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159 ARTIGO DE REVISÃO REVISTA PORTUGUESA DE CIÊNCIAS VETERINÁRIAS Resumo: Este trabalho pretende ser uma breve revisão, sobre a utilidade da ressonância magnética na visualização de estruturas anatómicas. Na primeira parte do trabalho é feita uma aborda- gem descritiva do fenómeno de ressonância magnética nuclear, referindo-se os seus princípios básicos, protocolo de exame, bem como a constituição do aparelho. O conhecimento da anatomia planimétrica do encéfalo é uma ferramenta imprescindível para uma correcta análise de todas as imagens obtidas através de ressonância magnética. A utilização deste meio diagnóstico, associado aos sinais clínicos do animal, permite localizar com precisão a extensão das lesões. Summary: This work pretends to be a brief revision about the utility of magnetic resonance imaging in the visualization of anatomic structures. On the first part of this work is made a descriptive approach to the phenomenon of magnetic nuclear resonance, referring to the basic principals, the examine proto- col, and the constitution of the magnet. The knowledge of the planimetric anatomy of the encephalon is an important tool, for a correct analysis of all images obtained by magnetic nuclear resonance. The utilization of this mean of diagnostic associated to the clinic signs of the patient makes easy the localization and delimitation of the lesions. Introdução Nos últimos anos, tem sido possível diagnosticar, através da tomografia axial computadorizada (TAC) e imagem por ressonância magnética (IRM), um número crescente de entidades clínicas com localização cere- bral de natureza orgânica e funcional, que podem afec- tar tanto a espécie humana como os animais domés- ticos. Os resultados obtidos por estes métodos subs- tituíram as imagens obtidas anteriormente, mediante explorações invasivas executadas por métodos de contraste radiográfico (Dennis, 1995). Em medicina veterinária o uso da IRM continua limitado devido ao elevado custo dos aparelhos e das instalações, e à pouca adaptação das antenas para os animais de companhia. Alguns veterinários têm ultra- passado parte destas dificuldades, através de contratos com centros de IRM de medicina humana (Hudson et al., 1995; Guereño, 2001). De todas as espécies de animais domésticos, a anatomia do sistema nervoso central do cão por IRM tem sido, de longe, a mais estudada embora existam alguns estudos realizados no cavalo e no gato (Arencibia et al., 1995; Hudson et al., 1995; Arencibia et al., 2001). A IRM é uma técnica não invasiva, de diagnóstico por imagem que se baseia na interacção entre os núcleos de certos elementos, que possuem capacidade de rotação e o campo magnético exterior (Wortman, 1986; Brown et al., 1998). Para melhor compreen- são das indicações do uso da IRM apresentamos um quadro com as vantagens e desvantagens que este método de diagnóstico por imagem nos oferece (Quadro 1). Técnica de ressonância magnética Um grande número de aparelhos de IRM, com características diversificadas, estão disponíveis comer- cialmente. Nesta breve revisão iremo-nos debruçar essencialmente sobre os princípios básicos comuns. Para uma análise mais aprofundada consultar Dowsett et al., 1998. O aparelho de IRM (Figura 1) deve estar localizado numa sala isolada, própria para o efeito, sendo todas as suas funções controladas a partir do exterior da sala através da consola do operador. Para realizar este exame os animais são submeti- dos a uma anestesia geral (para prevenir movimentos voluntários), e de seguida posicionados de forma a que a antena esteja moldada estritamente à zona do organismo que vai ser estudada (Dennis, 1996). O íman do aparelho tem forma variável, com uma A aplicação da ressonância magnética no estudo anatómico do encéfalo de cães The use of magnetic resonance imaging in the study of canine brain anatomy Bruno Colaço 1* , David Ferreira 1 , M. Gonzalo-Ordén 2 , J.M. Villar Lacilla 3 1 Departamento de Zootecnia, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 5001- 911 Vila Real, Portugal 2 Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinária de León, Universidade de León, Espanha 3 Departamento de Anatomia e Embriologia da Faculdade de Medicina Veterinária de León, Universidade de León, Espanha * Correspondente: Telf. +351259350403; e-mail: [email protected]

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ARTIGO DE REVISÃO R E V I S T A P O R T U G U E S ADE

CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

Resumo: Este trabalho pretende ser uma breve revisão, sobre a utilidade da ressonância magnética na visualização de estruturas anatómicas. Na primeira parte do trabalho é feita uma aborda-gem descritiva do fenómeno de ressonância magnética nuclear, referindo-se os seus princípios básicos, protocolo de exame, bem como a constituição do aparelho. O conhecimento da anatomia planimétrica do encéfalo é uma ferramenta imprescindível para uma correcta análise de todas as imagens obtidas através de ressonância magnética. A utilização deste meio diagnóstico, associado aos sinais clínicos do animal, permite localizar com precisão a extensão das lesões.

Summary: This work pretends to be a brief revision about the utility of magnetic resonance imaging in the visualization of anatomic structures. On the first part of this work is made a descriptive approach to the phenomenon of magnetic nuclear resonance, referring to the basic principals, the examine proto-col, and the constitution of the magnet. The knowledge of the planimetric anatomy of the encephalon is an important tool, for a correct analysis of all images obtained by magnetic nuclear resonance. The utilization of this mean of diagnostic associated to the clinic signs of the patient makes easy the localization and delimitation of the lesions.

Introdução

Nos últimos anos, tem sido possível diagnosticar, através da tomografia axial computadorizada (TAC) e imagem por ressonância magnética (IRM), um número crescente de entidades clínicas com localização cere-bral de natureza orgânica e funcional, que podem afec-tar tanto a espécie humana como os animais domés-ticos. Os resultados obtidos por estes métodos subs-tituíram as imagens obtidas anteriormente, mediante explorações invasivas executadas por métodos de contraste radiográfico (Dennis, 1995).

Em medicina veterinária o uso da IRM continua limitado devido ao elevado custo dos aparelhos e das

instalações, e à pouca adaptação das antenas para os animais de companhia. Alguns veterinários têm ultra-passado parte destas dificuldades, através de contratos com centros de IRM de medicina humana (Hudson et al., 1995; Guereño, 2001). De todas as espécies de animais domésticos, a anatomia do sistema nervoso central do cão por IRM tem sido, de longe, a mais estudada embora existam alguns estudos realizados no cavalo e no gato (Arencibia et al., 1995; Hudson et al., 1995; Arencibia et al., 2001).

A IRM é uma técnica não invasiva, de diagnóstico por imagem que se baseia na interacção entre os núcleos de certos elementos, que possuem capacidade de rotação e o campo magnético exterior (Wortman, 1986; Brown et al., 1998). Para melhor compreen-são das indicações do uso da IRM apresentamos um quadro com as vantagens e desvantagens que este método de diagnóstico por imagem nos oferece (Quadro 1).

Técnica de ressonância magnética

Um grande número de aparelhos de IRM, com características diversificadas, estão disponíveis comer-cialmente. Nesta breve revisão iremo-nos debruçar essencialmente sobre os princípios básicos comuns. Para uma análise mais aprofundada consultar Dowsett et al., 1998.

O aparelho de IRM (Figura 1) deve estar localizado numa sala isolada, própria para o efeito, sendo todas as suas funções controladas a partir do exterior da sala através da consola do operador.

Para realizar este exame os animais são submeti-dos a uma anestesia geral (para prevenir movimentos voluntários), e de seguida posicionados de forma a que a antena esteja moldada estritamente à zona do organismo que vai ser estudada (Dennis, 1996).

O íman do aparelho tem forma variável, com uma

A aplicação da ressonância magnética no estudo anatómico do encéfalo de cães

The use of magnetic resonance imaging in the study of canine brain anatomy

Bruno Colaço 1*, David Ferreira 1, M. Gonzalo-Ordén 2, J.M. Villar Lacilla 3

1 Departamento de Zootecnia, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 5001- 911 Vila Real, Portugal2 Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinária de León, Universidade de León, Espanha

3 Departamento de Anatomia e Embriologia da Faculdade de Medicina Veterinária de León, Universidade de León, Espanha

* Correspondente: Telf. +351259350403; e-mail: [email protected]

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cavidade central onde normalmente se coloca o doente. Este íman produz um campo magnético potente (a sua potência mede-se em Teslas (T) ou Gauss, equivalendo 1 T a 104 Gauss) e uniforme que induz a magnetização dos tecidos (Dennis, 1995).

Os tecidos animais são constituídos na sua essên-cia por átomos, que se distribuem em duas camadas distintas: uma camada externa na qual deambulam os electrões (partículas com carga negativa) e uma mais interna denominada núcleo onde se encontram os protões (partículas com carga positiva) e neutrões (partículas sem carga). Sempre que o núcleo do átomo é formado por um número ímpar de protões e neutrões, apresenta um movimento de rotação sobre o próprio eixo. Este movimento devido à carga eléctrica dos pro-tões, cria um campo electromagnético com força finita e direcção variável, cujo vector representativo se deno-mina de momento magnético (Assheuer e Sager, 1997; Dowsett et al., 1998).

Os momentos magnéticos dos núcleos, têm direc-ções variáveis o que os leva, quando não sujeitos a um campo magnético, a anularem-se mutuamente, obtendo-se assim um momento magnético resultante

nulo (Brown et al.,1998). Esta é a situação magnética do animal quando o colocamos em cima da mesa do aparelho de IRM. Quando se inicia o estudo, o íman do aparelho vai orientar todos os momentos magnéti-cos do doente, na direcção do seu campo magnético (Dennis, 1995; Brown et al., 1998). É nesta altura que a partir da consola se escolhe os parâmetros que quere-mos ver representados no exame (tempo de repetição, tempo de eco, sequência de pulso, número de cortes, espessura de cortes, campo de visão, matriz de aquisi-ção), dando-se início à realização do exame.

A antena de radiofrequência vai emitir uma radiofre-quência (RF) específica (que por sua vez vai depender da sequência de pulso escolhida), que vai ser absorvida pelos protões do animal produzindo uma modificação na sua orientação em relação ao campo magnético principal. A este fenómeno físico denomina-se resso-nância (Dennis, 1995; Neir et al., 1997; Brown et al., 1998).

Devido ao facto de o campo magnético proveniente do íman ser potente, vai obrigar a que os momentos magnéticos dos protões voltem lentamente a ali-nharem-se com ele. A formação da imagem vai ser influenciada pelos tempos de relaxamento dos tecidos, ou seja a velocidade com que se realinham os momen-tos magnéticos com o campo magnético principal, depois de terem sido alterados por um impulso de RF. Os tempos de relaxamento podem ser de dois tipos: tempos de relaxamento transversais (T1) e tempos de relaxamento longitudinais (T2) (Brown et al., 1998; Nolte, 1999; Hornak, 2000).

Durante o período em que os protões não estão alinhados com o campo magnético principal, o seu pequeno campo magnético pode medir-se, dado que emite as suas próprias ondas rádio (Dennis, 1995). Estas ondas, que emergem do doente vão ser detecta-das pela antena de RF, sendo transmitida esta informa-ção à consola que através de métodos matemáticos a transforma em pixels e consequentemente em imagem,

Figura 1 - Aparelho de ressonância magnética de 0,2 Teslas. A- Antena B- Íman C- Mesa para o doente (Fotografia do aparelho de IRM da Faculdade de Medicina Veterinária de León )

Quadro 1 - Vantagens e desvantagens da IRM em relação a outros meios de diagnóstico por imagem.

Vantagens Desvantagens

• Não utiliza radiações ionizantes e actualmente não existem riscos comprovados para o doente ou pessoal profissional (Cau-zinelle, 1997; Schreiber et al., 2001).• O uso de meios de contraste paramagnéticos possui muito menos riscos que os iodados usados na TAC (Dennis, 1995; Cauzinelle, 1997).• Tem grande capacidade de obtenção de imagens em diversos planos, sem necessidade de reposicionamento do animal e sem perda de qualidade da imagem (Dennis, 1995; Cauzinelle, 1997).• Produz menos artefactos; tem potencial para as determinações de fluxos de forma directa e para visualizar os vasos sanguíneos, sem o recurso a meios de contraste (Tucker e Gavin, 1996).• Pode ponderar imagens isto é, mudar a tonalidade e intensificar contrastes, tendo maior sensibilidade que a TAC para detectar alterações das propriedades químicas dos tecidos moles (Tucker e Gavin, 1996; Jones, 2002). • Tem grande potencial para a detecção de zonas de hemorragia (Dennis, 1996).

• O tempo de análise é muito superior a outras técnicas, como por exemplo a TAC, e enquanto se realiza o exame o animal tem que permanecer absolutamente imóvel, o que torna necessária anestesia geral (o equipamento tem de ser constituído por ele-mentos sem propriedades magnéticas) (Dennis, 1995).• Está contra-indicado em doentes com marca-passos, corpos estranhos metálicos na órbita ou canal espinal, podendo causar um dano irreparável (Dennis, 1995; Tucker e Gavin, 1996).• Menos sensível que a TAC para tecidos moles calcificados, fracturas sem afastamento ou proliferação óssea (Tucker e Gavin, 1996; Jones, 2002).• É o método de imagem mais caro.

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que pode ser facilmente digitalizada e amplificada (Dennis, 1995; Neir et al., 1997).

As imagens resultantes são visualizadas no monitor do computador do operador e podem ser armazenadas (em disco rígido, fita magnética ou num disco óptico) ou impressas em películas adequadas (Dennis, 1995; Brown et al., 1998).

Quando na interpretação das IRM subsistirem algu-mas dúvidas acerca do diagnóstico deve-se recorrer a meios de contraste. Contudo é de salientar que os meios de contraste usados nesta técnica nunca são visualizados directamente, mas actuam afectando os tempos de relaxamento dos protões (Brown et al., 1998). Podemos dividir os meios de contraste dispo-níveis em dois grandes grupos: os que se administram por via endovenosa (gadolinio e manganês) e os admi-nistrados por via oral (perfluoro-octylbromide (PFOB)) (Dowsett et al., 1998).

Por vezes observa-se aparecimento de artefactos que podem ser gerados por situações intrínsecas ao doente (a gordura e o movimento, são elementos inimigos da obtenção de uma boa qualidade de imagem) ou por situações externas ao doente (sobreposição de estru-turas e interferências ferromagnéticas) (Dennis, 1995; Dowsett et al., 1998).

Anatomia encefálica por ressonância magnética

O estudo de imagens anatómicas fornece uma base essencial para a optimização do diagnóstico de anoma-lias do sistema nervoso. Na IRM as sequências pon-deradas em T1 fornecem melhor resolução espacial e detalhe anatómico, enquanto que as sequências ponde-radas em T2 permitem uma melhor diferenciação entre a substância branca e cinzenta (que se deve essencial-mente ao facto da substância branca ter um maior con-teúdo em lípidos, e a sua densidade de protões móveis ser cerca de 10% menor que na substância cinzenta) (Kraft et al., 1989; Cauzinelle, 1997; Jones, 2002).

O encéfalo desenvolve-se no pólo rostral do tubo neural, dividindo-se primariamente em três vesículas que se denominam de prosencéfalo (prosencepha-lon), mesencéfalo (mesencephalon) e rombencéfalo (rhombencephalon). Estas vesículas desenvolvem-se em 5 porções anatómicas principais: telencéfalo (telen-cephalon), diencéfalo (diencephalon), mesencéfalo (mesencephalon), metencéfalo (metencephalon) e mielencéfalo (myelencephalon) (Schaller, 1992; Beitz e Fletcher, 1993; Dyce et al., 1996).

Telencéfalo

O telencéfalo é o segmento mais desenvolvido do prosencéfalo, tendo como principais componentes o rinencéfalo (rhinencephalon), o neopálio (neopallium) e o corpo estriado (corpus striatum) (Schaller, 1992).

O rinencéfalo ocupa a porção ventromedial de cada

hemisfério cerebral, está relacionado principalmente com o olfacto, e é constituído por três porções: a parte basal do rinencéfalo (pars basalis rhinencephali), a parte septal do rinencéfalo (pars septalis rhinence-phali) e a parte límbica do rinencéfalo (pars limbica rhinencephali) (Schaller, 1992). Dentro da parte basal do rinencéfalo podemos observar por ressonância magnética, com detalhe assinalável, o bulbo olfactivo (bulbus olfactorius) (Figuras 6 e 8), o pedúnculo olfac-tivo (pedúnculos olfactorius) (Figura 2), o sulco rinal lateral (sulcus rhinalis lateralis) (Figuras 2, 3 e 4), o sulco rinal medial (sulcus rhinalis medialis) (Figura 2) e o lóbo piriforme (lobus piriformis) (Figura 3). Da parte septal do rinencéfalo, apenas podemos visualizar o septum do telencéfalo (septum telencephali) (Figura 6).

Figura 2 - Corte transversal da cabeça de um cão obtido por IRM ao nível dos pedúnculos olfactórios, potenciado em T1 (TR-920 mseg, TE-33 mseg.) 1.Sinus frontalis 2.Fissura longitudinalis cerebri 3.Gyrus pro-reus 4.Sulcus rhinalis lateralis/ pars rostralis 5.Pedunculus olfactorius 6.Sulcus rhinalis medialis 7.Gyrus precruciatus 8.Sulcus proreus

O hipocampo (hippocampus) (Figuras 4 e 5) é a estrutura predominante da parte limbica do rinencé-falo, tendo um papel importante no desenvolvimento e manutenção da memória a curto prazo. Foi conclu-ído, em estudos executados por IRM, que o volume médio do hipocampo era de 467,3 mm3 com um desvio padrão de 53,7 mm3 (Beitz e Fletcher, 1993; Vullo et al., 1996).

O neopálio é a porção mais recente do cérebro. É separado do paleopálio (paleopallium) pelo sulco rinal lateral e do archipálio (archipallium) pelo sulco esple-nial (sulcus splenialis). A sua estrutura é mais elabo-rada que as outras áreas corticais e bastante uniforme. É constituído por uma série de giros (Figuras 2, 3, 4 e 6) e sulcos (Figuras 2, 3, 4 e 6), que se visualizam bastante bem por IRM (Beitz e Fletcher, 1993; Dyce et al., 1996).

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O neopálio, constituído maioritariamente por neu-rónios, está estruturado em 6 estratos principais. Os neurónios são fundamentalmente de dois tipos: os gra-nulares que têm terminações nervosas bastante curtas e os piramidais cujas terminações nervosas possuem maior alcance. Estes últimos podem ser classificados consoante as suas ligações, em: fibras de associação que ligam regiões corticais dentro do mesmo hemisfé-rio; fibras comissurais que fazem conexão entre regi-ões dos dois hemisférios, maioritariamente através do corpo caloso (corpus callosum); fibras de projecção, que conectam as regiões corticais com as partes infe-riores do sistema nervoso central, sendo que muitas destas fibras convergem na cápsula interna (capsula interna) (Beitz e Fletcher, 1993; Dyce et al., 1996).

A maior comissura do encéfalo é o corpo caloso (Figuras 3, 4 e 6), que liga regiões distintas dos dois hemisférios permitindo que este funcione coerente-mente como um só centro cognitivo (Beitz e Fletcher, 1993). As fibras de projecção vão de e para o tronco do encéfalo, e emitem fibras para os núcleos basais, maio-ritariamente através da cápsula interna (Figuras 3, 4 e 8) (Beitz e Fletcher, 1993; Dyce et al., 1996).

O componente do corpo estriado que pode ser visua-lizado com maior clareza por IRM é o núcleo caudado (nucleus caudatus) (Figura 3). É bem observado nos cortes transversais, aparecendo delimitado medial-mente pelo ventrículo lateral (ventriculus lateralis) e lateralmente pela cápsula interna (Beitz e Fletcher, 1993; Dyce et al., 1996).

Diencéfalo

O diencéfalo compreende cinco partes principais: epitálamo (epithalamus), tálamo (thalamus), sub-tálamo (subthalamus), metatálamo (metathalamus) e hipotálamo (hypothalamus) (Schaller, 1992).

No epitálamo, em cortes sagitais por IRM, podemos observar a glândula pineal (glandula pinealis) (Figura 6), como uma estrutura pequena localizada dorsal-mente ao tronco do encéfalo. Esta glândula exerce um papel relevante no desenvolvimento sexual e no com-portamento, tendo especial importância na regulação sazonal do ovário relacionada com a duração do com-primento do dia (Dyce et al., 1996).

O tálamo é o maior componente do diencéfalo, possui um conjunto de núcleos, cada um com fun-ções muito específicas, formando colectivamente um dos mais importantes centros de integração do tronco do encéfalo (Dyce et al., 1996). Pode ser facilmente observado em cortes transversais (Figura 4), sagitais (Figura 6) e dorsais (Figura 8).

O metatálamo, compreende o corpo geniculado medial (corpus geniculatum mediale) e o corpo geni-culado lateral (corpus geniculatum laterale), que se visualizam bem nos cortes transversais (Beitz e Fle-tcher, 1993).

Dos componentes do hipotálamo, a hipófise (hypo-

physis) é um dos elementos mais estudados e visua-liza-se bastante bem em cortes transversais (Figura 3), os seus parâmetros de altura e largura média são 5,1 mm (+/- 0,9 mm) e 6,4 mm (+/- 1,1) respectivamente (Kippenes et al, 2001). Nos cortes sagitais (Figura 6) apresenta-se sempre alongada, com cerca de 8 a 9 mm de comprimento (Graham et al., 2000). Parece não existir correlação entre o tamanho do animal, o tama-nho do encéfalo e o tamanho da hipófise, embora exis-tam variações entre as raças consoante a conformação da cabeça e consequentemente do encéfalo (Hulliger, 1993; Kippenes et al., 2001).

Num estudo executado por Kippenes et al. em 2001, obtiveram-se imagens potenciadas em T1, nas quais foram observadas em 64 % dos cães normais, uma região hipertensa no centro da hipófise. A origem deste sinal é controversa e tem sido atribuída à acumulação de grânulos neurossecretores (vasopressina) na hipó-fise (Graham et al., 2000).

Mesencéfalo (Bulbo raquidiano)

O mesencéfalo tem uma estrutura curta e com-primida, sendo a porção do tronco do encéfalo que melhor conserva a organização básica do tubo neural (Dyce et al., 1996).

As porções do mesencéfalo que se observam bem por IRM são os colículos rostrais (colliculus rostralis), os colículos caudais (colliculos caudalis) e os pedún-culos cerebrais (pedunculus cerebri) (Figuras 5 e 6).

Os colículos rostrais (Figura 5), têm um papel rele-vante nas vias e reflexos somáticos visuais, e são cen-tros importantes de integração espacial. Os colículos

Figura 3 - Corte transversal da cabeça de um cão obtido por IRM ao nível da hipófise potenciado em T1 (TR-920 mseg, TE-33 mseg.) 1.Sulcus pseudosylvia 2.Sulcus ectosylvius rostralis 3.Sulcus suprasylvius medius 4.Vena corporis callosi 5.Ventriculos tertius 6.Capsula interna 7.Hypophysis 8.A. carotis interna 9.Lobus piriformis 10.Sulcus rhinalis lateralis 11.Sulcus marginalis 12.Sulcus ectomarginalis 13.Fissura longi-tudinalis cerebri 14.Corpus callosum 15.Nucleus caudatus

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O cerebelo é um orgão esférico. Consta de uma porção ímpar média denominada verme (vermis) e de dois hemisférios. A superfície externa apresenta numerosos sulcos e fissuras, entre as quais se destaca uma mais profunda - fissura prima (físsura prima). Os sulcos dividem o cerebelo em numerosos lóbulos. Observa-se bem o cerebelo nos cortes transversais, nos cortes sagitais e nos dorsais (Figuras 6 e 8) dis-tinguindo-se bem a verme dos hemisférios cerebelares (hemispherium cerebelli).

Mielencéfalo

O bulbo raquidiano (medulla oblongata) (Figura 6) é o principal constituinte do mielencéfalo, sendo facil-mente destinguido por IRM pelas as suas bandas de substância branca, denominadas pirâmides (pyramis), na região ventral média. Nesta estrutura anatómica originam-se seis nervos cranianos (VI, VII, VIII, IX, X, XI).

Figura 6 - Corte sagital da cabeça de um cão obtido por IRM ao nível da adesão intertalamica, potenciado em T1 (TR-920 mseg, TE-33 mseg.) 1.Corpus callosum 2.Adhesio interthalamica 3.Bulbus olfactorius 4.Sulcus cruciatus s. centralis 5.Tentorium cerebellum osseum 6.Cere-bellum 7. Medulla spinalis 8.Ventriculus quartius 9.Medulla oblongata 10.Pons 11.Pedunculus cerebri 12.Hypophisis 13.Chiasma opticum 14.Septum telencephali 15. Fornix 16. Glandula pinealis

O sistema ventricular

O sistema ventricular é constituído pelos ventrículos laterais (Figuras 4, 5, 7 e 8), terceiro ventrículo (ventri-culus tertius) (Figuras 3, 4 e 7), aqueduto mesencéfalo (aqueductus mesencephali) (Figura 5), quarto ventrí-culo (ventriculus quartius) (Figura 6) e canal central (canalis centralis). Este sistema é uma modificação local do lúmen do tubo neural, estando todas as suas estruturas enquadradas no telencéfalo, diencéfalo, mesencéfalo, metencéfalo e mielencéfalo.

Nas imagens em T1 o fluído cerebrospinal aparece

caudais (Figura 5), constituem os principais centros de integração das vias auditivas.

Metencéfalo

O metencéfalo é constituído ventralmente pela ponte (pons) e dorsalmente pelo cerebelo (cerebellum).

A ponte (Figuras 5 e 6) tem como característica prin-cipal as fibras transversas que formam a sua superfície ventral, podendo ser visualizada de forma distinta nos cortes sagitais por IRM (Beitz e Fletcher, 1993).

Figura 4 – Corte transversal da cabeça de um cão obtido por IRM ao nível do tálamo, potenciado em T1 (TR-920 mseg, TE-33 mseg) 1.Tha-lamus 2.Sulcus rhinalis lateralis/ pars caudalis 3.Fissura pseudosylvia 4.Sulcus ectosylvius rostralis 5.Sulcus suprasylvius medius 6.Sulcus mar-ginalis 7. Fissura longitudinalis cerebri 8. Sulcus splenialis 9. Corpus callosum 10.Ventriculus lateralis 11.Capsula interna 12.Ventriculus tertius 13.Hippocampus

Figura 5 – Corte transversal da cabeça de um cão obtido por IRM ao nível do aqueduto do mesencéfalo, potenciado em T1 (TR-920 mseg, TE-33 mseg) 1.Vena corporis callosi 2.V. cerebri magna 3. Hippocampus 4.Aqueductus mesencephali 5.Pons 6.Colliculus caudalis 7.Colliculus rostralis 8.Ventriculus lateralis 9.Cavum subaracnoideal

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escuro e com baixa intensidade de sinal, enquanto que nas imagens em T2 (Figura 7) surge com uma grande intensidade de sinal, assumindo uma tonalidade branca bastante intensa, que pode ser observada no interior das cavidades encefálicas (Kraft et al., 1989; Cauzi-nelle, 1997).

Têm sido executados, por ressonância magnética, estudos que permitiram o acompanhamento do desen-volvimento dos ventrículos laterais com a idade do animal. A primeira visualização do líquido cerebrospi-nal (liquor cerebrospinalis) no interior dos ventrículos laterais acontece por volta das 3 a 4 semanas de idade (Kii et al., 1998).

Figura 7 – Corte transversal da cabeça de um cão obtido por IRM ao nível do tálamo, potenciado em T2 (TR-4300 mseg, TE-245 mseg) 1.Cavum subarachnoideale 2.Ventriculus lateralis 3.Ventriculus tertius

Existe uma variação acentuada no tamanho dos ventrículos laterais entre várias raças, tendo sido rea-lizados estudos, em: Labradores Retriever, Beagles, Yorkshire Terrier e Pastor Alemão (Haan et al., 1994; Kii et al., 1997; Ratsch et al., 2001)

Dos estudos executados por Ratsch et al., em 2001, concluiu-se que os Pastores Alemães têm uma menor área dos ventrículos laterais relativamente aos Yorkshire Terrier. Pensa-se que estas observações têm por base as diferenças de conformações da cabeça e, consequentemente, de conformação do encéfalo. O volume dos ventrículos laterais de cães sem doença neurológica da raça Beagle foi quantificado por Kii et al., 1997, sendo detectados em alguns animais uma ventriculomegalia e assimetria dos ventrículos. Também com o envelhecimento dos animais, foi veri-ficado em alguns estudos um aumento não linear dos ventrículos laterais (Su et al., 1998).

Em 1997 Vite et al., quantificaram que o volume médio ventricular cerebral por IRM, em cães da raça Bulldog Inglês, é de 14,8 cm3 com um desvio padrão de 8,6 cm3. Alguns autores afirmam que as alterações

da forma e posição do sistema ventricular podem ser importantes no diagnóstico de lesões (Haan et al., 1994).

Meninges

As meninges, com as suas três membranas dura-mater (dura mater), aracnoide (arachnoideaI) e pia-mater (pia mater) dispostas concêntricamente, garantem a protecção química e mecânica ao sistema nervoso central (SNC) que, devido à sua estrutura semi-sólida e delicada, está frequentemente sujeito aos agentes externos (Schwarze, 1970; Dyce et al., 1996).

Nas imagens T2 (Figura 7), o líquido cerebrospinal pode ser observado no espaço subaracnóide, formando uma espécie de “balão de água”, que protege o encé-falo e a medula espinal (Kraft et al., 1989; Cauzinelle, 1997).

Conclusões

Para se poder retirar o melhor partido do aparelho de IRM no diagnóstico de entidades clínicas com locali-zação encefálica, tem que se ter um bom domínio da neuroanatomia para um melhor e mais rápido diagnós-tico e localização das lesões.

O elevado custo do equipamento tem sido um impe-dimento claro ao uso da IRM, em medicina veterinária. Este problema vai começando a ser ultrapassado com o desenvolvimento dos aparelhos e consequente redução dos preços.

As principais vantagens da IRM relativamente aos outros métodos de diagnóstico por imagem, são a não utilização de radiações ionizantes e o diagnóstico mais

Figura 8 - Corte dorsal da cabeça de um cão obtido por IRM ao nível da adesão intertalamica, potenciado em T1 (TR-920 mseg, TE-33 mseg.) 1.Thalamus 2.Bulbus olfactorius 3.Foramen interventricularis 4.Adhesio interthalamica 5.Hemispherium cerebelli 6.Vermis 7.Fissura transversa cerebri 8.Ventriculus lateralis 9.Capsula interna

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RPCV (2003) 98 (548) 159-165Colaço, B. et al.

precoce de alterações dos tecidos.A IRM apesar da complexidade de processos e exe-

cução, é um importante meio de diagnóstico para pato-logias encefálicas.

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NOTA HISTÓRICA R E V I S T A P O R T U G U E S ADE

CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

Sumário: Até ao começo do século XX as autoridades portugue-sas pouco se preocupavam com a pecuária em Moçambique, mas nas colónias vizinhas - Transvaal, Natal e Orange, Suazilandia, Rhodesias - existiam já uma pecuária e uns serviços veterinários com alguma expressão. As respectivas autoridades queixavam-se da ausência desses serviços, em Moçambique. Por isso, na sequência de um surto de Febre da Costa Oriental que dizimou um lote de 1000 bovinos provenientes da Austrália, desembar-cados no porto da Beira, em trânsito para Untali, as fronteiras com Moçambique foram encerradas a todo o trânsito de animais. Como sua consequência o Governador-geral, sentiu-se obrigado a criar uma Secção de Veterinária, em colaboração com as auto-ridades do Transvaal. Sob responsabilidade de médicos-veteriná-rios britânicos, em completa autonomia, e uma rede de auxiliares - os “policias da veterinária” - espalhados pelo território a sul do rio Save, iniciou-se luta tenaz contra a Febre da Costa Oriental, cujo agente etiológico fora entretanto identificado por Sir Arnold Theiler. Em sua homenagem os cientistas portugueses, Betten-court, França e Borges criaram o género Theileria n.g. 1909. Foram esses colegas britânicos que diagnosticaram a nagana no distrito de Lourenço Marques. Decorridos três anos os Serviços passaram para a direcção do Dr. João Botelho sofrendo então um desenvolvimento progressivo. A luta contra a Theileriose foi intensificada e a hemoparasitose controlada.

Summary: In the colony of Mozambique the Veterinary Serv-ices were created, in 1908, with the help of Transvaal veterinary authority, on the sequence of an outbreak of East Coast Fever occurred in the district of Beira, Mozambique. So far in the next two years the Services were run by British veterinary surgeons, with the help of a specially local trained net staff they traced a well succeeded way to fight against “East Coast Fever” and other tick born diseases. As an homage to Sir Arnold Theiler a new genus Theileria, n.g., was created by the Portuguese scientists Bettencourt, França and Borges, in 1909. In 1921, a Portuguese army veterinary surgeon João Baptista Botelho was appointed Chief of Veterinary Services. The fight against East Coast Fever continued and the disease was controlled.

Introdução

O número 83, de 15 de Janeiro de 1909, da Revista de Medicina Veterinária, a páginas 334, transcrevia do jornal “Novidades”, de 9 do mesmo mês, a notícia de que “Em Lourenço Marques, ao ocupar-se da criação de serviços pecuários naquele distrito, o conselho do governo declarara que os técnicos seriam estrangeiros, pois os veterinários portugueses não possuíam conhe-

cimentos científicos suficientes sobre as epizootias da África do Sul”. Logo depois, em artigo intitulado “Em defesa própria”, o tenente médico-veterinário José Emydio Ribeiro Corrêa Guedes (1908) classificava essa decisão “iniludivelmente clara e muito categó-rica” de “profundamente criminosa”, protestando contra o que considerava uma afronta a toda a classe médico-veterinária portuguesa.

Já anteriormente, em Novembro de 1908, o capitão veterinário Estanislau da Conceição e Almeida (1908), que, exactamente como Corrêa Guedes, também esti-vera destacado num dos esquadrões de dragões, aquar-telados em Lourenço Marques, se referira ao assunto, comentando, num artigo publicado nesta Revista, um editorial de “0 Século” de 20 de Outubro do mesmo ano.

Segundo os referidos colegas a existência de um corpo de médicos-veterinários civis no Ultramar, em especial na Colónia de Moçambique, era uma neces-sidade urgente, face ao que se passava nas colónias vizinhas e ao atraso em que se encontrava a produção animal na colónia portuguesa. Os veterinários milita-res que, no exercício das suas funções, acompanhavam as forças expedicionárias, que abriam caminhos à ocu-pação portuguesa, apercebiam-se dessa necessidade, que seria também uma questão de prestígio nacional, mas encontravam-se fortemente limitados pois as suas ocupações oficiais não lhes permitiam ausentarem-se da cidade, para contribuírem com a sua ajuda na reso-lução dos problemas pecuários (Pereira, 1958).

A situação da pecuária de Moçambique diferia, em absoluto de Angola (Mendes 2003; 2004), pois, tanto as explorações como o governo da colónia localiza-vam-se perto das fronteiras com as colónias inglesas e boeres da África do Sul, que se dedicavam desde há muitos anos à produção animal e nelas existiam serviços veterinários, ainda que incipientes. Porém, em Angola, as regiões pecuárias, distavam mais de um milhar de quilómetros da sede do governo e os camponeses tropicais seus proprietários opunham-se tenazmente à ocupação portuguesa. Além disso, no outro lado da fronteira, nada existia que pudesse servir de termo de comparação, pois todas essas vastas áreas eram habitadas pelos mesmos povos pastores que o

A Criação de Serviços Pecuários em Moçambique

The beginning of the Moçambique Veterinary Services

António Martins Mendes

Faculdade de Medicina Veterinária, Rua Professor Cid dos Santos, 1300-477 Lisboa

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traçado arbitrário de uma fronteira dividira e que eles, naturalmente, não reconheciam.

A epizootia de Peste Bovina que, nos últimos anos do século XIX dizimara os bovídeos domésticos e bravios das colónias da África Oriental e do Sul, aca-bando por atingir também Angola e S. Tomé, perante a passividade dos governantes portugueses responsáveis, obrigara as autoridades coloniais inglesas a contra-tarem especialistas de renome internacional (Koch, Bordet e Danysz) para estudarem o problema, e a investirem milhões de libras na construção e apetre-chamento de um grande laboratório, sob a direcção do médico-veterinário suíço Arnold Theiler, na localidade de Onderstepoort, junto a Pretória, como referimos em outro trabalho (Mendes, 1998). Isso tornava o contraste ainda mais evidente.

Como escrevemos a esse propósito, as autoridades coloniais portuguesas limitaram-se a entregar aos Ser-viços de Saúde de Angola e de Moçambique a condu-ção da luta contra essa panzootia, com consequências absolutamente desastrosas. Devido a uma total insen-sibilidade para o problema, toda a actividade oficial se limitou à publicação de algumas medidas de polícia sanitária, aplicadas sem qualquer critério e principal-mente sem a indispensável fiscalização e acompanha-mento no terreno. Isso fez com que, nos territórios, sob administração portuguesa, a doença só parasse quando os hospedeiros desapareceram, destruídos pelo vírus…

Aliás, por esse tempo, a África era ainda um misté-rio… terra de febres e de degredados… para onde se ia apenas por obrigação ou castigo. A evolução foi lenta e nem sempre fácil.

Lourenço Marques, a cidade-capital e sede do Governo fora transferida para o extremo sul de um território, com mais de dois mil quilómetros de com-primento, que se estendia ao longo da costa oriental do continente africano, mas onde existia uma grande baia e um bom porto marítimo com óptimas condições naturais e geográficas para servir as terras altas, férteis e ricas do interior. Contudo, era extremamente insalu-bre, pois fora implantada em região baixa e pantanosa, só lentamente drenada, para que os seus “miasmas deixassem de corromper os ares…” Depois a respec-tiva Câmara Municipal empenhou-se na luta contra o Anopheles responsável pela transmissão do paludismo e a verdade é que a povoação cresceu, transformando-se numa das mais bonitas cidades africanas. Mas isso é outra história.

Primeiras medidas para a defesa

da saúde animal

Moçambique, ao contrário de Angola, não fora fadado pelos deuses para albergar uma grande e prós-pera pecuária, o que não quer dizer que não possua algumas áreas em que essa indústria se possa desen-volver. Assim a região que ficava situada, grosso modo, a sul do rio Save, precisamente para onde fora

transferida a capital e a sede do governo, era uma delas e existiam mesmo algumas regiões nas quais, após a hecatombe provocada pela peste bovina, a pecuária se recompunha lentamente mostrando algum pro-gresso com base nos poucos animais sobreviventes ou importados das colónias vizinhas. No entanto, métodos de exploração inadequados e a existência de algumas doenças de difícil controlo, conduziam os capitais para outras aplicações mais lucrativas, com menores riscos e exigindo menores esforços, como as comerciais que sempre foram também as preferidas pelos portugueses.

Entretanto, pressionado pelos acontecimentos, em Dezembro de 1903 (S/A, 1904a), o Ministro dos Negó-cios da Marinha e Ultramar aprovara, e fizera publicar em Lisboa, um “regulamento de defesa sanitária contra a importação de doenças transmissíveis dos animais no distrito de Lourenço Marques,” onde faltava o gado destinado ao abastecimento do público e dos militares, em carne e em leite. Com base nesse “Regulamento” o Governador-geral interino, Major António Garcia Rosado fez publicar, em Fevereiro de 1904, a portaria nº 177 (S/A, 1904b), que permitia a importação de bovinos para abate no matadouro municipal, a partir do distrito de Lydemburg (Transvaal), mas com as res-trições seguintes: a) licença especial do governador do distrito passada com antecedência de dois dias sobre a data prevista para a chegada do gado a Ressano Garcia, (a cidade fronteiriça); b) importação limitada a lotes de 20 cabeças; c) apresentação de certificado do veteriná-rio oficial da localidade de procedência dos animais, no qual constasse que o gado não estava doente na data do embarque; d) desinfecção dos vagões de caminho de ferro que tivessem servido ao transporte dos animais, por conta do expedidor.

Depois, com base ainda no citado decreto, o mesmo Governador-geral, avisava em 26 de Março seguinte (S/A, 1904c), que estavam infectadas de piroplas-mose dos bovídeos (conhecida nas colónias vizinhas por “Rhodesian Redwater”ou “East Coast Fever”): a cidade de Lourenço Marques, toda a área da 1ª circuns-crição; diversas áreas da 3ª circunscrição ao longo da via férrea, até à fronteira e ainda de parte da Catembe, entre os rios Tembe e Maputo”.

Em 17 de Julho seguinte o mesmo Governador-geral comunicava, por aviso publicado no Boletim Oficial, que se espalhara pelo distrito a “Pyroplasmose dos bovídeos ou East Coast Fever”, “… mas permitia o trânsito das vacas” (sic) provenientes dessas regiões declaradas infeccionadas, desde que se destinassem a abate no matadouro de Lourenço Marques e fossem acompanhadas por guia passada pelo administrador da circunscrição respectiva sempre que o veterinário residente as julgasse em condições de serem abatidas. Mas, como não existia veterinário, tudo ficava entregue ao critério dos administradores das diversas circunscri-ções que, por lei, eram “veterinários-substitutos”… (a febre da poupança já existia, por esse tempo…).

Ainda no mesmo ano e sempre baseado no mesmo regulamento, em 24 de Novembro, o Governador-geral,

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pela portaria nº 840, avisava estarem infectados pela “Pyroplasmose dos bovídeos” (“East Coast Fever”) os distritos de: Pretoria, Middleburg, Waterburg, Bar-berton e Lydenburg, todos na colónia do “Transvaal”. Este mercado ficava assim vedado para a importação de bovinos, mas permanecia aberto o de Madagascar (havia uma evidente confusão entre as duas doenças mas isso não seria, exclusivamente, culpa do gover-nador). Esquecia-se a lição de um passado recente e sucedia, também que os repetidos avisos publicados no Boletim Oficial, passavam despercebidos ou não eram tomados em consideração pelos possuidores de animais.

Porém, apesar de tudo, algo estava a mudar. As autoridades sanitárias e municipais lourençomarquinas continuavam mais preocupadas com a drenagem dos pântanos, a luta contra os mosquitos, a regulamentação da recolha dos baldes com os despejos caseiros, pois não existia rede de esgotos e era obrigatório o uso de baldes de folha de ferro zincado com tampa e com não menos de 10 nem mais de 20 litros de capacidade. Surgiam também outros problemas de saúde pública, como o que se segue:

No ano de 1901, a 11 de Maio, a comissão municipal de Lourenço Marques, decidiu proceder à extinção dos ratos que infestavam a cidade fazendo publicar editais, segundo os quais, por cada rato apresentado ao por-teiro do “edifício-sede do município” seriam pagos 40 réis pelos ratos pequenos e 50 réis pelos grandes (S/A, 1901a). Desconhece-se o sucesso da medida. Sabe-se apenas que, a partir de 18 de Janeiro do ano seguinte o preço de cada rato vivo ou morto foi reduzido para 30 réis… Seria que alguém se teria lembrado de orga-nizar uma exploração “murina” para vender ratos à Câmara…? Ou ter-se-ia esgotado a verba?

Ainda em 1901, a referida comissão municipal anunciava estar aberto, por um período de seis meses, um concurso para provimento do partido veterinário concelhio (S/A, 1901b). Antecipava-se em sete anos à Câmara Municipal de Luanda, mas enquanto que nesta, foi possível a nomeação do primeiro veterinário muni-cipal de Angola, o concurso aberto em Lourenço Mar-ques ficou deserto e a função de inspector do gado aba-tido no matadouro municipal, para consumo humano, continuou a ser desempenhada pelos veterinários mili-tares, destacados nos esquadrões de cavalaria aquar-telados na cidade. No entanto o tenente-veterinário João Jorge Lobato Guerra (1907) queixava-se de que, como não podia abandonar as unidades militares onde prestava serviço, só observava as reses, destinadas ao consumo público, quando elas davam entrada no mata-douro, com todos os inconvenientes resultantes da falta do respectivo exame clínico nos locais de produção. Por esse tempo a clínica veterinária, era exercida em regime de acumulação pelos médicos embora, segundo parece, fossem relativamente frequentes os desacordos entre as duas profissões… como seria lógico esperar.

Na verdade, também nessa época os médicos escas-seavam em Moçambique e nem mesmo Lourenço Mar-

ques constituía uma excepção. Por esse tempo ainda os médicos e farmacêuticos das colónias, ou províncias ultramarinas, como então se dizia, eram, dominante-mente, militares e os hospitais atendiam, simultanea-mente, militares e civis… Mas, quando os médicos fal-tavam, em absoluto, usavam-se outros recursos. Assim, por exemplo, pela portaria nº 813 - A de 20/12/1903 (S/A, 1903), determinava-se que “... nas localidades do território de Manica e Sofala, onde não haja médico ou cirurgião, que sejam os óbitos verificados por um empregado da Companhia de Moçambique que passará o atestado” …

Recorde-se que essa Companhia era a primeira a maior e a mais poderosa, no conjunto das três às quais o governo português, pressionado por dificulda-des económicas e de comunicações decidira entregar grandes áreas do território moçambicano à adminis-tração privada, a partir do ano de 1888, atribuindo-lhes poderes considerados majestáticos, como os de: cobrar impostos, fornecer mão-de-obra, subarrendar as terras, emitir selos postais, zelar pela ordem pública, etc. Além dessa, que era a maior e a mais importante, foram ainda criadas outras duas: as Companhias do Niassa e da Zambézia. Mais tarde, aliás, foi a partir desta última, por cedência de muitas das terras que lhe tinham sido atribuídas, que veio a formar-se a “Com-panhia do Açúcar de Moçambique” mais conhecida por “Senna Sugar Estates”.

Diagnóstico da “East Coast Fever”

ou “Piroplasmose baciliforme”

Retomando o fio da meada diremos que, como seria de esperar e a experiência já havia demonstrado mas o governo “esquecera” (os políticos sempre tiveram fraca memória…), aconteceu o inevitável.

Em 1901, chegou ao porto da Beira, em trânsito para Untali, onde se destinava ao abastecimento público, um lote de 1000 bovinos proveniente da Austrália. Os ani-mais foram desembarcados e ficaram sendo apascenta-dos nos campos dos subúrbios da cidade, recuperando da viagem. Duas semanas mais tarde, começaram a morrer com uma doença própria dos bovinos que havia sido diagnosticada na costa oriental do continente afri-cano e por isso recebera o nome de “East Coast Fever” - Febre da Costa Oriental, que agora já se sabia ser uma forma de piroplasmose diferente da que existia nas colónias inglesas, designada por “Red water” e conhecida por “Febre do Texas” ou “Ferrujão”, em português. Acontecia que os animais provinham de uma região limpa dessa protozoonose e portanto des-tituídos de resistência adquirida naturalmente. Como consequência morreram, rapidamente, duzentas cabe-ças. Numa tentativa de evitar um total prejuízo os 800 sobreviventes foram carregados à pressa num comboio e enviados ao seu destino. Aqui, a mortalidade conti-nuou, sobrevivendo apenas três, os quais, mais tarde acabaram também por falecer.

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Feito o diagnóstico de Febre da Costa Oriental ou “Piroplasmose baciliforme” as autoridades veteriná-rias do Transvaal consideraram a existência de focos infecciosos em Moçambique, mandaram encerrar as fronteiras com a colónia e proibiram a importação de gado pelos territórios portugueses. Foram logo segui-das pelas do Natal que mandaram também fechar a fronteira com a região do Maputo, não permitindo a passagem de gado para a “Zululandia”. As autorida-des veterinárias inglesas haviam ignorado os avisos oportunamente publicados pelo Governador-geral de Moçambique e as providências agora tomadas surgiam muito tardiamente, quando a doença já se espalhara e estava provocando elevada mortalidade nos efectivos de bovinos, ainda mal refeitos das razias da Peste e da guerra. De facto, os primeiros focos de Febre da Costa Oriental no Transvaal, surgiram em Nelspruit e Koma-tipoort, (cidades fronteiriças) o que depunha a favor do foco ou focos infecciosos no distrito de Lourenço Mar-ques, mostrando que, nas Colónias vizinhas também as coisas não funcionariam tão bem, como se imaginava.

Recordemos, sumariamente, o que era a Febre da Costa Oriental ou “East Coast Fever”. Segundo o Pro-fessor Henning (1956) trata-se de uma protozoonose (Theileriose) dos bovinos extremamente virulenta e mortal, transmitida por ixodídeos, caracterizada por uma hiperplasia focal do tecido linfático. Ao contrá-rio do que sucede com outras piroplasmoses, não é facilmente transmissível por inoculação do sangue. Os animais curados adquirem uma verdadeira imunidade duradoura e não um simples estado de pré-munição como se observa geralmente nas piroplasmoses. Nas suas formas não complicadas não se observa igual-mente icterícia, nem anemia progressiva, nem hemo-globinuria.

Para o citado Professor a mais antiga referência a esta doença seria a do padre jesuíta português Mon-claro, que acompanhara Alvaro Barreto, em 1569, na sua expedição pelo rio Zambeze, à procura do reino do Monomotapa, o qual escreveu no seu relatório da viagem que os bois gordos, saudáveis, transferidos para a vila de Sena, a cerca de 80 km de distância morriam subitamente e a sua carne era dada aos sol-dados. O frade atribuiu a morte ao envenenamento das pastagens pelos pastores árabes pois estes, “postos em tormentos”, confessaram todas as suas culpas… evi-dentemente.

Foi Robert Koch o primeiro investigador a observar e descrever, em 1898 o respectivo agente etiológico nos glóbulos vermelhos de bovinos doentes, na colónia alemã do Tanganika (actual Tanzânia). Koch encon-trou nesses animais, não somente as formas típicas de Piroplasma bigemina mas também outros peque-nos “corpúsculos” (corpúsculos de Koch) em forma de bastonete, de anel ou de vírgula que considerou, como formas juvenis do mesmo parasita. Segundo este investigador a doença seria bem conhecida pelas populações locais e encontrava-se espalhada ao longo da costa oriental da África, havendo apenas algumas

pequenas áreas livres da parasitose. Dos seus trabalhos resultaram as designações de Febre da Costa Orien-tal ou “Piroplasmose Baciliforme”. Segundo Koch e Gray, referidos por Henning (1956), a doença teria sido introduzida na Rhodesia em 1901, por bovinos eventualmente infectados, originários dos planaltos do Tanganica, durante o período de permanência em Dar-es-Salam, até serem embarcados com destino à Beira e Lourenço Marques. As carcaças dos animais que morreram durante a viagem foram lançadas ao mar, mas os sobreviventes desembarcaram naquelas duas cidades costeiras. Teriam sido estes os introdutores da doença em Moçambique. Na Rodésia, no Transvaal e em outras colónias parece que as duas piroplasmoses estariam confundidas até que Theiler as identificou como entidades mórbidas diferentes.

O tenente veterinário João Jorge Lobato Guerra dá-nos uma boa descrição da doença, embora afirme, que ela era desconhecida em África até à chegada do carregamento de bovinos australianos à Beira (Guerra, 1907), certamente por desconhecimento dos trabalhos de Koch e de Theiler. Na Austrália a doença era desco-nhecida.

Coube de facto a Arnold Theiler aprofundar o estudo da doença e do seu agente etiológico, no Laboratório de Investigação Veterinária, de Onderstepoort, a partir de 1903, demostrando a sua identidade e chamando-lhe Piroplasma parvum ou Piroplasma mutans (n. sp. of South African Cattle) de acordo com a nota publi-cada em 1906 no “Journal of Comparative Pathology and Therapeutics” (Theiler, 1906).

Curiosamente, em 1906, três especialistas portu-gueses, Anibal Bettencourt, Carlos França e Ildefonso Borges, tinham descrito “Um caso de Piroplasmose Baciliforme” no cadáver de um gamo, proveniente da Tapada Real de Mafra que lhes fora enviado, para estudo, pela Rainha D. Amélia. Esse caso era por eles considerado muito curioso por ser a primeira vez que se registava a piroplasmose baciliforme (como então também se dizia) fora do continente africano. Conhe-cedores dos trabalhos de A. Theiler acima referidos, propuseram a criação de um novo género que se cha-maria Theileria em homenagem ao cientista sul-afri-cano. De acordo com essa proposta o microrganismo por eles isolado chamar-se-ia Theileria cervus n.sp. e o Piroplasma parvum, Theiler, 1903, passaria a designar-se Theileria parva (Bettencourt et al., 1906; 1907a,b; Bettencourt e Borges 1909). A proposta dos cientistas portugueses em homenagem a Arnold Theiler veio a ser aprovada e permanece actual, como se sabe.

Recordemos pois, muito brevemente, quem foram esses portugueses e principiemos pelo último, por ser o único veterinário do grupo.

Ildefonso Borges, nascido na ilha Terceira (Açores) diplomara-se pelo Instituto de Agronomia e Veteri-nária nele desempenhando diversas funções oficiais. Mais tarde veio a ser nomeado professor catedrático das cadeiras de Parasitologia e Patologia Exótica, por convite do Conselho Escolar da Escola Superior de

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Medicina Veterinária, sem quaisquer outras formali-dades, lugar que exerceu até 14 de Outubro de 1936, quando foi atingido pelo limite de idade. Em 1906 foi nomeado, mediante concurso de provas públicas, assistente do Real Instituto Bacteriológico Câmara Pestana. Antes disso, entre outros cargos, tinha sido ainda inspector sanitário da Câmara Municipal de Lisboa, trabalhara no gabinete do Ministro dos Negó-cios da Marinha e do Ultramar e fora intendente de pecuária do distrito de Angra do Heroísmo. Ildefonso Borges foi um protozoologista de renome que classifi-cou os primeiros tripanosomas dos animais, recolhidos em Angola e fez parte da equipa que, sob a chefia de Carlos França estudou a Bilharziose, no distrito de Faro. Como Professor de Patologia Exótica na Escola S. de Medicina Veterinária, transmitia aos seus alunos que iriam trabalhar em África uma formação profissio-nal que muito os ajudaria.

Anibal Bettencourt era médico assistente no Instituto Bacteriológico, fundado e dirigido pelo Dr. Câmara Pestana. Os dois cientistas tinham-se infectado com peste bubónica, quando estudavam a doença, que surgira na cidade do Porto, em 1899, mas, mais afor-tunado, Bettencourt sobreviveu à infecção. Sucedeu então ao seu companheiro na Direcção do Instituto, que dele veio a receber o nome. Bettencourt reorga-nizou-o e transformou-o no 1º grande centro portu-guês de medicina experimental. Anibal Bettencourt, que quase vira nascer a Bacteriologia, foi o chefe da Missão Médica que em 1901 estudou a doença do sono em Angola.

Carlos França, também médico, foi subdirector do referido Instituto e distinguiu-se como microbiolo-gista, protozoologista e naturalista. Estudou a difteria, a raiva, a lepra, a bilharziose, as tripanosomoses e as piroplasmoses. Como naturalista foi director do Museu Barbosa du Bocage estudando a cabra do Gerez e o coelho do Porto Santo. Em 1924 o Conselho Escolar da Faculdade de Medicina de Lisboa propôs que lhe fosse conferido o título de “Professor Livre de Parasitologia por distinção e com dispensa de quaisquer exames. Em sua honra foi criado o género Françaiella n.g., para os parasitas com menos de 2,5 µm, localizados no centro da hemácia e insensíveis ao azul tripano.

Criação de Serviços Veterinários

em Moçambique

Mas regressemos a Moçambique e à fundação dos seus Serviços Veterinários. Aconteceu que, em 26 de Outubro de 1906 foi nomeado Governador-geral o então tenente-coronel Alfredo Augusto Freire de Andrade, oficial de engenharia e engenheiro de minas, formado pela Escola de Paris. Profundo conhecedor da realidade moçambicana, a ele se ficaram devendo as bases para a carta geológica da Colónia e fizera parte da comissão de demarcação da fronteira. A sua tese para o concurso de lente substituto da 7ª cadeira da

Escola Politécnica de Lisboa intitulara-se: “Reconhe-cimento geológico dos territórios compreendidos entre Lourenço Marques e o rio Zambeze”. Fora governador do distrito de Lourenço Marques; chefe de Gabinete do Comissário Régio António Enes e combatera na campanha contra o Gungunhana. Mas, principalmente, sabia como lidar com as autoridades centrais, que tudo ou quase tudo emperravam por ignorância e/ou desin-teresse!

O capitão-veterinário Estanislau Conceição e Almeida (1909), embora fortemente crítico, pelo modo como ele criara os Serviços Veterinários, entregando-os a colegas ingleses, admitia, que Freire de Andrade era uma das “…raras autoridades coloniais portugue-sas que reconhece e encontra as verdadeiras causas e os sintomas da decadência económica colonial e procura remedia-la a seu modo.” Quer dizer: evitava pedir ajudas à Metrópole; resolvia os problemas e as necessidades da Colónia, com os recursos locais de que dispunha e usando de todos os poderes que a Lei lhe conferia.

O tenente-coronel Freire de Andrade, Governador-geral de Moçambique na introdução à portaria 113 (S/A 1908a), escrevia: “… o equilíbrio económico da província depende da exploração do seu solo…” mas o declínio da agricultura “… chegou a tal ponto que até as forragens se mandam vir de fora por não se produzirem na Província…”. Essa portaria era portanto necessária para que se tomassem medidas adequadas “…que promovessem o desenvolvimento agrícola e o repovoamento das regiões adaptáveis à criação de gados, dizimados por diversas epizootias que não houve o cuidado de combater ou não se soubera evitar. Desapareceram os enormes rebanhos que ainda há doze anos cobriam as vastas planícies do Sul do Save”. Sendo indispensável, tanto para a erradicação das actu-ais epizootias, como para o repovoamento por animais domésticos dos territórios ao sul do Save e aperfeiço-amento das raças indígenas de toda a província, que previamente se organizem os Serviços de Veterinária e se tomem providências que os tornem eficazes; tendo por mais de uma vez os governos das colónias vizinhas feito sentir a imperiosa necessidade de cooperação das autoridades desta província na execução do plano de erradicação das epizootias que grassam na África do Sul, em acordo com as deliberações tomadas por diversas conferências intercoloniais de veterinária” (nas quais Moçambique estivera representado por médicos…) “…realizadas nos últimos anos, plano esse que está hoje adoptado em todo o território inglês ao sul do Zambeze ; hei por conveniente declarar provi-soriamente em execução o regulamento de sanidade pecuária que segue…”

Assim, nasciam, como consequência do diagnóstico da Febre da Costa Oriental ou “East Coast Fever”, os primeiros serviços veterinários da província de Moçambique, (ou pelo menos o seu Regulamento…) criando-se, na Secretaria Geral, pela portaria nº 113 de 05 de Março de 1908 (S/A, 1908a), uma “Secção

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de Serviços de Veterinária”, com o seguinte pessoal: 1 veterinário, chefe da secção; 1 veterinário, adjunto; 1 entomologista; 1 amanuense; 3 polícias europeus; 6 policias auxiliares indígenas; 2 tratadores de animais, europeus; 6 auxiliares indígenas.

Desconhece-se quem teria sido o autor ou autores do citado regulamento, (provavelmente algum ou alguns dos médicos-veterinários militares destacados em Moçambique) mas ele é, sem dúvida, um documento notável para a época em que foi escrito, tomando em consideração a realidade moçambicana, parca em recursos materiais e humanos. Não se podia contar com o apoio proporcionado por um laboratório, pois não se dispunha nem sequer de um simples microscó-pio, para que se procedesse ao necessário levantamento da patologia animal moçambicana. Por isso considera-vam-se as medidas de polícia sanitária como o ponto fulcral de toda a política de defesa da saúde animal no território, as quais eram de execução urgente, face ao comportamento das vizinhas autoridades do Transvaal. Aliás para os casos, de mais difícil diagnóstico, poder-se-ia recorrer, pela sua proximidade, aos laboratórios de Onderstepoort, como viria a suceder, frequente-mente e mesmo até aos nossos dias.

Freire de Andrade conhecia as dificuldades existen-tes, devia saber que a principal enzootia dos bovinos em Moçambique, era a Febre da Costa Oriental pois estaria apoiado pelas autoridades veterinárias do Trans-vaal mas, acima de tudo, também entendia, certamente, que a situação não poderia permanecer tal qual estava por muito mais tempo. Para fazer cumprir a lei foi por ele criada a figura do chamado “polícia da pecuária”, que sobreviveu até aos nossos dias, pois somente alguns anos antes da independência foi substituído pelo “ajudante de pecuária” ou “Auxiliar Técnico de Pecuária”, mais conhecido por “A.T.P.”

Talvez prevendo dificuldades, esse regulamento especificava no capítulo das Disposições Transitórias, Art. 62º “Durante o período de três anos a contar desta data e para o desempenho dos cargos criados pelo presente regulamento poderá o Governador-geral contratar os serviços de veterinários estrangeiros com experiência no diagnóstico, tratamento e prophylaxia das epizootias que têm invadido a África do Sul”… partindo do principio lógico de que “essas mesmas epizootias também existiriam em Moçambique…”. § único “poderá também o Governador-geral se assim for preciso, contratar os serviços de um entomologista estrangeiro com o curso de entomologia”.

Sabia-se já que a “East Coast Fever” era uma doença transmitida por carraças. Além disso as pragas de gafanhotos vermelhos atacavam periodicamente, des-truindo as plantas e conheciam-se mesmo alguns locais de nidificação dessa praga, em Moçambique. Por isso a previsão da necessidade do entomologista. Ocorre-nos mesmo admitir que existiria mesmo em tudo isto, a ajuda directa mas certamente discreta de Pretória, parte interessada no controlo das doenças animais existentes nos territórios da sua vizinha Colónia de Moçambique.

1º Período - veterinários ingleses

Pode parecer-nos insólito que se entregasse, em Moçambique, ainda considerado território português, aos veterinários estrangeiros, o reconhecimento da patologia e a defesa da saúde animal moçambicana. Mas o Governador, conhecedor do que sucedia no Transvaal, mantendo certamente excelentes relações com as autoridades das colónias vizinhas, decidiu não arriscar e tomou a resolução que lhe parecia mais apro-priada, ampliando-a mesmo, para os fins que se propu-nha, à Entomologia.

Para o efeito que pretendia foi criada, logo depois da publicação da citada portaria 113, por uma outra portaria com o número 148, de 22 do mesmo mês, na Secretaria-geral uma “Repartição de Agricultura… que terá o seguinte pessoal: um chefe da repartição, um subchefe e um amanuense”.

Segundo o artigo 7º desta última portaria a “secção de veterinária ficará fazendo parte da repartição de agricultura e o seu pessoal obrigado a prestar os ser-viços que lhe forem reclamados pelo chefe da mesma repartição”.

O Governador sabia que teria que andar depressa se quisesse resolver os problemas da colónia com os recursos provinciais de que dispunha. Por isso, usando dos poderes que a lei lhe conferia tinha que ir procurar pessoal especializado onde sabia que existia, sem ficar dependente da pesada burocracia do Terreiro do Paço, pois assim procedera já em outra situação.

Em 13 de Maio de 1908, pela portaria 269, reco-nhecera a necessidade de dotar a cidade com um especialista de clínica dentária para prevenir o facto de às vezes não haver localmente um cirurgião dentista. Então, com voto favorável do Conselho do Governo, não hesitara em determinar que, em Moçambique, era permitido o exercício da clínica dentária a todo o indi-víduo habilitado com um diploma de qualquer escola estrangeira que provasse ter já exercido a sua profissão em alguma das principais localidades da África do Sul.

Também devia estar consciente que, independen-temente das dificuldades burocráticas, dificilmente poderia contar com médicos-veterinários portugueses, pois em Portugal, esses técnicos também escasseavam e o concurso aberto, alguns anos antes, pela Câmara Municipal de Lourenço Marques ficara deserto.

Assim, contratou, por um período de dois anos, em 21 de Maio de 1908: para chefe da Repartição de Agri-cultura, um médico-veterinário inglês, O. W. Barrett; como chefe da Secção Veterinária o médico-veterinário Paul Conacher, e como entomologista C. W. Howard. Todos eles estavam ao serviço do governo do Trans-vaal que os dispensou por um ou dois anos “…porque sendo a fronteira aberta, muitas vezes, gado doente da nossa colónia penetrava no Transvaal pondo em risco as suas manadas”. Ainda em 13 de Agosto do mesmo ano contratou o veterinário bacteriologista Edem Henry Heron.

Durante este período colaboraram também com o

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governo de Moçambique os Srs. F.T. Nicholson, Presi-dente da Sociedade Agrícola de Pretória, e o Secretário da União Agrícola Internacional da África do Sul T. R. Sim, silvicultor do governo da Colónia do Natal.

Uma das primeiras tarefas atribuídas ao chefe da Repartição de Agricultura (convém recordar que nas Colónias inglesas a designação “Agriculture Services” se aplicava especificamente aos Serviços de Veteriná-ria) foi a escolha de um local para a “Estação Expe-rimental de Agricultura de Lourenço Marques”, que a portaria nº 142 criara. Nela funcionaria também uma estação zootécnica à qual “pertence estudar as condi-ções de aclimação, aperfeiçoamento e exploração das várias raças de animais domésticos” (conforme refe-rido no artº 19º do Regulamento de Sanidade Pecuária, aprovado pela portaria Nº 113).

Howard refere, em 9 de Maio, que estudou dois locais: a região do rio Umbeluzi e a do rio Incomati, tendo optado pelo primeiro, por vários motivos, que especifica e também porque: “Pode-se ir de Lourenço Marques à propriedade do Umbeluzi em cerca de duas horas, enquanto que são precisas quase quatro horas, pelo rio, para se alcançar Marracuene”. “Portanto aconselho a que, por agora, os terrenos de Marracuene sejam destinados a algumas experiências e que se faça no Umbeluzi a principal estação experimental pelas razões acima expostas”. O Governador não perdeu tempo e, pouco depois, em 23 do mês de Maio de 1908, determinava que “… sejam instalados, no Vale do Umbeluzi, nos terrenos pertencentes ao Estado, contíguos à propriedade de Eduardo Saldanha… a estação agrícola experimental e a estação zootécnica criadas pela organização dos serviços de agricultura e regulamento de sanidade pecuária” (S/A, 1908b).

O comentador que citamos no início desta nota, capitão-veterinário Estanislau da Conceição e Almeida (1909), concorda com a falta de vigilância nas frontei-ras, mas afirma que os nossos vizinhos numa maneira muito própria de ver as coisas “… dizem sem provas que as epizootias que tem havido nos seus gados provêm sempre de Moçambique, sem se lembrarem que alguém pode, como eu, verificar que elles deixam sahir do seu território, animais portadores de doenças as mais graves, com destino a Lourenço Marques…” e conclui: “… pagamos cem libras de ouro a um indiví-duo que se ocupa mais dos interesses do Transvaal do que dos nossos e como ele não conhece a língua por-tuguesa colocamos-lhe ao lado um intérprete que não ganha mais de cem mil réis por mês”. Depois atribui as origens da decisão a alguns elementos do Conselho do Governo que teriam manipulado o Governador-geral.

Sinceramente não creio que o futuro General Freire de Andrade fosse uma personalidade manipulável. Além disso foi ele próprio quem fez publicar legisla-ção que lhe permitia tomar a decisão questionada, mas Conceição e Almeida (acima referido) teria que respei-tar as leis da hierarquia castrense.

Em minha opinião a ideia de entregar os recém cria-dos Serviços Veterinários a profissionais com conheci-

mentos da patologia animal existente nas colónias vizi-nhas partiu certamente do próprio Governador-geral, ouvindo, como lhe competia, o Conselho do Governo, mas não foi imposta por qualquer dos membros desse Conselho, embora entre eles reinasse, provavelmente, uma forte simpatia pelo que se passava, do outro lado das nossas fronteiras. Simplesmente não haveria tempo a perder perante as exigências das vizinhas autoridades.

Acontecia, de facto que, pelo menos desde meados do século XIX estavam destacados em Moçambique veterinários militares que acompanhavam as tropas encarregadas da ocupação do território. Precisamente na data a que se referem estas notas encontravam-se em Lourenço Marques três médicos-veterinários que prestavam serviço nos 1º e 2º Esquadrões de Cavala-ria e no Corpo de Polícia Montada. Acontecia porém que, não dispunham de tempo para outras tarefas, que implicassem deslocações, mais ou menos demoradas, pelo distrito e ainda menos pela colónia, embora não se alheassem do que se passava à sua volta. Foram alguns desses colegas que nos deram a conhecer, em artigos publicados na Revista de Medicina Veterinária ou no Boletim de Agricultura de Moçambique, algumas doenças animais próprias dos trópicos tais como: Peste Bovina, Peste Equina, Theileriose, Peripneumonia Contagiosa, Pericardite Exsudativa, Tripanosomoses, Febre dos Tres Dias, Febre da Costa Oriental.

Parece-nos que não erramos quando afirmamos que, no tempo em cuja descrição nos empenhamos o que sucedia, na realidade, era que não existiria a necessária sensibilidade para os problemas pecuários e agrícolas. De facto, nos dois Estados Ibéricos, essas ocupações sempre haviam constituído profissões menores. Pri-vilegiava-se apenas a cultura da vinha e a produção de vinho. Quanto à pecuária não há uma raça Ibérica de bovinos que tenha alcançado um valor económico reconhecido. Os fidalgos, que eram os grandes pro-prietários das terras, preocupavam-se tradicionalmente com o manejo das armas e com as guerras de pilha-gem, das quais retiravam grossos proventos.

Os bovinos ibéricos, descendentes dos Bos taurus que penetraram na Península, vindos do Sul, são, regra geral, animais de grandes cornaduras e esqueletos bem desenvolvidos, de crescimento lento e com pouco ren-dimento em carne e em leite. A única raça melhorada de bovinos que se conseguiu, foi a “brava”. Nela se seleccionaram as suas características bravias e de coragem tornando-a mais apta para a tourada ou “festa brava” (Bernardo Lima). Foi só muito recentemente que algo se tem procurado alterar como se sabe.

Contratados os referidos técnicos, com a colaboração do governo do Transvaal, que os dispensou em Maio de 1908, escolhido o terreno para a 1º Estação Agrícola Experimental e o Posto Zootécnico, no Umbeluzi, apa-recem publicadas, no Boletim Oficial de Moçambique, em 22 de Julho, umas… instruções que devem obser-var os administradores de concelho, administradores de circunscrição e as autoridades militares, nos casos de doenças que afectem os animais existentes nas áreas

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das respectivas jurisdições, assinadas pelo médico-veterinário P. Conacher, visadas pelo chefe da Repar-tição de Agricultura O. Barrett e confirmadas pelo Secretário-geral bacharel António de Sousa Ribeiro. Foi a primeira de uma longa série de publicações em que se procurava a cooperação entre os criadores e a autoridade sanitária através de avisos, anúncios e esclarecimentos na imprensa oficial. Assim, em 8 de Julho, surgia um aviso assinado por P. Conacher, infor-mando que, nos termos do disposto pelo artigo 26º do Regulamento de Sanidade Pecuária (S/A, 1908a) “…estão infectados de “East Coast Fever” os terrenos da circunscrição do Sabié, ficando desde já proibido todo o movimento de gado bovino, peles, chifres e cascos, bem como capim e demais forragens dentro da área daquela circunscrição, sendo igualmente proibida a entrada ou a saída do mesmo gado e dos produtos de origem animal de ou para a citada região sem licença por escrito da Secção Veterinária. A proibição das des-locações dos animais doentes e/ou suspeitos era acom-panhada pela colocação de uma vedação com arame farpado das respectivas áreas de pastoreio. Os animais eram marcados, identificados os respectivos currais e registados os seus donos.

A partir desta data sucederam-se outros avisos relati-vos às circunscrições administrativas do: Bilene, Sabié, Chai-Chai, cidade de Lourenço Marques, Marracuene, Maputo, Manica, Sofala, Homoíne, Panda, Chibuto, Maxixe, etc., sempre nos termos do artigo 26º do Regulamento. Estipulava esse artigo que: “ No Boletim Oficial da Província serão publicados mensalmente avisos assignados pelo chefe da Secção de Veterinária, indicando as regiões de onde é absolutamente prohi-bida a importação de animais domésticos, as zonas infectadas por alguma epizootia, a sua natureza, os animais a ella sujeitos e os meios mais úteis para a pre-venir e combater”.

Em 5 de Janeiro foi noticiada, pela primeira vez, a existência da tripanosomose na circunscrição do Maputo e declaradas as respectivas áreas de quaren-tena. Àquela área seguiu-se a do Chai-Chai e muitas outras.

Do mesmo modo são noticiados os distritos e os países atacados por doenças infecciosas ou parasitárias tais como: Madagascar, Estados Unidos da América, colónias do Natal, Transvaal, Cabo, Estado de Orange Angola, etc. e eram referidas: Tuberculose, Raiva, Car-búnculo, Peripneumonia, Piroplasmose, Theileriose, Tripanosomose, etc., proibindo que deles se impor-tassem animais e/ou produtos de origem animal (S/A, 1909a, b, c).

Os colegas estrangeiros que prestavam serviço em Moçambique devem ter sentido grandes dificuldades. Em primeiro lugar a língua, depois a falta de um apoio laboratorial a que já deviam estar habituados. À partida tinham apenas o auxílio do pessoal ao qual dariam, alguma formação profissional elementar. Procuraram obter também a colaboração das autoridades adminis-trativas e militares dispersas pelo território. A força das

circunstâncias obrigava-os a que trabalhassem princi-palmente o distrito de Lourenço Marques. Certamente que, face às dificuldades com que depararam decidiram que as medidas de profilaxia sanitária deveriam domi-nar todas as suas atenções. A principal doença dos bovinos em Moçambique seria a “East Coast Fever,” exactamente como sucedia nos seus territórios, e essa poderia ser facilmente confirmada, recolhendo esfrega-ços de sangue que enviariam para Onderstepoort. Por isso, logo em 25 de Julho de 1908 o chefe da Secção de Veterinária fazia publicar um apelo aos administra-dores de concelho, administradores de circunscrição e autoridades militares (S/A, 1908c), recordando-lhes a obrigatoriedade do arrolamento dos animais, a identifi-cação dos currais e dos seus proprietários nas áreas das suas jurisdições. Deviam também participar, o mais rapidamente possível, quaisquer sinais de doença e todas as mortes ocorridas, os nomes e as moradas dos respectivos proprietários. Davam seguidamente instru-ções sobre as informações que deviam ser recolhidas para informação da Secção de Veterinária e recorda-vam a obrigatoriedade dos animais ficarem de quaren-tena enquanto os serviços procediam ao diagnóstico; solicitavam a colheita de amostras e de esfregaços de sangue, que podiam ser feitos embebendo no sangue do cadáver uma folha de papel de mortalha para cigar-ros e passando-a ao de leve por uma lâmina de vidro ou pedaço de vidraça bem limpos. No animal doente deviam picar uma das veias da orelha com uma agulha ou o bico de uma tesoura bem limpo. Explicava-se também como fazer um esfregaço de sangue. Essas instruções terminavam pela indicação dos cuidados a ter com o envio do material recolhido… Pessoalmente devo confessar que se não soubesse como fazer um esfregaço teria ficado tão ignorante como estava antes de ler essas instruções… mas enfim, as circunstâncias impunham as possíveis soluções. Os questionários a preencher estavam correctos, mas talvez fossem dema-siado complexos para quem não tivesse um mínimo de conhecimentos de anatomia, como seria vulgar entre os criadores.

Além disso, devia existir uma vigilância perma-nente das autoridades administrativas e militares e das correctas actuações do corpo de polícias de que dispunham, com sanções para os prevaricadores. Mas os próprios veterinários deslocavam-se, um pouco por todo o distrito, observando o que se passava e provi-denciando o que melhor lhes parecesse para debelar ou controlar os surtos de doença com que deparavam. Nos Boletins Oficiais de Moçambique encontram-se publi-cadas as descrições das suas viagens.

Apesar de tudo, em 1909 construíram-se os primei-ros tanques banheiros e iniciaram-se os banhos carra-cicidas com anidrido arsenioso. Em 25 de Dezembro o chefe da Secção de Entomologia, C. W. Howard, publicava instruções para combater o envenenamento pelo arsénico. Outras indicações surgiram até ao termo do seu contrato em 21 de Maio de 1911.

P. Conacher ainda renovou o seu contrato por mais

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um ano. Quanto a Barrett regressou ao Natal, sendo substituído por um agrónomo português, contratado como subchefe da Repartição de Agricultura.

O “Moçambique Department of Agriculture - Bulletin nº1” e suas consequências

Em 1909 surgiu-nos a primeira publicação moçam-bicana exclusivamente dedicada à pecuária e à agricul-tura em Moçambique. Nela se contêm os relatórios do pessoal da Repartição respectiva, escritos em língua inglesa e publicados pela Imprensa Nacional, de Lou-renço Marques. Intitulava-se, muito simplesmente, “Bulletin nº 1 - Department of Agriculture, Lourenço Marques, Moçambique”. Numa época em que toda ou quase toda a actuação dos serviços recém-criados se fazia dominantemente por avisos publicados em portu-guês, no Boletim Oficial do Governo Geral da Provín-cia de Moçambique essa publicação deve ter causado muitos e justificados protestos pois não era de acesso fácil à maioria da população interessada, mas pouco letrada, mesmo em português. Contudo, foi necessário mais de um ano para que surgisse, em Junho de 1910 o número 2 do “Boletim da Repartição de Agricultura”. Esta publicação fazia a correcção que se impunha, afirmando que “os cinco relatórios que se seguem, são a prometida reedição do original inglês publicado pelo “Moçambique Department of Agriculture”.

Trata-se de uma pequena brochura, com pouco mais de 100 páginas, com boa apresentação gráfica, algumas fotografias, composta e editada pela Imprensa Nacio-nal, em Lourenço Marques. Abre com a publicação de diversas portarias assinadas pelo Governador-geral Freire de Andrade, que citamos.

A primeira alterava o Art.º 50 do Regulamento de Sanidade Pecuária, tornando extensivas ao pessoal europeu da Secção de Veterinária, bem como ao dos corpos de policia civil a competência para participar as infracções ao Regulamento de Sanidade Pecuária e fazer a apreensão dos animais encontrados em contra-venção. Essa função era até então atribuída, exclusiva-mente, aos oficiais de diligências das administrações de concelho e aos funcionários das circunscrições civis.

A segunda isentava do pagamento da taxa de ins-pecção sanitária durante dois anos as “vacas, ovelhas, cabras e burras” que fossem importadas com autoriza-ção da Secção de Veterinária.

A terceira tornava extensivas às regiões situadas ao norte do rio Limpopo as restrições das importações de animais que já se encontravam em vigor para as regi-ões do sul.

A última portaria louvava o “…chefe da Secção de Entomologia, Charles Walter Howard, pelo seu zelo e dedicação ao serviço e pela contribuição dada à instru-ção popular, iniciando utilíssimas conferências sobre o mosquito e meios de defesa contra o mesmo”.

O relatório do chefe da Repartição de Agricultura

C. W. Barrett, intitulado: ”de Lourenço Marques ao Chai-Chai e do Chai-Chai para o norte”, é um diário de viagem, com uma descrição sumária das regiões que vão sendo percorridas, das suas paisagens, dos cursos de água atravessados, das culturas encontradas e do seu estado, mas sem fazer referencias à pecuária. Talvez por ele ser o “Chefe” e este geralmente não se preocupar com essas questões menores… como ainda na actualidade!

O Relatório do entomologista C. W. Howard, tem mais interesse. Embora tivesse visitado apenas o dis-trito de Lourenço Marques afirma ter recolhido um grande número de carraças, mosquitos, moscas, pulgas piolhos, etc. que não classificara ainda, por falta de tempo. Em todo o caso dá-nos uma lista das carraças já identificadas, a saber: Rhipicephalus apendiculatus, R. sanguineus, R. duttoni, R. evertsi, R. simus, Amblyoma hebraeum, Boophilus anulatus, Hyaloma aegyptium, Haemaphysallis leachi, Argas persicus, Ornithodorus caecus, indicando para cada uma delas, as localida-des e os hospedeiros que as albergavam. Foram estes os primeiros ixodídeos identificados em Moçambi-que. Relativamente à cidade de Lourenço Marques afirma encontrar-se agradavelmente surpreendido pela maneira enérgica como o problema dos mosquitos tem sido atacado pela sua Câmara Municipal, com o sistema de inspecção adoptado, a limpeza obrigatória dos locais que possam servir de viveiros e o emprego da rede de arame à prova deste insecto nas portas e janelas das habitações. Muitas dessas medidas de con-trolo, transitaram para as competências da Delegacia de Saúde, mas já estavam, de tal forma enraizadas nos hábitos dos lourençomarquinos que permaneceram até aos nossos dias.

No seu relatório o chefe da Secção de Veterinária, P. Conacher, começa por referir as grandes dificuldades com que deparou para obter as informações necessá-rias à redacção de um parecer fundamentado, sobre o desenvolvimento agrícola em Moçambique. Muitas das informações recolhidas sobre mortalidade de animais domésticos referiam-se a acontecimentos passados. Os animais encontrados foram muito poucos e parecia que seriam os sobreviventes imunes de doenças que haviam desaparecido com a morte dos doentes. Por outro lado as informações recolhidas sobre os mesmos assuntos, em fontes diferentes estavam em contradição - um facto que não conseguia explicar e que apenas o tempo se encarregaria de resolver pois obrigava a maiores e mais rigorosas investigações. Depois, invo-cando a sua experiência profissional na África do Sul, diz que Moçambique também dela recebeu certamente uma boa quota parte da patologia animal nos últimos doze anos e citava especialmente: a Febre Aftosa, a Peripneumonia Contagiosa dos Bovinos, a Peste Bovina, a Piroplasmose Baciliforme dos Bovideos e a Hemoglobinuria, afirmando que, todas elas teriam contribuído para reduzir os rebanhos às pequenas dimensões agora constatadas no distrito de Lourenço Marques, o único que pudera visitar nos seus dois anos

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de contrato. Quanto ao gado cavalar, não encontrou Mormo e apenas viu um caso de Linfangite Epizootica, certamente porque a Febre Biliaria (?) e a Peste Equina atacam estes animais e os vitimam em grande número. Diz que não existem grandes rebanhos de ovinos e que os poucos animais observados, sofriam de sarna e de diversas helmintoses, mas sem as identificar. Julga o território como pouco recomendável para a explora-ção desta espécie. Quanto aos suínos, parece-lhe que se desenvolvem bem, quando são objecto de cuidados elementares, o que era raro acontecer. Geralmente cria-se uma variedade semi-selvagem, com lombo “à moda de navalha de barba”(?) (“razor-backed”), não lucrativa para fins de exploração mas que pode ver-se por toda a parte, em liberdade, e os animais dessa espécie são um “… poço de cisticerccus”.

Na sua opinião, considerando todos os ramos de exploração agrícola, a região presta-se admiravel-mente para a criação de gado bovino. Afirma que as pastagens são excelentes, mas as manadas têm peque-nos efectivos e só com longos intervalos se avistam, enquanto o capim se estraga por falta de animais que o aproveitem ou de quem o corte. Os bovinos que se encontram estão degenerados e hoje não servem para o trabalho de lavoura ou de tracção, nem para o abate ou para a produção de leite. Observando uma manada, facilmente se detecta que cerca de um terço são machos e como todos são de qualidade inferior servem apenas para atormentar as vacas e propagar uma “raça inferior” ainda de pior qualidade do que os progenito-res. A solução seria castrar todos estes animais de má qualidade e substitui-los por outros de “boa raça”. As boas vacas leiteiras, que dêem lucro aos seus proprie-tários, são desconhecidas. “Impõe-se a importação de touros de raças seleccionadas que, cruzados com vacas escolhidas da região, produziriam em poucos anos, um aceitável gado leiteiro que satisfaria as necessidades de Moçambique em leite e lacticínios”.

Diz-se que “…há doze anos as terras ao sul do Lim-popo sustentavam grandes manadas de gado bovino e eu acredito que estas mesmas terras podem ainda ali-mentar grandes manadas de gado e uma grande e prós-pera população de agricultores. Elas oferecem aos seus proprietários vantagens iguais às de qualquer região agrícola da África do Sul. Basta combater as doenças que, durante anos dizimaram o gado bovino. Segundo os dados recolhidos apenas duas dessas doenças per-sistem ainda hoje: a “Redwater” (Babesiose) e a Febre da Costa Oriental.”

Curiosamente a passagem da Peste Bovina por aqui, nunca é referida.

A Babesiose fora introduzida na África do Sul, há mais de 30 anos. Transmitida pela vulgar “carraça azul”, Boophillus spp o seu perigo maior é para os animais importados. Os que forem criados nas zonas infectadas, adquirem naturalmente uma imunidade que os protege. Na Febre da Costa Oriental a virulência é persistente e em nenhuma idade o gado bovino resiste. A medida principal para a sua erradicação e/ou con-

trolo reside na vedação das pastagens nas áreas infes-tadas pelas carraças e o condicionamento das desloca-ções dos animais. Infelizmente não é fácil convencer os criadores a condicionarem as deslocações dos seus animais e, nem a mais rigorosa vigilância policial con-segue controla-los completamente. Afirma depois que recentemente, tivera conhecimento do aparecimento de uma nova doença em gado bovino no Chai-Chai. Os sintomas levantavam a suspeita de Nagana. Como a Secção de Veterinária não dispunha de um único microscópio, foi necessário recorrer ao auxílio do Dr. Theiler, que fez, de facto, o diagnóstico do Trypano-soma brucei. Informações posteriores fizeram levantar a suspeita de que o mesmo “Trypanosoma” teria sur-gido nos bovinos do distrito de Moçambique. Seria uma situação a confirmar no futuro. Foram estas as primeiras informações sobre a existência da “Tripano-somose Bovina”, na Província, em áreas tão afastadas.

O relatório termina com a referência ao apareci-mento de casos suspeitos de Raiva e de Febre da Costa Oriental nos territórios da Companhia de Moçambique.

O terceiro relatório é da autoria de T. R. Sim, que se identifica como agrónomo e silvicultor do Governo do Natal. Começa por afirmar que as regiões visitadas, na vizinhança de Lourenço Marques e no litoral, entre o rio Limpopo e Inhambane possuem uma população indígena feliz, satisfeita, trabalhadora, obediente e dada à agricultura e que “os colonos e os concessio-nários que aqui venham a fixar-se podem obter, em razoáveis condições de preço, a necessária mão-de-obra para qualquer empreendimento. Por esta forma, podem existir, ao lado do pequeno agricultor indígena, grandes agricultores ou companhias de exploração agrícola, obtendo todos eles resultados bastante com-pensadores para o seu trabalho e investimentos.” Ter-mina afirmando que, além da criação de gado, alguns outros ramos da exploração agrícola poderiam ser considerados indicando, aqueles que considera como principais, mas aconselhando previamente: “experiên-cias em estações experimentais do governo, com res-peito a novas culturas e ao aperfeiçoamento das exis-tentes; melhores meios de transporte por toda a parte; regime de propriedade em bases fixas, tanto para o colono como para o grande concessionário; protecção às industrias indígenas; construção, em locais centrais para servirem cada uma das várias zonas de fábricas de açúcar, fábricas de moagem, fábricas de extracção de óleos vegetais, serrações de madeiras e bem assim a construção, por conta do estado ou de particulares, de armazéns centrais para a compra da borracha e de outros produtos.”

A publicação que vimos analisando sumariamente, termina com um relatório de Mr. Fred T. Nicholson, secretário da União Agrícola Internacional da África do Sul. Sob o título: “Agricultura em Moçambique - vastas riquezas inexploradas” esse trabalho desenvolve com muito pormenor aquilo que Moçambique poderia ser, e não era, de um ponto de vista da exploração da terra.

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Enfim todos os técnicos contratados consideravam as regiões visitadas como possuindo condições agrícolas que, nas suas opiniões, não seriam excedidas “… em qualquer outra parte do mundo, mas cujo valor devia ser dado a conhecer para que fosse suficientemente apreciado”.

2º Período, veterinários portugueses

Em Dezembro de 1906, terminava o Dr. João Bap-tista Botelho, a sua licenciatura em Medicina Veteri-nária, no Instituto de Agronomia e Veterinária, e era promovido a alferes veterinário do batalhão do Regi-mento de Caçadores nº 3, onde assentara praça. Em 10 de Março de 1908 era promovido a tenente veterinário e embarcava em 1 de Julho para Moçambique, onde fora colocado num dos Esquadrões de Dragões (Dias, 1951). Da sua chegada a Lourenço Marques nada se sabe. No entanto, pode presumir-se que não se terá limitado ao cumprimento de funções no seu esquadrão mas se interessou também pelos trabalhos que estavam a ser efectuados pelos colegas britânicos. Sabe-se apenas que dois anos depois, em 11 de Dezembro de 1910 foi promovido a capitão, continuando como facultativo veterinário do mesmo esquadrão de Dra-gões.

Por esse tempo o contrato com o veterinário inglês Conacher fora prorrogado por mais um ano, até 20 de Maio de 1911 e João Botelho foi contratado pro-visoriamente como chefe da Secção Veterinária da Repartição de Agricultura, por portaria provincial de 2 de Junho de 1911. Iniciava-se assim a carreira profis-sional de um dos mais ilustres médicos – veterinários, que iria permanecer durante os 25 anos seguintes à frente dos Serviços Veterinários de Moçambique. João Botelho fizera a sua opção. Por portaria ministerial de 4 de Novembro de 1914, abandonava o exército e era nomeado definitivamente chefe da Secção Veterinária, sendo empossado do seu cargo em 19 de Dezembro (Dias, 1951).

Assim se normalizava o funcionamento dos Serviços Veterinários entregando-os, como se impunha, a um português. Sob a direcção de João Baptista Botelho, “o herói” a quem coube a glória de erradicar na Província a Febre da Costa Oriental, essa terrível Theileriose, os Serviços Veterinários de Moçambique iriam crescer e desenvolver-se.

Em próximo trabalho mostraremos como sob a sua direcção os Serviços Veterinários gradualmente se estenderam a toda a Colónia, a partir do Sul onde haviam nascido, até ao seu extremo Norte e em auto-nomia desde 1925.

Agradecimentos

Aos colegas e amigos Victor Matos e Cameira Leitão, pela ajuda na preparação do texto. À Sociedade de Geografia de Lisboa pelas facilidades concedidas na

sua esplêndida Biblioteca.

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CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

Summary: The role of fungi and mycotoxins contamination in pet food is not conveniently evaluated in Portugal. The authors report the identification of mycoflora and mycotoxins determi-nation in 60 samples of dry pet food; 20 for dogs, 20 for cats and 20 for domestic birds (10 for canaries and 10 for parrots) acquired in different pet shops. Moulds evaluation was determi-ned using a conventional method. The mycotoxins, aflatoxins (AFs), ochratoxin A (OTA), fumonisin B1 (FB1) and deoxyni-valenol (DON) were analysed by high performance liquid chro-matoghraphy (HPLC). The detection limits were: 1.0 µg/kg for aflatoxins, 2.0 µg/kg for ochratoxin A, 10 µg/kg for fumonisin B1 and 100.0 µg/kg for deoxynivalenol. All samples had very low fungi counts. The predominant genera were Aspergillus (58.3%), Penicillium (38.3%) and Mucor (38.3%). Aflatoxins were not detected in any sample. Ochratoxin A was detected in five samples (8.3%) with levels ranging from 2.0 to 3.6 µg/kg. Fumonisin B1 and deoxynivalenol were present in three samples (5%) with levels ranging from 12.0 to 24.0 µg/kg and 100 to 130 µg/kg respectively. The mycotoxins (OTA, FB1 and DON) were detected only in dog food samples. The data presented in this study confirm the fungi contamination and the presence of the mycotoxins in foods for pets that can possibly represent an hazard for these animals.

Key words: fungi, mycotoxins, HPLC, pet food

Resumo: O papel das contaminações fúngicas e da presença de micotoxinas nos alimentos destinados a animais de companhia não está devidamente avaliado em Portugal. Os autores referem a identificação da micoflora e a presença de micotoxinas em 60 amostras de alimentos secos para animais de companhia de diferentes marcas adquiridas em lojas da especialidade, sendo 20 amostras de alimentos para cães, 20 para gatos, 10 para periqui-tos e 10 para catatuas. A contagem e identificação dos agentes fúngicos foram efectuados por métodos micológicos convencio-nais e a pesquisa de micotoxinas, aflatoxinas (AFBs), ocratoxina A (OTA), fumonisina B1 (FB1) e deoxynivalenol (DON) foi efectuada por cromatografia líquida de alta resolução (HPLC). Os limites de detecção foram: 1,0 µg/kg para aflatoxinas, 2,0 µg/kg para ocratoxina A, 10 µg/kg para fumonisina B1 e 100 µg/kg para deoxinivalenol. O nível de contaminação fúngica foi muito baixa em todas as amostras. O género mais frequente foi Asper-gillus com 58,3 %, seguido de Penicillium e de Mucor ambas em 38,3% das amostras positivas. Nenhuma amostra continha aflatoxinas. Ocratoxina A foi detectada em 5 amostras (8,3%)

com níveis que oscilaram de 2,0 a 3,6 µg/kg. Fumonisina B1 e deoxinivalenol estavam presentes em três amostras (5,0%) com níveis de contaminação de 12,0 a 24,0 µg/kg e 100,0 a 130,0 µg/kg respectivamente. Estas micotoxinas (OTA, FB1 e DON), foram detectadas apenas em alimentos para cães. Estes resulta-dos confirmam a presença de flora fúngica e de micotoxinas em alimentos para animais de companhia, representando um perigo sanitário potencial.

Palavras chave: fungos, micotoxinas, HPLC, animais de com-panhia

Introduction

Information about fungi associated with food and feeds is important in assessing risk of mycotoxin contamination. Dog and cat food are prepared with vegetables and/or meat (chicken, beef, turkey and fish), cereal grains (maize, sorghum and rice), fat, vitamins and minerals. During its manufacturing, food can be contaminated with mould spores, especially when cereal grains are ground and food is granulated (Suárez, 1999). Food marketed for birds contain a wide range of nuts and cereal grains.

The filamentous moulds most commonly found in stored cereal grains are Aspergillus, Penicillium and Fusarium species; they are ubiquitous, can cause food spoilage and biodeterioration, and are capable of pro-ducing many different mycotoxins. Aspergillus spe-cies (A. flavus, A. parasiticus, A. nomius, A. fumigatus, A. versicolor and A. ochraceus) are some of the more common toxigenic species (Betina, 1989). A. flavus, A. parasiticus and A. nomius produce the most carcinoge-nic mycotoxins, the aflatoxins (Kurtzman et al., 1987), whereas as many as 10 species of Aspergillus produce ochratoxin A (Abarca et al., 1994, Téren et al., 1996, Joosten et al., 2001, Martins et al., 2002). Several Penicillium are commonly involved in food spoilage, and most of them produce more than 10 different toxic fungal metabolites (cyclopiazonic acid, patu-

Fungal flora and mycotoxins detection in commercial pet food

Flora fúngica e pesquisa de micotoxinas em alimentos para animais de companhia

Maria Lígia Martins1, H. Marina Martins1* and Fernando Bernardo 2

1 Laboratório Nacional Investigação Veterinária – Serviço de Micologia - Estrada de Benfica, 701, 1549-011, Lisboa, Portugal2 CIISA-Faculdade Medicina Veterinária - Polo Universitário da Ajuda - Rua Professor Cid dos Santos, 1300-477, Lisboa, Portugal

* Corresponding author: e-mail [email protected]

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lin, citrinin, penicillic acid) (Frisvad and Filtenborg, 1989; Martins and Martins, 1999). Although many Fusarium species exist in nature, only a small number infect cereal crops in the field and produce mycotoxins (fumonisins, zearalenone and trichothecenes) (Mara-sas, 1992). Mycotoxin production is favoured by high humidity and high water activity and has been detected in many agricultural crops.

Dogs are particularly sensitive to the acute hepato-toxic effects of aflatoxin (Newberne et al., 1955; New-berne et al., 1966; Scudamore et al., 1997). Aflatoxin B1 (AFB1) is classified into the difurocoumarocyclo-pentenone series and the difurocoumarolactones. AFB1 is metabolically converted to a variety of stable metabolites (aflatoxicol, aflatoxin M

1 and aflatoxin Q

1)

in vivo or in vitro in the presence of NADPH- genera-ting system and cytochrome P-450, which is a requisite step in the formation of the putative active biological effects: carcinogenicity, DNA binding, cytotoxicity and bacterial mutagenicity (Coulombe et al.,1984).

The most important producers of ochratoxins are Penicillium verrucosum in temperate climates, P. viridicatum, and Aspergillus ochraceus in warmer and tropical parts of the world. Ochratoxin A (OTA) can occur naturally in cereal and cereal-based foods (Krogh, 1987). OTA is the most common and consists of a dihydrocoumarin moiety linked to an L-phenyla-lanine functional group (Kuiper-Goodman and Scott, 1989). OTA is a potent nephrotoxic and nephrocarci-nogenic mycotoxin. The morphological renal lesions are characterized by degeneration of proximal and distal tubules and interstitial fibrosis.

Fumonisins are toxic compounds first isolated and characterized in 1988 (Gelderblom et al., 1988). These mycotoxins are mainly produced by Fusarium monili-forme strains which occurs on cereals and especially as a major fungal contaminant on maize. Fumonisins B1 and B2 (FB

1 and FB

2)

are diesters of tricarbollylic acid

and polyhydric alcohols and as they have similar struc-ture to sphingosine they can interfere with sphingosine metabolism, blocking the biosynthesis of complex sphingolipids and ceramides. FB

1 has been pointed as

a natural cause of leukoencephalomalacia in horses, pulmonary edema in porcine and oesophagi cancer in humans (Scott, 1993).

Deoxynivalenol (DON), also known as vomitoxin, is one of a group of closely related secondary fungal metabolites, the trichothecenes. DON is one of the toxic 12,13-epoxytrichothecenes produced by various species of Fusarium, particularly F. graminearum. Wheat, corn and barley are particularly affected and are known to cause feed refusal, emesis and growth depression in swine and chickens. DON is inhibitor of protein and DNA synthesis and also affects food intake, body weight and suppresses humoral and cellu-lar immune function (Peslka and Bondy, 1990).

Mycotoxins are increasingly being shown to occur in the conidia of toxigenic fungi. The presence of single

or multiple mycotoxins in airborne conidia could represent a potential health risk to both animals and man (Lewis et al., 1994)

The purpose of this study was to give information about the fungal contamination and levels of mycoto-xins in pet foods marketed in Lisbon, Portugal.

Material and methods

Samples

A survey was carried out to evaluate the fungal contamination and the possible presence of aflatoxins, ochratoxin A, fumonisins B1 and B2 and deoxyniva-lenol in 60 samples of dry pet food; 20 for dogs, 20 for cats and 20 for ornamental birds (10 for canaries and 10 for parrots) corresponding to different imported brands. Samples were acquired in pet shops.

Mycological determination

Ten grams of each sample were homogenized for 3 min in 90 ml (10–1 suspension) peptone water (Oxoid, code CM 9, Basingstoke, England) in a Colworth 400 Stomacher (Seward Medical, London, UK). Ten–fold dilutions were prepared till 10–4.

For enumeration and identification at genus level of moulds and yeast, 1 mL of each dilution was spread into each of five plates (0.2 mL/plate) of Cook rose bengal agar with chloranphenicol (DRCB, Oxoid, CM 727, Suplement - chloranphenicol SR 78) (King et al., 1984) and incubated at 28 ºC for 5 days. Each isolated mould colony was observed microscopically for mor-phological characterization and identification (Domsch et al., 1980; Samson and Pitt, 1989).

Mycotoxins determination and quantification by HPLC

AflatoxinsThe samples were analysed for the quantification of

AFs using immunoaffinity columns (Aflaprep, Code PO7) supplied from Rhône-diagnostics Technologies Ltd (Spain), and quantified by high pressure liquid chromatography (HPLC) according to the method des-cribed by Stroka et al. (2000). The detection limit is 1µg/kg. The AFs were extracted from 50 g of sample with a solvent mixture of methanol/water (8+2,v/v). The sample extract was filtered, diluted and applied to an immunoaffinity column containing antibodies speci-fic to aflatoxins B

1, B

2, G

1 and G

2. The aflatoxins were

eluted with methanol. Standard AFs B1, B

2, G

1 and G

2

were purchased from Sigma-Aldrich (Ref. A-6636, A-9887, A-0138 and A-0263 respectively) (Quimica S.A. Spain).

Ochratoxin AOTA determination was performed according to

the method described by Entwistle et al. (1999). The

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detection limit is 2 µg/kg. OTA was extracted from the 25 g of the sample with acetonitrile. The extract was cleaned up by passing through an immunoaffinity column (OchraPrep, Code P 14B, Rhône-Diagnostics Technologies Ltd, Spain), and the OTA was eluted with methanol/water/acetic acid and separated by reverse phase HPLC. Standard of OTA was purchased from Sigma (Ref.O-1877).

FumonisinsExtraction, purification and HPLC quantification

of FB1 was performed by the technique described by Shephard et al. (1990). The detection limit is 20 µg/kg. Briefly the technique may be described as following: 25 g of sample were blended with methanol/water and filtered. An aliquot of the filtered was applied to a Bond-Elut strong anion-exchange (SAX) cartridge 3 cc (Ref: Wat 020850) previously equilibrated with methanol/water and washed with methanol/water followed by methanol and the toxins were eluted with an acetic acid/methanol solution. The eluate was eva-porated to dryness and the dried sample was redissol-ved in methanol, and an aliquot was derivatized with o-phthaldialdehyde (OPA) (Sigma-P-0657) and 2-mer-capto-ethanol (Sigma M-6250) prior to separation on a reversed phase HPLC system. Standard of FB1was purchased from Sigma (Ref. F-1147)

DeoxynivalenolDON analysis was carried out following the method

described by Cahill et al. (1999). The limit of detec-tion was 100 mg/kg. A sample of 50 g was extracted in distilled water by blending, filtered through both a fluted and glass microfiber filter paper and applied to an immunoaffinity column (DONtest-VICAM). Sub-sequently the column was washed with distilled water and the toxin was eluted from the column with metha-nol, evaporated to dryness in a rotary evaporator and re-dissolved in 300 µl of acetonitrile-water. DON was obtained from Sigma (Ref. D- 0156).

Results

All positive samples showed low levels of contami-nation (101 to 102 cfu/g) (Table 1). The most frequent mould occurring in dry pet food was Aspergillus (58.3%) followed by Penicillium spp. and Mucor race-mosous, which occurred each in 38.3 % of the samples. Among the Aspergillus, the percentage Aspergillus niger was high (55.0 % in dog food, 40.0 % in cat and 10.0 % in bird food). In general dog food had higher percentage of contamination than the other foods. The samples of bird seeds had lower contamination. Yeasts were not present in any sample.

The mycotoxins results in pet food are shown in Table 2. Eighty-two percent of the samples contained no measurable concentrations of mycotoxins. The presence of mycotoxins was observed only in dog food. No aflatoxins were detected. Ochratoxin A was detected in five samples (8.3 %) with levels ranging

from 2.0 to 3.6 µg/kg, with average concentration of 2.8 µg/kg. Fumonisin B1 was present in three samples (5%) with levels ranging from 12.0 to 24.0 µg/kg, with average concentration of 17.3 µg/kg and deoxynivale-nol was also present in other three samples, with levels ranging from 100 to 130 µg/kg, with average concen-tration of 116 µg/kg (Table 2).

Table 2 - Frequence of mycotoxins in dog food

Mycotoxins Positive samples (%)

Min - max (µg/kg)

Average (µg/kg)

Aflatoxins 0 ( 0.0) - -

Ochratoxin A 5 (25.0) 2.0-3.6 2.8

Fumonisin B1 3 (15.0) 12.0-24.0 17.3

Deoxynivalenol 3 (15.0) 100.0-130.0 116.0

Discussion

The results indicate that there is little evidence of significant mycotoxins contamination of pet food. Few samples were contaminated with OTA, FB1 and DON, and its levels were low with no toxicological concern.

Cereals in pet food are good mathrix for fungi growth (González et al., 1997). Abarca et al. (1994) found moulds of genera Penicillium, Aspergillus and Fusarium in mixed feed for cattle, pig and poultry. Dalcero et al. (1998), got similar results in poultry feed. In 1997, Scudamore et al. (1997), found in pet food for domestic pets and wild birds, Penicillium and Eurotium. Bueno et al. (2001) in 21 samples of pet food found Aspergillus (62 %), Rhizophus (48 %) and Mucor (38 %). In Portugal, surveys were carried out concerning the presence of mycoflora and mycotoxins in component raw materials and feedstuffs (Martins and Martins, 2000; Martins and Martins, 2001 a), 2001 b), 2001 c); Martins et al., 2002 b). These researchers identified Penicillium, Aspergillus, Fusarium, Mucor and yeasts.

The presence of toxigenic fungi does not indicate mycotoxin production. Toxins may persist long after vegetative growth has occurred even after moulds death. Therefore, the presence of certain fungi impli-cates a potential risk for animal health (Bueno et al., 2001).

There is few information concerning surveys of mycotoxins in pet food. Scudamore et al. (1997), in

Table 1 - Frequency and level of mycoflora isolated in pet foods

Dog Food samples

(% positive)

Cat Food samples

(% positive)

Bird Food samples

(% positive)

% total samples

Fungi 101- 102 cfu 101- 102 cfu 101- 102 cfu

Aspergillus flavus 8 (40.0) 6 (30.0) 0 ( 0.0) 58.33

Aspergillus niger 11 (55. 0) 8 (40.0) 2 (10.0)

Penicillium spp. 13 (65.0) 7 (35.0) 3 (15.0) 38.33

Mucor racemosous 11 (55.0) 8 (40.0) 4 (20.0) 38.33

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RPCV (2003) 98 (548) 179-183Martins, M.L. et al.

100 samples of pet food (35 samples of cereal-based dog and cat food, 15 samples of domestic bird seeds and 15 samples of wild bird food) examined for afla-toxins, ochratoxin and fumonisin (only in 20 samples) found aflatoxin B1 in low level in a sample of cat food, and a concentration of 370 µg/kg in one sample of peanuts marketed for wild birds. OTA was detected in 10% of samples but in low concentrations, the highest of 7 µg/kg occurring in a sample of bird food. Fumoni-sins were found in 30% of the 20 samples tested with a maximum of 750 µg/kg total fumonisins being found in a sample of cat food. Henke et al. (2001) in a study on a total of 142 wild bird seed, in Texas reported the presence of aflatoxin at level of non-detectable to 2.8 µg/kg.

In Portugal and in other UE Member States, maxi-num levels of aflatoxins and OTA contamination are stated by official regulations (Regulation/CE nº 466/2001 of 8 March; Dir. 2002/26/EC of 13 March). According to FAO, (1997) several countries estab-lished maximum levels of wide range of mycotoxins, including DON, in foodstuffs, dairy products and animal feedstuffs.

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RPCV (2003) 98 (548) 185-188 R E V I S T A P O R T U G U E S ADE

CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

Resumo: Pretendeu-se avaliar o efeito da administração dos agentes dilatadores cervicais misoprostol (PGE

1) e sulfato de

terbutalina (β-agonista), no momento da IA com sémen refrige-rado, sobre a fertilidade, prolificidade e fecundidade em ovinos. Usaram-se ovelhas das raças Merino (n=46), Saloia (n=312) e Serra da Estrela (n=66), localizadas em explorações diferentes. 55 horas após sincronização do estro e indução da ovulação pro-cedeu-se à IA sem prévia detecção do estro, com uma dose de sémen refrigerado. Nas ovelhas tratadas administrou-se por via transvaginal 400 µg de misoprostol e 2,5 mg de sulfato de terbu-talina imediatamente após a IA.No efectivo Merino, a fertilidade, a fecundidade e a prolici-dade foram respectivamente, 65 %, 90 % e 138 %, nas ovelhas controlo (n=20) e 46,2 %, 76,9 % e 167 % nas ovelhas tratadas (n=26). Não houve diferenças significativas entre grupos. Nas ovelhas Saloias registaram-se respectivamente 39 %, 54,8 % e 140 % (controlo, n=146) e 34,3 %, 48,8 % e 142 % (tratadas, n=166), não havendo diferenças entre grupos. Nas ovelhas Serra da Estrela registaram-se respectivamente 53,1 %, 75 % e 141 % (controlo, n=32) e 35,3 %, 58,9 % e 158 % (tratadas, n=34), não havendo diferenças significativas entre grupos. Agrupando todos os animais, independentemente da raça, obtiveram-se 43,9 %, 61,6 % e 140 % (controlo, n=198) e 35,8%, 53,1 % e 148 % (tratadas, n=226). Nas ovelhas controlo a fertilidade foi tenden-cialmente superior à das tratadas (p<0,08).O efeito cervico-dilatador da associação destas drogas, anterior-mente evidenciado em estudos de penetrabilidade cervical, não se confirmou benéfico sobre os parâmetros reprodutivos quando da sua administração durante a IA. A forma de administração das drogas poderá ter afectado o transporte e/ou capacitação do esperma.

Summary: Misoprostol (PGE1) and terbutalin sulphate (β-ago-

nist) when administered in association by trans-vaginal instilla-tion were previously found to be cervical dilatation agents. In this study, the effect of this local treatment during AI with refrig-erated semen on fertility, prolificacy and fecundity, was tested. Merino (control/treated: 20/26), Saloia (control/treated: 146/166) and Serra da Estrela (control/treated: 32/34) ewes located in dif-ferent farms, were used. 55 hours after oestrus and ovulation synchronization AI was performed on unchecked oestrus ewes with a single dose of refrigerated semen (300 million total spz). Immediately after AI, treated ewes received 400 µg of misopros-tol plus 2,5 mg of terbutalin sulphate locally on the cervix.Fertility, fecundity and prolificacy were not significantly differ-

ent between treated and controls either in Merino (46.2 %, 76.9 % and 167% vs. 65 %, 90 % and 138%, respectively) or Saloia (34.3 %, 48.8 % and 142 % vs. 39%, 54.8% and 140%, respec-tively) or Serra da Estrela (35.3%, 58.9% and 158% vs. 53.1%, 75% and 141%, respectively) ewes. Fertility, fecundity and prolificacy in treated (n=226) vs. control (n=198) considering all breeds, were 35.8%, 53.1% and 148% vs. 43.9%, 61.6% and 140%, respectively. Control ewes tended to have a higher fertil-ity rate than treated ones (P<0,08) and no significant differences were found elsewhere.Although a cervical dilatation effect after administering these drugs was previously found, an expected increase on repro-duction after AI was not evident in this study, but a slight decrease in fertility. This may be due to a negative effect on sperm transport/capacitation possibly related to the via of drug administration.

Introdução

Um dos principais factores limitantes da insemina-ção artificial nos ovinos é a insuficiente abertura do canal cervical no momento do estro, impedindo que o pistolet de inseminação o transponha, condicionando a deposição do sémen ao nível do fundo da vagina ou no orifício cervical externo (Halbert et al., 1990ab; Campbell et al., 1996 e Kaabi et al., 2001). Com a deposição do sémen refrigerado à entrada do os cervi-cal externo só são conseguidas taxas de gestação acei-táveis à custa de uma maior concentração espermática na palhinha de inseminação (400-600 milhões) ou através de dupla inseminação (Barbas et al., 2001b). Os resultados poderão ser melhorados se as insemina-ções forem realizadas unicamente nas ovelhas detecta-das em estro, o que não é exequível nos programas de IA em condições de rebanho.

Dada a existência de uma correlação positiva entre a fertilidade e a profundidade da IA nos ovinos (Kaabi et al., 2001), foram efectuados estudos nesta espécie, no Departamento de Reprodução Animal da Estação Zootécnica Nacional, para avaliar o efeito da administração às 36 e às 56 horas após a remoção

Efeito da aplicação vaginal de agentes dilatadores do cérvix (misoprostol e sulfato de terbutalina) sobre os resultados da IA em raças ovinas locais

Effect of vaginal application of cervix dilating agents (misoprostol and ter-butalin sulphate) on AI results in ovine Portuguese local breeds

João P. Barbas, Sandra Cavaco Gonçalves, Maria C. Baptista, Carla C. Marques, Maria I. Vasques, António E.M. Horta *

Departamento de Reprodução Animal, Estação Zootécnica Nacional - INIAP, 2005-048 Vale de Santarém, Potugal

* Correspondente: [email protected]

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RPCV (2003) 98 (548) 185-188Barbas, J.P. et al.

das esponjas, de vários fármacos, sobre o relaxamento muscular e a dilatação do canal cervical, tentando o flanqueamento deste com o pistolet da IA (Barbas et al., 2001; Barbas et al., 2002b). Aumentando a pro-fundidade da IA seriam conseguidas maiores taxas de gestação e melhores índices reprodutivos nas ovelhas inseminadas. Estes trabalhos demonstraram que a associação misoprostol (análogo sintético da PGE

1)

/ sulfato de terbutalina (β-adrenérgico) provocou aumentos significativos da penetrabilidade cervical 15 minutos após a sua administração (36 e 56 horas após a remoção das esponjas vaginais), notando-se um efeito sinérgico desta associação sobre o relaxamento e a penetrabilidade cervical e sugerindo a confirmação deste efeito em ensaios de campo, sobre os resultados da inseminação artificial (IA). Paralelamente, foram realizados ensaios in vitro que demonstraram a ausên-cia de efeitos nocivos aparentes destes fármacos sobre a viabilidade do sémen.

Com a realização deste trabalho pretendeu-se avaliar o efeito da administração da associação misoprostol/sulfato de terbutalina no momento da IA com sémen refrigerado sobre a fertilidade, prolificidade e fecundi-dade das ovelhas inseminadas.

Material e métodos

Este trabalho foi efectuado em três explorações dis-tintas, a Herdade dos Soidos e o Posto Experimental de Pegões, ambos pertencentes à DRARO, e a Estação Zootécnica Nacional (EZN). Na Herdade dos Soidos foram utilizadas 46 ovelhas adultas, multíparas, de raça Merino (Mer.) com boa condição corporal (3,5-4) determinada segundo o método de Russel et al. (1969). No Posto Experimental de Pegões utilizaram-se 312 ovelhas Saloias (Sal.), multíparas, exploradas na produção de leite destinado ao fabrico de queijo. Em ambas as explorações as ovelhas foram mantidas em pastagens mantendo uma condição corporal média de 3,5-4 ao longo do ciclo produtivo e foram suple-mentadas com fenos e concentrado comercial no terço final da gestação, após o parto e durante o período de aleitamento dos borregos. Na EZN foi utilizado um efectivo de 66 ovelhas de raça Serra da Estrela (SE.) com uma condição corporal média (3-3,5). As ovelhas foram mantidas em pastagens de sequeiro e regadio e igualmente exploradas na função leiteira. A suplemen-tação decorreu nos períodos anteriormente citados e com igual dieta.

Os animais de cada raça foram divididos em grupo Controlo, apenas sujeito ao regime de sincronização de estro, e grupo Tratado, sujeito à administração de agentes dilatadores cervicais. Em todos os animais dos três efectivos (grupos Controlo e Tratado) a sin-cronização do estro foi efectuada com esponjas vagi-nais contendo 40 mg de FGA (acetato de fluoroges-tona-Chronogest) durante 12 dias e 500 UI de eCG

i.m. (Intergonan ), no momento da remoção das esponjas vaginais (REV). Os ensaios foram realizados em épocas diferentes. As ovelhas Mer. foram insemi-nadas em Junho, as de raça Sal. foram repartidas por três grupos homogéneos e inseminadas em Abril e as ovelhas SE. foram inseminadas em Outubro.

O sémen foi recolhido com vagina artificial usando uma ovelha com estro induzido e colocado em banho-maria à temperatura de 28-30 ºC. Após a recolha do sémen avaliou-se o volume (mL), mobilidade massal (classificada de 0 a 5), percentagem de espermatozói-des (spz) móveis e concentração espermática (spz x 109 mL-1) utilizando um espectrofotómetro calibrado para a espécie ovina. Foram unicamente utilizados na IA os ejaculados com mobilidade massal ≥ 3 e esper-matozóides móveis ≥ 70 %. Foram utilizados 2 carnei-ros Mer., 2 SE. e 12 de raça Sal.

As diluições foram efectuadas de modo a obter uma concentração de 1200 milhões de spz mL-1. Após a diluição (28-30 ºC) o sémen foi refrigerado gradual-mente até + 15 ºC (utilizando ácido acético glacial), sendo posteriormente acondicionado em palhinhas de 0,25 mL (tipo Cassou) contendo 300 milhões de spz totais. Previamente à IA avaliou-se a qualidade esper-mática para verificar se o processo da refrigeração não afectou o sémen. As IA foram efectuadas no prazo de 2,5-4 horas após a recolha do sémen.

A IA por via cervical foi realizada cerca de 55 ± 1 horas após REV, sem prévia detecção do estro, em todas as ovelhas (grupos Controlo e Tratado), com uma dose de sémen refrigerado (cerca de 3 h pós-reco-lha) contendo 300 milhões de espermatozóides totais.

Com o objectivo de estimular a dilatação do canal cervical, em 26 animais da raça Mer., 166 da raça Sal. e 34 da raça SE. (grupos Tratado), imediatamente após a IA, administrou-se, por via transvaginal, uma associação do análogo sintético da prostaglandina E

1

(PGE1), o misoprostol (Cytotec, Searle) e de um

agonista dos receptores β-adrenérgicos, o sulfato de terbutalina (Bricanyl, Astra). O misoprostol foi administrado na dose de 400 µg/ovelha, por dissolu-ção de 2 comprimidos de Cytotec em 2,5 mL de soro fisiológico, o qual foi depositado com uma seringa próximo do os cervical, juntamente com 2,5 mg de sulfato de terbutalina contidos em 10 nebulizações de Bricanyl, efectuadas com aplicador apropriado.

Avaliaram-se os seguintes parâmetros reprodutivos: fertilidade (fert.) = (nº de ovelhas paridas/nº de ove-lhas inseminadas) x 100; prolificidade (prol.) = (nº de borregos nascidos/nº de ovelhas paridas) x 100; fecun-didade (fec.) = (nº de borregos nascidos/nº de ovelhas inseminadas) x 100.

Na análise estatística dos parâmetros reprodutivos utilizou-se o teste de Mann-Whitney U (Statsoft, Inc, 1995). Adoptou-se o nível de 5 % como limiar de significância ou, quando superior, foi expresso nos resultados.

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RPCV (2003) 98 (548) 185-188Barbas, J.P. et al.

Resultados

Não foi conseguida nenhuma inseminação intra-ute-rina em qualquer das ovelhas em ensaio.

Na Tabela 1 são apresentados os parâmetros repro-dutivos observados nas ovelhas de raça Mer.. Não foram observadas diferenças significativas entre os dois grupos em nenhum dos parâmetros avaliados (54,4 %, 82,6 % e 152 % para a fert., fec. e prol., res-pectivamente).

Os resultados referentes às ovelhas da raça Sal. são apresentados na Tabela 2, não existindo diferenças entre grupos em nenhum dos parâmetros avaliados (36,5 %, 51,6 % e 141 % para a fert., fec. e prol., res-pectivamente).

Na Tabela 3 são apresentados os parâmetros repro-dutivos das ovelhas SE.. Tal como para as outras raças em estudo, também nesta não foram encontradas dife-

renças significativas, quer para a fert. (43,9 %), a fec. (65,1 %) ou a prol. (148 %).

Para uma avaliação do efeito da administração por via transvaginal da associação misoprostol + sulfato de terbutalina, no momento da IA, sobre a fert., a fec. e a prol., independentemente das raças, efectuámos a análise estatística dos resultados reprodutivos da tota-lidade dos animais do grupo Tratado e do grupo Con-trolo, apresentados na tabela 4.

Não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos, quer para a fert., a fec. e a prol.. No grupo Controlo a fertilidade apresentou um aumento próximo da significância (P=0,08), tal como a fecun-didade apresentou valores numericamente superiores, embora não significativos (P=0,138), comparativa-mente aos animais do grupo Tratado.

Discussão A fertilidade obtida nas ovelhas da raça Saloia

(39,04%) pertencentes ao grupo Controlo foi próxima do registado em dois grupos de animais da mesma raça (31-38 %), submetidos a IA na mesma exploração e época do ano (Barbas et al., 2001b). Também com animais de raça Saloia (n=181) inseminados na Prima-vera, obtivemos uma fertilidade de 35 % (Barbas et al., 2002a). Na raça Serra da Estrela foi registada uma fertilidade média de 53 % nos animais do grupo Con-trolo, ligeiramente superior à obtida num grupo ante-riormente inseminado (46,15 %) (Barbas et al., 1999). Nas ovelhas de raça Merino obtivemos nos animais controlo uma fertilidade de 65 % que foi superior à obtida por outros autores (55 %), num efectivo insemi-nado na mesma época do ano, mas noutra exploração (Bettencourt, 1999).

Nos três ensaios de IA realizados com as raças Mer., Sal. e SE. não foi observado qualquer efeito da administração da associação misoprostol/sulfato de terbutalina no momento da IA, sobre a fertilidade, prolificidade e fecundidade, notando-se inclusivamente uma tendência para uma diminuição da fertilidade e fecundidade nos animais tratados das raças Mer. e SE., o que nos leva, nesta fase dos conhecimentos, a não recomendar a sua utilização em protocolos de IA, apesar do aumento de permeabilidade cervical ante-riormente detectada (Barbas et al., 2001a). Estudos realizados in vitro pondo em contacto directo estes fármacos com o sémen de ovino demonstraram a sua inocuidade sobre a % de spz móveis e vivos (Barbas et al., 2001a). Todavia, não é de excluir a hipótese de o tratamento administrado no momento da IA (pondo em contacto directo os fármacos com o sémen) ter afec-tado a progressão/capacitação espermáticas no canal cervical ou outras características seminais, nomea-damente a integridade da membrana plasmática e do acrossoma, todas elas conducentes a uma diminuição da capacidade fecundante do sémen (Evans e Maxwell, 1990; Eppleston et al., 1994; Windsor, 1995; Donovan

Tabela 1 - Efeito do tratamento (misoprostol +sulfato de terbuta-lina) sobre a fert., fec. e prol. na raça Mer.

Grupo IA (n)

Partos (n)

Crias (n)

Fert. (%)

Fec. (%)

Prol. (%)

Controlo 20 13 18 65 90 138

Tratado 26 12 20 46,15 76,92 167

Controlo+Tratado 46 25 38 54,35 82,61 152

Entre os grupos, não se observaram diferenças significativas em nenhum dos parâmetros (P>0,05)

Tabela 2 - Efeito do tratamento (misoprostol +sulfato de terbuta-lina) sobre a fert., fec. e prol na raça Sal..

Grupo IA (n)

Partos (n)

Crias (n)

Fert. (%)

Fec. (%)

Prol. (%)

Controlo 146 57 80 39,04 54,79 140

Tratado 166 57 81 34,34 48,8 142

Controlo+Tratado 312 114 161 36,54 51,6 141

Entre os grupos, não se observaram diferenças significativas em nenhum dos parâmetros (P>0,05)

Tabela 3 - Efeito do tratamento (misoprostol +sulfato de terbuta-lina) sobre a fert., fec. e prol.na raça SE.

Grupo IA (n)

Partos (n)

Crias (n)

Fert. (%)

Fec. (%)

Prol. (%)

Controlo 32 17 24 53,13 75 141

Tratado 34 12 19 35,29 58,88 158

Controlo+Tratado 66 19 43 43,94 65,15 148

Entre os grupos, não se observaram diferenças significativas em nenhum dos parâmetros (P>0,05)

Tabela 4 - Efeito do tratamento (misoprostol +sulfato de ter-butalina) sobre a fert., fec. e prol. independentemente das raças (Mer., Sal., SE.).

Grupo IA (n)

Partos (n)

Crias (n)

Fert. (%)

Fec. (%)

Prol. (%)

Controlo 198 87 122 43,94a 61,62 140

Tratado 226 81 120 35,84b 53,1 148

Controlo+Tratado 424 168 242 39,62 57,08 144

Para a fertilidade: a vs b, P=0,08.

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RPCV (2003) 98 (548) 185-188Barbas, J.P. et al.

et al., 2001). Também a via de administração dos fár-macos utilizada poderá não ter sido a mais adequada. De facto, no caso da ocitocina, os resultados obtidos variam em função da via de administração do fármaco, com uma redução significativa da fertilidade associada à via intravenosa, apesar de permitir o flanqueamento cervical (Sayre e Lewis, 1996, 1997). Esta redução não foi observada após administração da hormona por via transvaginal (Barbas et al., 1999). O tempo de contacto das drogas com o os cervical poderá também não ter sido suficiente, impedindo a obtenção do efeito desejado, designadamente um adequado relaxamento muscular do canal cervical, condição necessária para melhorar a profundidade da IA. Os resultados obtidos previamente (Barbas et al., 2001a), nomeadamente um aumento da penetrabilidade cervical, não foram acompanhados no presente trabalho de uma melhoria da fertilidade e fecundidade, sugerindo que a dilatação cervical obtida terá sido insuficiente, ou mesmo que a dilatação cervical não será o único factor condicio-nante dos resultados da IA.

Não foram observados efeitos significativos do tratamento sobre os parâmetros avaliados. Na análise global dos resultados observou-se existir uma ten-dência (P=0,08) para os valores de fertilidade serem inferiores nos animais tratados. Apesar de ensaios anteriores demonstrarem que o tratamento misoprostol + sulfato de terbutalina provoca um aumento significa-tivo da penetrabilidade cervical logo aos 15 minutos após a sua administração, os resultados obtidos no pre-sente trabalho não recomendam a sua utilização prática em programas de IA. Esta aparente contradição nos resultados sugere a realização de novas experiências que considerem diferentes vias de administração dos produtos.

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RPCV (2003) 98 (548) 189-195 R E V I S T A P O R T U G U E S ADE

CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

Resumo: Perdas elevadas de líquidos e eletrólitos ocorrem durante exercício prolongado e estão associadas a quadros de exaustão em eqüinos. Neste trabalho, avaliaram-se os efeitos do resfriamento com água e da administração de repositor eletrolí-tico sobre a osmolalidade e as concentrações séricas de eletróli-tos de eqüinos submetidos a um exercício teste (ET). Foram uti-lizados 24 eqüinos das raças Mangalarga e Árabe. Durante o ET os eqüinos percorreram, consecutivamente, dois trajetos de 20 e 10 km, com 30 minutos de intervalo. Os animais foram dividi-dos em quatro grupos, dos quais dois receberam resfriamento intermitente (+RI) e os outros dois não (-RI) e, alternadamente, um dos grupos banhados e outro não-banhado recebiam mistura de eletrólitos (+ME ou -ME). Os eqüinos dos grupos +RI+ME e -RI+ME receberam mistura de eletrólitos (ME) no intervalo e ao final do percurso, enquanto os outros, +RI-ME e -RI-ME, não. Foram efetuadas determinações séricas da osmolalidade e das concentrações de Na, K, Cl, Ca, P e Mg antes de iniciar-se o teste, ao final do primeiro e segundo anéis e 30 e 60 minutos após a chegada. Foram observadas, em todos os grupos, dimi-nuições nas concentrações de potássio 30 e 60 minutos após a chegada e de magnésio, no grupo -RI+ME, ao final do segundo anel. Elevação na osmolalidade foi registrada neste grupo no mesmo tempo anteriormente referido. Embora a administração de ME não tenha influenciado a atuação em prova dos animais, o resfriamento com água foi determinante para o bom desempenho dos eqüinos.Palavras-chave: eletrólitos, repositor eletrolítico, eqüinos

Summary: During prolonged endurance exercise there is a progressive depletion of body fluid and electrolyte stores via sweating which is related to the development of fatigue in horses during endurance rides. The effects of cooling with water and the administration of electrolyte replenisher on serum osmolal-ity and electrolytes were determined in horses submitted to a low-intensity long-duration exercise test (ET). Twenty-four male and female horses, Mangalarga and Arabian breeds, were used in an exercise test, constituted of two stretches of 20 and 10 km each, with a 30-min interval. The horses were divided into four groups. Two groups received intermittent cooling (+RI) and the

other two did not (-RI), and alternately, one of the bathed and non bathed groups received electrolyte supplement (+ME or -ME). The horses of the groups +RI+ME and -RI+ME received electrolyte supplement (ME) during the rest interval and at end of the run, while the others, +RI-ME and -RI-ME, were not supplemented. Determination of serum osmolality and serum concentrations of Na, K, Cl, Ca, P and Mg were done at rest, mid-ride and finish, and 30 and 60 min after the ET end. Elec-trolyte changes occurred only with regard to potassium, which decreased 30 and 60 min after the exercise test, and to mag-nesium, which decreased in group -RI+ME at the end of the second stretch. The osmolality increased in the -RI+ME group at the same moment. Although the administration of ME had no influence on animals’ test results, cooling with water showed to be determinant for the good performance in horses.Key words: electrolytes, electrolyte replenisher, horses

Introdução

Tem crescido nos últimos anos o interesse pelas provas eqüestres de resistência, conhecidas como enduro, as quais são freqüentemente realizadas em condições de temperatura ambiente e umidade relativa do ar elevadas. A grande quantidade de calor gerado pela atividade muscular, estimula os mecanismos de termorregulação, aumentando a sudação e levando a perdas significativas de líquidos e eletrólitos.

No cavalo a sudação constitui o principal meio para dissipação ativa de calor e pode causar perdas eleva-das de potássio, sódio e cloro uma vez que o suor é hipertônico em relação ao plasma (Carlson e Olcen, 1979; Kerr e Snow, 1983; McCutcheon et al., 1995). Durante a realização de uma prova de média duração e baixa intensidade, os cavalos podem perder 8 a 10 % da massa corporal, ainda que o exercício seja rea-lizado em condições ambientais moderadas ou frescas

Efeitos do resfriamento intermitente e de repositor eletrolítico sobre a osmolalidade e eletrólitos séricos de eqüinos submetidos a exercício de baixa intensidade

Effects of intermittent water cooling and electrolyte supplements on serum osmolality and electolytes of horses during low-intensity exercise

José Corrêa de Lacerda-Neto1*, Rita de Cássia de Lima Sampaio1, Guilherme Camargo Ferraz2, Antônio Raphael Teixeira-Neto2, Daniela Mello Pereira1, Evaldo Antônio Lencioni Titto3, Marileda Bonafim Car-

valho1, Antônio de Queiroz-Neto2

1 Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP, Via de Acesso Prof. Castellane, km 5 - 14884-900, Jaboticabal, São Paulo, Brasil.

2 Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, FCAV/UNESP3 Departamento de Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos/USP, campus de Pirassununga, São Paulo, Brasil.

* Correspondente: [email protected]

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(Lacerda e Marques, 1999).Carlson e Ocen (1979) demonstraram grandes

diferenças nas concentrações de eletrólitos de suores oriundos de eqüinos participando de competições de enduro e atribuíram estas variabilidades às perdas substanciais de água através da evaporação. Evidências marcantes de hipertonicidade do suor em relação ao plasma foram determinadas por Rose et al. (1980) ao estudarem este parâmetro em cavalos competindo na etapa de resistência dos eventos de três dias. MacCo-naghy et al. (1995) observaram que diferentes padrões de treinamento não afetam a composição do suor e que este, praticamente, não se altera ao longo do tempo de realização dos exercícios.

Uma alteração referida como síndrome do cavalo exausto foi descrita como conseqüência de insufici-ência termorregulatória nessa espécie (Carlson, 1983, 1985). Os cavalos afetados sofrem fadiga, hipertermia e perdas acentuadas de líquidos e eletrólitos. As mani-festações clínicas incluem mal desempenho, diminui-ção da taxa de sudação, redução da perfusão sangüínea periférica, taquicardia e taquipnéia. A temperatura costuma elevar-se, atingindo valores entre 40 e 42 °C, nos casos menos graves ou até 43 a 45 °C nos casos extremos. Desenvolve-se desidratação hipotônica, devido às perdas de líquidos e eletrólitos, capaz de inibir o estímulo dipsogênico, devido a insuficiência da osmolalidade (Schott II et al., 1997). Outros distúrbios metabólicos graves podem ocorrer, como rabdomiólise, flutter diafragmático sincrônico, estase gastrointestinal, cólica, insuficiência renal, desordens do sistema ner-voso central, laminite e morte.

Aplicação intermitente de água fria sobre a superfí-cie cutânea contribui significativamente para a dissi-pação do calor gerado pela intensa atividade muscular (Marlin et al., 1998). Segundo esses autores, após a perfusão da pele o sangue é drenado para as porções internas do organismo, contribuindo para a diminuição da temperatura na artéria pulmonar, reto e músculos. O resfriamento, mediante emprego de banho com água, constitui um procedimento de rotina nas provas de enduro, embora evite-se o uso de água gelada, pois acredita-se que o seu uso possa causar cãibras.

A reposição de eletrólitos constitui um aspecto fun-damental, uma vez que é capaz de impedir o desenvol-vimento dessas alterações. O desempenho de eqüinos realizando uma prova de enduro foi, segundo Coenen et al. (1995), significativamente melhor nos animais que receberam cloreto de sódio quatro horas antes da prova do que nos que receberam apenas uma hora antes.

Assim sendo, torna-se imperativo o estudo dos meca-nismos fisiológicos envolvidos na regulação térmica durante atividade física e o desenvolvimento de pro-cedimentos que combatam a hipertermia e minimizem o déficit hidro-eletrolítico. Dessa forma, decidiu-se avaliar o efeito do resfriamento com água e da suple-mentação de mistura eletrolítica sobre a homeostase de

eletrólitos de cavalos submetidos a exercício físico de longa duração e média intensidade.

Material e métodos

Os experimentos utilizaram 24 eqüinos das raças Puro Sangue Árabe e Mangalarga, machos e fêmeas, com idades entre cinco e quinze anos. Os animais receberam alimentação constituída de concentrados e volumosos, além de sal mineralizado ad libitum. Após seis semanas de treinamento, os eqüinos foram subme-tidos a um Exercício Teste (ET), quando percorreram 30 km, divididos em um trajeto de 20 km e outro de 10 km, em velocidade média de 200 m/min. O último quilômetro, de cada trajeto, foi percorrido a trote. No intervalo entre os anéis, tiveram 30 min para repouso, realização dos procedimentos experimentais, coleta de dados e exames físicos.

As perdas de água (PA) foram determinadas ao final do ET, através da fórmula de Carlson (1992): [(PC1 - PCx) x 0,9] = PAx, onde o PC1 refere-se ao peso cor-poral no momento do repouso e PCx ao peso corporal no momento investigado.

Os animais foram distribuídos aleatoriamente por raça em quatro grupos, compostos, cada um, de seis indivíduos. O grupo controle, denominado -RI -ME, não recebeu resfriamento intermitente (RI) e nem mistura de eletrólitos (ME). Um segundo grupo foi constituído por eqüinos que não receberam ME, mas foram resfriados, denominado +RI -ME. Um terceiro grupo foi formado pelos cavalos que receberam ME, mas não foram banhados (-RI +ME). Finalmente, um quarto grupo, constituído pelos animais que receberam tanto ME como banho, foi instituído (+RI +ME). Os eqüinos foram pesados 30 min antes de iniciar-se o ET em balança do tipo gaiola.

A largada para o ET foi efetuada em duplas, saindo cada conjunto a intervalo de 10 min. À chegada de cada um dos trajetos do percurso os animais tiveram seus arreios imediatamente retirados, procedendo-se, durante os 10 min subsequentes, à pesagem e coleta de amostras. Em seguida, os eqüinos dos grupos +RI -ME e +RI +ME, foram encaminhados a local sombreado para receberem o resfriamento. Duas pessoas portando um regador com capacidade para 10 litros, colocaram-se de cada lado do cavalo e aspergiram um jato d’água à temperatura ambiente, durante 60 seg, desde a cabeça até a região lombar e pernas, evitando-se a garupa. As mesmas pessoas empunharam então um rodinho manual o qual foi passado sobre a superfície cutânea para remoção da água, demorando-se nessa atividade outros 60 seg. Cinco ciclos foram realizados até com-pletarem-se 10 min. Os demais eqüinos dos grupos -RI -ME e -RI +ME, não receberam nenhum resfriamento. Ao final do período de resfriamento, os animais foram encaminhados para exame físico. Esses procedimentos foram realizados em 30 min.

Os eqüinos dos grupos -RI +ME e +RI +ME recebe-

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ram, por via oral, no intervalo da prova e ao seu final, uma mistura de eletrólitos contendo 30 g de cloreto de sódio, 15 g de cloreto de potássio, 7 g de cloreto de cálcio e 9 g de óxido de magnésio. Os demais grupos nada receberam. Colheitas de sangue foram realizadas antes de iniciar-se o ET, no intervalo, ao final e 30 e 60 minutos após a chegada, para determinação sérica da osmolalidade e das concentrações de sódio, potássio, cloro, cálcio, fósforo e magnésio. Frascos sem antico-agulante foram utilizados para acondicionar as amos-tras. Após a colheita, as amostras de sangue foram refrigeradas durante 30 min e, em seguida, submetidas à centrifugação (1700 g durante 5 min) para obtenção dos soros, que foram conservados a –18 °C, até que se procedessem às análises.

As concentrações séricas de sódio e potássio foram aferidas por meio de fotometria de chama; as de clo-reto pelo método de Fried et al. (1972), as de fósforo e cálcio, pelos métodos de Goldenberg e Fernandez (1966) e Gindler e King (1972), respectivamente. As concentrações de magnésio foram determinadas de acordo com metodologia dos “kits” comerciais da Labtest.

A osmolalidade sérica foi avaliada, em mOsmol/kg, por mensuração da depressão do ponto de congelação (Osmette III, modelo 5010, Precision Systems Inc., Nattick, MA-USA).

Exames físicos foram realizados antes do início da prova e 20 minutos após o término de cada percurso. O exame clínico consistiu na verificação das freqüências cardíaca e respiratória, da coloração de mucosas con-juntival e gengival e do tempo de preenchimento capi-lar. Também foram efetuadas verificações da qualidade do movimento e da sensibilidade dos músculos costais, lombares, da garupa e coxais, mediante inspeção dos animais ao trote e palpação, respectivamente. Os ani-mais que ao exame não se apresentaram em condições clínicas perfeitas, em qualquer um dos momentos, foram desqualificadas e retirados do teste.

Ao final do teste, os eqüinos foram pontuados esta-belecendo-se uma ordem de classificação, tomando-se por base inicialmente o tempo de prova e, em seguida, quando havia coincidência deste, a freqüência cardíaca determinada no último exame. A pontuação conven-cionada para cada lugar foi: 1O lugar (100 pontos), 2O lugar (80 pontos), 3O lugar (60 pontos), 4O lugar (40 pontos), 5O lugar (30 pontos), 6O lugar (25 pontos), 7O lugar (20 pontos), 8O lugar (15 pontos), 9O lugar (10 pontos) e 10O lugar (5 pontos). Acima desta colocação os animais receberam 1 ponto. Os animais desqualifi-cados não receberam pontuação. A partir destes dados determinou-se o melhor desempenho entre os grupos estudados.

A análise estatística para o item classificação foi realizada através de Análise de Variância, pelo teste não paramétrico de comparação de média de Kruskal-Wallis (P<0,05) e para as demais características pelo teste de comparação de médias (Teste de Tukey), com

nível de significância igual a P<0,01 e P<0,05 (Gomes, 1976).

Resultados

Todos os eqüinos concluíram a prova recebendo pon-tuação, exceto dois animais que apresentaram claudi-cação no último exame veterinário, tendo sido desqua-lificados. Os animais em condições clínicas adequadas foram classificados de acordo com seu desempenho e condições físicas. A somatória dos valores individu-ais determinou uma ordem de desempenho para cada grupo, conforme apresentado na Tabela 1. Os grupos que receberam resfriamento intermitente apresentaram melhor desempenho do que aqueles não resfriados.

Tabela 1 - Classificação geral dos eqüinos participando dos Exercícios Testes distribuídos por grupos.

Pontuação Classificação Grupos

260 1O +RI -MEa, b

210 2O +RI +MEb, a

160 3O -RI +MEc, d

135 4O -RI -MEd, c

Grupos designadas com letras iguais não registraram diferenças estatis-ticamente significativas entre si pelo teste não paramétrico de Kruskal-Wallis (P<0,05).

Os eqüinos apresentaram diminuição de peso ao final do ET. A maior perda de peso foi de 28 kg (7,3%) para um animal do grupo +RI -ME. A menor perda de peso registrada foi de 4 kg (1,06%) para um eqüino do grupo +RI +ME. Inesperado ganho de peso foi detec-tado em um eqüino do grupo -RI +ME na última deter-minação do peso corporal. As Médias ± erro padrão da média (EPM) das perdas de peso e de água de eqüinos dos quatro grupos estudados estão relacionadas na Tabela 2. Não foram registradas diferenças significa-tivas entre os grupos, tanto para a perda de peso como para a perda de água.

Tabela 2 - Médias ± EPM das perdas de peso e de água dos eqüinos dos grupos -RI -ME, -RI +ME, +RI -ME e +RI +ME determinadas ao final do Exercício Teste.

Perda de peso

GRUPOS kg % em relação ao peso inicial

Perda de água (L)

-RI -ME 19,0 ± 2,86 5,57 17,1 ± 2,57

+RI -ME 19,7 ± 2,09 4,83 17,7 ± 1,88

-RI +ME 15,4 ± 5,67 3,38 12,5 ± 5,33

+RI +ME 19,0 ± 4,01 4,54 17,1 ± 4,04

* Não se observaram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos para estas variáveis.

Os valores médios ± EPM dos valores da osmolali-dade sérica (mOsmol/kg) de eqüinos dos grupos -RI -ME, +RI -ME, -RI +ME e +RI +ME determinados em repouso, após 120 e 210 min de exercício e, em

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seguida ao esforço, aos 240 e 270 minutos estão rela-cionados na Tabela 3. Os eqüinos do grupo -RI +ME apresentaram aumento da osmolalidade ao final do último trajeto (210 min).

As Médias ± EPM das concentrações séricas de sódio, potássio, cloro, cálcio, fósforo e magnésio em mmol/L dos eqüinos em repouso e aos 120, 210, 240 e 270 minutos dos grupos -RI -ME, +RI -ME, -RI +ME e +RI +ME estão relacionados na Tabela 4. As concentrações séricas de potássio diminuíram signi-ficativamente aos 240 minutos nos grupos -RI-ME, -RI+ME e +RI+ME e ao final do período de repouso (270 min) nos grupos +RI -ME, -RI +ME e +RI +ME. As concentrações de magnésio do grupo -RI +ME foram maiores que as registradas para os outros grupos ao final do último trajeto (210 min).

Médias seguidas por letras iguais não diferem sig-nificativamente entre si pelo teste de Tukey (P<0,05). Letras maiúsculas indicam comparações nas linhas e letras minúsculas comparações nas colunas. Para as variáveis cujos valores não estão acompanhados de letras, maiúsculas ou minúsculas, não se observaram diferenças estatisticamente significativas

Discussão

Na fase inicial do exercício de baixa intensidade ocorre expansão do volume plasmático em função do desvio de líquidos e proteínas, originários do sistema linfático e interstício, para o espaço intravascular (Naylor et al., 1993). Entretanto, à medida que o tra-balho físico se prolonga há necessidade de dissipação do calor gerado pela atividade muscular e uma parcela importante deste líquido é perdida através da sudação. Segundo Carlson (1987) os eqüinos chegam a perder, durante provas de resistência, entre 10 e 15 litros de suor por hora. No presente estudo, as perdas de líquido foram ligeiramente inferiores a esses valores, possivel-mente devido à baixa intensidade do exercício (200 m/min), quando comparada às velocidades médias de provas oficiais de enduro, onde estas chegam a ultra-passar os 300 m/min (Ecker e Lindiner, 1995). Embora o suor dos eqüinos tenha uma concentração de eletró-litos mais elevada em relação ao plasma, isto só é ver-dadeiro para o cloro, o potássio e o cálcio, sendo isotô-nico em relação ao sódio (Kerr et al., 1983). Devido a

esta característica, apesar das elevadas perdas hídricas, as concentrações séricas de sódio, praticamente não se alteram durante o transcorrer do exercício e os achados deste trabalho corroboram esta asserção, posto que não se observaram alterações desta variável em nenhum dos grupos estudados, nos diferentes momentos.

Estudos conduzidos por Coenen et al. (1995) demonstraram elevações nas concentrações de sódio e cloro em eqüinos suplementados quatro e uma hora antes de iniciar-se o exercício, porém os autores utili-zaram estes eletrólitos em quantidades 10 vezes maio-res que as utilizadas nesta pesquisa e o fizeram na fase de repouso, antes de se observar a ocorrência de déficit no volume plasmático. O período de seis semanas de treinamento, pelo qual passaram os eqüinos deste estudo, foi suficiente para promover adaptações ter-morregulatórias nestes animais. Um aspecto decorrente da adaptação termorregulatória de eqüinos para enduro é expansão do volume de líquido corporal (Rose e Hodgson, 1994). Este mecanismo habilita os atletas a desenvolverem atividade física durante períodos pro-longados sem sofrer as agrurias da desidratação pre-coce. A administração de eletrólitos durante o exercí-cio prolongado, seguido da oferta de água para bebida, oferece a oportunidade ao organismo de recompor o volume hídrico original, o que certamente é realizado pelo desenvolvimento da sensação de sede. Os estímu-los fisiológicos responsáveis pelo reflexo dipsogênico são a elevação da osmolalidade plasmática, associada à elevação da concentração plasmática de sódio, com ou sem hipovolemia (Anderson, 1978).

Como o suor dos eqüinos possui uma concentração semelhante para o sódio em relação ao plasma (McCu-tcheon et al., 1995), aumentos na osmolalidade ou na concentração plasmática de sódio, não são necessaria-mente observados e o reflexo dipsogênico pode não ser estimulado até que se desenvolva um grau signifi-cativo de hipovolemia (Nyman et al., 2002). Segundo Marlin et al. (1996), embora as perdas de água cor-poral através da sudação sejam significativas durante exercícios prolongados, as concentrações séricas de sódio mantém-se dentro de valores fisiológicos para impedir alterações na osmolalidade plasmática, uma vez que este cátion é o mais importante regulador desta função no organismo. A ingestão de água ao final de cada etapa do exercício pode atrasar, ainda mais, esta

Tabela 3 - Média ± EPM da osmolalidade (mOsmol/kg) sérica de eqüinos dos grupos -RI- ME, +RI -ME, -RI +ME e +RI +ME determinados em repouso, após 120 e 210 min de exercício e, em seguida ao esforço, aos 240 e 270 minutos.

GruposTempos (minutos)

0 120 210 240 270

-RI -ME 281 ± 4A, a 279 ± 7A, a 272 ± 25A, a 285 ± 5A, a 288 ± 7A, a

+RI -ME 286 ± 6A, a 286 ± 4A, a 280 ± 15A, a 286 ± 7A, a 286 ± 8A, a

-RI +ME 285 ± 4A,a 293 ± 3A, a 312 ± 9B,a 283 ± 8A, a 285 ± 6A, a

+RI +ME 292 ± 10A, a 278 ± 12A, a 280 ± 15A, a 274 ± 5A, a 288 ± 7A, a

Médias seguidas por letras iguais não diferiram significativamente entre si pelo teste de Tukey (P<0,05). Letras maiúsculas indicam comparações nas linhas e letras minúsculas comparações nas colunas.

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resposta. Apenas nos eqüinos do grupo -RI+ME houve elevação significativa da osmolalidade em momento crítico da prova, aos 210 min. O fato dos eqüinos deste grupo não terem recebido resfriamento intermitente logo após o intervalo dos 120 min, provavelmente ativou os mecanismos termorregulatórios, estimulando a sudação e, desta forma, aumentando, ainda mais, as perdas hidro-eletrolíticas. Neste grupo, observou-se, ainda, elevação do magnésio sérico concomitante ao aumento da osmolalidade. A ocorrência destes fatos permite inferir que, para este grupo, apesar do aumento da concentração sérica de magnésio, a elevação da osmolalidade deu-se, provavelmente, devido à retração do volume plasmático.

Uma outra condição deve ser considerada em relação às concentrações séricas de sódio, pois diminuições deste eletrólito podem não ser detectadas quando ocorre, concomitantemente, perdas de sódio e água. Nestas condições, embora o animal possa desenvolver quadro de clínico de exaustão, esta estará associada ao desinteresse por água, ou seja o animal fica desi-dratado, mas não bebe água, pois a osmolalidade não se altera (Carlson, 1985). Em relação à reposição de

eletrólitos, uma superdosagem de sal deve ser evitada porque a pressão sangüínea pode ser influenciada. Outro risco potencial é a liberação do peptídeo natriu-rético (McKeever, 1991) que pode levar a um aumento na excreção renal de sódio. O que conflitaria com o objetivo primário que é o de evitar déficits massivos associados com perdas de eletrólitos via sudação. Entretanto, nas dosagens de NaCl utilizadas neste tra-balho não houve risco de superdosagem.

Com relação às concentrações séricas de cloro, encontradas neste trabalho, foi verificado que, na grande maioria dos casos, os valores permaneceram dentro da faixa compreendida entre 100 e 120 mmol/L, demonstrando a inter-relação existente entre o grau de esforço, condições ambientais e perdas eletrolíticas. O esforço ao qual foram submetidos os animais não permitiu grandes modificações na dinâmica do ânion cloro. Contrariamente, quando é notado hipocloremia, durante a prática de exercício físico, os eqüinos podem desenvolver sintomatologia clínica condizente com a síndrome da exaustão eqüina (Carlson, 1985).

Quanto ao comportamento dinâmico do potássio sérico, notou-se, apesar do tipo moderado de exercício

Tabela 4 - Média ± EPM das concentrações séricas de sódio, potássio, cloro, cálcio, fósforo e magnésio em mmol/L, dos eqüinos dos grupos -RI -ME, +RI -ME, -RI +ME e +RI +ME determinados em repouso, após 120 e 210 min de exercício e, em seguida ao esforço, aos 240 e 270 minutos.

Eletrólitos GruposTempos (minutos)

0 120 210 240 270

Sódio-RI -ME 137 ± 4 141 ± 4 148 ± 9 150 ± 4 147 ± 4+RI -ME 144 ± 5 151 ± 4 151 ± 2 147 ± 2 152 ± 5-RI +ME 145 ± 4 149 ± 5 152 ± 4 149 ± 4 148 ± 4+RI +ME 152 ± 7 143 ± 3 147 ± 2 152 ± 10 152 ± 6

Potássio-RI -ME 3,9 ± 0,3A, a 3,8 ± 0,2A, B, a 3,5 ± 0,4A, B, a 2,7 ± 0,3B, a 3,0 ± 0,3A, B, a

+RI -ME 4,0 ± 0,2A, a 3,8 ± 0,2A, B, a 3,6 ± 0,3A, B, a 2,9 ± 0,4A, B, a 2,7 ± 0,4B, a

-RI +ME 3,7 ± 0,2A, a 3,9 ± 0,2A, a 3,7 ± 0,4A, B, a 3,0 ± 0,3B, a 2,9 ± 0,2B, a

+RI +ME 4,0 ± 0,1A, a 3,8 ± 0,3A, B, a 4,0 ± 0,5A, B, a 3,0 ± 0,4B, a 2,8 ± 0,3B, a

Cloro-RI -ME 110 ± 5 107 ± 4 103 ± 8 96 ± 2 106 ± 3+RI -ME 111 ± 6 112 ± 9 107 ± 8 113 ± 10 110 ± 8-RI +ME 112 ± 7 110 ± 7 112 ± 7 95 ± 15 111 ± 7+RI +ME 107 ± 2 103 ± 3 109 ± 7 105 ± 4 105 ± 4

Cálcio-RI -ME 3,0 ± 0,2 3,0 ± 0,1 3,0 ± 0,1 3,0 ± 0,1 3,0 ± 0,1+RI -ME 3,0 ± 0,1 3,0 ± 0,2 3,0 ± 0,2 3,1 ± 0,2 3,0 ± 0,1-RI +ME 3,2 ± 0,2 3,2 ± 0,1 3,3 ± 0,3 2,6 ± 0,4 2,9 ± 0,2+RI +ME 2,9 ± 0,2 3,1 ± 0,3 2,7 ± 0,2 2,6 ± 0,2 2,9 ± 0,2

Fósforo-RI -ME 0,9 ± 0,1 1,0 ± 0,1 1,0 ± 0,1 0,9 ± 0,0 1,0 ± 0,1+RI -ME 0,8 ± 0,0 0,9 ± 0,1 1,0 ± 0,1 0,9 ± 0,1 0,9 ± 0,1-RI +ME 0,8 ± 0,0 0,9 ± 0,1 1,0 ± 0,1 1,0 ± 0,1 0,9 ± 0,1+RI +ME 0,8 ± 0,0 1,0 ± 0,1 1,0 ± 0,1 1,0 ± 0,1 0,9 ± 0,1

Magnésio-RI -ME 0,8 ± 0,1A, a 0,7 ± 0,0A, a 0,7 ± 0,0A, a 0,7 ± 0,1A, a 0,8 ± 0,1A, a

+RI -ME 0,7 ± 0,1A, a 0,7 ± 0,0A, a 0,7 ± 0,0A, a 0,7 ± 0,1A, a 0,7 ± 0,1A, a

-RI +ME 0,7 ± 0,0A, a 0,8 ± 0,1A, a 0,8 ± 0,0A, b 0,8 ± 0,0A, a 0,9 ± 0,1A, a

+RI +ME 0,7 ± 0,1A, a 0,7 ± 0,1A, a 0,7 ± 0,0A, a 0,8 ± 0,1A, a 0,9 ± 0,0A, a

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realizado neste estudo, o desenvolvimento de hipoca-lemia no decorrer do exercício. O potássio diminuiu ao final do último percurso. Diminuições nas concen-trações de potássio podem ser atribuídas a diversos fatores (Lacerda Neto e Marques, 1999). Inicialmente, deve-se considerar a grande quantidade deste íon pre-sente no suor, em seguida a menor importância deste íon na regulação da osmolalidade. Segundo Jahn et al. (1996) diminuições nas concentrações séricas de potássio estariam relacionadas ao aumento da excreção renal e conseqüente retenção renal de sódio com obje-tivo de aumentar a expansão do líquido extracelular, em resposta à desidratação. Finalmente, uma rápida hipocalemia ocorreria como conseqüência da ingestão de grandes volumes de água e conseqüente mobiliza-ção desta para o compartimento intravascular, promo-vendo diluição deste cátion. Segundo Knochel (1972) e Fettman (1986), a depleção de potássio altera o poten-cial de membrana, podendo reduzir, na musculatura lisa vascular, a sensibilidade frente às catecolaminas, promovendo vasodilatação periférica com conseqüente redução do fluxo sangüíneo central.

Poucos são os estudos enfocando determinações da osmolalidade plasmática em provas de resistência. Elevações desta variável foram registradas em provas de enduro com distâncias semelhantes ou ligeiramente superiores à utilizada nesta pesquisa (Schott II et al., 1997), assim como registrou-se aumento da osmolali-dade em situações onde administrou-se previamente cloreto de sódio (Coenen et al., 1995). Porém, nos poucos relatos que se teve acesso, a osmolalidade per-maneceu inalterada na grande maioria dos animais que chegaram ao final do percurso de longa distância, sem apresentar sinais de alteração metabólica (Nyman et al., 1996; Schott II et al., 1997).

Embora ocorram perdas significativas de água e eletrólitos através da sudação durante o exercício pro-longado, não se observaram alterações significativas de eletrólitos séricos nos diferentes tempos estudados, exceto para potássio e magnésio. A diminuição do potássio foi atribuída à redistribuição deste cátion e de líquido nos espaços intra e extra vascular, assim como às trocas renais com o sódio na tentativa de manuten-ção da osmolalidade, não tendo sido influenciada pelos tratamentos. A elevação da concentração de magnésio no grupo que recebeu apenas repositor eletrolítico está, aparentemente, relacionada à administração tanto da mistura eletrolítica como da ativação máxima de meca-nismos termorreguatórios e diminuição do volume plasmático, já que os animais deste grupo não recebe-ram resfriamento intermitente. O resfriamento inter-mitente contribuiu significativamente para o melhor desempenho dos animais, porém esta característica não foi influenciada pela administração de mistura eletrolí-tica. Considerando os dados desta pesquisa, conclui-se que seis semanas de treinamento foram suficientes para conferir condicionamento físico aos eqüinos que parti-ciparam das provas de 30 km de extensão. A adminis-

tração de pequenas quantidades de RE, a partir de uma fase adiantada do ET, apresenta eficiência limitada e, aparentemente, não melhora o desempenho. Por outro lado, o resfriamento intermitente no meio e ao final do percurso é preponderante para o bom desempenho dos animais.

Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), que financiou integralmente a presente pesquisa (Processo n. 00/04169-0).

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CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

Resumo: O estudo analisou o potencial poluidor de águas residuais de suinicultura, acondicionadas em um tanque de armazenamento, com quatro tempos de retenção hidráulica, e aplicadas em lisímetros com três tipos de solos. Foram avalia-das as concentrações de azoto, nitrito, nitrato e os valores de pH nas águas residuais in natura e após a retenção hidráulica, nos percolados dos lisímetros e nos solos. As concentrações de nitrito, nitrato e de azoto, nas amostras líquidas e sólidas, foram determinadas através de espectrofotômetros colorimétricos e os valores de pH foram mensurados potenciometricamente. O armazenamento foi eficiente na redução das concentrações de nitrito, aos níveis exigidos pelas legislações brasileiras, não contribuindo para a redução, até os valores máximos permitidos por lei, das concentrações de azoto. A aplicação no solo gerou reduções nas concentrações de nitrito nos percolados. Contudo, a eficiência na remoção das concentrações de azoto e nitrato não foi satisfatória, promovendo efluentes fortemente eutrofizantes e poluentes. O solo argiloso foi o mais beneficiado com este sis-tema de tratamento, apresentando as maiores concentrações de azoto e nitrato, seguidos pelos solos arenosos e médios.

Summary: The study analysed the pollution potential of was-tewater from swine breeding, conditioned in a storage tank, with four times of hydraulic retention, and applied in lysimeters with three kinds of soils. Quantifications were carried out of the nitro-gen, nitrite, nitrate and pH values in the in natura residual waters and after the hydraulic retention, within the percolating lysi-meters and in the soils. Concentration of the nitrite, nitrate and nitrogen, in the liquid and solid samples were determined using colorimetric spectrophotometers and pH values were measured using a potentiometer. Storage was effective in the reduction of nitrite concentrations to the levels required by Brazilian legis-lation, not contributing for reduction of nitrogen concentrations to the levels required by legislation. Application on soil resulted in reduction of nitrite concentrations in the percolates. However the effectiveness in the removal of nitrogen and nitrate concen-trations was not satisfactory, promoting effluents in consonance with those eutrophied and polluted. The clayish soil was the most beneficial with this integrate system of treatment, presen-ting the highest concentrations of nitrogen and nitrate, followed by sandy and medium soils.

Introdução

A deposição de águas residuais de suinicultura em tanques de armazenamento, em torno de 120 dias, com a posterior aplicação no solo, constitui um dos mais simples e mais usados métodos visando o trata-mento e destino final dos afluentes e a reciclagem da água na agricultura (Bastos, 1999). Todavia, grandes quantidades de águas residuais dificultam a aplicação deste fertilizante orgânico em níveis absorvíveis pela vegetação (Miranda, 1999) possibilitando, graças à permanência de certos minerais no solo (N, P, K), pro-blemas de fitotoxicidade e/ou de poluição aos manan-ciais e sedimentos (L’Herroux et al., 1997).

A maior parte dos nutrientes, inicialmente presente na alimentação dos suínos, passa através do sistema digestivo, sendo excretado na urina e nas fezes, perfa-zendo um total de 80% do azoto e fósforo ingeridos e mais de 90% do potássio.

Nas últimas décadas, os níveis excedentes das formas oxidadas de azoto, nos aqüíferos subterrâneos e nas raízes de frondosas vegetações, vêm sendo atri-buídos a intervenções humanas como atividades agrí-colas, deposição de resíduos de animais e processos industriais (Forman et al., 1985; Bruning-fann et al., 1994).

O nitrato induz a metahemoglobinemia em seres humanos. Esta enfermidade está relacionada com a conversão bacteriana do nitrato em nitrito, durante a digestão, resultando na formação da metahemo-globina, a qual é incapaz de transportar o oxigênio durante o processo da respiração, podendo culminar em morte (Forman et al., 1985; Ferreira, 2001).

Para prevenir esta enfermidade a Organização Mun-dial de Saúde recomenda um limite máximo de 10 mgL-1 de nitrato-N e 1 mgL-1 de nitrito-N em águas destinadas ao consumo (WHO, 1989).

A legislação ambiental vigente no Brasil considera a

Ocorrência das formas de azoto nas águas residuais de suinicultura e em três tipos de solos

Occurrence of the nitrogen forms in the wastewater from swine breeding and in three types of soils

L. S. S. Barros*, L. A. Amaral e J. L. Júnior

Universidade Estadual Paulista - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias - Departamentos de Engenharia Rural e de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal - Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane km 05, CEP: 14 884 900, Jaboticabal - São Paulo - Brasil

* Correspondente: e-mail [email protected]; tel. 16-32092646

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suinicultura uma atividade altamente poluidora, deter-minando para os produtores rigorosos pré-requisitos para a instalação de criadouros e padrões de lança-mento. É certo que, quando corretamente tratados, os efluentes podem retornar aos cursos d’água sem causa-rem nenhum dano à autodepuração (Miranda, 1999).

Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi analisar o potencial de poluição de águas residuais de suinicultura, acondicionadas em um tanque de armaze-namento, com distintos tempos de retenção hidráulica e aplicadas, posteriormente, em lisímetros preenchidos com solos arenosos (Argiloso Vermelho - Amarelo Distrófico A Moderado Textura Arenosa/Média - PVA), argilosos (Latossolo Vermelho Distroférrico A Moderado Textura Argilosa - LV) e médios (Latossolo Vermelho Distrófico A Moderado Textura Argilosa - LV), utilizando, para tal, determinações dos valores de pH, de azoto total kjeldahl, nitrito e nitrato na água residual in natura e após os quatro tempos de retenção hidráulica, nos percolados dos lisímetros e nos solos em quatro profundidades.

Material e métodos

O projeto foi executado em um sistema integrado, sendo constituído por uma caixa de armazenamento e por vinte e quatro lisímetros, ambos instalados em área experimental do Departamento de Engenharia Rural da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Campus de Jaboticabal, da Universidade Estadual Paulista FCAV– UNESP.

Cada lisímetro era caracterizado por possuir 1 m de altura, 30 cm de diâmetro, três anéis, dispostos e fixos em seu interior, e a extremidade posterior selada com um capi. Conforme Corwin e LeMert (1994) e Corwin (2000), a proposta da utilização destes anéis foi promover um redirecionamento do fluxo de água na sua passagem pela coluna de solo, reduzindo assim o

efeito parede.Após o preenchimento dos lisímetros e antes dos

processos de incorporação das águas residuais com diferentes tempos de retenção hidráulica, alíquotas dos três tipos de solo foram enviadas ao Departamento de Solos e Adubos da FCAV/UNESP para a realização de testes de granulometria composta (análise textural) e de pH. A análise textural foi realizada com base na classificação proposta pelo Departamento de Agri-cultura dos Estados Unidos (USDA), segundo Day (1965). Os valores de pH foram obtidos conforme metodologias descritas por Raij e Zullo (1977) e Raij et al. (1987).

O pré - tratamento do resíduo foi realizado em um tanque de armazenamento, utilizando para tal uma caixa d’água com capacidade de 500 L. A carga teve como parâmetro um sistema de criação completa com 44 matrizes, caracterizada pela produção de dejetos líquidos com um teor de sólidos totais de 2% (Dartora et al., 1998), sendo este valor determinado segundo metodologia descrita por APHA (1992). Por fim, foi determinada uma relação de 38 kg de esterco para 362 kg de água. Não houve cobertura nem aeração do tanque de armazenamento, sendo este mantido sob proteção da chuva e ao final dos 120 dias de retenção, cerca de 50% do volume inicial havia evaporado.

Após 0, 30, 60, 90 e 120 dias de retenção hidráulica do resíduo procedeu-se à incorporação deste nos lisí-metros. Para a determinação da quantidade do resíduo a ser incorporado, primeiramente, era quantificado o teor de azoto total kjeldahl (NTK) do esterco. A seguir, tendo como base este dado, os valores de azoto indi-cados para culturas forrageiras (400 kg.ha-1/ano) e a área da superfície de solo do lisímetro (0,068 m2), a incorporação era realizada, seguida da simulação plu-viométrica.

Havia, no total, dois conjuntos de lisímetros, com 12 em cada. Para a primeira incorporação foi utilizado o

Tabela 1 - Valores de granulometria composta, de capacidade de troca catiônica (T) e de pH dos três tipos de solos, no momento prévio ao preenchimento dos lisímetros, destinados a incorporação do efluente do tanque de armazenamento com zero (T0), trinta (T30), sessenta (T60), noventa (T90) e cento e vinte (T120) dias de retenção hidráulica.

1 (T0)

2 (T0)

3 (T0)

1(T30)

2 (T30)

3 (T30)

1 (T60)

2 (T60)

3 (T60)

1 (T90)

2 (T90)

3 (T90)

1 (T120)

2 (T120)

3 (T120)

pH em CaCl2

4,3 5,8 5,2 4,6 6,0 6,5 4,5 6,2 6,4 4,5 6,0 6,4 4,7 6,2 6,7

T (mmolc/dm3) 35,6 55,6 64,7 42,3 82,2 140,1 43,2 79,2 133,9 35,1 78,7 195,6 33,6 79,5 91,4

Argila 220 40 470 240 70 420 220 30 390 240 40 400 280 90 420

Limo 80 90 270 60 120 300 90 120 320 60 140 310 30 70 310

A. M. F. (g/kg) 90 250 40 90 250 40 90 240 50 90 240 50 90 230 50

A. F. (g/kg) 410 460 80 380 410 100 390 460 110 400 440 100 390 460 100

A. M. (g/kg) 180 150 100 210 140 110 190 140 110 190 130 110 190 140 100

A. G. (g/kg) 20 10 40 20 10 30 20 10 20 20 10 30 20 10 20

Areia total (g/kg) 700 870 260 700 810 280 690 850 290 700 820 290 690 840 270

Classe Textural MD ARN ARG MD ARN ARG MD ARN ARG MD ARN ARG MD ARN ARG

A. M. F. - Areia muito fina; A. F. - Areia fina; A. M. - Areia média; A. G. - Areia grossa; A. R. N. - solo arenosos; M.D. - solo médio; A. R. G. - solo argiloso; T - capacidade de troca catiônica1 - solo médio (MD); 2 - solo arenoso (ARN); 3 - solo argiloso (ARG)

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primeiro conjunto, sendo seis lisímetros destinados à simulação pluviométrica e seis à estiagem. Em cada situação climática, eram preenchidos dois lisímetros com os solos arenosos, dois com os solos argilosos e dois com os solos médios.

Para a segunda incorporação o segundo conjunto foi preenchido de maneira semelhante à efetuada com o primeiro conjunto. Para a terceira incorporação foi uti-lizado o conjunto da primeira incorporação, uma vez que já haviam transcorrido os trinta dias de simulação pluviométrica e a coleta dos solos. Continuando nesta linha de raciocínio, para a quarta incorporação foi uti-lizado o segundo conjunto e para a quinta incorporação o primeiro conjunto.

Para a simulação pluviométrica foi realizado um levantamento, na região de Jaboticabal /SP, dos meses críticos de chuva e de estiagem, entre o período de 1998 e 2000, obtendo-se, como resultado, os meses de Janeiro e Agosto de 1999, com 415,9 mm e 0 mm, res-pectivamente. Sendo assim, a partir dos dados diários da precipitação mensal do citado período, foram cal-culados o tempo específico de duração diária da pre-cipitação e a quantidade, em mm. Vale ressaltar que os dados meteorológicos, utilizados neste trabalho, foram extraídos de um conjunto de parâmetros pertencentes ao acervo da área de Agrometeorologia do Departa-mento de Ciências Exatas da FCAV/UNESP.

Durante a simulação pluviométrica, os percolados dos lisímetros foram coletados, duas vezes ao dia, em frascos esterilizados de cor âmbar para, então, serem analisados quanto às suas características físico-quími-cas. Com a finalização da simulação pluviométrica, cuja duração foi de um mês, e da percolação as amos-tras dos solos foram coletadas, dos lisímetros subme-tidos aos períodos de chuva e de estiagem em quatro profundidades: 0-5, 5-30, 30-60 e 60-90 cm e analisa-

das quanto às suas características físico-químicas. Nas amostras líquidas e sólidas o pH foi determinado

potenciometricamente. Os valores de nitrato, nitrito e azoto, nas amostras sólidas e líquidas, foram obtidos conforme métodos descritos pela Hach (1991).

Os dados dos resultados químicos dos solos foram submetidos à análise de variância e a diferença entre as médias aritméticas foi comparada pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade (Stell e Torrie, 1960).

Resultados

Tanque de armazenamento

Formas oxidadas de azoto e azoto total kjedahl (NTK)

Nas águas residuais in natura (T0) verificaram-se concentrações de 400 e 55 mgL-1, para o nitrito e nitrato, respectivamente, e de 840 mgL-1 para o NTK.

Nas águas residuais T30 foram visualizados valores de 100 e 130 mgL-1 para as concentrações de nitrito e nitrato, respectivamente. Já em relação às concentra-ções de NTK, os valores foram de 4340 mgL-1.

Nas águas residuais T60 foram verificadas con-centrações com 300 mgL-1 para o nitrito e 160 mgL-1 para o nitrato. O maior valor de NTK, em relação aos outros tempos, foi verificado, sendo representado por 7980 mgL-1.

A partir dos noventa dias de TRH (T90), as con-centrações das formas oxidadas de azoto e de NTK decresceram, com os valores de nitrato (80 mgL-1) maiores do que os de nitrito (0,2 mgL-1) e com o NTK alcançando valores na casa de 6160 mgL-1.

Aos cento e vinte dias de TRH (T120), a tendência à diminuição foi mantida, com o nitrito, o nitrato e o

Tabela 2 - Valores médios de pH nos solos arenosos (ARN), argilosos (ARG) e médios (MD), na época das chuvas, em quatro pro-fundidades (P), mensuradas em cm, e após a incorporação da água residual in natura (T0) e com trinta (T30), sessenta (T60), noventa (T90) e cento e vinte (T120) dias de retenção hidráulica.

SOLOS P (cm) T0 T30 T60 T90 T120

pH pH pH pH pH

ARN 0-5 5,8a 6,3a 6,7 a 6,3a 6,3a

ARN 5-30 5,9a 6,1a 6,6 a 6,2a 6,3a

ARN 30-60 6a 6,4a 6,8 a 6,4a 6,4a

ARN 60-90 6a 6,4a 6,7 a 6,3a 6,4a

ARG 0-5 5,6a 7,2a 7,5 a 7,3 a 7,1 a

ARG 5-30 5,4a 7,2a 7,5 a 7,3 a 7,1 a

ARG 30-60 5,5a 7,2a 7,5 a 7,3 a 7,2 a

ARG 60-90 5,5a 7,2 a 7,5 a 7,2 a 7,2 a

MD 0-5 5,2a 4,8 b 4,7 b 4,7 b 4,6 b

MD 5-30 4,4b 4,7 b 4,7 b 4,6 b 4,6 b

MD 30-60 4,5b 4,6 b 4,6 b 4,6 b 4,6 b

MD 60-90 4,4b 4,6 b 4,6 b 4,6 b 4,6 b

Em cada coluna valores seguidos de letras minúsculas diferentes diferem entre si, pelo teste de Tukey ao nível de 5%. Análise estatística efetuada para cada tipo de solo.

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NTK atingindo concentrações de 0,3, 20 e 5880 mgL-1, respectivamente.

Valores de pHFoi verificado um aumento dos valores de pH, de

6,65, referente às águas residuais in natura, para 8,52, correlacionado às águas residuais com 120 dias de retenção hidráulica (T120).

Percolados

Formas oxidadas de azoto e azoto total kjedahl (NTK)

A incorporação de água residual in natura (T0) promoveu concentrações de nitrito nos níveis de 3,42 mgL-1, para os percolados dos solos arenosos, 5,75 mgL-1, para aqueles dos solos argilosos, e 3,0 mgL-1, para os provenientes dos solos médios. Em relação às concentrações de nitrato, os maiores valores foram nos percolados dos solos argilosos (155,75 mgL-1), sendo seguidos pelos percolados dos solos arenosos (93 mgL-1) e médios (14,25 mgL-1). Já nos efluentes dos solos arenosos, argilosos e médios, as concentrações médias de NTK foram de 294, 252 e 336 mgL-1, respectivamente.

A incorporação da água residual com trinta dias de TRH (T30) resultou em percolados com as maiores concentrações de nitrito, em relação aos outros tempos de retenção, alcançando valores, em ordem decrescente, de 11,3 mgL-1, nos percolados dos solos arenosos, 10,6 mgL-1, nos dos solos argilosos, e 8,75 mgL-1, naqueles dos solos médios. Enfocando o nitrato, as concentrações foram menores nos percolados dos solos argilosos (63,4 mgL-1), sendo seguidos pelos dos solos médios (20 mgL-1) e dos solos arenosos (92,5 mgL-1). Por fim, em relação às concentrações de

NTK, os percolados dos solos argilosos (308 mgL-1) ocuparam destaque, seguidos dos percolados dos solos arenosos (280 mgL-1) e médios (140 mgL-1).

Os percolados dos lisímetros, cujo solo foi incor-porado com água residual após sessenta dias de TRH (T60), foram caracterizados por apresentarem declínios nas concentrações de nitrito. Nos percolados dos solos arenosos, argilosos e médios as concentrações foram de 0,026, 0,187 e 0,079 mgL-1, respectivamente. Este mesmo declínio, agora nas concentrações de nitrato, foi mantido nos percolados dos solos arenosos (77,5 mgL-1) entretanto, os valores deste elemento apresen-taram aumento, em torno de 100%, nos percolados dos solos argilosos (116 mgL-1) e dos solos médios (41 mgL-1). Foi verificado aumento nas concentrações de NTK nos percolados dos solos arenosos (308 mgL-1) e dos solos médios (322 mgL-1) e, diminuição nos perco-lados dos solos argilosos (196 mgL-1).

Nos percolados dos lisímetros incorporados com água residual com noventa dias de TRH (T90) as pequenas concentrações de nitrito foram mantidas, sendo representadas por um discreto aumento naque-les provenientes dos solos arenosos (0,033 mgL-1) e dos solos médios (0,383 mgL-1) e por diminuição nos percolados dos solos argilosos (0,035 mgL-1). Os per-colados dos solos argilosos continuaram a apresentar o maior valor médio de nitrato (124,8 mgL-1), sendo acompanhados pelos percolados dos solos arenosos (88,6 mgL-1) e dos solos médios (61,6 mgL-1). As con-centrações de NTK nos percolados dos solos arenosos e médios decresceram para valores de 280 mgL-1 toda-via, uma elevação foi notificada nos percolados dos solos argilosos, sendo expressa por 308 mgL-1.

Após as incorporações da água residual com cento e vinte dias de TRH (T120), os percolados dos lisímetros continuaram a apresentar baixas concentrações de

Tabela 3 - Valores médios de pH nos solos arenosos (ARN), argilosos (ARG) e médios (MD), na época da estiagem, em quatro pro-fundidades (P), mensuradas em cm, e após a incorporação da água residual in natura (T0) e com trinta (T30), sessenta (T60), noventa (T90) e cento e vinte (T120) dias de retenção hidráulica.

SOLOS P (cm) T0 T30 T60 T90 T120

pH pH pH pH pH

ARN 0-5 6,2a 6,5a 6,5a 6,2a 6,2a

ARN 5-30 5,8a 6,2a 6,2a 6,0a 6,0a

ARN 30-60 5,9a 6,3a 6,4a 6,3a 6,1a

ARN 60-90 5,8a 6,2a 6,3a 6,1a 6,1a

ARG 0-5 5,9a 7,3 a 7,3 a 7,3a 7,1a

ARG 5-30 5,6a 7,2 a 7,3 a 7,2a 7,0a

ARG 30-60 5,6a 7,3 a 7,2 a 7,4a 7,2a

ARG 60-90 5,5a 7,2 a 7,2 a 7,2a 7,1a

MD 0-5 5,8a 4,9 b 5,0 b 5,0b 4,7b

MD 5-30 4,6 b 4,7 b 4,7 b 4,6b 4,6b

MD 30-60 4,6 b 4,6 b 4,7 b 4,6b 4,6b

MD 60-90 4,5 b 4,7 b 4,7 b 4,6b 4,7b

Em cada coluna valores seguidos de letras minúsculas diferentes diferem entre si, pelo teste de Tukey ao nível de 5%. Análise estatística efetuada para cada tipo de solo.

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nitrito, sendo os dos solos argilosos (0,013 mgL-1) os detentores dos menores valores, seguidos dos solos médios (0,017 mgL-1) e arenosos (0,029 mgL-1). Entretanto, a elevação nas concentrações de nitrato continuou presente nos percolados dos três tipos de solos, sendo mais elevada nos solos argilosos (163,8 mgL-1), em relação aos solos arenosos (91,2 mgL-1) e solos médios (66,8 mgL-1). Os valores de NTK nos percolados dos solos médios foram os mesmos do tempo anterior (T90), sendo as alterações observadas nos percolados dos solos arenosos (252 mgL-1) e dos solos argilosos (280 mgL-1).

Valores de pHOs percolados dos lisímetros preenchidos com os

três tipos de solo apresentaram valores de pH variando entre 7,50 e 8,14, com o ápice nos efluentes com 30 dias de TRH (T30).

Os percolados provenientes dos solos arenosos foram os que apresentaram os maiores valores de pH, durante todo o experimento.

No TRH de trinta dias (T30) foi visualizado um pequeno aumento no pH, para os percolados dos três tipos de solos, atingindo valores de 8,10 para os oriun-dos dos solos arenosos, 8,14 para os dos solos argilo-sos e 7,95 para aqueles dos solos médios.

As mudanças de pH nos percolados dos solos are-nosos, argilosos e médios, com sessenta dias de TRH (T60), não foram acentuadas, permanecendo os valores de 8,02, 7,77 e 7,93, respectivamente.

Após a incorporação da água residual com noventa dias de TRH (T90) deu-se início a uma discreta dimi-nuição nos valores de pH para percolados dos solos

arenosos, argilosos e médios, alcançando valores de 7,86, 7,72 e 7,54, respectivamente.

Este declínio mostrou-se presente nos percolados provenientes da incorporação de água residual com cento e vinte dias de TRH (T120), sendo representado numericamente por um pH de 7,5 para os percolados dos solos arenosos, 7,64 para aqueles provindos dos solos argilosos e 7,51 para os dos solos médios.

Caracterização físico-química dos solos antes das incorporações

Os solos argilosos detiveram os maiores valores de capacidade de troca catiônica e de pH (Tabela 1).

Solos Arenosos

Formas oxidadas de azoto e azoto total kjedahl (NTK)

Durante a simulação pluviométrica o maior valor de NTK (230 mgL-1) foi verificado após a incorpora-ção do resíduo com trinta dias de TRH (T30), situado na faixa de solo entre 60 e 90 cm. O menor valor (40 mgL-1) foi obtido após a incorporação da água residual com 120 dias de TRH, localizado entre 60 e 90 cm de profundidade (Tabelas 4 e 5).

Na estiagem os maiores valores de NTK foram veri-ficados entre 0 e 5 cm (230 mgL-1), após a utilização dos resíduos com trinta dias de TRH (T30), e os meno-res valores entre 0 e 5 cm (50 mgL-1), relacionado com a incorporação dos resíduos com noventa dias de TRH (T90) (Tabelas 4 e 5).

Em relação ao nitrato, as maiores concentrações

Tabela 4 - Valores das concentrações médias de Nitrato (NO3 - N) e Azoto Total Kjeldahl (NTK), expressos em kg.ha-1, nos solos

arenosos (ARN), argilosos (ARG) e médios (MD), na época das chuvas, em quatro profundidades (P), mensuradas em cm, e após a incorporação da água residual in natura (T0) e com trinta (T30), sessenta (T60), noventa (T90) e cento e vinte (T120) dias de reten-ção hidráulica.

SOLOS P (cm) NO3 – N

T0NTKT0

NO3 – N

T30NTKT30

NO3 – N

T60NTKT60

NO3 – N

T90NTKT90

NO3 – N

T120NTKT120

ARN 0-5 43,45a 105a 3,3a 210a 1,7a 50a 1,7a 55a 1,0a 135a

ARN 5-30 4,9b 195a 2,0a 205a 0,8a 100a 1,7a 70a 1,5a 185a

ARN 30-60 2,8b 65a 2,4a 100b 1,3a 55a 1,5a 60a 2,4a 200a

ARN 60-90 4,3b 120a 1,6a 230a 1,9a 70a 1,7a 90a 1,9a 40b

ARG 0-5 24c 210a 6,1b 405c 2,4a 360b 2,5a 345b 2,1a 510 c

ARG 5-30 5,85 b 310b 2,6a 370c 2,7a 375 b 3,4b 355b 2,4a 485 c

ARG 30-60 5,9 b 380b 3,3a 520d 4,2b 380 b 1,7a 390b 2,1a 370 c

ARG 60-90 12,7 d 230a 3,7a 320c 2,6a 440 b 2,3a 330b 3,7b 415 c

MD 0-5 13,1 d 85a 1,4a 325c 1,6a 150 a 1,5a 105a 1,8a 145a

MD 5-30 4,65 b 75a 1,6a 345c 2,4a 175 a 1,0a 100a 1,5a 70a

MD 30-60 2,4 b 150a 0,9a 265a 1,0a 105 a 1,3a 80a 1,2a 210a

MD 60-90 1,45 b 210a 1,6a 600d 2,0a 270 b 1,2a 90a 1,7a 140a

Em cada coluna valores seguidos de letras minúsculas diferentes diferem entre si, pelo teste de Tukey ao nível de 5%. Análise estatística efetuada para cada tipo de solo.

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foram observadas entre 0 e 5 cm, com valores de 43,45 mgL-1, nos solos que receberam simulação de chuva, e de 9 mgL-1, nos solos que receberam simulação de estiagem. Ressalta-se que estes valores foram obtidos após as incorporações dos resíduos in natura (T0) e com cento e vinte dias de TRH (T120), respectiva-mente (Tabelas 4 e 5).

Já as menores concentrações deste elemento foram notificadas entre 5 e 30 cm, em ambas simulações, com valores de 0,8 mgL-1, na época das chuvas, e de 4,0 mgL-1, na estiagem (Tabelas 4 e 5).

Valores de pHOs valores médios de pH, nas duas situações climá-

ticas e nas quatro profundidades, apresentaram valores semelhantes entre as amostras de solos incorporadas com as águas residuais in natura e após os quatro tempos de TRH. Os valores estavam entre 5,8 e 6,8 e 5,8 e 6,5 para os dois períodos, respectivamente (Tabe-las 2 e 3).

Solos Argilosos

Formas oxidadas de azoto e azoto total kjedahl (NTK)

As maiores concentrações de NTK foram observadas após as incorporações dos resíduos com sessenta (T60) e cento e vinte dias de TRH (T120), sendo verificadas entre 0 e 5 cm (480 mgL-1), na simulação da época da seca, e entre 30 e 60 cm (520 mgL-1), na simulação do período de chuva (Tabelas 4 e 5).

As menores concentrações de NTK foram verifica-das entre 0 e 5 cm (210 mgL-1), durante a simulação

de chuva, e entre 60 e 90 cm (200 mgL-1), na estiagem, sendo estes valores relacionados com as incorporações da água residual in natura (T0) (Tabelas 4 e 5).

As maiores concentrações de nitrato foram encontra-das entre 0 e 5 cm, relacionadas com a incorporação da água residual in natura e com os resíduos de cento e vinte dias de TRH (T120). Em ambos os casos os valo-res foram de 24 mgL-1 (Tabelas 4 e 5).

As menores concentrações de nitrato foram encon-tradas entre 30 e 60 cm, tanto nos solos incorporados com os resíduos de noventa dias de TRH (T90) como naqueles com a água residual in natura (T0), com valores de 1,7 mgL-1, nos solos com resíduos T90, e de 4,1 mgL-1, nos solos com resíduos T0 (Tabelas 4 e 5).

Valores de pHOs valores médios de pH, nas duas situações climá-

ticas e nas quatro profundidades, apresentaram valores semelhantes entre as amostras de solos incorporadas com as águas residuais in natura e após os quatro tempos de TRH. Os valores estavam entre 5,4 e 7,5 e 5,5 e 7,4 para os dois períodos, respectivamente (Tabe-las 2 e 3).

Solos Médios

Formas oxidadas de azoto e azoto total kjedahl (NTK)

As maiores concentrações de NTK foram observadas entre 60 e 90 cm (600 mgL-1), nos solos com simula-ção de chuva, e entre 0 e 5 cm (405 mgL-1), nos que receberam simulação de estiagem, estando relaciona-das com as incorporações dos resíduos com trinta dias

Tabela 5 - Valores das concentrações médias de Nitrato (NO3 - N) e Azoto Total Kjeldahl (NTK), expressos em kg.ha-1, nos solos

arenosos (ARN), argilosos (ARG) e médios (MD), na época da estiagem, em quatro profundidades (P), mensuradas em cm, e após a incorporação da água residual in natura (T0) e com trinta (T30), sessenta (T60), noventa (T90) e cento e vinte (T120) dias de reten-ção hidráulica.

SOLOS P (cm) NO3 – N

T0NTKT0

NO3 – N

T30NTKT30

NO3 – N

T60NTKT60

NO3 – N

T90NTKT90

NO3 – N

T120NTKT120

ARN 0-5 6,1a 140a 5,0a 310a 5,4a 55a 6,6a 50a 9,0a 120a

ARN 5-30 6,35a 135a 6,4a 240a 4,0a 70a 6,5a 95a 7,8a 65a

ARN 30-60 8,65a 170a 6,1a 220a 5,9a 60a 6,3a 70a 8,8a 55a

ARN 60-90 5,35a 120a 5,7a 220a 5,6a 80a 7,8a 125a 8,6a 100a

ARG 0-5 7,2 a 350b 8,2a 220a 11,6b 295b 12,1b 375b 24,0b 480b

ARG 5-30 7,4 a 450b 6,1a 350 a 7,5c 455 b 9,1 b 305 b 11,9b 435 b

ARG 30-60 4,1 b 435b 6,8a 330a 7,6c 440 b 12 b 330 b 13,0b 390 b

ARG 60-90 6,1 a 200a 8,6a 320 a 8,8c 430 b 6,4 a 330 b 13,8b 495 b

MD 0-5 1,0 c 140a 1,1b 405b 3,0d 90a 2,9 c 95a 5,8a 155a

MD 5-30 1,85 c 90 a 1,6b 125 c 2,2d 115a 3,6 c 110 a 5,9a 225 c

MD 30-60 2,0 c 80 a 2,4b 205 a 2,3d 100a 4,7 c 70 a 5,3a 165 c

MD 60-90 1,7 c 75 a 5,5a 240 a 2,0d 125a 3,4 c 85 a 6,1a 185 c

Em cada coluna valores seguidos de letras minúsculas diferentes diferem entre si, pelo teste de Tukey ao nível de 5%. Análise estatística efetuada para cada tipo de solo.

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de TRH (T30) (Tabelas 4 e 5). As incorporações com resíduos de cento e vinte dias

de TRH (T120), na simulação da chuva, e com noventa dias de TRH (T90), na estiagem, resultaram nas meno-res concentrações de NTK, cujos valores foram de 70 mgL-1, em ambos os casos (Tabelas 4 e 5).

Os maiores valores de nitrato estiveram presentes nas camadas de 0 a 5 cm (13,1 mgL-1) e de 60 a 90 cm (6,1 mgL-1), nos solos que receberam a simulação da chuva e da estiagem, respectivamente. O primeiro valor foi obtido através da incorporação da água residual in natura (T0) e o segundo valor após as águas com cento e vinte dias de TRH (T120) (Tabelas 4 e 5).

Os valores mínimos de nitrato foram evidenciados nas faixas de 60 a 90 cm e de 0 a 5 cm, nos solos com simulação de chuva e estiagem, respectivamente. Os valores foram de 1,45 mgL-1 e de 0,9 mgL-1, ambos após a incorporação da água residual in natura (T0) (Tabelas 4 e 5).

Valores de pHOs valores médios de pH, nas duas situações climá-

ticas e nas quatro profundidades, apresentaram valores semelhantes entre amostras de solo incorporadas com as águas residuais in natura e após os quatro tempos de TRH. Os valores estavam entre 4,4 e 5,2 e 4,8 e 5,8 para os dois períodos, respectivamente (Tabelas 2 e 3).

Discussão

Tanque de armazenamentoSegundo Metcalf e Eddy (1991), os nutrientes mais

importantes para a agricultura são o azoto, o fósforo e, ocasionalmente, o potássio, zinco, boro e selênio.

As elevadas concentrações de NTK e os altos valores de pH, verificados nas águas residuais T120, em com-paração com as águas residuais in natura T0, podem estar correlacionadas com os processos de decomposi-ção aeróbia e anaeróbia e, subseqüente, mineralização da matéria orgânica caracterizando assim, uma água residual com potencial para a eutrofização, graças a presença exacerbada deste mineral, e favorecimento à floração de, por exemplo, algas no ambiente aquático.

O comportamento ascendente do nitrato, partindo de pequenas concentrações na água residual in natura, culminando com os maiores valores na água residual T60 e finalizando com diminuições evidentes nas águas residuais com T90 e T120, provavelmente, esteja ligado aos processos de nitrificação, desnitrificação e remoção de nitrogênio amoniacal.

Ressalta-se que os valores de NTK são semelhan-tes, porém com discreta diminuição nos dois últimos tempos de retenção hidráulica. Esta característica pode estar vinculada a uma evaporação da água contida no tanque de armazenamento, pois conforme a evidência de que 90% do NTK esteja na forma de azoto amo-niacal (Mikkelsen, 1997) e as afirmações de Sutton (1993), estocagens por longos períodos resultam em

menores quantidades de azoto orgânico e mais azoto amoniacal, entretanto, com o aumento do tempo de retenção, maiores quantidades de azoto amoniacal são volatilizadas para a atmosfera, resultando numa descida do azoto total. Fatores como pH, temperatura, tempo de retenção e turbulência da massa líquida são os principais contribuintes para a volatilização da amônia (Silva et al., 1991).

Pela legislação federal em vigor, resolução no 20 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama, 1986), os efluentes do tanque de armazenamento não cumpriram o padrão de emissão de ≤ 5 mgL-1 para o azoto. Este fato pode ser explicado pela não existên-cia de elevados graus de nitrificação nos efluentes das lagoas de estabilização, além da presença maciça de algas (Pivelli, 1998).

As concentrações de nitrito, nas águas residuais T90 e T120, atenderam os padrões limites de 1 mgL-1, esti-pulados pelo CONAMA (1986) para águas doces des-tinadas à irrigação de culturas e distribuídas nas classes 1, 2 ou 3. Todavia, ainda sob esta premissa legal, as concentrações de nitrato-azoto, nas águas residuais in natura e após os quatro tempos de TRH, excederam o limite máximo de 10 mgL-1.

PercoladosA remoção de nutrientes é devida ao contato da água

residual com a matriz do solo e à sua capacidade limite de adsorção. A temperatura, o potencial de oxirredução e o pH do sistema solo-planta são fatores que mais afetam as transformações químicas e biológicas no ambiente de tratamento.

A variação mínima encontrada nos valores de pH nos três tipos de percolados, provavelmente, foi conseqüência da existência do pH na faixa ótima de 6 a 9,5 (Fogassa et al., 1999a), para a aplicação de dejetos no solo, nas águas residuais provenientes do tanque de armazenamento.

Segundo Kanwar et al. (1995) e Shrestha et al. (1997) altas concentrações de nitrato em lixiviados podem estar associadas com os níveis de azoto destinados à aplicação, com o nível e tipo de fluxo da água e com a quantidade de oxigênio presente na coluna de solo.

Em adição, o nitrato no solo forma sais de alta solu-bilidade, além de ser pouco retido pelas partículas coloidais estando, portanto, sujeito a ser lixiviado com o movimento descendente da água de chuva ou da apli-cação de efluente (Fogassa et al., 1999b).

As elevadas concentrações de nitrito nos percolados dos solos arenosos, após as incorporações das águas residuais in natura e com trinta dias de TRH (T30), podem ser explicadas pelas afirmações de Taylor e Neal (1982). Estes autores preconizam que a oxidação dos compostos amoniacais em nitrito é mais enfática em solos de característica arenosa, onde a percolação pode atingir os lençóis freáticos em quantidade muito maior do que em solos argilosos. Por fim, eles enfa-

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tizam que as minimizações das altas concentrações deste elemento podem ser obtidas através da vegetação e da diminuição das quantidades de azoto destinadas à incorporação.

Bastos (1999) salienta as reduzidas perdas por lixi-viação sofridas pelo nitrito, devido, principalmente, as baixas concentrações destes íons no solo. Este fato provavelmente explica as baixas concentrações de nitrito nos percolados, a partir das incorporações com as águas residuais com 60 dias de TRH (T60).

Tomando como base os padrões de 1 mgL-1 para nitrito e 10mgL-1 para nitrato nas águas destinadas à irrigação de culturas, as quais estão distribuídas nas classes 1, 2 e 3, conforme o CONAMA (1986), os per-colados dos três tipos de solos, após as incorporações das águas residuais T60, T90 e T120, conseguiram se enquadrar apenas em relação às concentrações de nitrito.

A aplicação das águas residuais no solo desencadeia a remoção do azoto por volatilização, desnitrificação ou lixiviação (Sutton, 1993). Todavia, as perdas por lixiviação de azoto são relativamente reduzidas, seja pela baixa concentração deste íon no solo ou, princi-palmente, pela sua fixação no solo (Bastos, 1999).

As pequenas concentrações de NTK reportadas nos percolados dos lisímetros do corrente experimento, e quando comparadas com as águas residuais in natura T0 e sob os quatros TRH, podem ter como causa a alta capacidade de troca catiônica (CTC) nos três tipos de solo (Tabela 1), impedindo assim a movimentação deste elemento pela coluna de solo (Ritter e Chirn-side, 1990). Todavia, estas pequenas concentrações, de acordo com o CONAMA (1986), encontram-se fora dos padrões de emissão para os corpos de água, cujo valor limite é ≤ 5 mgL-1, podendo, portanto contribuir para processos de eutrofização e floração de algas.

SolosCom a disposição das águas residuais nos solos, con-

segue-se não só a remoção de microrganismos indica-dores de poluição fecal, a custos muito menores, como a utilização dos nutrientes como fertilizantes e o reuso da água.

A característica física e a presença dos diferentes sais nos solos conferem aos mesmos os valores do pH que em solos normais estão entre 4 e 7 (Fogassa et al., 1999a), valores estes encontrados nos solos sem a incorporação das águas residuais in natura T0 e das águas residuais T30, T60, T90 e T120 (Tabela 1).

A incorporação da matéria orgânica no solo favorece a formação de húmus, cuja elevada CTC confere uma alta capacidade de tamponamento, ou seja, resistência à alteração de pH (Bastos, 1999). Esta capacidade de tamponamento talvez justifique a pouca variação nos valores de pH dos solos (Tabelas 2 e 3) submetidos às incorporações das águas residuais in natura T0 e das águas residuais sob os quatros TRH, quando compara-dos com os valores de pH (Tabela 1) nos solos sem a

matéria orgânica incorporada. Com o emprego das águas residuais in natura T0 e

das águas residuais sob os quatros TRH, o azoto-orgâ-nico foi transformado em formas minerais, através da ação dos microrganismos do solo e durante um pro-cesso denominado mineralização.

A maior parte do azoto-mineral, conforme Smith e Schroeder (1983), pode ter sido lixiviado e volatilizado na forma de N

2 e/ou amônia gasosa (NH

3). Todavia,

acredita-se que parte desta amônia pôde ser volatili-zada apenas nos solos argilosos, pois eles possuíam as condições de pH necessárias (Tabelas 2 e 3), descritas por Campos et al. (1999), para este processo de remo-ção, ou seja, valores de pH acima de 7,0.

O restante da amônia, possivelmente, foi combinado com a água, ácido carbônico e com outros ácidos dos solos, formando íon amoníaco, o qual dentre vários caminhos, expostos por Bastos (1999), pode ter sido convertido a nitrato, via nitrificação.

Dentre os três tipos de solo, os argilosos apresenta-ram as maiores concentrações de NTK (Tabelas 4 e 5), com os valores significativos estatisticamente (p<0,05), nas épocas de estiagem, para os cinco tempos de TRH, e nas épocas de chuvas, quando relacionados com as incorporações das águas residuais T60 e T120. Este fato pode ser relacionado com a afirmação de Bastos (1999), que descreve os solos de textura mais fina (argilosos) como os possuidores das maiores concen-trações de NTK, devido a sua maior capacidade de retenção de umidade e da combinação de sua porção mineral com a matéria orgânica.

Apesar do NTK e da matéria orgânica, na maioria dos solos, concentrarem-se nas camadas superiores, a simulação pluviométrica e a movimentação descen-dente da água na coluna de solo podem ter provocado as maiores concentrações do NTK nas camadas mais inferiores, como visualizado nos solos argilosos e médios (Tabelas 4 e 5).

As altas concentrações de nitrato, principalmente nos três solos da época de estiagem e nos solos argilosos da época das chuvas (Tabelas 4 e 5), podem ter relação indireta com as grandes perdas deste elemento através da lixiviação (Fogassa et al., 1999b). Em adição, Raij et al. (1987) afirmam que a concentração de nitrato-azoto é mais elevada em épocas de estiagem, do que em épocas de chuva.

Condições de ausência de oxigênio no solo possibi-litam as bactérias anaeróbias fermentarem a matéria orgânica, utilizando os nitrato como aceptores de elé-trons, reduzindo-os então até a forma de N

2 (Bastos,

1999). Esta afirmação, possivelmente, justifica as pequenas concentrações de nitrato encontradas nos solos médios e, numa segunda estância, nos arenosos (Tabelas 4 e 5). Todavia, independente do tempo de retenção hidráulica, não houve diferença estatística (p>0,05), em relação aos resultados de nitrato, para os três tipos de solos, tanto nas épocas de chuvas como nas épocas de seca.

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A retenção da água residual seguida da aplicação no solo, se efetuada de maneira adequada, é uma fer-ramenta eficiente para minimizar o efeito poluente da água residual da suinicultura, vide as reduções obser-vadas nas concentrações de nitrito nas águas residuais do tanque de armazenamento. Todavia, o pré-trata-mento no tanque de armazenamento não foi eficiente na redução das concentrações de azoto e nitrato, com vistas a atender as exigências de emissão de efluentes e de reuso da água em culturas, estabelecidas pelas legislações ambientais brasileiras. Em consonância, a incorporação no solo beneficiou os percolados dos três tipos de solos, apenas em relação à redução dos níveis de nitrito, até os padrões exigidos pela Organização Mundial de Saúde, mantendo as concentrações de azoto e nitrato, nos três tipos de percolados, acima dos padrões estabelecidos pelas legislações.

As elevadas concentrações de azoto e nitrato foram observadas nos solos argilosos, quando comparados com os solos arenosos e médios, destacando a efici-ência do solo argiloso, neste sistema de tratamento, e a contribuição deste para a melhoria dos níveis de fertilidade e da diminuição do potencial eutrofizante e poluidor destas águas residuais ao ambiente.

Salienta-se que estes resultados refletem uma rea-lidade laboratorial, que por si só é limitada, pois as condições ambientais foram manipuladas. Há pois, a necessidade de pesquisas mais condizentes com a rea-lidade física e química de um ambiente natural lesado em seu equilíbrio.

Agradecimentos

Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pela concessão de bolsa de mestrado e dos recursos financeiros para a execução deste trabalho.

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COMUNICAÇÃO BREVE R E V I S T A P O R T U G U E S ADE

CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

Resumo: O efeito do tempo de manutenção de amostras de sangue à temperatura ambiente até à centrifugação e separação do soro, sobre a velocidade de degradação da progesterona (P4), foi avaliado em amostras de sangue (37 amostras) colhidas em vacas cíclicas, por punção da jugular, e divididas em alíquotas que foram centrifugadas dentro de 15 minutos após a recolha (tempo zero), aos 30 minutos (tempo A), e às 1, 3 e 6 horas (tempos B, C, e D, respectivamente). Depois do sangue ter sido centrifugado, o soro foi aspirado e armazenado a –20 ºC até à execução dos doseamentos de progesterona. Antes da centrifuga-ção todas as alíquotas foram mantidas à temperatura ambiente. A manutenção das amostras à temperatura ambiente resultou no decréscimo progressivo dos níveis de progesterona, com perda de cerca de 30% e 45% da concentração inicial às 3 e 6 horas, respectivamente. A comparação das concentrações de proges-terona no soro e no leite desnatado de amostras colhidas numa vaca Maronesa ao longo de um ciclo éstrico completo, mostrou uma correlação positiva entre as concentrações no soro e no leite (r= 0,91; P< 0,001).

Summary: Bovine jugular venous blood was collected into plastic tubes (37 samples) containing a clotting promoter gel and aliquoted for centrifugation at time zero (within 15 minutes of collection), time A (30 minutes) and time B, C, and D (1, 3 and 6 hours, respectively) for evaluation of time-dependent progester-one (P4) degradation. After centrifugation, serum was aspirated and stored at –20 ºC until progesterone determination. Before centrifugation all subsamples were maintained at room tempera-ture. Incubation of whole blood at room temperature resulted in progressive decline of progesterone, with a loss of about 30% and 45% at 3 and 6 hours, respectively, in relation to the initial concentration (time zero). Comparison of progesterone concen-trations in serum and deffated milk of samples collected along a complete estrous cycle of a Maronês cow, showed a positive correlation between serum and milk progesterone concentrations (r= 0,91; P< 0,001).

O doseamento da progesterona em fluidos biológicos é um indicador útil e preciso da capacidade funcional do corpo lúteo, sendo generalizadamente utilizado para controlar a actividade ovárica em diferentes espécies (Reimers et al., 1983; Reimers et al., 1991).

No entanto, a concentração de progesterona varia nas diferentes amostras em que pode ser doseada (soro, plasma, leite, saliva e outros fluidos corporais), pelo que se torna necessário validar os resultados obti-dos para os diferentes tipos de amostra a utilizar, de forma a garantir uma uniformidade de apreciação dos resultados. No caso das amostras de sangue, existe evidência de que a concentração de progesterona diminui com o tempo que decorre até à centrifugação, e que a degradação da hormona é acelerada quando a temperatura é elevada (Vahdat et al., 1981). Por outro lado, factores genéticos condicionam a produção de leite, não só quantitativa mas também qualitativa-mente, pelo que parece importante averiguar quais os possíveis factores condicionantes dos doseamentos a realizar, seja relativos à colheita, seja à preparação e armazenamento da amostra.

Este estudo teve como objectivos: 1) determinar os efeitos do tempo de pré-centrifugação de amostras de sangue total, mantidas à temperatura ambiente, sobre os valores séricos de P4

e 2) avaliar a relação entre os níveis de progesterona em amostras de soro e em amostras de leite desnatado, provenientes do mesmo animal e colhidas em simultâneo.

Para avaliação da velocidade de degradação da progesterona em sangue completo, mantido à tempe-ratura ambiente, foram processadas alíquotas a partir de 37 amostras colhidas, ao longo do ciclo éstrico, em 5 vacas cíclicas alojadas nos estábulos da UTAD. O sangue foi recolhido, por punção da jugular, para 5 tubos plásticos de 2,4 mL, contendo um gel pro-motor da coagulação (Serum-gel, S-Monovette, Sarstedt). As amostras foram mantidas à tempera-tura ambiente até serem centrifugadas aos seguintes tempos pós-colheita: t0 (até 15 minutos), tA, tB, tC e tD (30 minutos, 1, 3, e 6 horas, respectivamente). Após centrifugação das amostras a 2.000 g, durante 15 minutos, o soro obtido foi armazenado a –20 ºC, até ao doseamento da progesterona.

Para comparação dos teores de P4 no sangue cir-

Avaliação da estabilidade da progesterona em diferentes tipos de amostras: soro e leite desnatado

Evaluation of stability of progesterone in cattle serum and deffated milk

R. Payan Carreira1*, A. A. Colaço1, J. Robalo Silva2

1 CECAV, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Apart.1013, 5001-911 Vila Real codex, Portugal2 CIISA, Faculdade de Medicina Veterinária, R. Prof. Cid dos Santos, 1300-447 Lisboa, Portugal

Correspondente: tel: 259350411; e-mail: [email protected]

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culante e no leite foram recolhidas, cada três dias e durante um mês completo, simultaneamente e sempre à mesma hora do dia, amostras de sangue e de leite a partir de uma vaca de trabalho mantida no seu habitat normal. Após recolha, as amostras de sangue foram mantidas à temperatura ambiente até à centrifugação, durante cerca de 20 minutos. As amostras de leite foram recolhidas para um recipiente com capacidade para 200 ml contendo azida sódica (100 mg; Merk), por ordenha manual dos quatro tetos, depois de se ter deixado o vitelo mamar durante alguns minutos, por forma a fazer o escoamento do leite retido na cisterna. Cerca de 20 minutos após a colheita, as amostras foram centrifugadas a 3.000 g, durante uma hora e, depois de removida a camada butirosa, alíquotas da fracção desnatada foram armazenadas a –20 ºC, até ao momento de dosear a progesterona.

As concentrações de progesterona nas diferentes amostras foram determinadas por radioimunoanálise (RIA) em fase sólida, utilizando-se um kit comercial (“Coat-a-Count ® Progesterone”, Diagnostic Products Corp., L.A.). O método utilizado foi já validado para a espécie bovina (Reimers et al., 1983; Robalo Silva et al., 1992).

As análises foram processadas sempre em duplicado para cada uma das amostras. Os coeficientes de varia-ção intra-ensaio obtidos foram de 9,3% e de 4,1% para

os níveis de 1 ng/mL e de 5 ng/mL, respectivamente; os coeficientes de variação inter-ensaio corresponden-tes foram de 17,6% e de 8,0%, para as concentrações já referidas.

Conforme se mostra no Quadro 1, a manutenção das amostras de sangue completo à temperatura ambiente resultou em degradação progressiva da progesterona. Os doseamentos efectuados mostraram que, tomando como referência a concentração de progesterona na alí-quota centrifugada no tempo zero (níveis de P4 varia-ram entre 0,1 e 10,2 ng/mL), houve um decréscimo das concentrações da hormona de cerca de 30% e 45% nas alíquotas centrifugadas às 3 e 6 horas, respectivamente.

O declínio observado nas concentrações de proges-terona das várias amostras, confirma a instabilidade da progesterona antes da separação do plasma ou do soro, tal como observado por outros autores (Vahdat et al., 1981; Oltner et al., 1982; Reimers et al., 1983; Breuel et al., 1988; Pulido et al., 1991; Reimers et al., 1991).

Embora os resultados devam ser interpretados com precaução porque é elevado o erro padrão da percen-tagem de degradação da progesterona às 3 e às 6 horas de incubação, deve ter-se em conta que isso é essen-cialmente influenciado pelos valores de progesterona inferiores a 1 ng/mL. É sabido que a precisão da medi-ção desses níveis é baixa, o que resulta em coeficientes de variação entre ensaios muito altos nesse tipo de amostras.

A causa da perda de progesterona nas amostras não é ainda perfeitamente clara, mas há evidência de que

Quadro 1 - Análise estatística descritiva da percentagem de degradação da progesterona (relativa à quantidade de hormona existente ao tempo 0) nas amostras de sangue mantidas à temperatura ambiente durante o tempo de incubação que antecedeu a centrifugação.

Percentagem de degradação da P4Tempo A

(à 1/2 hora)Tempo B(à 1 hora)

Tempo C(às 3 horas)

Tempo D(às 6 horas)

Média (± erro padrão) 2,475 ± 0,951a 15,692 ± 1,739 a 30,543 ± 2,758 b 45,519 ± 3,095 c

Mediana 1,650 15,4 31,7 44,9

C. V. 0,768 0,674 0,549 0,414

Nº Observações 37 37 37 37

a, b, c – As médias seguidas de letras diferentes apresentam diferenças estatísticas altamente significativas (P<0,001).

Gráfico 1 – Gráfico dos perfis de progesterona (ng/ml) em amostras de soro e de leite desnatado colhidas numa fêmea bovina de raça maronesa mantida em regime tradicional de alojamento e maneio, em Bobal, con-celho de Mondim de Basto.

Gráfico 2 – Representação gráfica da curva de regressão encontrada para a relação entre os teores de progesterona (ng/ml) no soro e no leite desnatado para o caso da fêmea maronesa estudada.

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a degradação dependa da presença de glóbulos verme-lhos (Vahdat et al., 1984), sendo modulada pela dispo-nibilidade de glucose da amostra. Embora a degrada-ção seja dependente da temperatura, ela ocorre mesmo em amostras refrigeradas durante o período que ante-cede a centrifugação (Reimers et al., 1983).

Os dados obtidos neste estudo, embora não permitam inferir sobre o mecanismo de degradação da proges-terona, permitem confirmar a opinião de Breuel et al. (1988) de que, a instabilidade da progesterona no sangue total de bovinos é elevada. A obtenção de valores fidedignos torna imprescindível centrifu-gar as amostras rapidamente após a colheita, sendo conveniente mantê-las refrigeradas até à centrifuga-ção, como forma de diminuir a actividade celular e a perda de substância activa.

Com base nas amostras de sangue e de leite colhidas durante um ciclo éstrico completo (dia zero = estro) de uma fêmea maronesa em lactação, foram obtidos os perfis de progesterona apresentados no Gráfico 1.

Conforme se pode observar nesse gráfico, os níveis de progesterona no sangue e no leite tiveram, ao longo de todo o ciclo éstrico, uma correlação positiva significativa (r=0,961; P<0,0001). A relação entre as concentrações nos dois fluidos corresponde à curva de regressão apresentada no Gráfico 2, e pode traduzir-se pela seguinte fórmula: Y=0,216 + 0,351 X + 0,029 X2; R2=0,944.

De acordo com esta fórmula, pode dizer-se que, nas condições em que as amostras foram recolhidas, e para este animal, uma concentração sérica de progesterona de 1 ng/mL corresponde a cerca de 0,59 ng/mL de pro-gesterona no leite desnatado.

Como grande parte da progesterona está associada aos lípidos (Heap et al., 1975; Keller et al., 1977) e é excretada juntamente com os glóbulos de gordura (Alanko, 1990), o doseamento da fracção desnatada corresponde essencialmente à progesterona associada à caseína (cerca de 20% do total). Os teores de caseína no leite são relativamente constantes ao longo da lacta-ção (Cowan e Larson, 1979; Nachreiner et al., 1992), pelo que os níveis de progesterona no leite desnatado têm uma correlação mais elevada com os do soro do que os do leite completo.

Os dados obtidos neste estudo confirmam que a pro-gesterona é muito instável no sangue total, ocorrendo um decréscimo rápido dos níveis da hormona quando o sangue é mantido à temperatura ambiente. A degra-dação da progesterona pode ser evitada centrifugando o sangue dentro de meia hora após a colheita, devendo ainda haver o cuidado de refrigerar as amostras por

imersão em gelo logo após a sua obtenção. Em fêmeas lactantes pode ser vantajoso colher leite em vez do sangue. Os dados obtidos neste estudo indicam que concentrações de 1 ng/mL no soro correspondem apro-ximadamente a 0,5 mg/mL no leite desnatado, devendo este valor ser utilizado como limiar entre presença e ausência de função lútea.

Bibliografia

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Vahdat, F., Seguin, B. E., Whitmore, H. L., Johnston, S. D. (1984). Role of blood cells in degradation of progesterone in bovine blood. Am. J. Vet. Res. 45, 240-243.

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CASO CLÍNICO R E V I S T A P O R T U G U E S ADE

CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

Resumo: O pseudoquisto renal subcapsular é uma situação rela-tivamente rara em gatos, mas está descrita nesta espécie como uma entidade diferenciável dos rins poliquísticos. Constata-se uma acumulação de fluido entre o rim e a sua cápsula, não havendo protecção por camada de epitélio. Os Autores reportam-se a dois casos clínicos em gato, um com acumulação bilateral de fluido caracterizado como transudado, e outro com acumula-ção unilateral de fluido de tipo urinífero infectado.

Summary: Subcapsular renal pseudocysts are rare situations described in cats, being different from policystic kidneys. The acumulated fluid lies between the kidney and its capsule and the cyst is not protected by an epitelium wall. Two clinical cases are described, one being bilateral with transudate accumulation of fluid, and the other being unilateral with an infected urineferous type of fluid.

Introdução

O pseudoquisto renal subcapsular (PQRS) (Figura1), também designado por pseudoquisto ou quisto perire-nal, quisto renal capsular ou capsulogénico, hidrone-frose capsular, ou pseudohidronefrose (Ticer, 1963; Birchard e Sherding, 1994; Lemire et al., 1998) é defi-nido como uma acumulação de fluido entre o parên-quima renal e a sua cápsula, sem que haja protecção do quisto por camada epitelial (Birchard e Sherding, 1994; Lemire et al., 1998; Beck et al., 2000). Nalgu-mas situações está descrita a constituição de um verda-deiro saco fibroso perirenal a envolver o quisto (Polzin et al., 1989).

É a inexistência de envolvimento por uma camada epitelial que não permite considerar o PQRS como verdadeiro quisto (Birchard e Sherding, 1994; Lemire et al., 1998; Beck et al., 2000). Esta entidade diferen-cia-se dos rins poliquísticos (Figuras 2 e 3), quer pela inexistência do referido epitélio, quer pela localização exclusiva perirenal (Beck et al., 2000). No entanto está descrita a associação de ambas as entidades (Chetboul, 2001).

Etiologia / fisiopatologia

É uma situação não associada aos canídeos e con-siderada relativamente rara em felinos (Polzin et al.,

1989; Beck et al., 2000). Num estudo de 26 casos (Beck et al., 2000) os PQRS foram referidos em gatos com idades compreendidas entre os 4 e os 18 anos, sendo em média de 11 anos. Embora nesse estudo houvesse maior prevalência de machos, e particu-larmente de machos castrados, ele não apresentou significância estatística para afirmar poder haver pre-disposição de sexo, ou que a castração seja também predisponente.

Ao contrário de outras lesões renais que têm origem tubular como o síndrome de Fanconi (Polzin et al., 1989), ou outras lesões consideradas hereditárias como os rins quísticos e poliquísticos nos gatos de pêlo comprido, particularmente nos Persas, e nos cães de raça Cairn Terrier, não se reconhece a origem tubular para os PQRS, nem há segurança em conside-rar esta afecção como hereditária (Polzin et al., 1989; Birchard e Sherding, 1994). A tentativa de considerar poder haver predisposição hereditária para esta pato-logia se manifestar pressupõe que necessita de outras etiologias concorrentes tais como urina ou linfa hete-rotópica, hematomas (secundários a cirurgias, trans-plantes, discrasias sanguíneas, rupturas aneurismais, neoplasias e congestão renal), lesão traumática do rim, cálculos renais ou uretrais, hipertrofia prostática, obs-trução congénita do aparelho urinário (hidronefrose fetal) e causas idiopáticas (Lemire et al., 1998). No mesmo estudo (Beck et al., 2000) em 50% dos casos o processo foi bilateral e em 88% dos casos envolveu gatos comuns de pêlo curto, não havendo paralelismo com o que se passa com os rins poliquísticos em gatos de pêlo comprido.

A patogénese e fisiopatologia do PQRS está ainda pouco esclarecida embora seguramente os quistos não tenham origem tubular (Polzin et al., 1989; Lemire et al., 1998). A natureza do líquido encontrado no quisto não é constante. Na maioria dos casos é um transu-dado. A frequente associação do PQRS com uma alteração difusa crónica do parênquima renal faz pres-supor um aumento da pressão hidrostática ou oncótica a nível renal com extravasamento de fluido causado pela fibrose do parênquima renal (Ticer, 1963; Lemire et al., 1998; Polzin et al., 1989; Beck et al., 2000). Alguns autores questionam-se sobre se a origem do

Pseudoquisto renal subcapsular a propósito de dois casos clínicos em gato

Subcapsular renal pseudocysts: two clinical cases in cats

José Paulo Sales Luis, Cláudia Vieira, Ana Paula Carvalho, Mariana Melo

Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa - Cirurgia, Polo Universitário do Alto da Ajuda, R. Prof. Cid dos Santos, 1300-477 Lisboa, Portugal

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líquido será parênquimatosa ou capsular, por deficiente drenagem venosa (Beck et al., 2000). Noutros casos o líquido é urinífero, o que pressupõe dificuldade na drenagem da urina formada, dando origem a um designado urinoma (Polzin et al., 1989; Lemire et al., 1998; Beck et al., 2000). Nos urinomas exuberantes pode haver transvasamento de líquido urinoso para a cavidade abdominal por lesão da cápsula determi-nando, na maior parte dos casos, lipólise da gordura e tecido adiposo perirrenal e formação de uma cápsula fibrosa que tende a localizar o processo (Lemire et al., 1998; Beck et al., 2000). Noutros casos, embora mais raramente, podem-se encontrar hematomas perirrenais, relacionados com traumatismos, alteração da coagula-ção, congestão renal ou neoplasia (Polzin et al., 1989; Lemire et al., 1998). Finalmente estão também descri-tos linfocelos, em que o fluido acumulado é linfa, rela-cionáveis com obstrução linfática a nível do hilo renal ou associados a processos de transplante renal (Polzin et al., 1989; Lemire et al., 1998).

Quadro clínico / diagnóstico

Na maior parte dos casos, a primeira evidência clí-nica resume-se a grande e progressiva distensão abdo-minal por renomegália, que um exame ultrasonográfico permite imediatamente caracterizar como resultante de acumulação de líquido uni ou bilateral a nível perirenal e subcapsular (Polzin et al., 1989; Birchard e Sher-ding, 1994). A dor, quando existente, é quase sempre relacionável com a existência de hemorragia, infecção ou ruptura da cápsula, mais do que com a quantidade de líquido acumulado (Polzin et al., 1989).

A função renal pode estar comprometida, embora numa fase inicial não seja comum. No entanto, há tendência para o desenvolvimento de uma insuficiência renal crónica relacionável com uma nefrite intersticial crónica, com valores de ureia e creatinina elevados e baixa densidade da urina (Ticer, 1963; Polzin et al., 1989; Beck et al., 2000; Hill et al., 2000).

O estudo ultrasonográfico é o meio complementar de diagnóstico ideal pois permite esclarecer de imediato a justificação para a renomegália apresentada. Além da constatação da presença de líquido subcapsular (Polzin et al., 1989; Birchard e Sherding, 1994; Lemire et al., 1998; Beck et al., 2000), estão descritas várias alte-rações ecográficas do parênquima renal que tendem a associar-se com a nefrite intersticial. O contorno irregular da cortical (Polzin et al., 1989) e a demar-cação pouco óbvia entre medular e cortical (Beck et al., 2000; Hill et al., 2000) são as principais alterações encontradas.

Outros exames como uma urografia descendente ou biópsia podem ser equacionados (Polzin et al., 1989). A biópsia ou exame histopatológico destes rins revela frequentemente alterações definidas como fibrose intersticial com infiltração leucocitária particular-mente linfoplasmocitária, atrofia e necrose tubular, glomerulonefrite membrano-proliferativa (Ticer, 1963; Lemire et al., 1998; Hill et al., 2000). Numa fase ini-cial a nefroesclerose, as nefrites intersticiais crónicas, a necrose tubular e as glomerulonefrites associáveis a estes pseudoquistos são ecograficamente caracterizá-veis por hiperecogenicidade cortical e aumento da defi-nição do limite cortico-medular (Nantrup et al., 2000; Chetboul, 2001). O progressivo agravamento destas nefropatias induz geralmente um aumento da hipe-recogenecidade cortical com eventual espessamento desta, perda de volume do rim e perda da evidência da delimitação cortico-medular. Pode ser encontrada uma linha muito hiperecogénica na medular externa, para-lela à junção cortico-medular, que se traduz por calci-ficação dos túbulos distais e canais colectores (Nantrup et al., 2000; Chetboul, 2001).

A análise do líquido drenado do próprio quisto pode corresponder a vários tipos e ajudar na tentativa de definição do processo fisiopatológico em curso. Mais frequentemente é um transudado com baixa celulari-dade, com possibilidade de presença de algumas célu-las mononucleadas, baixa densidade e concentração proteica inferior a 25 g/dL (Ticer, 1963; Beck et al.,

Figura 1 – Exame ecográfico de pseudoquisto subcapsular em gato. Notar presença de líquido sob a forma de imagem anecogénica envol-vendo o rim

Figura 2 – Exame ecográfico de rim poliquístico em gato persa. Notar que além de múltiplos, os quitos invadem o parênquima renal

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2000). Noutros casos aproxima-se de um líquido uri-noso e eventualmente infectado. A presença de sangue é relacionável com trauma, neoplasias e discrasias san-guíneas.

Terapêutica

A intervenção terapêutica passa sistematicamente pela necessidade de drenagem do líquido contido no ou nos quistos. Nalguns casos em que haja infecção notória do conteúdo quístico a utilização de cobertura antibiótica é premente. Preferem-se os antibióticos liposolúveis como por exemplo o cloranfenicol, a clin-damicina, as tetraciclinas, a eritromicina ou a associa-ção de sulfamida com trimetropin (Polzin et al., 1989).

A drenagem por punção per cutânea está descrita como medida provisória ou sugerida como intervenção repetida periodicamente (Beck et al., 2000). De facto, a recidiva com nova acumulação de líquido é quase uma constante e pode acontecer poucos dias depois até aproximadamente 12 semanas (Beck et al., 2000). Nessa perspectiva opta-se pela intervenção cirúrgica que visa uma mais definitiva resolução do problema. O acesso faz-se pela linha branca com incisão centrada na cicatriz umbilical. Está descrita a drenagem cirúr-gica do quisto com ressecção quase total da cápsula, deixando apenas cerca de um centímetro de margem de cápsula para além da inserção desta no parênquima renal (Polzin et al., 1989; Birchard e Sherding, 1994; Beck et al., 2000). A produção de líquido continua, sendo este disperso pela cavidade abdominal com a hipótese de absorção peritoneal, sem grandes inconve-nientes, sobretudo quando se trata de um transudado. A eventual contribuição da cápsula na produção do líquido por estase venosa sugere a sua parcial remoção (Beck et al., 2000). O risco de ascite é em qualquer caso apreciável. Outra solução apontada corresponde à omentalização dos quistos envolvidos, em que se propõe a associação desta técnica com a remoção parcial da cápsula deixando 2 cm de margem capsular para organizar a sutura da cápsula ao omento (Hill et

al., 2000). O omento vai ocupar o espaço perirenal e é suturado à margem da cápsula com uma sutura con-tinua. A nefropexia por fixação em dois pontos pode ser utilizada como técnica complementar apenas para diminuir a excessiva mobilidade renal adquirida (Beck et al., 2000).

Os resultados parecem bons a curto/médio prazo (Polzin et al., 1989; Beck et al, 2000; Hill et al., 2000), mas quase constantemente não são impeditivos de um progressivo aparecimento a médio/longo prazo de nefroesclerose com correspondente insuficiência renal comprováveis por um crescente aumento da creatinina (Ticer, 1963; Polzin et al., 1989; Lemire et al., 1998; Beck et al., 2000).

Casos clínicos

Apresentam-se dois casos de felinos em que foi diagnosticada uma situação de pseudoquisto renal subcasular. O primeiro consta de um processo bilateral com grande acumulação de líquido definido como tran-sudado e o segundo de um processo unilateral, em que o líquido foi definido como de tipo urinoso e infectado. A distensão abdominal foi o elemento preponderante da história clínica, embora no segundo caso existisse uma história de hipertermia associada. Realizou-se estudo ecográfico e ambos os casos foram sujeitos a drenagem cirúrgica dos quistos.

Caso clínico I

Um felino de sexo masculino, inteiro, cruzado de siamês e persa, com nove anos de idade, foi avaliado em Novembro de 2001 por grande aumento e distensão abdominal e por apresentar anorexia. A dona referia aumento progressivo do volume abdominal há pelo menos dois meses, atribuindo-o inicialmente a obesi-dade. À observação clínica o abdómen revelou-se dis-tendido, tenso, mas apesar de tudo indolor (Figura 4).

Foi submetido a exame ecográfico em que se cons-tatou grande acumulação bilateral de fluido hipo/ane-cogénico a nível perirenal e estrictamente subcapsular. Os rins apresentavam hiperecogenecidade cortical e demarcação cortico-medular notória (Figura 5). Apesar da anorexia o estado geral do paciente revelou-se bom.

Foi proposto laparotomia no sentido de drenar os quistos e proceder a biópsia do rim. A anestesia foi obtida pela associação de 90 mg de quetamina (Imal-gène 1000) e de 4 mg de xilazina (Rompum 2%). Após laparotomia mediana verificou-se que ambas as cápsulas renais, principalmente a direita, apresentavam grande dilatação condicionada pela presença de líquido perirrenal (Figuras 6 e 7). Procedeu-se à drenagem do líquido, inicialmente através de catéter e depois por abertura da cápsula, e foi enviada amostra para estudo laboratorial. O aspecto era de um líquido não muito denso, não viscoso, límpido. Após drenagem do líquido e abertura da cápsula foi possível visualizar os rins que

Figura 3 – Exame ecográfico de rim poliquístico em gato persa. Neste estado avançado a função renal está seriamente comprometida

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apresentavam estrutura macroscópica alterada sendo de pequenas dimensões, de coloração clara, superfície ligeiramente irregular e de densidade aumentada suge-rindo nefroesclerose (Figura 8). Procedeu-se então à colheita para biópsia de um pequeno fragmento do rim direito. Optou-se por manter a cápsula renal aberta mas sem a eliminar parcialmente. Procedemos a lavagem cirúrgica da cavidade peritoneal com soro fisiológico amornado e encerramos rotineiramente a cavidade abdominal. O paciente foi medicado com 75 mg/dia de amoxicilina (Clamoxyl), medicação que foi prolongada por dez dias. A persistência da anorexia durante alguns dias levou à administração de fluido parenteral até recuperação do estado geral e apetite. A função renal foi avaliada através do doseamento de ureia e creati-nina que se encontravam dentro de valores normais. A pesquisa de FIV e FeLV foi também feita e negativa. A recuperação acabou por ser considerada total ao fim de aproximadamente quinze dias.

A análise do fluido drenado revelou tratar-se de um transudado de baixa celularidade.

O estudo histopatológico justificava a alteração do aspecto macroscópico ao revelar lesões focais de nefrite intersticial, infiltração inflamatória por células mononucleadas e lesão glomerular (Figura 9).

O paciente regressou novamente à consulta cerca de dois meses depois da cirurgia, com perda de apetite e aumento da cavidade abdominal. Nova ecografia reve-lou nova acumulação de fluido bilateralmente, embora

em menor quantidade do que na primeira situação.A recidiva dos quistos pressupunha o encerramento

espontâneo das cápsulas e propôs-se assim nova abor-dagem cirúrgica para drenagem e remoção parcial das cápsulas. Respeitou-se um centímetro de margem na transição para o parênquima renal e procedeu-se à ablação da restante cápsula. O paciente acabou por falecer na sequência da própria cirurgia o que justificá-mos por complicações associáveis à insuficiência renal. A não ablação parcial da cápsula na primeira interven-ção foi considerada como determinante na recidiva.

Caso clínico II

Em maio de 2002 foi-nos referido a exame ecográ-fico abdominal um gato macho de raça siamês, de 2 anos de idade, que tinha sido observado na véspera com massa abdominal dolorosa à palpação e com hipertermia (39,4 ºC). A ecografia identificou a massa como correspondendo ao rim direito que se apresen-tava muito volumoso devido à presença de líquido subcapsular sob a forma ecográfica de material hipo/anecogénio (Figura 10). A hipertermia registada ini-cialmente manteve-se durante mais uma semana ocur-rendo também simultaneamente anorexia e prostração. Apesar disso o hemograma era normal e a urocultura

Figura 4 – Distensão abdominal causada por presença de pseudoquisto subcapsular bilateral em gato (caso clínico I)

Figura 5 – Exame ecográfico de pseudoquisto renal subcapsular em gato (Caso clínico I). Notar presença de líquido a envolver o rim. Este apre-senta ecogenecidade alterada associável a nefrite intersticial crónica

Figura 6 – Aspecto intraoperatório dos rins com pseudoquisto subcapsu-lar bilateral (caso clínico I)

Figura 7 – Aspecto intraoperatório do rim direito com pseudoquisto sub-capsular (caso clínico I)

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do quisto apresentava um aspecto hemopurulento e moderadamente viscoso. Foi feita capsulotomia, dre-nagem do quisto e eliminada parte da sua parede. O conteúdo séptico do quisto levou-nos a não o deixar aberto para a cavidade peritoneal e a procedermos ao seu encerramento parcial associado a protecção com omento da abertura mantida.

A recuperação foi boa tendo sido mantida fluidote-rapia e cobertura antibiótica com 200 mg de cefoxitina sódica (Mefoxin) no pós operatório. Oito meses depois a situação mantém-se equilibrada e a função renal esta-bilizada, sem recidiva do pseudoquisto.

A análise do líquido identifica-o como líquido muito turvo de cor castanho escuro, com presença de eritró-citos (> 300/campo 400X), com presença não muito abundante de leucócitos (15/campo/400X), e com a presença de flora microbiana (cocos móveis). A amos-tra rica em células, com características inflamatórias, com inúmeros neutrófilos degenerados e não degene-rados além de abundantes eritrócitos, sugere infecção e inflamação possívelmente associado a trauma com pre-sença de sangue. Este tipo de fluído é compatível com a sua inclusão num tipo de fluído urinífero, embora possa ser só considerado como liquído inflamatório infectado.

Discussão

Embora a casuística seja diminuta, crê-se que esta experiência própria sobreposta ao conhecimento con-cretizado na pesquisa bibliográfica nos permite levan-tar algumas questões sobre este tema.

A diferenciação dos pseudoquistos em relação aos rins poliquísticos parece ser absoluta.

A prevalência da patologia não parece ser grande não havendo senão pontualmente referência a esta situação. A excepção é representada pelos 26 casos apresenta-dos num trabalho respeitante ao continente Australiano (Beck et al., 2000). Neste estudo não se considera haver predisposição rácica ou de sexo significativa e a etiologia genética para a situação não é equacionada. A concentração particular de casuística num determinado contexto e o facto dos nossos dois casos se reportarem a um siamês e a um filho de persa e siamês podem sugerir a necessidade de rever este conceito.

O trabalho de Beck et al. (2000) sugere, sem signifi-cância estatística, uma maior prevalência de casos em gatos machos. Curiosamente os nossos dois casos são representados por gatos machos. Este será outro con-ceito a manter em estudo.

A terapêutica cirúrgica, qualquer que seja a etiologia representada, parece estar indicada. A necessidade de drenagem do quisto é implícita. A noção de recidiva do processo deve também ser considerada à priori embora provavelmente será menos frequente em processos de natureza traumática. A técnica cirúrgica deve prever este condicionalismo. É imperioso drenar o quisto e eliminar parcialmente a cápsula. Pode-se optar por

Figura 8 – Aspecto do rim após abertura da cápsula e drenagem do líquido. Notar dimenção reduzida do rim e tonalidade clara do seu cortex

Figura 9 – Aspecto histopatológico de rim associado a pseucdoquisto subcapsular (caso clínico I). Apresenta lesões de nefrite intersticial com fibrose do estroma e infiltração celular inflamatória por células mono-nucleadas. Os glomérulos exibem espessamento da cápsula de Bowman, deformação do tufo vascular e espessamento do mesângio (HeF, 400x)

negativa. A ureia e creatinina estavam moderadamente elevadas (ureia 67 mg/dL; creatinina 2,06 mg/dL). Foi submetido a terapêutica com 50 mg de cefalexina BID (Ceporex) associado a 25 mg de enrofloxacina SID (Baytrill) e fluidoterapia endovenosa.

Depois de controlada esta situação foi submetido a laparotomia no sentido de drenar o quisto. O conteúdo

Figura 10 – Exame ecográfico de pseudoquisto renal subcapsular (caso clínico II)

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deixar o pseudoquisto aberto para a cavidade abdomi-nal ou, sobretudo com liquído de natureza urinosa ou infectado declaradamente, optar pela omentalização do pseudoquisto.

Para além do sucesso na drenagem e manutenção desta situação no pseuquisto, é importante ter a noção de que este processo está associado a uma nefrite intersticial crónica progressiva que, sendo bilateral, vai posteriormente comprometer a sobrevivência do paciente.

Agradecimentos

Agradecemos a colaboração do Centro Veterinário do Montijo e da Secção de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa.

Bibliografia

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SUPLEMENTO R E V I S T A P O R T U G U E S ADE

CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

Notas sobre publicações

Biossegurança em Ambientes Hospitalares VeterináriosMarcello Rodrigues da Roza, José Belarmino da Gama Filho e Marco António F. da CostaEditora Interciência, Rio de Janeiro 2003

O tema central desta pequena obra (115 páginas, em formato de bolso) trata questões relacionadas com os riscos para a saúde e o bem-estar dos técnicos e dos trabalhadores em ambientes hospitalares, que resultam da prática de actos médico-veterinários, de enferma-gem ou de estética animal.

É, neste particular, um trabalho inédito. Como tal, a merecer leitura e a recomendar aos profissionais vete-rinários da área clínica, com legítimas preocupações na protecção da saúde e do bem estar próprio, dos seus colaboradores e, mesmo, dos clientes.

Uma advertência terá de ser feita aos leitores euro-peus. Trata-se de um trabalho que está apresentado tendo como pano de fundo o enquadramento legal relativo ao trabalho e à saúde ocupacional no Brasil. Se o quisermos utilizar na cena europeia, exige ser complementado naquelas áreas, com o actual ambiente normativo português e da União Europeia.

Os autores são três técnicos superiores, dois médicos veterinários e um engenheiro químico, todos eles apre-sentando perfis técnico-científicos com intervenção em biossegurança.

O livro está organizado em seis capítulos cuja súmula é apresentada em preâmbulo. Este é um facto a louvar por tornar acessíveis, de modo imediato, os conteúdos dos diferentes temas abordados. Do mesmo modo se destaca o facto de todos os capítulos termina-rem com um curto sub-capítulo de “Conclusões”, no qual se destaca o que se considera essencial reter da respectiva leitura, bem assim como uma lista de refe-rências bibliográficas.

Analisando com algum pormenor o conteúdo da obra, verifica-se que no primeiro capítulo é feita uma

revisão sobre a evolução do enquadramento legal brasileiro ao qual estão sujeitos os profissionais, veterinários ou outros, actuando em estabelecimentos clínicos. São colocadas interessantes questões como a dos custos do risco (monitorização do risco), dos cuidados de saúde ocupacional na lógica do vínculo empregador e da respectiva compensação financeira por assunção do risco.

O segundo capítulo aborda e desenvolve o conceito de biossegurança em ambiente de trabalho e a respec-tiva evolução a partir da década de 70, do século pas-sado, liderada por organizações internacionais como a Organização Mundial de Saúde.

No terceiro capítulo, são descritos os principais agentes biológicos, considerados de risco, que podem ser identificados em estabelecimentos veterinários de vocação clínica. A apresentação destes agentes está organizada de acordo com a definição internacional actual de Grupo de Risco. Esta via facilita o entendi-mento ao nível do risco e do tipo de intervenção pre-ventiva mais aconselhada.

No quarto capítulo são abordados com algum deta-lhe riscos físicos e respectiva prevenção, relativos às radiações ionizantes e ao ruído presentes na actividade veterinária hospitalar.

Os agentes químicos, abordados no quinto capítulo, são referidos às principais classes de substâncias como os agentes neoplásicos, os gases anestésicos, os pesti-cidas, os desinfectantes e os antissépticos, e os antibi-óticos. É destacado, para cada caso, os procedimentos de boas práticas a cumprir e a fazer cumprir.

Finalmente, o sexto e último capítulo trata dos dife-rentes ambientes de trabalho nas instalações clínicas, referindo o levantamento dos riscos nos cinco grupos contemplados na lei brasileira: Grupo 1 - riscos físicos; Grupo 2 - riscos químicos; Grupo 3 - riscos biológicos; Grupo 4 - riscos ergonómicos; Grupo 5 - riscos acidentais. Neste capítulo, são ainda referidos para cada cenário as respectivas medidas preventivas a adoptar.

A obra em apreciação é um trabalho simples mas útil. Serve para, em ambientes hospitalares, actualizar e manter atentos aos riscos a que, permanentemente estão expostos, os profissionais veterinários, colabora-dores e clientes.

Pelo seu cariz marcadamente didáctico é de reco-mendar aos colegas que tenham preocupação em formar e educar para a saúde, em serviço, os seus colaboradores.

A. LouzãProfessor Catedrático, Faculdade de Medicina

Veterinária, Lisboa

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A Guitarra – bosquejo históricoArmando SimõesEdição de autor

Mão de condiscípulo, colega e amigo que, tal como eu, ajudou a desbravar terras africanas – ele mais, muito mais do que eu – fez chegar até mim uma pequena brochura com 250 páginas 150x250 mm ilus-trada e intitulada “A guitarra Portuguesa – bosquejo histórico”, impressa na Tipografia Eborauto, Ltd., em Évora, no ano de 1974, escrita e publicada em edição de autor por Armando Simões. Foi como se tivesse sofrido um murro na face e acorrem-me imagens, per-didas na lonjura dos tempos, sepultadas no disco duro do meu computador pessoal. Tratava-se nada mais nada menos, e antes de mais nada, do resultado dos estudos de alguém que fora, desde a juventude, ainda aluno da “Escola de Regentes Agrícolas de Coimbra”, um executor entusiástico e exímio de guitarra portu-guesa, pertencente ao grupo de médicos veterinários pioneiros que fundaram os Serviços Pecuários de Angola. Tratava-se pois de um colega, de seu nome completo Armando da Conceição Simões que deixara o seu nome ligado à história dos Serviços que ajudou a desenvolver, dono de um invejável curriculum que passamos a recordar.

Nascido em Lisboa, em 8 de Maio de 1894, obtivera o diploma de Regente Agrícola, na Escola de Coimbra, em 1913 e o de licenciado em Medicina Veterinária, em 1918, em Lisboa. Em 1 de Fevereiro de 1923 obteve o título de Doutor em Medicina Veterinária. Frequentou também a então “Escola de Guerra” e terminou o curso de Artilharia de Campanha em 1918, servindo o exér-cito como Oficial em Artilharia 1 (Évora), Artilharia 2 (Leiria) e no Grupo de Baterias de Artilharia a Cavalo (Queluz). Entretanto atingiu a patente de tenente e, no ano de 1923, embarcou para Angola em comissão civil, como médico veterinário. Foi colocado em Luanda, como chefe da Secção Técnica de Polícia Sanitária da então “Repartição de Pecuária de Angola”, dirigida pelo Doutor Almeida d’ Eça. Acumulava essa função com a chefia da Delegação de Sanidade Pecuária do Distrito – sede dos Serviços. Neste período foi o orga-nizador do 1º Arrolamento Geral de Gados e elaborou a primeira Carta Pecuária de Angola. Realizou diversas missões de Estudos e de Reconhecimento Pecuários aos Distritos do Congo e Duque de Bragança. Durante

a permanência em Luanda foi ainda professor do Liceu Salvador Correia, que entretanto fora criado, e 1º substituto do Juiz de Direito da 1ª Vara da Comarca de Luanda.

Por esse tempo e, mesmo muito mais tarde, a falta de magistrados de carreira obrigava à nomeação de substitutos escolhidos de entre os “homens bons” resi-dentes na comarca. Em 1948 quando cheguei a Nova Lisboa essa solução ainda vigorava e recordo-me de que o nossa colega Vasco Antunes Sousa Dias, era o 1º substituto do juiz da Comarca, embora com poderes restritos e delimitados.

Após este pequeno parêntese voltemos ao nosso tema.

Depois de 1927, Armando Simões foi ainda, sucessi-vamente: chefe da Missão Rural do Quanza Sul (1927) e das Delegações de Sanidade Pecuária de: Congo e Zaire (1927), Nova Lisboa (1929) e Malange (1931). Realizou os primeiros reconhecimentos pecuários dos distritos do Congo e do Cubango, tendo percorrido mais de três mil quilómetros a cavalo, de piroga e a pé. Os seus relatórios de serviço e os seus estudos estão publicados no “Boletim da Secretaria de Agricultura de Angola” e em “Pecuária” (“Anais dos Serviços Pecuá-rios de Angola”), onde podem ser consultados e lidos muito proveitosamente, pelos interessados. Terminada a comissão civil regressou à Metrópole, sendo colo-cado no Regimento de Artilharia Nº 2 (Coimbra). Foi promovido a capitão e, por motivos de saúde, passou à situação de reforma em 1939.

Contudo, o “feitiço africano” obrigou-o a regressar àquele país em 1943, como médico veterinário da Companhia Agrícola – Pecuária de Angola (K), com sede em Nova Lisboa. As suas funções nessa Compa-nhia obrigavam-no a deslocar-se com alguma frequên-cia à Lunda, pois além de possuidora de várias grandes explorações pecuárias, ela era a principal fornecedora de gado de abate (bovinos) à Companhia dos Diaman-tes de Angola (Diamang). Os concertos de guitarra que então ali realizava, nas “terras do fim do mundo”, onde só entrava quem a Companhia quisesse e autorizasse, era um “acontecimento” que quebrava a monotonia dos dias e perdurava na memória das pessoas…

Tudo isto já seria suficiente para recordar o seu nome, mas Armando Simões foi ainda e também um animador cultural, organizando saraus académicos culturais de música e teatro. Em Angola, nos locais onde se fixava no exercício da sua profissão, dedi-cava-se à promoção da cultura nas Sociedades locais, organizando conferências, espectáculos de teatro, saraus musicais e incentivava a visita de Companhias profissionais de Teatro. Além disso foi ainda jornalista, colaborando na “Gazeta das Aldeias”, “Ecos Veteriná-rios” (que também dirigiu), “Actualidade Portuguesa”, “Diário de Coimbra” (de que foi também director), “Jornal de Arganil”, “Comarca de Arganil”, “Arquivos Históricos de Góis”, “Boletim da Escola Agrícola de Coímbra” e “Jornal do Comércio”.

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Como Oficial do exército consta ter sido: “cum-pridor, disciplinador e disciplinado, desembaraçado, estudioso, trabalhador, inteligente, culto, de boas qua-lidades morais, muito bom camarada”; da sua folha de Serviços como médico veterinário civil, foi consi-derado “dotado de qualidades especiais, competente, activo, persistente, cuidadoso, metódico e pontual, disciplinado, assíduo ao serviço, bom colega, com bom comportamento moral e civil e ter boas relações com a população indígena”.

Faleceu na vila de Góis, de cuja Câmara Municipal foi presidente durante vários anos, em 14 de Dezembro de 1975.

Possuía a Medalha de Louvor da Cruz Vermelha Por-tuguesa, a Medalha Militar de Prata de Comportamento Exemplar, a Cruz de Cavaleiro da Ordem Militar de Aviz e o Grau de Oficial da Ordem de Benemerência.

Quanto à “óbrinha” que foi pretexto para esta cró-nica, falecem-me os conhecimentos para fazer uma apreciação responsável. A minha formação musical é praticamente nula como é regra num país onde para um dos seus muitos Secretários de Estado, “ditos da Cultura”, a obra musical por ele considerada como “máxima” eram os “concertos para violino” de… Chopin. Contudo, em minha casa existia uma esplen-dida discoteca e respectivo gramofone e uma viola de um tio-avô, dos seus tempos de Coimbra. Tive também uma tia-avó professora de música e recordo o capitão-músico Gustavo Coelho, meu professor de canto coral no Liceu de Jaime Moniz que nos deu aulas de inicia-ção musical… fui talvez um privilegiado mas isso não me confere quaisquer veleidades, nas artes musicais…

Limitar-me-ei pois a transcrever que o livro deseja “contribuir para o esclarecimento de alguns assuntos relativos à existência do que se considera no nosso país o seu mais nacional instrumento músico: a guitarra”. Parece-nos que o tempo e o labor gastos na empresa não foi desperdício, pois mesmo que o livro, na opi-nião do seu autor mais não seja do que uma “compi-lação de apontamentos”, a verdade é que eles ficam ali arrumados, e à disposição de quem os julgue de aproveitar pois, também cremos que “diga-se o que se disser, um arrumo é sempre útil”. Neste caso, o apoio bibliográfico é de salientar e completa a arrumação…

Em todo o caso, sempre direi que essa “compilação” se desdobra em várias partes distintas. Principia por abordar as origens do instrumento e a sua etimologia, referindo diversas opiniões sobre o tema. Refere-se à “guitarra” usada pelos castelhanos, que corresponde ao vocábulo português “viola” o antigo instrumento popular usado por muitos “tangedores” portugueses. Até ao século XV não existia a palavra “guitarra”, no nosso vocabulário. O vocábulo surge apenas no século XVIII. Segundo o autor a “designação portuguesa guitarra pertence exclusivamente ao instrumento que o português nacionalizou e de que tem justificado orgulho”. A ancestralidade da nossa guitarra leva-o a enquadrá-la entre os instrumentos de corda que

resultaram dos fenómenos músicos que surgiram com o aparecimento do homem sobre a terra. Contudo à cítara hispânica ou guitarra em espanhol corresponde o vocábulo português viola. Os dois instrumentos dife-rem no número das cordas e na forma das caixas de ressonância. Da viola, pela sua evolução natural, surgi-ram as nossas violas de arame, braguesas, funchalenses e outras. Então estabelece vários quadros genealógicos situando-a entre os seus pares. Opõe-se à ideia de que a guitarra tenha uma génese árabe e atribui nascimento da guitarra à forte corrente comercial que o tratado de Methween permitiu com a Inglaterra. Nesse tempo dominava entre nós a viola de arame e foi esse comér-cio que reintroduziu o cistro, o qual, ligeiramente modificado, 91 anos mais tarde permitiu a publicação do “1º tratado de guitarra de Silva Leite”.

No capítulo sobre a índole, aborda a tendência musical humana, considerando-a como um fenómeno vital, a sua magia que influencia a religião, referindo a importância da civilização árabe no desenvolvimento da música na península ibérica, com muito maior incidência nos territórios espanhóis, onde os árabes permaneceram mais tempo. Refere-se ao monge Guido de Avesso, inventor do solfejo e das claves; à influên-cia da igreja romana e dos reis cristãos peninsulares. A Espanha terá sofrido uma maior influência das civili-zações grega, latina e árabe (mediterrânica, portanto). Os territórios portugueses tiveram muito maior influ-ência celto-nórdica ou atlântica, trazida pelos bardos e druidas que entraram pelo norte e pelos cruzados que entraram pelo litoral atlântico vindos da Irlanda, da Inglaterra, da Normandia, da Bretanha, opondo-se à música árabe. Depois a emigração dos judeus por-tugueses para a Holanda influenciou as relações com os povos nórdicos. A tais factos se deve o comporta-mento diferente na índole dos dois povos e dos seus instrumentistas. A viola espanhola é mais expressiva, indispensável no “sapateado”. A guitarra portuguesa é mais dolente e apropriada às serenatas e ao fado. Viola e guitarra são dois instrumentos musicais que se har-monizam e completam.

A morfologia é outro aspecto focado, e refere o estudo do mestre de capela António da Silva Leite que descreveu a guitarra como instrumento importado da Inglaterra. Por esse tempo as suas características fundamentais de morfologia, envergadura, feitio, encordoações e escalas já eram as actuais. Surgiram depois variantes que tiveram por finalidade ampliar os seus recursos musicais. Simões define a guitarra como: “instrumento músico de cordas dedilhadas, paralelas em toda a extensão ao braço e à caixa de ressonância, de envergadura um pouco inferior à da viola vulgar (o violão) e formada por uma caixa de ressonância, um braço encimado por uma cabeça onde se fixam perpen-dicularmente as cordas, uma pestana, uma escala, um cavalete e um atadilho onde inferiormente se prendem as cordas”. Inicialmente as guitarras vinham de Ingla-terra. Depois passaram a ser construídas no Porto, em

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Lisboa e em Coimbra. Cada “proprietário de guitarra considera-a quase como um ser vivo ao qual tributa muita dedicação. Chamam-se “Guitarreiros” aos construtores ou reparadores de guitarras, havendo que destrinçá-los dos violeiros, cujos primórdios remontam aos tempos da fundação da nacionalidade e afirma que “…o berço da guitarra portuguesa, foi indubitavel-mente a cidade do Porto”. Depois surgiram fabricantes em Lisboa e em Coimbra definindo características pró-prias. Simões dá-nos numerosos nomes de guitarreiros célebres dessas cidades e de outros locais, fazendo destrinça entre guitarras de luxo e populares, até ao seu apogeu na segunda metade do século XIX.

No Porto a indústria manteve a qualidade mas, em Lisboa o fabrico ampliou-se a uma obra barata, que coincidiu com o aparecimento de bons músicos gui-tarristas. Foi então que se alargou a Coimbra o fabrico de um tipo especial sob influência da família Grácio, fabricantes de Lisboa, que evoluiu para constituir o modelo da nova guitarra portuguesa. No início do século XX deu-se o declínio da indústria, devido à concorrência da viola e do acordeão, as restrições de natureza policial e religiosa às serenatas e romarias, mais a invasão radiofónica por conjuntos estrangeiros, que criaram novos gostos. A guitarra ficou quase redu-zida ao fado e ao turismo. Simões mostra-se pessimista quanto ao futuro, prevendo que a saturação das pessoas (agora ampliada pela televisão, e pela “guitarra eléc-trica”, acrescentamos nós) venha a acabar com ela.

A segunda parte da obra é dedicada ao estudo espe-cífico do instrumento, começando pelo encordoado, dando alguns conselhos, ditados pela sua experiência, para a conservação das cordas em bom estado. Aborda depois a sua didáctica, que nunca conseguiu interessar a generalidade dos músicos, como aconteceu com a viola, talvez por ser um instrumento novo surgido em época de grandes perturbações sociais. O seu ensino profissionalizou-se somente nos fins do século XIX publicando-se alguns compêndios devidos a Júlio Silva, Thomaz Ribeiro e Reynaldo Varela.

Noutro capítulo aborda a adaptação da guitarra, a vários fins pois, em sua opinião, “…além de ser um primoroso instrumento musical de concerto é inter-prete da genuína expressão da sensibilidade popular. […] a guitarra a solo é capaz de completar-se, e é um elemento apreciável para a valorização de qualquer conjunto”. Como não podia deixar de ser, dedica todo um capítulo com mais de 30 páginas, ao estudo de “O Fado” o qual está tão intimamente ligado à Guitarra que não é possível estudá-los em separado. Essa asso-ciação forma um bloco de reconhecida importância social. A guitarra abdica dos seus valiosos recursos musicais. O fado abdica da sua psicologia rasca e transforma-se em embaixador nacional. Qualquer deles terá cerca de duzentos anos de vida e, para Armando Simões, é incontestável que a guitarra deve a sua exis-tência actual unicamente ao fado. Finalmente o último capítulo desta II parte é dedicado aos guitarristas e não

é o menos interessante, talvez por ter menos pormeno-res técnicos. Efemeramente, a guitarra, conseguiu aris-tocratizar-se. Refere-se então, com pormenor e uma vez mais, ao chamado “Fado de Coimbra”, apresen-tando como exímio tocador, considerado como o maior guitarrista português o estudante Antero Dias Alte da Veiga (1866-1960) e salienta a importância da “Escola Coimbrã” na história da guitarra. Não esquece o grupo excepcional de guitarristas, que, no começo do século XX existiu na Escola Nacional de Agricultura, em Coimbra o qual, embora próximo do meio coimbrão manteve a sua independência de estilo clássico conju-gando-o com a influência dos conhecimentos trazidos de suas terras.

Termino com uma sugestão a uma das nossas Orga-nizações Profissionais propondo que façam uma nova edição que tenha mais divulgação. Parece-nos que o livro bem o merece numa altura em que a música popular está sofrendo o ataque medonho de gravações de todo o género e feitio, a tal ponto que os próprios compositores, artistas e interpretes copiam os ritmos, as letras, as interpretações estrangeiras numa agressão permanente à nossa cultura, sem se aperceberem que, em época de globalização o interesse está no que é nosso, na nossa diferença…

No Alto da Ajuda, Fevereiro 2003.António Martins Mendes

Reuniões científicas, notícias

II Congresso dos Veterinários da Macaronésia. XII Encontro dos Médicos Veterinários dos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde: decorreu, na Cidade da Praia, República de Cabo Verde, nos dias 20 a 24 de Outubro de 2003. As sessões de aber-tura e encerramento foram presididas pelo Primeiro Ministro José Maria Pereira Neves e pela Ministra do Ambiente, Agricultura e Pescas, Maria Madalena Brito Neves, tendo o evento sido amplamente notíciado nos orgãos de comunicação locais dada a sua importância para a comunidade científica. Os trabalhos apresen-tados incluíram temas com relevância para os quatro arquipélagos. Na área da Parasitologia e Patologia das Doenças Parasitárias foram abordados aspectos epidemiológicos e técnicas de diagnóstico relativas às doenças de pele causadas por ácaros e fungos em ruminantes; debateu-se o controlo integrado ou sus-tentável de helmintoses dos pequenos ruminantes; falou-se sobre doenças transmitidas por carraças como babesiose e theileriose em equídeos; foi apresentado um estudo sobre o impacto ambiental e zoonótico da criptosporideose. Outros temas abordados foram a caracterização de populações de Haemonchus, para-sita de caprinos nas ilhas Terceira (Açores) e Santiago (Cabo Verde), a estrose humana e animal em Cabo Verde, a importância da presença de parasitas em peixes com valor comercial para a saúde dos consu-

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midores e as medidas de profilaxia a implementar. No âmbito da Sanidade Animal, relevou-se a importância de utilização da vacina RB51 no Plano de Erradicação da Brucelose Bovina nos Açores, como sendo o princi-pal meio para o controlo e erradicação da doença nas ilhas de S. Miguel, Terceira e S. Jorge. No tema Pato-logia e Clínica Geral foi apresentada uma comunicação em que se evidenciou a importância do controlo das infestações das pastagens pelo feto comum (Pteridium aquilinum) para evitar as consequências negativas da hematúria enzoótica bovina (HEB) na economia dos Açores e salientou-se a importância de estabelecer um programa de profilaxia médica e sanitária o mais alar-gado possível com vista a prevenir as restrições impos-tas pelo comércio internacional de bovinos e seus pro-dutos. A componente sócio-cultural incluiu uma visita ao interior da ilha de Santiago (S. Jorge, Stª. Catarina, Tarrafal e Stª Cruz) que decorreu num ambiente de camaradagem e animação que só a “morabeza” cabo-verdiana sabe propiciar.

Reuniões científicas e cursos, agenda

IV Congreso de Avicultura, Seminario Interna-cional Sobre Producción, Mercadeo y Consumo de Huevos: A decorrer em Santiago de Cuba de 19 a 21 de Maio. Informações: Dr.ª Elena Trujillo Gil, Ave. 7 Dic, s/n, Rotonda del Cacahual, Santiago de las Vegas, Ciudad de Habana, Cuba. Tel +537579040, +537579034, +5376834129, fax +537579080, e-mail [email protected], Internet www.iia.cu

15th International Congress of Animal Reproduc-tion (ICAR 2004): A decorrer em Porto Seguro, Baia, Brasil, de 8 a 12 de Agosto de 2004. Informações: [email protected], www.cbra.org.br/icar2004

Conference on Equine Sports Medicine and Science (CESMAS): A decorrer em Oslo, Noruega, de 24 a 26 de Setembro, acompanhado de seminários no dia 23 e cursos práticos nos dias 27 e 28. Informações: Arno Lindner, c/o Arbeitsgruppe Pferd, Laurahöhe 14, D-45289 Essen, Germany. Tel +492015718873, fax +492015718874, e-mail [email protected]

Curso Prático de Cirurgia da Bacia Pélvica: Organizado pelos Hospital Veterinário da UTAD, Associação de Estudantes de Medicina Veterinária da UTAD e Hospital Veterinário de Almada, a decorrer nos dias 6 e 7 de Fevereiro no Hospital Veterinário da UTAD, com um número de inscrições limitado a 24 alunos e cujo prazo de inscrição termina no dia 25 de Janeiro. Informações: Dr. José Eduardo Pereira. Tel: 259350630/631/634/601; e-mail: [email protected]

3º Curso Intensivo Teórico-Prático de Ritmo-logia Cardíaca Canina: Organizado pelo Hospital Veterinário da UTAD e pela Associação de Estudan-

tes de Medicina Veterinária da UTAD, a decorrer nos dias 20 e 21 de Março. Informações: Drª Ana Patrícia Fontes de Sousa. Tel: 259350563/634/601; e-mail: [email protected]; internet: www.utad.pt

Curso Teórico-Prático de Cirurgia Oftalmológica Veterinária e Microcirurgia da Córnea e Cirurgia de Cataratas por Facoemulsificação: Organizado pelo Hospital Veterinário da UTAD e pela Associação de Estudantes de Medicina Veterinária da UTAD, terá lugar nos dias 2, 3 e 4 de Abril. O número de inscri-ções é limitado a 16 alunos e o prazo limite de ins-crição é o dia 25 de Fevereiro próximo. Informações: Drª Odete Almeida. Tel: 259350678/634/601; e-mail: [email protected] Internet: www.utad.pt

Curso Prático de Maneio, Patologia e Cirurgia Equina: Agendado para os dias 12, 13 e 14 de Março, que terá lugar no Hospital Sierra de Madrid. Infor-mações: tel: 918435143; fax: 918435244. Internet: www.hvsmveterinario.com

IV Curso Práctico de Iniciación a la Osteosínte-sis: Organizado pela Sociedad Española de Traumato-logía y Ortopedia Veterinaria (SETOV), a decorrer em Cáceres, de 20 a 22 de Maio, no Centro de Cirurgia de Minima Invasión. Informações: Laura Luis Fernández, [email protected] Tel: 927181032; fax: 927181033.

Vida associativa

Sessão solene comemorativa da abertura do ano académico 2003/2004: realizou-se no dia 12 de Dezembro de 2003, na Sala de Actos da Universi-dade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real, a Sessão Solene de Abertura do Ano Académico dos Cursos de Licenciatura de Medicina Veterinária do País. A Sessão foi presidida pelo Vice-Reitor Professor Doutor Carlos Sequeira, em representação do Reitor da UTAD. Proferiu a Oração de Sapiência o Sr. Professor Alexandre Quintanilha, que dissertou sobre a forma como as Sociedades percepcionam e lidam com o risco. Traçando um panorama histórico, realçou que o assunto estava já patente nas obras dos Clássicos e foi sempre tema de interesse até aos actuais estudos de natureza sociológica que suportam as teorias da percepção do risco pela opinião pública e a sua valida-ção por parte dos organismos responsáveis pela gestão desses riscos. Os presentes tiveram a oportunidade de apreciar um orador detentor da rara capacidade de temperar as ciências biológicas e biofísicas com as ciências filosóficas, numa habilidade única de comu-nicação que tornam o Professor Alexandre Quintanilha num dos mais elevados expoentes da divulgação cientí-fica do nosso País.

A forma generosa como o Reitor da UTAD acolheu este evento e a forma como os estudantes da licencia-tura em Medicina Veterinária dessa Universidade se

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RPCV (2003) SUPL. 124: 33-42SUPLEMENTO

envolveram na realização do evento, nomeadamente na sua organização, mereceu o público reconhecimento da Direcção da SPCV. Igualmente apreciada foi a magní-fica intervenção do Coro da UTAD.

Usaram, ainda, da palavra o Presidente da Cerimó-nia, a Coordenadora do Curso de Medicina Veterinária da UTAD, Prof. Doutora Maria dos Anjos Pires e o Presidente da Direcção da SPCV. Este último fez um breve balanço das actividades desenvolvidas ao longo do ano transacto, reafirmando o papel da SPCV na divulgação e promoção de actividades científicas na área das Ciências Veterinárias.

A cerimónia terminou com a entrega dos prémios aos alunos das diversas escolas de Medicina Veteri-nária que mais se distinguiram nos seus respectivos cursos.

Houve, ainda, oportunidade para os presentes con-fraternizarem à volta de um Porto de Honra, oferecido pelo Reitor da UTAD.

Palestras na sede da SPCV: Terá lugar no dia 19 de Fevereiro p.f. pelas 18 horas, na sede da SPCV, antiga biblioteca da Escola Superior de Medicina Veterinária rua Gomes Freire, uma palestra que será proferida pelo Professor Victor Caeiro subordinada ao tema: “Uma Epopeia – A nossa maior glória não reside no facto de

nunca cairmos mas sim em nos levantarmos sempre depois de cada queda, Confúcio 551-479 a.C.”

Movimento de sócios: De 1 de Outubro a 31 de Dezembro de 2003 foram admitidos ou readmitidos os sócios que a seguir se indicam. Efectivos: 1093 Pedro José da Cunha Alcântara, 2232 Eduardo Manuel Pimentel Tavares, 2233 António Aparício Marques dos Santos, 2234 Luís Filipe Pedroso Napoleão, 2235 Ricardo de Matos Agrícola. Estudantes: 2231 Ana Margarida Faria Melo, 2236 Carla Alexandra Almeida Monteiro, 2237 Felisbela Cruz Loução, 2238 Inês Filipa Fernandes Oliveira, 2239 Lara Sofia Ribeiro da Silva Pires, 2240 Jennifer Pontes Gonçalves, 2241 Luís Filipe Gonçalves Rodrigues, 2242 Joana Pedro da Silva, 2243 Maria João da Costa Soares, 2244 Pedro dos Santos Frazão, 2245 Samuel da Costa Miguéis, 2246 Sara Filipa Lopes Nunes, 2247 Salvador de Alar-cão Falcão, 2248 Tiago João da Silva Gomes, 2249 Tiago Miguel de Lima Ferreira, 2250 Tânia Isabel Frazão Pina Santos

Necrologia: Chegou ao nosso conhecimento a notí-cia do falecimento da colega Dr.ª Glória dos Santos Castel-Branco, sócia nº 1423. À sua família apresenta-mos as nossas sentidas condolências.

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ÍNDICE DIDASCÁLICO DO SUPLEMENTO DO ANO 31 (2003)

Pag. Fasc.

Bem-estar-animal — Uma questão veterinária! 27 123Bioética & Biorrisco — Abordagem transdisciplinar 17 122Biossegurança em Ambientes Hospitalares Veterinários 35 124

Cartas ao editor 3 121Idem 13 122Idem 27 123Comentários ao artigo “Consumo de tecidos edíveis de porco com elevadas concentrações de nandrolona: consequências em actividades profissionais específicas” (Barbosa e Galo 2002) 3 121Condecorações 22 122Cursos de pós-graduação 8 121Curso de Mestrado em Ciência Animal em Meio Tropical 31 123Design Anatomy, Margarida Oliveira. Forma Design 22 122Direitos dos animais - Uma questão jurídica 13 122Esclarecimentos dos autores do artigo “Consumo de tecidos edíveis de porco com elevadas concentrações de nandrolona: consenquências em actividades profissionais específicas” (Barbosa e Galo 2002) aos coméntários da Comissão Técnica do Conselho Nacional Antidopagem (CNAD) 5 121Escola Agrícola de Coimbra - Sua história 6 121FECAVA (9th) Congress/ 12º Congresso Nacional da APMVEAC 19 122Guitarra (A) - bosquejo histórico 36 124

Informação associativa 9 121Jornadas (II) da AEMVUE 8 121

Movimento de Sócios 9 121Idem 23 122Idem 31 123Idem 40 124

Necrologia 9 121Idem 23 122Idem 40 124Dr. António Joaquim Torres 9 121Dr. Alexandro Herculano Costa de Melo 9 121Dr.Ruy António Byrne Monteiro 9 121Dr.António Guedes Corrêa Campos 9 121Dr.Herlander Miguel da Silva Fazenda 23 122Dr.ª Glória dos Santos Castel-Branco 40 124

Notas sobre publicações 6 121Idem 17 122Idem 28 123Idem 35 124Obras na Sede da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias 22 122O Diamante: revista editada pela Associação do Pessoal da Diamang 28 123Oh no! Not another on-line publication. Scientific e-publishing - The RPCV experience Telmo Pina Nunes, RPCV [email protected] 21 122Palestras na Sede da SPCV 31 123Idem 40 124Prémio Pfizer Saúde Animal / Prémio Pfizer Ciências Veterinárias 7 121Reunião anual da European Association of Veterinary Editors (EAVE), Estoril, 22 de Maio de 2003 19 122

Reuniões científicas e cursos: Agenda 8 121Idem 22 122Idem 31 123Idem 39 124

Reuniões científicas e cursos — Notícias 19 122Idem 38 124

Sessão solene comemorativa da abertura do ano académico 7 121Idem 31 123Idem 39 124Sítio da SPCV na Internet 31 123The profiles of veterinary profession in Europe. Yolanda Vaz, Cristina Vilela, FMV-UTL, Rua Prof. Cid ddos Santos, 1300-477 Lisboa 19 122Transporte de animais vivos — Um problema 14 122

Vida associativa 9 121Idem 22 122Idem 31 123Idem 39 124

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ÍNDICE DIDASCÁLICO DO VOLUME XCVIII (2003)

Pag. Fasc.Acção de antimicrobianos sobre estirpes de Aeromonas isoladas em diferentes pontos da linha de processamento de frangos, por Francisca Neide Costa et Al. 95 546

Aplicação (A) da ressonância magnética no estudo anatómico do encéfalo de cães, por Bruno Colaço et Al. 159 548

Avaliação da estabilidade da progesterona em diferentes tipos de amostras: soro e leite desnatado, por R. Payan Carreira et Al. 207 548

Bacillaceae spores, fungi and aflatoxins determination in honey, por Hermínia Marina et Al. 85 546

Caso (Um) de adenocarcinoma prostático canino de baixa agressividade:estudo dos AgNORs, por J.F.Silva & J.J.Correia 139 547

Cinco casos clínicos de intoxicação por contacto com a larva Thaumetopoea pityocampa em cães,por P. Oliveira et Al. 151 547

Comparação entre o método da dupla zaragatõa e o da excisão na determinação de contagens de microrganismos totais viáveis e de Enterobacteriaceae na superficie interna e externa de carcaças de suino, por Madalena Vieira-Pinto et Al. 89 546

Contribuição para o estudo da besnoitiose bovina em Portugal, por H. Cortes et Al. 43 545

Crescimento compensatório em bovinos de corte, por Dorismar David Alves 61 546

Criação (A) de Serviços Pecuários em Moçambique, por António Martins Mendes 167 548

Development of a Fluorescent In Situ Hybridization protocol for the rapiddetection and enumeration of Listeria monocytogenes in milk, por Manuela Oliveira et Al. 119 547

Efeito da aplicação vaginal de agentes dilatadores do cérvix (misoprostol e sulfato de terbutalina) sobre os resultados da IA em raças ovinas locais, por João P. Barbas et Al 185 548

Efeitos do resfriamento intermitente e de repositor eletrolítico sobre a osmolalidade e eletrólitos séricos de eqüinos submetidos a exercício de baixa intensidade, por José Corrêa de Lacerda-Neto et Al 189 548

Estimativa da idade dos equinos através do exame dentário, por M. F. Silva et Al. 103 547

Estudo preliminar da criptosporidiose nos ruminantes silváticos do Jardim Zoológico de Lisboa, por E. Delgado et Al. 39 545

Fungal flora and mycotoxins detection in commercial pet food, por Maria Lígia Martins et Al 179 548

Hérnias perineais nos pequenos animais, por Fernando Ferreira & Esmeralda Delgado 3 545

História dos Serviços Veterinários de Angola – Os primeiros anos, por António Martins Mendes 11 545

Irrigação arterial hepática em canídeos, por Manuela M. R. E. Niza et Al. 69 546

Isolamento de Prototheca zopfii a partir de leite bovino, por R. Bexiga et Al. 33 545

Luteal function and metabolic parameters in relation to conception in inseminated dairy cattle, por Maria do Carmo Feliciano et Al. 25 545

Método (O) de inclusão, baseado em genótipos multilocus, na alocação de indivíduos de algumas raças bovinas autóctones do norte de Portugal, por N. V. Brito et Al. 47 545

Morfometria e Ultra-Estrutura da Mucosa Intestinal de Frangos de Cortealimentados com Dietas contendo diferentes Probióticos, por Elizabete Regina Leone Pelicano et Al. 125 547

Neoplasias em canídeos – Um estudo descritivo de 6 anos, por Maria dos Anjos Pires et Al. 111 547

Ocorrência das formas de azoto nas águas residuais de suinicultura e em três tipos de solos, por L. S. S. Barros et Al 197 548

Papel (O ) da inspecção sanitária post mortem em matadouro na detecção de lesões e processos patológicos em aves. Quatro casos de lesões compatíveis com a doença de Marek em carcaças de aves rejeitadas, por Madalena Vieira-Pinto et Al. 145 547

Perfil de aminoácidos livres em presuntos portugueses de cura rápida, por Mário A., Gonçalves Quaresma et Al. 19 545

Principais aspectos ligados à aplicação da inseminação artificial na espécie canina, por Alexandre R. Silva et Al. 53 546

Pseudoquisto renal subcapsular a propósito de dois casos clínicos em gato, por José Paulo Sales Luis et Al. 211 548

Superovulation of Mertolenga cows with two FSH preparations (FSH-P and FOLLTROPIN), por M.A. Quaresma et Al. 81 546

Três casos de neoplasias espontâneas em peixe, por Paula Ramos & Maria da Conceição Peleteiro. 77 546

Vaginal cytology in queens with estrus induced with equine chorionic gonadotrophin, por Marcos Renato Franziosi Mattos et Al. 135 547

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ÍNDICE ONOMÁSTICO DO VOLUME XCVIII (2003)

Pag. Fasc.

Alves, Dorismar David - Crescimento compensátorio em bovinos de carne 61 546

Barbas, João P. et Al - Efeito da aplicação vaginal de agentes dilatadores do cérvix (misoprostol e sulfato de terbutalina) sobre os resultados da IA em raças ovinas locais 185 548

Barros, L. S. S. et Al. - Ocorrência das formas de azoto nas águas residuais de suinicultura e em três tipos de solos 197 548

Bexiga, R. et Al - Isolamento de Prototheca zopfii a partir do leite de bovino 33 545

Brito, N. V et Al - O Método de inclusão, baseado em genótipos multilocus, na alocação de indivíduos de algumas raças bovinas autóctones do norte de Portugal 47 545

Carreira, R. Payan et Al. - Avaliação da estabilidade da progesterona em diferentes tipos de amostras: soro e leite desnatado 207 548

Colaço, Bruno et Al. - A Aplicação da ressonância magnética no estudo anatómico do encéfalo de cães 159 548

Cortes, H. et Al. - Contribuição para o estudo da besnoitiose bovina em Portugal 43 545

Costa, Francisca Neide et Al. - Acção de antimicrobianos sobre estirpes de Aeromonas isoladas em diferentes pontos da linha de processamento de frangos 95 546

Delgado, E. et Al. - Estudo preliminar da criptosporidiose nos ruminantes silváticos do Jardim Zoológico de Lisboa 39 545

Feliciano, Maria do Carmo et Al. - Luteal function and metabolic parameters in relation to conception in inseminated dairy cattle. 25 545

Ferreira, Fernando & Esmeralda Delgado - Hérnias perineais nos pequenos animais 3 545

Luis, José Paulo Sales et Al - Pseudoquisto renal subcapsular a propósito de dois casos clínicos em gato 211 548

Martins, Hermínia Marina et Al. - Bacillaceae spores, fungi and aflatoxins determination in honey 85 546

Martins, Maria Lígia et Al. - Fungal flora and mycotoxins detection in commercial pet food 179 548

Mattos, Marcos Renato Franziosi et Al - Vaginal cytology in queens with estrus induced with equine chorionic gonadotrophin 135 547

Mendes, António Martins - História dos Serviços Veterinários de Angola – Os primeiros anos 13 545

Mendes, António Martins - A Criação de Serviços Pecuários em Moçambique.... 167 548

Neto, José Corrêa de Lacerda et Al. - Efeitos do resfriamento intermitente e de repositor eletrolítico sobre a osmolalidade e eletrólitos séricos de eqüinos submetidos a exercício de baixa intensidade. 189 548

Niza, Manuela R. E. et Al. - Irrigação arterial hepática em canídeos 69 546

Oliveira, Manuela et Al - Development of a fluorescent In Situ hybridization protocol for the rapid detection and enumeration of Listeria monocytogenes in milk. 119 547

Oliveira, P. et Al - Cinco casos clínicos de intoxicação por contacto com a larva Thaumetopoea pityocampa em cães. 151 547

Pelicano, Elizabete Regina Leone et Al. - Morfometria e Ultra-Estrutura da Mucosa Intestinal de Frangos de Corte alimentados com Dietas contendo diferentes Probióticos 125 547

Pinto, Madalena Vieira et Al - Comparação entre o método da dupla zaragatõa e o da excisão na determinação de contagens de microrganismos totais viáveis e de Enterobacteriaceae na superficie interna e externa de carcaças de suino 89 546

Pinto, Madalena Vieira et Al - O papel da inspecção sanitária post mortem em matadouro na detecção de lesões e processos patológicos em aves. Quatro casos de lesões compatíveis com a doença de Marek em carcaças de aves rejeitadas 145 547

Pires, Maria dos Anjos et Al. - Neoplasias em canídeos – Um estudo descritivo de 6 anos 111 547

Quaresma, Mário A. Gonçalves et Al. - Perfil de aminoácidos livres em presuntos portugueses de cura rápida 19 545

Quaresma, M.A. et Al. - Superovulation of Mertolenga cows with two FSH preparations (FSH-P and FOLLTROPIN) 81 546

Ramos, Paula & Maria da Conceição Peleteiro - Três casos de neoplasias espontâneas em peixe 77 546

Silva, Alexandre R. et Al. - Principais aspectos ligados à aplicação da inseminação artificial na espécie canina 53 546

Silva, J.F. & J.J.Correia - Um caso de adenocarcinoma prostático canino de baixa agressividade: estudo dos AgNORs 139 547

Silva, M. F. et Al - Estimativa da idade dos equinos através do exame dentário 103 547