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Teocomunicação Porto Alegre v. 41 n. 1 p. 150-168 jan./jun. 2011 A BUSCA DE DEUS NOS SOLILÓQUIOS DE AGOSTINHO GOD IN ST. AUGUSTINE’S SOLILOQUIES Paulo César Nodari* Resumo Agostinho é filósofo cristão e Padre da Igreja de corrente latina. Ele contribuiu muitíssimo para a formação do pensamento cristão no Ocidente, constituin- do-se num verdadeiro Mestre do Ocidente. Agostinho investigou os aspectos fundamentais de uma pedagogia de estatuto religioso e lhe deu soluções significativas pela espessura cultural, pelo vigor teórico e pelo significado espiritual. Conhecimento e fé constituem a meta do processo educativo. A fé é um princípio, mas não um termo definitivo, isto é, um convite a empreender novas especulações, que já não serão tão só da razão, mas serão orientadas e dirigidas pela fé: Intellige ut credas. Crede ut intelligas. No De Magistro, Agostinho defende a ideia de que a ascensão a Deus é um processo de autoeducação, de crescimento interior que deve se realizar sob a direção do próprio indivíduo, da sua vontade e da sua racionalidade, capaz de corrigir o erro, de modo a purificar os olhos da mente e libertá-la da atração enganadora dos sentidos, para atingir a contemplação das realidades superiores imutáveis. Do processo autoeducativo, seguindo o método pedagógico perguntas e respostas, analisar- se-á a obra Solilóquios à luz de três objetivos principais: a) Solilóquios é um falar consigo mesmo, mas não se constitui num monólogo interior de um eu fechado em sua identidade monádica, já que Agostinho articula seus pensamentos de forma coerente na busca da verdade; b) Solilóquios é um diálogo em que a razão faz o papel tanto de instrutora como de discípula; c) Solilóquios não é um mergulho do Eu na própria essência do ser em seu subjetivismo abstrato, mas a busca do Tu que coabita essa mesma interioridade, ou seja, constitui-se na busca do Outro de si. PALAVRAS-CHAVE: Agostinho. Razão. Fé. Verdade. Diálogo. * Doutor em Filosofia. Professor no PPGFIL-UCS. <[email protected]> ou <[email protected]>.

A BUSCA DE DEUS NOS SOLILÓQUIOS DE AGOSTINHO

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A BUSCA DE DEUS NOS SOLILÓQUIOS DE AGOSTINHOGOD IN ST. AUGUSTINE’S SOLILOQUIES

Paulo César Nodari*

Resumo

Agostinho é filósofo cristão e Padre da Igreja de corrente latina. Ele contribuiu muitíssimo para a formação do pensamento cristão no Ocidente, constituin- do-se num verdadeiro Mestre do Ocidente. Agostinho investigou os aspectos fundamentais de uma pedagogia de estatuto religioso e lhe deu soluções significativas pela espessura cultural, pelo vigor teórico e pelo significado espiritual. Conhecimento e fé constituem a meta do processo educativo. A fé é um princípio, mas não um termo definitivo, isto é, um convite a empreender novas especulações, que já não serão tão só da razão, mas serão orientadas e dirigidas pela fé: Intellige ut credas. Crede ut intelligas. No De Magistro, Agostinho defende a ideia de que a ascensão a Deus é um processo de autoeducação, de crescimento interior que deve se realizar sob a direção do próprio indivíduo, da sua vontade e da sua racionalidade, capaz de corrigir o erro, de modo a purificar os olhos da mente e libertá-la da atração enganadora dos sentidos, para atingir a contemplação das realidades superiores imutáveis. Do processo autoeducativo, seguindo o método pedagógico perguntas e respostas, analisar-se-á a obra Solilóquios à luz de três objetivos principais: a) Solilóquios é um falar consigo mesmo, mas não se constitui num monólogo interior de um eu fechado em sua identidade monádica, já que Agostinho articula seus pensamentos de forma coerente na busca da verdade; b) Solilóquios é um diálogo em que a razão faz o papel tanto de instrutora como de discípula; c) Solilóquios não é um mergulho do Eu na própria essência do ser em seu subjetivismo abstrato, mas a busca do Tu que coabita essa mesma interioridade, ou seja, constitui-se na busca do Outro de si.

Palavras-chave: Agostinho. Razão. Fé. Verdade. Diálogo.

* Doutor em Filosofia. Professor no PPGFIL-UCS. <[email protected]> ou<[email protected]>.

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Abstract

Augustine was a Christian philosopher and a Priest for the Latin Church. He greatly contributed to form Western Christian thought, representing a real Western Master. Augustine investigated fundamental aspects regarding pedagogy of religious status and gave it significant solutions through cultural thickness, for its theoretical strength, and spiritual significance. Knowledge and faith constitute the goal of the educational process. Faith is a principle, but not a definite term. It is an invitation to undertake new speculations, which will not be reason only, but will be guided and directed by faith: “Intellige ut credas. Crede ut intelligas”. In De Magistro, Augustine supports the idea that ascending to God is a self-learning process, of interior growth that must be carried out under the individual’s own lead, his will and rationality, capable of correcting the mistake so as to purify the eyes of the mind and freeing it from the deceiving attraction from the senses, in order to achieve contemplation of immutable superior realities. Of the self-learning process, following the Augustinian pedagogical method of questions and answers, we will analyze his work Soliloquies at the light of three main purposes: a) Soliloquies is talking to oneself, but it is not an num internal monolog of a self closed in its monadic identity, since Augustine articulates his thoughts coherently towards the search of the truth; b) Soliloquies is a dialog in which reason either plays the role of the instructor or the pupil; c) Soliloquies is not about the Self diving into its own essence of abstract subjectivism, but the search for the Self that co-habits that very same interiority, that is, the one that consists on The Other Self of Oneself.

Keywords: Augustine. Reason. Faith. Truth. Dialog.

Introdução

O homem é um ser que busca compreender-se. O homem é oúnicoservivoqueperguntaporsuapróprianaturezaesecolocaasimesmocomoproblema.1Eletemconsciênciadesuagrandezaedesuafragilidade.Talvezsepossaafirmarqueagrandezadohomemestejajustamenteemreconhecersuafraqueza.2E,reconhecendo-secomotal,ohomemtemconsciênciadequenãoéumserperfeito.Eleéumserembuscadesuaperfeição. Deve,porconseguinte,serentendidocomoumserquehádealcançaraperfeiçãopormeiodaprópriaatividade.Esta 1 Cf. KUTSCHERA, Franz von.Die grossen Fragen. Philosophisch-theologischeGedanken.Berlin;NewYork:WalterdeGruyter,2000,p.02.

2 Cf.Ibidem, p. 04.

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característicaédesignificadofundamentalparacompreenderohomemcomoumserqueestáembuscacontínuadarealizaçãopessoal.Ohomeméumserabertoeinacabado.Ouseja,emsuaunicidadeesingularidade,o homemnãonasce já pronto.Apresenta-se como já efetivado,mastambémcomopossibilidade ainda existente.Devepermanentementeconstruir e conquistar o seu ser.Assim sendo, o grande desafio dohomeméesseprocessodeconstruçãodoseuser.Oqueohomeménãoestáestabelecidodeantemão.Seucomportamentonãoestápreviamentedeterminadoapartirdosinstintos.Aaberturacontínuacaracterizasuavida.Seuseré,emprimeirolugar,umabuscade si,ouseja,ohomeméessencialmentedesafio.Suaefetivaçãonãoestádeantemãogarantida.Estásubmetidaasituaçõesdeterminadas,e,àsvezes,adversas,pondo-se,porconsequênciasempreemjogo.Ohomemé,então,oserdaameaçapermanente,ameaçaemrelaçãoaseupróprioser,quesepodeperder.Eleestásempresoboapelodecriarascondiçõesnecessáriasparaefetivar-se.3Assimsendo,ohomemapresenta-secomoumprojetoaberto.Todooseuagirconstituiumatestadodessaabertura.Defato,emtudooquepensa,deseja,quererealizaohomemsempreultrapassaseuslimitesjáatingidospelopensamento,pelodesejo,pelavontade,pelaação,pelotrabalho.Ohomemnuncaestásatisfeitoconsigomesmo.Lança-secadavezmais para frente para conseguirmetas sempremais elevadas.Ohomemnãopodeserconsiderado,deantemão,umserperfeito.Deve,porém,servistocomoumserdepossibilidade,plenamentecapaz,porconseguinte,decolocar-se,jogar-seeengajar-senoprocessocontínuoepermanentedomelhoramento.

Dasperguntasexistênciaismaisimportantesqueohomemsefaz,commuitaprobabilidadedecerteza,aperguntaarespeitodosentidodavidaserevestedeelevadarelevância.4Tentaresboçarumarespostaacerca do sentidoda vida significa tentar descobrir o sentidoúltimoqueseofereceenquantopossibilidadedeadesãoaohomem.Enabuscadetotalidade,arazãoencontra-sediantedealgo,infinitamente,grandeemaiordoqueelamesma.Afirmaaexistênciadomistério.Assim,arazãoé,integralmente,humana,quandonãodesprezaenegligencia,masreconheceomistério.Aderiraomistérioéumatoracional.Dopontodevistadafilosofia,aaberturaàtranscendênciafazemergirnohomema 3 OLIVEIRA,ManfredoAraújode.Ética e práxis histórica.SãoPaulo:Ática,1995,p.93.

4 KUTSCHERA,Franzvon.Op. cit.,p.83-94.

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consciênciadaprovisoriedadeestruturaldavidahumana.Todomundohistóricoénegadocomoabsoluto,umavezqueaefetivaçãodetodasas possibilidades existentes é impossível a qualquer época eperíodohistórico.

Éexatamentenessemomentoquesepodeafirmarseraconsciênciareligiosacomoqueaconsciênciaprovocadora.Deusemergeaquicomocondiçãoúltimadepossibilidadedoprocessodeautogênesedohomemenquanto processohistórico.Religião é liberaçãodo aprisionamentodefinitivodohomememqualquerfinitudee,portanto,possibilitaçãodatranscendênciaquecaracterizaahistória.Ahistória,nessesentido,sóépossívelenquantoreferênciaaoAbsoluto.Daíoparadoxodanossahistóriahumana.Aliberdadefinitaéportadoradeumaexigênciainfinita,absoluta, incondicional. Assim, a práxis emancipatória, enquantocriadoradoespaçodoreconhecimentosolidário,emergecomoportadoradeexigênciaabsoluta,poisoqueestáemjogonela,emúltimaanálise,éaaceitação,porpartedasliberdadesfinitas,doapelodapróprialiberdadeinfinita.5Énesse sentidoquevemos abuscadeAgostinhoporDeuscomobuscadesentido.

Mas todoosentidoda reflexão religiosadeAgostinhoestáaqui.Nósoexprimiríamos,debomgrado,assim:oatoreligiosonãoétalsenãoéelemesmo,nasuaintencionalidadeprofunda,omediadorde uma realidade transcendente. Logo não há filosofia religiosasem afirmação da transcendência. O encontro de um absolutotranscendentenoseiodarazãocomoorigemradicalefimdarazãomesma e do amorquedela nasce, definiria assimo agostinismocomofilosofiareligiosa.6

O objetivo desta reflexão é provar que o texto deAgostinhointitulado deSolilóquios, longe de ser, como poderia parecer numaprimeiraleituradesatentadoprópriotítulo,umaobradeteorsolipsista,eleseconstituinumtexto,cujafinalidade,paraAgostinho,nabuscadomaisíntimodesi,nãoéoutrasenãoencontraropróprioDeus.Tentar-se-á,portanto,provartalhipóteseàluzdetrêsargumentos:a)oautorna obra fala consigomesmo,mas este seu falar não se constitui no 5 OLIVEIRA,ManfredoAraújo de.Ética da racionalidade moderna. São Paulo:Loyola,1993,p.186.

6 LIMAVAZ,HenriqueCláudiode.Ontologia e história.SãoPaulo:DuasCidades,1968,p.96.

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monólogointeriordeumeufechadoemsuaidentidade,umavezqueodiscursosearticulacoerentementenabuscadaverdade;b)oautormantémumdiálogofrancoeabertocomsuarazão,fazendoestaopapeltantodeinstrutoracomodediscípula;c)oautornãofazummergulhoparaencontrarseusubjetivismoabstrato,masbuscaoTuquecoabitaessamesmainterioridade,ouseja,buscaoOutro de si.

Paraqueoitinerárioapercorrersejabemcompreendido,buscar-se-á,numprimeiromomento,apresentaralgumascaracterísticasgeraisdo pensamento cristão dos primeiros séculos doCristianismo, para,numsegundomomento,esboçaralgumastesesepensamentosgeraisdeAgostinho,afimde,numterceiromomento,queseconstituinoaspectocentral de nossa reflexão, ser possível apresentar os argumentos quesustentamatesedequeaobraagostinianaSolilóquiosseconstituinumcontrapontorelevanteaodenominadosolipsismofilosófico.

O pensamento cristão dos primeiros séculos do Cristianismo

OadventodoCristianismooperouumaprofundarevoluçãoculturalnomundoantigo.Talvezamaisprofundamudançadomundoocidental.ComoCristianismoirrompeumanovaconcepçãodemundodiantedacriseculturaleespiritualqueatravessaaculturaantiga.Coloca-senocentrodaprópriaculturaofatorreligiosonãosóparaalguns,masparatodos.ArevoluçãodoCristianismoétambémumarevoluçãopedagógicaeeducativa,quedurantemuitotempoirámarcaroOcidente.7 O amor torna-seachave-mestrede todaaeducaçãocristã.Dopontodevistaestritamenteeducativo-escolarsãodoisosaspectosquevêmcaracterizar,sobretudo,osprimeirosséculosdoCristianismo,asaber,aimitaçãodeCristoeaadoçãodaculturaclássica,literário-retóricaefilosófica.8

ArevelaçãobíblicadaSagradaEscrituranãotrazumametafísicadouniversalenecessárioaoestilodopensamentogrego.Trazalgomuitodistinto.Trazamensagemdasalvaçãoparaoserhumanoconcretodahistória.Aconsequênciaéqueasdoutrinascapitaisdafécristãestãonaesferadeumacontecimento livre e pessoalquesedesenvolveentreDeuseohomemnomarcodaHistóriadaSalvação.Ocristãosabe,pelafé,queomundonãoprocededeumanormativauniversalenecessária.Nãoéumaevoluçãoimanentedeumamatériainternaenemumaemanação 7 Cf.CAMBI,Franco.História da pedagogia.SãoPaulo:Unesp,1999,p.123.8 Cf.Ibidem, p. 127.

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oudesprendimentometafisicamentenecessáriosdeDeus.9 É muito mais umprodutodalivrePalavracriadoradeDeusquedisse:faça-se (Gn1,3), eomundofoifeito.Ahumanidadetambém,porsuavez,temsuaorigemna livre vontade do Criador. Façamos o homem à nossa imagem esemelhança(Gn1,26),eoserhumanocomeçouaexistir.

Aforaaspossíveisdivergências,podemosdizerqueaconcepçãocristãdoserhumanoprevalecenaculturaocidental,sobretudodoséculoVIao séculoXV,mas seu influxopermaneceprofundoe, sobcertosaspectos,decisivo,inclusive,nasconcepçõesmodernaecontemporânea.Trata-se de uma concepção de fundo teológico, não obstante seusinstrumentos conceptuais utilizados na elaboração do pensamentoocidentalprovenham,emgrandeparte,dafilosofiagrega.Nessesentido,a concepção cristão-medieval provém, sobremaneira, deduas fontes,asaber:atradiçãobíblicaeatradiçãofilosóficagrega.Noentanto,deinício, é imprescindível salientar que entre a concepção clássica e aconcepçãobíblicadoserhumanoháumainegávelcomunidade temática, ligadasemdúvidaàuniversalidadedaexperiênciahumanaedosseusconteúdosfundamentais.Ostemascomunsdereflexão,nesteperíodo,caracterizam-se, fundamentalmente, no estudo do ser humano e suarelaçãoeimbricaçãocomodivino,ouniverso,acomunidadehumana,odestino,tendo,porsuavez,comotemadefundo,oqualreúnetodososdemais,atemáticadaunidadedoserhumano.

No entanto, há no discurso cristão-medieval um pressupostosubjacente muito importante de ter em mente. O discurso supõe aorigem de tudo numa fonte transcendente. A concepção bíblica éformuladanumalinguagemreligiosa.Éumdiscursocomumaorigemexplicitamenteteológica.Eis,portanto,algunstraçosgeraisfundamentaisdaantropologiabíblica:A unidade radical do ser humano.ElaédefinidapelarelaçãoconstitutivaqueoordenaàaudiçãodaPalavradeDeus.10 Aunidadedoserhumano,maisdoqueserpensadanumaperspectivaontológica, é pensada na perspectiva soteriológica, articulando-se,porconseguinte,numitineráriodesalvação.AorigemdetudoéDeusenquantoElefazapropostadesalvaçãoaoserhumano,dando-lhealiberdade de resposta.Trata-se, pois, da unidade de umdesígnio desalvaçãoquedapartedeDeuscomodomoferecidoedapartedoser 9 CORETH,Emerich.Qué es el hombre? Esquemadeuna antropologíafilosófica. Barcelona:Herder,1991,p.52.

10 RAHNER,Karl.Hörer des Wortes: neubearbeitet.Munique:Kösel,1963.

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humanocomorespostaouaceitação,sendoarecusadestedomdeDeusporpartedoserhumanoaperdadaunidadeouacisãoirremediáveldeseu ser. A manifestação de quem é o ser humano dá-se progressivamente na história da salvação. A concepção bíblica do ser humano é umdiscursoarticuladoesepretendedemonstrativocomosedánafilosofia.Queméoserhumanovaiprogressivamentesendoconhecidopormeiodanarração daHistóriadaSalvação,ouseja,históriadaRevelação deDeus.NaRevelação progressivanahistóriasedáaconheceraunidadeprofundado serhumanocomoum“serparaDeus”.ARevelaçãodeDeusaoserhumanoporexcelênciasedánaEncarnação doFilho,sendo,portanto,JesusCristo,definitivamente,omodelodevidanova,ouseja,a pessoa nova.

A concepção Patrística de ser humano desenvolve-se à luz domistériodaEncarnação doVerbo,constituindo-secomoqueograndemistério que transpõe em um nível concreto, pela referência a umarquétipo histórico, o tema da imagem e semelhança.A Patrísticadivide-seemduasgrandescorrentes:agrega ealatina.Acorrentegregaacentuamuitomaisocaráterontológicodoserhumano,causando,porsuavez,conflitosedificuldadesquandopostoemrelaçãocomocaráterhistóricodavisãobíblica.Acorrentelatinaacentuamuitomaisocarátersoteriológico.EmAgostinho,decorrentelatina,hápredominânciadetrêsinfluênciasimprescindíveisàsuacompreensão.Emprimeirolugar,tem-se a influência do neoplatonismo.Oneoplatonismoconstitui,porassimdizer,abasedaformaçãofilosóficadeAgostinho.AinfluêncianeoplatônicaemAgostinhoapresenta-se,sobretudo,naelaboraçãodotemadaestruturadohomeminterior, coroadapela“mens”, queequivaleao“nous” doneoplatônismo,compreendendoDeus,portanto,enquantoEleestápresentetantonointerior dosujeitocomotambémlheésuperior.Eesseaspectoéimprescindível,exatamente,porque,nosSolilóquios, obraquenosinteressa,nestareflexão,Agostinhotravaodiálogointeriorconsigomesmo,encontrando,nomaisíntimodesi,opróprioDeus.

Emsegundolugar,tem-sea influência paulina.SãoPauloforneceaAgostinhoumaimagememinentementesoteriológicadoserhumano,apartirdaqualeleformularáasuperabundantenecessidadedagraçadeDeusparaasalvaçãodoserhumano,contrapondo-se,radicalmente,aPelágio.DabrigacomPelágio,surge,emAgostinho,aconcepçãodaliberdade edo livre-arbítrio, doutrina esta tornada, a partir de então,umamatrizfundamentalparaaelaboraçãodaideiadeserhumanonaCivilizaçãoOcidental.

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E,emterceirolugar,tem-sea influência da narrativa bíblica da criação. EsteéumdostemasprincipaisdasmeditaçõesdeAgostinho.EntraemcenaaimagemdoserhumanocomoimagemdeDeus.ParaAgostinho, a concepção do ser humano se resume basicamente emtrêscaracterísticasprincipais.Emprimeirolugar,oserhumanoéuno,ouseja,eleéocentrodacriaçãodouniversoetemsuaplenitudenaEncarnação doFilhodeDeusenasuamortee ressurreição,queéaprimícia de toda a Igreja, Corpo de Cristo, tendo, por conseguinte,restituídoaunidadedoserhumano,porqueforaperdidapelopecadohumano,talcomoprocedeudaPalavracriadoradeDeus.Emsegundolugar,oserhumanoéitinerante,quesignificaafirmar,segundoavisãoagostiniana,aconcepçãodo temponahistóriacomocaminhoparaaeternidade,ocaminhoparaDeus.Éocaminhoitinerantedeconversão,tudo,consequentemente,dirigindo-separaamanifestaçãodefinitivadeCristo.E,emterceirolugar,oserhumanoéparaDeus,ouseja,Deusdásentidodefinitivoàunidadedoserhumanoeaoseucaminhoitinerantenahistória.Abelezadaspessoaséoreflexodavidasemfim.ObeméreflexodaBelezaInfinita.ObemhumanoéreflexodoSumoBem.Tudoébom,beloemDeus.11

Agostinho, Padre da Igreja e Mestre do Ocidente

AgostinhoéconhecidocomoAgostinhodeHipona(354-430d.C.).EleéfilósofocristãoePadredaIgreja.PadresdaIgrejasãoospensadorescristãosdosprimeirosséculos.SãoosqueoutiveramcontatodiretocomastestemunhasocularesdoFilhodeDeus,JesusCristo,oureceberamepensaramadoutrinacristãnosprimeirosséculosdoCristianismo.Grossomodo,talvez,possamosassumirqueoperíododosPadresdaIgrejavaiatéo séculoVII.Ele éfilósofo cristãoePadreda Igrejade correntelatina.Constitui-senumadasprincipaisfontesdopensamentocristãonoOcidente.Suacontribuiçãoparaopensamentoeuropeutantomedievalcomomodernoecontemporâneoéimpossíveldescreverresumidamente,sobretudo por ter escrito volumosa obra, deixando muitas vezes afilosofiae rumandoà teologia.Seu itinerárioé fascinante.Passoudalibertinagemda adolescência à religiãodosmaniqueus, rejeitando-a,posteriormente, por considerá-la umamáfilosofia.Domaniqueísmopassou ao neoplatonismo e deste ao Cristianismo, elevando-se, por 11 AGOSTINHO.Confissões,X,6.SãoPaulo:AbrilCultural,1973.

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conseguinte,aumDeuseterno.Noneoplatonismo,Agostinhoencontroufinalmente umafilosofiaque lhe permitia satisfazer o intelecto, poiseleestavaconvictoeconscientedequea“fé”exigeumafilosofia,ouseja,aaquisiçãodeumacapacidadederaciocinarparaconseguirumaverdadeiramaturidade.ParaAgostinho,portanto,prevalecesemprenoCristianismooelementoderacionalidade,sejaantesoudepoisdaplenaconversãoaoCristianismo.

NaobraA cidade de Deus,Agostinhocomeçacomumacríticaàreligiãocívicapagãedasfilosofiasqueaacompanham,mas terminacomum retratodahistória dahumanidade como sendoumcombateentreoamor-próprio,concebidocomodiabólicacidadeterrena,eoamoragradecidoaDeus,quefundaestacidadecelestialnaqual,esomentenela,épossívelencontrarapaz.Doisamoresfundaramduascidades,a saber, a terrestreenquantoéoamorde si eodesprezodeDeus,eaceleste,odesprezodesieoamoraDeus.12SegundoAgostinho,avontadehumanaéincapazdepraticarobemeaçõesmoralmenteboassemagraçadeDeus,contrapondo-seclaramente,então,aPelágio,queafirmavaserpossívelparaossereshumanos,atravésdoexercíciodavontadelivre,alcançaraperfeiçãomoral.ParaPelágio,ohomemteriaacapacidadedeagirvirtuosamenteedesalvar-se,mesmosemoauxíliodagraçadivina.ParaAgostinho,Deuséacausadetudo.Mas,então,porqueexisteomal?

Apóslongapesquisaereflexão,AgostinhoafirmaqueDeusnãoéacausadomal.Eleaceitouporumbomtempoaexplicaçãomaniqueia,queatribuiomalaumprincípiomau.Maseleencontroumaistarde,noneoplatonismo,umauxílioparasuperarodualismomaniqueu,quesepara omundo emdois princípios, separados entre si e autônomosumdooutro:obemeomal.Taisprincípios seriamduasdivindadesemlutaumacontraaoutra,agindoalternadamentenasvicissitudesdomundo,comoodiaeanoitequesesucedem.Superandoomaniqueísmo,AgostinhotemaconvicçãodequeacausadomalnãoéDeus.Omaltemsuacausanacriatura.Oresponsávelpelosofrimentoepelaculpaéoprópriohomem.Omalsignificadesobedecereafastar-sedasleisdivinas,dobemsupremo,quandoumhomemseafastadobemimutável.Omalconsisteemvoltaràscostasaobemsupremo,aobemimutável.13 12 AGOSTINHO.A cidade de Deus,XIV.ParteII.6.ed.BragançaPaulista:EditoraUniversitáriaSãoFrancisco,2005

13 AGOSTINHO.Confissões,X,28-42.

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Descreve-se neste livro a miséria humana.A vida é uma contínuatentaçãodariqueza,doprazer,daglóriaedabelezaquenosconvidamadepositarnelesnossaconfiançaeesperança.

Assim, segundoAgostinho, omal advém do fazer omal pelolivrearbítriodavontade.Aliberdadeéumbem.Éumbemdesumaimportância,porqueécondiçãodamoralidade.Sóondehá liberdadepode-sefalardebemedemal,porquesepodejulgarseaaçãopodeseraprovadaoureprovada.Aliberdadedoserhumanoconsistenaopçãoemviver separadodeDeus, segundoacarne,ou segundooespírito,viver comDeus, evitando o pecado, porque nós fomos libertos porJesusCristo, e somente pela graça e pelosméritos daRedenção deCristo pode ter eficácia o esforçohumano.Ahistória, para ele, tem,por conseguinte,umsentidoescatológico,ou seja, nãoé cíclica.Eleaconsideracomoumcaminhoemlinharetaquesobedaterraparaocéu.Adialética tempestuosadasduascidadesedosdoisamoresnãocristalizaahumanidadeemsituaçõesimutáveis,masaguia,atravésdeumamadurecimentodoloroso,para a idadeperfeitadoespírito,paraCristo,naplenitudedostempos.

ParaAgostinho,afééumprincípio.Afénãoéumtermodefinitivo.Éconviteanovasbuscaseanovasespeculações.Estasserãoorientadasedirigidasnãosópelarazão,mastambémpelafé.Issosignificadizerqueainteligênciapreparaparaaféeestasedirigeàquelaeailumina:Intellige ut credas. Crede ut intelligas.E,finalmente,ainteligênciaeafédesembocam,istoé,orientam-se,juntas,noamor.SeudesejosupremoéaVerdadeenãolheimportamuitoqueosprocedimentosparaconsegui-lapertençamouàféouàrazão.“Conhecimentoeféconstituemametadoprocessoeducativo.Abasedoprocessoéinabalávelconvicçãodarealidade deDeus e da divindadedeCristo.Oponto de partida e odesejodeconheceraDeus.Oelodeligaçãoquelevadoconhecimentodestemundomutável,instáveleimperfeitoaoconhecimentodeDeuséapessoadeCristo”.14

MascomochegaraDeus?AVerdadeSuprema,paraAgostinho,emmimmeamaemefazamarordenadamentetodasascoisas.NãohaveriaamordaSupremaVerdadeemmimsemoamoràscoisasqueelafezecolocouàminhadisposiçãoparaquepelascriaturasohomemchegasseaEle.Portanto,averdadequemeelevaàTranscendênciameensinaaamarascoisasimanentesetemporaisordenadasàsuaorigemsuprema. 14 GILES,ThomasRansom.História da educação.SãoPaulo:EPU,1987,p.61.

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Averdadeexisteemsi,e,quandoédescoberta,renova-noseilumina-nosinteiramente.Assimsendo,paraAgostinhooretoebomamoréoqueamatodasascoisasnasuaordenaçãonaturalparaoCriador.15 Por isso,paraAgostinho,umsóéoprincípioéticofundamental:amaraDeusCriadoreamarascriaturasporqueelasseconstituemnaobradoCriador.Deuséavidadaminhavida.16Deusmecriouemeinfundiuosoprovital.Deus transcendenteé tambémoDeus imanentenascriaturas.17 “OmaisaltoidealdohomemconsistenauniãocompletacomDeus.Avocaçãodocristãoconsisteemalcançaraquelaunião,tarefaqueocupaumavida inteira.Nessaprocura,por si só, a fé é apenasopontodepartida da caminhada, a inteligência sendo auxiliadora, a serviço daalma,nocumprimentodessatarefa”.18

Logo, chega-se a Deus, sobremaneira, pelo encontro com aSabedoria, porque Deus é a Sabedoria Eterna, pelo Silêncio, quecontemplaavidaplenasemfim,epelabuscadaFelicidade,quenãoseencontrasenãonaalma,namemóriahumana.ParaAgostinho,paraserfelizapessoadevepossuirasabedoria,eaverdadeirasabedoriaéasabedoriadeDeus.Feliz,portanto,équempossuiaDeus,19sendo,então,abuscadeDeusumprocessocontínuodeautoeducação,afimdeaproximar-sedosprincípioseternoseimutáveis,corrigindo-sedoserroseafastando-seprogressivamentedomal.Emediantetalcaminhodebuscaépossívelalcançarencontraraverdadeirasabedoria.EamareconheceraverdadeirasabedorianãoéoutracoisasenãoamareconheceraCristo,20 oMestre por excelência.21É feliz,22 então, quembusca averdadeeaverdadenãoéoutrasenãoCristo.

A busca de Deus nos Solilóquios de Agostinho

Solilóquios é o título dado pelo próprioAgostinho à sua obracomposta de dois livros e de trinta e cinco capítulos. É uma obra

15 Cf.PEGORARO,Olinto.Ética dos maiores mestres através da história.Petrópolis:Vozes,2006,pp.61-76.

16 Cf.AGOSTINHO,Confissões,LivroX,6.17 Cf.AGOSTINHO,Cidade de Deus,XI,4.18 GILES,ThomasRansom.Op. Cit., p. 62.19 Cf.AGOSTINHO.A vida feliz,IV,34.SãoPaulo:Paulus,1998.20 Cf.Ibidem,IV.21 Cf.AGOSTINHO.De magistro,XIV.SãoPaulo:AbrilCultural,1973.22 Cf.AGOSTINHO.A vida feliz,IV.

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incompleta.Provadissoestánofinaldosegundolivro.Agostinhofazalusãoaoestudodainteligência.Todavia,estequeconsistirianoterceirolivro,elenãofoiescritoeissomuitoprovavelmentedevidoàsinúmerastarefaspastoraisdeAgostinho.Solilóquioscomoseconfiguraoprópriotítulo apresentaumdiálogodeAgostinhocomsuaprópria razão.Asfiguras do diálogo deAgostinho são a sensibilidade e a capacidadeintelectualdoserhumano.ParaAgostinho,oserhumanonãoseriacapazapenasdelinguagemcomosoutros.Eleécapazdelinguageminterior.Écapazdefalarconsigopróprio.Demodometafóricopode-sedizerseracapacidadedelepenetrardentrodesimesmoe,consequentemente,sentiranecessidadedooutro.Significavoltar-separasimesmonumaatitudereflexiva.Significa,emoutraspalavras,voltar-separaainterioridade.

AviradadeAgostinhoparao self foiumaviradaparaareflexãoradical, e foi isso que tornou a linguagem da interioridadeirresistível.A luz interioréaquelaquebrilhaemnossapresençaparanós;éaquelainseparáveldofatodesermoscriaturascomumpontodevistadeprimeirapessoa.Oqueadiferenciadaluzexterioréexatamenteoquetornaaimagemdainterioridadetãofascinante:elailuminaaqueleespaçoondeestoupresenteparamim.23

Sem exagero,Agostinho introduziu a interioridade da reflexãoradicalelegou-aàtradiçãoocidentaldopensamento.24Todavia,salienta-sequeaperspectivaagostinianasofreriainjustiçaseelafossedenominadasemumrigorosojuízocomoumaatitudesolipsística.ParaAgostinho,diferentementedosmodernos,abuscamaisíntimaemnósresultanabuscadeDeus.OpassoparaainterioridadeéopassoparaDeus.NainterioridadeestáaprincipalrotaquelevaparaDeus,porqueDeusnãoéapenasoobjeto transcendente,maséopróprioalicercebásicoeoprincípiosubjacenteàatividadecognoscitivadosujeitocognoscente.25 AfirmaAgostinho:“QuemconheceaVerdade,conheceaLuzImutável,equemaconhece,conheceaEternidade.OAmorconhece-a!ÓVerdadeeterna,Amorverdadeiro,Eternidadeadorável!VóssoisomeuDeus!PorVóssuspironoiteedia”.26

23 TAYLOR,Charles.As fontes do self.A construção da identidademoderna. SãoPaulo:Loyola,1997,p.174.

24 Cf.Ibidem, p. 175.25 Cf.Ibidem, p. 172.26 AGOSTINHO.Confissões,VII,10.

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Énaperspectivada interioridadequeaobraSolilóquios precisaser lidae interpretada.O títuloSolilóquioséumacriaçãodopróprioAgostinho e nãohá nenhumapalavra emnossovocabulário que lhecorrespondesse como sinônimo.E issoporqueSolilóquios não é ummonólogo.Nãoéumjogodofazerdecontaqueseestariasimulandoumaconversa consigopróprio.É, por suavez, umanova concepçãodediálogo.ÉacapacidadeconscienteelúcidadeAgostinhodialogarconsigopróprio.Nãoé,contudo,umaautoreflexão,nemumaalucinaçãoetampoucoumsonhoingênuo.Éumaconversa.Éumdiálogoconsigoprópriosobretemasfilosóficos.ÉreflexãodialógicaemqueopróprioAgostinhocomoafiguracentraldodiálogojulgaopapeldodiscípuloesedeixa,inclusive,errarecorrigirnoserrosdoprópriopensamento.MasporqueonomeSolilóquios?NoCapítuloVII,doLivroI,aotratardaafirmaçãodequeasemelhançaéafontedaverdadeeadessemelhança,afontedafalsidade,afirmaaRazãoaopróprioAgostinho:

Éridículoenvergonhar-te,comosenãotivéssemosescolhidoestemétododediscussão.Porseremconversaçõesasósentrenós,querodenominá-las e dar-lhes o título deSOLILÓQUIOS, certamenteumtítulonovoe,talvez,seco,masbastanteadequadoparaindicaronossoestilo.Poisumavezquenãohámelhormétodopeloqualaverdadepossaserinvestigadadoqueperguntandoerespondendo,raramente se encontra alguém que não se envergonhe ao serconvencidoemdiscussão.Equasesempreacontecequeagritariadeumateimosiaconfusacomeceavaiarumassuntobemintroduzidoà discussão, atémesmo comofensa às pessoas, ora demaneiradissimulada ora abertamente. Entretanto, com a ajuda deDeus,pareceu-mebominvestigaraverdadedemaneiramuitotranquilaeconveniente,segundomeparece,perguntando-meerespondendoamimmesmo.Porisso,nãohánadadequeteenvergonhar.Seemalgumponto te enredaste temerariamente, deve-se voltar atrás esolucionar;docontrário,nãosepodesairdisso.27

Nessediálogoconsigomesmosuarazãofazopapeldeinstrutoraeeledediscípulo.NosSolilóquios, porém,Agostinhonãosegueoseuritmoeseuprocessocotidianoenormaldenoinícioretomareesclarecerconceitosedefinições.Assimsendo,nessediálogo,Agostinho,logonoinício,fazumalongaoraçãoaDeusemformadedeclaraçõesteológicas. 27 AGOSTINHO.Solilóquios.SãoPaulo:Paulus,1998, p. 73

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Ele quer conhecer aDeus e à alma, buscando compreender aDeustantodopontodevistafilosóficocomoteológico.SegundoGilson,éimpossívelcompreenderAgostinhosemapressuposiçãoradicaldequeaverdadeirafilosofiapressupõeumaatitudedehumildade,deabnegaçãonabuscadaverdade eumatode adesão àordemsobrenatural.28NabuscadoquererconheceraDeuseàalma,eisumexemplodecomoAgostinhosedirigeaDeusemsuaprece.

Deus,criadorde todasascoisas,concede-meprimeiramentequeeu façaumaboaoração;emseguida,queme tornedignodeserouvidopor ti; porfim,quemeatendas.Deus,porquem tendeasertudoaquiloqueporsisónãoexistiria.Deus,quenãopermitesquepereçanemmesmoaquiloquesedestrói.Deus,quedonadacriasteestemundo,oqualachambelíssimoosolhosdetodososqueocontemplam.Deus,quenãofazesomalefazesqueestenãosejapior.Deus,quemostrasaospoucos,queseaproximamdoqueéverdadeiro,queomalénada.Deus,porquemtodasascoisassãoperfeitas, aindacomaparteque lhes tocade imperfeição.Deus,por quem se atenua aomáximoqualquer dissonância quando ascoisaspioresseharmonizamcomasmelhores.Deus,aquemamam,conscienteouinconscientemente,todososquepossamamar.Deus,emquemtodasascoisassubsistemeparaquem,contudo,nãoétorpeatorpezadequalquercriatura,aquemnãoprejudicaasuamalícianemafastaoseuerro.Deus,quenãoquisestequeconhecessemaverdadesenãoospuros.Deus,Paidaverdade,Paidasabedoria,paidaverdadeiraesupremavida,Paidafelicidade,Paidoqueébomevelo,Paidaluzinteligível,paidonossodesveloeiluminação,Paidagarantiapelaqualsomosaconselhadosaretornarati.29

Deixando de lado, muito brevemente, o texto de análise,Solilóquios,naperspectivadecompreenderopropósitodeAgostinho,poder-se-ia,talvez,afirmarquearazãoéintegralmentehumana,quandoela se cimenta com a questão da verdade plena e total, quer dizer,comoinfinitoecomomistério.Assimsendo,reconhecereaderiraomistérioéumatoplenamenteracional.“SeohomemfaladeDeuséporqueDeusohabilitouatanto”.30Todosnósnosdebruçamossobreo 28 Cf.GILSON,Étienne.Introduction a l’étude de Saint Augustin. Paris:Vrin,1969,

p. 311.29 AGOSTINHO.Solilóquios, p.15.30 ZILLES,Urbano.Crer e compreender.PortoAlegre:Edipucrs,2004,p.16.

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sentidoouonãosentidodenossaexistência.Esobaluzdesentidooudenãosentido,aperguntaderradeiraéacercadoquepodepreenchermais emelhor nossa existência. “É esse sentimento que dá origemà religião.Areligiãoéabuscaapaixonadadeprofundidadeedeumfundamento último e sólido que dê suporte à nossa existência”.31 Nossos desejos, nossas expectativas jamais se satisfazeme parecemprocuraralgoqueossatisfaçaequesejacomoeles,istoé,infinito.Cadadesejoremeteparaumoutrodesejo,oqualserátambémrelativonãopodendo ser plenamente satisfeito.A abertura à infinidadedodesejohumanosópodeserpreenchidaporalgooualguémquesejaabsoluto.O abismo infinito só pode ser preenchido por um objeto infinito eimutável,querdizer,pelopróprioDeus.Oamorverdadeirodesejaaeternidade.Todaalegriaqueraeternidade,queraprofundezadaeter- nidade.

Odesejodeeternidadeestánasprofundezasdenossocoração.Éodesejodoprovisóriopelaeternidade.Oprovisórioestáemconstantedevirrumoaodefinitivo.“Trata-sedeumabuscaquenãocessaporqueelasempresóalcançaofinito,oinacabado,oimperfeito,que,porsuavez,chama,requerumoutro,seuoutro,eassimsucessivamenteatéoúltimooutropossívelintegradonoabsolutoquenãopodeteropostoequeéDeus”.32Assim,sóoAbsolutopodemarcarosconfinsdaprojetualidadehumanae,aomesmotempo,doaraohomemasforçasparalevá-laatermo.Ouseja:“AexperiênciadeDeus,enquantoexperiênciaúltima,éumaexperiêncianãosópossível,mas tambémnecessáriaparaquetodoserhumanochegueàconsciênciadesuaprópriaidentidade.Oserhumanochegaaserplenamentehumanoquandofazaexperiênciadeseuúltimo‘fundamento’,doquerealmenteé”.33

De volta aos Solilóquios,Agostinho, utilizando-se do métododialético pormeio de perguntas e respostas, tem comopreocupaçãoprincipal a busca de Deus. Desejo conhecer duas coisas, afirmaAgostinho:Deus e a alma.34Deus é oPai da sabedoria.É oPai daverdadeiraesupremavida.ÉoPaidafelicidade.ÉoPaidoqueébelo 31 HAUGHT,John.O que é Deus? Comopensarodivino.SãoPaulo:Paulinas,2004,

p. 24. 32 DEKONINCK,Thomas.Filosofia da educação. Ensaiosobreodevirhumano.SãoPaulo:Paulus:2007,p.240.

33 PANIKAR,Raimon.Ícones do mistério.AexperiênciadeDeus.SãoPaulo:Paulinas,2007, p. 76.

34 Cf.AGOSTINHO.Solilóquios, p. 21.

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edoqueébom.ÉoPaidaluzinteligível.35ParaAgostinho,nãohánadamaiselevadoqueaverdadeeaverdadeéDeus,ciente,entretanto,queconhecerDeusincluiconhecerqueDeusexcedetodososnossospoderesdecompreensão,bemcomotodososnossospoderesdedescrição.36 A alma,porsuavez,éarealidademaispróximaaDeus,37umavezserelaimortal.38Aalmaviveparasempre.Enquantosempiternaenamedidaemquenãohásentidossemaalma,ela(aalma)nãopodesentirsemviver para sempre.39

Logo,poder-se-iaafirmarqueSolilóquios situa-se,porumlado,nomundodossentidos,omundodosobjetosdomundo,e,poroutrolado,situa-senomundodosobjetosdoconhecimentoespiritual,aalma,osobjetosdopensamentológico,abeleza,abondade,averdade,enfim,Deus.40 É impossível compreenderAgostinho sem a pressuposiçãoradical de que a verdadeira filosofia pressupõe um ato de adesão àordemsobrenatural.Nessesentido,segundoGilson,todaaAlegoria da Caverna dePlatão(República,VII)éreinterpretadanosSolilóquios deAgostinho,nosentidodequesoldomundointeligíveliluminaomundosensível.CompararDeusaumsolinteligívelmarcariaadiferençaentreoqueéinteligívelpor sieissoquedevetornar-seinteligívelpelodevir,porqueosol,enquanto luminoso, torna luminosososobjetosqueeleilumina.EmAgostinho,nãohádificuldadededefiniroquepertenceaDeuseoquepertenceao serhumano,umavezquebem longededispensaro intelectohumano,a iluminaçãodivinaosupõe.41“SemacontribuiçãoativadeDeuspelagraça,avidadoserhumano,segundoAgostinho,nãopodeatingiraplenitude”.42EmsetratandodeAgostinho,percebe-se claramente que o caminhopara buscarDeus não é outrosenãoocaminhoparaointeriordesimesmo.

35 Cf.AGOSTINHO.Solilóquios, p. 16.36 Cf.MATTHEWS, Gareth. Knowledge and illumination. In: STUMP, Eleonore;KRETZMANN,Norman(Eds.).The Cambridge Companion to Augustine.Cambridge: CambridgeUniversityPress,2001,p.183.

37 Cf.AGOSTINHO.A vida feliz, p. 121.38 Cf.AGOSTINHO.Solilóquios, p. 5539 Cf.AGOSTINHO.Solilóquios, p. 62.40 FUHRER,Therese.Frühschriften.In:DRECOLL,VolkerHenning(Herausgegeber).

Augustin Handbuch.Tübingen:MohrSiebeck,2007,pp.267-268.41 GILSON,Étienne.Op. cit., p. 106.42 BRACHTENDORF,Johannes.Confissões de Agostinho.SãoPaulo:Loyola,2008,

p. 24.

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MasnossaprincipalrotaparaDeusnãoéatravésdodomíniodoobjeto,mas“em”nósmesmos.IssoaconteceporqueDeusnãoéapenasobjetotranscendente,nemapenasoprincípiodaordemnosobjetosmaispróximos,quenosesforçamosporperceber.Deusétambém,e,paranós,primordialmente,oalicercebásicoeoprincípiosubjacenteànossaatividadecognitiva.Deusnãoéapenasoqueansiamosporver,masoquecapacitaoolhoquevê.Assim,aluzdeDeusnãoestáapenas“láfora”,iluminandoaordemdoser,comoestáparaPlatão;étambémumaluz“interior”.Éaluz“queiluminatodohomemquevemaomundo”(Jo1,9).Éaluzdaalma.43

Àluzdareflexãoacima,crê-seteraprestadoargumentossuficientesparafundamentaratesedequeotextodeAgostinho,Solilóquios,nãoobstante inconcluso, constitui-se num gênero literário, em primeirolugar,porqueficasuficientementeclaroqueaobradesenvolve-senumatoreflexivodefalarconsigomesmo.Esteatonãoseconstitui,porém,nummonólogointeriordeumeufechadoemsuaidentidadesolipsística,umavezqueAgostinhoarticulaseuspensamentosdeformacoerentena busca da verdade, sendo amesma encontrada em nenhum outrolugarsenãonointeriordecadaum,porque,noeumaisíntimodecadaum,encontra-sea fontedaverdade,umavezquenohomeminteriormoraaverdade.IssodemonstraqueapreocupaçãodeAgostinhonãoera apenasmostrar queDeus se encontrava nomundo,mas tambémnosfundamentosprópriosdaspessoas.“Deusdeveserencontradonaintimidadedapresençadaprópriapessoadiantedesimesma”.44

Em segundo lugar, pode-se afirmar serSolilóquios umdiálogoemquea razão fazopapel tantode instrutora comodediscípula.Areflexãoagostinianaéfrutodasimplicidadedequemsecolocahumildee incondicionalmente à busca da verdade, que éDeus.Averdadeirasabedoriaseaencontracommuitahumildade.45Oerrodainteligênciaestá ligadoàcorrupçãodocoraçãopeloorgulhoeautossuficiência.46 ParaAgostinho,ohomemé,portanto,umseritinerantequerumaparaDeusetantomaissábioeleseráquantomaisderlugaràfé,superandopaulatinaeprogressivamentetudoquantopossaafastá-lodeseusermaisíntimoe,consequentemente,deDeus.Numapalavra,indoparadentro,soulevadoparacima.

43 TAYLOR,Charles.Op. cit., p. 172.44 Ibidem, p. 178.45 Cf.AGOSTINHO.Confissões,I,II,17.46 Cf.GILSON,Étienne.Op. cit.,p.299.

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Porfim,emterceirolugar,Solilóquios nãoéummergulhodoEunaprópriaessênciadoseremseusubjetivismoabstrato,masabuscadoTuque coabita essamesma interioridade, ou seja, constitui-senabuscadoOutro de si, que, emúltimaanálise,nãoé senãoopróprioDeus.NaspalavrasdeAgostinho,nomaisíntimodohomemestáoseuMestreinterior,sendo-lhepossíveltalvisãopeloolhardaalma,queéarazãocorretaeperfeita,acrescidadestastrêscoisasdafé,esperançaecaridade.47Emoutraspalavras,nabase, istoé,naraizdamemóriaestáDeus.A alma lembra-se, por conseguinte, deDeus, oOutro de si.48Nessesentido,ocaminhopara“dentro”desiéocaminhoparaum“acima”desi,istoé,ocaminhoparaDeus.Ele,Deus,naverdade,estámaispróximodesiqueosimesmo,apesardeestarinfinitamenteacimadesimesmo.“Vós,porém,éreismaisíntimoqueomeupróprioíntimoemaissublimequeoápicedomeuser!”49

Referências

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47 Cf.AGOSTINHO.Solilóquios, p. 3148 Cf.AGOSTINHO.A Trindade,XIV,XV,21.SãoPaulo:Paulus,1994.49 AGOSTINHO,Confissões,III,VI,11.

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Recebidoem:12/04/2011.Avaliadoem:28/04/2011.