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Carlos Alberto Marchi de Queiroz - Crime Organizado No Brasil

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  • Carlos Alberto Marchi de Queiroz, bacharel em Direito pela Universidade Catlica de Campinas, hoje Pontifcia, tem cursos de mestrado e de doutorado pela Universidade de So Paulo. Mestre em Direito Penal pela Faculdade de Direito do Largo de So Francisco, professor titu- lar da Faculdade de Direito da UNISA, ex- professor titular da Faculdade de Direito da Unicid e ex-professor titular da Facul- dade de Direito de Guarulhos, pertencente s Faculdades Integradas. delegado de Polcia em So Paulo e professor, por con- curso, de Inqurito Policial na Academia de Polcia de So Paulo, onde, em 1991, teve assento na Congregao, como diri- gente da Unidade de Polcia Administrati- va. Oficial da Reserva do Exrcito, da Arma de Infantaria, tendo sido convocado para o servio ativo nos anos de 1965, 1966 e 1967. membro ativo da IACP - - International Association of Chiefs of Police. Advogado militante, de 1968 a 1976, participou como membro do Grupo de Trabalho institudo "conjuntamente pelas Secretarias da Justia e da Defesa da Cida- dania e da Segurana Pblica, em julho de 1991, na elaborao .da programao da disciplina "Direito da Cidadania", inse- rida no currculo das Escolas de Polcia do Estado. Tem especializao em combate ao narcotrfico pela National Police Agency do Japo, em 1988. No primeiro semestre de 1991, freqentou curso similar, sobre entorpecentes, na Escola Paulista da Magis- tratura, em So Paulo. Em outubro de 1993 participou, como representante da Polcia Civil de So Paulo, do 100 Congresso da IACP, em Saint Louis, Missouri, EUA. Em novembro de 1995 foi selecionado pela Royal Canadian Mounted Police-Gendar- merie Royale du Canadas para o Foransic Interviewing Course do Canadian Police College, em Ottawa. colaborador dos jornais O Estado de S. Paulo, Tribuna do Direito, do Boletim do IBCCrim, Instituto Brasileiro de Cincias Criminais, e da Revista dos Tribunais. conferencista e tradutor. Tem o Curso Superior de Polcia da Academia de Polcia de So Paulo. titular da cadeira n 11 da Academia de Cincias, Letras e Artes dos Delegados de Polcia do Estado de So Paulo.

  • CRIMEORGANIZADO

    NOBRASIL

  • CARLOS ALBERTO MARCHI DE QUEIROZ

    CRIMEORGANIZADO

    NOBRASIL

    COMENTRIOS LEI N 9.034/95ASPECTOS POLICIAIS E JUDICIRIOS

    TEORIA E PRTICA

    1998

  • Copyright by Carlos Alberto Marchi de Queiroz Copyright 1998 by Iglu Editora Ltda.

    Editor responsvelJulio Igliori

    SupervisoCarlos Alberto Marchi de Queiroz

    RevisoCarlos Alberto Marchi de Queiroz

    ComposioReal Produes Grficas Ltda.

    CapaOsmar das Neves

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Queiroz, Carlos Alberto Marchi de, 1943Crime organizado no Brasil : comentrios Lei n 9.034/95 : aspectos

    policiais e judicirios : teoria e prtica / Carlos Alberto Marchi de Queiroz. So Paulo : Iglu, 1998.

    Bibliografia.

    1. Crime organizado 2. Crime organizado Brasil 3. Crimes (Direitopenal) 4. Crimes (Direito penal) Brasil 5. Criminologia Aspectos sociais6. Direito penal Brasil I. Ttulo.

    98-1205 CDU343.232(81)(094.56)

    ndices para catlogo sistemtico:

    1. Brasil : Comentrios : Crime organizado : Leis :Direito penal 343.232(81)(094.56)

    2. Brasil : Leis : Crime organizado : Comentrios :Direito penal 343.232(81)(094.56)

    Proibida a reproduo total ou parcial desta obra, por qualquer meio eletrnico, mec-nico, inclusive por processo xerogrfico, sem permisso expressa do Editor (Lei n5.988, de 14.12.73).

    Todos os direitos reservados

    IGLU EDITORA LTDA.Rua Dulio, 386 Lapa05043-020 So Paulo-SPTel: (011) 3873-0227

  • DEDICATRIA

    Dedico este trabalhoa Ferno de Oliveira Santos,

    pela sua atuao no combate ao crime organizado,na rea central de So Paulo, nos anos de 1997 e 1998.

  • HOMENAGEM

    Nossa sincera homenagem ao Dr. CludioGobbetti, delegado da Polcia Civil do Estadode So Paulo, e aos Drs. Jos Ercdio Nunes,Roberto Precioso, Manoel Adam LacayoValente e Sergio Sakon, delegados da PolciaFederal, pela intensa participao no processolegislativo da Lei n 9.034/95,honrando,sobremaneira, a Polcia brasileira, apesar doinexplicvel veto presidencial infiltraopolicial em organizaes criminosas.

  • Sermo do Bom Ladro

    Suponho que os ladres de que falo no so aqueles miserveis aquem a pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este gnero devida, porque a mesma sua misria ou escusa ou alivia o seu peca-do, como diz Salomo: O ladro que furta para comer no vai nemleva ao inferno. Os que no s vo, mas levam, de que eu trato, soos ladres de maior calibre e de mais alta esfera, os quais debaixo domesmo nome e do mesmo predicamento distingue muito bem SoBaslio Magno. No so ladres, diz o Santo, os que cortam bolsas,ou espreitam os que vo se banhar, para lhes colher a roupa; osladres que mais prpria e dignamente merecem este ttulo so aque-les a quem os reis encomendam os exrcitos e legies, ou o governo dasprovncias, ou a administrao das cidades, os quais j com manha,j com fora, roubam e despojam os povos. Os outros ladres roubamum homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixodo seu risco, estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, soenforcados, estes furtam e enforcam.

    Pe. Vieira

  • PRESSA DE JUSTIA

    Quem no pergunta, no quer saber. Quem no quersaber, quer errar. O Sermo de So Pedro, pregado porVieira em Lisboa, se completa em harmonia com outro enun-ciado no sermo da Santssima Trindade, pregado em 1642no Maranho: O ponto mais alto, o mais fino e o mais difcilda sabedoria no o saber; o saber encobrir o que sabe.

    No preciso ser um Scaramouche para o touch na esgri-ma terica sobre a violncia, mas preciso ter sensibilidadepara se apreciar o bom combate e, mais do que isso, percebero que est acontecendo no pas. O trabalho de Carlos AlbertoMarchi de Queiroz, mergulhando no desafiante tema CrimeOrganizado no Brasil, representa uma dessas oportunidades dese tomar flego e examinar o panorama criminal nessa terrachamada Brasil, que se aproxima velozmente dos 500 anos. Aobra, de profundo contedo, oferece um espectro sobre o quetemos de meditar, decidir e implantar nesse final de sculo,j com frmula e conceitos corrodos pelos cidos da moder-nidade, e que na implacvel e galopante globalizao vai eli-minando todos os espaos para o empirismo, a improvisao,os palpites amadorsticos.

    A Nao grita: com razovel freqncia, casos de impac-to comovem, acordam os legisladores para amenizar o trau-ma proveniente das vozes das ruas. Em busca de respostas,nomeia-se uma comisso, que sempre quer trabalhar a toquede caixa e l vamos ns, assim, assistir de novo ao mesmofilme que estamos cansados de ver.

  • aqui que entram as observaes atentas de Marchide Queiroz, convidando-nos, semelhana de MargheriteYourcenar em Memrias de Adriano, a lanar um olhar inteli-gente sobre ns mesmos.

    A realidade est escancarada nossa frente. Ao contr-rio do caso daquela senhora que fez cirurgia plstica no rostoe quando viu o resultado no gostou e mandou trocar o espe-lho, preciso tentar mudar essa realidade pela prpria reali-dade, como recomendava Brecht.

    Hoje no Brasil est se confundindo filosofia de legislaode pena com presdios lotados. Para esvazi-los, imagina-seisto e aquilo, fugindo portanto do epicentro da questo. Estcomplicado, por exemplo, enfatizar apenas o menor poten-cial ofensivo e reservar a priso s para criminosos no peri-gosos. verdade que a priso no est cumprindo seu tericopapel ressocializante, mas tambm verdade que a maioraflio da sociedade brasileira gira em torno dos criminososde maior potencial ofensivo, os que precisam ser segregados eno aqueles que podem ficar soltos. A forma no pode maisprevalecer sobre a substncia. No basta mais o raciocnio lgi-co, que deve ceder espao inteligncia. A opo por novosmtodos tem que ser adotada a partir de questes concretas. preciso saber avaliar e fazer.

    Cabea no continente europeu e o resto do corpo em pasde Terceiro Mundo, nossos legisladores gostam de legislarfcil sem perguntar, sem querer saber, como se fossem habi-tantes de um inacessvel Olimpo (enquanto l embaixo sofremos seres mortais), quase sempre equipados com dois instru-mentos de trabalho: a tesoura e a cola. Copiam ensinamen-tos de autores estrangeiros, vivem de citaes e no demons-tram preocupao em adequar a lei realidade nacional. Asociedade brasileira no agenta mais os diagnsticos simplis-tas, as anlises aliceradas em teses e no em fatos, o vcuoentre o que acontece de verdade e a imaginao de algunsfora de sintonia com o mundo.

    Podemos deduzir at que em vez de acertar a legislaoem primeiro lugar, para depois ajust-la ao panorama das

  • ruas (observe: nem sempre o que est nas ruas faz parte dosCdigos, e vice-versa), precisamos percorrer caminho inverso.Em outras palavras: primeiro, a busca dos fatos; depois, as leissobre pilares slidos. H um provrbio chins, bem expressi-vo, que se ajusta a esse raciocnio: Quando a carroa estcheia, no se bate no burro. Diminui-se a carga. O Direitoprecisa ser compreendido pelos homens simples das ruas,como pregava Bettiol, o grande penalista italiano.

    Diminuir a carga na pesada carroa brasileira no ape-nas esvaziar prises, premiar a delinqncia, institucionalizara impunidade, prevalecer situaes factuais em detrimentode uma escala tica de valores.

    Hoje temos computadores, micros, terminais, sistemas,tudo a evidenciar que a populao tem sede e pressa de Jus-tia. As leis que a esto dividem os distribuidores dessa Justiaem mos pesadas ou leves, separa magistrados em corren-tes e cria at a ala de um direito que se pretende alternativo.Se nem os profissionais da rea no apreciam o que a est,quanto mais a sociedade!

    O crime organizado, polvo da modernidade, possui estru-tura, base, ramificaes, poder e agilidade. Enfrent-lo exigeno mnimo organizao, tambm. Sobre o contedo do livro deMarchi de Queiroz, nada preciso acrescentar: como umapgina ainda em branco a ser escrita, o autor traa o panora-ma atual, elenca o que se pode fazer e as ltimas tentativasde enfrentar o crime organizado. Abre as portas que podemajudar a proporcionar o to esperado momento de se daruma forte guinada no sistema de controle social.

    PERCIVAL DE SOUZAJornalista e Escritor

  • NDICE

    1. Da definio de ao praticada por organizaes criminosas edos meios operacionais de investigao e prova (Parte I) ............... 17

    2. Da preveno do sigilo constitucional (Parte I) ................................. 25

    3. Das disposies gerais (Parte I) ........................................................... 31

    4. O crime organizado brasileiro em So Paulo (Parte II) ....................... 39

    5. Aula magna da juza Denise Frossard, na FMU, de So Paulo(Parte II) .................................................................................................... 47

    6. A Operazione Mani Pulite em So Paulo (Parte II) ......................... 51

    7. Os debates do IBCCrim, em So Paulo (Parte II) ................................ 55

    8. O papel da Unicid no combate ao crime sem fronteiras (Parte II) .... 61

    9. O crime organizado nos EUA, observado por delegados de Pol-cia paulistas (Parte II) ............................................................................. 67

    10. O processo legislativo brasileiro, em andamento, sobre o crimeorganizado (Parte II) ............................................................................... 71

    11. Quadrilha ou bando, um crime tipicamente brasileiro (Parte II) ....... 73

    12. Da definio de ao praticada por organizaes criminosas edos meios operacionais de investigao e prova (Parte III) ............. 77

  • 13. Da preservao do sigilo constitucional (Parte III) ........................... 81

    14. Das disposies gerais (Parte III) ......................................................... 85

    Legislao federal ................................................................................... 91

    Presidncia da Repblica Mensagem n 483 ................................... 93

    Lei n 9.034, de 3 de maio de 1995 ......................................................... 95

    Lei n 9.303, de 5 de setembro de 1996 ................................................. 99

    Lei n 9.426, de 24 de dezembro de 1996 .............................................. 101

    O processo legislativo da Lei n 9.034/95 ............................................ 105

    Legislao paulista de combate ao crime organizado ........................ 117

    A autoridade policial e o crime organizado (modelos) ...................... 129

    Documentao jornalstica de apoio .................................................... 151

    Dados estatsticos sobre roubos a banco em 1995 e 1996 ................ 169

    Legislao Federal .................................................................................. 179

    Bibliografia ............................................................................................... 189

  • 1DA DEFINIO DE AO PRATICADAPOR ORGANIZAES CRIMINOSAS

    E DOS MEIOS OPERACIONAISDE INVESTIGAO E PROVA

    (PARTE I)

    Art. 1 Esta Lei define e regula meios de prova e procedimentosinvestigatrios que versarem sobre crime resultante de quadrilha oubando.

    Glosa

    A expresso quadrilha ou bando, preciso inicialmen-te alertar, ajusta-se, induvidosamente, ao tipo penal descritopelo artigo 288 do CP, que consiste em associarem-se maisde trs pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de come-ter crimes, e, tambm, modalidade qualificada do crimede quadrilha ou bando armado.

    Brota, de imediato, da leitura do texto do artigo vestibu-lar, flagrante impropriedade legislativa, uma vez que sua dicoexige, para uma perfeita tipificao, mais de trs pessoas, cir-cunstncia que afasta, desde logo, qualquer conduta desvianteassemelhada, praticada por at trs pessoas.

    Semelhante exigncia legal, inquestionavelmente, poder,no futuro, dar margem a ardis e chicanas, frustrando-se, nos ju-zos e tribunais, mediante utilizao de tecnicismos, a luta da

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    Polcia e da Justia contra o crime organizado, no sendo total-mente ocioso lembrar que essa infrao penal, alm de exigirum mnimo de quatro pessoas, demanda, ainda, organizaocriminosa estvel.

    A impropriedade da redao compromete, tambm, ocombate s prticas contravencionais, especificamente, o jogodo bicho, alm do comrcio ilegal de armas de fogo e as lote-rias clandestinas.

    Dentro desse quadro de incertezas, ao iniciar o Brasil ocombate jurdico ao crime organizado, para ns ainda em fasepr-mafiosa, s resta lamentar que o legislador penal nacionalno tenha colocado nas mos dos operadores do Direito umadefinio mais transparente de organizaes criminosas, limi-tando-se, apenas e to somente, expresso bando ou qua-drilha, crime eminentemente brasileiro, incorporado ao nossoordenamento penal, na dcada de 30, para dar combate aLampio e seus comparsas.

    Diante desse contexto restrito de combate, circunscritoao crime de quadrilha ou bando, dificilmente a Polcia poderagir contra os desmanches, o trfico de mulheres, principalmen-te em direo Espanha e ao Japo, os furtos e roubos de ve-culos e de cargas, a falsificao de moeda, to em voga noBrasil e na Alemanha, que exporta reais falsificados com altatecnologia, a impiedosa degradao da ecologia, inclusive daflora e da fauna, os grupos de extermnio, o crime do colari-nho branco, a sonegao fiscal, a lavagem de dinheiro, o tr-fico nacional, e internacional, de entorpecentes, a extorsomediante seqestro, os crimes contra as relaes de con-sumo e a ordem econmica, a cartelizao da economia, aremessa ilegal de divisas para o exterior e a invaso de terras.

    A timidez da norma inaugural, certamente, facilitar aatividade dos advogados criminalistas do Pas, uma vez que aexpresso crime resultante de aes de quadrilha ou bandofar com que o Poder Judicirio, provocado, afaste o empregoda Lei n 9.034/95 dos apontados comportamentos desviantes,existentes no Pas, e por existir, exceto o art. 288 do CP.

  • CRIME ORGANIZADO NO BRASIL 19

    Enfim, o pecado original desse diploma legal, principal-mente no que tange indefinio de seus termos, neutraliza,pela raiz, eventual eficcia de seu objetivo inicial.

    Art. 2 Em qualquer fase de persecuo criminal que verse sobreao praticada por organizaes criminosas so permitidos, alm dosj previstos na lei, os seguintes procedimentos de investigao e forma-o de provas:

    Glosa

    Apesar de J. Frederico Marques haver cunhado a ex-presso fase pr-processual da persecuo penal para de-signar a etapa da investigao policial, quer nos parecer que aexpresso fase da persecuo criminal constante do artigo2 da Lei 9.034/95 incorpora, tambm, o inqurito policial.

    I (VETADO)

    Glosa

    Ao sancionar a Lei n 9.034/95, o Presidente da Repbli-ca vetou o inciso I do art. 2, que permitia a infiltrao depoliciais em quadrilhas ou bandos com a finalidade de obten-o de provas.

    O inciso rejeitado recebera a seguinte redao:A infiltrao de agentes da polcia especializada em quadrilhas

    ou bandos, vedada qualquer coparticipao delituosa, exceo feita aodisposto no art. 288 do Decreto-Lei n 2.848, de 7 de dezembro de 1940 Cdigo Penal, de cuja ao se preexclui, no caso, a antijuridicidade.

    De acordo com o parecer do Ministrio da Justia, o dispo-sitivo, nos termos em que foi aprovado, contraria o interessepblico, uma vez que permite que o agente policial, indepen-

  • CARLOS ALBERTO MARCHI DE QUEIROZ20

    dentemente de autorizao do Poder Judicirio, se infiltre emquadrilhas ou bandos para a investigao de crime organizado.

    Depois de assinalar que o texto diferia da forma original,subscrita pela Comisso de Constituio, Justia e Redao,que condicionava a infiltrao autorizao judicial, o parecerressalva: Alm do mais, deve-se salientar que o dispositivo emexame concede expressa autorizao legal para que o agenteinfiltrado cometa crime, preexcluda, no caso, a antijuridici-dade, o que afronta os princpios adotados pela sistemtica doCdigo Penal.

    Esse inciso, includo no projeto a pedido da Polcia Fede-ral e de outras instituies policiais brasileiras, espelha proce-dimento corriqueiro em Estados da Unio norte-americana,e que, a bem da verdade, poderia revestir-se de grande utili-dade na represso ao crime organizado brasileiro.

    Todavia, a vedao de qualquer coparticipao delituosa,teria o condo de neutralizar seus objetivos principais, fazendodo policial infiltrado um suspeito em potencial aos olhos dosdemais integrantes da organizao criminosa investigada, umavez que, enquanto agente, no poderia participar das fasesdo iter criminis, eximindo-se, unicamente, quando envolvido notipo penal previsto pelo artigo 288 do Cdigo Penal.

    A infiltrao dos agentes da polcia especializada em qua-drilhas ou bandos poderia, perfeitamente, ser implantada noBrasil, desde que monitorada por diplomas legais e adminis-trativo-disciplinares, que neutralizassem a interao do policialcivil com a quadrilha ou bando sob investigao, impedindoenvolvimentos reais dos infiltrantes com os infiltrados.

    Nos EUA, as principais tcnicas e mtodos freqentemen-te utilizados no combate ao crime organizado, so trs: a opera-o undercover, o uso de informantes e a vigilncia eletrnica.

    A primeira delas a infiltrao, legal e legtima, de agen-tes do governo nas organizaes criminosas. No Brasil, inex-plicavelmente, esse meio de coleta de provas foi afastado atra-vs de simples veto, cuja fundamentao moral no se ajusta dinmica do policiamento preventivo especializado deste finalde sculo.

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    A Lei n 9.034/95, lamentavelmente, no previu o usode informantes e da vigilncia eletrnica, permitidas nos Esta-dos Unidos. Os informantes, diferentemente do que aconteceno Brasil, onde so conhecidos como gansos ou X 9, soconstantemente utilizados.1 Os promotores ianques deles sevalem como cabeas-de-ponte nas investigaes, enquantofontes de informaes de background, to somente.

    A vigilncia eletrnica, por seu turno, operacionalizadaatravs da escuta telefnica, do uso de computadores, de cma-ras de vdeo e de aparelhos de fax, para rastrear operaes cri-minosas organizadas atravs de seu sistema de comunicaes.

    Em nosso Pas, a prova obtida por meios eletrnicos j considerada lcita, no se compreendendo como o legislador,tenha deixado passar tanto tempo.2

    II ao controlada, que consiste em retardar a interdio poli-cial do que se supe ao praticada por organizaes criminosas ou aela vinculado, desde que mantida sob a observao e acompanhamentopara que a medida legal se concretize no momento mais eficaz do pontode vista da formao de provas e fornecimento de informaes.

    Glosa

    De acordo com a exegese do inciso II do artigo 2, a Pol-cia no mais obrigada a efetuar a priso em flagrante no ato,prolongando o acompanhamento das atividades criminosasat alcanar os agentes e o produto do crime, prendendo osenvolvidos no momento adequado.

    1. BRANCA DE NEVE, um dos personagens da srie de TV, Baretta,ilustra a prtica.

    2. MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto, A teoria da rvore dosfrutos envenenados, in RT 717/518.

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    Trata-se, concessa venia, de medida que invade atribuiodo Poder Judicirio, j que pode dar margem a eventuaisarbitrariedades, e outros desvios, visto que confere ao policialpoderes judiciais.

    Vale lembrar, agora, que o veto presidencial ao inciso Ido artigo 2 torna invivel a instrumentalizao do inciso II,posto que, sem a infiltrao, torna-se praticamente impossvela observao e o conseqente acompanhamento objetivando-se o monitoramento da ao controlada mencionada no incioda sua redao.

    Meditando-se, profundamente, sobre semelhante aspec-to, pode-se chegar concluso que sua operacionalizaopoder conduzir os policiais pelos caminhos ilegais do flagran-te preparado que, jurisprudencialmente, esbarra na Smula145 do STF.

    Efetivamente, a ao controlada consistente no retarda-mento da interdio policial ajusta-se, como uma luva, ao con-ceito de flagrante diferido, flagrante prorrogado, ou, ain-da, flagrante retardado*, e, qui, frustrao da aplicaoda lei penal, quando, por eventual inpcia dos agentes, ocorraa consumao ou o exaurimento do crime rastreado.

    A ttulo de arremate, como anteriormente observado, afigura delineada pelo inciso II no se presta represso docrime organizado, principalmente pela vedao presidencialimposta, que, supostamente, contrariaria o interesse pblico,uma vez que permite que o agente policial, independente-mente de autorizao do Poder Judicirio, se infiltre emquadrilha ou bandos para a investigao de crime organiza-do, como diz a mensagem n 483 do Presidente da Repbli-ca ao presidente do Senado Federal.

    III o acesso a dados, documentos e informaes fiscais, banc-rias, financeiras e eleitorais.

    * Vide modelo s pgs. 129/131.

  • CRIME ORGANIZADO NO BRASIL 23

    Glosa

    Como se verifica, a lei sancionada permite a quebra desigilo bancrio, fiscal, financeiro e eleitoral de qualquer sus-peito de participao em crime de quadrilha ou bando.

    Nesse contexto, extrai-se da interpretao do caput do arti-go 2, que esse acesso permitido em qualquer fase de per-secuo criminal, ou seja, tanto durante o inqurito policialcomo durante o transcurso da ao penal decorrente.

    Todavia, trata-se de dispositivo redundante uma vez queo sigilo fiscal, garantido pelo artigo 198 do Cdigo TributrioNacional, pode, perfeitamente, ser conhecido pelo juiz, quefar juntar aos autos as informaes colhidas, sem o estarda-lhao acenado pela Lei n 9.034/95.

    O sigilo bancrio, por sua vez, tem sido devassado pelapolcia judiciria, atravs de envio de simples ofcio ao PoderJudicirio, que contornando a garantia imposta pelo 1 doartigo 38 da Lei n 4.595/64, permite a juntada, aos autos doinqurito policial, das informaes fornecidas pelas institui-es bancrias ao magistrado, e sempre endereadas autori-dade policial.

    No fosse isso o suficiente, convm lembrar que a Leidos Crimes do Colarinho Branco, Lei n 7.492/86, em seuartigo 29, pargrafo nico, veda a oposio do sigilo bancrioao Ministrio Pblico Federal, posto que no previsto expres-samente pela Constituio Federal como direito fundamen-tal, mas, talvez, e por extenso, como proteo intimidade,nos termos do inciso X do art. 5 da Lei Maior.

    O sigilo financeiro, em termos de investigao, pode serrompido atravs da mesma conduta policial-judiciria dedu-zida nos comentrios inicialmente feitos, j que os exagerosda Lei n 9.034/95 pretendem tornar mais rgido e hermti-co o atual sistema de investigao.

    Finalmente, em tema de Direito Eleitoral, no intillembrar que o voto secreto, de tal sorte que no pode serdevassado, no tocante ao seu contedo e autoria, mesmo porordem judicial.

  • CARLOS ALBERTO MARCHI DE QUEIROZ24

    Dentro desse quadro, convm salientar que informaeseleitorais no so sigilosas, mesmo porque o inciso XXXIV,alnea b, do art. 5 da Constituio Federal garante cidada-nia o direito obteno de certides para esclarecimento desituaes.

    Alis, os arts. 45, 6, e 371, do Cdigo Eleitoral no con-sideram sigilosas informaes relativas ao alistamento, filia-o, s campanhas eleitorais e s finanas partidrias.

    O apego multifacetado da Lei n 9.034/95 aos casusmostorna-a, indiscutivelmente, uma curiosa contradictio in adjecto.

  • CRIME ORGANIZADO NO BRASIL 25

    2DA PREVENO

    DO SIGILO CONSTITUCIONAL

    (PARTE I)

    Art. 3 Nas hipteses do inciso III do art. 2 desta Lei, ocorrendopossibilidade de violao de sigilo preservado pela Constituio ou porlei, a diligncia ser realizada pessoalmente pelo juiz, adotado o maisrigoroso segredo de justia.

    Glosa

    Muito embora a Lei n 9.034/95 abra alguns espaos Polcia, as diligncias necessrias para a quebra do sigilo ban-crio, fiscal, financeiro e eleitoral sero realizadas, pessoalmen-te, pelo juiz, sob o manto do segredo de Justia, j que pen-dente possvel violao de sigilo preservado pela ConstituioFederal, ou por lei.

    Assim, tornando-se imperiosa a coleta de informaesbancrias, fiscais, financeiras e eleitorais, decorrentes de crimeorganizado, no pode o magistrado delegar a diligncia a ter-ceiros, atravs de determinaes ou permisses, devendo, empessoa, realizar o ato.

    1 Para realizar a diligncia, o juiz poder requisitar o auxliode pessoas que, pela natureza da funo ou profisso, tenham ou pos-sam ter acesso aos objetos do sigilo.

  • CARLOS ALBERTO MARCHI DE QUEIROZ26

    Glosa

    Fcil perceber que o legislador, sem querer, criou, impli-citamente, a figura do juiz de instruo, desconhecida peloordenamento processual penal brasileiro, onde nunca existiu,visto tratar-se de modelo europeu em vias de extino.

    Mais fcil antever sua impossvel operacionalizao, mes-mo durante o transcurso do inqurito policial, pela simplesfalta de previso estrutural do Poder Judicirio, invadindoreas constitucionais reservadas, com exclusividade, polciajudiciria e ao Ministrio Pblico.

    Esse juiz inquisidor, institudo pela Lei n 9.034/95, cons-titui demasia procedimental que, caso implantado, cair, porsi s, na prpria prtica processual penal diria, uma vezque viola, frontalmente, o sistema acusatrio puro consa-grado pelo artigo 129 da Constituio Federal, que atribui,com exclusividade, a iniciativa da ao penal pblica ao parquet,alm, certo, de vir de encontro mxima ne procedat judexex officio.

    Ademais, no transcurso do inqurito policial, caso o magis-trado decida valer-se da lei nova, o presidente do procedimentoinvestigatrio, v.g. o delegado de Polcia, e o destinatrio dasinvestigaes, i.e., o rgo do Ministrio Pblico, estaro afasta-dos do resultado das apuraes procedidas pela Justia, numasituao procedimental jamais vista no Brasil.

    Ocorrendo tal hiptese, a autoridade policial, como acon-tece hoje ao apurar infrao penal tambm objeto de inquritopolicial-militar, certamente far sua prpria investigao semser admitida no conhecimento de detalhes tcnicos ou teste-munhais que poderiam possibilitar o sucesso das investigaesdesenvolvidas pela polcia judiciria.

    A Lei n 9.034/95 colide, indiscutivelmente, com o artigo20 do CPP que, em seu caput, determina que a autoridade,nesse caso o delegado de Polcia ou o juiz de Direito, assegura-r no inqurito o sigilo necessrio elucidao do fato ou oexigido pelo interesse social, impondo conscincia proces-

  • CRIME ORGANIZADO NO BRASIL 27

    sual penal brasileira um procedimento mais hermtico do queaquele exigido pelo prprio Cdigo de Processo Penal.

    Convm salientar, a ttulo de arremate, que o 1 do arti-go 2 deixa antever que, ao realizar a diligncia em pessoa, ojuiz poder ser auxiliado, mediante requisio, por pessoa que,pela natureza da funo ou profisso fiscal, bancria, financei-ra ou eleitoral, tenha ou possa ter acesso aos objetos do sigilo.

    2 O juiz, pessoalmente, far lavrar auto circunstanciado dadiligncia, relatando as informaes colhidas oralmente e anexandocpias autnticas dos documentos que tiverem relevncia probatria,podendo, para esse efeito, designar uma das pessoas referidas no par-grafo anterior como escrivo ad hoc.

    Glosa

    O 2 cria um quadro legal inusitado, pois que, nem oMinistrio Pblico, nem a autoridade policial, nem os funcio-nrios de cartrios e serventias, nem os prprios funcionriosde Justia podero participar das diligncias, mas, s as pessoasreferidas como escrives ad hoc.

    3 O auto de diligncia ser conservado fora dos autos do pro-cesso, em lugar seguro, sem interveno do cartrio ou servidor, somentepodendo a ele ter acesso, na presena do juiz, as partes legtimas em cau-sa, que no podero dele servir-se para fins estranhos mesma, e estosujeitas s sanes previstas pelo Cdigo Penal em caso de divulgao.

    Glosa

    A norma analisada omissa no tocante guarda do autode diligncia, sendo certo que no ficar, como de costume,

  • CARLOS ALBERTO MARCHI DE QUEIROZ28

    sob custdia do escrivo da causa, e fora do frum, em lugarsupostamente mais seguro, em situao anmala que afronta,visceralmente, o Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil,o princpio da publicidade dos atos processuais e o da ampladefesa e, ipso facto, o inciso XXXIV, alnea b, do art. 5 da CFrelativo obteno de certides.

    E, sem qualquer cerimnia, o legislador ousou trazer,como suporte a eventuais violaes desse pargrafo, o CdigoPenal, em caso de divulgao...

    4 Os argumentos da acusao e defesa que versarem sobre adiligncia sero apresentados em separado para serem anexados aoauto da diligncia, que poder servir como elemento na formao daconvico final do juiz.

    Glosa

    Trata-se de dispositivo flagrantemente inconstitucional,por violar, frontalmente, o inciso IX do artigo 5 e o inciso IXdo artigo 93 da Magna Carta, relativos ao princpio da publici-dade dos atos processuais, num exemplo evidente de retroces-so aos tempos do processo secreto, incompatvel com o avanoda doutrina processual penal brasileira deste fim de sculo.

    Difcil imaginar um processo, na fase do artigo 500 doCPP, com apresentao, por parte da acusao e da defesa, dealegaes finais sigilosas e no sigilosas...

    5 Em caso de recurso, o auto de diligncia ser fechado, lacra-do e endereado em separado ao juzo competente para reviso, que deletomar conhecimento sem interveno das secretarias, devendo o rela-tor dar vistas ao Ministrio Pblico e ao Defensor em recinto isoladopara o efeito de que a discusso e o julgamento sejam mantidos emabsoluto segredo de justia.

  • CRIME ORGANIZADO NO BRASIL 29

    Glosa

    A interpretao deste pargrafo permite incurses doutri-natrias sobre mltiplos cerceamentos futuros aos direitos daacusao e da defesa no que tange a recursos ordinrios e extra-ordinrios, sustentaes orais e eventuais impetraes de rem-dios hericos, inibindo a jurisprudncia em hiptese de publi-cao de acrdos em revistas especializadas, e afastando asociedade em relao aos resultados obtidos pelas autoridadesjudicirias no combate ao crime organizado.

    Ser o retorno ao processo secreto, to veementementecombatido pelo grande Beccaria?

  • 3DAS DISPOSIES GERAIS

    (PARTE I)

    Art. 4 Os rgos da polcia judiciria estruturaro setores eequipes especializadas no combate ao praticada por organizaescriminosas.

    Glosa

    Este cnone determina, de forma genrica, a estrutura-o de setores e equipes especializadas no combate ao pra-ticada por organizaes criminosas. Quer nos parecer, salvomelhor juzo, que o preceito dirigido aos rgos e depar-tamentos da Polcia Federal, face natureza da lei federalem exame.

    Estados-membros da Federao, mais avanados, como SoPaulo, h muito tempo vm estruturando seus departamentosno tocante ao crime organizado*, valendo, por ora, lembraro extinto Corpo Especial de Represso ao Crime Organizado(Cerco).

    Art. 5 A identificao criminal de pessoas envolvidas com aao praticada por organizaes criminosas ser realizada indepen-dentemente da identificao civil.

    * Vide legislao paulista s pgs. 117/125 deste livro.

  • CARLOS ALBERTO MARCHI DE QUEIROZ32

    Glosa

    Trata-se, a nosso ver, da primeira tentativa de regulamen-tao do inciso LVIII do art. 5 da Lei Fundamental, que, salvoopinies em contrrio, s poder ser legalmente operacionaliza-da em relao ao art. 288 do Cdigo Penal que tipifica o crimede quadrilha ou bando, mesmo porque a Lei n 9.034/95,de natureza processual penal, no define, nem conceitua, orga-nizao criminosa ou organizaes criminosas, abrindo peri-goso precedente interpretao dos exegetas da Polcia oudo Ministrio Pblico, que podero determinar a identifica-o datiloscpia ao sabor de suas ntimas convices, pensandotratar-se de norma penal substantiva.

    Como se sabe, a Constituio Federal prev que o cida-do ser identificado, apenas e to somente, atravs de suacdula de identidade. No artigo em exame, a identificaocriminal reveste-se de contornos redundantes, uma vez queno melhora, de forma alguma, o combate ao crime organi-zado.

    De qualquer forma, retorna s mos da Polcia Civil aautorizao legal para promover-se a identificao criminal deenvolvidos em aes praticadas por organizaes criminosas.

    Art. 6 Nos crimes praticados em organizao criminosa, apena ser reduzida de um a dois teros, quando a colaborao espon-tnea do agente levar ao esclarecimento de infraes penais e suaautoria.

    Glosa

    Trata este artigo da delao premiada, implantada noBrasil atravs da Lei n 8.072, de 25 de julho de 1990, que aincluiu como 4 do artigo 159 do Cdigo Penal, que repri-me a extorso mediante seqestro.

  • CRIME ORGANIZADO NO BRASIL 33

    Oriunda da Itlia, inspirada nas confisses premiadas dosterroristas arrependidos, encontra-se em vigor no Pas por for-a do pargrafo nico do art. 8 da Lei dos Crimes Hediondos.Posteriormente Lei n 9.034/95, a Lei n 9.080, de 1 dejulho de 1995 acenou aos criminosos do colarinho brancocom a possibilidade da delao premiada e, tambm, emrelao s infraes penais cometidas contra a ordem tribut-ria, a ordem econmica e as relaes de consumo.

    Seus efeitos raramente fizeram-se sentir no Brasil, a noser em um caso de seqestro, ocorrido no interior do Estado deSo Paulo, em que uma professora, filha de autoridade policialaposentada, acabou por delatar os captores de um menino queela mesma mantivera em cativeiro por algum tempo.

    O Brasil, preciso admitir, no conta com infra-estruturaadequada para dar proteo a delatores, como ocorre nos Es-tados Unidos, onde os premiados so transferidos para outrasreas do pas, ou do exterior, com nova identidade, para si, eat para seus familiares.

    Enfim, o artigo enfocado no traz embutido um progra-ma de proteo aos delatores que, sem cobertura, ficam vul-nerveis ao dos quadrilheiros, ou bandidos, em liberdade.

    Art. 7 No ser concedida liberdade provisria, com ou semfiana, aos agentes que tenham tido intensa e efetiva participao naorganizao criminosa.

    Glosa

    No ser sacrificando garantias individuais, sob o mantodo combate ao crime organizado, que se estar aperfeioandoa Justia brasileira, posto que proibir o acusado de apelar emliberdade, antes da condenao definitiva, contraria, frontal-mente, o princpio constitucional da presuno da inocncia,no se respondendo, igualmente, a uma questo fundamental

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    sobre quem repara o dano moral resultante de uma injustacondenao em primeiro grau, posteriormente revista pelostribunais superiores.

    A nosso ver, a expresso intensa e efetiva participaoamplia, em demasia, a possibilidade do arbtrio judicial, com-batido desde os tempos de Beccaria. No obstante, o texto,quer queiramos ou no, elimina a liberdade provisria pararus condenados por efetiva participao na organizao cri-minosa, limitando o cumprimento da respectiva pena ao regi-me fechado.

    Art. 8 O prazo para encerramento da instruo criminal, nosprocessos por crime de que trata esta Lei, ser de 81 (oitenta e um) dias,quando o ru estiver preso, e de 120 (cento e vinte) dias, quando solto.*

    Glosa

    Sabe-se, do estudo da atualidade doutrinria e juris-prudencial brasileira, que o prazo mximo de sustentao, dapriso em flagrante e da priso preventiva, de 81 (oitenta eum) dias, computados a partir da priso processual provis-ria at a concluso da prova acusatria, dele desprezados osprazos gastos pela defesa na produo de provas, pelos julga-mentos de primeiro e de segundo graus, bem como para o pro-cessamento de recursos especiais e extraordinrios, ou con-comitantes.

    A ampliao excessiva do prazo, consagrada por antigajurisprudncia mineira, constitua ameaa coletividade, umavez que a Polcia e a prpria Justia passavam a ser dotadas depoderes discricionrios, de tal sorte que podiam prender umcidado, deixando-o no crcere sob suspeita de crimes no

    * Artigo alterado pela Lei n 9.303/96.

  • CRIME ORGANIZADO NO BRASIL 35

    previstos pela Lei n 9.034/95, que s fala em quadrilha oubando, a expresso mais primitiva daquilo que hoje conven-cionou-se chamar de crime organizado.

    Semelhante dispositivo contrariava os princpios consti-tucionais que cuidam das garantias e direitos fundamentaisdo cidado, revestindo-se de contornos de permisso legal parase condenar, sem sentena, um suspeito a 180 (cento e oiten-ta) dias de priso, a ttulo temporrio.

    Outro aspecto que sensibilizou o intrprete que o ante-rior artigo em exame no fixava a partir de quando seria con-tado prazo to extenso.

    Doutrinadores do porte de Geraldo Prado, William Douglase Luiz Flvio Gomes,3 entendem que o prazo para a conclusodos processos por cometimento de supostos crimes organiza-dos teria como dies ad quem o trnsito em julgado da condena-o, o que para ns parece colidir, violentamente, com o tra-dicional prazo de 81 (oitenta e um) dias, cristalizado peloTribunal de Justia de Minas Gerais, em 1962, mesmo que issopudesse redundar em eventual enfraquecimento ao combatedas organizaes criminosas estveis.

    Art. 9 O ru no poder apelar em liberdade, nos crimes pre-vistos nesta lei.

    Glosa

    A Lei n 9.034/95, de natureza processual penal, notipifica nenhuma conduta humana, tpica e antijurdica. Aocontrrio do que anunciaram os rgos da mdia, escrita,falada e televisada, o diploma que pretende definir a ao

    3. GOMES, Luiz Flvio, Crime Organizado, Editora Revista dos Tribu-nais, pgs. 144/147.

  • CARLOS ALBERTO MARCHI DE QUEIROZ36

    praticada por organizaes criminosas no faz remisso ao tr-fico de drogas, ao contrabando e ao descaminho, extorsomediante seqestro, ao terrorismo, corrupo ativa e cor-rupo passiva, extorso, ao homicdio qualificado praticadopor pistoleiros, ao latrocnio e falsificao de moeda, dentrealguns aspectos dos mltiplos campos de ao do crime orga-nizado, por no se tratar de norma penal, mas s definidorada ao.

    Alis, os conceitos de crime organizado, de organiza-o criminosa, e de organizaes criminosas permanecemem zona cinzenta, dependendo, atualmente, de conceitosculturais, mais ou menos arbitrrios.

    O artigo em pauta, permissa vnia, constitui agresso jur-dica s instituies em vigor no Brasil, visto que impedir-sealgum de apelar em liberdade configura teratologia legal, poisningum pode ser considerado culpado antes de sentena con-denatria transitada em julgado.

    Enfim, sua inocuidade ensejar, caso aplicado, evidenteexemplo de arbitrariedade contra o acusado ou, at mesmo,contra todo o grupo social.

    Art. 10 Os condenados por crimes decorrentes de organizaocriminosa iniciaro o cumprimento da pena em regime fechado.

    Glosa

    Ao contrrio do que possa parecer, a pena imposta porcometimento de crimes decorrentes de organizao no sercumprida integralmente em regime fechado, mas, sim, emregime inicial fechado, podendo o condenado progredirpara os regimes semi-aberto e aberto, posteriormente.

    Preceito sumamente injusto, pois privilegia o criminosoorganizado sobre o traficante de drogas, que, de acordo com

  • CRIME ORGANIZADO NO BRASIL 37

    o 1 do art. 2 da Lei dos Crimes Hediondos, cumprir suapena integralmente.

    Art. 11 Aplicam-se, no que no forem incompatveis, subsidia-riamente, as disposies do Cdigo de Processo Penal.

    Glosa

    O artigo em questo invoca, subsidiariamente, a aplica-o de institutos processuais penais tais como a priso emflagrante, a priso preventiva, a priso temporria, a busca eapreenso, as percias em geral, enfim, todos os dispositivosprocessuais atinentes ao crime organizado que, todavia, nodefine em seu rido texto, por tratar-se de norma processualpenal.

    Art. 12 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicao.

    Glosa

    A Lei n 9.034/95 entrou em vigor no dia 3 de maio de1995, natimorta, principalmente por no definir crime orga-nizado, a no ser no caso de quadrilha ou bando, tipificadopelo artigo 288 do CP.

    Sua impropriedade jurdica, principalmente no campodo Direito Penal, certamente acarretar sua rejeio do inte-rior do ordenamento jurdico ptrio, onde ingressou de ma-neira defeituosa.

    Aes diretas de inconstitucionalidade conduziro suaprovvel revogao, uma vez que, diferentemente da Lei n6.368/76, no traz a parte subjecti, apresentando, por outro

  • CARLOS ALBERTO MARCHI DE QUEIROZ38

    lado, deficientssima parte adjecti, repleta de impropriedadesprocessuais penais, principalmente o flagrante diferido, pror-rogado ou retardado colidente com a Smula 145 do STF.

    Art. 13 Revogam-se as disposies em contrrio.

    Glosa

    A Lei n 9.034/95 to inadequada que, no seu fecho,revoga disposies inexistentes, mesmo porque trata-se do pri-meiro, e defeituoso, diploma legislativo brasileiro que pre-tende dispor sobre a utilizao de meios operacionais paraa preveno e represso de aes praticadas por organiza-es criminosas.

  • CRIME ORGANIZADO NO BRASIL 39

    4O CRIME ORGANIZADO BRASILEIRO

    EM SO PAULO

    (PARTE II)

    Muito embora no se possa dizer que o Brasil conte comestruturas criminosas organizadas, como a colombiana, a italia-na, a norte-americana e a japonesa, rgos governamentais elegisladores federais comeam, neste fim de sculo, a preocu-par-se com a poderosa estrutura empresarial do crime.

    Apoiado por recursos estratgicos, tcnicos e materiais,o incipiente crime organizado nacional est a exigir, a cadadia, que a Polcia, o Ministrio Pblico e a Justia mobilizem-se de maneira eficaz, sob pena de mergulharmos na realida-de internacional, com muita rapidez.

    Nossa experincia profissional, no trato dirio com a pol-cia judiciria, por quase vinte anos ininterruptos, permite di-zer que o crime organizado brasileiro, nos dias que correm,apia-se sobre cinco pilares: trfico de entorpecentes, desman-ches, corrupo ativa e passiva nas reas do jogo do bicho e dosestabelecimentos clandestinos de jogos, furto e roubo de ve-culos* e furto e roubo de cargas.

    No tocante ao narcotrfico, apesar da implantao doDenarc h alguns anos, formando uma pina policial-judici-

    * Vide arts. 157, 2, IV, 180, 1 usque 6, 311, e , do CP, recente-mente modificados pela Lei n 9.426, de 24 de dezembro de 1996. Vide pgs.99/101 deste livro.

  • CARLOS ALBERTO MARCHI DE QUEIROZ40

    ria com a Superintendncia da Polcia Federal em So Paulo,a situao est a exigir cuidados cada vez mais redobradospois, mesmo diante da inexistncia de grandes traficantes orga-nizados, o varejo praticado por pequenos e mdios distribui-dores, que tm sido detectados na regio central de So Paulo,conhecida como Boca de Lixo e, recentemente, rebatizadade Crackolndia.

    O Denarc estimou em 5.000 (cinco mil) os pontos de vendade crack espalhados pela cidade, com cerca de 50.000 (cinqen-ta mil) pessoas trabalhando para o trfico, conforme depoimen-to de autoridade policial prestado CPI do Crime Organizado,no ano de 1995, franqueza que contrariou o ento DelegadoGeral de Polcia, que no admitia a sua existncia em So Paulo.

    Nessa regio, apesar da Polcia Civil e da Polcia Federalterem realizado, no binio 1994-1995, apreenses de umatonelada e meia de cocana e crack presume-se que sejamconsumidas, por ano, quatro toneladas desses produtos, somen-te na Grande So Paulo.

    Os desmanches, por seu lado, constituem manifestao rele-vante de crime organizado em So Paulo, uma vez que, s naCapital, existem 700 (setecentos) locais controlados pela Pol-cia Civil, apesar de funcionarem outros 3.000 (trs mil), clan-destinamente, segundo rgos da imprensa.

    A atividade prospera por fora das facilidades proporcio-nadas pelas prprias montadoras de veculos que numeramsomente o chassi, os vidros e o motor de seus modelos.

    A corrupo, ativa e passiva, nas reas do jogo do bicho edos estabelecimentos clandestinos de jogos, principalmentenos cassinos e chals, real, sendo notria a poltica de alicia-mento dos grandes banqueiros em relao a maus policiais,civis e militares, atitude que facilita o crescimento da atividadecontravencional, a despeito das freqentes descobertas de cas-sinos, pela Polcia Civil do Estado de So Paulo, na regio doMorumbi, principalmente, e cujas documentaes apreen-didas permitiram Corregedoria da Polcia Civil localizar ospontos existentes em reas divididas pelos grandes banqueirosna Capital.

  • CRIME ORGANIZADO NO BRASIL 41

    O furto e roubo de veculos, automveis e caminhes,constitui outro aspecto interessante do nascente crime orga-nizado brasileiro. Nessa atividade, parte dos veculos furtadosou roubados transforma-se em moeda de troca por cocana,principalmente quando levados Bolvia. Outra parte, comonotrio, aps remarcaes feitas por exmios pineiros, reco-locada em circulao, com documentao falsa. Esses veculos,conhecidos no jargo policial como dubls, podem chegar,como j descobriu a Polcia Civil do Estado de So Paulo, ata vinte e cinco unidades iguais com a mesma documentaocontrafeita.

    O furto e roubo de cargas, por sua vez, apresentam carac-tersticas de verdadeira empresa, apoiados por forte seguran-a, dotada de telefonia celular distribuda entre seus soldados,avano tecnolgico que inviabiliza interceptaes autorizadaspelo Poder Judicirio, com base na Lei n 9.296, de 24 de julhode 1996.

    Guardadas em galpes, esconderijos mantidos sob gran-de segredo, mercadorias furtadas, ou roubadas, so vendidas,aps algum tempo, a preos que oscilam entre as bandas de35% e 60% do valor de mercado.

    O policiamento preventivo especializado da Polcia Civildo Estado de So Paulo, alis, tem demonstrado que quadrilhasdedicadas ao furto e roubo de cargas estruturam-se maneirados aparelhos existentes poca da guerrilha urbana, inclusi-ve com escoltas, distribudos seus integrantes de modo que osoldado no saiba quem possa ser seu hierarca imediato.

    No Estado de So Paulo, o primeiro combate ao crimeorganizado dado pelo Depatri, antigo Deic, pelo Denarc epela Corregedoria da Polcia Civil.

    O Depatri, pela sua especializao, herdada principal-mente do extinto Deic, reprime, com eficincia, segundocrescentes estatsticas, o furto e o roubo de veculos, o furtoe o roubo de cargas, e os desmanches. O Denarc, por sua vez,combate, dentro de sua atribuio, o trfico nacional e inter-nacional de entorpecentes, bem como seu uso.

  • CARLOS ALBERTO MARCHI DE QUEIROZ42

    A Corregedoria da Polcia Civil, desde 1994, vem coope-rando, intimamente, com o Ministrio Pblico do Estado deSo Paulo, cuja atividade contra a criminalidade organizada exercida pelo Centro de Anlise e Integrao no Combate aoCrime Organizado e pelo Grupo Especial.

    O Centro de Anlise e Integrao no Combate ao CrimeOrganizado, integrado por um grupo de promotores de Jus-tia especialmente designados pelo Procurador-Geral, estem ao desde 1994. rgo de assessoramento do Procura-dor-Geral de Justia, promove estudos e fornece apoio aosmembros do Ministrio Pblico empenhados na repressode atividades promovidas por bandos altamente articulados.

    O Grupo Especial, por sua vez, atua em parceria coma Corregedoria da Polcia Civil, onde, episodicamente,acompanha inquritos policiais e diligncias.

    Colaborando intimamente com a Corregedoria da Pol-cia Civil, de forma sumamente importante, o Dipo, Departa-mento de Inquritos Policiais, do Poder Judicirio paulista,vem expedindo, de maneira rpida, mandados de priso tem-porria, de priso preventiva e, principalmente, mandados debusca e apreenso, apoiando a Polcia Civil na fase pr-proces-sual da persecuo penal, acompanhada, de perto, pelo GrupoEspecial do Ministrio Pblico.

    Nessa luta ingente contra o crime organizado, a PolciaCivil paulista tem contado com a inestimvel cooperao daSecretaria da Receita Federal e da Secretaria da Fazenda, prin-cipalmente atravs do fornecimento de cpias de declaraesde imposto de renda dos envolvidos.

    As autoridades policiais e judicirias do Estado de SoPaulo, h algum tempo, vm enfrentando, com rigor, organi-zaes criminosas que se alastram, a olhos vistos, pelas grandescidades, principalmente no vizinho Rio de Janeiro, com refle-xos na capital bandeirante.

    O crime organizado, induvidosamente, , na atualidade,um dos mais cruciais problemas brasileiros, principalmente face globalizao dos meios de comunicao, do fluxo e refluxo

  • CRIME ORGANIZADO NO BRASIL 43

    de capitais internacionais, e ao avano da tecnologia que colo-ca o crime sempre frente da Polcia e da Justia.

    Despertado de inexplicvel letargia repressiva, o Pas, apso 7 Congresso para a Preveno ao Delito e Tratamento doDelinqente, acontecido em Milo, em 1985, procura engajar-se no combate universal a esta nova modalidade criminosa defim de sculo.

    Todavia, a Lei n 9.034/95, de 3 de maio de 1995, emvigor desde 4 de maio de 1995, tenta, timidamente, disciplinaro crime organizado em termos brasileiros, com um injustoveto nico do Presidente da Repblica, ao inciso I do art. 2.

    Enfim, sua represso, no Brasil, vem sendo feita h algumtempo, no sendo redundante reenfatizar que o projeto apro-vado pelo Congresso foi preparado por amadores, conformecrticas crescentes formuladas por juristas, delegados, promo-tores, juzes e procuradores de Justia.

    Vale, a propsito, trazer colao a abalizada opiniode Percival de Souza sobre o crime organizado em So Paulo,assim posta:

    Por crime organizado, atualmente, podemos entenderos agrupamentos mais sofisticados na elaborao de planeja-mentos que envolvem, por exemplo, trfico de drogas e redede consumo, os mais variados tipos de roubos e furtos, as mo-dalidades de extorso e os seqestros. Basicamente, uma for-ma organizada de erguer os alicerces do crime, que de certomodo passa a compensar quando triunfa seguidamente sobretodas as esferas de comportamento e aparato legais. Se proces-sos, prazos, prescries, vlvulas de escape e tudo o mais quefaz parte do sistema no conseguem ser sinnimos de distri-buio da Justia, evidente que h algo de errado no cenriocrimingeno.

    E prossegue: A organizao do crime se consolida ematrevimento e ousadia, audcia e impunidade, muitas vezestraduzidas em situaes que setores nem sempre competen-tes conseguem captar. Alguns dos principais nmeros oficiaisdo crime registrados na Grande So Paulo, durante o ms de

  • CARLOS ALBERTO MARCHI DE QUEIROZ44

    julho de 1995, ajudam a desenvolver melhor essa linha deraciocnio. Os furtos (9.503), por exemplo, continuam dis-parados frente dos roubos (6.077). Esse um dado rele-vante, porque deixa claro, de modo insofismvel, que a des-treza continua levando vantagem sobre a violncia. Mas nocaso de crimes contra o patrimnio, h uma outra traduoembutida: se os furtos ganham dos roubos (o que pouca gen-te sabe, ou percebe), porque esse tipo de ladro mantm,em grupos especficos, ligao umbilical com redes de recep-tao. Ou seja: objetos de valor so negociados previamente,combinando-se at a entrega em dia ou hora combinados.Assim, se como j se comparou, as leis podem ser comoteias de aranha (onde se enroscam apenas os pequenos inse-tos, porque os grandes delas conseguem livrar-se), temosaqui, diante de ns, uma demonstrao explcita de impuni-dade. Porque raramente esse elo estabelecido. Porque muito difcil um receptador ser oficialmente detectado, em-bora extra-autos faa parte de histrias mirabolantes eostensivas.

    Alerta, a seguir: Assustadora marca dos homicdios, ain-da usando o ms de julho de 1995 como parmetro (precisa-mente 601 casos), revela que a indstria da morte, to vincu-lada a ajustes ou acertos de contas, a extenso final de umaespcie de brao armado da criminalidade organizada. Reu-nidos pela sociedade de consumo, que algum j chamou deconsumocracia, o crime contra a pessoa e o crime contra opatrimnio chegam a uma estranha inverso: essa sociedade,valorizando mais os bens do que a vida, no percebe que essadeteriorao de valores ajuda a conduzir supremacia docrime organizado. E um dos grandes smbolos de status dessamesma sociedade, o automvel, desapareceu entre roubose furtos na marcha absurda de 7.220, ainda na Grande SoPaulo em julho de 1995. Crime para ns, mero negcio paraas quadrilhas.

    Aduz, ento, explicao anterior: Tais dados, que fazemparte dos registros oficiais, mostram o eco antitico e pago do

  • CRIME ORGANIZADO NO BRASIL 45

    barulhento andar da besta que invadiu os desertos de asfaltode nossas cidades a delinqncia.

    Continua: Poderiam desfilar, nesse despretensioso artigo,nmeros sobre o crime organizado, dados sobre o seu poder defogo, exemplos terrveis de suas aes cada vez mais s escn-caras. Se esse tipo de crime vencedor em tipos de casos maisconhecidos, torna-se ento impenetrvel quando se diversifica como j aconteceu em vrias partes do mundo ao incrus-tar seus poderosos tentculos em vrios rgos da administra-o do Estado, especializando-se em aes modernas que vodo contrabando nuclear negociao ilegal de armas.

    E, arremata: O crime organizado nasceu dentro de umasociedade em decomposio e, aproximando-se do sculo XXI,quem sabe tenhamos o consolo de estar assistindo aos gemidosdas dores do parto para o nascimento de um mundo novo.Do lado de c, precisamos, de igual modo, ter uma sociedadeigualmente organizada, que saiba perceber e enfrentar os sin-tomas da criminalidade moderna. Essa luta, atualmente abso-lutamente desigual porque entre ficar no Olimpo e conhecera dura realidade das ruas existe uma considervel diferena.Insolvel o problema no desde que haja amplo debate dasidias, como uma catedral gtica, que se sustenta pela justa-posio de elementos antagnicos, mas que servem de susten-tao de seu edifcio. A marcha evolutiva do ser humano, todaela feita entre crises e calmarias, numa infindvel marcha hist-rica, pressupe, sempre, o cotejo entre as idias.4

    4. SOUZA, Percival de, Uma Concepo Moderna de Crime Organi-zado in I Frum sobre o Crime sem Fronteiras, Unicid, Universidade daCidade de So Paulo, 1995, pgs. 52/54.

  • 5AULA MAGNA DA JUZA DENISE FROSSARD,

    NA FMU, DE SO PAULO

    (PARTE II)

    Em aula magna proferida em maro de 1995, para osalunos do perodo diurno da Faculdade de Direito das Facul-dades Metropolitanas Unidas, FMU, a juza Denise Frossard, poca titular da 10 Vara Criminal do Rio de Janeiro, e que setornou mundialmente conhecida por condenar bicheiros flu-minenses priso, defendeu algumas inovaes para o comba-te ao crime organizado.

    Nessa ocasio, sustentou a possibilidade de implantaode legislao processual penal estadual, a atuao de juzes epromotores diretamente nas delegacias de Polcia sem, toda-via, especificar, as futuras funes das autoridades policiais,bem como o fim da imunidade parlamentar.

    Defendeu tambm, a quebra do sigilo bancrio e telef-nico,* bem como a instituio da barganha, como sistema deproteo testemunha.**

    No tocante aos crimes de menor potencial ofensivo, suge-riu que poderiam ser resolvidos nas prprias delegacias dePolcia, com a presena do juiz e do promotor de Justia, vin-te e quatro horas por dia.

    ** Vide Lei n 9.296/96, e modelos, ao final deste livro, pgs. 132/133 e139/147.

    ** Vide Decreto n 39.917/95, s pgs. 118/119 deste livro.

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    Em relao possibilidade de futura concretizao delegislao processual penal estadual, a juza carioca defen-deu sua tese face s diversidades regionais brasileiras, pas decaractersticas e de vocao continental, em todos os seusaspectos, principalmente culturais, econmicos, sociais, pol-ticos e educacionais. Considerando superado o atual CPP,explicou que cdigos de processo penal estaduais atendero,com maior justia, a demanda dos jurisdicionados por umaprestao mais clere e eficiente.

    A atuao de juzes e promotores, mais prximos dopovo, trabalhando diretamente nas unidades policiais, em regi-me de trs turnos de oito horas, inclusive nos fins de semanae feriados, de modo a aliviar as varas das infraes penais demenor potencial ofensivo, constituiu outra proposta.

    Pregando o fim das imunidades parlamentares, objetivouequacionar uma situao insustentvel, uma vez que nenhumparlamentar responde por atos ilcitos que lhes so imputados.

    Apoiando a utilizao de mecanismos discutveis, pormnecessrios, citou a vigilncia eletrnica, a quebra do sigilobancrio e telefnico como apoio a investigaes policiais ejudicirias bem sucedidas.

    Adepta do plea bargaining norte-americano, ou do pottegia-mento peninsular, explicou que a admisso de acordos comautores de crimes de pequeno potencial ofensivo, a fim dese por cobro corrupo oficial, outra soluo.

    Props, ao final de sua conferncia, a implantao de umprograma autnomo de proteo a testemunhas imprescin-dveis, lembrando que nos processos por corrupo, a provatestemunhal decisiva, uma vez que quando existem docu-mentos, eles so, sempre, convenientemente destrudos.

    Denise Frossard, ao encerrar sua palestra, arrematouque tais objetivos podem ser atingidos mediante uma deste-mida e audaz ao poltica, passando necessariamente peloapoio da sociedade.5

    5. Vide Tribuna do Direito, abril de 1995, pg. 6.

  • CRIME ORGANIZADO NO BRASIL 49

    Mas, como se verifica, no foi o que aconteceu com aedio da Lei n 9.034/95, cuja inocuidade revela-se contr-ria aos interesses sociais.

  • 6A OPERAZIONE MANI PULITE

    EM SO PAULO

    (PARTE II)

    A Lei n 9.034, de 3 de maio de 1995, cuja ementa dispesobre a utilizao de meios operacionais para a preveno erepresso de aes praticadas por organizaes criminosas, ori-ginou-se de um projeto de lei* de autoria do deputado federal,por So Paulo, Michel Temer, elaborado com o auxlio de umacomisso de juristas, destacando-se, nesse grupo, o professorAntonio Scarance Fernandes, da Faculdade de Direito da USP.

    O projeto de lei, ora sancionado, tramitou durante umlustro pelo Congresso Nacional, tendo sofrido mltiplas e vis-veis alteraes, principalmente por parte do ento senador,pelo Rio Grande do Sul, Joo Paulo Bisol, magistrado aposen-tado. Segundo alguns rgos da imprensa, a idia do projeto do deputado federal, pelo Rio de Janeiro, Miro Teixeira.

    Por ocasio da entrada em vigor da lei em estudo, jornaispaulistas noticiaram que o novo diploma legal permitiria adeflagrao de uma Operao Mos Limpas nacional, idnti-ca quela desencadeada na Itlia, no ano de 1992, e que fun-ciona, ainda, a contento.

    A Operazione Mani Pulite, apoiada em investigaesrealizadas a partir de dezembro de 1994, permitiu que a Jus-

    * Vide O processo legislativo da Lei n 9.034/95, ao final deste livro,pgs. 103/113.

  • CARLOS ALBERTO MARCHI DE QUEIROZ52

    tia italiana apreciasse mais quatrocentas novas denncias deacusados envolvidos com o crime organizado peninsular.6

    Entre os meses de dezembro de 1994 e abril de 1995,foram instaurados mais cem processos, realizadas cerca de cin-qenta prises, sendo, prolatadas oitenta sentenas conde-natrias.

    Durante a apresentao da palestra, o lder da OperaoMos Limpas, Francesco Saverio Borreli, traduzido pelo pro-curador de Justia Carlos Eduardo de Atahyde Buono e pelopromotor de Justia Antonio Toms Bentivoglio, colega decurso de mestrado na Faculdade de Direito da USP, esclare-ceu aos alunos e professores das FMU, inclusive ao diretor daFaculdade de Direito, professor Marco Antonio de Barros, emabril de 1995, a estrutura judiciria italiana, explicando quenaquele pas o Ministrio Pblico e a Magistratura fazem par-te de uma mesma carreira jurdica, diferentemente do queacontece no Brasil.

    Sob esse aspecto, explicou que os promotores mais atuan-tes so oriundos da Magistratura judicante, expresso italianaequivalente Magistratura nacional, onde adquirem grandeexperincia judiciria, j que muito comuns as transfern-cias de seus integrantes, entre um e outro setor.

    Alis, o Cdigo de Processo Penal italiano, promulgadoem 1988, reforou a estrutura do Ministrio Pblico, subordi-nando a polcia judiciria peninsular ao rgo do parquet. EmMilo, a Procuradoria da Repblica trabalha com um quadrode cinqenta e sete magistrados, que contam, individualmen-te, com trs policiais sua inteira disposio.

    A Procuradoria-Geral da Repblica, na Itlia, esclarea-se, atua em tribunais de primeira instncia, ou Corte de Apelo,e, em segundo grau, junto Corte de Cassao.

    6. Apud BORRELI, Francesco Saverio, Procurador da Repblica daItlia, in Jornadas Internacionais de Cincias Jurdicas, levadas a efeito pelasFaculdades Metropolitanas Unidas, FMU, em So Paulo, em abril de 1995.

  • CRIME ORGANIZADO NO BRASIL 53

    Criada em fevereiro de 1992, a Operao Mos Limpasconseguiu, at abril de 1995, aps trs anos de atividades, doismil e quinhentos indiciamentos, oitocentas prises cautelares,quatrocentas condenaes e mais de mil denncias, segundoinformaes fornecidas por Borreli, assessorado pelos procura-dores Francesco Greco e Gherardo Colombo, tambm presen-tes em So Paulo, na ocasio.

    Durante esse trinio, muitos polticos que deixaram oparlamento italiano em 1994, inclusive alguns ministros e pre-sidentes de conselhos, como Arnaldo Forlini, Bettino Craxi eGiulio Andreotti, alm de ex-ministro da Justia Claudio Mar-telli, foram exaustivamente investigados.

    Partidos polticos rastreados pelos integrantes da Opera-o Mos Limpas, acabaram possibilitando a descoberta depropinas cobradas em obras, embutindo-se um preo em todaparticipao estatal italiana.

    Investigando os chamados fundos negros, os magistra-dos italianos chegaram a tabular a quantia de um bilho dedlares, pelo menos, proveniente do denominado caixa doisdas empresas, e que destinava-se ao pagamento de propinas,alm da prtica de evaso fiscal e desvio de verbas em prejuzode acionistas minoritrios dessas corporaes.

    A corrupo que se instalara na Guarda de Finanas, insti-tuio semelhante nossa Receita Federal, fez com que seis-centas pessoas fossem investigadas, conseguindo o MinistrioPblico italiano recuperar cerca de cinqenta milhes de dla-res desviados irregularmente.

    Encerradas as investigaes dos rgos de controle fis-cal, v.g., a Guarda de Finanas, os integrantes da OperaoMos Limpas empenham-se na operao denominada deabertura da caixa forte da corrupo, com o auxlio de diver-sos pases, tanto que expedidas cerca de quatrocentas cartasrogatrias.

    O mercado financeiro italiano, tambm, vem sendo obje-to de cerrada investigao, visto que recursos mafiosos mi-gram de um pas para outro, razo pela qual importante a

  • CARLOS ALBERTO MARCHI DE QUEIROZ54

    colaborao das autoridades internacionais, sem a qual inefi-caz se torna o enfrentamento da corrupo.7

    Ao contrrio do que sups, inicialmente, a imprensapaulista, uma operao dessa envergadura, calcada na Lei n9.034/95, no alcanaria o sucesso italiano, j que a Itlia Estado unitrio, enquanto que o Brasil repblica federativa,cujo Ministrio Pblico no conta com meios legais e, muitomenos, estrutura organizacional para deflagrar intenso com-bate criminalidade organizada.

    O professor Carlos Frederico Coelho Nogueira, em not-vel trabalho, entende que uma operao nacional destinadaao desmantelamento das organizaes criminosas no pres-cindiria, antes de mais nada, de um novo Cdigo de ProcessoPenal, no bastando remendos legislativos, como os que vmocorrendo h alguns anos, num processo de transformao doatual CPP que de 1941 em verdadeira colcha de retalhos,despida de sistematizao e de rigor cientfico.8

    De qualquer modo, a Operao Mos Limpas a receitada mais bem sucedida operao de investigao de casos decorrupo, at hoje ocorrida no mundo, podendo servir deexemplo para uma lei, que, no futuro, substitua, com vanta-gem, a defeituosa Lei n 9.034/95.

    7. MELLO, Mauro, Operao Mos Limpas, Tribuna do Direito, junhode 1995, pgs. 24, 25 e 26.

    8. COELHO NOGUEIRA, Carlos Frederico, A lei da caixa preta, inSuplemento Especial de Direito Penal, pg. 3, Tribuna do Direito, Ano 1,n 1, setembro de 1995.

  • CRIME ORGANIZADO NO BRASIL 55

    7OS DEBATES DO IBC CCRIM, EM SO PAULO

    (PARTE II)

    Durante palestra promovida pelo IBCCrim, em So Pau-lo, em maio de 1995, o desembargador aposentado AlbertoSilva Franco revelou que o Direito Penal brasileiro est passan-do por verdadeira crise existencial, tentando resolver, demaneira casustica, problemas divulgados, quase sempre, pelosmeios de comunicao, esclarecendo, ainda, que a Lei dosCrimes Hediondos apresenta-se como exemplo frisante de umDireito Penal da Lei e da Ordem.

    Ao distinguir o crime organizado, da criminalidade demassa, afirmou que, esta ltima, causa grande irritao nasociedade, posto que gerada pelas suas prprias distoressociais, onde o furto e o roubo despontam como cifras negras.

    A seguir, esclareceu que o crime organizado no apre-senta os mesmos contornos da criminalidade de massa, mas,ao contrrio, provoca a fragilizao do Estado, principalmen-te atravs da impunidade e da corrupo.

    Analisando, minudentemente, a Lei n 9.034/95, aduziuque o art. 2 do projeto Michel Temer deixa transparecer quetodos os atos procedimentais e processuais seriam controla-dos pelo juiz, ao mesmo tempo em que seu inciso II apresen-ta-se despido de qualquer previso acerca do retardamentoda interdio policial, circunstncia que conduz conclusode que ser, mesmo, realizada pela autoridade policial, comexclusividade, indiscutvel poder conferido Polcia Civil,

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    * Vide modelo s pgs. 129/131 deste livro.

    atravs de uma modalidade de autuao denominada fla-grante prorrogado.*

    Examinando, na ocasio, o artigo 3 do diploma de 3 demaio, orientou que, entendendo a autoridade policial seremnecessrias diligncias especficas, dever ela solicit-las ao juizde Direito que, aps realiz-las, no dever, de forma alguma,apresentar seus resultados autoridade solicitante, posto quea norma assim no determina, e, muito menos, autoriza.

    Curiosamente, entende o renomado jurista que esse tipode incurso no dever ser realizada pelo juiz, sob pena deferimento ao mandamento constitucional da imparcialidade,e, muito mais, pela total impossibilidade processual penal deexistirem, concominantemente, um juiz coletor de provase um outro, julgador do fato.

    Encerrando seus comentrios sobre o art. 3, considerou,curiosamente, seu 5 um verdadeiro cone do silncio.

    Contornando o art. 4, referente estruturao dos rgosde polcia judiciria em termos de equipes especializadas, admi-tiu que o art. 5 no ofende em nada, a Constituio Federal.

    No obstante, enfatizou o ilustre professor que o art. 6,em sua essncia, viola a Lei Magna no que tange dignidadehumana, presuno da inocncia, e, sobretudo, no tocanteao princpio da legalidade.

    Evitando o art. 7, com a habitual proficincia, discordouo desembargador aposentado da priso temporria, inclusivedaquela de cinco dias prorrogveis por mais cinco.

    Ao esmiuar o art. 9, o notvel doutrinador considerouestranha a expresso nos crimes previstos nesta Lei, uma vezque o diploma legal de 3 de maio no tipifica qualquer crime,em colidncia com o seu art. 1 que fala em crime resultantede aes de quadrilha ou bando.

    Finalmente, ao dissecar o art. 10, admite o sistema daprogresso.

  • CRIME ORGANIZADO NO BRASIL 57

    Nessa mesma ocasio, Luiz Vicente Cernicchiaro, apoian-do-se no ponto de vista deduzido por Alberto Silva Franco,referente ao art. 3 da Lei n 9.034/95, afirmou que o juiz nopode participar de uma diligncia contra o crime organizado,e, ao depois, julgar a espcie, mesmo porque ningum podeser juiz e parte ao mesmo tempo.

    Ilustrando sua opinio, trouxe colao recente acrdodo STF que anulou um processo-crime antes do qual um pro-motor de Justia realizou diligncias acompanhado por um cole-ga, depois ouvido como testemunha da ao penal principal,desencadeada atravs de denncia oferecida pelo primeiro.

    Tecendo consideraes sobre o direito premial, previs-to pelo art. 6 da lei repressora das organizaes criminosas,ilustrou suas consideraes com o episdio que envolveu a pri-so de Tommaso Buscetta,* que teria sido a primeira pessoaa ser beneficiada por esse instituto no Brasil, muito emborasem ter praticado ou ter sido condenado por qualquer infra-o penal cometida no Pas.

    Luiz Flvio Gomes, ao participar dos debates, criticou,logo de incio, a expresso meios operacionais, constantedo ttulo referente ao Captulo I, mais consentneo comoperaes blicas, mas no com a esfera do Direito.

    Esclareceu, outrossim, que um dos objetivos constantesda introduo da nova lei reside na preveno, que inexplica-velmente, em sua opinio, no traz em seu mago qualquertipificao, exceto a de quadrilha ou bando, insuficiente parajustificar qualquer represso ao crime organizado.

    Na sua viso doutrinria, o legislador da Lei n 9.034/95pretende combater um inimigo indefinido, j que no defi-niu o crime organizado, mesmo porque a preveno, para omagistrado, pressupe anlise do fato gerador do crime,com criao de obstculos sua prtica evitando-se, a final, areincidncia.

    * Essa no foi a ltima vez que um mafioso foi preso no Brasil. Videpgs. 151/155 deste livro.

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    Discorrendo sobre o art. 3, reconheceu que o flagranteprovocado est sob controle total da autoridade policial, eno do juiz, criando-se, ipso facto, um estado policialesco e sub-legal, visto que nenhum Estado democrtico outorga poderes Polcia, sem o respectivo controle.

    No que tange s diligncias judiciais permitidas pelos 2 e 3 da Lei n 9.034/95, Luiz Flvio Gomes considerouo legislador como atico e incompetente, uma vez que, sobsua tica, juzes no realizaro qualquer tipo de dilignciasinvestigatrias.

    Segundo seu entendimento, o poder poltico brasileiro,ao constatar a falncia da Polcia e das Foras Armadas nocombate ao crime organizado, buscou no juiz de Direito afigura necessria para esse combate, que poder vir a ser rea-lizado por magistrados sem qualquer tipo de experincia ourecursos, verdadeiros delegados frustrados (sic).

    Previu, em sua fala, o fracasso desse novo juiz de instru-o, com reflexos sobre o prprio Poder Judicirio, com perdafinal da credibilidade estatal, ambiente propcio ao surgi-mento de um Estado totalitrio gerado sobre os escombros depoderes legalmente constitudos, produto final de verdadeiraorquestrao existente na base da Lei n 9.034/95.

    Definiu, na ocasio, seu entendimento sobre o crime orga-nizado, cujos requisitos bsicos so a previso de acumulaode riqueza, a hierarquia estrutural, o planejamento empresa-rial, a diviso de atividades ilcitas, a diviso de territrios e,finalmente, a conexo com agentes do Poder Pblico infiltra-dos, inclusive mediante concursos.

    Sem resposta segura a respeito dos mtodos ou instru-mentos de combate ao crime organizado, entende que estesno devero, de modo algum, superar os limites impostos pelaConstituio Federal, mesmo diante do autoritarismo da nor-ma, inspirada na legislao italiana, e que no deve servir demodelo, por revestir-se de contornos de lei de exceo.

    Criticou, a final, a timidez legislativa, que esqueceu-se deequacionar questes relevantes como a definio clara de cri-

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    me organizado, a regulamentao da escuta telefnica,* ofavorecimento de tratados internacionais direcionados facili-tao do combate lavagem de dinheiro, a previso da perdade bens atravs de conseqente seqestro, a responsabilizaopenal da pessoa jurdica, e, por derradeiro, o controle das ope-raes financeiras e fiscais.

    Funcionando como debatedor, ao final dos trabalhos, oprofessor Marco Antonio de Barros caracterizou, como moda-lidades de crime organizado, a corrupo estatal, a evaso dedivisas e o narcotrfico. Em relao origem ilcita dos bensdos criminosos organizados, pregou, outrossim, a inverso donus da prova.

    Curiosa, tambm, a observao de Luiz Flvio Gomes, porocasio de sua interveno, que as cortadoras de bolsas, daPraa da S, ainda que organizadas em verdadeiras quadri-lhas, jamais caracterizaro crime organizado, como a fraudepraticada contra o INSS, citada, na ocasio, por Alberto SilvaFranco.**

    ** Vide Lei n 9.296/96 e modelos, ao final deste livro, pgs. 139/147.** Anotaes taquigrficas providenciadas pelo autor.

  • 8O PAPEL DA UNICID NO COMBATE

    AO CRIME SEM FRONTEIRAS

    (PARTE II)

    A Unicid Universidade Cidade de So Paulo, ao com-pletar, em 1995, seu terceiro aniversrio de funcionamento,realizou, em So Paulo, entre os dias 23 e 27 de outubro, o IFrum Sobre o Crime Sem Fronteiras, com a cooperao doSuperior Tribunal de Justia e do Centro de Estudos Judici-rios do Conselho da Justia Federal.

    Esse conclave, desenvolvido a partir de feliz idia deWalter Fanganiello Maierovitch, magistrado em So Paulo, eeminente professor universitrio, objetivou oferecer comu-nidade acadmica a oportunidade de enriquecer e ampliarseus conhecimentos profissionais, enfocando a figura do cri-me organizado internacional.

    O encontro, presidido pelo ministro Bueno de Souza,presidente do Superior Tribunal de Justia, e apoiado peloministro Garcia Vieira, contou com a presena de conhecidosespecialistas peninsulares, dentre eles o deputado e socilo-go italiano Giuseppe Pino Arlacchi e a professora de DireitoMaria Falcone, alm do juiz Giannicola Sinisi, responsvel, naItlia, pela elaborao da legislao concernente aos denomi-nados arrependidos.

    O I Frum Sobre o Crime Sem Fronteiras, iniludivelmen-te, permitiu a todos que o freqentaram, alm de acesso histria das mfias, verificar, de perto, as falhas de nossa legis-lao, sensibilizando o meio social e poltico brasileiro sobre a

  • CARLOS ALBERTO MARCHI DE QUEIROZ62

    importncia da intensificao da vigilncia e do combate aocrime sem fronteiras.

    O evento revelou que a Itlia, inicialmente, apresentou-se como palco de cenas de terror desenvolvidas pelos agentesmafiosos, cujas prticas delituosas disseminaram-se, com incr-vel rapidez, por todos os quadrantes do planeta.

    Nesse sentido, o ministro Romildo Bueno de Souza, escre-veu que os mtodos utilizados por essas faces escapam inteira-mente de terreno tico, s lhes importando e a todo custo seuavano sistemtico, persistente e sem escrpulos.9

    O I Frum permitiu a Giuseppe PinoArlacchi revelarque o combate ao crime organizado tem, como arma fun-damental, a investigao sobre a lavagem de dinheiro, atravsde uma fiscalizao gil e implacvel sobre a origem de rique-zas rapidamente acumuladas, que ele prprio denomina deinvestigao financeira.

    Protegido dia e noite por policiais italianos fortementearmados, que, identicamente, cuidam de sua esposa e duasfilhas, teve sua segurana feita, em So Paulo, pela Polcia Mili-tar, e, em Braslia, pela Polcia Federal.

    Mesmo assim, Pino Arlacchi escreveu, em sua ptria,diversos livros, alguns inditos no Brasil, sendo Addio CosaNostra La Vita di Tommaso Buscetta, o mais famoso deles.

    Maria Falcone, tambm presente na Unicid, professorade Direito e de Economia no Instituto Tcnico Comercial Sal-vemini, em Palermo, partiu para a ao antimfia logo aps amorte de seu irmo Giovanni Falcone.

    Desde ento, vem, metodicamente, recolhendo toda adocumentao deixada pelo irmo, aps pacientes anos deinvestigao sobre o crime organizado na Itlia e em pasesestrangeiros, atravs da Fundao Falcone, sediada em Palermo.

    9. BUENO DE SOUZA, Romildo, Estudos Necessrios, in I FrumSobre o Crime Sem Fronteiras, Unicid, Universidade Cidade de So Paulo,1995, pg. 11.

  • CRIME ORGANIZADO NO BRASIL 63

    Reunindo trinta e cinco membros, a Fundao Falconeconta com a cooperao de juristas, advogados, polticos, ma-gistrados, professores, socilogos e outros profissionais libe-rais, estimulando a troca de informaes entre pases, objeti-vando um combate mais aproximado s unidades do crimeorganizado disseminadas pelo mundo.

    Giannicola Sinisi, um dos criadores da Fundao Gio-vanni e Francesca Falcone, , na atualidade, um dos magis-trados mais temidos pela Mfia na Itlia, principalmente porter um de seus projetos convertidos em lei, mais especifica-mente, aquele que estimula a participao de colaboradoresnos processos movidos pela Justia contra o crime organizadoitaliano.

    Dentro desse quadro, percebe-se que a Unicid, assimcomo o fizeram o IBCCrim e a FMU em 1995, coopera comas autoridades brasileiras no sentido de se implantar, no Pas,mecanismos que permitam Polcia, e Justia, enfrentar,com sucesso, uma realidade a cada dia mais prxima de nos-sas extensas fronteiras e de nosso, no menos, longo litoralatlntico.

    Aps o conclave na Unicid, o juiz Giannicola Sinisi e Ma-ria Falcone pronunciaram conferncia especial no Supe-rior Tribunal de Justia, em Braslia, onde o primeiro destacoua necessidade de uma cooperao internacional para blo-quear os avanos do crime organizado e a aplicao de nor-mas de Direito mais cleres para derrotar os mafiosos emtodas as frentes de combate, em oposio ao atual formalismoobtuso.

    Maria Falcone, a irm do juiz assassinado, por sua vez,lembrando seus ideais, resumiu-os na seguinte frase: O crimeorganizado um fenmeno humano, e como tal possui come-o, desenvolvido e pode ter um fim.

    Para Walter Fanganiello Maierovitch, integrante do Tri-bunal de Justia de So Paulo, que assessorou a visita dessesjuristas, desde as conferncias proferidas na Unicid, somente

  • CARLOS ALBERTO MARCHI DE QUEIROZ64

    a mtua cooperao internacional ser capaz de estruturar aforma ideal de combate ao polvo de muitos tentculos.10

    Em 1996, novamente, a Unicid patrocinou o II FrumSobre o Crime Sem Fronteiras, cujas concluses foram verda-deiramente espantosas, aps intensa programao que tratouda economia do crime organizado, especificamente da lava-gem, ocultao e reciclagem do dinheiro sujo.

    No tocante luta internacional contra o crime organiza-do, cuidou-se do exame do dever de vigilncia bancria edas extradies. O modernssimo direito premial recebeu es-pecial ateno dos participantes que cuidaram da questodos colaboradores da Justia e dos arrependidos.

    O trfico internacional de drogas permitiu, na oportu-nidade, intensa discusso sobre rotas, infiltraes nos pode-res dos Estados e corrupo, bem como profundos debatessobre sistemas de investigao e de proteo s testemunhas,vtimas e peritos.

    Relativamente aos institutos processuais, cuidou-se, comespecial interesse, da questo do perdimento de bens, dapriso cautelar, da ampla defesa, da escuta ambiental e dasaudincias distncia em teleconferncias, sem se descuidardo problema da disciplina penitenciria, v.g., crceres paramafiosos.

    Na verdade, organizaes mafiosas, que consideram oBrasil como opo atraente para a lavagem de dinheiro deprocedncia ilcita, e sua conseqente reciclagem, mantm,por aqui, 20% de suas contas.

    Os maxiprocessos dos juzes italianos, que interligaminformaes entre si, estimam que 25 (vinte e cinco) mafio-sos foram vistos circulando nas bolsas e centros financeirosbrasileiros.11

    10. SOUZA, Percival de, Crime Organizado-Defendida cooperaointernacional, Tribuna do Direito, dezembro de 1995, pg. 17.

    11. Vide documentao jornalstica ao final deste livro, pgs. 151/166.

  • CRIME ORGANIZADO NO BRASIL 65

    Armamento pesado entra no Pas para reforar as ativi-dades criminosas do Terceiro Comando e do Comando Ver-melho, sem que as autoridades brasileiras percebam.

    Investimentos na construo civil brasileira so feitosmaciamente, sem que as autoridades fazendrias brasileiraspossam detectar a origem desses capitais, mesmo porquenossos mtodos de investigao continuam ultrapassados.

    Estiveram na Unicid, Giuseppe Pino Arlachi, o procura-dor Roberto Scarpinato, a procuradora Teresa Principato, oprocurador Gioachino Natoli e Giancarlo Caseli, falando paraautoridades nem sempre interessadas em saber o que realmen-te fazer para enfrentar o crime organizado.12

    Nessa ocasio, coincidentemente, alunos integrantes do2 Curso Superior de Polcia da Academia de Polcia de SoPaulo, todos eles delegados de Polcia, estiveram presentesao conclave.

    12. SOUZA, Percival de, Juzes fazem revelaes sobre a Mfia noBrasil, in Jornal da Tarde, 27 de novembro de 1996, pg. 34-A.

  • 9O CRIME ORGANIZADO NOS EUA,

    OBSERVADO POR DELEGADOSDE POLCIA PAULISTAS

    (PARTE II)

    Nos Estados Unidos da Amrica a criminalidade urbanatem atingido nveis assustadores face ao seu constante cresci-mento. Sua envergadura provocou debate poltico de largoespectro que levou o presidente Bill Clinton a lanar um pla-no federal de combate, que acabou por demonstrar que o cri-me norte-americano tem mltiplas origens e diversificadas fon-tes, de sorte a tornar extremamente complexo seu projeto.

    Na atualidade, a Justia Federal e o Departamento deJustia dos Estados Unidos dirigem esforos conjuntos contra otrfico de drogas, o crime do colarinho branco, notadamente alavagem de dinheiro e o terrorismo.

    Nesse aspecto, a utilizao de aparelhos eletrnicos para acoleta de provas incriminadoras, plenamente aceita pelo Direi-to Constitucional, pelo Direito Penal e pelo Direito ProcessualPenal daquele pas, tornam vivel a preveno e a represso docrime organizado, sem qualquer abalo s suas estruturas jur-dicas, num exemplo que poderia, perfeitamente, ser seguidopelo Brasil.

    que as leis penais norte-americanas, de carter racio-nal, so extremamente prticas, sob o manto do princpioda legalidade, cumprindo ressaltar a influncia doutrinriada responsabilidade objetiva, ainda admitida pelos tribunaislocais.

  • CARLOS ALBERTO MARCHI DE QUEIROZ68

    A severidade das penas impostas aos violadores das leisfederais salta aos olhos dos observadores estrangeiros, princi-palmente a priso perptua e a pena de morte, ainda vigen-tes em alguns estados da Unio.

    Nesse contexto, o Direito Penal norte-americano reservasuas prises para condenados altamente perigosos, reservan-do dispositivos mais brandos de execuo penal para infrato-res de menor potencial ofensivo, v.g., com a adoo de penasalternativas.

    No tocante s contravenes, a punio concretiza-seatravs de penas de priso simples, de at 60 (sessenta) dias deencarceramento, ou de penas pecunirias.

    Retomando o fio inicial, preciso salientar que, no com-bate ao crime organizado, o ltimo grande duelo policial tra-vado pelos EUA deu-se contra o narcotrfico, representadopelos cartis colombianos, que produziam a matria-primaem um pas, processavam-na em outro, para, a final, concluira operao em terceiro, antes da distribuio em territrioianque.

    O sucesso da luta deu-se, ento, com a colaborao dasautoridades colombianas, atitude que provocou a derrocadados bares da cocana, estando, no presente, o Cartel de Cliem vias de total extino.

    A pedra de toque dessa estratgia, , na verdade, a ajudanorte-americana, vinculada estreita colaborao das autori-dades colombianas.

    To logo concluda a operao, provvel que o esforonorte-americano contra o crime organizado volte suas bateriascontra a lavagem de dinheiro, outra ameaa s estruturas pol-ticas dos EUA.

    Ao que parece, o teatro de operaes ir deslocar-se, noprximo sculo, da Colmbia para o Brasil, uma vez que, commoeda forte, e dotado de mecanismos deficientes de combateao crime organizado, o Pas transformou-se, rapidamente, emseguro refgio de capitais clandestinos oriundos do crime organi-zado dos EUA e, tambm, de forte evaso fiscal.

  • CRIME ORGANIZADO NO BRASIL 69

    Especialistas norte-americanos em lavagem de dinheiroconsideram a cidade de So Paulo como a mais importantelaundry da Amrica do Sul, face inexistncia de um mode-lo brasileiro eficaz de combate lavagem de capitais ilcitos.

    Dentro desse quadro de probabilidades, preciso que oCongresso Nacional, em Braslia, repense a questo da prova aser obtida atravs de aparelhos eletrnicos, o nico mtodode investigao capaz de por cobro, com relativo sucesso,a essa modalidade de crime empresarial, mesmo porque aobteno de provas atravs desse meio era considerada ilcitano Brasil.13

    semelhana dos Estados Unidos, o crime organizadobrasileiro s ser combatido com um Poder Judicirio extre-mamente gil, apoiado por uma Polcia moderna e eficiente,cumpridora de leis enrgicas e duras.

    Alis, a aparelhagem eletrnica orientada para a coleta deprovas contra o crime organizado, as operaes undercover, bemcomo a utilizao de informantes, podem ser introduzidas noBrasil, sob forma de institutos jurdicos, da mesma forma que osinstitutos da transao e da conciliao recentemente recep-cionados pelo Direito Processual Penal brasileiro, na Lei n9.099/95, em infraes penais de pequeno potencial ofensivo.

    Enfim, seria importante que, aps provvel revogaoda Lei n 9.034, de 3 de maio de 1995, se promulgasse novalei, mais adequada para combater a ao praticada por organi-zaes criminosas, principalmente atravs da cooperao dospases interessados na regulamentao da utilizao dos meioseletrnicos de coleta de provas, protegendo-se as testemunhas,implantando-se mecanismos de controle de operaes finan-ceiras duvidosas, seqestrando-se o produto da infrao penalorganizada com perdimento decorrente.

    O pragmatismo norte-americano de ser imitado e recep-cionado, face aos timos resultados at aqui obtidos pelas pol-cias de Miami e de Nova York.

    13. MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto, op. cit., in RT 717/518.

  • CARLOS ALBERTO MARCHI DE QUEIROZ70

    Esse o quadro geral divisado por um grupo de sete auto-ridades policiais paulistas que passou duas semanas nos EstadosUnidos para um programa junto 102 Conferncia Anualda IACP International Association of Chiefs of Police, aoDepartamento de Polcia da Cidade de Miami, ao Departa-mento de Polcia da Cidade de Nova York e ao John Jay Collegeof Criminal Justice, em outubo de 1995.

    O ento Delegado Geral de Polcia, Antonio Carlos deCastro Machado, o ento Delegado de Polcia Diretor doDecap, Alberto Angerami, o ento Delegado de Polcia Dire-tor do DCS, Jair Cesrio da Silva, Miguel Gonalves Pachecoe Oliveira, ento Delegado de Polcia Assistente do Decap,Ivaney Cayres de Souza, ento Delegado de Polcia Titular do78 Distrito Policial do Decap, Mauro Marcello de Lima eSilva, ento Delegado de Polcia Titular do 89 Distrito Poli-cial do Decap, e o autor, mantiveram contatos com policiaisdo Miami Department of Police of the City of Miami, doNew York City Police Department e com scholars do John JayCollege of Criminal Justice da City University of New York,no perodo de 12 a 25 de outubro de 1995, objetivandodifundir o enfoque obtido sobre o crime organizado nos Esta-dos Unidos da Amrica junto Academia de Polcia, ondequase todos so professores concursados.14

    14. V. Dirio Oficial, Estado de So Paulo, volume 105, n 192, 6 deoutubro de 1995, pg. 1. Vide SOUZA, Percival de, EUA inspiram distritomodelo, Tribuna do Direito, dezembro de 1995, pg. 18.

  • CRIME ORGANIZADO NO BRASIL 71

    10O PROCESSO LEGISLATIVO BRASILEIRO,

    EM ANDAMENTO,SOBRE O CRIME ORGANIZADO

    (PARTE II)

    Mltiplos projetos de lei encontram-se tramitando atual-mente junto ao Congresso Nacional, visando um combate maiseficiente em relao ao crime organizado brasileiro frente preocupante e crescente gravidade da questo.

    A Histria do Direito Penal Brasileiro no pode ignorar,de modo algum, que as primeiras medidas legislativas fo