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A ARTICULAÇÃO FEDERATIVA NO ÂMBITO DAS POLÍTICAS PARA AS MULHERES: PERCURSO, OBSTÁCULOS E AVANÇOS RECENTES M ARIA ELISA ALMEIDA BRANDT

A ARTICULAÇÃO FEDERATIVA NO ÂMBITO DAS POLÍTICAS PARA AS MULHERES ... · Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM/PR). Além da revisão bibliográfica de literatura sobre

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A ARTICULAÇÃO FEDERATIVA NO ÂMBITO DAS POLÍTICAS PARA AS MULHERES: PERCURSO,

OBSTÁCULOS E AVANÇOS RECENTES

MARIA ELISA ALMEIDA BRANDT

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Painel 30/092 Políticas públicas e agendas transversais: novos desafios para a

governança democrática

A ARTICULAÇÃO FEDERATIVA NO ÂMBITO

DAS POLÍTICAS PARA AS MULHERES: PERCURSO, OBSTÁCULOS E AVANÇOS RECENTES

Maria Elisa Almeida Brandt

RESUMO

Este artigo pretende contribuir para o debate acerca das estratégias e instrumentos

de gestão conducentes à cooperação e coordenação entre entes federativos, no campo das políticas públicas. Tratando das políticas públicas com recorte de gênero,

o texto se organiza da seguinte maneira. A primeira parte faz o relato de uma trajetória: a tentativa da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM/PR) de criar uma rede de relacionamentos entre “organismos de gênero” das três esferas

– federal, estadual e municipal – e uma lógica de concertação federativa em torno da agenda. A segunda sessão focaliza o olhar sobre os instrumentos: planos, pactos

entre outros, utilizados para promover a cooperação federativa. A terceira parte discute as visões de gestoras federais e municipais – de alguns municípios do Estado de São Paulo – acerca da divisão de responsabilidades entre entes

federativos. Os comentários finais buscam refletir sobre um Sistema Nacional de Políticas para as Mulheres.

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INTRODUÇÃO

A questão da coordenação federativa é estratégica para o desenvolvimento do Estado brasileiro e tem se tornado mais importante nas últimas décadas, por conta da combinação de democratização, descentralização e ampliação

das políticas sociais. (Abrucio, Franzese e Sano, 2013, p. 133).

A citação em epígrafe foi a motivação original do presente estudo.

Compartilhando do ponto de vista desses autores, e na condição de gestora pública

interessada na consolidação de políticas públicas para as mulheres, pretendo refletir

sobre o cenário atual dos relacionamentos entre entes da federação – municípios,

estados e União – no âmbito das Políticas Públicas para as Mulheres.1 Ao fazê-lo,

espera-se contribuir com dois campos de debate. O primeiro é aquele que

problematiza as relações federativas e o desenvolvimento de estratégias e

instrumentos que aprimorem a coordenação entre a ação estatal promovida pelas

três esferas – municipal, estadual e federal. O segundo é a análise da trajetória das

políticas para as mulheres no Brasil na última década, que tem como ator central a

Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM/PR).

Além da revisão bibliográfica de literatura sobre gestão de políticas

públicas, relações federativas e política para as mulheres, e da análise dos

documentos produzidos pela SPM/PR, apóiam as considerações feitas aqui o

depoimento em entrevista semi-estruturada de quatro gestoras de políticas para

mulheres em órgãos de primeiro escalão – duas delas atuando no órgão federal – a

SPM – e duas delas nos executivos de dois municípios paulistas, bem como as

opiniões registradas por meio de questionário semi-aberto por outras quatro

gestoras de órgãos de diversos escalões responsáveis pelas políticas para as

mulheres em municípios paulistas.2

1 Neste artigo, utiliza-se a expressão já consagrada “políticas para as mulheres” como sinônimo de políticas de gênero, no sentido que engloba todas as políticas que, tendo ou não as mulheres como público-alvo, tenham relação com o enfrentamento da discriminação de gênero e com a garantia de

direitos às mulheres. 2 As entrevistadas da SPM atuaram ou atuam em cargos de comando na SAIAT – Secretaria de Articulação Institucional e Ações Temáticas –, responsável pela articulação com estados e

municípios (excetuando-se aquela envolvida no Pacto Nacional pelo Enfretamento da Violência Contra a Mulher). As gestoras municipais que participaram do estudo têm posição de chefia ou sub-chefia das áreas. No corpo do artigo, as gestoras federais serão identificadas como “A” e “B”, as

municipais “C” e “D”, e os questionários numerados de 1 a 4.

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1 AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS MULHERES E OS ORGANISMOS DE

POLÍTICAS PARA AS MULHERES3

A incorporação da agenda de gênero às políticas públicas, enquanto

percurso, remonta ao final da década de 1970, tendo importantes marcos

institucionais nas décadas seguintes, como o Programa de Assistência Integral à

Saúde da Mulher, em 1983, o olhar público para a questão da violência repercutindo

nas Delegacias de Defesa da Mulher (a primeira DDM no Estado de São Paulo data

de 1985), bem como em iniciativas de executivos municipais na área de proteção à

mulher vítima de violência, que aos poucos foram ganhando corpo. 4 Todavia, se

ainda hoje não podemos falar de uma política para as mulheres, no singular e com P

maiúsculo, a Secretaria de Políticas Para as Mulheres da Presidência da República

(SPM/PR), criada em 20035, inaugura um novo marco conceitual e institucional deste

campo de políticas públicas. Consagrada em vários de seus documentos, mas

especificamente nas três edições do Plano Nacional de Políticas Para as Mulheres

que sucederam as conferências nacionais de 2004, 2007 e 2011, a abordagem e

estratégias adotadas pela SPM/PR passaram a servir de baliza para a ação dos

demais entes da federação. Descrita sinteticamente, essa abordagem se caracteriza

pelo tratamento integral à condição feminina e às questões de gênero, pelo foco na

“gestão da transversalidade” pelas vias da inter-setorialidade e da articulação

federativa, pela atenção a métodos de planejamento e gestão e às práticas de

participação, controle social e transparência.

A centralidade da SPM para a execução de políticas para as mulheres

nos estados e municípios, no contexto atual, é inquestionáve l sob vários aspectos,

desde o orçamentário – que considera o impacto das transferências voluntárias da

União para Estados e Municípios para a concretização de ações de estados e

municípios –, passando por seu papel de formuladora de diretrizes conceituais da

3 Adotamos o termo “Organismo de Política para as Mulheres”, criado pela SPM e já consagrado

entre gestoras brasileiras. 4 Ver, para o relato desse processo, Saffiotti e Muñozvargas, 1994; Montaño, Pitanguy e Lobo, 2003; Farah, 2004.

5 Em 2002,no governo de Fernando Henrique Cardoso, foi criada a Secretaria Nacional dos Direitos da Mulher, vinculada ao Ministério da Justiça. Em 2003, já no governo Lula, foi transformada em Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, passando a se vincular à Presidência da

República.

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política que balizam a atuação dos demais órgãos setoriais federais e dos

executivos estaduais e municipais e, relacionado a ambos, seu papel de indutora

das ações dos agentes já citados. Em certa medida, esse estado de coisas já foi

descrito em vários estudos acerca das imbricações entre as características do

sistema político e do arranjo federativo brasileiro e a gestão e execução de políticas

públicas, que discutiremos mais adiante. Por outro lado, tentaremos mostrar que o

modo de operar da SPM tem se caracterizado pelo grande esforço destinado a

fortalecer capacidades de estados e municípios, visando a que estados e municípios

introjetem a perspectiva de gênero na concepção de suas políticas públicas. Embora

esse movimento também soe corriqueiro – afinal, este é o esforço promovido por

várias políticas setoriais sob o comando de órgãos federais – entendemos que os

mecanismos e estratégias utilizados pela SPM se caracterizam por grande

ineditismo e uma dose mais do que ordinária de atenção aos princípios de

planejamento e gestão e de transparência, participação e controle social.

Retomaremos essas considerações a seguir, bastando por ora registrar que tais

características no modo de atuar deste órgão do executivo federal configuram

determinada postura diante das políticas públicas e das relações entre governos de

diferentes esferas, que em nossa avaliação deve ser vista como exemplar, indutora

de caminhos possíveis para a construção da cooperação federativa para a execução

de políticas públicas.

1.1 Os Organismos de Políticas para as Mulheres

Desde a 1a Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres (2003),

um dos consensos entre mulheres participantes desta agenda – sejam ativistas em

movimentos de mulheres, sejam gestoras públicas – é a necessidade de criar e

fortalecer “organismos institucionais de defesa dos direitos das mulheres e de

promoção da igualdade de gênero”. Consagrada na 1ª Conferência e reiterada nas

seguintes, essa prioridade estratégica foi consolidada como uma das diretrizes da

Política Nacional para as Mulheres, segundo prescritas no Plano Nacional de

Política para as Mulheres (PNPM):

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[...] o Estado e as esferas de governo federal, estadual e municipal deverão

seguir as seguintes diretrizes: [...] Criar, fortalecer e ampliar os organismos específicos de direitos e de políticas para as mulheres no primeiro escalão de governo, nas esferas federal, estadual e municipal. (Brasil, 2004, p. 34)

Muito embora o PNPM seja essencialmente composto de ações sob

responsabilidade dos órgãos federais, e nesse sentido a governabilidade da SPM

seja maior junto a eles6, sempre houve a preocupação de afirmar o Plano como

ferramenta nacional de planejamento articulado de ações entre as diferentes esferas

de governo. Nesse sentido, na primeira edição do Plano o capítulo 5, referente a sua

gestão e monitoramento, tinha dois objetivos e três prioridades, entre elas a “criação

e o fortalecimento os mecanismos institucionais de direitos e de políticas para as

mulheres”, que se desdobrava em 3 ações:

1. Apoiar a criação e o fortalecimento de conselhos estaduais e municipais dos direitos da mulher, garantindo sua existência nas 27 Unidades da Federação;

2. Apoiar a criação e o fortalecimento de organismos de políticas para as mulheres no âmbito do Poder executivo estadual e municipal.

3. Realizar, a cada três anos, a Conferência Nacional de Políticas para as

Mulheres, precedida das etapas municipal e estadual. (BRASIL, 2013, p. 82, grifo nosso)

.

Acompanhando a complexificação e expansão dos eixos do PNPM em

suas edições seguintes, o Campo de Gestão e Monitoramento no PNPM III,

publicado em 2013 na seqüência da 3ª Conferência Nacional ocorrida no mesmo,

tem a seguinte estrutura:

Objetivo geral

Implementar, acompanhar e monitorar o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres – PNPM, com integração das ações e articulação entre os

diferentes órgãos dos governos federal, distrital, estaduais e municipais.

Objetivos específicos

I. Acompanhar e monitorar a implementação do PNPM.

II. Apoiar e incentivar a implementação do PNPM nos estados, Distri to Federal e municípios.

III. Ampliar e disseminar o conhecimento sobre a situação das mulheres na

sociedade brasileira e das políticas públicas de gênero, considerando as múltiplas formas de desigualdades.

IV. Ampliar a participação e o controle social da implementação do Plano

Nacional de Políticas para as Mulheres – PNPM.

6 Em texto anterior (Brandt e Bezerra, 2011) tratamos dos limites dessa governabilidade em se

tratando de órgãos-pares em uma estrutura burocrática.

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V. Fortalecer a articulação, o monitoramento e a avaliação do Plano

Nacional de Políticas para as Mulheres – PNPM.

VI. Criar e fortalecer de mecanismos de gênero nos ministérios do governo federal (núcleos, coordenações, diretorias, conforme a estrutura de cada

ministério).

Metas [exclusivamente as vinculadas à articulação federativa]

A. Contribuir para a criação e o fortalecimento de organismos de

promoção de políticas para as mulheres em todas as Unidades da Federação.

B. Incentivar a formulação de Planos de políticas para as mulheres nos

estados, Distrito Federal e municípios.

[...]

Linhas de Ação

1. Ampliação e fortalecimento da insti tucionalização das políticas de gênero nos poderes executivos federal, distrital, estaduais e municipais.

2. Capacitação e qualificação de agentes públicos para os temas de gênero e suas múltiplas formas de desigualdades.

3. Produção, organização e disseminação de dados, estudos e pesquisas

que tratem das temáticas de gênero e suas múltiplas formas de desigualdades.

4. Monitoramento e avaliação do Plano Nacional de Políticas para as

Mulheres. (BRASIL, 2013, p. 96, grifos nossos).

Quadro 1 – Ações relacionadas a estados e municípios na linha de ação 1. Ampliação e

fortalecimento da institucionalização das políticas de gênero nos poderes executivos federal, distrital, estaduais e municipais.

Ação Parceiros

PPA –

Objetivo/Meta ou Iniciativa

1.5. Articular e contribuir para a criação e o fortalecimento de organismos de promoção de políticas para as mulheres nos

governos distrital, estaduais e municipais.

CNDM 0935/03YB

1.6. Realizar encontros nacionais e regionais do Fórum de Organismos de Políticas para as Mulheres.

- 0935/11ª meta

1.8. Articular e apoiar estados, Distrito Federal e municípios na construção de seus planos locais de políticas para as mulheres,

conforme diretrizes do PNPM.

- 0935/ -

1.9. Contribuir para a criação de comitês intersetoriais de monitoramento e avaliação de políticas para as mulheres nos estados, municípios e Distrito Federal.

- 0935/ -

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Todas as ações do eixo Gestão e Monitoramento do Plano estão sob

responsabilidade da SPM. A tabela acima lista todas as ações relacionadas ao apoio

prestado a estados e municípios para o fortalecimento da institucionalização das

políticas de gênero. Como podemos observar, elas têm três componentes principais:

a) fortalecimento institucional das áreas administrativas nos executivos (os

organismos de gênero); b) a normatização – apoio à criação de planos estaduais

que espelhem o PNPM; e c) articulação/mobilização.

No PPA 2012-2015 estão expressos vários objetivos referentes à política

para as mulheres, entre eles o Objetivo 0935 – Promover a gestão transversal da

Política Nacional para as Mulheres, por meio da articulação intra-governamental,

intergovernamental e do fomento à participação social, garantindo o monitoramento

e avaliação das políticas públicas, a produção de estudos e pesquisas e o

fortalecimento dos instrumentos e canais de diálogo nacionais e internacionais.

Em seu âmbito, consta a Iniciativa 03YB – Fortalecimento da gestão da

transversalidade das políticas para as mulheres, por meio da relação inter e

intragovernamental em diálogo com a sociedade e movimentos sociais, a fim de

promover a defesa e o atendimento dos direitos das mulheres nas três esferas da

federação e a igualdade entre mulheres e homens. As metas explicitadas são

bastante ousadas:

Ampliar em 50% a Cobertura Municipal dos Conselhos de Promoção e

Defesa dos Direitos das Mulheres

Ampliar para 1.000 o número de municípios com Organismo Executivo de Políticas para as Mulheres;

Ampliar para 1.000 o número de munic ípios com Plano Municipal de Políticas para as Mulheres;

Ampliar para 27 o número de estados com Organismo Executivo de

Políticas para as Mulheres;

Ampliar para 27 o número de estados com Plano Estadual de Políticas para as Mulheres. (BRASIL, 2011b, p. 284)

As metas acima são bastante ambiciosas, se contrastadas com a

realidade observada por estudo do IBGE em 2013.7 No Brasil, apenas 17,5% dos

7 A Pesquisa de Informações Básicas Municipais – Munic / IBGE, com foco em gestão municipal, é aplicada a todos municípios do país desde 1999. Na 11

a edição, tendo 2013 como ano de

referência, o questionário contou com perguntas sobre a gestão da política de gênero. Segundo gestora da SPM/PR entrevistada, houve falha na metodologia das perguntas referentes especificamente aos Organismos de Políticas para Mulheres, que gerou a superestimação destes

pela pesquisa (por terem sido considerados como unidades administrativas r esponsáveis pela

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municípios possuíam Conselho Municipal de Direitos da Mulher; em São Paulo esse

percentual era de 18,5% (ver tabela 1, abaixo).

Quanto aos Planos Municipais, o dado era ainda mais desencorajador:

apenas 4,5% dos municípios brasileiros o tinham elaborado em 2013, sendo que em

São Paulo eram apenas 0,6% deles (ver tabela 2, abaixo).

Tabela 1 – Número de Municípios que possuem Conselho Municipal de Direitos da Mulher,

segundo Unidade da Federação – 2013

UF Nº de

Municípios Não

Não respondeu

Sim

ACRE 22 18

4

ALAGOAS 102 92

10

AMAPÁ 16 11

5

AMAZONAS 62 51

11

BAHIA 417 348

69

CEARÁ 184 99

85

DISTRITO FEDERAL 1

1

ESPIRITO SANTO 78 63

15

GOIÁS 246 218

28

MARANHÃO 217 168 1 48

MATO GROSSO 141 105

36

MATO GROSSO DO SUL 79 61

18

MINAS GERAIS 853 730

123

PARÁ 144 112

32

PARAÍBA 223 205

18

PARANÁ 399 347

52

PERNAMBUCO 185 149

36

PIAUÍ 224 208

16

temática de gênero inclusive o que eram serviços de atendimento vinculados a outras secretarias).De toda forma, para uma caracterização geral das políticas municipais e do cenário institucional, consideramos suas informações de extrema valia.

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10

RIO DE JANEIRO 92 52 1 39

RIO GRANDE DO NORTE

167 151

16

RIO GRANDE DO SUL 497 392

105

RONDÔNIA 52 44

8

RORAIMA 15 14

1

SANTA CATARINA 295 261

34

SÃO PAULO 645 526

119

SERGIPE 75 61

14

TOCANTINS 139 106

33

TOTAL 5570 4592 2 976

Fonte: IBGE – Pesquisa MUNIC – 2013. Tabulação própria.

Quanto aos resultados concretos de toda a energia despendida pela SPM

neste eixo de atuação junto a estados e municípios, muito embora não tenhamos

empreendido análise sistemática dos Convênios firmados tendo como objeto o

fortalecimento institucional dos Organismos de Políticas para as Mulheres e do valor

de recursos a eles destinados, importantes informações puderam ser obtidas a partir

das entrevistas e dos questionários.

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Tabela 2 – Número de Municípios que possuem Plano Municipal de Políticas para as Mulheres, segundo Unidade da Federação – 2013

UF Nº de

Municípios Não

Não respondeu

Sim

ACRE 22 22

0

ALAGOAS 102 93

9

AMAPÁ 16 13

3

AMAZONAS 62 56

6

BAHIA 417 405

12

CEARÁ 184 173

11

DISTRITO FEDERAL 1 1

0

ESPIRITO SANTO 78 76

2

GOIÁS 246 234

12

MARANHÃO 217 192 1 24

MATO GROSSO 141 136

5

MATO GROSSO DO SUL

79 75

4

MINAS GERAIS 853 840

13

PARÁ 144 137

7

PARAÍBA 223 212

11

PARANÁ 399 391

8

PERNAMBUCO 185 142

43

PIAUÍ 224 221

3

RIO DE JANEIRO 92 76 1 15

RIO GRANDE DO NORTE

167 162

5

RIO GRANDE DO SUL 497 476

21

RONDÔNIA 52 49

3

RORAIMA 15 13

2

SANTA CATARINA 295 290

5

SÃO PAULO 645 626

19

SERGIPE 75 71

4

TOCANTINS 139 136

3

TOTAL 5570 5318 2 250

Fonte: IBGE – Pesquisa MUNIC – 2013. Tabulação própria.

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A entrevistada A observa que nunca foi feito um acompanhamento dos

resultados mais permanentes do apoio oferecido para a montagem e/ou

fortalecimento do Organismo Municipal.

Entrevistadora – “chegaram a fazer estudo posterior ao apoio para

verificar os resultados, que efeitos permanentes houve?”

Entrevistada A – “não. Isso significaria fazer um estudo sobre a atuação

desses OPMs, porque grande parte deles recebeu recursos (exceto

estados e municípios solicitantes que estavam à época inadimplentes

com a União). Porque a efetividade da aplicação do recurso depende

muito mais da situação local, do apoio que o estado ou município oferece

às gestoras, a condição de execução que elas têm, e depende também

da escolha política feita por essa equipe, então a incidência não é o

recurso, ela é... na realidade ela contribui porque esses organismos em

secretarias só existem porque as mulheres fazem alguma pressão junto

ao gestor (prefeito ou governador), então a intenção é mostrar pra esses

atores, pra essa demanda, que a iniciativa pode dar certo. Mas se não

houver apoio interno não funciona .”

Fica evidente, no depoimento acima, o sentido adquirido pelo apoio

financeiro para a montagem da área, de estratégia de empoderamento das gestoras

municipais junto aos mandatários e aos gestores de áreas-pares. A entrevistada D,

de município de médio porte do Estado de São Paulo, relata que, em mais de duas

décadas de atuação de feministas para constituir a área dentro do executivo

municipal, em um período de “refluxo” gerado pela troca do partido no poder a área

só conseguiu se manter devido ao financiamento recebido da SPM via convênio. 8

Em cenários de carência orçamentária e de disputa de prioridades, as chamadas

“políticas setoriais” são as primeiras a sofrerem redução de recursos.

Embora conste no PNPM, a ação 1.9. “Contribuir para a criação de

comitês inter-setoriais de monitoramento e avaliação de políticas para as mulheres

nos estados, municípios e Distrito Federal” (ver tabela à página 7 acima), a

entrevistada A observa a ausência de resultados até o momento: não tem

conhecimento da existência de mecanismos dessa natureza, algo que é coerente

com o fato de serem pouquíssimos os municípios que constituíram o Plano.

8 Discutiremos em maior detalhe esses instrumentos na seção dois do artigo.

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O Plano Municipal é considerado muito importante por todas as

entrevistadas, sendo revestido de dois significados fundamentais. De um lado, ele

formaliza o planejamento e a própria destinação orçamentária para a agenda,

responsabilizando mais efetivamente as áreas setoriais e o próprio executivo

municipal. Mas também tem um papel fundamental enquanto ferramenta de

articulação e de convencimento das áreas pares acerca da necessidade de

incorporação da temática de gênero (de maneira semelhante a que o ocorre no

âmbito federal com o Comitê de Acompanhamento e Monitoramento do PNPM). 9 A

constituição do Plano costuma ocorrer por ocasião da criação do Organismo de

Política para as Mulheres no município em processos de planejamento estratégico

organizacional ou algo similar, quando este processo ocorre à revelia da realização

de conferência, ou posteriormente à Conferência Municipal, com a constituição de

grupo de trabalho intersetorial e contando com participação social, nos moldes

propostos pela SPM. A entrevistada C, de município paulista de grande porte, fala

sobre a expectativa de construção, no ano que vem, do primeiro Plano Municipal, a

partir dos resultados da conferência que ocorrerá este ano:

Entrevistada C: “...estamos trabalhando o terreno para consolidar, por

meio da conferência, e envolver todas as secretarias na apresentação do

trabalho delas junto à sociedade [...], e a partir das deliberações da

conferência será feita a pactuação do plano municipal. Com base nela a

gente volta pras secretarias e diz: agora temos que colocar corpo nisso,

orçamento...”

Para concluir esta seção sobre a trajetória dos Organismos de Políticas

para as Mulheres no âmbito municipal, gostaríamos de discutir dois pontos.

O primeiro é o sentido evidentemente positivo deste movimento.

As primeiras notícias de encontros nacionais congregando tais organismos datam de

2004. No primeiro encontro dessa natureza, se reuniram 13 dessas instâncias. 10

O texto do primeiro Plano Nacional de Políticas para as mulheres menciona as

contribuições recebidas no 2º e 3º Encontro Nacional de Instâncias Governamentais

9 Ver Brandt e Bezerra, 2011, para uma análise do referido Comitê no âmbito federal.

10 Fonte: <http://aparecida.sp.gov.br/secretaria-da-mulher-participa-do-forum-nacional-de-organismos-

governamentais-de-politicas-para-as-mulheres-em-brasilia-df/>

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de Política para as Mulheres, estaduais e municipais (BRASIL, 2004, p. 104).

Segundo levantamentos da SPM/PR, o número de organismos de políticas para as

mulheres tem aumentado na última década. Em 2007, eram 155 organismos, e em

2009, 238, entre estaduais e municipais11. Em 2014, eram 591, contando o DF,

conforme a Tabela 3 abaixo.

Tabela 3 – Número de Municípios com Organismos de Políticas para as Mulheres, por

Unidade da Federação – 2014.

UF Nº de

Municípios

Nº de

Municípios com OPM

%

ACRE 22 21 95,5

ALAGOAS 102 14 13,7

AMAPÁ 16 7 43,8

AMAZONAS 62 14 22,6

BAHIA 417 28 6,7

CEARÁ 184 7 3,8

DISTRITO FEDERAL 1 1 100,0

ESPIRITO SANTO 78 3 3,8

GOIÁS 246 19 7,7

MARANHÃO 217 55 25,3

MATO GROSSO 141 14 9,9

MATO GROSSO DO SUL 79 24 30,4

MINAS GERAIS 853 1 0,1

PARÁ 144 12 8,3

PARAÍBA 223 17 7,6

PARANÁ 399 130 32,6

PERNAMBUCO 185 1 0,5

11

Fonte: <http://www.observatoriodegenero.gov.br/eixo/politicas-publicas/conselhos-e-organismos>. O Observatório Brasil da Igualdade de Gênero, criado em 2009, segundo o próprio site “é iniciativa da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República – SPM/PR, em parceria com outras instituições públicas, organizações da sociedade civil e organismos internacionais, e mantém diálogo com outros Observatórios do Brasil e da América Latina.” Surgiu a partir do diálogo com a Comissão Econômica para América Latina e o Caribe – CEPAL.

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15

PIAUÍ 224 11 4,9

RIO DE JANEIRO 92 28 30,4

RIO GRANDE DO

NORTE 167 3 1,8

RIO GRANDE DO SUL 497 2 0,4

RONDÔNIA 52 1 1,9

RORAIMA 15 100 666,7

SANTA CATARINA 295 5 1,7

SÃO PAULO 645 28 4,3

SERGIPE 75 30 40,0

TOCANTINS 139 5 3,6

TOTAL 5570 581 10,5

Fonte: IBGE – Censo 2010 e SAIAT/SPM – fev/2014

Neste cálculo não foram considerados os 24 OPMs estaduais

O segundo e último comentário diz respeito à maneira de operar da SPM,

diante do objetivo de consolidar nacionalmente a agenda de políticas para as

mulheres e de descentralizar as políticas. Como veremos em relação a outras

iniciativas, grande parte da energia desta organização é destinada à articulação

institucional, ao diálogo, ao fortalecimento de instâncias de debate, formação e

geração de consensos. Nesse contexto, os encontros nacionais e regionais de

OPMs, que foram se ampliando ao longo do tempo, são fundamentais em dois

sentidos essenciais: são momentos de aprendizagem e troca de experiências, e de

geração de certo “espírito de corpo” no melhor sentido do termo, entre gestoras

públicas que geralmente têm perfil duplo: atuam na administração pública naquele

momento, mas têm trajetórias de ativistas nos movimentos de mulheres e em

partidos políticos. Nas palavras da entrevistada A:

Antes tínhamos a experiência de fazer todo ano encontros nacionais.

Com o crescimento do número de OPMs – em 2011 eram 280, em 2012

eram quase 400 – os encontros nacionais ficaram pouco produtivos [para

o debate efetivo], por outro lado são importantes. Então decidiu-se fazer o

encontro nacional a cada 2 anos, e nos anos alternados os regionais. No

ano passado foram realizados 5 encontros regionais, com um número de

300 OPM em média em cada um deles.

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16

No que tange à capacitação de gestoras estaduais e municipais, os

encontros são momentos de formação teórica e conceitual, em que a SPM

apresenta sua maneira de abordar as políticas para as mulheres, com foco na

integralidade das questões de gênero, na transversalidade e inter-setorialidade

necessárias para a gestão de políticas para as mulheres. Em nossa avaliação, dois

elementos da atuação da SPM são cruciais para seus resultados até o momento,

neste papel de formadora de um consenso nacional: a constante produção de

documentos de várias naturezas, desde documentos de proposição das políticas –

como a Política Nacional de Enfrentamento da Violência contra a Mulher, o Pacto

Nacional com o mesmo propósito, os Planos Nacionais, bem como Diretrizes para o

planejamento e execução das políticas ou serviços mais específicos (estes

principalmente afetos ao Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência Contra a

Mulher). O segundo elemento é a atenção à transparência, à publicidade e à

divulgação ativa destes documentos. 12

Entrevistadora – O sentido dos encontros qual é?

Entrevistada A – É de formação e troca de experiências. A gente sempre

escolhe temas para debater, tentando afinar o que é, por exemplo, a

política de enfrentamento da violência, de saúde para as mulheres... –

sempre tem um espaço bem grande para a discussão do sentido,

significado da ação da SPM. Além disso, é momento de troca. A forma

como elas se organizam, o que conseguem fazer, é muito importante

divulgar, como cada uma está resolvendo cada caso. No caso do

enfrentamento da violência existe um foro próprio que reúne as gestoras

do pacto com a SPM, mas os outros temas são tratados nesse âmbito.13

1.2 Algumas características das políticas municipais para as mulheres

Nesta seção serão tratados alguns aspectos que chamam a atenção na

maneira como as políticas para as mulheres são desenvolvidas nos municípios, que

se associam tanto ao desenho da política federal e à pactuação federativa que ela

12

Um teste desta afirmação é o exercício de busca por palavras por meio de ferramentas de busca na intenet. Invariavelmente a página da SPM aparece entre as primeiras menções.

13 Grifo nosso.

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17

propõe (principalmente a partir do Pacto Nacional pelo Enfrentamento da Violência

contra a Mulher), como ao contexto de consolidação da agenda de gênero nos

municípios, do ponto de vista institucional (seja governamental ou de instrumentos

de participação social).

O primeiro aspecto a considerar é a escassez de Organismos de Políticas

para as Mulheres no primeiro escalão dos executivos municipais. Lembramos que

em todos os documentos a recomendação da SPM é expressa: fundamental que

seja assim, de outra forma a gestora responsável não terá a governabilidade

necessária para a execução da política. Nas palavras da entrevistada B:

Entrevistadora: Quando a gente fala sobre o que surte efeito ou não,

parece que você associa diretamente a efetividade, a segurança da

responsabilização, à existência dessas unidades nos executivos seja

federal, estadual...

Entrevistada B: Sim, você tem que ter poder, poder de sentar na mesma

mesa com todos os secretários para poder discutir em pé de igualdade ...

se eu estou tratando de algo que é transversal a todos os setores eu não

posso ter a pessoa responsável por essa transversalidade jubjulgada a

outra secretaria, ao menos que essa pessoa seja ligada diretamente ao

gabinete do prefeito, ou à pessoa que manda. Você não pode ter ela

numa secretaria de direitos humanos, ou de assistência...

A tabela abaixo permite observar que, no Estado de São Paulo, apenas

15 municípios tinham, em 2013, Secretaria responsável exclusivamente pela pauta

de gênero e políticas para as mulheres, e outros 6 reuniam a pauta de gênero, muito

provavelmente com outras agendas identitárias ou políticas chamadas transversais

em uma única secretaria.14

14

Lembramos que os dados das duas colunas à direita podem estar superestimados (ver nota à

página 9).

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18

Tabela 4 – Caracterização do órgão responsável pelas Políticas para as Mulheres no

Executivo Municipal no Estado de São Paulo – 2013

Porte do

Município

(habitantes)

Total de

Municípios

Possui OPM Tipo do órgão

Total % Órgão da

administração

indireta

Secretaria

municipal

em

conjunto

com

outras

políticas

Secretaria

municipal

exclusiva

Setor

subordinado

a outra

secretaria

Setor

subordinado

diretamente

à chefia do

Executivo

1 – Até

5.000

150 12 8,0 9 3

2 – 5.001

até 10.000

123 10 8,1 1 6 3

3 – 10.001

até 20.000

122 10 8,2 10

4 – 20.001

até 50.000

118 24 20,3 4 3 16 1

5 – 50.001

até

100.000

56 24 42,9 21 3

6 – 100.001

até

500.000

67 41 61,2 1 8 30 2

7 – Maior

que

500.000

9 9 100,0 2 3 3 1

Total Geral 645 130 20,2 1 6 15 95 13

Fonte: IBGE – Pesquisa MUNIC – 2013. Tabulação própria.

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19

Uma segunda característica da execução das políticas pelos municípios é

a ênfase dada às áreas setoriais da Assistência Social e dos Serviços

Especializados de Atendimento à Violência. A indução promovida pelo Pacto

Nacional pelo Enfrentamento da Violência contra a Mulher 15 , que discutiremos

adiante, pode ser sentida nos dados da pesquisa do IBGE sobre a Gestão da

Política de Gênero.

Tabela 5 – Políticas para a promoção da igualdade de gêneros ou autonomia das mulheres.

Áreas setoriais em que as prefeituras paulistas atuam diretamente

Área N

o de Municípios

atuantes

Assistência Social 66

Saúde 50

Serviços Especializados de Atendimento à Violência

48

Educação 43

Trabalho 40

Cultura 27

Justiça 21

Esporte 16

Comunicação 15

Segurança pública 12

Meio ambiente 8

Outra (não especificada) 7

Fonte: IBGE – Pesquisa MUNIC – 2013. Tabulação própria.

15

Por economia, usaremos ao longo do texto, alternativamente, Pacto Nacional ou Pacto.

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20

Tabela 6 – Políticas para a promoção da igualdade de gêneros ou autonomia das mulheres.

Combinações mais frequentes de políticas setoriais executadas diretamente pelos

municípios.

Áreas Setoriais Número de

municípios

Assistência Social, apenas 6

Atendimento à violência, apenas 6

Assistência Social e Atendimento à violência, apenas 7

Educação, Trabalho, Assistência Social e Saúde,

apenas

4

Assistência Social, Saúde e outras áreas 30

Assistência Social, Atendimento à violência e outras

áreas

16

É visível, tanto nos documentos das políticas como no depoimento das

gestoras entrevistadas, a preocupação em ampliar o conceito de violência de gênero

objeto do Pacto Nacional de modo a permitir intervenções mais amplas, e não

reduzir a ação estatal à atenção no campo da assistência social, segurança e a

justiça, contexto em que a mulher é vítima. Trata-se de se realçar a necessidade de

agir sobre a causa – o sexismo e a discriminação de gênero – e não apenas sobre

seus efeitos já consumados. Voltaremos a discutir algumas implicações deste

estado de coisas nas seções seguintes.

2 OS INSTRUMENTOS UTILIZADOS PARA PROMOVER A COOPERAÇÃO FEDERATIVA.

2.1 O Pacto Nacional pelo Enfrentamento da Violência contra a Mulher

O Pacto Nacional pelo Enfrentamento da Violência contra a Mulher é a

grande estratégia da SPM para promover a cooperação federativa. Surgido na

gestão Lula, em 2007, no âmbito da Agenda Social, ele ganha impulso por uma

decisão da presidenta Dilma Roussef. Nas palavras da entrevistada A, houve em

determinado momento uma “compreensão do governo federal de que a SPM deveria

ter protagonismo maior na política de enfrentamento à violência”. A Lei Maria da

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21

Penha (Lei no 11.340/2006) já tinha sido aprovada, em um contexto de pouco

consenso social em torno dela, principalmente por parte dos operadores dos

sistemas de segurança e justiça, e precisava de estratégias que reforçassem sua

implementação.

O Pacto e as ações nele propostas apóiam-se em três premissas: a) a

transversalidade de gênero; b) a intersetorialidade; c) a capilaridade. Citando o

documento de referência:

A transversalidade de gênero visa garantir que a questão de violência

contra a mulher e de gênero perpasse as mais diversas políticas públicas setoriais. A intersetorialidade, por sua vez, compreende ações em duas dimensões: uma envolvendo parcerias entre organismos setoriais e atores

em cada esfera de governo (ministérios, secretarias, coordenadorias, etc.); e outra que implica uma maior articulação entre políticas nacionais e locais em diferentes áreas (saúde, justiça, educação, trabalho, segurança pública,

etc.). Desta articulação decorre a terceira premissa que diz respeito à capilaridade destas ações, programas e políticas; levando a proposta de execução de uma política nacional de enfrentamento à violência contra as

mulheres até os níveis locais de governo. (BRASIL, 2010, p. 19-20).

Em 2009, estudo do IPEA faz uma primeira avaliação dos resultados do

Pacto. Nele, são descritas as tensões entre diferentes concepções do que seria uma

“Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, e como ela se

relacionaria com o “Pacto Nacional” (segundo o estudo, a não publicação, pela SPM,

do texto de referencia inicial do Pacto sinalizaria essa falta de consenso).

Houve desde o início, por parte da SPM, a preocupação de caracterizar a

violência de gênero objeto do pacto como um fenômeno abrangente e multifacetado,

e que portanto exigiria ações em frentes variadas. Diferente e mais restritiva era a

categoria violência doméstica e intrafamiliar, objeto da Lei Maria da Penha.

Com base nessa concepção mais abrangente, o texto de referencia inicial do Pacto

definia os seguintes eixos de ação:

1. fortalecimento da rede de atendimento e implementação da Lei Maria

da Penha;

2. combate à exploração sexual de meninas e adolescentes e ao tráfico

de mulheres;

3. promoção dos direitos humanos das mulheres em situação de prisão; e

4. proteção dos direitos sexuais e reprodutivos e enfrentamento da

feminização da AIDS.

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22

Hoje, passados sete anos do lançamento inicial do Pacto, os indícios

observados pela avaliação do IPEA em 2009 se confirmaram. A despeito da

tentativa de garantir ao máximo os princípios de integralidade do tratamento da

questão de gênero no desenho dessa política, visível nos eixos supramencionados,

o que ocorreu na prática foi a ênfase na ampliação dos serviços de atendimento à

mulher vítima de violência, pelos CRAS e CREAS, e na consolidação da

institucionalidade no campo dos sistemas de segurança e justiça previstos pela Lei

Maria da Penha.

A ênfase dada à temática da violência na pauta da SPM repercutiu

inclusive em sua estrutura organizacional, que aumenta sua capacidade. O Decreto

nº 7.043, de 22 de dezembro de 2009, modificou a estrutura original da Secretaria

(Decreto nº 4.625, de 21 de março de 2003) para criar uma subsecretaria específica

destinada ao tema da violência contra as mulheres. A introdução do PNPM III faz

menção ao fortalecimento institucional do órgão (BRASIL, 2013, p. 9).16

Não se trata, aqui, de diminuir a relevância dessa construção federativa

de políticas públicas, que permitiu um salto notável tanto em cobertura como em

qualidade do atendimento à mulher vítima de violência e, justamente pelo tratamento

transversal e inter-setorial, garantiu que a concepção desse atendimento olhasse

para a mulher de uma maneira mais integral (mesmo que com o foco em violência).

Diante das dificuldades enfrentadas para a cooperação interfederativa, é a própria

existência dos Sistemas de Políticas tanto na Saúde como na Assistência Social que

permitem que a articulação interministerial repercuta no plano municipal, construindo

os serviços de atendimento. 17

16

Em 2009 cria-se a Subsecretaria de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, e em 2012 (Decreto nº 7.765, de 25 de junho), as subsecretarias são alçadas a secretarias e a SPM recebe

importantes cargos do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores – DAS (dois DAS 101.5; um DAS 102.4; e um DAS 101.3.).

17 Exemplo é a Portaria Interministerial Nº 288, (25 de março de 2015), Assinada pela Ministra da

SPM/PR e pelos Ministros da Justiça e da Saúde, que “estabelece orientações para a organização e integração do atendimento às vítimas de violência sexual pelos profissionais de segurança pública e pelos profissionais de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto à humanização do

atendimento e ao registro de informações e coleta de vestígios.

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23

Interessa, ao mesmo tempo, mencionar mesmo que de passagem, as

implicações que a apropriação da Lei Maria da Penha, seus institutos e

posteriormente o Pacto pelos agentes do Estado podem gerar para o tratamento,

pela sociedade, das questões de gênero e, especificamente, do tema da violência de

gênero.

Debert e Gregori (2008), se bem que escrevendo em data muito próxima

ao lançamento da Lei Maria da Penha, e fazendo desde já a ressalva de que seria

cedo para avaliar seu impacto, escrevem, a respeito do tratamento que atores do

sistema de justiça, agora institucionalmente envolvidos no atendimento institucional

pelo Estado da violência de gênero, davam à época:

A defesa da mulher se reduz à exaltação ingênua da liberdade de escolha,

mesclada com a valorização da família, e, nesses termos, restabelecem -se as hierarquias a partir das quais as mulheres eram tratadas, quando a defesa da família dava a tônica central das decisões tomadas pelos agentes

do sistema de justiça. Esse retorno da família como a instituição privilegiada para garantir a boa sociedade tem ganhado força, o que preocupa sobremaneira quando a questão de gênero, justiça e democracia estão em

pauta. (DEBERT e GREGORI, 2008, p. 173).

Outra questão que tem sido objeto de reflexão é a difícil interface entre a

abordagem feminista à questão e a abordagem feita pela Assistência Social.

Segundo Pougy:

A abordagem interdisciplinar visa minimizar a prevalência da orientação disciplinar, por exemplo, a ênfase na orientação jurídica, clínica ou psicossocial, para a pluralidade de disciplinas que comparecem na

proposição e atuação cotidiana, o que deve ser emanada de um projeto teórico-político, no qual sejam planejados horizontes de longo, médio e curto prazos, a exemplo da direção da política nacional para as mulheres.

(Pougy, 2010, p. 77-78).

Os entes do sistema de Justiça Criminal, em especial os Juizados da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, enfrentam o cotidiano de

impotência na resolução dos conflitos imbuídos do dever de aplicar a lei. [...] O fundamento material da impotência tem origem na compreensão da violência de gênero como fenômeno da ordem da cultura e/ou da família,

como se as mesmas não integrassem a sociedade como produto e como processo de densas relações de poder. Quando se estabelece como meta a resolução do problema da mulher, pode-se incorrer numa dupla armadilha:

caminhar na contracorrente do empoderamento feminino e patologizar as relações ao estabelecer medidas de medicalização ou tratamento. (idem, p. 81)

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24

Passando ao objeto central da discussão pretendida aqui, a descrição

feita a seguir procurará mostrar que, a despeito do insucesso de algumas

estratégias em vários contextos estaduais, e de ter seu desempenho do ponto de

vista da execução dos recursos prejudicado por características dos instrumentos

específicos utilizados para a cooperação federativa, o desenho da governança e as

regras definidas pelo pacto se caracterizam por um alto grau de inovação. Enquanto

experiência na área de gestão federativa de políticas públicas, acreditamos ser

possível interpretá-la como uma tentativa de atingir os seguintes propósitos, por

meio dos instrumentos de gestão do pacto:

a) provocar, pela via das regras de pactuação entre Estados e União, a

criação ou fortalecimento de Organismos de Políticas para as

Mulheres nos executivos estaduais (como vimos anteriormente, essa

é uma prioridade estratégica histórica da SPM);

b) apoiar a política em instrumentos técnicos de planejamento,

monitoramento e avaliação, induzindo estados e municípios a

seguirem a mesma lógica;

c) se utilizar do relacionamento permanente com os movimentos de

mulheres e de mecanismos condicionantes da participação social nas

regras da pactuação, para ao menos enfraquecer as resistências à

participação derivadas de disputa político-partidária;

d) apoiar a política em fóruns de deliberação horizontais que se

relacionam verticalmente (representantes estaduais chamados a

planejar no âmbito federal).

Mesmo que os resultados não tenham sido os esperados, a tentativa vai

ao encontro de anseios registrados por estudiosos do pacto federativo tanto no

campo das ciências sociais ou do direito como no da gestão pública, que propõem

como uma solução para o impasse federativo uma abordagem por parte dos

diferentes entes que ultrapasse a esfera normativa e fortaleça instâncias de

negociação e pactuação (ver Abrucio, Franzese e Sano, 2013).

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25

O Pacto Nacional previa seis principais etapas:

a) Criação e/ou fortalecimento de organismos de políticas para as mulheres estaduais e municipais

b) Elaboração do Projeto Integral Básico (diagnóstico, definição de municípios-pólo e planejamento das Ações do Pacto). O Projeto Básico Integral, deveria conter: diagnóstico da situação da violência contra as

mulheres no âmbito do estado, a definição dos municípios -pólo e o planejamento estadual de ações do Pacto em seus quatro eixos estruturantes.

c) Assinatura do Acordo de Cooperação Federativa – documento define atribuições e responsabilidades de cada ente federativo e de suas respectivas câmaras técnicas.

d) Constituição das Câmaras Técnicas Estaduais e Municipais de Gestão e Monitoramento do Pacto (por meio de publicação de portaria de criação e nomeação dos órgãos integrantes, em Diário Oficial.

18

e) Aprovação das propostas e projetos no âmbito da CâmaraTécnica Estadual e encaminhamento para a Câmara Técnica Federal. Durante o processo de elaboração do Projeto Integral Básico, todos os projetos

encaminhados devem ser analisados e avaliados pela Câmara Técnica Estadual ou Distrital. No âmbito federal, a análise, a aprovação e a liberação derecursos para execução dos convênios são de atribuição

da CâmaraTécnica Federal.

f) Credenciamento e cadastramento no SICONV (Portal Nacional de Convênios) para envio de projetos, a partir dos termos de referência e

editais publicados pelos órgãos envolvidos no Pacto Nacional em âmbito federal. (BRASIL, 2010, p. 29-31).

O que se verificou na prática é que em alguns estados os OPMs foram

criados muito fragilmente, ou as Câmaras Técnicas instituídas apenas no papel. A

priorização a partir de diagnóstico técnico, e a coordenação do planejamento no

âmbito estadual, esperado dos governos estaduais, foram frustradas em vários

casos. PAPA (2012, p. 112) descreve as alternativas usadas diante da dificuldade de

pactuação com estados por motivo político:

1) novo formato de negociação direta entre município e SPM;

2) contratação de consultoras regionais externas aos governos para

realizar diagnósticos da situação da violência nos estados, propor

instrumentos de monitoramento e avaliação – sempre em apoio aos

municípios.

18

A Câmara Técnica deveria ser composta pelos seguintes órgãos: representantes das 3 (três) esferas de governo (União, estado/ Distrito Federal e munic ípio), das Secretarias Estaduais envolvidas no Pacto, dos Conselhos de Direitos da Mulher, da sociedade civil, das universidades, do

Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública. Estruturas semelhantes deverão ser criadas nos municípios-polo. A relevância dos OPMs é sempre destacada, “uma vez que estes constituem os órgãos responsáveis por garantir a transversalidade de gênero nas políticas

setoriais.” (BRASIL, 2010, p. 33).

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26

Como toda tentativa de indução, ela encontra os limites nos contextos

políticos e institucionais subnacionais. De toda sorte, o papel atribuído aos Estados

no âmbito do Pacto é condizente com as expectativas de uma cooperação federativa

saudável, em que tanto União como Estados tenham uma função redistributiva e

equalizadora das desigualdades entre municípios ou regiões do Estado . E é também

condizente com as expectativas das gestoras municipais, como veremos na seção

seguinte.

Um outro aspecto que merece relevo, na análise dos instrumentos de

gestão da cooperação federativa, que esteve presente no Pacto Nacional, mas

também rege toda a colaboração da União, por intermédio da SPM, com estados e

municípios, é a avaliação do formato atual das transferências voluntárias.19 Elas são,

atualmente, a única forma existente para o apoio financeiro da União, quando a

política não é baseada em um Sistema Nacional de Política e em fundos

orçamentários a eles associados. Os procedimentos e exigências burocráticas que

recaem sobre os municípios para a efetivação do repasse de recursos e, mais ainda,

para a gestão permanente do mesmo, são considerados grandes dificultadores da

cooperação. Na opinião da entrevistada A, atualmente os municípios não têm

capacidade técnica em gestão para gerir convênios. Além do que, a permanência da

política no longo prazo fica muito mais sujeita às intempéries político-partidárias.

Não vejo nenhum problema com a forma de convênio, mas para o

cotidiano, para a implementação de uma política no cotidiano é muito

complexa na sua forma de gestão. Eu acho então que uma maneira ideal

seria ter o sistema, acoplado a um fundo de política para as mulheres, e

manter esse chamamento público, que se formaliza pela via dos

convênios, em casos específicos, temas pontuais que você tenha um

projeto que seja fundamental e temporário.”

É semelhante o ponto de vista da gestora que respondeu ao questionário 4:

19

Transferências voluntárias são os recursos financeiros repassados pela União aos Estados, Distrito

Federal e Munic ípios em decorrência da celebração de convênios, acordos, ajustes ou outros instrumentos similares cuja finalidade é a realização de obras e/ou serviços de interesse comum e coincidente às três esferas do Governo. ” Fonte:

<http://www3.tesouro.fazenda.gov.br/estados_municipios/transferencias_voluntarias.asp> .

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27

Os instrumentos existem, mas são pouco efetivos porque falta vontade

política por parte de muitos municípios....

Esses depoimentos corroboram avaliação já bastante disseminada sobre

a dificuldade das gestões municipais de darem conta de todas as exigências legais

envolvidas, especialmente a dificuldade em se manter adimplentes. Essa

dificuldade, obviamente, não diz respeito apenas aos convênios ocorridos no âmbito

das políticas para as mulheres. Ela remete à já bastante diagnosticada baixa

capacidade de gestão das administrações municipais. Estudo do Ministério do

Planejamento em 2012 mostrou a baixa execução dos recursos repassados aos

municípios. Os números sinalizam uma relativa dificuldade das entidades e órgãos

em executar os programas do governo federal, em parte associada à legislação

referente à execução de transferências, que está mais rigorosa (Decreto Nº

7.568/2011).20 Decorre dessa avaliação a proposição de um papel às esferas federal

e estadual, de formar e apoiar tecnicamente a capacitação dos governos locais para

a gestão pública.

O estudo já citado do IPEA (2009) aponta que, diante das dificuldades

encontradas no atendimento às regras inicialmente estipuladas, a SPM terminou por

abandonar o critério de priorização inicial de alguns estados e, dentro deles, dos

municípios, com base nos indicadores de violência de gênero. Estados não

considerados prioritários para a implantação inicial terminaram por firmar convênios

cujos objetos eram muito semelhantes aos previstos no âmbito do pacto, o mesmo

tendo ocorrido com municípios. A discussão proposta pelo estudo gira em torno do

limite tênue entre experimentalismo – algo que faz parte do modo de gerir políticas

públicas levando em consideração aspectos políticos – e falta de planejamento e

abandono de critérios técnicos. Em parte, acreditamos que certa dose de ineditismo

ou de inovação se explica pelo baixo nível de institucionalização da política.

Diferentemente de campos setoriais em que o consenso social em torno da

prioridade da agenda está mais do que consagrado, como educação e saúde, o

campo transversal das políticas de gênero ainda exige do Executivo Federal uma

20

Naquele ano, os convênios, contratos de repasse e termos de parceria feitos pelos órgãos da administração pública federal movimentaram R$ 9,5 bilhões. Desse montante, foram empenhados R$ 7,3 bilhões (77%) e executados financeiramente R$ 2,8 bilhões (29%). Fonte:

http://www.planejamento.gov.br/conteudo.asp?p=noticia&ler=9303

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28

atuação de convencimento, de diplomacia. Além disso, a própria característica do

campo, que é sua inter-setorialidade ou transversalidade, em parte molda suas

estratégias.

Ao mesmo tempo, os depoimentos citados acima, bem como a avaliação

feita pelo estudo do IPEA, permitem a seguinte reflexão: tanto a pactuação

federativa pela adesão a acordos de cooperação, quanto as transferências

voluntárias por meio de convênio que concretizam a cooperação não permitem a

consolidação das ações no longo prazo por estarem vulneráveis à decisão “dos

governos de plantão”, sem que haja mecanismos efetivos de responsabilização.

Também por sua temporalidade, não permitem permanência no longo prazo. Além

disso, o insucesso da estratégia inicial e seus instrumentos significou a perda do

papel de planejamento e redução das desigualdades regionais por parte da União e

dos Estados.

3 ALGUMAS VISÕES SOBRE RESPONSABILIZAÇÃO, PARTICIPAÇÃO SOCIAL

E DIVISÃO DE RESPONSABILIDADES ENTRE ENTES FEDERATIVOS.

Para refletir sobre a complexidade da coordenação federativa no contexto

brasileiro atual, partimos da proposição do problema feita por Abrucio, Franzese e

Sano (2013). Segundo os autores, a necessidade de instrumentos coordenadores da

ação de municípios, estados e União deriva da própria lógica federativa, que

determina a interdependência entre os entes, uma vez em que mais de um nível

governamental atua em um mesmo setor. O embate constante entre essa

interdependência e a autonomia dos entes da federação é da própria natureza do

pacto federativo. Ainda segundo os mesmos autores, três fenômenos compõem a

descrição desse cenário:

Primeiramente, a expansão mundial do Estado de bem-estar social

costuma envolver, em vários contextos nacionais, um “grau importante de

nacionalização das políticas, para reduzir desigualdades ou criar padrões e normas

que possam fortalecer a competição da nação com outros países ”. Nas federações,

a cobrança dos governos subnacionais por autonomia e respeito à diversidade de

situações, pressionaria em sentido contrário.

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Paralelamente, no Brasil como em outros países tem havido, desde a

década de 1970, maior empoderamento e democratização no plano local. No caso

brasileiro, esse movimento se acentua com a Constituição de 1988. Por fim,

experimenta-se hoje a necessidade de aumentar a eficiência e a efetividade da

gestão pública e ao mesmo tempo fortalecer a responsabilização dos agentes

públicos (Peters e Savoie, 2000, apud Abrucio, Franzese e Sano, 2013, p. 133). Este

cenário é fruto de diversos processos, entre eles a democratização e o aumento da

participação social nas políticas públicas, a crise orçamentária e financeira dos

governos, e a influência das teorias e práticas de reforma do setor público

(promovidos especialmente por organismos internacionais (ver OCDE, 1997, apud

Abrucio, Franzese e Sano, 2013). Alcançar os objetivos de eficiência, eficácia e

responsabilização é um esforço bem mais complexo em federações, uma vez que

“as ações governamentais são bastante imbricadas, mas os governos gozam de

grande autonomia. Nesta estrutura, tanto a responsabilização como a melhoria do

desempenho dependem de um compartilhamento bem definido das funções

governamentais” (Abrucio, Franzese e Sano, 2013, p. 133).

A experiência do pacto significou uma tentativa de, por meio de

estratégias mais ligadas à diplomacia e à negociação, romper as barreiras da

disputa federativa (e seus tons político-partidários). Nesse contexto, o Pacto propôs

um reposicionamento dos governos estaduais como intermediadores do

relacionamento com os municípios. A função de planejar e apoiar tecnicamente a

gestão municipal é, na visão das gestoras municipais entrevistadas, uma função

muito adequada para o governos estaduais. Conforme registrou a respondente do

questionário 2:

Para mim o estado tem um papel fundamental, que é o de coordenar toda

a política pública para as mulheres no estado, fazer reunião

periodicamente com as gestoras dos municípios em nível estadual ou por

região, dependendo da necessidade e da conjuntura. Levantar quais as

dificuldades de cada município tocar os trabalhos e discutir juntas as

soluções, tem também o papel de fortalecer os Organismos nas

prefeituras e incentivar a criação onde não tem, contribuindo também com

as capacitação para o atendimento das mulheres em situação de

violência e dando formação para as gestoras e profissionais das políticas

para as mulheres.

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É lícito supor que a experiência adquirida no contexto de negociação

inicial do Pacto entre a União e os Estados, em que as gestoras municipais exerciam

o papel de pressão junto aos governos estaduais, tenha contribuído para reforçar

tais expectativas quanto à atuação dos governos estaduais.

Para a entrevistada B, um papel desejável para os governos estaduais é o de

articulador:

Não apenas no campo das políticas para as mulheres, mas em outros

setores também, o papel do Estado é um papel de articulação. Porque

quando se faz transferência direta para o município, mesmo no caso em

que o recurso é repassado ao Estado, que repassa aos municípios, a

lógica é muito financeira. Tem a ver com o papel do Estado na nova

configuração federativa. Eu vejo o papel do Estado muito vulnerável

nessa nova ordem.

Em parte, a expectativa das participantes em relação ao governo estadual

é de apoio financeiro, da mesma maneira que a União apóia. Mas o eleme nto do

planejamento regional e coordenação é o que sobressai. Em relação à União, para

além do elemento financeiro a expectativa é de formulação de diretrizes maiores da

política, expectativa que na visão das entrevistadas tem sido preenchida pela SPM.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Voltando aos impasses da lógica federativa – que exige a vontade, a

adesão dos governos subnacionais às propostas de priorização e planejamento

advindas da União, cremos que, sob determinados aspectos, o dilema do papel da

SPM, enquanto órgão federal central de um campo de política pública não

organizado na forma de sistema não é diferente daquele enfrentado, por exemplo,

pelo Ministério da Educação. Em que pesem os diferentes estágios do consenso

social em torno das agendas, de sua consolidação institucional e da normatização

das responsabilidades dos entes federados no âmbito de cada política, o Ministério

da Educação (MEC) e a SPM compartilham a dificuldade de impactar as políticas

estaduais e municipais. E as estratégias que têm sido usadas até o momento

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dependem na maioria das vezes do repasse financeiro a governos subnacionais.

Mesmo com o repasse de recursos associado às vagas em cada nível educacional,

pelo FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e

de Valorização dos Profissionais da Educação –, e com a responsabilização clara de

municípios pela educação infantil (creches e pré-escolas) pela LDB (Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional – Lei No 9.394/1996), o MEC continua apoiando

municípios para a construção de creches, em programa federal.

Abrucio, Franzese e Sano (2013) apontam os Sistemas de Políticas e os

fundos a eles associados como sendo instrumentos que colaboram para a

cooperação federativa, resguardadas algumas condições:

Espaços de negociação horizontais e verticais;

Capacidade de planejamento dos estados e União que permita a

redução de desigualdades e

Regras claras de divisão de funções e responsabilização.

A fragilidade institucional da repartição de responsabilidades e da

cooperação federativa na esfera educacional tem alimentado há algum tempo a

defesa de Sistema Nacional de Educação, que foi a pauta central da Conferência

Nacional de Educação de 2010. Da mesma forma, motivou Projeto de Lei que tem

sido apelidado de “lei de responsabilidade educacional” (PL 7.420/2006), que visa

exatamente criar regras para a responsabilização dos gestores nas três esferas. Na

análise do caso educacional, os autores supracitados acreditam que um sistema

único possa ser a solução (Abrucio, Franzese e Sano, 2013, p. 158).

O debate sobre a criação de um Sistema Nacional de Políticas para as

Mulheres será objeto da próxima conferência nacional, em 2016, a partir de

documento base elaborado pela SPM (ainda não divulgado). Três das gestoras

entrevistadas mencionaram gratuitamente a ideia de Sistema como a solução para a

vinculação e responsabilização dos entes.

Descrevendo os fatores que possibilitaram êxitos do Sistema Único de

Saúde, Abrucio, Franzese e Sano (2013, p. 152) destacam, entre outros, “a

existência de uma coalizão entre os técnicos da área [que] pode produzir consenso

em torno de um modelo de federalismo que compatibilizava autonomia e

interdependência”, e “a visão baseada no fortalecimento das arenas de discussão e

deliberação no campo federativo ” (idem, p. 152).

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A despeito da enorme complexidade de construir uma lógica transversal

por meio de um sistema de política pública (que costumeiramente são uni-setoriais),

acreditamos que as experiências recentes de montagem de uma rede de gestoras e

construção de capacidades nas três esferas de governo, de criação de mecanismos

de pactuação federativa calcados em participação social e instâncias de negociação

conduzem a um cenário favorável para a implementação de um Sistema Nacional de

Políticas para as Mulheres. Parte de sua relevância estaria em conduzir as políticas

a partir da garantia de direitos à mulher e da integralidade do tratamento das

questões de gênero, muitas vezes fragilizada pelos discursos que comandam a

burocracia em outros sistemas de políticas dos quais a política para as mulheres

depende hoje.

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AUTORIA

Maria Elisa Almeida Brandt – Especialista em Políticas Públicas – Secretaria de Planejamento e Gestão e do Estado de São Paulo.

Endereço eletrônico: [email protected]