A Atividade de Inteligência no Combate ao Crime Organizado (2003)

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    Center for Hemispheric Defense Studies

    REDES 2003

    Research and Education in Defense and Security Studies

    October 28-30, 2003, Santiago, Chile

    Panel: Public Oversight and Intelligence

    Title: A ATIVIDADE DE INTELIGNCIA NO COMBATE AO CRIME

    ORGANIZADO: O CASO DO BRASIL

    Author: Joanisval Brito Gonalves

    The statements and opinions presented by the authors of "REDES 2003

    Academic Papers", do NOT represent the views of the Department of Defense

    (DoD), the National Defense University (NDU) or the Center for Hemispheric

    Defense Studies (CHDS). Any release, quotation or extraction for publication

    must be coordinated with the author of the document. Any use of these

    materials outside of the context of this seminar is NOT authorized.

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    FOLHA DE ROSTO

    Ttulo do Trabalho: A ATIVIDADE DE INTELIGNCIA NO COMBATE AO CRIME

    ORGANIZADO: O CASO DO BRASIL

    Assunto: Atividade de Inteligncia Tendncias e Ameaas para a Atividade de Inteligncia

    na Amrica Latina.

    O presente trabalho tem por objetivo apresentar as linhas gerais acerca da estrutura da

    comunidade de inteligncia brasileira e das possibilidades de emprego dos rgos de intelignciado Brasil no combate ao crime organizado. Ateno especial ser dada ao papel do Parlamento nafiscalizao da atividade de inteligncia.

    Autor: Joanisval Brito Gonalves

    Consultor Legislativo do Senado Federal do Brasil para a rea de Relaes Exteriores e

    Defesa Nacional. Especialista em Inteligncia, tambm advogado e professor de RelaesInternacionais e de Direito Internacional Pblico em Braslia/Brasil. Mestre em Histria dasRelaes Internacionais (Universidade de Braslia); graduado em Relaes Internacionais

    (Universidade de Braslia) e em Direito (UniCEUB).

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    A ATIVIDADE DE INTELIGNCIA NO COMBATE AO CRIME

    ORGANIZADO: O CASO DO BRASIL

    Joanisval Brito Gonalves

    ABSTRATO

    Alm de operaes de busca dos conhecimentos protegidos, a atividade deinteligncia desenvolve trabalhos de anlise estratgica, empregando procedimentos sistemticos,estudos e avaliaes, com o objetivo de identificar e compreender as caractersticas e modos deatuao das organizaes criminosas e de seus componentes. Para o combate ao crime

    organizado, o Poder Pblico necessita da ao coordenada dos diversos rgos de intelignciafederais e estaduais.

    Em virtude da complexidade e da amplitude das atividades criminosas em mbitointerno e transnacional, no adianta buscar combater o crime organizado apenas com atividadesexclusivas de carter policial. Os setores de inteligncia devem ser acionados, planejamentosfeitos, e cenrios precisam ser traados. Da o trinmio cooperao, coordenao e controle,que, associado ao quarto elemento, a inteligncia, pode conduzir neutralizao das aescriminosas.

    O presente trabalho tem por objetivo apresentar as linhas gerais acerca da estrutura

    da comunidade de inteligncia brasileira e das possibilidades de emprego dos rgos deinteligncia do Brasil no combate ao crime organizado. Ateno especial ser dada ao papel doParlamento na fiscalizao da atividade de inteligncia.

    INTRODUO

    Em um contexto de desenvolvimento das organizaes criminosas transnacionais e

    dos prejuzos que tais organizaes podem provocar para a estabilidade institucional dos pases

    O autor Consultor do Senado Federal do Brasil para a rea de Relaes Exteriores e Defesa Nacional. Especialistaem Inteligncia, tambm advogado e professor de Direito Internacional Pblico e de Relaes Internacionais emBraslia/Brasil. Os conceitos e opinies aqui emitidos so exclusivamente do autor e no refletem necessariamente as

    posies de entidades s quais esteja eventualmente vinculado.

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    do Hemisfrio, algumas questes no podem ser desconsideradas, dentre as quais, o papel da

    atividade de inteligncia no combate ao crime organizado. A atividade de inteligncia de grande

    importncia tanto para a preveno das aes criminosas, quanto para o fornecimento de dados

    teis para a represso aos delitos e, sobretudo, para o estabelecimento de cenrios e estratgias de

    atuao nas reas de segurana pblica e institucional.

    O presente trabalho tem por objetivo apresentar as linhas gerais acerca da estrutura

    da comunidade de inteligncia brasileira e das possibilidades de emprego dos rgos de

    inteligncia do Brasil no combate ao crime organizado. Ateno especial ser dada ao papel do

    Parlamento na fiscalizao da atividade de inteligncia.

    PARTE I A ATIVIDADE DE INTELIGNCIA

    Inteligncia pode ser definida como a atividade que objetiva a obteno, anlise e

    disseminao de conhecimentos, dentro e fora do territrio nacional, sobre fatos e situaes de

    imediata ou potencial influncia sobre o processo decisrio e a ao governamental e sobre a

    salvaguarda e a segurana da sociedade e do Estado. Contra-Inteligncia, por sua vez, a

    atividade voltada neutralizao da Inteligncia adversa a qual pode ser tanto de governos

    como de organizaes privadas.

    Com sua origem remontando aos primrdios das civilizaes, a atividade de

    inteligncia sempre foi percebida como essencial para a governabilidade e garantia de segurana,

    no s em contextos de guerra, mas tambm em perodos de paz e ordem institucional.

    Modernamente, no se pode cogitar a existncia de Estado que no disponha de rgos de

    inteligncia em sua estrutura.

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    A ABIN, portanto, foi criada com a finalidade precpua de ser um rgo de

    inteligncia perfeitamente adequado ao regime democrtico, atuando, sem quaisquer motivaes

    poltico-partid

    rias, em estreita observ

    ncia das leis e em defesa do Estado e da sociedade. O

    trabalho da ABIN est relacionado produo de conhecimentos estratgicos sobre

    oportunidades, antagonismos e ameaas, reais ou potenciais, de interesses da sociedade e do Pa s,

    bem como proteo de conhecimentos sensveis, relativos aos interesses e segurana do

    Estado e do povo brasileiro.

    O Decreto n 4.376, de 13 de setembro de 2002, dispe sobre a organizao e

    funcionamento do SISBIN. De acordo com o art. 1 o do ato, o SISBIN tem por objetivo integrar as

    aes de planejamento e execuo da atividade de inteligncia do Pas, com a finalidade de

    fornecer subsdios ao Presidente da Repblica nos assuntos de interesse nacional.

    Ademais, o SISBIN responsvel pelo processo de obteno e anlise de dados e

    informaes e pela produo e difuso de conhecimentos necessrios ao processo decisrio do

    Poder Executivo, em especial no tocante segurana da sociedade e do Estado, bem como pelasalvaguarda de assuntos sigilosos de interesse nacional. O art. 4 o prev quais rgos devem

    constituir o SISBIN:

    Art. 4 Constituem o Sistema Brasileiro de Inteligncia:

    I a Casa Civil da Presidncia da Repblica, por meio do Centro Gestor eOperacional do Sistema de Proteo da Amaznia CENSIPAM;

    II o Gabinete de Segurana Institucional da Presidncia da Repblica, rgode coordenao das atividades de inteligncia federal;

    III a Agncia Brasileira de Inteligncia - ABIN, como rgo central doSistema;

    IV o Ministrio da Justia, por meio da Secretaria Nacional de SeguranaPblica, do Departamento de Polcia Rodoviria Federal e da Coordenao deInteligncia do Departamento de Polcia Federal;

    V o Ministrio da Defesa, por meio do Departamento de IntelignciaEstratgica, da Subchefia de Inteligncia do Estado-Maior de Defesa, do Centro de

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    Inteligncia da Marinha, do Centro de Inteligncia do Exrcito, da Secretaria deInteligncia da Aeronutica;

    VI o Ministrio das Relaes Exteriores, por meio da Coordenao-Geralde Combate a Ilcitos Transnacionais;

    VII o Ministrio da Fazenda, por meio da Secretaria-Executiva do Conselho

    de Controle de Atividades Financeiras, da Secretaria da Receita Federal e do Banco

    Central do Brasil;

    VIII o Ministrio do Trabalho e Emprego, por meio da Secretaria-Executiva;

    IX o Ministrio da Sade, por meio do Gabinete do Ministro e da AgnciaNacional de Vigilncia Sanitria - ANVISA;

    X o Ministrio da Previdncia e Assistncia Social, por meio da Secretaria-Executiva;

    XI o Ministrio da Cincia e Tecnologia, por meio do Gabinete do Ministro;XII o Ministrio do Meio Ambiente, por meio da Secretaria-Executiva; e

    XIII o Ministrio de Integrao Nacional, por meio da Secretaria Nacionalde Defesa Civil.

    Alm dos treze rgos expressos no art. 4o, h a previso de que, mediante ajustes

    especficos e convnios, ouvido o competente rgo de controle externo da atividade de

    inteligncia, as unidades da Federao podero compor o Sistema Brasileiro de Inteligncia.

    O SUBSISTEMA DE INTELIG NCIA DE SEGURANA PBLICA

    Criado pelo Decreto n 3.695, de 21 de dezembro de 2000, o Subsistema de

    Inteligncia de Segurana Pblica, institudo no mbito do SISBIN, tem por finalidade

    coordenar e integrar as atividades de inteligncia de segurana pblica em todo o Pas, bem

    como suprir os governos federal e estaduais de informaes que subsidiem a tomada de decises

    neste campo. Cabe aos integrantes do Subsistema, no mbito de suas competncias, identificar,

    acompanhar e avaliar ameaas reais ou potenciais de segurana pblica e produzir conhecimentos

    e informaes que subsidiem aes para neutralizar, coibir e reprimir atos criminosos de qualquer

    natureza.

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    Integram o Subsistema de Inteligncia de Segurana Pblica os Ministrios da

    Justia, da Fazenda, da Defesa e da Integrao Nacional e o Gabinete de Segurana Institucional

    da Presidncia da Repblica. Seu rgo central a Secretaria Nacional de Segurana Pblica do

    Ministrio da Justia (SENASP). O Decreto prev, ainda, que podero fazer parte do Subsistema

    de Inteligncia de Segurana Pblica os rgos de Inteligncia de Segurana Pblica dos Estados

    e do Distrito Federal.

    OUTROS ORGANISMOS

    A comunidade de inteligncia formada, portanto, por unidades de inteligncia

    nos mais variados setores da Administrao Pblica e, tambm, em empresas privadas. Em

    termos de Executivo Federal, os rgos com poder de polcia ou com atribuies que envolvam

    fiscalizao e controle dispem ou deveriam dispor de setores de inteligncia.

    Alm da ABIN, que o rgo federal por excelncia responsvel pelas aes de

    inteligncia, destacam-se:

    os setores de inteligncia dos Comandos Militares do Exrcito, da Marinha eda Aeronutica e do Ministrio da Defesa, voltados, preponderantemente,

    inteligncia militar;

    as reas de inteligncia de rgos de fiscalizao, como a da Receita Federal,

    do INSS e do IBAMA;

    os setores de inteligncia direcionados rea financeira do Banco Central do

    Brasil ou de bancos estatais, como a Caixa Econmica Federal;

    a unidade de inteligncia financeira encarregada da coordenao das atividades

    de combate lavagem de dinheiro o COAF;

    unidades de inteligncia policial na Polcia Federal, na Polcia Rodoviria

    Federal e nas polcias estaduais civis e militares.

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    A maior parte desses rgos mantm relaes com seus congneres de outros

    pases, alguns inclusive com adidos em representaes brasileiras no estrangeiro, que atuam na

    rea de intelig

    ncia policial e militar. Assim, os

    rg

    os de intelig

    ncia governamental e policialbrasileiros encontram-se conectados com servios de inteligncia das naes hemisfricas e de

    outros continentes, o que constitui importante alicerce para a cooperao internacional na

    preveno e no combate a organizaes criminosas e terroristas.

    INTELIG NCIA FINANCEIRA

    A inteligncia financeira vista atualmente como um dos principais instrumentos

    para o combate ao crime organizado. A relevncia da inteligncia financeira pode ser percebida

    em quatro aspectos bsicos:

    a possibilidade de se atingirem diretamente as organizaes criminosas,

    prejudicando o lucro obtido por suas atividades;

    a capacidade de rastreamento das aes das organizaes criminosas, inclusive

    chegando-se a seus agentes, por meio do acompanhamento dos fluxos de

    capital movimentados pelo crime organizado;

    a possibilidade de retorno aos cofres pblicos de dinheiro proveniente de

    fraudes contra a Administrao Pblica ou outras atividades que lesem o

    patrimnio do Estado;

    a possibilidade de confisco para o Poder Pblico de grandes quantidades de

    dinheiro fruto de atividades ilcitas e identificados pelos setores de inteligncia

    financeira.

    Assim, tem sido grande o investimento internacional em inteligncia financeira,

    pois sabido que os retornos em termos financeiros e de neutralizao das atividades criminosas

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    so significativos. Houve aumento na preocupao com a inteligncia financeira aps os

    atentados de 11 de setembro de 2001, quando se percebeu que os mesmos mecanismos utilizados

    para o financiamento do terrorismo eram usados pelas organizaes criminosas.

    Um setor em que o Brasil talvez tenha a maior presena internacional o de

    inteligncia financeira. Nesse sentido, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF)

    reconhecido pela comunidade internacional como a Unidade de Inteligncia Financeira (FIU)

    do Brasil e tem atuado em foros internacionais vinculados ao tema, com destaque para as

    reunies do Grupo de Ao Financeira Internacional (GAFI/FATF) a principal instituio de

    combate aos crimes financeiros que sustentam o crime organizado e nos grupos regionais da

    Amrica do Sul (GAFISUD) e do hemisfrio (Grupo das Amricas e Grupo da Amrica Central e

    Caribe).

    Nos eventos do GAFI/FATF e de seus grupos regionais, so discutidas as mais

    modernas tipologias de atuao do crime organizado em termos de delitos financeiros, bem como

    so traadas as diretrizes de ao da comunidade internacional no combate a esses ilcitos. As

    delegaes brasileiras que comparecem s reunies do GAFI geralmente so compostas por

    servidores do COAF e convidados de outros rgos que tenham algum interesse no tema, como a

    ABIN e o Banco Central do Brasil.

    O PODER LEGISLATIVO E A ATIVIDADE DE INTELIG NCIA: A COMISSO

    MISTA DO CONGRESSO NACIONAL

    O art. 6o da Lei 9.883/99 prev o controle externo da atividade de inteligncia por

    parte do Congresso Nacional:

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    Art. 6o O controle e fiscalizao externos da atividade de inteligncia sero

    exercidos pelo Poder Legislativo na forma a ser estabelecida em ato do Congresso

    Nacional.

    1 Integraro o rgo de controle externo da atividade de inteligncia oslderes da maioria e da minoria na Cmara dos Deputados e no Senado Federal,

    assim como os Presidentes das Comisses de Relaes Exteriores e DefesaNacional da Cmara dos Deputados e do Senado Federal.

    2 O ato a que se refere o caput deste artigo definir o funcionamento dorgo de controle e a forma de desenvolvimento dos seus trabalhos com vistas aocontrole e fiscalizao dos atos decorrentes da execuo da Poltica Nacional deInteligncia.

    O controle externo, a cargo do Poder Legislativo, , portanto, exercido pelo

    Tribunal de Contas da Unio, sobre a gesto de recursos oramentrios, e pela Comisso Mista de

    Controle da Atividade de Inteligncia (CCAI), sobre atos decorrentes da execuo da Poltica

    Nacional de Inteligncia. Essa Comisso integrada pelas lideranas majoritrias e minoritrias

    do Congresso Nacional e pelos presidentes das Comisses de Relaes Exteriores e Defesa

    Nacional da Cmara dos Deputados e do Senado Federal.

    O regimento da CCAI, previsto pelo Projeto de Resoluo do Congresso Nacional

    n 8/2001, foi aprovado na Comisso em 7 de novembro de 2001 e, desde 5 de dezembro de 2001,

    encontra-se pronto para a Ordem do Dia, para que seja submetido ao crivo do plenrio do

    Congresso Nacional.

    Caso seja aprovado pelo Congresso Nacional, o Regimento da CCAI estabelece,

    em seu art. 2o, as finalidades dessa Comisso:

    Art. 2 So finalidades da CCAI:

    I controlar e fiscalizar as atividades de inteligncia, contra-inteligncia ecorrelatas, desenvolvidas no Pas, com a finalidade de fornecer subsdios aoPresidente da Repblica nos assuntos de interesse nacional;

    II analisar, emitir parecer e apresentar sugestes sobre os programas deinteligncia e outros relacionados atividade de inteligncia do Governo brasileiro,previstos na Poltica Nacional de Inteligncia;

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    III elaborar estudos permanentes sobre os programas e as atividades de

    inteligncia;IV manifestar-se sobre os ajustes especficos e convnios, a que se refere o art.

    2, 2, da Lei n 9.883, de 7 de dezembro de 1999;

    V submeter deliberao do Congresso Nacional propostas relativas

    legislao sobre as atividades de inteligncia e divulgao de informaes sigilosas;VI submeter deliberao do Congresso Nacional relatrios referentes s

    atividades de controle e fiscalizao das atividades e programas relativos atividade de inteligncia, de sua competncia; e

    VII receber e apurar denncias sobre violaes a direitos e garantiasfundamentais praticadas por rgos pblicos, em razo de realizao de atividadesde inteligncia, contra-inteligncia e correlatas, apresentadas por qualquer cidado,partido poltico, associao e sindicato.

    Em virtude de suas competncias e prerrogativas a CCAI tem condies de

    mostrar-se efetiva, em termos de participao do Congresso Nacional no que concerne

    fiscalizao e controle da atividade de inteligncia. De fato, essa ingerncia do Parlamento na

    atividade de inteligncia reflete a preocupao com um novo modelo de servios de informao

    sob a gide de um Estado democrtico de direito.

    Apresentadas as consideraes sobre estrutura e funcionamento do Sistema Brasileiro

    de Inteligncia e de alguns de seus componentes, passemos ao emprego da atividade de inteligncia

    no combate ao crime organizado e s possibilidades de atuao do Congresso Nacional nesse sentido.

    PARTE II A INTELIGNCIA NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO

    Nas ltimas dcadas, as atividades criminosas tm passado por uma srie de

    mudanas, que culminaram em aes cada vez mais organizadas por parte de delinqentes e

    organizaes criminosas. A partir da segunda metade da dcada de 1970, com o fortalecimento

    do narcotrfico e o desenvolvimento de grandes mercados consumidores em especial EUA e

    Europa Ocidental , as organizaes criminosas aperfeioaram seu modus operandi, atualmente

    com carter muito mais complexo e transnacional.

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    Assim, os ltimos 25 anos presenciaram o fortalecimento do crime organizado,

    com ramificaes nos mais diversos tipos de atividades ilcitas, do narcotrfico extorso e

    corrup

    o, passando pela prostitui

    o, tr

    fico de pessoas e

    rg

    os, tr

    fico de armas e lavagem dedinheiro. Alm do carter empresarial, as organizaes criminosas tm cooperado entre si e

    formado verdadeiros conglomerados transnacionais promotores de delitos.

    Diante do grau de complexidade e diversificao do crime organizado, a atividade

    de inteligncia adquire grande importncia no s para a represso, mas, sobretudo, no que

    concerne preveno contra o desenvolvimento do crime organizado. A atividade de inteligncia

    til para o planejamento de estratgias de ao das autoridades no contexto da segurana

    pblica. E as aes de inteligncia devem reunir inteligncia governamental e policial, em escala

    federal e estadual.

    INTELIG NCIA GOVERNAMENTAL: O PAPEL DA ABIN

    O emprego das aes de inteligncia no combate ao crime organizado assume

    diversas facetas. A primeira delas refere-se ao planejamento estratgico das aes de segurana

    pblica. Com base na coleta e no processamento de informaes de carter nacional e

    internacional como rotas de trfico, dados sobre o consumo em vrias regies do pas, as novas

    tipologias , pode-se fazer um mapeamento das atividades das organizaes criminosas e das

    caractersticas dos diversos grupos que atuam em variados setores, estabelecendo-se as conexes.

    Acrescente-se tambm a anlise prospectiva, com o objetivo de identificar as

    tendncias de ao do crime organizado e suas tipologias. Por meio dessas variveis, possvel

    traar linhas mestras de ao na preveno e no combate s organizaes criminosas, em escala

    nacional, alm de criar instrumentos para cooperao com outros entes da comunidade

    internacional.

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    Para esse tipo de anlise de inteligncia estratgica, fundamental a existncia de

    um rgo federal que rena e processe os dados e informaes dados j processados dos

    diversos setores de intelig

    ncia federais e municipais - no caso do Brasil, essa tarefa caberia

    ABIN. Afinal, informaes de carter ttico podem assumir importncia estratgica quando

    reunidas e processadas sob uma perspectiva de inteligncia de Estado, e no policial.

    Alm da capacidade de centralizar informaes e transform-las em anlise

    estratgica a ser empregada na preveno e planejamento de aes nacionais de combate ao crime

    organizado, a ABIN tambm adquire relevncia no que concerne s possibilidades de treinamento

    dos agentes da Administrao Pblica federal e estadual que atuam nos setores de inteligncia.

    Para isso, existe a Escola de Inteligncia (ESINT), localizada na capital federal, que dispe de

    estrutura fsica para abrigar alunos de todo o pas em cursos variados.

    Nesse sentido, convm destacar o treinamento que a ESINT vem ministrando a

    servidores pblicos da rea de inteligncia, incluindo-se fiscais, agentes de polcia, servidores de

    autarquias e de outros Poderes, entre os quais magistrados e membros do Ministrio Pblico.Alm do aperfeioamento profissional em aspectos tericos e prticos da atividade de

    inteligncia, os cursos da ESINT permitem a integrao entre pessoas e rgos da comunidade de

    inteligncia, o que por si j relevante para o combate ao crime organizado.

    Outra aplicao da atividade de inteligncia por parte de um rgo como a ABIN

    est relacionada ao fornecimento de informaes tticas de pouca utilidade para o rgo federal

    isoladamente relevantes para a inteligncia policial estadual ou federal. Caberia lembrar que a

    ABIN possui escritrios em praticamente todas as capitais brasileiras e em outras cidades

    importantes. Essa estrutura j tem sido utilizada em alguns Estados no combate ao crime

    organizado, no apoio ao Ministrio Pblico e s polcias estaduais.

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    Assim, de grande importncia a existncia de um rgo central de inteligncia de

    Estado, o qual no tenha obrigaes nem compromisso com a investigao policial propriamente

    dita, mas que contribua para o combate ao crime organizado por meio da centraliza

    o,processamento e distribuio de informaes, e tambm com anlises estratgicas que permitam

    aos rgos de represso, fiscalizao e controle exercerem suas atividades na neutralizao das

    organizaes criminosas. Somente um rgo federal, sem objetivos policiais e que preste contas

    diretamente ao Chefe do Poder Executivo e ao Congresso Nacional, poder desenvolver, com

    devida iseno, a inteligncia de carter estratgico essencial para a segurana pblica e

    institucional.

    INTELIG NCIA POLICIAL

    Alm da inteligncia governamental, existe a inteligncia policial, voltada para

    questes tticas de represso e investigao de ilcitos e grupos infratores. Essa inteligncia est a

    cargo e deve apermanecer das polcias estaduais, civis e militares, e da polcia federal. por

    meio desse tipo de atividade que se podem levantar indcios e tipologias que auxiliam o trabalhoda polcia judiciria e do Ministrio Pblico. No combate ao crime organizado, muito mais com

    atividades de inteligncia do que com grandes operaes ostensivas que se consegue identificar

    esquemas ilcitos e desbaratar quadrilhas.

    Operaes de inteligncia policial, conforme estabelece o Manual de Inteligncia

    Policial do Departamento de Polcia Federal do Brasil, so o conjunto de aes de inteligncia

    policial que empregam tcnicas especiais de investigao, visando a confirmar evidncias,

    indcios e obter conhecimentos sobre a atuao criminosa dissimulada e complexa, bem como a

    identificao de redes e organizaes que atuem no crime, de forma a proporcionar um perfeito

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    entendimento sobre seu modus operandi, ramificaes, tendncias e alcance de suas condutas

    criminosas.

    A inteligncia policial, portanto, atua na preveno, obstruo, identificao eneutralizao das aes criminosas, com vistas investigao policial e ao fornecimento de

    subsdios ao Poder Judicirio e ao Ministrio Pblico nos processos judiciais. Buscam-se

    informaes necessrias que identifiquem o exato momento e lugar da realizao de atos

    preparatrios e de execuo de delitos praticados por organizaes criminosas, obedecendo-se

    aos preceitos legais e constitucionais para a atividade policial e as garantias individuais.

    Quem deve desenvolver a inteligncia policial, naturalmente, so as polcias civis e

    militares estaduais e a polcia federal, no cabendo esse tipo de atividades a rgos como a ABIN

    ou aos setores de inteligncia fiscal. Entretanto, quando se faz referncia s atividades das

    organizaes criminosas, a simples inteligncia policial torna-se efmera e de pouca utilidade

    para a garantia de segurana pblica, se no for combinada com a inteligncia governamental.

    COOPERA

    O INTERNACIONAL

    A cooperao internacional entre os rgos de inteligncia outro instrumento de

    grande relevncia no combate ao crime organizado. Nesse sentido, alm do intercmbio de

    informaes entre os servios de inteligncia e seus congneres estrangeiros, tambm merecem

    destaque as iniciativas relacionadas a atividades conjuntas em encontros de cpula entre as

    autoridades dos vrios servios, bem como o envio de agentes para treinamento nas escolas de

    inteligncia das naes amigas.

    O intercmbio de dados e conhecimentos entre os servios de inteligncia

    essencial para o combate s atividades de organizaes criminosas transnacionais. No caso

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    especfico do Brasil, fundamental que sejam mantidos contatos diretos e constantes entre os

    rgos de inteligncia do Pas e seus congneres do Hemisfrio, dos pases africanos e das naes

    europias e asiticas. Vale lembrar que pelo Brasil passam rotas importantes das atividades do

    crime organizado.A droga produzida nos pases andinos e destinada ao mercado consumidor

    europeu e estadunidense, por exemplo, passa em larga escala pelo territrio brasileiro. Alm

    disso, o Brasil costuma ser utilizado por organizaes criminosas vinculadas prostituio, ao

    trfico de escravas brancas e, ainda, alvo do trfico de animais e plantas e da biopirataria.

    Portanto, para a produo de conhecimentos de inteligncia eficazes, faz-se necessrio o

    intercmbio de dados entre os rgos de inteligncia sobre rotas, pessoas envolvidas em

    atividades criminosas e tipologias desenvolvidas pelo crime organizado.

    Uma vez que o crime organizado gera problemas que ultrapassam as fronteiras

    nacionais, cada vez mais complicado tentar neutralizar as atividades das organizaes

    criminosas com polticas nacionais isoladas. Assim, essencial a cooperao entre os rgos de

    inteligncia, sobretudo dos pases do Hemisfrio, para o estabelecimento de estratgias conjuntas

    de ao. Essa cooperao pode ser estimulada por encontros peridicos das cpulas dos serviosde inteligncia dos pases do continente, nos quais sejam discutidos os grandes temas de

    segurana e buscadas linhas conjuntas para as operaes de inteligncia destinadas a neutralizar

    as atividades do crime organizado.

    Finalmente, convm mencionar o grande valor do envio de servidores dos rgos

    de inteligncia para treinamento junto aos centros de formao dos pases amigos. Alm do

    aprimoramento dos quadros no que concerne a tcnicas e mtodos diversificados, o treinamento

    externo permite o contato com colegas estrangeiros, garantindo a consolidao das comunidades

    de inteligncia hemisfrica e internacional. Nesse sentido, importantes passos tm sido dados

    pelos rgos de inteligncia brasileiros, sobretudo a ABIN e sua ESINT para permitir que seus

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    quadros sejam enviados para treinamento junto a servios de inteligncia dos pases do Mercosul,

    do Hemisfrio e at de outros continentes. Alm disso, anualmente, parte do oramento da

    ESINT destinado a cursos de formao e aperfeioamento de pessoal oriundo de pases amigos,

    com destaque para as naes latino-americanas e africanas.

    Portanto, apesar de todas as dificuldades pelas quais passa o setor pblico no

    Brasil e em outros pases do hemisfrio, tem aumentado o intercmbio internacional entre os

    servios de inteligncia. Essa cooperao certamente j produz efeitos positivos no combate ao

    crime organizado.

    A REALIDADE BRASILEIRA

    A comunidade de inteligncia brasileira pode ser de grande utilidade no combate

    ao crime organizado. Entretanto, h alguns aspectos que necessitam de aperfeioamento para

    facilitar a ao dos rgos de inteligncia no Brasil, os quais relacionamos a seguir.

    1. Necessidade de implementao de mecanismos de cooperao, coordenao e controle

    Talvez o maior problema da efetividade das aes de inteligncia no Brasil seja a

    ausncia de um sistema que promova a cooperao entre os diversos rgos que atuam nessa

    rea. O que se percebe que, na maior parte dos casos, h dificuldade de integrao entre rgos

    como a polcia, os organismos de fiscalizao e a ABIN. Esse problema perceptvel tambm em

    outros pases onde no h um rgo central de inteligncia interna como no caso dos EUA. O

    crime organizado, por sua vez, encontra-se bem estruturado e tira proveito dessa ausncia de um

    ente que assuma a direo das aes de inteligncia na segurana pblica.

    A soluo plausvel para o problema pode ter incio pelo estabelecimento de

    legislao que d o devido respaldo a um rgo central de inteligncia no caso brasileiro, a

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    ABIN , para que a ele sejam encaminhadas cpias de todos os documentos de inteligncia

    produzidos pelos diferentes rgos.

    Claro que tal conduta implicaria uma reestrutura

    o nos procedimentos internos decada rgo, o que encontra resistncias e exigiria incremento de pessoal, equipamentos,

    treinamento e mudanas nas diretivas da ABIN. Difcil, entretanto, ser que se consiga qualquer

    ao efetiva sem a centralizao das informaes geradas pela comunidade de inteligncia. O

    SISBIN e o Subsistema de Inteligncia de Segurana Pblica devero contribuir para esse

    trabalho.

    No caso brasileiro, o estabelecimento de um rgo centralizador das informaes

    fornecidas pela comunidade de inteligncia requer mesmo que se repense o papel da ABIN nesse

    contexto. Alguns especialistas em inteligncia e segurana pblica argumentam que a ABIN

    deveria ficar encarregada apenas de inteligncia externa, deixando-se para outro rgo as

    questes relacionadas segurana pblica e inteligncia interna.

    2. Criao de um sistema de bancos de dados de inteligncia nacional

    Outro aspecto que no Brasil dificulta o emprego da inteligncia no combate ao

    crime organizado a ausncia de um banco de dados nacional que rena todas as informaes

    processadas pelos diversos rgos e as centralize, disponibilizando-as para os outros entes do

    sistema tudo isso em conformidade com a legislao relacionada ao sigilo das informaes. No

    caso brasileiro, ainda no h legislao que garanta o encaminhamento e a segurana dos dados

    de inteligncia entre os rgos.

    A ausncia de um banco de dados nacional para a atividade de inteligncia um

    problema sem grandes dificuldades de resoluo, mas que tem contribudo para a ineficincia da

    atividade de inteligncia em diversos setores da Administrao Pblica.

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    3. Ausncia de Cultura de Inteligncia entre os rgos da Administrao Pblica

    A presente questo envolve as deficincias e vulnerabilidades relacionadas falta

    de conhecimento de condutas e procedimentos essenciais para instituies e agentes pblicos que

    lidam com informaes sigilosas e com pessoas e temas relacionados segurana. Essa cultura

    pode ser estimulada por meio de treinamentos e a apresentao da atividade de inteligncia a

    esses rgos.

    A ABIN tem promovido cursos para magistrados, membros do Ministrio Pblico

    e servidores da Administrao Pblica direta e indireta, federal e estadual, que lidam com

    questes relacionadas ao combate s organizaes criminosas. Tais cursos tm gerado efeitos

    bastante positivos, em especial junto a representantes do Poder Judicirio e do Ministrio

    Pblico, que passam a se conscientizar de que mecanismos de inteligncia podem ser utilizados.

    Alm do estmulo ao entrosamento e cooperao entre os agentes pblicos, os

    cursos ministrados pela ESINT poderiam garantir o estabelecimento de uma cultura de

    inteligncia na Administrao Pblica, o que de significativa importncia para a garantia do

    sigilo e da preservao e difuso de dados essenciais segurana pblica. No se trata de

    restabelecer as estruturas tentaculares danosas do antigo SNI, mas, sim, o incentivo percepo

    da importncia da atividade de inteligncia no Estado democrtico e a aplicao desses

    conhecimentos no combate s organizaes criminosas.

    4. Dificuldades oramentrias

    As dificuldades oramentrias so um dos maiores empecilhos atividade de

    inteligncia no Brasil, como acontece na maioria dos pases latino-americanos. Apenas para citar

    o exemplo da ABIN, esse rgo tem aprovado para 2003 um oramento de cerca de US$

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    40,000,000.00, dos quais a maior parte destina-se a pagamento de pessoal. A situao dos setores

    de inteligncia das polcias e de outros rgos brasileiros no muito diferente.

    N

    o se pode pensar em preven

    o e muito menos em combate

    s atividades dasorganizaes criminosas sem um investimento significativo em inteligncia. Afinal, investimentos

    em inteligncia costumam dar retorno maior que a simples aplicao de recursos na soluo de

    questes como a superlotao de presdios ou a falta de equipamentos e pessoal das polcias no

    que essas tambm no sejam de grande relevncia.

    Um exemplo de quanto o investimento em inteligncia pode dar retornos mais

    concretos refere-se aos recursos aplicados em inteligncia financeira. Com apoio a essas

    atividades pode-se chegar s altas somas de dinheiro aplicadas pelas organizaes criminosas e

    neutraliz-las em seu aspecto mais vulnervel: a transformao de seus recursos ilcitos em

    lcitos. O investimento no combate lavagem de dinheiro requer grandes recursos para o

    aperfeioamento de tcnicos e de equipamentos, mas com retorno garantido.

    O PAPEL DO PARLAMENTO

    O Poder Legislativo pode ter papel de destaque no apoio atividade de inteligncia

    para o combate ao crime organizado, por meio de aes parlamentares no-legislativas que

    conduzam ao debate a respeito da necessidade de legislao regulamentando as aes de

    inteligncia em termos de competncias gerais a um rgo central de inteligncia, o qual teria

    poderes de coordenar e controlar as atividades dos diferentes entes da Administrao que atuem

    na rea de informaes.

    Ainda que no Brasil as medidas relacionadas reestruturao de rgos da

    Administrao Pblica a includos os rgos da rea de Inteligncia sejam de iniciativa do

    Presidente da Repblica, o Poder Legislativo tem competncia para tratar de questes relativas

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    legislao sobre as atividades de inteligncia e divulgao de informaes sigilosas. Da que

    podem ser pensadas aes concretas no sentido de:

    estabelecimento de normas que obriguem o intercmbio de informaes entre

    os rgos de inteligncia;

    apoio a projetos de cooperao com organismos estrangeiros e internacionais

    que combatem as organizaes criminosas;

    atuao para incremento oramentrio s atividades de inteligncia.

    Alm disso, no caso brasileiro, cabe destacar que a Comisso Mista de Controle da

    Atividade de Inteligncia (CCAI) possui, entre suas atribuies, apresentar sugestes, emitir

    pareceres, manifestar-se sobre ajustes e convnios e analisar a proposta oramentria destinada

    Inteligncia. A referida Comisso, portanto, tem condies de mostrar-se atuante junto aos rgos

    do SISBIN, fiscalizando a ABIN e sugerindo aes para o setor. De fato, trata-se (a CCAI) de

    rgo com amplo poder para influenciar e moldar uma cultura estratgica de combate ao crime

    no mbito da Administrao Pblica brasileira.

    Assim, o parlamento brasileiro pode ter grande destaque no apoio ao uso da

    atividade de inteligncia no combate ao crime organizado, por meio de atuao na elaborao das

    leis sobre inteligncia, auxlio na dotao oramentria ao setor de inteligncia e, ainda, pelas

    aes da Comisso Mista de Controle da Atividade de Inteligncia (CCAI) e de suas Comisses

    ou Subcomisses permanentes de Segurana Pblica. Cabe ao Congresso Nacional, como

    representante da sociedade, legitimar e fomentar a importncia de uma cultura de inteligncia

    perante a nao e o Governo.

    CONCLUSES

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    Alm de operaes de busca dos conhecimentos protegidos, a atividade de

    inteligncia desenvolve trabalhos de anlise estratgica, empregando procedimentos sistemticos,

    estudos e avaliaes, com o objetivo de identificar e compreender as caractersticas e modos de

    atuao das organizaes criminosas e de seus componentes. Para o combate ao crime

    organizado, o Poder Pblico necessita da ao coordenada dos diversos rgos de inteligncia

    federais e estaduais.

    Em virtude da complexidade e da amplitude das atividades criminosas em mbito

    interno e transnacional, no adianta buscar combater o crime organizado apenas com atividades

    exclusivas de carter policial. Os setores de inteligncia devem ser acionados, planejamentos

    feitos, e cenrios precisam ser traados. Caso contrrio, a luta ser eterna, e o controle difcil. Da

    o trinmio cooperao, coordenao e controle, que, associado ao quarto elemento, a

    inteligncia, pode conduzir neutralizao das aes criminosas.

    A atividade de inteligncia no Brasil passou por significativas transformaes nas

    ltimas duas dcadas. De um modelo vinculado ao aparelho repressor de um regime de exceo,

    os servios de inteligncia foram completamente reestruturados com base no compromisso com o

    Estado democrtico de direito e a prevalncia dos direitos e garantias individuais. Assim, o

    restabelecimento da democracia no Brasil, em 1985, e seu processo de consolidao a partir de

    ento, contriburam para o desenvolvimento de um novo Sistema Brasileiro de Inteligncia,

    completamente distinto em termos de princpios, objetivos, competncias e mtodos de atuao

    do Sistema Nacional de Informaes do perodo autoritrio.

    Tendo como objetivo central a produo de conhecimentos de inteligncia para

    subsidiar o processo decisrio das grandes autoridades pblicas nacionais, associada

    neutralizao de atividades adversas, sempre com vistas a garantir a manuteno do Estado

    democrtico de direito e a preservao dos direitos individuais constitucionalmente consagrados,

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    o SISBIN e seus rgos percebem no crime organizado a maior ameaa s instituies e

    segurana dos brasileiros. E, uma vez que as organizaes criminosas aperfeioam

    constantemente seus mtodos, prticas, reas de atuao e vnculos, aqueles que combatem o

    crime tm que acompanhar essa evoluo.

    Atualmente, essencial o trabalho da atividade de inteligncia no combate ao

    crime organizado. No Brasil, apesar das dificuldades e dos inmeros obstculos ainda a serem

    superados, pode-se perceber uma significativa melhoria no combate s organizaes criminosas

    nacionais e transnacionais com a utilizao dos recursos de inteligncia. Nesse sentido, a

    participao do Poder Legislativo adquire relevncia tanto em virtude dos mecanismos de

    controle que dispe para coibir eventuais excessos, quando como meio de demonstrar a

    legitimidade e o apoio de todos os brasileiros atividade de inteligncia. O controle atribudo ao

    Poder Legislativo configura-se na principal garantia de que as organizaes de inteligncia e seus

    agentes conduziro suas atividades dentro dos princpios democrticos e do respeito aos direitos

    humanos e ordem instituda.

    Fundamental tambm a cooperao entre os rgos internos que compem o

    SISBIN e o Sistema Brasileiro de Segurana Pblica, produzindo-se aes coordenadas sob a

    gide de um rgo central e sob controle interno e externo, com nfase na fiscalizao pelo Poder

    Legislativo. E essa cooperao deve ser entendida aos congneres de outros pases, em especial

    os do hemisfrio, e com as organizaes internacionais relacionadas segurana. Afinal, as

    organizaes criminosas transnacionais pautam muitas de suas aes na cooperao, na

    coordenao e no estabelecimento de parcerias para conduzirem suas atividades ilcitas por todo

    o globo.

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