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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI GRAZIELA CARDOZO VAILATI A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS Tijucas 2007

A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

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Page 1: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

GRAZIELA CARDOZO VAILATI

A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS

Tijucas

2007

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GRAZIELA CARDOZO VAILATI

A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS

Monografia apresentada como requisito

parcial para a obtenção do título de Bacharel

em Direito pela Universidade do Vale de

Itajaí, Centro de Educação de Tijucas.

Orientador: Prof. Fábio Gil Beal

Tijucas

2007

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GRAZIELA CARDOZO VAILATI

A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO DAS

CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS

Esta monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel e

aprovado pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de

Educação de Tijucas.

Área de concentração: Direito do Trabalho.

Tijucas, SC, maio de 2007.

Professor Fábio Gil Beal

UNIVALI – CE de Tijucas

Orientador

Prof. Msc. Edenir Aguiar

UNIVALI – CE de Tijucas

Professor Renato Samir de Melo

UNIVALI – CE de Tijucas

Page 4: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí

- UNIVALI, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí (SC), maio de 2007.

Graziela Cardozo Vailati

Graduanda

Page 5: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

Este trabalho eu dedico ao meu filho, Luiz

Carlos Vailati Neto, que chegou de repente e,

num instante mágico, propiciou-me a maior

alegria de toda a minha vida: a dádiva de ser

mãe. Nem nasceste e já és a pessoa mais

importante da minha vida.

Page 6: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo dom da vida e por todas as realizações que tem me oferecido.

Obrigada, Senhor!

Ao meu pai, Zildo, pelo alicerce de sua educação, pela confiança depositada

e pelo amor dedicado. Com você aprendi a ser forte e ter coragem!

A minha amada mãe Martinha, por toda ternura, pela sua bondade, ajuda e

incentivo nessa caminha e em tudo que faço. Mãe, você é a mulher mais importante

da minha vida!

Aos meus irmãos, pelo companherismo e amizade. Sua felicidade é a minha!

Aos meus sobrinhos, pela alegria contagiante que eles trazem à família.

Vocês são meu orgulho!

A minha sogra, pela sua preocupação e dedicação a mim a minha nova

família.

Ao meu orientador, Fábio Gil Beal, pelo acompanhamento e ensinamentos

que me transmitiu ao longo desta pesquisa. Você é um grande professor!

A minha cunhada Juliana, pelo zelo na correção ortográfica.

Ao colega Carlos Monteiro, pela realização do abstract.

A todos os professores que passaram por esta caminhada.

A todos os meus colegas de classe, pelas nossas alegrias e desavenças, em

especial à amiga Tituza, que sempre esteve “literalmente” ao meu lado. Lembrarei

de vocês com saudade!

Por fim, um agradecimento especial ao meu estimado esposo Luiz Carlos

Vailati Júnior: obrigado por ter me convencido a ingressar no curso de Direito.

Concluo-o com muita satisfação! Obrigado principalmente pelo auxílio e incentivo

desde o início até o final do curso. Você foi meu amigo, virou meu namorado e me

ensinou a amar. Sua dedicação, carinho e amor me fizeram a escolhê-lo para ser o

homem da minha vida!

Page 7: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

“Luta. Teu dever é lutar pelo Direito. Mas no dia

em que encontrares o Direito em conflito com a

Justiça, luta pela Justiça” (Eduardo Couture).

Page 8: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

RESUMO

A presente monografia apresenta um estudo da competência da Justiça do

Trabalho no que tange à execução das contribuições previdenciárias.

Os objetivos investigatórios, em termos gerais, são os de pesquisar, analisar

e descrever determinadas características da Justiça do Trabalho, bem como desse

tipo de execução, com enfoque na legislação, doutrina e jurisprudência.

Inicialmente, são apresentados os conceitos e princípios básicos referentes

aos objetivos do tema; em seguida, relatam-se os resultados das pesquisas sobre a

competência da Justiça do Trabalho. Ao final, o estudo culmina com a competência

do referido órgão para execução das contribuições previdenciárias, com base na

Constituição, em legislação ordinária, doutrina e jurisprudência do Tribunal Superior

do Trabalho e dos tribunais regionais.

A Monografia está composta de três capítulos, nos quais são abordadas

características gerais do direito processual do trabalho, a competência da Justiça do

Trabalho (lato sensu) e a competência para execução das contribuições

previdenciárias (stricto sensu), respectivamente.

Page 9: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

ABSTRACT

This work presents a study about the competence of the “Employment Law

Specialized Federal Court” in terms of Social Welfare contributions execution.

The research purposes are: to analyze and to describe certain aspects of the

“Employment Law Specialized Federal Court”, as well this kind of execution, with

legislation, rulings and jurisprudence foci.

At first, will be presented the concepts and the principles about the theme

objectives. Next, the researches results and, finally, the study about the competence

of the Federal Courts on employment law cases in terms of Social Welfare

contributions execution, grounded in Constitution, Federal Laws and regulations,

teaching and the Superior Courts jurisprudence.

The work consists in three chapters. At first, general considerations about

procedural employment law. After that, the “Employment Law Specialized Federal

Court” (lato sensu). At last, the competence of the “Employment Law Specialized

Federal Court” in terms of Social Welfare contributions execution (stricto sensu).

Page 10: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CEJURPS Centro de Educação Jurídicas, Políticas e Sociais

CF/88 Constituição Federal de 1988

CLT Consolidação das Leis Trabalhistas

CRFB Constituição da República Federativa do Brasil

CTPS Carteira de Trabalho e Previdência Social

EC Emenda Constitucional

INSS Instituto Nacional do Seguro Social

JT Justiça do Trabalho

LICC Lei de Introdução ao Código Civil

OIT Organização Internacional do Trabalho

RGPS Regime Geral de Previdência Social

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiça

TRT Tribunal Regional do Trabalho

TST Tribunal Superior do Trabalho

UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí

Page 11: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

ROL DE CATEGORIAS

Competência

É uma parcela da jurisdição, dada a cada juiz. É a parte da jurisdição atribuída a

cada juiz, ou seja, à área geográfica e ao setor do Direito em que vai atuar, podendo

emitir suas decisões (Martins, 2006, p. 92).

Contribuição social

Uma obrigação legal que se impõe a entidades e indivíduos para que contribuam

com as despesas dos regimes de seguridade social, com base em determinados

critérios legais (Ruprecht apud Castro e Lazzari, 2005, p. 210).

Direito coletivo do trabalho

É o ramo do direito do trabalho que disciplina as organizações sindicais, sua

estrutura, suas relações representando as categorias profissionais, e econômicas,

os conflitos coletivos, tudo segundo um principio pluralista de formação da ordem

jurídica. A representação dos trabalhadores na empresa, não organizada em

sindicato, é, também, parte dos estudos do direito coletivo do trabalho, e as

negociações coletivas vêm cada vez mais ocupando um espaço maior (Nascimento,

2004:367).

Direito individual do trabalho

É o setor do direito do trabalho que compreende as relações individuais, tendo como

sujeitos o empregado e o empregador e como objeto a prestação de trabalho

subordinado, continuado e assalariado (Nascimento, 2004:366).

Direito processual

Sistema de princípios e normas legais que regulam o processo, disciplinando as

atividades dos sujeitos interessados, do órgão jurisdicional e seus auxiliares (Santos,

1999, p. 13).

Direito processual do trabalho

Page 12: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

xii

É o conjunto de princípios, regras e instituições destinado a regular a atividade dos

órgãos jurisdicionais na solução dos dissídios, individuais ou coletivos, pertinentes à

relação de trabalho (Martins, 2006, p. 18).

Execução

Executar é cumprir o devedor, voluntariamente, sua obrigação, ou ser forçado pelo

órgão jurisdicional a cumprir a obrigação contra ele reconhecida (Pacheco apud

Pinto, 2004, p. 27).

Juntas de conciliação e julgamento

Órgãos da Justiça do Trabalho criadas pelo Decreto nº. 22.132/32 e extintas com a

Emenda Constitucional nº. 20/1998. Tinham competência para resolver os dissídios

individuais e eram compostas por um juiz togado e dois vogais (Martins, 2006, p.12).

Jurisdição

É o poder que o juiz tem de dizer o direito nos casos concretos a ele submetidos,

pois está investido desse poder pelo Estado (Martins, 2006, p. 92).

Justiça do trabalho

É uma justiça especial, com organização própria no Poder Judiciário, competente

para conhecer questões trabalhistas, mas também com juízes especializados em

questões trabalhistas integrados na organização judiciária comum, e, igualmente,

estruturas administrativas que funcionam nos moldes jurisdicionais por força de lei

que lhes confere poderes decisórios para lides trabalhistas (Nascimento, 2002, p.

123).

Poder judiciário

Constituído pelo conjunto de autoridades, que se investem no poder de julgar, é a

designação que se dá aos órgãos, a que, como delegado do Poder Público, se

comete à atribuição de administrar a justiça. No cumprimento de sua precípua

missão, ao poder judiciário compete aplicar as leis, vigiar sua execução, e reparar

fundado nelas, e em nome do Estado, as relações jurídicas que se tenham violado

(Silva, 2005:1051).

Page 13: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

xiii

Princípios

Revelam o conjunto de regras ou preceitos, que se fixam para servir de norma a

toda espécie de ação jurídica, traçando, assim, a conduta a ser tida em qualquer

operação jurídica. (...). Princípios jurídicos, sem dúvida, significam os pontos

básicos, que servem de ponto de partida ou de elementos vitais do próprio Direito.

Indicam o alicerce do Direito. (...). Compreendem, pois, os fundamentos da Ciência

Jurídica, onde se firmaram as normas originarias ou as leis científicas do Direito, que

traçam as noções em que se estrutura o próprio Direito. Assim, nem sempre os

princípios se inscrevem nas leis. Mas, porque servem de base ao Direito, são tidos

como preceitos fundamentais para a pratica do Direito e proteção aos direitos (Silva,

2005:1095).

Súmula

É o que de modo abreviadíssimo explica o teor, ou o conteúdo integral de alguma

coisa. Assim, a súmula de uma sentença, de um acórdão, é o resumo ou a própria

ementa da sentença ou do acórdão. No âmbito da uniformização da jurisprudência,

indica a condensação de série de acórdãos, do mesmo tribunal, que adote idêntica

interpretação de preceito jurídico em tese, um caráter obrigatório, mas, persuasivo, e

que, devidamente numerados, se estampem em repercutórios (Silva, 2005:1346).

Título executivo

É a qualificação dada a todo título, em que se inscreve um credito ou onde há uma

soma pecuniária exigível, a que se atribui força executória, em virtude do que, por

ação própria (executiva ou execução), poder-se-á proceder, inicialmente, a penhora

de bens, se o devedor não pagar, ou não cumpre a obrigação, dentro do prazo

regulamentar (Silva, 2005:1405).

Varas do Trabalho

São os órgãos de primeiro grau da Justiça do Trabalho aos quais compete o

conhecimento inicial dos litígios de natureza trabalhista (Giglio, 2003, p. 14).

Page 14: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................1

2 O DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO..........................................................3

2.1 Origem e evolução histórica do Direito Processual do Trabalho no Brasil ............3

2.2 Conceito, fontes e autonomia do Direito Processual do Trabalho.........................8

2.2.1 Conceito .............................................................................................................8

2.2.2 Fontes ..............................................................................................................10

2.2.3 Autonomia ........................................................................................................16

2.3 Princípios peculiares ...........................................................................................18

2.3.1 Princípio da Proteção .......................................................................................18

2.3.2 Principio da Finalidade Social ..........................................................................20

2.3.3 Principio da Busca da Verdade Real................................................................20

2.3.4 Principio da Indisponibilidade ...........................................................................21

2.3.5 Princípio da Conciliação...................................................................................21

2.3.6 Princípio da Normatização Coletiva .................................................................23

2.3.7 Princípio da Coletivização das Ações Individuais.............................................23

2.3.8 Outros Princípios..............................................................................................24

3 A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO ...............................................26

3.1 Jurisdição e competência ....................................................................................26

3.2 Competência absoluta.........................................................................................29

3.2.1 Competência em Razão da Matéria .................................................................30

3.2.2 Competência em Razão da Pessoa .................................................................32

3.2.3 Competência em razão da Função ..................................................................34

3.3 Competência relativa...........................................................................................41

3.3.1 Competência em Razão do Lugar....................................................................42

3.4 Competência da Justiça do Trabalho após a EC nº. 45/2004 .............................48

4 A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO DAS

CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS ..................................................................52

4.1 Abrangência da execução das contribuições previdenciárias perante a Justiça do

Trabalho ....................................................................................................................52

Page 15: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

xv

4.2 O procedimento processual na execução dos créditos trabalhistas....................58

4.3 A competência para execução das contribuições previdenciárias relativas ao

vínculo de emprego...................................................................................................69

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................78

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................82

Page 16: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

1 INTRODUÇÃO

Pretende-se com esta monografia, a realização de um estudo acerca das

disposições constitucionais e legais referentes à competência da Justiça do Trabalho

para execução das contribuições previdenciárias.

Objetiva-se, assim, entre outras coisas, um aperfeiçoamento no estudo do

Direito do Trabalho, mais precisamente das regras relativas à competência da

Justiça Laboral, em especial no que se refere à interpretação doutrinária e

jurisprudencial da legislação – constitucional e ordinária – pertinentes à matéria.

Os objetivos investigatórios, em termos gerais, são os de pesquisar, analisar

e descrever determinadas características da Justiça do Trabalho, bem como desse

tipo de execução, com enfoque na legislação, doutrina e jurisprudência.

Como objetivo institucional, tem-se a produção desta Monografia para fins de

obtenção do título de Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI.

Em termos específicos, esta Monografia sintetiza os limites estabelecidos pela

Constituição Federal, legislação ordinária e Súmula 368 do TST, para execução das

contribuições previdências junto à Justiça Trabalhista. Será demonstrado, também, o

procedimento executório dessas contribuições.

Estimularam os objetivos investigatórios os seguintes problemas:

a) Com base na legislação constitucional e infraconstitucional, é a Justiça

do Trabalho competente para a execução de contribuições previdenciárias?

b) A execução de contribuições previdenciárias se classifica em qual

modalidade de competência?

c) É dever ou faculdade do magistrado executar de ofício as contribuições

previdenciárias?

d) Tendo em vista a legislação constitucional e infraconstitucional, bem

como do entendimento jurisprudencial, é a Justiça do Trabalho competente para

execução de todas as contribuições previdenciárias decorrentes do vínculo de

emprego?

Esses problemas serviram de base para a elaboração de hipóteses para o

desenvolvimento da pesquisa.

Primeira hipótese: A Emenda Constitucional n. 20/98, através do acréscimo

do §3º ao artigo 114 da Constituição Federal, possibilitou a execução das

Page 17: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

2

contribuições previstas no artigo 195, I, a e II da Carta Magna, cuja modalidade

permaneceu na reforma trazida pela Emenda Constitucional n. 45/2004.

Segunda hipótese: A execução das contribuições previdenciárias enquadra-

se na competência absoluta da Justiça do Trabalho.

Terceira hipótese: É dever de ofício do magistrado trabalhista executar as

contribuições previdenciárias decorrentes das sentenças que proferir e acordos que

homologar.

Quarta hipótese: A jurisprudência uniforme do TST prescreve que não há

obrigatoriedade de execução das contribuições previdenciárias relativas às

sentenças declaratórias de vínculo de emprego.

Adotou-se o método indutivo para a investigação e o relato que, segundo

Pasold (2001:103), objetiva “pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e

colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral”.

Nas diversas fases da pesquisa foram acionadas as técnicas do referente, da

categoria, do conceito operacional e da pesquisa bibliográfica.

Esta Monografia se divide em três capítulos.

No primeiro capítulo estão destacados aspectos gerais do Direito Processual

do Trabalho, a começar por sua origem e evolução histórica. Em seguida, estudou-

se as fontes, conceitos e autonomia deste ramo do direito processual para, ao final

do capítulo, elencar os seus principais princípios norteadores.

O segundo capítulo reserva-se ao estudo da competência da Justiça do

Trabalho. Preliminarmente, é apresentada a conceituação e diferenciação de

jurisdição e competência para, logo após, passar-se ao estudo da competência

absoluta, nas suas subespécies (em razão da matéria, pessoa e da função), bem

como da competência relativa e sua subespécie (em razão do lugar). O capítulo

encerra-se com um breve destaque nas alterações da competência da Justiça do

Trabalho após a Emenda Constitucional nº. 45/2004.

Por fim, no terceiro capítulo, deu-se enfoque à abrangência da execução das

contribuições previdenciárias perante a Justiça do Trabalho, o procedimento

processual (Lei nº. 10.035/2000) e a realização do estudo doutrinário e

jurisprudencial da Súmula n. 368 do TST.

Além das constantes no rol, no decorrer desta Monografia são apresentadas

outras categorias e respectivos conceitos operacionais.

Page 18: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

2 O DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

2.1 Origem e evolução histórica do Direito Processual do Trabalho no Brasil

O Direito Processual do Trabalho teve sua origem em 1907, através dos

Conselhos Permanentes de Conciliação e Arbitragem, órgãos para a solução de

conflitos trabalhistas, previstos pela Lei n° 1.637, de 5/11/1907. Tais órgãos nunca

foram implantados. Suas composições eram mistas e partidárias e seus objetivos

eram solucionar os conflitos entre capital e trabalho. (Martins, 2003:44).

Somente em 1922, foram criados os Tribunais Rurais de São Paulo. Sobre o

tema, discorre Nascimento (2002:43):

Apesar de sua ineficácia, a proposta dos tribunais rurais não pode

ser ignorada como parte do processo de institucionalização. Os

tribunais rurais, criados em São Paulo pela Lei nº. 1.869, de 10 de

outubro de 1922, foram, para Waldemar Ferreira, os primeiros

tribunais trabalhistas instituídos no Brasil, constituídos pelo sistema

paritário. Na época, e desde 1911, existia em São Paulo, com

atribuições de resolver dúvidas entre trabalhadores rurais e seus

patrões, especialmente sobre salários, o patronato agrícola, órgão

subordinado à Secretaria da Agricultura. No entanto, apesar da

assistência dada aos trabalhadores rurais, ocorreu ao legislador

paulista instituir os tribunais rurais, para decidir questões até o valor

de “500 mil-réis”, decorrentes da interpretação e execução dos

contratos de serviços agrícolas.

Segundo Martins (2003:44), esse sistema “foi criado copiando-se literalmente,

em muitos aspectos, o sistema italiano da Carta del Lavoro, de 1927, de Mussolini,

adotando-se o regime corporativista”.

Em 1932, foram instituídas as Comissões Mistas de Conciliação, formadas

para dirimir os dissídios coletivos, e as Juntas de Conciliação e Julgamento, que

versavam sobre os dissídios individuais.

As Comissões Mistas de Conciliação, segundo Waldemar Ferreira (apud

Nascimento, 2002:45), foram criadas com a função:

(...) especificamente jurisdicional, lançando as linhas de um autêntico

tribunal trabalhista, em cuja formação se encontrem representantes,

em igual número, de empregadores e de empregados, decidindo, sob

Page 19: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

4

a presidência de pessoa estranha aos interesses profissionais, de

preferência, membros da Ordem dos Advogados do Brasil,

magistrados ou funcionários federais, estaduais ou municipais,

escolhidos aqueles por sorteio de nomes constantes de listas

apresentadas pelos sindicatos ou associações profissionais.

E acrescenta Nascimento (2002:45):

Caracterizam-se essas comissões pelo aspecto preponderante de

órgão arbitral não estatal e permanente, criadas em função e na

dependência direta da estrutura sindical, destinadas que foram ao

conhecimento dos conflitos coletivos de trabalho, segundo um

esquema básico de livre aceitação das suas decisões pelos

conflitantes. Porém, foram artificiais, funcionando esporadicamente,

pois eram raros os conflitos coletivos na época, tornando-se órgãos

pouco utilizados, “pela carência de canas por via das quais se

movimentassem as moendas” (Waldemar Ferreira).

Com relação às Juntas de Conciliação e Julgamento, Martins (2003, p 44 e

45) afirma que:

(...) foram criadas pelo Decreto nº 22.132, de 25-11-1932, tendo

competência para resolver os dissídios individuais. As Juntas eram

compostas de um juiz presidente, estranho aos interesses das

partes, sendo de preferência um advogado e dois vogais, um

representando os empregados e outro, o empregador, além de dois

suplentes, escolhidos com base nas listas que eram enviadas pelos

sindicatos e associações ao Departamento Nacional do Trabalho. A

reclamação era apresentada aos procuradores do Departamento

Nacional do Trabalho ou órgãos regionais, sendo que a audiência era

comunicada às partes por via postal. Caso o reclamado criasse

embaraços ou não fosse encontrado era notificado pela polícia ou

por edital. À audiência deveriam comparecer as partes com suas

provas e testemunhas; se o reclamado não comparecesse haveria

revelia. Os empregadores poderiam ser representados por gerentes

ou administradores. Os menores e as mulheres casadas poderiam

pleitear sem a assistência do responsável legal ou pai. O presidente

poderia determinar diligências, sendo que, se assim procedesse,

deveria adiar a audiência. Os membros da Junta votavam na solução

do feito. Era admitida a reconvenção. O empregado que propusesse

reclamações temerárias sofria a penalidade da perda do direito de

reclamar pelo prazo de até dois anos, sendo também suspenso dos

seus direitos de sindicalizado por igual tempo. Seus julgamentos

Page 20: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

5

eram feitos em uma única instância, porém não poderiam ser

executados pelas referidas Juntas, apenas na Justiça Comum, que

inclusive poderia anular as citadas decisões. A Justiça do Trabalho

tinha notio, que é o poder de conhecer e julgar os dissídios. Não

tinha, porém, imperium, que é o poder de cumprir suas próprias

decisões. Qualquer processo poderia ser requisitado pelo Ministério

do Trabalho, a pedido do interessado, que passava, então, a decidir,

desde que houvesse parcialidade dos juízes ou violação do direito.

Esse chamamento pelo Ministro, de chamar para si o processo e

fazer o julgamento, era denominado de carta “avocatória”. Tal

procedimento, inclusive, poderia ser até mesmo político, como

ocorria. Na época os juizes presidentes eram nomeados pelo

Presidente da República, devendo ser bacharéis em Direito e ter

idoneidade moral, tendo mandato de dois anos, podendo ser

reconduzidos.

Apenas os empregados sindicalizados podiam se utilizar das Juntas ou

Comissões Mistas. Esses órgãos pertenciam ao Poder Executivo – eram adjuntos ao

Ministério do Trabalho, Comércio e Indústria – e não tinham, portanto, autonomia

administrativa ou jurisdicional. Os magistrados não eram vitalícios; a garantia do

emprego desses estava subordinada às decisões proferidas, favoráveis ou não, aos

interesses das juntas (Martins, 2003:45).

Posteriormente foram criados outros órgãos, não pertencentes ao

Poder Judiciário, que decidiam questões trabalhistas, como as

Juntas das Delegacias de Trabalho Marítimo (1933), o Conselho

Nacional do Trabalho (1934) e uma jurisdição administrativa relativa

a férias (1934). (Martins, 2003:46).

O histórico da Justiça do Trabalho nas Constituições teve início em 1934. O

artigo 122 da Carta Magna de 1934 explicitava ter ela sido criada para dirimir

questões entre empregados e empregadores, regidos pela legislação social, não

sendo aplicado o disposto no capítulo que trata do Poder Judiciário. (Martins,

2003:46).

A Constituição de 1937 manteve as disposições da constituição anterior (art.

139). Segundo o mesmo autor (2003:46), é importante observar que:

(...) a Justiça do Trabalho iria dirimir os conflitos oriundos das

relações entre empregadores e empregados, regulados na legislação

social, porém sua regulamentação seria feita por lei e à qual não se

Page 21: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

6

aplicavam as disposições daquela Lei Maior relativas à competência,

ao recrutamento e às prerrogativas da justiça comum.

Tanto aquela (Constituição Federal de 1934), quanto esta (Constituição

Federal de 1937) não previam a competência judiciária da Justiça do Trabalho,

considerando-a mero órgão administrativo.

Em 1937, ficou conhecida a oposição de idéias doutrinárias entre Waldemar

Ferreira e Oliveira Viana com relação ao poder normativo da Justiça do Trabalho:

Afirmava o primeiro que o poder de criar normas sobre condições de

trabalho nos dissídios coletivos contrariava os princípios da

Constituição. Haveria sentenças de caráter geral, aplicáveis de modo

abstrato a pessoas indeterminadas, invadindo a Justiça do Trabalho

a esfera do Poder Legislativo. A competência normativa dos juízos

do trabalho importava delegação legislativa, não prevista na

Constituição. As sentenças deveriam obrigar apenas os litigantes e

não terceiros (Princípios de legislação social e direito judiciário do

trabalho. São Paulo: São Paulo, 1938). Oliveira Viana, que será

sociólogo e jurista, contestou a afirmação de Waldemar Ferreira,

dizendo que a função do juiz não é de mero autômato diante da lei,

pois tem função criativa e não de mero intérprete. O juiz teria, assim,

maior liberdade de atuação, tendo por reconhecido em vários países.

Havia necessidade do atendimento de novas realidades, mediante

técnicas próprias, existindo compatibilidade entre a competência

normativa e a função judiciária. A separação dos poderes não é

rígida, sendo legítimas as sentenças normativas (Problemas de

direito corporativo. Rio de Janeiro: José Olympio, 1938). Ao final,

prevaleceu a tese de Oliveira Viana, que era assessor do Ministro do

Trabalho (Martins, 2003:46).

Somente a Lei de 1° de maio de 1941, organizou a Justiça do Trabalho, pois

a sua instituição, como órgão não judicial, já havia sido prevista pelas Constituições

de 1934 e 1937. Operou-se, portanto, a substituição das Comissões e Juntas até

então existentes (Nascimento, 2002:46). As características da Lei de 1941 são

descritas pelo referido autor (2002:46/47):

(...) a) não estava incluída no Poder Judiciário, mas foi reconhecida a

sua função jurisdicional; b) do convencimento da necessidade da sua

instituição como órgão permanente no País, resultou a sua inserção

nas Constituições Federais de 1934 (art. 122) e 1937 (art. 139); c)

passou a ser disposta em três níveis de órgãos: as Juntas de

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7

Conciliação e Julgamento ou juízes de direito, estes nas localidades

em que não existiam Juntas com competência para conciliar e julgar

os dissídios individuais entre empregados e empregadores, bem

como os contratos de empreiteiro operário ou artífice, compostas de

um presidente, bacharel em direito nomeado pelo Presidente da

República, e dois vogais, representantes dos empregados e

empregadores; os Conselhos Regionais do Trabalho, equivalentes

aos hoje denominados Tribunais Regionais do Trabalho, sediados

em diferentes regiões do País, competentes para decidir os recursos

das decisões das Juntas e, originariamente, os dissídios coletivos

verificados no espaço geográfico onde exercem a sua jurisdição; e o

Conselho Nacional do Trabalho, correspondendo ao atual Tribunal

Superior do Trabalho, órgão de cúpula funcionando com duas

Câmaras, a Câmara da Justiça do Trabalho e a Câmara de

Previdência Social; d) instituiu-se a Procuradoria da Justiça do

Trabalho, funcionando junto ao Conselho Nacional do Trabalho,

subdividida em Procuradorias Regionais, com atribuições para oficiar

nos processos e promover medidas diversas; e) às Juntas foi

assegurado o poder de executar as próprias decisões, circunstâncias

que revela o seu caráter jurisdicional.

Desta forma, “a nova estrutura incluiu a Justiça do Trabalho entre os órgãos

de ordem econômica e social e não como órgãos de Poder Judiciário” (Nascimento,

2002:48).

Finalmente, em 1946, a Justiça do Trabalho passou a fazer parte do Poder

Judiciário. Em princípio, com organização através do Decreto-Lei nº. 9.797, de 9-9-

1946, momento em que foram conferidas aos juízes trabalhistas as seguintes

prerrogativas:

(...) aos juízes togados trabalhistas, as garantias inerentes à

magistratura, ou seja, inamovibilidade, irredutibilidade de

vencimentos e vitaliciedade, além de ingressarem na carreira por

meio de concursos de títulos e provas, havendo critério de promoção,

alternativamente, por antiguidade e merecimento. (Martins, 2003:47).

Tais garantias foram ratificadas pela Constituição de 18-9-1946, em cujo

artigo 94, V ficou estabelecido que os tribunais e juízes do trabalho passariam a

pertencer ao Poder Judiciário da União. A mesma Constituição, no artigo 122,

estabeleceu que a Justiça do Trabalho fosse composta pelo Tribunal Superior do

Trabalho (em substituição ao Conselho Nacional do Trabalho), os Tribunais

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Regionais do Trabalho (substituindo os Conselhos Regionais do Trabalho) e as

Juntas de Conciliação e Julgamento. (Martins, 2003:47).

A organização da Justiça do Trabalho, estabelecida na Constituição de 1946,

foi ratificada nas constituições posteriores, conforme descreve Nascimento

(2002:50):

A Constituição de 1967, a Emenda de 1969 e a Constituição de 1988

mantiveram essa mesma diretriz. A Justiça do Trabalho é organizada

em três níveis: as Juntas de Conciliação e Julgamento, integradas

por um juiz-presidente, bacharel em direito, e dois classistas,

oriundos de listas organizadas pelos sindicatos; os Tribunais

Regionais do Trabalho, com composição também paritária, e o

Tribunal Superior do Trabalho, com igual estrutura, que é competente

para os dissídios individuais e coletivos entre empregados e

empregadores e, mediante lei ordinária, outras controvérsias

oriundas de relações de trabalho.

Com a Emenda Constitucional nº 24/99, a organização da Justiça do Trabalho

sofreu modificações consideráveis: foi extinta a representação classista em todas as

instâncias e as Juntas de Conciliação e Julgamento tornaram-se Varas do Trabalho,

com um único Juiz Togado (Martins, 2006:16).

Outra mudança importante no funcionamento da Justiça do Trabalho surgiu

com a promulgação das Leis nº. 9.957/00 e 9.958/00. A primeira, “instituiu o

procedimento sumaríssimo no processo do trabalho para causas até 40 salários

mínimos, acrescentando artigos à CLT, objetivando dar maior celeridade na

prestação jurisdicional a tais processos”. A segunda instituiu as Comissões de

Conciliação Prévia, nas quais “os empregados devem passar antes de ajuizar a

reclamação trabalhista” (Martins, 2006:16).

Por fim, a “Emenda Constitucional n° 45/04 trouxe alterações na organização

da Justiça do Trabalho e deu nova redação ao art. 114 da Constituição, que trata da

competência deste órgão” (Martins, 2006:17). O tema será objeto de estudo no item

2.4 e no terceiro capítulo.

2.2 Conceito, fontes e autonomia do Direito Processual do Trabalho

2.2.1 Conceito

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O dicionário Aurélio (2002:171), define conceito como “representação de um

objeto pelo pensamento, por meio de suas características gerais”. Conceito,

portanto, é a expressão de particularidades de cada ser, objeto ou coisa.

Bezerra Leite (2004:80- 81), ressalva a importância da diferença entre

definição e conceito, e explica:

É muito comum confundir o conceito com a definição de dados

institutos, mas há uma diferença muito grande; conceito é a palavra

que tem conteúdo genérico, definição é a delimitação desse

conteúdo pela enumeração dos seus elementos. (sem grifo no

original) (...).

Pode-se dizer, assim, que, à luz da Ciência do Direito, conceito é a

idéia, que se expressa mediante palavras, de dado instituto jurídico;

já a definição é o significado dessas palavras.

Nesse sentido, completa seu pensamento:

Modestamente, conceituamos o direito processual do trabalho como

ramo da ciência jurídica, constituído por um sistema de normas,

princípios, regras e instituições próprias, que tem por objeto

promover a pacificação justa dos conflitos decorrentes das relações

de emprego e de trabalho, bem como regular o funcionamento dos

órgãos que compõem a Justiça do Trabalho. (Bezerra Leite, 2004:81)

Na busca de conceituar o Direito Processual do Trabalho, Nascimento

(2002:55) expõe que:

As normas jurídicas nem sempre são cumpridas espontaneamente,

daí a necessidade de se pretender, perante os tribunais, o seu

cumprimento, sem o que a ordem jurídica tornar-se-ia um caos. A

atuação dos tribunais também é ordenada pelo direito, mediante leis

coordenadas num sistema, destinadas a determinar a estrutura e o

funcionamento dos órgãos do Estado, aos quais é conferida a função

de resolver os litígios ocorridos na sociedade, bem com os atos que

podem ser praticados não só por esses órgãos, mas também pelas

partes do litígio. O direito processual tem por finalidade principal

evitar, portanto, a desordem e garantir aos litigantes um

pronunciamento do Estado para resolver a pendência e impor a

decisão.

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Desse modo, simplifica o autor que: “Direito processual do trabalho é o ramo

do direito processual destinado à solução judicial dos conflitos trabalhistas”

(Nascimento, 2002:55).

Sucintamente, Martins define Direito Processual do Trabalho como o “(...)

conjunto de princípios, regras e instituições destinado a regular a atividade dos

órgãos jurisdicionais na solução dos dissídios, individuais ou coletivos, entre

trabalhadores e empregados”.

Para Maranhão (2003:1381),

Processo do trabalho é o método segundo o qual os Tribunais da

Justiça do Trabalho conciliam e julgam os dissídios individuais e

coletivos, bem como as demais controvérsias oriundas de relações

de trabalho regidas pelo direito do trabalho. O conjunto das normas

que regulam esse processo forma o direito processual do trabalho.

O mesmo autor faz a distinção entre direito processual e direito material:

Direito processual distingue-se do direito substancial ou material.

Este é constituído pelas normas que disciplinam, diretamente, a

conduta dos indivíduos na sociedade. O respeito às normas

substanciais é entregue, inicialmente, à livre vontade daqueles aos

quais elas se dirigem. Mas, como se trata de normas obrigatórias de

procedimento, sua inobservância acarreta a intervenção do Estado,

mediante a prestação da garantia jurisdicional. E é neste momento

que entra em jogo o direito processual. Na verdade, como escreve

Calamandrei, não pode o Estado tomar as providências em que tal

garantia se concretiza sem que, pelo órgão e pelas pessoas

interessadas, se realizem certas atividades preestabelecidas visando

àquela finalidade comum, pela forma e na ordem que a lei prescreve.

As normas jurídicas que regulam essas atividades são as normas de

direito processual.

O Direito Processual do Trabalho é, portanto, o ramo do direito processual

que rege as atividades da Justiça do Trabalho na solução dos dissídios, individuais

ou coletivos, decorrentes da relação de trabalho.

2.2.2 Fontes

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“No significado, vulgar, fonte tem o sentido de nascente de água, o lugar

donde brota água. (...). Fonte de Direito tem significado metafórico, em razão de que

já é uma fonte de várias normas” (Martins, 2003 p. 61).

As fontes do Direito podem ser formais ou materiais. Para Martins (2003:61-

62),

Fontes formais são as formas de exteriorização do Direito. Exemplo:

as leis, o costume etc.

Fontes materiais são o complexo de fatores que ocasionam o

surgimento de normas, envolvendo fatos e valores. São abalizados

fatores sociais, patológicos, econômicos, históricos, etc. são os

fatores reais que irão influenciar na criação da norma jurídica.

E acrescenta o autor (Martins, 2003:62):

As fontes podem ser classificadas em heterônomas e autônomas.

Heterônomas são as impostas por agente externo. Exemplos:

constituição, leis, decretos, sentença normativa, regulamento de

empresa, quando unilateral. Autônomas são as elaboradas pelos

próprios interessados. Exemplos: costume, convenção e acordo

coletivo, regulamento de empresa (quando bilateral), contrato de

trabalho.

Podem as fontes ser estatais, em que o Estado estabelece a norma.

Exemplos: constituição, leis, sentença normativa. Extra-estatais são

as fontes oriundas das próprias partes, como o regulamento de

empresa, o costume, a convenção e o acordo coletivo, o contrato de

trabalho. São profissionais as fontes estabelecidas pelos

trabalhadores e empregadores interessados, como a convenção e o

acordo coletivo de trabalho.

Quanto à vontade das pessoas, as fontes podem ser voluntárias e

interpretativas. Voluntárias são as dependentes da vontade dos

interessados, como o contrato de trabalho, a convenção e o acordo

coletivo, o regulamento de empresa (quando bilateral). Interpretativas

são as impostas coercitivamente às pessoas pelo Estado, como a

Constituição, as leis, a sentença normativa.

Também Bezerra Leite (2005:39) classifica as fontes em materiais e formais.

As materiais são:

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(...) as fontes potenciais do direito processual do trabalho emergem

do próprio direito material do trabalho. Este, por sua vez, encontra a

sua fonte substancial nos fatos sociais, políticos, econômicos,

culturais, éticos e morais de determinado povo em dado momento

histórico. Afinal, entre os escopos do processo está o de promover a

realização do direito material.

E as formais (Bezerra Leite, 2005:40)

(...) são as que lhe conferem o caráter de direito positivo. Dividem-se

em:

a) fontes formais direitas, que abrangem a lei em sentido genérico

(atos normativos e administrativos editados pelo Poder Público) e

o costume;

b) fontes formais indiretas, que são extraídas da doutrina e da

jurisprudência;

c) fontes formais de explicitação, que são fontes integrativas do

direito processual, tais como a analogia, os princípios gerais de

direito e a eqüidade.

No quesito classificatório das fontes, o autor Nascimento (2002:62) se

diferencia dos autores acima citados e aborda o assunto quanto à origem e matéria:

Sob o primeiro ângulo, a origem, as normas processuais trabalhistas

são próprias ou subsidiárias; próprias são as que têm origem na

legislação processual específica de processo do trabalho e que estão

contidas em molduras legais trabalhistas, portanto. Subsidiárias são

as normas processuais trabalhistas de direito processual comum, em

maior quantidade de direito processual civil, mas, também, de outras

fontes subsidiárias, aplicáveis no processo trabalhista em casos de

lacuna deste e na inexistência de incompatibilidade com os seus fins.

Quanto à matéria, classificam-se em normas de organização e

competência, normas sobre o processo e o procedimento.

As normas sobre organização destinam-se a desenhar a estrutura

dos órgãos da jurisdição e as relações entre estes como um sistema;

as de competência têm a finalidade de dividir, entre esses órgãos, o

trabalho que vão realizar segundo a natureza da matéria ou o

território no qual devem atuar; normas de ação envolvem uma ampla

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série de temas, todos unificados em torno do direito de ação, os tipos

de ações e as garantias do devido processo legal como meio de

assegurar o direito público subjetivo de exigir a prestação

jurisdicional; normas sobre processo e procedimento dispõem sobre

a relação jurídica processual em sua estrutura e em seu trâmite com

todas as fases do seu desenvolvimento até o final do processo.

Na classificação das fontes formais, passa-se a observar através de uma

visão hierárquica o tributo de competência dessas normas. “Pode-se dizer, para

justificar as fontes do Direito, que as normas de maior hierarquia seriam o

fundamento de validade das regras de hierarquia inferior” (Martins, 2003:62).

“A primeira e a mais importante fonte formal do direito processual do trabalho

é a Constituição” (Nascimento, 2002, p 63).

“A Lei Maior de 1988 trata da competência da Justiça do Trabalho no art. 114,

de sua organização e composição no art. 111 e seguintes. Os juízes do trabalho

também gozam de garantias previstas no art. 95, da Norma Ápice” (Martins,

2003:62).

E o mesmo autor continua (2003:62-63):

Abaixo da Constituição, existem as leis ordinárias. A CLT (Decreto-lei

nº 5.452, de 1º-5-1943) trata da organização e composição da

Justiça do Trabalho e do Ministério Público nos arts. 643 a 762, e do

processo do trabalho nos arts. 763 a 910. Existem outras leis

esparsas que tratam da matéria, como a Lei nº 5.584/70, que regula

a assistência judiciária na Justiça do Trabalho e a Lei nº 7.701/88,

que versa sobre os recursos no TST e outras normas que

complementam a CLT. O CPC é aplicável subsidiariamente ao

processo do trabalho na omissão da CLT e desde que haja

compatibilidade com os princípios do processo laboral (art. 769 da

CLT). A Lei nº 6.830/80 (lei de execuções fiscais) também é aplicável

ao processo do trabalho por força do art. 889 da CLT.

Inferiores às leis estão os decretos que, no dizer de Nascimento (2002:65),

(...) não são instrumento adequado para dispor sobre o tema, mas há

alguns que podem ser mencionados: o Decreto nº. 85.845, de 1981,

que regulamentou a Lei nº. 6.858, de 1980, que dispõe sobre o

pagamento, aos dependentes ou sucessores, de valores não

recebidos em vida pelos respectivos titulares; o Decreto nº. 86.649,

de 1981, que regulamenta a Lei nº. 6.899, de 1981, que determina a

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aplicação de correção monetária nos débitos oriundos de decisão

judicial.

Abaixo dos decretos têm-se os atos dos Tribunais, regionais e do TST, que

são: “regimentos, enunciados, precedentes normativos, instruções normativas,

resoluções administrativas, provimentos das corregedorias, portarias, atos da

presidência em dissídios de greve e a Orientação Jurisprudencial” (Nascimento,

2002, p 65).

Apesar de o autor Nascimento citar a jurisprudência como fonte, Martins

(2003:63) ressalva que:

A doutrina e a jurisprudência também exercem importante papel, ao

analisar as disposições processuais trabalhistas, mas a verdadeira

fonte é a legislação. A jurisprudência não pode ser considerada como

fonte do Direito Processual do Trabalho. Ela não se configura como

regra obrigatória, mas apenas o caminho predominante em que os

tribunais entendem de aplicar a lei, suprimindo, inclusive, eventuais

lacunas desta última. A doutrina também se constitui em valioso

subsídio para a análise do Direito Processual do Trabalho, mas

também não se pode dizer que venha a ser uma de suas fontes,

justamente porque os juízes não estão obrigados a observar a

doutrina em suas decisões, tanto que a doutrina muitas vezes não é

pacífica, tendo posicionamentos opostos.

“As convenções e os acordos coletivos podem trazer regras sobre mediação e

arbitragem” (Martins, 2003:63).

“Os costumes, e as convenções internacionais ou da OIT também podem

conter normas processuais trabalhistas, desde que estas últimas tenham sido

ratificadas por nosso país” (Martins, 2003:64).

Quanto aos costumes, acrescenta Nascimento (2002:85):

O costume é fonte do direito processual geral, e, portanto, também

do direito processual do trabalho, nos termos da Lei de Introdução ao

Código Civil, art. 4º, do Código de Processo Civil, art. 126, e da CLT,

art. 8º, dispositivos legais que incluem o costume como fonte formal

do direito e do direito do trabalho, respectivamente. O costume não

pode, porém, contrariar a lei diante da primazia daquela decorrente

da sua natureza cogente. É legítima a sua invocação, mas é preciso

reconhecer que a matéria processual é coberta por normas

elaboradas pelo Estado, sendo difícil a possibilidade de sua

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15

formação consuetudinária. Alguns juristas, como Juan M. Pidal e

Lopes, admitem o costume como fonte formal do direito processual

trabalhista.

Ainda sobre as fontes do direito processual do trabalho, arremata o

doutrinador Nascimento (2002:85-86):

Dentre as questões que podem ser lembradas estão os tratados

internacionais. (...) Assim, há um direito processual do trabalho

internacional, formado pelas negociações bilaterais ou multilaterais

dos Estados e dos quais resultam os acordos e tratados que obrigam

na esfera da nossa disciplina, bem como um direito processual

comunitário.

Por fim, resumindo a hierarquia das leis, convém destacar as lições de

Martins (2003:57-58):

O art. 59 da Constituição dispõe quais são as normas existentes no

sistema jurídico brasileiro. Não menciona que haja hierarquia entre

umas e outras. A hierarquia entre as normas somente viria a ocorrer

quando a validade de determinada norma dependesse de outra,

onde esta regularia inteiramente a forma de criação da primeira

norma. É certo que a Constituição é hierarquicamente superior às

demais normas, pois o processo de validade destas é regulado pela

primeira. Abaixo da Constituição encontram-se os demais preceitos

legais, cada qual com campos diversos: leis complementares, leis

ordinárias, decretos-leis (nos períodos em que existiam), medidas

provisórias, leis delegadas, decretos legislativos e resoluções. Não

há dúvida que os decretos são hierarquicamente inferiores às

primeiras normas, até porque não são emitidos pelo Poder

Legislativo, mas pelo Poder Executivo. Após os decretos,

encontramos normas internas da Administração Pública, como

portarias, circulares, ordens de serviço etc., que são

hierarquicamente inferiores aos decretos. O próprio TST expede

também provimentos, instruções normativas, normalmente visando

dar o correto entendimento da norma e sua respectiva aplicação.

Em síntese, as normas hierarquicamente superiores prescrevem direitos

mínimos que podem apenas ser ampliados por regras de hierarquia inferior,

prevalecendo a norma mais favorável ao trabalhador.

Page 31: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

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2.2.3 Autonomia

Sobre a autonomia do Direito Processual do Trabalho no Brasil possuem

destaque duas teorias: monista e dualista.

Os monistas defendem que o direito processual do trabalho nada mais é do

que um mero desdobramento do direito processual civil. Não possui, portanto,

princípios e institutos próprios (Bezerra Leite, 2004:78).

Assim, para os monistas, existe somente um Direito Processual. O Direito

Processual do Trabalho não teria legislação própria, tampouco seria estruturado de

modo específico (Martins, 2003:52).

Sobre o tema, acrescenta Nascimento (2002:56-57):

Para a teoria monista, o direito processual é um só, governando por

normas que não diferem substancialmente a ponto de justificar-se o

desdobramento e a autonomia do direito processual penal, do direito

processual civil e do direito processual do trabalho. Assim, o direito

processual do trabalho, segundo essa concepção, não é regido por

leis próprias e estruturado de modo específico, em nada diferindo as

suas instituições das demais de que se compõe o direito processual.

(...).

Também monista é Luigi de LItala, que preconiza a fusão entre o

direito processual civil e o direito processual do trabalho e que

entende que na fase atual a nossa disciplina encontra-se em fase de

elaboração, ainda não terminada, nem mesmo a ponto de se

desvincular totalmente do direito do trabalho, para cuja atuação se

destina. (...).

Jaime Guasp ensina que a pluralidade de tipos processuais não afeta

a unidade conceitual da figura do processo, que é fundamentalmente

idêntica em cada um dos seus ramos, correspondendo todos os tipos

a um mesmo conceito.

Juan Montero Aroca entende que “o processo laboral tem sua origem

na inadequação dos processos civis ordinários para fazerem frente

em celeridade e economia às pretensões que têm seu fundamento

nas relações de trabalho. Diante da ineficácia do processo civil, a

criação de um processo especial se fez inevitável. Mas isso não

ocorre somente com as relações de trabalho. Estamos assistindo a

verdadeira proliferação de processos civis especiais, como

conseqüência de o legislador espanhol se sentir obrigado, quando

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elabora normas materiais, a dotá-las ao mesmo tempo de um

processo especial”.

E Nascimento (2002:57) encerra o seu pensamento: “Enfim, estaríamos

diante de um ramo de um direito processual civil, sem qualquer separação entre os

dois setores, que, desse modo, devem ser dispostos conjuntamente“.

De outro norte, estão os dualistas. Para esses, o Direito Processual do

Trabalho é autônomo, e sua relação com o Direito Processual Civil não é de

dependência (Bezerra Leite, 2004:79 e Martins, 2003:52)

Enfatiza Coqueiro Costa (apud, Nascimento, 2002:58), que o direito

processual do trabalho “é autônomo, pois não há direito especial sem juiz próprio,

sem matéria jurídica especial e sem direito autônomo. Sua matéria é extensa, sua

doutrina é homogênea e tem método próprio”.

“Com efeito, o direito processual do trabalho dispõe de vasta matéria

legislativa, possuindo titulo próprio na Consolidação das Leis do Trabalho, que,

inclusive, confere ao direito processual civil papel de mero coadjuvante.” (Bezerra

Leite, 2004:79).

A técnica, os métodos, os fundamentos do direito processual do trabalho não

se confundem com o direito processual comum. O direito processual do trabalho é,

portanto, um direito autônomo (Maranhão, 2003:1382- 1383).

E essa autonomia é assim explicada por Maranhão (2003:1382-1383):

Dentro da ordem jurídica do Estado – frisam Durand e Jaussaud –

nenhum departamento do direito pode construir-se isoladamente.

Não se trata de compartimentos estanques. O fenômeno processual,

por exemplo, em última análise, é um só. No processo do trabalho,

como no processo comum, a ação (direito de pedir ao Estado a

garantia jurisdicional) é um “substitutivo civilizado da vingança

primitiva”, na expressão de Couture. Mas as normas processuais,

como dissemos, têm caráter preponderantemente instrumental.

Visam à realização, à efetivação de outras normas, as de direito

material. Assim, o processo do trabalho serve para realizar o direito

material do trabalho. E ao “particularismo”, digamos desse modo,

usando a fórmula de Durand e Jaussaud, ao particularismo do direito

do trabalho há de corresponder o particularismo do direito processual

do trabalho. E nisto reside sua autonomia.

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Arrematando a discussão, fica-se com as palavras de Martins (2003:53), que

conclui:

Não é a omissão da CLT ou a falta de código regulando a matéria

que torna relativa a autonomia do Direito Processual do Trabalho. O

parágrafo 8° da CLT manda aplicar o Direito Civil de forma

subsidiária, mas o Direito do Trabalho é autônomo em relação ao

Direito Civil.

Portanto, com a devida vênia aos adeptos da teoria monista, o certo é que o

Direito Processual do Trabalho possui peculiaridades que o Processo Civil não tem,

o que o torna diferente e justifica sua autonomia.

2.3 Princípios peculiares

O trabalho contempla, nesse item, apenas noções gerais sobre o sistema

principiológico trabalhista, considerando a importância do assunto no contexto geral

da ciência processual, sem pretensão de esgotar as inúmeras características,

nuances e possibilidades de enquadramento dos princípios nas diversas hipóteses

legalmente previstas.

“Princípios de uma ciência são as proposições básicas, fundamentais, típicas

que condicionam todas as estruturações subseqüentes. Princípios, neste sentido,

são os alicerces da ciência” (José Cretela Jr. apud, Martins, 2004:69).

Como um ramo autônomo do Direito, conseqüentemente, o Direito Processual

do Trabalho também possui seus próprios princípios (Martins, 2004:69).

Afinal, “é de suma importância reconhecer e comprovar a existência ou não

de princípios próprios do direito processual do trabalho, pois isso constituiu um dos

critérios para justificar a própria autonomia desse segmento da ciência processual”

(Bezerra Leite, 2005:69).

A seguir, portanto, passa-se a expor os princípios mais importantes que

caracterizam o Direito Processual do Trabalho.

2.3.1 Princípio da Proteção

Afirma Martins (2004:72), que:

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19

O verdadeiro princípio do processo do trabalho é o da proteção.

Assim como no Direito do Trabalho, as regras são interpretadas mais

favoravelmente ao empregado, em caso de dúvida, no processo do

trabalho também vale o princípio protecionista, porém analisado sob

o aspecto do direito instrumental.

Segundo Bezerra Leite (2005:72) “O princípio protetor deriva da própria razão

de ser do Direito do Trabalho, pois esta disciplina foi criada para compensar a

desigualdade existente entre empregado e empregador”.

Giglio (2003:73) faz um pequeno resumo a respeito deste principio:

Objetam alguns que o Direito Processual não poderia tutelar uma das

partes, sob pena de comprometer a própria idéia de justiça, posto

que o favorecimento afetaria a isenção de ânimo do julgador. Não

lhes assiste razão, pois justo é tratar desigualmente os desiguais, na

mesma proporção em que se desigualam, e o favorecimento é

qualidade da lei e não defeito do juiz, que deve aplicá-la com

objetividade, sem permitir que suas tendências pessoais influenciem

seu comportamento. Em suma: o trabalhador é protegido pela lei, e

não pelo juiz.

Já para Nascimento (2002 p. 106),

O princípio da norma favorável, no direito processual do trabalho, se

compreendido como princípio de elaboração desse direito, é viável,

uma vê que existem, efetivamente, normas, na estrutura do processo

trabalhista, eu visam compensar a inferioridade econômica do

trabalhador, que acaba por se refletir na sua condição de parte no

processo. Reflexos estão no arquivamento do processo, quando o

empregado não comparece à audiência, diferente da penalidade que

sofre o empregador ausente, que é a condenação à revelia; no ônus

da prova, segundo a doutrina e a jurisprudência, mas acentuado para

o empregador, por ser quem se acha mais bem aparelhado para

produção das provas; na intervenção do juiz para verificar a verdade.

Bastam esses aspectos para mostrar que há uma aplicação

estrutural do princípio da norma favorável no processo trabalhista,

mas não a ponto de estabelecer um desequilíbrio capaz de afetar o

princípio da igualdade das partes, básico no processo.

Assim, diferentemente do processo civil, em que se parte do pressuposto de

que há igualdade entre as partes, no processo do trabalho, deve-se partir da idéia de

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que as partes são desiguais. Daí a necessidade da proteção da lei ao empregado

(Martins, 2006:41).

2.3.2 Principio da Finalidade Social

O princípio da finalidade social muito se parece com o da proteção. A

distinção é feita por Bezerra Leite (2004:72 e 73):

A diferença básica entre o princípio de proteção, acima referido, e o

princípio da finalidade social é que, no primeiro, a própria lei confere

a desigualdade no plano processual; no segundo, permite-se que o

juiz tenha uma atuação mais ativa, na medida em que auxilia o

trabalhador, em busca de uma solução justa, até chegar o momento

de proferir a sentença.

Parece-nos, contudo que os dois princípios – proteção e finalidade

social – se harmonizam e, pelo menos em nosso ordenamento

jurídico, permitem que o juiz, na aplicação da lei, possa corrigir uma

injustiça da própria lei. É o que prescreve o art. 5º do Decreto-Lei nº.

4.657/1942 (LICC), segundo o qual, “na aplicação da lei, o juiz

atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem

comum”.

Theodoro Júnior (apud, Bezerra Leite, 2005:72), afirma que:

O primeiro e mais importante princípio que informa o processo

trabalhista, distinguindo-o do processo civil comum, é o da finalidade

social, de cuja observância decorre uma quebra do princípio da

isonomia entre as partes, pelo menos em relação à sistemática

tradicional do direito formal.

É da essência do Direito a sua finalidade social (artigo 5º da LICC). Com o

Direito Processual do Trabalho, portanto, não poderia ser diferente.

2.3.3 Principio da Busca da Verdade Real

Sobre este principio, entende Bezerra Leite (2005:74):

Este princípio processual deriva do princípio material da primazia da

realidade.

Page 36: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

21

Embora haja divergência sobre a singularidade deste princípio no

direito processual do trabalho, parece-nos inegável que é aplicado

com maior ênfase neste setor da processualística do que no

processo civil.

Corrobora tal assertiva o disposto no art. 765 da CLT, que confere

aos Juízos e Tribunais do Trabalho ampla liberdade na direção do

processo. Para tanto, os magistrados do trabalho “velarão pelo

andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer

diligência necessária ao esclarecimento delas”.

Como se percebe, o sistema trabalhista confere ao juiz do trabalho ampla

liberdade de atuação no processo para a descoberta da verdade real.

2.3.4 Principio da Indisponibilidade

Segundo Bezerra Leite (2005:75):

Este princípio constitui emanação do princípio da indisponibilidade ou

irrenunciabilidade do direito material no campo do processo do

trabalho.

Justifica-se, pois, pela considerável gama de normas de ordem

pública do direito material do trabalho, o que implica a existência de

um interesse social que transcende à vontade dos sujeitos do

processo no seu cumprimento e influência a própria gênese da

prestação jurisdicional.

Numa palavra, o processo do trabalho teria uma função finalística: a

busca efetiva do cumprimento dos direitos indisponíveis dos

trabalhadores.

Há de se destacar, contudo, que a ampliação de competência da

Justiça do Trabalho para outras relações de trabalho (EC nº.

45/2004), certamente mitigarão a aplicação deste princípio.

2.3.5 Princípio da Conciliação

O princípio da conciliação é adotado não só pelo processo trabalhista, porém,

nesta ciência, tem particularidades específicas.

Page 37: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

22

O art. 764 da CLT e seus parágrafos prevêem tal princípio no ordenamento

trabalhista:

Art. 764. Os dissídios individuais ou coletivos submetidos à

apreciação da Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à

conciliação.

§ 1º. Para os efeitos deste artigo, os juízes e Tribunais do Trabalho

empregarão sempre os seus bons ofícios e persuasão no sentido de

uma solução conciliatória dos conflitos.

§ 2º. Não havendo acordo, o juízo conciliatório converter-se-á

obrigatoriamente em arbitral, proferindo decisão na forma prescrita

neste Título.

§ 3º. É lícito às partes celebrar acordo que ponha termo ao processo,

ainda mesmo depois de encerrado o juízo conciliatório.

Bezerra Leite (2005:75 e 76) ainda aponta outros itens vislumbrados na CLT,

assim os descrevendo:

No mesmo sentido, o art. 831 da CLT estabelece uma condição

intrínseca para a validade da sentença trabalhista, ao estabelecer

que ela somente “será proferida depois de rejeitada pelas partes a

proposta de conciliação”.

Maranhão (2003:1391) afirma que “o direito do trabalho visa à paz social”. E

arremata:

É delicada a missão do juiz do trabalho quando procura fazer que as

partes se conciliem. A conciliação – diz Goldschimidt – é, também,

uma forma de proteção jurídica: a origem mesma do processo em

geral. Nela não deve, portanto, prevalecer o arbítrio. Como bem

sintetizou Carnelutti, sublinhando o verdadeiro espírito da

conciliação, é esta “uma sentença aceita pelas partes, enquanto a

sentença é uma conciliação imposta pelo juiz.

A conciliação é dos principais pilares do processo trabalhista e a atuação do

juiz do trabalho é voltada especialmente à conciliação do maior número possível de

conflitos.

Page 38: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

23

2.3.6 Princípio da Normatização Coletiva

Bezerra Leite (2005:76) define esse princípio:

A justiça do Trabalho brasileira é a única que pode exercer o

chamado poder normativo que consiste no poder de criar normas e

condições gerais e abstratas (que é atividade típica do Poder

Legislativo), proferindo sentença (rectius, acórdão) normativa com

eficácia ultra partes, cujos efeitos irradiarão para os contratos

individuais dos trabalhadores integrantes da categoria profissional

representada pelo sindicado que ajuizou o dissídio coletivo.

E arremata (2005:76):

O princípio da normatização coletiva não é absoluto, pois encontra

limites na própria Constituição, nas leis de ordem pública de proteção

ao trabalhador (CF, art. 7º, CLT, arts. 8º e 444) e nas cláusulas

(normas) previstas em convenções e acordos coletivos que

disponham sobre condições mínimas de determinada categoria

profissional (CF, art. 7º, XXVI).

A importância da normatização coletiva pode ser medida no expressivo

número de convenções coletivas e acordos coletivos de trabalho que ampliam os

direitos mínimos previstos na legislação do trabalho.

O princípio da normatização coletiva diz respeito, portanto, à possibilidade de

criação de normas autônomas (convenção coletiva, por exemplo).

2.3.7 Princípio da Coletivização das Ações Individuais

Disserta Giglio que (2003:77):

O princípio da coletivização das ações individuais é atualmente uma

tendência evidente do processo do trabalho, como revela a

ampliação dos casos de aplicação da substituição processual. Um

desdobramento desse princípio levaria o juízo trabalhista a estender

o âmbito da ação. A iniciativa da provação do Poder Judiciário ainda

seria da parte, mas, a título de economia processual, o próprio Poder

Judiciário ampliaria a abrangência da ação para que dela

participassem outros trabalhadores que se encontrassem na mesma

situação de fato do autor. Em outros termos, corresponderia a uma

Page 39: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

24

chamada do processo litisconsortes ativos necessários, determinada

de ofício.

Tal princípio, assim, refere-se à tendência ou possibilidade mais simplificada

de ajuizamento de ações coletivas que beneficiem toda uma categoria, em

contraposição com a exigência de ações individuais que abrangem somente os

autores das ações, individualmente.

2.3.8 Outros Princípios

Outros princípios ainda são destacados na doutrina pátria: simplicidade,

despersonalização do empregador e extrapetição. Tais princípios, segundo Bezerra

Leite (2005:77), são comuns tanto no processo do trabalho, quanto no civil.

Segundo (Giglio, 2004:75):

O princípio da simplificação procedimental, válido também

internacionalmente, é revelado, no nosso direito pela outorga do jus

postulandi às partes, pela comunicação postal dos atos processuais,

nomeação de perito único, eliminação da fase de avaliação dos bens

penhorados etc.

Acresca Bezerra Leite (2005:77),

Com efeito, o princípio da simplicidade das formas decorre dos

princípios da instrumentalidade e da oralidade (...). Os juizados

especiais são exemplos da aplicação deste principio.

Conceituando o princípio da despersonalização do empregador, Giglio,

(2004:74) escreve:

Sob sua inspiração, garante-se o trabalhador contra as alterações na

estrutura jurídica ou na propriedade da empresa: são os bens

materiais e imateriais componentes do empreendimento que

asseguram a satisfação do julgado.

A ação trabalhista visa, em concreto, atingir a empresa, muito

embora endereçada, formalmente, à pessoa física ou jurídica que a

dirige ou explora. Esta, na realidade, apenas “representa” a empresa.

Uma das conseqüências processuais do instituto mal denominado

“sucessão de empresas” (a rigor, a sucessão é de empresários, e

Page 40: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

25

não de empresas) é a possibilidade de o julgado ser executado

contra terceiros, estendendo-se os efeitos da coisa julgada a quem

não foi parte no processo.

O último princípio a ser ressaltado é do da extrapetição. Para Bezerra Leite

(2005:77):

O princípio da extrapetição também é admitido no processo civil,

mormente nos casos em que o juiz acrescenta à condenação juros

legais e correção monetária (CPC, art. 293), ainda que não pedidos

pelo autor. A CLT também permite a aplicação do princípio da

extrapetição, como se infere dos seus arts. § 2º e 467.

Assim, encerra-se o estudo sobre o Direito Processual do Trabalho. No

próximo capítulo, aborda-se a competência da Justiça do Trabalho.

Page 41: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

3 A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

3.1 Jurisdição e competência

“Jurisdição ou tutela é a forma de solucionar conflitos por meio da

interveniência do Estado, gerando o processo judicial. O Estado diz o direito no caso

concreto submetido ao judiciário, impondo às partes a solução do litígio” (Martins,

2006:70).

É o poder concedido pelo Estado ao juiz para que este possa dizer o direito

nos casos concretos a ele submetidos (Martins, 2006:92).

No mesmo sentido, Malta (2002:23) escreve que “a jurisdição é a função de

soberania mediante a qual o Estado dirime litígio, podendo a decisão ter força de

coisa julgada”.

Pires, (1998:11), em exposição sobre o assunto, acrescenta:

(...) a jurisdição constitui não apenas um poder do Estado, mas

também um dever, sendo caracterizada como atividade secundária,

instrumental, provocada e desinteressada, pois que tendente a impor

o direito à obediência dos cidadãos, dando atuação prática às regras

de direito, mas apenas a pedido do interessado, e após frustrado seu

exercício de maneira pacífica e espontânea, tudo sob atuação

eqüidistante do órgão jurisdicional em relação às partes envolvidas.

Já para Giglio (2003:27-28):

“Jurisdição” é palavra composta pela justaposição de duas outras, de

origem latina: jus, júris, que quer dizer direito, e dictio, do verbo

dicere, que significam, respectivamente, dicção e dizer. Jurisdição

tem, portanto, o sentido de dicção do direito, e consiste no poder de

que todo o juiz está investido, pelo Estado, de dizer o direito nos

casos concretos submetidos a sua decisão.

Trata-se, assim sendo, de um poder inerente a todo e qualquer juiz,

posto que é da essência da atividade do julgador dizer o direito. Não

há, nem seria possível conceber, a existência de um juiz que não

tivesse jurisdição.

Mas é evidente que um único juiz não poderia dizer todo o direito,

para todos os litigantes, em todo o território nacional. Impunha-se

Page 42: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

27

repartir a jurisdição entre vários juizes, para possibilitar-lhes exercer

sua missão de aplicar o direito. E essa repartição foi feita adotando-

se vários critérios, tais como a extensão geográfica dentro da qual o

juiz dirá o direito, o tipo de assunto a ser decidido etc.

Dessa repartição resulta uma parcela de jurisdição para cada juiz,

parcela que é denominada competência. Nesse sentido se diz que a

competência é a medida da jurisdição atribuída a cada juiz, ou seja, a

área geográfica e o setor do Direito dentro dos quais o juiz pode

decidir.

A jurisdição trabalhista “está fundada na Constituição Federal que prevê,

entre os poderes que integram a República, o Judiciário (CF, art. 92 et al.1), inclusive

tribunais e juízes do trabalho (art. 1112), e assegura a inafastabilidade do direito ao

exercício da jurisdição (art 5°, XXXV3)” (Nascimento, 2002:120).

O mesmo autor (2002:121) conceitua jurisdição trabalhista:

O conceito de jurisdição trabalhista é estrito, mas também é

formulado de modo extenso para abranger tanto a atuação

jurisdicional do Estado como o conjunto de formas de composição

dos conflitos trabalhistas, inclusive pelos órgãos administrativos

dotados pelo ordenamento jurídico de atribuições decisórias ou até

1 Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: I - o Supremo Tribunal Federal; I-A o Conselho Nacional de Justiça; II - o Superior Tribunal de Justiça; III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; VI - os Tribunais e Juízes Militares; VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. Parágrafo único. O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal e jurisdição em todo o território nacional. § 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal. § 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm jurisdição em todo o território nacional. 2 Art. 111. São órgãos da Justiça do Trabalho: I - o Tribunal Superior do Trabalho; II - os Tribunais Regionais do Trabalho; III - Juizes do Trabalho. 3 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

Page 43: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

28

mesmo as decisões de tribunais de arbitragem obrigatórias não

integrantes do Poder Judiciário.

Quanto à competência, Martins (2006:92-93) considera o instituto e o

distingue de maneira sucinta de jurisdição:

Competência vem do latim competentia, de competere (estar no gozo

ou no uso de, ser capaz, pertencer ou ser próprio).

A competência é uma parcela da jurisdição, dada a cada juiz. É a

parte da jurisdição atribuída a cada juiz, ou seja, a área geográfica e

o setor do Direito em que vai atuar, podendo emitir suas decisões.

Consiste a competência na delimitação do poder jurisdicional. É,

portanto, o limite da jurisdição, a medida da jurisdição, a quantidade

da jurisdição.

A jurisdição é o todo. A competência é a parte. A competência não

abrange a jurisdição, mas esta envolve aquela.

Competência é a determinação jurisdicional atribuída pela

Constituição ou pela lei a um determinado órgão.

As questões relativas à competência devem ter interpretação

restritiva e não extensiva.

A Justiça do Trabalho é uma justiça especializada para resolver

causas trabalhistas, assim como são especializadas a Justiça

Eleitoral, Militar etc.

Pires (1998:117) também discorre sobre jurisdição e competência nos

seguintes termos:

Dúvida não resta que jurisdição e competência se distinguem, mas

tal distinção é meramente quantitativa e não qualitativa, já que a

jurisdição está inserta na competência, fazendo com que todos os

juízes tenham o poder-dever da jurisdição, mas nem por isso possam

julgar quaisquer litígios, indistintamente, por não deterem

competência ampla.

Dalazen apud Pires (1998:117) sustenta que “a relação entre a jurisdição e a

competência é a relação que existe entre o todo e a parte. A jurisdição é o todo; a

competência é a parte: um fragmento da jurisdição”.

Page 44: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

29

Para Almeida (2002:54), o conceito de competência está resumido em:

(...) é a medida de jurisdição, na atividade dos órgãos do Poder

Judiciário. É, pois, uma limitação da própria jurisdição, podendo

referir-se à matéria (ratione materiae), às pessoas (ratione personai),

ao local (ratione loci).

Tostes Malta (2002:25), por sua vez, afirma que:

Competência é a capacidade dos órgãos judiciários de solucionarem

conflitos de interesses. Não podendo um só órgão solucionar todos

os conflitos, a atribuição para fazê-lo é distribuída entre os diversos

órgãos do Judiciário em razão da matéria do conflito, do local em que

deve ser julgado, das pessoas envolvidas no conflito, do valor do

bem controvertido e das funções exercidas pelos órgãos do

Judiciário e das pessoas que os compõem. Essa divisão configura a

competência de cada órgão do Judiciário.

A Justiça do Trabalho, portanto,

É uma justiça especial, com organização própria no Poder Judiciário,

competente para conhecer questões trabalhistas, mas também com

juizes especializados em questões trabalhistas integrados na

organização judiciária comum, e, igualmente, estruturas

administrativas que funcionam nos moldes jurisdicionais por força de

lei que lhes confere poderes decisórios para lides trabalhistas.

(Nascimento, 2002:123)

A competência está dividida em relativa e absoluta, que será objeto de estudo

nos itens seguintes.

3.2 Competência absoluta

Pires (1998:118-119) dá seu parecer quanto à matéria:

A competência é distribuída pelo legislador, constitucional ou

infraconstitucional, como já mencionado, e este, quando quer dar

maior prevalência ao interesse público (“conveniência da função

jurisdicional”) sobre qualquer outro, impede a sua alteração pela

vontade quaisquer das partes, imprimindo-lhe natureza absoluta.

Page 45: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

30

A competência absoluta pode ser decretada de ofício ou mediante

provação das partes (CPC, art. 1134). São absolutas as

competências que decorrem da matéria e da hierarquia (CPC, art.

1115).

Santos (1999:249), sucinta e claramente ensina que “a incompetência

absoluta é vício insaciável, incorrigível, que torna nula a sentença de mérito,

suscetível a rescisão, mesmo depois em tramite em julgado, por meio de ação

rescisória”.

3.2.1 Competência em Razão da Matéria

Santos (1999:209) delimita lato sensu o que é a competência em razão da

matéria:

A lei atribui a determinados juízes competência exclusiva para

conhecer e decidir de certas lides por versarem sobre determinada

matéria. Vale dizer, tendo em vista a natureza da relação de direito

material em lide, a lei, por motivos de ordem política ou de ordem

prática, atribui a certos juízes exclusividade para conhecê-la e decidi-

la. Advirta-se não haver um critério científico a nortear a distribuição

das causas segundo a natureza das relações jurídicas: a lei disciplina

a distribuição norteada por motivos políticos ou práticos.

Martins (2006:103) define o que é a competência em razão da matéria na

Justiça do Trabalho:

A competência em razão da matéria (ex ratione materiae) vai dizer

respeito aos tipos de questões que podem ser suscitadas na Justiça

Laboral, envolvendo a apreciação de determinada matéria

trabalhista.

4 Art. 113. A incompetência absoluta deve ser declarada de ofício e pode ser alegada, em qualquer tempo e grau de jurisdição, independentemente de exceção. § 1o Não sendo, porém, deduzida no prazo da contestação, ou na primeira oportunidade em que Ihe couber falar nos autos, a parte responderá integralmente pelas custas. § 2o Declarada a incompetência absoluta, somente os atos decisórios serão nulos, remetendo-se os autos ao juiz competente. 5 Art. 111. A competência em razão da matéria e da hierarquia é inderrogável por convenção das partes; mas estas podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde serão propostas as ações oriundas de direitos e obrigações. § 1o O acordo, porém, só produz efeito, quando constar de contrato escrito e aludir expressamente a determinado negócio jurídico. § 2o O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes.

Page 46: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

31

Prossegue-se com os ensinamentos de Pires (1998:132):

(...) a competência em razão da matéria (ou material), é a que se

estabelece segundo a natureza da direito material controvertido

(matéria em litígio) e é adotada tanto pela Constituição Federal

quanto pelo legislador ordinário segundo critérios de política

legislativa, de modo a constituir a jurisdição especial ou a criação de

órgãos especializados dentro da jursdição comum (Vara de Registros

Públicos, Varas de Falências, Varas de Família e Sucessões, Varas

de Acidente do Trabalho, etc.).

Assim, instituída a competência material sob a inspiração de

interesse público destacado pelo legislador, não pode ser derrogada

pelas partes, razão porque é tida como competência absoluta (art.

111 CPC). (...)

Como modalidade de competência absoluta, a competência material

pode e deve ser pronunciada, de ofício, pelo juiz ou argüida pelas

partes a qualquer tempo e grau de jurisdição (arts. 113 e 30, § 4º,

CPC; e art. 795, § 1º, CLT).

Ao arremate, colaciona-se a concisa conclusão de Nascimento (2002:187)

sobre o assunto: “No Brasil, a competência da Justiça do Trabalho, em decorrência

do preceito constitucional (CF, art. 114), limita-se às relações de emprego e,

mediante lei ordinária, outras controvérsias de trabalho”.

Há que se atentar que a competência da Justiça do Trabalho, após a Emenda

Constitucional nº. 45/2004, foi ampliada para processar e julgar questões

relacionadas à relação de trabalho em não mais somente à relação de emprego.

Sobre o tema, afirma Martins (2006:104):

O inciso I do artigo 114 da Constituição não mais faz referência à

relação entre trabalhadores e empregadores para fins da

competência da Justiça do Trabalho. Entretanto, a relação de

emprego está compreendida na competência da Justiça do Trabalho,

pois é relação de trabalho6.

E o autor continua (2006:106-107):

6 “Relação de trabalho é o gênero que envolve a relação de emprego como espécie. Tem sentido amplo. Envolve o trabalho humano. (...). Relação de trabalho é situação jurídica entre duas pessoas visando à prestação de serviço” (Martins, 2006:104).

Page 47: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

32

Assim, a Justiça do Trabalho terá competência para analisar

questões envolvendo o trabalhador autônomo, representante

comercial autônomo (Lei nº. 4.886/65), empresários, estagiários,

trabalhadores eventuais, trabalhador voluntário e os respectivos

tomadores de serviços, assim como as ações entre parceiros,

meeiros, arrendantes e arrendatários, questões de empreitada,

quando houver lei ordinária federal tratando do tema. Enquanto isso,

a competência será da Justiça Comum Estadual. (...)

Relação de trabalho é gênero, do qual relação de emprego é

espécie, mas relação de consumo não se insere nesse liame. Toda

relação de emprego é uma relação de trabalho, mas nem toda

relação de trabalho é de emprego, como a dos funcionários públicos,

dos trabalhadores autônomos etc.

Arremata Martins (2006:109):

Conclui-se dizendo que o elemento essencial para a caracterização

da relação de trabalho na Justiça do Trabalho é o trabalho do

prestador de serviços ser feito por pessoa física e não por pessoa

jurídica. Os demais elementos são relativos e deverão ser

examinados em cada caso em concreto.

A Emenda Constitucional nº. 45/2004, assim, ampliou as matérias objetos da

competência da Justiça do Trabalho, conforme o acima exposto.

3.2.2 Competência em Razão da Pessoa

A pessoa está no rol de requisitos que estabelecem a competência da Justiça

do Trabalho. Martins (2006:93-94) discorre sobre o assunto afirmando que “a Justiça

do Trabalho tem competência para dirimir as controvérsias entre trabalhadores e

empregadores, que são as pessoas envolvidas diretamente nos pólos ativo e

passivo da ação trabalhista”.

Para os efeitos da CLT (art. 2°), empregador significa:

Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva,

que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria

e dirige a prestação pessoal de serviço.

Page 48: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

33

§ 1º - Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos da

relação de emprego, os profissionais liberais, as instituições de

beneficência, as associações recreativas ou outras instituições sem

fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como empregados.

§ 2º - Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma

delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção,

controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial,

comercial ou de qualquer outra atividade econômica, serão, para os

efeitos da relação de emprego, solidariamente responsáveis a

empresa principal e cada uma das subordinadas.

Segundo Ferreira (2004:325), empresa é a “organização econômica

destinada à produção ou a venda de mercadorias ou serviços, tendo em geral como

objetivo o lucro”.

Já Giglio (2003:44), esclarece com precisão a figura de empregador para o

Direito do Trabalho:

A nota predominante desse conceito (de empresa) é a assunção dos

riscos da atividade econômica, que se traduz não só pelo objetivo de

lucro – que pode não se obtido, mas que deve sempre ser almejado

–, mas também pela possibilidade de perdas, que podem culminar na

insolvência. Como, entretanto, há atividades que não visam lucro e,

nada obstante, contratam empregados, cujos serviços dirigem, foram

elas equiparadas ao empregador, a fim de que esses empregados

não ficassem ao desabrido da proteção trabalhista. Assim, também

são considerados empregadores, de acordo com o disposto no art.

2º, § 1º, da CLT, “os profissionais liberais, as instituições de

beneficência, as associações recreativas ou outras instituições sem

fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como empregados”.

Os parágrafos 1° e 2° trazem particularidades evidenciadas por Saad

(2006:37-38).

Pessoas físicas ou jurídicas que ao desenvolvam atividade

econômica com fins lucrativos são equiparadas a empregador. (...).

Na redação do art. 2° em epígrafe, percebe-se, em toda sua

extensão e força, o propósito do legislador de proteger o trabalhador

contra o maior poder econômico do empregador.

O empregado é definido pelo CLT no art. 3° caput, assim caracterizado:

Page 49: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

34

Art. 3° Considera-se empregado toda pessoa física que prestar

serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência

deste e mediante salário.

Para Saad (2006:46): “Ao afirmar que o empregado há de ser sempre uma

pessoa física, a lei quer que fique bem claro não ser possível o estabelecimento de

um vínculo empregatício entre uma pessoa jurídica e o empregador (firma individual

ou não)”.

Assim, a Justiça Laboral é competente para dirimir as questões controvertidas

criadas entre empregado e empregador. No rol dos empregados, estão incluídos os

empregados urbanos e rurais (Lei nº. 5.889/73); os trabalhadores temporários, que

são aqueles contratados por no máximo três meses (Lei nº. 6.019/74); o trabalhador

avulso7 (artigo 643 da CLT); os trabalhadores contratados por tempo determinado

para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público (art. 37, IX,

da CF/88)8; os empregados de empresas públicas, de sociedades de economia

mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica serão regido por lei

especial (art. 173, § 1º, II, da Constituição)9; os empregados contratados por

empresa privada para prestar serviços à administração pública (Súmula 158 do

TFR); se celetistas, também os funcionários de fundações e autarquias de direito

público estadual ou municipal também poderão ajuizar ação na Justiça do Trabalho;

e o empregado que tenha por objeto direito fundado no quadro de carreira (Súmula

19 do TST) (Martins, 2006:95-96).

3.2.3 Competência em razão da Função

A competência funcional diz respeito à função desempenhada pelos juízes na

Justiça do Trabalho (Martins, 2006:133).

7 “Pessoa física que presta serviços a várias empresas que necessitam de mão-de-obra, arregimentados por seu sindicato ou órgão gestor de mão-de-obra, que cobram os valores pela prestação de serviços das empresas tomadoras, fazendo o rateio entre aqueles que participaram do trabalho” (Sergio Pinto Martins, 2006: 95). 8 Nesse caso, de acordo com Martins (2006: 95), embora sob regime administrativo, “a relação também é de trabalho e não de emprego”. 9 De acordo com Martins (2006: 95), “enquanto inexistir a lei mencionada, os trabalhadores das referidas empresas são regidos pela CLT, sendo competente a Justiça do Trabalho para resolver tais questões”.

Page 50: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

35

O autor Nascimento (2002:227) conceitua a competência funcional da

seguinte forma:

A competência funcional refere-se a um aspecto do processo: os

atos que cabem aos diferentes órgãos e juízes, no mesmo processo.

Pode ser considerada no plano horizontal, significando o critério de

determinação das funções dos juizes num mesmo órgão, e no plano

vertical, que é a enumeração das funções dos magistrados de

diversos órgãos pelos quais o processo, em primeira e segunda

instâncias, tramita.

Dentre as atribuições de cada função dos membros da Justiça do Trabalho,

encontra-se inicialmente a dos juízes das Varas Trabalhistas. A estes, conforme

Nascimento (2003:227-228), compete:

Compete aos juízes das Varas do Trabalho a prática de atos de

audiência e atos fora da audiência.

Presidindo a audiência, formulam perguntas às partes e às

testemunhas, não só as próprias como aquelas formuladas pelos

advogados, tomam os esclarecimentos dos peritos, documentando

essas provas, que ficam registradas em ata redigida pelo funcionário

de audiência. Como o processo trabalhista é concentrado

basicamente em audiência, cabe ao juiz apreciar as petições nela

formuladas pelas partes, decidindo-as. Também é função do juiz

tentar a conciliação entre as partes, poder decorrente do fato de

presidir a audiência. Também é da sua competência funcional

executar as sentenças transitadas em julgado. Outra atribuição da

sua rotina é o cumprimento das cartas precatórias que lhes forem

deprecadas.

Os atos fora de audiência que o juiz pratica são, em sua quase-

totalidade, os despachos das petições e processos, inclusive dos

recursos interpostos pelas partes.

A redação das sentenças, ato que também é privativo do juiz, tanto é

feita na audiência como fora dela, uma vez que a lei concede prazo

de quarenta e oito horas para tal fim.

Atribuições administrativas são a posse de funcionários, a assinatura

de relatórios dos trabalhos mensais e anuais etc.

Page 51: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

36

Os juízes substitutos são auxiliares dos Juízes Titulares. Assumem, na sua

ausência, as atribuições definidas pelo titular (Nascimento, 2003:228)

A segunda instância da Justiça do Trabalho são os Tribunais Regionais do

Trabalho (TRTs). Nesses órgãos atuam os Juízes Presidentes dos TRTs e os Juízes

das Turmas.

Os Tribunais Regionais do Trabalho, na redação dada por Nascimento

(2003:230), têm a seguinte competência:

Há Tribunais Regionais do Trabalho não divididos e outros nos quais

há uma subdivisão dos órgãos em turmas e grupos de turmas.

Nos tribunais não divididos a competência é recursal e originária. A

competência recursal é definida para o julgamento dos recursos

ordinários contra as decisões proferidas para o julgamento dos

recursos ordinários contra as decisões proferidas pelas Varas nos

dissídios individuais, o agravo de petição interposto contra as

decisões prolatadas pela primeira instância nas execuções de

sentenças, os agravos de instrumento e agravo regimental. A

competência originária é para decisão dos dissídios coletivos,

mandados de segurança, ações rescisórias, conflitos de competência

e matéria administrativa.

Nos tribunais divididos, a divisão não é sempre a mesma. Há

tribunais divididos em turmas e outros divididos em grupos de turmas

e turmas. Nos primeiros, as turmas exercem a função recursal das

decisões da primeira instância e o Pleno tem a competência

originária para os mesmos processos indicados no item anterior, da

competência originária e às Turmas os processos de competência

recursal da primeira instância acima enumerados, ficando com o

Pleno, matéria administrativa interna do tribunal. A Lei n. 7.701, de

1988, permite a especificação de um grupo de turmas em dissídios

coletivos. Há tribunais que têm um Órgão Especial, cuja competência

é definida pelo Regimento Interno (CF, art. 93, XI).

Martins (2006:133) discorre sobre as funções dos presidentes dos TRT’s:

Ao Juiz Presidente do TRT cabe presidir as reuniões do tribunal,

tendo voto de desempate. Nas sessões administrativas, vota como

os demais juízes. Compete aos presidentes dos tribunais regionais:

Page 52: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

37

a) dar posse aos titulares das Varas e juízes substitutos e

funcionários do próprio Tribunal e conceder férias e licenças a

tais pessoas;

b) presidir as audiências de conciliação nos dissídios coletivos;

c) executar suas próprias decisões e as proferidas pelo Tribunal;

d) convocar suplentes dos juízes do Tribunal, nos impedimentos

destes;

e) representar ao presidente do TST contra os presidentes que

faltarem a três reuniões ou sessões consecutivas, sem motivo

justificado, que perderão o cargo;

f) despachar os recursos interpostos pelas partes;

g) requisitar às autoridades competentes, nos casos de dissídios

coletivos, a força necessária, sempre que houver ameaça de

perturbação da ordem;

h) exercer correção (apenas nos tribunais que não têm turmas),

pelo menos uma vez por ano, sobre Varas ou parcialmente,

sempre que se fizer necessário, e solicitá-la, quando julgar

conveniente, ao presidente do Tribunal de Justiça, relativamente

aos juízes de Direito investidos na administração da Justiça do

Trabalho;

i) distribuir os feitos, designando os juízes que os devem relatar;

j) designar, entre os funcionários dos Tribunais ou das Varas

existentes em uma mesma localidade, o que deve exercer a

função de distribuidor (art. 682 da CLT).

Os juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho atuam divididos em

turmas ou seções especiais, onde julgam processos de sua

competência originária, como ação rescisória, mandado de

segurança, matéria administrativa, conflitos de competência entre

juízes vinculados ao Tribunal Regional.

Por último, dentro da estrutura da Justiça do Trabalho, tem-se o Tribunal

Superior do Trabalho. Os membros que o compõe “são denominados ministros.

Funcionam em turmas, na Seção de Dissídios Individuais (SDI) ou na Seção de

Dissídios Coletivos” (SDC) – Martins (2006:133).

A nova composição do TST foi implementada pela Emenda Constitucional nº.

45/2004, in verbis:

Art. 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de vinte e

sete Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e

cinco e menos de sessenta e cinco anos, nomeados pelo Presidente

Page 53: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

38

da República após aprovação pela maioria absoluta do Senado

Federal, sendo:

I um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva

atividade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho

com mais de dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no

art. 94;

II os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho,

oriundos da magistratura da carreira, indicados pelo próprio Tribunal

Superior.

A competência funcional do Tribunal Pleno é explicitada por Nascimento

(2002:231-232):

Em matéria judiciária, o primeiro é a decisão sobre declaração de

inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público,

quando aprovada a argüição pelas Seções Especializadas ou

Turmas, tema que se interpõe ao estudo do controle de

constitucionalidade, que, em nosso ordenamento jurídico, é direto,

via ações diretas de constitucionalidade ou inconstitucionalidade (CF,

art. 102, I, a, e Lei nº. 9.868, de 1999), ou indireto, exercido pelos

juízes e tribunais, nos processos submetidos à sua apreciação, nos

quais o tema for argüido, caso em que, pelas vias recursais normais,

inclusive recurso extraordinário, a questão constitucional poderá

chegar ao Supremo Tribunal Federal.

O Pleno tem a função, igualmente da maior importância, de unificar a

jurisprudência. Essa unificação se faz, primeiro, pela função, que lhe

compete, de aprovar, modificar ou revogar enunciado da súmula da

jurisprudência predominante, tanto em dissídios individuais como,

sob forma de precedentes normativos, em dissídios coletivos,

fixando, portanto, as diretrizes a serem observadas na sua

jurisprudência que, embora não obrigatórias para os juizes e

tribunais, acabam sendo seguidas, sabendo-se que, quando o

processo, pela via dos recursos, é submetido à apreciação do TST, a

decisão observará essas mesmas regras, ainda que contrariadas

pelas instâncias inferiores. Logo, as decisões proferidas por essas

instâncias são definitivas, sujeitas, apenas, ao crivo do Supremo

Tribunal Federal em matéria constitucional, e não provisória, como

são as proferidas pelos órgãos de hierarquia menor, o que dá maior

relevo, em termos práticos, aos referidos enunciados. A unificação da

Page 54: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

39

jurisprudência pelo Pleno se faz, também, quanto aos julgamentos

proferidos pelas Subseções e pela Seção de Dissídios Individuais.

O Pleno exerce o controle dos atos do presidente ou de qualquer

ministro, ressalvada a competência das Seções Especializadas, pela

via do mandado de segurança, e das decisões do corregedor-geral,

pelo agravo regimental interposto contra elas.

Dentre as funções em matéria administrativa, igualmente já

enumeradas, sublinhe-se a aprovação ou emenda do Regimento

Interno, do Regimento da Corregedoria-Geral e do Regimento Geral

da Secretaria.

Como se observou inicialmente, além do Pleno, o Tribunal é divido em turmas

para o julgamento de dissídios coletivos e individuais, as chamadas Seções. Martins

(2006:134-135) discorre sobre estas:

A Seção Especializada em Dissídios Coletivos (SDC) do TST tem

competência originária para conciliar e julgar dissídios coletivos que

excedam a jurisdição dos Tribunais Regionais do Trabalho,

estendendo ou revendo suas decisões. Pode julgar ações rescisórias

contra suas decisões, mandados de segurança contra atos do

Presidente do Tribunal ou Ministros integrantes da Seção, julgando

também conflitos de competência entre Tribunais Regionais em

dissídios coletivos. Tem competência para julgar, em última

instância, recursos ordinários interpostos contra decisões dos

Tribunais Regionais em dissídio coletivo, em ações rescisórias e

mandados de segurança atinentes a esses dissídios. Compete

também à Seção de Dissídios Coletivos julgar embargos infringentes

contra decisão não unânime proferida em dissídio coletivo de sua

competência originária. Decide, ainda, embargos de declaração

opostos a seus acórdãos, agravos de instrumentos interpostos contra

despacho denegatório de recurso ordinário nos processos de sua

competência, suspeições argüidas contra o Presidente e demais

Ministros que integram a seção, nos feitos pendentes de sua decisão

(art. 2º da Lei nº 7.701/88).

As Turmas do TST têm a competência para julgar (Martins, 2006:135):

a) os recursos de revista interpostos de decisões dos Tribunais

Regionais do Trabalho;

Page 55: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

40

b) em última instância, os agravos de instrumento dos despachos do

Presidente de Tribunal Regional que denegarem seguimento a

recurso de revista;

c) em última instância, os agravos regimentais;

d) os embargos de declaração opostos a seus acórdãos (art. 5º da

Lei nº 7.701/88).

Ao presidente do TST compete (Martins, 2006:135-136):

a) presidir às sessões do Tribunal, fixando os dias para a realização

das sessões ordinárias e convocando as extraordinárias;

b) superintender todos os serviços do Tribunal;

c) expedir instruções e adotar as providências necessárias para o

bom funcionamento do Tribunal e dos demais órgãos da Justiça

do Trabalho;

d) fazer cumprir as decisões ordinárias do Tribunal, determinando

aos Tribunais Regionais e aos demais órgãos da Justiça do

Trabalho a realização dos atos processuais e das diligências

necessárias;

e) submeter ao Tribunal os processos em que tenha de deliberar e

designar, na forma do regimento interno, os respectivos relatores;

f) despachar os recursos interpostos pelas partes e os demais

papéis em que deve deliberar;

g) determinar as alterações que se fizerem necessárias na lotação

de pessoal da Justiça do Trabalho, fazendo remoções ex officio,

de servidores entre os Tribunais Regionais, Varas do Trabalho e

outros órgãos, bem como conceder as requeridas que julgar

convenientes ao serviço, respeitada a lotação de cada órgão;

h) conceder licenças e férias aos servidores, bem como impor-lhes

penas disciplinares que excederem da alçada das demais

autoridades;

i) dar posse e conceder licença aos membros do Tribunal, bem

como conceder licenças e férias aos presidentes dos Tribunais

Regionais (art. 707 da CLT). O presidente terá um secretário por

ele designado entre os funcionários lotados no Tribunal, sendo

auxiliado por servidores designados nas mesmas condições.

O mesmo doutrinador ainda explana a estrutura funcional do TST abordando

a competência do Vice-Presidente e do Ministro Corregedor. Incumbe ao Vice-

Presidente do TST (Martins, 2006:136):

a) substituir o Presidente em suas férias, ausências e

impedimentos;

Page 56: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

41

b) cumprir delegações do Presidente;

c) exercer os encargos da Corregedoria-Geral nas ausências,

impedimentos e nas férias do Corregedor.

Ao Corregedor-Geral compete (Martins, 2006:136):

a) submeter à apreciação do Órgão Especial o Regimento da

Corregedoria-Geral e suas alterações;

b) exercer funções de inspeção e correição permanente ou

periódica, ordinária ou extraordinária, geral ou parcial;

c) decidir reclamações contra os atos atentatórios à boa ordem

processual, praticados pelos Tribunais Regionais, seus

presidentes e juízes, quando inexistir recurso específico;

d) expedir provimentos para disciplinar os procedimentos a serem

adotados pelos órgãos judiciários da Justiça do Trabalho.

Ainda cabe acrescentar que “nos locais não sujeitos à jurisdição das varas do

Trabalho, compete aos Juízes de Direito conhecer e julgar os litígios do trabalho,

ficando, para tal fim, investidos de jurisdição trabalhista” (Giglio 2003:49).

3.3 Competência relativa

Após vislumbrar os preceitos da competência absoluta, passa-se ao estudo

da competência relativa na esfera trabalhista.

Para a Justiça do Trabalho, a competência relativa diz respeito somente ao

lugar, contrariamente ao processo civil, em que se faz relativa, a competência tanto

em razão do lugar quanto em razão do valor (Torreão apud, Pires, 1998:119).

Esclarecendo sobre a competência relativa, Pires (1998:119) registra:

Quando, diversamente, o legislador funda-se em critérios ligados ao

interesse privado (“comodidade das partes”) tem-se a competência

como relativa: “admite-se como regra geral que as partes possam

modificar as regras de competência territorial, mas o mesmo não

ocorre com os foros estabelecidos segundo o interesse público” –

Humberto Teodoro Jr.

Assim, a competência relativa como é, via de regra, a de foro ou

territorial, é passível de “prorrogação voluntária”, quando tal

modificação se dá pela vontade das partes (CPC, art. 111 e 305) ou

pela falta de oposição de exceção ao foro competente (CPC, art.

Page 57: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

42

114), podendo ocorrer, ainda, “prorrogação legal” (ou necessária),

quando decorre de imposição da própria lei, como nos casos de

conexão (CPC, art. 103) ou de continência de causas (CPC, art.

104).

“A incompetência relativa prorroga-se, tornando competente o juiz

incompetente, se não for argüida no caso e prazos legais, por meio de exceção de

incompetência” (Santos, 1999:249).

Nesse sentido, a competência é relativa porque dela não depende a essência

do processo, podendo o juiz tornar-se competente na falta de reclamação das partes

(Santos, 1999:249).

3.3.1 Competência em Razão do Lugar

A competência em razão do lugar também chamada territorial ou de foro, é

competência relativa. Porém, isso não significa que não seja importante, já que,

argüida no caso e prazo certo, torna nulo o processo.

Conceituando este instituto, Nascimento (2002:219) escreve:

Denomina-se competência territorial ou ratione loci, ou, ainda, de

foro, aquela determinada com base nos espaços geográficos sobre

os quais atua o órgão jurisdicional. Trata-se, portanto, de um modo

de delimitação territorial da jurisdição. Os órgãos jurisdicionais

trabalhistas são distribuídos pelo território do País, em localizações

adequadas para o atendimento das demandas, cabendo a cada um

deles atuar o poder jurisdicional nos limites da circunscrição onde

estão sediados. Corresponde aos litigantes a observância dos

mesmos limites territoriais em cujo âmbito o seu processo terá

desenvolvimento. Assim, para propor uma ação trabalhista,

indispensável é a verificação das regras de competência territorial,

que são instituídas com o visível e justificável propósito de facilitar o

processo para o trabalhador e evitar a sua locomoção e gastos daí

decorrentes.

Sendo assim “a competência territorial pode ser definida como aquela fixada

para delimitar territorialmente a jurisdição. Fixa o foro (circunscrição jurisdicional do

órgão do Poder Judiciário) onde deve ser proposta a ação” (Almeida, 2002:62).

Page 58: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

43

Martins (2006:125) estabelece que “a competência em razão do lugar (ex

ratione loci) ou territorial é a determinada à Vara do Trabalho para apreciar os litígios

trabalhistas no espaço geográfico de sua jurisdição”.

Giglio (2003:49) trata da competência das Varas do Trabalho:

A competência territorial das Varas do Trabalho é originalmente dada

pela lei que as criou, e somente pode ser alterada por outra lei

federal. Assim sendo, a modificação da organização judiciária do

Estado-Membro, desmembrando comarcas e criando novas, assim

como a criação, incorporação ou desmembramento de Municípios

não afetam a competência territorial das Varas.

Ressalta-se que a competência em razão do lugar é relativa, como já

discutido no item 2.3. Portanto, lembra Nascimento (2002:225):

A competência territorial, como é simplesmente relativa, pode ser

prorrogada, sempre que movido o processo perante Vara não

competente, e a exceção de incompetência não venha a ser

suscitada. (...). Não pode a Vara, ex officio, declarar-se incompetente

ratione loci, mas somente mediante provocação do interessado. Com

efeito, absoluta é a competência em que os limites jurisdicionais são

invariáveis, e esse é o caso da competência material e, de certo

modo, pessoal; porém, a competência territorial é relativa e os limites

territoriais da jurisdição podem ser dilatados, sem vício de nulidade.

Há, no entanto, incoerência da lei que se afasta da doutrina e é

pouco elucidativa quando ordena ao juiz declarar de ofício nulidade

decorrente de incompetência de foro (CLT, art. 795, §1º).

No mesmo posicionamento, Sérgio Martins (2006:130):

O § 1º do art. 795 da CLT determina que a nulidade fundada em

incompetência de foro (em razão de lugar) pode ser declarada de

ofício pelo juiz. No entanto, essa regra não é assim interpretada. A

competência em razão do lugar é relativa, devendo ser argüida, sob

pena de se entender como competente aquele juízo que à primeira

vista era incompetente.

O que deve ser entendido, quanto ao § 1º do art. 795 da CLT, é que

a incompetência ali mencionada é a absoluta, em razão da matéria, e

não relativa, em razão do lugar. Aplica-se aqui a regra do art. 114 do

CPC: “prorroga-se a competência, se o réu não opuser exceção

declinatória do foro e de juízo, no caso e prazo legais”.

Page 59: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

44

Assim, se o empregado propõe ação em São Paulo, embora

prestasse serviços em Guarujá, e o empregador não argúi a

incompetência da Vara de São Paulo, esta que era incompetente em

razão do lugar passa a ser competente, prorrogando sua

competência, sendo a ação conhecida e decidida pelo juízo de São

Paulo.

Nascimento (2002:220) apresenta algumas regras que regulam a

competência territorial trabalhista:

São três as regras destinadas a indicar a Vara perante a qual a

questão deve ser movida. A primeira, que é geral, quanto ao órgão

perante o qual o processo será apresentado, será a Vara do local da

prestação de serviços. A segunda, para viajantes e agentes, tendo

em vista que prestam serviços movimentando-se em localidades

diferentes, caso em que será competente a Vara da localidade em

que prestam contas dos seus serviços ao superior hierárquico. A

terceira, para empresas que promovem atividades em mais de uma

localidade, também é específica, diante do deslocamento do

empreendimento patronal; a Vara competente será tanto a do local

onde o empregador estiver exercendo a atividade como a da sua

sede.

Quanto à primeira regra, ensina Martins (2006:126):

O caput do art. 651 da CLT dispõe sobre a regra geral para

estabelecer a competência em razão do lugar onde a ação

trabalhista será proposta.

Assim, a ação trabalhista deve ser proposta no último local da

prestação de serviços do empregado, ainda que o empregado tenha

sido contratado em outra localidade ou no estrangeiro. (...)

Não vamos adotar o domicílio do réu, o local onde a empresa está

estabelecida, como está previsto no CPC, mas sim o último local

onde o empregado trabalhou. Neste é que a ação deverá ser

proposta.

E arremata o autor (2006:126-127):

A ação deve ser proposta pelo empregador em face do empregado

também no local da prestação de serviços do obreiro. O art. 651 da

Page 60: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

45

CLT estabelece que a competência das Varas do Trabalho é

determinada pela localidade onde o empregado, reclamante ou

reclamado, prestar serviços aos empregados. Assim, se o

empregador ajuíza ação de consignação em pagamento contra o

empregado, deve observar a regra de que ela deve ser proposta no

último local da prestação de serviços do trabalhador.

Na mesma linha doutrinária, Almeida (2002:55), contempla:

Assim sendo, seja o empregado autor ou réu, deve a ação trabalhista

ser proposta no foro ou no local da prestação de serviços, muito

embora tenha o serviço sido contratado ou ajustado em outro local

ou no estrangeiro.

Giglio (2003:59) comenta que “nos locais que existem vários juízos

cumulativamente competentes, a determinação do competente, para cada processo,

se faz mediante distribuição”.

Na segunda regra estabelecida por Nascimento, estão os viajantes e agentes

previstos no § 1°, do art. 651 da CLT. Sobre o tema, expõe Martins (2006:127):

A Lei nº 9.851, de 27 de outubro de 1999, deu nova redação ao § 1º

do art. 651 da CLT, que está assim redigido: “quando for parte no

dissídio agente ou viajante comercial, a competência será da Vara da

localidade em que a empresa tenha agência ou filial e a esta o

empregado esteja subordinado e, na falta, será competente a Vara

da localidade em que o empregado tenha domicílio ou a localidade

mais próxima.

Prosseguindo na questão, Almeida (2002:60) aduz que:

O dispositivo legal nominado, com a redação dada pela Lei nº. 9.851,

de 27 de outubro de 1999, fixa a competência da Vara do Trabalho

da localidade em que o empregador tenha agência ou filial, desde

que o agente ou viajante a elas esteja subordinado. Caso contrário,

competente será a Vara do Trabalho sediada no domicílio do

empregado ou, não havendo ali a Justiça do Trabalho, na localidade

mais próxima.

Ainda sobre o assunto, Nascimento (2002:223) expõe:

Agentes são representantes da empresa, porém desde que mediante

subordinação. Se representantes autônomos, o problema não é

Page 61: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

46

alcançado pela legislação trabalhista. Pode uma empresa manter

numa cidade um empregado para representá-la, ou mais de um; há

um chefe e os seus subordinados. Exemplifique-se com uma agência

de empresa de aviação. É evidente que aqui, coincidindo com a

regra geral da localidade da prestação de serviços, a ação é

apresentada perante a Vara que se situa na localidade da agência.

Porém, se se trata de empregado único, então tem de se locomover

até a localidade onde a empresa está sediada para ingressar com o

processo, uma vê que não há ninguém que responda pela empresa

naquele local, somente ele próprio, reclamante. Prevalece, nesse

caso, o princípio do domicílio do empregador.

Finaliza resumidamente Malta (2002:162):

A CLT 651, § 1º, cuida de duas hipóteses. A primeira é a do viajante.

O foro competente é o do domicílio do empregador. Se, entretanto, o

viajante estiver diretamente ligado à filial ou à agência, tendo estas

como lugar central das suas atividades, seu foro será o da filial ou

agência.

Na terceira e última regra citada por Nascimento, estão as empresas com

filiais. Quanto a estas, segundo o autor, a competência em razão do lugar será tanto

onde o empregado exerce sua função como na sua sede.

Tal preceito está contido nos §§ 2° e 3° do art. 651 da CLT, porém, para

melhor entendimento, analisar-se-á individualmente cada uma das exceções.

Giglio (2003:58-59) aborda o § 2° da seguinte forma:

O art. 651, § 2º, da CLT estende a competência da Justiça do

Trabalho aos conflitos ocorridos em filial ou agência no exterior,

desde que o empregador tenha matriz no Brasil, o empregado seja

brasileiro e não exista convenção internacional em contrário.

Também o estrangeiro poderá valer-se da Justiça do Trabalho no

Brasil, se aqui prestar serviços.

No mesmo sentido, Malta (2002:162) considera:

Se o empregador é contratado em nosso território e presta serviços

no estrangeiro, não havendo convenção internacional em contrário,

ou não sendo brasileiro o empregado, fica excluída a jurisdição

brasileira, como se conclui do disposto no CLT, § 2º. Nos demais

casos, poderá o empregado aqui contratado, embora prestando

serviços em território estrangeiro, ajuizar reclamatória no Brasil. Há

Page 62: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

47

quem sustente que a jurisdição será nossa penas se a empresa tiver

sede no Brasil. A lei não o exige e sim que o foro da celebração do

contrato seja aqui.

O § 3° do art. 651, discorre sobre as empresas que promovem atividades fora

do lugar do contrato:

Em se tratando de empregador que promova a realização de

atividades fora do lugar do contrato de trabalho, é assegurado ao

empregado apresentar reclamação no foro de celebração do contrato

ou no da prestação dos respectivos serviços.

Sobre o tema, disserta Martins (2006:129-130):

O § 3º do citado artigo é exceção à regra geral. As exceções, por

natureza, devem ser interpretadas restritivamente. Dessa forma, a

regra contida no § 3º do art. 651 da CLT deve ser utilizada nos casos

em que o empregador desenvolve suas atividades em locais incertos,

transitórios ou eventuais.

Deve-se entender por empresas que promovem a prestação de

serviços fora do lugar da contratação as seguintes: especializadas

em auditorias, instalação de caldeiras, reflorestamento, em

atividades circenses, artísticas, feiras, exposições, promoções,

desfiles de moda, promotora de rodeios, montadoras industriais etc.

Nessas atividades, o empregado é requisitado para prestar serviços

em atividades eventuais, transitórias e incertas. É o que ocorre com

as pessoas que vão fazer auditoria, exposições em feiras ou desfiles

de moda. Acabado o evento, não mais trabalham naquela localidade,

para a qual foram designadas. O circo e peça teatral, por exemplo,

estão na maioria das vezes em trânsito. Estão onde o espetáculo

está sendo realizado. Posteriormente, vão para outro local, e assim

por diante.

Dessa forma, poderá escolher o obreiro livremente em propor a ação

no local da celebração do contrato de trabalho ou no da prestação

dos respectivos serviços, onde a prova lhe for mais fácil, ou na

localidade onde tiver menores gastos com locomoção.

Arremata Malta (2002:164), comentando o disposto no referido § 3º:

Certas empresas, como algumas que se especializam em obras

contratadas mediante concorrência pública, admitem seus

Page 63: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

48

empregados já com a cláusula de poderem ser transferidos para

qualquer lugar em que se desenvolvem as obras. Outros

empreendimentos, entre os quais determinadas empresas circenses

e teatrais, estão, por sua própria natureza, em perpétuo

deslocamento. Os empregados de umas e outras, na conformidade

da regra contida na CLT 651, § 3º, podem ajuizar suas reclamações

trabalhistas no foro correspondente ao lugar da contratação ou no da

localidade em que trabalham, ou, se já despedidos, prestavam

serviços quando dispensados.

Para encerrar as disposições doutrinárias referentes à competência em razão

do lugar, importante anotar a lição de Giglio (2003:58), referentes ainda aos

dissídios coletivos:

Nos dissídios coletivos, o critério para fixar a competência é o da

extensão territorial do conflito: será do Tribunal Regional com

competência sobre o local do conflito, se este não exceder o território

sob sua jurisdição; caso contrário, isto é, se o conflito se estender por

área abrangida por mais de um Tribunal Regional, a competência

será do Tribunal Superior do Trabalho. Como única exceção, o TRT

de São Paulo (2ª Região) tem competência em todo o território do

Estado, inclusive na área territorial abrangida pelo TRT de Campinas

(15ª Região).

Portanto, se o dissídio coletivo for de abrangência nacional (exceder a

jurisdição de um TRT), a competência será da Seção Especializada em Dissídios

Coletivos do TST.

3.4 Competência da Justiça do Trabalho após a EC nº. 45/2004

A competência da Justiça do Trabalho é estabelecida pelo art. 114 da

Constituição Federal. A Emenda Constitucional nº. 45/2004 alterou completamente o

referido artigo, além de lhe acrescentar alguns incisos. Eis o seu texto:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

I as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de

direito público externo e da administração pública direta e indireta da

União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; (Incluído

pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

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49

II as ações que envolvam exercício do direito de greve; (Incluído pela

Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

III as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre

sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;

(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data,

quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição;

(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

V os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição

trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o; (Incluído pela

Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

VI as ações de indenização por dano moral ou patrimonial,

decorrentes da relação de trabalho; (Incluído pela Emenda

Constitucional nº 45, de 2004)

VII as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos

empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho;

(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

VIII a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art.

195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças

que proferir; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

IX outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma

da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

§ 1º - Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger

árbitros.

§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à

arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar

dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do

Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas

legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas

anteriormente. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de

2004).

§ 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de

lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá

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ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o

conflito. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Embora a EC nº. 45/2004 tenha alterado consideravelmente o artigo 114 da

Constituição Federal, para fins de estudo no presente trabalho, comentar-se-á

somente as disposições contidas no inciso VIII do artigo acima citado, que trata da

competência da Justiça do Trabalho no que se refere à execução das contribuições

previdenciárias.

Queiroz Júnior (2006:2) reflete sobre a Emenda 45:

Recentemente, a Emenda Constitucional nº. 45, mais uma vez,

alterou o rol de competências da Justiça Trabalho. Não obstante todo

o alvoroço novamente estabelecido no meio jurídico, a Emenda

reafirmou como competência da Justiça do Trabalho a execução, de

ofício, "das contribuições sociais previstas no art. 195, inc. I, a, e II, e

seus acréscimos legais, decorrentes de sentença que proferir".

Como um operador do Direito, poderia juntar minha voz aos demais

críticos, e apontar questões de ordem processual que afligem

àqueles que militam na Justiça do Trabalho, entretanto, mesmo

sendo notório e inquestionável, à luz das Cortes Superiores, é a

pretensão deste artigo, não esgotar, mas reacender uma importante

discussão: seria a Justiça do Trabalho, em sua natureza, competente

para executar créditos previdenciários? Para tanto, além de analisar

dois ramos distintos do Direito, quais sejam, o do Trabalho e

Previdenciário, o artigo ainda dedicará a ressaltar a competência

material desta Justiça Especializada e a natureza jurídica dos

créditos previdenciários, para que, sobrepesadas as proposições,

seja apresentada uma conclusão.

Martins (2006:112), ao analisar a questão, afirma que

(...) o mencionado inciso VIII do art. 114 da Lei Magna não usa a

expressão nos termos da lei, como outros dispositivos

constitucionais, mas acaba necessitando de legislação ordinária para

explicitar a forma com que será feita essa exigência.

Nessa condição, a Lei nº. 10.035/00, que foi instituída para regulamentar o §

3º do art. 114, com redação dada pela Emenda Constitucional nº. 20/1998, foi

recepcionada pela nova legislação constitucional.

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51

No próximo capítulo será realizado um estudo mais aprofundado no que

tange à competência da Justiça do Trabalho para execução das contribuições

previdenciárias.

Page 67: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

4 A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO DAS

CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS

4.1 Abrangência da execução das contribuições previdenciárias perante a

Justiça do Trabalho

A previsão constitucional para execução das contribuições previdenciárias

perante a Justiça do Trabalho foi instituída pela Emenda Constitucional nº. 20/1998,

que acrescentou o § 3º ao o artigo 114, com o seguinte teor:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os

dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores,

abrangidos os entes de direito público externo e da administração

pública direta e indireta dos Municípios, do Distrito Federal, dos

Estados e da União, e, na forma da lei, outras controvérsias

decorrentes da relação de trabalho, bem como os litígios que tenham

origem no cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive

coletivas. (...).

§ 3º Compete ainda à Justiça do Trabalho executar, de ofício, as

contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus

acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir.

Sobre o tema, colhe-se das lições de Motta (2002:88):

Veio, contudo, no bojo da referida Emenda, o acréscimo de um §3º

ao artigo 114 da Carta Magna, atribuindo à Justiça do Trabalho a

competência para executar “...de ofício, as contribuições sociais

previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes

das sentenças que proferir.”, aqui entendidas as contribuições

previdenciárias devidas pelo empregador e empregado, incidentes

sobre as parcelas constantes da condenação (art. 832, § 3º, CLT).

(grifo do original)

Acrescente-se àquelas, os ensinamentos de Martins (2006:691):

Criou o § 3º do art. 114 da Constituição um execução incidental de

quem não era parte no processo executivo trabalhista, passando o

INSS a intervir no feito apenas na fase de execução. Trata-se de algo

bastante diferente do que até então exista no processo, que na tinha

regra semelhante. O INSS passa a ser terceiro interessado no

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53

processo, quanto às contribuições previdenciárias, pois não é parte

na relação processual.

Também com a Emenda Constitucional nº. 20/1998, foi alterado o artigo 195,

I, a e II, que passou a ter a seguinte redação:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade,

de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos

provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:

I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na

forma da lei, incidentes sobre:

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou

creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço,

mesmo sem vínculo empregatício;

b) a receita ou o faturamento;

c) o lucro;

II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não

incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo

regime geral de previdência social de que trata o art. 201;

O § 3º do artigo 114 da CF/88 foi completamente alterado pela Emenda

Constitucional nº. 45/200410, porém a competência para execução das contribuições

previdenciárias foi mantida, agora no inciso VIII do mesmo dispositivo legal:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (...)

VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art.

195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças

que proferir;

Ratificando o acima exposto, Vicente Jr. (2005:2) afirma que:

10 § 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito.

Page 69: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

54

A competência da Justiça do Trabalho para execução das

contribuições previdenciárias veio com a edição da E.C. nº. 20/98,

que acrescentou ao art. 114 da Constituição Federal, o § 3º, cujo

texto foi, em essência, reproduzido pela Emenda Constitucional nº.

45/2004 com a redação que deu ao novel inciso VIII, do art. 114, da

C.F. de 1988. Com a ampliação da competência material da Justiça

do Trabalho, além das execuções decorrentes nas decisões

proferidas no julgamento dos “dissídios individuais e coletivos entre

trabalhadores e empregadores”, o que nos remete às “relações de

emprego”, irá executar ainda as contribuições previdenciárias

incidentes sobre as relações de trabalho, assim entendidas como

gênero, em considerável aumento de espectro de alcance, também

em relação aos encargos sociais. (grifos no original)

Acrescente-se à lição acima, os dizeres de Horvath Jr. (2006:6):

A sistemática da execução de ofício é inserida pela EC nº. 20/98 e

modificada pela EC nº. 45/04 que alterou topograficamente sua

localização mantendo o mesmo teor: (...).

Depreende-se do texto constitucional a competência abrangente da

Justiça do Trabalho que passa a ser absoluta para a cobrança dos

valores decorrentes de suas sentenças, retirando a possibilidade de

o órgão de arrecadação previdenciário inscrever em dívida ativa

quaisquer valores ou diferenças relativas a litígios trabalhistas.

A Lei nº. 10.035/00 alterou vários dispositivos da CLT visando

adaptá-la para esta nova realidade constitucional. Nas lacunas deste

instrumento legislativo, aplicar-se-ão subsidiariamente a Lei de

Execuções Fiscais e o Código de Processo Civil.

Já Martins (2006:112) faz as seguintes considerações:

A palavra executar tem o sentido de obrigar ao pagamento da dívida,

de fazer cumprir a obrigação, de promover em juízo a cobrança da

prestação a que se obrigou o devedor.

A execução será feita nos próprios autos do processo em relação às

sentenças proferidas nos dissídios individuais. Os dissídios coletivos

não têm natureza condenatória, apenas criam, modificam ou

extinguem direitos, não incidindo contribuições nesse momento,

apenas quando se executa o que está contido na sentença

normativa, que é feito por meio de ação de cumprimento perante a

Vara do Trabalho. A exigência dirá respeito às sentenças proferidas

pela Justiça do Trabalho e não a outros débitos confessados e não

Page 70: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

55

pagos pelo empregador o de outras contribuições, que não

originárias da própria sentença.

O mesmo autor continua (2006:113):

A Justiça do Trabalho passa a ter competência para dizer sobre a

incidência e não-incidência da contribuição, pois quem executa a

exação tem poderes para dizer sobre o que incide a contribuição. É a

conclusão que se extrai do inciso VIII do art. 11 da Lei Magna,

embora esta não seja expresso nesse sentido.

Faz referência expressamente o inciso VIII do art. 114 da

Constituição ao art. 195, I, a, e II, da Constituição, sobre a

contribuição do empregador, da empresa e da entidade a ela

equiparada, incidente sobre a folha de salários e demais rendimentos

do trabalho pagos ou creditados a qualquer título, a “pessoa física

que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício” e

“trabalhador e dos demais segurados da previdência social”. Logo, a

contribuição a se exigida será: (a) a do empregador, da empresa e

da entidade a ela equiparada, incidente sobre a folha de salários e

demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer

título, à pessoa física que lhe presta serviço, mesmo sem vínculo

empregatício. Isso significa a exigência da contribuição da empresa

sobre os pagamentos feitos a empregados, domésticos,

trabalhadores avulsos e até autônomos. É o que acontece quando a

Justiça do Trabalho não reconhece o vínculo de emprego,

considerando o trabalhador autônomo, ocasião em que serão

devidas as contribuições da empresa incidentes sobre a

remuneração do autônomo (20%); (b) a do trabalhador e dos demais

segurados da previdência social. Aqui, a exigência será da

contribuição do próprio empregador ou do autônomo que não tiverem

sido recolhidas, e não da empresa. A execução será, portanto, feita

tanto em relação à contribuição da empresa, na forma acima

especificada, como do próprio trabalhador ou executar as duas ao

mesmo tempo. Não será executada, porém, contribuição incidente

sobre a receita, o faturamento ou o lucro da empresa, hipóteses

previstas nas alíneas b e c do inciso I do art. 195 da Lei Maior.

E Martins (2006:114) arremata afirmando que “a contribuição previdenciária

decorrente de sentença trabalhista não é título executivo judicial. Título executivo

judicial é a sentença trabalhista, que será executada”.

Page 71: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

56

Pinto (2004:342), ao realizar seu estudo acerca das contribuições

previdenciárias que podem ser cobradas na Justiça do Trabalho, ensina que foi

(...) a partir da alteração constitucional [EC nº. 20/1998], que a

matéria concernente às contribuições de previdência social passou a

ser trabalhista, por definição normativa, quando decorrer de

imposição a empregador em sentença proferida em dissídio

individual do trabalho. Obviamente, continuou sendo matéria fiscal,

por definição jurídica, quando decorrer de inscrição de débito fiscal

na divida pública.

Em razão disso, o ordenamento jurídico brasileiro passou a conviver

com dois tipos de processo para a execução de um só tipo de

obrigação: o título judicial, que dá lugar à execução trabalhista, e o

título extrajudicial, que dá lugar ao executivo fiscal, da mesma forma

que passou a existir uma partilha da competência para conhecer da

ação entre a Justiça do Trabalho e a Justiça Federal.

Garcia (2006:56) realiza a seguinte interpretação do inciso VIII do artigo 114

da Constituição:

Decorrer (como verbo transitivo indireto) quer dizer “ter origem em;

proceder, derivar”. Portanto, somente as contribuições que tenham

origem na sentença trabalhista, ou seja, dela procedam, é que

podem ser executadas neste ramo do Poder Judiciário. Apenas as

contribuições incidentes sobre as parcelas de natureza

remuneratória, objeto de condenação na decisão, é que são

“decorrentes” desta.

Quanto às contribuições previdenciárias que incidem sobre as

remunerações “auferidas” no curso do contrato de trabalho, jamais

têm origem na sentença, ainda que esta declare, ou seja, reconheça

a relação de emprego. (...).

Assim, o dispositivo constitucional não permite a execução, pela

Justiça do Trabalho, das contribuições previdenciárias relativas às

remunerações que não foram objeto de condenação na sentença

trabalhista.

Há que se atentar que não é toda e qualquer contribuição previdenciária que

poderá ser objeto de execução perante a Justiça do Trabalho. Nesse sentido, fica-se

com as lições de Motta (2002:88):

Page 72: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

57

Como à Justiça do Trabalho compete “[...] conciliar e julgar os

dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e

empregadores...” (art. 114, caput, CF/88), deve-se entender, a teor

do disposto no § 3º do mesmo dispositivo, que as contribuições

sociais (previdenciárias) passíveis de serem por ela executadas

estão restritas àquelas incidentes, na forma da lei, sobre as parcelas

constantes da condenação ou do acordo homologado (art. 832, § 3º,

da CLT; arts. 20, 22 e 28, Lei nº. 8.212/91). As demais, incidentes

sobre “a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos

ou creditados, a qualquer titulo, à pessoa física...” que preste

serviços, mesmo sem vínculo empregatício, a “empregador, empresa

ou entidade a ela equipara na forma da lei...” (art. 195, I, “a”, CF/88),

representam crédito a ser constituído através de procedimento

administrativo próprio e, após seu lançamento no livro próprio de

inscrição na Dívida Ativa pelo Órgão competente, executáveis

perante a Justiça Federal (art. 142 e seu parágrafo único, CTN; arts.

33, § 7º, e 39, §1º, da Lei nº. 8.212/91, e art. 109, I, CF/88).

Assim, pelo exposto, as que interessam ao nosso estudo dizem

respeito, exclusivamente, àquelas contribuições cuja competência

arrecadadora esteja afeta ao INSS e que derivem das decisões

proferidas nos processos trabalhistas. E nós as identificaremos, para

os mesmos fins, como "contribuições previdenciárias", pois essa a

denominação adotada, por vezes, pela Lei nº. 10.035/00, que

regulamentou os procedimentos de sua execução.

Não menos importantes são as ponderações de Castro e Lazzari (2005:373-

375):

De acordo com o § 3º do art. 114 da Constituição, executam-se

perante a Justiça do Trabalho os créditos da Seguridade Social

caracterizados como contribuições sociais e acréscimos legais (juro e

multa moratória), decorrentes das sentenças que proferir, sejam elas

no sentido de solucionar litígios, sejam nas hipóteses de

homologações de acordos, devidas pelo empregador ou empresa

sobre valores pagos ou creditados a pessoa física – ou seja, o

segurado empregado ou não empregado – e sobre o salário de

contribuição dos segurados. (...).

(...). Mesmo havendo acordo em que as partes transijam sobre a

existência de relação de emprego registrando não ter ocorrido o

liame desta natureza, ainda assim serão devidas as contribuições

Page 73: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

58

incidentes sobre o valor acordado, caso se refira a pagamento por

serviços prestados (arts. 21 e 22, III, da Lei n. 8.212/91).

Embora a legislação seja omissa a respeito, resta evidente que, em

se tratando de valores devidos em tempo pretérito (reconhecimento

em Juízo, por sentença de mérito ou homologatória), o fato gerador

da contribuição não é a sentença, mas o crédito devido ao segurado,

desde a época do inadimplemento; assim, haverá execução do valor

das contribuições, acrescidas de juros moratórios e multa, em função

da ocorrência do fato gerador (importância devida, ainda que não

paga).

Da jurisprudência, destaque para o entendimento da MM. Desembargadora

do Trabalho do TRT da 12ª Região, Dra. Teresa Regina Cotosky, relatora do

acórdão proferido no Acórdão nº. 7611/2006. Do corpo do acórdão, extrai-se:

Inicialmente, a teor do inciso VII do art. 114 da Constituição da

República, com a redação dada pela Emenda Constitucional n.º

45/04, compete à Justiça do Trabalho executar, de ofício, as

contribuições sociais previstas no art. 195, incs. I alínea a, e II, da

Constituição Federal, e seus acréscimos legais, decorrentes das

sentenças que proferir.

Esse dispositivo constitucional, com a redação que vigorava

anteriormente (parágrafo 3º), deu ensejo à edição da Lei nº 10.035,

de 25.10.2000, acrescentou o parágrafo único ao art. 876 da CLT, e

estabelece que são executáveis ex officio os créditos previdenciários

devidos em decorrência de decisão proferida por Juízes e Tribunais

do Trabalho, resultantes de condenação ou de homologação de

acordo.

A seguir, passar-se-á ao estudo do rito utilizado para a cobrança das

contribuições previdenciárias perante a Justiça do Trabalho.

4.2 O procedimento processual na execução dos créditos trabalhistas

A Lei nº. 10.035 de 25 de outubro de 2000 regulamentou o § 3° do art. 114 da

CF/88 inserido pela Emenda Constitucional nº. 20/98 e, embora anterior à EC nº.

45/2004, foi recepcionada por esta.

Page 74: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

59

A referida lei ordinária apresentou as alterações necessárias à Consolidação

das Leis Trabalhistas para tornar possível a arrecadação ex ofício das contribuições

sociais pela Justiça do Trabalho (Motta, 2002:88).

O novo texto apresentado pela Lei nº. 10.035/00 tem a seguinte redação:

Art. 1º A Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo

Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, passa a vigorar com as

seguintes alterações:

"Art.831 (...)"

"Parágrafo único. No caso de conciliação, o termo que for lavrado

valerá como decisão irrecorrível, salvo para a Previdência Social

quanto às contribuições que lhe forem devidas”.

"Art. 832 (...)"

"§ 3º As decisões cognitivas ou homologatórias deverão sempre

indicar a natureza jurídica das parcelas constantes da condenação

ou do acordo homologado, inclusive o limite de responsabilidade de

cada parte pelo recolhimento da contribuição providenciaria, se for o

caso".

"§ 4º O INSS será intimado, por via postal, das decisões

homologatórias de acordos que contenham parcela indenizatória,

sendo-lhe facultado interpor recurso relativo às contribuições que lhe

forem devidas".

"Art. 876 (...)"

"Parágrafo único. Serão executados ex officio os créditos

previdenciários devidos em decorrência de decisão proferida pelos

Juízes e Tribunais do Trabalho, resultantes de condenação ou

homologação de acordo".

"Art. 878-A. Faculta-se ao devedor o pagamento imediato da parte

que entender devida à Previdência Social, sem prejuízo da cobrança

de eventuais diferenças encontradas na execução ex officio".

"Art. 879 (...)"

"§ 1º (...)"

"§ 1º - A. A liquidação abrangerá, também, o cálculo das

contribuições previdenciárias devidas".

"§ 1º - B. As partes deverão ser previamente intimadas para a

apresentação do cálculo de liquidação, inclusive da contribuição

previdenciárias incidente".

"§ 2º (...)"

Page 75: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

60

"§ 3º Elaborada a conta pela parte ou pelos órgãos auxiliares da

Justiça do Trabalho, o juiz procederá à intimação por via postal do

Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, por intermédio do órgão

competente, para manifestação, no prazo de dez dias, sob pena de

preclusão".

"§ 4º A atualização do crédito devido à Previdência Social observará

os critérios estabelecidos na legislação previdenciária".

"Art. 880. O juiz ou presidente do tribunal, requerida a execução,

mandará expedir mandado de citação ao executado, afim de que

cumpra a decisão ou o acordo no prazo, pelo modo e sob as

cominações estabelecidas, ou, em se tratando de pagamento em

dinheiro, incluídas as contribuições sociais devidas ao INSS, para

que pague em quarenta e oito horas, ou garanta a execução, sob

pena de penhora".

"Art. 884 (...)"

"§ 4º Julgar-se-ão na mesma sentença os embargos e as

impugnações à liquidação apresentadas pelos credores trabalhistas

e previdenciários”.

"Art. 889-A. Os recolhimentos das importâncias devidas, referentes

às contribuições sociais, serão efetuados nas agências locais da

Caixa Econômica Federal ou do Banco do Brasil S.A por intermédio

de documento de arrecadação da Previdência Social, dele se

fazendo constar o número do processo".

"§ 1º Sendo concedido parcelamento do débito previdenciário

perante o INSS o devedor deverá juntar aos autos documentos

comprobatórios do referido ajuste, ficando suspensa a execução da

respectiva contribuição previdenciária até o final e integral

cumprimento do parcelamento".

"§ 2º As varas do trabalho encaminharão ao órgão competente do

INSS, mensalmente, cópias das guias pertinentes aos recolhimentos

efetivados nos autos, salvo se outro prazo for estabelecido em

regulamente".

"Art. 897 (...)"

"§ 3º Na hipótese da alínea a deste artigo, o agravo será julgado pelo

próprio tribunal, presidido pela autoridade recorrida, salvo se se tratar

de decisão de Juiz do Trabalho de 1ª Instância ou de Juiz de Direito,

quando o julgamento competirá a uma das Turmas do Tribunal

Regional a que estiver subordinado o prolator da sentença,

observado o disposto no art. 679, a quem este remeterá as peças

necessárias para o exame da matéria controvertida, em autos

Page 76: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

61

apartados, ou nos próprios autos, se tiver sido determinada a

extração de carta de sentença".

(...)

"§ 8º Quando o agravo de petição versar apenas sobre as

contribuições sociais, o juiz da execução determinará a extração de

cópias das peças necessárias, que serão autuadas em apartado,

conforme dispõe o § 3º, na parte final, e remetidas à instância

superior para apreciação, após contraminuta"

Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Ou seja, conforme ensina Vicente Jr. (2005:3)

(...) com a edição da Lei 10.035/00, foi disciplinado o exercício de

competência da Justiça do Trabalho no tocante à execução dos

créditos previdenciários decorrentes de decisões proferidas por

Juízes e Tribunais do Trabalho, tanto resultantes de condenação,

quanto homologação de acordo. (grifo do original)

Também Martins (2006:691) acrescenta:

Da forma como foi redigida a Lei nº. 10.035, a execução da

contribuição previdenciária não necessita da inscrição em divida ativa

da contribuição previdenciária não recolhida, pois o INSS intervirá no

feito na execução, ou a execução será impulsionada de ofício pelo

juiz, seguindo as determinações contidas na CLT.

Já Pinto (2004:350) faz a seguinte consideração:

Agora, a sentença nos dissídios individuais passou a ser double face,

com um lado trabalhista e outro fiscal. Considerando que na causa

fiscal que ela aprecia o futuro credor da execução não é parte, foi

preciso a Lei nº. 10.035/00 dividir também os efeitos do julgamento.

Desse modo, pelo seu lado trabalhista a sentença transita em julgado

imediatamente; mas, pelo seu lado fiscal, não, pois será necessário

”notificar o INSS das decisões homologatórias de acordos que

contenham parcelas indenizatórias, sendo-lhe facultado interpor

recurso relativo às contribuições que lhe forem devidas”.

Segundo comentários de Saad (2006:809), o parágrafo único apresentado

pela art. 831 da CLT, significa:

Page 77: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

62

No caso de as partes se conciliarem em juízo, o respectivo termo

vale como sentença irrecorrível, exceto para a Previdência Social. A

esta se fácula recorrer quanto às contribuições que lhe devem ser

pagas. Consoante as alterações feitas nos artigos 832 e 876, o

acordo, para ser homologado, deve inclui a verba referente ao crédito

da Previdência Social.

Quanto às decisões que vêm a ser tratadas no § 3° do citado artigo 832,

explica Martins (2006:692):

Decisões cognitivas serão as que decidirem o processo na fase de

conhecimento. São as sentenças que julgam o mérito da postulação.

Decisões homologatórias são aquelas que o juiz ira apenas

homologar o acordo estabelecido pelas partes. (...)

Na sentença que decidir o mérito da questão ou nas decisões

homologatórias, deverá haver a indicação da natureza jurídica das

parcelas deferidas ou homologadas. O juiz terá de indicar as rubricas

que estão sendo deferidas, como aviso prévio indenizado, férias

indenizadas, salário, horas extras etc., justamente para se verificar

se incide ou não a contribuição.

O professor Saad (2006:812) observa o mesmo dispositivo comentando:

O § 3º exige que as sentenças condenatórias ou homologatórias de

acordo devem fazer a qualificação legal de cada verba, inclusive o

que cabe a cada parte recolher à Previdência Social. Bem definida a

responsabilidade do empregador pelo não-pagamento das

contribuições nas datas prefixadas em lei, temos para nós que a ele

cabe o encargo de pagar a contribuição patronal, os juros moratórios

e a multa prevista em lei, ficando o encardo de efetuar sua própria

contribuição, despida de consectários legais.

No § 4° do art. 832, tem-se estabelecido o rito processual com relação ao

INSS. Pinto (2004:352) explana sobre o texto apresentado:

Considera-se logo que este dispositivo é desdobramento necessário

da nova redação do parágrafo único do artigo 831. A sentença

homologatória da conciliação trabalhista não faz trânsito em julgado

de sua metade fiscal, pois é óbvio que as partes da reclamação não

poderiam transigir sobre direito de terceiro – e dizemos terceiro

deliberadamente, pois esta é a posição do INSS, que não é chamado

Page 78: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

63

a integrar a relação jurídica de processo no dissídio individual de

conhecimento.

Também Saad (2006:812) observa:

O § 4º exige que a Previdência Social seja intimada, pela via postal,

das sentenças homologatórias que façam alusão às verbas sobre as

quais incidem as contribuições sociais. Se o INSS – órgão gestor da

Previdência – não concordar com os valores atribuídos a essas

contribuições, poderá recorrer ordinariamente para o Tribunal

Regional do Trabalho.

Novamente analisando o texto legal em questão, Martins (2006:692) ressalta:

Mesmo em caso de acordo, o INSS poderá recorrer da decisão

homologatória, apenas em relação às contribuições que lhe forem

devidas. As partes não poderão recorrer, mas o INSS poderá. É o

que se observa do § 4º do art. 832 da CLT, sendo faculdade e não

obrigação do INSS interpor recurso relativo às contribuições que lhe

forem devidas. Esse dispositivo não menciona que o INSS poderá

recorrer das decisões que julgam o mérito do processo trabalhista,

mas apenas das decisões homologatórias. Teoricamente, o INSS

poderá apresentar recurso ordinário da decisão de mérito do juiz na

fase de conhecimento, quanto à incidência da contribuição

previdenciária, pois seria terceiro interessado (art. 499 do CPC). Da

mesma forma, poderia apresentar embargos de declaração da

sentença de primeiro grau para ver declarada a natureza das verbas

trabalhistas para a incidência da contribuição previdenciária, pois

teria interesse jurídico para esse fim.

O objetivo do recurso será evitar que o juiz homologue todas as

verbas como indenizatórias, quando, na verdade, a pretensão

envolve verbas salariais. (...)

O recurso do INSS da decisão homologatória será o ordinário, que é

o remédio cabível da decisão do juiz do trabalho na fase de

conhecimento, e não a apelação.

Ainda esclarece o mesmo autor (2006:693) que:

Pela redação do § 4º do art. 832 da CLT, o INSS só será intimado da

sentença homologatória de acordo quanto a parcelas indenizatórias e

não no que concerne a outras parcelas, como as salariais. Nessa

Page 79: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

64

parte, relativa às parcelas indenizatórias, poderá interpor recurso

ordinário, pois a questão não está na execução. A exceção será se o

acordo for homologado na fase de execução, em que o recurso

cabível será o agravo de petição (§8º do art. 897 da CLT).

Passando-se adiante, no parágrafo único do art. 876, está a determinação de

declaração ex offício dos créditos previdenciários. Pinto (2004:353) discorre sobre a

matéria:

Esta é uma evidente exceção ao princípio processual de que o juízo

só age quando provocado, referindo-se à atividade de instauração da

instância. É bom dizer que a exceção não é nov, pois já era vista na

origem da CLT, nos artigos 878 e 856, este último relativo aos

dissídios coletivos do trabalho. A novidade reside em estar

estabelecida na nova norma em termos de dever (serão executados

ex officio), em lugar de faculdade (poderá ser instaurado ex officio).

Passa a haver uma concorrência entre dever e faculdade de

instauração da instancia ex officio, retrato fiel e realista das duas

execuções que passaram a viver numa só sentença.

Em crítica à imposição legal, Giglio (2003:517) faz a seguinte ponderação:

Juridicamente, a execução ex officio, prevista na Lei nº. 10.035/00

ofende o princípio do devido processo legal ao prescindir da iniciativa

do INSS para a instauração da execução; beneficia quem não tem

título executivo; fixa obrigação específica sem possibilitar

oportunidade de defesa ou de recurso do obrigado; faculta recurso

do INSS que nada pleiteou, e, portanto, não sucumbiu; atribui ao juiz

a função de apurar débito etc. Além disso, divide competência

absoluta, em razão da matéria, entre a Justiça Federal e Justiça do

Trabalho, criando área de conflito de competência; constitui

obrigação fiscal sem determinar se sua cobrança obedecerá à Lei nº.

6.830/80, dos executivos fiscais, ao CPC ou à CLT, nem fixar qual

seria o prazo prescricional.

Findando sobre o preceito do parágrafo único do referido art. 876, Martins

(2006:693) escreve que:

A execução é de ofício, sendo impulsionada sem provação das

partes, inclusive do INSS. O verbo está empregado no imperativo e

não como faculdade do juiz, como consta do art. 878 da CLT. O

magistrado irá impulsionar a execução de ofício e não executar, pois

Page 80: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

65

não é parte no processo. Na verdade, o juiz tem mesmo é

competência para dizer o direito na execução, como se depreende

do §4º do art. 114 da Constituição. O impulso de ofício ocorrerá tanto

nas decisões da Vara transitadas em julgado ou quanto à

homologação de acordos, como quanto a decisões do TRT, de

competência originária, como em ação rescisória.

Pelo art. 878-A, observa-se que “o devedor poderá pagar de imediato o que

entende devido ao INSS. Se ocorrer alguma diferença, verificada na execução,

deverá saldá-la posteriormente” (Martins, 2006:693).

Também deve-se citar as lições de Teixeira Filho (2005:680-681):

Pretendeu o legislador, com esta disposição, colocar à frente os

interesses da Previdência social, permitindo ao devedor pagar, desde

logo, o valor das contribuições que reconhece dever a esta, seja em

decorrência de sentença condenatória favorável ao trabalhador ou de

sentença homologatória de transação. (...)

Esse recolhimento imediato traduz, como está evidente no texto

constitucional, faculdade do devedor. Assim, este não está obrigado

a efetuar nenhum pagamento antecipado de contribuição

previdenciária, aguardando a emissão da “sentença” de liquidação,

oferecendo, mas tarde, se for o caso, embargos à execução, que

serão resolvidos por meio de sentença, da qual caberá o recurso de

gravo de petição.

Assim, Saad (2006:891) comenta: “Trata-se de faculdade que, dificilmente,

será utilizada pelo interessado. Ser-lhe-á mais seguro liquidar o débito com a

Previdência Social quando ele estiver bem definido”.

No artigo seguinte (879), foram acrescentados os parágrafos 1º-A, 1°-B, 3° e

4°, referenciando estes, observa-se o comentário de Saad (2006:893) do

procedimento estabelecido por tais parágrafos:

De conformidade com o disposto nos §§ 1º-A, 1º-B, 3º e 4º do art.

879 supra, a conta elaborada pela parte ou pela Contadoria Judicial

deve incluir a verba referente às contribuições previdenciárias

eventualmente incidentes nas verbas consignadas na sentença de

mérito. A atualização dessas contribuições obedecerá ao critério

informado pela art. 34, da Lei nº. 8.212, de 24.7.1991 (Plano de

Custeio da Previdência Social). Deve o Juiz, por via postal, intimar o

INSS, pelo competente órgão local, para, no prazo de dez dias,

Page 81: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

66

pronunciar-se sobre o cálculo de liquidação. Seu silencio faz precluir

seu direito de impugnar, posteriormente, essa conta de liquidação.

Adiante, temos as modificações feitas ao art. 880, no qual foi introduzida a

frase “incluídas as contribuições sociais devidas ao INSS”. Mello (2005:10) faz a

seguinte observação à modificação inserida em tal artigo:

O art. 880 sofreu significativa modificação ao ser acrescida a

expressão “incluídas as contribuições sociais devidas ao INSS”. A

referida modificação se fazia necessária, vez que era comum a

elaboração dos cálculos sem a inclusão da parcela referente às

contribuições previdenciárias, quando então ficava a cargo das

partes a providência de identificar o valor do encargo previdenciário,

recolhê-lo, para então ser descontado da conta elaborada pelo órgão

judiciário.

Sobre o tema, Martins (2006:694) esclarece:

A contribuição devida ao INSS passa a ser incluída na execução

trabalhista (art. 880 da CLT), tanto a parte relativa ao empregado,

como a do empregador. O executado deverá pagar os valores em 48

horas, ou garantir a execução, sob pena de penhora também quanto

à parte das contribuições previdenciárias. Não se aplica, portanto, o

art. 8º da Lei nº. 6.830, que prevê prazo de cinco dias para o

executado pagar a dívida ou garantir a execução.

Dessa forma, resume Teixeira Filho (2005:685): “do mandado executivo

deverão constar, além dos valores devidos ao credor, ao seu advogado, ao perito,

ao contador, à Fazenda Pública (custas), também as contribuições devidas à

Previdência Social”.

O art. 884 foi ampliado pela redação do parágrafo 4°. Ensina Martins

(2006:694):

A impugnação do INSS também será julgada na mesma sentença,

quanto à incidência das contribuições previdenciárias. O credor

trabalhista é o empregado e o credor previdenciário será o INSS.

Como o § 4º está inserido no art. 884 da CLT e a ele remete a regra

geral, o INSS pode impugnar a liquidação, após garantido o juízo

pela penhora, no prazo de 30 dias.

Importantes também são os comentários feitos por Mello (2005:12):

Page 82: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

67

(...) caso a lei fosse omissa nesse aspecto, vários procedimentos

seriam adotados pelos inúmeros juízos trabalhistas, causando,

indubitavelmente, em muitos casos, enorme entrave à marcha

processual, correndo-se o risco até, de se suspender a execução

trabalhista até que fosse fixado o valor da contribuição

previdenciária.

Mais à frente, o texto legal em evidência incluiu o art. 889-A e parágrafos 1° e

2°, que tratam dos recolhimentos efetuados pela Justiça do Trabalho referentes às

contribuições sociais. O doutrinador Teixeira Filho (2005:687-688) interpreta a

matéria do referido artigo discorrendo:

No caput do art. 889-A o legislador estabeleceu o procedimento a ser

observado pela parte, quanto ao recolhimento das contribuições

devidas à Previdência Social, por força de sentença proferida pela

Justiça do Trabalho, seja condenatória ou homologatória de

transação. (...).

Se o devedor obteve parcelamento do débito para com o INSS,

deverá juntar aos autos do processo existente na Justiça do Trabalho

o correspondente comprovante desse ajuste. Isto feito, a execução

que se processa neste juízo ficará suspensa, no que se refere às

contribuições previdenciárias, até que haja integral cumprimento do

aludido parcelamento. É elementar que o parcelamento de débito

previdenciário será efetuado na forma da legislação específica,

reguladora da matéria.

Para que o órgão da Previdência Social possa controlar o

recolhimento das contribuições que lhe são devidas, em decorrência

de sentença emitida pela Justiça do Trabalho, esta deverá remeter

àquele, todo mês, cópias das guias de recolhimento efetuado nos

autos do processo, exceto se outro prazo for estabelecido em

regulamento. Essa determinação legal leva em conta a possibilidade

de as contribuições devidas ao INSS serem recolhidas pelo devedor,

antes mesmo que a autarquia seja cientificada da sentença emitida

pela Justiça do Trabalho.

Ilustrando sobre a mesma matéria, Martins (2006:694-695) orienta no sentido

de que:

Page 83: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

68

Só poderão os recolhimentos da contribuição previdenciária serem

efetuados na CEF ou no Banco do Brasil e não em outras instituições

financeiras. O recolhimento será realizado por meio de documento de

arrecadação das contribuições previdenciárias, sendo mencionado o

número do processo trabalhista.

(...). Se não houver o pagamento do parcelamento ou de algumas

prestações, a execução irá ser retomada quanto aos referidos

aspectos. O juiz só irá suspender a execução se houver a juntada

aos autos do parcelamento da contribuição. Do contrário, prosseguirá

na execução. Deverá a empresa ou o INSS informar sobre o

parcelamento ou reparcelamento, pois, do contrário, o juiz não terá

como saber. O mesmo irá ocorrer quanto ao fato de a empresa ser

optante do Simples, em que recolhe a contribuição sobre o

faturamento. Se não houve informação da situação nos autos, o juiz

irá executar a contribuição previdenciária.

(...). O mais certo não deveria ser a Vara do trabalho encaminhar ao

INSS, mensalmente, as cópias das guias das contribuições

recolhidas, mas a autarquia verificá-las nos autos ou o devedor

enviá-las para o INSS. O parágrafo não fixa o prazo para esse fim,

que dependerá da previsão do regulamento. A lei pensa que a

Justiça do Trabalho é ainda órgão administrativo do Poder Executivo.

Outro problema será a verba para que as Vara encaminhem cópias

das guias pertinentes, pois, na maioria da Varas ou prédios da

Justiça do Trabalho, não há xérox do próprio Poder Judiciário.

Solução será o juiz determinar que a própria parte apresente a cópia

do recolhimento para enviar ao INSS.

Por fim, o último dispositivo inserido pela Lei nº. 10.035/04 à Consolidação

das Leis do Trabalho foram os parágrafos 3° e 8° do art. 897. Diante da previsão

legal, observa-se os comentários de Mello (2005:13) que assim ilustra:

O parágrafo 3º do art. 897 da CLT apenas altera a denominação

“Presidente da Junta” para “Juiz do Trabalho de Primeira Instância”,

objetivando atender à mudança relativa à nova denominação dos

órgãos trabalhistas de primeiro grau. Já o parágrafo 8º do mesmo

artigo tencionou corresponder ao princípio da celeridade, pois

determinou que quando o agravo de petição tratasse tão-somente de

matéria previdenciária deveria tramitar em autos apartados, evitando,

assim, a demora na satisfação do crédito trabalhista.

Page 84: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

69

Concordando com as lições do autor acima citado, Teixeira Filho (2005:689)

escreve:

A modificação imposta ao § 3º do art. 897 da CLT foi, meramente,

superficial. Circunscreveu-se a simples questões terminológicas,

mediante a substituição, por exemplo, da expressão “Presidente da

Junta” por “Juiz do Trabalho”. Em essência, nada mudou. Se a Lei

nº. 10.035/00 teve a preocupação de efetuar algumas alterações de

natureza terminológica no texto do § 3º em questão, devemos

reconhecer que realizou obra imperfeita, pois, além de o legislador

deixar escapar entre os dedos a oportunidade de eliminar a

manifesta obscuridade que caracteriza esse texto, também permitiu

que nele fossem mantidas outras imprecisões vocabulares ou certos

arcaísmos, como o do substantivo “instância”, modernamente

substituído por “grau de jurisdição”.

Ocorrendo de o agravo de petição ser interposto unicamente pelo

INSS (art. 897, §8º), versando, por óbvio, unicamente sobre

contribuições a ele devidas, cumprirá ao juiz determinar a extração

de cópias necessárias de peças dos autos, autuando-as em

separado. Em seguida, mandará intimar a parte contrária para

oferecer contraminuta. Decorrido o prazo para isso, ordenará a

remessa dos autos ao Tribunal Regional competente,

Destarte, encerram-se as observações trazidas pela Lei nº. 10.035/04, a qual,

como já comentado, regulamentou, no âmbito procedimental trabalhista, a execução

das contribuições previdenciárias.

4.3 A competência para execução das contribuições previdenciárias relativas

ao vínculo de emprego

Como já citado anteriormente, a Justiça do Trabalho é competente para “a

execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus

acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir” 11.

Com o fim de orientar a jurisprudência trabalhista quanto às contribuições

previdenciárias, que poderiam ser objeto de execução na Justiça do Trabalho, o TST

editou a Súmula nº. 368, com o seguinte teor:

11 Inciso VIII do artigo 114 da CF/88.

Page 85: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

70

DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS. COMPETÊNCIA.

RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO. FORMA DE CÁLCULO.

(conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs 32, 141 e 228 da

SBDI-1) - Res. 129/2005 - DJ 20.04.2005 – Republicada com

correção no DJ 05.05.2005.

I. A Justiça do Trabalho é competente para determinar o

recolhimento das contribuições previdenciárias e fiscais provenientes

das sentenças que proferir. A competência da Justiça do Trabalho

para execução das contribuições previdenciárias alcança as parcelas

integrantes do salário de contribuição, pagas em virtude de contrato

de emprego reconhecido em juízo, ou decorrentes de anotação da

Carteira de Trabalho e Previdência Social - CTPS, objeto de acordo

homologado em juízo. (ex-OJ nº 141 - Inserida em 27.11.1998)

II. É do empregador a responsabilidade pelo recolhimento das

contribuições previdenciárias e fiscais, resultante de crédito do

empregado oriundo de condenação judicial, devendo incidir, em

relação aos descontos fiscais, sobre o valor total da condenação,

referente às parcelas tributáveis, calculado ao final, nos termos da

Lei nº 8.541/1992, art. 46 e Provimento da CGJT nº 01/1996. (ex-OJ

nº 32 - Inserida em 14.03.1994 e OJ nº 228 - Inserida em

20.06.2001)

III. Em se tratando de descontos previdenciários, o critério de

apuração encontra-se disciplinado no art. 276, §4º, do Decreto n º

3.048/99 que regulamentou a Lei nº 8.212/91 e determina que a

contribuição do empregado, no caso de ações trabalhistas, seja

calculada mês a mês, aplicando-se as alíquotas previstas no art. 198,

observado o limite máximo do salário de contribuição. (ex-OJ nº 32 -

Inserida em 14.03.1994 e OJ 228 - Inserida em 20.06.2001)

Comentando a redação original da Súmula 368, Garcia (2006:55), faz as

seguintes ponderações:

Ainda que conste tratar-se de conversão de Orientações

Jurisprudenciais da Subseção I do TST, a questão específica,

referente ao recolhimento de contribuições previdenciárias incidentes

sobre remunerações já pagas durante o vínculo de emprego

posteriormente reconhecido pela Justiça do Trabalho, não era

tratada, de forma expressa, nos Precedentes nºs. 32, 141 e 228.

Assim, por meio da Súmula n. 368 é que o Tribunal Superior do

Page 86: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

71

Trabalho passou a versar sobre este tema, em verbete de sua

jurisprudência.

Quanto à questão objeto de análise, interessa destacar o inciso I,

acima transcrito. Este dispunha estar abrangida na competência da

Justiça do Trabalho a execução das contribuições previdenciárias

referentes às remunerações pagas no curso do vínculo de emprego,

quando reconhecido em juízo, ou quando a anotação da

Carteira de Trabalho e Previdência Social é objeto de acordo judicial

homologado.

Como se nota, a disposição original da Súmula coincidia com a

previsão do art. 276, § 7º, do Decreto nº. 3.048/99, acrescentado

pelo Decreto n. 4.032/2001 (RPS)12.

Aliás, pode-se dizer que esta redação da Súmula era até mais

abrangente, pois, enquanto a disposição do Regulamento trata,

apenas, de “decisão” judicial reconhecendo o vínculo de emprego, o

verbete jurisprudencial incluía, também, o contrato de trabalho objeto

de reconhecimento em acordo homologado em juízo, com a

respectiva anotação em CTPS.

Embora o termo lavrado, quando houver acordo, tenha o valor de

“decisão irrecorrível” para as partes (CLT, art. 831, parágrafo único),

quando o Decreto nº. 3.048/99 quer se referir não só a decisão

(sentença), mas também ao “acordo homologado”, o faz

expressamente, como se verifica dos §§ 5º e 9º, acrescentados ao

art. 276 pelo Decreto nº. 4.032/0113. Esta mesma especificação

também se observa na Lei nº. 10.035/00, conforme a redação

conferida ao parágrafo único do art. 876 da CLT14.

12 §7º Se da decisão resultar reconhecimento de vínculo empregatício, deverão ser exigidas as contribuições, tanto do empregador como do reclamante, para todo o período reconhecido, ainda que o pagamento das remunerações a ele correspondentes não tenham sido reclamadas na ação, tomando-se por base de incidência, na ordem, o valor da remuneração paga, quando conhecida, da remuneração paga a outro empregado de categoria ou função equivalente ou semelhante, do salário normativo da categoria ou do salário mínimo mensal, permitida a compensação das contribuições patronais eventualmente recolhidas. 13 § 5º Na sentença ou acordo homologado, cujo valor da contribuição previdenciária devida for inferior ao limite mínimo permitido para recolhimento na Guia da Previdência Social, é autorizado o recolhimento dos valores devidos cumulativamente com as contribuições normais de mesma competência. § 9º É exigido o recolhimento da contribuição previdenciária de que trata o inciso II do art. 201, incidente sobre o valor resultante da decisão que reconhecer a ocorrência de prestação de serviço à empresa, mas não o vínculo empregatício, sobre o valor total da condenação ou do acordo homologado, independentemente da natureza da parcela e forma de pagamento. 14 Parágrafo único. Serão executados ex officio os créditos previdenciários devidos em decorrência de decisão proferida pelos Juízes e Tribunais do Trabalho, resultantes de condenação ou homologação de acordo.

Page 87: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

72

Em 10-11-2005, a Súmula nº. 368 do TST foi reeditada, passando a ter a

seguinte redação:

SÚMULA TST Nº. 368 DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E

FISCAIS. COMPETÊNCIA. RESPONSABILIDADE PELO

PAGAMENTO. FORMA DE CÁLCULO. (conversão das Orientações

Jurisprudenciais nos 32, 141 e 228 da SDI-1) Alterada pela Res. Nº.

138/2005, DJ 23.11.2005.

I. A Justiça do Trabalho é competente para determinar o

recolhimento das contribuições fiscais. A competência da Justiça do

Trabalho, quanto à execução das contribuições previdenciárias,

limita-se às sentenças condenatórias em pecúnia que proferir e aos

valores, objeto de acordo homologado, que integrem o salário-de-

contribuição. (ex-OJ nº 141 - Inserida em 27.11.1998)

II. É do empregador a responsabilidade pelo recolhimento das

contribuições previdenciárias e fiscais, resultante de crédito do

empregado oriundo de condenação judicial, devendo incidir, em

relação aos descontos fiscais, sobre o valor total da condenação,

referente às parcelas tributáveis, calculado ao final, nos termos da

Lei nº 8.541/92, art. 46 e Provimento da CGJT nº 03/2005. (ex-OJ nº

32 - Inserida em 14.03.1994 e OJ nº 228 - Inserida em 20.06.2001)

III. Em se tratando de descontos previdenciários, o critério de

apuração encontra-se disciplinado no art. 276, §4º, do Decreto n º

3.048/99 que regulamentou a Lei nº 8.212/91 e determina que a

contribuição do empregado, no caso de ações trabalhistas, seja

calculada mês a mês, aplicando-se as alíquotas previstas no art. 198,

observado o limite máximo do salário-de-contribuição. (ex-OJ nº 32 -

Inserida em 14.03.1994 e OJ 228 - Inserida em 20.06.2001)

Comentando a nova redação da Súmula, especificamente o item I15, Matos Jr.

(2006:4), afirma:

Em 10.11.2005, o pleno do TST reeditou o Enunciado 368 afirmando

que o Pleno do Tribunal Superior do Trabalho decidiu, por maioria de

votos, que não cabe à Justiça do Trabalho a cobrança das

contribuições devidas ao INSS sobre as ações declaratórias, nas

quais é reconhecido o vínculo de emprego do trabalhador. A

15 Único item objeto de estudo na presente monografia.

Page 88: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

73

execução do tributo pela JT ficará restrita às decisões em que há

condenação da empresa ao pagamento de parcelas trabalhistas e

sobre os valores resultantes de acordos entre as partes.

Desprezando a relação tributária entre o sujeito ativo e passivo, a

interpretação da legislação tributária regida pelo CTN, o Princípio da

Legalidade Tributária previsto na Constituição Federal, os ministros

do TST sob o fundamento de que os valores arrecadados na Justiça

do Trabalho pela Previdência Social são recolhidos a um fundo

específico do INSS e não diretamente à conta do trabalhador na

Previdência e neste diapasão trata-se de uma injustiça com o

trabalhador e um despropósito a Justiça do Trabalho garantir a

arrecadação do tributo sobre o dinheiro do trabalhador, que não

tem a contagem de tempo reconhecida para a aposentadoria e

fica sem os próprios valores recolhidos, passou a entender que a

Justiça do Trabalho tem competência restrita às decisões em que há

condenação da empresa ao pagamento de parcelas trabalhistas e

sobre os valores resultantes de acordos entre as partes. (grifos do

original)

Em relação à matéria, também merecem ser citadas as considerações feitas

por Horvath Jr. (2006:1)

O Pleno do TST justificou a mudança do entendimento acerca da

competência da Justiça do Trabalho em face: a) dos valores

correspondentes ao reconhecimento do vínculo terem sido recolhidos

a um fundo específico do INSS e não diretamente à conta do

trabalhador, bem como no fato de o INSS não acatar a decisão

judicial como prova de tempo de serviço do trabalhador que fica com

a sua aposentadoria postergada.

E acrescenta o mesmo autor (Horvath Jr., 2006:7):

A carga das sentenças no processo trabalhista pode ser:

a) declaratória/condenatória

b) meramente declaratória (ações cujos pedidos sejam o

reconhecimento do vínculo que por força do art.11, parágrafo 1 da

CLT é imprescritível).

Os efeitos da Súmula 368 do TST atingem apenas as sentenças com

carga declaratória, posto que ante o atual entendimento sumular, as

Page 89: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

74

contribuições previdenciárias devem ser objeto de levantamento

fiscal e após se for o caso o aparelhamento da execução fiscal,

cabendo à Justiça do Trabalho a execução de decisões nas quais

resulte condenação da empresa ao pagamento de parcelas

trabalhistas e sobre os valores resultantes de acordos entre as

partes.

A solução adotada na Súmula 368 do TST provoca a cisão do

processo de execução das contribuições previdenciárias na

contramão das previsões inseridas a partir da EC nº. 20/98, além de

ferir o princípio básico de todo processo executório, a saber utilidade

e eficiência. A sistemática implementada a partir da EC 20/98 visa a

satisfação da Fazenda Pública de maneira mais célere, o que vem ao

encontro da busca do interesse comum, posto que se são devidas

contribuições elas devem ser cobradas eficazmente, até porque

nosso modelo previdenciário é contributivo por opção constitucional

(art. 201 da CF/88). Nem se alegue que com esta nova sistemática

transformou-se a Justiça do Trabalho em órgão arrecadador. Houve

apenas o acréscimo da execução das contribuições de ofício em sua

competência, como atividade paralela e conseqüente de sua missão

de resolver conflitos trabalhistas, conforme opinião que comungamos

do Juiz do Trabalho Antônio Álvares da Silva do TRT da 3ª Região in

Pequeno Tratado da Nova Competência Trabalhista, LTr, 2005.

Também na jurisprudência do TRT da 12ª Região, a nova redação da Súmula

368 vem sendo aplicada, conforme a seguinte ementa:

EXECUÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO SOCIAL DECORRENTE DE

RECONHECIMENTO DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO.

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. A competência da

Justiça do Trabalho não abrange recolhimentos previdenciários

relativos ao período pertinente ao qual houve mero reconhecimento

do trabalho no título judicial, devendo a execução, processada nesta

Justiça, restringir-se às parcelas deferidas, ou reconhecidas, no

processo que lhe foi submetido. Assim, o mero reconhecimento de

vínculo empregatício, embora possa gerar contribuição

previdenciária, não a faz executável neste ramo do Poder Judiciário,

ou pelo menos, pela mesma via de reclamação trabalhista em que se

pleiteou, apenas, direitos do trabalhador. (TRT12, 2ª Turma, Acórdão

nº. 5863/2007, Acórdão nº. 5863/2007, Rel. Des. Gerson Paulo

Taboada Conrado, publicado em 8-5-2007)

Do corpo do acórdão, merece destaque:

Page 90: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

75

Esta Justiça Especializada é competente para executar contribuições

previdenciárias, nos termos do § 3º do art. 114 da Constituição

Federal da República, acrescido pela Emenda Constitucional nº

20/98.

Todavia impõe-se deduzir que a competência não abrange

recolhimentos previdenciários relativos ao período em que houve

mero reconhecimento do trabalho no título judicial, devendo a

execução, processada nesta Justiça, restringir-se às parcelas

deferidas, ou reconhecidas, no processo que lhe foi submetido.

Assim, o mero reconhecimento de vínculo empregatício, embora

possa gerar contribuição previdenciária, não a faz executável neste

ramo do Poder Judiciário, ou, pelo menos, pela mesma via da

reclamação trabalhista em que foram pleiteados, apenas, direitos do

trabalhador.

Outros Tribunais do Trabalho também estão decidindo em conformidade com

a nova redação da Súmula nº. 368 do TST.

Do Tribunal do Trabalho da 4ª Região (Rio Grande do Sul), colhe-se:

PRELIMINARMENTE. LEGITIMIDADE PARA CONTRAMINUTAR.

Sendo parte do pólo passivo da execução o Sr. Renato Nunes Wolff,

possui ele legitimidade para apresentar contraminuta ao agravo de

petição interposto pelo Instituto Nacional de Seguridade Social -

INSS. NO MÉRITO. EXECUÇÃO. CONTRIBUIÇÕES

PREVIDENCIÁRIAS. RECONHECIMENTO DE VÍNCULO DE

EMPREGO. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Os

créditos previdenciários passíveis de execução por esta Justiça

Especializada cingem-se às contribuições sociais previstas na alínea

"a" do inciso I e no inciso II do artigo 195 da Constituição Federal

incidentes sobre as parcelas discriminadas nas decisões cognitivas

ou homologatórias, sendo esta a razão da exigência expressa no

artigo § 3º do artigo 832 da CLT, introduzido pela Lei nº 10.035/00. A

Turma Julgadora adota o entendimento contido no novo

posicionamento do Colendo TST, em sua Súmula nº 368, inciso I, no

sentido de que esta Justiça Especializada não é competente para

determinar o recolhimento de contribuições previdenciárias relativas

ao tempo de serviço reconhecido em decisão judicial ou em acordo

homologado. Negado provimento ao apelo (TRT4, 6ª Turma,

Acórdão n. 01005-1999-017-04-00-3, Rel. Rosane Serafini Casa

Page 91: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

76

Nova – Juíza Relatora, julgado em 18-4-2007; publicado em 4-5-

2007).

Do Tribunal do Trabalho da 10ª Região (Brasília):

DECISÃO JUDICIAL. RECONHECIMENTO DE VÍNCULO DE

EMPREGO. CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS.

COMPETÊNCIA PARA A EXECUÇÃO. Carece de competência esta

Especializada para executar contribuições previdenciárias

provenientes das verbas salariais pagas durante toda a relação de

emprego, quando esta é reconhecida judicialmente, porquanto a

competência da Justiça do trabalho para executar parcelas

previdenciárias limita-se às decorrentes de suas sentenças

condenatórias em pecúnia e aos valores, objeto de acordo

homologado, que integrem o salário-de-contribuição, nos termos do

art. 114, VIII, da CF e Súmula nº 368 do c. TST. (TRT10, 3ª Turma,

Acórdão nº. 00375-2006-014-10-00-1, Rel. Braz Henriques de

Oliveira, julgado em 26-4-2007, publicado em 11-5-2007).

Do Tribunal do Trabalho da 18ª Região (Goiás):

CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. RECOLHIMENTO DAS

PARCELAS DEVIDAS DURANTE TODO O PACTO LABORAL

RECONHECIDO EM JUÍZO. De acordo com a nova redação

conferida à Súmula 368 do C. TST, constata-se que falece

competência à Justiça do Trabalho para determinar o recolhimento

das contribuições previdenciárias referentes às verbas já pagas e

que não foram objeto do acordo homologado. A execução da

contribuição previdênciária nesta Justiça Especializada deverá

limitar-se àquela incidente sobre as verbas salariais deferidas na

condenação ou pagamento ajustado em conciliação. (TRT18, 1ª

Turma, Acórdão nº. 00821-2005-131-18-00-7, Rel. Juiz Marcelo

Nogueira Pedra, publicado em 9-5-2007).

Efetivamente e com todo o respeito ao entendimento contrário, parece ser

bastante coerente a posição do egrégio TST em sua súmula nº. 368, tendo em vista

que os valores relativos às contribuições previdenciárias decorrentes da declaração

do vínculo de emprego não estão revertendo em benefício do trabalhador, mas indo

parar em um fundo específico do INSS.

Por outro lado, o INSS não reconhece a sentença trabalhista como prova do

tempo de serviço do trabalhador para fins de aposentadoria. Logo, a Justiça do

Page 92: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

77

Trabalho estaria apenas servindo de órgão arrecadador de contribuições

previdenciárias, circunstância que não se coaduna com seu objetivo primordial de

atender o trabalhador lesado em seus direitos trabalhistas.

No entanto, em recentíssima lei publicada no dia 19-3-2007 (Lei nº. 11.457), o

parágrafo único do artigo 876 da CLT foi alterado, passando a ter a seguinte

redação:

Serão executadas ex-officio as contribuições sociais devidas em

decorrência de decisão proferida pelos Juízes e Tribunais do

Trabalho, resultantes de condenação ou homologação de acordo,

inclusive sobre os salários pagos durante o período contratual

reconhecido (sem grifo no original).

Ou seja, a nova redação do dispositivo legal acima citado vem de encontro

com a atual da Súmula 368 do TST. Aliás, seu texto é equivalente ao original do

referido enunciado.

Todavia, os arestos citados acima demonstram que algumas decisões

jurisprudenciais ainda estão fazendo prevalecer o entendimento da atual redação da

súmula nº. 368 do TST sobre o novo dispositivo legal trazido pela Lei nº. 11.457/07).

Na verdade, sempre houve desarmonia jurisprudencial sobre o tema, o que

efetivamente estimulou a produção do presente trabalho. Contudo, diante na nova

disposição legal trazida pela Lei nº. 11.457/07 ficará muito difícil manter a atual

posição da súmula nº. 368 do TST, pela simples questão da impossibilidade de

prevalência da súmula sobre a lei.

Assim sendo, novamente se caminha a passos largos para a exigência da

execução das contribuições previdenciárias relativas à declaração de existência do

vínculo, circunstância que poderá, muitas vezes, prejudicar a consagrada efetividade

da execução trabalhista.

Uma coisa, no entanto, parece certa: diante da previsão de execução das

contribuições previdenciárias decorrentes da declaração do vínculo de emprego (Lei

nº. 11.457/07), deverá ser criado algum mecanismo para obrigar o INSS a

considerar essa arrecadação no tempo de contribuição do empregado para fins de

aposentadoria.

Page 93: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente Monografia objetivou pesquisar a competência da Justiça do

Trabalho para executar as contribuições de caráter previdenciário. Competência

esta, que como se pôde vislumbrar, fora instituída pela Emenda Constitucional n°

20/98 que acrescentou o §3° ao artigo 114 do Texto Constitucional. Posteriormente,

a disposição magna foi regulamentada pela Lei nº. 10.035/00, a qual modificou

alguns dispositivos do Decreto-Lei nº. 5.452/43 (Consolidação das Leis do Trabalho)

disciplinando, no procedimento trabalhista, a execução das contribuições pertinentes

à Previdência Social. Em 2004, o §3° foi alterado, porém a competência da Justiça

do Trabalho para execução das contribuições sociais foi mantida no inciso VIII do

mesmo dispositivo.

Esta pesquisa científica teve seu texto apresentado em três capítulos, os

quais foram destacados ordenadamente da seguinte forma:

No primeiro capítulo, apresentou-se a origem do Direito Processual do

Trabalho, iniciado no ano de 1907, através dos Conselhos Permanentes de

Conciliação e Arbitragem, órgãos para a solução de conflitos trabalhistas, previstos

pela Lei n° 1.637, de 5/11/1907, passando-se por toda a evolução histórica até

chegar-se à Emenda Constitucional nº. 45/2004.

Prosseguiu-se discorrendo sobre o conceito, as fontes e a autonomia do

Processo Trabalhista. Pelos conceitos exibidos, interpretou-se que o Direito

Processual do Trabalho vem a ser o ramo do direito que reúne princípios, regras e

instituições que regem as atividades da Justiça do Trabalho na solução dos

dissídios, individuais ou coletivos, entre trabalhadores e seus empregadores.

Quanto às fontes, enfocou-se, principalmente, a sua divisão em formal e

material. Formais são as fontes que, de acordo com os doutrinadores pesquisados,

revelam-se no seu caráter positivista, jurídico: são leis, doutrinas, jurisprudências

etc.; materiais são as fontes que surgem do contexto social, econômico ou histórico.

No que se refere à autonomia, evidenciou-se a existência de duas correntes.

A corrente monista, que defende a existência de somente um Direito Processual,

sendo o Direito Processual do Trabalho um mero desdobramento deste; e a teoria

dualista, que acredita ser o Direito Processual do Trabalho um ramo independente e

que só utiliza o Direito Processual Civil na ausência de sua legislação.

Com relação aos princípios pertinentes ao processo trabalhista destacou-se:

Page 94: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

79

• Princípio da finalidade social: a norma tem por objeto um fim social;

• Princípio da busca da verdade real: o juiz tem a ampla liberdade para

buscar a verdade real dos autos do processo;

• Princípio da indisponibilidade: busca o cumprimento dos direitos

indisponíveis dos trabalhadores;

• Princípio da conciliação: objetiva a conciliação das partes sem o

julgamento do mérito;

• Princípio da coletivização das ações individuais: consiste na

possibilidade de ajuizamento de ações coletivas que beneficiem toda

uma categoria;

• Princípio da normatização coletiva: criação de normas autônomas.

A competência da Justiça do Trabalho foi objeto do segundo capítulo, em que

se apresentou, preliminarmente, os conceitos e diferenciação de jurisdição e

competência. Conforme se pôde perceber, a competência é uma parte da jurisdição,

um poder concedido ao juiz, pelo Estado, para decidir os conflitos.

Dentro do estudo sobre a competência, estudou-se, de forma geral (para

todos os ramos do direito) e estrita (relativo ao Direito do Trabalho), a competência

absoluta e relativa. Vislumbrou-se que, no Direito do Trabalho a competência

absoluta subdivide-se em: razão da matéria, razão da pessoa e razão da função.

Nas três hipóteses, se não observada a regra de competência, ocorrerá a nulidade

ex tunc do processo. Já a competência relativa, na seara trabalhista, somente

subdivide-se em razão do lugar.

O estudo sobre competência se encerrou com breves comentários acerca da

nova redação do artigo 114 da Constituição Federal, cujo inciso VIII foi objeto de

análise mais profunda no capítulo terceiro.

Assim, no terceiro e último capítulo da monografia, destacou-se a

competência da Justiça do Trabalho para execução das contribuições

previdenciárias. Os apontamentos acerca da matéria iniciaram-se pelos comentários

ao §3º do artigo 114 da Constituição Federal, instituído pela Emenda Constitucional

nº. 20/98, regulamentado pela Lei nº. 10.035/00 e alterado pela Emenda

Constitucional nº. 45/04, que manteve as suas disposições no inciso VIII do mesmo

dispositivo.

Page 95: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

80

A seguir, passou-se ao estudo do procedimento utilizado para execução das

referidas contribuições, tendo sido realizado comentários a cada disposição alterada

e acrescentada pela Lei nº. 10.035/00 à Consolidação das Leis do Trabalho.

O trabalho se encerrou com observações acerca das contribuições

previdenciárias relativas ao vínculo de emprego que são objeto de execução na

Justiça do Trabalho. Nesse tópico, enfocou-se o entendimento do colendo Tribunal

Superior do Trabalho, sintetizado na Súmula nº. 368, antes e depois da alteração,

ocorrida em 10-11-2005, bem como o entendimento jurisprudencial atual de alguns

tribunais regionais brasileiros.

Por fim, retomam-se as hipóteses levantadas, que foram confirmadas pela

investigação do trabalho.

Primeira hipótese: Confirmada, pois, a Emenda Constitucional nº. 20/98

estabeleceu que as contribuições sociais previstas no artigo 195, I, a e II da Carta

Magna fossem executadas na Justiça do Trabalho. A matéria foi regulamentada em

2000, através da Lei nº. 10.035, que alterou e acrescentou dispositivos à CLT. Em

2004, através da Emenda Constitucional nº. 45, a competência da Justiça

Trabalhista para esse tipo de execução foi mantida, agora no inciso VIII do artigo

114.

Segunda hipótese: Confirmada. A execução das contribuições previdenciárias

enquadra-se na competência absoluta da Justiça do Trabalho, em razão da matéria

e da função. Como demonstrou a investigação, a competência relativa se refere tão-

somente à competência em razão do território.

Terceira hipótese: Confirmada. É clara a dicção do art. 114, VIII, da

Constituição Federal, que manteve o teor da Emenda Constitucional nº. 20/94, ao

prever que compete à Justiça do Trabalho processar e julgar a execução, de ofício,

das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais,

decorrentes das sentenças que proferir. A Lei nº. 10.035/00 regulamente a

liquidação e a execução dessa modalidade de execução.

Quarta hipótese: Confirmada. Quando foi editada, a Súmula 368 do TST

delimitou que não só as contribuições previdenciárias decorrentes de verbas

trabalhistas reconhecidas por sentença ou acordo, mas também as contribuições

referentes a reconhecimento de vínculo de emprego poderiam ser objeto de

execução na seara trabalhista. No mesmo ano (2005), a Súmula foi revista, tendo

sido restringida a competência para execução somente das contribuições

Page 96: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

81

decorrentes de verbas trabalhistas reconhecidas por sentença ou acordo. Há que se

atentar, todavia, que, a Lei nº. 11.457/07 permitiu que também as contribuições

sociais decorrentes de reconhecimento de vínculo de emprego fossem executadas

na Justiça do Trabalho. Portanto, a atual redação da súmula n. 368 do TST se

posiciona para o norte de que não há obrigatoriedade de execução das

contribuições previdenciárias relativas às sentenças declaratórias de vínculo de

emprego. Todavia, a nova previsão contida na Lei nº. 11.457/07 coloca em risco a

permanência do teor da súmula mencionada, embora esta ainda esteja sendo

respaldada em algumas decisões judiciais.

E, finda a pesquisa que resultou neste trabalho, com certeza fica o sentimento

de que a matéria objeto de estudo, dada sua polêmica e repercussão na vida do

trabalhador, continuará sendo discutida e tratada com controvérsia pelos estudiosos

e pelos órgãos jurisdicionais até a necessária sedimentação. Espera-se que ela

ocorra, de fato, com a maior brevidade possível, para que o direito alcance seu

objetivo de proporcionar paz aos conflitos sociais.

Page 97: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA EXECUÇÃO …

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