A Atitude Estética - John Hospers

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A Atitude Estética - John Hospers

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A atitude esttica John Hospers 1. Atitudes A atitude esttica, ou a "forma esttica de contemplar o mundo", geralmente contraposta atitude prtica, na qual s interessa a utilidade do objecto em questo. O verdadeiro negociante de terrenos que contempla uma paisagem s a pensar no possvel valor monetrio do que v no est a contemplar esteticamente a paisagem. Para a contemplar dessa maneira teria de "a observar por observar", sem qualquer outra inteno - teria de saborear a experincia de observar a prpria paisagem, tomando ateno aos seus detalhes, em vez de utilizar o objecto observado como um meio para atingir um certo fim. A atitude esttica distingue-se tambm da atitude cognitiva. Os estudantes familiarizados com a histria da arquitectura so capazes de identificar rapidamente um edifcio ou umas runas no que diz respeito sua poca de construo e lugar de origem, ou ao seu estilo e a outros aspectos visuais. Contemplam o edifcio sobretudo para aumentar os seus conhecimentos, e no para enriquecer a sua experincia perceptiva. Este tipo de habilidade pode ser til e importante, mas no est necessariamente correlacionado com a capacidade de desfrutar a prpria experincia da contemplao do edifcio. A capacidade analtica pode eventualmente melhorar a experincia esttica, mas pode tambm inibi-la. Quem se interessa por arte devido a um objectivo profissional ou tcnico est particularmente sujeito a afastar-se da contemplao esttica. Isto conduz-nos directamente a outra distino. A forma esttica de observar tambm diferente da forma personalizada de o fazer, na qual o observador, em vez de contemplar o objecto esttico para captar o que este lhe oferece, considera antes a relao desse objecto consigo prprio. Quem no d ateno a uma obra musical, usando-a apenas como estmulo para uma fantasia pessoal, acaba por no estar a ouvir esteticamente, mesmo que parea o contrrio. Disto segue-se que muitos tipos de respostas aos objectos, incluindo s obras de arte, ficam margem do campo da esttica. O orgulho de possuir uma obra de arte, por exemplo, pode interferir na resposta esttica. A pessoa que reage com entusiasmo perante os seus convidados ao ouvir uma sinfonia no seu prprio equipamento estereofnico, mas que no reage interpretao da mesma sinfonia quando a ouve atravs de um equipamento idntico na casa do seu vizinho, no est a ter uma resposta esttica. O antiqurio ou o director de museu - que ao escolher uma obra de arte tem que ter presentes o seu valor histrico, fama e poca - pode sentir-se parcialmente influenciado pela apreciao do valor esttico, mas a sua ateno desvia-se necessariamente para factores no estticos. Do mesmo modo, se uma pessoa aprecia uma pea de teatro ou um romance porque espera encontrar informaes relativas poca e ao lugar em que a obra foi escrita, est a substituir o interesse pela experincia esttica pelo interesse em adquirir conhecimentos. Se uma pessoa aprecia favoravelmente uma determinada obra de arte por esta ser moralmente edificante ou por "defender uma causa justa", est a confundir a atitude moral com a esttica, o que tambm ocorre se a condenar por motivos morais e no conseguir separar essa censura da apreciao esttica. 2. Relaes internas O termo "desinteressado" usa-se muito para descrever a atitude esttica. O desinteresse uma qualidade do bom juiz, que se manifesta quando este imparcial. O juiz pode estar pessoalmente envolvido num certo caso, no sentido em que estuda profundamente a sua soluo, mas ao julgar o caso no pode estar pessoalmente envolvido, no sentido em que deve evitar que os seus sentimentos ou simpatias pessoais o influenciem ou afectem de qualquer forma. A imparcialidade em matrias morais e jurdicas certamente caracteriza o chamado "ponto de vista moral", mas no nada claro de que forma temos que nos mostrar desinteressados (ou seja, imparciais) ao contemplar um quadro ou escutar um concerto. Teremos de ser imparciais como num conflito entre duas partes litigantes? "Julgar imparcialmente" faz sentido, mas o que significa observar ou escutar imparcialmente? "Imparcial" um termo relacionado com situaes em que existe um conflito entre partes litigantes, mas no parece ser um termo til quando tentamos descrever a forma esttica de contemplar as coisas. Um modo menos confuso de descrever a experincia esttica faz-lo em termos de relaes internas versus externas. Quando contemplamos esteticamente uma obra de arte ou a natureza, fixamo-nos apenas nas relaes internas, ou seja, no objecto esttico e nas suas propriedades, e no na sua relao com ns prprios, nem sequer na sua relao com o artista que o criou ou com o nosso conhecimento da cultura em que surgiu. A maior parte das obras de arte so muito complexas e exigem toda a nossa ateno. O estado esttico pressupe uma concentrao intensa e completa. preciso ter uma conscincia perceptiva intensa, e tanto o objecto esttico como as suas diversas relaes internas tm de constituir o nico foco da nossa ateno. 3. Valor esttico No poderemos compreender o importante conceito de forma na arte sem mencionar alguns dos critrios principais que so utilizados pelos crticos e filsofos na anlise da forma esttica. Quais sero, ento, os princpios formais a partir dos quais devemos apreciar uma obra de arte, pelo menos no seu aspecto formal? Muitos autores ofereceram diversas sugestes a este respeito, mas o critrio central e mais universalmente aceite o da unidade. A unidade o oposto do caos, da confuso, da desarmonia: quando um objecto est unificado, podemos dizer que tem consistncia e no tem nada de suprfluo. No entanto, h que especificar mais esta condio. Uma parede branca vazia ou uma superfcie uniformemente azul tem unidade, no sentido em que nada a interrompe. Mas apenas se deseja a unidade nas obras de arte que tm uma grande complexidade formal. Assim, a frmula habitual a da "diversidade na unidade". O objecto unificado deve conter dentro de si um amplo nmero de diversos elementos, onde cada um contribui em alguma medida para a total integrao do todo unificado, de modo a que no exista confuso apesar dos elementos dspares que o integram. No objecto unificado, todas as coisas so necessrias, e nenhuma suprflua. Geralmente, ao substantivo "unidade" acrescenta-se o adjectivo "orgnica". Como uma obra de arte no um organismo, o termo claramente metafrico. Esta analogia baseia-se no facto de nos organismos vivos a relao entre as diversas partes ser interdependente, e no independente. Nenhuma parte actua isolada: cada parte ou elemento colabora com os outros, de tal modo que uma mudana num elemento torna o todo diferente. Por outras palavras, as partes relacionam-se internamente, e no externamente. Deste modo, se numa certa obra de arte uma mancha amarela estivesse noutro lugar, isso alteraria todo o carcter da obra pictrica, e o mesmo aconteceria numa obra teatral se uma determinada cena no estivesse precisamente onde est. Evidentemente, a ideia de unidade uma ideia de valor. Significa, por exemplo, que numa boa melodia, pintura ou poema no se poderia mudar uma parte sem prejudicar (e no simplesmente mudar) o todo. John Hospers Traduo e adaptao de Pedro Galvo. Texto retirado de Estetica: Historia y Fundamentos, de John Hospers, Cap. 1 (seleco). 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