13
SIC CLÍNICA CIRÚRGICA CIRURGIA PEDIÁTRICA

A C TRI Á I PED SIC IRURGIA - s3.sa-east … · Um homem de 22 anos, vítima de queda de moto em ro- dovia há 30 minutos, com trauma de crânio evidente, tra- zido pelo SAMU, chega

  • Upload
    vonhu

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

SICCL

ÍNIC

A CI

RÚRG

ICA

CIRU

RGIA

PED

IÁTR

ICA

Autoria e colaboração

CIRURGIA PEDIÁTRICAAndré Ribeiro MorroneGraduado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Especialista em Cirurgia Geral pelo HC-FMUSP e pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões e em Cirurgia Pediátrica pelo Instituto da Criança do HC-FMUSP e pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Pediátrica. Ex-preceptor do Serviço de Cirurgia Pediátrica do Instituto da Criança do HC-FMUSP. Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da USP.

Alexandre Kazantzi Fonseca RibeiroGraduado em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Especialista em Cirurgia Geral e em Cirurgia Pediátrica pelo Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) e em Cirurgia Torácica pela UNIFESP.

Marco Aurélio Ciriaco PadilhaGraduado pela Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA). Cirurgião Geral pelo Hospital Municipal Dr. Mário Gatti. Residente em Cirurgia Pediátrica e mestrando pelo programa de Mestrado Profissional Associado à Residência Médica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

Elaine Cristina Soares Martins-MouraGraduada pela Faculdade de Medicina do ABC (FMABC). Título de especialista em Cirurgia Pediátrica pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pela Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica (CIPE). Doutora em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Cirurgia e Experimentação da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Membro da CIPE e da Associação Paulista de Cirurgia Pediátrica (CIPESP), de cuja diretoria também faz parte. Médica da disciplina de Cirurgia Pediátrica da UNIFESP.

Antonio Paulo DuranteGraduado pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos (FCMS). Residência em Cirurgia Geral e em Cirurgia Pediátrica e mestre em Gastroenterologia Cirúrgica pelo Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE-SP). Doutor em Experimentação Cirúrgica e Cirurgia Pediátrica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Título de especialista em Cirurgia Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Pediátrica e em Videocirurgia pela Sociedade Brasileira de Videocirurgia (SOBRACIL). Assistente do Serviço de Cirurgia Pediátrica do HSPE-SP e do Hospital Municipal Infantil Menino Jesus.

Assessoria didáticaJoão Ricardo Tognini

Atualização 2017Antonio Paulo Durante

Apresentação

Os desafios da Medicina a serem vencidos por quem se decide pela área são tantos e tão diversos que é impossível tanto determiná-los quanto mensurá-los. O período de aulas práticas e de horas em plantões de vários blocos é apenas um dos antecedentes do que o estudante virá a enfrentar em pouco tempo, como a maratona da escolha por uma especialização e do ingresso em um programa de Residência Médica reconhecido, o que exigirá dele um preparo intenso, minucioso e objetivo.

Trata-se do contexto em que foi pensada e desenvolvida a Coleção SIC Principais Temas para Provas, cujo material didático, preparado por profis-sionais das mais diversas especialidades médicas, traz capítulos com inte-rações como vídeos e dicas sobre quadros clínicos, diagnósticos, tratamen-tos, temas frequentes em provas e outros destaques. As questões ao final, todas comen tadas, proporcionam a interpretação mais segura possível de cada resposta e reforçam o ideal de oferecer ao candidato uma preparação completa.

Um excelente estudo!

Índice

CIRURGIA PEDIÁTRICA

Capítulo 1 - Cirurgia Pediátrica Geral .........1011. Sistema respiratório .............................................. 1022. Sistema cardiovascular ........................................ 1023. Sistema nervoso central ...................................... 1024. Homeostase térmica ............................................ 1025. Hematologia e coagulação .................................. 1036. Água e eletrólitos .................................................. 1037. Necessidades hidroeletrolíticas e

nutricionais ..............................................................1048. Sistema imunológico ............................................1049. Anestesia pediátrica .............................................104Resumo .......................................................................... 107

Questões:Organizamos, por capítulo, questões de instituições de todo o Brasil.

Anote:O quadrinho ajuda na lembrança futura sobre o domínio do assunto e a possível necessidade de retorno ao tema.

QuestõesCirurgia do Trauma

Atendimento inicial ao politraumatizado

2015 - FMUSP-RP1. Um homem de 22 anos, vítima de queda de moto em ro-dovia há 30 minutos, com trauma de crânio evidente, tra-zido pelo SAMU, chega à sala de trauma de um hospitalterciário com intubação traqueal pelo rebaixamento donível de consciência. A equipe de atendimento pré-hos-pitalar informou que o paciente apresentava sinais dechoque hipovolêmico e infundiu 1L de solução cristaloideaté a chegada ao hospital. Exame físico: SatO2 = 95%, FC =140bpm, PA = 80x60mmHg e ECG = 3. Exames de imagem:raio x de tórax e bacia sem alterações. A ultrassonografiaFAST revela grande quantidade de líquido abdominal. Amelhor forma de tratar o choque desse paciente é:a) infundir mais 1L de cristaloide, realizar hipotensãopermissiva, iniciar transfusão de papa de hemácias e en-caminhar para laparotomiab) infundir mais 3L de cristaloide, aguardar exames labo-ratoriais para iniciar transfusão de papa de hemácias eencaminhar para laparotomiac) infundir mais 3L de cristaloide, realizar hipotensãopermissiva, iniciar transfusão de papa de hemácias eplasma fresco congelado e encaminhar para laparotomiad) infundir mais 1L de cristaloide, iniciar transfusão depapa de hemácias e plasma fresco congelado e encami-nhar o paciente para laparotomia

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei dificuldade para responder

2015 - SES-RJ2. Para avaliar inicialmente um paciente com traumatis-mo cranioencefálico, um residente utilizou a escala deGlasgow, que leva em conta:a) resposta verbal, reflexo cutâneo-plantar e respostamotorab) reflexos pupilares, resposta verbal e reflexos profundosc) abertura ocular, reflexos pupilares e reflexos profundosd) abertura ocular, resposta verbal e resposta motora

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei dificuldade para responder

2015 - UFES3. A 1ª conduta a ser tomada em um paciente politrau-matizado inconsciente é:

a) verificar as pupilasb) verificar a pressão arterialc) puncionar veia calibrosad) assegurar boa via aéreae) realizar traqueostomia

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei dificuldade para responder

2015 - UFG4. Um homem de 56 anos é internado no serviço deemergência após sofrer queda de uma escada. Ele estáinconsciente, apresenta fluido sanguinolento não coa-gulado no canal auditivo direito, além de retração emovimentos inespecíficos aos estímulos dolorosos, estácom os olhos fechados, abrindo-os em resposta à dor, eproduz sons ininteligíveis. As pupilas estão isocóricase fotorreagentes. Sua pontuação na escala de coma deGlasgow é:a) 6b) 7c) 8d) 9

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei dificuldade para responder

2015 - UFCG5. Um homem de 20 anos foi retirado do carro em cha-mas. Apresenta queimaduras de 3º grau no tórax e emtoda a face. A 1ª medida a ser tomada pelo profissionalde saúde que o atende deve ser:a) aplicar morfinab) promover uma boa hidrataçãoc) perguntar o nomed) lavar a facee) colocar colar cervical

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei dificuldade para responder

2014 - HSPE6. Um pediatra está de plantão no SAMU e é acionadopara o atendimento de um acidente automobilístico.Ao chegar ao local do acidente, encontra uma criançade 5 anos próxima a uma bicicleta, sem capacete, dei-tada no asfalto e com ferimento cortocontuso extensono crânio, após choque frontal com um carro. A criançaestá com respiração irregular e ECG (Escala de Coma deGlasgow) de 7. O pediatra decide estabilizar a via aérea

Ciru

rgia

do

Trau

ma

Ques

tões

Comentários:Além do gabarito o�cial divulgado pela instituição, nosso

corpo docente comenta cada questão. Não hesite em retornar ao conteúdo caso se sinta inseguro. Pelo

contrário: se achá-lo relevante, leia atentamente o capítulo e reforce o entendimento nas dicas e nos ícones.

ComentáriosCirurgia do Trauma

Atendimento inicial ao politraumatizado

Questão 1. Trata-se de paciente politraumatizado, ins-tável hemodinamicamente, com evidência de hemope-ritônio pelo FAST. Tem indicação de laparotomia explo-radora, sendo que a expansão hemodinâmica pode serotimizada enquanto segue para o centro cirúrgico.Gabarito = D

Questão 2. A escala de coma de Glasgow leva em con-ta a melhor resposta do paciente diante da avaliação daresposta ocular, verbal e motora. Ainda que a avaliaçãodo reflexo pupilar seja preconizada na avaliação inicial dopolitraumatizado, ela não faz parte da escala de Glasgow.Gabarito = D

Questão 3. A 1ª conduta no politraumatizado com rebai-xamento do nível de consciência é garantir uma via aéreadefinitiva, mantendo a proteção da coluna cervical.Gabarito = D

Questão 4. A pontuação pela escala de coma de Glasgowestá resumida a seguir:

Abertura ocular (O)

Espontânea 4

Ao estímulo verbal 3

Ao estímulo doloroso 2

Sem resposta 1

Melhor resposta verbal (V)

Orientado 5

Confuso 4

Palavras inapropriadas 3

Sons incompreensíveis 2

Sem resposta 1

Melhor resposta motora (M)

Obediência a comandos 6

Localização da dor 5

Flexão normal (retirada) 4

Flexão anormal (decor-ticação) 3

Extensão (descerebração) 2

Sem resposta (flacidez) 1

Logo, o paciente apresenta ocular 2 + verbal 2 + motor 4 = 8.Gabarito = C

Questão 5. O paciente tem grande risco de lesão térmicade vias aéreas. A avaliação da perviedade, perguntando-se o nome, por exemplo, é a 1ª medida a ser tomada. Emcaso de qualquer evidência de lesão, a intubação orotra-queal deve ser precoce.Gabarito = C

Questão 6. O tiopental é uma opção interessante, pois éum tiobarbitúrico de ação ultracurta. Deprime o sistemanervoso central e leva a hipnose, mas não a analgesia. Éusado para proteção cerebral, pois diminui o fluxo sanguí-neo cerebral, o ritmo metabólico cerebral e a pressão in-tracraniana, o que é benéfico para o paciente nesse caso.Gabarito = A

Questão 7. Seguindo as condutas preconizadas peloATLS®, a melhor sequência seria:A: via aérea definitiva com intubação orotraqueal, man-tendo proteção à coluna cervical.B: suporte de O2 e raio x de tórax na sala de emergência.C: garantir 2 acessos venosos periféricos, continuar ainfusão de cristaloides aquecidos e solicitar hemoderi-vados. FAST ou lavado peritoneal caso o raio x de tóraxesteja normal.D: garantir via aérea adequada e manter a oxigenação ea pressão arterial.E: manter o paciente aquecido.Logo, a melhor alternativa é a “c”.Gabarito = C

Questão 8. O chamado damage control resuscitation, que deve ser incorporado na próxima atualização do ATLS®,está descrito na alternativa “a”. Consiste na contençãoprecoce do sangramento, em uma reposição menosagressiva de cristaloide, mantendo certo grau de hipo-tensão (desde que não haja trauma cranioencefálico as-sociado), e no uso de medicações como o ácido tranexâ-mico ou o aminocaproico.Gabarito = A

Questão 9. O tratamento inicial de todo paciente poli-traumatizado deve sempre seguir a ordem de priorida-des proposta pelo ATLS®. A 1ª medida deve ser sempregarantir uma via aérea pérvia com proteção da colunacervical. Nesse caso, a fratura de face provavelmente in-viabiliza uma via aérea não cirúrgica, e o paciente é can-didato a cricotireoidostomia. Após essa medida, e garan-

Ciru

rgia

do

Trau

ma

Com

entá

rios

Capítulo 2 - Gastrocirurgia Pediátrica ....... 1091.. inais e sintomas de alerta ..................................1102.. tresia de esôfago ...................................................1113. esão aguda esofagogástrica causada por

agente químico ......................................................... 1144.. oença do refluxo gastroesofágico ................. 1155. Enterocolite necrosante ....................................... 1166.. stenose hipertrófica do piloro ......................... 1187.. tresias e obstruções duodenais ...................... 1208.. á rotação intestinal .......................................... 1209.. tresia intestinal ..................................................... 12110.. Í eo meconial ..........................................................12311. oença de Hirschsprung (megacólon

congênito) ..................................................................123

12.. nomalia anorretal .............................................12513.. nvaginação intestinal (intussuscepção) ........12614. Apendicite aguda ................................................. 12815. Peritonite meconial ..............................................12916. Divertículo de Meckel ......................................... 13017.. tresia de vias biliares ........................................ 13018.. ilatação congênita das vias biliares ..............13219. Hérnia inguinal .......................................................13320.. érnia umbilical ................................................... 134

21. Hidrocele comunicante....................................... 13422.. istopias testiculares ..........................................13523. Escroto agudo........................................................136

24.. érnia diafragmática de Bochdalek ...............13725.. érnia diafragmática de Morgagni .................13926. Onfalocele ..............................................................13927. Gastrosquise ..........................................................140Resumo .......................................................................... 142

Capítulo 3 - Cirurgia Torácica Pediátrica ...1471. Introdução ................................................................ 1482. Enfisema lobar congênito ................................... 1483. Sequestro pulmonar ............................................. 1504. Malformação adenomatoide cística ................. 1515. Cisto broncogênico .................................................1536. Empiema pleural .....................................................1537. Lesões mediastinais ...............................................155Resumo ...........................................................................156

Capítulo 4 - Oncologia Pediátrica ................1571. Introdução ................................................................ 1582. Tumores de suprarrenal .......................................1593. Tumores renais ........................................................1624. Polipose adenomatosa familiar .........................1655. Linfoma de Hodgkin .............................................. 1666. Linfoma não Hodgkin de abdome .....................1677. Rabdomiossarcomas e sarcomas de

partes moles .............................................................1698. Tumores hepáticos ................................................ 1709. Tumores testiculares ............................................. 17110. Tumores ovarianos ...............................................17211. Teratoma sacrococcígeo ......................................17312. Retinoblastoma .....................................................174Resumo ...........................................................................175

Capítulo 5 - Outras malformações ..............1771. Linfadenopatia cervical .........................................1782. Torcicolo congênito ................................................1793. Cisto tireoglosso ..................................................... 1804. Vestígios branquiais...............................................1815. Higroma cístico ....................................................... 181Resumo .......................................................................... 182

SIC

CLÍN

ICA

CIRÚ

RGIC

A

CIRU

RGIA

PED

IÁTR

ICA

Gastrocirurgia Pediátrica

André Ribeiro MorroneElaine Cristina Soares Martins-MouraAntonio Paulo Durante

Neste capítulo, serão abordadas as principais afecções gastrintestinais, urológicas e de parede abdominal na infância. Essas situações são as mais comuns na prática clínica diária e as mais cobradas nas provas de Resi-dência Médica quando tratamos do assunto Cirurgia Pediátrica. Como a epidemiologia dessas situações cos-tuma ser bem definida, o candidato habituado com elas dificilmente terá problemas em resolver essas questões. Atenção especial deverá ser dada a patologias importan-tes como atresia de esôfago, enterocolite necrosante, estenose hipertrófica do piloro, atresias e obstru-ções duodenais ou intestinais, doença de Hirschsprung (megacólon congênito), ânus imperfurado, invaginação intestinal, divertículo de Meckel, atresia de vias biliares, hérnias inguinais ou umbilicais, distopias testiculares, escroto agudo, onfalocele, gastrosquise, doença do refluxo gastroesofágico, entre outras que são menos prevalentes, mas que podem aparecer como diagnós-tico diferencial.

2

sic cirurgia pediátrica110

1. Sinais e sintomas de alerta

Tabela 1 - Sinais de alarme

Sinais de alarme na sala de parto

Polidrâmnio >2.000mL- Obstruções digestivas altas;

- Anencefalia;

- Morte fetal intraútero;

Oligoâmnio <600mL- Obstruções urinárias;

- Agenesia renal.

Artéria umbilical única- Malformações do aparelho digestivo;

- Malformações do aparelho geniturinário.

Posição e calibre do ânus Anomalia anorretal

Exames orificiais

- Atresia de cóana;

- Atresia de esôfago;

- Resíduo gástrico;

- Permeabilidade anorretal.

Insuficiência respiratória aguda

- Hérnia diafragmática;

- Síndrome de Pierre-Robin.

Distensão abdominal- Ascite;

- Massa abdominal.

Sinais de alarme no berçário

Dispneia e cianose

- Hérnia diafragmática;

- Elevação diafragmática;

- Pneumotórax e pneumomediastino;

- Malformações congênitas pulmonares.

Salivação excessiva aerada Atresia de esôfago

Vômitos e distensão abdo-minal

- Síndrome obstrutiva – total ou parcial;

- Síndrome perfurativa;

- Síndrome hemorrágica;

- Síndrome inflamatória.

Sinais de alarme após a alta

Dispneia e cianose- Hérnia de Morgagni;

- Elevação diafragmática.

Regurgitação Refluxo gastroesofágico

Vômitos claros “em jato” Estenose hipertrófica do piloro

Vômitos biliosos- Má rotação intestinal;

- Pâncreas anular;

- Megacólon congênito.

Fezes “em geleia de morango” Invaginação intestinal

Icterícia- Atresia de vias biliares;

- Cisto de colédoco;

- Hepatite neonatal.

Cirurgia Torácica Pediátrica

André Ribeiro MorroneElaine Cristina Soares Martins-MouraAntonio Paulo Durante

Neste capítulo, serão abordadas as principais patolo-gias cirúrgicas do tórax na população pediátrica. Pela alta frequência de broncopneumonia nessa faixa etá-ria, o diagnóstico diferencial com outras patologias, bem como o tratamento das complicações, é um tema importante a ser estudado. No entanto, no universo da Pediatria, esse é um dos temas raramente cobrados em concursos médicos. Nas malformações congênitas pulmonares, veremos o enfisema lobar congênito, a mal-formação adenomatoide cística, o sequestro pulmonar e o cisto broncogênico. Falaremos, ainda, do empiema pleural, ou o acúmulo de pus normalmente associado a pneumonia bacteriana e das massas mediastinais classi-ficadas de acordo com a localização anatômica (anterior, médio e posterior).

3

sic cirurgia pediátrica148

1. Introdução

Figura 1 - Patologias torácicas

2. Enfisema lobar congênito O enfisema lobar congênito é uma malformação causada pela hiperin-suflação de 1 ou mais lobos pulmonares de pulmão histologicamente normal. Acomete mais o sexo masculino (2:1) e 10 a 15% está associado à cardiopatia congênita.

- Causas - Obstrução brônquica parcial, doença alveolar ou ambas: o ar é resul-tante de um mecanismo valvular; - Alveolares: ocorre crescimento desordenado de alvéolos nos bron-quíolos, de forma que cada ácino tem número excessivo de alvéolos. Ao invés de 5 ou 6, tem de 11 a 13, por isso a doença é frequentemente chamada de polialveolose. Acomete, preferencialmente, os lobos su-periores (predominando o esquerdo) e, com menos frequência, o lobo médio; é raro o acometimento dos lobos inferiores.

O quadro clínico é dependente da expansão enfisematosa do lobo.

Quadro clínicoO quadro clínico do enfisema lobar congênito compreende:

disfunção respiratória do recém-nascido (50%); desconforto respiratório

discreto e progressivo, até por volta dos 6 meses, piorado por choro, agitação e alimentação;

infecção respiratória recor-rente, persistente, retardo de

crescimento e sibilância.

Suspeita-se do diagnóstico na ultrassonografia pré-natal, que eviden-cia lobo pulmonar aumentado e repleto de líquido, além do desvio de mediastino.

DiagnósticoA radiografia de tórax em posição anteroposterior e

lateral confirma o diagnóstico pós-natal do enfisema lobar

congênito, evidenciando imagem de radiotransparên-cia aumentada no hemitórax

acometido, com fina trama broncoalveolar.

- Nos casos em que persiste dúvida, podem ser necessárias ressonân-cia ou tomografia com contraste, evidenciando a assimetria; - A conduta é cirúrgica e recomendada o mais precocemente possível aos sintomáticos, para possibilitar o crescimento de pulmão normal

SIC

QUE

STÕ

ES E

CO

MEN

TÁRI

OS

CIRU

RGIA

PED

IÁTR

ICA

QUESTÕES

CIRURGIA PEDIÁTRICA

Cap. 1 - Cirurgia Pediátrica Geral ............................... 205

Cap. 2 - Gastrocirurgia Pediátrica ............................. 205

Cap. 3 - Cirurgia Torácica Pediátrica ..........................219

Cap. 4 - Oncologia Pediátrica ......................................220

Cap. 5 - Outras malformações .................................... 222

Outros temas .................................................................... 223

COMENTÁRIOS

CIRURGIA PEDIÁTRICA

Cap. 1 - Cirurgia Pediátrica Geral ............................... 239

Cap. 2 - Gastrocirurgia Pediátrica .............................240

Cap. 3 - Cirurgia Torácica Pediátrica .........................264

Cap. 4 - Oncologia Pediátrica ......................................264

Cap. 5 - Outras malformações .................................... 269

Outros temas .....................................................................271

Índice

Ciru

rgia

Ped

iátr

ica Q

uest

õesQuestões

Cirurgia Pediátrica

Cirurgia Pediátrica Geral

2016 - UFES101. Na hérnia inguinal, é correto afi rmar que:a) na faixa etária pediátrica, a correção cirúrgica da hér-

nia inguinal deve ser realizada após os 10 anos, pois geralmente se resolve espontaneamente

b) raramente as hérnias encarceradas ocorrem no 1º ano de vida

c) a atrofi a testicular não está associada à complicação de hérnia inguinal após encarceramento em lacten-tes, pois tem sido relatada apenas em crianças maio-res de 2 anos

d) a presença de hérnia inguinal, na faixa etária pediá-trica, constitui indicação para correção cirúrgica, pois essa hérnia não se resolve espontaneamente

e) a incidência de hérnia inguinal indireta congênita é mais comum em meninas e em recém-nascidos a termo

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei difi culdade para responder

2014 - SES-RJ102. Em um bebê de 6 meses foi verifi cada tumefação na região inguinal esquerda, sugestiva de hérnia. A condu-ta correta nesse caso é:a) cirurgia eletiva precoceb) controle ultrassonográfi coc) cirurgia após o 1º anod) ultrassonografi a e cirurgia de acordo com sintomas

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei difi culdade para responder

2014 - UNIRIO 103. Do nascimento à adolescência, importantes mu-danças na Água Corpórea Total (ACT) e nos espaços in-tracelular (EIC) e extracelular (EEC) irão determinar as condutas relativas aos estados hídricos patológicos. Nessa evolução, ocorre: a) elevação de ACT, EEC e EIC b) redução de ACT e EEC e elevação de EIC c) redução de ACT, EEC e EIC d) elevação de ACT e EEC e diminuição de EIC e) redução de ACT e EIC e elevação de EEC

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei difi culdade para responder

2014 - SES-SC 104. No caso de haver impossibilidade de acesso vascu-lar para ressuscitação volumétrica na infância, o local preferencial para a punção intraóssea é:a) esterno (terço médio)b) crista ilíacac) fêmur (porção distal)d) tíbia (porção distal)e) rádio (porção proximal)

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei difi culdade para responder

2013 - UFPR105. Qual é a necessidade básica de água a uma criança com 10kg de peso em repouso? a) 10mL/hb) 20mL/h c) 30mL/hd) 40mL/h e) 50mL/h

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei difi culdade para responder

Gastrocirurgia Pediátrica

2016 - FMUSP-RP106. Um menino de 4 dias de vida apresenta vômitos amarelo-esverdeados, desde as primeiras horas de vida, em grande quantidade, associados a distensão localizada no epigástrico e hipocôndrio esquerdo, com movimentos peristálticos de cima para baixo e da es-querda para a direita. Ele ainda não eliminou mecônio.

ComentáriosCirurgia Pediátrica

Cirurgia Pediátrica Geral

Questão 101. Analisando as alternativas incorretas:a) A cirurgia está indicada de modo eletivo no momentodo diagnóstico, pois não se resolvem espontaneamente.b) A apresentação clínica inicial se dá abaulamento naregião inguinal observada pelos pais. A idade de apareci-mento varia, mas é mais frequente nos primeiros mesesde vida. O encarceramento é de 10% e mais comum no 1ºsemestre de vida.c) A hérnia inguinal encarcerada pode provocar com-pressão da vascularização testicular, sendo que a atrofi a testicular é considerada uma complicação da hérnia in-guinal encarcerada em lactentes.e) Na criança, 90% das hérnias inguinais são ocasionadas pela persistência do conduto peritoneovaginal, hérniaindireta (tipo 1 de Nyhus). Têm incidência de 0,8 a 4% norecém-nascido a termo, mas de até 30% no recém-nasci-do prematuro. Predominam no sexo masculino (6:1) e nolado direito (60%) e podem ser bilaterais em 10%.Gabarito = D

Questão 102. Analisando as alternativas:a) Correta. A hérnia inguinal na criança ocorre por per-sistência do conduto peritoneovaginal (Nyhus I). A cirur-gia tem indicação no momento do diagnóstico, de modoeletivo.b) Incorreta. O diagnóstico da hérnia inguinal na crian-ça é clínico, sendo o 1º sinal a tumefação observada na região inguinal, no lado afetado. A ultrassonografi a é re-servada para as dúvidas diagnósticas.c) Incorreta. Como citado anteriormente, a indicação ci-rúrgica é realizada no momento do diagnóstico. A hérnia inguinal na criança não apresenta regressão espontâ-nea. O encarceramento herniário pode ocorrer em 10% dos casos. A afecção que pode apresentar regressão é a hidrocele não comunicante.d) Incorreta. Realizado o diagnóstico, a cirurgia está indi-cada independentemente dos sintomas.Gabarito = A

Questão 103. O recém-nascido apresenta 78% de água corpórea total, 45% no espaço extracelular e 34% no in-tracelular. A criança apresenta 60% de água corpórea

total, 27% no espaço extracelular e 35% no intracelular. O adulto apresenta 58% de água corpórea total, 17% no espaço extracelular e 40% no intracelular. Portanto, do nascimento à adolescência, ocorrem redução da água corpórea total e do espaço extracelular e elevação do espaço intracelular.Gabarito = B

Questão 104. Analisando as alternativas:a) e b) Incorretas. São locais pouco utilizados na infância.c) Correta. A extremidade distal é utilizada como 2ª op-ção, após a porção proximal da tíbia.d) Incorreta. A porção distal da tíbia tem sido mais utili-zada para adultos. A tíbia proximal é geralmente aceitacomo o principal sítio de implantação de linha intraóssea na infância. A vantagem deste sítio é a estabilidade, rela-tiva segurança e um local de fácil penetração.e) Incorreta. É um local pouco utilizado na infância.Gabarito = C

Questão 105. A necessidade hídrica no repouso baseia--se na necessidade calórica da criança, e 100mL de águasão necessários para queimar 100 calorias. O cálculo danecessidade calórica baseia-se na fórmula de Hollidaye Segar, em que a necessidade calórica é calculada pelopeso da seguinte maneira:

Até 10kg 100 calorias/kg/d

10 a 20kg (1.000 calorias + 50 calorias/kg acima de 10kg)/d

Acima de 20kg (1.500 calorias + 20 calorias/kg acima de 20kg)/d

Ou, de forma simplifi cada:

Até 10kg 4mL/kg/h

De 10 a 20kg (40mL + 2mL)/kg/h

Acima de 20kg (60mL + 1mL)/kg/h

No caso apresentado, pela fórmula de Holliday e Segar:10kg x 100 calorias → 1.000 calorias/24h → 1.000mL/24h → 41,67mL/hE, pela fórmula simplifi cada:10kg x 4mL → 40mLPortanto, a alternativa correta é a “d”.Gabarito = D

Ciru

rgia

Ped

iátr

ica C

omen

tário

s