partir de 2017, os alunos de escolas públicas não

mais precisem do “empurrãozinho” da lei para assegurar sua vaga em

uma universidade.

Enfim, indiscutivelmente, mais importante que corrigir o

déficit no acesso às universidades públicas através da implantação de

um sistema de cotas que gera polêmicas sobre os critérios por ela

adotados, é investir na real melhoria do ensino médio no País. que,

sem sombra de dúvidas, é a causa principal do problema da exclusão

social.

Por fim, levando em consideração que essa reestruturação do

ensino público é uma medida a ser alcançada em longo prazo,

defende-se a adoção de políticas afirmativas, capazes que amenizar o

problema da exclusão mais rapidamente, embora não

definitivamente. Daí porque acreditar que as cotas sociais seriam a

melhor opção, e não as raciais, porque somente aquelas realmente

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alcançariam as pessoas necessitadas, sejam elas negras, pardas ou

brancas.

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