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28 www.backstage.com.br INSTRUMENTOS Luciano Freitas é profissional de áudio, fez curso de piano erudito, Full Mastering no Füller Studios (Miami). É técnico em áudio na Pro Studio Americana e foi professor de teclado no Conservatório Musical Joelson Vieira. A ARTE egundo a Psicoacústica, ciência que estuda a relação das leis físi- cas com a captação e interpretação dos sons pelo ser humano, esse fato está aliado à localização das células ciliares dentro de nossa cóclea. Essas células são seletivas, ou seja, há dife- rentes células para captarem diferen- tes faixas de freqüências, e as respon- sáveis pela captação dos médios en- contram-se logo em sua extremidade seguidas das que captam os agudos e lá em seu interior as que captam os gra- ves. Graças a essa disposição, nossos ouvidos são muito mais sensíveis nas freqüências entre 1.000Hz a 5000Hz (médios) e mais deficientes na per- cepção das baixas freqüências. Segun- do as curvas de audibilidade e o fato de nossa interpretação auditiva obe- decer a uma escala logarítmica, ao ou- virmos um sinal em 1.000Hz precisa- mos em média de 30% mais energia acústica para conseguirmos a mesma sensação auditiva com um sinal de 50Hz. Devido a essa dificuldade natu- ral de interpretação das freqüências graves pelo ouvido humano aliada à dificuldade dos transdutores (alto- falantes) domésticos reproduzirem as mesmas, muitos fabricantes desen- volveram diferentes técnicas a fim de otimizar sua reprodução. Talvez a tecnologia mais utilizada no grupo dos processadores psicoacús- ticos seja a dos Exciters (ou Enhan- cers) que, desde a década de 70, distin- gue a sonoridade de diversas gravações profissionais de sucesso, atingindo um estatuto lendário ao longo dos anos, graças às suas possibilidades sônicas. Outrora, utilizado freqüentemente para compensar as insuficiências da tecnologia analógica, essa tecnologia é hoje, em plena era digital, uma arma secreta de técnicos e engenheiros de áudio quando se trata de elaborar pro- duções atuais que satisfaçam as exi- gências auditivas contemporâneas. S DE ENGANAR nossos Certamente muitos de nós já paramos um dia para nos perguntar o porquê de nossos ouvidos não nos oferecerem uma resposta plana dentro da faixa de freqüências percebidas pelo ouvido humano, entre 20Hz e 20.000Hz ouvidos ouvidos

A ARTE - backstage.com.br · INSTRUMENTOS e-mail para esta coluna: [email protected] expander gate, limiter e uma ferra-menta pouco comum nesses equipa-mentos, um Bass Expand. Esse

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INSTRUMENTOS

Luciano Freitas é profissional de áudio, fez

curso de piano erudito, Full Mastering no Füller

Studios (Miami). É técnico em áudio na Pro

Studio Americana e foi professor de teclado no

Conservatório Musical Joelson Vieira.

A ARTE

egundo a Psicoacústica, ciência

que estuda a relação das leis físi-

cas com a captação e interpretação

dos sons pelo ser humano, esse fato

está aliado à localização das células

ciliares dentro de nossa cóclea. Essas

células são seletivas, ou seja, há dife-

rentes células para captarem diferen-

tes faixas de freqüências, e as respon-

sáveis pela captação dos médios en-

contram-se logo em sua extremidade

seguidas das que captam os agudos e lá

em seu interior as que captam os gra-

ves. Graças a essa disposição, nossos

ouvidos são muito mais sensíveis nas

freqüências entre 1.000Hz a 5000Hz

(médios) e mais deficientes na per-

cepção das baixas freqüências. Segun-

do as curvas de audibilidade e o fato

de nossa interpretação auditiva obe-

decer a uma escala logarítmica, ao ou-

virmos um sinal em 1.000Hz precisa-

mos em média de 30% mais energia

acústica para conseguirmos a mesma

sensação auditiva com um sinal de

50Hz. Devido a essa dificuldade natu-

ral de interpretação das freqüências

graves pelo ouvido humano aliada à

dificuldade dos transdutores (alto-

falantes) domésticos reproduzirem as

mesmas, muitos fabricantes desen-

volveram diferentes técnicas a fim de

otimizar sua reprodução.

Talvez a tecnologia mais utilizada

no grupo dos processadores psicoacús-

ticos seja a dos Exciters (ou Enhan-

cers) que, desde a década de 70, distin-

gue a sonoridade de diversas gravações

profissionais de sucesso, atingindo um

estatuto lendário ao longo dos anos,

graças às suas possibilidades sônicas.

Outrora, utilizado freqüentemente

para compensar as insuficiências da

tecnologia analógica, essa tecnologia é

hoje, em plena era digital, uma arma

secreta de técnicos e engenheiros de

áudio quando se trata de elaborar pro-

duções atuais que satisfaçam as exi-

gências auditivas contemporâneas.

S

DE ENGANARnossosCertamente muitos denós já paramos umdia para nosperguntar o porquê denossos ouvidos nãonos oferecerem umaresposta plana dentroda faixa defreqüênciaspercebidas peloouvido humano, entre20Hz e 20.000Hz

ouvidosouvidos

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INSTRUMENTOS

Esses equipamentos realçam o som

mediante alterações de sinal que po-

dem ser sentidas subjetivamente co-

mo melhoramento sonoro. Para isso

são aplicados maioritariamente algo-

ritmos baseados na sensibilidade audi-

tiva humana e que influenciam a na-

tureza e a seqüência temporal dos si-

nais de áudio sem alterar a relação efe-

tiva de nível sonoro. Ou seja, diferen-

tes de um equalizador ou compressor,

esses processadores aumentam a sen-

sação auditiva sem alterarem a inten-

sidade dos níveis musicais.

Vejamos como vários fabricantes

tentam, por meio de suas tecnologias,

enganar nossos ouvidos :

APHEX 204Além de trazer o famoso Aural

Exciter (histórico exciter para agu-

dos), esse equipamento traz outra

tecnologia patenteada pela marca, o

Big Bottom, com ferramentas capazes

de proporcionar graves mais podero-

sos e fortes, incrementando densida-

de e sustain, livre de adicionar picos

de saída. Enquanto equalizadores e

geradores de subarmônicos aumen-

tam a quantidade de energia, poden-

do acarretar em saturação do sinal, o

Big Bottom, através de sua cadeia de

circuitos, aplica processadores de di-

nâmica, de fase e filtros de passagem

de altas freqüências variáveis criando

um sinal que será somado a outro não

modificado (original), produzindo o

sinal de saída processado.

Seus controles permitem ajustar o

contorno dos graves entre 50hz a

190Hz, a quantidade de harmônicos

inseridos e de sinal processado mistu-

rado ao original, otimizando dinami-

camente a fim de isolar e valorizar

complexas freqüências da extremida-

de baixa (principalmente entre 20hz

a 120Hz), proporcionando notas

mais ressonantes e profundas.

BEHRINGER SX3040Seu processador de graves não

chega a ser um exciter, pois funciona

como um compressor seletivo de fre-

qüências. A margem dessas freqüên-

cias é ajustável (entre 50Hz e 160Hz)

e, dependendo de sua dinâmica, é

comprimida e misturada ao sinal ori-

ginal com posição de fase retardada.

Por meio do processo de compressão,

os níveis dos picos têm seus tempos

de sustentação prolongados, portan-

to, são percebidos mais intensamen-

te. A deslocação de fase provoca um

enriquecimento dos graves, parecido

com o efeito Chorus.

Seu verdadeiro exciter é utilizado

para a região dos agudos, abrangendo

freqüências entre 1.3KHz e 10KHz.

PEAVEY KOSMOS V2Esse equipamento faz parte da ter-

ceira geração de subarmonizers dessa

empresa. Seus algoritmos geram um

sinal com uma oitava abaixo do grave

original, proporcionando, segundo o

fabricante, o impacto sentido quando

nos posicionamos bem em frente a

um PA. Possui uma saída dedicada

para subwoofers que oferece um filtro

de passagem baixa em 90Hz (quando

esse filtro está ativo é possível tam-

bém cortar as freqüências subar-

mônicas das saídas principais). Sua

tecnologia dinâmica de fase progres-

siva (a mesma presente em seus ante-

cessores Kosmos e Kosmos Pro), utili-

zada para manipular graves e também

agudos, ajuda a mascarar os efeitos ma-

léficos comuns em sonorizações como

cancelamentos de fase e comb filters.

Além do processamento das baixas

freqüências, o equipamento contribui

para o enriquecimento da imagem

estéreo do material sonoro.

FOCUSRITE COMPOUNDERPodemos classificar esse equipa-

mento como um processador de dinâ-

mica estéreo. Possui compressor,

Talvez a tecnologia mais utilizada no grupo dosprocessadores psicoacústicos seja a dos Exciters (ouEnhancers) que, desde a década de 70, distingue asonoridade de diversas gravações profissionais de

sucesso

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e-mail para esta coluna:

[email protected]

expander gate, limiter e uma ferra-

menta pouco comum nesses equipa-

mentos, um Bass Expand. Esse dispo-

sitivo é muito eficaz em alguns estilos

musicais que possuem muita energia

predominante na região das baixas

freqüências (como várias vertentes

da dance music). Essa energia, na

maioria dos casos, faz com que o com-

pressor trabalhe fortemente nessa re-

gião proporcionando aparente perda

de graves e sendo pouco eficaz nos

médios e agudos. Para solucionar esse

problema, o Bass Expand proporcio-

na que certa quantidade dessas baixas

freqüências passe pelo compressor

imune aos seus efeitos, po-

dendo enfatizar essa região

como desejado. Ao passar por

esse circuito, o equipamento

gera harmônicos de caracte-

rísticas similares às acrescen-

tadas com a saturação de gra-

vadores de fitas e equipa-

mentos vintage que utilizam

transformadores em seu flu-

xo de sinal. Ainda em seus controles,

o usuário poderá elevar a freqüência

do filtro dos graves, incrementando o

conteúdo dos harmônicos superiores

e obtendo grave com maior impacto.

WAVES MAXX BASSVerificando os órgãos de tubos, ge-

ralmente encontrados em igrejas, os

engenheiros da Waves perceberam

que ao serem reproduzidas suas notas

mais graves, parte de sua energia era

direcionada também aos tubos me-

nores. Essa foi a pedra fundamental

da tecnologia Maxx Bass que, além de

adicionar uma série harmônica à fre-

qüência fundamental, ainda reduz

sua intensidade, exigindo menos es-

forço dos amplificadores e proporcio-

nando graves muito mais robustos e

articulados, mesmo em transdutores

caseiros que quando conseguem re-

produzir freqüências a partir de 60Hz

são raras exceções. Um crossover indi-

ca qual a freqüência de corte do pro-

cessador, ou seja, a freqüência funda-

mental da qual terão origem os har-

mônicos, que serão na seqüência adi-

cionados ao sinal original por meio de

volumes individuais. A Waves coloca

a tecnologia Maxx Bass disponível em

seus hardwares (107, 102, 103, e Maxx

BCL) e também em seus softwares

(Maxx Bass, Renaissance Bass e Maxx

Player), todos com a mesma qualidade,

para escolha mais coerente conforme

sua necessidade e aplicação.