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A AUTORIA INSTITUCIONAL EM PESQUISAS ACADÊMICAS SOBRE O
ENSINO-APRENDIZAGEM DA ESCRITA NA EDUCAÇÃO DE SURDOS
(1987-2010)
Geane Botarelli
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial-SENAI
RESUMO
É reconhecida a importância do aprendizado da língua materna na modalidade escrita para
a autonomia dos indivíduos. A sociedade letrada oferece informações, lazer, entre outros, e
os indivíduos necessitam continuamente desenvolver capacidades para a leitura e escrita, a
fim de que possam interpretar e ter acesso à cultura e ao conhecimento que estão presentes
em sua vida social e, tal aspecto, é relevante tanto para ouvintes quanto para pessoas surdas.
As discussões acerca da educação de surdos no Brasil são permeadas por grandes tensões e
quando se trata especificamente do ensino da língua escrita para surdos tais tensões
permanecem e, em consequência disso, as pesquisas acadêmicas refletem muitas vezes
tanto isso quanto outros aspectos interessantes, como a autoria institucional. À medida que
não se pode considerar dissertações e teses como a expressão mais avançada de um
determinado campo, mas pode-se considerá-las como uma produção cultural, o interesse
neste trabalho é analisar a autoria institucional dessas produções, como expressão de suas
tendências, considerando que essas foram defendidas em instituições e programas de pós-
graduação específicos, em determinadas épocas, em espaços geográficos distintos, bem
como foram orientadas por pesquisadores diversos. As informações foram obtidas a partir
de resumos disponibilizados no Banco de Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior - CAPES, no período de 24 anos (1987 a 2010), referentes às 136
produções acadêmicas (dissertações de mestrado e teses de doutorado), cuja investigação
buscou analisar quem e quando investiga o ensino-aprendizagem da língua escrita para
surdos nas produções acadêmicas brasileiras. Como referencial teórico para a análise,
optou-se pelas contribuições do materialismo cultural (Williams, 1980), por meio do qual
se verifica as especificidades da produção material para interpretar as práticas sócio-
históricas.
Palavras-chave: surdo; escrita; pesquisa educacional
Introdução Se realmente não existe consenso nas mais diversas discussões educacionais,
quando o olhar do pesquisador volta-se especificamente para a educação de surdos encontra
um terreno fértil das mais diferentes tensões. Pode-se, pois, questionar: como a educação de
surdos é tratada nas pesquisas acadêmicas brasileiras? Que distinções de posicionamentos
em relação a espaço, tempo, autoria, regiões, orientação metodológica, entre outros
aspectos, podem ser observados em tais pesquisas?
Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
EdUECE- Livro 200074
No Brasil, vê-se claramente uma ineficácia do ensino de Língua Portuguesa para
alunos ouvintes, o que se comprova por meio de avaliações internas e externas, como o
PISA, no qual fica claro que os jovens brasileiros atingem, em média, nível 2 de
proficiência em leitura, ou seja, limitam-se a localizar informações (PISA, 2012, p. 3) .
Quando se volta especificamente para a educação de surdos, esse aspecto é ainda agravado:
além da escassez de materiais para o ensino da língua portuguesa para esse público, as
pesquisas acadêmicas sobre esse assunto mostram um cenário que convida a diversas
análises, inferências e inquietações.
Esse artigo tem como objetivo discutir alguns dados de pesquisas acadêmicas,
organizados por meio de um gráfico e três tabelas, acerca do ensino da língua escrita em
pesquisas acadêmicas. Os dados foram obtidos por meio dos resumos disponibilizados no
Banco de Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
CAPES (BRASIL. MEC. CAPES, 2012), no período de 1987 a 2010, a fim de responder
quem e quando investiga a educação de surdos nas pesquisas brasileiras.
Como referencial teórico para a análise, optou-se pelas contribuições do
materialismo cultural (Williams, 1980), por meio do qual se verifica as especificidades da
produção material para interpretar as práticas sócio-históricas.
Cultura e Surdez
Um trabalho acadêmico lida com conceitos diversos e as fontes teóricas que os
embasam. Para minha análise, lido principalmente com dois conceitos: cultura e surdez,
com base na perspectiva do materialismo cultural criado por Raymond Williams (1969),
para quem determinadas palavras são de fundamental importância numa sociedade, em
determinado período, ou por seu significado ou até por sua modificação no decorrer do
tempo.
O termo cultura é amplamente discutido e analisado por muitos estudiosos, nos
mais diferentes contextos, entretanto neste artigo a cultura interessa-me por duas questões:
primeiramente, por estar, nos meios acadêmicos, amplamente difundida a ideia de uma
“cultura surda”, ou seja, uma cultura específica das pessoas surdas, com singularidades e
características específicas e distintas da cultura “ouvinte”.
Discutir o conceito de surdez não é tarefa simples. Santana (2007) alerta que
“quando um pesquisador propõe determinadas abordagens para lidar com a surdez, não
Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
EdUECE- Livro 200075
consegue ser imparcial, pois sua proposta sempre refletirá uma concepção própria de
surdez.” (SANTANA, 2007, p. 21).
Uma conceituação de surdez trata da questão de não ouvir ou da limitação em se
ouvir. Nesse sentido, a surdez é entendida como deficiência auditiva. É utilizada mais
frequentemente pela área da saúde e busca mecanismos para evitar a surdez ou, nos casos
que ela já exista, busca a possibilidade de retorno da audição, como uso de aparelhos e
implantes.
Já a segunda abordagem de surdez refuta essa ideia de deficiência auditiva,
argumentando que a surdez é uma diferença. Os teóricos dessa compõem os Estudos Surdos
e a abordagem Socioantropológica e defendem que a forma do pensar de uma pessoa surda
se diferencia de uma pessoa ouvinte. Para esses autores, há o ouvintismo, que se
caracterizaria pela opressão da comunidade ouvinte majoritária sobre a comunidade surda
minoritária, impondo a cultura ouvinte, com seus modos de se comunicar, pensar e
socializar. Para Skliar (1997) o ouvintismo é “o conjunto de representações dos ouvintes a
partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e narrar-se como se fosse ouvinte”
(SKLIAR, 1997, p.15)
Dentro do campo educacional, no entanto, essa segunda abordagem tem merecido
críticas como as de Bueno (1998, p. 8) que procurando responder se a surdez é ou não uma
deficiência, afirma que “todas as evidências científicas, sociais e culturais indicam que é”.
O autor ainda salienta que a sociedade busca evitá-la e preveni-la, por exemplo, por meio
da vacina contra a rubéola materna, pois a consequência dessa doença na mãe pode
ocasionar surdez em recém-nascidos. Nesse sentido, a vacina previne “um mal”.
Bueno (1998, p. 8) ainda argumenta que, do ponto de vista das diferenças culturais é
até interessante considerar o surdo como minoria, todavia, tratar a surdez como mera
diferença é eufemizar o patológico, esconder a deficiência, e que a perspectiva que encara
os surdos como uma minoria dominada pela maioria ouvinte dominante, além de não
poder ser confundida com a de outros grupos minoritários, torna homogênea tanto a
população ouvinte, quanto a surda, na medida em que não considera as diferenças de classe,
raça e gênero, homogeneizando o que é econômica, social e culturalmente diverso.
Análise dos resumos acadêmicos
Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
EdUECE- Livro 200076
A análise das principais tendências investigativas no campo da escrita da língua
portuguesa para surdos pode contribuir para o seu adensamento. Para a obtenção dos dados
deste artigo, foram analisados os resumos de teses de doutorado e dissertações de mestrado
que foram disponibilizados no Banco de Teses da CAPES, de 1987 a 2010.
Os descritores utilizados para a seleção dos resumos sobre educação de surdos
foram: surdo, deficiente auditivo, escola e escolarização. Após filtrar apenas os trabalhos
sobre a escrita dos surdos, chegou-se a 136 pesquisas neste período.
Quem e quando investiga
À medida que não se pode considerar dissertações e teses como a expressão mais
avançada de um determinado campo, o interesse neste trabalho é analisar a autoria
institucional dessas produções, como expressão de suas tendências, considerando que essas
foram defendidas em instituições e programas de pós-graduação específicos, em
determinadas épocas e em espaços geográficos distintos bem como foram orientadas por
pesquisadores reconhecidos.
Verifica-se que, de 1987 a 2010, gradualmente há um aumento considerável na
quantidade de produções que discutiram o ensino-aprendizagem da língua escrita para o
surdo (gráfico 1). Chama a atenção não haver nenhuma pesquisa nos anos de 1988, 1989,
1990 e 1991. Pode-se perceber que, de 1987 a 2002 o limite de trabalhos sobre esse assunto
chegou, no máximo, a 8 produções (2001); há aumento considerável no ano de 2003, com
um total de 14 pesquisas sobre o tema (sobre surdos no geral, neste ano houve 47
pesquisas). Nas pesquisas realizadas pelo tema no Brasil é a primeira vez que ocorrem
tantos trabalhos.
Uma hipótese para esse aumento de publicações sobre surdos no ano de 2003 pode
ter relação com a publicação da Lei Nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a
Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. Obviamente, anterior à promulgação dessa lei,
houve discussões em diversos setores da sociedade sobre o assunto, o que poderia justificar
esse aumento exponencial na quantidade de pesquisas.
É em 22 de dezembro de 2005 que a Lei Nº 10.436 é regulamentada, por meio do
Decreto 5.626/2005. Nesta regulamentação, são definidos aspectos importantes, como a
obrigatoriedade da oferta de LIBRAS nos cursos de formação de professores e nos cursos
de Fonoaudiologia e como disciplina curricular optativa nos demais cursos de educação
Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
EdUECE- Livro 200077
superior e na educação profissional. Também é neste decreto que está a regulamentação da
formação e do exercício do profissional intérprete de LIBRAS.
O Artigo 13 deste Decreto estabelece:
O ensino da modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda língua para pessoas
surdas, deve ser incluído como disciplina curricular nos cursos de formação de professores
para a educação infantil e para os anos iniciais do ensino fundamental, de nível médio e
superior, bem como nos cursos de licenciatura em Letras com habilitação em Língua
Portuguesa.Parágrafo único. O tema sobre a modalidade escrita da língua portuguesa para
surdos deve ser incluído como conteúdo nos cursos de Fonoaudiologia. (DECRETO
5.695/2005)
Ainda, neste Decreto, há o Capítulo IV - Do uso e da difusão da libras e da língua
portuguesa para o acesso das pessoas surdas à educação, o qual envolve vários aspectos
relacionados aos profissionais, à formação, à atuação na escola, ao ensino de LIBRAS e da
língua portuguesa, tanto na modalidade escrita quanto na modalidade oral.
Neste sentido, infere-se que há uma influência que reverberou nas motivações de
pesquisadores em investigar o ensino da língua portuguesa na educação de surdos.
Considerando que a lei foi aprovada em dezembro de 2005, imagina-se que seu
conhecimento tenha sido mais bem vislumbrado no ano de 2006, quando vários
pesquisadores estariam ingressando em cursos de Mestrado (duração prevista de dois anos e
média) e Doutorado (duração prevista de quatro anos em média). A formação desses
profissionais ocorreu provavelmente entre os anos de 2008 e 2010, período em que mais
foram realizadas pesquisas sobre o ensino do português escrito para surdos no período
avaliado por esta pesquisa (1987-2010).
Com isso, fica evidente que as diversas legislações interferem diretamente não só
nos aspectos em que legislam (como a inclusão de LIBRAS no ensino, por exemplo), mas
também suscitam angústias, inquietações, dúvidas e vontade de se conhecer mais a respeito
de um tema, o que leva muitas pessoas a buscarem ingressar no Mestrado e Doutorado.
A Tabela 1 apresenta os dados das pesquisas realizadas sobre surdez e língua
escrita, distribuídas por instituição de ensino superior no período de 24 anos (1987 a 2010).
O terceiro bloco apresenta grande dispersão das pesquisas, envolvendo 26 IES em
que ocorreram entre uma e duas defesas no período, totalizando 35 produções: média anual
de uma produção que, se subdividida entre elas, perfaz uma média de 0,04 defesas por ano,
para cada uma delas. Esta dispersão pode ser mais comprovada quando se verifica que
dezessete instituições realizaram apenas uma pesquisa (menos de 1% do total de pesquisas
Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
EdUECE- Livro 200078
sobre a escrita de surdos por instituição, ou seja, média anual de 0,7), as outras nove IES
realizaram duas pesquisas entre 1987 e 2010 (1,5% do total de pesquisas por instituição, ou,
0,75 de média anual).
O bloco intermediário, das oito instituições em que foram defendias entre 3 e 5
produções, num total de 30 trabalhos, verifica-se que a média anual totaliza apenas 1,5
trabalho por ano, que, se subdivididas entre as IES, perfaz a média de 0,19 por ano.
Até mesmo as instituições que ficaram situadas no primeiro bloco, como as que
tiveram maior número de dissertações e teses defendidas, a média é bastante baixa: 71
trabalhos distribuídos por oito IES, ou seja, média anual de 3 produções, que se
subdivididas entre elas perfaz uma média de 0,12.
A pulverização tão marcada nas IES pode ocorrer pelas dimensões continentais de
nosso país, pois realizar pesquisas em programas que possam ser referências por seus
professores ou por sua linha de pesquisa muitas vezes pode ser um desejo inviabilizado pela
dificuldade de deslocamento, condições de moradia, alimentação, problemas de horário em
função de atividades profissionais e principalmente pelas condições financeiras, as quais
reverberam nos outros motivos citados. Nesse sentido, o pesquisador desenvolve um tema
em algum programa de pesquisa nem sempre relacionado diretamente ao trabalho com
surdez, mas que atenda as suas condições de ir, vir e manter-se.
Quanto aos programas específicos de Pós-Graduação (tabela 2) é possível verificar a
grande concentração de estudos sobre a escrita dos surdos nos Programas de Educação e
nos de Letras/Linguística/Linguagem. Essas duas linhas de pesquisa totalizam 77,2% de
toda a produção de pesquisas sobre esse assunto.
Podem-se deduzir alguns aspectos em relação a esses dados. Geralmente, a
iniciativa de realização de alguma pesquisa de Mestrado e Doutorado surge a partir de
alguma inquietação vivenciada pelo pesquisador. Neste sentido, a dificuldade de
comunicação que as pessoas surdas costumam demonstrar pode conduzir os profissionais
que se confrontam com essa situação a buscar os programas de estudos. Por essa razão e em
função das legislações e tratados sobre a inclusão de pessoas com deficiência – em que as
pessoas surdas também se encontram – a escola precisa lidar diretamente com a questão,
sendo que os atores envolvidos nessas ações lidam com inquietações e escolhas constantes
e muitos dilemas são elaborados a partir de então. Isso, de certa forma, pode justificar a
Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
EdUECE- Livro 200079
escolha majoritária por programas na área da Educação e das
Letras/Linguística/Linguagem.
Em seguida, pode-se perceber que outra fatia de 19,2% corresponde a estudos
distribuídos entre os Programas de Psicologia, Distúrbios da Comunicação/Fonoaudiologia,
Ciências da Informação/Computação/ Design e Distúrbios do
Desenvolvimento/Reabilitação.
Novamente a questão da importância da comunicação e da linguagem parece ser
desencadeadora dessas escolhas. A linguagem é um dos aspectos tratados pela psicologia e
é considerada essencial para o desenvolvimento das demais atividades sociais do individuo.
Os programas de Distúrbios da Comunicação/Fonoaudiologia e Distúrbios do
Desenvolvimento/Reabilitação lidam também diretamente com esse aspecto, pois o surdo é
um desafio, já que pela ausência da audição sua fala é prejudicada ou ausente.
Quanto aos Programas de Ciências da Informação/Computação/ Design, pelo
conteúdo dos resumos lidos, foi possível perceber que há iniciativas de pesquisas as quais
buscam utilizar as novas tecnologias de informação e comunicação, por meio de programas
de computadores, no desenvolvimento de ações em que o surdo possa letrar-se, muitas
vezes de forma autônoma. Nesse sentido, ainda é a linguagem e a possiblidade de melhoria
da comunicação que motiva esses trabalhos.
Nos demais Programas (Arte/História da Arte, Comunicação Social, Engenharia,
Geografia e Medicina) há grande dispersão, pois em cada um deles foi realizada apenas
uma pesquisa sobre essa temática durante o período de 24 anos, correspondendo de 1987 a
2010.
Ou seja, os processos de ensino da língua escrita não ultrapassam, basicamente, o
âmbito da educação e dos estudos de linguagem, pois aspectos como os da relação entre
linguagem e condições sociais de vida parecem não ter sido incorporados pela academia.
Outro aspecto observável na análise de dissertações e teses diz respeito à orientação,
de diversos professores diferentes. Tabela 3 mostra que das 136 pesquisas sobre a escrita de
surdos, 93 delas (68%) foram realizadas por um único orientador. Nesse sentido, pode-se
inferir que a temática não seja recorrente das orientações desses professores, ou que talvez,
para esse tema, não exista muitas ofertas de núcleos de pesquisas pelo país, ou ainda que o
Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
EdUECE- Livro 200080
trabalho realizado não tenha relação direta com a linha de pesquisa do núcleo, mas seja uma
manifestação de interesse do pesquisador.
Entretanto, por outro lado, observando essa tabela, verifica-se que quinze
orientadores apresentaram recorrências nas orientações de pesquisa. Varias são as
hipóteses, entre elas uma já manifestada na análise das tabelas 5 e 8, que se refere à procura
de um programa específico em função da linha de pesquisa adotada ou dos professores que
atuam nesse núcleo de trabalho. Desta forma, há uma constante procura por determinado
orientador, em razão de seu reconhecimento acadêmico.
Mesmo assim, os dois orientadores que tiveram sob sua responsabilidade a defesa
de 5 trabalhos, orientaram, em média, 0,21 alunos por ano.
Toda a análise dessas tabelas e gráfico permeia alguns aspectos dessa análise e
parece estar relacionada com a tradição, que é considerada na escolha das Instituições, dos
programas e dos orientadores. Williams (1992) oferece a seguinte contribuição para esta
reflexão:
A tradição (“nossa herança cultural”) mostra-se de modo claro como um processo
de continuidade deliberada, embora, analiticamente, não se possa demonstrar que
alguma tradição seja uma seleção ou re-seleção daqueles objetos significativos
recebidos e recuperados do passado que representam uma continuidade não
necessária, mas desejada. [...] Esse “desejo” não é abstrato mas efetivamente
definidos pelas relações sociais gerais existentes. (WILLIAMS, 1992, p. 184-185)
Considerando o exposto pelo autor, podemos considerar que o peso da tradição seja
definido nas escolhas, até porque as pesquisas stricto sensu resultam em uma titulação
determinada a poucas pessoas em nosso país. Nesse sentido, o pesquisador, quando
possível recorre a programas, orientadores e temática que lhe ofereçam menos risco e mais
chance de sucesso, desde que possa ter condições de arcar com deslocamentos e outros
aspectos.
Considerações finais
Com a análise dos dados, percebe-se por um lado grande dispersão da realização de
pesquisas sobre esse assunto, mas por outro lado uma polarização em determinadas
instituições, programas e escolha de orientadores. Esse aspecto merece ser refletido, pois a
baixa quantidade de pesquisas sobre a escrita dos surdos em grande parte das instituições,
em contraposição com a alta concentração em alguns orientadores, pode determinar maior
Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
EdUECE- Livro 200081
influência na disseminação de algumas abordagens por todo o quadrante nacional. Esse
aspecto merece estudos mais aprofundados em investigações posteriores.
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Campinas. 1998. .Disponível em
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010132621998000300005&lng=p
t&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em 30/05/2012.
BRASIL. Lei nº 10.436 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais –
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______. Decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005, que regulamenta a Lei nº 10.436, de
24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e o art. 18 da
Lei 10.098 de 19 de dezembro de 2000. 2005. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em
18/06/2012.
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Disponível em: http://www.oecd.org/pisa/keyfindings/PISA-2012-results-brazil.pdf, acesso
em 27/04/2014.
OLIVEIRA, A. M. R. Balanço Tendencial das Dissertações e Teses sobre Dificuldades de
Aprendizagem (1987/2010). Dissertação de Mestrado. PUC-SP. 2012.
SANTANA, A. P. Surdez e Linguagem: aspectos e implicações neurolinguísticas. São
Paulo: Plexus. 2007.
SKLIAR, C. Uma perspectiva sócio-histórica sobre a psicologia e a educação dos surdos.
In: SKLIAR, Carlos. Educação & Exclusão: Abordagens Sócio-Antropológicas em
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__________. Cultura. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1992.
Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
EdUECE- Livro 200082
TABELAS E GRÁFICOS
GRÁFICO 1
Distribuição anual das produções de educação de surdos que investigaram a
escrita
Fonte: Gráfico criado a partir dos dados disponíveis no Banco de Teses da CAPES (2012).
Tabela 1
Distribuição da produção sobre surdez e língua escrita por IES (1987/2010)
Instituição Nº %
PUC-SP 13 9,6
UnB 13 9,6
USP 12 8,8
UFSCar 7 5,1 71
UNESP 7 5,1
UNICAMP 7 5,1
UFRGS 6 4,4
UFSC 6 4,4
PUC- RJ 5 3,7
PUC-RS 5 3,7
UNICAP 4 2,9
UPM 4 2,9 30
UFMG 3 2,2
UFPR 3 2,2
UERJ 3 2,2
UFBA 3 2,2
UFPB 2 1,5
UFPE 2 1,5
UFRJ 2 1,5
UFSM 2 1,5
UECE 2 1,5
UFC 2 1,5
UNISINOS 2 1,5
UFES 2 1,5
UVA 2 1,5
CUM-IPA 1 0,7
UFPA 1 0,7
UGF 1 0,7
UMESP 1 0,7
UFAM 1 0,7
UNESA 1 0,7 35
UCPEL 1 0,7
UFJF 1 0,7
UEL 1 0,7
UNIGRANRIO 1 0,7
UNIJUI 1 0,7
UNISC 1 0,7
UFMT 1 0,7
UFRN 1 0,7
USF 1 0,7
UFMS 1 0,7
UFF 1 0,7
TOTAL 136 100
Fonte: Tabela criada a partir dos dados
disponíveis no Banco de Teses da
CAPES (2012).
Ano
19
0
2
0 0 0 0
21
21
4 45
2
4
8
5
14
76
8
15
19
15
12
87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
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EdUECE- Livro 200083
Tabela 2
Distribuição da produção sobre surdez e língua escrita por
Programa de Pós-Graduação (1987/2010)
Programa Nº % Educação 59 43,4
Letras/Linguística/Linguagem 46 33,8
Psicologia 10 7,4
Distúrbios da Comunicação/Fonoaudiologia 8 5,9
Ciências da Informação/Computação/Design 5 3,7
Distúrbios do desenvolvimento/Reabilitação 3 2,2
Artes/História da Arte 1 0,7
Comunicação social 1 0,7
Engenharia 1 0,7
Geografia 1 0,7
Medicina 1 0,7
TOTAL 136 100
Fonte: Tabela criada a partir dos dados disponíveis no Banco de Teses da CAPES (2012).
Tabela 3
Distribuição da produção sobre surdez e língua escrita
por orientador (1987/2010)
Orientações Orientador
Total de
Orientações
Cinco 2 10
Três 5 15
Duas 8 16
Uma 93 93
Não especif. 2 2
TOTAL 110 136 Fonte: Tabela criada a partir dos dados disponíveis no
Banco de Teses da CAPES (2012).
Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
EdUECE- Livro 200085