Upload
nguyendat
View
217
Download
3
Embed Size (px)
Citation preview
A ALFABETIZAÇÃO PRECOCE E PROBLEMAS DE
APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESCRITA
VERONEZI, Ana Mirtiz - UTFPR [email protected]
Eixo Temático: Psicopedagogia
Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O objetivo deste trabalho é lançar dúvidas sobre o processo de alfabetização precoce, o qual tem se iniciado aos três, quatro anos, considerando-se o papel desempenhado por diferentes fatores necessários para a aquisição da escrita, tais como a maturação biológica, a prontidão motora e a maturação psicológica e intelectual do indivíduo a ser alfabetizado e letrado. Embora ainda não seja possível prever o sucesso ou fracasso de uma criança através de testes para suas diferentes habilidades, o respeito às etapas do desenvolvimento infantil que levam à capacidade de aprender a ler e escrever pode evitar problemas escolares ou facilitar o aprendizado da escrita, pois escrever não é meta do processo de desenvolvimento da criança nos primeiros anos de sua vida, mas é um processo social importante que se torna possível graças a um conjunto de habilidades desenvolvidas pelo indivíduo. Por volta dos seis anos, a criança já possui a capacidade de distinguir fonemas e começa a relacioná-los com seus grafemas e apresenta maturação psicológica e biológica para a fase escolar. Para o desenvolvimento dessa hipótese sobre a relação de dificuldades de aprendizado da escrita como consequência de um processo de escolarização cada vez mais precoce, este trabalho fará uma breve discussão sobre a escolarização precoce e sobre o desenvolvimento da fala e da escrita, uma vez que a linguagem oral precede a linguagem grafada – a qual tenta transcrever a oralidade com recursos gráficos –, para chegar ao ponto principal deste texto, que é a possível relação entre a alfabetização precoce e os problemas de aprendizagem, sempre focando no respeito à individualidade da criança, mas respeitando um parâmetro mínimo para que todas possam ser inseridas no universo da língua escrita. Palavras-chave: Escrita. Alfabetização precoce. Problemas de aprendizagem da língua escrita.
Introdução
Desde a década de 1970, as pesquisas na área de aquisição da leitura e escrita
começaram a desmistificar a crença de que ler / escrever era uma continuação do falar, pois
6104
para o desenvolvimento da leitura e escrita o sujeito precisa de instrução, enquanto a fala é
uma habilidade natural, desenvolvida como instrumento de sobrevivência e comunicação
dentro da espécie humana e, assim, anterior à escrita.
No Brasil, há alguns anos, era normal que as crianças da rede pública aprendessem a
ler na primeira série do ensino fundamental, sendo a pré-escola um período para o
desenvolvimento de habilidades manuais, de interação com o outro e para ambientação com o
espaço escolar. Nas escolas particulares, a alfabetização tinha início geralmente no período
pré-escolar, por volta dos cinco / seis anos, e a criança ingressava no Ensino Fundamental
com noções razoáveis de escrita e leitura.
Gradativamente, adiantou-se o processo de aquisição da leitura e escrita, e em algumas
instituições as crianças começaram a ser expostas ao processo de alfabetização desde os dois
anos de idade, quando já são incentivadas e brincarem com letras e números e a, no mínimo,
reconhecerem a grafia de seus nomes.
Devido à enorme discrepância entre a alfabetização inicial nas escolas públicas e
particulares e por pressões sociais1, o MEC – Ministério da Educação e Cultura – instituiu o
Ensino Fundamental de nove anos2 através do qual prevê que todas as crianças já cheguem à
segunda série do Ensino Fundamental (antiga primeira série) pré-alfabetizadas na língua
portuguesa padrão, para que todas as crianças sejam inseridas no processo de escolarização
com bom desempenho social, psicológico, intelectual e motor, uma vez que os municípios não
conseguiam ofertar vagas no ensino pré-escolar de acordo com a quantidade de público. Ou
seja, a série pré-escola cedeu lugar para a 1ª série oficialmente, a qual é obrigatória para todas
as crianças na rede pública, seja mantida pela prefeitura, subsidiada pelo governo estadual ou
pelo governo federal.
Na prática, o que o governo fez então foi mudar o nome das séries da escolarização
fundamental, para que todas as crianças começassem a ser alfabetizadas por volta dos cinco,
seis anos, mas as conseqüências a médio e longo prazo não foram bem avaliadas ou não se
pensou em medidas paliativas para o combate a excessos na área da instrução formal, pois se
quando a idade inicial e oficial para o aprendizado era de sete anos as crianças já eram 1 A capacidade “precoce” de a criança decodificar a escrita é visto por muitos pais como sinônimo de boa qualidade da escola e de crianças com futuro profissional mais promissor. 2 art. 32 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação: " O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão [...º].”
6105
expostas desde os cinco ou quatro anos ao processo de leitura e escrita, hoje com o
adiantamento para cinco, seis anos está levando muitas instituições a pensarem na
alfabetização desde os dois, três anos.
Quanto escrever era um processo motor desenvolvido gradativamente com exercícios
manuais e atividades para desenvolvimento de habilidades espaciais na criança, já havia
algumas que enfrentavam problemas dentro da escolarização regular e necessitavam de algum
apoio para superarem tais dificuldades, o que temos visto hoje é a inserção da criança desde
muito jovem ao universo da escrita.
A Escolarização Precoce
Por ser um processo-chave para compreensão do funcionamento das funções cerebrais,
a aquisição da escrita tem sido estudada por diferentes autores de áreas diversas, como
psicolinguística, neurolinguística, psicologia e fisiologia. Como lembra Abaurre (CASTRO,
1996, p. 113), os dados linguísticos coletados no processo de aquisição da escrita infantil são
singulares e variáveis. Entretanto, mesmo nas variações há traços comuns que “marcam” o
processo e que podem ser importantes aliados dos pesquisadores para compreensão de um
determinado objeto de estudo do interesse do pesquisador.
Por exemplo, elementos da língua escrita começam a ocorrer gradativamente na
produção escrita infantil. È o que acontece com a “regularização” de verbos irregulares por
crianças abaixo dos quatro anos (às vezes cinco anos) na fala em um primeiro momento e a
assimilação gradual das irregularidades linguísticas, os marcadores temporais para passado,
presente e futuro também começam a aparecer gradativamente na escrita infantil (SILVA,
2009, p. 180).
Quanto ao período para alfabetização, Emília Ferreiro (FERREIRO, 2000, p. 38) não
refuta a hipótese de a criança já adentrar esse processo entre os quatro e seis anos de idade,
mas a psicolinguista e psicóloga argentina defende que o interesse da criança pode ser
despertado pelos cuidadores ou pais, sem haver uma alfabetização formal como muitas
escolas e pais têm defendido. A autora ainda foca nas experiências educativas para crianças de
quatro, cinco, anos em que ninguém as obriga a aprender, mas lhes oferecem materiais
adequados para tais práticas (2000, p. 48).
6106
Ou seja, Ferreiro não incentiva o início precoce da alfabetização, pois a autora
(FERREIRO, 2000, p. 39) defende que aos seis anos a criança precisa estar exposta a material
escrito de qualidade, através de adultos lendo para ela para que este jovem aprendiz perceba a
importância do ato de leitura e consequentemente da escrita e os valorize, começando assim
um processo de alfabetização o mais natural possível, o qual levará ao letramento desse
aprendiz.
Porém, o processo de escrita não é natural da espécie humana, pois este requer
algumas habilidades – mais especificamente cinco, para a autora – as quais precisam estar
presentes para que a alfabetização ocorra. Tais processos são a simbolização, que é a relação
presente entre os objetos e seus significados, a discriminação entre letras e traços comuns
sobre a folha de papel, a discriminação letra/fonema –, pois se a criança tiver dificuldades
para compreender determinado som ela não conseguirá grafá-lo, a compreensão da
organização do texto na página, e aquisição do conceito de “palavra” para que a criança possa
adentrar o processo de escrita.
Todos os fatores acima podem ser considerados importantes, mas a simbolização é de
todos o processo inicial para a alfabetização pelo fato de as letras serem, em essência,
símbolos relacionados a sons. De modo semelhante, as palavras são representações para
“conceitos” ou signos lingüísticos do mundo, e a temporalidade – objeto de estudo deste
trabalho – é, também, simbólica; com exceção do efêmero “agora”, os demais marcadores
conversacionais exigem o desenvolvimento da construção simbólica por parte do aprendiz,
pois não será possível falar do que já aconteceu (uma vez ou várias) ou sobre o que irá
acontecer se o aprendiz não tiver bem estabelecido para si essa relação simbólica entre o
“fato” e o “momento” de sua ocorrência.
Silva (2009, p. 140) cita Emile Benveniste parta lembrar que para esse autor é a
linguagem que insere a criança na sociedade, pois a língua é o que desperta a consciência da
criança. A autora ainda diz que é “essa faculdade simbolizante, própria do homem, que
permite a formação de conceito como distinto de objeto concreto, que não é senão um
exemplar dele” (SILVA, 2009, p.140).
Entretanto, antes dos seis anos de idade, a criança não consegue diferenciar letras de
desenhos, tanto que é comum crianças pequenas misturarem, em suas tenras produções,
desenhos com letras para contarem suas histórias. Ainda, em uma etapa seguinte a criança
percebe cada sílaba como sendo formada por apenas uma letras representante, para daí em
6107
diante começar a adicionar outras letras às sílabas até que por volta dos seis, sete anos começa
a perceber a nasalização e começa a tentar representá-la com grafemas diferenciados até que
por volta dos sete, oito anos, todas têm consciência da nasalidade da língua e sob instrução
começa a dominá-la na grafia das palavras.
Ferreiro (2000, p. 60) diz que por volta dos seis anos a criança já consegue distinguir
letras e desenhos, o que pode ser uma pista para uma “prontidão” infantil para a alfabetização
propriamente dita após os seis anos.
A própria Ferreiro (2000, p. 60) prefere não se ater ao termo prontidão para o processo
introdutório na escrita por entender que esse dado se associa a vários fatores – sociais,
psicológicos, motores, por exemplo – mas lembra que a escrita depende de toda uma
preparação individual presente na criança.
O objetivo específico de escola deveria ser verificar a validade desse início precoce na
alfabetização, pois se a criança ainda não se encontra cronologicamente inserida como sujeito
enunciativo em uma linguagem esse processo pode ser apenas pictográfico, o que poderia lhe
causar problemas posteriores para o estabelecimento da relação gráfica, e lhe causar
problemas futuros para a aprendizagem da escrita.
O desenvolvimento da fala e a escrita
A maturação da criança, embora seja um processo não-mensurável com exatidão, pode
ser percebido pelos profissionais da área da saúde e, principalmente, da educação, pois a
escrita não começa na sala de aula com a professora ensinando as primeiras letras. É um
processo que tem início desde o nascimento da criança, quando essa entra em contato com os
sons da língua falada em sua comunidade e se apresenta concretamente em sala de aula com
um vocabulário adequado para se expressar de acordo com sua idade, o domínio de elementos
da língua oral, como uma capacidade narrativa já desenvolvida, por exemplo, e uma maior ou
menor facilidade para o aprendizado. Desse modo, a escrita é um processo que começa muito
antes da escola, e:
Quando vai para a escola, a criança já percorreu um longo caminho elaborando sua
linguagem, inserindo-se na língua de sua comunidade. Linguisticamente, a criança
não é tábua rasa. Ela é perfeitamente proficiente em sua língua materna e continua a
6108
aprender outras modalidades da fala/linguagem, dentro e fora da escola. Isto é, a
operar com objetos lingüísticos. Assim, a escola vai lhe proporcionar o acesso a
outras gramáticas a partir de modalidades escritas pertencentes a modalidades
escritas (MUSSALIM; BENTES, 2000, p. 229).
Assim sendo, desde o nascimento, cada som emitido pela criança ganha um
significado (MUSSALIM; BENTES, 2000, p. 225), e aos poucos ela aprende a interagir com os
demais de sua comunidade linguística. Tal processo inicia-se com o infante entendendo
estruturas complexas e gradativamente também as produzindo Chomsky (CASTRO, 1996, p.
115), numa velocidade assustadora e quase inexplicável, pois, como lembra, elas estão
expostas a fragmentos da língua, mas conseguem unificá-los e produzir falas infinitas.
Por volta dos dois, três anos, a criança começa a narrar pequenos fatos, embora ainda
não domine o aspecto temporal, mas desde antes dessa idade já tenta assimilar as historinhas
infantis, que lhes são narradas por seus pais ou cuidadores. A escrita está, então, em processo,
pois a criança está adquirindo vocabulário, além de tentar usar palavras significativas para sua
comunidade para se expressar.
Aos quatro, cinco anos, as trocas fonéticas tendem a desaparecer, pois a criança já tem
um senso apurado dos sons de sua língua e consegue ouvir sua própria fala e adequá-la ao
ambiente em que está. Nesse momento, os fonemas da língua são “reais” para a criança, que
já consegue se expressar com desenvoltura, narrar histórias mais complexas e começa a
dominar a relação tempo/ação dos acontecimentos.
No aspecto sensório-motor, a criança por volta dos cinco, seis anos, também se mostra
mais hábil manualmente, pois sua coordenação motora fina está bem desenvolvida. Além
disso, ela mostra-se capaz de dominar movimentos mais apurados e tem maior habilidade com
objetos, o que facilita a preensão do lápis e a capacidade de escrever dentro das linhas.
Ainda, algumas pesquisas demonstram que por volta dos seis anos o cérebro já
apresenta uma lateralização pré-definida. Assim, a criança consegue ter noções concretas de
espacialidade e de direita/esquerda, sua visão foca em um ponto específico – pois também já
está bem definido qual é o olho dominante da criança – e sua audição está mais apurada para
as diferenças da sua fala em relação a dos demais de seu grupo linguístico. Nesse momento,
as trocas fonéticas em relação a sua comunidade tendem a desaparecer, pois a criança irá
ajustar sua fala à de sua comunidade.
6109
Então, com a linguagem bem desenvolvida, com os aspectos sensório-motor geral e
fino desenvolvidos, com capacidade de estruturar narrativas tendo domínio do aspecto
temporal, torna-se mais fácil o processo de alfabetização da criança e, consequentemente, seu
letramento3.
Ainda de acordo com Silva (2009, p. 187), é nessa relação com as outras pessoas do
discurso, e com a atualização constante deste, que a criança toma sua posição de locutor,
opera sua entrada através de formas e mecanismos (como a presença de marcadores
temporais, por exemplo) no semiótico e semântico da língua de sua comunidade, uma vez que
a comunicação exige domínio de elementos linguísticos e extralingüísticos, como símbolos,
gestos, interpretações contextualizadas etc.
Como Lemle também defende, o estabelecimento das relações simbólicas dos signos é
fundamental para que o processo de alfabetização possa acontecer efetivamente (LEMLE,
1995, cap. 2), pois somente com essa habilidade de interpretar essas “representações”
desenvolvida a criança é capaz de realizar o discurso com seu funcionamento subjetivo e
referencial (SILVA, 2009, p. 187), isto é, apenas nesse momento a criança começa a interagir
voluntariamente com sua comunidade de fala.
Com esse desenvolvimento completo da oralidade infantil, a criança está pronta para
adentrar o universo da escrita e tentar simbolizar a fala e seus pensamentos por meio de
grafemas da língua escrita, aprendendo a operar com suas regras e elementos limitadores da
tão rica expressão verbal.
A alfabetização precoce como possível causa para problemas de aprendizagem
Como visto até aqui, não é possível separa o desenvolvimento global da criança,
incluindo seu completo desenvolvimento oral, como elementos fundamentais para o processo
de alfabetização. No entanto, o que tem sido visto são escolas “queimando” etapas com o
consentimento ou sob a pressão dos pais, pois há uma ânsia pela aprendizagem precoce da
leitura e escrita, como se esse desenvolvimento pudesse dar vantagens intelectuais futuras à
criança. Como resultado, as clínicas e consultórios de diferentes especialidades estão
3 Letramento difere-se de alfabetização por ser esta a decodificação de grafemas e a compreensão de palavras, enquanto o letramento é a capacidade que o indivíduo adquire de compreender uma informação de modo global.
6110
recebendo pacientes muito jovens, ora porque ainda não sabem falar determinado som, ora
porque confundem letras, ora porque são dispersivos e querem brincar, quando lhes é imposto
participar de determinada atividade escolar na educação infantil.
Nesse momento, surgem rótulos variados: a criança que ainda não consegue ler e
escrever, pelo fato de, na maioria das vezes, não entender o papel da escrita ou não ter alguns
aspectos individuais desenvolvidos o suficiente para a realização de tal atividade, é
considerada com suspeita de dislexia4; a criança que se distrai e não quer estudar é tida como
um indivíduo com TDAH5, quando às vezes ela não está preparada para a tarefa que lhe estão
impondo.
As estatísticas mostram que em 2007 menos de 30% das crianças da 4ª série do Ensino
Fundamenta no Brasil conseguiram assimilar o conteúdo de Língua Portuguesa previsto para
sua série (ONG MOVIMENTO..., 2007.) – embora tais dados ainda não possam ser
considerados confiáveis, pois não há uma exigência de testes avaliativos para a alfabetização
de crianças.
Não podemos afirmar que a escolarização precoce seja o elemento que mais influencie
ativamente nesses dados, mas quando o governo implantou a escolarização de nove anos para
o Ensino Fundamental, uma das justificativas foi assegurar que todas as crianças tivessem
acesso à alfabetização desde os seis anos de idade e, consequentemente, aos sete anos as
turmas seriam mais homogêneas – dentro de suas limitações.
Entretanto, não se enfatizou a necessidade de um trabalho de estímulo ao
desenvolvimento das habilidades infantis necessárias para que a alfabetização seja bem-
sucedida – talvez porque o governo soubesse que em muitas regiões do Brasil a educação
infantil ainda seja restrita a poucos na rede pública e que nas cidades em que esse serviço se
estende a quase toda a população o foco esteja em oferecer um lugar, com alimentação,
higiene e atividades lúdicas, para que as crianças possam permanecer ao longo do dia para
enquanto seus pais trabalham.
Torna-se imperativo, ainda, dizer que se houver o desenvolvimento bem-sucedido do
processo de decodificação, que engloba atividades para o desenvolvimento da acuidade
4 Dificuldade leve, moderada ou severa para aquisição da leitura e escrita, mas que pode ter seus sintomas amenizados com um tratamento adequado. 5 Transtorno e Déficit de Atenção e Aprendizagem, o qual causa o não aprendizado, seja pelo fato de o aluno não conseguir se concentrar no conteúdo e/ou pelo fato de ele não conseguir permanecer muitos minutos executando a mesma atividade.
6111
auditiva, visual, cognitiva e motora, espera-se que a criança não tenha problemas no
percurso do letramento (compreensão da leitura) e escrita, e que este processo seja
eficaz e tranquilo. Pois de todas as faixas etárias a mais fácil de ser alfabetizada é a criança.
E como também destacou a Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos
Deputados:
O processo de alfabetização implica a descoberta do princípio alfabético, o segredo
do funcionamento do código, que reside nas correspondências entre grafemas e
fonemas. Além disso, implica um trabalho cognitivo permanente, que leva à
identificação e correção das discordâncias entre o que é esperado e o que é
percebido. Para realizar esse trabalho – eminentemente intelectual – a criança
precisa assimilar, com rapidez e precisão, os níveis de informação presentes no
texto, utilizando as competências da decodificação.
No entanto, as crianças têm um limite mínimo, variável de criança a criança, e já que
não é possível mensurar com exatidão qual a idade em que a criança está apta para a
alfabetização, o mais adequado seria deixar uma “margem segura” de tempo, preparando-a,
seja nas escolas de educação infantil, seja em casa, com estímulos ao seu desenvolvimento
global – e não apenas “adultização”6 das crianças, pois a idade de cinco ou seis anos já pode
ser vista como um tanto precoce para a introdução de todas as crianças no universo da escrita;
exigir, então que já estejam lendo aos cinco, seis anos, parece estar lhes causando transtornos
e bloqueios que podem prejudicá-las seriamente em seu contato e relacionamento com o
universo da língua escrita.
Tais bloqueios e problemas, aliados às expectativas de seus pais e da falta de
preparação da escola para lidar com esse público extremamente frágil e com a pressão da
sociedade, têm levado a diagnósticos precipitados e a conclusões evasivas sobre problemas de
aprendizagem, os quais muitas vezes se encaixam dentro de um ou mais distúrbio, e enquanto
a ciência diz que o índice de pessoas portadoras desses distúrbios é baixo, pois pesquisas
6 Na atualidade, as crianças são incentivadas e se comportarem como pequenos adultos, com hábitos de consumo e atitudes sociais semelhantes aos de faixas etárias mais velhas, o que tem sido visto como um empecilho para o processo de maturação psicológica de tais crianças, uma vez que tudo parece ser permitido quando não se tem ainda consciência de todas as relações simbólicas, familiares, sociais e relacionais em suas comunidades.
6112
mostram que fatores genéticos contribuem com 0.9% dos casos, enquanto uma análise
neuropsicológica inclui de 3 a 5% das crianças em idade escolar neste diagnóstico
(BERTUCCI; DINIS, 2007, p. 139), em algumas escolas o índice tem superado todas as
expectativas da ciência, sendo que os responsáveis pelos diagnósticos muitas vezes são a
própria escola ou uma determinada especialidade, sem muitos critérios e avaliações.
Considerações Finais
Embora a idade cronológica não seja correspondente em todas as crianças, é possível
afirmar que poucas conseguem desenvolver as habilidades necessárias para uma alfabetização
regular antes dos seis anos de idade e, se bem apoiadas pelo meio em que se encontram,
talvez aos cinco anos algumas já estejam aptas para serem alfabetizadas, mas antes desse
período talvez seja exigir-lhes habilidades que estão além de suas atribuições psicobiológicas,
e essa falta de preparação das escolas e a falta de bom-senso paterno talvez estejam tornando
esse processo simples – se bem desenvolvido – em um processo muito mais complexo, com
cobranças por parte da família e sentimento de incapacidade ou de frustração para parte dos
aprendizes.
Consequentemente, a introdução precoce ao universo da escrita pode interferir no
desenvolvimento escolar normal da criança, pois se não há habilidades requeridas para que o
processo de alfabetização ocorra, o pequeno aprendiz pode não ser capaz de aprender e
acompanhar outros colegas nesse processo.
Não se trata apenas de se estabelecer uma idade mínima, mas a alfabetização exige
uma série de fatores, incluindo-se e acentuando-se a relação cognitiva do aprendiz com a
linguagem; assim, esperar que uma criança muito pequena os tenha pode lhe trazer
transtornos em alguma área de sua vida, escolar ou psicossocial; e mesmo que esta consiga,
gradativamente e com auxílio de diferentes profissionais, seguir pelo processo de
escolarização, para ela o período escolar deixará de ser um processo “natural” por que passam
todas as crianças, sendo provavelmente visto como um período de frustrações, incapacidade e
a busca por superação constante.
REFERÊNCIAS
BERTUCCI, Liane Maria; DINIS, Nilson Fernandes (Org). Mútltiplas Faces do educar:
6113
processos de aprendizagem, educação e saúde, formação docente. Curitiba: Editora UFPR, 2007. CASTRO, Maria Fausta Pereira de (Org.). O método e o dado no estudo da linguagem. Campinas: Editora da UNICAMP, 1996. COMISSÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS. Alfabetização Infantil: Os Novos Caminhos – Relatório Final. In: Seminário O Poder Legislativo e a Alfabetização Infantil: Os Novos Caminhos. Brasília. Disponível em: <http://www.pfl.org.br/alfateizacao/relatorio_final.pdf>. Acesso em 15 set. 2003
FERREIRO, Emília. Com todas as letras. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
LEMLE, Miriam. Guia teórico do alfabetizador. 1ª ed. São Paulo: Ática, 1993. O N G M OV I M E N TO t o d o s p ela e d u c a ç â o. D i s p o n í v e l e m: <http://www.todospelaeducacao.org.br/Numeros.aspx?action=42>. Acesso em jun. 2009 MUSSALIM, Fernanda.; BENTES, Ana. C. (Orgs.). Introdução à lingüística: domínios e fronteiras. São Paulo: Editora Cortez, 2000. SILVA, Carmem Luci da Costa. A criança na linguagem: enunciação e aquisição. Capinas: Pontes, 2009.