A Classe Operaria Tem Dois Sexos - Hirata Kergoat

5/16/2018 A Classe Operaria Tem Dois Sexos - Hirata Kergoat

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HELENA H IRATA & DAN IELE KERGOAT

ICf. KERGOAT, Daniele.Ouvriers-ouvricres? Critiquesde I'Economie Politique,1978. n~, 5, Cf. torr-bern, doponto de visto estatistico.VOLKOFF, Serge e MOLINIE,Anne-Froricoise. LesConditions de Travail desOuvriers et des Ouvrieres.Economie et Stotistique, n2,118, 1980.

'Adatamas aqui. paracomodidade de redocco, aterma "genero', que ncocastumamos utilizor. Sabree5sm quastoes cr. KERGOAI,D" A Propos des RapportsSaciaux de Sexe. Revue M.n~. sabre Le feminisme 0I'heure des cholx, 1992,n~53-54.

J DELPHY, C .. Les Femmesdans les Etudes deStratificotion. In: MICHEL.Andree (org.), Femmes.Sexisme et Societe. Paris:PUF.1977.

A C L A S S E O P E R A R IAT E M D O IS S E X O S

A literatura existente costuma falar de "op erortos"ou de "closse operorlo". sem fazer nenhuma referenciaao sexo dos otares sociais. E como se0 lugar na produ-~ao fosse um elemento unificador de tal ordem, quefazer parte da closse oparorto ja remeteria a uma seriede comportamentos e de otitudes relativamenteunlvocos ... E verdade que essa tendencia de apresentaruma imagem da closse opera ria relativamente homo-genea, cujos unicos elementos distintivos seriam 0emprego e0desemprego, 0lugar na producoo e aquollrlccrcoo, nco ignora apenas a categoria sexo. Masvcrlovs!s como nacionalidade, idade etc., mesmo sesua qualidade heuristica noo e muito reconhecida, jaha muito tempo recebem tratamento socioloqlco. Sobrea vorlovel sexo, nco ha praticamente node'.

E essesile?ncioque vamos tentar quebrar,reafirmando que 0 conceito de classes sociais foireinterpelado pelo feminismo - em particular. pelaspesquisas sobre as rela~oes sociais de sexo e sobre 0genero. Emais: 0 conceito de classes sociais, ou melhor,a utlllzoc co que dele toi e e teita, noo permite captar 0lugar da mulher na producco e no reprodu~6o soclois.Rela~oes de classe e rela~oes de sexo sao, de fato,coextensivas (isto e, elas se superpoern em parte): tantopara as mulheres como para os homens so podem seranalisadas conjuntamente.

Classe e genero2A concettuollzccoo marxista de classes sociais tol,

nos enos 70, criticada pela primeira vez do ponto devista do genero. Foi em particular Christine Delphy3quem mostrou como 0 pertencimento de classe para a

ESTUDOS FEMINISTAS N, 1/9493


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'MA THIEU. N. C. L'AnatomiePolitique. Categorisations etIdeologies du Sexe. Paris:cere femmes. 1992.'GUILLAUMIN. C .. Sexe. Raceet Pratique du Pouvoir.L'fdee de Nature. Paris:Cote femmes. 1992.

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mulher e construfdo a partir de um referencial exclusivo,o homem (marido, pai), sem que sejam levadas emconslderoc oo as atividades da propria mulher. Maisindiretamente foi Nicole-Claude Mathieu quem se referiua "categorias de sexo" ou Colette Guillaumin quempropos 0 conceito de "sexagem"s ...

Retomaremos essas teoriza~6es, mas seu impactoesta no fato de, na trcidicoo academica, inclusive nasonollsas marxistas, as classes sociais sempre terem sidotratadas como se 0 genero noo implicasse nenhumaheterogeneidade em sua cornposlcco. em seuscomportamentos e proticos. Quando 0problema eraabordado, issoera feito em termos biologizantes: "asmulheres"; e imediatamente a culture cedia lugar anatureza, a raciodnia politico ou soclotoqtco. aosestereotipos.

Ora, por um lado, todos os indivfduos sao hom ensou mulheres. e, por outre. todos tem uma sltuoc oo declasse a ser determinada (origem de classe, lnsarcooatual). As rel0


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Ct. GUILLAUMIN, C" op. cit..

'Ver tcrrbern a artigo deEric Olin Wright. Em .espostoas criticos das pesquisadorosreministos (C Delphy. J.Acker etc.) sabre a tese depertencimento de crosse deuma mulher casada a partirda closse de seu rncrtdo.Wright co-istro a conceitode relo


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'E m referencia 00"pontede vista do prole torio do"de Gramsci.

9 A esse respeito, emboraIralado de modo indireto,cf. DAVIS. Angela. Reflexionssur I'Heritage de Malcolm X.Politis Lo Revue n2, 3, 1993.

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relayoes de sexo sao atravessadas por pontos de vistade closse": elas sao "closslstos",

As relayoes sociais de sexo sao transversais paratoda a socie docie: dinamizom todos os campos dosocial. A clnomlzccoo de uma estero (classes sociais,producoo) nao pode deixar de ter efelto sobre adlncrnlco de outre. Tal otlrrnccoo red undo em denunci-ar 0postulado (quase sempre implicito) segundo 0qualessa retac;:ao social so se exerce em determinodo lugar.No realidade, relac;:oesde closse e de sexo organizam 0totalidade das prottcos sociois. em qualquer lugar quese exerc,;am. Emoutras palavras: noo e so em casa quese e oprimido nem so no tobrico que se e explorado(a)!

As relac;:oesde classe devem pois ser analisadascomo inculcondo conteudos e orientac;:oes concretasnos relo9oes de sexo e, inversamente, as reloc,;oesdesexo devem ser analisadas como fornecendo contaudosespedficos as outras rela90es sociais,Afirmar que reloc oes de opressoo e relac;:6es deexplorcic do. olern de se articularem, formam uma teia,nee resolve todos as problemas. Porque as diferentesmodolidades de ortlculoc oo - sua propria natureza -dependem do tipo de sociedade, do grau de inoustrtoli-zccoo. do nivel de desenvolvimento economico e socialetc, Por sua vez, as lugares nos relocoes de classe e desexo sao determinantes para as protlcos e para as lutas.Na primeira metade do dec ada de 70, periodo defortalecimento das lutas, a tendencia era pensar que, seo grau de combatividade feminista crescesse, 0doclasse tambem cresceria, Ora, essas reloc;:6esmeea-nicistas noo suportaram a provo dos fatos: noo hocorresponctenclc entre os dois, mas slrn coobltoc co parvezes diffei!. Pais,como lutor simultaneamente comomulher-negro-prolet6ria?' De fato, segundo as lugares emomentos do vida, segundo os oportunidades politicos,luto-se primeiro como mulher, au como negra, ou comoproletorlo.

Enfim, consideramos que os otores individuais ecoletivos sao 00mesmo tempo produtos e produtoresdas relac,;oessoclois, No estudo desse duplo movimento,as duos reloc;oes sociais - de sexo e de classe - devemestor integradas por causa de sua indissociabilidade ecomplementaridade, As relac;oes sociais formam umateia: ho seporoc co e entrelas;amento, contrcidlc oo ecoarencio entre essasrelaqoes. Ambos sootronsversois00conjunto do sociedade.

Mas a atual conjunturo de recessao e as mudan-cos maiores no mercodo de trabalho e de empregoprovocam interferencias nesta obordogem, jo de 5ibastante complexa. Cor-vern portanto examinar aevoluc co das modalidades de crtlculocoo classes


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1 0 Cf. KERGOA T. D ..Les Ouvtietes, Paris: LeSycamore. 1982: sobre asfroje16rios no Brasil. cf.HIRATA. Helena &HUMPHREY. John. CriseEconomique et IrojectoiresProfessionnelles. In: PINTON.F, & LECARME. M. (org,cienfificos). Relations deGenre et Deve/oppemenf.Femmes et societes. Paris:orstorn 1992 (col, sob ad.recoo de J. Bisilliat).

socia is/genero, ta nto em paises semi-industrializados,como 0 Brasil,quanto na Froric o.

Outras orticuloco es classe/sexo nos paises em viade industrializc

Quando se olha 0quadro dos poises chamados"subdesenvolvidos" ou "semi-industrializodos", umoprimeira constotccoo e que as classes e as categoriossocia issao bem menos estruturadas e suas seporcrcoesmenos nftidas (embora haja fortes antagonismos sociaise nitidas dist6ncias entre dominantes e dominados): hamaior fluidez entre reproducoo e prooucoo, 0 nivel desaiariza


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"E 0que sem dvvidoexplica 0sucesso do noccode "porldcde". com a qualnco concordamos ... Mas issoserio ossunto para outreartigo.

"De fato nco achamosque a classe opera riacorresponda a soma dostcs)operoriosros) de procucoo.Convern tocovto notar quea categoria "operorios"continua numericamente.em 1990. a mais fmportantepara as homens. (Fonte:Donnees Sad ales 1993).

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Tudo 1550 entrecortado por perfodos de desemprego, dedesemprego dlstorco do (quase obrlqotorto. na medidaem que 0Estado s6 oferece seguro-desemprego a umapequena porcoo de desempregados), de inatividademais ou menos prolongada para as mulheres.

A despeito de uma identifica~ao subjetlva como proletariado industrial, as opercrlos e oparcrlos entre-vistados foram obrigados a se afastar desse setor eprocurar empregos noo-lndusttlols. trobalhos remunero-dos fora do setor formal, e enfim - no caso das mulheresconsideradas nao-qualificadas - 0 retorno ao lar e astarefas domestic as. ao cuidado das crloncos pequenas.

Esseaumento da lrnportoriclo da economiadornestlco e da economia informal tanto refor


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"A "souc oo tereeiro Iilho"retere-se a rnulheresdesempregadas, com umaserle de dernlssces e que.cpos um periodo depressivomols ou menos exouctro.engravidam pela terceilavez: As observccoes deChantal Nicole-Orancourtconfirmam esse toto; ct.L'ldee de Precarite Revisitee,Trovaif et Emploi n~.52. 2/92.p.57-70,

"Como escreve MadeleineReberioux: "Podo-so temernco apenas as consaquen-cias do desempregoprolongado sabre aconsctenclo que urnindividuo pode ter de seusdireitos. mas torr-cern 0perigo de uma osslstcnciogeneralizado sabre 0 espiritode responsobilidade. score avontade de ogir. que saoelementos constitutivos docidodania (...) Trata-seprirneiro de por emevldenclo a prlvocoo gerolde cidadania a qual a crisedotrabalho con denamllnoes de Ilomens e demulheres." (A CidadaniaSocial. LeMonde. 23/0411993. p. 29)."Ct. sobre 0 assunto ostrobalhos de MicheleRiot-Sarcey; em particularPorcours de Femmes donsI'Apprentissage de 10Democratie. Paris: Albin-Michel. 1993.

16Extraneite. no originaltronces. No cictoncuo PetitRobert. extroneite designa"a sltuocoo iurioico de umestrangelro em determinodopais".

IIct. KERGOA T,0 ..L'lntirmi


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ICf. BOURDIEU, Pierre (arg.) ..La Misere du Monde. Paris:Seuil,1993,

I>BADINTER, Elisabeth, L'Unest rAutre. Oes Relationsentre Hommes et Femmes,Paris: Odile Jacob, 1986.

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E verdade que essesnovas mavimentas saciaismastram mais a roolcoltzocoo do. canfronto com aEstada-patrao e a recusa de um sistema que nco delxoo lndlvfduo-usucrlo ser bem atendido (au bem tratada)nem 0 individuo-trabalhador fazer direita a seutrobolho ". do que uma cftrmocoo consciente depertencimento de closse. Mas essesexemplos induzema pensar que a fato tem serrvelhorvcos com 0 queocontece no setor privo.do, como, por exemplo, arelvlndlcoooo difuso. quanto a gestao do empresa, nootanto no nivel fino.nceira mas sim no do. controle dotrabalho, relvindico.

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