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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ JAQUELINE CARNEIRO DE MATOS A APLICAÇÃO E A EXECUÇÃO DA MEDIDA DE SEGURANÇA CURITIBA 2017

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

JAQUELINE CARNEIRO DE MATOS

A APLICAÇÃO E A EXECUÇÃO DA MEDIDA DE SEGURANÇA

CURITIBA

2017

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JAQUELINE CARNEIRO DE MATOS

A APLICAÇÃO E A EXECUÇÃO DA MEDIDA DE SEGURANÇA

Trabalho de Conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito para a obtenção de título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Rafael Lima Torres.

CURITIBA

2017

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TERMO DE APROVAÇÃO

JAQUELINE CARNEIRO DE MATOS

A APLICAÇÃO E A EXECUÇÃO DA MEDIDA DE SEGURANÇA

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título em Bacharel no Curso de Direito, da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ___ de ___________ de 2017.

_______________________________________________ Prof. Dr. PhD. Eduardo de Oliveira Leite Coordenador do Núcleo de Monografia

Faculdade de Direito da Universidade Tuiti do Paraná

Orientador: _______________________________________________ Prof. Rafael Lima Torres

Universidade Tuiuti do Paraná Curso de Direito

Professor: _______________________________________________ Universidade Tuiuti do Paraná

Curso de Direito

Professor: _______________________________________________ Universidade Tuiuti do Paraná

Curso de Direito

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos que lutam contra a violência, em especial aos

funcionários e todos os envolvidos, que mesmo diante da precariedade nos

estabelecimento e a falta de recursos, não desistem de exercer esse trabalho que é

de suma importância para toda a sociedade.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus por ser tão generoso comigo.

De uma forma mais que especial, agradeço minha querida Mãe Marlene, por

ser um exemplo de mulher guerreira e batalhadora e me apoiar.

Agradeço a todos os meus colegas que chegaram até aqui comigo, pelos

conselhos e preocupações, em especial ao Amado Carlo Renan, por me salvar até o

último momento.

Ao inestimável Prof°. Dálio Zippin que dedicou seu tempo em meu auxilio,

pelas palavras de suporte e profissionalismo, aos funcionários do Complexo Medico

Penal em especial ao Fineio Vieira ao dedicar seu tempo e sanar minhas dúvidas, e

ao meu orientador Prof°. Rafael Torres.

A todo o corpo docente da Universidade Tuiuti do Paraná, por todos os

ensinamentos e compartilharem experiências que contribuíram com a minha vida

pessoal e profissional.

E a querida Josi pela paciência para a finalização deste trabalho.

Muito obrigada a todos!

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“Qualquer um pode julgar um crime tão bem quanto eu, mas o que eu quero é corrigir os motivos que levaram esse crime a ser cometido.” (CONFÚCIO).

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RESUMO

A presente monografia trata da Medida de Segurança no Brasil, um tema muito discutidos pelos especialistas num momento de transformação no que se refere ao tratamento e a luta antimanicomial. O estudo surgiu da necessidade pela busca de aprofundamento no que tange a efetividade e aplicabilidade da Medida de Segurança. Pretende-se demonstrar que a medida de segurança, apesar dos novos projetos apresentados e já praticados com sucesso, da mesma forma que algumas instituições progridem outras continuam em situações deploráveis. Para tanto foram analisados tópicos necessários para a elucidação do assunto em obras, artigos, noticiais, monografias, teses, sites, analises de legislação especificas, doutrinas jurisprudências, pesquisa em campo e demais fontes necessárias para a conquista do presente. Sendo assim, inicialmente coube o estudo das definições da imputabilidade, semi-imputabilidade e inimputabilidade. Posteriormente busca definição do que consiste a Medida de Segurança, sua aplicação até a sua cessação. Por fim são apresentadas relatórios de inspeções nas instituições, novas experiências de projetos e leis, evoluções quanto ao tratamento e ressocialização dos pacientes em Medida de Segurança. A análise desta pesquisa demostra a importância do tratamento adequado e o apoio do Governo à situação dos infratores portadores de doença mental, em época de transformação e esperança a muito que se fazer para mudar a realidade do País. Palavras-chave: Direito Penal. Medida de Segurança. Ressocialização. Hospitais de Custodia.

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ABSTRACT

This monograph deals with the Security Measure in Brazil, a subject much discussed by the specialists in a moment of transformation regarding the treatment and the antimanicomial fight. The study arose from the need for the search for deepening regarding the effectiveness and applicability of the Security Measure. It is intended to demonstrate that the security measure, despite the new projects presented and already practiced successfully, in the same way that some institutions progress others continue in deplorable situations. In order to do so, we analyzed topics necessary for the elucidation of the subject in works, articles, news, monographs, theses, websites, specific legislation analyzes, jurisprudence doctrines, field research and other sources necessary for the conquest of the present. Thus, the study of definitions of imputability, semi-imputability and non-attributability was initially carried out. Subsequently seeks definition of what constitutes the Security Measure, its application until its cessation. Finally, reports of inspections are presented in the institutions, new experiences of projects and laws, evolutions regarding the treatment and re-socialization of patients in Safety Measure. The analysis of this research demonstrates the importance of adequate treatment and the support of the Government to the situation of the offenders with mental illness in a time of transformation and hope that much to do to change the reality of the Country.

Keywords: Criminal Law. Security measure. Ressocialização. Hospitals of Custody.

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LISTA DE SIGLAS

ART - Artigo

CF - Constituição Federal

CMP-PR- Complexo Médico Penal do Paraná

CP - Código Penal

LEP - Lei de Execução Penal

PAILI - Programa de Atenção Integral ao Louco Infrator

PAI-PJ - Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário Portador de

Sofrimento Mental Infrator

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 11

2 DA IMPUTABILIDADE PENAL .................................................................... 12

2.1 IMPUTABILIDADE (CAPACIDADE DE CULPABILIDADE) .......................... 12

2.2 CAUSAS DE IMPUTABILIDADE .................................................................. 12

2.3 INIMPUTABILIDADE POR DOENÇA MENTAL ............................................ 13

2.4 A SUPERVENIÊNCIA POR DOENÇA MENTAL .......................................... 14

2.5 INSANIDADE MENTAL DO ACUSADO ....................................................... 14

2.6 INIMPUTABILIDADE POR DESENVOLVIMENTO MENTAL INCOMPLETO

OU RETARDADO ..................................................................................................... 15

2.7 EFEITOS DA INIMPUTABILIDADE .............................................................. 16

2.8 DA SEMI-IMPUTABILIDADE ........................................................................ 16

3 DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA ............................................................... 17

3.1 CONCEITO E FINALIDADE DA MEDIDA DE SEGURANÇA ....................... 17

3.2 DIFERENÇA ENTRE PENA E MEDIDA DE SEGURANÇA ......................... 17

3.3 PRINCÍPIOS DA MEDIDA DE SEGURANÇA .............................................. 19

3.3.1 Princípio da Legalidade e Anterioridade ....................................................... 19

3.3.2 Princípio da Jurisdicionalidade ..................................................................... 19

3.4 ESPÉCIES DE MEDIDA DE SEGURANÇA E MODO DE EXECUÇÃO ....... 20

3.4.1 Periculosidade Criminal como Pressuposto da Medida de Segurança......... 21

3.5 MODO DE EXECUÇÃO ............................................................................... 22

3.6 DA CESSAÇÃO DA PERICULOSIDADE ..................................................... 24

3.7 DA MEDIDA DE SEGURANÇA E O CARÁTER DE PERPETUIDADE ........ 24

4 RELATÓRIO DE INSPEÇÕES AOS MANICÔMIOS PELO CONSELHO

FEDERAL DE PSICOLOGIA EM CONJUNTO COM A ORDEM DOS ADVOGADOS

E A ASSOCIAÇÃO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO EM DEFESA DA

SAÚDE .......................................................................................................................26

4.1 INTERNOS QUE COMETERAM CRIMES MENORES; PACIENTES COM

PERICULOSIDADE CESSADA E CONFIABILIDADE DE DADOS ........................... 27

4.2 MUTIRÕES CARCERÁRIOS ....................................................................... 27

4.3 RELATÓRIO DO ÚLTIMO MUTIRÃO REALIZADO NO COMPLEXO MÉDICO

PENAL DO PARANÁ (CMP-PR) ............................................................................... 28

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4.4 O ÚLTIMO DECRETO ESPECIAL DE INDULTO QUE BENEFICIOU AS

MULHERES COM FILHOS COM TRANSTORNOS MENTAIS ................................. 29

4.5 DA REFORMA PSIQUIÁTRICA – LEI N° 10.216/2001 –

DESISTITUCIONALIZAÇÃO E A LUTA ANTIMANICOMIAL .................................... 30

4.6 PAI-PJ (PROGRAMA DE ATENÇÃO INTEGRAL AO PACIENTE JUDICIÁRIO

PORTADOR DE SOFRIMENTO MENTAL INFRATOR) E PAILI (PROGRAMA DE

ATENÇÃO INTEGRAL AO LOUCO INFRATOR) ...................................................... 31

4.6 RESOLUÇÃO DO CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E

PENITENCIÁRIA QUANTO A MEDIDA DE SEGURANÇA ....................................... 32

4.7 PLANO NACIONAL DE SAÚDE SOBRE A QUESTÃO DAS PESSOAS COM

TRANSTORNOS MENTAIS ...................................................................................... 33

4.8 REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O TRATAMENTO DE

PRESOS (REGRAS DE MANDELA) ......................................................................... 34

4.9 PRINCÍPIO DA ONU SOB A QUESTÃO DAS PESSOAS PORTADORAS DE

DOENÇA MENTAL ................................................................................................... 34

5 DECISÃO DO TRIBUNAL SOBRE A MEDIDA DE SEGURANÇA ............. 36

6 TRABALHO DE CAMPO NO COMPLEXO MÉDICO PENAL (CMP-PR)

PINHAIS, REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA, ESTADO DO PARANÁ .... 39

7 CONCLUSÃO............................................................................................... 40

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 41

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11

1 INTRODUÇÃO

O proposito deste estudo é apresentar e discutir a efetividade e a

aplicabilidade da Medida de Segurança imposta ao agente inimputável ou semi-

imputavel que pratica um fato típico e ilícito, com base no grau de periculosidade do

mesmo.

Para a iniciação do estudo é a apresentado a conceituação e as diferenças

da imputabilidade, o instituto da Medida de Segurança, os pressupostos necessários

para a sua aplicabilidade, e suas peculiaridades. A classificação das duas espécies

de Medida de Segurança detentiva e restritiva, que podem ser tanto de internação,

quanto de tratamento ambulatorial. Ainda são abordados o caráter de perpetuidade e

a cessação da periculosidade.

Posteriormente o trabalho mostra inspeções realizadas em todo o Brasil.

Muitos são os indivíduos que permanecem retidos em hospitais prisionais

erroneamente, em casos de retenção na instituição com a sua medida de segurança

extinta, internações remanescentes e ilegais, grande número de presos por delitos de

pequenos furtos, danos contra patrimônio público, desacato a autoridade,

configurando a inadequação da avaliação legal. São apontados ainda as posições dos

grandes tratados quando a Medida de Segurança, ONU e as Regras de Mandela,

assim como a lei 10.216/01 (Lei de Reforma Psiquiátrica) que vem ao longo do tempo

através da luta antimanicomial incentivando programas de tratamento e reinserção do

paciente a sua comunidade.

Por fim o relato do trabalho em campo no Complexo Médico Penal da Cidade

de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, Estado do Paraná.

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2 DA IMPUTABILIDADE PENAL

2.1 IMPUTABILIDADE (CAPACIDADE DE CULPABILIDADE)

A imputabilidade é um dos termos da culpabilidade, para ser responsabilizado

pelo fato típico e ilícito o agente deverá ser imputável. Trata-se da capacidade mental

ao tempo da ação ou omissão de entender o caráter ilícito do fato, composto de dois

elementos este primeiro chamado de intelectivo ou intelectual que consiste na

integridade biopsíquica, na perfeita saúde mental, ou seja, capacidade de entender as

proibições ou determinações jurídicas, ter discernimento das consequências de suas

ações. O segundo elemento chamado de volitivo determina o domínio da vontade,

onde o agente controla e domina seus impulsos, tem condições de avaliar a sua

conduta. O código penal brasileiro em seu art. 26 define o agente isento de pena e

inimputável e semi-inimputável. Portanto dispõe da seguinte forma:

Art. 26. É isento de pena o agente, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Redução da pena Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

É necessário que o agente possua esses dois elementos para se considerar

imputável. Na falta de um deles considera-se inimputável. São inimputáveis por

existência de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado. O

Código Penal adotou o critério biopsicologico: é inimputável quem, no momento da

conduta criminosa, apresenta um problema mental que afete a capacidade de

compreensão e determinação do caráter ilícito do fato. A presunção da imputabilidade

é relativa (iuris tantum) todos são imputáveis a partir dos 18 anos, salvo prova pericial

em sentido contrário, revelando causa mental deficiente.

2.2 CAUSAS DE IMPUTABILIDADE

O Código Penal elenca as causas de inimputabilidade tais como menoridade;

doença mental; desenvolvimento mental incompleto, desenvolvimento mental

retardado e embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior.

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Critério puramente biológico, independente da inteligência e

desenvolvimento mental, entende-se que os menores de 18 anos não gozam de plena

capacidade de entendimento que lhes permita imputar a pratica do fato típico ilícito,

estes serão julgados nas normas estabelecidas na legislação especial A presença de

inimputabilidade é absoluta (iuris et de iure), não admite prova em sentido contrário,

mesmo que o indivíduo seja legalmente emancipado.

2.3 INIMPUTABILIDADE POR DOENÇA MENTAL

A inimputabilidade por doença mental não se trata apenas de problemas

patológicos, esta deve ser interpretada em um amplo sentido, abrangendo as causas

orgânicas, toxicas e funcionais, ou seja, de origem toxicológicas causadas por

venenos ab externo (alcoolismo, morfinismo, cocainismo, saturnismo etc.) patológico

instalado no mecanismo cerebral (paralisia geral progressiva, sífilis cerebral,

demência senil, arteriosclerose cerebral, psicose traumática etc.) ou as causadas por

toxinas metabólicas (infecções agudas, surtos tifoides, delírios decorrentes de graves

pneumonias, enfermidades gerais etc.) e as anomalias de desvios da normal conduta

psíquica (esquizofrenia, loucura circular, histeria paranoia).

No entendimento do autor Nucci o conceito de doença mental deve ser

analisada em sentido lato, por sua vez, no Código Penal exemplifica em detalhes:

O conceito deve ser analisado em sentido lato, abrangendo as doenças de origem patológica e de origem toxicológica. São exemplos de doenças mentais, que podem gerar inimputabilidade penal: epilepsia (acessos convulsivos ou fenômenos puramente cerebrais, com diminuição da consciência, quando o enfermo realiza ações criminosas automáticas; a diminuição da consciência chama-se ‘estado crepuscular’); histeria (desagregação da consciência, com impedimento ao desenvolvimento de concepções próprias, terminando por falsear a verdade, mentindo, caluniando e agindo por impulso); neurastenia (fadiga de caráter psíquico, com manifesta irritabilidade e alteração de humor); psicose maníaco-depressiva (vida desregrada, mudando humor e caráter alternativamente, tornando-se capaz de ações cruéis, com detrimento patente das emoções); melancolia (doença dos sentimentos, que faz o enfermo olvidar a própria personalidade, os negócios, a família e as amizades); paranoia (doença de manifestações multiformes, normalmente composta por um delírio de perseguição, sendo primordialmente intelectual; pode matar acreditando estar em legítima defesa); alcoolismo (doença que termina por rebaixar a personalidade, com frequentes ilusões e delírios de perseguição); esquizofrenia (perda do senso de realidade, havendo nítida apatia, com constante isolamento; perdesse o elemento afetivo, existindo introspecção; não diferencia realidade e fantasia); demência (estado de enfraquecimento mental, impossível de remediar, que desagrega a personalidade); psicose carcerária (a mudança de ambiente faz surgir uma espécie de psicose); senilidade (modalidade de psicose, surgida na velhice, com progressivo

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empobrecimento intelectual, ideias delirantes e alucinações). (NUCCI, 2014 p.262).

Paulo Busato cita um trecho de um livro que reflete um ponto de vista quanto

as causas de um crime e suas consequências:

Não me incomodo muito com o hospício, mas o que me aborrece é essa intromissão da polícia na minha vida. De mim para mim, tenho certeza que não sou louco, mas devido ao álcool, misturado com toda a espécie de apreensões que as dificuldades de minha vida material há 6 anos me assoberbam, de quando em quando dou sinais de loucura: deliro.” (LIMA apud BUSATO, 2014, p. 216).

A inimputabilidade será concedida quando decorrente de uma doença mental

o indivíduo seja incapaz, no momento da conduta, de entender o fato ilícito, não basta

portanto, a presença do problema mental, pois em estado (intervalo) de lucides o

mesmo será considerado imputável.

2.4 A SUPERVENIÊNCIA POR DOENÇA MENTAL

O artigo 183 da LEP declara que quando o preso, durante a execução da pena

determinada, apresentar doença mental ou perturbação da saúde mental, deverá

fazer o exame pericial e constatado sua inimputabilidade, terá sua pena substituída

pela medida de segurança, a duração da medida não deve ser superior ao tempo

restante para o cumprimento da pena.

Da mesma maneira o dispõe o art. 41 do Código Penal que “o condenado

que sobrevier doença mental será internado em Hospital de Custodia e tratamento

Psiquiátrico.

Existem duas superveniências de doença mental, a transitória e a

permanente, na primeira aplica-se o art. 41 do Código Penal, transfere-se o preso ao

estabelecimento adequado, e uma vez curado, volta ao estabelecimento prisional,

neste caso não se altera a sua pena, esse período é computado como cumprimento

de pena. Na segunda hipótese, se a doença for de caráter perdurável, substituí-a por

medida de segurança.

2.5 INSANIDADE MENTAL DO ACUSADO

O Código de Processo Penal em seus artigos 149 a 154 descreve sobre a

insanidade mental do acusado. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do

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acusado, o juiz ordenara, de oficio ou a requerimento dos interessados, a execução

de exame médico-legal.

Aferido a necessidade o mesmo será internado em manicômio judicial, ou em

estabelecimento adequado a qual o juiz designará. O prazo estipulado para o exame

é de no máximo 45 (quarenta e cinco) dias, salvo necessidade de maior prazo, quando

não houver prejuízo ao processo, o juiz poderá conceder os autos aos peritos para a

contribuição do exame.

Uma vez entendido que o incriminado era, ao tempo da infração irresponsável

nos termos do artigo 22 do Código Penal, o processo avançara com a presença do

curador. A insânia será processada em autos apartado, até que seja apresentado o

laudo pericial.

Ainda nessa perspectiva minucia o art. 682 do Código de Processo Penal,

sobre o indivíduo que adoeceu no curso da execução da pena no curso da execução

da pena, quanto a urgência, o diretor do estabelecimento prisional poderá ordenar a

remoção do sentenciado, comunicando sucessivamente o Juiz que diante de perícia

medica tomara as devidas providencias.

Findo o prazo do cumprimento da sentença, e a internação permanecer, e não

houver estipulado medida de segurança detentiva, o sujeito terá o destino persuadido

pela sua doença, realizada a devida comunicação ao juiz de incapazes.

2.6 INIMPUTABILIDADE POR DESENVOLVIMENTO MENTAL INCOMPLETO OU

RETARDADO

Aos menores de 18 anos e aos silvícolas (Índio, aborígene, habitante primitivo

do país) é atribuído o desenvolvimento mental incompleto, o menores ficam sujeitos

às normas na legislação especial (art. 228 CF): Lei 8.069/1990 – Estatuto da Criança

e do Adolescente, já os silvícolas deverá haver pericia conferindo o grau de

assimilação dos valores sociais, isto é, se integrado à vida em sociedade: imputável,

se dividido entre o convívio na tribo e sociedade: semi-imputavel, se completamente

incapaz de viver em sociedade: inimputável.

Compreendem de desenvolvimento mental retardado os oligofrênicos (idiotas,

imbecis, débeis mentais), tal como os que possuem carência de sentidos (surdo-

mudo) devendo também estes passar por pericia, aferindo o grau de prejuízo causado

por esta falha, já que nos dias de hoje, com regra, tem a vida basicamente igual aos

que não portam tal deficiência.

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16

2.7 EFEITOS DA INIMPUTABILIDADE

Os inimputáveis são processados e julgados pela justiça penal, porém não

podem ser condenados e sim absolvidos, pois são desprovidos do elemento

culpabilidade imposta para aplicação de pena, sentenciados portanto com a chamada

absolvição impropria, onde é lhes aplicado a medida de segurança, trocando o juízo

de culpabilidade pelo de periculosidade necessário para a medida de segurança.

2.8 DA SEMI-IMPUTABILIDADE

O código Penal em seu parágrafo único do art. 26 prevê a redução da pena

em um a dois terços, se o agente em virtude de perturbação da saúde mental, não

estava inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato. É necessário a

comprovação pelo grau de perturbação da saúde mental, aferindo-se a magnitude de

seu entendimento quanto ao caráter ilícito do fato praticado.

Se o réu necessitar de especial tratamento curativo, poderá o juiz, substituir a

pena privativa de liberdade pela internação ou tratamento ambulatorial, pelo prazo

mínimo de três anos, nos termos do artigo 97 e seus parágrafos, do Código Penal, ou

seja, pode ter pena diminuída ou medida de segurança, adotando o sistema vicariante

sendo impossível a aplicação cumulativa de pena e medida de segurança.

Na semi-imputabilidade o réu não é absolvido e sim condenado, de uma ou

outra forma, conforme as condições. O juiz deve explicitar na sentença os motivos

pelos quais entendeu cabível a substituição da pena pela medida de segurança,

observando o critério legal conforme elenca o art. 98 do CP.

O artigo 99 do Código Penal, sobre os direitos do internado informa que o

condenado deverá ser recolhido a estabelecimento dotado de características

hospitalares e será submetido a tratamento. Constitui constrangimento ilegal a

permanecia do paciente no estabelecimento penitenciário quando imposta medida de

internação. O indivíduo deverá aguardar o surgimento de vaga em tratamento

ambulatorial.

Em caso de pena de multa ao semi-imputavel, não caberá a substituição desta

por medida de segurança.

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3 DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA

A medida de segurança surge no intuito de mudança da sanção-pena em

razão dos menores infratores e da grande reincidência, questionando a finalidade

retributiva da pena e a importância de uma inserção de fundamentos preventivos.

3.1 CONCEITO E FINALIDADE DA MEDIDA DE SEGURANÇA

Medida de Segurança vem como uma espécie de sanção penal de natureza

preventiva e curativa, existem inúmeros conceitos e divergências quanto a sua

natureza jurídica, discorrendo de consequências jurídicas de caráter penal, sanções

penais, conceituado também sob um meio empregado pela defesa social e

propriamente dita como pena, já que, onde houver a privação de liberdade existe a

punição. Todavia existem diferenças entre a pena e a medida de segurança no que

tange seus fundamentos e peculiaridades em sua execução. A medida de segurança

se insere no gênero sanção penal imposta pelo Estado, no qual figura como espécie,

ao lado da pena. Importando assim não a sua nomenclatura e sim o seu efeito gerado.

As Medidas de Segurança segundo Queiroz:

São sanções penais destinadas aos autores de um injusto penal punível, embora não culpável em razão da inimputabilidade do seu agente". E segue afirmando que "[...] tais medidas, para serem aplicadas, exigem o concurso simultâneo de todos os requisitos e pressupostos do crime, como exceção, unicamente, da imputabilidade do seu autor. (QUEIROZ, 2006, p. 417).

A medida de segurança tem como finalidade o tratamento, a cura e

ressocialização a sociedade daquele que cometeu o ato ilícito, ou seja, de caráter

preventivo e assistencial com proposito curativo. Afim de evitar a pratica de futuras

infrações penais. Sobre a finalidade da medida de Segurança, Fernando Capez

conceitua:

Sanção penal imposta pelo Estado, na execução de uma sentença, cuja finalidade é exclusivamente preventiva, no sentido de evitar que o autor de uma infração penal que tenha demonstrado periculosidade volte a delinquir. (CAPEZ, 2003, p.387).

3.2 DIFERENÇA ENTRE PENA E MEDIDA DE SEGURANÇA

As penas têm a finalidade de retribuição (castigo) prevenção geral e

prevenção especial, com duração determinada, pressuposto de culpabilidade e

predestinada aos imputáveis e semi-imputáveis sem periculosidade. Por sua vez, a

medida de segurança destina-se a prevenção especial, com mínimo de tempo

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determinado e máximo indeterminado, com pressuposto de periculosidade e

direcionada aos inimputáveis e semi-imputáveis dotados de periculosidade. Sobre as

distinções entre a medida de segurança e a pena não há muita concordância entre os

autores que procuram atenuar as diferenças entre elas. René Ariel Dotti elenca as

diferenças entre a pena e a medida de segurança:

A pena pressupõe culpabilidade; a medida de segurança, periculosidade. A pena tem seus limites mínimo e máximo predeterminados (CP, arts. 53, 54, 55, 58 e 75); a medida de segurança tem um prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, porém o máximo da duração é indeterminado, perdurando a sua aplicação enquanto não for averiguada a cessação da periculosidade (CP, art. 97, §1º). A pena exige a individualização, atendendo às condições pessoais do agente e às circunstâncias do fato (CP, arts. 59 e 60); a medida de segurança é generalizada à situação de periculosidade do agente, limitando-se a duas únicas espécies (internação e tratamento ambulatorial), conforme determinado pelo art. 96 do Código Penal. A pena quer retribuir e o mal causado e prevenir outro futuro; as medidas de segurança são meramente preventivas. A pena é aplicada aos imputáveis e semi-imputáveis; a medida de segurança não se aplica aos imputáveis. A pena não previne, não cura, não defende, não trata, não ressocializa, não reabilita: apenas pune o agente. (DOTTI, 2004, p. 522).

Já, Eugenio Raul Zaffaroni e José Henrique Pierangelie, descrevem sobre o

que vem a ser a natureza da medida de segurança:

Não se pode considerar “penal” um tratamento médico e nem mesmo a custódia psiquiátrica. Sua natureza nada tem a ver com a pena, que desta diferencia por seus objetivos e meios. Mas as leis penais impõem um controle formalmente penal, e limita as possibilidades de liberdade da pessoa, impondo o seu cumprimento, nas condições previamente fixadas que elas estabelecem, e cuja execução deve ser submetida aos juízes penais. (ZAFFARONI, PIERANGELIE, 1997, p. 859).

Diferenciando pena e medida de segurança, Carlos Roberto Bitencourt alega

que:

As penas têm caráter retributivo-preventivo; as mediadas de segurança têm natureza eminente preventiva O fundamento da aplicação da pena é a culpabilidade; a medida de segurança fundamenta-se exclusivamente na periculosidade. As penas são determinadas; as medidas de segurança são por tempo indeterminado. Só findam quando cessar a periculosidade do agente. As penas são aplicáveis aos imputáveis e semi-imputaveis; as medidas de segurança são aplicáveis aos inimputáveis e, excepcionalmente, aos semi-imputaveis, quando estes necessitam de especial tratamento curativo. (BITENCOURT, 2015, p. 860).

Por fim, a medida de segurança encontra-se ao lado da pena, de um lado a

culpabilidade do agente de outro a periculosidade, não há como negar a privação de

liberdade da medida de segurança, um dos requisitos que levam ao questionamento

sob ser também uma pena, porem diante do fato típico ilícito praticado é

imprescindível que a mesma seja aplicada a fim de prevenir crimes futuros.

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3.3 PRINCÍPIOS DA MEDIDA DE SEGURANÇA

3.3.1 Princípio da Legalidade e Anterioridade

Somente a lei poderá criar a medida de segurança, não podem ser vinculadas

a medidas provisórias conforme elenca o art., 62, parágrafo 1º, I “b” da CF, como

também o art. 5º, inc. XXXIX da CF/88 onde "não há crime sem lei anterior que o

defina, nem pena sem prévia cominação legal”, ou seja, na execução penal, decorre

do brocárdio nullum crime, nula poena, sine lege. Não poderá ser considerado crime

um ato que não tiver sua previsão legal nem tenha sua determinação taxativa de

crime.

A Carta Magna de 1988, em seu artigo 5°, inciso XL preceitua que: “A lei penal

não retroagirá, salvo se para beneficiar o réu”. Não poder-se-á impor pena mais grave

do que a aplicável no momento da ocorrência do delito. Se, depois de perpetrado o

delito, a lei estipular a imposição de pena mais leve, o delinquente deverá dela

beneficiar-se.

3.3.2 Princípio da Jurisdicionalidade

Somente poderá proceder aquele que seja apreciado por agente investido de

competência para o devido julgamento do caso concreto. Dos dispositivos que

apontam a jurisdicionalidade na aplicação das sanções cito os artigos 5º, XXXV,

XXXVII, XLVI, LIII, LIV, LV, LX, LXV, LXXIV onde elencam que a lei não excluirá da

apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito, não haverá juízo ou tribunal

de exceção, a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, a

privação ou restrição da liberdade, perda de bens, multa, prestação social alternativa,

suspenção ou interdição de direitos, somente autoridade competente poderá

processar e ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido

processo legal, aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados

em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a

ela inerentes, a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a

defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem, a prisão ilegal será

imediatamente relaxada pela autoridade judiciária, o Estado prestará assistência

jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos, ainda na

Constituição federal em seu art. 24 é elenca a competência da União, dos Estados e

o Distrito Federal legislando concorrentemente sobre o direito tributário, financeiro,

penitenciário, econômico e urbanístico.

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Além dos princípios constitucionais mencionados, são considerados os mais

importantes também os princípios da proporcionalidade, da intervenção mínima,

individualização da pena, intranscedência da pena e da dignidade da pessoa humana.

Onde juntos formam um estado democrático de direito, validam a norma e colaboram

com a sustentação da lei penal, assim como a garantia individual de ambos os lados.

3.4 ESPÉCIES DE MEDIDA DE SEGURANÇA E MODO DE EXECUÇÃO

O indivíduo inimputável submetido a medida de segurança terá seu

tratamento dentro do estabelecimento hospitalar ou fora dele, ou seja, dependendo

do caso concreto e sua real necessidade. Aquele que for imputado a internação

deverá ser internado em hospital de custodia e tratamento psiquiátrico ou, à falta em

outro estabelecimento adequado com devida autorização da direção. Expresso no

Código Penal as espécies de medida de segurança em seu art. 96 são: a intenção em

hospital de custodia e tratamento psiquiátrico ou, a falta em outro estabelecimento

adequado e tratamento ambulatorial. Ainda em seu parágrafo único sobre a

punibilidade uma vez extinta, não se impõe qualquer medida de segurança, nem

subsiste a que houver sido imposta, isto é verificada a extinção de punibilidade em

qualquer fase, não se pode aplicar a medida de segurança.

O autor Celso Delmanto conceitua as espécies de medida de segurança:

Internação (CP, art. 96, I): Também chamada detentiva, consiste na internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta dele, em outro estabelecimento adequado. Os hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico não passam de "novo nome" dado aos tão tristemente famosos e desacreditados manicômios judiciários brasileiros (LEP, art. 99 a 101). Assim, embora alguns julgados aludam à diferença que existiria, na Lei nº. 7.209/84, entre os novos e os velhos estabelecimentos, na prática tudo continua igual a antes. Tratamento (CP, art. 96, II): Também denominada restritiva, consiste na sujeição a tratamento ambulatorial, pelo qual são dados cuidados médicos à pessoa submetida a tratamento, mas sem internação, salvo a hipótese desta tornar-se necessária, nos termos do § 4º do art. 97 do CP, para fins curativos. (DELMANTO, 2007, p. 273).

Quando o juiz do processo de conhecimento reconhecer o réu como

inimputável e absolve-lo, deve obrigatoriamente aplicar medida de segurança, a

motivação é simplificada, por se tratar de periculosidade presumida. Em suma,

quando sentenciado com pena privativa de liberdade, a aplicação da medida de

segurança detentiva é obrigatória, por tempo indeterminado até que diante de perícia

medica seja determinada a cessação da periculosidade, que será averiguada após o

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prazo mínimo de um a três anos. No entanto, o juiz poderá submete-lo a tratamento

ambulatorial em substituição à internação em hospital de custodia e tratamento.

Destarte conforme o caso, o juiz escolhera qual a medida será aplicada, em quaisquer

dos casos ele deve justificar a opção adotada.

Tal averiguação pode ocorrer mesmo antes do prazo mínimo, desde que

determinada pelo juiz da execução diante de requerimento claramente fundamentado.

No que tange a medida de segurança restritiva o Juiz poderá optar entre

internação ou tratamento ambulatorial, de acordo com o seu grau de periculosidade,

com o mesmo prazo e determinações da medida detentiva. O critério utilizado para

fixar o prazo mínimo se dá através do grau de perturbação mental do acusado e a

gravidade do ato praticado.

Conforme preceitua o artigo 97, § 2º do Código Penal:

Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial. [...] Perícia médica § 2º - A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo fixado e deverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz da execução

3.4.1 Periculosidade Criminal como Pressuposto da Medida de Segurança

A periculosidade é um juízo de probabilidade de que novos crimes possam ser

praticados. Para Bruno (1984), a periculosidade é um estado de grave desajustamento

do homem as normas de convivência social.

A periculosidade do agente é o pressuposto da medida de segurança, que se

aplica como forma de prevenir qualquer ato de ameaça contida no sujeito, e a

probabilidade de delinquir novamente. Além da periculosidade real, que deve ser

verificada pelo juiz no caso concreto, existe ainda a periculosidade presumida quando

a própria lei afirma, como ocorre com aqueles que foram isentos de pena, ou seja, os

inimputáveis julgados pela sua incapacidade de entender o caráter de seus atos, ou

de desenvolver o processo de determinação de vontade. Dar-se-á a presunção

desses anômalos mentais que tornem a delinquir, pois não possuem censura moral

equilibrada e firme que os detenha em seus impulsos criminosos.

Aos semi-imputaveis também se tem a periculosidade presumida, por não

possuírem, ao tempo do crime, em virtude de perturbação mental ou de

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desenvolvimento mental incompleto ou retardado, aquela plena capacidade de

entendimento ou determinação, em que se define a imputabilidade.

Na verificação da periculosidade o Juiz deve tomar em consideração, a

personalidade do indivíduo, os seus antecedentes, os motivos, as circunstancias e

consequências do crime, a culpabilidade, a conduta social, bem como ao

comportamento da vítima, esses critérios limitadores e garantistas, estão expostos no

artigo 59 do Código Penal, afim de auxiliar na aplicação do sistema dosimétrico da

pena.

A personalidade do indivíduo se dá através da maneira de ser e agir, é o seu

conjunto de peculiaridades que o caracterizam e o diferenciam dos outros, o juiz

devera de alguma forma definir essa maneira de ser do indivíduo, investigar através

de suas atitudes em sua forma de viver.

Nesse sentido Aníbal Bruno descreve:

O juiz terá, assim, de investigar a história do paciente, o seu comportamento habitual, as condições de sua existência, a maneira pela qual tem procurado vencer as posições embaraçosas, as suas relações com a família e com as outras instituições sociais ou pessoas com que tenha entrado em convivência, suas inclinações e preferencias para determinados meios, em suma, todas as formas de atividade que possam ser tomadas como expressão do seu próprio eu. (BRUNO, 1984, p. 295).

Junto dessa apuração encontra-se os antecedentes, os fatos relevantes que

ocasionaram determinadas ações que denunciam a desadaptação do sujeito as

normas comuns da sociedade, bem como a sua maneira de ser, indiferente ou hostil

aos sentimentos e aos princípios como um todo.

As circunstancias e as consequências do crime que lhe agravam o caráter,

como por exemplo a preparação para o fato, a utilização de meios reprováveis para a

execução, e por fim o resultado como o indivíduo se porta ao mencionar, descrever

os pormenores do crime, o que sente frieza, cinismo, indiferença, satisfação.

Diante desse conjunto é possível definir o grau de periculosidade do autor, tal

como, sua probabilidade de novamente delinquir.

3.5 MODO DE EXECUÇÃO

Sobre o momento da execução o art. 171 da LEP define que a execução da

medida de segurança poderá ser aplicada somente após o transito em julgado da

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sentença. Será possível a internação somente por meio de guia expedida pela

autoridade judiciaria (art. 172 LEP).

Para se promover a internação ou o tratamento ambulatorial é necessário a

expedição da guia de internamento, sem a mesma não haverá o cumprimento da

medida de segurança. A guia será extraída pelo escrivão que devera rubricar todas

as folhas e a subscrevera com o Juiz remetendo após para a autoridade designada

para a execução. O artigo 173 da Lei de Execução Penal descreve o que a guia

conterá a qualificação e identificação do autor, a certidão do transito em julgado bem

como o inteiro teor da denúncia e da sentença que tiver aplicado a medida de

segurança, outras peças do processo reputadas indispensáveis ao adequado

tratamento ou internamento. Será informado ao Ministério Público da guia de

recolhimento e de sujeição a tratamento que será sempre retificada quando houver

modificações quanto ao prazo de execução.

Cabe ressaltar a garantia que a Lei de Execução Penal concede ao paciente,

onde lhe dá o direito de possuir assistência medica particular de sua confiança,

podendo acompanhar e orientar o tratamento, em caso de divergências quanto ao

diagnóstico médico fica a cargo do Juiz decidir.

O artigo 97 em seu §3º dispõe sobre a desintegração ou a liberação, que será

condicionada no transcurso de um ano, a partir de perícia medica que comprove a

cessação de periculosidade, sem a pratica de fato indicativo de persistência, onde o

juiz revogara a medida de segurança em caráter provisório e diante de certas

condições próprias do livramento condicional são estabelecidos nos artigos 178,132,

133 da Lei de Execução Penal – LEP.

As condições em que o agente em livramento condicional deva cumprir, são

estabelecidas 29 nos artigos 132 e 133 da LEP, classificadas em condições

obrigatórias e facultativas. Obrigatórias são: obter ocupação lícita; comunicar ao juiz

sua ocupação periodicamente; não mudar do território da comarca, sem autorização

judicial. Facultativas são: não mudar de residência, sem prévia comunicação;

recolher-se à habitação no horário fixado; não frequentar determinados lugares. A

medida de segurança se extingue em se passado esse período e não havendo razões

para se restituir, nesse caso o sujeito é denominado egresso, como define o artigo 26,

I da LEP.

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3.6 DA CESSAÇÃO DA PERICULOSIDADE

Periculosidade é o perigo, como já mencionado anteriormente, é a inclinação

que o indivíduo tem em praticar o mal, trata-se de uma soma de das características

pessoais e sociais, devendo considerar o seu estado patológico assim como o meio

onde está inserido. O art. 175, da Lei de Execução Penal e seus incisos dispõe sobre

as medidas a serem tomadas.

Findo o prazo mínimo estipulado pelo Juiz, a cessação da periculosidade será

averiguada por meio de um novo exame das condições pessoais do agente, este

exame deve ser realizado de ano a ano até que se constate a cessação de

periculosidade do mesmo. Com a antecipação de um mês ao prazo de duração

mínima o Juiz deve receber um meticuloso relatório com o laudo psiquiátrico para

auxilia-lo na decisão, após serão ouvidos sucessivamente com prazo de 3 (três) dias

para cada um, o Ministério Público e o curador ou defensor, caso o agente não tenha

um curador, este será nomeado.

Ainda que expirado o prazo de duração mínima da medida de segurança o

Juiz ou a requerimento de qualquer das partes poderá determinar novas diligências,

assim como também enseja no art. 176 da LEP diante de requerimento fundamentado

do ministério Público ou do interessado, ordenar um novo exame.

Ouvidas as partes ou realizadas as diligencias no prazo de 5 (cinco) dias o

Juiz pronunciara sua decisão no que diz respeito à cessação de periculosidade.

3.7 DA MEDIDA DE SEGURANÇA E O CARÁTER DE PERPETUIDADE

Apesar do tempo mínimo estipulado e com os devidos exames

periodicamente realizados para que se constate que o indivíduo está preparado ao

retorno do convívio em sociedade cessando assim a sua periculosidade, o que

acontece na pratica é a ausência do tratamento, em tese, ofertado, pois em sua

maioria, estes ficam segregados da sociedade em ambientes insalubres, reclusos em

celas frias, sujeito a maus tratos, sem a devida assistência ambulatorial e psiquiátrica,

conforme aponta visitas realizadas em hospitais de custodia de todo o país. Com essa

carência de tratamentos adequados, o indivíduo não é curado tão pouco

ressocializado, e como a norma requer a cura para que haja a desinternação, a

medida de segurança torna-se perpetua.

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Para socorrer esse impasse, e não ferir o que dispõe o artigo 5º, XLVII, b, da

CF/88, em que veda às penas de caráter perpétuo, o STF em jurisprudência

pacificada, limita o tempo máximo de 30 (trinta) anos, isto é, o tempo da medida de

segurança deve ser limitado ao máximo da pena obtida pelo crime cometido, até que

cesse sua periculosidade, mas não ultrapassando esse limite (por analogia ao art. 75,

CP).

Tendo por base os princípios da isonomia, para que o transgressor

inimputável não seja tratado de forma mais gravosa se comparado ao imputável, e o

princípio da proporcionalidade, equilibrando os direitos e protegendo dos excessos

eventualmente cometidos pelo Estado, o Supremo Tribunal Federal firmou o seguinte

entendimento:

[...] A prescrição da medida de segurança deve ser calculada pelo máximo da pena cominada ao delito cometido pelo agente, ocorrendo o marco interruptivo do prazo pelo início do cumprimento daquela, sendo certo que deve perdurar enquanto não haja cessado a periculosidade do agente, limitada, contudo, ao período máximo de 30 (trinta) anos, conforme a jurisprudência pacificada do STF. (...)” STF - RHC n.º 100383 AP-AMAPÀ, Rel. Min. LUIZ FUX, 1ª Turma, DJe 4⁄11⁄2011.

Atingido esse tempo máximo, sem a constatação da cessação da

periculosidade, haverá a interdição civil em face do agente, cumulada com pedido de

internação compulsória prevista no Art. 6 da Lei nº 10.216 de 06 de abril de 2001 que

disciplina em 13 artigos os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e

redireciona o modelo assistencial em saúde mental, mediante a laudo médico

circunstanciado.

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4 RELATÓRIO DE INSPEÇÕES AOS MANICÔMIOS PELO CONSELHO

FEDERAL DE PSICOLOGIA EM CONJUNTO COM A ORDEM DOS

ADVOGADOS E A ASSOCIAÇÃO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO EM

DEFESA DA SAÚDE

A inspeção nacional aos Manicômios Judiciários, hospitais de custodia, alas

psiquiátricas e similares, foi realizada em 17 estados do país e no Distrito Federal,

entre os meses de abril e junho de 2015 e contou com a presença do Conselho

Federal de Psicologia juntamente com o Conselho Federal da Ordem dos Advogados

do Brasil (OAB) e à Associação Nacional do Ministério Público em Defesa da Saúde

(AMPASA), concentração essa feita pelo CFP através de suas comissões Regionais

de Direitos Humanos, Psicologia Jurídica, Orientação e Fiscalização:

O Conselho Federal de Psicologia (CFP), em conjunto com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação Nacional do Ministério Público em Defesa da Saúde (AMPASA), por meio deste relatório, vem denunciar a cruel realidade das instituições de cumprimento de medida de segurança no país, que contribuem para a preservação de crenças que, noutros tempos, já foram denunciadas nos versos de Chico Buarque e Milton Nascimento: O que não tem vergonha, nem nunca terá; o que não tem governo, nem nunca terá; o que não tem juízo. (Conselho Federal de Psicologia. 2015, p. 08)

Alguns Conselhos Regionais não realizaram o trabalho, dentre todos a maioria

não fez a inspeção e tampouco justificou, dois deles fizeram a inspeção, porem um

perdeu o prazo para enviar os dados, e o outro enviou o relatório dentro do prazo, no

entanto após a primeira publicação, solicitou a retirada do seu relato sob alegação de

exposição de pacientes e profissionais da instituição visitada.

O Conselho Regional de Psicologia do Paraná, justificou o impedimento

devido ao Complexo Médico Penal (CMP), de Curitiba, estar custodiando presos da

“Operação Lava Jato”.

As inspeções foram baseadas nas informações, fornecidas pela instituição,

direção e funcionários, sob uma forma de questionário e o contato e entrevista com

os pacientes.

Em síntese de um trabalho minucioso, contatou-se que o sistema manicomial

é inconstitucionalmente frágil, com quadros desoladores. Foi verificado a inexistência

de advogados nas mais variadas regiões e poucos psicólogos. Nas 18 unidades

pesquisadas encontrou-se um total de 2.864 de pacientes, visto que 61,11% estão em

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celas, e em 7 estabelecimentos, há superlotação. Existe casos em que a perícia para

averiguação de sanidade mental, demora mais de dois anos para ser realizada.

No que diz respeito a estrutura, precária, os chuveiros são insuficientes com

apenas agua fria, há ausência de descargas, péssimas condições de limpeza, cheiro

nauseabundo, vestimentas sujas. Prontuários em sua maioria são inexistentes,

quando não deficientes, os atendimentos são escassos, e o paciente não tem

conhecimento de seu plano terapêutico, muito menos a previsão de sua saída.

Constatou-se indivíduos com laudos de periculosidade positivo para a sua

cessação, ainda internados, falta de transparência por parte dos gestores com a

informação sobre a situação dos pacientes. Em todos os estabelecimentos foram

constatados, péssimas condições de higiene e alimentação, apenas uma possui

refeitório em funcionamento, as camas, muitas vezes insuficientes, sem colchoes,

quando sim, velhos e sujos, sem armários ou lençóis. Em alegações informaram que

não haviam lençóis, pois os pacientes os rasgavam e a restrições de alguns ambientes

era para prevenir o tráfico de drogas.

4.1 INTERNOS QUE COMETERAM CRIMES MENORES; PACIENTES COM

PERICULOSIDADE CESSADA E CONFIABILIDADE DE DADOS

Muitos são os indivíduos que permanecem por anos retidos nos hospitais

prisionais, em razão de delitos menores, 47,06% das instituições relatam delitos de

menor potencial ofensivo, contra 11.76% de delitos mais graves.

Pacientes já com a sua cessão de periculosidade contatada, permanecem em

retenção na instituição. Assim como internos sem a mínima condição, após muitos

anos recluso, de se reiterar na sociedade.

A confiabilidade de dados é escassa, com índices de violência de 6% de

violência ocorridos nas instituições entre pacientes e 12% em maus tratos. Percebe-

se ai o baixo índice de notificação e ausências de respostas. Visto a necessidade de

diretrizes voltada a qualificação das equipes de saúde, pratica de monitoramento e o

principal recursos e assistência do Governo.

4.2 MUTIRÕES CARCERÁRIOS

Com a grande demanda de processos sobrecarregando as Varas de

Execuções Penais, afim de atender o que propõe a Lei 7.210 de junho de 1984

assegurando um maior controle de fiscalização no cumprimento de pena, o Conselho

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Nacional de Justiça (CNJ) em agosto de 2008 começou a organizar mutirões

carcerários. Com o objetivo de reestabelecimento do devido processo legal, e a

regularização do cumprimento da sanção penal, garantindo a aprovação de benefícios

processuais em atraso e sanando possíveis irregularidades.

Os mutirões no período entre 2008 a 2012 foram coordenados pelo próprio

CNJ. Todas as unidades da Federação foram visitadas, algumas mais de uma vez, a

análise dos processos e a inspeção das unidades carcerárias foram designadas ao

juízes. No entanto por falta de acompanhamento adequado e eficaz realizações das

recomendações o sistema carcerário não obteve tais mudanças almejadas.

Com fundamento na Resolução CNJ n° 96, em 2009, os Grupos de

Monitoramento e Fiscalização dos Sistemas Carcerários (GMFs) assumiram o

encargo da realização permanente desses mutirões. E o esforço dos GMFs,

compartilhando e executando em suas respectivas bases territoriais atividades sob a

supervisão do CNJ, possibilitou ampliar o monitoramento e a fiscalização do sistema

carcerário em todas as unidades federativas, diminuindo o número de mutirões

realizados pelo CNJ a partir de 2012. Não obstante, também não obteve sucesso,

ocasionando uma exposição ainda maior dos “problemas carcerários”.

Em suma, apesar dos esforços poucas mudanças foram vistas e o número de

presos superava o alivio que os mutirões proporcionavam.

O sistema prisional brasileiro é o quarto maior do mundo em número de

pessoas, cerca de 2.497 cumprem medida de segurança sob a forma de internação e

360 sob a forma de tratamento ambulatorial.

4.3 RELATÓRIO DO ÚLTIMO MUTIRÃO REALIZADO NO COMPLEXO MÉDICO

PENAL DO PARANÁ (CMP-PR)

O projeto cidadania nos presídios, do Conselho Nacional de Justiça

proporcionou junto do Poder judiciário em parceria com Departamento Penitenciário

do Paraná (DEPEN) um mutirão destinado aos custodiados com medida de

segurança, deficiência física e doenças graves, na última data de 09 de junho de 2017,

no Complexo Medico Penal (CMP), em Pinhais na Região Metropolitana de Curitiba.

Foram concedidos pela justiça 104 benefícios, entre alvarás de soltura, levantamentos

de medida de segurança, prisão domiciliar e indulto. No último mutirão realizado em

novembro de 2016, Juízes, promotores e defensores públicos analisaram a situação

430 processos, que representam 70% da população carcerária da penitenciária.

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O procedimento do mutirão é feito com o interno diante de um juiz, um

promotor e de um defensor público que fazem sua avaliação do ponto de vista jurídico,

levando em conta o prontuário clinico de cada um, auxiliados por psiquiatras,

psicólogos e assistentes sociais do sistema penitenciário, verificam ainda, se os

custodiados têm condições de permanecer em tratamento ambulatorial assistido pela

família.

O Complexo Medico Penal é o único hospital penitenciário do estado, que

recebe internos de todas as regiões do Paraná. Com isso muitos tendem a ficar

distantes da família ocasionando assim a perda do vínculo e a possível reinserção

Social. Para que isso não ocorra o grupo de monitoramento começou a implantar uma

rede social de apoio, que reúna a Secretaria de Estado de Saúde, autoridades

sanitárias e de saúde de cada município.

4.4 O ÚLTIMO DECRETO ESPECIAL DE INDULTO QUE BENEFICIOU AS

MULHERES COM FILHOS COM TRANSTORNOS MENTAIS

O atual Presidente Michel Temer, no dia 12 de abril de 2017 publicou o

primeiro decreto de indulto coletivo destinado exclusivamente as mulheres, por

ocasião do dia das mães. Os motivos de proposta de indulto que foram mostradas à

Presidência no ano de 2016, indicam o superencarceramento de mulheres em 567,4%

no período de 2000 a 2014, em sua maioria, presas em decorrência de delitos sem

violência ou grave ameaça à pessoa.

O indulto é uma forma de extinção da punibilidade, prevista no art. 107, II do

Código Penal Brasileiro, de competência privativa do Presidente da República

referente ao perdão da pena imposta ao condenado, a indulgencia pode ser individual

ou coletiva quando publicado em decreto com requisitos e condições para ser

concedido.

A superlotação em massa, além da inexistência de condições humanas, gera

outro problema social, que é o abandono de crianças e adolescentes. A edição do

Decreto, tem por objetivo e justificativa, adotar medidas com vista à implementação

de melhorias no sistema penitenciário e à melhoria das condições de vida e da

reinserção social.

Para obter a concessão do indulto foram elencados requisitos de ordem

subjetiva e objetiva, onde demostram que somente se aplicara às mulheres presas

que cumulativamente não estejam respondendo ou tenham sido condenadas pela

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pratica de outro crime cometido mediante violência ou grave ameaça, e não tenham

sido punidas com a pratica de falta grave.

Desta forma o indulto é valido para mães e avós condenadas por crime sem

violência ou grave ameaça, que possuam filhos ou netos de até 12 anos de idade, ou

qualquer idade se portador de deficiência que comprove a necessidade seus de

cuidados e esteja sob a sua responsabilidade, desde que cumprido um sexto da pena,

para as que completaram sessenta anos de idade ou que possuam menos de 21 anos,

desde que cumpridos um sexto da pena, as consideras como pessoa com deficiência,

gravidas de alto risco, mulheres condenas a pena não superior a oito anos, que

apresente bons antecedentes, e não esteja envolvida em atividades criminosas, desde

que cumpridos um sexto da pena, para as reincidentes desde que cumpridas um

quarto da pena, e para as reincidentes desde que cumpridas um terço da pena.

4.5 DA REFORMA PSIQUIÁTRICA – LEI N° 10.216/2001 –

DESISTITUCIONALIZAÇÃO E A LUTA ANTIMANICOMIAL

A Lei Federal 10.216/2001 redireciona a assistência em saúde mental,

privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, dispõe

sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, mas não institui

mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios.

Nos últimos anos o processo de desinstitucionalização avançou no que tange

as pessoas com longo histórico de internação, através da instituição pelo Ministério

da Saúde de mecanismos seguros para a redução de leitos no país e a expansão de

serviços no hospital psiquiátrico.

O Ministério da Saúde apoia experiências interinstitucionais extremamente

bem-sucedidas, que buscam tratar o louco infrator fora do manicômio judiciário, na

rede SUS extra-hospitalar de atenção à saúde mental, especialmente nos Centros de

Atenção Psicossocial.

Essas experiências estão colaborando com a cessação de periculosidade dos

pacientes, e a rede extra-hospitalar de saúde mental, com seus dispositivos como os

CAPS, residências terapêuticas, ambulatórios e Centros de convivência, passa a ser

convocada para oferecer tratamento a estes cidadãos, antes excluídos da rede SUS.

Embora o processo de desinstitucionalização destas pessoas esteja em curso

em alguns estados, muito se avançou na luta antimanicomial para a extinção dos

manicômios. A nova prática nestes estados começa pela construção do espaço para

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o louco infrator nas ações do Sistema Único de Saúde, inclusive no Programa de Volta

para Casa. Tal passo é indispensável e colabora com a garantia à assistência, à saúde

pública e de qualidade e à proteção aos Direitos Humanos das pessoas que a muito

tempo viviam a mercê do estado, vítima de exclusão e preconceito.

O Programa de Volta pra Casa criado pela lei federal 10.708 de 31 de junho de

2003 instituído pelo ex-Presidente Lula é um dos instrumentos mais efetivos para a

reintegração social, e propõe auxilio-reabilitação psicossocial a pacientes que tenham

permanecido em longas internações psiquiátricas. Em parceria com a Caixa

Econômica Federal, disponibiliza mensalmente, o valor de R$: 240,00 (duzentos e

quarenta reais) aos seus beneficiários.

4.6 PAI-PJ (PROGRAMA DE ATENÇÃO INTEGRAL AO PACIENTE JUDICIÁRIO

PORTADOR DE SOFRIMENTO MENTAL INFRATOR) E PAILI (PROGRAMA

DE ATENÇÃO INTEGRAL AO LOUCO INFRATOR)

O Programa de Atenção Integral ao Portador de Sofrimento Mental Infrator

(PAI-PJ), foi criado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em 2001, por meio da

Portaria nº 25 com o objetivo de realizar mediação entre o tratamento e o processo

jurídico, e ainda se preocupa com as questões sócias de reinserção do portador de

sofrimento mental. O PAI-PJ auxilia na construção de um projeto clinico, avaliando o

paciente e encaminhando a tratamento adequado que pode resultar em internação

hospitalar, ou na adoção de medidas extra hospitalares, centros de saúde, oficinas

terapêuticas e sociais, centro de convivência, orientação e tratamentos odontológicos

e assistenciais, ainda dá todo o suporte a família do portador como orientações,

acolhimento e assistência psicológica individual ou em grupo. A equipe do PAI-PJ é

composto por psicólogos, assistentes sociais e bacharéis em Direito.

O PAI-PJ é referência no Brasil e no exterior, os resultados alcançados foram

apresentados e discutido durante a “III Conferência Nacional de Saúde Mental”

realizada pelo Ministério Público, em novembro de 2001 em Brasília.

Em Goiás foi criado em 2006 o Programa de Atenção Integral ao Louco

Infrator (PAILI), que é formado por advogado, assistentes sociais, psicólogos e

assistente administrativo, com fundamentos nos princípios que regem a Lei

10.216/2001, e está vinculado à Secretaria da Saúde de Estado. Tem como proposito

de promover atenção integral à saúde das pessoas portadoras de transtornos mentais,

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submetidos a medida de segurança no Estado, assim como as que manifestam

sofrimento mental no transcurso do processo penal.

O PAILI é visto como uma das mais bem aceitas ações desenvolvidas para

assistência a pessoas portadoras de sofrimento mental, atualmente presta assistência

a cerca de 350 pessoa, e será utilizado como referência pelo Ministério Público para

a estruturação de um serviço mental forense no País.

4.6 RESOLUÇÃO DO CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E

PENITENCIÁRIA QUANTO A MEDIDA DE SEGURANÇA

Com a vinda da Lei de Reforma Psiquiátrica 10.216/2001, surge a

necessidade de adequação a ela, que propõe um melhor tratamento aos internos, e

ainda a desinternar, reabilitar e garantir cidadania à pessoa com transtorno mental. O

Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), aponta essa

adequação com a lei e com os princípios do SUS, através da Resolução nº 5/2004

(Diretrizes Nacionais de Atenção aos Pacientes Judiciários e Execução da Medida de

Segurança) que dispõe em suas diretrizes a finalidade permanente aos portadores de

doença mental considerados inimputáveis a reinserção social em seu meio, tendo

como princípios o respeito aos direitos humanos, a desospitalização e superação do

modelo tutelar, com base no art. 4º, § 1º da Lei nº 10.216/01.

Nesse mesmo sentido, impõe com base na Lei de Reforma Psiquiátrica, a

individualização de tratamento, por equipes que cuidem das áreas de trabalho,

moradia e educação voltada a reintegração sócio familiar, o cumprimento da medida

de segurança em hospital estruturado e na falta dele na rede SUS, estes deverão

estar integrados e adequados aos padrões de atendimento previstos no Programa

Nacional de Avaliação dos Serviços Hospitalares (PNASH) Psiquiatria e aos princípios

de integridade, gratuidade, equidade e controle social. A realização de censos

jurídicos, clínicos e sociais para conhecer suas necessidades terapêuticas e

proporcionar o devido tratamento.

A medida de segurança só poderá ser reestabelecida em caso de novo delito

e após o transito em julgado, deverá ser aplicada de forma progressiva, por meio de

saídas terapêuticas, a regressão só se dará através de exame clinico. Aos novos

serviços criados para os pacientes deverão haver cotas especificas. Após a

desinternação deverá haver acompanhamento do serviço local de saúde, aos

pacientes impossibilitados de reinserção deverão ser objeto de “política especifica de

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alta planejada e reabilitação psicossocial assistida” (art.5º da Lei), beneficiados com

bolsas de incentivo à desinternação e inseridos em serviços residenciais terapêuticos.

Continuando a perspectiva a RESOLUÇÃO Nº- 4, DE 30 DE JULHO DE 201

em seus 7 artigos recomenda a adoção da política antimanicomial no que tange a

atenção aos pacientes e a execução da medida de segurança, reforça a aplicação da

Lei nº 10.216/2001, a intersetorialidade, individualização, inserção social,

acompanhamentos, orienta ao fortalecimento das habilidades e capacidade do sujeito

em responder pelo que faz ou deixa de fazer por meio de laço social. Em seu artigo

nº 3 descreve sobre as responsabilidades do programa especifico de atenção ao

paciente judiciário, recomenda as autoridades que evitem a internação em manicômio

judiciário quando possível. Demostra o prazo de 10 anos do Poder Executivo para a

substituição de modelo manicomial para o antimanicomial, E por fim informa a

realização de levantamentos trimestrais de dados estatísticos sobre as medidas de

segurança realizados por equipe constituída pelo Ministério da Justiça, Ministério da

Saúde, Ministério do Desenvolvimento Social e Conselho Nacional de Justiça.

4.7 PLANO NACIONAL DE SAÚDE SOBRE A QUESTÃO DAS PESSOAS COM

TRANSTORNOS MENTAIS

O Plano Nacional de Saúde prevê o acesso a população penitenciária no SUS,

assegurando o direito à cidadania que está legalmente definido pela Constituição

Federal de 1988, pela Lei n.º 8.080, de 1990, que regulamenta o Sistema Único de

Saúde, pela Lei n.º 8.142, de 1990, que dispõe sobre a participação da comunidade

na gestão do Sistema Único de Saúde, e pela Lei de Execução Penal n.º 7.210, de

1984.

Estão presentes nesse Plano o cadastramento de unidades dos

Estabelecimentos Prisionais no cadastro Nacional de Saúde, as ações e serviços de

saúde serão organizadas nas unidades prisionais. Os Estabelecimentos Prisionais -

Presídios, Penitenciárias, Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTPs),

Manicômios Judiciários, Sanatórios Penais, Colônias Agrícolas – que obtiverem

unidades de saúde implantadas de acordo com o Plano Nacional, assim como seus

profissionais, serão monitorados por meio de sistema de informação que constituem

o Sistema de Informação em Saúde do sistema Único de Saúde (SUS).

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Os Hospitais de Custodia e Tratamento Psiquiátrico, Manicômios Judiciários

e Sanatórios Penais terão suas normas próprias, definidas de acordo com a Política

de Saúde Mental junto ao Ministério da Saúde.

4.8 REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O TRATAMENTO DE

PRESOS (REGRAS DE MANDELA)

As Regras de Mandela são preceitos mínimos da Organização das Nações

Unidas (ONU), E levam em consideração instrumentos internacionais vigentes no

país, como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, o Pacto Internacional

de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e a Convenção contra a Tortura e Outros

Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes e seu Protocolo

Facultativo.

Em regras especificas ao portador de doença mental dispõe que os

administradores prisionais não devem punir qualquer conduta do preso que seja

considerada resultado direto de sua doença mental ou incapacidade intelectual. Aos

inimputáveis, e ao que posteriormente foram diagnosticados com deficiência mental

ou problemas de saúde severos, não devem ser detidos em unidades prisionais

devendo se estabelecer em instituições adequadas.

As regras estabelecem, ainda, que os presos deve, ser observados e tratados

sob cuidados de profissionais de saúde qualificados em instituições especializadas.

Os serviços de saúde das instituições devem proporcionar tratamento psiquiátrico e

caso necessário, medidas devem ser tomadas, juntamente com entidades

apropriadas, para garantir o tratamento e acompanhamento após a liberação.

4.9 PRINCÍPIO DA ONU SOB A QUESTÃO DAS PESSOAS PORTADORAS DE

DOENÇA MENTAL

A ONU disponibiliza os princípios em proteção das pessoas com doença

mental e para o melhoramento dos cuidados de saúde mental adoptados pela

resolução 46/119 da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 17 de dezembro de

1991. O Princípio aos delinquentes aplica-se a pessoas que cumpram penas em

prisão, e que tenham sido consideradas portadoras de uma doença mental ou que se

julgue serem portadoras de tal doença, que devem receber os melhores cuidados de

saúde mental conforme previsto no princípio das liberdades fundamentais e direitos

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básicos que preconiza em resumo o melhor tratamento com humanidade e respeito à

dignidade com a máxima medida possível.

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5 DECISÃO DO TRIBUNAL SOBRE A MEDIDA DE SEGURANÇA

A presente decisão relata sobre uma ré que se encontra presa, por tentativa

de homicídio qualificado pelo envenenamento de sua filha, reconhecida como

inimputável por também ao momento do fato ter ingerido veneno, foi-lhe aplicada

medida de segurança de internação em Hospital de Custodia e Tratamento

Psiquiátrico pelo prazo de 02 (dois) anos. O recurso de defesa pleiteia a medida de

segurança em tratamento ambulatorial, subsidiaria a aplicação de medida de

segurança no prazo mínimo legal. A condenada possui histórico de internação e

tratamento por depressão e suicídio em outra oportunidade, após alta hospitalar no

percurso do tratamento ambulatorial atentou contra a própria vida e a da filha,

constatando periculosidade social elevada. A sentença foi mantida e o Recurso

conhecido e desprovido:

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 734.400 - SC (2015/0154433-0) RELATOR : MINISTRO RIBEIRO DANTAS AGRAVANTE : ANGELA RENATA POLTRONIERI ADVOGADOS : LUIZ EDUARDO CLETO RIGHETTO E OUTRO (S) - SC018453 THIAGO KIEFER - SC036139 AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA DECISÃO Trata-se de agravo em recurso especial interposto por ANGELA RENATA POLTRONIERI contra decisão do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina que inadmitiu recurso especial manejado com base no art. 105, III, a, da Constituição Federal, contra acórdão assim ementado (e-STJ, fl. 604): "APELAÇÃO CRIMINAL (RÉ PRESA). TRIBUNAL DO JÚRI. TENTATIVA DE HOMICÍDIO QUALIFICADO PELO ENVENENAMENTO (ART /121, § 2o, INCISO III, C/C ART. 14, INCISO II, AMBOS DO CÓDIGO PENAL). APELANTE QUE COLOCA VENENO (" ORGANOFOSFORADO ") DENTRO DO POTE DE IOGURTE DA FILHA QUE FAZ A INGESTÃO DO MATERIAL TÓXICO, CAUSANDO-LHE GRAVE INTOXICAÇÃO COM RISCO DE MORTE. RESULTADO ESTE QUE NÃO OCORREU POR CIRCUNSTÂNCIAS ALHEIAS A VONTADE DA AGENTE. INFANTE QUE, NA ÉPOCA DOS FATOS, CONTAVA COM 06 (SEIS) ANOS DE IDADE. APELANTE QUE TAMBÉM INGERIU O VENENO. RECONHECIMENTO DA TESE DEFENSIVA DA INIMPUTABILIDADE. APLICAÇÃO DE MEDIDA DE SEGURANÇA DE INTERNAÇÃO EM HOSPITAL DE CUSTÓDIA E TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO PELO PRAZO DE 02 (DOIS) ANOS. RECURSO DA DEFESA. PLEITEADA A APLICAÇÃO DE MEDIDA DE SEGURANÇA DE TRATAMENTO AMBULATORIAL. ALEGADA A EXISTÊNCIA DE LAUDO PERICIAL REALIZADO NO ANO DE 2011 RECOMENDANDO-A. DESCABIMENTO. APELANTE QUE COMETEU O CRIME EM COMENTO DURANTE TRATAMENTO AMBULATORIAL. INEFICÁCIA DA MEDIDA. PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E ADEQUAÇÃO QUE REVELAM A NECESSIDADE DE MANTER A INTERNAÇÃO HOSPITALAR. MEDIDA APLICADA QUE ATENDE A NECESSIDADE SOCIAL E O FIM CURATIVO. SUBSIDIARIAMENTE, REQUERIDA A APLICAÇÃO DE MEDIDA DE SEGURANÇA DE INTERNAÇÃO NO PRAZO MÍNIMO LEGAL. IMPOSSIBILIDADE. APELANTE QUE JÁ FOI INTERNADA EM OUTRA OPORTUNIDADE E, APÓS ALTA HOSPITALAR, VOLTOU A ATENTAR CONTRA A PRÓPRIA VIDA E A VIDA DE SUA FILHA. PERICULOSIDADE SOCIAL ELEVADA. PRAZO DE 02 (DOIS) ANOS QUE SE REVELA ADEQUADO AO CASO.

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SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO." Nas razões do recurso especial, a defesa alega violação aos arts. 59, 96, 97 e 97, § 1º, todos do Código Penal (e-STJ, fls. 636 e 642). Sustenta que da data dos fatos, 13/06/2007, até a realização do exame, 22/09/2011 e, do exame até os dias de hoje (16/04/2015), não houve qualquer registro de ocorrência de crime ou de demonstração de periculosidade por parte da Recorrente, o que autorizaria uma repressão mais branda"(e-STJ, fl. 641). Ademais, aduz que, alternativamente, a redução da medida de segurança imposta, neste caso, é sim, medida que se impõe, vez que, se assim não praticarmos estaremos negando vigência aos artigos 97, § 1º e art. 59 e incisos, ambos do Código Penal brasileiro" (e-STJ, fl. 644). Requer a aplicação da medida de segurança de tratamento ambulatorial e, alternativamente, a retificação da medida de segurança no mínimo legal (e-STJ, fl. 645). É o relatório. Decido. Preenchidos os pressupostos de admissibilidade, conheço do agravo e passo ao exame do recurso especial. A medida de segurança é utilizada pelo Estado na resposta ao comportamento humano voluntário violador da norma penal, pressupondo agente inimputável ou semi-imputável. Nos termos da jurisprudência da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, "apenas é cabível a imposição de medida de segurança de tratamento ambulatorial se o fato previsto como crime for punível com detenção" (HC 397.174/RJ, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 13/06/2017, DJe 28/06/2017). Da análise dos autos, verifica-se que o Tribunal de origem, soberano no exame fático probatório, manteve a medida de internação imposta à recorrente pelos seguintes fundamentos: "A vítima M.E.P.S. não veio a óbito por circunstâncias alheias à vontade da apelante, pois logo foi socorrida e levada ao Hospital Pequeno Anjo, com quadro de intoxicação, tendo sido realizado no interior do estabelecimento hospitalar: 'lavagem gástrica, carvão ativado e reanimação cárdio-respiratória com entubação oro-traqueal, massagem cardíaca e atropina'. Ressalta-se que o laudo pericial de lesão corporal da vítima atesta que o envenenamento gerou-lhe perigo de morte (fl. 160). Mister ressaltar que a apelante também ingeriu parte do veneno, em clara intenção suicida, situação que, extraí-se dos autos, já teria ocorrido também anos atrás. Na oportunidade, a apelante foi internada em Hospital Psiquiátrico, porém logo recebeu alta e continuou o tratamento apenas com farmácos. Portanto, conclui-se que na época dos fatos, em que atentou contra a vida da filha e contra a sua própria vida, a apelante estava recebendo tratamento ambulatorial apenas, o qual não se mostrou eficaz para evitar o quadro depressivo que possui, colocando em risco sua própria vida e a vida de terceiros. Assim, ainda que se argumente que a aplicação do tratamento ambulatorial baste para fazer cessar a periculosidade da apelante, verifica-se que"o julgador tem a faculdade de optar pelo tratamento que melhor se adapte ao inimputável, não importando se o fato definido como crime é punido com pena de reclusão ou de detenção"(Greco, Rogério. Código Penal Comentado. Editora Impetus: Rio de Janeiro. 2010, p. 233). In casu, diante da análise profícua dos autos, entende-se que a internação hospitalar revela-se mais adequada, não sendo, ao menos por ora, o tratamento ambulatorial suficiente." (e-STJ, fl. 611; grifou-se); "No caso dos autos, considerando que a apelante já foi internada anteriormente, e que, após alta hospitalar, voltou a atentar contra a própria vida e a vida de sua filha, não há como não se reconhecer a sua periculosidade social e o risco elevado de que volte a praticar fatos anti-sociais caso seja posta em liberdade, razão pela qual se mostra necessária a duração mínima de 02 (dois) anos para a medida de segurança aplicada, atendendo a necessidade social e ao fim curativo almejado." (e-STJ, fl. 613; grifou-se). Destarte, para se chegar a conclusão diversa da que chegou o Tribunal de origem, no intuito de conceder o pedido de modificação da medida de internação para a de tratamento ambulatorial, ou fixar a medida de internação no mínimo legal, seria inevitável o revolvimento do arcabouço fático-probatório carreado aos autos, procedimento de análise exclusiva das instâncias ordinárias e vedado ao Superior Tribunal de Justiça, a teor do óbice constante da Súmula 7/STJ.

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Nesse sentido: "AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. AGENTE INIMPUTÁVEL. MEDIDA DE SEGURANÇA. PRETENSÃO DE MODIFICAR A MODALIDADE IMPOSTA. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. PROVIDÊNCIA VEDADA NA VIA ELEITA. INSURGÊNCIA DESPROVIDA. 1. Hipótese em que o agravante, a quem foi imposta a medida de segurança de internação em hospital de tratamento psiquiátrico ou em estabelecimento adequado, pretende a modificação desta para tratamento ambulatorial. 2. A Corte de origem, após aprofundada reapreciação dos elementos constantes dos autos, entendeu, de modo fundamentado, de rigor a manutenção da aludida medida, tendo em vista que há risco do insurgente 'ter novos episódios de conduta violenta, conforme consignado no laudo pericial ante a patologia que possui, o que se constitui em risco para a sociedade'. 3. É inviável, por parte desta Corte Superior de Justiça, avaliar se as provas constantes dos autos são aptas a desconstituir a conclusão da Instância a quo, porquanto a verificação do conteúdo dos elementos de convicção produzidos no curso do feito implicaria o aprofundado revolvimento de matéria fático-probatória, providência que é vedada na via eleita. Precedentes. 4. Agravo a que se nega provimento." (AgRg no AREsp 875.985/MS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 28/6/2016, DJe 1º/8/2016; grifou-se); "PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTO DE RECURSO ESPECIAL. IMPOSIÇÃO DE MEDIDA DE SEGURANÇA. INTERNAÇÃO. DECISÃO FUNDAMENTADA. SUBSTITUIÇÃO POR TRATAMENTO AMBULATORIAL. DILAÇÃO PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. CESSAÇÃO DA PERICULOSIDADE. NOVA PERÍCIA. NECESSIDADE. (...) 2. Esta Corte de Justiça firmou entendimento de que o tratamento ambulatorial é exceção, possível apenas nos casos de crimes punidos com detenção, desde que observadas as condições de periculosidade do agente, à luz do livre convencimento motivado do magistrado. 3. In casu, verifica-se que o crime imputado ao paciente, roubo, é punível com reclusão e o acórdão impugnado determinou a aplicação da medida de segurança pelo prazo mínimo legal e com fundamento em laudo pericial que indica a necessidade de internação. Alterar o entendimento do Tribunal ordinário demandaria incursão no acervo fático-probatório, inviável na via estreita do habeas corpus. 4. Eventual reconhecimento da cessação da periculosidade não pode ser aferida pela simples alegação de que o paciente não oferece mais risco à sociedade, sendo necessária a realização de nova perícia. (...) 6. Habeas corpus não conhecido." (HC 313.907/SP, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA, julgado em 28/4/2015, DJe 18/5/2015[...].

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6 TRABALHO DE CAMPO NO COMPLEXO MÉDICO PENAL (CMP-PR) PINHAIS,

REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA, ESTADO DO PARANÁ

Atualmente, encontram-se cumprindo Medida de Segurança, duzentos e vinte

e sete (227) homens, e quatorze (14) mulheres no Complexo Médico Penal do Estado

do Paraná.

O estabelecimento é divido em setores com alas para os pacientes

inimputáveis e semi-imputáveis, os quais são alojados por afinidade; separadamente

ficam os presos provisórios e os condenados especiais, tais como, com curso superior

ou trabalhadores civis que praticaram fato ilícito. Possui também o hospital psiquiátrico

e as alas ambulatoriais.

Os pacientes são liberados pela manhã e recolhidos na parte da noite, a

equipe técnica multidisciplinar os chama durante o dia para realizar atividades como

terapia ocupacional, teatro, pintura entre outras dinâmicas, ainda, participam de

grupos de autoajuda como os que são narcóticos.

Não foi possível verificar as instalações onde permanecem os pacientes, no

entanto, a estrutura externa demostra ser um ambiente agradável com funcionários

receptivos.

Os mutirões realizados nos últimos anos, vem auxiliando e beneficiando os

internos, porem em alguns casos gera conflito com outras jurisdições no que tange a

avaliação do indivíduo, como por exemplo um caso mencionado no (CMP) em que o

mutirão beneficiou um acusado da Cidade de Castro e ao chegar em sua cidade o

Juiz da comarca expediu de imediato sua ordem de prisão, por não ter cumprido a

pena mínima e por se tratar de um caso bárbaro (homicídio de uma criança) que

revoltou toda a sua comunidade.

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CONCLUSÃO

Conclui-se que o Estado detém o dever de amparar com as condições de

tratamento para os pacientes que cumprem Medida de Segurança, visto que, não há

que se falar em cura, mas sim de um acompanhamento continuo e duradouro.

Salienta-se que falta recursos para construções de ações de incentivo

O principal fator que contribuem para o quadro aflitivo dos hospitais de

custodia e tratamento ambulatorial, são a falta de avaliação psicológica regular, a

ausência de política estatal de reinserção dos doentes, e a grave falha no judiciário

como um todo, em autorizar a saída dessas pessoas sem sua recuperação ou

estabilização completa.

Já existem vários projetos que demandam a desinstitucionalização e a

reinserção na sua comunidade, ocorre que na pratica, existem muitas dificuldades,

tais como a falta e má qualidade de serviços prestados, a falta de residências

terapêuticas em demais municípios, a falta de estrutura, medicação e profissionais

capacitados.

Existem ainda os problemas com a própria sociedade que atua de forma

preconceituosa com os doentes mentais, e, a própria família que em muitos casos

abandona o infrator, justamente por não ter condições de ajuda-lo.

O sistema manicomial, assim como o sistema carcerário brasileiro como um

todo, está debilitado, fora do controle. O controle por meio de fiscalização e vistorias

auxilia o processo de aperfeiçoamento dos hospitais prisionais.

Por fim pode-se concluir que o tratamento psiquiátrico em hospital de custodia

e os tratamentos substantivos são de suma importância para a prevenção dos doentes

infratores, retornarem a delinquir.

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