Upload
fabio-claret
View
556
Download
197
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Livro da Editora Cidade Nova sobre a vida de Chiara Luce Badano
Citation preview
ISBN 85-89736-10-5
Uma moça bonita, dinâmica, “transgressiva”, a seu modo, decide empenhar seus verdes anos em coisas que valem mesmo a pena.De repente, um diagnóstico de câncer lhe deixa pouco tempo de vida e provoca uma guinada que a faz alcançar vértices de elevada espiritualidade.Ainda hoje, muitos anos após sua morte, jovens do mundo inteiro evocam e invocam Chiara Luce, como exemplo e ajuda. Dezoito anos vividos em plenitude… Qual o segredo de sua clara luz?
ColeçãoGrandes TesTemunhos
michele Zanzucchi (1957-), italiano, é jornalista e escritor. Chefe de redação do periódico Città nuova (roma), colabora com a revista Cidade nova.
Entrando na adolescência
Chiara Luce, aos quatro meses, com seus pais
Aos dez anos
No leito, irradiando
alegria
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Zanzucchi, Michele (1957-)A clara luz de Chiara Luce: 18 anos de plenitude /
Michele Zanzucchi; [tradução Humberto Luís Sada de Almeida]. — Vargem Grande Paulista, SP : Editora Cidade Nova, 2004.
Título original: “Io ho tutto”.ISBN 85-89736-10-5
1. Focolare 2. Luce, Chiara 3. Vida cristã I. Título.
04-8738 CDD-282.092
Índices para catálogo sistemático:
1. Santas : Igreja Católica : Biografia 282.092
— São Paulo, 2004 —
18 anos de plenitude
Michele Zanzucchi
Título do original:
io ho tutto: i diciotto anni di chiara luce
© Città Nuova Editrice — Roma — 1998
Tradução:
Humberto Luís Sada de Almeida
© Editora Cidade Nova — São Paulo — 2004
Copidesque:
Irami B. Silva
Klaus Brüschke
Revisão:
Ignez Bordin
Maria Rosa Kushnir
Projeto gráfico:
Tomás de Aquino Bersch
Fotos:
© Arquivo Editora Cidade Nova
Diagramação:
Giceli Valadares da Silva
ISBN 85-89736-10-5
(Original: 88-311-5095-2)
Editora Cidade Nova
Rua José Ernesto Tozzi, 198
Vargem Grande Paulista — SP — Brasil
CEP 06730-000 — Telefax: (11) 4158.2252
www.cidadenova.org.br
e-mail: [email protected]
OlhOs que traduzem um pOrquê, 7
entre Os gen que partiram para O céu, 11 13 Uma cidade tranqüila
15 Uma família unida
16 Uma comunidade solidamente tradicional
18 O nascimento, dez anos mais tarde
20 Experiências da infância
22 Uma educação com bom senso (mas não só isso)
cOmO num sOnhO, 2527 Onde Chiara guardou o coração
30 A primeira escolha
32 As duas Chiaras, um vínculo ininterrupto
34 Pré-adolescência: esportes, amizades e Evangelho
37 De Sassello a Savona, a adolescência
39 Passando de gen 3 a gen 2
41 Um festival de criatividade
44 Com os amigos de Sassello
a espOsa, 4749 O Esposo está perto
51 As cirurgias, as esperanças
53 A proximidade com os seus
56 A Bela Senhora
57 Nada de morfina
59 O seu quarto
61 A provação
63 Intimidade espiritual
68 “Por que é que Jesus não vem?”
71 As núpcias
uma festa cOntínua, 75 78 Porque Chiara Luce?
80 Dez anos depois, Chiara ainda tem algo a dizer
uma geraçãO de santOs, 85
Sum
ário
Ch
iara
Luce
OLHOS quE TRADuZEM uM PORquê
Está certo que João Paulo II beatificou uma
quantidade extraordinária de homens e mulheres,
bem mais do que seus antecessores. Também está
certo que, a partir do Concílio Vaticano II, o próprio
conceito de santidade tornou-se mais acessível,
como demonstra o número nada desprezível de
novos leigos, mães e pais de família que foram
beatificados. Está certo, ainda, que os casos como
o de padre Pio colocam em evidência que as pes-
soas não são insensíveis aos modelos de perfeição
cristã, como às vezes se imagina.
Tudo isto está certo. Mas, como uma jovem,
aparentemente comum, conseguiu “arrombar as
portas do Céu” em poucos meses? Como pôde recu-
sar a morfina que os médicos queriam ministrar-lhe
para aliviar as dores atrozes da metástase? É que
8O
lho
s que
trad
uze
m u
m p
orq
uê
ela queria ter ainda “alguma coisa para oferecer”…
Onde encontrava forças? uma vida que, após al-
gumas lágrimas, após um breve artigo no jornal
local e um coro lamentando “pobre garota, era tão
jovem!”, seria esquecida, continua, ao contrário, a
ser lembrada e imitada. Resta, enfim, uma curio-
sidade para entender como, num piscar de olhos,
em tão poucos anos, uma jovem alcançou vértices
de elevada espiritualidade.
Escrevo estas linhas vendo diante de mim
uma de suas últimas fotos, um primeiro plano
captado quando, já paralítica, ficava na cama de
seu pequeno quarto, em Sassello1. Por trás, uma
fronha em tecido xadrez escocês, azul, amarelo,
rosa e branco, e ela a olhar o seu interlocutor,
braço reclinado atrás da cabeça. uma penugem
escura reveste seu couro cabeludo. Não é com
certeza um corte de cabelos da última moda,
mas o triste efeito de uma quimioterapia recen-
te. Entretanto, os traços do rosto não são os de
uma doente à beira da morte; são de uma garota
amadurecida em pouco tempo. Ela sorri. É isso
mesmo! Ela sorri com um sorriso que agra-dava
a muita gente. Naquele instante, três amigos de
Gênova estavam com ela no quarto. Tinham ba-
tido um papinho com a enferma, tinham vivido
1. Povoado na região de Ligúria (Itália), próximo a Gênova. [N.d.E.]
�
10O
lho
s que
trad
uze
m u
m p
orq
uê
um daqueles momentos de Evangelho “vivo”, de
que ela tanto gostava. “Momentos de unidade”:
assim os chamava.
O Céu descera até eles. Aquele sorriso era a
prova. Mas prova maior eram aqueles dois grandes
olhos, que não posso deixar de fitar. Traduzem
um porquê, são serenos, sinceros. Sabem que “a
medicina depôs suas armas”, mas sabem também
que “o amor vence tudo”.
Aí está Chiara Badano, dezoito anos. Ou
melhor, Chiara Luce2.
2. Lê-se Quiára Lútche. [N.d.E.]
Ch
iara
Luce
ENTRE OS GEN quE PARTIRAM PARA O CÉu
Todo grupo social tem seus modelos e, às ve-
zes, seus santos, nos quais personifica esperanças e
aspirações. O Movimento Gen, os jovens do Movi-
mento dos Focolares3, acompanhou os seus primeiros
membros “que partiram para o Céu”, como costumam
dizer, desde os anos sessenta. Entre eles, estava Fran-
ceschino Chiarati, um rapaz muitíssimo jovem, de
sorriso límpido, nascido na cidade italiana de Bréscia.
3. O Movimento dos Focolares, fundado em 1943 por Chiara Lubich,
na Itália, está presente hoje em cento e oitenta e dois países, congregando
cerca de cinco milhões de pessoas. Propõe um estilo de vida fundamentado
no Evangelho, especialmente na oração de Jesus: “Pai, que todos sejam
um” (João 17,21).
Os Focolares têm por objetivo construir pontes de diálogo e de frater-
nidade, ideal sintetizado na expressão “mundo unido”. O Movimento Gen
(Geração Nova) é o setor juvenil dos Focolares, e os seus participantes são
chamados gen. [N.d.E.]
12En
tre
os
gen
que
par
tiram
par
a o
Céu
Não faltou um jovem mártir, Charles Moates, “Charles
dos guetos negros”, cuja dramática história a banda
internacional Gen Rosso conta num musical. Estavam
também as jovens de Pelotas, no Rio Grande do Sul,
mortas num acidente rodoviário quando voltavam de
um congresso… Toda época tem seus pequenos mi-
tos, aqueles que deixam um exemplo para as futuras
gerações. Contudo, esses jovens que “passaram para
a outra vida” não eram inacessíveis ou idealizados;
não foram, como se diz hoje, transformados em ído-
los. São uma parte daquele Movimento que se muda
para o Paraíso, antes do reencontro.
Desde sempre a Igreja fala de “Comunhão dos
Santos”, uma expressão talvez um tanto obscura,
interpretada freqüentemente como uma coisa
longínqua, reservada às esferas celestes. Entre os
gen, ao contrário, a Comunhão dos Santos é uma
realidade que aproxima a terra do Céu.
Assim, podemos interpretar o interesse que
acompanhou as situações que Chiara Luce viveu, bem
antes que deixasse esta terra. Do mesmo modo que
faziam com os outros amigos doentes — talvez um
pouco mais —, os gen seguiam as notícias sobre a
saúde dela, que o “toque dos tambores” espontâneo
e mil vezes reinventado dos jovens retransmitia.
Também rezavam… e muito. Haviam percebido que
ela era uma espécie de predileta de Deus.
13
E a morte chegou. A notícia espalhou-se, fo-
tocópias de um ou outro escrito seu começaram a
circular. Até hoje se comenta o funeral que muita
gente considerou “uma festa de casamento”. Logo,
apareceu um artigo no noticiário dos gen e outro
na revista italiana Città Nuova4. Nos anos seguintes,
sem intenção precisa, a sua história voltou à cena
constantemente, graças aos amigos, aos gen, ao
bispo, a uma coletânea de escritos, a uma biografia,
a um vídeo…
Uma cidade tranqüila
Partindo de Savona, contorna-se o golfo de
Gênova até Albísola. Dali, em direção ao interior,
sobe-se uns vinte quilômetros cheios de curvas
e trechos curtos de retas. Não se chega a subir
muito, pois a meta da viagem fica a uma altitude
de apenas quatrocentos metros do nível do mar.
Sassello, na região da Ligúria, com uma população
que não chega a dois mil habitantes, dista sessenta
quilômetros de Gênova.
O povoado se esvazia durante o ano, e o
número de habitantes aumenta nos finais de se-
4. Também publicada na revista brasileira Cidade Nova (n. 5, maio 2000,
pp. 22-25). [N.d.E.]