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A APRENDIZAGEM EXPERIENCIAL EM
EMPRESAS DE DESENVOLVIMENTO
DE SOFTWARE
Eric Buarque de Lima (UFC Universidade Federal do Ceará)
Serafim Firmo de Souza Ferraz (UFC Universidade Federal do
Ceará)
Guipson Fontes Pinheiro Neto (UFC Universidade Federal do
Ceará)
Tereza Cristina Batista de Lima (UFC Universidade Federal do
Ceará)
Este artigo tem como objetivo analisar a aprendizagem experiencial
em organizações de desenvolvimento de software, em termos de
identificação dos processos de emergência, de desenvolvimento e de
legitimação de práticas. Por atuarem em ambieentes de elevada
competição e de acelerado desenvolvimento tecnológico, essas
organizações necessitam implantar dinâmicas e processos de trabalho
em essência capacitadores. Manter as equipes de trabalho alinhadas
com as tendências de mercado e com o estado da arte da tecnologia e
da concorrência se constitui desafio de porte, de cuja dinâmica as
práticas formais e convencionais de capacitação parecem não dar
conta. A aprendizagem experiencial aglutina um vasto elenco de
práticas de capacitação que ocorrem em situação de trabalho, desde o
“on the job”, passando pelo treinamento assistido por pares, até as
ações de moda como o coaching e o mentoring. Apesar de constituírem
as mais antigas e disseminadas práticas de capacitação, as práticas
experienciais são pouco reconhecidas e raramente integram as
estatísticas organizacionais sobre T&D, sejam elas individuais ou em
grupo. A pesquisa é de natureza qualitativa se caracterizando, quanto
aos fins, como exploratória e descritiva. Quanto aos meios, trata-se de
pesquisa de campo tomando como unidades de estudo três das maiores
empresas de desenvolvimento de software da cidade de Fortaleza (CE),
com escopo competitivo regional e nacional. A coleta de dados se deu
por meio de entrevistas semi-estruturadas conduzidas junto a oito
gerentes de projetos de tecnologia da informação entre os meses de
junho e julho de 2007. Entre as iniciativas e estratégias individuais de
aprendizagem mais utilizadas, foram identificadas as práticas de
5, 6 e 7 de Agosto de 2010
ISSN 1984-9354
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Network, facilitação (aprender ensinando), Peer learning e Role
Model. Quanto às iniciativas e estratégias de grupo, destacaram-se a
contratação de consultor externo e a prova de conceito. A pesquisa
evidenciou, no entanto, dificuldade na identificação de iniciativas e
estratégias de aprendizagem no nível da organização e de práticas
formais de reconhecimento a essas iniciativas e estratégias. A pesquisa
possibilita, ainda, a constatação de que, mesmo em um campo
privilegiado de práticas de aprendizagem experiencial, voltados para a
inovação contínua como o de empresas de desenvolvimento de
softwares, as práticas de aprendizagem ainda estão pautadas pela
informalidade e estão concentradas no âmbito individual e
eventualmente no dos grupos.
Palavras-chaves: aprendizagem experiencial, desenvolvimento de
softare, aprendizagem individual, aprendizagem em grupos,
aprendizagem organizacional
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1. INTRODUÇÃO
A aprendizagem nas empresas é um tema que, nas últimas décadas, está cada vez mais
presente nas pautas de interesse dos campos acadêmico e profissional. Os resultados das
pesquisas e os modelos propostos tratam desde o planejamento da aprendizagem à sua
execução, avaliação, ou ainda, aos recursos utilizados, ambientes de aprendizagem e a
transferência do que foi aprendido para a prática do trabalho; enfim, uma gama de
perspectivas e iniciativas a serem implementadas nas mais diversas situações.
Com o desenvolvimento tecnológico das comunicações e consciência da amplitude da
aprendizagem, sinalizou-se que o grande valor das empresas são as pessoas, ou os talentos,
seus conhecimentos e capacidade de aplicá-los e disseminá-los, gerando aprendizado e
riquezas.
Nessa situação, onde a dinâmica competitiva e de inovação costumam estar associadas
com a rápida progressão das competências (individuais e organizacionais), as práticas formais
de capacitação são vistas, geralmente, como insuficientes para atender às necessidades de
aprendizado nas organizações, fazendo com que boa parte da capacitação ocorra pela via
experiencial.
Dessa forma, indagações emergem, instigando pesquisadores a buscarem respostas
perante a realidade enfrentada. Indagações como: de que forma acontece a aprendizagem, na
modalidade experiencial, em organizações competitivas?
Com esse questionamento, objetivou-se identificar estratégias de aprendizagem
experiencial e suas contribuições, a partir da opinião daqueles que participam de organizações
competitivas. Torna-se relevante, portanto, compreender como as práticas emergem, se
desenvolvem e se legitimizam no contexto de desenvolvimento profissional em organizações.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 A Aprendizagem em seus diferentes âmbitos
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A aprendizagem nas organizações remete-se, no contexto individual ou no plano
sistêmico, à complexidade da transposição de um conceito emergente para compreensão de
fenômenos em diferentes âmbitos. Sabe-se que as organizações não podem criar
conhecimento por si próprias, sem a iniciativa de indivíduos e a interação que acontece no
interior de grupos. Por isso, a aprendizagem impacta, significativamente, nas práticas de
aprendizagem organizacional, uma vez que aprender com a própria experiência é um dos
processos individuais que favorece a aprendizagem coletiva.
No limiar dos diferentes âmbitos nos quais a aprendizagem perpassa, é de considerável
valia o resgate de sua conceituação e evidenciação do que vem sendo pesquisado ao longo dos
anos. Assim, muito se tem comentado sobre aprendizagem – aliada a conhecimento e a
inovação – nas últimas décadas, em referência ao mundo dos negócios, na tentativa de
responder a adaptação exigida por um ambiente mais competitivo, novas competências em
função ao desenvolvimento tecnológico, eventos políticos que impõem restrições e
oportunidades para as organizações, dentre outras variáveis (SILVA FILHO; GUIMARÃES,
2008).
Segundo Fleury (2001), o conceito de aprendizagem corresponde a um processo de
mudança, passivo a estímulos emocionais, que podem repercutir, primeiramente, em
transformações comportamentais dos indivíduos.
Holanda et. al. (2008), em complemento a conceituação anunciada por Fleury (2001),
afirmam que a aprendizagem possui conotação de um grande processo de crescimento
(influenciado por afetos) e de intercâmbio com o meio onde esse processo gera uma mudança
de atitude no indivíduo.
Visualiza-se com as definições apresentadas, pelos autores acima mencionados, que a
aprendizagem está intimamente ligada a um processo de mudança, inicialmente, no nível
individual, seja de atitudes, seja de comportamentos, sem desconsiderar a vertente das
emoções. Vertente que, igualmente, é comentada por Santos e Vieira (2008, p. 11) ao
defenderem que a ato de aprender faz parte da “construção social e os indivíduos aprendem no
trabalho, uma vez que as interações, emoções, experiências e pensamentos permitirão a
aprendizagem de forma contínua”.
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Contudo, a aprendizagem não se restringe ao âmbito individual, estando conectada ao
meio externo ao indivíduo e tudo aquilo que ocircunda. Em decorrência, a aprendizagem se
vale do indivíduo como canal propagador, sendo um ativo que pode repassá-la, do âmbito
individual para o do grupo e, desse, para uma organização.
Quanto aos âmbitos nos quais acontece a aprendizagem, consideram-se três: o do
indivíduo, no qual a aprendizagem carrega-se de sentimentos e emoções; do grupo, como um
processo social compartilhado pelos indivíduos; e da organização, decorrente da
institucionalização do comportamento, podendo ser expressa sob a forma de procedimentos,
estrutura e elementos simbólicos da organização (FLEURY, 2001; STEIL; SANTOS;
PINOSA, 2007).
No primeiro âmbito – individual –, Kim (1993) sistematiza a aprendizagem individual
com a ocorrente no amparo da experiência, da observação e da capacidade de reflexão e
avaliação de situações, a originar estruturas cognitivas, modelos interpretativos e rotinas
pessoais de trabalho.
Para Steil, Santos e Pinosa (2007), a aprendizagem individual refere-se a capacitar
pessoas a atuarem em situações desconhecidas e inesperadas, não apenas em relação ao
domínio de conteúdos e conhecimentos específicos, bem como no desenvolvimento de
aprender a aprender.
E nessa dinâmica de aprender a aprender, a aprendizagem acaba por ser compartilhada
entre indivíduos, assumindo o caráter de aprendizagem coletiva, ou de grupo, e não mais de
aprendizagem individual.
Senge (2004) define a aprendizagem em equipe como um processo de alinhamento e
desenvolvimento da capacidade da equipe de criar resultados que seus participantes almejam
alcançar. Sabendo-se que quando os grupos aprendem, eles tornam-se um microcosmo para a
aprendizagem em toda a organização. E, ainda, reforça que:
A aprendizagem em equipe é vital, pois as equipes, e não os indivíduos, são a
unidade de aprendizagem fundamental nas organizações modernas. Esse é um ponto
crucial: se as equipes não tiverem capacidade de aprender, a organização não a terá
(SENGE, 2004, p. 261).
Consoante Senge (2004), a aprendizagem em equipe tem três dimensões críticas
dentro das organizações: (i) a necessidade de se pensar reflexivamente sobre os assuntos
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complexos, (ii) a necessidade da ação inovadora e coordenada e (iii) o papel dos membros da
equipe de estimular continuamente outras equipes, pela disseminação de práticas e
habilidades de aprendizagem em equipe de maneira mais ampla.
Em outras palavras, os grupos que aprendem, aprendem a aprender em conjunto, logo,
as habilidades de grupo são mais difíceis de desenvolver, do que as habilidades individuais.
Por isso os grupos necessitam de campos de prática conjunta, a visar o desenvolvimento de
suas habilidades coletivas de aprendizagem (SENGE, 2004).
Nonaka e Takeuchi (1997) declaram que uma empresa que visa criar conhecimentos
deve oferecer um lugar onde se possa obter uma rica fonte de experiência original, na qual
ocorrem intensas interações sob membros da equipe.
Em um cenário competitivo, a diferenciação organizacional, emerge como
conseqüência dos cuidados que a organização tem com a geração e manutenção de
conhecimentos , bem como o reconhecimento de seus colaboradores e suas experiências, a
fim destes representarem aprendizagem, desempenhos satisfatórios e valor estratégico.
No contexto organizacional, conhecimentos são gerados por indivíduos em resposta
a demandas internas e externas à organização. A partir da identificação e
reconhecimento de conhecimentos relevantes à prática organizacional, os indivíduos
mobilizam recursos organizacionais para a experimentação e implantação de novas
rotinas, processos e idéias, implicando em mudanças de comportamento em nível
individual, coletivo e organizacional. Em seguida, com a intenção de mudar suas
práticas, produtos e serviços, a organização integra a aprendizagem ocorrida ao
longo do tempo, resultando em inovações que podem ser reconhecidas como algo
novo para a própria organização ou para seu contexto, e que impactam
positivamente seu desempenho (SILVA FILHO; GUIMARÃES, 2008, p. 09).
Ao definir aprendizagem organizacional, Kim (1993) refere-se ao incremento na
capacidade de tomar ações efetivas, e sugere que seja visualizada a aprendizagem em
consonância a uma roda girando, em que, durante metade do ciclo, enquanto se testam os
conceitos e se observa o que acontece de fato, aprende-se o “como” (know how). E, na outra
metade, enquanto se reflete sobre as observações e formação de conceitos, aprende-se o
“porquê” (know why). O exercício do “porquê” envolve a consciência, e o “como” (know
how) a capacidade de realizar ou a competência. Na medida que se assimilam os “comos” e os
“porquês”, começam a serem estabelecidos modelos mentais, imagens profundas do mundo e
de como ele funciona.
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Em sopesar a reflexão acima proposta, Kim (1993) consegue dividir o processo de
aprendizagem organizacional em duas vias: aprendizagem operacional (know how) e
aprendizagem conceitual (know why). Estando a aprendizagem operacional relacionada à
existência de habilidades para concretização de atividades, enquanto a aprendizagem
conceitual reporta-se a articulação de conhecimentos conceituais sobre experiências.
Nessas vias, Fleury (2001) pondera que a aprendizagem operacional pode ocorrer
concomitantemente à aprendizagem conceitual, tendo essas aprendizagens papéis funcionais
dentro de uma organização que aprende, as quais se distanciam de conceitos ultrapassados,
onde o pensar e o fazer estão dissociados.
Contudo, a aprendizagem organizacional não resulta apenas do somatório das
aprendizagens individuais, sendo uma realização coletiva advindas de cognições e modelos
mentais compartilhados, levando as organizações a ajustarem suas rotinas de
comportamentos. Na compreensão de Fernandes (1999), a aprendizagem organizacional deve
ser interpretada com base em um plano dialético, onde estruturas e conhecimentos existentes
(tese) são continuamente desafiados por novas estruturas e conhecimentos não enquadrados
(antítese), os quais são reorganizados e mais bem integrados num processo (síntese), a
precipitar condições de emergência de uma nova tese e, por conseqüência, um novo patamar
de resultados.
Portanto, os resultados do aprendizado organizacional adviriam da integração
interpessoal, interfuncional ou interdepartamental, por meio da interação do ambiente interno
e externo de uma organização de aprendizagem. E do entendimento de que é por intermédio
do processo de aprendizagem – ligado à gestão do conhecimento – que se formatam
competências essenciais ao posicionamento estratégico da organização (FLEURY, 2001;
GONÇALVES, RODRIGUEZ, 2008; SILVA FILHO; GUIMARÃES, 2008).
As organizações, como entidades de aprendizagem, têm mecanismos de busca, acesso,
estoque e uso do conhecimento produzido por seus membros, a envolver tensão e conflito
derivados da interação entre indivíduos e ambiente, experiências concretas, observações e
reflexão. Bastos et al. (2002) asseveram que a tensão entre o enfoque individual e
organizacional da aprendizagem seja, talvez, a principal tensão teórica na aprendizagem no
âmbito da organização. Uma posição mais crítica nega à organização esse poder de aprender,
pois não é um ser humano.
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Na verdade, faz-se uso de uma metáfora ao se atribuir propriedades humanas às
organizações, visto que a aprendizagem organizacional só pode ser encontrada nas ações dos
indivíduos que da organização participam. Dessa forma, a expressão aprendizagem
organizacional constitui-se como uma metáfora que permite a análise organizacional em
relação ao conhecimento e ao processo de aprendizagem.
2.2 Aprendizagem de Adultos e Experiências Formativas
Em busca de referências que pudessem reforçar a fundamentação teórica da pesquisa,
encontrou-se a aprendizagem de adultos e experiências formativas como temáticas de reforço,
compatíveis com o objetivo da investigação adotado. Nessas temáticas, destacam-se alguns
estudiosos, dentre eles: Knowles, Holton III e Swanson (2005), cujas considerações
contribuíram para elucidar relações entre aprendizagem e experiência.
Reconhecidos por seus estudos referente a andragogia – arte de ajudar adultos a
aprender –, Knowles, Holton III e Swanson (2005) assinalam princípios facilitadores do
processo de aprendizagem com adultos, nos quais se vê a experiência como elo fundamental.
Knowles, Holton III e Swanson (2005) ressaltam que os adultos aprendem de maneira
diferente das crianças – preceito fundamentador da andragogia –, e apresentam cinco
pressupostos inerentes a aprendizagem dos adultos: autoconceito, experiência, prontidão para
aprender, orientação para aprender e motivação para aprender.
Conforme os autores, quando uma pessoa amadurece, acumula um crescente número
de experiências que se tornam recursos de aprendizagem. Elas, como adultos, também
aprendem melhor por métodos experienciais.
Em paralelo a indicação dos métodos experiências como os mais viáveis para a
aprendizagem de adultos, Knowles, Holton III e Swanson (2005) também apontam outro
método, o de aprendizagem autodirigida, a conceituá-lo como um processo
[...] onde os indivíduos tomam a iniciativa, com ou sem a ajuda de outros,
diagnosticando suas necessidades de aprendizagem, formulando seus objetivos,
identificando recursos humanos e materiais para a aprendizagem, escolhendo e
implementando estratégias apropriadas, e avaliando seus resultados (KNOWLES;
HOLTON III; SWANSON, 2005, p. 18).
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Knowles, Holton III e Swanson (2005) justificam a relevância do desenvolvimento da
aprendizagem autodirigida sob a argumentação de que essa aprendizagem alinha-se ao
processo natural de desenvolvimento psicológico e maturidade dos indivíduos, se comparada
às práticas reativas existentes.
Ao tratar da temática das experiências formativas, após o contato com a temática sobre
aprendizagem de adultos, chega-se a iniciativas e estratégias para aprendizagem em
organizações, balizadas pela experiência.
Cheetam e Chivers (2001) identificaram dez métodos ou experiências informais de
aprendizagem que contribuem com o desenvolvimento de competências: (i) aprendizagem no
trabalho; (ii) trabalhar ao lado de colegas mais experientes; (iii) trabalhar como parte de um
time; (iv) auto-análise ou reflexão; (v) aprender de clientes; (vi) relações com profissionais
realizando trabalhos similares; (vii) aprendizagem por meio do ensino ou treinamento de
outros; (viii) suporte de um mentor; (ix) utilização de um modelo; (x) experiência prévia.
Esses métodos, em suma, despertam os indivíduos para a prática reflexiva no ambiente
de trabalho, ou seja, perceberem que se pode aprender trabalhando de variadas maneiras.
Bohlander, Snell e Sherman (2005) também anunciam oito métodos formativos para
fornecer experiências no local de trabalho, a saber: (i) coaching; (ii) substituições
programadas; (iii) rotação de cargo; (iv) transferência lateral; (v) projetos especiais e comitês
juniores; (vi) aprendizado prático; (vii) reuniões de staff; (viii) progressão de carreira
planejada.
De acordo com a revisão procedida, elaborou-se o Quadro 1, agrupando conceitos,
visto o mapeamento das estratégias de aprendizagem experiencial.
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SíntesePráticas Individuais
Role ModelMétodo de desenvolvimento pessoal, onde se utiliza o exemplo de um
profissional-modelo (role model), mediante processos de observação,
reflexão e imitação em variados níveis (e.g. parcial, total. negativo).
Peer Learning
(trabalhar ao lado de
colegas mais experientes)
Mecanismo de aprendizagem que envolve a observação estruturada e
crítica dos colegas de trabalho, modificando o comportamento
observado para desenvolver o próprio estilo.
NetworkMétodo de desenvolvimento baseado no trabalho, aprendendo-se com
outras pessoas por processos de interação e formulação do
conhecimento.
FacilitaçãoEnvolve: ensinar, instruir, ser tutor ou mentor de outros, escrever
artigos e relatórios, proferir palestras e conferências, justificar,
defender e explanar ações, desenvolver materiais didáticos.
Aprender com
Fornecedores
Estratégia de desenvolvimento em que o profissional utiliza o
conhecimento e informações de fornecedores para suprir suas
necessidades de aprendizagem.
Aprender com
Clientes
Estratégia de aprendizagem na qual, conscientemente, o profissional
reflete sobre os desafios enfrentados ao atender clientes para elevar
suas competências e aprimorar o seu trabalho.
Quadro 1 – Modelo Operacional das Práticas de Aprendizagem Experiencial individual
Fonte: Elaborado mediante Pesquisa Bibliográfica (WOODALL, 2000; CHEETAM; CHIVERS, 2001;
BOOG; BOOG, 2002).
O trabalho em equipe apresentou-se como a mais evidente estratégia grupal de
aprendizagem experiencial, sendo entendido como a forma particular de aprendizado
colaborativo, no qual se aprende com outras pessoas, por processos como entendimento
estratégico, partindo da elaboração do conhecimento e confiança (WOODAL, 2000;
CHEETAM; CHIVERS, 2001).
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SíntesePráticas Individuais
Mentoria
Método de desenvolvimento baseado no trabalho, no qual, mediante
uma orientação personalizada, um mentor atua junto a um
funcionário com possibilidade de ascender na empresa, estimulando-
o a solucionar problemas e desenvolver seu potencial.
Coaching
Ferramenta de desenvolvimento de pessoas por seus responsáveis
(um para um), indicado para pessoas em posições de liderança,
enquanto o aprendiz está em ação, focando aperfeiçoar competências,
por meio de novas responsabilidades e intensivo feedback.
AconselhamentoMeio eficaz de estimular o desenvolvimento e corrigir problemas
detectados na performance de um profissional, por meio de uma
abordagem pessoal e pontual. Também pode ser de carreira.
Rotação de
Cargos
Método de desenvolvimento ou preparação profissional visando à
carreira que fornece, por meio de uma variedade de experiências de
trabalho e exposição a outras realidades e visões, de uma função
conhecida para outra menos conhecida, o conhecimento ampliado e o
entendimento exigido para gerenciar efetivamente.
Trabalhar por
Projetos
Método de desenvolvimento baseado no trabalho, aprendendo-se das
tarefas, por meio dos processos de resolução de problemas, tomada
de responsabilidades, riscos e decisões.
Reuniões de Staff
Permitem aos participantes tornar-se mais familiarizados com
problemas e eventos que ocorrem fora de sua área imediata,
expondo-os às idéias e pensamentos de outros gerentes.
Quadro 2 – Modelo Operacional das Práticas de Aprendizagem Experiencial Organizacional
Fonte: Elaborado mediante Pesquisa Bibliográfica (WOODALL, 2000; CHEETAM; CHIVERS, 2001;
BARBOSA, 2002; BEHMER, 2002; BERNHOEFT, 2002; BOOG; BOOG, 2002; BOHLANDER;
SNELL; SHERMAN, 2005).
Além das práticas elencadas nos quadros acima, sabe-se que outras experiências
formativas podem fazer parte do cotidiano das organizações (e,g. grupos de qualidade/
melhoria/ inovação, workshops de planejamento e avaliação, benchmarking, participação em
eventos, dentre outras), em decorrência, espera-se poder visualizá-las quando em pesquisa de
campo.
3. METODOLOGIA
O delineamento do percurso metodológico é um passo de grande responsabilidade
para os pesquisadores, fazendo-se necessário o registro detalhado de informações que
auxiliem no entendimento por parte do público que terá contato com os resultados da
pesquisa. Nesse intento, apresenta-se esta pesquisa como uma investigação de natureza
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Qualitativa, sob tipologia: quanto aos fins, Exploratória e Descritiva e, quanto aos meios,
Pesquisa de Campo (RICHARDSON, 1999; VERGARA, 2003; GODOY, 2005).
A coleta de dados ocorreu por meio de entrevista, a abordar questões a respeito de
iniciativas e estratégias de aprendizagem nas esferas individual, grupal, organizacional, bem
como o reconhecimento de práticas de aprendizagem experiencial em organizações.
Idealizou-se entrevistar profissionais que atuassem numa área reconhecida por
legitimizar informações, conhecimento e, principalmente, aprendizagens como características
fundamentais. Assim, profissionais de TI (Tecnologia da Informação), que ocupassem
funções-chave em empresas atuantes no mercado, foram tidos como sujeitos-alvo da pesquisa.
Para tanto, houve o estabelecimento de critérios de acesso, inicialmente, às
organizações – (i) empresas situadas em Fortaleza-CE, (ii) não enquadradadas como
microempresas, (iii) com mais de dez anos de atuação, (iv) tendo como atividade principal,
descrita no CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), o desenvolvimento de softwares –,
para conseqüente acesso aos prováveis sujeitos da pesquisa.
A consideração desses critérios repercutiu no alcance de três empresas, das quais se
chegou a um total de oito profissionais (gerentes de projetos), correspondentes a amostra não-
probabilística da investigação qualitativa.
Registra-se que questões éticas foram adotadas na condução da coleta de dados com os
sujeitos da pesquisa, originando-se do consentimento e do direito de participação voluntária –
como também do direito de desistir –, exposição do objetivo da pesquisa, possibilidade de
fazer perguntas, obter uma cópia dos resultados e ter a privacidade respeitada.
Para a análise dos dados coletados, valeu-se da técnica de Análise de Conteúdo, tendo
o Interpretativismo como paradigma (GODOY, 2005). Conforme Dellagnelo e Silva (2007), a
Análise de Conteúdo vem tornando-se cada vez mais presente nas pesquisas brasileiras, sendo
sua utilização uma tarefa interessante por buscar significados que vão além das mensagens
concretas, marcada predominantemente pelo viés qualitativo.
3.1 Origens dos Sujeitos da Pesquisa
Em complemento ao capítulo da metodologia adotada, e antes da apresentação e
análise dos resultados alcançados, faz-se necessário evidenciar, de forma breve, as empresas
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procedentes dos sujeitos da pesquisa, correspondendo, assim, ao campo da pesquisa. Nesse
contexto, considerou-se o protocolo da pesquisa, optando pela preservação dos nomes
fantasias, ou razões sociais das empresas pesquisadas, como se pode perceber a seguir.
A Empresa A foi fundada em 1996, tem sede em Fortaleza-CE, escritórios comerciais
em dois outros estados brasileiros e uma filial no exterior. Ela atua em três diferentes
unidades de negócios: serviços de software, serviços profissionais e indústria de software,
residindo seu foco no mercado de software sob encomenda e, em decorrência, a organização
do trabalho do setor de desenvolvimento da Empresa A ocorre por meio do trabalho por
projeto.
Nessa empresa pode-se identificar três direções – comercial, outsourcing e operacional
–, sendo a direção operacional contemplada pela presente pesquisa. Sua diretoria operacional
de desenvolvimento de software é composta por um diretor, três gerentes de projetos –
sujeitos da pesquisa –, quatro analistas, seis designers, dois arquitetos e quinze
desenvolvedores; os demais colaboradores são administrativos ou atuam fora da empresa nos
serviços de outsourcing.
A segunda empresa participante da pesquisa – Empresa B – iniciou suas atividades em
1987, desenvolvendo sistemas sob encomenda. No ano de 1996, criou um sistema de controle
operacional e informativo de vôos e, em 1999, iniciou o desenvolvimento de um sistema de
gestão empresarial conhecido como sistema ERP (Enterprise Resource Planning).
Seu quadro gerencial é representado por uma direção geral e duas gerências de
projetos, sendo uma de projetos Web e outra, projetos Desktop. Cada gerente de projetos é
responsável por uma equipe, tendo a equipe Web, além do gerente, um analista e dois
desenvolvedores; a equipe Desktop possui três analistas. A nomeação dessas equipes condiz
com o ambiente de trabalho que os usuários finais dos softwares utilizarão, se na área de
trabalho (Desktop) ou através da internet (Web). Observa-se que nessa empresa, a direção se
encontra num local distinto dos profissionais da área de desenvolvimento.
Em contraste com a Empresa A, a Empresa B atua no segmento de desenvolvimento
de software-produto, pois trabalha somente no desenvolvimento de melhorias e atualizações
de um software de gestão distribuído para seus clientes. É comum que empresas
desenvolvedoras de softwares-produto, realidade correspondente da Empresa B, organizem o
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trabalho por equipe, em vez de por projeto, pois o desenvolvimento de seu trabalho tem como
base a inclusão de novas funcionalidades em softwares existentes.
A Empresa C há mais de vinte anos atua na área de tecnologia da informação,
desenvolvendo soluções em softwares nas áreas contábil, administrativo-financeira, gestão
empresarial e gestão de pessoas. Com matriz situada em Fortaleza-CE, conta com um
portfólio de clientes de todo o país e uma rede de atendimento, que inclui franquias e
representações em vários estados. Essa empresa faz parte de um grupo que está presente
também nos segmentos de tecnologia e segurança da informação, auditoria e assessoria
contábil, advocacia, consultoria empresarial, treinamentos, gestão patrimonial, dentre outros.
Sua forma de trabalho é por equipe, consoante ao segmento que atende: software-
produto. A Empresa C tem uma gama de softwares-produto no mercado e está a melhorá-los,
agregando valor e desenvolvendo novos produtos relacionados aos que já estão no mercado.
Para tanto, seu setor de desenvolvimento estrutura-se com trinta e cinco colaboradores
distribuídos em três equipes de nove a quatorze especialistas cada qual. As equipes são
intituladas: Java, Delphi Corporativos e Delphi Contábeis. Nelas, junto aos gerentes de
projetos, existem colaboradores com a função de gerente de produto (analista diferenciado
para compartilhar da visão dos clientes com a equipe), arquiteto (desenvolvedor mais
experiente, incumbido pela qualidade técnica do desenvolvimento e por pesquisar novas
tecnologias) e desenvolvedores.
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Iniciativas e estratégias de aprendizagem experiencial nos níveis individual, grupal e
organizacional, bem como o reconhecimento dessa aprendizagem, orquestraram a
apresentação e análise dos resultados da pesquisa, partindo dos relatos de oito gerentes de
projetos, de três diferentes empresas de TI.
Primeiramente, os gerentes de projetos foram questionados sobre como se mantém
atualizados, quais as práticas experienciais de aprendizagem que utilizam (peer learning,
network, ensino, role model), e em quais fontes buscam o conhecimento necessário para o
desenvolvimento profissional.
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Network
Facilitação (aprender ensinando)
Peer Learning
Role Model
Iniciativas e
Estratégias Individuais
Quadro 3 – Aprendizagem Experiencial Individual
Fonte: Dados da pesquisa.
De forma intencional, o Gerente 2A relatou utilizar algumas das práticas de
aprendizagem experiencial mencionadas: network e facilitação (aprender ensinando). Os
demais gerentes da Empresa A mencionaram, ocasionalmente, utilizar a estratégia do peer
learning (Gerentes 1A e 2A) e network (Gerente 1A).
Na Empresa B, somente o Gerente 4B relatou utilizar das práticas de aprendizagem
experiencial individual mencionadas na entrevista – network –, a revelar: “converso muito
com o pessoal da área, entro em contato, mando e-mail e participo de grupos na internet”
(Gerente 4B).
O peer learning correspondeu à estratégia de aprendizagem experiencial mais utilizada
na Empresa C. Isso decorre do fato de que a metodologia de desenvolvimento ágil e de
programação em par, implementadas por essa empresa, envolve a observação crítica dos
colegas de trabalho a fim de modificar comportamentos.
“A programação em par é uma prática de metodologia XP (Extreme Programming)
de desenvolvimento ágil, onde em vez de você estar desenvolvendo
individualmente, você trabalha sempre com outra pessoa, geralmente mais
experiente, ou seja, dois profissionais no mesmo computador, apesar de cada um ter
o seu... Desta forma, conseguimos ter aumento de qualidade, uma maior
disseminação do conhecimento da tecnologia e do negócio, o que é importante
principalmente para os novatos” (Gerente 6C).
Em complemento à prática do peer learning, dois gerentes (6C e 8C) relataram que a
estratégia de role model está presente no processo de aprendizagem individual, por buscarem
imitar, parcial ou totalmente, características de profissionais-modelos na área de atuação. O
Gerente 6C emprega, ainda, a estratégia de aprender ensinando, e o Gerente 7C usa de
network para o seu aprendizado.
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Contratação de Consultor Externo
Prova de Conceito
Iniciativas e
Estratégias de Grupo
Quadro 4 – Aprendizagem Experiencial Grupal
Fonte: Dados da pesquisa.
O network, como foi definido, é o método de desenvolvimento baseado no trabalho,
aprendendo-se com outras pessoas por intermédio dos processos de interação e formulação do
conhecimento (WOODALL, 2000) e é, particularmente, uma estratégia utilizada neste setor,
onde as informações partem de variadas fontes.
Em relação às fontes buscadas pelos gerentes para o seu desenvolvimento profissional,
os três entrevistados da Empresa A alegaram utilizar a internet e publicações (livros, revistas
técnicas e artigos científicos); dois deles informaram também buscar conhecimento em
instituições de ensino (Gerentes 1A e 3A) e em eventos e feiras (Gerentes 1A e 2A). Apenas o
Gerente 3A relatou utilizar também do conhecimento existente em associações do setor.
A internet foi outra fonte ressaltada pelos gerentes: “ela é a fonte mais importante, pela
velocidade em encontrar informações...” (Gerente 1A) e; “me mantenho atualizado através de
revistas técnicas assinadas pela empresa e muita leitura online em sites sobre
desenvolvimento de software, como o da Microsoft e blogs de profissionais” (Gerente 2A).
As fontes de conhecimento buscadas para o desenvolvimento profissional, assim como
a Empresa A, são comuns a todos os gerentes da Empresa B, os quais alegaram usar,
principalmente, da internet e de publicações do setor. Apenas o Gerente 5B informou buscar
conhecimento por meio de eventos e feiras, e o Gerente 4B em instituições de ensino e outras
empresas do setor.
Obedecendo a frequência das empresas anteriores, os gerentes da Empresa C, também,
procuram a internet e publicações especializadas como fontes de informação e conhecimento
frente o almejado desenvolvimento profissional, sem desconsiderar os eventos e feiras
(Gerente 6C e 8C), instituições de ensino (Gerente 6C e 7C). Sobre a internet, um dele
exprime que “listas de discussão e blogs trazem muitos assuntos que é a bola da vez na área”
(Gerente 8C).
Percebe-se que a autodidaxia também é uma marca dos profissionais da área de
desenvolvimento de softwares, por não encontrarem nos meios formais ou organizacionais
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todo o conhecimento necessário – e na velocidade esperada – para o seu desenvolvimento
profissional. Nesse sentido, destacam-se as seguintes afirmações: “eu aprendo mais por conta
própria do que com a ajuda de terceiros” (Gerente 1A); “aprendi a desenvolver softwares
inicialmente sozinho, e a criar websites, trocando idéias com outras pessoas em bate-papos na
internet” (Gerente 2A); “me considero um autodidata na parte de infra-estrutura de TI, através
das leituras que empreendi” (Gerente 3A); “me considero uma autodidata em relação a
processos de empresa de desenvolvimento de software” (Gerente 4B) e “considero que a
maioria das pessoas da área são autodidatas” (Gerente 5B).
Conforme a conceituação de aprendizagem autodirigida como um processo pelo qual
pessoas tomam iniciativas de diagnosticar suas necessidades de aprendizagem e deliberarem
estratégias rumo à aprendizagem (KNOWLES; HOLTON III; SWANSON, 2005), pode-se
afirmar que os profissionais das empresas de pesquisadas lançam mão da aprendizagem
autodirigida, ou autodidatismo, ao afirmar que aprendem melhor de forma proativa,
engajando-se com maior propósito e motivação nesse processo.
Durante a entrevista, os gerentes de projetos relataram quais as estratégias que suas
equipes utilizam quando necessitavam adquirir algum conhecimento que não possuíam para
desenvolver um projeto. Constatou-se que os grupos da Empresa A sempre contratam um
consultor quando se encontram nessa situação, e ainda, conforme indicado por um dos
gerentes:
“Também utilizamos a idéia de prova de conceito, que significa indicar uma pessoa
com conhecimento prévio mais próximo daquela necessidade, fornecer tempo para
ela estudar e criar um sistema pequeno aplicando aquele conhecimento ou nova
tecnologia” (Gerente 2A).
Essa estratégia remete-se a experimentação ativa, decorrente do ciclo da aprendizagem
experiencial, a referir à habilidade de usar as teorias desenvolvidas no processo de
conceituação abstrata para tomar decisões e resolver problemas.
Na Empresa B, diferente da Empresa A, a contratação de um consultor externo é o
último recurso, quando necessitam aprender algo, sendo preferível um integrante do grupo
busque por conhecimento esperado e repasse para o grupo, agindo como um agente
multiplicador. Postura reforçada pelo Gerente 4B que afirma: “quando não temos na equipe
algum conhecimento necessário a um novo projeto, os analistas estudam a literatura, nos
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fóruns da Microsoft, e quando identifico que não conseguirão, então contratamos um instrutor
externo” (Gerente 4B).
Os gerentes de projetos da Empresa C, durante a indagação sobre as estratégias do
grupo para aprender algo novo, não fizeram nenhuma menção à contratação de consultores
externos, apesar de que em outros momentos da entrevista relataram algumas situações de
auxílio externo. Situação que se correlaciona com a defendida existência de um alto nível de
conhecimento dos participantes do setor de desenvolvimento de software desta empresa, bem
como a capacidade que possuem de aprender, como se pode perceber no depoimento do
Gerente 7C:
“[...] Montamos uma comissão de duas ou três pessoas para estudar e trazer a
informação para os demais, principalmente na internet e listas de discussões,
elaborando projetos pilotos com as novas tecnologias; raramente consultando algum
conhecido” (Gerente 7C).
As equipes representam a unidade propagadora de aprendizagem nas organizações,
assegura Senge (2004). Por essa razão, durante a entrevista, quando era abordado o tópico da
aprendizagem em grupo, foi perguntado se a empresa logra institucionalizar o que é aprendido
no grupo, ou seja, se ela consegue disponibilizar esse conhecimento adquirido para outros
grupos.
Ressalta-se que tão importante quanto facilitar e promover a aprendizagem nas
organizações é gerir bem o conhecimento nas empresas, pois representa como relevante
explicitar e socializar o conhecimento contido nos grupos ou nas mentes de alguns indivíduos
do que fazer com que todos aprendam desde início todas as coisas.
A respeito das estratégias organizacionais de aprendizagem experiencial, foram
abordadas de forma aberta para que os entrevistados pudessem mencioná-las livremente e,
apenas após esse momento, nominavam-se as estratégias para que pudesse ser identificada, ou
não, consoante a realização divulgada.
Iniciativas e
Estratégias da Organização
Dificuldade de identificação
de práticas
Quadro 5 – Aprendizagem Experiencial Organizacional
Fonte: Dados da pesquisa.
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Na Empresa A, os gerentes de projetos mencionaram três tipos de reunião, instituídas
pela organização, que trazem aprendizado para os colaboradores: reuniões semanais referentes
a cada projeto, reuniões semanais entre o diretor operacional e os gerentes de projetos sobre a
avaliação do trimestre passado e reuniões a respeito dos índices do BSC (Balaced Scorecard).
Eles revelaram que a Empresa A organiza o trabalho por projetos, pois, muito mais do que
uma estratégia, é o modo-padrão de trabalho nas empresas cujo foco é o software sob
encomenda.
Perante a Empresa B e seus gerentes, não foi identificada nenhuma das práticas de
aprendizagem organizacional, na modalidade experiencial, ficando, então, estas limitadas às
iniciativas individuais ou dos grupos.
Por sua vez, na Empresa C, além de ações circunstanciais de benchmarking,
desenvolveu um conjunto de reuniões periódicas que – apesar da razoável quantidade (5
diferentes tipos de reuniões: Stand Up Meeting, reunião semanal do setor de desenvolvimento,
reunião semanal de avaliação, Reunião semanal sobre o produto, reunião quinzenal da equipe)
– os gerentes de projetos são unânimes em afirmar que essas reuniões são objetivas,
produtivas, focadas no trabalho e geradoras de contribuições para a aprendizagem
organizacional.
Bohlander, Snell e Sherman (2005) são alguns dos autores que destacam as reuniões
de staff como métodos formativos a fim de fornecer experiências no local de trabalho, ao lado
de estratégias de coaching, substituições programadas, rotação de cargo, transferência lateral,
projetos especiais e progressão planejada de carreira. Os autores acentuam que estas reuniões
permitem aos participantes tornar-se mais familiarizados com problemas e eventos que
ocorrem fora de sua área imediata, expondo-os às idéias e pensamentos de outros gerentes.
Reconhecimento de
Iniciativas e Estratégias
Nenhuma identificação
de práticas formais
Quadro 6 – Reconhecimento da Aprendizagem
Fonte: Dados da pesquisa.
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Ainda, ciente do necessário reconhecimento da aprendizagem experiencial, para sua
valorização e aprimoramento no âmbito das organizações de TI, houve no momento da
entrevista o cuidado de atentar para o reconhecimento dessa aprendizagem.
Os gerentes de projetos da Empresa A identificaram, como único mecanismo de
reconhecimento da aprendizagem experiencial, a prática estabelecida de indicar um
profissional mais experiente para orientar um colega, quando esse possui uma necessidade de
aprendizado em determinado assunto ou tecnologia. O que demonstra que, apesar de se
perceber um considerável uso das estratégias experienciais, elas não possuem mecanismos
formais de legitimação e valorização.
No caso da Empresa B, seus gerentes reconhecem o estímulo à aprendizagem que
acontece via a experiencial, somente por meio da liberdade que a empresa concede para seus
profissionais pesquisar e estudar temas e tecnologias que eles desconhecem parcial ou
totalmente. Liberdade que se caracteriza por essas ações poderem acontecer durante o horário
de trabalho da empresa, a demonstrar a ausência de mecanismos formais de valorização e
legitimação dessa modalidade de aprendizagem.
A valorização da aprendizagem experiencial e seu reconhecimento, na Empresa C,
ocasionam-se por meio da cultura traduzida no discurso da “aprendizagem por demanda”
(Gerente 8C). Ou seja, os indivíduos e equipes devem definir suas ações de capacitação de
acordo com a necessidade das tecnologias e metodologias que precisam ser aprendidas para os
projetos de software em desenvolvimento ou a desenvolver. Todavia, nessa empresa, também
não foram encontradas processos formais de valorização e legitimação da modalidade
experiencial de aprendizagem.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A identificação de estratégias de aprendizagem, na modalidade experiencial, partindo
da ótica de profissionais, correspondeu ao objetivo geral adotado pela investigação
desenvolvida em contato com o mercado de TI.
Observou-se que o ambiente, no qual os entrevistados estão inseridos, é um campo
privilegiado de práticas de aprendizagem experiencial, todavia com um potencial sinalizador
de crescimento e desenvolvimento de maiores práticas. Observação reforçada pela
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constatação de que as práticas de aprendizagem reveladas, por seus profissionais, beiram a
informalidade e, estão de sobremaneira concentradas no âmbito individual e, eventualmente,
no dos grupos.
Em detrimento a fragilidade da aprendizagem no âmbito organizacional, não se pôde
afirmar que as organizações, representadas pelos seus gerentes, possuem políticas e processos
de aprendizagem estruturados e gerenciados em todas as suas etapas, uma vez que não se
fundamentam em iniciativas formais de transmissão e institucionalização para todos.
Também, não foram verificados registros ou sinais de legitimação da aprendizagem
experiencial, apenas uma estabelecida cultura de liberdade para estudar, comum aos relatos de
todos os sujeitos da pesquisa.
Peer Learning, aliado a iniciativas de Network, representaram estratégias de
aprendizagem amplamente utilizadas pelos gerentes de projetos, sendo a internet a fonte
preferida para o (auto) aprendizado. Isso vem a denotar uma corrida dos profissionais de TI
por atualização constante, correndo o risco do descompasso entre a aprendizagem adquirida e
o que é demandado no contexto dos negócios.
Como estratégias de aprendizagem do grupo encontrou-se a prática de delegar aos
analistas ou arquitetos que pesquisem em fóruns o conhecimento necessário ao grupo, fazendo
simulações e elaborando projetos-piloto com as novas tecnologias. Ou seja, utilizar-se da
“prova de conceito” como estratégia de aprendizagem. Outra estratégia mencionada foi a de
contratação de consultores externos para a aprendizagem coletiva.
Por fim, espera-se que os resultados deste trabalho possam contribuir para a
continuação da construção do conhecimento acerca da aprendizagem em organizações,
através de outras pesquisas, bem como, contribuir com empresas que tencionem intensificar
seu desenvolvimento e tornarem-se organizações de aprendizagem.
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Aprendizagem organizacional versus organizações de aprendizagem: características e desafios
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