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UNIVERSIDADE DE TRÁS OS MONTES E ALTO DOURO ESCOLA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E PSICOLOGIA A ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL E OS TEMPOS LIVRES FUNDAÇÃO INATEL - ESTUDO DE CASO Dissertação de Mestrado em Ciências da Educação, área de Especialização em Animação Sociocultural Ana Isabel Gomes Silva Orientador: Prof. Doutor Agostinho da Costa Diniz Gomes Chaves, 2012

A ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL E OS TEMPOS LIVRES …FUNDAÇÃO INATEL - ESTUDO DE CASO Dissertação de Mestrado em Ciências da Educação, área de Especialização em Animação Sociocultural

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  • UNIVERSIDADE DE TRÁS OS MONTES E ALTO DOURO

    ESCOLA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

    DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E PSICOLOGIA

    A ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL E OS TEMPOS LIVRES

    FUNDAÇÃO INATEL - ESTUDO DE CASO

    Dissertação de Mestrado em Ciências da Educação, área de Especialização em

    Animação Sociocultural

    Ana Isabel Gomes Silva

    Orientador: Prof. Doutor Agostinho da Costa Diniz Gomes

    Chaves, 2012

  • UNIVERSIDADE DE TRÁS OS MONTES E ALTO DOURO

    ESCOLA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

    DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E PSICOLOGIA

    A ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL E OS TEMPOS LIVRES

    FUNDAÇÃO INATEL - ESTUDO DE CASO

    Dissertação de Mestrado em Ciências da Educação, área de Especialização em

    Animação Sociocultural

    Ana Isabel Gomes Silva

    Orientador: Prof. Doutor Agostinho da Costa Diniz Gomes

    Chaves, 2012

  • Dissertação para a obtenção do grau de

    Mestre em Ciências da Educação, Área de

    Especialização em Animação Sociocultural,

    ao abrigo do artigo 16.º do Decreto -Lei n.º

    74/2006, de 24 de Março, com as alterações

    introduzidas pelos Decretos-Leis n.os

    107/2008, de 25 de Junho, e 230/2009, de

    14 de Setembro.

  • I

    Agradecimentos

    Sem o apoio, orientação e incentivo de várias pessoas, não teria sido possível

    realizar este trabalho de investigação. Por isso, não posso deixar de lhes manifestar o

    meu sincero agradecimento.

    À UTAD, na pessoa do Magnífico Reitor, pelos meios disponibilizados

    À direção do mestrado, nomeadamente aos Professores Doutores Marcelino Lopes e

    Américo Nunes Peres

    Ao Professor Doutor, Agostinho Gomes, professor que tem acompanhado o meu

    percurso escolar desde a infância, pela amizade, saber e orientação

    Aos colegas de mestrado da UTAD, pela disponibilidade e consideração

    À Fundação INATEL, onde tive a oportunidade de trabalhar, conhecer, e com a qual

    pude aprender

    A todos os seniores que fizeram parte deste estudo

    A todos os seniores que tive a oportunidade de conhecer no terreno, com quem convivi

    e aprendi

    Aos colegas do Inatel Social, pelo carinho, amizade e apoio, nomeadamente à Bárbara,

    à Laura, à Alexandra, à Gisela e à Luciana, por terem estado sempre presentes

    À Dra. Estela Nogueira, chefe de divisão do Inatel Social, por todo o apoio; estima e

    simpatia

    Aos meus sobrinhos Ana; Guilherme e Pedro, pelo carinho e apreço

    Aos meus irmãos Carlos e Marco, pela amizade, proteção e estima

    Ao meu pai, pelo apoio e palavras sábias

    À minha mãe, por tudo o que tem feito por mim

    Ao Carlos, meu namorado, companheiro e amigo, pelo apoio incondicional, conforto e

    carinho sempre dispensados

    A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho.

  • II

    Resumo

    O presente trabalho tem como principal objetivo investigar a participação das

    pessoas nos programas organizados e geridos pela Fundação INATEL, mais

    concretamente no programa Turismo Sénior, analisando se esta participação melhora a

    ocupação do tempo livre, o bem-estar e a qualidade de vida daqueles que nele

    participam.

    Na primeira parte deste estudo, fazemos uma pesquisa bibliográfica sobre

    organizações, associações, instituições e Fundações. Após esta pesquisa descrevemos o

    envelhecimento, a Animação Sociocultural, o tempo livre, as atividades culturais e a

    animação turística.

    Numa segunda parte, referimos o tema, o problema, os objetivos, a hipótese, a

    amostra, a metodologia e as técnicas utilizadas nesta investigação. Contextualizamos e

    caracterizamos a Fundação INATEL, antiga FNAT e as suas ofertas turísticas. Neste

    contexto, fazemos uma breve descrição espacial e histórica de Portugal, uma pequena

    apresentação da cidade de Lisboa e, também, da cidade de Bragança, como espaços de

    observação participante.

    Por último, apresentamos, analisamos e discutimos os resultados dos dados

    recolhidos, através de processos metodológicos configurados por uma metodologia

    qualitativa, baseada na observação participante, em entrevistas e em questionários, com

    questões abertas e fechadas, realizados via telefone com alguns participantes do

    Turismo Sénior 2009/2010 de todos os distritos de Portugal continental. Estes

    instrumentos de pesquisa foram fundamentais para a consecução dos nossos objetivos.

    Assim, refletimos sobre os seguintes aspetos: o valor reconhecido pelos

    participantes, relativamente à sua participação; a realização individual sentida; as

    relações humanas que emergem desta participação; os efeitos terapêuticos reconhecidos

    e o desenvolvimento cultural vivido.

    Da análise dos dados recolhidos, a principal conclusão a que chegamos é que os

    inquiridos, valorizam, efetivamente, os programas como espaços turísticos,

    socioculturais e socioeducativos privilegiados, no âmbito do seu tempo livre. O Turismo

    sénior, programa organizado e gerido pelo INATEL é um espaço onde a Animação

    Sociocultural tem um papel fundamental.

    Palavras Chave:- Animação Sociocultural; Envelhecimento; Lazer; Qualidade de vida;

    Tempo livre.

  • III

    Abstract

    The aim of this work is to investigate people affluence to Fundação INATEL

    organized and managed programs, specifically the participation in Turismo Sénior

    program, analyzing if it improves the free time occupation, well-being and life quality

    of those who participate.

    First of all, we surveyed a bibliographical research about organizations,

    associations, institutions and Foundations. After that we describe the aging, Socio-

    cultural animation, free time, cultural activities and tourism animation.

    At the second part of this work, we refer to the subject, issue, objectives,

    hypothesis, sample, methodology and research techniques. Next we characterize the

    Fundação INATEL, the ancient FNAT and it tourism offerings. Then we made a spatial

    and historical description of Portugal and a little presentation of Lisboa and Bragança.

    Finally, we presented, analyzed and discussed the collected results through a

    qualitative methodology processes, initially based in a participant observation and after

    in a questionnaire method (through open and closed questions), made via phone to some

    Turismo Sénior 2009/2010 participants from all mainland Portugal districts. These

    questionnaires were essential to understand, interpret and analyze our subject.

    The main conclusion after the collected data analysis is that the interviewed

    recognized, effectively, a great value to those programs as a tourism, socio-cultural and

    socioeducational privileged spaces, in the context of their free time.

    Key Words:

    - Sociocultural Animation; Aging; Leisure; Life quality; Free time.

  • IV

    Índice Geral

    Agradecimentos ............................................................................................................. I

    Resumo ........................................................................................................................ II

    Índice de Quadros ...................................................................................................... VII

    Índice de Figuras ...................................................................................................... VIII

    Índice de Gráficos ....................................................................................................... IX

    INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 0

    PARTE I – Enquadramento Teórico .............................................................................. 2

    CAPÍTULO I – Organizações: Conceitos ...................................................................... 3

    1.1 Organização, Associação e Instituição ................................................................. 4

    1.2 Institutos Públicos e Fundações ......................................................................... 11

    CAP II – Animação Sociocultural e envelhecimento ativo ........................................... 14

    2.1 Animação Sociocultural ..................................................................................... 15

    2.1.1 Conceito ...................................................................................................... 15

    2.1.2 A Animação Sociocultural em Portugal ....................................................... 16

    2.1.3 Objetivos da Animação Sociocultural .......................................................... 17

    2.1.4 Âmbitos da Animação Sociocultural............................................................ 18

    2.1.4.1 Dimensão etária ........................................................................................ 19

    2.2 Animação Sociocultural de Adultos e Seniores .................................................. 20

    2.2.1 O INATEL e a Animação Sociocultural ...................................................... 20

    2.3 Animação Sociocultural na Terceira Idade ......................................................... 22

    2.4 Envelhecimento ................................................................................................. 24

    2.4.1 Envelhecimento Ativo e Animação Sociocultural ........................................ 25

    2.4.2 Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da solidariedade entre gerações ... 26

    2.5 O Lazer e o Ócio na terceira idade ..................................................................... 28

    2.6 A Animação Turística ........................................................................................ 30

    2.6.1 Animação Turística na Terceira Idade ......................................................... 31

    2.7 Animador Sociocultural ..................................................................................... 33

    2.8 Animador Turístico e o seu papel ....................................................................... 35

    Parte II – Estudo Empírico .......................................................................................... 36

    CAP III – Parâmetros do estudo: Definição e Metodologia .......................................... 37

    3.1 Tema ................................................................................................................. 38

  • V

    3.2 Problema: questões ............................................................................................ 39

    3.3 Objetivos ........................................................................................................... 40

    3.4 Hipóteses ........................................................................................................... 41

    3.5 Amostra ............................................................................................................. 43

    3.6 Investigação....................................................................................................... 44

    3.6.1. A ética em Investigação.............................................................................. 45

    3.7 Paradigmas: Positivista, Interpretativo e Crítico ................................................. 47

    3.8 Metodologias de Investigação em Animação Sociocultural ................................ 50

    3.8.1 Metodologia Quantitativa/Qualitativa .......................................................... 50

    3.9 Metodologias utilizadas ..................................................................................... 52

    3.9.1 Investigação-Ação ....................................................................................... 52

    3.9.2 Estudo Etnográfico ...................................................................................... 52

    3.9.3 Estudo de Caso ............................................................................................ 53

    3.10 Técnicas .......................................................................................................... 55

    3.10.1 Observação Participante ............................................................................ 56

    3.10.2 Entrevista .................................................................................................. 57

    3.10.3 Questionário .............................................................................................. 58

    3.10.4 Análise Documental e textos ..................................................................... 58

    CAP IV- Trabalho de Campo ...................................................................................... 59

    4.1 Caracterização e Contextualização do Campo .................................................... 60

    4.2 FNAT – Federação Nacional para a Alegria no Trabalho ................................... 62

    4.3 A Fundação Inatel como Instituição prestadora de serviços sociais .................... 67

    4.4 Associados da Fundação INATEL ..................................................................... 70

    4.5 Revista Tempo Livre ......................................................................................... 71

    4.6 Inatel Social ....................................................................................................... 72

    4.6.1 Turismo Social ............................................................................................ 72

    4.6.2 Projetos ....................................................................................................... 77

    4.6.2.1 Programas com comparticipação financeira governamental ...................... 77

    4.6.2.2 Programas cujo suporte financeiro é da responsabilidade da INATEL ...... 77

    4.6.3 Turismo Sénior............................................................................................ 78

    4.6.4 Saúde e Termalismo Sénior ......................................................................... 79

    4.6.5 Portugal no Coração .................................................................................... 80

    4.6.6 Abrir Portas à Diferença .............................................................................. 81

  • VI

    4.6.7 Turismo Solidário ....................................................................................... 82

    4.6.8 60+ Açores .................................................................................................. 83

    4.6.9 Turismo Educativo Júnior ........................................................................... 84

    4.6.10 Conversa Amiga | Linha telefónica de apoio .............................................. 85

    4.7 Espaços de observação e participação ................................................................ 86

    4.8 Recolha e apresentação dos dados ...................................................................... 89

    4.9 Análise e discussão dos resultados ................................................................... 109

    4.10 Síntese do trabalho de campo ......................................................................... 110

    CONCLUSÃO .......................................................................................................... 111

    Bibliografia ............................................................................................................... 114

    Webgrafia ................................................................................................................. 119

    Anexos...................................................................................................................... 120

  • VII

    Índice de Quadros

    Quadro nº. 1 – Estruturas Públicas responsáveis por programas de Animação de Adultos ........ 63

    Quadro nº. 2 - Património Material Fundação INATEL ........................................................... 65

    Quadro nº. 3 – Pacote de ofertas do programa ......................................................................... 76

  • VIII

    Índice de Figuras

    Figura Nº. 1 – Mapa dos distritos de Portugal .......................................................................... 43

    Figura Nº. 2 – Serviços Fundação INATEL ............................................................................. 66

    Figura Nº. 4 - Mapa de Portugal com destaque para o distrito de Lisboa .................................. 86

    Figura Nº. 3 – Mapa de Portugal com destaque para o distrito de Bragança ............................. 87

    ../Downloads/Texto%20tese%20Ana%202ª%20versão.doc#_Toc344822919../Downloads/Texto%20tese%20Ana%202ª%20versão.doc#_Toc344822921../Downloads/Texto%20tese%20Ana%202ª%20versão.doc#_Toc344822922

  • IX

    Índice de Gráficos

    Gráfico 1 - Género dos Participantes ...................................................................................... 89

    Gráfico 2 - Idade dos Participantes ......................................................................................... 90

    Gráfico 3 - Estado Civil dos Participantes .............................................................................. 91

    Gráfico 4 - Ocupação dos Participantes .................................................................................. 91

    Gráfico 5 - Nível educacional dos Participantes ...................................................................... 92

    Gráfico 6 - Número de vezes que os inquiridos participaram no programa T.S. ....................... 93

    Gráfico 7 - Regiões visitadas .................................................................................................. 93

    Gráfico 8 - Participação nas atividades diárias ........................................................................ 94

    Gráfico 9 - Opinião sobre as atividades .................................................................................. 94

    Gráfico 10 - Participação nos passeios diários ........................................................................ 95

    Gráfico 11 - O preferido da programação ............................................................................... 96

    Gráfico 12 - Dificuldades vividas durante a estadia ................................................................ 97

    Gráfico 13 - Avaliação do programa quanto à melhoria do bem estar e qualidade de vida dos

    participantes............................................................................................................................ 98

    Gráfico 14 - Vontade dos participantes em repetir os programas ............................................. 99

    Gráfico 15 - Vontade dos participantes em repetir os destinos .............................................. 100

    Gráfico 16 - Opinião sobre o conhecimento adquirido .......................................................... 100

    Gráfico 17 - Opinião sobre o contributo da Fundação INATEL para o país ........................... 101

    Gráfico 18 - Como foi realizada a viagem quanto a companhia ............................................. 101

    Gráfico 19 - integração no grupo .......................................................................................... 102

    Gráfico 20 - Opinião sobre o papel do animador quanto ao seu contributo na integração dos

    participantes.......................................................................................................................... 103

    Gráfico 21 - Preferências na escolha da Instituição ............................................................... 104

    Gráfico 22 - Opinião sobre o custo em relação a outros programas de outras Instituições ...... 105

    Gráfico 23 - Opinião sobre o papel da Fundação Inatel quanto à ocupação do tempo livre, ócio

    e lazer ................................................................................................................................... 106

  • X

    Gráfico 24 - Opinião sobre o cumprimento do objetivo da Fundação Inatel........................... 107

    Gráfico 25 - Opinião sobre a justificação existência da Fundação INATEL .......................... 108

  • XI

    Siglas

    APD - Abrir Portas à Diferença (Programa organizado e gerido pela

    Fundação INATEL)

    ASC - Animação Sociocultural

    BITS - Bureau International du Tourisme Social

    CCD - Centros de Cultura e Desporto

    CCT - Convenção Coletiva de Trabalho

    CEE - Comunidade Económica Europeia

    CNIS - Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade

    CRP - Constituição da República Portuguesa

    EIPSS - Estatuto das Instituições Particulares de Solidariedade Social

    FAOJ - Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis

    FNAT - Federação Nacional para a Alegria no Trabalho

    FNE - Federação Nacional dos sindicatos de educação e outros

    IEFP - Instituto do Emprego e da Formação Profissional

    IGFSS - Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social

    IMERSO - Instituto Espanhol de Migraciones y Servicios Sociales

    INATEL - Instituto Nacional para o Aproveitamento dos Tempos Livres

    IPDJ - Instituto Português do Desporto e Juventude

    IPSS - Instituição Particular de Solidariedade Social

    MFA - Movimento das Forças Armadas

    NATO - North Atlantic Treaty Organization

    OMT - Organização Mundial do Turismo

    PAII - Programa de Apoio Integrado a Idosos

    PREC - Processo Revolucionário em Curso

    TAP - Transportes Aéreos Portugueses

    TS - Turismo Sénior

    UH - Unidade Hoteleira

    UTAD - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

    VAB - Valor Acrescentado Bruto

  • XII

    Vivemos num tempo em que muitos insistem em anunciar

    o fim das utopias; contudo, outros, como é o nosso caso,

    resistimos e combatemos, tentando demonstrar que,

    enquanto existir humanidade, a utopia é possível, como

    sonho transformador da existência de um Novo Mundo

    Peres e Lopes (2007:12)

  • INTRODUÇÃO

    Como funcionária da fundação INATEL (Instituição Nacional para a Alegria nos

    Tempos Livres) e colaboradora como Animadora Sociocultural na primeira fase do ano

    de 2009, no desenrolar de um dos vários programas governamentais, designado por

    Turismo Sénior, consideramos oportuno, basear o trabalho de dissertação, numa

    experiência vivida.

    A ação desenvolvida integra-se no âmbito do Turismo e da Animação

    Sociocultural, no plano social, político, cultural e educativo.

    Para Úcar, (citado por Lopes, 2006), a Animação persegue o desenvolvimento

    integral da comunidade e enfatiza mecanismos de dinamização e mobilização para levar as

    pessoas e grupos a agir, assumindo, por isso uma estratégia educativa no sentido de levar as

    pessoas a transformarem-se e a transformarem a realidade.

    Atualmente, face à decadência de outras instituições sociais, como a família, o

    Estado Providência e grupos profissionais, estas iniciativas são essenciais para o bem-

    estar daqueles que se encontram numa fase caracterizada por mais debilitada, a velhice,

    dando-lhes a oportunidade de serem ativos e de interagirem com o meio que os rodeia.

    Ao longo do trabalho são descritas, de forma sucinta, várias interpretações de

    Animação Sociocultural, que fundamentam os projetos desenvolvidos e geridos pelo

    departamento Inatel Social, um dos departamentos existentes na Fundação Inatel, que

    procura proporcionar e motivar o turismo, essencialmente em época baixa e em todo o

    país, não descurando o interior, ou seja, as regiões mais desertificadas. Nestes projetos,

    dá-se primazia, para além do descrito, à realização de atividades de índole sociocultural,

    ao combate à solidão, ao bem-estar físico e mental, à diferença como condição, à

    interação e ao aproveitamento do tempo livre de forma didática.

    O que se pretende apurar com este trabalho de investigação prende-se com os

    resultados obtidos da participação nos programas, avaliando a qualidade dos serviços

    prestados e o efeito que estas experiências vividas proporcionam.

    No primeiro capítulo, definimos conceitos de organização, associação,

    instituição e fundação.

  • 1

    No segundo capítulo, interpretamos o conceito de animação sociocultural e nas

    várias vertentes, animador sociocultural e envelhecimento ativo.

    No terceiro capítulo, descrevemos o projeto de investigação, definimos o tema, o

    problema, os objetivos, a hipótese, a amostra, os paradigmas e a metodologia e as

    técnicas utilizadas.

    No quarto capítulo, fazemos uma caracterização e contextualização do campo

    onde se realizou o nosso estudo, descrevemos a origem da Fundação INATEL e a sua

    oferta. Por último apresentamos os dados recolhidos, assim como, analisamos e

    discutimos os resultados.

    Por último, na conclusão, fazemos a súmula das aprendizagens efetivadas,

    referimos as limitações e damos nota da prospetiva, face a futuros desenvolvimentos

    sobre o tema.

  • 2

    PARTE I – Enquadramento Teórico

  • 3

    CAPÍTULO I – Organizações: Conceitos

  • 4

    1.1 Organização, Associação e Instituição

    Não podemos desenvolver o nosso trabalho, sem mencionarmos alguns

    conceitos como organização, associação e instituição, nos seus aspetos orgânicos e

    funcionais.

    A humanidade chegou aos nossos dias, porque se organizou socialmente, através

    de sistemas mais ou menos complexos. Nas mais diversas fases da sua vida, da saúde à

    educação, do trabalho ao lazer, o homem teve necessidade de se organizar para

    satisfazer as suas necessidades. Ao longo dos tempos, o ser humano desenvolveu-se de

    diferentes maneiras em comunidades distintas, dando origem à história e a culturas

    diferentes, cimentadas por uma teia de relações, cujo grau de complexidade aumentou

    com a evolução. Esta heterogeneidade sobrevive, porque o homem, como ser sociável e

    na prossecução de fins comuns de determinado grupo, criou estruturas organizativas nos

    mais diversos aspetos da sua vida.

    Segundo Bilhim (2001:19), organizações são unidades sociais dominantes das

    sociedades complexas, quer sejam industriais ou de informação. Em todo o dia-a-dia

    nos deparamos com a necessidade corrente das organizações na nossa vida, recorremos

    a Hospitais, frequentamos restaurantes, escolas e trabalhamos numa organização, todas

    elas com características e ações diferenciadas.

    Estas organizações não são impenetráveis, acabadas, mas vivas e sujeitas a

    transformações, acompanhando as necessidades de determinado momento histórico e a

    ideologia dominante. Na sua génese de formação, está presente o tipo de necessidades

    públicas ou privadas do cidadão, satisfeito por organizações de interesses públicos ou

    privados conforme a ideologia dominante que rege o sistema.

    O conceito de organização é abrangente, é um agrupamento humano,

    intencionalmente construído e reconstruído que tem por fim otimizar meios para atingir

    objetivos específicos. Uma organização nunca constitui uma unidade pronta e acabada,

    mas um organismo social vivo e sujeito a mudanças. Nela se inserem organizações

    privadas e públicas viradas para o lucro ou não, como clubes recreativos, partidos

    políticos, instituições de beneficência e organizações empresariais.

  • 5

    A origem grega de organização, “organon”, que significa instrumento, utensílio,

    Bilhim (2001) refere que na literatura designa unidades e entidades sociais como as

    fabricas, os bancos e a Administração Pública, na qual estão integradas pessoas que

    interagem entre si e que têm em vista a realização de objetivos, para além de certas

    condutas e processos sociais, como organização de atividades, disposição de meios para

    um fim e a integração dos admitidos numa unidade congruente.

    Schein define organização como sendo a coordenação racional de atividades de

    um certo número de pessoas tendo em vista a realização de um objetivo ou intenção

    explícita e comum, através de uma divisão do trabalho e funções, de uma hierarquia de

    autoridade e responsabilidade (Schein cit. Bilhim, 2001:27).

    Outros especialistas interpretaram-na como estrutura social concebida por

    pessoas para apoiar a realização dos objetivos determinados, cujas metas não seriam

    alcançadas sem esses esforços reunidos.

    Segundo Bilhim (2001) a organização é uma:

    Entidade social, formalmente coordenada, possuindo fronteiras delimitadas,

    funcionando numa base relativamente constante, com a finalidade de assegurar as

    necessidades coletivas de segurança, cultura e bem-estar - a qual depende da vontade

    dos órgãos políticos, representativos de uma comunidade (Bilhim 2001:28).

    Resumindo, a organização é o modo como um determinado sistema se estrutura,

    regido por regras que pode ter várias finalidades que vão depender das necessidades da

    sociedade onde a organização se insere e da própria vontade política.

    No que diz respeito à Associação e para melhor falarmos deste tema, temos,

    prioritariamente, de definir o conceito de associação, mais propriamente, sobre as

    associações que emergem da sociedade civil, coletividades com personalidade jurídica,

    de direito privado. Segundo a Enciclopédia Luso-Brasileira, (s/d:1619) associação

    consiste: (…) na união duradoura e organizada de pessoas que se propõem conjugar esforços

    para a prossecução em comum de determinados fins (…) que não se traduzam em aproveito

    económico para os associados, pois se assim não for chamam-se sociedades.

  • 6

    A associação é a melhor forma da sociedade se organizar, dinamizar vários

    setores e manifestar-se democraticamente. O cidadão dispõe da possibilidade de reunir,

    partilhar e participar em todo o processo inerente à formação de decisões, através de

    mecanismos próprios. Este tipo de coletividades constitui um meio de manifestação de

    cidadania, substituindo ou complementando o Estado, nos mais diversos domínios de

    atuação.

    Ferreira refere que:

    o associativismo é um espaço, onde qualquer cidadão pode encontrar um terreno para

    a acção, um fórum para a reflexão, um coreto para a denúncia, uma utopia para o

    sonho, uma oportunidade para excluir a exclusão, uma arma para a intervenção e uma força renovada de participação. Não um meio de vassalagem e de mediação (Ferreira,

    1995: s/p).

    A área de abrangência de cada associação depende da sua génese fundacional,

    salvaguardada nos respetivos estatutos, os quais, protegem a vontade dos sócios, as

    condições de adesão, duração, fins e organização. De diversa índole, existem inúmeras

    associações no seio da sociedade, constituindo um espaço de coesão social, convívio,

    participação e relacionamento. À volta dos mesmos fins, os cidadãos ligados pela

    responsabilidade e partilha dos mesmos valores, manifestam a sua cidadania,

    contribuindo para o desenvolvimento do meio, realização pessoal e sobrevivência do

    indivíduo.

    As associações são fontes de socialização, aglutinadoras de várias sensibilidades,

    que através da união dos indivíduos e do fomento de redes e parcerias com outras

    coletividades, combatem a fragilidade do tecido social, modificando o quotidiano das

    pessoas, assumindo importância no contexto local, regional ou nacional, constituindo

    autênticos pilares de desenvolvimento local no seio dos regimes democráticos.

    Segundo Mas et al (1998:15-16), qualquer ação por parte das associações deve

    ter características comuns, de entre as quais se destacam:

    Participação Activa - participação activa, por parte das pessoas que pretendam comprometer-se na acção da comunidade para animá-la, reestruturá-la, criar serviços;

    Organização: Na medida em que evoluem os objectivos, dever-se-á organizar-se a

    participação através de um conjunto de regras, determinando as responsabilidades

    comuns dos associados, permitindo igualmente que possam expressar a sua opinião; Linhas de Acção: Há que estabelecer objectivos comuns explícitos e deliberados por

    todos. Programas e projectos para os associados.

  • 7

    O direito de associação, segundo a Enciclopédia Luso-Brasileira (s/d:1620)

    consiste: na faculdade de por em comum os meios ou esforços individuais para

    qualquer fim que não prejudique os direitos de outrem ou das sociedades. A liberdade

    de criação de associação, ao longo dos tempos, enfrentou adversidades, conforme o

    momento histórico. Esteve condicionada, limitada pelos diversos regimes ao longo da

    história, não só pela participação formal à autoridade administrativa e judicial, mas

    também, segundo a mesma fonte, pela submissão dos estatutos à sua aprovação,

    exercendo poderes de tutela, como fiscalização das deliberações dos seus órgãos,

    dissolução e extinção da associação.

    Nos regimes democráticos o único controlo exercido pelo Estado é o dos

    tribunais, restrito à legalidade das deliberações dos seus órgãos, quando estas sejam

    impugnadas pelos associados ou pelo Ministério Publico. No regime monárquico, o

    direito de associação não foi consagrado nas constituições, salvo na de 1838, artigo 14º,

    mas de curta duração. Só em 1907, a Lei1 veio permitir a formação livre de associação

    sem dependência da aprovação dos seus estatutos pelo Estado.

    A partir da implantação da república, a Constituição de 1911, no seu artigo 3º

    declarou livre o direito de associação, sujeitas a leis especiais que determinam as

    condições do seu exercício, tal doutrina mantém-se na Constituição de 1933 e perdura

    até à Lei 1901, de 1935, que define e proíbe as associações secretas. No entanto, é na

    primeira república que as associações, principalmente as de caráter cultural, emergem

    da sociedade como uma necessidade de cultivar a população. Como refere Lopes, as

    associações e as sociedades de cultura e de recreio aparecem numa tentativa de

    proporcionar, essencialmente, aos seus associados, recreio, convívio e instrução

    (Lopes, 2008:102).

    Em 1940, a concordata, entre Portugal e a Santa Sé, regulou a formação das

    associações católicas. Através do Decreto-Lei 39660, de 1954, declara lícita a formação

    de Associações, desde que não tenham caráter secreto e cujos objetivos não ofendam os

    direitos de terceiros ou do bem público.

    Esta doutrina, absorvida pelo regime vigente do Estado Novo, desde a génese,

    constituição e funcionamento de associação, tudo era regulado e controlado pelo sistema

    1 Lei da Sindicalização de 1907, que definiu normas para a constituição de associações profissionais.

  • 8

    político que perdurou até à publicação do Decreto-Lei nº. 594/74, que obedece ao

    espírito da Lei Constitucional 3/74, garantindo a todos os cidadãos maiores de 18 anos,

    o direito de constituir associação sem necessidade de autorização prévia.

    O direito fundamental do cidadão constitui uma das grandes conquistas do

    regime democrático, instaurado no 25 de Abril, consagrado na Constituição da

    Republica Portuguesa, aprovada em 2 de Abril de 1976, e posteriores revisões, nº. 1/82,

    de 30 de Setembro, nº. 1/89, de 8 de Julho, nº. 1/92, de 25 de Novembro, n.º 1/97, de 20

    de Setembro, nº. 1/2000, de 20 de Novembro e 1/2004 de 24 de Julho, que nos diz o

    seguinte no seu artigo 46º:

    1. Os cidadãos têm o direito de, livremente e sem dependência de qualquer autorização, constituir associações, desde que estas não se destinem a promover a violência e os

    respetivos fins não sejam contrários à lei penal.

    2. As associações prosseguem livremente os seus fins sem interferência das autoridades públicas e não podem ser dissolvidas pelo Estado ou suspensas as suas atividades

    senão nos casos previstos na lei e mediante decisão judicial.

    3. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação nem coagido por

    qualquer meio a permanecer nela. 4. Não são consentidas associações armadas nem de tipo militar, militarizadas ou

    paramilitares, nem organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista.

    (Canotilho e Moreira, 1998:38)

    Mais alude a CRP (Constituição da República Portuguesa) no seu artigo 51.º, no

    que concerne aos partidos políticos:

    1. A liberdade de associação compreende o direito de constituir ou participar em

    associações e partidos políticos e de através deles concorrer democraticamente para a

    formação da vontade popular e a organização do poder político. (Canotilho e Moreira,

    1998:40)

    Destaca também, na alínea 3 do artigo 60º, os direitos dos consumidores:

    3. As associações de consumidores e as cooperativas de consumo têm direito, nos termos da lei, ao apoio do Estado e a ser ouvidas sobre as questões que digam respeito

    à defesa dos consumidores, sendo-lhes reconhecida legitimidade processual para

    defesa dos seus associados ou de interesses colectivos ou difusos. (Canotilho e Moreira, 1998:49)

    Após o 25 de Abril, os cidadãos puderam associar-se, agrupar-se, manifestar-se

    ideologicamente, dando lugar a todo o tipo de manifestações culturais e recreativas,

    surgindo, como afirma Pereira et al (2008), movimentos socioculturais de iniciativa

    popular: Associações de Bairro, Associações e comissões de Moradores, Associações

  • 9

    de Jovens, Associações de Cultura Popular, Grupos de teatro, Centros de convívio,

    Centros Sociais, Grupos de Paroquia, Associações de Estudantes, Grupos de Estudantes,

    Grupos desportivos, Grupos Musicais, escolas de Música, Centros Culturais.

    Na tentativa de responder a esta nova dinâmica dos movimentos populares, o

    Estado, promove ações de formação de animadores através do INATEL (Instituto

    Nacional para o Aproveitamento dos Tempos Livres) e o FAOJ (Fundo de Apoio aos

    Organismos Juvenis, hoje IPDJ (Instituto Português do Desporto e Juventude) e publica

    novas atribuições do INATEL, através dos Decretos-Lei nº. 184/75 e nº. 519-J2/79, de

    29 de Dezembro:

    Artº. 7º - Atribuições de carácter cultural: No exercício das suas funções de carácter cultural, deve o INATEL, estimular e apoiar

    o interesse dos sócios pela fruição e criação culturais, recreativas e sociais,

    nomeadamente: a) Aproveitando as potencialidades, que nesse domínio, oferecem, o teatro, o cinema, a

    televisão, a radio e a imprensa e outros meios disponíveis com relevância cultural e

    artística;

    b) Apoiando a criação e o desenvolvimento de agrupamentos artísticos; c) Apoiando e promovendo a realização de conferências, a criação de bibliotecas, a

    organização de centros culturais, a edição de publicações e outras iniciativas de

    carácter cultural. Artº. 8º - Atribuições de carácter recreativo:

    No exercício das suas funções de carácter recreativo, deve o INATEL, promover e

    apoiar iniciativas que possam proporcionar aos sócios formas de ocupação recreativa.

    Artº 9º - Atribuições de carácter social No exercício das suas funções de carácter social, deve o INATEL, proporcionar as

    iniciativas de caráter social que estejam ao seu alcance, nomeadamente:

    a) Criando, desenvolvendo e gerindo centros de férias e de repouso, parques de campismo e outras formas de alojamento para descanso;

    b) Intensificando o aproveitamento das suas estruturas, nos períodos de menor utilização, por parte de pensionistas e reformados.

    Com a entrada de Portugal na CEE (Comunidade Económica Europeia), há

    alterações neste sector e, gradualmente, as iniciativas de origem popular, debaixo para

    cima, de cariz endógeno, o associativismo, o voluntariado, o altruísmo e a entrega

    romântica às causas, perdem relevância. A este propósito, os autores atrás referidos,

    mencionam que a Junta Central das Casas do Povo são extintas, o FAOJ (Fundo de

    Apoio aos Organismos Juvenis) muda de nome e forma de intervir, sendo que, apenas o

    INATEL fica ligado ao associativismo popular, mas confinado às suas especificidades

    de apoio aos CCD (Centros de Cultura e Desporto) e aos sócios individuais, cujo apoio,

    ainda hoje persiste. (Pereira et al, 2008:65). Mas foi neste período, que, com a entrada

    de fundos comunitários, se deram grandes mudanças, sobretudo na construção de

  • 10

    infraestruturas, desvalorização do voluntariado e do associativismo, motivada pela

    proliferação de bolsas de formação, algumas das quais, sem qualquer importância para o

    desenvolvimento sociocultural ou socioprofissional do país, levando a que um

    significativo número de jovens encarasse o associativismo como uma atitude

    mercantilista. Não se fazia nada que não fosse pago.

    Com a descentralização de atribuições do poder central para o local, as

    autarquias, através das infraestruturas, entretanto construídas, dão nova ênfase, à

    animação sociocultural, ao associativismo, à cultura, a ação social, dotando

    gradualmente os seus quadros de técnicos especializados nas mais diferentes áreas.

    Como refere, Pereira, et al (2008:66), as autarquias começam a constituir grupos de

    técnicos na área da animação, promovem ações e eventos, dinamizam as associações e grupos

    locais, abrem novos espaços de cultura e de animação, mandam construir centros culturais,

    recuperam e constroem teatros.

    No nosso ponto de vista, estas ações de fim de século, não foram uniformes a

    todo o país, por vezes, carregadas de simbolismo ideológico, conforme as sensibilidades

    dos detentores do poder local vigente, sem a originalidade que estas áreas de atuação

    merecem. No entanto, muitas autarquias oferecem bens culturais e sociais que o erário

    público custeia e que as populações agradecem. Floresce a cultura de espetáculo em

    detrimento da participação e do voluntariado.

    Segundo a Enciclopédia Luso-Brasileira (s/d), instituição é o mesmo que

    criação, fundação ou estabelecimento de certos entes coletivos ou associações de

    pessoas e bens, não necessária, mas geralmente, personalizadas com determinado fim

    social. Como exemplo de instituições são as associações, corporações e fundações,

    dotadas de personalidade moral, jurídica ou coletiva.

    Podem ser instituições de direito privado, isto é, entes coletivos, provenientes da

    vontade humana, criados ou fundados de harmonia com a lei, para a realização mais

    eficaz de determinados fins e interesses comuns de toda a ordem, públicos e privados.

    Ou instituições de direito público como o próprio Estado, as Autarquias Locais e

    variadíssimos institutos públicos personalizados, reconhecidos ou fundados pelo Estado

    no interesse de uma boa administração e da utilidade pública.

  • 11

    1.2 Institutos Públicos e Fundações

    Os interesses da sociedade cruzam-se, constituindo teias complexas de relações,

    sustentadas por diversas organizações privadas e públicas. Estas, ao longo da história,

    para satisfazer as necessidades crescentes de uma sociedade aburguesada, cada vez mais

    exigente e complexa, e satisfazer o intervencionismo gradual do Estado na sociedade,

    têm tido um papel preponderante, no desempenho de funções que normalmente estão

    acometidas ao Estado. Este, por razões de eficácia e funcionalidade na prossecução dos

    seus fins, para descongestionar os órgãos e serviços centrais, aproximar os serviços dos

    cidadãos, devolve certos poderes para estas organizações.

    Neste âmbito, situam-se os Institutos Públicos, hierarquicamente dependentes

    mas distintos do Estado, pertencentes à administração estadual indireta, com

    personalidade jurídica, sujeitos ao regime de direito público, criados e modificados,

    extintos, mediante decreto-lei. Também beneficiam de relativa autonomia financeira,

    possuem órgãos próprios, cujos presidentes são simultaneamente órgãos dirigentes do

    Instituto e do Estado, os seus serviços administrativos, podem ser centrais ou locais e

    estão sujeitos a controlo apertado do Governo, através da tutela administrativa. Por

    último, visam os interesses gerais da comunidade nacional ou seja, como afirma Sá

    (1985:8), (…) trata-se de uma estrutura voltada para a área da função administrativa

    que se projeta na realização de interesses públicos gerais, e não de interesses públicos

    próprios de determinadas comunidades, territorial ou idealmente circunscritas. Sá

    ainda acrescenta que são pessoas coletivas de direito público, instituídas ou aceites para

    aliviar o Estado do desempenho de certas tarefas públicas, ou seja, entrega a gestão de

    certo interesse ou feixe de interesses, cuja prossecução deveria caber, em princípio,

    diretamente à pessoa coletiva Estado.

    No caso específico do nosso objeto de estudo, o INATEL é a instituição que

    sucedeu, após a revolução de 25 de Abril de 1974, à Federação Nacional para Alegria

    no Trabalho (FNAT) constituída em 1935. O INATEL tem por missão a promoção das

    melhores condições para a ocupação dos tempos livres e lazer, uma área de intervenção

    do Estado contemporâneo que comummente pertencia ao foro da sociedade civil. Esta

  • 12

    instituição, outrora gerida sob a égide do regime dos institutos públicos, a partir de 2008

    passou a reger-se por Fundação2.

    As Fundações de iniciativa privada, meramente testamentárias de natureza

    altruística, têm o seu desenvolvimento com a industrialização e consequente aumento de

    fortunas, como as de Alfred Bernhard Nobel, Fundação sueca para honrar e compensar

    economicamente os benfeitores da humanidade e a de Calouste Gulbenkian, Fundação

    portuguesa, com fins caritativos, artísticos e científicos. Os beneficiários têm uma

    função meramente passiva, o teor fundacional obedece à vontade do fundador, como o

    fim da fundação, os bens que lhe estão destinados, a sede, a organização e

    funcionamento, os termos da sua transformação ou extinção e o destino dos respetivos

    bens. São Fundações criadas por uma ou mais pessoas de direito privado, em conjunto

    ou não com pessoas coletivas públicas, desde que estas, isolada ou conjuntamente, não

    detenham sobre a fundação uma influência dominante. As Fundações só são

    reconhecidas pela entidade competente, se o escopo for de interesse social e os bens

    afetados para a prossecução dos fins for suficiente, assim como, segundo a Enciclopédia

    Luso-Brasileira:

    As Fundações de origem privada, carecem, em princípio de reconhecimento pela

    autoridade administrativa para poderem ser consideradas como entes jurídicos

    autónomos em relação aos instituidores e em relação aos beneficiários (…) quanto às fundações de iniciativa pública, não se requer, evidentemente, reconhecimento visto

    serem criadas pelo próprio legislador. (s/d:1789)

    Fundações públicas de direito público, Fundações públicas de direito privado,

    Fundações privadas de utilidade pública. Neste âmbito situa-se a Fundação INATEL

    que através do Decreto-Lei n.º 106/2008 de 25 de Junho, em que é aprovado o novo

    enquadramento jurídico da fundação, a qual, deixa de integrar a administração central

    do Estado, passando a fundação direito privado de utilidade pública, tutelada pelo

    Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social.

    Na sociedade atual há toda uma amálgama de Fundações que prosseguem

    interesses comuns de toda a ordem, privados e públicos, de delimitações dúbias onde a

    promiscuidade entre o público e o privado subsiste, alterando a natureza e a lógica da

    sua função. Não há controlo rigoroso sobre a sua criação, funcionamento e

    2 Decreto-Lei n.º 106/2008 de 25 de Junho (Anexo V)

  • 13

    financiamento e, por vezes, desvirtuamento da vontade do fundador. Face a este

    contexto, o Estado, após um censo às Fundações existentes no nosso país, elaborou um

    novo regime para delimitar a esfera jurídica e natureza das Fundações, como por

    exemplo: reforçou o poder de superintendência e tutela administrativa das Fundações,

    proibiu a criação de novas Fundações públicas de direito privado, obrigou as Fundações

    privadas que beneficiem de apoios financeiros a ficarem sujeitas a controlo do

    Ministério das Finanças e extinguiu outras que não reuniam os requisitos necessários.

    É evidente que poderíamos debruçar-nos sobre os Institutos, cuja origem

    fundacional é privada, regidos pelo direito privado, no entanto, para o âmbito do nosso

    estudo é essencial caracterizar os fundados pelo Estado, que visam os interesses gerais

    da comunidade nacional e regidos pelo direito público, como o caso do INATEL,

    instituição que visa ocupar os tempos livres do trabalhador.

  • 14

    CAP II – Animação Sociocultural e envelhecimento ativo

  • 15

    2.1 Animação Sociocultural

    2.1.1 Conceito

    É difícil e diríamos quase impossível encontrar um enunciado único e preciso

    relativamente à designação de ASC. Quanto mais pesquisamos e tentamos encontrar “a

    definição”, mais nos deparamos com a imprecisão, polissemia e até uma ambiguidade

    da expressão.

    Ander-Egg afirma que explicar o significado de animação sociocultural é uma

    tarefa dificil, como explicar por escrito algo que por definição é acção, movimento,

    actividade, impulso, vida? Como expressar numa definição o que é comum, nessa

    variedade caleidoscópica de actividades que se denominam de animação sociocultural?

    (Ander-Egg, 2000:90)

    Jardim (2003) usa a palavra “animação” no seu sentido etimológico, que

    significa ato ou efeito de animar, dar vida, infundir ânimo, valor e energia.

    Ander-Egg (2000) esclarece mesmo que se tivermos em conta as origens gregas

    e latinas das palavras animar e animação, temos referências simbólicas a anima (alma),

    sopro ou alento vital e ânimo. Existem assim algumas opiniões acerca da definição do

    conceito, mas há também quem considere a impossibilidade de o definir.

    Segundo a Unesco, a Animação Sociocultural consiste em um conjunto de

    práticas sociais que tem como finalidade estimular a iniciativa e a participação das

    comunidades no processo do seu próprio desenvolvimento e na dinâmica global da vida

    sociopolítica em que estão integradas.3

    Para Gaspar (1976), a animação sociocultural não é um “entreter” esperando

    apenas a atenção das pessoas, mas sim oferecer as ferramentas necessárias para que

    estas pessoas sejam ativas e tentem, em conjunto, alterar algo que consideram não estar

    bem.

    (…) a animação sociocultural não é um discurso para convencer as pessoas, não é

    passar filmes às populações, não é criar uma discoteca para os jovens ouvirem discos e dançar. A animação é criar condições para que o grupo, as populações ganhem em si

    3 http://animeio.blogspot.pt/2009/07/unesco-i982.html acedido a 11-10-2012, pelas 22:15

    http://animeio.blogspot.pt/2009/07/unesco-i982.html

  • 16

    mesmas confiança e vivam os seus problemas e os reflictam em grupo para os resolver

    (...) (Gaspar, 1976:5)

    Posto isto, entendemos que a animação sociocultural promove a mudança: a

    transformação do ser humano no seu meio e quotidiano. Procura dar a conhecer que

    existe espaço para a opinião, para a discórdia, para a ação, ação esta que deve ser

    comunitária e que deve levar à resolução de problemas e carências não de um individuo

    mas da comunidade em geral. São estas carências que vão definir os objetivos da

    Animação Sociocultural, objetivos estes que passaremos a descrever no ponto seguinte.

    2.1.2 A Animação Sociocultural em Portugal

    Segundo Lopes (2006:95) Nos anos 60, a animação sociocultural começa a dar

    os primeiros passos [na Europa], em Portugal [só] cerca de 10 anos mais tarde, teve a

    sua máxima expressão, acompanhado o evoluir da história do país.

    Segundo Bento,

    (…) o contributo do FAOJ, a existência das Campanhas de Alfabetização e Dinamização Cultural, o papel dos Centros Culturais, etc., não podemos ignorar uma dimensão da animação existente até 25 de Abril de 1974 e que reflecte afinal a

    coexistência (não pacífica naturalmente) de duas assunções de animação cultural: uma

    desenvolvida na perspetiva da cultura oficial e única e outra na perspetiva da cultura

    de resistência (Bento, 2003:23).

    Apesar da opinião de Bento (2003), Lopes (2006) revela que só após o 25 de

    Abril se iniciou um período de grande preocupação com a formação do ser humano,

    focando o ambiente escolar, o meio e a comunidade que o envolve e que o molda, e a

    família que o acompanha e educa. Por esta altura, fala-se de educação, literacia, escola

    e da importância do envolvimento do meio. Pais, irmãos e comunidade em geral, dão

    então a sua parcela no que diz respeito à educação e ao meio escolar (Lopes, 2006:96).

    Esta preocupação não ficou apenas pelas famílias, sendo também fator de

    preocupação da comunidade em geral, e do governo. Outras iniciativas foram tomadas,

    também por parte do governo. O importante era cultivar o ensino e elevar o nível

    literário/alfabetização da população (Lopes, 2006:96).

    Era necessário formar as pessoas, cultivar o gosto pela escrita, leitura, minimizar

    a elevada taxa de analfabetos e criar uma sociedade interessada, focada nos interesses

    públicos, atualizada e acima de tudo ativa. Importava que as crianças fossem à escola e

  • 17

    tomassem o gosto pelo estudo, era também essencial que os mais velhos, que até então

    não tinham tido a oportunidade de ir à escola, pois o trabalho na agricultura desde muito

    cedo os impediu, tivessem agora uma oportunidade de o fazer. Criaram-se, assim, as

    chamadas “escolas móveis” que o autor refere, irem ao encontro das pessoas, no

    sentido de dar assistência aos mais velhos, até então analfabetos, vitimas de uma vida

    de trabalho árduo e jardins de infância, centrados na criança (Lopes, 2006:96).

    Não menos imprescindível era a resolução de alguns dos problemas que o país

    enfrentava, como o êxodo rural, desintegração social, ausência de participação,

    consumismo, desemprego, desenvolvimento cultural, social, educativo e político (Lopes,

    2007:131).

    Verificamos que a animação sociocultural esteve presente desde o 25 de Abril,

    ao serviço da democracia, ao lado do povo, promovendo a participação e

    desenvolvimento, resolvendo ou ajudando a resolver os défices de envolvimento dos

    portugueses no seu processo de cidadania, bem diferente do que se fazia antes de 1975..

    2.1.3 Objetivos da Animação Sociocultural

    Segundo Peres e Lopes (2007:11), o papel da Animação Sociocultural passa pelo

    combate às desigualdades económicas, às exclusões socioculturais, à

    toxicodependência, à violência, às guerras, à fome, à solidão, ao desemprego, etc.(…).

    Os mesmos autores dão a conhecer também os propósitos que estiveram na origem da

    ASC, e que são

    a integração social; a participação; a cooperação; o voluntariado; o desenvolvimento

    pessoal e comunitário; a partilha de saberes; a criatividade; a promoção sociocultural;

    a democracia; a consciencialização; o desenvolvimento do sentido crítico; a socialização; o aproveitamento do tempo livre; o potenciar dos recursos humanos; o

    bem-estar e a qualidade de vida; o pluralismo (Peres e Lopes, 2007:12).

    É imprescindível que o cidadão se torne cidadão da sua própria sociedade, que

    participa, que seja autónomo, que se desenvolva social e economicamente e que seja

    crítico, só assim tomará consciência da realidade que o rodeia, podendo modificá-la

    Acreditamos que a participação é um processo que consciencializa as pessoas na

    transformação das suas realidades e, também, as conduz ao esforço coletivo de

    reformular a sociedade (…) (Peres e Lopes, 2007:16).

  • 18

    Para Jardim,

    O objetivo fundamental da animação (gerar vida nova) só se realiza na medida em que

    são atingidos três objetivos gerais:

    Construir uma identidade harmoniosa e estável dentro da complexidade cultural e da

    fragmentação existencial. Participar na vida social de um modo ativo e consciencioso.

    Abrir-se à transcendência como caminho de descoberta do sentido pleno da vida

    (Jardim, 2003:26).

    Face ao atrás enunciado, a ASC é assim um método de intervenção, de

    desenvolvimento e promoção de consciência social e crítica, promove valores, novas

    formas de organização e, que segundo os autores atrás referidos, só concretiza estes

    objetivos se a pessoa tiver uma visão otimista, esteja presente e participe ativamente na

    vida social.

    2.1.4 Âmbitos da Animação Sociocultural

    Segundo Lopes (2006), falar em âmbitos da ASC é ter presente a perspetiva

    tridimensional quanto à sua intervenção, dimensão etária: infantil, juvenil, adultos e

    terceira idade, quanto a espaço de intervenção, animação urbana/rural e nas áreas

    temáticas: no que concerne à educação, cultura e saúde. Estes âmbitos definem a forma

    de atuação da Animação Sociocultural nos vários contextos, em função das

    necessidades da própria sociedade.

    (…) outros âmbitos de Animação, poderão ser formados, relacionados com potenciais

    novos âmbitos de Animação, cuja emergência é, por sua vez, determinada por uma dinâmica social em constante mudança, que origina a permanente promoção de

    relações interpessoais, comunicativas, humanas, solidárias, educativas e

    comprometidas com o desenvolvimento (Lopes, 2006:315).

    Entendemos que, à medida que a sociedade se desenvolve, surgem novas

    necessidades e emergem também novos âmbitos, que irão designar a forma de atuação

    da Animação Sociocultural em cada contexto. Serão elaborados novos programas que

    darão continuidade ao objetivo, sempre presente na ASC, que é levar as pessoas a

    autodesenvolverem-se em interação e, consequentemente, reforçarem os laços grupais e

    comunitários.

  • 19

    2.1.4.1 Dimensão etária

    Face ao tema do presente estudo, entendemos ser necessário rever alguns aspetos

    relacionados à dimensão etária referida, podemos distinguir várias fases. Em primeiro

    lugar, a Animação na infância, que tem como objetivo, segundo Lopes (2006)

    complementar a escola, organizando programas lúdicos e formativos, tais como

    passeios, visitas de estudo, colónias de férias onde as crianças partilhavam e interagiam

    entre si e com os seus monitores. A animação juvenil, que deve assentar, segundo o

    mesmo autor, em quatro referências básicas que são: a liberdade; a promoção do

    associativismo; a participação e o voluntariado, fomentando, a partir do tempo livre,

    aprendizagens diversas e a partilha de saberes. A animação sociocultural de adultos,

    cujos programas devem direcionar o tempo de ócio para um meio de reflexão e

    consciencialização para usufruir do tempo livre da melhor maneira e por último, a

    animação na terceira idade, onde a estratégia de intervenção se foca na prevenção e

    compensação de situações de deterioração do corpo provocada pelo avanço da idade.

    A Animação Sociocultural na terceira idade funde-se com a gerontologia

    educativa, promotora de situações com vista a auxiliar as pessoas idosas a promover

    novos interesses e atividades que conduzam à manutenção da sua vitalidade física e

    mental.

    O tempo demasiado livre deve servir para a valorização pessoal, sendo

    considerado a autoestima e a participação um bem-estar individual e coletivo. Mais

    adiante iremos abordar com maior detalhe este assunto.

    E é nestas duas últimas faixas etárias que nos iremos debruçar mais, ao longo

    deste trabalho: idade adulta e terceira idade.

  • 20

    2.2 Animação Sociocultural de Adultos e Seniores

    A idade adulta é entendida muitas vezes como a fase da vida em que se atinge

    estabilidade e maturidade, havendo quem defenda que esta fase é marcada por várias

    transformações, pelas implicações socioprofissionais decorrentes das responsabilidades

    laborais e familiares do cidadão.

    Segundo Lopes (2006:325) é nesta faixa etária que subsistem três tempos

    diferentes, o tempo de trabalho, o tempo livre e o tempo liberto, ou seja o tempo de

    ócio. O maior tempo nesta fase da vida é passado no trabalho e é ele que vai condicionar

    o tempo que vamos despender no tempo livre e no ócio, mediante o nosso horário e

    cargo.

    A quantidade de tempo liberto pode ser maior ou menor consoante o tipo de trabalho

    que se possui, sendo as características da atividade laboral desempenhada influenciadoras no sentido a dar às atividades de ócio que podem, nalguns casos, ser de

    compensação, noutros de relaxe, noutros ainda, de recreio e diversão, e na maioria dos

    casos, de complemento profissional (Lopes, 2006:325).

    A animação de adultos, segundo o mesmo autor, deve consistir em programas

    que estejam ligados ao ócio nesta faixa etária e devem compor-se por uma

    animação/educação do/no tempo livre, diferente do simples ocupar o tempo, ligando a

    satisfação e a realização pessoais (Lopes, 2006).

    2.2.1 O INATEL e a Animação Sociocultural

    Como já foi referido anteriormente, o INATEL, antiga FNAT, é uma

    organização que se prende pela organização e gestão de programas para o

    aproveitamento dos tempos livres dos trabalhadores. As suas práticas passam por

    diversas áreas de animação, nomeadamente: turismo; teatro; música; cinema; ações de

    formação até à organização de eventos desportivos e recreativos, possuindo estruturas

    de apoio à cultura popular e ao desporto amador que promovem a assistência técnica e

    financeira do movimento associativo, cultural, desportivo, etnográfico, folclórico ou

    recreativo, de base empresarial ou local, no continente e nas regiões autónomas.

    Estas atividades de animação, porque são eventos onde o elemento cultural está

    presente e desenvolvem momentos de interação entre as pessoas e as comunidades no

    sentido de vivencias e convivências com elementos das suas culturas, constituem-se

    como espaços onde o Animador Sociocultural ganha sentido e se justifica, enquanto

  • 21

    tecnologia e metodologia de ação, com a terceira idade e, grande parte das vezes, numa

    dimensão intergeracional, quando os utentes beneficiários acorrem aos programas em

    família.

  • 22

    2.3 Animação Sociocultural na Terceira Idade

    Com o crescente envelhecimento da população existe uma maior necessidade de

    criar programas de Animação Sociocultural para a terceira idade em Portugal. Tem-se

    vindo a comprovar este aumento da população sénior em Portugal, através do aumento

    de Instituições criadas, como Lares e Centros de Dia que se tem vindo a verificar, mas

    também, a importância dada à necessidade de formar pessoas para intervirem junto

    destas organizações.

    Existe também uma crescente preocupação na prevenção de problemas a nível

    de saúde mental e física, assim como social e educativa.

    Segundo Elizasu

    a aparição da Animação Sociocultural no campo da terceira idade surge em resposta a

    uma ausência ou diminuição da sua atividade e das suas relações sociais. Para

    preencher este vazio, a Animação Sociocultural trata de favorecer a emergência de uma vida centrada à volta do individuo ou do grupo. A Animação Sociocultural

    concebe a ideia de progresso das pessoas idosas através da sua integração e

    participação voluntaria em tarefas colectivas nas quais a cultura joga um papel estimulante (...) (cit. Lopes, 2006:329-330).

    Na perspetiva de Lopes,

    a animação Sociocultural na terceira idade funde-se, portanto, nos princípios de uma

    gerontologia educativa, promotora de situações optimizantes e operativas, com vista a auxiliar as pessoas idosas a programar a evolução natural do seu envelhecimento, a

    promover-lhe novos interesses e novas atividades, que conduzam à manutenção da sua

    vitalidade física e moral, de perspetivar a Animação do seu tempo, que é,

    predominantemente livre (Lopes 2006:328).

    Para o mesmo autor (2006) a Animação Sociocultural encontra-se em expansão

    e tem vindo a especializar-se noutros ramos como animação turística, animação ao

    domicílio e animação de Lares e Centros de Dia.

    Pérez (2009) refere-nos que a animação turística é uma das especialidades mais

    recentes da animação sociocultural, com grandes perspetivas de futuro, no campo

    profissional, devido ao aumento da esperança média de vida e consequente aumento do

    tempo livre.

    A mesma investigadora descreve esta especialidade como:

  • 23

    (…) intervenção socioeducativa cuja finalidade é aumentar a qualidade de vida das

    pessoas mediante a sua implicação activa, participativa e grupal na realização de projectos e actividades socioculturais que respondam aos seus interesses e

    necessidades de ócio e desenvolvimento pessoal e social (Pérez, 2009:333).

    Este é sem dúvida um dos grandes desafios deste século em todo o mundo, com

    o aumento da esperança média de vida e o respetivo crescimento da população idosa.

    Existe, por isso, uma grande preocupação em proporcionar qualidade de vida à terceira

    idade, para que se viva cada vez mais e melhor, contrariando o conceito de fim de

    vida/preparação para a morte. Temos, assim, que destacar a prática de atividades

    socioculturais e de lazer como benefícios psicológicos e físicos que transmitem ao

    idoso, levando a processos de envelhecimento mais consentâneos com uma sociedade

    onde o ser humano, a pessoa, é o mais importante.

  • 24

    2.4 Envelhecimento

    O envelhecimento é um processo cultural e social, encarado como uma alteração

    de mentalidade e de comportamento. É, na sociedade atual, desvalorizado pelos mais

    jovens, o que o torna um ser passivo e dependente de cuidados.

    Começamos a envelhecer no momento em que nascemos, a forma como envelhecemos

    prende-se com a forma como nos projetamos no futuro e sob a influência da

    representação que interiorizamos acerca de outros grupos de idade, nomeadamente o dos mais velhos (Coelho 2013:70).

    Devido aos problemas de saúde que advêm com a idade, existe uma ideia

    preconcebida do envelhecimento, que os mais jovens conotam de negativo, pois

    associam à perda de faculdades tanto motoras como psíquicas, o degradar da beleza

    exterior, o aparecimento de rugas e, muitas vezes, à perda de determinados estatutos

    sociais que foram adquiridos ao longo da sua vida profissional, que ocorrem com a

    aposentação, perdendo relevância sociável.

    Segundo Fontaine (2000:xiii), o envelhecimento da população é transversal a

    todos os países, afirmando que esta faixa etária tem vindo a crescer devido aos

    progressos médicos e à melhoria das condições de vida, desde a segunda Guerra

    Mundial, que o número de pessoas com mais de sessenta anos aumenta de ano para

    ano.

    O mesmo autor afirma que não existe apenas uma velhice, existem velhices, pois

    existem diferenças entre as pessoas e a sua forma de encarar a própria velhice.

    Fierro (cit. Requejo, 2007) fala de velhice como estado de envelhecimento onde

    ao longo da vida adulta se ajusta com métodos de desenvolvimento e amadurecimento.

    Sáenz (cit. Carneiro, 2013) diz que o envelhecimento é uma situação de conflito

    entre o crescimento da sabedoria e experiência e o declínio físico e biológico, para

    superarmos esta crise teremos que envelhecer com integridade, estabelecendo novas

    relações com a realidade.

    Segundo Requejo (2007) tem-se verificado um aumento demográfico das

    pessoas idosas nos últimos 50 anos, formando um grupo social denominado por

  • 25

    “idosos” e tem despertado o interesse individual e coletivo de alguns, no que diz

    respeito à sua vida social, económica e familiar.

    Este fenómeno deu-se com o aumento da esperança média de vida e a

    diminuição da taxa de mortalidade, com o avanço da medicina e condições sanitárias,

    mas também o facto de nos últimos anos não haver tanta natalidade, fez com que esta

    faixa etária predominasse.

    2.4.1 Envelhecimento Ativo e Animação Sociocultural

    Sabemos que o “jovem” é sempre mais valorizado a todos os níveis pela

    sociedade em detrimento do “velho”. Surge então a questão de como promover a

    velhice, para que esta opinião, depreciativa de forma generalizada, se modifique.

    Fala-se de melhorar a qualidade de vida, promovendo o bem-estar físico e

    mental, a sua atividade e interação na e com a sociedade em prol de um envelhecimento

    contínuo com qualidade, o envelhecimento ativo.

    Segundo a OMS (2007),

    O envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades de saúde,

    participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida

    que as pessoas ficam mais velhas (cit. Barros, 2012:365).

    Para Requejo, O envelhecimento é um processo vital que tem vindo a ganhar

    vitalidade nos últimos anos (Requejo, 2007:13). Segundo o mesmo autor, existe hoje

    uma aceitação da velhice mais positiva, encarando o envelhecimento como uma fase da

    vida onde se podem praticar e desenvolver novas atividades. (2007)

    O mesmo investigador diz-nos, ainda, que os estereótipos negativos estão a

    mudar,

    pelo contrário, impõem-se as teorias da «actividade» (novos papeis que substituem os

    antigos) e da «continuidade» (segundo a qual existe um desenvolvimento contínuo da vida adulta, que inclui a sua adaptação a situações externas negativas) (Requejo,

    2007:13).

    À medida que evoluímos os idosos têm cada vez mais formação e carência de

    vida ativa. Encontramos hoje idosos que procuram o bem-estar, a informação e um

  • 26

    modo de vida independente, que se agregue ao alto nível de atividade. Para o efeito, a

    Animação Sociocultural tem um papel preponderante, porque se associa ao combate ao

    sedentarismo, a ASC envolve-se no desenvolvimento vital do ser humano para

    prolongar a vida deste, através de instrumentos diversificados de ação, nunca

    esquecendo a qualidade de vida. Preocupa-se fundamentalmente com o idoso

    institucionalizado, dinamizando e criando atividades de envolvência coletiva e

    individual, colmatando o imobilismo, a demência e doenças físicas, não descorando as

    relações afetivas, nomeadamente a ligação com a trilogia (idoso, família, instituição).

    Os tempos mudam e o idoso começa a ser novamente valorizado. Desta forma o

    ano de 2012 foi considerado o ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da

    Solidariedade entre gerações, o que nos ajuda a compreender esse facto, dando um bom

    contributo para a visibilidade da velhice.

    2.4.2 Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da solidariedade entre

    gerações

    Segundo Fontaine, O desafio do seculo XXI não será dar tempo ao tempo, mas

    dar qualidade ao tempo (Fontaine, 2000:xiii).

    Segundo o Instituto de Gestão do fundo social Europeu I.P., este ano, ano de

    2012 foi designado o Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre

    as Gerações, pretende-se com isto, promover a vitalidade e a dignidade de todos.

    Conforme decisão do Parlamento Europeu, o grande objetivo era promover uma

    cultura de envelhecimento ativo na Europa, baseada numa sociedade para todas as

    idades. Para isso, considera-se importante sensibilizar a população para a importância

    do envelhecimento ativo e defender que este adote uma posição destacada na sociedade

    em geral4, sendo, também, fundamental que se valorize e aprecie o contributo útil das

    pessoas mais velhas para a sociedade e para a economia, a promoção da solidariedade

    entre as gerações, da dignidade e vitalidade de todos, explorando o seu melhor, não

    olhando à sua origem e proporcionando a sua independência.

    4 In http://www.igfse.pt/news.asp?startAt=1&categoryID=281&newsID=2553 acedido em 21-10-2012

    pelas 15:32

    http://www.igfse.pt/news.asp?startAt=1&categoryID=281&newsID=2553

  • 27

    É igualmente importante que se estimule o debate, que haja troca de informações

    e que se desenvolvam aprendizagens com o objetivo de promover as políticas de

    envelhecimento ativo, de identificar e divulgar as boas práticas e de incentivar a

    cooperação e as sinergias.5

    Foi proposto um quadro de compromisso e de ação concreta que permita à

    União, aos Estados Membros, sociedade civil, parceiros sociais e do sector empresarial,

    organizar soluções, políticas e estratégias duradouras que fossem inovadoras, também

    relacionadas com a gestão da idade e com o emprego/trabalho, através de atividades

    procurem atingir os objetivos no domínio do envelhecimento ativo e da solidariedade

    intergeracional.

    Estas atividades devem combater a discriminação em relação à idade,

    eliminando assim preconceitos e obstáculos, em especial no que diz respeito à

    empregabilidade.6

    5 In http://www.igfse.pt/news.asp?startAt=1&categoryID=281&newsID=2553 acedido em 21-10-2012

    pelas 15:32 6 In http://www.igfse.pt/news.asp?startAt=1&categoryID=281&newsID=2553 acedido em 21-10-2012

    pelas 15:32

    http://www.igfse.pt/news.asp?startAt=1&categoryID=281&newsID=2553http://www.igfse.pt/news.asp?startAt=1&categoryID=281&newsID=2553

  • 28

    2.5 O Lazer e o Ócio na terceira idade

    Lazer, do latim licere, segundo o Grande Dicionário da Língua Portuguesa,

    significa Ócio, vagar, tempo disponível para se poder fazer qualquer coisa. Descanso,

    repouso (cit. Lopes, 2006:450).

    Segundo Dumazedier, tempo livre afirmava-se lazer, que definiu como (…) um conjunto

    de ocupações nas quais o indivíduo pode integrar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se (…), após livrar-se ou

    desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais (cit. Cunha

    2009:65).

    Para os gregos tempo livre era o ócio considerado mais importante que o tempo

    de trabalho, sendo o primeiro associado ao culto do saber. Já os romanos, durante a

    Idade Média consideravam o ócio como um estado de alma que associavam ao descanso

    e à diversão. El ócio no se tiene, ni se gasta ni consume, el ócio se “vive” porque el

    ócio es experiencia (Prat cit. Silva, 2013:117).

    O verdadeiro Ócio é uma experiência satisfatória, independentemente do tipo de

    atividade que se pratique (Cuenca, 2009:120).

    Segundo o autor, o ócio é uma experiência sem qualquer tipo de obrigações ou

    deveres mas muito ligado às necessidades humanas, como a necessidade de saber,

    conhecer, integrar-se, sendo um fenómeno individual e social. A vivência de uma

    experiência de ócio inicia-se, ou pode iniciar-se, muito antes da realização da atividade

    em si mesma. O mesmo autor refere-se ao contexto do ócio como uma situação que não

    tem que ser necessariamente vivida quando desfrutamos de tempo livre, o simples

    planeamento ou projeção no nosso pensamento, permite-nos iniciar essa vivência.

    O prolongamento da vida para além do tempo do mundo laboral tem de ser

    repensado, se queremos que o mesmo seja vivido com qualidade e dignidade

    (Rodrigues, 2009:270).

    Segundo a mesma autora, Portugal é um país envelhecido e este envelhecimento

    está associado a determinados fatores que são eles de ordem genética vivências

    familiares e socioculturais, a profissão e o estado de saúde físico e mental, daí o

    conceito ser diferente de pessoa para pessoa, da sua perceção.

  • 29

    O envelhecimento positivo desenvolve atitudes positivas tais como o espírito de

    iniciativa, a criatividade, a descoberta de novos interesses e aptidões, evitam o isolamento e levam ao encontro de novas fontes de interesse e alegria de viver,

    reforçando a autoestima dos idosos (Rodrigues, 2009:271).

    A autora quer com isto dizer que desenvolver atividades, manter a mobilidade,

    promover e estimular a criatividade é sem dúvida retardar o envelhecimento,

    acreditando que se pode aprender a envelhecer e aprendendo a viver com o

    envelhecimento como um processo normal da vida.

    A partir da animação sociocultural, podemos aproveitar o tempo de forma ativa,

    participando em atividades de dimensão cultural; de desenvolvimento de competências

    artísticas e criativas como o teatro; de entretenimento e convívio, e/ou na participação

    em movimentos cívicos, sociais, políticos e económicos. A animação detém, entre

    outras, a função de estimular este tipo de atividades e promover a inserção dos

    indivíduos nas mesmas.

  • 30

    2.6 A Animação Turística

    A Animação turística tem vindo a desenvolver-se no turismo, através das suas

    práticas levando as pessoas a interagirem e a envolverem-se com o meio que visitam,

    transformando o seu tempo maioritariamente livre em ócio.

    Cuenca (2009:119) refere que:

    é uma modalidade que se desenvolve na metade do séc. XX nos hotéis do Club Mediterrâneo francês. Em Espanha começa na década de 70 como atividade

    complementar que pretende entreter os hóspedes e retê-los mais tempo nos hotéis (…) o

    objetivo da animação turística era que o turista passa-se bem, divertindo-se com

    atividades recreativas e festivas.

    O mesmo autor afirma que nem em todos os hotéis se desenvolveu esta proposta,

    apenas naqueles em que o objetivo era o ócio e as férias. A animação turística tem vindo

    a fazer parte dos pacotes de tudo incluído, e tem tido um papel preponderante na

    estadia. Atualmente tem feito parte no momento da decisão dos destinos de férias e tem

    tido muita procura, as pessoas cada vez mais participam valorizando cada experiência.

    Segundo Mann,

    Os primeiros dias de permanência num lugar novo têm um curso jovem, ou seja, robusto e amplo, e são uns seis ou oito dias. Contudo, logo a seguir, na medida em que

    se aclimata, começa-se a sentir como eles se abreviam; quem se interessa pela vida, ou

    melhor, quem deseja interessar-se pela vida, nota, com espanto, como os dias se vão

    convertendo em ligeiros e furtivos e, a última semana – de quatro, por exemplo – é de uma rapidez e de uma fugacidade inquietantes. É verdade que o rejuvenescimento da

    nossa consciência do tempo se faz sentir mais para além desse período intercalado e

    desempenha o seu papel ainda depois do regresso à nossa vida normal; os primeiros dias que passamos em nossa casa, depois dessa mudança parecemo-nos também novos,

    amplos e jovens, mas somente para alguns, pois outros acostumam-se mais depressa à

    regra do quotidiano, à sua interrupção, e quando nosso sentido da duração está fatigado pela idade, ou – sinal de debilidade congénita – não tem estado muito

    desenvolto, adormece muito rapidamente e, já ao cabo de vinte e quatro horas e como

    se não tivéssemos partido nunca e a viagem não tivesse sido mais que uma noite (cit.

    Cuenca, 2009:126).

    Para Lopes (2006), a animação turística, para além do descrito, tem estabelecido

    comunicação entre os habitantes e a população visitante onde se partilham vivências,

    conhecimentos, experiências. Através da Animação são gerados processos de

    participação e de interação social.

  • 31

    Chaves e Mesalles dizem-nos que,

    podemos definir a Animação Turística como um conjunto de acções e técnicas

    direccionadas a motivar; promover e facilitar uma maior e mais activa participação do

    turista no desfrute do seu tempo de férias, nos níveis e dimensões que isto implica.

    Falamos portanto de acções e técnicas, o que exclui a casualidade e a improvisação na hora de elaborar um projecto.

    A animação turística exige por sua vez uma especial atenção para as relações

    humanas, a dinâmica de grupos e a convivência, isto implica, colocar acima de tudo, o desenvolvimento de uma acção coerente e continuada de motivação, capaz de suscitar

    um autêntico interesse no turista e estimular a sua participação (cit. Lopes, 2006:364).

    2.6.1 Animação Turística na Terceira Idade

    Segundo Lopes (2006:334), a animação turística tem sido um movimento

    excursionista, desprovido de qualquer sinal de Animação, e revelador de uma política

    de acantonamento social da terceira idade.

    Tem-se revelado um grande isolamento da população sénior e, segundo o Autor,

    estas medidas não têm servido para criar uma expetativa de vida digna.

    Os espaços que têm sido concebidos, como Lares e Asilos, têm apenas

    reconhecido a pessoa como consumidor e detentora de bens materiais.

    O Autor critica ainda a prática da “pseudo” Animação Turística que trata de

    levar os seniores, de forma esporádica e passiva, a passear, que contraria o processo de

    vivência e de convivência.

    Para Peres,

    a animação turística para a 3ª idade deve ser entendida como um conjunto de atividades, que transformam o ver no envolver, o viver no conviver; desafiando o

    turista numa estratégia de desenvolvimento pessoal e humano numa determinada fase

    do seu percurso de vida (Peres cit. Lopes, 2006:334).

    Segundo Cubero,

    a terceira idade procura na atividade de animação poder sentir-se útil, dar um novo

    sentido à sua vida. Digamo-lo em quatro palavras, o que o idoso necessita é de: - participar; mover-se; actuar; sentir-se vivo. Sobretudo o sentido último, por razões

    mais que evidentes para quem observa no horizonte o acaso da sua vida (Cubero cit.

    Lopes, 2006:335).

  • 32

    Souza refere

    as atividades de lazer e o turismo proporcionam a reinclusão do idoso, melhoram o seu

    desenvolvimento intelectual, fortalecem as suas habilidades físicas e mantêm a sua

    independência. Podem, por outro lado, ainda lhes proporcionar a redescoberta da motivação e novas propostas de vida, aumentando assim a sua satisfação de viver

    (Souza cit. Silva, 2013:133).

    Souza remete-nos para manifestações de alegria, de prazer que estas atividades

    proporcionam ao idoso, oferecendo oportunidades de participação e interação que irão

    ter consequências positivas de ordem diversa.

    Fenalti et al dizem que a necessidade de conhecer novas pessoas, acompanhar amigos, fugir da solidão, procurar atividades culturais e praticar atividades físicas refletem a

    preocupação dos idosos em procurar envolvimento com diferentes pessoas e atividades, respetivamente, ratificando seu interesse por atividades com participação ativa

    (Fenalti et al cit. Silva, 2013:133).

    Estas experiências são significativas dando um outro verdadeiro sentido à vida

    do idoso, tornando-os ativos.

  • 33

    2.7 Animador Sociocultural

    Como na definição