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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI ALTERAÇÕES DE CONSCIÊNCIA: UM ESTUDO JUNTO A PACIENTES TERMINAIS INTERNADOS EM HOSPITAL GERAL A PARTIR DE DEPOIMENTOS DE FAMILIARES E DE COMPONENTES DA EQUIPE DE ENFERMAGEM QUE CUIDAM DESSES SUJEITOS Palhoça/SC 2009

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

EDUARDO MARCHI

ALTERAÇÕES DE CONSCIÊNCIA: UM ESTUDO JUNTO A PACIENTES TERMINAIS INTERNADOS EM HOSPITAL GERAL A PARTIR DE DEPOIMENTOS

DE FAMILIARES E DE COMPONENTES DA EQUIPE DE ENFERMAGEM QUE CUIDAM DESSES SUJEITOS

Palhoça/SC

2009

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EDUARDO MARCHI

ALTERAÇÕES DE CONSCIÊNCIA: UM ESTUDO JUNTO A PACIENTES TERMINAIS INTERNADOS EM HOSPITAL GERAL A PARTIR DE DEPOIMENTOS

DE FAMILIARES E DE COMPONENTES DA EQUIPE DE ENFERMAGEM QUE CUIDAM DESSES SUJEITOS

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Graduação em Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Psicólogo.

Orientador: Prof. Gabriel Gomes de Luca, Msc.

Palhoça/SC

2009

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EDUARDO MARCHI

ALTERAÇÕES DE CONSCIÊNCIA: UM ESTUDO JUNTO A PACIENTES TERMINAIS INTERNADOS EM HOSPITAL GERAL A PARTIR DE DEPOIMENTOS

DE FAMILIARES E DE COMPONENTES DA EQUIPE DE ENFERMAGEM QUE CUIDAM DESSES SUJEITOS

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção de título de Psicólogo e aprovado em sua forma final pelo Curso de Psicologia pela Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul

Palhoça, 26 de Junho de 2009.

______________________________________________ Prof. e orientador Gabriel Gomes de Luca, Msc.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________ Profª. Alessandra d´Avila Scherer, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________ Profª Maurício Eugênio Maliska, Dr

Universidade do Sul de Santa Catarina

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Agradecimentos

Agradeço a Deus pela vida, pela saúde e por me dar forças em todos os momentos.

Aos meus pais Inácio e Iolanda, por não pouparem esforços para que este momento

chegasse incentivando e auxiliando em todos os momentos

As pessoas que me ajudaram para que eu pudesse concluir o curso.

Aos amigos que tive oportunidade de conhecer e compartilhar bons momentos.

Aos professores do curso, Paulo Roberto Sandrini, a professora Maria do Rosário

que orientou a primeira parte do projeto, aos professores membros da banca, professor

Maurício Eugênio Maliska e professora Alessandra D’Ávila Scherer.

Ao professor Gabriel Gomes de Luca pela disponibilidade, atenção dedicação e

paciência, com que me orientou durante o semestre.

Aos profissionais da equipe de enfermagem assim como os familiares dos pacientes

que contribuíram para que este trabalho fosse realizado.

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RESUMO

Comumente as alterações de consciência são fenômenos apresentados por pacientes terminais.

Alguns dos possíveis tipos de alterações de consciência que podem ser apresentados por esses

sujeitos são Topor, Obnubilação da consciência e Amência. A multiplicidade dessas alterações

indica haver necessidade de que os profissionais que assistem esses sujeitos tenham

conhecimento acerca desses diferentes tipos de alteração de consciência, uma vez que sem esse

conhecimento, os profissionais podem se equivocar em relação ao diagnóstico e ao tipo de

tratamento a ser realizado. Foi objetivo avaliar as alterações consciência de pacientes em fase

terminal, a partir de depoimentos de familiares e de técnicos de Enfermagem que cuidam

destes sujeitos. Para tanto, foram entrevistados uma enfermeira, um técnico e uma técnica de

Enfermagem, e três familiares de pacientes terminais que sofrem de câncer, internados em uma

ala de um hospital geral. Classificado como pesquisa exploratória e qualitativa, foi realizado

como procedimento de coleta de dados entrevista semi-estruturada. Os dados coletados a partir

dos depoimentos dos profissionais que cuidam de pacientes terminais e dos familiares desses

pacientes foram analisados em categorias, de acordo com os objetivos específicos do trabalho

e com as informações apresentadas. A partir do depoimento deles, foi possível constatar que

diversos tipos de alterações de consciência são apresentadas pelos pacientes terminais tais

como Dissociação da consciência, Amência e Obnubilação da consciência. No entanto, há

dificuldade por parte da equipe de Enfermagem em identificar as alterações de consciência,

pois somente algumas características são percebidas dificultando a descrição da alteração de

consciência. Por sua vez, os familiares dos pacientes detalham os comportamentos de seus

entes, possibilitando relacionar os tipos de alterações de consciência apresentados pelos

pacientes com os tipos de alterações de consciência apresentados no marco teórico.

Palavras-chave: Alterações de consciência. Pacientes terminais. Hospital geral

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Lista de Abreviaturas, Siglas e Símbolos. CAPS – Centro de atenção psicossocial.

SBPH – Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar.

REM – Rapid Eye Movement.

HC – Hospital de Caridade.

UNISUL – Universidade do Sul de Santa Catarina.

EEG – Eletroencefalograma.

AIDS – Síndrome da imunodeficiência adquirida.

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Sumário

Lista de Abreviaturas, Siglas e Símbolos .......................................................................... 6

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 9

1.1 PROBLEMÁTICA ................................................................................................... 10

1.2 Objetivos ..................................................................................................................... 13

1.2.1 Objetivo geral........................................................................................................... 13

1.2.2 Objetivos específicos ............................................................................................... 13

1. 3 Justificativa ................................................................................................................ 13

2. MARCO TEÓRICO ................................................................................................... 16

2.1 Contexto de atuação do Psicólogo Hospitalar ........................................................... 16

2.2 Considerações sobre o termo “Pacientes terminais”................................................... 18

2.3 Exame da função Psíquica Consciência...................................................................... 19

2.4. Consciência ................................................................................................................ 20

2.4.1 Alterações da consciência ........................................................................................ 21

2.4.1.2 Alterações quantitativas da consciência............................................................... 21

2.4.1.3 Alterações qualitativas da consciência.................................................................. 25

3. MÉTODO .................................................................................................................... 28

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS........................................................ 31

4.1 Descrição dos resultados obtidos com os membros equipe de enfermagem .............. 31

4.2 Análise dos resultados obtidos com os membros da equipe de enfermagem ............. 37

4.3 Características das alterações de consciência apresentadas por pacientes terminais de

acordo com depoimentos de familiares desses sujeitos .................................................... 42

4.4 Análise dos resultados referentes as características das alterações de consciência

apresentadas por pacientes terminais de acordo com depoimentos de familiares desses

sujeitos .............................................................................................................................. 51

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 59

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6. REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 61

APÊNDICES ................................................................................................................... 63

ANEXOS .......................................................................................................................... 67

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1. INTRODUÇÃO

O trabalho de conclusão de curso (TCC) é uma pesquisa realizada pelo acadêmico, quando o

aluno escolhe um tema, sendo o tema relacionado ao campo de estágio onde atua. Os estágios

são divididos em dois núcleos: trabalho e saúde. No Núcleo da Saúde existem vários projetos

como o Time da Mente, estágio no Centro de atenção Psico-Social (CAPS) e estágio no

hospital e na Mediação. A função dos núcleos é, além de apresentar discutir e avaliar assuntos

pertinentes ao campo de estágio, criar condições para que o aluno atue no campo, no caso o

hospital, assuntos como luto, dor, morte, o contexto hospitalar entre outros. No hospital, o

aluno atende pacientes no leito, como também seus familiares. Os atendimentos são individuais

ou em grupos espontâneos que porventura possam surgir. A duração do estágio é de um ano e é

dividido em dois semestres.

A partir do estágio realizado em um Hospital Geral de Florianópolis onde foram feitos

contatos com pacientes terminais, foi observado, ainda que superficialmente, a presença do

fenômeno Consciência e suas alterações. A partir de então, foi avaliado a possibilidade de

estudar fenômeno de modo a garantir a integridade do paciente, respeitando seu momento vida.

Considerando a integridade do paciente e a possibilidade de avaliar o fenômeno, a pesquisa irá

contar com a participação dos familiares e dos acompanhantes dos pacientes, assim como

componentes da equipe de enfermagem.

A consciência trata-se de uma função psíquica que possui características como a

divisão entre quantitativa e qualitativa, ou objetiva e subjetiva. Por sua vez, as alterações de

consciência são fenômenos que também possuem características que, quando constatadas em

uma pessoa indicam um tipo de alteração de consciência. As características das alterações de

consciência podem ser observadas em contextos diferentes, como em um ritual religioso ou em

pacientes terminais. Em pacientes terminais, por se tratar de um momento específico onde o

paciente está sujeito a manipulações medicamentosas ou cirúrgicas, este fenômeno pode ser

observado pelos componentes da equipe de saúde assim como pode ser observados pelos

acompanhantes dos familiares.

Com objetivo de sistematizar o estudo, este trabalho apresenta problemática, objetivo

geral, objetivos específicos e justificativa. Na seqüência do trabalho será apresentado a

fundamentação teórica da pesquisa, o método a descrição e análise dos resultados obtidos, e

finalizando o trabalho será apresentado as considerações finais.

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1.1 PROBLEMÁTICA

No Brasil, há relatos da inserção do psicólogo em hospitais desde a década de 1950.

(Ismael, 2005). Segundo a autora, a inserção do psicólogo foi difícil, mas evoluiu a partir desta

data. Um motivo para essa evolução foi o reconhecimento pelo Conselho Federal de Psicologia

(CFP) da especialidade “Psicologia Hospitalar” e o outro motivo, foi a fundação da Sociedade

Brasileira de psicologia hospitalar (SBPH) em 1997. Para Campos (1995), a psicologia vem se

inserindo no contexto hospitalar, pois a presença do profissional de psicologia é de grande

importância em várias situações relacionadas à saúde do ser humano, e o Psicólogo,

profissional da saúde, atua tanto na prevenção como no tratamento dos assuntos pertinentes a

profissão.

A psicologia hospitalar por ser um campo de atuação novo no Brasil apresenta desafios

à esta área da saúde. Segundo Matarazzo (1982 apud CAMON, 2002, p.13):

A Psicologia da Saúde agrega o conhecimento educacional, científico e profissional da disciplina Psicologia para utilizá-lo na promoção e manutenção da saúde, na prevenção e no tratamento da doença, na identificação da etiologia e no diagnóstico relacionado à saúde, à doença e às disfunções, bem como no aperfeiçoamento do sistema de política da Saúde".

Nesse sentido, Chiattone (1998) descreve que uma das características da psicologia

hospitalar é estar fundamentada na interdisciplinaridade. Entenda-se por interdisciplinaridade o

dialogo com outras disciplinas ou outras áreas do saber, deste modo conforme descreve

Chiattone (1998), o psicólogo no hospital deve sempre manter contato com outros profissionais

considerando o bem estar do paciente.

A assistência psicológica em um hospital tem como característica, conforme Angerami-

Camon (1996), buscar o alívio emocional do paciente, da sua família e até mesmo da equipe de

saúde, no que diz respeito aos relacionamentos e expectativas, sendo que a ajuda prestada

implica em mobilização de forças em que a angústia, ansiedade e temores estão presentes.

Para Chiattone (1998) o psicólogo deve partir do pressuposto que o ser doente deve ser

considerado em três esferas que são: biológica, psicológica e social (biopsicossocial), onde

essas esferas interagem entre si, tendo-se aí uma realidade complexa no que diz respeito à

atuação do psicólogo, que possui dentro de sua estrutura profissional uma vasta experiência

clínica e pouca vivência em equipe interdisciplinar. Além de considerar o paciente no contexto

biopsicossocial, Chiattone (1998) descreve que o psicólogo hospitalar deve ter características

próprias, específicas e adequadas ao hospital, diferenciando-se do psicólogo clínico.

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Uma das possibilidades de atuação do psicólogo hospitalar é com pacientes terminais.

Por este trabalho estar relacionado a este tema, apresenta-se a seguir, dados epidemiológicos a

respeito de doenças que levam a terminalidade, que são várias, dentre as existentes será

apresentado câncer e AIDS.

A AIDS, segundo o Ministério da Saúde, configurou-se no Brasil como uma sub-

epidemia, atingindo com mais intensidade usuários de drogas e homossexuais. De 1998 até

junho de 2006, onze mil óbitos foram registrados anualmente em decorrência da doença, neste

período o Brasil acumulou cerca de 192 mil óbitos. Com o avanço no tratamento desta doença,

o portador do vírus HIV pode viver por mais tempo, e com uma boa qualidade de vida,

exercendo as suas funções sociais. Porém, muitos são os casos onde o paciente portador do

vírus, sofre de algum tipo de doença, como tuberculose e em sua situação torna-se incurável.

Sobre o câncer, Pivetta (2004) relata que encurta a vida de seis milhões de pessoas

anualmente no mundo, o que caracteriza a doença como uma epidemia. Segundo o autor entre

1979 e 2002 mais de dois milhões de brasileiros morreram da doença, e no ano de 2002

quatrocentos mil novos casos de câncer foram registrados.

Com o avanço da Medicina, pacientes com câncer ganharam uma melhor qualidade de

vida em relação ao tratamento. Conforme Carvalho (1998, p.63), “há preocupação cada vez

maior com a qualidade de vida dos pacientes em tratamento de câncer”. E não só a

preocupação pela sobrevivência do paciente, um exemplo disto seriam os cuidados paliativos

que segundo a Organização Mundial de Saúde consiste na abordagem para melhorar a

qualidade de vida dos pacientes e seus familiares, no enfrentamento de doenças que oferecem

risco de vida, pelo meio da prevenção e alívio do sofrimento. Isto significa a identificação

precoce e o tratamento da dor e outros sintomas de ordem física, psicossocial e espiritual.

A Psico-Oncologia surgiu a partir da necessidade do acompanhamento psicológico ao paciente

com câncer, a sua família e a equipe que o acompanha. Conforme Carvalho (2003),o psicólogo

atua no acompanhamento de pacientes com câncer e também com familiares e equipe de saúde.

Com o paciente, o Psico-oncologista auxilia no momento do recebimento do diagnóstico,

facilita a expressão dos sentimentos do paciente e também esclarece sobre os tratamentos aos

quais o paciente será submetido. Com o familiar, o psico-oncologista, prepara a família para

lidar com possíveis modificações no comportamento do paciente, incluindo dificuldades

físicas, emocionais e sociais, também facilita a comunicação do paciente com a equipe e com

as pessoas com quem convivem; também ajuda a família e o paciente a compartilharem seus

medos, expectativas e emoções. Nesse sentido onde os aspectos psicológicos ganham

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importância, Carvalho (1998, p.65) apresenta que “o cuidado global dos pacientes oncológicos

incorpora hoje o manejo psicológico como um elemento-chave”.

Ainda em relação ao trabalho do psicólogo é importante ressaltar o trabalho com à

equipe de saúde onde psicólogo ajuda a entender as possíveis causas para o comportamento

dos pacientes, bem como treiná-los para lidar com esses comportamentos. O psicólogo também

pode ajudar a equipe com a questão da morte e do “morrer”, e também outros assuntos que

podem interferir na saúde mental do profissional da equipe de saúde.

Esta pesquisa decorre do contato direto com pacientes em fase terminal, ou seja,

pacientes sem a possibilidade de cura, que devido a sua condição médica podem ou não

apresentar a consciência alterada.

Com relação à consciência, Dalgalarrondo (2000) descreve que a palavra consciência

tem origem latina, é formada pela junção de dois termos cum (com) e scio (conhecimento). A

palavra indica conhecimento compartilhado com o outro, apropriado pelo indivíduo. Ainda,

conforme o mesmo autor, a consciência pode se alterar por processos fisiológicos, por

exemplo, o sono que é uma alteração normal.

Consciência é um fenômeno psicológico que deve ser compreendido estudado e sofrer

intervenções, sobretudo em ambiente hospitalar onde sua alteração pode influenciar a equipe

de saúde no manejo e na relação com o paciente. Pacientes com alteração de consciência

podem dar informações incorretas a médicos e enfermeiros que podem aumentar ou diminuir a

quantidade de medicamentos tendo como base o relato do paciente.

Levando-se em consideração a necessidade de compreender aspectos psicológicos em

pacientes no processo de adoecimento, este trabalho apresenta como objetivo o seguinte: Quais

as características da percepção sobre alteração de consciência em pacientes terminais

apresentadas por componentes de uma equipe de enfermagem e por familiares desses sujeitos?

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1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo geral

Caracterizar a percepção sobre alteração de consciência em pacientes terminais,

apresentadas por familiares e por componentes da equipe de enfermagem que cuidam desses

sujeitos.

1.2.2 Objetivos específicos

- Identificar o tipo e a freqüência das alterações de consciência em pacientes terminais a partir do depoimento de familiares ou acompanhantes desses sujeitos;

- Identificar o tipo e a freqüência das alterações de consciência em pacientes terminais a partir do depoimento de componentes da equipe de enfermagem que cuidam desses sujeitos;

1. 3 Justificativa

Maurício Daniel Gattaz (1997) publicou um artigo na Revista de Psiquiatria Clínica,

cujo título é Depressão da Consciência, na qual apresenta a importância da avaliação da

consciência em pacientes terminais, sobretudo em unidades de terapia intensiva visto que a

maior parte dos pacientes nesta situação são avaliados inicialmente por médicos não

neurologistas em serviços de emergência. Seu artigo trata de uma contribuição aos médicos

psiquiatras para fazerem à avaliação psicológica à beira do leito, para isso desenvolveu um

sistema padronizado de base biológica sem atentar para questões subjetivas.

A importância descrita por este autor em seus estudos médicos é válida também para a

Psicologia. O paciente terminal costumeiramente não é avaliado por psicólogos ou psiquiatras,

sobretudo se estiver sob cuidados paliativos, quando nesta condição o principal foco a ser

trabalhado é a dor. Uma decorrência da não avaliação psicológica do paciente seria o fato de a

equipe de saúde utilizar o relato do paciente como base para o seu manejo, visto que o paciente

terminal pode apresentar a consciência alterada assim como outras funções psíquicas como, por

exemplo, atenção, memória e sensopercepção.

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No Hospital de Caridade (HC) a equipe de enfermagem é a que mais tem contato com

os pacientes, é para equipe de enfermagem que o paciente dirige suas queixas como dor, fome,

frio entre outras. É também para a equipe de enfermagem que os familiares dirigem suas

dúvidas e questionamentos sobre a saúde de seu ente, e dentre as dúvidas surgem

questionamentos sobre a alimentação e também sobre o comportamento do paciente.

Uma pesquisa publicada por Suzaki (2006) cujo titulo é “Identificação das fases do

processo de morrer pelos profissionais de Enfermagem” teve o objetivo de verificar dentre os

profissionais da enfermagem se eles identificam as fases do processo de morrer descritas por

Kübler-Ross (1998) (negação, raiva, barganha, depressão e aceitação). A pesquisa revelou que

há dificuldade quanto à identificação dessas fases pelos profissionais da enfermagem e também

apontou uma falta de atualização do profissional depois de formado. Esta pesquisa foi realizada

por duas enfermeiras e um enfermeiro da cidade de São Paulo que entrevistaram treze

profissionais no ano de 2006 através de entrevista individual. 1

Além das conclusões feitas pelos pesquisadores, esse trabalho também indica que os

aspectos psicológicos, embora importantes no manejo e na relação com os pacientes, não são

enfatizados pela equipe de enfermagem. Essa pesquisa demonstra a necessidade da

participação do profissional da Psicologia no hospital, pois a depressão (uma das fases do

processo de morrer) pode ser confundida com Torpor (uma alteração de consciência), por

exemplo.

Gil (2006) pesquisou sobre as funções psíquicas pensamento e afetividade. Sua

pesquisa teve, entre outros objetivos, investigar teoricamente pontos fundamentais sobre as

funções psíquicas afetividade e pensamento e também articular cientificamente pontos sobre a

dinâmica do sujeito em processo de internação e as possíveis alterações das funções psíquicas

afetividade e pensamento. Essa pesquisa demonstra que funções psíquicas como pensamento e

afetividade já foram estudadas em ambiente hospitalar, porem a consciência e suas alterações ainda

não.

Com o objetivo de encontrar publicações com o mesmo objetivo geral desta pesquisa,

foi realizado pesquisas em sites de pesquisas científicas, base de dados, teses e dissertações

como Bireme2, Domínio Publico3 e Scielo4, e foram feitas buscas com as palavras “alterações

de consciência em pacientes terminais” porém não foram encontrados artigos ou pesquisas

sobre o assunto, demonstrando desta forma que o tema desta pesquisa é pouco estudado.

1 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21002006000200004&lang=pt 2 www.bireme.br 3 www.dominiopublico.gov.br 4 www.scielo.org

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Esses artigos e pesquisas apresentados, tratam de elementos para o conhecimento

científico, e tiveram a sua validade comprovada, mas não respondem ao problema de pesquisa

apresentado neste trabalho, sendo assim a relevância científica se justifica na realização desta

pesquisa.

A pesquisa científica contribui para a evolução do conhecimento humano em todos os

seguimentos. O papel da pesquisa em psicologia é, sem dúvida, de extrema importância, assim

como em outras áreas de conhecimento, a pesquisa deve ser incentivada e desenvolvida, pois

essa pode revelar um novo saber e contribuir para a formação acadêmica e profissional.

Nesse sentido, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) dispõe como atribuições do

Psicólogo no Brasil, a produção do conhecimento científico em todas as áreas de atuação do

psicólogo, sendo assim, esta pesquisa apresenta sua relevância acadêmica no sentido de

produzir um saber psicológico em uma área de atuação relativamente nova, (comparado com a

área clínica), a psicologia hospitalar.

Por conta do estágio realizado num hospital onde muitos contatos foram feitos com

pacientes terminais, percebeu-se a presença e a possibilidade de fazer uma pesquisa

relacionando funções psíquicas (no caso consciência) com pacientes terminais.

O contato direto com pacientes sem possibilidade de cura pode despertar uma série de

reações naqueles que o rodeiam como, por exemplo, repúdio, medo, curiosidade ou compaixão.

O destino que é dado a essas reações é pessoal, a pessoa que sente repúdio pode, por exemplo,

não ter mais contato com o paciente ou pode ter contato e tentar confortá-lo. Trata-se de uma

questão que variável, que é determinada por vários fatores, entre eles a história de vida da

pessoa.

Em seu leito, os pacientes terminais passam por situações muito particulares que é

enfrentado à sua maneira. Quando o paciente está contactuante, pode ser observado alterações

de consciência como, por exemplo, o paciente pode contar histórias ou não reconhecer

familiares e assim por diante. Do ponto de vista dos que o rodeiam, podem pensar ser delírio

ou loucura. Isso talvez ocorra pela sua condição médica, mas o fato é que ali também há um

objeto da psicologia a ser investigado.

Conhecer as alterações de consciência contribui para a saúde do paciente no sentido de

que quando o paciente tem sua consciência alterada pode dar informações distorcidas à equipe

de saúde com relação a seu estado geral. Com a consciência alterada, o paciente pode ter seu

discurso desqualificado diante dos familiares e equipe de saúde que porventura desconheçam

alterações de consciência. Nesse sentido, este trabalho busca avaliar as alterações de

Page 16: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

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consciência em pacientes terminais e assim produzir subsídios científicos a serem utilizados

por psicólogos, médicos e enfermeiros com relação a pacientes terminais.

2. MARCO TEÓRICO

Com objetivo de criar subsidio para a pesquisa realizada, a ênfase do referencial teórico

será dada para a da função psíquica pesquisada, a consciência e suas alterações, psicologia

hospitalar e pacientes terminais.

2.1 Contexto de atuação do Psicólogo Hospitalar

A atuação do psicólogo hospitalar é específica, ou seja, possui particularidades que

diferenciam a atuação no hospital de outras. Sendo assim vale apresentar, ainda que

brevemente, a contribuição de alguns autores sobre Psicologia Hospitalar, pois esta pesquisa

ocorre em ambiente hospitalar.

Sobre a atuação do psicólogo no hospital, Campos (1995, p. 83) descreve que:

O psicólogo, atuando no hospital, busca a promoção, a prevenção, a recuperação do bem-estar do paciente, no seu todo, o que implica que aspectos físicos e sociais são considerados em interação contínua na composição do psiquismo desse mesmo paciente.

Há diversas considerações a serem feitas sobre a atuação do psicólogo hospitalar. Uma

dessas considerações é apresentada por Chiattone (1998) que descreve que o ser doente deve

ser considerado em três esferas (biopsicossocial), onde essas esferas interagem entre si, tendo-

se aí uma realidade complexa no que diz respeito à atuação do psicólogo, que possui dentro de

seu contexto profissional uma vasta experiência clínica e pouca vivência em equipe

interdisciplinar.

Para compreender o termo biopsicossocial, é importante ressaltar que este termo diz

respeito as dimensões física, psicológica e social de um sujeito. Este conceito propõe que essas

dimensões são integradas em uma pessoa de forma simultânea. A dimensão biológica refere-se,

conforme França (2007), a características físicas herdadas ou adquiridas ao nascer e também ao

metabolismo e vulnerabilidade de órgãos ou sistema. Conforme a mesma autora, a dimensão

psicológica refere-se a processos afetivos e emocionais e de raciocínio conscientes e

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inconscientes que formam a personalidade de uma pessoa. A dimensão social é descrita pela

autora como o conjunto de valores, crenças, o papel na família no trabalho e em todos os

grupos a que cada pessoa pertence ou participa.

Alem de considerar as dimensões biopsicossocial, Campos (1995, p.77) apresenta que

“O psicólogo, como profissional da saúde, tem um papel importante na instituição hospitalar,

buscando contribuir para sua humanização”. A humanização descrita por Campos (1995, p.77)

diz respeito às atribuições do psicólogo no hospital, que segundo a autora:

[...] abrange desde a indicação da internação, a orientação médica e a assistência global que o paciente recebe, incluindo o atendimento de sua família. [...]. Assim sendo, os objetivos do psicólogo em sua atuação hospitalar devem abranger a assistência psicológica que se deva prestar a pacientes e seus familiares, a produção de conhecimentos psicológicos na área através de sua experiência e, por essa mesma experiência, a contribuição de alguma forma para o aperfeiçoamento de outros psicólogos e de outros profissionais da saúde.

Apresentando um enfoque no contexto organizacional e administrativo no ambiente

hospitalar Romano (1999, p.26) descreve que: Humanizar significa particularizar, atender às circunstancias e necessidades individuais. Mas não se trata de qualidade do serviço prestado, de um algo a mais. Humanização é obrigação, é exigência do consumidor, é revitalização de preceitos éticos. E tem dois enfoques: a) refere-se às condições de trabalho – de responsabilidade da administração superior e da política de recursos humanos, b) na dispensação de cuidados ao doente – tarefa de todos.

Complementando as considerações de Campos (1995) e Romano (1999), Chiattone

(1998) descreve que o psicólogo hospitalar deve ter características próprias específicas e

adequadas ao hospital, diferenciando-se do psicólogo clínico em doze pontos ou considerações

que ressaltam a diferença e as particularidades do psicólogo hospitalar. Resumidamente, as

diferenciações listadas por Chiattone (1998) referem-se aos limites institucionais, a questão

multidisciplinar, a demanda do serviço que é diferenciada, o ambiente de trabalho, a técnica a

ser utilizada pelo psicólogo e o trabalho com o familiar.

Nesse sentido, Chiattone (1998) descreve ainda que o psicólogo hospitalar assume um

espaço esquecido ou inexistente dentro dos hospitais, ou seja, apoio emocional e a visão do

paciente como uma pessoa e não somente como um órgão doente. Conforme a mesma autora, a

psicologia hospitalar caracteriza-se por estar fundamentada na interdisciplinaridade e deste

modo, o psicólogo no hospital deve sempre manter contato com outros profissionais, visando o

bem estar do paciente.

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Com pacientes crônicos, o psicólogo hospitalar deve atuar, conforme Angerami-Camon

(1996, p.45) “junto ao ‘Ser Doente’ no sentido de resgatar sua essência de vida que foi

interrompida pela ocorrência do fenômeno doença.” Desta maneira, o psicólogo deve

compreender que o indivíduo doente encontra-se em uma situação peculiar de sua vida. A

mesma autora ainda ressalta que “o tratamento ao ‘Ser Doente’, seja clínico, nutricional, social

e emocional, deve ser pessoal e empático, pois o paciente é um ser que em sua facticidade está

doente.”.

Completando o atendimento global ao paciente, Chiattone (1998) descreve que o

trabalho com o familiar assume uma postura humanista frente ao adoecimento, desta forma,

pacientes e familiares ganham uma porta de acesso a seus medos, fantasias e sofrimentos

causados pela situação de hospitalização.

Atendendo o paciente, o familiar e a equipe de saúde, o psicólogo conforme descreve

Angerami-Camon (1996, p.174), “é o depositário de uma enorme gama de sentimentos, como

desespero, a angústia, o medo as ansiedades, as frustrações, a impotência, etc.” Com este

“depósito” de emoções e sentimentos direcionados ao profissional da psicologia, a autora

descreve que o psicólogo deve atentar também para o seu próprio cuidado, pois assim pode-se

realizar um trabalho digno e adequado, preservando a sua integridade e prestando um serviço

de qualidade.

2.2 Considerações sobre o termo “Pacientes terminais”

O termo que define pacientes terminais é norteado por condições médicas ou por

exames que comprovam o estado de evolução de uma doença e que levam a conclusão do

termo. O comum entre as definições é que o paciente porta uma doença incurável e que a morte

é iminente.

Conforme descreve Porto (2001), paciente terminal é o que sofre de uma doença

incurável, em fase avançada, para a qual não há recursos médicos capazes de alterar o

prognóstico de morte em curto ou médio prazo. (Porto, 2001). Diferente do que descreve Porto

(2001), Souza (2006) apresenta que paciente terminal ou paciente com prognóstico reservado,

refere-se ao paciente cujo organismo já não reage mais a certos estímulos, mas que

psicologicamente perdeu ou não a motivação do viver. Complementando o conceito

apresentado por Souza (2006), Holland (1982 apud França 2000), descreve que “é terminal

aquele paciente que apresenta duas características fundamentais: a da incurabilidade e a do

fracasso terapêutico dos recursos médicos.”.

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Conforme as definições apresentadas por Holland (1982), Souza (2006) e Porto (2001)

percebe-se que a definição do termo “paciente terminal” apresenta varias descrições diferentes,

porém uma característica da situação que se encontra o paciente terminal pode ser descrita de

maneira única, ou seja, não há possibilidade de cura. Não há consenso na definição do termo,

porém de maneira geral a situação do paciente é descrita como implacável e segundo Kübler-

Ross (1998), a maioria dos pacientes terminais passam por fases do adoecimento que são

negação, raiva, barganha, depressão e aceitação, e que demonstram a caminhada do paciente ao

ter a consciência de sua terminalidade.

2.3 Exame da função Psíquica Consciência

Segundo o dicionário eletrônico de psiquiatria da USP o termo “Psiquismo” “expressa a

atividade de nossa vida mental. Inclui-se nele tanto os processos conscientes como os

inconscientes. O psiquismo é uma resultante de nossas experiências perceptivas vividas e

influenciadas por múltiplas variáveis, destacando-se entre elas o bioquimismo individual, a

influência social do meio, as vicissitudes ocorridas no início do desenvolvimento da criança e

de sua vida posterior e a própria constituição daquela pessoa.” 5

Com relação ao exame das funções psíquicas, Dalgalarrondo (2000, p.61) afirma que

“apesar de ser absolutamente necessário o estudo analítico das funções psíquicas isoladas e

suas alterações é um procedimento artificial. Trata-se apenas de uma estratégia de abordagem

da vida mental [...].”

Paim (1993, p.193) explica que: O estudo da consciência mostra como é artificial a fragmentação da atividade psíquica em diferentes partes ou em funções isoladas. Não existem funções intelectuais, afetivas e volitivas independentes na contextura da vida psíquica. A decomposição analítica da consciência em fenômenos particulares é feita apenas, por necessidade de exposição, para facilitar o estudo da atividade de nossa mente. Na realidade, os processos psíquicos se apresentam de imediato quando nos colocamos em atitude de observadores de nossa consciência como uma totalidade, ou melhor, como atividade sintética em que os observadores se encontram vinculados uns aos outros estabelecendo entre eles uma relação de causa e efeito. Sucedendo-se em série infinita, os fenômenos psíquicos estão subordinados à lei da causalidade e, ao mesmo tempo, interdepende-se e influenciam-se mutuamente.

Ainda conforme Paim (1993) “no estudo da consciência, é indispensável considerar a

conexão causal existente entre todos os fenômenos psíquicos.” O que Paim (1993) nos

5 http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/r244/dcons244.htm

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apresenta é que as funções psíquicas como afetividade, orientação, consciência, pensamento,

atenção, vontade, linguagem, memória, entre outros, não ocorrem de maneira separada ou

isolada na vida de uma pessoa, ou seja, elas acontecem em uma totalidade onde estabelecem

entre si uma relação de causa e efeito.

2.4. Consciência

Dalgalarrondo (2000) apresenta três definições da língua portuguesa para o termo

consciência: neuropsicológica, psicológica e ético-filosófica. A definição neuropsicológica

utiliza o termo no sentido de estado vigil, ou seja, a consciência é o estado de estar acordado e

lúcido, já a definição psicológica apresenta o termo como uma dimensão subjetiva da atividade

psíquica. O termo utilizado em psicologia é apresentado como a capacidade de o indivíduo

entrar em contato com a realidade, perceber e conhecer os seus objetos. A definição ético-

filosófica da consciência é descrito por Dalgalarrondo (2000) e diz respeito à capacidade de

tomar ciência dos deveres éticos e assumir as responsabilidades, os direitos e deveres

concernentes a essa ética.

Diferenciando Consciência Clínica ou quantitativa de Consciência do EU, Angerami-

Camon (1996) descreve que consciência de eu seria a consciência qualitativa. A consciência

clínica, também conhecida como quantitativa, e suas alterações são baseadas em um diagrama

estímulo-resposta, Angerami-Camon (1996) descreve que são utilizados por médicos no

contexto hospitalar e fazem referência à quantidade. As alterações da consciência clínica são:

Normal, Torpor, Turvação, Obnubilação, Coma I ou coma Vigil, Coma II, Coma III e Coma

IV. Esses graus de alteração de consciência clínica representam uma ordem de afunilamento

onde o comprometimento é agravado a cada estado.

Diferente da consciência clínica a consciência do EU, também chamada de consciência

qualitativa, é descrita por Angerami-Camon (1996) e diz respeito à personalidade integridade e

identidade da pessoa. A consciência do EU trata-se de uma estrutura que é desenvolvida ao

longo da vida tendo inicio na infância. As alterações da consciência do EU são conforme

Angerami-Camon (1996): normal, Alteração no “Eu Físico”, Alteração no “Eu Psíquico”,

Ruptura Psicótica, Estranheza de Si Mesmo, Despersonalização, Estranheza do Outro,

alterações na Orientação Autopsíquica (Tempo e Espaço Psicológicos) e Alteração na

Orientação Alo Psíquica (Tempo e Espaço Físicos).

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2.4.1 Alterações da consciência

Para Paim (1993), a consciência pode ser encarada sob os aspectos subjetivos e os

objetivos. Os aspectos subjetivos são as propriedades dos fenômenos poderem ser conhecidos

pelo indivíduo, e o aspecto objetivo diz respeito ao conteúdo da consciência que, se reflete no

plano subjetivo sob a forma de percepções, representações e conceitos. Com relação a isto,

Paim (1993, p.195) diz que “o mundo exterior proporciona a todo instante material a nossa

consciência. Ao campo da consciência chega também uma série de sensações cenestésicas, que

nos orientam sobre a nossa própria personalidade”.

Dalgalarrondo (2000) descreve as alterações de consciência divididas em normal,

quantitativas e qualitativas. A alteração normal refere-se ao sono que é uma fase fisiológica e

necessária do organismo. O sono pode ser dividido em duas fases conforme o movimento

ocular, se rápido caracteriza o sono REM (Rapid Eye Movement), se o sono for sem

movimento ocular rápido caracteriza o sono Não - REM. O sonho também pode ser

considerado uma alteração normal da consciência, pois está associado ao sono.

2.4.1.2 Alterações quantitativas da consciência

As alterações quantitativas da consciência são descritas por Dalgalarrondo (2000) como

alterações que dizem respeito ao rebaixamento do nível da consciência e são divididas em

graus: Obnubilação da consciência, Sopor ou torpor, Coma.

Para Paim (1993), as alterações de consciência são divididas em patológicas e

alterações da “consciência do eu”. Nas alterações patológicas têm-se os seguintes estados:

obnubilação, coma, delírio oniróide, amência ou confusão mental, estados crepusculares e

onirismo. Nas alterações da consciência do eu têm-se os seguintes transtornos: êxtase, vivência

de transformação do eu, estados segundos e convicção de inexistência pessoal.

A Obnubilação da consciência ou turvação da consciência, conforme Dalgalarrondo

(2000), trata-se do rebaixamento da consciência em grau leve a moderado, no grau moderado

se percebe uma lentidão da compreensão e dificuldade de concentração, deste modo o paciente

apresenta dificuldade de integrar as informações do ambiente. No grau leve de rebaixamento

da consciência o paciente não se apresenta sonolento, porém seu pensamento pode estar

ligeiramente confuso e o paciente se apresenta perplexo, com a compreensão dificultada.

Paim (1993, p. 201) denomina obnubilação da consciência como:

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Um desvio mórbido do curso normal dos processos psíquicos. Caracteriza-se essencialmente, pela diminuição do grau de clareza do sensório, com lentidão da compreensão, dificuldade da percepção e da elaboração do curso do pensamento, perturbação da fixação e da evocação, certo grau de desorientação acompanhando-se tudo isso de sonolência mais ou menos acentuada. A alteração da fixação das ocorrências do meio exterior é facilmente comprovada pelo fato de o paciente não se recordar da entrevista no dia anterior, verificando-se que esqueceu os temas abordados na palestra com o médico.

De forma seqüencial, Bastos (1997) classifica as alterações da consciência, e descreve:

obnubilação ou turvação da consciência estupor topor ou coma superficial, coma ou coma

profundo e estados oniróides. Esta seqüência é classificada pela perda progressiva da

consciência.

Turvação ou obnubilação é descrito por Bastos (1997, p. 89).

Como letargia, sonolência, diminuição global da atenção, com ou sem confusão mental (instabilidade, desorientação, alucinações). Todas as funções psíquicas se reduzem. O consumo cerebral de oxigênio cai para cerca de 20% abaixo do limiar de normalidade.

De modo geral, a descrição da alteração da consciência apresentada acima, possui

características semelhantes entre os autores, a variação mais visível, além das denominações é

o fato de que Dagalarrondo (2000) descreve o rebaixamento da consciência em graus (leve a

moderado) e que a sonolência aparece no grau moderado. Paim (1993) ao descrever a

sonolência descreve-a como mais ou menos acentuada, o que não fica claro em quais condições

é mais acentuada ou menos acentuada.

No Sopor ou Topor Dagalarrondo (2000) descreve que o paciente apresenta-se sempre

sonolento, e se desperto por um estímulo intenso, que pode ser doloroso. A psicomotricidade é

lenta ou inibida e o paciente é incapaz de qualquer ação espontânea. Para Bastos (1997, p.90)

“Topor Estupor ou Coma superficial corresponde ao aprofundamento da turvação, levando a

um estado em que o paciente só pode ser despertado por estímulos muito intensos e

constantes.” Topor, conforme Paim (1993, p.201), não recebe uma categoria a parte segundo o

autor: “A obnubilação pode apresentar graus, desde o leve topor até a vizinhança do coma.”.

Com relação ao Coma, Dalgalarrondo (2000) descreve que não há qualquer atividade

voluntária consciente, é o estado mais profundo do rebaixamento do nível de consciência onde

não há qualquer indício de consciência, o paciente em estado de coma apresenta conforme

Dalgalarrondo (2000, p.68) os seguintes sinais neurológicos: Movimentos circulares errantes com desvios lentos e aleatórios, nistagmo, transtornos do olhar conjugado, anormalidades dos reflexos oculocefálicos (cabeça de boneca) e oculovestibular (calórico), ausência do reflexo de acomodação. Além disso, dependendo da topografia e da natureza da lesão neuronal, pode-se observar no coma a rigidez de descorticação ou de descerebração, anormalidades difusas do EEG, com lentificações importantes e a presença de ondas patológicas.

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Bastos (1993) define que no Coma não há qualquer reação a estímulo interno ou

externo. No coma não há nenhuma atividade psíquica e também não é mais possível despertar

o paciente. Conforme Bastos (1993, p.91), “o córtex cerebral encontra-se então desativado, e

quando essa desativação atinge estruturas inferiores, como o tronco cerebral, a respiração se

interrompe (por paralisia dos centros nervosos respiratórios afásicos)”.

Como descrito anteriormente, Paim (1993) considera o Coma como um grau da

Obnubilação da consciência, e descreve que o coma é o estado mais acentuado de perda da

consciência e que é acompanhado, em geral, por perturbações neurológicas e somáticas. Paim

(1993) apresenta ainda que o enfermo conserva apenas o estado vegetativo, e que quando

existe uma atividade psíquica confusa tem-se o coma vigil ou agrípnico e o coma alcançando

uma profundidade extrema chama-se de Carus.

Dentre as contribuições dos autores sobre o Coma vale destacar que há em comum

entre as definições descritas a idéia de que no Coma não há atividade psíquica. Uma outra

consideração é que Paim (1993) descreve que quando há uma atividade psíquica (confusa) esta

pode ser diferenciada em coma vigil ou agrípnico e carus.

Delirium, síndrome do cativeiro, amência e estado onírico são classificados por

Dalgalarrondo (2000) como síndromes psicopatológicas associadas ao rebaixamento do nível

de consciência. Abaixo as definições das síndromes conforme Dalgalarrondo (2000). Delirium,

diferentemente do delírio (idéia delirante), conforme Dagalarrondo (2000), é alteração de

consciência onde ocorre além do rebaixamento do nível de consciência, desorientação

temporoespacial, ansiedade, agitação ou lentificação psicomotora, ilusões ou alucinações

visuais, flutuação do quadro ao longo do dia, com piora ao anoitecer.

Estado onírico, segundo Dalgalarrondo (2000), é a alteração de consciência que,

paralelamente a turvação e a confusão mental, o indivíduo entra num estado semelhante a um

sonho muito vívido onde ocorre atividade alucinatória visual com cenas complexas e ricas em

detalhes. As visões no estado onírico geralmente são, conforme descreve o autor, associadas

com lutas, fogo, sangue, e matanças. O indivíduo apresenta na experiência onírica uma carga

de angústia terror ou pavor e estas cargas são manifestadas com gritos, movimentos bruscos e

agitação motora. O estado onírico ocorre devido a psicoses tóxicas, síndromes de abstinência a

drogas (com maior freqüência no delirium tremes) e a quadros febris tóxico-infecciosos.

Paim (1993) define como Delírio Oniróide uma síndrome observada no curso de

doenças febris, intoxicações crônicas e enfermidades cerebrais orgânicas. Esta síndrome tem

como característica visões oníricas acompanhada, às vezes, por alucinações auditivas e também

por sintomas como obnubilação da consciência desorientação e como já descrito alucinações.

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Para Bastos (1997), os Estados oniróides ou Delirium são definidos como uma

turvação ou obnubilação da consciência acrescida de confusão mental, alucinações, agitação,

entre outros. Bastos (1997) descreve que neste estado a consciência possui características

relacionadas aos fatores que a causaram como, por exemplo, agitação psicomotora, inquietude,

labilidade e alucinações visuais nos estados de delirium e delirium tremens. Fantasias também

nos estados oniróides, assim como desorientação, instabilidade emocional e perplexidade.

O que há de mais visível em comum nas definições apresentadas para Estados ou

Delírio Oniróide são as definições dadas por Dalgalarrondo (2000) e Paim (1993) no que diz

respeito às causas dos Estados Oniróides. Em Bastos (1997), ficam claros os sintomas dos

Estados Oniróides, porém o que os causa não.

O termo Amência é descrito por Dagalarrondo (2000, p.69) como:

O termo amência era utilizado na psiquiatria clássica (Maynert, Kraepelin) para designar quadros mais ou menos intensos de confusão mental por rebaixamento do nível de consciência, com excitação psicomotora, marcada incoerência do pensamento, perplexidade e sintomas alucinatórios oniróides. Atualmente tende-se a designar tanto os quadros de estado onírico como a amência com o termo Delirium.

O termo Amência para Paim (1993) também é denominado como confusão mental, e é

descrito como uma síndrome caracterizada por obnubilação mais ou menos acentuada da

consciência, com incoerência do pensamento de natureza oniróide e perplexidade. Ainda

conforme Paim (1993), na Amência ou confusão mental existe desorientação no tempo e no

espaço, dificuldade de compreender a situação lentidão nas respostas e há predominância de

vivências alucinatórias oniróides. Paim (1993) também apresenta que em períodos de maior

lucidez, o paciente apresenta-se incoerente e faz interpretações delirantes, e o delírio tem breve

duração enquanto a amência pode durar semanas ou meses.

Assim como descreveu Dalgalarrondo (2000), o termo Amência é utilizado pela

psiquiatria clássica, Paim (1993) cita o mesmo autor que Dalgalarrondo (2000), no caso

Maynert, para descrever o termo Amência. Dalgalarrondo (2000) esclarece que o termo

amência fora substituído por delirium assim como o termo Estado onírico.

A síndrome do cativeiro refere-se, conforme Dalgalarrondo (2000), à uma alteração

biológica onde decorre do infarto ou mielinólise que pode destruir a base da ponte no sistema

nervoso e assim produzir uma paralisia dos nervos cranianos preservando o nível de

consciência e da respiração. O paciente parece não-responsivo, porém os movimentos oculares

são preservados (geralmente os verticais) no qual pode servir de meio de comunicação com o

paciente.

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Bastos (1997, p.101) classifica como Síndrome do Cativeiro outras alterações do estado

de consciência e define:

Usa-se a expressão “síndrome do cativeiro” para designar a condição caracterizada por tetraplegia e paralisia dos nervos cranianos inferiores, com ou sem distúrbio da consciência, apenas os movimentos oculares mantêm a comunicação com o mundo externo.

Sobre o termo síndrome do cativeiro vale ressaltar a classificação de Dalgalarrondo

(2000) onde é apresentado como síndromes psicopatológicas associadas ao rebaixamento do

nível de consciência, e Bastos (1997) que classifica-a como outras alterações do estado de

consciência.

2.4.1.3 Alterações qualitativas da consciência

As alterações da consciência do EU ou qualitativas são as alterações passíveis de

avaliação psicológica, pois não se tratam de alterações orgânicas. Sobre a avaliação da

consciência do Eu em pessoas hospitalizadas, Angerami-Camon (1996, p.37) descreve que: No caso da pessoa hospitalizada, a identificação de Alteração no Eu Físico está quase sempre presente; o grau desse comprometimento e suas implicações sobre a estrutura da Consciência do Eu deverão ser avaliados pelo psicólogo assistente, considerando os itens indicados.

As alterações da consciência “do eu” são descritas por Dalgalarrondo (2000) como uma

alteração parcial ou focal do campo da consciência, ou seja, uma parte do campo da

consciência é alterada e outra parte preservada. As alterações qualitativas são: estados

crepusculares, dissociação da consciência, transe e estado hipnótico.

Estados crepusculares, conforme Dagalarrondo (2000), se refere ao estreitamento

transitório do campo da consciência com a preservação de uma atividade psicomotora global

pouco coordenada, permitindo a ocorrência dos chamados atos automáticos. O estado

crepuscular tem como característica a duração variável, que pode ser de uma hora a algumas

semanas, e durante o período em que ocorre pode acontecer atos explosivos violentos e

episódios de descontrole emocional.

Dalgalarrondo (2000) e Paim (1993) assemelham-se muito quanto à definição de

Estados Crepusculares. Paim (1993, p.205) define “estados crepusculares” como:

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[...] um estreitamento transitório da consciência, com a conservação de uma atividade mais ou menos coordenada. Acompanha-se falsa compreensão da situação. Em geral, a percepção do mundo exterior é imperfeita ou de todo inexistente. Em alguns casos é possível observar a presença de alucinações ou idéias deliróides [...]. Os estados crepusculares costumam desaparecer rapidamente, mas, em alguns casos, podem durar muitos dias. [...]

Para Bastos (1997, p.91), os Estados Crepusculares “são estados em que à consciência

não está clara, mas o paciente pode agir como se estivesse semi-desperto, atuando por vezes de

forma complexa.” Bastos classifica os Estados Crepusculares como estreitamentos da

consciência, e os divide em ictais, pré-ictais, pós ictais e inter-ictais. Os Estados Crepusculares

ictais ocorrem durante certa crise focal, ou mais especificamente, como descreve Bastos

(1997), crise no lobo temporal, que começa com movimentos faciais e pode prosseguir para

uma agitação motora, distúrbios do comportamento, fugas e as vezes atos agressivos

imotivados. Os Estados Crepusculares Pré-ictais “correspondem a auras ou crises focais que se

generalizam posteriormente” (BASTOS 1997, p.92).

Os Estados Crepusculares Pós-ictais Bastos (1997, p. 92) descreve que “podem ocorrer

após um ou vários ataques, assemelhando-se aos estados confusionais, às vezes com ideação

paranóide e alucinações”. Os Estados Crepusculares Inter-ictais seriam distúrbios que

ocorreriam entre as crises, isto é, fora delas. Dentre as definições dos Estados Crepusculares

um destaque deve ser dado a Bastos (1997) por apresentar uma divisão no conceito, porém

quanto à duração do Estado Crepuscular Bastos (1997) não faz referência.

O termo Dissociação da Consciência é descrito por Dalgalarrondo (2000) e designa a

fragmentação ou divisão do campo da consciência, ocorrendo perda da unidade psíquica

comum do ser humano. A dissociação ocorre com freqüência em quadros de histeria (crises

histéricas de tipo dissociativo) onde é observado um estado semelhante ao sonho (estado

onírico). A dissociação da consciência decorre de acontecimentos psicologicamente

significativos (consciente ou inconsciente) onde gera ansiedade para o paciente. A dissociação

é vista como uma estratégia defensiva para se lidar com ansiedade muito intensa onde o sujeito

se “desligaria” da realidade para parar de sofrer.

Bastos (1997) denomina de Estados Dissociativos Histéricos o que Dagalarrondo

(2000) denomina de Dissociação da Consciência. Para Bastos (1997), os Estados Dissociativos

Histéricos:

São estados em que uma parte da consciência se inibe e manifestações inconscientes afloram. Compreendem as “psicoses histéricas”, as “bouffées delirantes”, as “fugas”, as “personalidades duplas” as amnésias histéricas (massivas ou seletivas). Geralmente ocorrem em personalidades com traços histéricos (sedução, teatralidade, carência de atenção, imaturidade e frigidez sexual, etc.) e com histórico de trauma

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psíquico grave na infância (espancamento, estupro, incesto, outras violências). Sintomas conversivos (paralisias, tremores, dormências, Globus hystericus, dificuldades respiratórias, desmaios, crises pseudo-epiléticas, etc.) podem eventualmente estar presentes, mas não necessariamente. (BASTOS, 1997, p. 93)

Na descrição de Bastos (1997) e Dagalarrondo (2000) há semelhanças em alguns

sintomas descritos para a dissociação da consciência, como a ocorrência em pessoas de

personalidade histérica, e o vínculo da dissociação com traumas, e a divisão da consciência.

Paim (1993) não descreve o termo Dissociação da Consciência ou Estados

Dissociativos Histéricos. Para Paim (1993), as alterações da consciência do Eu dividem-se em

êxtase, vivência de transformação do eu, estados segundos e convicção de inexistência pessoal.

Alguns sintomas descritos por Paim (1997) para estados segundos assemelham-se os descritos

por Dagalarrondo (2000) e Bastos (1997) para a dissociação da consciência, como a alternância

da consciência, ou seja a divisão, o surgimento relacionado a acontecimentos desagradáveis (o

que poderia ser um trauma), e a ocorrência em pessoas com a personalidade histérica.

O termo transe, para Dagalarrondo (2000), diz respeito ao Estado de dissociação da

consciência semelhante a um sonho acordado, porém diferencia deste pela presença de

atividade motora automática e estereotipada junto com suspensão parcial dos movimentos

voluntários. O transe ocorre em contextos religioso-culturais e pode ser induzido por

treinamento místico-religioso, ocorrendo nele à sensação de fusão do eu com o universo.

Em Bastos (1997) encontra-se a seguinte classificação “Estados Hipnóticos e de

Transe”, ou seja, para Bastos (1997) os estados de transe são rituais hipnóticos culturalmente

condicionados.

Para Dalgalarrondo (2000) e Bastos (1997) o transe está ligado a um contexto religioso.

Paim (1993) não descreve sobre o termo Transe.

Dalgalarrondo (2000) descreve Estado hipnótico como um estado onde a consciência é

reduzida e estreitada e a atenção é concentrada. É um estado de consciência que se assemelha

ao transe, no qual a sugestionalidade do indivíduo está aumentada. O estado hipnótico pode ser

induzido por uma pessoa (hipnotizador) onde a atenção é concentrada sobre ele. O

hipnotizador pode induzir fenômenos como anestesia, paralisias, rigidez muscular e alterações

vaso motoras.

Conforme já citado, Bastos (1997) usa a classificação “Estados Hipnóticos e de

Transe.” Para Bastos, os Estados Hipnóticos e de transe ocorrem de forma semelhante ao que

ele denomina de Estados Dissociativos Histéricos, com a diferença de que “são

voluntariamente induzidos, através de rituais sugestivos por uma inibição seletiva cortical,

concentrando toda a atividade mental no foco sugerido” (BASTOS, 1997, p.92).

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As descrições para Estado Hipnótico se assemelham no sentido de que ambos autores

apresentam que são atividades induzidas onde há uma atenção concentrada. O que os

diferencia seria a forma como classificam, Bastos (1997) classifica como “Estados Hipnóticos

e de Transe”, porém Dalgalarrondo (2000) define que o estado hipnótico “se assemelha ao

transe”.

Desta forma se percebe as diferentes denominações usadas, e para tanto, dentre as

apresentadas, usar-se-á como referencia neste trabalho Dagalarrondo (2000) por se tratar de

uma publicação mais recente.

3. MÉTODO

3.1 Caracterização da pesquisa

A presente pesquisa classifica-se como de natureza qualitativa. A pesquisa qualitativa

tem como característica a não preocupação com a representação numérica, mas sim como

aprofundamento da compreensão de um grupo social ou um fenômeno estudado. Por essas

características as pesquisas qualitativas são muito usadas em pesquisas sociais.

Segundo Minayo (1994, p. 20), a pesquisa qualitativa:

(...) responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

Quanto ao método, esta pesquisa classifica-se como exploratória que, conforme Gil

(1999), a pesquisa exploratória tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e

modificar conceitos e idéias. Gil (1999) também descreve que as pesquisas exploratórias são

desenvolvidas com a idéia de proporcionar uma visão geral de tipo aproximativo do fato ou

fenômeno estudado.

Para Minayo (1993), as pesquisas exploratórias têm como objetivo proporcionar maior

familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses.

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3.2 Participantes ou fontes de informação

Quanto aos participantes desta pesquisa, foram três familiares de pacientes

oncológicos, assim como três profissionais que cuidam destes pacientes: dois técnicos de

enfermagem e uma enfermeira.

Os familiares dos pacientes foram indicados pela equipe de enfermagem e foram

selecionados aleatoriamente. Com relação aos técnicos de enfermagem o critério foi de

trabalhar com pacientes oncológicos em uma determinada Ala de um Hospital geral de

Florianópolis.

3.3 Equipamentos e materiais

Foi utilizado para desenvolver esta pesquisa materiais como papel, caneta e gravador

para o registro dos dados obtidos e futura transcrição dos mesmos.

3.4 Situação e ambiente

A coleta de dados foi realizada no período de 11/05/2009 a 15/05/2009 em uma sala

de aula da UNISUL, disponível próximo da enfermaria da Ala do Hospital.

A primeira entrevista foi realizada, por solicitação da enfermeira, próximo a

enfermaria, pois era necessário que a enfermeira não se ausentasse do local. A entrevista foi

interrompida por um instante onde a entrevistada ausentou-se do local da entrevista por

aproximadamente 3 minutos em seguida retornou.

3.5 Instrumentos de coleta de dados

Para a coleta de dados foi utilizado dois roteiros de entrevista semi-estruturada

(apêndice A e B) que foi aplicada no familiar dos pacientes indicados pela equipe de

enfermagem, assim como na equipe de enfermagem. Para a entrevista com a equipe de

enfermagem foi utilizado além do roteiro de entrevista uma lista contendo dez tipos de

alteração de consciência, que foi apresentado aos componentes. A lista contendo os dez tipos

de alteração de consciência é apresentada no apêndice B item 6.

A entrevista semi-estruturada ou semi-dirigida é definida por Gil (1999, p.121) como:

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A entrevista focalizada (semi-estruturada ou semi-dirigida), é tão livre quanto a entrevista informal (não estruturada), porém enfoca um tema bem específico. O entrevistador permite ao entrevistado falar livremente sobre o assunto, mas, quando este se desvia do tema original, esforça-se para a sua retomada.

As entrevistas, a gravação e a transcrição foram guardadas sob sigilo, respeitando-se

o anonimato e a privacidade dos participantes.

Por se tratar de pesquisa envolvendo seres humanos, vale ressaltar à Resolução

196/96 do Conselho Nacional de Pesquisa que dispões de itens à respeito da ética em pesquisa,

dentre eles:

- A garantia do sigilo que assegure a privacidade dos sujeitos quanto aos dados

confidenciais envolvidos na pesquisa.

- Contar com o consentimento livre e esclarecido dos sujeitos da pesquisa e/ou

seu representante legal.

3.6 PROCEDIMENTOS 3.6.1 Critérios para inclusão e exclusão dos participantes

Para considerar como participante desta pesquisa, o familiar do paciente ou o

cuidador deveria considerar-se como responsável pelo paciente internado. Entende-se por

responsabilidade ficar mais tempo com paciente do que outros familiares ou acompanhantes.

Outro critério foi o familiar ou cuidador, ter mais de dezoito anos.

Foi utilizado como critério para seleção dos técnicos de enfermagem assim como

enfermeiros, o trabalho com pacientes oncológicos em uma determinada Ala de um Hospital

geral de Florianópolis.

3.6.2 Do contato com os participantes

O primeiro contato foi feito com a enfermeira, em seguida com os técnicos de

enfermagem onde foi entregue e lido o termo de consentimento após realizou-se as entrevistas

em local reservado, definido e acordado entre o entrevistado e o entrevistador. Após indicação

dos pacientes pelos técnicos e pela enfermeira, foi realizado o contato com o familiar do

paciente, onde foi entregue e lido o termo de consentimento livre e esclarecido. Foi acordado

com o informante o local onde realizou-se as entrevistas, na sala de aula próximo da

enfermaria.

Page 31: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

31

3.6.3 Da organização, tratamento e análise de dados

Com o objetivo de classificar organizar e categorizar os dados coletados, a pesquisa

utilizou como técnica a análise de conteúdo. Com relação a técnica análise de conteúdo

Chizzotti (2000) relata que tem como objetivo compreender criticamente o sentido das

comunicações, o seu conteúdo manifesto ou latente e as significações explícitas ou ocultas.

Conforme Chizzotti (2000, p. 98)

A análise de conteúdo é um método de tratamento e análise de informações, colhidas por meio de técnicas de coleta dos dados, consubstanciadas em um documento. A técnica se aplica a análise de textos escritos ou de qualquer comunicação (oral, visual, gestual) reduzida a um texto ou documento.

As categorias foram definidas a partir da descrição e análise dos resultados obtidos.

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Este capítulo apresenta os resultados obtidos a partir das entrevistas, que deu base

para a construção da análise. As características ou definições das alterações consciência

apresentadas em pacientes em fase terminal, a partir de depoimentos de familiares e de técnicos

de enfermagem que cuidam destes sujeitos, estão apresentadas nas Tabelas 1 a 16. As Tabelas

1 a 5 correspondem aos resultados obtidos com a entrevista na equipe de enfermagem, e as

Tabelas 6 a 16 correspondem aos resultados obtidos nas entrevistas com os familiares. Foi

destacado (em negrito) nas tabelas as falas dos participantes que evidenciam a categoria ou a

característica apresentada no paciente.

4.1 Descrição dos resultados obtidos com os membros equipe de enfermagem

Na Tabela 1 são apresentados características dos entrevistados como idade, sexo,

cargo ou função, tempo de trabalho com pacientes terminais e a percepção com relação a

quantidade de pacientes terminais presentes na Ala em que trabalham. Os componentes da

equipe de enfermagem entrevistados são uma Enfermeira, um Técnico de Enfermagem e uma

Técnica de Enfermagem que trabalham na Ala do Hospital. A enfermeira possui 26 anos, o

técnico de enfermagem 35 anos e a técnica de enfermagem 22 anos de idade.

Page 32: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

32

É mostrado na Tabela 1 que o tempo de trabalho dos profissionais varia entre 8

meses e 2 anos, sendo a enfermeira com 8 meses de trabalho, o técnico com 1 ano e uma

técnica com 2 anos de trabalho. O tempo de trabalho com pacientes oncológicos varia, de

acordo com a Tabela 1, de 3 a 5 meses de trabalho, sendo há enfermeira com 4 meses de

trabalho com pacientes oncológicos, o técnico com 5 meses e a técnica com 3 meses de

trabalho com pacientes oncológicos.

Com relação a percepção da quantidade de pacientes terminais na ala, é possível

constatar que há diferentes visões entre os profissionais sobre o numero de pacientes terminais.

Um profissional relatou a presença de 2 pacientes, outro profissional relatou a presença de 1

paciente e outro profissional relatou a presença de 3 pacientes terminais internados na ala.

Tabela 1 - Características gerais dos membros da equipe de enfermagem, de acordo com o depoimento desses sujeitos

. Sujeitos Característica

A B C

Idade 26 35 22

Sexo Feminino Masculino Feminino

Cargo ou função Enfermeira Técnico de enfermagem

Técnica de enfermagem

Tempo de trabalho dos profissionais 8 meses 1 ano 2 anos

Tempo de trabalho com paciente oncológicos

4 meses 5 meses 3 meses

Percepção da quantidade de

pacientes terminais na ala

2 pacientes 1 paciente 3 pacientes

Fonte : Elaboração do autor

Na Tabela 2 são apresentados as definições de alteração de consciência a partir do

depoimento de uma enfermeira e dois técnicos de enfermagem. As indicações de critérios de

definição de alteração de consciência segundo esses técnicos foram denominadas em:

Definição de alteração de consciência a partir de exemplos, (dês) orientação do paciente, grau

de consciência do paciente e fases da doença apresentada pelo paciente.

Page 33: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

33

Tabela 2 - Definição de alteração de consciência a partir do depoimento de um enfermeiro e de dois técnicos de enfermagem

Sujeitos Critérios de definição

A B C

Definição de alteração

consciência a partir de exemplos

“Quando o paciente faz movimentos quando altera a

fala”

__________ __________

(Des) orientação do paciente

“Alteração de consciência é o

momento que não tem mais

orientação”

__________ “O seu ‘M’ ele é assim, ele não é desorientado”.

Grau de consciência do paciente __________

“Seria entre a consciência e a inconsciência”

__________

Fases da doença apresentada pelo

paciente __________ __________

“Tem algumas fases da doença, na

primeira eles não aceitam, depois tem

a fase da revolta, acho que tem a fase que eles desistem”.

Fonte: Elaboração do autor

Na categoria com o nome “Definição de alteração de consciência a partir de

exemplos” é mostrado que, ao se perguntar a definição de alteração de consciência, obteve-se

como resposta um exemplo, que segundo a enfermeira “A”, é um exemplo de alteração de

consciência, “quando o paciente faz movimentos e altera a fala”. “(Des) orientação do

paciente”, foi o nome utilizado para categoria onde o entrevistado relatou que a alteração de

consciência esta relacionado a desorientação do paciente. Este dado é mostrado pelo sujeito

“A” e “C” da Tabela 2. A entrevistada “A” por sua vez, respondeu que “alteração de

consciência é o momento que não tem mais orientação” A entrevistada “C” citou como

exemplo um paciente da Ala e relatou” o seu ‘M’ não é desorientado”.

A categoria grau de consciência do paciente demonstra que o técnico B considera

que a alteração de consciência “seria entre a consciência e a inconsciência”. Dito isto, é

possível considerar que “entre a consciência e a inconsciência” trata-se de um grau de

consciência. A última categoria da Tabela 2 apresenta como titulo “fases da doença

apresentada pelo paciente”. Nesta categoria, a entrevistada refere-se às fases do processo de

adoecer descrita por Küber Ross (1998), quando uma pessoa tem consciência de sua

terminalidade.

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34

Os dados apresentados na Tabela 3 referem-se a características gerais dos pacientes

internados que apresentam alteração de consciência. As categorias identificadas para esta

tabela foram: Indicação de quantidade, determinantes das alterações de consciência, e tipo de

alterações de consciência apresentado pelo paciente.

Tabela 3 - Características gerais dos pacientes internados que apresentam alteração de consciência

Sujeitos Categorias

A B C

Indicação de quantidade __________ 1 paciente 2 pacientes

Determinantes das

alterações de consciência

(...) ou até mesmo pela medicação.

(...) a morfina esta sedando ele (...)

(...) daí não tem como definir se é

pela doença oncológica ou pela

esquizofrenia.

Alteração de consciência apresentado pelo

paciente

Desorientação, isto ocorre do próprio

câncer que as vezes da metástase

cerebral e daí eles ficam

desorientados.

__________ __________

Fonte: Entrevista

É possível perceber na Tabela 3 com relação a quantidade de pacientes terminais

com alteração de consciência que houve diferentes respostas, a técnica “B” relatou que na ala 1

paciente apresenta alteração de consciência e a técnica “C” relatou que 2 pacientes

apresentavam alteração de consciência. A entrevistada “A” não respondeu a pergunta.

Também é possível perceber na tabela que, na categoria “determinantes das

alterações de consciência houve duas respostas semelhantes entre os entrevistados “A” e “B”

que relataram que a alteração de consciência pode ser determinada ou influenciada por efeito

de medicamentos. A Técnica “C” indicou que “não tem como definir se é pela doença

oncológica ou pela esquizofrenia” a alteração de consciência.

Ainda na mesma Tabela, na categoria “alteração de consciência apresentado pelo

paciente” é possível perceber uma freqüência para a categoria. A enfermeira “A” relatou que

“desorientação ocorre do próprio câncer que as vezes da metástase cerebral e daí eles ficam

desorientados”.

Page 35: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

35

Na Tabela 4 são apresentados os dados referentes aos tipos alterações de

consciência segundo o depoimento de três componentes da equipe de enfermagem. É mostrado

na Tabela 4 que a alteração de consciência mais freqüente segundo a informação apresentada

pela enfermeira “A” é a desorientação. O técnico “B” referiu-se a alteração de consciência

quando o paciente esta “mais acamado”.

Tabela 4 - Alterações de consciência segundo o depoimento da equipe de enfermagem

Sujeitos Situação

A B C

Freqüência de alterações de consciência

-Desorientação (...) está deixando mais

acamado.

____________

Indicação dos tipos de alteração de

consciência a partir de uma lista em que

constavam 10 tipos de alterações de consciência

- Topor - Coma - Delirium

- Coma - Delirium - Dissociação da consciência.

- Delirium - Topor - Dissociação da consciência.

Tipos de alteração de consciência mais

freqüentes apresentados pelos pacientes da ala, a

partir das indicações dos sujeitos acerca dos tipos de alteração de

consciência apresentados

- Topor - Delirium - Dissociação da consciência.

- Coma - Coma - Topor.

Fonte: Entrevista

A segunda categoria da Tabela 4 denominada como “indicação dos tipos de

alteração de consciência a partir de uma lista em que constavam 10 tipos de alterações de

consciência”, como o nome sugere, foi apresentado uma lista contendo 10 tipos de alteração de

consciência e perguntado quais as alterações apresentadas na Ala. A enfermeira “A” indicou a

partir da lista que as mais freqüentes são Topor, Coma e Delirium. O técnico “B” indicou como

mais freqüente as alterações Coma, Delirium e dissociação da consciência, e a técnica “C”

indicou que as alterações mais freqüentes são Delirium, Topor e Dissociação da consciência.

A terceira e última categoria da Tabela 4 diz respeito as alterações de consciência

mais freqüentes apresentadas na Ala. Foi perguntado a enfermeira e aos técnicos quais as

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36

alterações apresentadas mais frequentemente. Esses dados foram obtidos sem a presença da

lista com os 10 tipos. A enfermeira “A” indicou Topor, Delirium e Dissociação da consciência,

o técnico “B” indicou como mais freqüente o Coma, e a técnica “C” indicou como mais

freqüente Coma e Topor.

A última tabela referente aos resultados obtidos a partir do depoimento dos

membros da equipe de enfermagem constam na Tabela 5, onde são apresentadas as situações

geradoras de alteração de consciência segundo os depoimentos dessa equipe de profissionais.

Tabela 5 - Situações geradoras de alteração de consciência segundo o depoimento da equipe de enfermagem

Sujeitos

Categoria A B C

Sob efeito de medicamentos

“Na situação de medicação”

“quando o paciente esta em fase terminal o médico manda sedar”

“O médico manda sedar para amenizar a

dor”

A partir de processos psicológicos

(...) quando deprime demais (...) __________

(...) as vezes pela negação da doença

(...)

Fase da doença __________ Em fase terminal (...) As vezes é pela fase terminal (...)

Fonte: Entrevista

São três as categorias indicadas na Tabela 5, sendo que a primeira foi denominada

“sob efeito de medicamentos”, a segunda” a partir de processos psicológicos” e a terceira” fase

da doença”. Na primeira categoria é possível constatar que os técnicos e a enfermeira

assemelham-se na descrição das situações geradoras de alteração de consciência, a enfermeira

“A” indicou que “na situação de medicação” o técnico “B” indicou “quando o paciente esta em

fase terminal o médico manda sedar” e a técnica “C” relatou que” o médico manda sedar para

amenizar a dor”.

Na segunda categoria é apresentado duas freqüências, sendo uma indicada pela

enfermeira “A” “quando deprime demais” e a outra indicada pela técnica “C” “as vezes pela

negação da doença”.

Na ultima categoria da Tabela 5 cujo nome é “fase da doença” pode-se constatar

duas indicações para a situação geradora de alteração de consciência. A primeira apresentada

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37

pelo técnico “B” “em fase terminal” e a segunda pela técnica “C” “as vezes é pela fase

terminal”.

4.2 Análise dos resultados obtidos com os membros da equipe de enfermagem

A discussão dos resultados será realizada na mesma ordem em que as tabelas foram

apresentadas, ou seja na seqüência de 1 a 5 e de acordo com os objetivos específicos, que no

caso das tabelas referentes aos técnicos de enfermagem o objetivo especifico é: Identificar o

tipo e a freqüência das alterações de consciência em pacientes terminais a partir do depoimento

de componentes da equipe de enfermagem que cuidam desses sujeitos.

Na Tabela 1, algumas hipóteses podem ser levantadas, considerando as diferentes

quantidades de pacientes terminais internados e indicados pelos componentes da equipe de

enfermagem; a enfermeira indicou 2 pacientes, o técnico 1 paciente e a técnica 3 pacientes.

Uma delas é referente a diferentes concepções de terminalidade entre os profissionais

entrevistados, hipótese que não foi verificada, mas encontra fundamento no marco teórico

desta pesquisa onde é apresentado algumas considerações sobre o termo pacientes terminais.

Conforme é indicado pelos autores Porto (2001), Souza (2006) e Holland (1982), o termo que

define pacientes terminais é norteado por condições médicas ou por exames que comprovam o

estado de evolução de uma doença, sendo assim é possível descrever que os profissionais

podem ter diferentes informações sobre o estado geral do paciente, ou um profissional pode ter

mais informações do que outros.

Na tabela 2 é apresentado a definição de alteração de consciência conforme o relato

da equipe de enfermagem. É constatado nos dados apresentados que as alterações de

consciência são definidas conforme as suas características. A enfermeira “A” relata que o

paciente apresenta alteração de consciência quando “faz movimentos e quando altera a fala”. A

alteração da fala e da psicomotricidade são características das síndromes psicopatológicas

associadas ao rebaixamento do nível de consciência, conforme descreve Dalgalarrondo (2000)

referindo-se as alterações de consciência descritas por outros autores como Delirium, síndrome

do cativeiro, amência e estado onírico.

A segunda categoria da Tabela 2 descrita como “(Dês) orientação do paciente”

apresentam repostas semelhantes entre a enfermeira “A” e a técnica “C”, onde a desorientação

do paciente é descrita como uma característica da consciência alterada. A desorientação como

característica da alteração de consciência encontra respaldo teórico para os seguintes tipos de

alteração de consciência: Obnubilação, Delirium ou Estados Oniróides e Amência.

Obnubilação conforme descreve e Paim (1993) “[...] dificuldade da percepção e da elaboração

Page 38: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

38

do curso do pensamento, perturbação da fixação e da evocação, certo grau de desorientação

acompanhando-se tudo isso de sonolência [...]”. Delirium ou Estados Oniróides conforme

descreve Dalgalarrondo e Bastos (1997) “Fantasias também nos estados oniróides, assim como

desorientação instabilidade emocional e perplexidade”, e Amência conforme descreve Paim

(1993) “na Amência ou confusão mental existe desorientação no tempo e no espaço,

dificuldade de compreender a situação lentidão nas respostas”. A desorientação trata-se de

apenas uma característica das alterações de consciência apresentadas. Para se classificar um

tipo de alteração de consciência é necessário, conforme é descrito pelos autores, várias

características, pois citando apenas uma, no caso a desorientação, não é possível classificar

com sendo um tipo de alteração de consciência, pois esta característica é encontrada em mais

de um tipo de alteração de consciência.

A terceira categoria da Tabela 2 apresenta uma única ocorrência descrita como

“grau de consciência do paciente”, onde o técnico “B” relatou que a alteração de consciência

seria” entre a consciência e a inconsciência”. “Entre a consciência e a inconsciência” é termo

genérico para descrever as alterações de consciência, segundo Dalgalarrondo (2000) as

alterações de consciência quantitativas referem-se ao rebaixamento do nível de consciência,

provavelmente o que o técnico quis dizer com “entre a consciência e a inconsciência”. As

alterações de consciência relacionadas ao rebaixamento do nível de consciência são divididas

em três tipos, conforme descreve Dalgalarrondo (2000) em obnubilação da consciência, sopor

ou torpor e coma.

Na última categoria da Tabela 2 a técnica “C” descreve as fases do processo de

adoecer descrita por Kübler-Ross, referindo-se as alterações de consciência. As fases do

processo de adoecer são conforme descreve Kübler-Ross (1998), negação, raiva, barganha,

depressão e aceitação, essas fases são descritas pela autora, e referem-se ao momento em que o

paciente tem consciência de sua terminalidade. Dentre as características deste processo, pode-

se formular uma hipótese com relação a uma das características, a depressão, pois esta

característica pode ser confundida com uma alteração de consciência a obnubilação da

consciência, haja vista que as características desta alteração de consciência incluem o

rebaixamento de todas as funções psíquicas conforme descreve Bastos (1997, p. 89),

“sonolência, diminuição global da atenção, com ou sem confusão mental (instabilidade,

desorientação, alucinações). Todas as funções psíquicas se reduzem (...). Considerando esta

hipótese, o paciente terminal que é diagnosticado depressão, pode ter sua consciência alterada.

Analisando os resultados obtidos na Tabela 2 é possível descrever que os

profissionais definem as alterações de consciência conforme as características apresentadas

Page 39: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

39

pelos pacientes. É possível verificar que a desorientação do paciente é a característica que

apresenta mais freqüência sendo relacionada a alteração de consciência, o que é possível

considerar, que dos tipos de alteração de consciência existentes, as que apresentam como

característica desorientação são mais percebidas do que outras alterações de consciência que

não apresentam essa característica.

De acordo com os dados apresentados na Tabela 3, onde apresenta as

características gerais dos pacientes internados que apresentam alteração de consciência, a

primeira categoria refere-se a percepção dos membros da equipe de enfermagem com relação a

quantidade de pacientes terminais internados com alteração de consciência. Obteve-se como

resposta do técnico “B” a resposta um paciente, e da técnica “C” a respostas dois pacientes.

A segunda categoria da Tabela 3 denominada “determinantes das alterações de

consciência” apresenta 3 ocorrências. Na primeira delas a enfermeira “A” relata que a alteração

de consciência apresentada pelo paciente é influenciada pela medicação. O relato do técnico

“B” também faz referencia ao uso de medicamentos, segundo o relato do técnico “a morfina

esta sedando ele”. Os relatos apresentados nas respostas demonstram que os pacientes que tem

alteração de consciência possivelmente estão sob efeito de medicamentos. Com relação as

alterações de consciência e o uso de medicamentos, é possível inferir que quando um paciente

está desperto somente por um estimulo doloroso uma alteração de consciência pode ser

constatada, o Topor que segundo Dalgalarrondo (2000) o paciente apresenta-se sempre

sonolento, e se desperto por um estímulo intenso, que pode ser doloroso.

Diferente das respostas da enfermeira “A” e o técnico “B”, a técnica “C” apresenta

como resposta “não tem como definir se é pela doença oncológica ou pela esquizofrenia”

referindo-se a um paciente que apresenta esquizofrenia em seu prontuário. Para melhor analisar

esta resposta deve-se observar a próxima categoria da Tabela 3 que apresenta a “alteração de

consciência apresentada pelo paciente” de acordo com os depoimentos dos técnicos e da

enfermeira, nesta categoria a enfermeira “A” relata que “Desorientação, isto ocorre do próprio

câncer que as vezes da metástase cerebral e daí eles ficam desorientados”. Anteriormente a

técnica “C” relata que “não tem como definir se é pela doença oncológica ou pela

esquizofrenia”. Com base nestes relatos é possível descrever de acordo com as percepções, que

quando um paciente apresenta metástase cerebral há alteração de consciência. O relato da

técnica “C” não faz referência a metástase cerebral, refere-se somente a doença oncológica ou

esquizofrenia. Com relação a esquizofrenia não se tem respaldo teórico neste trabalho que

fundamente a relação alteração de consciência e esquizofrenia, assim como a relação metástase

cerebral e alteração de consciência.

Page 40: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

40

Na Tabela 4 são apresentados os tipos de alterações de consciência segundo o

depoimento da enfermeira e dos técnicos de enfermagem. É possível constatar na primeira

categoria denominada “freqüência das alterações de consciência” que a enfermeira “A” relata a

desorientação como sendo o tipo de alteração de consciência mais freqüente. Constata-se, nesta

categoria, e na análise da Tabela 2, que a desorientação refere-se a uma característica da

alteração de consciência.

Na segunda categoria da Tabela 4 “Indicação dos tipos de alteração de consciência

a partir de uma lista em que constavam 10 tipos de alterações de consciência” foi mostrado aos

membros da equipe de enfermagem uma lista com 10 tipos de alteração de consciência. A

enfermeira “A” apresentou como resposta Topor Delirium e Coma.

Observando-se as respostas da enfermeira “A” nas tabelas anteriores, como na

Tabela 2 e na Tabela 3 é possível perceber que a enfermeira relaciona desorientação com

alteração de consciência. Esta relação é correta com relação a resposta Delirium, pois a

desorientação é uma característica desta alteração de consciência. Com relação a resposta

Coma, conforme Dalgalarrondo (2000) é o estado mais profundo do rebaixamento do nível de

consciência onde não há qualquer indício de consciência. Sobre o Topor, esta alteração de

consciência é apresentada pelo paciente quando ele esta acordado por um estímulo intenso que

pode ser doloroso. O técnico “B” apresenta como resposta Coma, Delirium e Dissociação da

consciência e a técnica “C” apresenta como resposta Delirium, Dissociação da consciência e

Topor. Considerando as respostas dos entrevistados “A “B” e “C”, é possível descrever que as

respostas assemelham-se, Delirium e Coma por exemplo, são apresentados pelos três

entrevistados. Por se tratar de uma ala onde a maior parte dos internados são de pacientes

terminais, não é estranho que essas alterações de consciência sejam apresentadas, visto que o

Coma assim como o Delirium são comumente descritos nos prontuários dos pacientes.

Na terceira categoria da Tabela 4 os tipos de alteração de consciência foram

descritos sem a presença da lista que continha os tipos de alteração de consciência. As

alterações de consciência mais freqüentes foram Topor, que foi descrito pela enfermeira “A” e

pela técnica “C” e Coma que foi descrito pelo técnico “B” e pela técnica “C”. É possível

perceber que as respostas diferem quando apresentado a lista contendo os 10 tipos e sem a lista,

porém algumas alterações de consciência apresentadas pela equipe de enfermagem são iguais

as apresentadas sem a lista. A enfermeira “A” acrescentou Dissociação da Consciência na

resposta sem a presença da lista, após perguntar ao entrevistador as características dessa

alteração de consciência. O técnico “B” relatou somente Coma e a técnica “C” relatou Coma e

Topor.

Page 41: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

41

A última tabela referente aos resultados obtidos com a enfermeira e os técnicos de

enfermagem é a Tabela 5 denominada “Situações geradoras de alteração de consciência

segundo o depoimento da equipe de enfermagem” na Tabela 5 são apresentados três categorias.

Na primeira dessas categorias é indicado que os técnicos de enfermagem indicam “o efeito de

medicamentos” como uma situação geradora de alteração de consciência, na segunda eles

indicam que as alterações de consciência ocorrem “a partir de processos psicológicos”

específicos. Como terceira situação geradora de alteração de consciência, os profissionais da

equipe de enfermagem indicam a “fase da doença” que o paciente se encontra.

Na primeira categoria “sob efeito de medicamentos” os dados apresentados

possibilitam concluir, segundo o depoimento da enfermeira e dos técnicos de enfermagem, que

as alterações de consciência ocorrem nas situações onde o paciente está sob efeito de

medicamentos. É possível supor com base no depoimento da equipe de enfermagem, que há

uma relação entre o uso de medicamentos e alteração de consciência, pois considerando a

ocorrência das respostas é comum que o paciente sedado apresente alteração de consciência,

sobretudo devido a medicamentos á base de ópio como a morfina que são analgésicos e que

“sedam” o paciente. Porém esta hipótese não pode ser comprovada neste trabalho, pois a

relação entre medicamento e alteração de consciência não é descrita.

A segunda categoria da Tabela 5 denominada “a partir de processos psicológicos” a

enfermeira “A” relata que “quando deprime demais” os pacientes apresentam alteração de

consciência e a técnica “C” relata que “as vezes pela negação da doença”. Conforme relatado

anteriormente, a depressão descrita pela enfermeira pode ser uma alteração de consciência do

tipo Obnubilação onde há um rebaixamento de todas as funções psíquicas. A relação entre

depressão e alteração de consciência não é descrita pelos autores citados no marco teórico.

A resposta da técnica “C” faz referência às fases do processo de adoecer descritas

por Küber Ross (1998) onde a depressão é citada como uma dessas fases. Assim como as fases

do processo de adoecer não ocorrem em todos os pacientes as alterações de consciência

também não. O relato da técnica “C” remete a uma hipótese, pois considerando a negação

como um mecanismo de defesa, conforme descreve Caliri (1998 apud REGIS 2005) um

paciente em fase terminal pode fantasiar situações e momentos com objetivo de se desvincular

do momento em que se encontra, preservando seu Ego da “realidade”. Considerando esta

hipótese, a negação descrita pela técnica “C” pode ser uma situação geradora de alteração de

consciência, pois o paciente negando a “realidade” pode alucinar ou fantasiar situações, esta

hipótese não encontra referencial teórico nesta pesquisa, haja vista que a relação entre

mecanismos de defesa e alteração de consciência não é descrito.

Page 42: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

42

A terceira e última categoria da Tabela 5 denominada de “fase da doença” apresenta

respostas semelhantes. Segundo os depoimentos dos técnicos “B” e “C” a fase terminal de um

paciente é uma situação geradora de alteração de consciência. Entretanto somente o fato de

estar em fase terminal não é suficiente para alterar a consciência. É possível fazer esta

afirmação considerando que os pacientes terminais internados em hospitais estão sujeitos a

diversos procedimentos, e ao uso de medicamentos e estas variáveis, possivelmente são

determinantes das alterações de consciência apresentadas.

Considerando as análises realizadas, vale indicar que não foi objetivo do trabalho

analisar ou avaliar conhecimento dos membros da equipe de enfermagem com relação ao

fenômeno pesquisado (alterações de consciência) e sim a presença do fenômeno na ala onde

trabalham. Sendo assim, considerando que os profissionais apresentaram diferentes definições

sobre alteração de consciência é possível indicar de acordo com os relatos, os tipos de alteração

que ocorrem com mais freqüência na Ala onde trabalham. Segundo as indicações dos

profissionais entrevistados, os tipos de alteração que ocorrem na ala são o topor o coma o

delirium e a dissociação da consciência. Sendo os mais freqüentes topor delirium dissociação

da consciência e coma.

4.3 Características das alterações de consciência apresentadas por pacientes terminais de

acordo com depoimentos de familiares desses sujeitos

Características dos familiares dos pacientes

Familiar

Características do familiar

X Y Z

Parentesco Esposa Filha Esposa

Religião Católica Católica Católica

Idade 49 27 46

Principal acompanhante do

paciente Sim Eu e meu irmão Sim

Fonte: Entrevista

Page 43: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

43

Os familiares dos pacientes oncológicos entrevistados foram denominados de “X”

“Y” e “Z” para que não possam ser identificados. O familiar “X” trata-se da esposa de um

paciente terminal, a entrevistada “Y” é a filha de um paciente terminal e a entrevistada “Z” é

esposa de um paciente em fase terminal.

A primeira tabela referente aos resultados obtidos com os familiares é a Tabela 6,

denominada “Caracterização dos familiares referente a atenção dada ao paciente”. Nesta tabela,

é possível constatar que os familiares “X” “Y” e “Z” são as pessoas que ficam mais tempo com

os pacientes.

Tabela 6 - Caracterização dos familiares referente a assistência dada ao paciente

Familiar Pergunta

X Y Z

Pessoas que cuidam do paciente Só eu É dividido eu e meu

irmão Sou eu.

Dias por semana que em média o familiar fica junto ao paciente

Eu fiquei 26 dias na outra ala e agora estou

7 dias aqui. Todos os dias Todos os dias

Período em que o familiar fica junto ao

paciente

Eu fico direto de manha até a noite

Metade do dia eu, metade do dia meu

irmão, a noite tem uma pessoa que fica aqui.

Eu não saio daqui, porque eu não tenho

ninguém, eu sou sozinha aqui.

Fonte: Entrevista

O familiar “Y” respondeu que divide os cuidados ao paciente com o seu irmão,

ficando conforme relatou “metade do dia”. As familiares “X” e “Y” responderam que somente

elas cuidam do paciente ficando em período integral.

Na Tabela 7 são apresentados características da comunicação com o paciente,

denominada “características da comunicação com o paciente” esta Tabela apresenta conforme

o relato dos familiares, como é a comunicação com paciente. É possível constatar na Tabela 7

que a familiar “X” relatou que o paciente não se comunica com outras pessoas e acrescentou

que o paciente não reconhece outras pessoas. Também é possível constatar conforme o

depoimento da familiar “X” que quando alguém tenta se comunicar com o paciente não

consegue pois o paciente responde “tudo ao contrário”. Os familiares “Y” e “Z” relataram que

quando alguém tenta se comunicar com o paciente ele costuma atender.

Page 44: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

44

Tabela 7 - Características da comunicação com o paciente

Familiar Pergunta X Y Z

O paciente responde quando alguém fala

com ele

Agora não, agora ele esta falando muito das origens dele, ele só me conhece, não conhece

filho nada.

O paciente responde O paciente responde

O que é necessário fazer para que o

paciente entenda o que as pessoas estão

comunicando

A pessoa fala assim.. seu Mario.. mas ele reponde tudo ao contrario. Entrevistador: Como assim ao contrário? Ele só diz assim “porca miséria” porque ele é italiano né.

__________ __________

Fonte: Entrevista

Na Tabela 8 são apresentadas as “Características de sonolência em pacientes

terminais de acordo com depoimentos de familiares desses sujeitos”. Nessa Tabela a familiar

“X” assim como a familiar “Y” relataram que o paciente apresenta sonolência durante o dia.

Tabela 8 – Características de sonolência em pacientes terminais de acordo com depoimentos de familiares desses sujeitos

Familiar Pergunta

X Y Z

Apresenta sonolência durante o dia Sim Sim As vezes

Ocasiões que o paciente apresenta sonolência Durante o dia todo. É devido ao remédio.

Acho que é uma medicação que o

doutor Vicente dá para ele

Momentos em que o paciente apresenta

sonolência __________

É porque ele está sendo muito sedado, então ele está bastante sonolento devido à quantidade de remédio que ele

está tomando

__________

Fonte: Entrevista

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45

A familiar “Z” respondeu que “as vezes” o paciente apresenta sonolência. Com

relação as ocasiões em que o paciente apresenta sonolência, a familiar “X” relatou que

“durante o dia todo”, a familiar “Y” assim como a “Z” relacionaram o uso de medicamentos e

sonolência no paciente. O momento em que o paciente apresenta sonolência foi descrito pela

familiar “Y” , e esta também relacionou “a quantidade de remédio que o paciente esta

tomando”. É possível perceber de maneira geral que a sonolência descrita pelos familiares está

relacionada ao uso de medicamentos.

Na Tabela 9 são apresentados as “características dos movimentos apresentados pelo

paciente”. Nos dados obtidos é possível constatar que a entrevistada “X” relatou que o paciente

mexe com as pernas, sendo este um movimento fora do normal, e acrescentou que o paciente

sente dor. A entrevistada “Y” relatou que o paciente não apresenta movimentos fora do normal,

pelo contrário, o paciente apresenta fraqueza e tem dificuldade de locomoção. A familiar “Z”

relatou que o paciente não apresenta movimentos fora do normal. Com relação as

características do movimentos a familiar “X” relatou que o paciente “mexe com tudo” e que o

paciente “treme muito”.

Tabela 9 – Características dos movimentos apresentados pelos pacientes terminais segundo o

depoimento do familiar

Familiar Pergunta X Y Z

Apresenta algum tipo de movimento fora do

normal

Sim mexe com as pernas. Ele sente muita dor nas costas ele quer

se virar.

Não, o que ele tem é fraqueza, ele não

consegue se levantar, por exemplo, da cama

Não apresenta

Características dos movimentos do paciente

Ele mexe com tudo, ele treme muito ainda

porque ele ta fraco. Ele já esta 4 dias tomando

na sonda

__________ __________

Fonte: Entrevista

Na Tabela 10 denominada de “percepção de dor no paciente” são apresentados

dados com relação a percepção de dor no paciente e como é percebida esta dor no paciente. É

possível verificar conforme os dados apresentados, a resposta “sim” foi relatada pelas

familiares “X” e “Y”. A familiar “Z” relatou que não. Com relação a maneira como é

Page 46: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

46

percebida a dor apresentada pelo paciente, as respostas das familiares assemelham-se sendo

que o paciente cuidado pela familiar “Y” além de falar sobre a dor “passa a mão na barriga o

tempo inteiro”.

Tabela 10 - Percepção de dor no paciente

Familiar Pergunta

X Y Z

Apresentação de dor no paciente

Sim apresenta Sim apresenta

Antes de internar ele tinha bastante dor nas

costas, agora não, agora está controlado

Maneira como é percebida a dor no

paciente

Ele fala que tem dor

Ele passa a mão na barriga o tempo inteiro e

diz que está com dor Ele fala sobre a dor

Fonte: Entrevista

Na Tabela 11 os dados obtidos referem-se à ocorrência de agitação no paciente.

Conforme o relato das familiares o paciente apresenta agitação. Este dado pode ser verificado

nas respostas das familiares “X” “Y” e “Z”. Vale ressaltar a resposta da entrevistada “X” que

relatou que o paciente demonstra muita agitação.

Tabela 11 - Características sobre agitação no paciente

Familiar Pergunta

X Y Z

Demonstra agitação Muito agitado. Sim, demonstra Sim, demonstra

Momentos em que o paciente fica agitado

A agitação dele é por causa da sonda ele mexe assim pra tirar

Quando passa o efeito do remédio Quando tem falta de ar

Características da agitação que o

paciente apresenta

Ele fica assim muito bravo, quer pegar as

enfermeiras

Fica se mexendo, passando a mão na barriga, na cabeça, tirando a coberta,

colocando a coberta, esse tipo de agitação

Ele só fica assim impaciente, sabe.

“Puxa o travesseiro aqui por favor”.

Fonte: Entrevista

Page 47: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

47

Os momentos em que o paciente fica agitado, foi respondido pela familiar “X”

como sendo pelo incomodo da sonda. A familiar “Y” relatou que “quando passa o efeito do

remédio” o paciente fica agitado, e a familiar “Z” relatou que o paciente fica agitado “quando

tem falta de ar”. Quanto as características da agitação apresentadas pelos pacientes é possível

constatar no relato da familiar “X” que o paciente “fica muito bravo”. A familiar “Y” relatou

que o paciente “fica se mexendo, passando a mão na barriga, na cabeça (...)”, a familiar “Z”

respondeu que o paciente fica impaciente.

Na Tabela 12 denominada “orientação do paciente segundo o depoimento do

familiar” são apresentados dados referentes a orientação do paciente. É possível constatar

semelhanças entre as respostas apresentadas pelas familiares “X” e “Y”, quando perguntadas se

o paciente sabe relatar onde se encontra e o motivo da internação, ambas responderam que o

paciente não sabe. A familiar “Z” respondeu que o paciente sabe.

Quando perguntado ao familiar se o paciente responderia o motivo de sua

internação caso alguém perguntasse, as respostas foram variadas. A familiar “X” respondeu

que o paciente “sabe o que tem, quando esta normal (...). Pode-se inferir quanto ao relato da

familiar “quando esta normal” que o paciente quando esta normal não esta sedado e fala. Com

relação a resposta da familiar “Y”, esta relatou que o paciente sabe que não esta em casa, pode

inferir a partir desta resposta que o paciente não sabe o motivo de sua internação, pois a

familiar complementa que o paciente tem devaneios e fala coisas sem sentido. Segundo a

resposta da familiar “Z” o paciente” responde que está com falta de ar e que está se tratando

para fazer a rádio”. A partir desta resposta pode-se inferir que o paciente sabe responder o

motivo da sua internação.

Page 48: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

48

Tabela 12 - Orientação do paciente segundo o depoimento do familiar

Familiar Pergunta

X Y Z

Grau de consciência do paciente sobre onde ele se encontra e o motivo

de sua internação

Ele não sabe eu que falo para ele que ele

esta no hospital, porque ele não sabe

Ele não sabe. Ele sabe

Possível resposta do paciente caso alguém perguntasse o motivo

pelo qual ele está internado

Ele sabe o que tem, quando ele esta normal

ele sabe sim.

Ele sabe que não está em casa, mas ele tem

bastantes devaneios. Ele fala para gente coisas

sem sentido,

Ele responde que ele está com falta de ar e que está se tratando para fazer a rádio

Fonte: Entrevista

Na Tabela 13 os dados apresentados referem-se a ocorrência de quando o

paciente fala sozinho. É possível observar nas respostas que somente a familiar “X” relata que

o paciente fala sozinho. As familiares “Y” e “Z” relataram que os paciente não falam sozinhos.

A familiar “Y” acrescentou que o paciente não fala sozinho, porém “ele canta as vezes. A

familiar “X” relata que o paciente fala sozinho “quando acorda” e acrescentou que” esta noite

ele falou um monte”, o que pode-se entender que o paciente fala sozinho quando acorda e as

vezes a noite. A familiar “Y” relatou que “não tem nenhum motivo especifico” referindo-se a

situação que o paciente cuidado por ela canta.

O tipo de coisa que o paciente fala foi relatado pela familiar “X” , segundo a

familiar “ele fala muito, da origem dele, da mãe, polenta comida italiana, aquelas coisas todas,

do pai, ele me chamou de ‘mama’ ontem o dia inteiro”.

Page 49: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

49

Tabela 13 - Caracterização da ocorrência de quando o paciente fala sozinho

Familiar Pergunta

X Y Z

O paciente fala sozinho

Sim ele fala sozinho Não. Ele canta as vezes Não ele não fala

sozinho

Situações em que o paciente fala sozinho

Quando acorda ele fica falando (...), esta

noite ele falou um monte e fala auto ainda

Eu acho que não tem nenhum motivo especifico, uma

motivação fora que eu possa ter uma

referência.

__________

Tipo de coisas que o paciente fala sozinho

Ele fala muito, da origem dele, da mãe,

polenta comida italiana, aquelas

coisas todas, do pai, ele me chamou de

“mama” ontem o dia inteiro

__________ __________

Fonte: Entrevista

Na Tabela 14 são apresentados dados sobre alucinações visuais do paciente. Foi

perguntado ao familiar se saberia responder se o paciente vê pessoas ou objetos que não estão

presentes. A familiar “X” relatou que o paciente “vê um monte de coisa” e as familiares “Y” e

“Z” relataram que os pacientes não vêem. Sobre o tipo de objeto ou pessoa que é visto pelo

paciente a familiar “X” relatou que o paciente cuidado por ela “vê gente e um monte de bicho”.

A situação em que o paciente vê pessoas e objetos não foi respondida pela familiar “X” que

relatou “Tem que perguntar pro médico pra ver se isso é normal” como resposta.

Tabela 14 - Alucinações visuais do paciente segundo o depoimento da familiar

Familiar Pergunta

X Y Z

Vê pessoas ou objetos que não estão presentes

Sim ele vê um monte de coisa. Não, ele não vê isso. Não, ele não vê objetos

que não estão presentes

Tipos de pessoas ou objetos que não estão

presentes que o paciente vê

Ele vê gente e um monte de bicho __________ __________

Situações que o paciente vê pessoas ou objetos que não estão

presentes

Tem que perguntar pro médico pra ver se isso é

normal __________ __________

Fonte: Entrevista

Page 50: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

50

Os dados apresentados na Tabela 15 estão relacionados as alucinações auditivas dos

pacientes, segundo o relato de seus familiares. A familiar “X” relata que o paciente cuidado por

ela além de ouvir sons que não existem responde a estes sons, segundo o relato da familiar “X”

“Ontem ele tava conversando como se fosse uma pessoa do lado dele, como se fosse a filha

dele que é da minha idade, então ele tava conversando como se fosse a filha dele”. Esses dados

apresentados pela familiar “X” apresentam além de alucinação auditiva a alucinação visual,

pois conforme o relato o paciente “conversa como se fosse” uma pessoa ao lado do paciente.

Quando perguntada que tipo de pessoas ou sons que não existem e que o paciente ouve, a

resposta possivelmente apresenta outro tipo de alucinação, a tátil, pois conforme o relato, o

paciente “coloca a mão no travesseiro e fala como se fosse a pessoa mesmo, a filha dele”.

Tabela 15 - Alucinações auditivas segundo o depoimento dos familiares

Familiar Pergunta

X Y Z

O paciente ouve pessoas ou sons que

não existem

Ontem ele tava conversando como se fosse uma pessoa do lado dele, como se

fosse a filha dele que é da minha idade, então ele tava conversando como se fosse a filha

dele

__________ __________

Tipo de pessoas ou sons que não existem que o

paciente ouve

Ele coloca a mão no travesseiro e fala como

se fosse a pessoa mesmo, a filha dele

__________ __________

Situações que o paciente vê pessoas ou

ouve sons que não existem

__________ __________ __________

Fonte: Entrevista

A última tabela referente aos resultados obtidos com os familiares é a Tabela 16,

que apresenta características sobre a dicção dos pacientes. As familiares “Y” e “Z” relataram

que compreendem o que o paciente fala.

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51

Tabela 16 - Características sobre a dicção do paciente

Familiar Pergunta

X Y Z

Compreensão da fala do paciente

Mais ou menos, assim, um pouco.

Sim compreendo

Sim compreendo

Características da forma como o paciente fala

Não é claro o que ele diz, porque ele fala em

italiano.

Ele tem articulação perfeita. O que é, é a

falta de sentido __________

Fonte: Entrevista

A familiar “X” relatou que compreende “mais ou menos”. Pode-se inferir a partir

desta resposta que em alguns momentos a familiar compreende e em outros momentos a

familiar não compreende. A caracterização de como o paciente fala foi relatada pela familiar

“X” como não sendo clara, segundo a familiar “X” “Não é claro o que ele diz, porque ele fala

em italiano”. Com relação a esta resposta, foi perguntado a familiar se o paciente era mesmo de

origem Italiana, a familiar respondeu que sim, que o paciente é imigrante Italiano e que veio

para o Brasil com 16 anos de idade, porém o paciente fala português fluentemente, mas na

ocasião da internação fala as vezes português e a vezes em italiano.

4.4 Análise dos resultados referentes as características das alterações de consciência

apresentadas por pacientes terminais de acordo com depoimentos de familiares desses

sujeitos

Considerando o objetivo específico proposto - identificar o tipo e a freqüência das

alterações de consciência em pacientes terminais a partir do depoimento de familiares ou

acompanhantes desses sujeitos; e os dados informados pelos familiares será realizado uma

relação com os autores Dalgalarrondo (2000), Paim (1993) e Bastos (1997) descritos no

referencial teórico. Primeiramente, será discutido o conteúdo dos dados apresentados pelos

familiares e descritos nas tabelas na seqüência em que são apresentadas, ou seja da Tabela 6 a

tabela 16.

Page 52: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

52

Os tipos de alteração de consciência são determinados por uma ou mais

características que identificam o tipo de alteração apresentada, portanto será apresentado nas

tabelas 7 a 16 características as apresentadas pelos pacientes, para uma possível identificação

dos tipos e da freqüência das alterações de consciência.

A primeira tabela a ser discutida refere-se a Tabela 6 denominada “caracterização

dos familiares referente a assistência dada ao paciente”, onde são apresentadas informações

sobre quem é a pessoa que cuida mais do paciente, quantos dias por semana a pessoa que cuida

mais do paciente fica junto ao paciente, e quantas horas a pessoa que cuida do paciente fica

junto ao paciente. Esses dados foram obtidos com a função de identificar o “acompanhante” ou

seja, a pessoa que cuida do paciente, e conforme descrito no método dessa pesquisa o

participante deve considerar-se como cuidador ficando mais tempo com o paciente de que

outras pessoas. Dos familiares entrevistados, somente a familiar denominada de “Y” relatou

dividir o cuidado do paciente com seu irmão “É dividido eu e meu irmão”, sendo que os

familiares “X” e “Z” relataram que cuidam do paciente em tempo integral.

Na Tabela 7 denominada “Características da comunicação com o paciente” são

apresentados, conforme os depoimentos dos familiares, uma característica necessária para

identificar possíveis tipos de alteração de consciência como a síndrome de cativeiro o coma

transe e estado hipnótico. Conforme os dados apresentados na Tabela 7 a familiar “X” relatou

que quando alguém se comunica com o paciente ele não costuma responder, porém é possível

constatar que o paciente fala, segundo a familiar “X” “Agora não, agora ele esta falando muito

das origens dele, ele só me conhece, não conhece filho nada”. As familiares “Y” e “Z”

relataram que quando alguém se comunica com o paciente ele responde. Ainda conforme o

relado da familiar “X” quando alguém tenta se comunicar com o paciente por ela cuidado “A

pessoa fala assim, seu M..., mas ele reponde tudo ao contrario. Entrevistador: Como assim ao

contrário? Familiar: Ele só diz assim “porca miséria” porque ele é italiano.”

Considerando as características indicadas pela familiar “X”, é possível que o

paciente apresente alteração de consciência pois o paciente apresenta outras funções psíquicas

alteradas como memória “não conhece filho” e também pode-se inferir que o pensamento que

pode estar confuso pois conforme a familiar “X” relatou “ele reponde tudo ao contrario”. Para

indicar o tipo de alteração de consciência é necessário verificar outras características indicadas

pelos familiares que serão apresentadas na seqüência das tabelas.

Na Tabela 8 são apresentadas características quanto a sonolência nos pacientes.

Essa característica analisada com outras características apresentadas pelos pacientes indicadas

Page 53: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

53

pelos familiares, pode indicar um tipo de alteração de consciência a obnubilação da

consciência que, conforme descreve Paim (1993, p. 201) a Obnubilação da consciência:

Caracteriza-se essencialmente, pela diminuição do grau de clareza do sensório, com lentidão da compreensão, dificuldade da percepção e da elaboração do curso do pensamento, perturbação da fixação e da evocação, certo grau de desorientação acompanhando-se tudo isso de sonolência.

Descrevendo de forma semelhante, Bastos (1997, p. 89) indica que a obnubilação

da consciência tem como característica “sonolência, diminuição global da atenção, com ou

sem confusão mental (...)”. É possível constatar na Tabela 8 que os pacientes cuidados pelas

familiares “X” e “Y” apresentam sonolência durante o dia, e o paciente cuidado pela familiar

“Z” apresenta sonolência, conforme descreveu “as vezes”.

Dentre os autores descritos, a característica sonolência é somente apresentada para

o tipo de alteração de consciência Obnubilação, sendo assim, pode-se inferir que os pacientes

que apresentam sonolência possivelmente apresentam obnubilação da consciência. Porém este

tipo de alteração de consciência possui outras características portanto torna-se prudente

analisar todas as características indicadas pelos familiares antes de inferir o tipo de alteração de

consciência apresentada pelo paciente.

Na Tabela 9 denominada de “Caracterização dos movimentos apresentados do

paciente” são apresentados os dados referentes aos movimentos que o paciente apresenta. A

função desta Tabela foi identificar a ocorrência de movimentos bruscos no paciente pois essa é

característica de dois tipos de alteração de consciência. O primeiro Estado onírico, conforme

descreve Dalgalarrondo (2000) o indivíduo apresenta na experiência onírica uma carga de

angústia terror ou pavor e estas cargas são manifestadas com gritos, movimentos bruscos e

agitação motora. O segundo Estados crepusculares conforme descreve Bastos (1997, p.91)

“começa com movimentos faciais e pode prosseguir para uma agitação motora, distúrbios do

comportamento, fugas e as vezes atos agressivos imotivados”.

Conforme os relatos das familiares, é possível constatar nos dados obtidos que os

pacientes cuidados pelas familiares “X” “Y” e “Z” não apresentam movimentos bruscos apesar

de a familiar “X” relatar que o paciente “mexe com as pernas” como sendo um movimento fora

do normal, porém em seguida justifica que o paciente sente dor nas costas e quer se virar,

indicando que possivelmente o paciente mexe com as pernas devido a dor nas costas. Nessa

Tabela é possível inferir ainda que o paciente cuidado pela familiar “Y” apresenta a

psicomotricidade lenta devido a “fraqueza” descrita pela familiar.

Page 54: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

54

Na Tabela 10 denominada de “percepção de dor no paciente” foi perguntado ao

familiar se o paciente apresenta dor constantemente e de que maneira o familiar percebe as

dores no paciente. A função de identificar esta característica foi de indicar se o paciente esta

desperto somente pelo estímulo doloroso o que pode caracterizar um tipo de alteração de

consciência o Topor, conforme descreve Dagalarrondo (2000) o paciente apresenta-se sempre

sonolento, e se desperto por um estímulo intenso, que pode ser doloroso. As familiares “X” e

“Y” relataram que os pacientes apresentam dor constantemente, a familiar “Z” relatou que não.

A familiar “X” relatou que percebe a dor no paciente pois o paciente fala sobre a dor. Assim

como a familiar “X” a familiar “Y” relatou que o paciente também fala sobre a dor e também

“passa a mão na barriga o tempo inteiro”. A familiar “Z” apesar de relatar que o paciente não

sente dor constantemente, relatou que o paciente fala sobre a dor, o que é possível supor que o

paciente sente dores porém de maneira não constante.

Na Tabela 11 são apresentados os dados referentes a psicomotricidade do paciente.

Com a função de identificar lentificação ou agitação psicomotora, pois essas são característica

de alguns tipos de alteração de consciência tais como, Topor onde a psicomotricidade é lenta

ou inibida conforme descreve Dalgalarrondo (2000), Amência onde há excitação psicomotora

conforme descreve o mesmo autor, e Estado onírico que, ainda conforme o mesmo autor, há

movimentos bruscos e agitação motora, foi perguntado aos familiares se o paciente demonstra

agitação, os momentos em que o paciente fica agitado e as características da agitação

apresentada pelo paciente. A familiar “X” relatou que o paciente demonstra muita agitação, e

as familiares “Y” e “Z” relataram que o paciente demonstra agitação. A familiar “X” relatou

que quando o paciente esta com sonda fica agitado pois o paciente mexe para tirar. A familiar

“Y” relatou que o paciente fica agitado quando passa o efeito do remédio e a familiar “Z”

relatou que o paciente fica agitado quando sente falta de ar. Sobre as características da

agitação, a familiar “X” relatou que “Ele fica assim muito bravo, quer pegar as enfermeiras” a

familiar “Y” relatou que “Fica se mexendo, passando a mão na barriga, na cabeça, tirando a

coberta e colocando”.

De modo geral a característica agitação ocorre conforme o relato das familiares em

um momento específico, a familiar “X” descreve que o paciente fica agitado quando colocam a

sonda, pode-se supor que sem a sonda o paciente não fica agitado. A familiar “Y” relata que

quando passa o efeito dos remédios o paciente demonstra agitação sendo possível supor que

quando passa o efeito do remédio o paciente sente dor. Já a familiar “Z” indica que quando o

paciente “tem falta de ar”, demonstra agitação, sendo possível descrever que qualquer

Page 55: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

55

indivíduo que tem falta de ar apresenta agitação. Pela agitação ocorrer em momentos

específicos não será considerado como característica dos pacientes a agitação psicomotora.

Na Tabela 12 denominada “Orientação do paciente segundo o depoimento do

familiar” os dados obtidos referem-se a orientação do paciente. A orientação é uma

característica presente em dois tipos de alteração de consciência, Delirium e Amência. De

acordo com os relatos das familiares é possível perceber na Tabela 12 que as familiares “X” e

“Y” relataram que o paciente não sabe onde se encontra e o motivo de sua internação. A

familiar “Z” relatou que o paciente sabe onde se encontra e o motivo de sua internação. A

familiar “X” também relatou que o paciente “sabe o que tem, quando ele esta normal ele sabe

sim”. Vale questionar a segunda parte do relato apresentado pela familiar “X” onde relata que

quando o paciente esta normal ele sabe o que tem. Uma hipótese para o termo “normal”

apresentado pela familiar seria quando o paciente não esta sob efeito de medicamentos.

Verificando as respostas da familiar nas tabelas anteriores, como na Tabela 8 onde relata que o

paciente tem sonolência durante todo o dia, é possível constatar que o paciente apresenta

funções psíquicas alteradas, sendo que essas alterações podem ser conforme esta hipótese pelo

uso de medicamentos. Na mesma Tabela a familiar “Y” relata que o paciente também

apresenta sonolência e relaciona ao uso de medicamentos. A familiar “Z” que relatou que o

paciente apresenta sonolência “as vezes” também relacionou ao uso de medicamentos.

Continuando a discussão da Tabela 12, a familiar “Y” relatou que o paciente “sabe

que não está em casa” podendo-se inferir que o paciente apresenta desorientação pois o

paciente são sabe onde esta. A familiar “Z” relatou que “Ele responde que ele está com falta de

ar e que está se tratando para fazer a rádio”, sendo possível descrever que o paciente esta

orientado, pois sabe que esta fazendo um tratamento.

Nas Tabelas 13 14 e 15 denominadas conforme a ordem “Caracterização da

ocorrência de quando o paciente fala sozinho” a 14 “alucinações visuais do paciente segundo o

depoimento da familiar e a Tabela 15 “alucinações auditivas segundo o depoimento dos

familiares”, são apresentados dados que caracterizam a ocorrência de alucinações no paciente”.

O fato de um paciente falar sozinho pode indicar possíveis alucinações visuais ou

auditivas, assim como as fantasias do paciente, podendo-se assim caracterizar um ou mais tipos

de alteração de consciência. As Tabelas 14 e 15 complementam a Tabela 13 indicando detalhes

das possíveis alucinações.

As alucinações são uma característica do Delirium e de outra alteração de

consciência, Estados crepusculares. Essas alterações apresentam como característica conforme

descreve Bastos (1997), turvação ou obnubilação da consciência acrescida de confusão mental,

Page 56: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

56

alucinações, agitação e também conforme descreve Paim (1993), visões oníricas acompanhada,

às vezes, por alucinações e também por sintomas como obnubilação da consciência e

desorientação.

É possível constatar na Tabela 13 que somente a familiar “X” relata que o paciente

por ela cuidado fala sozinho. A familiar “Y” relatou que o paciente não fala sozinho, segundo

ela. “Ele canta as vezes”. Com relação a situação em que o paciente fala sozinho a familiar “X”

relata que “quando acorda ele fica falando” e acrescentou que “esta noite ele falou um monte e

fala auto ainda”. Sobre a situação em que o paciente fala sozinho a familiar “Y” relatou que

“não tem nenhum motivo especifico, uma motivação a que eu possa ter uma referência”.

Perguntado sobre o que o paciente fala, quando fala sozinho, a familiar “X” relatou que “Ele

fala muito, da origem dele, da mãe, polenta comida italiana, (...) do pai. Ele me chamou de

“mama” ontem o dia inteiro”.

Verificando o relato das familiares é possível constatar na Tabela 13 que conforme

o relato da familiar “X” que o paciente quando fala sozinho “fala muito, da origem dele, da

mãe, polenta, comida italiana, aquelas coisas todas, do pai, ele me chamou de ‘mama’ ontem o

dia inteiro”.

Considerando este relato, pode-se inferir que o paciente cuidado pela familiar “X”

apresenta alucinações uma característica do Delirium, porém não é claro, pois conforme o

relato da familiar “X” o paciente “fala da origem dele”. Neste relato não é indicado se o

paciente fala da origem dele para alguém que não está presente, ou se o paciente fala da origem

dele para alguém que está presente. No entanto na Tabela 14 a familiar relata que o paciente vê

coisas e pessoas que não estão presentes e na Tabela 15 a mesma familiar relatou que em uma

ocasião o paciente estava “conversando como se fosse uma pessoa do lado dele, como se fosse

a filha dele que é da minha idade, então ele tava conversando como se fosse a filha dele” sendo

que a pessoa que o paciente estava conversando não estava presente. Caracterizando este relato

a familiar “X” descreve que o paciente “coloca a mão no travesseiro e fala como se fosse a

pessoa mesmo, a filha dele”. A partir desse relato é possível inferir que o paciente apresenta

alucinações visuais e auditivas, pois a pessoa com que o paciente “conversa” não está presente.

A última tabela referente aos resultados obtidos com os familiares é a Tabela 16

que apresenta características a dicção do paciente. È possível constatar nesta Tabela que as

familiares “Y” e “Z” relataram compreender o que o paciente fala, indicando que há boa dicção

no paciente. A familiar “Y” relatou que “ele tem articulação perfeita, o que falta é de sentido”

indicando possíveis alterações no pensamento. A familiar “X” relatou que “entende mais ou

menos” e em seguida caracteriza a fala do paciente como não sendo clara, pois o familiar fala

Page 57: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MARCHI

57

em italiano. Durante a entrevista a familiar “X” relatou que o paciente é imigrante, e que veio

com 16 anos para o Brasil, porém o paciente fala além de italiano a língua portuguesa.

Com relação aos resultados obtidos nas entrevistas com os familiares, é possível

descrever primeiramente as alterações que possivelmente os pacientes não apresentam, pois as

características que definem estas alterações não foram descritas. As características do transe e

do estado hipnótico não foram descritas pelas familiares dos pacientes, pois segundo Bastos

(1997) e Dalgalarrondo (2000) os estados hipnóticos e o transe estão ligados a contextos

religiosos. Uma outra alteração de consciência que os pacientes podem não apresentar é a

síndrome do cativeiro, pois conforme as características descritas por Dalgalarrondo (2000) e

Bastos (1997) somente os movimentos oculares são observados no paciente e servem de meio

de comunicação com o mundo externo. Uma outra alteração que os pacientes provavelmente

não apresentam é o Coma, pois conforme descreve Dalgalarrondo (2000) “não há qualquer

atividade voluntária consciente, é o estado mais profundo do rebaixamento do nível de

consciência onde não há qualquer indício de consciência”. A próxima alteração de consciência

que os pacientes possivelmente não apresentam é estado onírico, pois conforme descreve

Dalgalarrondo (2000) “o indivíduo apresenta na experiência onírica uma carga de angústia

terror ou pavor e estas cargas são manifestadas com gritos, movimentos bruscos e agitação

motora”. Conforme o relato das familiares os pacientes não apresentaram essas características.

Conforme as características apresentadas pelos pacientes e descritas pelos

familiares, foi possível verificar que o paciente “X” pode apresentar o pensamento confuso,

conforme é descrito na analise da Tabela 7. Na Tabela 8 foi possível constatar que o paciente

“X” apresenta sonolência, na Tabela 10 a característica descrita pela familiar foi que o paciente

apresenta dor constantemente e na análise da tabela 12 foi possível constatar que o paciente

apresenta desorientação. Foi possível inferir que nas tabelas 14 15 e 16 que paciente apresenta

alucinações visuais e auditivas. Com relação ao paciente cuidado pela familiar “Y” apresenta

as seguintes características das alterações de consciência: dor constante, conforme foi descrito

pela familiar e analisado na tabela 10, psicomotricidade lenta conforme inferência na análise da

tabela 9 e desorientação conforme inferência na analise da tabela 12. Com relação ao paciente

cuidado pela familiar “Z” apresenta como característica de alteração de consciência a

sonolência.

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58

Características de alteração de consciência apresentadas pelos pacientes de acordo

com o depoimento dos familiares

Paciente X Y Z

Pensamento confuso Dor constante Sonolência

Sonolência Psicomotricidade lenta _______

Dor constante Desorientação _______

Desorientação _______ _______

Características de alteração de

consciência apresentadas por

pacientes

Alucinações visuais e auditivas

_______ _______

Fonte: Elaboração do autor

Considerando as características de alteração de consciência apresentadas pelos

pacientes é possível indicar que Obnubilação da consciência, Topor, Delirium e Amência

podem ser os tipos de alterações de consciência apresentados pelos pacientes, pois as

características apresentadas pelos pacientes são características dessas alterações de

consciência. Vale destacar que agitação motora é característica da amência e esta característica

foi relatada pelos familiares, porem não foi considerada nos pacientes por ocorrer em

momentos específicos.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi avaliar alterações de consciência de pacientes em fase

terminal, a partir de depoimentos de familiares e de técnicos de enfermagem que cuidam destes

sujeitos. Para responder este objetivo foram criados dois objetivos específicos, sendo o

primeiro identificar o tipo e a freqüência das alterações de consciência em pacientes terminais

a partir do depoimento de familiares ou acompanhantes desses sujeitos; e o segundo identificar

o tipo e a freqüência das alterações de consciência em pacientes terminais a partir do

depoimento de componentes da equipe de enfermagem que cuidam desses sujeitos.

Foram entrevistados três familiares de pacientes em fase terminal assim como uma

enfermeira e dois técnicos de enfermagem. Os dados coletados nas entrevistas com a

enfermeira e os técnicos de enfermagem foram categorizados e analisados, possibilitando

indicar os tipos e a freqüência das alterações de consciência que segundo a enfermeira e os

técnicos são apresentados na ala onde trabalham. As características das alterações de

consciência indicadas pelos familiares foram categorizadas e analisadas conforme essas

características apresentadas, o que possibilitou indicar a partir dessas características, alguns

tipos de alterações de consciência que possivelmente os pacientes internados na ala

apresentam, tais como Obnubilação da consciência, Topor, Amência e Delirium.

Além dos resultados encontrados em relação aos objetivos propostos, foi possível

constatar que há uma relação entre o uso de medicamentos e alteração de consciência dos

pacientes terminais, relação relatada tanto pelos profissionais da equipe de enfermagem como

pelos familiares dos pacientes. Também foi possível constatar diferentes definições sobre

alteração de consciência e sobre terminalidade entre os profissionais entrevistados.

É importante mencionar que limitações puderam ser constatadas na realização desta

pesquisa, uma delas está relacionada as características das alterações de consciência, pois

algumas exigem conhecimento especializado para a identificação como é o caso das vivências

alucinatórias oniróides descrita por Paim (1993), e de outras . Outra limitação diz respeito a

não verificação do prontuário do paciente onde provavelmente constam informações

importantes para identificar o tipo de alteração de consciência apresentada, que possibilitaria

comparar de forma mais precisa o tipo de alteração de consciência apresentado com aquilo que

os técnicos de enfermagem e os familiares dos pacientes terminais indicam como as alterações

de consciência que esses sujeitos apresentam . Uma outra limitação é relacionada a um objetivo

específico que a princípio foi proposto neste trabalho, a identificação da intensidade das

alterações de consciência. Porém durante o desenvolvimento da pesquisa foi possível constatar

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que as alterações de consciência são constituídas de uma ou varias características que indicam

o tipo de alteração, sendo necessário um referencial teórico mais amplo para identificar a

intensidade das alterações de consciência, assim como um instrumento de coleta de dados que

possibilitasse a mensuração desse aspecto.

Algumas facilidades puderam ser verificadas, na realização desta pesquisa uma

delas foi em relação à disposição e a colaboração dos familiares dos pacientes assim como os

membros da equipe de enfermagem que ao serem solicitados à participarem desta pesquisa

atenderam prontamente a essa socilitação. Outra facilidade foi com relação a permissão dada

pelo hospital para que o trabalho se desenvolvesse.

No que diz respeito à relevância social e científica, o presente estudo cumpriu seus

objetivos, pois por meio desta pesquisa foi possível caracterizar em algum grau o fenômeno

alteração de consciência em pacientes terminais. Também foi possível explicar que esse

fenômeno é pouco percebido pela equipe de enfermagem e que um psicólogo poderia

esclarecer sobre esse fenômeno. Com relação aos familiares dos pacientes, foi possível

constatar que eles descrevem os comportamentos de seus familiares, sendo que o psicólogo

pode intervir no sentido de esclarecer ao familiar o momento pelo qual o paciente passa,

relacionando com as alterações de consciência e provavelmente aumentando a tranqüilidade

dos familiares dos pacientes terminais, pelo menos ao que se refere as alterações de

consciência apresentadas por esses sujeitos.

Sugere-se pesquisas com objetivo de investigar a relação entre medicação utilizada

em pacientes terminais e alteração de consciência, pois esta relação foi descrita pelos

familiares dos pacientes e pela equipe de enfermagem. Outra pesquisa sugerida trata-se da

investigação das alterações de outras funções psíquicas em pacientes terminais, pois durante o

processo de terminalidade os pacientes comumente não tem suas funções psíquicas avaliadas, o

que por sua vez constituiria importante fenômeno a ser melhor conhecido.

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6. REFERÊNCIAS

ADMINISTRADORES.COM. BR. Artigos. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/pesquisa_qualitativa_exploratoria_e_fenomenologica_alguns_conceitos_basicos/14316/>. Acessado em: 29 out.2008. BASTOS, Cláudio Lyra. Manual do Exame Psíquico: uma introdução prática à psicopatologia. Rio de janeiro: Revinter, 1997. CAMON, V. A. A. Psicologia da Saúde: um novo significado para a prática clínica. São Paulo: Pioneira, 2002. ______. (Org.) E a psicologia entrou no hospital.... São Paulo: Pioneira, 1996. CAMPOS, Terezinha Calil Padis. Psicologia hospitalar: a atuação do psicólogo em hospitais. São Paulo: EPU, 1995. CARVALHO, Maria Margarida M. J. de (Org.) Psico-oncologia no Brasil: resgatando o viver. São Paulo: Summus, 1998. ______. Introdução à psiconcologia. São Paulo: Livro Pleno, 2003. CHIATTONE. h.b.c.; Sebastiani, r.w.; Introdução em Psicologia hospitalar. Heloisa Benevides de carvalho chiattone; Ricardo Werner Sebastiani; SP, 1998. CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais 4 ed. - SP: Cortez, 2000. DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. FRANÇA. Genival Veloso de. O paciente que vai morrer: direito à verdade. In: Congresso Brasileiro de Bioética e I Congresso de Bioética do Conesul, 3, 2000, Porto Alegre,. Disponível em: <http://www.portalmedico.org.brRegional/crmpb/artigos/paciente_morte.htm>. Acesso em: 27 Out.2008. GATTAZ, Mauricio Depressão da Consciência. Revista de Psiquiatria Clínica, São Paulo,v 24, n 4, Dês. 1997. Disponível em <http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/r244/dcons244.htm> Acesso em: 01 out.2008

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GIL, Aline Costa. Funções psíquicas, suas alterações e a dinâmica do sujeito em processo de hospitalização, do curso de Psicologia da Unisul – Campus Pedra Branca. 2006. 73f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia) – Universidade do Sul de Santa Catarina, Palhoça, 2006. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002. ______, Métodos e técnicas de pesquisa social, 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. ISMAEL, Sílvia Maria Cury (Org.), A prática psicológica e sua interface com as doenças. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005. KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a Morte e o Morrer. São Paulo: Martins Fontes. 1998. MAURICIO, Daniel Gattaz 1997 revista de psiquiatria Clínica. Disponível em: http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/r244/dcons244.htm Acesso em 01 out.2008 MINAYO, Maria Cecília S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 1994. PAIM, Isaías. Curso de psicopatologia. 11. ed. rev. e ampl. São Paulo: EPU, 1993. PIVETTA, Marcos. Câncer, esperanças divididas. Edição Impressa Maio 2004 Disponível em: http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=2453&bd=1&pg=1&lg= Acessado 03/02/2009 PORTO, Celmo Celeno. Semiologia médica. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. REGIS, Malena de Fátima; SIMÕES, Mara Faria Simões. Diagnóstico de câncer de mama, sentimentos, comportamentos e expectativas de mulheres. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 07, n. 01, p. 81 – 86, 2005. Disponível em> http://www.fen.ufg.br ROMANO, Bellkiss Wilma. Princípios para a prática da psicologia em hospitais. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999. SOUZA, Ana Carolina Pacheco de. Até que a morte nos separe: investigando os aspectos positivos e negativos vivenciados nos momentos de despedida, do curso de Psicologia da Unisul – Campus Pedra Branca. 2006. 57f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia) – Universidade do Sul de Santa Catarina, Palhoça, 2006.

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APÊNDICES

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Apêndice A

Roteiro de entrevista Semi-Estruturada aplicada no familiar ou cuidador Dados do paciente. Nome:........................................................... N° do Registro:.................................... Idade:............. Sexo:.............Estado Civil:............... Religião:.................................... Data da Internação:............................. Ala:................................................................. Diagnóstico Médico:................................................................................................... Data:............................ Dados do entrevistado. Nome:........................................................... Parentesco:......................................... Idade:............. Sexo:.............Estado Civil:............... Religião:.................................. Data:............................ 1 – Quem é a pessoa que cuida mais do paciente? 1a – Em média, quantos dias por semana você fica junto ao paciente? 1b – Em média, em dias que você fica junto ao paciente, quantas horas você fica junto dele? 2 – Quando alguém se comunica com o paciente, ele costuma entender? 2a – Se não, o que é necessário fazer para que o paciente entenda o que as pessoas estão

comunicando a ele? 3 – O paciente apresenta sonolência durante o dia? 3a – Em que ocasiões ele sente sonolência? 3b – Em que momentos ele sente sonolência? 4 – O paciente apresenta algum tipo de movimento fora do normal? 4a – Quais as características dos movimentos do paciente que faz você indicar isso (a resposta

da pergunta anterior)? 5 – O paciente apresenta algum tipo de dor constantemente? 5a – De que maneira você percebe essas dores que o paciente apresenta? 6 – O paciente demonstra agitação? 6a - Se sim, em que momentos ele fica agitado? 6b – Quais são as características da agitação que o paciente apresenta?

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7 - Você sabe relatar se o paciente está ciente de onde ele se encontra e o motivo de sua

internação? 7a – Caso alguém perguntasse ao paciente o motivo pelo qual ele está internado, o que você

acha que ele responderia? 8 - O paciente fala sozinho? 8a – Em que situações ele fala sozinho? 8b – Quando o paciente fala sozinho, que tipo de coisas ele fala? 9 – Você sabe relatar se o paciente vê pessoas ou objetos que não estão presentes? 9a – Que tipo de pessoas ou objetos que não estão presentes ele vê? 9b – Em que situações ele vê pessoas ou objetos que não estão presentes? 10 – Você sabe relatar se o paciente ouve pessoas ou sons que não existem? 10a – Que tipo de pessoas ou sons que não existem que ele ouve? 10b – Em que situações ele ouve pessoas ou sons que não existem? 11 – Você compreende o que o paciente fala? 11a – Quais são as características da forma como o paciente fala? 12 – Considerando que o tema desta entrevista são alterações de consciência, você gostaria de

falar algo sobre este assunto que não foi perguntado? O que?

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Apêndice B

Roteiro de Entrevista Semi-Estruturada aplicada no Técnico em Enfermagem Nome: Idade: Sexo: Profissão: Data: 1 – Há quanto tempo você trabalha como técnico (a) em Enfermagem? 2 – Há quanto tempo você trabalha com pacientes oncológicos? 3 – Quantos pacientes oncológicos nesta ala são terminais? 4 – O que você entende sobre alteração de consciência? 5 – Você sabe quantos pacientes internados possuem alteração de consciência? 5a – Se sim quais são alterações de consciência mais comumente apresentadas pelos pacientes

internados nesta ala? 6 – Das alterações de consciência listadas abaixo, quais já foram apresentadas pelos pacientes

internados desta ala?

a) Obnubilação

b) Topor

c) Coma

d) Delirium

e) Estado onírico

f) Amência

g) Estados crepusculares

h) Dissociação da consciência

i) Transe

j) Estado hipnótico 7 – Dessas alterações quais ocorrem com mais freqüência nos pacientes desta ala? 8 – Em que situações essas alterações de consciência ocorrem nos pacientes desta ala?

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ANEXOS

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Anexo 1

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA COMISSÃO DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP UNISUL

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, , declaro que fui

informado sobre todos os procedimentos da pesquisa intitulada “Alterações de Consciência:

um estudo junto a pacientes internados em um hospital geral a partir de depoimentos de

familiares e de técnicos de enfermagem que cuidam desses sujeitos” e que recebi, de forma

clara e objetiva, todas as explicações pertinentes ao projeto e que todos os dados a meu respeito

serão sigilosos, bem como a minha identidade será preservada. Eu compreendo que neste

estudo será realizada uma entrevista, com cerca de trinta e cinco minutos de duração, realizada

uma única vez, com data e local a serem previamente agendados pelo pesquisador, com o meu

consentimento anterior, portanto a pesquisa será realizada a partir de meus depoimentos. Fica

claro que o material coletado e os resultados desta pesquisa poderão ser utilizados para

publicações em aulas, eventos científicos, palestras e periódicos científicos.

Declaro que fui informado que posso me retirar do estudo a qualquer momento, sem qualquer impedimento ou prejuízo para mim. Nome por extenso

RG:

Local e Data: Florianópolis de de 2009.

Assinatura:

Pesquisadores responsáveis para contato:

Gabriel Gomes de Luca

Telefone: (48) 8423-5063 E-mail: [email protected]

Eduardo Marchi

Telefone: 48 – 91084767 E-mail: [email protected]

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Anexo 2 Consentimento para fotografias, vídeos e gravações.

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

COMISSÃO DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP UNISUL

CONSENTIMENTO PARA FOTOGRAFIAS, VÍDEOS E GRAVAÇÕES

Eu _________________________________________________________________

permito que o grupo de pesquisadores relacionados abaixo obtenha, filmagem ou gravação de

minha pessoa para fins de pesquisa científica.

Eu concordo que o material e informações obtidas relacionadas à minha pessoa possam

ser publicados em aulas, congressos, eventos científicos, palestras ou periódicos científicos.

Porém, a minha pessoa não deve ser identificada, tanto quanto possível, por nome ou qualquer

outra forma.

As gravações ficarão sob a propriedade do grupo de pesquisadores pertinentes ao

estudo e sob sua guarda.

Nome: ______________________________________________

RG: _________________

Endereço: ___________________________________________________________

Assinatura:_________________________________________________________

Equipe de pesquisadores:

Gabriel Gomes de Luca - Fone: (48) 8423-5063

Eduardo Marchi Fone: 91084767

Florianópolis, ________ de ___________________ de 2009.

Adaptado de: Hospital de Clínicas de Porto Alegre/ UFGRS