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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS A CENTRALIDADE DO PROBLEMA DO NÃO-SER NO SOFISTA DE PLATÃO. Leonardo Bento Oliveira Leite Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Lógica e Metafísica, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Filosofia. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria das Graças de Moraes Augusto. Rio de Janeiro 2015

A CENTRALIDADE DO PROBLEMA DO NÃO-SER NO · PDF file1 universidade federal do rio de janeiro instituto de filosofia e ciÊncias sociais a centralidade do problema do nÃo-ser no sofista

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  • 1

    UNI VE RSI D ADE FE DE R AL DO RI O D E J ANE I R O

    I NST I T UT O DE FI LOSO FI A E CI NC I AS SO CI AI S

    A CE NT R ALI D ADE D O PRO B LE M A DO N O- SE R NO S OFI STA DE

    PL AT O.

    Leo nar do Be nt o O live ir a Le it e

    D is se r t a o ap r e se nt ad a ao P r o gr a ma de

    P s- g r adua o e m L g ic a e M et a f s ic a ,

    da U n iver s ida de Feder a l do R io de

    Ja ne ir o , co mo par t e do s r equ is it o s

    nec es s r io s o bt e n o do g r au de

    Me st r e e m F i lo so f ia .

    Or ie nt ado r a : P r o f. Dr . M ar ia d as

    Gr a as d e Mo r ae s Aug us t o .

    R io de Ja ne ir o

    2015

  • 2

    A Cent ra l idad e do P rob le m a do No - se r n o Sof i s ta de P la t o .

    Leon a rdo B ent o O li ve i ra L e i t e

    DISSERTAO SUBMETIDA AO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LGICA E

    METAFSICA (PPGLM) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, COMO

    PARTE DOS REQUISITOS NECESSRIOS OBTENO DO TTULO DE MESTRE

    EM FILOSOFIA.

    Examinada por:

    P r o f. Dr . M ar ia da s Gr aa s d e Mo r ae s Aug us t o

    ( Or ie nt ado r a U FR J)

    P r o f. Dr . Carolina de Melo Bomfim Arajo

    (UFRJ)

    P r o f. Dr . Lu is a Se ver o Buar qu e de H o l la nd a

    ( PUC- R J)

  • 3

    RESUM O

    E st e t r aba lho v is a a a na l is a r o So f i s ta de P la t o e sua p lu r a l id ad e

    de t e ma s med ia nt e o uso de c ha ve in t e r p r e t a t iva e x is t e nt e no p r pr io

    d i lo go : o co nce it o de no - se r se gu ndo r e fo r mu lado pe la vo z o

    E s t r ang e ir o de E l ia . Su po mo s qu e s e me lha nt e apar a t o t e r ico p r o mo ve

    co nd i e s n ic a s int e r p r e t ao de p r o b le ma s co mo o Mto do de

    D iv is o e o s G ner o s M a io r es . Ma is d o que u m ca minho int e r p r e t a t ivo ,

    sug er imo s o co nce it o de no - s e r co mo e le me nt o a r t icu la do r de qu es t es

    apar e nt e me nt e d s par es , a t ua ndo co mo e ixo o r ga n ic ida de d a o br a .

    PA LAV RAS - C HAV E : So f i s t a ; no - se r ; D iv is o ; G ner o s ; P la t o .

  • 4

    AB STRA CT

    T his wo r k a ims t o ana lyz e P la t o s Soph i s t a nd it s p lu r a l it y o f

    t he me s b y u s ing a n int e r p r e t a t ive k e y e x is t e nt in t he ve r y d ia lo gu e : t he

    co nc ep t o f no t - be ing a s r e fo r mu la t e d by t he S t r a nger o f E le a . We

    as su me s uc h t heo r e t ic a l de v ic e p r o mo tes u n iqu e co nd it io ns t o int e r p r e t

    p r o b le ms a s t he Met ho d o f D iv is io n a nd t he Gr e a t e r K ind s . Mo r e t ha n

    a n int e r p r e t a t ive pa t h, we sug ge s t t he co ncep t o f no t - be ing t o be a n

    e le me nt o f jo int be t wee n ap par e nt ly d is t inc t mat t e r s , a c t ing a s a n a x i s

    fo r t he wo r k s o r ga n ic co ns t it u t io n.

    K EYWORDS : So p h is t ; no t - be ing ; D iv i s io n ; K ind s ; P la t o .

  • 5

    SUMRI O

    1-INTRODUO........8

    2-O CONCEITO DE NO-SER........14

    2.1-Integridade do conceito

    2.2-Uso e meno

    2.3-No-ser e negao

    2.4-Negao e Alteridade

    2.5-Alteridade e ser

    2.6-No-ser e Alteridade

    3-AUTONOMIA E UNIDADE........28

    3.1-Autonomia do Sofista enquanto dilogo

    3.2-Elenco das partes, dos temas e recursos constantes do Sofista

    3.2.1-A tripartio

    3.2.2-Os temas

    3.3-A sequncia Teeteto-Sofista

    3.4-Dilogos Eleticos

    3.5-Abertura do dilogo como introduo temtica e programtica

    3.6-Caracterizao filosfica do Estrangeiro

  • 6

    4-MTODO DE DIVISO........50

    4.1-Apresentao do tema

    4.2-Mtodo de Diviso e suas etapas

    4.2.1-1 etapa eleio do gnero inicial

    4.2.2-2 etapa separao em espcies

    4.3.-Outros aspectos estruturais do Mtodo de Diviso

    4.3.1-Proporcionalidade da ciso e a impropriedade de espcies

    negativas

    4.3.2-Diviso por ; diviso por

    4.3.3-O carter intuitivo do Mtodo de Diviso

    4.3.4-O carter dialtico do Mtodo de Diviso

    4.3.5-Dimenso sinptica da dialtica

    4.4-Mtodo de Diviso como mecanismo de taxonomia

    4.4.1-Dificuldades interpretativas do Mtodo de Diviso luz de uma

    leitura taxonmica

    4.4.1.1-Eleio de um gnero inicial e a noo prvia do objeto buscado

    4.4.1.2-Concorrncia de espcies

    4.4.2-Objeto do Mtodo de Diviso no Sofista

    4.5-Possveis objees leitura taxonmica do Mtodo de Diviso

    4.5.1-Incompatibilidade formal entre espcies

  • 7

    4.5.2-Pr-concepo de sofista e petio de princpio

    4.5.3-Dizer o que algo verdadeiramente definir

    4.6-Centralidade do conceito de no-ser na estruturao de uma leitura

    taxonmica do Mtodo de Diviso

    5-GNEROS MAIORES........72

    5.1-O no-ser de Parmnides e os limites do apreensvel.

    5.2-No-ser relacional e vnculo horizontal (Forma a Forma)

    5.3-Mistura de Formas e formao de compostos

    5.4-Autonomia das Formas pela incidncia da Alteridade

    5.5-Insuficincia da Alteridade: segundo Gnero pervasivo

    5.6-Consideraes sobre o estatuto ontolgico dos Gneros

    5.7-Determinao dos Gneros pervasivos

    6-CONCLUSO........82

    7 - RE FE R NC IAS B IB L IOG R F ICA S ........85

  • 8

    1- IN TRO DU O

    No s imp le s a t a r e fa de de t e r min ar o es co po do So f i s ta d e

    P la t o . E mbo r a a d e f in i o do que ve nha a s e r o g ner o do so f is t a se ja

    o mo t o r a pa r t ir do qua l s e s egue m t o das as de ma is que s t es , o ut r o s

    as su nt o s t o ma m p ar t icu la r d e s t aque ao lo ngo da o br a . Po de mo s e le nc ar

    a lgu ns do s ma is r e le va nt e s : o Mto do de D iv is o co ndu z ido pe l a

    pe r so nag e m do E s t r ang e ir o de E l ia , que r e c e be o no me de d i i re s i s

    ( , d iv is o ) ; o pa no r a ma e xpo s to ao s pas so s 242 b- 2 54d , no qu a l

    no s so ap r es e nt ada s as fo r ma s co m as qua is a t r ad i o bu s co u

    r espo nder ao p r o b le ma do no - se r ; o u a inda , o p ro b le ma do d is cu r so

    fa lso . A l is t a po der ia p r o s seg u ir , e a A nt igu id ad e1 p le na d e c a nd id a t o s

    pa r a o po s to .

    T a l va r ie d ade de a s su nt o s po der ia d a r ens e jo a u ma per gu nt a

    a nt e r io r : h a lgo que co r r es po nd a ao esco po do d i lo go ; no po der ia s e

    t r a t a r ju s t a me nt e d e u ma mis ce l ne a , cu ja p r o po s it a l va r ie da de s e ve r i a

    co mpr o met id a ao a f ixa r mo s u m pr o je t o un it r io ? E , de fa t o , o s d ive r so s

    t e ma s que o co r r e m ao t ext o co nv ida m s ma is d e t id a s a n l is e s ,

    co nt r ibu indo a u ma int e r p r e t a o desc o nt nu a . Acr ed it a mo s , no e nt ant o ,

    se r o So f is t a d i lo go do t ado de pa r t ic u la r co es o e cu ja s p a r t es , e mbo r a

    co mpr e e ns ve is s ep ar ad a me nt e , co mo as ve m t r a ba lha ndo c r t ic a

    mo der na , so r igo r o sa me nt e a r t icu la da s po r u m n ico e ixo , se m o qua l

    se r ia m impo s s ve is o s de ma is de se nvo lv ime nt o s t e r ico s .

    No p r e t e nde mo s co m is so co nde nar le it u r a s po r me no r iz ada s d e

    pas s age ns e sp ec f ic a s , m t o do ind is pe ns ve l a n l is e d e u ma d a s o br a s

    1 NOTOMI, N. The unity of Platos Sophist. Between the sophist and the philosopher. Cambridge: Cambridge

    University Press, 1999. pp. 10-11: What problem does Plato propose and investigate in the Sophist? This is a

    question that modern scholar have hardly asked, but when we look back to the old tradition of the Platonists

    commentators, we can observe that this is exactly where they begin to interpret a dialogue: that is to decide the

    skopos (aim) of a dialogue. E, embora seja capaz de indicar uma srie de comentadores que teriam se

    debruado detidamente sobre o tema em relao a alguns dos dilogos de Plato (p., 11, nota 33), Notomi afirma

    que somente o Anonymous Prolegomena resistiu como exemplo de como a tradio procurou circunscrever os

    possveis objetivos de nosso dilogo (pp. 12-13), as quais seriam: a definio de sofista; o mtodo de diviso;

    aquilo que no ; aquilo que ; e, segundo a proposta de Ficino, o Demiurgo Sublunar.

  • 9

    ma is d es t ac ad a do corpu s p la t n ico , q ue mer e ceu , a p a r t ir de u ma vas t a

    l it e r a t u r a e spe c ia l iz ada , a s ma is int e r e ss a nt es in t e r p r e t a e s .

    De fe nde mo s , cau sa da u n if ic a o do t ext o , que a a bo r d ag e m da s

    pa r t ic u la r id ad es no po de p r es c ind ir do aspec t o ge r a l a po nt o de

    f r ag me nt a r s ua e s t r u t u r a . Pa r a t ant o , h que se p es qu is a r qu a l a t e s e qu e

    a t r aves sa a t o t a l ida de do t ext o ; e m u ma pa la v r a : seu e s co po .

    Ma is do que p r o ver o