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FÁBIO AUGUSTO SCARPIM “A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais dos imigrantes italianos e descendentes em Campo Largo, Paraná; (1899-1920)” CURITIBA 2004

A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

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Page 1: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

FÁBIO AUGUSTO SCARPIM

“A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais dos imigrantes italianos e descendentes em Campo Largo, Paraná;

(1899-1920)”

CURITIBA

2004

Page 2: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

FÁBIO AUGUSTO SCARPIM

“A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais dos imigrantes italianos e descendentes em Campo Largo, Paraná;

(1899-1920)”

CURITIBA 2004

Monografia de bacharelado, apresentado ao departamento de História, Setor de Cências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof.° Dr.° Sérgio Odilon Nadalin

Page 3: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

“Se é a razão que faz o homem, é o sentimento que o conduz”

(Rousseau)

Page 4: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

AGRADECIMENTOS

- Ao professor Sérgio Odilon Nadalin, pelo apoio e orientação;

- A casa paroquial de São Sebastião, em especial a Silmara e ao padre Sextílio, pela colaboração para com as fontes;

- Aos meus familiares e amigos, que de alguma forma, colaboraram para

a realização desse trabalho;

Page 5: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

SUMÁRIO

Introdução:............................................................................................................................1

1. Fontes e métodos...............................................................................................................3

1.1 As fontes: os registros de batismo e os registros de casamento........................................3

1.2 O acervo da paróquia de São Sebastião............................................................................5

1.3 O problema........................................................................................................................7

1.4 Métodos e técnicas............................................................................................................9

2. Da Itália ao Paraná: a trajetória dos imigrantes rumo a Campo Largo

2.1 O Brasil no contexto das grandes migrações..................................................................14

2.2 A Itália emissora.............................................................................................................17

2.3 Imigrantes italianos no Paraná........................................................................................20

2.4 O município de Campo Largo e as colônias de imigração italiana.................................26

2.4.1 As colônias...................................................................................................................28

2.5 A capelania Curada e a criação da paróquia de São Sebastião.......................................29

3. Atribuição de nomes de batismo

3.1 O nome enquanto signo de identidade étnica..................................................................33

3.2 Categorias de influências nos prenomes dos imigrantes italianos de Campo Largo......34

3.3 Os prenomes mais freqüentes.........................................................................................44

Conclusão............................................................................................................................50

Referências.........................................................................................................................52

Page 6: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

RELAÇÃO DE ANEXOS

1. Limites territoriais da Paróquia de São Sebastião

2. Relação completa da frequência dos prenomes masculinos

3. Relação completa da frequência dos prenomes femininos

4. Relação completa da frequência dos prenomes masculinos combinados

5. Relação completa da frequência dos prenomes femininos combinados

Page 7: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

RESUMO

A presente monografia teve por objetivo, analisar como um grupo de imigrantes italianos atribuíam nomes de batismo aos seus filhos. Assim, nosso espaço de investigação é constituído pelas colônias italianas de Campo Largo, Paraná, num recorte temporal abrangido pelos anos de 1899 a 1920. As fontes que possibilitaram tal análise foram os registros paroquiais (atas de batismo e casamento) do acervo da Paróquia de São Sebastião (Campo Largo, PR). A documentação, depois de arrolada, foi sistematizada segundo a metodologia de reconstituição de famílias (Louis Henry). Num primeiro momento foi montada a metodologia para trabalhar com os dados. Posteriormente, no segundo capítulo contextualizamos a trajetória dos imigrantes da Itália a Campo Largo. Finalmente, com a sistematização das fontes, analisamos a freqüência dos prenomes, assim como as possíveis influências na atribuição dos mesmos no momento do batismo. As análises foram feitas distinguindo meninos e meninas, diferenciando de modo igual dois períodos (1899-1910; 1911-1920). Tendo em vista a ocorrência significativa de associações de prenomes, a primeira estratégia utilizada foi trabalhar as variáveis de modo independente, embora também tenham sido realizados alguns ensaios no sentido de analisar as combinações. Quanto às categorias de influências, tanto para os prenomes únicos como combinados, os resultados obtidos mostram os principais valores da vida social desses imigrantes, relacionados à família e ao sentimento religioso. Após a elaboração das categorias de influências, foram distribuídos os batismos conforme a categoria em que se enquadrava cada prenome. Como resultado, utilizando principalmente as fichas de famílias abertas como a ata de casamento, verificamos que na maioria dos casos, enquadramos as crianças em uma das influências. Tanto para os prenomes femininos como masculinos, verificamos que a homenagem aos avós (paterno e materno) foi a mais recorrente. Para os nomes de batismo combinados, para ambos os sexos, também percebemos que a influência dos avós (combinações dos prenomes dos dois avós), foi predominante. Quanto a freqüência dos prenomes, verificamos que a maioria utilizada no batismo, tanto para os meninos quanto para as meninas, são emprestados de um mesmo estoque cultural. Muitos prenomes que estão entre os mais recorrentes podem ser diretamente associados ao sentimento religioso (referência aos santos). Concluindo, percebemos que, através da nominação no batismo, os imigrantes e descendentes de italianos de Campo Largo deixam implícito a manutenção de valores étnicos e culturais oriundos do seu local de emigração.

Page 8: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

INTRODUÇÃO

A presente monografia teve por objeto de análise um grupo de imigrantes italianos.

O tema da imigração que motivou nosso estudo, apesar de bastante explorado pela

historiografia, e estudado sob vários enfoques, ainda pode gerar muitas análises pertinentes

no que se refere a questões políticas, econômicas, sociais, demográficas, étnicas e culturais.

O nosso enfoque está pautado em questões culturais e étnicas, ou seja, como

determinados valores dessa população imigrante se comportam frente à sociedade

receptora. Dessa forma, é a questão dos contatos culturais que inspirou a realização da

pesquisa que está sendo relatada nesta Monografia. O signo que se constituiu como objeto

de análise, para verificarmos essa relação entre a cultura imigrante e a cultura local, são os

prenomes. Ou melhor, o que serviu como definição da problemática da pesquisa refere-se a

uma questão: como os imigrantes e descendentes de italianos de Campo Largo atribuíam

nomes de batismo aos seus filhos, e como esse caráter cultural manifestava-se no grupo

recém-instalado.

Buscamos realizar nossas análises por meio dos registros paroquiais de casamento e

batismo, obtidos na Paróquia de São Sebastião, município de Campo Largo, Paraná; e do

uso parcial da metodologia de reconstituição de famílias proposta por Louis Henry e

adaptada pelo Departamento de História da Universidade Federal do Paraná. Assim, o

presente trabalho pretendeu apresentar resultados referentes à verificação de questões

étnicas e culturais implícitas na transmissão do nome ao longo das gerações. Tais questões

apresentam-se travestidas de múltiplos significados, que revelam importantes reflexões

acerca das permanências culturais, do choque entre a cultura migrante e a local, assim como

o processo de assimilação e o estabelecimento de novas fronteiras.

O espaço que delimitamos nossa pesquisa é o constituído pelas colônias de

imigrantes italianos de Campo Largo (Antônio Rebouças, Rondinha, Mariana, Balbino

Cunha e Timbotuva). Tais colônias começam a se formar no final da década de 1870.

Com um número significativo de indivíduos, vão contribuir de forma considerável na

composição étnica do município. Nesse sentido, contextualizamos a imigração num espaço

mais amplo, o de sua trajetória da Itália até o Paraná.

Estabelecidos no município, esses imigrantes constituíram famílias com muitos

filhos, e em curto espaço de tempo a presença italiana já era bastante expressiva. Nessa

Page 9: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

direção, organizaram-se religiosamente, construindo suas capelas, e em poucos anos é

criada a paróquia de São Sebastião na colônia de Rondinha.

A escolha por esse espaço também reflete a idéia de buscar as mudanças de uma

cultura local ,de pensar como muitos aspectos dessa herança italiana se mantém, o que

mudou, e como mudou. Além disso, a idéia de tentar ver o processo de inserção desses

imigrantes na sociedade local, enquanto parte de um processo de mudanças da sociedade

brasileira.

O recorte temporal abarcado em nosso estudo está diretamente ligado à

disponibilidade das fontes. A baliza inicial está relacionada a primeira ata de casamento

disponível no acervo da paróquia, ou seja, 1899. Nesse sentido, o levantamento dos

registros, tanto de batismos como de casamentos, tomaram como ponto de partida essa data.

Estabelecemos como marco final 1920, ou seja, adotamos como critério o período de duas

décadas. Tomamos tal decisão, visto que a quantidade de registros a ser levantada seria

bastante expressiva se prolongássemos em mais uma década nosso recorte, não havendo

tempo suficiente para levantamento e análise de toda essa documentação. O ano que temos

como referência inicial de arrolamento das fontes (1899), a população das colônias já se

encontra praticamente estabelecida, ou seja, está estagnando a chegada de imigrantes

italianos nessa região.

Após o arrolamento dos registros paroquiais, a documentação foi disposta em fichas

de famílias e, na seqüência, foram sistematizados os resultados em função dos objetivos de

investigação. Elaborada essa metodologia, procuramos estabelecer uma linha explicativa

para as possíveis formas de nomeação, assim como para os resultados encontrados. Por esse

meio, objetivamos buscar elementos que demonstrem a permanência de um patrimônio

cultural e familiar que acompanha o movimento migratório desses italianos.

Page 10: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

CAPÍTULO I

Fontes e Metodologia

1.1 As fontes: os registros de casamento e os registros de batismo.

Em 24 de setembro de 1904 casaram-se, na então capela de São Sebastião, colônia de

Rondinha, Angelo Mason e Assunta Maria Rinaldin. Ele, morador da mesma colônia,

solteiro, filho do falecido João Baptista Mason e de Mariana Gerardi, nascido na diocese de

Treviso no dia 18 de julho de 1882, então com 22 anos. Ela, moradora da colônia do Rio

Verde, solteira, filha do falecido Antônio Rinaldin e de Daniela Fregroso, nascida também

na Diocese de Treviso em 28 de agosto de 1886, então com 18 anos. Foram testemunhas do

casamento Bortolo Berton e Luigi Ceccato.

Cerca de 10 meses depois (em 29 de junho de 1905), Angelo e Assunta batizaram

seu primeiro filho (Mariana Daniela), na capela de N. Sra da Anunciação, colônia Rio

Verde,1 provável local onde moravam. No decorrer da década de 1900 nascem mais três

filhos do referido casal: Teresa (18/06/1906), João (19/09/1907) e Antônio (29/04/1910).

Na década seguinte eram batizadas mais quatro crianças: Maria (10/07/1913), Daniela

(02/07/1915), Carmela (16/07/1917) e Rosa (14/08/1919).2

Se prosseguíssemos mais adiante no tempo, encontraríamos, talvez, o casal

batizando outros filhos, assim como seus filhos batizando seus netos. Usamos esse caso

como exemplo para mostrar as informações que podemos obter a partir dos registros

paroquiais, pois, a partir deles, podemos reconstituir famílias inteiras. Além disso, essa

fonte é de suma importância para resgatarmos informações sobre a vida social da gente

comum, já que é através do batismo que o indivíduo tem seu primeiro registro enquanto

sujeito pertencente aquela comunidade.

Para ilustrar o que dissemos, vejamos a transcrição de uma ata de casamento:

1 O nome Rio Verde, é o nome que mais aparece nos registros para a colônia. Mas tanto nos documentos eclesiásticos como em documentos oficiais da época aparece o nome Colônia Mariana, que é o nome da região. 2 A data colocada ao lado do nome de cada filho(exceto Mariana Daniela) refer-se a data de nascimento e não a data de batismo.

Page 11: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

ATA DE CASAMENTO

“ No dia vinte e quatro de septembro de mil novecentos e quatro, eu padre João Baptista Borgia na Igreja de Rondinha, uni em matrimônio Mason Angelo, filho do defunto João Baptista Mason e da vivente Gerardi Marianna, nascido no 1882 aos 18 de julho em Torrecelli, Diocese dde Treviso, agora residente na colonia de Rio Verde

com Assunta Maria, filha do defunto Antonio Rinaldin e da vivente Daniela Fregonese em Zenson de Pione, diocese de Treviso no anno de 1886 aos 28 de agosto, agora residente na colônia de Rondinha.

Padrinhos: Bortolo Berton e Luigi Ceccato. Paroco João Baptista Borgia”

Nas atas de casamento dos imigrantes italianos obtemos os seguintes dados:

Para 1° casamento

• Nome do noivo; • Nome da noiva; • Nome dos pais do noivo; • Nome dos pais da noiva; • Nome das testemunhas ou padrinhos; • Localidade que moravam os conjuges; • Local onde nasceram os conjuges; • Data de nascimento ou idade dos conjuges; • Local de celebração do matrimônio; • A hora da celebração (em alguns casos); • Data do casamento (dia, mês e ano);

Para casamentos em que um dos cônjuges era viúvo, temos as mesmas informações acima,

acrescidas do nome do conjuge anterior; em alguns casos, quando se tratava de pessoas

mais velhas, não aparecia o nomes dos pais do nubente que era víuvo.

Os registros de batismo, geralmente, trazem menos informações que o casamento. Vejamos

a transcrição de uma ata de batismo, para visualizar seu conteúdo:

ATA DE BATISMO

“ No dia vinte de junho do anno de mil novecentos e cinco na Egreja do Rio Verde batptizei e pus os santos oleos a inocente Mariana Daniela, nascida no dia onse de junho do corrente anno, filha legitima de Angelo Mason e Assunta Rinaldin foram padrinhos Luiz Ceccato e Maria Zampieri.

Padre João Borgia vigario”

Page 12: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Para os registros de batismo, as informações obtidas são:3

• nome do batizado; • nome dos pais; • nome dos avós da criança (somente em alguns casos); • nome do padrinho e da madrinha; • se é filho legítimo ou filho natural; • data de nascimento; • data de batismo; • local do batizado; • nome do padre.

Tomando por base as informações encontradas nos registros de casamento e batismo, é

possível responder a uma série de questões culturais e sociais sobre a população que

estamos estudando. Entretanto, nos deteremos no aspecto que constituiu o eixo de nossa

análise, ou seja, a nominação no batismo.

Pelos registros de casamento e de batismo, para o período estudado, utilizando a

metodologia de reconstituição de famílias, obtivemos os prenomes de indivíduos de três

gerações. Como nos exemplos acima, pelo casamento, identificamos os nomes da

“primeira geração”, ou seja os pais dos noivos (os avós): João Baptista e Mariana, Antonio

e Daniela , e a “segunda geração”, ou seja, os noivos (pais): Angelo e Assunta Maria. Com

os registros de batismo obtemos a “terceira geração” ,ou seja, os filhos dos noivos (netos),

como Mariana Daniela e outros.

1.2 O acervo da Paróquia de São Sebastião

Para o recorte estabelecido (1899-1920), foram utilizados documentos obtidos de

dois livros de casamento e três livros de batismo. Todos os livros estão bem conservados,

são manuscritos e legíveis (salvo algumas exceções). Geralmente os registros estão em

ordem cronológica e sem variação de conteúdo. Os livros utilizados, levam termo de

abertura no início , e termo de encerramento no final do mesmo.

Para o período estudado, estão assim distribuídos:

3 Para os registros arrolados, consideramos aqueles em que pelo menos o pai ou a mãe era descendente de italiano. Portanto , foi encontrado apenas um registro de filho não legítimo, ou seja, filho natural.

Page 13: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Tabela 1 - Paróquia de São Sebastião, município de Campo Largo.

Livros de Batismos levantados e arrolados, 1899-1920.

Número do Livro Período Número de Registros Atas arroladas*

3 1899-1903 340 295

4 1903-1907 330 260

5 1907-1924 1632** 1250**

Total 1899-1920 2302 1805

* Atas nas quais consta pelo menos o nome de um pai ou de mãe descendente de italianos ** Até 1920

Tabela 2 - Paróquia de São Sebastião, município de Campo Largo.

Livros de Casamentos levantados e arrolados, 1899-1920.

Número do Livro Período Número de Registros Atas arroladas*

1 1899-1914 201 180

2 1914-1936 138** 113**

Total 1899-1920 339 293

* Atas nas quais consta pelo menos o nome de um pai ou de mãe descendente de italianos ** Até 1920

Page 14: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

1.3 O problema

Em setembro de 18904 desembarcam no porto de Paranaguá mais uma família

imigrante, dentre as dezenas que haviam chegado ao Paraná. Pietro Scapin e Rosa Sartori,

juntamente com seus filhos Cesare, Giovanni, Vittore, Mellania, Catherina e Clarinda são

oriundos da Comune di Torrebelvicino, província de Vicenza, norte da Itália. Tendo em

vista o panorama pela qual passava o referido país, sua origem provável remete aos muitos

pequenos proprietários que estavam enfrentando uma difícil situação econômica, provocada

pelas transformações do sistema capitalista do final do século XIX. Tal situação, os obrigou

a buscarem novas alternativas de vida, sendo a América seu destino. Chegados ao Paraná,

foram instalados na colônia Mendes de Sá,5 no município de Campo Largo. A colônia onde

foram instalados, criada desde 1885, por iniciativa do Comendador João Mendes de Sá, era

a maior e de localização mais central do município.

Ainda na década de 1890 o casal teve mais quatro crianças, nascidas em Campo

Largo; Adelaide (1891), Maria (1894), Margheritta (1895) e Anna (1898). Seus primeiros

netos começaram a nascer antes do final da década de 1890, um ano após o nascimento da

última filha. Na década de 1900 são contabilizados 12 batizados de netos do casal,6 sendo

sete meninos e cinco meninas; dois dos sete meninos receberam o nome do avô (Pietro),7 e

duas das cinco meninas receberam o nome da avó (Rosa ).

Para o período de 1911 a 1920 foram computados 33 netos, dos quais 16 são

meninos e 14 meninas. De acordo com os registros paroquiais, dos batizados do sexo

masculino, três receberam o nome do avô (Pedro na versão “aportuguesada”) e um recebeu

o nome Pietro (na versão italiana). Das meninas, quatro receberam o prenome da avó

(Rosa) e uma o prenome “Pierina”, que se relaciona ao nome do avô Pietro. Percebe-se,

nesse exemplo, a influência dos nomes do casal pioneiro enquanto avós paternos e

maternos. Nos demais prenomes dos netos de Pietro e Rosa, tanto da primeira década

quanto da segunda, verifica-se a homenagem a todos os avós:8 (Bernardo, Maria, José,

Magdalena, Francisco, Ermenegilda, João, Elia, Jacomo, Antônio, Geovanna). Além disso,

4 Arquivo Público do Paraná, Registro de desembarque de imigrantes italianos. Livro Tombo 428 e 455. 5 Devo salientar que o nome Mendes de Sá, é a referência mais recorrente que aparece nas fontes O nome atual é Rondinha. 6 O número de doze, está incluído um neto do casal nascido em 1899. 7 Nas fontes encontramos o nome Pietro na versão aportuguesada (Pedro). 8 Quando falamos de todos os avós, estamos nos referindo aos pais dos conjuges dos filhos de Pietro e Rosa.

Page 15: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

encontram-se crianças batizadas com nome dos padrinhos, dos tios9 e dos santos de

preferência dos imigrantes italianos.

Dessa forma, estão presente muitos nomes de batismo oriundos de um mesmo

estoque cultural de prenomes, seja na sua versão original (italiana) como Antônio, Carlo,

Magdalena, Rosa, Pietro, Jacomo ou na forma “aportuguesada”, tais como João ,José,

Francisco, Madalena, Teresa. Através desse caso singular, assim como outros analisados

nas fontes, percebeu-se na linhagem em questão uma forte preocupação em se atribuir aos

primeiros netos, os prenomes do avô e da avó.10 Nessa direção observa-se, que a reação

cultural desse grupo imigrante, nos primeiros tempos de sua vida no Brasil, foi

principalmente, no sentido de preservação de sua identidade étnica.

Prosseguindo com a linhagem em questão, observemos agora a descendência de um

dos filhos de Pietro e Rosa. Cesare Scapin, como foi mencionado, nasceu na Itália em

07/02/1882, chegando ao Brasil com 8 anos de idade em 30/07/1910. Com 28 anos de idade

casou-se com Angela Carlesso, filha de Bernardo Carlesso e Maria Zanin. O primeiro filho:

Pedro, nascido 10 meses após o matrimônio, recebeu o prenome do avô paterno. No

decorrer da década de 1910 a 1930, nasceram mais oito filhos: Bernardo, Carlo, Rosa,

Maria, Augusto, Antônio, Albino e Domingos. Nesse conjunto de nove nomes de batismo

está presente a memória ou a lembrança de todos os avós (Pedro e Rosa: ascendência

paterna) e (Bernardo e Maria: ascendência materna). A partir da década de 40, esses

indivíduos estarão casando e batizando seus filhos.11 Dentre os netos de Cesare, são

contados 37, cujo nascimento estão espalhados pelas décadas de 30 a 60. Como esse

período não faz parte de nossa pesquisa, não analisamos os prenomes dessa geração. Mas

percebe-se que se configurou, na mesma, uma diversificação do conjunto de prenomes,

apesar de ainda aparecer a influência familiar (avós,tios e padrinhos), além da ligação com

o sentimento religioso (nome de santos). Tais mudanças podem estar diretamente ligadas ao

contexto vivido, ao crescimento populacional e urbano do município, ao surgimento dos

meios de comunicação nos domicílios familiares (rádio), e a dispersão desses descendentes

por várias outras regiões de Campo Largo, além de uma maior integração cultural,

9 A presença do nome dos tios atribuído aos batizados é possível de se verificar em certos casos,porém para trabalhar essa variável de forma mais concreta dependeríamos de outras fontes, que no momento não estão ao nosso alcance, porisso essa opção talvez não seja abordada. 10 A análise das fichas de famílias para o período estudado, tanto para os meninos como para as meninas, percebeu um certo equílibrio entre a presença dos prenomes dos avós maternos e dos avós paternos atribuídos aos netos. 11 Destaca-se aqui que a descendência de Pietro e Rosa não está totalmente concentrada dentro da área territorial da paróquia, muitos se mudaram para regiões vizinhas e até mesmo outras cidades.

Page 16: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

aumentando assim os contatos étnicos. Esse processo se intensifica na geração

seguinte, em virtude dessas mudanças.

Tudo indica, portanto, que o nome pode ser um elemento de identidade, ou mesmo,

de diferença. No caso dos imigrantes italianos, pode revelar-se como um caráter de

distinção, uma forma de restituir os laços culturais da sociedade emissora .

“Um indivíduo, ao imigrar, reconstrói suas relações com a sociedade que ele

deixou para trás, em função da natureza dos contatos que estabelece com a sociedade

receptora; em função, de modo igual, do confronto com as novas oportunidades geradas

por um ambiente diferente”.12 São esses elementos, de conservação e de integração

cultural, que essa pesquisa pretendeu analisar, refletindo através da nomeação no momento

do batismo.

1.4 Métodos e técnicas.

Para a elaboração desse trabalho, como foi dito acima, foram arrolados

exaustivamente os registros de casamento e batismo de um período que vai de 1899 a 1920,

considerando-se todos os registros em que pelo menos um dos indivíduos envolvidos tenha

ascendência italiana. Nesse sentido foram arroladas 1805 atas de batismos e 293 de

casamento, perfazendo um total de 2098 registros. Os registros de casamento foram

lançados diretamente em fichas de famílias, onde obtivemos os prenomes referentes a duas

gerações (os pais dos noivos, que em sua maioria tinham nascido na Itália, e os noivos,

alguns nascidos na Itália e outros filhos de imigrantes).

Para os batismos, foram elaborados dois grupos de fichas: o primeiro refere-se aos

filhos dos casais que obtivemos a ata de casamento13, em que temos: os pais dos noivos e

os noivos, informados pelo registro de matrimônio, e seus filhos batizados até 1920,

informados pelo registro de batismo e arrolados conforme ordem cronológica, além do

nome dos padrinhos de cada criança. Essas fichas são chamadas: fichas “M”

O segundo grupo arrola os filhos de casais cujo casamento ocorreu antes do ano

estabelecido como marco inicial da pesquisa, ou que não celebraram seu matrimônio na

12 NADALIN, Sérgio & BIDEAU, Alain. 2001: p.5 13 Para algumas fichas de casamento não obtivemos batizados, provavelmente pelo fato desses casais terem mudado de paróquia após o matrimônio.

Page 17: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

paróquia. Para cada registro de batismo em que não tínhamos a ficha aberta pela ata

de casamento, foi aberta outra, iniciando pelo registro mais antigo e acrescentado os irmãos

em ordem cronológica, conforme apareciam na documentação. Para esse grupo, temos

somente os nomes dos batizandos e seus pais, além do nome dos padrinhos de cada criança,

ou seja, informações a respeito de duas gerações. Essas fichas são chamadas: fichas “E”

Analisando principalmente os batizados do primeiro grupo, foi possível elaborar

uma listagem das possíveis influências na atribuição dos nomes. Num primeiro momento,

analisamos cada prenome separadamente, pois, um segundo momento, separamos os casos

de prenomes combinados, para qual elaboramos outra relação. As listagens abaixo

sintetizam essa idéia.14

A - Origem provável do nome da criança – prenome único

1. Nome dos pais

1.1 nome do pai (ou, sua versão feminina);

1.2 nome da mãe (ou, sua versão masculina);

2. Nome dos avós

2.1 nome do avô paterno (ou, sua versão feminina);

2.2 nome do avô materno (ou, sua versão feminina);

2.3 nome da avó paterna (ou, sua versão masculina);

2.4 nome da avó materna (ou, sua versão masculina);

3. Nome dos padrinhos

3.1 nome do padrinho (ou, sua versão feminina);

3.2 nome da madrinha (ou, sua versão masculina);

4. Nomes de devoção

4.1 Santos/Santas próximo do dia de batismo ou nascimento;

4.2 Santos/santas padroeiros da paróquia e capelas das colônias;

5. Outra origem

B - Origem provável do nome da criança – prenomes combinados

1. Combinação do nome dos pais e avós:

14 É importante ressaltar, que a listagem refere-se a todas as possíveis influências na atribuição dos nomes, não qurendo dizer que necessariamente apareceram todas as categorias, quando forem estas forem contabilizadas

Page 18: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

1.2 Pai e avô materno;

1.3 Mãe e avó paterna;

1.4 Mãe e avó materna;

2 Combinação do nome dos avós;

3 Combinação do nome dos pais e padrinhos;

4 Combinação dos avós e padrinhos;

5 Combinação do nome dos pais e nome devocional;

6 Combinação do nome dos avós e nome devocional;

7 Combinação do nome dos padrinhos e nome devocional;

8 Combinação do nome dos pais e outro nome;

9 Combinação do nome dos avós e outro nome;

10 Combinação do nome dos padrinhos e outro nome;

11 Combinação do nome devocional e outro nome;

Para sistematização dos resultados obtidos, e tendo em vista as possibilidades acima,

elaboramos tabelas para organizar grupos de influências. Tais grupos, procuraram

responder de que forma os indivíduos em questão mantém ou não uma prática cultural que

se expressa no nome. Para visualisar se houve mudanças, dividimos o período estudado em

duas fases . A primeira corresponde aos anos de 1899-1910, e a segunda aos anos 1911-

1920. A análise dos resultados se pautará pela frequência dos prenomes, e a disposição dos

mesmos, segundo grupos definidos a partir dos resultados obtidos dessa listagem.15 Tais

idéias podem ser melhor visualisadas nas tabelas que se seguem.

15 No capítulo refrente a análise dos resultados, todas as tabelas sobre influências na atribuição e frequência dos prenomes, serão separados os meninos das meninas, assim como 1° período, 2° período e contagem total.

Page 19: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Tabela 3 - Paróquia de São Sebastião, município de Campo Largo; grupos de influências na atribuição dos prenomes únicos.

Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4

Influência Paterna

Influência Materna

Influência cultural

e/ou religiosa

Outros

1.1 Nome do Avô paterno

2.1 Nome do Avô Materno

3.1 Nome do santo próximo do dia de nascimento ou batismo, ou padroeiros das colônias

1.2 Nome da Avó paterna

2.2 Nome da Avó materna

3.2 Nome do padrinho

1.3 Nome do pai 2.3 Nome da mãe 3.3 Nome da madrinha

1.4 Neto c/ o nome na versão masculina do nome da avó paterna

2.4 Neto c/ o nome na versão masculina do nome da avó materna

1.5 Neta c/ nome na versão feminina do nome do avô paterno

2.5 Neta c/ nome na versão feminina do nome do avô materno

Com essa sistematização pudemos fazer algumas considerações a respeito dos

resultados obtidos, tais como: a ascendência paterna tem maior influência que a materna na

nomeação? Ou elas se equilibram? Existem variações entre os dois períodos? Qual dos

grupos tem maior predominância nos nomes? Os nomes de batismo que não se enquadram

em nenhum dos três grupos são comuns a um mesmo “estoque cultural” de prenomes, ou

surgem novos? Essas questões, assim como outras, podem ser levantadas a partir das

observações fornecidas pelas fichas, convenientemente tratadas. Para as combinações

podemos utilizar uma metodologia parecida, acrescentando um grupo em que há influência

paterna e materna, conjuntamente

Page 20: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Tabela 4 - Paróquia de São Sebastião, município de Campo Largo; grupos de influências na atribuição dos prenomes combinados.

Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5

Influência Paterna

Influência Materna

Influência cultural

e/ou religiosa

Combinação de

Influência paterna e materna

Outros

1.1 Avô paterno + nome do pai

2.1 Avô materno + nome do pai

3.1 Combinação do nome do padrinho + nome de santo

4.1 Avô materno+Avô paterno (ou vice-versa)

1.2 Avó paterna + nome da mãe

2.2 Avó materna + nome da mãe

3.2 Combinação do nome da madrinha + nome de santo

4.2 Avó materna+Avó paterna (ou vice-versa)

1.3 Nome do avô paterno + nome de santo

2.3 Nome do avô materno + nome de santo

1.4 Nome da avó paterno + nome de santa

2.4 Nome da avó materno + nome de santa

1.5 Nome do avô paterno + outro

2.5 Nome do avô materno

1.6 Nome da avó paterna + outro nome

2.6 Nome da avó materna + outro nome

1.7 Nome do pai + nome do santo

2.7 Nome da mãe + nome da santa

Essas tabelas foram elaboradas a partir da relação entre os prenomes, considerando

seu significado. Não diferenciamos a forma de grafá-los, seja no português ou no italiano,

pelo fato das fontes não serem suficientemente seguras para verificarmos tal diferença. Tal

idéia pode ser constatada nos registros de casamento, pois certos conjuges nascidos na

Itália, foram registrados com seu prenome na versão portuguesa. Portanto, estamos

considerando se o nome atribuido a criança é ou não, oriundo de um mesmo conjunto de

prenomes trazidos na bagagem dos imigrantes.

Page 21: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

CAPÍTULO II Da Itália ao Paraná: a trajetória dos imigrantes italianos rumo a Campo Largo 2.1 O Brasil no contexto das grandes migrações.

Ao verificar alguns estudos de historiadores sobre a imigração e colonização

espontânea16 de estrangeiros no Brasil, foi possível estabelecer uma periodização. Os

primeiros incentivos à imigração estrangeira, com objetivo de ocupar os chamados “vazios

demográficos”, é contemporâneo ao período em que D. João VI autoriza a abertura dos

portos às nações amigas . Entretanto, é por volta de 1850, até mais ou menos 1930, que se

consolida um período de grande fluxo imigratório . Em termos históricos, esse período se

inicia com a cessação do tráfico de escravos na metade do oitocentos, até a grande crise do

café, em conseqüência a crise de 1929.17

Essa periodização está fundamentada num elemento central: o latifúndio. O Brasil

possuía seu sistema de produção baseado na grande propriedade – na qual uma pequena

elite detinha o poder –, no trabalho escravo e na agricultura voltada para a exportação.

Dessa forma, a economia nacional era apoiada na estabilidade desses elementos. A partir

do momento que cessa o tráfico de escravos em 1850, o sistema entra em contradição, pois

se ampliava a demanda mundial do café, com conseqüentes exigências no nível da

produção. A busca de imigrantes estrangeiros foi à solução ideal encontrada, pois, além de

tentar resolver o problema da crise de mão-de-obra provocada pelo fim do tráfico de

escravos, outros pressupostos estavam presentes nos discursos políticos, como a idéia de

construir uma nova nação baseada no trabalho livre.

A imigração e a colonização européia no Brasil passaram para a rotina dos debates

parlamentares, quando da percepção da irreversibilidade do processo de abolição da

escravatura. O Brasil, num quadro mais amplo, defrontava-se com dois tipos de problemas:

de um lado prover a mão-de-obra que se fazia necessária para substituir a escrava na

lavoura de café, de outro lado, a urgência de uma colonização eficaz para o povoamento

de diversas áreas, bem como o incentivo à agricultura em regiões que se encontravam

improdutivas. Para ambas, via-se no imigrante europeu a solução. Essa idéia de que o

16 Como imigração espontânea não se entende a vinda de escravos africanos. 17 BALHANA, 2002: pag. 237.

Page 22: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

imigrante traria progresso era muito enfatizada na época, principalmente, pelos

indivíduos ligados às sociedades de imigração, como exemplifica esse trecho:

Tenhamos, porém fé viva no futuro. Custa muito desenraizar maus hábitos tradicionais, mas aqui há também trabalho nacional bem sensível e do cruzamento das raças europeas com os nacionaes, produzir-se-há a nacionalidade que saberá levantar o Brazil a posição que merece. E uma vez alcançado o ponto de partida para imenso desenvolvimento, este será relativamente rápido.18

De maneira geral, a idéia que estava em discussão era a renovação do trabalho, que

se considerava manchado pela escravidão.19 Dessa forma, foi incentivado, principalmente,

a vinda de imigrantes de origem rural, com objetivo de introduzir novas e produtivas

técnicas agrícolas, ensinando-as aos habitantes locais.20

Tendo em vista esse panorama, a política imigratória adotada no Brasil na segunda

metade do século XIX, se deu sob duas formas. O sistema de parceria, num primeiro

momento, foi à estratégia utilizada principalmente nas áreas produtoras de café, como em

São Paulo.21 A maior preocupação dos cafeicultores residia numa política imigratória clara,

pautada pela busca de mão-de-obra farta e barata para as plantações de café, sobretudo a

partir de 1884. Nesse sentido, desejosos por essa mão-de-obra farta e barata, foi montada

uma grande infra-estrutura envolvendo – entre outros estímulos –, concessão de passagens

gratuitas, arregimentadores espalhados por toda a Europa, colocação de colonos nas

fazendas e a construção de hospedarias para abrigar os recém chegados.22 Todo esse

aparato servia para que cada vez mais imigrantes se sentissem motivados a emigrar, mas, o

sonho de adquirir um pedaço de terra, logo se transformava em decepção, frente à série de

obrigações que lhes eram impostas.

Na região sul do Brasil, a preocupação foi no sentido de incentivar a imigração para

resolver o problema alimentar das províncias, estabelecendo imigrantes em pequenas

propriedades voltadas a produção de gêneros alimentícios.23 A escassez de plantações de

produtos agrícolas decorria em grande parte, do comércio interno de escravos, provocado

pelo impacto das leis abolicionistas. Os escravos que antes se dedicavam à produção de

18 Curitiba, Gazeta Paranaense: 14 de Outubro de 1885. 19 NADALIN, 2002: p.67. 20 Op. cit. p. 65. 21 O sistema de pareceria foi utilizado num primeiro momento, mas não perdurou por não ter dado certo. 22 ALVIM, p. 250. 23NADALIN, Op. cit. p. 69.

Page 23: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

gêneros de subsistência, tinham sido remanejados, em grande parte, para as plantações

de café, em São Paulo.24 No caso do Paraná, tal propósito se fazia necessário, pelo fato da

economia não ser especializada, uma vez que se concentrava sobretudo na pecuária e na

exploração do mate e da madeira. Além disso, o desenvolvimento da urbanização, com o

conseqüente aumento de consumidores, fazia crescer ainda mais a demanda não só por

gêneros alimentícios, mas também por outros artigos, que até aquele momento eram

importados do exterior e de outras províncias. Nessa direção, a introdução de colonos

passou a ser encarada como um elemento de suma importância tanto para a economia,

quanto para a alteração da composição étnica.

As sociedades ou companhias de colonização também tiveram papel importante na

vinda de imigrantes. Estas surgiram da ação combinada dos governos provincial e Imperial

com particulares, promovidas e muitas vezes subsidiadas pelas diversas instâncias do

Estado. No Rio de Janeiro nascem inúmeras, merecendo ser destacada a Sociedade Central

de Imigração. Sua finalidade era promover por todos os meios o aumento da imigração,

patrocinar as reformas legislativas, visando ao bem-estar do imigrante, e fazer propaganda

na Europa no sentido de destruir idéias falsas sobre o Brasil.25

Com a fundação da mencionada entidade, ficou evidente a existência das duas

correntes favoráveis à imigração no Brasil. Uma, defendia o incremento da colonização,

por meio da pequena propriedade e, outra, se esforçando na obtenção de mão-de-obra para

a lavoura de café – insistindo, portanto, na necessidade de fomentação da imigração em

massa.26 Diante das notícias não satisfatórias das condições em que se encontravam muitos

imigrantes italianos nas fazendas de café, em 1902 O Commisariato dell’ Emigrazione da

Itália enviou um representante às fazendas paulistas para examinar a situação dos italianos

emigrados. Depois de tomar conhecimento das precárias condições que se encontravam, o

governo da Itália baixou um decreto proibindo a emigração gratuita para o Brasil: era livre

apenas a saída de cidadãos que tivessem meios suficientes para se disporem a emigrar.

Verificando esse panorama de implementação de uma política voltada para a atração

de imigrantes no Brasil da segunda metade do século XIX, percebe-se que outros fatores,

externos, contribuíram para que um grande contingente de estrangeiros entrassem no país

nesse período. Tais fatores remetem principalmente a situação que passava o continente

europeu, a exemplo da Itália, por ocasião das transformações do sistema capitalista. Essas 24NADALIN, Op. cit. p. 68. 25 HOLANDA, Sérgio Buarque. p. 280 26 HUTTER, Lucy Maffei. 1996: p. 77

Page 24: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

transformações, de maneira geral, obrigaram milhões de pessoas a buscarem outras

alternativas de sobrevivência.

2.2 A Itália emissora

De acordo com Eric Hobsbawn, a partir da segunda metade do século XIX até as

primeiras décadas do século XX, a Europa passou por um intenso processo de

disponibilização de mão-de-obra. Vários fatores fizeram com que milhares de pessoas

(especialmente camponeses) abandonassem sua terra natal e fossem em busca de melhores

condições de vida, alimentando inclusive o sonho do enriquecimento. A passagem do

sistema de produção herdada do feudalismo, - uma vez que este já havia acabado -, para o

de produção capitalista seguiu linhas básicas nos países que se industrializaram; porém, o

que variou foi à época que isso aconteceu.27 A progressiva concentração de terras nas mãos

de poucos, o grande crescimento populacional verificado em toda a Europa nesse período, a

industrialização e a melhoria nos transportes - que permitiu um maior deslocamento das

populações-, podem ser apontados como os principais motivos que levaram às grandes

migrações.

O grande exército de trabalhadores gerado pela própria expansão do capital trouxe

a tona milhares de desempregados . A miséria e a incapacidade do novo sistema de

absorver essa mão-de-obra levaram a adoção de medidas imediatas, tanto por parte da

população que procurou outros territórios, quanto por parte do Estado que se preocupava

com o rumo que a situação poderia tomar, incentivando, assim, a emigração. Emigrar,

portanto, foi a solução ideal encontrada, uma vez que esse panorama geral harmonizava-se

perfeitamente com as necessidades dos novos países – Estados Unidos, Argentina e Brasil ,

que por motivos variados iniciaram um grande movimento de atração de imigrantes para

suas terras.28

Mais de 50 milhões de europeus deixaram o continente entre 1830 e 1930; destes,

11 milhões vieram para a América Latina, dos quais 38% eram italianos, 28% espanhóis,

11% portugueses, 3% franceses e alemães. Do ponto de vista do local de destino, esses 11

milhões dividiram-se da seguinte forma: 46% para a Argentina, 33% para o Brasil, 14%

para Cuba e o restante dividiu-se entre Uruguai, Chile e México.29

27 ALVIM, Zuleika. 1999: p. 219 28 ibid. pag. 220 29 ibid.

Page 25: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Apesar desses números mostrarem momentos e países diferentes nessa

diáspora, é um quadro comum que explica as cifras citadas. Sem dúvida a causa

preponderante foi a fome e a miséria pela qual passava um grande número de camponeses.

Ao analisar as causas da expulsão do Vêneto que cooperou com cerca de 30% do total dos

imigrantes italianos vindos para o Brasil, Emilio Franzina, através de observadores da

época, destaca o quanto o problema da alimentação era grave.“No Vêneto podia-se morrer

de inanição e que a única alimentação da classe rural não passava de polenta, uma vez que a

carne de vaca era um mito e o pão de farinha de trigo inacessível pelo seu alto preço”.30

No caso italiano, a produção pela qual os trabalhadores rurais pautavam sua

sobrevivência, vinha da terra, apoiada no trabalho familiar e codificado por vários contratos

que conferiam ao camponês a posição de trabalhador rural. Entretanto, sobretudo a partir de

1870, a disputa pelo mercado consumidor se acirrou, multiplicando a concentração da terra.

Dessa forma, enormes contingentes de trabalhadores deixavam de ter o título de pequenos

proprietários para se tornarem trabalhadores braçais nas grandes propriedades rurais. A

mudança de uma estrutura agrária, de forma semi-feudal, para uma estrutura industrial,

ocorreu num curto espaço de tempo. Conjuntamente a esse fenômeno, a Itália estava

passando nesse período por um processo de explosão demográfica. Como o mercado

consumidor de mão-de-obra não comportava todo aquele contingente populacional,

milhares de camponeses se viram obrigados a procurar novas fontes de trabalho.

Portanto, essa nação transformou-se em um dos países europeus mais aptos a liberar

mão-de-obra, dadas suas condições econômicas e sociais. O excesso de população e a falta

de terras cultiváveis provocavam uma distorção na oferta e procura de mão-de-obra.31 As

condições particulares em que a Itália se insere no quadro de transformação do capitalismo

induziu o país a se desfazer, seja entre emigrantes temporários ou permanentes. Entre 1861

e 1940, cerca de vinte milhões de pessoas deixaram a Itália.32 Tais cifras são resultado de

um processo em que o desenvolvimento industrial foi lento ou insuficiente; de modo que,

incapaz de absorver todo o contingente populacional no sistema, a conseqüência foi o

prolongamento da emigração.

Entre os italianos, um outro motivo levou a saída de muitos jovens; refiro-me à

obrigatoriedade do serviço militar. Dessa forma, partiam para o exterior evitando assim

serem convocados. Mas, sem dúvida, e como foi mencionado acima, uma idéia bastante 30 ibid. p. 222 31 HUTTER, Lucy Maffei. 1996: p. 74 32 ALVIM, 1986: p. 24

Page 26: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

presente na mente de muitos imigrantes era a possibilidade do enriquecimento fácil.

As grandes dificuldades de sobrevivência enfrentada por muitas pessoas, a propaganda que

se fazia na Europa (afirmando que a América era o lugar mais adequado para a

concretização do sonho de uma vida melhor) e o incentivo para a vinda de imigrantes por

parte do governo brasileiro, se constituíram no “fio condutor” do movimento imigratório

italiano para o Brasil. Tal idéia pode ser visualizada nos versos da canção, que segue:

“ Itália bela, mostre-se gentil e os filhos seus não a abandonarão, senão, vão todos para o Brasil, e não se lembrarão de retornar. Aqui mesmo ter-se-ia no que trabalhar Sem ser preciso para a América emigrar. O século presente já nos deixa, o mil e novecentos se aproxima. A fome está estampada em nossa cara E para curá-la remédio não há. A todo momento se houve dizer: Eu vou lá, onde existe a colheita do café.”

Tal fragmento ilustra bem a idéia de que muitos italianos estavam dispostos a

emigrar para reconstruir uma nova vida na América. Extraído da canção Italia bella,

mostrati gentile – provavelmente datada de 1899 –, foi encontrada em Porciano,

cidadezinha da província de Arezzo, na Toscana, região “emissora” de emigrantes.33 O

texto também denuncia que, dentre os imigrantes italianos chegados no Brasil, grande parte

foi proveniente do norte da Itália, local onde a situação era mais crítica. Em decorrência da

unificação política, essa região estava passando por um período de transformação na

agricultura. Como esta passou a ser praticada em moldes capitalistas, grande parte dos

camponeses foram transformados em proletários do campo,34 enquanto outros

definitivamente foram transformados em operários.

Foi do Vêneto que partiu a maior parte dos imigrantes italianos que vieram para o

Brasil. Dessa forma, aqueles que chegaram ao Paraná e, conseqüentemente, a Campo

Largo, em sua grande maioria eram oriundos dessa região. Sendo predominantemente

camponeses, cujo trabalho se apoiava na mão-de-obra familiar, os imigrantes, provinham

33 ALVIM, Op. Cit: p. 17 34 Usamos essa expressão para designar aqueles camponeses que trabalhavam para um fazendeiro em regime de trabalhadores contratados , conforme as necessidades das atividades agrícolas (principalmente na colheita).

Page 27: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

de dois tipos de mão-de-obra: os que trabalhavam por conta própria, ou seja, os

pequenos proprietários e arrendatários, e aqueles que trabalhavam como assalariados.35

Por ser uma região dividida entre áreas com muitas colinas e montanhas, e áreas de

planície, o campo era dividido em pequenos lotes e traçado por um sistema de produção,

praticamente imposto pelas condições sociais da região.36 Ou seja, a terra, seja em sua

produtividade como quantidade era insuficiente para auto-sustentar as famílias que

contavam com até doze a quinze membros.

Nessa região, portanto, tanto para os pequenos proprietários como para os braciantis,37

a situação era de grande pobreza. A região já não oferecia mais recursos, e as condições de

sobrevivência eram cada vez mais difíceis. Em resumo, é esse o quadro que explica a vinda

dos primeiros imigrantes italianos ao Paraná, a partir da década de 1870.

2.3 Os Imigrantes italianos no Paraná

O segundo maior contingente de emigrados vindos para o Brasil durante o período

da imigração moderna foi de italianos, com cerca de 1.513.000 indivíduos,38 sendo que, em

seu conjunto, eram essencialmente rurais. As regiões italianas que forneceram as maiores

quotas de imigrantes foram aquelas de economia agrícola: Vêneto, Piemonte, Abuzzo,

Liguria e Campania, principalmente.39 Como a grande demanda demão-de-obra era para os

cafezais, foi para São Paulo que se dirigiu à maioria dos imigrantes italianos. Entretanto,

uma parcela significativa se dirigiu para a região sul do Brasil, inclusive para a província do

Paraná.

Ao contrário de outras regiões do Império, onde a imigração se destinava a suprir a

carência de mão-de-obra na grande lavoura de exportação, no Paraná, a não ser a eventual

introdução de trabalhadores para as obras públicas, sobretudo construção de estradas, o

problema imigratório foi desde logo colocado no sentido de criar-se uma agricultura de

abastecimento.40 A preocupação com essa situação já era colocada nos primeiros anos da

35 ibid. p. 29 36 ibid 37 bracianti : termo em italiano que se refere aos trabalhadores braçais. 38 BALHANA, Altiva Pilatti.1958: p. 22 39 ibid p. 22 40 BALHANA, Altiva Pilatti. 1969: p. 162

Page 28: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Província, quando em 1858 o Presidente Francisco Liberato de Mattos sugeria a

instalação de colonos livres para povoar as terras paranaenses e se dedicarem ao plantio.

“É para lamentar que essa província , cujos terrenos produzem com abundância a mandioca , o arroz, o café, a cana, o fumo, o milho, o centeio, a cevada, o trigo e todos os gêneros alimentícios, compensando tão prodigiosamente os trabalhos do agricultor, receba da marinha e por preços tão exagerados a mor parte daqueles gêneros. Este estado de coisas temo continuará, e que só quando colonos morigerados e laboriosos vierem povoar vossas terras vastas e fecundas, asparecerá a abastança dos gêneros alimentícios e abundantes sobras do consumo irão dar nova vida ao comércio de exportação dos produtos agrícolas”.41

Essa preocupação veio a tomar corpo principalmente a partir da década de 1870,

quando da instalação de diversas colônias de imigrantes. O programa foi dinamizado,

principalmente na administração de Adolpho Lamenha Lins, quando foram estabelecidos

diversos núcleos coloniais nos arredores de Curitiba. A intensa atividade colonizadora na

mencionada década é assinalada pelo estabelecimento de 26 novos núcleos coloniais, a

maioria das quais na região de Curitiba, a distâncias que variam de dois, três, quatro, cinco,

seis e sete quilômetros até cerca de trinta quilômetros do centro urbano da capital

paranaense.42

A presença de imigrantes estrangeiros na conjuntura da grande imigração pode ser

melhor visualizada na tabela baixo.

41 Relatório do Presidente Francisco Liberato de Mattos, apresentado na abertura da Assembléia Legislativa Provincial, em 07 de janeiro de 1858.p. 35 42 BALHANA, Altiva Pilatti. 1978A: p. 35

Page 29: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Tabela 5- Grupos estrangeiros emigrados para o Paraná.

Grupos N° %

ESLAVOS 63.104 63,1 Poloneses 49.032 Ucranianos 14.072

ALEMÃES 19.061 19,1 Alemães 13.319 Russo-Alemães 4.183 Austríacos 1.559

ITALIANOS 8.908 8,9

OUTROS 2.469 Franceses 1.200 Espanhóis 5.200

Total 99.942 100,0

FONTE: BALHANA, Altiva Pilatti: Demografia e Economia: O empresariado paranaense (1829/1929) . In:___________Un Mazolino di fiori. Curitiba: Imprensa Oficial do Paraná : 2002, p. 409

Os imigrantes italianos começaram a chegar ao Paraná em grande número,

sobretudo a partir de 1875; antes já se podiam contar alguns, poucos e dispersos, como os

que integraram a colônia do Assungui, fundada em 1860, junto a franceses, ingleses,

alemães e suíços. O rush italiano, no Paraná, ocorreu entre os anos de 1875 e 1878, quando

entraram na província 4.350 pessoas, através da concessão a Sabino Tripoti.43 Pelo contrato

imperial de 1871, ficou autorizado o referido empresário a transportar imigrantes italianos

ao Paraná. Nesse contrato havia uma cláusula que dizia que deveriam ser instalados de 500

a 2500 colonos alemães e italianos no prazo de seis anos, que fossem agricultores de boa

moralidade e saúde. As despesas correriam por conta do empresário, enquanto o governo

forneceria as terras devolutas escolhidas pelo empreendedor, e que deveriam ser pagas em

seis anos.44

Em fevereiro de 1875 Tripotti chegou a Paranaguá com 50 famílias italianas e

fundou a primeira colônia italiana do Paraná, (Alexandra). As condições escolhidas foram

43 MARTINS, Romário, 1941: p. 75 44 FEDALTO, 1978: p.16-17

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solo fértil, com muita água, proximidade com o porto e com centros consumidores

(Paranaguá, Antonina e Morretes). A colônia fracassou devido a várias causas. Entre elas,

aponta-se a insalubridade do clima, a falta de conhecimento e orientação para superar as

moléstias tropicais e as pragas – como endemias, formigas, mosquitos, bichos-de-pé –que

muito molestaram os imigrantes e suas plantações.45 Além disso, os imigrantes foram

instalados sem a mínima assistência para que progredissem, tanto por parte do governo,

quanto do empresário. Este é acusado por nunca ter tido realmente interesse na colonização,

recebendo muito mais do governo (500 liras, em moeda italiana) do que gastava com cada

imigrante (100 liras). Além disso, para atrair imigrantes o empresário mandou distribuir

milhares de panfletos por toda a Itália, dirigida de modo apelativo ao “Amico colono” e

datada de 19 de julho de 1873: foi distribuído aos milhares na Itália, onde foi reimpressa, e

na qual anunciava de modo exagerado as vantagens que aguardavam os colonos do Brasil.46

Diante da situação desastrosa, os imigrantes manifestaram sua revolta, exigindo que

fossem realocados. O governo do Presidente Adolpho Lamenha Lins, percebendo o rumo

que as coisas iam tomando, rescindiu o contrato com Sabino Tripotti, chegando mesmo a

confiscar seus bens, em função do enorme prejuízo contabilizado com a má administração

do empreendimento. O governo provincial, a fim de acomodar não somente aqueles que

não mais desejavam permanecer em Alexandra, bem como a outros que continuavam a

chegar em grande número, criou, em 1877, a colônia Nova Itália, com sede em Morretes,

abrangendo doze núcleos coloniais em uma vasta área que se estendia pelos municípios de

Morretes, Antonina e Porto de Cima.

Os núcleos da colônia Nova Itália não chegaram a alcançar real prosperidade. Além

da repercussão negativa relacionada ao fracasso da primeira colônia,47 debitava-se a falta

de orientação técnica sobre as condições locais, sobre o cultivo e aproveitamento das

plantas tropicais e a impraticabilidade das culturas européias, fatores todos que

contribuíram para o fraco desenvolvimento dos núcleos coloniais litorâneos.48

Relativamente ao número de imigrantes entrados no período do maior afluxo da

imigração italiana no Paraná, 1875 a 1878, foi bem pequeno o contingente que se fixou em

definitivo na região litorânea. Os que ali permaneceram dedicaram-se às plantações de

cana para o fabrico de açúcar e aguardente, que constituíram as atividades industriais do

45 BALHANA, Altiva Pilati. 1978B, pag. 125. 46 FEDALTO, Pedro. 1978 pag. 16 e BALHANA, Altiva Pilatti. 1978: p. 36. 47 BALHANA Op. Cit: p. 126. 48 BALHANA et al., 1969: p.169.

Page 31: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

local e, em menor escala, ao cultivo de milho, feijão e café. Os demais, por iniciativa

própria, ou com o auxílio governamental, transferiram-se para o planalto curitibano. Alguns

se fixaram em colônias já existentes, onde se instalaram ao lado de imigrantes de outras

nacionalidades, como nas colônias Argelina, Pilarzinho, Muricy, Orleans, Inspector

Carvalho, Antônio Rebouças, Presidente Faria, Maria José, Antônio Prado (As duas

primeiras hoje se encontram dentro do quadro urbano da Capital). Outros colonos foram

localizados em colônias criadas para tal finalidade, tal como Alfredo Chaves, atual

município de Colombo, Santa Gabriela e Novo Tirol (Piraquara). Muitos deles adquiriram

terrenos da municipalidade de Curitiba , constituindo a colônia Dantas, hoje absorvida pelo

quadro urbano da cidade, sendo mesmo um dos seus bairros mais prósperos (Água Verde);

outros adquiriram terrenos de particulares, como em Santa Felicidade (Curitiba), Ferraria,

Campo Magro, Bateias, (ambas em Campo Largo) e outras. Finalmente, muitos foram os

italianos que se fixaram na própria cidade de Curitiba.49

Segundo Romário Martins, a entrada de imigrantes italianos conforme ano e

localização, do período 1874 a 1926 pode ser assim descrito:

49 BALHANA, Altiva Pilatti. 1978A: p. 38

Page 32: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Tabela 6- Localização dos imgrantes italianos no Paraná

ANOS ENTRADAS LOCALIZAÇÕES

1874 70 Assunguí.

1875 494 Alexandra, 292; Assunguí, 202.

1876 307 Alexandra (Paranaguá).

1877 2.300 Nova Itália (Morretes).

1878 1.249 (Transferidos neste ano, 1.330 colonos de Alexandra e Nova Itália para as colônias Alfredo Chaves (Colombo) 160, Santa Felicidade, 187, Senador Dantas (Àgua Verde) 248, Novo Tirol (Piraquara) 306, Murici, Zacarias, Orlenas, Argelina 273, Rebouças 153 (Total 1.330)

1879 315 Entraram 752, retiraram-se 437.

1884 131

1886 250

1887 228 Colônias de Campo Largo

1888 160 Colônia Silveira da Mota (São José dos Pinhais)

1891-1892 2.240 Colônias Eufrásio Correia (Arraial Queimado), Presidente Faria e Maria José (Colombo), Santa Bárbara (Palmeira)

1875 1876

1897-1914 1920-1925 1926-1934

63 805 110

61 15

Local: fonte não menciona...

TOTAL 8.798

FONTE: MARTINS, Romário: Quanto somos e quem somos, 1941, pag. 71-72

Muitos dos imigrantes que se deslocaram do litoral – dada à mencionada

insatisfação principalmente pelas condições de clima –, apesar da insistência do governo

para que ficassem, chegaram ao planalto sem ter onde se estabelecer. Assim o jeito

arranjado foi recolher os grupos de famílias em barracões, destinados a alojá-los

provisoriamente até que fosse encontrada uma solução definitiva. A espera até que se

encontrasse um local próprio para seu estabelecimento chegava a durar mais de seis meses.

Segundo os relatos do padre Pietro Colbachini, mal alojados nos aludidos galpões, e até

mesmo sem o necessário para sobreviver, muitos tiveram de recorrer até a esmola50

50 BRAIDO, 1978: p. 31

Page 33: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Os imigrantes italianos que fundaram a Colônia Antônio Rebouças em Campo

Largo, passaram por muitas das dificuldades mencionadas pelo padre Pietro Cobalchini. Os

citados imigrantes partiram de Gênova no fim de 1877. A viagem durou cerca de dois

meses até chegarem em seu primeiro destino (a colônia Nova Itália em Morretes). Não se

adaptando ao clima da região, permaneceram poucos meses no litoral, chegando a Curitiba

no dia 06 de abril de 1878, onde permaneceram cerca de 05 meses alojados nos galpões do

governo, até finalmente serem assentados. Nas colônias governamentais, como o caso de

Antônio Rebouças, o governo mediu os lotes, estipulando-lhes o preço, construiu casas, de

modo que os colonos deveriam pagar ao final de nove anos.51 Na década de 1880 outras

colônias de imigrantes italianos foram fundadas no município.

2.4 O município de Campo Largo e as colônias de imigrantes italianos.

A vila de Campo Largo, situada no planalto de Curitiba, a 860 m acima do nível do

mar52, e distante cerca de 20 Km da capital, surgiu no início do século XIX, em função da

rota de tropeiros que vinham do sul (o antigo caminho do Viamão) com destino a Sorocaba.

O crescimento da vila deve-se em grande parte a uma das atividades econômicas

predominantes desse período – o tropeirismo – , assim como ao comércio e a lavoura de

subsistência.53 Como parte do crescimento populacional e econômico desenvolveu-se na

região a erva mate.

Em 1821 é iniciada a construção da igreja da vila de Campo Largo, devido à

alegação dos moradores de que era muito grande à distância para com a mais próxima,

situada em Curitiba.54 A igreja ficou pronta em 1826, e foi elevada a categoria de Capela

Curada em 1828, e de freguesia em 1841.55

Nas últimas décadas do século XIX, a população do município aumentou

significativamente com a chegada dos imigrantes europeus, sendo italianos e poloneses os

principais grupos. Nesse período, foram criadas as colônias Alice, Cristina, Dom Pedro II,

51 FEDALTO, Pedro. 1978: p. 21-23 52 BARCIcK. 1992: p.7 53 ibid 54 Livro do Tombo da Paróquia de Nossa Senhora da Piedade de Campo Largo. 1836-1895, Livro I, p. 48 55 BARCICK, Op. Cit: p.8

Page 34: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Antônio Rebouças, Balbino Cunha, Dona Mariana e Mendes de Sá, sendo as três

primeiras de predominância polonesa e as últimas, italiana.

O aumento populacional do município pode ser avaliado, a partir da tabela que segue:

Tabela 7- População de Campo Largo (1872-1920)

1872A 1890B 1900C 1920D

6.338 12.539 10.690 17.766

FONTE: MARTINS, Romário: Quanto somos e Quem Somos. pag. 94-99

Com base nos dados acima, verifica-se que, entre o primeiro recenseamento do

Império (1872) e o primeiro recenseamento da República (1890), a população do município

praticamente dobrou, demonstrando a significativa participação dos imigrantes nesse

processo.

Conforme tabela que organiza todas as colônias de imigrantes instaladas no Paraná,

foi construída uma tabela menor, a seguir, apresentando dados referentes somente as

colônias de imigrantes italianos de Campo Largo.

Tabela 8- Dados das Colônias italianas de Campo Largo

ANO

Colônia

Distanc. da

sede munic.

Àrea em

hectares

Número

de Lotes

N°de

imigrantes

Grupos étnicos

1878 Antônio

Rebouças

14 km 350,9 34 244 Italianos e poloneses

1885 Mendes de Sá 4 km 2.000,0 180 148 Italianos e poloneses

1889 Balbino Cunha 8km 225,9 25 122 Italianos

1889 Dona Mariana 8 km 315,3 33 170 italianos

Fonte: BALHANA et al., Curitiba: Grafipar : 1969, p. 164-167.

A Primeiro Recenseamento do Império: MARTINS, Romário. 1941. p..94 B Primeiro Recenseamento da República: MARTINS, Romário Op. Cit. p. 95 C Segundo Recenseamento da República: MARTINS, Romário Op. Cit. p. 96 D Terceiro Recenseamento da República: MARTINS, Romário Op. Cit. p. 97-98

Page 35: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

2.4.1 As colônias.

• Antônio Rebouças.

A colônia Antônio Rebouças, é considerada a mais antiga dentre aquelas

constituídas por italianos, no município de Campo Largo. Fundada a 11 de setembro de

1878, foi contemporânea das colônias de Santa Felicidade, Alfredo Chaves e Santa Maria

do Novo Tirol.

Situada no local denominado Timbituva, a margem da estrada Mato Grosso, e a distância de 19 km de Curitiba, foi estabelecida em 1878. Acha-se dividida em 34 lotes, habitada por 154 colonos, possue 6234 metros de estrada e terrenos férteis que são bem cultivados. Existe n’esta collonia uma fabrica de tijolos de propriedade dos collonos Baroni Antônio e outros, necessita de igreja e escola.56

O nome da colônia foi uma homenagem ao engenheiro Antônio Pereira Rebouças

Filho, que juntamente com seu irmão teve participação fundamental na construção da

ferrovia Paranaguá-Curitiba.57 Entretanto, muitos documentos referem-se à colônia com o

nome de Timbituva58, que atualmente é o nome de uma colônia localizada próximo de

Antônio Rebouças, na estrada de Mato Grosso.59

• Mendes de Sá.

Fundada às margens da estrada Mato Grosso, em 1885 e com uma área inicial de

280 lotes, a colônia progrediu bastante, se tornando a maior das colônias italianas de

Campo Largo. Sua fundação se deve a iniciativa particular dos irmãos Comendador Cel.

José Olyntho de Sá. (O “Coronel Jugica”, como conhecido, era grande proprietário de

terras da região) e Cap. João Mendes de Sá. Os lotes da colônia foram adquiridos, na sua

maior parte, por italianos, secundados por alguns poloneses e brasileiros. A área abrangida

pela colônia compreendia as localidades de Rondinha, Sereia, Caratuva e Rio Verde

acima.

56 Relatório do Presidente de Província. 1880: p. 55 57 FEDALTO, Pedro. Op. Cit. 21-22 58 Encontramos em muitos documentos, inclusive nos registros paroquiais a referência Timbituva para a colônia Antônio Rebouças, enquanto para o Timbituva atual, encontrou-se a referência Caratuva . 59 Em relação a colônia Timbotuva de hoje, que era chamada Caratuva no passado, a menção se faz nos registros paroquiais. Na tabela 8, esta aparece englobada pela Colônia Mendes de Sá.

Page 36: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

• Dona Mariana.

Foi fundada em 1888, com 33 lotes, na administração provincial do Dr. Balbino

Cândido da Cunha, e ocupada em maior parte por imigrantes italianos, alguns poloneses e

brasileiros. A colônia também era chamada de Rio Verde, por estar localizada próxima a

um rio que leva esse nome . Conforme algumas fontes, a designação da colônia resultou de

uma homenagem a D.ª Maria José Correia , esposa do deputado provincial Ildefonso

Pereira Correia (o Barão do Serro Azul), vice-presidente da província na época. A área

onde foi construída a Igreja, segundo alguns documentos, foi doação do Imperador D.

Pedro II.

• Balbino Cunha.

A colônia, também chamada Campina – como aparece nos registros paroquiais –,

foi fundada em 1888, na administração de Balbino Cândido da Cunha. Destinada a

acomodar imigrantes italianos, também estava localizada próxima ao Rio Verde, e dos

municípios de Araucária e Balsa Nova. Com inicialmente 25 lotes e 122 habitantes, este

grupo estava mais afastado da região de predominância italiana de Campo Largo, uma vez

que as demais colônias não estavam muito distantes umas das outras. Campina, por outro

lado, ficava distante cerca de 12 km de Rondinha, que era a colônia mais central.

2.5 A capelania Curada Italiana e a criação da Paróquia de São Sebastião

As colônias de imigrantes estabelecidas no sul do Brasil obedeceram, em geral, a um tipo

de povoamento disperso, em grupos de lotes rurais e isolados uns dos outros, dessa forma,

levando os colonos, entre outras dificuldades, a falta de assistência religiosa direta e

permanente.60 Segundo Ari Pedro Oro, os imigrantes italianos eram, em sua maioria,

portadores de uma cosmovisão sacral concebendo a religião como a instância justificadora

e legitimadora da vida social e quotidiana.61 Portanto, a presença de um sacerdote que

dominasse o dialeto vêneto, e prestasse a assistência religiosa necessária, foi desde cedo,

colocada como fundamental pelos imigrantes italianos de Campo Largo.

60 BALHANA, Altiva. 2002: p. 205 61 ORO, Ari Pedro. 1996. v. 3. p. 617

Page 37: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Os moradores de Antônio Rebouças, assim como muitos outros colonos italianos de

Curitiba e arredores, reivindicaram à Vigaria Geral Forense a presença de um sacerdote

italiano para os atender. Frente a essa situação, o Bispo Diocesano de São Paulo, Dom Lino

Deodato Rodrigues, encaminhou o padre italiano Pietro Colbachini para prestar assistência

religiosa aos imigrantes italianos do Paraná.62 Tendo em vista as dificuldades da

comunidade italiana, o referido padre, em carta de 25 de novembro de 1887 e dirigida ao

bispo de São Paulo, escreveu sobre a situação encontrada. Solicitava, principalmente,

medidas para harmonizar e regularizar o atendimento religioso das colônias.63

A solução encontrada para resolver a situação foi à instituição de uma Capelania Curada,

semelhante à experiência anterior realizada em 1875 com os imigrantes poloneses no

Paraná. Pelo decreto de 14 de fevereiro de 1888, estabeleceu-se a constituição da

Capelania, como segue:

Catholicos imigrados da Itália e seus filhos domiciliados nos ex-núcleos coloniais ora emancipados que são os seguintes: Dantas ou Água Verde, Santa Felicidade, Campo Comprido e Alfredo Chaves da Parochia de Nossa Senhora da Luz de Corytiba, Antonio Rebouças ou Timbutuva e Jugica Mendes da Parochia de Nossa Senhora da Piedade de Campo Largo; Santa Maria do Novo Tyrol, Murici e Zacharias da Parochia do Patrocínio de São José dos Pinhais da sobredita comarca eclesiastica de Corytiba da Província do Paraná, dêste Bispado, que de sua livre e expontânea vontade, se quiserem inscrever como applicados ou jurisdicionados nesta Capellania.64

Foi uma instituição sui generis,65 frente às dificuldades de se estabelecer à circunscrição

territorial da Capelania, pois os núcleos coloniais ficavam dispersos e distantes vários

quilômetros, uns dos outros, além de algumas colônias serem mistas (poloneses e

italianos).66

Ao tomar conhecimento da criação da organização, o padre Pietro Cobalchini

solicitou ao Instituto Missionário de São Carlos que fossem enviados sacerdotes italianos

ao Paraná. Os padres destinados à Província foram Domenico Mantese, que permaneceu

apenas um ano e Giuseppe Molinari, que durante alguns anos prestou seus serviços a

62 BALHANA, Altiva. 2002. p. 206-207 e FEDALTO, Pedro, 1978, p: 38-39 63 ibid. 64 CÓPIA da Portatria de 14 de fevereiro de 1888, referente a Capelania Italiana, transcrita no livro 2 da Vigaria Geral Forense, p. 118 a 123. Curitiba, 1888, Arquivo da Cúria Metropolitana de Curitiba. In BALHANA, Altiva Pillatti. O papel da Igreja na integração de imigrantes no Brasil Meridional, v. III, p. 207 65 BALHANA, 2002A : p. 209 66 ibid.

Page 38: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

comunidade imigrante.67 Cobalchini, ficou na direção da Capelania até 1894, residindo

em Santa Felicidade. Paralelamente, em Antônio Rebouças, com a criação dessa

organização – e mediante os insistentes pedidos dos moradores para que um sacerdote

italiano exercesse o seu ministério na colônia – chega, em 1888, o padre Francesco Bonato

que ficaria encarregado de atender todas as colônias italianas de Campo Largo. Em

conseqüência, com a chegada do padre é apressada a construção da casa canônica e a

finalização da igreja.68

Com a saída de Pietro Cobalchini, em 1894, o padre Francesco Bonato teve que

atender todas as colônias italianas da capelania durante um ano. Em 1895, chegavam ao

Paraná os dois missionários de S. Carlos, enviados a pedido do mencionado, voltando

Francisco Bonato a cuidar apenas das colônias de Campo Largo.69 Entretanto, poucos

meses depois e a pedido do bispo de Curitiba, o referido missionário foi transferido para o

recém criado Curato de Colombo.70

Os moradores dos núcleos coloniais de Campo largo ficaram insatisfeitos com a

saída de Francisco Bonato, pois voltaram para a jurisdição de Santa Felicidade, em 1895.

Reivindicam, pois, um curato em Antônio Rebouças. Em 23 de junho de 1899, o bispo de

Curitiba, D. José de Camargo Barros, autoriza o padre Pietro Nosadini para atender as

colônias de Rondinha, Antônio Rebouças, Campina e Mariana, com residência em

Rondinha. Conforme relatório do mesmo sacerdote, as colônias tinham ficado quase

abandonadas com a saída do Padre Bonato. Além disso, os moradores de Antônio

Rebouças continuaram insatisfeitos com a decisão dioceana, pois queriam ser sede do

curato, alegando que a colônia de Rondinha não tinha condições estruturais para tanto.71

Em março de 1901, o padre Pietro Nosadini sai do Curato, e as colônias voltam a

pertencer a Santa Felicidade. Novas reinvidicações eram feitas, principalmente do referido

missionário contra o padre Francesco Bresciani, que não estava atendendo bem as colônias.

Em setembro de 1903, foi enviado o recém chegado missionário João Baptista

Bérgia para atender os núcleos coloniais italianos de Campo Largo. Este último ficou pouco

tempo, pois logo morreu. Somente, em setembro de 1905, é que chega o padre André

Garau, que passa a residir em Rondinha. 72

67 BALHANA. 2002A: p. 301 68 FEDALTO. 1978: p. 41 69 ibid 70 ibid. 71 ibid. p.79-81 72 ibid .

Page 39: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

“Il sottoscreto fu destinado dal superiore provinciano Ver. Padre Faustino Consoni alla cura dalle colonia Mendes de Sá, Antônio Rebouças, Campina e Dona Mariana nel giorno de febracio del 1906.”73

A igreja de Rondinha começou a ser construída em 1903, e em pouco tempo foi

construida também a casa paroquial. Em 07 de outubro de 1906, é inaugurada a igreja, e a

sede do curato passa definitavamente a Rondinha. Antônio Rebouças já tinha iniciado a

construção do templo em 1884 sendo inaugurada em 1888, e durante muitos anos

reivindicava o direito de ser a sede do curato italiano. A colônia Mariana inaugura sua

capela em 1907, mandada construir pelo padre Andre Garau e a colônia Campina constrói

sua nova igreja em 1908, também sob a jurisdição do referido pároco.

“Nel giorno 10 di ottobre dell’anno 1908 e stato beneditta dal sotoscretto di nnova campanile nella colonia Balbino Cunha. Il campanile há uma campana, recentemente venuta dalla panderia Angelo Angini in S. Paolo, del peso di kg 11o, Il Revmo. P. Tennistocle rovere promenezio il descorso di circosntanza”74

A paróquia de São Sebastião de Rondinha é criada jurisdicionalmente em 1937,75

juntamente com a paróquia de Santa Felicidade. Entretanto, frente a questões territoriais

impostas, a paróquia perdeu muito do seu território original, sendo restituído somente em

1973 com uma outra divisão.

Sobre essas colônias, é que detivemos nosso estudo. Através dos registros

paroquiais de casamento e batismo desses imigrantes, serão analisados como esses

indivíduos atribuíam nomes de batismo aos seus filhos. Nesse sentido pensamos a questão

da nomeação enquanto uma prática social largamente reconhecida, em que o nome é o

signo de reconhecimento e pertencimento76. Através da sistematização das fontes,

verificaremos como esses imigrantes mantém ou não, uma determinada tradição familiar.

73 “Eu, sacerdote fui destinado pelo superior provincial Ver. Padre Faustino Consoni como cura das colônias M:endes de Sá, Antonio Rebouças, Campina e Mariana no dia 25 de fevereiro de 1906” Livro do Tombo I da Paróquia de São Sebastião (1906-1971) 74 “ No dia 10 de outubro do ano de 1908 foi benzida pelo sacerdote a nova capela na colônia Balbino Cunha. A capela tem um (sino) recentemente vendida pela “fábrica” Angelo Angili de São Paulo, de peso de 110 kg. O Revmo. Padre Temistocles realizou um discurso nessa circunstância” Livro do Tombo I da Paróquia de São Sebastião (1906-1971) 75 Livro do Tombo I da Paróquia de São Sebastião (1906-1971) .O documento de criação da paróquia está como anexo. 76 NADALIN & BIDEAU, Alain. 2002: p.8

Page 40: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Capítulo 3

Atribuição de Nomes no Batismo

3.1 O nome como signo de identidade étnica.

Ao realizar nosso estudo sobre como os imigrantes italianos identificavam seus

filhos no momento do batismo, pensamos no nome enquanto signo de pertencimento a um

determinado grupo. De acordo com Pedro Oro,

“a identidade étnica constitui um modo particular de identidade social. Construída no contexto da situação interétnica, a identidade expressa-se em um conjunto de representações que um grupo social se faz delimitando suas fronteiras e marcando suas diferenças aos outros grupos com os quais está em contato.” 77

Para Barth, uma idéia fundamental dos grupos étnicos é que estes são categorias de

atribuição e identificação realizadas pelos próprios atores e, assim, têm a característica de

organizar a interação entre pessoas.78 Seguindo essa noção, e verificando outros estudos

sobre identidade étnica e desenvolvimento cultural de imigrantes italianos, foi possível

eleger alguns dos principais elementos que configuravam a vida social desses indivíduos.

Oro, em seu estudo sobre considerações da identidade étnica dos descendentes de italianos

do Rio Grande do Sul, tratou de diversos valores que são elevados a condição de sinais

diacríticos da identificação étnica,79 tais como: a língua e a música, a família e a culinária, a

fé e a catolicidade, o trabalho e o progresso. É claro que, no nosso caso, não podemos ir

muito longe em todos esses itens, e por isso devermos nos ater aos elementos que podem

ser identificados na atribuição dos prenomes.

Analisando o conteúdo das fichas de famílias, traduzidos na obtenção de

informações das atas de casamento e atas de batismo, foi possível observar nos prenomes

dos batizados basicamente dois tipos de influência: familiar80 e religiosa.

77 ORO, Ari Pedro. 1996 : p.611-12 78 BARTH, 1997 : p. 189 79 ORO, op. cit. : p.614 80 Para a influência familiar, estamos nos referindo também no que concerne a família espiritual, ou seja, os padrinhos e madrinhas.

Page 41: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Na concepção de família dos imigrantes e descendentes de italianos, faz parte a

manutenção dos vínculos entre as gerações, com destaque para os laços afetivos entre os

nonnos e os netos, para o cultivo das relações parentais e vicinais, a preservação da

memória e da própria história familiar, bem como manter contato entre seus membros,

apesar da distância espacial que às vezes os separam. Dessa forma, a família é reproduzida

como um valor que contribui para fortalecer a identidade étnica.81 Outra característica

peculiar dos imigrantes italianos, apontada por Hohlfeldt, é a manutenção de um sentimento

de sociabilidade familiar e entre os componentes do grupo. Segundo ele, entre os italianos,

predominava um sentimento de igualdade que caminhava junto com ao sentimento de

religiosidade.82

Em relação à religião, os imigrantes italianos eram, em sua maioria, de intenso

apego aos ritos e celebrações de fé. A capela, além de ser o local de culto que reúne todos

os moradores para a celebração dos rituais religiosos, é também um centro de convívio e

apoio mútuo, funcionando sob o aspecto sociológico como vizinhanças rurais.83 Nas

regiões de imigração italiana, a capela geralmente ocupava o centro da colônia, sendo seu

ponto de referência. A vida religiosa dos imigrantes era pautada por um forte apego às

prescrições da Igreja, sendo costume amplamente difundido a escolha de um ou mais santos

como padroeiro.

Nesse contexto, com tendência a limitação social de suas relações e vendo na

família e na Igreja o traço básico de sociabilidade, verificamos que o imigrante italiano

tendia a um certo isolamento; isolamento esse que, num primeiro momento preservou-lhe a

unidade cultural.84 Dessa forma, o nome de batismo indicaria um traço da preservação

dessa identidade.

3.2 Categorias de influências nos prenomes dos imigrantes italianos de Campo Largo

Para verificarmos como são atribuídos os nomes de batismo nos imigrantes das

colônias italianas de Campo Largo, no período de 1899 a 1920, construímos diversas

tabelas, quantificando separadamente prenomes masculinos e femininos. Tal escolha foi

realizada para verificar se alguma influência é predominante em determinado grupo.

81 ORO, Op. cit. p. 616-17 82 HOHLFELDT, Antônio. 1979.p. 212 83 BALHANA, 2002C: p.206 84 HOHLFELDT, Op. cit: p.212-14

Page 42: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Também separamos em dois períodos os dados (1899-1910) e (1911-1920), com o

objetivo de visualizar se há ou não mudanças na história da comunidade imigrante.

As tabelas 9 e 13 foram elaboradas tomando como base as fichas tipo “M”, nas

quais constam as informações relacionadas à data de casamento. Dessa forma, obtivemos

três gerações, referentes aos noivos, aos pais dos noivos – obtidos na ata de casamento –, e

os filhos arrolados nos registros de batismo. As tabelas 10 e 14 foram construídas tomando

por base as fichas tipo “E”, cujo casamento foi provavelmente realizado antes do período

estabelecido como baliza inicial, ou em outra paróquia. Nesses casos, obtivemos apenas o

conjunto de filhos batizados durante o período estudado juntamente com os pais, ou seja,

informações a respeito de duas gerações.

Tabela 9 – Paróquia de São Sebastião, Município de Campo Largo, Paraná Origem provável dos prenomes masculinos - Fichas “M”

Quantidades Categorias 1899-1910 1911-1920 Total

# % # % # % Avô Paterno

46

29,8

42

17,0

88

22,0

Avô Materno

34

22,0

47

19,0

81

20,1

Nome do Pai:

10

6,5

15

6,1

25

6,2

Neto c/ o nome na versão masculina do nome da avó paterna

1

0,7

6

2,4

7

1,8

Neto c/ o nome na versão masculina do nome da avó materna

2

1,3

2

0,8

4

1,0

Nome do Santo** e nomes devocionais

18

11,7

25

10,1

43

10,7

Nome do padrinho de batismo:

5

3,3

8

3,2

13

3,2

Nome do padrinho de casamento

0

0

8

3,2

8

2,0

Outros

38

24,7

94

38,1

132

32,9

Total 154 100,00 247 100,00 401 100,00 Fonte: Livros de batismo e de casamento, Acervo da paróquia de São Sebastião, Campo Largo : PR

* Estamos considerando o santo, cujo dia de batismo ou nascimento foi próximo, e padroeiros das capelas.

Page 43: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Observando os dados da tabela 9, percebe-se que, enquadramos a maioria dos

batizados em uma das categorias. Entretanto, salientamos que nossa análise pautou-se na

observação de cada ficha individualmente, relacionando o prenome do batizado e os nomes

dos demais presentes na ficha (avós, pais, padrinhos, etc.). Se fossemos fazer um estudo

mais amplo, encontraríamos outras prováveis origens, decorrentes das relações de

parentesco. Mas nós não tivemos condições de articular genealogicamente as fichas de

diferentes famílias, pois faltava-nos informações para tanto.

Para o primeiro período (1899-1910), observa-se que a categoria mais recorrente de

nomeação, foi a homenagem ao avô paterno. Temos, nesse caso, o predomínio da exaltação

da linhagem “masculina”. Se compararmos com o segundo período, desconsiderando a

categoria “outros prenomes”, verificamos que a influência do avô materno suplantou a

categoria avô paterno. A pequena diferença notada deve-se, ao fato que, em muitos casos, o

filho primogênito recebia o prenome do avô paterno. Como separamos o recorte temporal

em dois períodos, essa influência foi a mais votada . Na contagem total, observamos que a

diferença entre uma e outra categoria é pequena, mostrando que não há grande predomínio

de um em relação ao outro. Ou seja, ao longo dos dois períodos, desconsiderando a ordem

dos nascimentos, na contagem total as duas categorias praticamente se equilibram.

A categoria “outros” é mais expressiva no segundo período, provavelmente em

função do fato de muitas famílias terem tido filhos ao longo das duas décadas que estamos

estudando. Nessa direção, os primeiros batizandos foram nomeados a partir de muitas das

categorias da tabela acima, e aos últimos foram atribuídos outros prenomes não

relacionados a nenhuma das influências, e, portanto enquadrados no grupo “outros

prenomes”.

Em relação às demais categorias (nome do pai, neto c/ o nome na versão masculina

do nome da avó paterna, neto c/ o nome na versão masculina do nome da avó materna,

nome do santo e nomes devocionais, nome do padrinho de batismo, nome do padrinho de

casamento) percebe-se que, praticamente, não há variação de um período para outro.

Depois das categorias avô paterno e materno, as influências que aparecem na

seqüência como mais freqüentes é a influência do pai e os nomes relacionados ao

sentimento religioso. Para os prenomes devocionais, considerando o intenso sentimento de

religiosidade dos imigrantes italianos, adotamos os seguintes critérios :

Page 44: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

• a data de nascimento ou batismo devia estar próxima pelo menos dez dias da

data em que o santo é festejado;

• haver relação entre o nome da criança e o santo padroeiro da colônia;

• haver relação entre a data de nascimento ou batismo e o prenome da criança

(exemplo uma criança nascida em 25 de dezembro e o prenome de Salvador).

Tabela 10- Paróquia de São Sebastião, Município de Campo Largo, Paraná. Origens Prováveis dos prenomes masculinos

Fichas “E” Quantidades

1899-1910 1911-1920 Total

Categorias # % # % # %

Pai 15 6,9 3 2,9 18 5,4 Padrinho de batismo 31 14,3 7 6,7 38 11,5 Nomes devocionais 14 6,5 12 11,5 26 7,9 Outros 157 72,3 82 78,9 239 75,2 Total 217 100,00 104 100,00 331 100,00 Fonte: Livros de batismo, Acervo da paróquia de São Sebastião, Campo Largo : PR

Para a tabela 10, como não temos as influências dos avós, contabilizamos somente

as categorias “nome do pai, do padrinho e nomes devocionais”. Por termos menos dados

não podemos tirar grandes conclusões. O que podemos visualizar é que, a exceção da

categoria “padrinhos de batismo”, cujo número é mais expressivo que os da tabela 9, as

outras duas influências apresentam valores semelhantes.

Para relacionar os nomes devocionais presentes nas tabelas 9 e 10, elaboramos as

tabelas 11 e 12 a respeito dessa influência:

A tabela 11, traz os padroeiros das capelas das colônias italianas de Campo Largo.

Formatamos tal tabela, visto que, encontramos batizados, em que foi possível relacionar o

prenome da criança e os santos padroeiros da sua colônia de residência .

Tabela 11- Paróquia de São Sebastião, Município de Campo largo, Paraná. Padroeiros das Colônias italianas de Campo Largo.

Colônia Padroeiro principal Outros Padroeiros das colônias

Rondinha São Sebastião S. Cristóvão e Nª. Sra. das Dores Rebouças Nª. Sra do Carmo Nª. Sra do Monte Bérico e São Marcos Mariana Nª. Sra da

Anunciação São Carlos, São Pedro e São Paulo

Campina São João Baptista N. Srª da Saúde Timbotuva Sr. Bom Jesus São Valentin e São José

Fonte: paróquia de São Sebastião.

Page 45: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

A tabela 12, a seguir, apresenta a freqüência de prenomes que honravam santos de

devoção.

Tabela 12- Paróquia de São Sebastião, Município de Campo largo, Paraná. Freqüência dos nomes devocionais masculinos.

Influência Freqüência

São João Baptista 15 Santo Antônio 14 Santo 7 São José 7 São Sebastião 5 São Pedro 3 São Francisco 3 Salvador 2 São Paulo 1 São Marcos 2 São Luiz 1 São Carlos 2 São Brás 1 São Mateus 1 São Roque 1 São Domingo 1 Natal 1 Santo Agostinho 2 Total 69 Fonte: livros de batismo

De acordo com a tabela acima vemos que a referência a Santo Antônio e São João

Baptista foram as mais recorrentes. Destaca-se que ambos são festejados nos mês de junho,

os chamados santos “juninos” bastante freqüentes como padroeiros de capelas de influência

italiana.

Como foi mencionado, separamos em tabelas as influências de atribuições dos

prenomes masculinos de femininos, utilizando basicamente as mesmas para as meninas –

com algumas modificações decorrentes de influências que não aparecem na tabela de

prenomes masculinos, e vice-versa. Assim, na tabela 13, não temos a categoria “padrinhos

de casamento”, uma vez que em todos os registros de casamento encontramos somente

homens como padrinhos, ou testemunhas, como informavam a maioria dos registros.

Page 46: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Também, tanto na tabela 13 como na 14 encontramos outra categoria que não aparece

para os meninos, ou seja, a “filha com o nome na versão feminina do nome do pai”.

Assim como a tabela das prováveis origens dos prenomes masculinos, a dos

prenomes femininos ficaram assim distribuídas:

Tabela 13- Paróquia de São Sebastião, Município de Campo largo, Paraná. Origens prováveis dos prenomes femininos

Fichas “M”

Quantidades Categorias 1899-1910 1911-1920 Total

# % # % # % Avó Paterna

25

24,8

43

19,1

68

20,9

Avó Materna

26

25,7

50

22,2

76

23,3

Nome do Mãe:

6

5,9

7

3,1

13

4,00

Neta c/ o nome na versão feminina do nome do avô paterno

1

1,0

5

2,2

6

1,8

Neta c/ o nome na versão feminina do nome da avô materno

1

1,0

3

1,3

4

1,2

Filha com o nome na versão feminina do nome do pai

0

0

6

2,7

6

1,8

Nome da Santa** e nomes devocionais

3

3,0

5

2,2

8

2,5

Nome da madrinha de batismo

3

3,0

17

7,6

20

6,1

Outros

36

35,6

89

39,6

125

38,3

Total

101

100,0

225

100,0

326

100,0

Fonte: Livros de batismo e de casamento, Acervo da paróquia de São Sebastião, Campo Largo : PR

* Estamos considerando o santo, cujo dia de batismo ou nascimento foi próximo, e padroeiros das capelas.

Page 47: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Tabela 14- Paróquia de São Sebastião, Município de Campo largo, Paraná. Origens prováveis dos prenomes femininos-

Fichas “E”

Quantidades 1899-1910 1911-1920 Total

Categorias

# % # % # % Mãe 5 2,3 7 5,0 12 3,3 Madrinha de batismo 20 9,4 18 12,9 38 10,4 Nomes devocionais 8 3,7 5 3,6 13 3,6 Versão feminina do nome do pai

2 0,9 2 1,4 4 1,1

Outros 179 83,6 108 77,1 287 78,9 Total 214 100,00 150 100,00 364 100,00 Fonte: Livros de batismo, Acervo da paróquia de São Sebastião, Campo Largo : PR

Na tabela dos prenomes femininos (13), na contagem total, ao comparar com a dos

prenomes masculinos (9), verificamos que houve uma inversão no que se refere a influência

dos avós. Enquanto que na primeira foi privilegiada a linhagem do pai, na segunda é a

influência da avó materna que se sobressai para os dois períodos, embora seja pequena a

diferença entre as duas categorias. Dessa forma, percebe-se que, no caso dos meninos, de

todas as categorias foi mais recorrente a influência do avô paterno, enquanto nas meninas é

da avó materna. Assim, parece-nos que há um certo equilíbrio, traduzido na busca da

preservação da memória da geração de ambos os cônjuges.

É de se destacar o fato de que, na última tabela, aparece com maior recorrência,

depois da influência dos avós, a relação do nome da batizanda com o da madrinha. Tal

fenômeno pode ser associado à idéia de que o papel da madrinha era de relativa

importância, pois esta era considerada como a “segunda mãe”. É do senso comum a idéia

de que, em especial nas famílias numerosas, a madrinha contribuiria na criação e educação

das crianças, quando da ausência da mãe.

No que diz respeito aos nomes devocionais, relacionamos menos casos e menor diversidade

do que para os meninos, uma vez que as santas padroeiras são, geralmente, oriundas de

formas diferentes da devoção de Nossa Senhora. Assim, como esse é um prenome bastante

recorrente, adotamos como critério as meninas nascidas ou batizadas próximas dos dias de

devoções das santas conforme os seguintes exemplos : em março, N.ª Srª da Anunciação;

Page 48: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

em maio, N.ª. Srª de Fátima; em julho, N.ª Srª do Carmo; em Agosto,

N.ª Srª dasNeves; outubro, N.ª Srª. Do Rosário; entre outras. Também encontramos outros

casos, referidos à Santa Anna, Santa Terezinha e Santa Catharina.

Quanto às outras influências (“nome do mãe”, “versão feminina do nome do avô

paterno ou materno”, “versão feminina do nome do pai”), assim como no caso dos

meninos, sua freqüência é relativamente pequena. Constatamos, tais influências,

especialmente em famílias numerosas85 e em prenomes combinados.

As tabelas sobre as influências na nomeação foram pensadas para cada nome de

batismo, arrolado separadamente. Entretanto, como tivemos uma quantidade significativa

de combinações, montamos mais duas tabelas (uma para os meninos e outra para as

meninas) colocando as combinações encontradas. Destaca-se que estas foram elaboradas

tendo por base as fichas “M”, uma vez que, paras as fichas “E”, estabelecemos poucas

relações .

As tabelas para as combinações de prenomes, tanto dos meninos como das meninas,

apresentam-se a seguir:

85 Em algumas famílias numerosas, tais categoras eram utilizadas, principalmente, quando já se tinha utilizado os nomes dos avós em outros filhos.

Page 49: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Tabela 15- Paróquia de São Sebastião, Município de Campo largo, Paraná. Origens prováveis dos prenomes masculinos combinados

Quantidades

1899-1910 1911-1920 Total

Categorias

# % # % # % Avô materno + nome do pai

1

3,1

1

3,6

2

3,3

Avô materno + nome de santo

3

9,4

1

3,6

4

6,7

Avô materno + outro nome*

3

9,4

5

17,9

8

13,3

Avô materno + Avô paterno

9

28,1

4

14,3

13

21,7

Avô paterno + nome do pai

2

6,3

2

7,1

4

6,7

Nome do avô paterno + nome de santo

2

6,3

1

3,6

3

5,0

Nome do avô paterno + outro nome*

3

9,4

4

15,0

7

11,7

Nome do pai + nome do santo

1

3,1

1

3,6

2

3,3

Padrinho + nome de santo

1

3,1

3

10,7

4

6,7

Outros

7

21,9

6

21,4

13

21,7

Total

32

100,00

28

100,00

60

100,00

Fonte: Livros de batismo e de casamento, Acervo da paróquia de São Sebastião, Campo Largo : PR *Origem não relacionada com os outro nomes presente naquela ficha

Page 50: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Tabela 16- Paróquia de São Sebastião, Município de Campo largo, Paraná.

Prováveis origens dos prenomes femininos combinados

Quantidades 1899-1910 1911-1920 Total

Categorias

# % # % # % Avó materna + nome do mãe

1

3,2

2

6,5

3

4,8

Avó materna + nome de santa

2

6,5

2

6,5

4

6,5

Avó materna + outro nome*

2

6,45

7

22,6

9

14,5

Avó materna + Avó paterna

7

22,6

8

25,8

15

24,2

Avó paterna + nome do mãe

2

6,5

1

3,2

3

4,8

Nome da avó paterna + nome de santa

2

6,5

2

6,5

4

6,5

Nome da avó paterna + outro nome*

4

12,9

1

3,2

5

8,1

Nome da mãe + nome da santa

2

6,5

1

3,2

3

4,8

Madrinha + outro nome

3

9,7

1

3,2

4

6,5

Outros

6

19,4

6

19,4

12

19,4

Total

31

100,00

31

100,00

62

100,00

Fonte: Livros de batismo e de casamento, Acervo da paróquia de São Sebastião, Campo Largo : PR. *Nome não relacionado com os demais nomes presentes naquela ficha.

Page 51: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Nas combinações, assim como nos prenomes únicos, enquadramos a maioria

dos batizandos em uma das influências. Tanto na tabela dos prenomes combinados

masculino, como nas combinações femininas, na contagem final e desconsiderando a

categoria “Outros” a predominância da influência dos avós se repete. Essa ocorrência foi

notada, em certos casos, quando se tratava do primeiro filho do casal, ou quando ainda não

se tinha atribuído os nomes dos avós a nenhum outro filho. Essa decisão do casal,

provavelmente resultou da vontade de honrar as duas linhagens ao mesmo tempo.

Depois das combinações dos prenomes dos avós, tanto para a tabela dos meninos

quanta das meninas, a influência “nome do avô(ó) paterno(a) + outro prenome” e “nome

do avô(ó) materno(a) + outro prenome” foram as mais utilizadas , o que também é coerente,

pois os avós sempre estão presentes. Se compararmos com a tabela de prenomes únicos,

vemos que se repete a influência dos avós, como sendo a mais recorrente.

Quanto às demais combinações, nota-se que são casos pontuais, provavelmente

decorrentes de questões particulares, em que o casal atribuiu o nome a criança querendo

homenagear duas pessoas ao mesmo tempo.

3.3 Os prenomes mais freqüentes

Analisando a nomeação das crianças batizadas durante o período estudado,

percebemos que os mesmos, em grande parte, são emprestados de um mesmo estoque

cultural de prenomes. Tal fenômeno decorre das influências descritas acima, pois, se

conseguimos visualizar na maioria dos casos como as crianças foram nomeadas, é plausível

que constatemos que grande parte desses prenomes sejam oriundos de uma mesma origem,

da qual são oriundos os prenomes de seus pais e avós. Entretanto, não foi possível verificar

quantos prenomes das crianças batizadas foram registrados em sua versão italiana, e

quantos em sua versão portuguesa. Tal problema metodológico decorre do fato das fontes

não nos informarem com segurança essa relação, pois em vários casos, encontramos nomes

de indivíduos vindos da Itália, registrados na versão portuguesa.

Para visualizar quais prenomes de batismo eram mais freqüentes, elaboramos

algumas tabelas, separando-os por sexo e período. A contagem foi feita observando cada

prenome separadamente, independente de combinações. Para as combinações, estamos

trazendo somente os que apareceram mais de uma vez, pois a diversidade encontrada foi

imensa.

Page 52: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Tabela 17 – Paróquia de São Sebastião, Município de Campo largo, Paraná.

Freqüência dos prenomes masculinos por período.

1899-1910 1911-1920 Total Antônio 142 Antônio 59 Antônio 142 João ou Giovanni 69 João ou Giovanni 52 João ou Giovanni 121 José ou Giuseppe 54 José ou Giuseppe 47 José ou Giuseppe 101 Luiz ou Luigi 30 Luiz ou Luigi 21 Luiz ou Luigi 51 Angelo 26 Angelo 18 Angelo 44 Baptista 23 Francisco 19 Pedro ou Pietro 42 Pedro ou Pietro 23 Pedro ou Pietro 19 Francisco 39 Francisco 20 Carlo ou Carlos 18 Baptista 34 Domingo 15 Baptista 11 Carlo ou Carlos 26 Jacob 9 Augusto 9 Domingo 22 Carlo ou Carlos 8 Domingo 7 Augusto 16 Vitório ou Vittore 8 Bernardo 6 Vitório ou Vittore 14 Augusto 7 Sebastião 6 Bernardo 13 Bernardo 7 Vitório ou Vittore 6 Sebastião 12 Federico 7 Santo 6 Santo 12 Paulo 6 Federico 2 Jacob 10 Santo 6 Paulo 3 Federico 9 Sebastião 6 Jacob 1 Paulo 9 Outros 169 Outros 136 Outros 305 Fonte: livros de batismo, Acervo da paróquia de São Sebastião, Campo Largo : PR

Observando-se a tabela acima, quanto à freqüência dos prenomes, notamos que

praticamente não há variação de uma década para outra. Os nomes de batismos mais

freqüentes, do primeiro período para o segundo, mantém-se quase inalterados em sua

ordem. O que podemos destacar na comparação entre os dois períodos é que o número de

“Antônios” cai para menos da metade, do primeiro para o segundo período, embora este

prenome se mantenha entre o mais votado. Com relação a esse caso, o que podemos

relacionar é o fato de que este prenome também aparece como o mais recorrente entre os

homens vindos da Itália. Dessa forma, muitos meninos, enquadrados no primeiro período,

por terem sido o primeiro filho de um casal, eram nomeados homenageando os avôs. Além

disso, Antônio era um prenome freqüentemente associado em combinações.

Relacionando a análise feita anteriormente com a observação dos nomes

devocionais, vemos que, assim como os dois santos que mais tiveram influência foram

Santo Antônio e São João Baptista, nessa tabela nota-se que os dois nomes mais recorrentes

Page 53: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

foram Antônio e João (ou Giovanni). Além disso, destaca-se que o prenome Baptista,

que em muitas vezes apareceu combinado com João, também está entre os mais freqüentes.

Ou seja, em parte muitos dos prenomes masculinos mais votados estão diretamente ligados

a referência aos santos.

Para os prenomes combinados, como a diversidade foi grande, optamos por

construir apenas uma tabela com as combinações mais recorrentes, sem considerar os dois

períodos.86

Tabela 18– Paróquia de São Sebastião, Município de Campo largo, Paraná.

Freqüência das combinações de prenomes masculinos (1899-1920)

Fonte: livros de batismo, Acervo da paróquia de São Sebastião, Campo Largo : PR Pela tabela acima, nota-se que as combinações trazem somente aqueles prenomes

presentes na tabela 17. Destaca-se que a combinação mais votada (João Baptista)

demonstra a influência dos nomes devocionais.

Para os prenomes femininos, a metodologia foi a mesma, com destaque a dois

períodos e selecionando os mais recorrentes.

86 A relação de todas as combinações masculinas encontra-se no anexo

Prenomes Frequência João Baptista 21 Angelo Antônio 6 Antônio Luiz 6 Francisco José 5 Santo Antônio 3 José Luiz 2

Page 54: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Tabela 19– Paróquia de São Sebastião, Município de Campo largo, Paraná. Frequência dos prenomes femininos por período

1899-1910 1911-1920 Total Maria 81 Maria 85 Maria 166 Angela 33 Rosa 33 Rosa 59 Catharina ou Catherina 29 Antonia 33 Angela 51 Rosa 26 Luiza ou Luigia 26 Antonia 48 Teresa 19 Teresa 24 Catharina ou

Catherina 46

Ana 18 Joanna 19 Teresa 43 Elisabeth ou Elizzabetta 17 Angela 18 Luiza ou Luigia 39 Antonia 15 Catharina ou Catherina 17 Joanna 27 Luiza ou Luigia 13 Elena 14 Ana 25 Dominga 9 Amabile 10 Elisabeth ou

Elizzabetta 23

Magdalena 9 Dominga 9 Dominga 18 Joanna 8 Magdalena 8 Magdalena 17 Emília 7 Regina 8 Elena 17 Vírginia 6 Ana 7 Regina 14 Regina 6 Emília 7 Amabile 14 Amabile 3 Elisabeth ou Elizzabetta 6 Emília 14 Elena 4 Vírginia 1 Vírginia 7 Outros 137 Outros 129 Outros 266 Fonte: Livros de batismo, Acervo da paróquia de São Sebastião, Campo Largo : PR

Dentre os prenomes femininos mais recorrentes, a situação foi diferente do que os

masculinos. Maria, como era de se esperar, aparece como predominante para os dois

períodos, tanto pelo fato de ser um prenome comum, como por estar ligado ao sentimento

devocional, além de ser bastante utilizado em combinações. Alguns nomes de batismo

dobram seu número de um período a outro (como Luiza ou Luigia, Antonia e Joanna),

outros caem pela metade (como Angela, Anna e Catherina). No segundo período aparecem

outros prenomes entre a lista dos mais escolhidos, ausentes no primeiro. Entretanto, por ser

pequena as diferenças, não podemos dizer que mostrem grandes mudanças na nomeação.

Quanto à variação na freqüência de um período a outro, acreditamos que estão

diretamente ligados as influências na atribuição dos prenomes. Nesse grupo de imigrantes

um certo prenome pode ser mais, ou, menos recorrente, se os pais optarem ou não por

nomear seus filhos pensando em homenagens aos pais, padrinhos, avós ou santos de

Page 55: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

preferência. Como exemplo podemos citar uma linhagem qualquer em que um homem

imigrante se chamasse Matteo. Se ele tiver uma família numerosa, e por sua vez, cada filho

constituir família e homenagear o avô, o prenome do imigrante pioneiro se multiplicará.

Para os prenomes femininos combinados, assim como para os masculinos, como a

diversidade foi grande, optamos por fazer apenas uma tabela com as combinações mais

freqüentes, sem separar por período.87

Tabela 19– Paróquia de São Sebastião, Município de Campo largo, Paraná. Frequência das combinações de prenomes masculinos (1899-1920)

Fonte: livros de batismo, Acervo da paróquia de São Sebastião, Campo Largo : PR Como podemos observar, as combinações – exceto para alguns casos –, reuniam os

prenomes mais comuns. Na tabela dos prenomes únicos, Maria foi o mais recorrente; para

as combinações não ocorre o contrário, pois mais da metade das associações visualizadas

na tabela acima trazem este nome. Comparando com as combinações masculinas, nessa

tabela temos mais combinações que se repetem.

87 A lista completa de todas combinações de prenomes masculinose femininos encontrados está em anexo.

Prenomes Frequência Maria Rosa 7 Maria Antonia 5 Maria Luiza 5 Maria Madalena 4 Teresa Maria 4 Ana Catharina 2 Antonia Angela 2 Antonia Margherita 2 Catharia Maria 2 Dominga Angela 2 Elena Maria 2 Josepha Joanna 2 Luiza Antônia 2 Maria Joana 2 Rosa Jacoba 2

Page 56: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Conclusão

Os imigrantes e descendentes de italianos de Campo Largo, no período inicial da

colonização, procuraram dar continuidade aos valores etno-culturais relacionados à sua

origem, no que toca a forma de nomear. Isso reflete parcialmente uma reação a um mundo,

até aquele momento, estranho e diverso para eles. Essa constatação é feita com base nos

resultados obtidos, pois a maioria dos prenomes atribuídos aos batizandos do período

estudado, é emprestada de um mesmo estoque cultural. Além disso, muitos dos nomes de

batismo mais recorrentes na geração das crianças batizadas são os mesmos de gerações

nascidas na Itália (pais e avós).

Não foi possível ir muito longe nessas análises, na medida em que as informações

sobre as formas de grafar os prenomes não estavam suficientemente distintas na

documentação. Ou seja, tendo em vista a forma italiana e portuguesa de grafar os nomes de

batismo, foi impossível verificar qual sua recorrência, o que permitiria utilizar mais

indicadores para o estudo da preservação da identidade cultural.

Ainda em relação ao conjunto de nomes de batismo arrolados, notamos que houve

uma forte ligação entre os prenomes mais freqüentes e a referência aos santos.

Exemplificando, constatou-se que Antônio, João ou Giovanni, José ou Giuseppe foram os

nomes mais recorrentes para os meninos, o que é coerente com o fato de que Santo

Antônio, São João Baptista e São José, são devoções bastante comuns no âmbito religioso

dos italianos. Situação parecida pode ser apontada para as meninas, embora restrito a um

prenome de larga utilização, Maria.

Nesse sentido, o costume de nomear um filho utilizando referências devocionais

pode estar ligado a crença de que a criança, ao ser consagrada desta forma no momento do

batismo, adquiriria a proteção de tal santo, ou virtudes que o levariam a uma boa conduta

moral e religiosa em sua vida. Não é possível descartar essa hipótese para complementar a

explicação relacionada à escolha de prenomes de pais, avós e padrinhos, uma vez que

também é possível aventar que se gostaria de perenizar suas virtudes na vida da batizanda.

Portanto, a tabulação dos dados, para a maioria dos casos, mostrou uma provável

influência na nomeação que remete principalmente às relações familiares e ao sentimento

religioso. Entretanto, acreditamos que houveram outras influências – embora em número

menos significativo –, que foram incluídas na categoria “outros” nas tabelas referentes às

origens prováveis dos prenomes únicos e combinados. Apesar de, em alguns casos, ter sido

Page 57: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

percebido outras influências oriundas de relações de parentesco, estas não foram

analisadas, pois não tivemos condições de reconstituir genealogicamente todas as famílias.

Nessa direção, podemos apontar a presença dos tios, primos ou mesmo de parentes que

tinham ficado na Itália. Além do âmbito familiar, alguns prenomes podem ser relacionados

a adjetivos, lugares e sentimentos, tais como Amabile (Amável), Benavento (Bemvindo),

Itália e Vicenza (referência à sociedade emissora), Libera (Liberdade), Vittore (Vitória),

entre outros.

Em relação aos nomes de batismo menos comuns, é interessante notar a presença de

muitos casos que remetem a uma relação de prenomes tipicamente italianos, como

Pazienza, Pasqua, Torana, Natalina, Massimiliano, Melchiore, Leonida, Jovino, Idalina,

Giocondo, Fedele, Fioravante, entre outros.

Concluindo, percebemos que, para o período estudado, a herança italiana da

atribuição de nomes de batismo se mantém. Entretanto, cabe terminar este texto com uma

questão, relacionada ao futuro das gerações estudadas. Ou seja, se é verdade que o grupo

manifestou um determinado comportamento, revelado na atribuição dos nomes de batismo,

é de se perguntar se, nas gerações seguintes, as práticas culturais em evidência não seriam

modificadas em função das influências da sociedade local a partir das relações sociais

desenvolvidas. Evidentemente é uma pergunta, por enquanto, sem resposta.

Page 58: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

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LIVRO III de Batismo da Paróquia de São Sebastião. Campo Largo, PR : 1899-1903. 46f.

LIVRO IV de Batismo da Paróquia de São Sebastião. Campo Largo, PR : 1903-1907. 50f.

LIVRO V de Batismo da Paróquia de São Sebastião. Campo Largo, PR : 1907-1924. 148f.

LIVRO I de Casamento da Paróquia de São Sebastião. Campo Largo, PR : 1899-1914. 48f.

LIVRO II de Casamento da Paróquia de São Sebastião. Campo Largo, PR : 1914. 1936.

100f.

LIVRO do Tombo da Paróquia de São Sebastião. Campo Largo, PR : 1906-1971.

MARTINS, Romário. Quanto somos e Quem Somos. Curitiba : Impresa Oficial

Paranaense, 1941.

NADALIN & BIDEAU, Alain. Comment des luthériens allemands sont-ils devenus des

brésiliens? (un essai methodologique). 14e Entretiens du Centre Jacques Cartier (Lyon,

França, 2001). [Texto em português publicado no Boletim de História Demográfica. São

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de História do Paraná para professores do Ensino Fundamental e Médio). Curitiba :

Secretaria do Estado da Educação, 2002.

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ORO, Ari Pedro. “Mi son talian”: Considerações sobre a identidade étnica dos

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PETRONE, Pasquale. “Imigrantes italianos no Brasil: identidade cultural e integração”. In:

BONI, Luis de. A presença italiana no Brasil. vol. III Porto Alegre : Fondazione

Giovanni Agnelli. Ed. Est., 1996. p. 628-641.

RELATÓRIO do presidente da província do Paraná. João José Pedrosa. 1881. disponível

em <www.pr.gov.br > acesso em 29/10/2004.

RELATÓRIO do presidente da província do Paraná. Francisco Liberato de Mattos. 1859.

disponível em <www.pr.gov.br > acesso em 29/10/2004.

RELATÓRIO do presidente da província do Paraná. Candido da Cunha. 1888. disponível

em <www.pr.gov.br > acesso em 29/10/2004.

Page 62: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

ANEXO 1

Limites territoriais da Paróquia “No dia 5 de abril de 1937 Rvmo. Arcebispo Dom Attico Ensilio da Rocha emanou o seguinte decreto: Pela presente, attendendo a necessidade de uma junção parochial regular, e seguindo as preocupações canonicas, depois de ouvido o parecer dos Revmos. Consultores archidiciocesanos e usando de nossa jurisdição ordinaria, havemos por bem elevar a cathegoria de Parochias amaviveis (can. 454 § 3) as obras capellas curadas de São sebastião de Rondinha e S. José de Santa Felicidade, cujos limites confirmamos e ratificamos conforme se descreve em seguinte: A parochia de São Sebastião de Rondinha assim se limita: Pela estrada que partindo da estrada macadamizada vae ao passo de Fabiamos, no arraio das Costas, dahi por este arraio abaixo até o pequeno rio Rinção; por este Rio abaixo ate o Rio Verde, dahi pelo Rio Verde acima ate encontrar os limites da parochia de Orleans, até o Rio Passauna, dahi pelo Rio Passauna abaixo, ate encontrar os limites da freguesia de Thomas Coelho; por estes limites em direção de Campo Largo, ate encontra o corrego dos Fedaltos; por este corrego abaixo ate a estrada do Rio Verde, seguindo esta estrada ate a ponte do mesmo Rio Verde, dahi pelo Rio Verde abaixo ate o corrego que vindo da Colonia Mariana, vai ate o rio Amocafe; dahi por este rio acima ate onde desagua um arraia que vem da propriedade do Sr. Otto Vaz Chem; dahi por este arraia acima, continuando pelos limites da referida propriedade e pela estrada do Rio Verde, ate o ponto de partida na estrada macadamizada. Dado e passado nesta cidade archipiscopal de Curityba sob o nosso igual e o sello Nossas ... aos 2 de Abril de 1937.’’ “Com este decreto a Egreja de Rondinha esta elevada a Parochia, mas vem a perder cinco capellas: S. João Baptista de Campina, S. Benedito de Salgadinho, S. Antonio e S. João do Capão, e S. Anna de Figueredo. Ficam tambem escluidas da nova parochia 120 familias, que estão registradas no livro de batismo deste archivo, assim divididas, 38 familias da colonia de Campina, 55 familias italianas do centro de Rondinha, 30 familias brasileiras de Rondinha, mais algumas familias de Mariana e Rebouças. Os excluidos ficaram muito malcontentes e repetidas vezes foram do Sr. Arcebispo a se queixar, mas debalde. Os padres de S. Carlos não puderam fazer nada, porque não foram convidados a presentar as divisas e proprio ponto de vista, nem tampouco consultados, mas foram aceitadas as divisas como foram apresentadas pelo P. de Campo Largo, P. Aloisio Domanski. Resentemente a parochia é em forma de retangulo com o comprimento de 18km por 5 km e compreende as capellas de Mariana, Timbituba, Rebouças e Ferraria.”

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Anexo 2 - Relação completa da frequência dos prenomes masculinos Achiles 2 Elia 5 Marcelino 1 Adamo 3 Emanuel 1 Marcelo 1 Adelio 1 Emilio 1 Marco 6 Adolfo 2 Enrique 1 Mario 1 Affonso 8 Epaminondas 1 Massimiliano 1 Agostinho 5 Ermenegildo 1 Matteo 1 Alberto 5 Ermínio 1 Melchiore 1 Albino 2 Ernesto 3 Miguel 7 Alessio 4 Estevão 1 Miro 1 Amadeo 2 Eugenio 8 Natal 5 Amante 1 Eurico 1 Nicolao 1 Ambrosio 4 Evangelista 6 Olimpio 1 Andrea 1 Faustino 1 Olinto 1 Angelo 44 Fausto 2 Olivo 3 Anibal 1 Fedele 1 Orestes 1 Antônio 142 Fedinando 5 Orlando 1 Arcangelo 1 Federico 9 Orsolo 1 Armando 1 Fernandes 2 Ovídio 1 Arnaldo 1 Filides 1 Paulo 9 Arturo 2 Fioravante 6 Pedro ou Pietro 42 Attilio 1 Fiorindo 4 Pierino 1 Augusto 16 Florenço 1 Placido 7 Bartolomeo 2 Florin 1 Primo 6 Baptista 34 Francisco 39 Prodocimo 2 Basílio 2 Gaetano 3 Rafaelle 1 Bemianino 1 Gaspar 1 Raimundo 2 Benavento 1 Germano 1 Riccardo 8 Bernardo 13 Giacinto 1 Rodolfo 2 Bernardino 3 Giacomo 1 Romano 1 Blasio 1 Girolamo 3 Sante 2 Bortolo 2 Giulio 1 Santo 12 Bruno 1 Godofredo 2 Santino 1 Candido 2 Guido 1 Sebastião 12 Camillo 5 Gulielmo 2 Silvano 1 Cesare 1 Honesto 1 Silvio 1 Carlo 26 Ignácio 2 Simão 1 Cipriano 7 Iridio 1 Stefano 3 Clarindo 1 Isidoro 5 Thomas 2 Claudino 2 Jacob 10 Ubaldino 1 Clementino 1 Jeronimo 3 Umberto 1 Constantino 5 Joaquim 4 Ursolino 2 Contante 3 João ou Giovanni 121 Valentin 1 Cristiano 1 José ou Giuseppe 101 Valentino 5 Dall’elmo 1 Jorge 1 Vascolo 1 Daniel 3 Jovino 1 Victor 1 David 3 Julio 1 Virgínio 1 Desidério 1 Laurindo 2 Virgolino 1 Diogo 1 Lauro 1 Vittore ou Vitório 14 Domingo 22 Leão 1 Dionísio 1 Leone 1 Domenico 1 Ludovico 1 Egidio 1 Luiz ou Luigi 51

Page 64: A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais

Anexo 3 - Relação Completa da frequência dos prenomes femininos

Ada 1 Dominga 18 Leonida 1 Adelaide 2 Doratea 2 Lia 1 Adelia 1 Dussolina 4 Libera 1 Adelina 3 Elena 17 Lidia 2 Agata 2 Elisa 6 Luigia ou Luiza 39 Agnes 2 Elvira 4 Lucia 8 Alba 1 Elizabetta ou Elisabette 23 Margarida ou Margherita 9 Albertina 1 Emma 1 Maria 166 Albina 6 Emília 14 Mariana 5 Aldesira 1 Ermede 1 Marina 1 Amabile 14 Ermenegilda 1 Matilde 1 Amalia 6 Ermínia 8 Narcisa 5 Amantina 1 Ernesta 2 Natalia 2 Ambrosina 1 Escolastica 3 Natalina 1 Amorina 1 Eugenia 3 Nuncia 1 Anna 25 Faustina 1 Oliva 6 Angela 51 Filomena 3 Orsola 3 Angelina 1 Fiorinda 1 Orsolina 3 Anunziata 6 Floria 1 Paolina 2 Arminda 1 Francisca 1 Pasqua 1 Antonia 48 Gaetana 1 Pazienza 1 Arzira 1 Gemma 1 Pedrinha 1 Assidia 2 Genovepha 8 Pierina 1 Assunta 1 Giacoma 1 Regina 14 Attilia 1 Giuditta 1 Rosa 59 Augusta 1 Giuseppina 1 Rosalina 2 Aurelia 1 Grazioza 3 Rosaria 3 Aurora 1 Guistina 1 Sabrina 1 Beatrice 1 Ida 2 Santina 1 Benedita 1 Idalina 5 Silia 4 Brigida 1 Ignes 1 Tania 1 Carla 1 Iolanda 1 Teresa 43 Carlotta 3 Iolina 1 Torana 1 Carlotta 4 Iracema 3 Uttilia 1 Carmelita 1 Irda 1 Veronica 1 Carmella 4 Irene 2 Vicenza 1 Carola 1 Isabel 2 Victoria 3 Carolina 6 Isolina 2 Virginea 7 Carona 3 Itália 4 Catherina ou Catharina 46 Jacoba 2 Cecília 2 Jacomina 5 Celeste 2 Jole 1 Celestina 1 Josepha 3 Clara 2 Joanna 27 Cristina 2 Juditta 2 Daniele 3 Justina 3 Diomira 2 Laura 1 Dionisia 1 Laurita 1 Domenica 1

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Anexo 4 -Relação completa prenomes masculinos combinados

Achiles Francisco 1 João Baptista 21 Achille Constantino 1 João Cipriano 1 Afonso Francisco 1 João Claudino 1 Ambrosio João 1 João Florindo 1 Angelo Antônio 6 João Joaquim 1 Angelo Inácio 1 João Natal 1 Angelo Miguel 1 João Santo 1 Angelo Prodocimo 1 João Sebastião 1 Antônio Claudino 1 José Angelo 1 Antônio Clementino 1 José Armando 1 Antônio Ferdinando 1 José Bortolo 1 Antônio Fioravante 1 José Caetano 1 Antônio Gaetano 1 José Camillo 1 Antônio José 1 José Federico 1 Antônio Luiz 6 José João 1 Antônio Prodocimo 1 José Luiz 2 Antônio Valentino 1 José Matteo 1 Augusto Sebastião 1 José Primo 1 Bernardino Domingo 1 José Sebastião 1 Bernardo Carlo 1 Ludovico Jerônimo 1 Bernardo Domingo 1 Luiz Agostinho 1 Bruno Domingo 1 Luiz Cipriano 1 Cesare Augusto 1 Luiz Jacob 1 Constante Antonio 1 Luiz Santo 1 Constante Francisco 1 Marcelino Fortunato 1 Constante José 1 Miro Laurindo 1 Constantino Antônio 1 Natal Diogo 1 Cristiano Antônio 1 Orlando Raimundo 1 Daniel Angelo 1 Paolo Carlo 1 Desiderio João 1 Pedro Alberto 1 Domingo Baptista 1 Pedro Francisco 1 Domingo João 1 Pedro Luiz 1 Domingo Primo 1 Pedro Matteo 1 Ernesto Antônio 1 Pedro Paulo 1 Eugênio Pedro 1 Primo Attilio 1 Federico Bernardo 1 Primo Pedro 1 Felisberto Ubaldino 1 Ricardo Assidio 1 Ferdinando Rafaelle 1 Ricardo Eugênio 1 Florenço Augusto 1 Sante Francisco 1 Florindo Carlo 1 Sante José 1 Florindo José 1 Santo Antônio 3 Francisco Andrea 1 Santo Cipriano 1 Francisco Cipriano 1 Santo Emilio 1 Francisco José 5 Santo Florindo 1 Jacob Vittorio 1 Valentino Fortunato 1 João Angelo 1 Vascolo Godofredo 1 João Antônio 1 Victor Emanuel 1 João Atillio 1 Virgolino Antônio 1

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Anexo 5 - Relação Completa prenomes femininos

Albina Carolina 1 Josepha Joanna 2 Albina Regina 1 Judith Santa 1 Amabile Doratea 1 Luiza Antônia 2 Amabile Maria 1 Mariana Daniela 1 Ana Carolina 1 Maria Antonia 5 Ana Catharina 2 Maria Anunziata 1 Ana Eugenia 1 Maria Carolina 1 Ana Maria 1 Maria Dominga 1 Ana Rosa 1 Maria Dossolina 1 Angela Amabile 1 Maria Joana 2 Angela Catherina 1 Maria Luiza 5 Angela Celeste 1 Maria Madalena 4 Angela Erminia 1 Maria Margarida 1 Antonia Angela 2 Maria Mariana 1 Antonia Catherina 1 Maria Oliva 1 Antonia Joana 1 Maria Paolina 1

Antonia Margherita 2 Maria Pierina 1 Carlota Judith 1 Maria Rosa 7 Carmela Juditta 1 Matilde Catherina 1 Catharia Maria 2 Natalia Maria 1 Clara Amelia 1 Nuncia Maria 1 Catharina Amabile 1 Pasqua Joseppina 1 Dominga Angela 2 Pazienza Eugenia 1 Dominga Verônica 1 Regina Maria 1 Elena Delaide 1 Rosa Catherina 1 Elena Luiza 1 Rosa Elisabetta 1 Elena Maria 2 Rosa Jacoba 2 Elisabetta Joana 1 Rosa Madalena 1 Elvira Grazioza 1 Santa Antonia 1 Emilia Fiorinda 1 Santa Catherina 1 Ernesta Antonia 1 Teresa Emilia 1 Filomena Maria 1 Teresa Floria 1 Giacoma Joana 1 Teresa Luiza 1 Grazioza Maria 1 Teresa Maria 4 Izabel Rosa 1 VirgíniaMadalena 1 Joana Ana 1