150
Diana Raquel de Oliveira Borges A COMUNICAÇÃO COM A FAMÍLIA EM CONTEXTO DE CUIDADOS INTENSIVOS Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica Trabalho efetuado sob a orientação da Professora Doutora Maria Aurora Pereira e coorientação da Mestre Arminda Vieira Abril de 2015

A COMUNICAÇÃO COM A FAMÍLIA EM CONTEXTO DE CUIDADOS INTENSIVOSrepositorio.ipvc.pt/bitstream/20.500.11960/1346/1/Diana_Borges.pdf · Diana Raquel de Oliveira Borges A COMUNICAÇÃO

  • Upload
    hatu

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Diana Raquel de Oliveira Borges

A COMUNICAÇÃO COM A FAMÍLIA EM CONTEXTO DE CUIDADOS INTENSIVOS

Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica

Trabalho efetuado sob a orientação da

Professora Doutora Maria Aurora Pereira

e coorientação da

Mestre Arminda Vieira

Abril de 2015

AGRADECIMENTOS

Embora esta dissertação seja o resultado de um esforço pessoal, não poderia deixar de

agradecer a todas as pessoas que, de alguma forma, contribuíram para a sua

concretização.

À Professora Doutora Aurora Pereira e à Mestre Arminda Vieira, pela disponibilidade,

pelo incentivo, pela partilha de saberes, pelas sugestões e pelo profissionalismo, os

quais promoveram o meu crescimento pessoal e profissional.

A todos os enfermeiros e familiares que participaram neste estudo, pela colaboração,

pelo acolhimento e pela disponibilidade demonstrada, tornando possível a sua

realização.

À minha mãe e ao Miguel, por toda a paciência, a compreensão, o encorajamento, o

amor e o apoio incondicional que me proporcionaram nos momentos mais difíceis deste

percurso.

Aos meus amigos, pela compreensão da minha ausência durante a elaboração deste

estudo, pelo carinho, pela força constante e pela amizade demonstrada.

A todos vós, o meu sincero Obrigado!

“…A simples possibilidade de se exprimir só por si alivia a pessoa; com efeito um

sofrimento comunicado, é um pouco como um sentimento dividido…”

(Cheveau)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

4

RESUMO

O internamento numa Unidade de Cuidados Intensivos constitui um evento inesperado

que envolve repercussões não só a nível individual, como familiar. Desta forma, é

fundamental que o enfermeiro percecione a família da pessoa em situação crítica como

alvo dos seus cuidados, compreendendo-a no seu todo e identificando as suas

necessidades, através do estabelecimento de uma relação terapêutica, baseada numa

comunicação eficaz.

O processo de comunicação constitui, assim, um elemento essencial do cuidado de

enfermagem à família, no ambiente intensivo, não só pela sua importância na relação

terapêutica estabelecida, como pelo facto de constituir um favorável indicador da

qualidade e humanização dos cuidados prestados.

Face a esta problemática pretendemos compreender o processo de comunicação

enfermeiro-família, em contexto de cuidados intensivos, de modo a contribuir para uma

melhor intervenção nesse âmbito.

Neste sentido, desenvolvemos um estudo qualitativo, de caráter exploratório, descritivo

e com características fenomenológicas. A recolha de dados foi realizada através da

observação participante e da entrevista semi-estruturada, dirigidas a um grupo de

enfermeiros e familiares de uma Unidade de Cuidados Intensivos de um hospital central

da região norte. Os dados obtidos foram analisados com recurso à análise de conteúdo.

Dos resultados obtidos emergiram as seguintes conclusões: o enfermeiro comunica com

a família do doente utilizando a comunicação verbal e não-verbal e através de atitudes

comunicacionais; o âmbito da informação proporcionada pelos enfermeiros vai de

encontro às necessidades de informação sentidas pela família, a qual tem uma opinião

positiva acerca da informação transmitida, considerando a linguagem utilizada pelo

enfermeiro bastante percetível; a comunicação não-verbal e as atitudes comunicacionais

do enfermeiro, bem como o conteúdo da informação proporcionada constituem os

aspetos considerados significativos no processo de comunicação enfermeiro-família; e

existem diversos fatores que interferem, de forma positiva e negativa, no processo de

comunicação enfermeiro-família, os quais se relacionam com o familiar, com o

enfermeiro e com a dinâmica do serviço.

Palavras-chave: Enfermagem; cuidar; comunicação; família; cuidados intensivos.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

5

ABSTRACT

The admission in an Intensive Care Unit is an unexpected event which affects not only

the patient but also his family. Therefore is essential have the patients' family as subject

of nursing care. Nurses might perceive the family as a whole, identifying their needs

through the establishment of a therapeutic relationship, based on an efficient

communication.

Thereby, the process of communication represents a main element of the nursing care

towards the family in a intensive care environment, not only for its relevance during the

therapeutic relationship but also being a favourable indicative of the quality and

humanization of the care.

In light of this subject we aim at understanding the nurse-family communication process

inserted in critical care, in order to contribute for a improved nursing intervention in that

field.

Thus, we have conducted a qualitative study, with exploratory, descriptive and

phenomenological design. The data collection was held by participant observation and a

semi structured interview, applied to a group of nurses and relatives of a Critical Care

Unit in the Northern Region Central Hospital. The data obtained were analyzed by

analysis of content.

From the results the following conclusions emerged: the nurse communicates with the

patients' family by verbal and non-verbal communication and through communicational

attitudes; the information given by the nurses meets the families' information needs,

who has a positive opinion about the transmitted information and consider the language

used by the nurses perceptible; the non-verbal communication and the nurses

communicational attitudes as also the information given are considered significant

during the communication nurse-family process, which are affected positively and

negatively by many factors associated with the family, the nurse and the intensive care

dynamics.

Keywords: Nursing care; communication; family; intensive care unit

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 11

CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO 15

1. A Comunicação – do Conceito ao Processo 16

2. A Comunicação em Saúde 19

2.1. A Partilha de Informação 20

2.2. O Cuidar em Enfermagem e as Competências

Comunicacionais

22

3. A Comunicação com a Família em Cuidados Intensivos 29

CAPÍTULO II – PERCURSO METODOLÓGICO 40

1. Da Problemática aos Objetivos 41

2. Tipo de Estudo 42

3. Contexto e Participantes do estudo 43

3.1. O Contexto 44

3.2. Os Participantes 45

4. Procedimentos de Recolha de Dados 47

5. Tratamento de Dados 50

6. Considerações Éticas 52

CAPÍTULO III – A COMUNICAÇÃO COM A FAMÍLIA EM

CONTEXTO DE CUIDADOS INTENSIVOS – APRESENTAÇÃO

E ANÁLISE DE DADOS

54

1. Modos de Comunicação Enfermeiro-Família 57

2. Âmbito da Informação Proporcionada pelos Enfermeiros à

Família

60

3. Opinião da Família sobre a Informação Transmitida pelos

Enfermeiros

63

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

7

4. Necessidades de Informação Sentidas pela Família 65

5. Aspetos Significativos do Processo de Comunicação

Enfermeiro-Família

66

6. Fatores que Facilitam a Comunicação Enfermeiro-Família 70

7. Fatores que Dificultam a Comunicação Enfermeiro-Família 73

CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 78

CAPÍTULO V – CONCLUSÕES E PERSPETIVAS FUTURAS 100

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 107

ANEXOS 114

Anexo I – Autorização do Conselho de Administração para a

realização do estudo

115

APÊNDICES 120

Apêndice A – Guião da Observação Participante 121

Apêndice B – Guião da Entrevista aos Enfermeiros 123

Apêndice C – Guião da Entrevista aos Familiares 126

Apêndice D – Declaração de Consentimento Informado entregue aos

participantes

129

Apêndice E – Análise de Conteúdo 131

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

8

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Modelo cibernético da comunicação humana 17

Figura 2 – Teoria das transições 31

Figura 3 – Modos de comunicação enfermeiro-família – categorias e

subcategorias

57

Figura 4 – Âmbito da informação proporcionada pelos enfermeiros à

família – categorias e subcategorias

61

Figura 5 – Opinião da família sobre a informação transmitida pelos

enfermeiros – categorias

63

Figura 6 – Necessidades de informação sentidas pela família –

categorias

65

Figura 7 – Aspetos significativos do processo de comunicação

enfermeiro-família – categorias e subcategorias

66

Figura 8 – Fatores que facilitam a comunicação enfermeiro-família –

categorias e subcategorias

70

Figura 9 – Fatores que dificultam a comunicação enfermeiro-família

– categorias e subcategorias

73

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

9

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 – Caracterização dos enfermeiros entrevistados 46

Quadro 2 – Caracterização dos familiares entrevistados 47

Quadro 3 – A comunicação com a família em contexto de cuidados

intensivos – áreas temáticas, categorias, subcategorias e número de

unidades de registo

55

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

10

SIGLAS E ABREVIATURAS

E – Enfermeiro

F – Familiar

O – Observação

OE – Ordem dos Enfermeiros

UCI – Unidade de Cuidados Intensivos

UCI’s – Unidades de Cuidados Intensivos

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

11

INTRODUÇÃO

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI’s) refletem o desenvolvimento científico e

tecnológico aplicado à saúde, promovendo a utilização de técnicas de diagnóstico e

tratamentos decisivos na recuperação dos doentes. Assumem-se como serviços

especializados, onde a prestação de cuidados é realizada por profissionais treinados,

através de equipamento sofisticado e com base em protocolos específicos para cada

intervenção.

O internamento neste tipo de unidades pode provocar alterações, não só na pessoa em

situação crítica, como na sua família, acarretando mudanças no ciclo de vida familiar,

com alterações de papéis, e implicando um processo de adaptação.

Perante esta realidade torna-se fundamental a intervenção do enfermeiro de uma

unidade cuidados intensivos, em compreender a singularidade de cada família,

identificar as suas verdadeiras necessidades e ajudar na mobilização de estratégias de

coping, de modo a facilitar a adaptação a esta nova fase de vida.

Assim, a família deve ser considerada, pela equipa multidisciplinar, como uma

continuidade da pessoa doente, a qual também necessita de cuidados que minimizem a

ansiedade, o desconforto e a insegurança sentidas, de forma a ser capaz de fornecer o

suporte adequado ao seu familiar.

A Ordem dos Enfermeiros (OE) evidencia a importância do cuidado à família da pessoa

em situação crítica, afirmando que é uma competência específica do enfermeiro

especialista nesta área, o qual tem o dever de “assistir a pessoa e família nas

perturbações emocionais decorrentes da situação crítica de saúde/doença e ou falência

orgânica” (Regulamento nº 124/2011, p.8656).

Neste sentido, embora a Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) possua um ambiente

totalmente diferente de outras unidades, não dispensa a humanização dos cuidados

prestados, demonstrada pela atitude relacional dos enfermeiros com o doente e os seus

familiares. De acordo com Pereira (2008, p.17), “as relações interpessoais fazem parte

do quotidiano dos profissionais de saúde, numa lógica de atendimento das necessidades

de pessoas únicas, que precisam de alguém que as cuide e trate”. De modo a responder a

tais necessidades, os enfermeiros dispõem de um instrumento extremamente válido, a

comunicação, considerada a essência do cuidado humano.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

12

De facto, pensar nas práticas de enfermagem numa lógica de pensamento crítico, ético e

holístico, implica o reconhecimento da importância da comunicação no âmbito da

relação terapêutica estabelecida com a família do doente.

É através do processo de comunicação com a família, o qual supõe a existência de um

equilíbrio entre a comunicação verbal e não-verbal, que os enfermeiros estabelecem

uma relação terapêutica eficaz, promovendo a qualidade e a humanização dos cuidados

prestados. Saiote e Mendes (2011, p.224) corroboram esta perspetiva, afirmando que “a

comunicação e a partilha de informação assumem uma centralidade incontornável na

prática de enfermagem, quer no trabalho com os pares, quer com os doentes e

familiares, pois só desta forma conseguem assegurar a continuidade e a qualidade da

prestação de cuidados”.

A comunicação representa, assim, a base e o fundamento da relação enfermeiro-família

na UCI, constituindo o principal mecanismo de partilha de experiências, de sentimentos

e de perceções, bem como de esclarecimento, de interação e de conhecimento.

No entanto, numa UCI, a presença de doentes habitualmente em estado grave, conduz a

que os profissionais de enfermagem priorizem as intervenções do domínio técnico,

relegando para segundo plano as de cariz relacional, nomeadamente a comunicação com

a família. Assiste-se, assim, a um cuidar mais tecnológico e centrado, maioritariamente,

na doença.

Esta atitude é justificada, na opinião de Saiote e Mendes (2011) e Santos e Silva (2006),

pela existência de diversos factores associados ao contexto de uma UCI, que dificultam

o processo de comunicação enfermeiro-família, nomeadamente o espaço físico

inadequado, a carga de trabalho, a falta de tempo para comunicar, entre outros.

De acordo com Saiote (2010), um dos aspetos que motiva maior insatisfação por parte

dos familiares, relativamente aos serviços de saúde, é a falta de informação ou o facto

de considerarem que esta não lhes é proporcionada no momento oportuno. Neste

contexto, a comunicação torna-se o elemento chave para o fornecimento atempado de

informação útil, por parte do enfermeiro, à família da pessoa em situação crítica.

A importância da comunicação é evidenciada em vários estudos realizados acerca das

necessidades sentidas pela família dos doentes internados em UCI’s, nos quais se

concluiu que a necessidade dominante é a de informação, sendo a mais referida pelos

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

13

participantes (Maruiti e Galdeano, 2007; Millar in Rosário, 2009; Morgon e

Guirardello, 2004; Siddiqui, Sheikh e Kamal, 2011).

No entanto, através da revisão da literatura, encontramos poucos estudos realizados a

nível nacional, que abordem a perspetiva do familiar acerca da comunicação com os

enfermeiros, no contexto da UCI. Por outro lado, a comunicação é uma área que

necessita de maior investimento a nível da formação dos profissionais de enfermagem,

não sendo habitualmente objeto de reflexão e de discussão.

Neste sentido, alguns contributos teóricos e empíricos no domínio da comunicação com

a família, bem como a realidade da nossa prática profissional e uma certa inquietação

relativa à temática, conduziram à reflexão e ao interesse de realizar um estudo que

incidisse sobre a comunicação enfermeiro-família, em contexto de cuidado intensivos,

na perspetiva do enfermeiro e do familiar.

O presente estudo tem, assim, como principal objetivo compreender o processo de

comunicação enfermeiro-família, no contexto de uma UCI. A partir deste objetivo geral

delineamos os seguintes objetivos específicos:

Perceber o modo como os enfermeiros comunicam com a família dos doentes

internados numa UCI;

Descrever a informação proporcionada pelos enfermeiros da UCI aos familiares;

Identificar as necessidades de informação sentidas pela família do doente, em

cuidados intensivos;

Identificar os aspetos significativos no processo de comunicação enfermeiro-

família, numa UCI;

Identificar os fatores facilitadores e dificultadores da comunicação enfermeiro-

família, em cuidados intensivos.

Este trabalho encontra-se estruturado em cinco capítulos, os quais traduzem o percurso

da investigação. No primeiro capítulo apresentamos o referencial teórico que sustenta a

problemática em estudo, sendo feita uma abordagem em torno do processo de

comunicação em saúde, das competências comunicacionais no cuidar em enfermagem e

da comunicação com a família em cuidados intensivos. No segundo capítulo expomos

todo o percurso metodológico, apresentando a problemática e os objetivos do estudo, o

tipo de estudo, o contexto e os participantes do estudo, os procedimentos de recolha e

análise de dados, bem como as considerações éticas. A apresentação e análise dos dados

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

14

obtidos constituem o terceiro capítulo, seguido pelo quarto capítulo, no qual

procedemos à discussão dos resultados. No quinto e último capítulo apresentamos as

principais conclusões do estudo e as perspetivas futuras.

Acreditamos que este estudo se reveste de particular importância para a compreensão do

valor da comunicação com a família da pessoa em situação crítica, no âmbito de uma

UCI, potenciando um contributo para a obtenção de ganhos em saúde, resultantes do

desenvolvimento de competências comunicacionais do enfermeiro, e para a,

consequente, melhoria da qualidade dos cuidados de enfermagem prestados.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

15

CAPÍTULO I

ENQUADRAMENTO TEÓRICO

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

16

Neste capítulo iremos proceder à contextualização da temática em estudo, abordando os

domínios que envolvem o processo de comunicação em enfermagem, bem como a sua

importância no âmbito da prestação de cuidados em UCI.

1. A COMUNICAÇÃO – DO CONCEITO AO PROCESSO

A comunicação é uma atividade humana básica e essencial à vida, desempenhando um

papel de extrema importância em todo o processo de desenvolvimento humano. Como

refere Lourenço (2012, p.22), “a comunicação é um processo social básico fundamental

em todos os sectores da vida, do mais simples ao mais complexo, constituindo a base da

nossa vivência e existência em relação com o outro”. Assim, verificamos que a

comunicação e a existência são conceitos inseparáveis.

De acordo com Esteves (2012, p.113), a comunicação é fundamental para o

relacionamento humano e constitui “um processo interactivo onde cada elemento

modifica e manipula o significado dos factos, podendo atribuir-lhes uma nova

interpretação, mudar a sua conduta ou direcção”.

O Homem é um ser eminentemente social, pelo que a comunicação é de particular

importância na relação entre as pessoas e é parte integrante de todo o percurso de uma

vida. É o meio pelo qual as pessoas participam no mundo em que vivem, propiciando a

partilha de experiências. Desta forma, o processo de comunicação consiste em

compreender e compartilhar mensagens emitidas e recebidas, sendo que as próprias

mensagens e a sua interação influenciam o comportamento das pessoas envolvidas

(Stefanelli e Carvalho, 2005).

As referidas autoras afirmam que o processo de comunicação se inicia sempre por

alguém (emissor) com necessidade de transmitir um conteúdo (mensagem). O emissor

sente-se, então, estimulado a iniciar um contacto interpessoal e pensa em como fazê-lo

(codificação) e como enviá-lo (canal) a fim de tornar comum o conteúdo da sua

informação para outra pessoa (recetor). Este por sua vez reagirá à mensagem recebida

apresentando a sua reação (resposta), a qual constituirá um novo estímulo para a

continuação da comunicação. Deste modo, os papéis do emissor e do recetor alternam-

se de forma contínua e circular, tornando o processo comunicacional dinâmico.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

17

Ao longo do processo comunicacional, cabe ao recetor descodificar toda a mensagem

transmitida, verbal e não-verbal, atribuindo um sentido aos pensamentos e sentimentos

comunicados pelo emissor. No entanto, o ambiente em que as pessoas interagem

influencia decisivamente a qualidade da comunicação, na medida em que pode afetar as

condições emocionais, físicas e psicofisiológicas dos envolvidos, interferindo na

expressão e perceção das ideias (Stefanelli e Carvalho, 2005).

Um dos processos mais conhecidos para estudar a comunicação é o modelo cibernético

de Phaneuf (2005), o qual podemos observar na Figura 1.

Figura 1 – Modelo cibernético da comunicação humana (adaptado de Phaneuf, 2005, p.26)

Através deste modelo verificamos que o processo comunicativo não ocorre de forma

isolada, sendo influenciado pelo ambiente e pelas características de cada interlocutor,

nomeadamente a personalidade, os valores, a cultura e o conhecimento, que funcionam

como um filtro, condicionando a forma como é codificada a mensagem. O carácter

cibernético é atribuído à comunicação, na medida em que o emissor numa primeira fase

transmite uma mensagem ao recetor, que por sua vez irá decifrar o seu conteúdo e

responder ao emissor (retroação), invertendo-se assim o papel dos interlocutores (o

emissor, torna-se recetor e o recetor, emissor). Caso o recetor não responda ao emissor

vai verificar-se uma rutura no diálogo estabelecido. Para que esta situação não ocorra, o

recetor poderá utilizar não só a linguagem verbal como a não-verbal, demonstrando

interesse em continuar o diálogo pré-estabelecido. Logo podemos afirmar que para

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

18

estabelecer uma comunicação eficiente entre duas pessoas é necessário estabelecer um

diálogo em que a mensagem deve ser relançada entre o emissor e o recetor,

independentemente do tipo de linguagem utilizado (Phaneuf, 2005).

De acordo com a autora, existem vários fatores que podem influenciar o processo de

comunicação positiva ou negativamente, nomeadamente, a postura e as atitudes

corporais, os gestos, a expressão facial, o contacto visual, a voz, a distância ou

proximidade, o silêncio, o toque, as características físicas, os limites dos sentidos, o

nível de educação, as diferenças culturais, os valores, a religião, os preconceitos e

estereótipos sociais, a língua falada, a diferença de idade, o desenvolvimento inteletual e

o estatuto social.

Neste sentido, a comunicação humana é um processo de interação, no qual

compartilhamos mensagens, ideias, sentimentos e emoções, podendo influenciar o

comportamento das pessoas que, por sua vez, reagirão de acordo com as suas

experiências, crenças e valores.

Desta forma, podemos afirmar que a comunicação constitui um processo de criação e

recriação de informação, de troca e de partilha de sentimentos e emoções entre as

pessoas. Como refere Phaneuf (2005, p.22), “comunicar consiste evidentemente em

exprimir-se e em permitir ao outro fazê-lo”, sendo que na opinião da autora, “pela

magia das palavras exprimem-se as informações, as opiniões, os sentimentos e as

emoções que permitem aos humanos entrar em contacto, criar relações harmoniosas e

desenvolver relações significativas e profundas” (Phaneuf, 2005, p.82).

No entanto, a comunicação não passa só pelas palavras, mas também pelas mensagens

não-verbais que as acompanham. De facto, as mensagens podem ser transmitidas

através da linguagem verbal e não-verbal. A comunicação verbal é conseguida pela

escrita ou pela palavra falada, num código compreendido mutuamente pelo emissor e

recetor. Por outro lado, na comunicação não-verbal as mensagens são emitidas através

da linguagem corporal, nomeadamente expressões faciais, postura corporal, gestos ou

simplesmente a forma de olhar o outro (Stefanelli e Carvalho, 2005).

Verificamos, assim, que o fenómeno da comunicação se traduz em duas componentes

distintas mas indissociáveis, a comunicação verbal e a não-verbal, pelo que “a

linguagem corporal acompanha o nosso quotidiano de palavras” (Pereira, 2008, p.59).

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

19

A linguagem não-verbal permite a expressão de sensações, emoções e sentimentos, a

confirmação e reforço das palavras, bem como o estabelecimento e manutenção dos

laços significativos com os outros. O sentido desta mensagem é reforçado por Phaneuf

(2002, p.68), afirmando que “a comunicação não-verbal é uma troca sem palavras.”

Neste sentido, “a informação não-verbal é superior à informação verbal, o seu impacto é

imediato. Quer seja consciente ou inconsciente, intencional ou não intencional, ela não

pode ser anulada por palavras” (Phaneuf, 2005, p.69).

2. A COMUNICAÇÃO EM SAÚDE

A evolução tecnológica e terapêutica permitiu novos desenvolvimentos na saúde, tendo-

se verificado, também, uma grande evolução noutro domínio fundamental na prestação

de cuidados de saúde, a comunicação. Recentemente, a comunicação em saúde passou a

integrar o campo de conhecimentos da enfermagem e constitui um longo processo de

aprendizagem para os enfermeiros (Saiote, 2010).

Stefanelli e Carvalho (2005) defendem que os conceitos de comunicação, saúde e

enfermagem se interpõem, não se podendo falar em saúde e enfermagem sem nos

reportarmos à comunicação. Como tema transversal em saúde, a comunicação assume

uma extrema relevância em contextos diferentes, especialmente na relação

enfermeiro/doente/família.

A comunicação em saúde refere-se ao estudo e utilização de estratégias de comunicação

para informar e para influenciar as decisões dos indivíduos e das comunidades, no

sentido de promoverem a sua saúde. Assume-se, assim, “como um processo dinâmico e

multidireccional de intercâmbio de informação, através dos diferentes canais sensório-

percetuais, os quais permitem ultrapassar as informações transmitidas pela palavra”

(Lourenço, 2012, p.23).

A comunicação constitui, de facto, uma das componentes centrais da área da saúde,

sendo essencial para um desempenho com qualidade. Como afirma Pereira (2008, p.17)

“é imprescindível aos profissionais de saúde serem conhecedores e peritos em relações

humanas, tornando-se a comunicação o instrumento básico para a prestação de cuidados

de saúde”.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

20

Desta forma, é fundamental que a comunicação em saúde seja clara, compreensível,

credível e principalmente personalizada, isto é, adequada às necessidades de informação

do doente naquele momento e adaptada ao seu nível cultural e capacidades cognitivas.

O processo comunicacional em saúde assume, assim, uma extrema importância, na

medida em que pode influenciar significativamente a satisfação dos doentes/familiares,

a sua adaptação psicológica à doença, os seus comportamentos de adesão e a avaliação

da qualidade dos cuidados de saúde prestados.

2.1. A Partilha de Informação

No âmbito dos cuidados de saúde, o fornecimento de informação torna-se uma questão

essencial. Por um lado temos os doentes que necessitam de informação, tentando

adquiri-la de variadas formas, e por outro a obrigatoriedade dos profissionais de saúde

em informar os doentes sobre o seu estado clínico.

No que se refere ao exercício do princípio da autonomia, o enfermeiro deve, de forma

clara, informar o doente acerca do seu estado de saúde, verificando a compreensão da

informação e avaliando a vontade do doente, para que este seja capaz de tomar uma

decisão, ou seja, o cumprimento do processo de consentimento informado.

De facto, o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (2011) defende que a

compreensão da informação de saúde, enquanto instrumento para a tomada de decisão,

insere-se no respeito pela autonomia da pessoa e no respeito pelos seus familiares, bem

como na responsabilidade dos profissionais de saúde pela proteção dessa mesma

informação, através do dever de confidencialidade e privacidade. Esta entidade, através

do Parecer sobre Informação de Saúde e Registos Informáticos de Saúde, afirma que a

informação em saúde inclui todo o tipo de informação disponível relativa à saúde de

uma pessoa, doente ou saudável, nomeadamente dados clínicos registados, resultados de

análises ou exames, dados de risco familiar, diagnósticos clínicos, intervenções

terapêuticas entre outras. Mesmo após o falecimento da pessoa, o conceito de

informação de saúde deverá manter-se.

Inserida na proteção dos direitos humanos, encontra-se a promoção do respeito pelo

direito dos doentes no acesso à informação, assegurando a sua confidencialidade e

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

21

segurança, bem como, do respeito à escolha e à autodeterminação no âmbito dos

cuidados de saúde prestados.

Neste contexto, o ponto 6 da Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (Direção Geral

da Saúde, 2011) menciona que o doente tem direito a ser informado, de forma clara,

sobre a situação de saúde, tendo sempre em conta a sua personalidade, o grau de

instrução e as condições clínicas e psíquicas. Esta informação deve conter elementos

relativos ao diagnóstico, ao prognóstico, aos tratamentos adequados e aos possíveis

riscos. O mesmo documento refere, também, que o doente pode desejar não ser

informado do seu estado de saúde, devendo indicar, caso o entenda, quem deve receber

a informação em seu lugar.

Da mesma forma, o Código Deontológico do Enfermeiro (Lei nº111/2009), no seu

artigo 84º, contempla o Dever de Informação, o qual reforça que o profissional de

enfermagem, no respeito pelo direito à autodeterminação, tem o dever de informar o

doente e familiares no que respeita aos cuidados de enfermagem prestados, responder e

explicitar com responsabilidade todas as dúvidas relacionadas e fazer referência aos

recursos de saúde disponíveis e o acesso aos mesmos, enquadrando-se deste modo a

comunicação como parte integrante das suas funções. O direito à informação, na

perspetiva de Zussman (1992), não pertence apenas ao doente, mas também à família,

que durante o internamento passa a ser portadora dos direitos do doente.

De facto, a hospitalização gera, além de um medo irracional, um elevado grau de

incerteza no que concerne à sua etiologia, diagnóstico, tratamento e sobretudo

prognóstico. Assim, os familiares vêem-se obrigados a obter informação de modo a que

esta os ajude a terem acesso ao que se passa com o doente, permitindo a redefinição dos

seus objetivos de vida.

Segundo Phaneuf (2005, p.462), a família tem necessidade de informação para

“compreender o que se passa, participar nas decisões para que eles próprios possam

levar o suporte necessário à pessoa doente. É portanto normal que eles se voltem para as

enfermeiras para receber conforto e informações”. A informação fornecida pelos

enfermeiros aos doentes/familiares é considerada como uma componente indispensável

na relação entre ambos, no qual a comunicação aberta e clara é primordial para uma

interação de sucesso.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

22

No entanto, os profissionais de saúde e os doentes/familiares atribuem diferentes

significados à informação. Daí a existência de uma divergência entre estes indivíduos

quando se questiona se a informação prestada na saúde é adequada ou não. Enquanto os

enfermeiros defendem, frequentemente, que a informação é adequada, familiares e

doentes manifestam desagrado na informação fornecida, considerando-a muitas vezes

inadequada, incompleta, ambígua e pouco clara. Importa também referir que, por vezes,

a informação exigida pelos familiares coloca os enfermeiros num dilema ético. Os

doentes e os familiares têm o direito de saberem toda a verdade sobre a sua situação

clínica, no entanto, o enfermeiro nem sempre está apto para dar estas informações,

remetendo-se muitas vezes ao silêncio e noutras para o domínio médico (Saiote, 2010).

Phipps, Sands e Marek (2003) referem que uma das necessidades mais importantes

reconhecida pelos familiares em todos os períodos de doença é a de informação. Neste

sentido, a enfermagem, enquanto profissão que enfatiza o cuidado personalizado e

holístico, deve preocupar-se em atender as necessidades dos doentes e familiares,

desenvolvendo uma comunicação competente e proporcionando um cuidado

humanizado.

2.2. O Cuidar em Enfermagem e as Competências Comunicacionais

A prática de cuidados é, indubitavelmente, a mais antiga prática da humanidade, como

nos afirma Collière (1999). Segundo esta autora, cuidar é, não só, um ato individual que

prestamos a nós próprios desde que adquirimos autonomia, mas também um ato de

reciprocidade que somos levados a prestar a toda a pessoa que temporariamente ou

definitivamente tem necessidade de ajuda para assumir as suas necessidades vitais.

Na verdade, o cuidar faz parte das necessidades básicas para a sobrevivência da vida

humana. O cuidar de si, o cuidar do outro e ser cuidado, envolve uma filosofia de

compromisso moral direcionada para a proteção da dignidade humana e preservação da

humanidade. Os referenciais teóricos do paradigma do cuidado defendem o cuidar como

uma característica humana, componente primordial no ser humano, comum e inerente a

todos os povos; como um imperativo moral, relativo à dignidade e respeito pelo outro;

como um afeto, sentimento de compaixão, ou como uma interação interpessoal, na qual

a comunicação, confiança, respeito e empenho estão subjacentes (Souza [et al], 2005).

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

23

A orientação para o cuidar é, de facto, uma orientação holística, uma vez que, além de

atender à cura, considera a pessoa na sua globalidade, tendo em conta os fatores

biológicos, psicológicos, espirituais e socioculturais, numa tentativa de compreensão da

pessoa na sua plenitude, visando o seu bem-estar. Este cuidar holístico promove

humanismo, saúde e qualidade de vida através de uma abordagem individual,

direcionada para a pessoa que é vista como um todo unificado e significante (Watson,

2002).

Neste âmbito, torna-se fundamental relacionar o cuidar com a prática de enfermagem,

na medida em que este é visto como o ideal moral da disciplina, consistindo em valores

dirigidos para a proteção, promoção e preservação da dignidade humana, ajudando a

pessoa a encontrar um sentido na sua própria existência.

Desta forma, o cuidar constitui um domínio que orienta a prestação de cuidados de

enfermagem, traduzindo um elevado nível de empenho quando baseado em

conhecimentos. Este empenho é necessário para o enfermeiro dar resposta às diferentes

situações com as quais se depara na sua prática profissional. Para tal, deve equacionar

em simultâneo um conjunto de variáveis complexas, nomeadamente equacionar-se a si

próprio enquanto pessoa e profissional, bem como equacionar o contexto e o objeto da

sua ação. Esta capacidade complexa e dinâmica de resposta é denominada, por vários

autores, de competência (Briga, 2010).

De acordo com Phaneuf (2005), a competência inclui capacidades cognitivas,

psicomotoras e sócio-afetivas que, de uma forma integrada, permitem exercer um papel,

função, tarefa ou atividade. No que respeita aos cuidados de enfermagem, a

competência refere-se a um conjunto integrado que supõe a mobilização de capacidades

cognitivas e socio-afetivas, de saberes teóricos e organizacionais, bem como de

habilidades técnicas e relacionais aplicadas a situações de cuidados, permitindo, assim,

ao enfermeiro exercer a sua função ao nível da excelência.

No entanto, a competência em enfermagem revela-se um conceito bastante complexo,

na medida em que supõe uma junção de múltiplas dimensões, nas quais os saberes

científicos, organizacionais e técnicos se interligam e se sustentam entre eles. Como a

autora acima referida afirma (p.4), “a competência é tecida com numerosos fios cuja

trama é consolidada pela certeza que ela desenvolve de poder recorrer, na sua bagagem

pessoal de capacidades, de conhecimentos e de experiências, aos elementos necessários

à resolução dos problemas de cuidados que encontra”.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

24

A reflexão sobre as nossas experiências e os caminhos traçados é fundamental para o

desenvolvimento pessoal e profissional, na medida em que permite um estudo mais

aprofundado da nossa individualidade e acentua a ideia de que a nossa formação parte

de nós próprios. Assim, o aumento das nossas competências na prestação de cuidados

de enfermagem é conseguido através da aquisição e desenvolvimento de

conhecimentos, bem como da capacidade de olhar, analisar, discutir e avaliar a nossa

prática, ou seja, a capacidade de nos questionarmos a nós próprios.

O conceito de competência em enfermagem afirma-se, assim, na complexidade das

situações reais, nas quais se é capaz de utilizar os conhecimentos de uma forma

pertinente, adequada, eficaz e responsável. Enquanto a combinação dos saberes

científicos, organizacionais e técnicos é necessária para o tratamento da doença, as

qualidades pessoais do enfermeiro, nomeadamente de empatia, são imprescindíveis para

cuidar a pessoa.

Gameiro (2003) defende que o cuidar constitui a essência no campo da competência

específica da enfermagem e que ninguém exerce enfermagem, nem como arte, nem

como ciência, sem comunicar eficientemente. A comunicação no cuidar deve ser

holística, considerando a pessoa como um todo e evidenciando respeito pelo doente

como pessoa e não como um corpo alvo de intervenções de enfermagem.

Desta forma, torna-se fundamental que cada enfermeiro invista no desenvolvimento de

competências comunicacionais, na medida em que a comunicação se assume como a

essência do cuidar, tornando possível a prestação de cuidados de enfermagem

humanizados, interdisciplinares, competentes e personalizados (Stefanelli e Carvalho,

2005).

Segundo Pereira (2008, p.18), “a informação prestada ao doente e à família constitui

uma das armas mais poderosas no que se refere à ajuda necessária à aceitação, à

confrontação da doença e à adaptação às mudanças que ocorrem”. E é através da

comunicação que se obtém esta partilha de informação, tornando-se essencial para o

estabelecimento de uma relação terapêutica. A comunicação possibilita, assim, a

interação entre o enfermeiro e o doente/família, proporcionando o estabelecimento de

um relacionamento humano que permita atingir os objetivos dos cuidados de

enfermagem.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

25

A comunicação no âmbito da saúde deve ser terapêutica, uma vez que objetiva o

cuidado, favorecendo, através deste, autoconfiança, respeito, individualidade, ética,

compreensão e empatia pela pessoa cuidada. A comunicação assume-se, assim, como

um processo que pode ser utilizado como instrumento de ajuda terapêutica. Para tal, o

enfermeiro deve possuir conhecimentos sobre as bases teóricas da comunicação e

adquirir capacidades de relacionamento interpessoal para agir positivamente na

prestação de cuidados ao doente (Bertone, Ribeiro e Guimarães 2007).

Neste contexto, emerge o conceito de comunicação terapêutica, isto é, a competência do

enfermeiro em aplicar os conhecimentos sobre a comunicação humana, no sentido de

ajudar o outro a descobrir e utilizar as suas capacidades. A comunicação terapêutica

com o doente/família permite identificar os seus problemas, com base na sua própria

atribuição de significados aos factos ocorridos, na tentativa de os ajudar a encontrar

maneiras de manter ou restabelecer a saúde (Stefanelli e Carvalho, 2005).

Outros autores reforçam que a comunicação terapêutica tem a finalidade de identificar e

atender as necessidades de saúde do doente e contribuir para melhorar a prática de

enfermagem ao criar oportunidades de aprendizagem e despertar nos doentes

sentimentos de confiança, permitindo que eles se sintam satisfeitos e seguros (Briga,

2010).

Na opinião de Riley (2000), a comunicação terapêutica é o suporte da relação de ajuda,

com a qual o enfermeiro se desenvolve, conhecendo-se melhor e ajudando a pessoa a

desenvolver-se também. Segundo a mesma autora, a relação de ajuda distingue-se das

relações de carácter social, no sentido em que é estabelecida em benefício do doente e

com o intuito de o ajudar a alcançar e manter um nível ótimo de saúde.

A comunicação, ao constituir um veículo para o estabelecimento de uma relação de

ajuda, é o meio através do qual as pessoas influenciam o comportamento das outras,

sendo fundamental para o sucesso das intervenções de enfermagem. Como refere

Phaneuf (2005), a comunicação e a relação de ajuda são considerados fatores

importantes na humanização e qualidade dos cuidados, sendo a comunicação uma

ferramenta base para o estabelecimento da relação de ajuda.

A mesma autora defende que a relação de ajuda exige ao enfermeiro uma tomada de

consciência das suas estratégias de comunicação, uma vontade de aperfeiçoar a sua

forma de se relacionar, de desenvolver certos comportamentos privilegiados e de se

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

26

atualizar enquanto ser humano. Quando aplicada adequadamente, este tipo de relação

confere aos cuidados de enfermagem uma eficácia e uma qualidade humana, bem como

um carácter de profissionalismo e uma melhor visibilidade do papel do enfermeiro.

Desta forma, a enfermagem constitui, essencialmente, uma profissão de ajuda, na qual

se exerce a ação junto da pessoa através da relação de ajuda. Esta relação tem por

objetivo dar ao doente/família a possibilidade de identificar, sentir, escolher e decidir o

que quer e/ou deve mudar.

No processo de convivência entre o enfermeiro e o doente/família, ambos experimentam

um conjunto de fenómenos, sentimentos, pensamentos e reações que podem interferir

beneficamente no processo de comunicação, nomeadamente a empatia, o respeito mútuo

e a confiança. De acordo com Stefanelli e Carvalho (2005) estes constituem três

elementos chave do processo comunicativo, permitindo que a comunicação interpessoal

seja efetiva, terapêutica ou adequada.

No entanto, a mesma autora defende que o processo de comunicação pode ser afetado

por vários fatores, denominados de variáveis, os quais podem beneficiar ou prejudicar a

compreensão das mensagens e a, consequente, evolução adequada do processo. As

variáveis referidas são: o enfermeiro e o doente, o ambiente/contexto, a linguagem

utilizada, a disponibilidade de ambos e o sentido de oportunidade do profissional.

Relativamente à primeira variável, Stefanelli e Carvalho (2005, p.36) afirmam que

“enfermeiro e paciente são seres humanos e, como tais, são únicos, singulares em suas

peculiaridades”. Assim, é fundamental que o enfermeiro considere as características do

doente, percebendo-as e interpretando-as fielmente, bem como avaliando a forma como

estas influenciam a maneira de ser do doente. Por outro lado, o profissional de

enfermagem deve conhecer a sua singularidade como ser humano e estar consciente de

como esta afeta a sua competência comunicacional ou interpessoal e,

consequentemente, a sua comunicação com o outro.

A comunicação também é influenciada pelo contexto/ambiente em que as pessoas

comunicam, podendo estimular ou inibir a interação entre os envolvidos. O ambiente

engloba o espaço físico (mobiliário, iluminação, temperatura, ruídos), bem como as

pessoas envolvidas e a respetiva cultura, crenças e valores. A existência de um ambiente

familiar ao doente facilita o processo comunicacional, uma vez que afasta o medo de

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

27

situações desconhecidas e promove o sentimento de segurança e confiança em relação

ao profissional de enfermagem.

No que respeita à linguagem utilizada na comunicação, as autoras acima referidas

defendem que esta deve ter um significado comum, de forma a ser apreendida e

compreendida pelos envolvidos. Neste sentido, o enfermeiro deve utilizar um

vocabulário compreensível, tentando ser o mais claro possível no uso das palavras e na

inflexão da voz.

O sucesso do processo comunicacional também depende da disponibilidade das pessoas

envolvidas. É importante que o enfermeiro perceba quais os momentos mais propícios

para atender o doente e a família, a fim de lhes dedicar atenção centrada nas suas

necessidades e problemas, reduzindo ao máximo possíveis interrupções que possam

prejudicar a expressão e compreensão das mensagens. O profissional de enfermagem

deve colocar-se à disposição do doente/família, tendo em conta o tempo disponível de

ambos.

Stefanelli e Carvalho (2005) realçam, por fim, a importância do sentido de oportunidade

do enfermeiro quando presta informações ao doente/família sobre procedimentos,

tratamentos, exames ou rotinas, na medida em que é necessário perceber se estes se

encontram aptos para receber tais informações/orientações.

Neste contexto, torna-se relevante referir, também, as funções da comunicação em

enfermagem. De acordo com a autora, estas funções consistem na investigação,

informação, conhecimento do outro e de si próprio e estabelecimento de um

relacionamento significativo.

A função de investigação encontra-se presente quando obtemos dados acerca do doente

e da sua família, relativos à doença e fatores envolvidos. Por sua vez, a informação

envolve o envio de mensagens novas ao recetor, de acordo com suas as necessidades.

Na prestação de cuidados de enfermagem, que exige uma interação constante com o

doente/família, o conhecimento de si mesmo é essencial. Quanto maior é o

conhecimento do enfermeiro de si próprio, mais eficiente será na comunicação com o

outro, minimizando ou evitando a influência das suas crenças e valores.

Estabelecer um relacionamento significativo com o doente/família é uma das principais

funções da comunicação nos cuidados de enfermagem. É através desse relacionamento

que o enfermeiro acolhe o doente/família, tendo em conta as suas necessidades,

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

28

sentimentos e pensamentos, promovendo, assim, o desenvolvimento das suas

capacidades para a recuperação e reintegração na comunidade.

De acordo com o Regulamento do Perfil de Competências do Enfermeiro de Cuidados

Gerais, a comunicação e as relações interpessoais assumem um papel importante no

domínio da prestação e gestão dos cuidados de enfermagem. Segundo este documento,

o enfermeiro inicia, desenvolve e suspende a relação terapêutica estabelecida com o

doente e/ou família, através das capacidades interpessoais e de uma comunicação

adequada; comunica, de forma consistente, a informação relevante, correta e

compreensível, sobre o estado de saúde do doente; assegura que a informação fornecida

é apresentada de forma apropriada e clara, bem como responde adequadamente às

questões, solicitações e problemas do doente/família, no respeito pela sua área de

competência. (Ordem dos Enfermeiros, 2012).

Por sua vez, o Regulamento das Competências Específicas do Enfermeiro Especialista

em Enfermagem em Pessoa em Situação Crítica, publicado pela OE (Regulamento nº

124/2011), atribui unidades de competência específicas e acrescidas, relativamente ao

enfermeiro de cuidados gerais. Tais competências fundamentam, não só, a intervenção

no âmbito da gestão da comunicação interpessoal, mas também, a gestão da relação

terapêutica perante a pessoa/família em situação crítica ou de falência orgânica,

demonstrando os domínios de competência do enfermeiro especialista.

Neste sentido, podemos afirmar que na prática de enfermagem a comunicação

representa a base e o fundamento das relações enfermeiro/doente/família, constituindo

um instrumento básico para a profissão. Encontra-se presente em todas as intevenções

realizadas com o doente/família, seja para orientar, informar, apoiar, confortar ou

atender as suas necessidades básicas. Neste sentido, a comunicação é uma das

ferramentas que o enfermeiro utiliza para desenvolver e aperfeiçoar o saber-fazer

profissional.

Como refere Briga (2010, p.23), a comunicação “está presente em todos os momentos

da actuação do enfermeiro, pelo que este tem de familiarizar-se com estes pressupostos

que fundamentam a importância da competência em comunicação e constituem o pilar

de sustentação dos cuidados de enfermagem”.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

29

3. A COMUNICAÇÃO COM A FAMÍLIA EM CUIDADOS INTENSIVOS

Vários autores consideram que a família é a base social dos indivíduos. É através dela

que o ser humano aprende a pensar, agir e reagir através de conceitos éticos, morais,

religiosos e sociais, construindo, assim, a sua personalidade perante a sociedade em que

se encontra inserido. Habitualmente é na família que o indivíduo recebe os valores

humanos e éticos, bem como todo o apoio afetivo e psicológico, fundamentais para o

seu desenvolvimento físico e mental (Saiote, 2010).

De acordo com Dias (2011, p.141), a família refere-se a um “conjunto de pessoas

consideradas como unidade social, como um todo sistémico onde se estabelecem

relações entre os seus membros e o meio exterior”. Esta unidade social constitui um

sistema dinâmico, composto por vários subsistemas, bem como um processo de

integração e interação entre os seus membros.

Na opinião da referida autora, a família, enquanto sistema aberto, assume-se como uma

unidade funcional para os seus elementos, ao permitir o seu desenvolvimento e bem-

estar através do intercâmbio entre o sistema familiar e o exterior, de forma a manter o

seu equilíbrio ao longo de um processo de desenvolvimento, percorrido através de

variados estados de evolução.

Por sua vez, o Conselho Internacional de Enfermeiros (2003, p.65), na Classificação

Internacional para a Prática de Enfermagem, define a família como um “conjunto de

seres humanos considerados como unidade social ou todo colectivo composto de

membros unidos por consanguinidade, afinidades emocionais ou relações legais,

incluindo as pessoas significativas”.

Para Phipps, Sands e Marek, (2003, p.154), “a família é tida como aquelas pessoas que

o indivíduo doente, ou o seu representante, identifica como família”.

Wright e Leahey (2002, p.68) partilham este ponto de vista, afirmando que “família é

quem os seus membros dizem que são”. As autoras consideram, assim, que na definição

de família, o importante é o respeito pelas ideias relativas aos relacionamentos

significativos e às experiências de saúde/doença.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

30

Neste sentido, comprovamos que existe sempre um elemento de referência para o

doente, podendo este ser um familiar ou um acompanhante significativo,

independentemente da existência de laços de consanguinidade ou parentesco.

A família constitui, assim, um sistema social composto por um conjunto de pessoas que

interagem entre si, desempenhando um papel insubstituível no desenvolvimento e apoio

aos seus elementos. Algumas definições remetem-nos para um conceito de família mais

abrangente que inclui, não só os que partilham traços biológicos ou que vivem no

mesmo espaço físico, mas também pessoas significativas que são sentidas como família.

Desta forma, e com base nas diversas conceções de família e da própria vivência

familiar de cada um de nós, entendemos a família como um sistema inserido numa

multiplicidade de contextos e constituído por pessoas que partilham sentimentos e

valores, produzindo laços de interesse e de solidariedade com características e

funcionalidades particulares. Para Gameiro in Dias (2011, p. 146),“ a simples descrição

de uma família não serve para transmitir a riqueza e a complexidade relacional desta

estrutura”.

A família, estrutura constituída como um todo organizado, sofre mudanças importantes

e um impacto emocional relevante durante a hospitalização de um dos seus membros.

As angústias, os medos, os sofrimentos e as dúvidas estão presentes, assim como as

incertezas do tratamento e o prognóstico. Desta forma, a família, como recetora de

cuidados, requer informação e acompanhamento por parte dos profissionais de saúde

para lidar adequadamente com a situação de doença.

O internamento numa UCI constitui uma mudança que ocorre quer a nível individual

quer familiar, denominada de transição, a qual é considerada por Meleis (2010, p.25)

como “uma passagem ou movimento de um estado, condição ou lugar para outro”. Este

conceito remete para uma mudança no estado de saúde, nos papéis desempenhados

socialmente, nas expetativas de vida, nas habilidades socioculturais, bem como na

capacidade de gerir as respostas humanas.

A teoria das transições, apresentada por Meleis [et al.] (2000), abrange três domínios

fundamentais: a natureza das transições (tipos, padrões e propriedades), as condições

das transições (facilitadoras ou inibidoras) e os padrões de resposta (indicadores de

processo e de resultado), como se pode observar na figura 2.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

31

Figura 2 – Teoria das Transições (traduzido e adaptado de Meleis [et al.], 2000, p.17)

Com base na figura 2 verificamos que as mudanças que ocorrem durante as transições

possuem naturezas, condições e padrões de resposta específicos. Os padrões de

transição incluem transições únicas ou múltiplas, as quais podem ocorrer

sequencialmente ou simultaneamente, de acordo com o grau de sobreposição entre as

transições e a natureza das relações entre os diferentes eventos que a despoletaram

(Meleis [et al.], 2000).

Segundo Zagonel (1999), as condições condutivas aos processos de transição estão,

geralmente, associadas a três tipos de transição, nomeadamente a desenvolvimental, a

situacional e a de saúde-doença, as quais podem gerar instabilidade, produzindo efeitos

negativos e profundas alterações no indivíduo. As transições desenvolvimentais

referem-se às mudanças previstas ao longo do ciclo vital e as transições situacionais

incluem eventos quotidianos esperados ou inesperados que exigem mudança de

comportamento. Por sua vez, as transições de saúde-doença caracterizam-se por serem

referentes a mudanças súbitas de papel, que resultam da passagem de um estado de

saúde/bem-estar para um estado de doença aguda ou crónica.

Natureza das Transições Condições das Transições:

Inibidoras e Facilitadoras

Padrões de Resposta

Tipos:

- Desenvolvimentais

- Situacionais

- Saúde/Doença

Padrões:

- Únicas

- Múltiplas

- Sequenciais

- Simultâneas

- Relacionadas

- Não relacionadas

Propriedades:

- Consciência

- Envolvimento

- Mudança e Diferença

- Duração da transição

- Pontos críticos e

Eventos

Pessoais:

- Significados

- Crenças culturais e atitudes

- Estatuto sócio-económico

- Preparação e conhecimento

Indicadores de Processo:

- Sentir-se integrado

- Interagir

- Localização e sentir-se

situado

- Desenvolver a

confiança e lidar com a

situação

Indicadores de

Resultado:

- Domínio/Mestria

- Integração fluída da

identidade

Intervenções de Enfermagem

Comunidade Sociedade

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

32

No que concerne às propriedades das transições, Meleis [et al.] (2000) realça a

importância da perceção e conhecimento do processo de transição pela pessoa

(consciência), o nível de envolvimento, as dimensões da mudança, a perceção de ser

diferente, a duração da transição e os eventos críticos associados.

O progresso e o resultado da transição são influenciados, de forma positiva ou negativa,

pelas condições pessoais, tais como o significado que a pessoa atribui ao evento, a sua

cultura e crenças, o estatuto socioeconómico, o conhecimento prévio e a preparação,

bem como pelos recursos comunitários e sociais existentes (Meleis [et al.], 2000).

A referida autora defende que as transições saudáveis são evidenciadas pelos padrões de

resposta, os quais englobam os indicadores de processo (o grau de envolvimento da

pessoa, a interação com a equipa de saúde, a focalização nos objetivos e o

desenvolvimento de confiança e de estratégias para lidar com a situação) e os

indicadores de resultado (o desenvolvimento de competências e conhecimentos para

lidar com novas situações e a reformulação da identidade).

No contexto da UCI, a família do doente experiencia uma transição de saúde-doença,

causada pelo internamento do seu familiar, a qual pode ser múltipla e simultânea,

dependendo de outras transições que a pessoa está a vivenciar e da existência de relação

entre elas. As propriedades da transição, bem como as condições pessoais e sociais vão

facilitar ou dificultar o progresso da transição, o qual é caracterizado pelos indicadores

de processo e de resultado. Neste sentido, os enfermeiros devem avaliar os indicadores

de processo, com o intuito de intervir precocemente e ajudar a família a alcançar

resultados satisfatórios, ou seja, obter ganhos em saúde.

Para a família da pessoa em situação crítica, a hospitalização acarreta um conjunto de

necessidades complexas, uma vez que existe uma mudança súbita de um estado de

saúde para um estado de doença, alterando a qualidade de vida, as rotinas, os papéis e as

realizações pessoais.

A integridade da família fica, assim, ameaçada pela separação, pelo medo de perda e

pelo próprio ambiente da UCI. A complexidade deste evento vai provocar uma alteração

na dinâmica familiar, afetando os padrões de interação, alterando as perspetivas futuras,

provocando novas necessidades e sentimentos, bem como conduzindo a mudanças e

reestruturações familiares.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

33

Neste contexto, o papel do enfermeiro torna-se fundamental, na medida em que deve

avaliar, planear e implementar estratégias de prevenção, promoção e intervenção

terapêutica face aos eventos de transição da família, a fim de restabelecer a dependência

e instabilidade geradas.

De acordo com Saiote (2010), fatores como o estado de saúde do doente, a gravidade da

situação, o ambiente que o rodeia e a dificuldade em comunicar com o familiar,

contribuem para o aumento da ansiedade e insegurança da família. Esta situação vai

alterar o equilíbrio familiar, dificultando a identificação dos recursos e potencialidades

para lidar com a situação de crise, surgindo, assim, a necessidade de ajuda.

Neste sentido, é essencial que os cuidados de enfermagem não se fundamentem apenas

na interação entre o enfermeiro e o doente, mas também na interação entre o enfermeiro

e a família, uma vez que a doença é um processo coletivo que afeta toda a unidade

familiar.

A família tem responsabilidade na evolução do prognóstico da doença, na medida em

que desempenha um papel fundamental ao dar apoio físico, emocional, social e

económico aos elementos doentes. Como refere Saiote (2010, p.11), para o doente, “o

envolvimento das pessoas significativas ou de um elemento de referência na rotina

hospitalar, é um dos factores mais importantes para a sua adaptação à hospitalização

com consequentes repercussões na evolução e prognóstico da doença.”.

Assim, o cuidado de enfermagem, baseado num processo de comunicação eficaz, deve

ser direcionado para uma maior sensibilização, consciencialização e humanização,

identificando os fatores que influenciam a transição da pessoa e criando condições para

que este seja um processo saudável.

Os pressupostos que devem acompanhar as estratégias do cuidado de enfermagem a

uma pessoa em transição baseiam-se na compreensão da transição a partir da perspetiva

de quem a experiencia e a identificação das necessidades para o cuidado com essa

abordagem. É, também, necessário considerar os fatores que intervêm nos processos de

transição, nomeadamente, os individuais, os ambientais e as intervenções de

enfermagem, as quais incluem as ações preventivas à transição e as estratégias de

intervenção ao longo do evento (Meleis [et al.], 2000).

A capacidade de cada família em superar a situação de crise gerada pelo internamento

depende, não só da perceção que a família tem da situação da doença e da crise que está

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

34

a atravessar, mas também dos mecanismos intrínsecos e extrínsecos que dispõe para

lidar, positivamente, com a situação. Os mecanismos extrínsecos englobam todo o apoio

que a família dispõem e a que tem acesso, emergindo aqui a importância da intervenção

do enfermeiro no decurso destas situações de doença.

Desta forma, a intervenção do enfermeiro deve funcionar como um processo facilitador

da transição, promovendo o bem-estar da pessoa. Assistir a pessoa em processos de

transição, facilitando-os no sentido de alcançar um estado de bem-estar, é considerada

por Meleis (2010) a função mais importante do profissional de enfermagem.

O cuidado de enfermagem facilitador do processo transicional conduz, assim, à busca de

um modelo mais humanista, de totalidade do ser, de integralidade e de

interdisciplinaridade, no qual a pessoa deve ser sempre vista de forma holística.

Com base na teoria das transições de Meleis, os cuidados de enfermagem prestados

numa UCI têm como objetivo perceber a condição da família da pessoa em situação

crítica, detetar as suas necessidades, nomeadamente ao nível da comunicação, e

combinar estratégias de comunicação que promovam a sua adaptação ao estado de

doença do familiar, otimizando a relação terapêutica e, desta forma, minimizar os

efeitos negativos que possam advir do estado de transição saúde/doença.

Torna-se, então, fundamental humanizar o cuidado de enfermagem através da

comunicação com a família, numa perspetiva de minimizar os efeitos negativos que

advêm do internamento do doente crítico.

Neste sentido, os focos da prestação dos cuidados de enfermagem à família em transição

numa UCI, assentam no cuidar, fornecer suporte, incentivar a pessoa a utilizar os seus

mecanismos de coping e criar condições para que ocorra uma transição saudável,

considerando, sempre, o ser em mudança como um ser holístico e integral.

De acordo com Saiote (2010), as intervenções de enfermagem junto dos familiares

devem ter em conta os seus valores, significações, crenças e expetativas, permitindo

uma intervenção de atendimento às necessidades da pessoa com respeito pela sua

individualidade, fomentando, assim, a auto-estima e incutindo esperança. Para tal, é

essencial que o enfermeiro demonstre segurança, conhecimento teórico/científico,

capacidade em ouvir e explicar quando questionado e, principalmente, que envolva a

família na prestação de cuidados.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

35

O cuidar da família numa UCI implica, assim, perceber o outro como ele se apresenta,

nos seus gestos, falas, conceitos e limitações. Côrte-Real (2007) salienta este aspeto,

afirmando que não é suficiente deixar entrar a família na unidade, é necessário apoiá-la

e cuidá-la, questionando-a sobre as suas dúvidas, observando os seus comportamentos e

compreendendo as suas emoções.

Os equipamentos e procedimentos desenvolvidos durante as últimas décadas tornaram o

ambiente das UCI’s tecnologicamente avançado, integrando as mais sofisticadas

intervenções de caráter médico, técnico e de enfermagem. A finalidade deste tipo de

unidades é dar resposta a pessoas vulneráveis, instáveis e em estado crítico, com um

elevado grau de risco de vida, em que as condições clínicas se podem alterar

constantemente (Castro, Vilelas e Botelho, 2011).

No referencial do Ministério da Saúde (2003, p.6), as UCI’s constituem-se como “locais

qualificados para assumir a responsabilidade integral pelos doentes com disfunções de

órgãos, suportando, prevenindo e revertendo falências com implicações vitais”.

De facto, a UCI é um serviço onde estão concentrados todos os recursos técnicos e

humanos capazes de responder às necessidades dos doentes, cuja situação clínica grave

exige cuidados médicos e de enfermagem especializados e ininterruptos. O objetivo de

manutenção da vida obriga a uma assistência intensiva e a uma tecnologia altamente

sofisticada, constituindo um foco de stress e ansiedade que é partilhado pelos

profissionais de saúde, pela pessoa doente e pelas suas famílias.

Urizzi [et al.] (2008) afirmam que a vivência da família de doentes internados numa

UCI constitui uma experiência geradora de medo, ansiedade, insegurança e

preocupação. As características físicas e estruturais da unidade, nomeadamente, a

existência de aparelhos diferenciados e avançados, os constantes alarmes e a

instabilidade e gravidade do estado clínico dos doentes, contribuem para a dinâmica

intensiva e geradora de tensão para todos os que atuam neste serviço, seja a equipa de

enfermagem, o doente ou a família.

Segundo Silveira [et al.] (2005), a necessidade de um cuidar tecnológico imediato na

UCI dificulta o contacto inicial com os familiares, contribuindo para o entendimento

destas unidades como um local em que predomina uma atuação fria e distante. Daí que

seja necessária a interação com os familiares desde o momento de internamento do

doente, proporcionando-lhes atenção, oportunidade de dialogar e de esclarecer dúvidas.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

36

Quando a relação e a comunicação estabelecidas são consideradas como necessidade da

equipa cuidadora possibilitam a aproximação entre os envolvidos na relação, a qual é

manifestada através das palavras e do afeto. Os mesmos autores defendem, assim, que a

comunicação é um dos principais meios para favorecer as interações entre o enfermeiro,

o doente e a família. Porém, essa interação não deve ocorrer fortuitamente, mas sim

planeada, de forma consciente, pela equipa de enfermagem, a partir das observações

realizadas, das necessidades evidenciadas e das interpretações dos significados

atribuídos pelo doente e pelos seus familiares à nova situação de vida.

Face às exigências destas unidades torna-se necessária não só a evolução tecnológica,

mas também a humanização dos cuidados, como é desígnio da profissão. Neste

ambiente, demasiado técnico, é fundamental perceber a integralidade do doente e da sua

família, comunicando com eles de uma forma aberta e clara. Como refere Silveira [et

al.] (2005, p.129), “em relação aos familiares, precisamos falar o provável, tornando-os

cientes da gravidade da situação, através de informações precisas, certificando-nos da

clareza de seu entendimento e buscando encorajá-los na sua tomada de decisões”. Neste

sentido torna-se fundamental manter uma atitude humanizada, através da atenção

dedicada ao doente e aos familiares, bem como da criação de um ambiente que

possibilite as relações interpessoais.

Saiote (2010) afirma que os familiares consideram importante o diálogo com os

profissionais de saúde, na medida em que lhes proporciona serenidade, tranquilidade e

segurança. Desta forma, integrá-los no processo terapêutico reduz sentimentos de medo

e ansiedade causados pelo ambiente hospitalar e pelo episódio de doença.

De acordo com a mesma autora, os enfermeiros de cuidados intensivos devem possuir

excelentes capacidades de comunicação ao lidar com os doentes e com as necessidades

psicológicas da família, intervenções que o enfermeiro poderá considerar de menor

prioridade numa situação crítica. Sendo as UCI’s serviços onde predomina um ambiente

desconhecido e de “mistério”, descrito por vários autores como um local pouco

acolhedor, de sofrimento e ansiedade, sinónimo de morte/doença grave ou de

recuperação, e onde os cuidados de enfermagem são uma constante, a transmissão de

informação por vezes é colocada em segundo plano.

De facto, a comunicação é considerada um domínio fundamental no cuidar do doente

crítico e da sua família. No entanto, segundo a literatura disponível, verifica-se uma

dificuldade por parte dos enfermeiros em conseguir estabelecê-la de forma eficaz.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

37

Saiote e Mendes (2011), num estudo efetuado, concluíram que, apesar de os

enfermeiros reconhecerem a importância de dialogar, esclarecer, orientar e apoiar os

membros de família do doente, estas atividades ainda não são reconhecidas como

prioritárias, dando lugar às intervenções de cariz técnico, tão características das UCI’s e

fortemente associadas à valorização profissional e social dos enfermeiros. O excesso de

trabalho e a falta de tempo emergem como as justificações apontadas, pelos

enfermeiros, para a fuga/secundarização da comunicação com os familiares. De acordo

com as referidas autoras, foram identificados como fatores limitadores do processo

comunicacional, as características inerentes à UCI, o tempo que o enfermeiro dispõe

para comunicar, a carga de trabalho, a inexperiência no processo comunicativo e

profissional e os mecanismos de defesa criados pelos enfermeiros.

Esta conclusão é partilhada pelo estudo de Schneider [et al.] (2009), no qual os

enfermeiros da UCI consideraram fundamental a comunicação na relação com a família

do doente, embora admitam que o agir comunicativo apresenta lacunas e necessita de

ser melhorado.

Santos e Silva (2006) procuraram perceber a perceção dos profissionais de saúde acerca

da comunicação com os familiares dos doentes internados numa UCI e concluíram que

existiam algumas dificuldades no processo comunicacional: informações nem sempre

compreendidas pelos familiares; a gravidade da situação clínica do doente; a dinâmica

da unidade; o grau de desconhecimento do profissional de saúde face à evolução clínica

do doente, justificada pela inacessibilidade a determinados dados do processo;

características pessoais dos profissionais e o espaço físico inadequado. Quanto aos

aspetos que facilitam a comunicação destaca-se o interesse do profissional em se

aproximar do familiar, a empatia do profissional pela família, a idade avançada do

familiar que promove a aproximação, a experiência do profissional e a reflexão sobre o

autoconhecimento.

Num estudo realizado por Maruiti e Galdeano (2007), acerca das necessidades dos

familiares de doentes internados em UCI’s, a necessidade de conhecimento/informação

foi a mais referida pelos participantes, nomeadamente, aceder a factos concretos sobre a

evolução do doente e os cuidados prestados pela equipa de saúde. No entanto, a ação

educativa do enfermeiro não deve restringir-se apenas a informar o doente e a sua

família quanto às causas da doença e aos riscos associados à terapêutica. O enfermeiro

deve, assim, estar preparado para estabelecer um relacionamento de empatia e confiança

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

38

com a família e comunicar de forma adequada, a fim de incentivar e motivar os

familiares a retirarem todas as suas dúvidas, satisfazendo a necessidade de informação

e, consequentemente, diminuir a ansiedade, a angústia e o sofrimento de todos os

envolvidos.

O estudo de Millar in Rosário (2009) sobre as necessidades da família do doente

internado numa UCI também revelou que uma das necessidades dominantes é a da

informação, a qual deve ser honesta e acerca do estado do doente e da sua evolução.

Este conhecimento torna-se essencial, assim, para a tomada de consciência da situação

por parte dos familiares, bem como para acionar os mecanismos adequados para a

resolução da crise.

No contexto de uma UCI, a informação partilhada diariamente com os familiares

necessita de ser adequada a cada situação e deve ser dirigida para aspetos práticos que

envolvam o estado do doente, a finalidade de determinada medicação, a função dos

equipamentos existentes, exames realizados e cuidados de enfermagem prestados. De

acordo com Saiote (2010, p.52), “não é necessário transmitir informações exaustivas aos

familiares para tranquilizá-los, basta informações simples como por exemplo: explicar o

estado global e o quadro clínico do doente, a finalidade da medicação realizada e a

função das máquinas”.

Através do seu estudo, Inaba, Silva e Telles (2005) concluíram que a comunicação da

equipa de enfermagem com a família do doente crítico é bastante importante, sendo

adequada quando as informações sobre o estado clínico de doente são verdadeiras e

transmitidas de uma forma simples, clara, objetiva e sem termos complicados. É

demonstrada a necessidade dos familiares em comunicar com os enfermeiros durante os

horários de visita, receber orientações e esclarecer dúvidas, bem como receber palavras

carinhosas e atenção e ter satisfeita a sua necessidade de conforto.

Neste mesmo estudo, alguns familiares referem que os enfermeiros deveriam explicar

melhor o estado do doente, a sua evolução e o que significa estar “estável”. Concluiu-se,

também, que os familiares apresentavam dificuldades em ter acesso a quem detém as

informações, sendo ideal a existência de um enfermeiro de referência, que conhecesse

cada caso, ao qual eles poderiam recorrer para conversar, esclarecer dúvidas,

tranquilizarem-se e obterem orientação.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

39

Esteves (2012) desenvolveu um estudo com o intuito de perceber como são cuidados os

familiares dos doentes idosos internados numa UCI. No que respeita à comunicação,

concluiu que os profissionais de saúde procuram informar os familiares. Os médicos

fornecem informações relativamente ao diagnóstico e prognóstico, utilizando por vezes

uma linguagem mais técnica, enquanto os enfermeiros valorizam sobretudo as reações

dos doentes e fazem uma avaliação do seu estado geral, comunicando a presença ou

ausência de evolução. O processo comunicacional permite o acolhimento da família no

ambiente dos cuidados intensivos e a sua inclusão nos planos de cuidados.

Este autor afirma, também, que os profissionais de saúde comunicam com os familiares

tendo por base três domínios, nomeadamente, a transmissão de informação, as atitudes

na comunicação e a relação. Das reações dos profissionais de saúde e dos familiares dos

doentes relativamente ao processo de comunicação, salientou-se que a informação que

os familiares receberam satisfez as suas necessidades, embora se obtivesse depoimentos

que referiram falta de informação ou que esta foi incompleta.

Em suma, a comunicação é considerada o instrumento básico do cuidado de

enfermagem e tem como objetivo a transmissão de factos, pensamentos e valores,

exercendo influência no comportamento dos enfermeiros, do doente crítico e da

respetiva família, através do estabelecimento de uma relação terapêutica, baseada na

compreensão e preocupação pelo processo de doença, pelo internamento e pelas

alterações bio-psico-afeto-sociais associadas.

Tendo presente a importância da humanização dos cuidados de saúde, é essencial

perceber o impacto, na família, do internamento em UCI e compreender as dificuldades

e as emoções sentidas, a fim de minimizar os efeitos que daí advêm e,

consequentemente, capacitar a família, promovendo a vivência de um processo de

transição o mais positivo possível.

Neste sentido, o presente estudo acerca da comunicação com a família assume uma

significativa importância na prestação de cuidados de enfermagem em cuidados

intensivos, constituindo-se uma responsabilidade acrescida para o enfermeiro

especialista, pelo que se torna fundamental o desenvolvimento das competências

comunicacionais no planeamento e prestação de cuidados à pessoa/família a vivenciar

processos críticos de saúde.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

40

CAPÍTULO II

PERCURSO METODOLÓGICO

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

41

A metodologia torna-se imprescindível a qualquer trabalho de pesquisa, pois é através

desta que se estuda, descreve e explica todas as etapas do estudo a realizar. Esta ideia é

conferida por Fortin (2006, p.207) quando afirma que a fase metodológica possui um

carácter concreto, “pois comporta a escolha do desenho apropriado ao problema de

investigação, o recrutamento dos participantes e a utilização de instrumentos de medida

fiéis e válidos, a fim de assegurar a credibilidade dos resultados”.

De modo a garantir o rigor científico que pretendemos manter ao longo desta

investigação serão, de seguida, apresentados os procedimentos metodológicos e técnicos

selecionados que sustentam o desenvolvimento do estudo, assim como a fundamentação

dessas opções.

1. DA PROBLEMÁTICA AOS OBJETIVOS

Numa investigação qualitativa, a conceptualização do tema de estudo inicia-se,

maioritariamente, pela exploração de um assunto pouco conhecido ou pouco estudado

do ponto de vista da significação, da compreensão ou da interpretação (Fortin, 2006).

Quotidianamente verificamos que o processo de comunicação assume uma centralidade

na prática de enfermagem, permitindo a continuidade e a qualidade da prestação de

cuidados.

Neste sentido, alguns contributos teóricos e empíricos no domínio da comunicação e a

realidade da nossa prática profissional em cuidados intensivos, conduziram a que nos

questionássemos sobre o modo como se desenvolve o processo de comunicação

enfermeiro-família, neste contexto de cuidados.

Deste modo, a presente investigação tem como principal objetivo compreender o

processo de comunicação enfermeiro-família numa UCI, de modo a obter dados que

permitam melhorar o processo comunicacional, contribuindo, assim, para uma

intervenção mais eficaz e humanizada.

De forma a dar resposta a esta questão, foram delineados os seguintes objetivos

específicos:

Perceber o modo como os enfermeiros comunicam com a família dos doentes

internados numa UCI;

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

42

Descrever a informação proporcionada pelos enfermeiros da UCI aos familiares;

Identificar as necessidades de informação sentidas pela família do doente em

cuidados intensivos;

Identificar os aspetos significativos no processo de comunicação enfermeiro-

família, numa UCI;

Identificar os fatores facilitadores e dificultadores da comunicação enfermeiro-

família em cuidados intensivos.

Face à problemática e aos objetivos do estudo delineamos o percurso metodológico

adequado à sua concretização, o qual apresentamos de seguida.

2. TIPO DE ESTUDO

De forma a dar resposta às questões de investigação delineadas e alcançar os objetivos

propostos, optamos por uma abordagem qualitativa, de carácter exploratório, descritivo

e com características fenomenológicas.

De acordo com Polit, Beck e Hungler (2004), a metodologia qualitativa utiliza o

raciocínio indutivo e visa a compreensão dos fenómenos, tal como são vividos e

relatados pelos participantes. Ou seja, pretende salientar o sentido ou significado que o

fenómeno estudado representa para os indivíduos.

Desta forma, o investigador seleciona o fenómeno e estuda-o em profundidade,

recorrendo à observação, descrição e interpretação do mesmo. Posteriormente reúne as

várias ideias, ligando-as entre si, a fim de construir uma nova realidade, a qual é

baseada nas perceções obtidas e tem sentido para os indivíduos que vivem o fenómeno

em estudo. Segundo este paradigma, a base do saber é a significação, a descoberta e o

carácter único do processo.

Como afirma Fortin (2006, p.31), “todas as investigações qualitativas tendem a fazer

ressaltar o sentido ou a significação que o fenómeno estudado reveste para os

indivíduos”.

As questões de investigação que necessitam de uma exploração ou de uma descrição da

experiência vivida pela pessoa, remetem à investigação qualitativa. O objetivo deste

tipo de investigação consiste em descobrir, explorar, descrever fenómenos e

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

43

compreender a sua essência, isto é, considerar os diferentes aspetos do fenómeno, do

ponto de vista dos participantes, possibilitando, posteriormente, a sua interpretação no

seu meio (Fortin, 2006).

Assim, as crenças ligadas à investigação qualitativa têm em conta a globalidade dos

seres humanos, particularmente a sua experiência de vida e o contexto em que se situam

as relações com o meio. Deste ponto de vista, a experiência de uma pessoa difere da

experiência da outra, podendo ser conhecida pela descrição subjetiva que o indivíduo

faz dela.

Neste contexto, o estudo reúne características fenomenológicas, na medida em que

pretende descrever as experiências, tais como são vividas e descritas pelas pessoas, bem

como a respetiva significação atribuída. No atual estudo será, então, descrita a perceção

dos enfermeiros da UCI e dos familiares de doentes internados, relativamente ao

processo de comunicação estabelecido.

Segundo Sampieri, Collado e Lucio (2006), os estudos exploratórios têm como objetivo

principal investigar um tema desconhecido ou pouco estudado, neste caso o processo de

comunicação enfermeiro-família em cuidados intensivos, permitindo, assim, o

desenvolvimento de outros estudos, com recurso a outros métodos que permitam

aprofundar o problema. Por sua vez, assume-se como estudo descritivo na medida em

que fornece uma descrição dos dados, bem como uma discriminação dos fatores

determinantes/conceitos que possam estar associados ao fenómeno em estudo. Neste

tipo de estudo são procuradas as relações entre os conceitos, a fim de obter um perfil

geral do fenómeno.

3. CONTEXTO E PARTICIPANTES DO ESTUDO

Neste ponto procedemos à apresentação dos aspetos inerentes à seleção e caracterização

do contexto, bem como dos participantes do estudo.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

44

3.1. O Contexto

O presente estudo foi realizado numa UCI, enquadrada numa instituição hospitalar de

referência na região norte. A escolha deste contexto prendeu-se com o facto de este ser

um local que reúne as condições para dar resposta ao objetivo do estudo, bem como por

ser o local onde exerço a minha atividade profissional, facilitando o acesso e a recolha

de dados e dando, deste modo, contributos para o meu próprio contexto de trabalho.

A UCI a que nos referimos possui uma lotação de doze camas e é uma unidade

polivalente, caracterizada por um conjunto de recursos técnicos e humanos que

permitem a prestação de cuidados especializados a doentes em situação crítica,

independentemente da sua patologia. A finalidade da configuração arquitetónica deste

serviço é promover uma vigilância contínua de todos os doentes e a prestação adequada

dos cuidados, facilitando o trabalho da equipa multidisciplinar e possibilitando o bom

funcionamento.

Nesta unidade vigora a metodologia individual de trabalho, onde cada enfermeiro é

responsável, no máximo, por dois doentes. Habitualmente são atribuídos a cada

enfermeiro os mesmos doentes durante um mês, o que permite ter um conhecimento

mais aprofundado do doente, e respetiva família, bem como acompanhar a sua evolução

clínica.

A equipa multidisciplinar é composta por médicos, enfermeiros e assistentes

operacionais, que se encontram em presença física contínua no serviço. Relativamente à

equipa de enfermagem, esta é constituída por quarenta e cinco elementos, dos quais

nove são especialistas em Enfermagem Médico-Cirúrgica, dois em Enfermagem de

Reabilitação e um especialista em Enfermagem Comunitária e de Saúde Pública.

No que respeita ao funcionamento do serviço, gostaríamos de realçar alguns aspetos

pertinentes para o estudo e que se relacionam com o período da vista. Neste serviço, o

horário de visita é das 16 às 20 horas, diariamente, sendo permitida a entrada de dois

familiares por doente. Na primeira visita é realizado um acolhimento familiar pelo

médico e enfermeiro responsáveis pelo doente, numa sala adequada para o efeito.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

45

3.2. Os Participantes

Streubert e Carpenter (2002), afirmam que a seleção dos participantes da investigação

qualitativa é feita de acordo com a sua experiência no fenómeno de interesse. Este tipo

de amostragem é intitulado como amostra intencional, na medida em que demonstra um

compromisso de observar e entrevistar pessoas que tenham experiência no fenómeno

em estudo. Assim, a seleção da amostra providencia os participantes da investigação.

Os participantes deste estudo dividem-se em dois grupos distintos, sendo um constituído

por enfermeiros e o outro por familiares de doentes internados na UCI elegida para a

realização do estudo. A seleção dos participantes obedeceu aos seguintes critérios de

inclusão:

Enfermeiros na prestação direta de cuidados;

Familiar de referência/pessoa significativa, que já tenha visitado o doente pelo

menos duas vezes.

Polit, Beck e Hungler (2004) defendem que no método qualitativo, o tamanho da

amostra é determinado com base na necessidade de informações, sendo a saturação de

dados o princípio orientador da amostragem. Isto é, o tamanho da amostra está

relacionado com o ponto em que não existem mais informações novas e se alcançou a

redundância.

Esta opinião é partilhada por Fortin (2006), que afirma que o princípio da saturação de

dados serve para determinar o número de participantes. Esta saturação ocorre quando os

temas e as categorias se tornam repetitivas e a colheita de dados já não fornece novas

informações.

Neste estudo participaram nove enfermeiros, os quais apresentam as seguintes

características relativamente à idade, género, formação académica e tempo de serviço,

expressas no quadro 1.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

46

Quadro 1 – Caracterização dos enfermeiros entrevistados

Identificação Idade Género Formação Académica

Tempo de

serviço (em

anos)

Tempo de serviço

na UCI (em anos)

Enfermeiro 1

(E1) 30 Feminino

Licenciatura em Enfermagem/

Mestrado em Bioética 9 5

Enfermeiro 2

(E2) 29 Feminino Licenciatura em Enfermagem 7 3

Enfermeiro 3 (E3)

28 Feminino

Licenciatura em Enfermagem/

Especialidade em Enfermagem

Médico-Cirúrgica

5 4

Enfermeiro 4 (E4)

37 Feminino Licenciatura em Enfermagem 14 14

Enfermeiro 5

(E5) 36 Feminino

Licenciatura em Enfermagem/

Especialidade em Enfermagem Médico-Cirúrgica

12 12

Enfermeiro 6 (E6)

31 Feminino

Licenciatura em Enfermagem/

Especialidade em Enfermagem

Médico-Cirúrgica

8 7

Enfermeiro 7

(E7) 38 Feminino Licenciatura em Enfermagem 6 2

Enfermeiro 8

(E8) 33 Masculino

Licenciatura em Enfermagem/

Especialidade em Enfermagem Médico-Cirúrgica

11 11

Enfermeiro 9

(E9) 27 Feminino Licenciatura em Enfermagem 5 4

Como se pode verificar a idade mínima dos enfermeiros participantes do estudo é de 27

anos e a máxima de 38 anos, perfazendo uma média de 32,1 anos. Podemos, assim,

constatar que este grupo de participantes é bastante jovem. Dos nove enfermeiros, oito

são do sexo feminino e apenas um do sexo masculino. Relativamente à formação

académica, todos os entrevistados são detentores de Licenciatura em Enfermagem,

sendo que quatro possuem Especialidade em Enfermagem Médico-Cirúrgica e um

possui Mestrado em Bioética. No que respeita ao tempo de serviço, este varia entre

cinco e catorze anos, sendo o valor médio de 8,5 anos. Em relação ao tempo de serviço

na UCI verificamos que os enfermeiros exercem a sua atividade há mais de dois anos e

menos de catorze anos, perfazendo uma média de 6,8 anos.

No que se refere ao grupo dos familiares que participaram no estudo, estes também

foram caracterizados de acordo com a idade, género, grau de parentesco com o doente,

profissão/situação profissional e habilitações literárias, conforme se pode verificar no

quadro 2.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

47

Quadro 2 – Caracterização dos familiares entrevistados

Identificação Idade Género Grau de parentesco Profissão/Situação

profissional

Habilitações

literárias

Familiar 1 (F1) 70 Masculino Marido Reformado 4ª Classe

Familiar 2 (F2) 50 Feminino Mãe Doméstica 4ª Classe

Familiar 3 (F3) 30 Masculino Marido Mecânico 9º Ano

Familiar 4 (F4) 46 Feminino Irmã Desempregada 9º Ano

Familiar 5 (F5) 50 Feminino Mãe Padeira 12º Ano

Familiar 6 (F6) 54 Masculino Pai Padeiro 9º Ano

Familiar 7 (F7) 45 Feminino Filha Desempregada 6º Ano

Familiar 8 (F8) 38 Masculino Filho Canalizador 6º Ano

Familiar 9 (F9) 42 Masculino Filho Empresário de automóveis 9º Ano

Familiar 10 (F10) 36 Feminino Filha Docente do ensino superior Doutoramento

Como se pode observar, participaram no estudo dez familiares, com idades

compreendidas entre os 30 e 70 anos, perfazendo uma média de 46,1 anos. Dos dez

familiares, cinco são do sexo masculino e cinco do sexo feminino, facto interessante

uma vez que foram selecionados de forma aleatória. Relativamente ao parentesco com o

doente, destaca-se o grau de filho/a em quatro dos participantes, o grau de mãe em dois

dos participantes e o grau de marido, também, em dois participantes. As

profissões/situações profissionais são variadas e com base na Classificação Nacional

das Profissões, verificamos que os participantes pertencem a diversos grupos

profissionais: um trabalhador não qualificado dos serviços e comércio; um trabalhador

da metalurgia e metalomecânica; dois operários, artífices e trabalhadores similares; um

operador de instalações fixas; um técnico e profissional do nível intermédio e um

especialista das profissões inteletuais e científicas. Os restantes familiares encontram-se

desempregados. No que respeita às habilitações literárias, a maioria dos familiares

(nove) possui entre a 4ª Classe e o 12º Ano e um é detentor do grau de doutor.

4. PROCEDIMENTOS DE RECOLHA DE DADOS

Tendo em conta a metodologia de natureza qualitativa, e de forma a alcançar os

objetivos inicialmente propostos, a recolha de dados foi realizada através da observação

participante e da entrevista semi-estruturada.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

48

De acordo com Fortin (2006), a observação constitui frequentemente o meio

privilegiado de analisar os comportamentos dos participantes e os acontecimentos que

se produzem no meio natural.

A observação não-estruturada, utilizada sobretudo nas investigações qualitativas,

consiste em recolher informação sobre os comportamentos, num momento que é

julgado oportuno. Neste tipo de observação existe uma grande flexibilidade na forma de

recolher os dados e de os interpretar.

Uma das formas mais comuns da observação não-estruturada é a observação

participante, a qual implica que o observador se abstraia do seu papel, integrando-se

completamente no grupo social se propôs a estudar. Este tipo de observação visa ajudar

os participantes a identificar o sentimento das suas ações, surgindo a função do

observador de estudar o grupo do interior, através de uma participação direta e pessoal

(Fortin, 2006).

O facto de o investigador, neste tipo de estratégia de colheita de dados, ser participante

permite o seu envolvimento com os participantes, bem como facilita a obtenção de

dados, uma vez que partilhamos a profissão com os observados. O nosso envolvimento

com os participantes tornou-se uma constante ao longo do período de recolha de dados,

pela abertura e disponibilidade que estes demonstraram.

Na presente investigação, a observação tem como principal objetivo observar o processo

de comunicação enfermeiro-familiar. De acordo com Streubert e Carpenter (2002), a

observação no campo de investigação permite ao investigador analisar o comportamento

dos participantes e os acontecimentos que se produzem no meio natural, sendo

necessário colocar em prática um conjunto de perceções, nomeadamente visual, tátil,

auditiva e olfativa.

Embora a observação seja um método de recolha de dados que visa a compreensão dos

comportamentos e atitudes, também comporta algumas desvantagens. A principal

prende-se com o facto de as pessoas observadas, sobretudo inicialmente, deixarem de

agir com naturalidade, o que pode comprometer a exatidão das observações (Polit, Beck

e Hungler, 2004).

Após a obtenção da aprovação da Comissão de Ética para a realização do nosso estudo,

foram acordados, com o enfermeiro chefe do serviço, os momentos de observação e da

entrevista, procurando minimizar, desta forma, eventuais perturbações na dinâmica da

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

49

UCI. O período de recolha de dados realizou-se nos meses de Setembro e Outubro de

2014.

A observação foi realizada com base num guião (Apêndice A), elaborado de acordo

com os objetivos do estudo e com a finalidade de manter uma observação focalizada na

problemática – o processo de comunicação enfermeiro-família numa UCI.

Neste sentido, a observação foi realizada no período da visita (turno da tarde). Ao longo

dos períodos de observação fomos, discretamente, efetuando notas, codificadas de O1 a

O10, não só dos comportamentos e atitudes comunicacionais dos envolvidos, como

também do ambiente e dinâmica circundante, dando relevância aos aspetos que

potencialmente poderiam influenciar o processo comunicativo. Após o período de

observação procedemos à transcrição dos dados obtidos relativamente ao processo de

comunicação enfermeiro-família, ou seja, constituímos as notas de campo. Segundo

Streubert e Carpenter (2002), as notas de campo podem conter aspetos descritivos e

reflexivos, sendo essenciais para a observação participante, e constituindo, também, um

complemento importante às entrevistas.

A par da observação procedemos à realização das entrevistas, aos enfermeiros e

familiares, de forma a complementar os dados obtidos através da observação e alcançar

um nível mais elevado de compreensão do processo de comunicação enfermeiro-família

numa UCI.

Segundo Fortin (2006), a entrevista é um método de colheita de dados essencial nas

investigações qualitativas e geralmente possui as funções de examinar conceitos,

compreender o sentido de um fenómeno tal como é percebido pelos participantes e

servir de complemento a outros meios de colheita de dados.

A mesma autora refere que a entrevista semi-estruturada é utilizada quando o

investigador pretende compreender o significado de um acontecimento ou de um

fenómeno vivido pelos participantes, obtendo informações mais específicas sobre um

determinado tema. Neste tipo de entrevista, o investigador elabora uma lista de temas a

abordar, formula questões e coloca-as à pessoa numa ordem que ele considera

apropriado. A sua função é encorajar os participantes a falarem livremente sobre todos

os tópicos constantes no guião da entrevista. Este guião facilita, assim, a comunicação,

na medida em que apresenta, de uma forma lógica, as questões que abordam os

diferentes aspetos do tema.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

50

Neste sentido, elaboramos o guião da entrevista para os enfermeiros (Apêndice B) e

para os familiares (Apêndice C), tendo em conta os objetivos preconizados para o

estudo, que se constituíram como uma linha estruturante e orientadora do

desenvolvimento entrevista. Os dados obtidos através destas entrevistas complementam

os dados resultantes da observação participante, proporcionando, assim, uma discussão

de dados mais rica.

Este guião foi submetido a um pré-teste, de forma a avaliar, por um lado, a pertinência e

compreensão das questões e por outro lado, contribuir para a experiência do

investigador na utilização da técnica da entrevista. Verificamos, assim, que as questões

orientadoras da entrevista eram pertinentes e adequadas aos objetivos delineados, pelo

que não foi necessário alterar ou integrar novas questões no guião.

As entrevistas realizadas foram gravadas e posteriormente transcritas. É de realçar que

as entrevistas foram efetuadas durante o período de observação e transcritas no próprio

dia, de forma a mantê-las fidedignas relativamente a pormenores observados nos

entrevistados.

É de realçar que a realização da observação e das entrevistas no nosso local de trabalho

constituiu-se como um elemento facilitador na recolha de dados, quer pela existência de

uma relação de abertura com os colegas, quer pelo facto de os familiares não nos

considerarem um elemento estranho ao serviço.

5. TRATAMENTO DE DADOS

Após a conclusão da etapa de recolha de dados prosseguimos para o tratamento dos

dados obtidos, através da análise das entrevistas e das notas de campo, na medida em

que pretendemos descrever as experiências vividas pelos participantes, de uma forma

objetiva, sistemática e baseada em abstrações lógicas.

Segundo Streubert e Carpenter (2002, p.69), “o propósito da análise de dados é

preservar o que é único em cada experiência de vida do participante e permitir uma

compreensão do fenómeno em estudo”.

Para a análise dos dados é essencial uma análise de conteúdo, a qual consiste em

analisar a frequência, a ordem ou a intensidade de certas palavras, frases e expressões

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

51

ou de certos factos e acontecimentos (Fortin, 2006). Neste sentido, a análise de

conteúdo possibilitou-nos estudar o processo de comunicação enfermeiro-família, em

cuidados intensivos, de forma sistemática e objetiva.

A metodologia de análise de conteúdo que orientou este processo é definida por Bardin

(1977, p.42) como um conjunto de técnicas de análise das comunicações que visam

“obter, por procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das

mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de

conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas

mensagens”.

De acordo com a referida autora, esta metodologia é constituída por quatro etapas,

nomeadamente a organização da análise, a codificação, a categorização e a inferência. A

primeira fase inclui uma pré-análise, seguida de uma exploração do material e

terminando com o tratamento dos resultados, inferência e tratamento dos mesmos. A

codificação “é o processo pelo qual só dados brutos são transformados sistematicamente

e agregados em unidades, as quais permitem uma descrição exacta das características

pertinentes do conteúdo” (Holsti in Bardin, 1977, p.103). Nesta etapa procede-se, assim,

à escolha, classificação e agregação das unidades, selecionando categorias.

Posteriormente segue-se a categorização que consiste numa “operação de classificação

de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por

reagrupamento segundo o género (analogia), com os critérios previamente definidos”

(Bardin, 1977, p.117). Segundo esta autora, a operação de categorização obedece a

cinco regras, nomeadamente a exclusão mútua (a presença de um determinado elemento

não deve constar em mais do que uma categoria), a homogeneidade (deve obedecer a

um único principio de classificação), a pertinência (adequação ao material de análise

seleccionado), a objetividade e a fidelidade (obtidas quando o material é sujeito a várias

análises, sendo formuladas as mesmas categorias) e a produtividade (quando o material

analisado produz novos resultados, através da inferência).

Na abordagem qualitativa, o que caracteriza a análise de conteúdo é o facto de “a

inferência – sempre que é realizada – ser fundada na presença do índice (tema, palavra,

personagem, etc), e não sobre a frequência da sua aparição, em cada comunicação

individual” (Bardin, 1977, p.115). De acordo com a mesma autora, o investigador

poderá enriquecer este período inferencial e interpretativo através da intervenção outros

elementos significativos, os quais podem decorrer das notas de campo de uma

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

52

observação participante. Neste contexto foi efetuada a análise de conteúdo dos dados

obtidos através da observação, as notas de campo, e resultantes das entrevistas efetuadas

(Apêndice E).

Inicialmente realizamos uma leitura flutuante com o objetivo de formar categorias,

analisá-las e interpretá-las. Através desta análise emergiram várias categorias e

subcategorias que serão apresentadas e analisadas no próximo capítulo (Capítulo III).

6. CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

O compromisso com um estudo de investigação implica a responsabilidade pessoal e

profissional de assegurar que o desenho dos estudos quantitativos ou qualitativos sejam

sólidos do ponto de vista ético e moral. Desta forma, as investigações que envolvem

seres humanos devem ser avaliadas do ponto de vista ético e conduzidas tendo em conta

os direitos da pessoa humana (Fortin, 2006).

Neste sentido, para a realização desta investigação atendemos a sete princípios

fundamentais, apresentados pela autora acima referida, aplicáveis aos seres humanos e

baseados no respeito pela dignidade humana, nomeadamente o respeito pelo

consentimento livre e esclarecido, o respeito pelos grupos vulneráveis, o respeito pela

vida privada e pela confidencialidade das informações pessoais, o respeito pela justiça e

pela equidade, o equilíbrio entre vantagens e inconvenientes, a redução dos

inconvenientes e a optimização das vantagens.

Neste contexto foi enviado um pedido de autorização ao Conselho de Administração da

instituição em causa, para a realização deste estudo, no qual apresentamos o tema, os

objetivos do estudo, os métodos de recolha de dados e os respetivos participantes, tendo

sido obtida a aprovação (Anexo I).

Previamente à aplicação dos instrumentos de recolha de dados obtivemos o

consentimento informado junto dos participantes, de acordo com o documento em

anexo (Apêndice D), tendo sido transmitidos os objetivos do estudo e os procedimentos

inerentes. Esclarecemos, também, sobre o direito de não aceitar ou desistir da

investigação a qualquer momento, sem que existisse qualquer repercussão negativa para

o participante e/ou para o doente.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

53

Nesta investigação foram garantidos o anonimato e a confidencialidade dos dados,

através da codificação do nome dos enfermeiros (E1-E9) e dos familiares (F1-F10)

participantes, durante a transcrição das entrevistas e na elaboração das notas de campo.

É de realçar que o conteúdo da gravação das entrevistas será destruído após o termo do

estudo.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

54

CAPÍTULO III

A COMUNICAÇÃO COM A FAMÍLIA EM CONTEXTO DE CUIDADOS

INTENSIVOS - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

55

No presente capítulo procedemos à apresentação e análise dos dados obtidos, através da

aplicação dos instrumentos de recolha de dados, nomeadamente a observação e a

entrevista.

De forma a facilitar a apresentação dos dados elaboramos um quadro (Quadro 3), no

qual constam as áreas temáticas, categorias e subcategorias obtidas através da

observação e das entrevistas realizadas, bem como o número de unidades de registo.

Optamos por efetuar a apresentação dos dados de forma conjunta, uma vez que se

complementam, permitindo, assim, uma visão mais global da temática em questão.

A descrição e a análise dos dados serão realizadas pelas áreas temáticas, focando as

respetivas categorias e subcategorias.

Quadro 3 – A comunicação com a família em contexto de cuidados intensivos – áreas temáticas,

categorias, subcategorias e número de unidades de registo

Áreas Temáticas Categorias Subcategorias

Total de

Unidades

de registo

Através da

observação

Entrevistas

E F

Modos de

comunicação

enfermeiro-família

Verbal Utilizar linguagem adequada 7 7

Não-verbal

Expressão facial 6 6

Contacto visual 9 9

Postura corporal 7 7

Toque 3 3

Recurso à paralinguística 6 6

Atitudes comunicacionais

Suporte emocional 8 8

Disponibilidade/ Abertura 8 8

Escuta ativa 3 3

Estar presente 9 9

Âmbito da

informação

proporcionada pelos

enfermeiros à

família

Situação clínica do

doente

Estado clínico/ Evolução 17 8 9

Exames de diagnóstico 8 4 4

Medicação 7 5 2

Prognóstico 2 1 1

Tratamento 6 5 1

Funcionamento do

serviço

3 3

Estratégias para

comunicar com o doente

3 2 1

A solicitada

2 2

Opinião da família

sobre a informação

transmitida pelos

enfermeiros

Boa

6 6

Satisfaz

5 5

Positiva

2 2

Percetível

9 9

Pouco percetível

1 1

Necessidades de

informação sentidas

pela família

Estado clínico/ Evolução 10 10

Procedimentos 2 2

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

56

Medicação 1 1

Exames de diagnóstico 2 2

Aspetos

significativos do

processo de

comunicação

enfermeiro-família

Comunicação não-verbal

Postura corporal 3 1 2

Contacto visual 2 1 1

Toque 1 1

Atitudes

comunicacionais

Dar atenção 2 1 1

Ser simpático 1 1

Proporcionar segurança 1 1

Estabelecer empatia 6 5 1

Demonstrar disponibilidade 2 2

Dar apoio 1 1

Conteúdo da informação

Avaliar a compreensão da

informação transmitida 3 3

Linguagem adequada 7 2 5

Sinceridade 2 2

Informação prévia à primeira

visita 10 10

Não especifica 6 1 5

Fatores que facilitam

a comunicação

enfermeiro-família

Relacionados com o

familiar

Capacidade de compreensão

da informação 5

4 1

Tranquilidade 2 1 1

Recetividade 1 1

Relacionados com o

enfermeiro

Experiência profissional 1 1

Conhecimento sobre o doente/ família

4

4

Aceitação do estado do

doente 1

1

Relação de empatia 2 2

Adequar a linguagem 4 2 2

Estar disponível 7 1 6

Capacidade de identificar as necessidades do familiar

1

1

Relacionados com a

dinâmica da UCI

Ambiente calmo 2

2

Menor carga de trabalho 2

2

Fatores que

dificultam a

comunicação

enfermeiro-família

Centrados no familiar

Falta de compreensão da

informação 5

4 1

Ansiedade 3 3

Centrados no enfermeiro

Falta de disponibilidade 6 3 3

Dificuldade em adequar a

informação 3

1 2

Dificuldade em avaliar as

necessidades do familiar 1

1

Postura defensiva 1 1

Comunicação de más notícias 5 5

Falta de conhecimento sobre o doente

2

2

Âmbito da informação 9 9

Centrados na dinâmica da UCI

Sobrecarga de trabalho 6 4 2

Ambiente ruidoso 3 3

Ausência de privacidade 2 2

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

57

1. MODOS DE COMUNICAÇÃO ENFERMEIRO-FAMÍLIA

Através da observação constatamos que, para comunicar com o familiar, o enfermeiro

utiliza a comunicação verbal e a comunicação não-verbal, estando, também, presentes

diversas atitudes comunicacionais (Figura 3).

Figura 3 – Modos de comunicação enfermeiro/família - categorias e subcategorias

No que respeita à comunicação verbal observamos que a maioria dos enfermeiros (sete

unidades de registo) tem o cuidado de utilizar linguagem adequada ao familiar,

adotando um discurso corrente, simples e claro:

“Utiliza um discurso simples e claro.” (O2)

“Utiliza termos correntes para os familiares perceberem. (“Ele neste momento está a

dormir (…) o coração dele ficou magoado e estamos a tratá-lo!”).” (O3)

“Comunica de forma simples e clara, não utilizando termos técnicos. (“Ele está sob o

efeito de uma medicação para o deixar calmo e confortável, e não a dormir

profundamente.”).” (O9)

Atitudes

comunicacionais

Modos de comunicação enfermeiro-família

Verbal Não-verbal

- Utilizar linguagem

adequada

- Expressão facial

- Contacto visual

- Postura corporal

- Toque

- Recurso à

paralinguística

- Suporte emocional

- Disponibilidade/Abertura

- Escuta ativa

- Estar presente

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

58

A expressão facial, o contacto visual, a postura corporal, o toque e o recurso à

paralinguística foram elementos evidenciados na comunicação não-verbal utlizada

pelo enfermeiro.

A expressão facial dos enfermeiros constitui-se como uma forma de comunicar com o

familiar:

“ (…) sorri quando aborda os familiares.” (O4)

“ (…) esboça um sorriso para o familiar...” (O8)

“Retira a máscara facial para comunicar com os familiares.” (O9)

Constatamos que durante o processo de comunicação, todos os enfermeiros (nove

unidades de registo) estabelecem contato visual com o familiar, como podemos verificar

nas seguintes transcrições:

“ (…) mantém o contacto visual ao longo da comunicação.” (O2)

“Olha para os familiares enquanto fala...” (O3)

“Estabelece contacto visual quando aborda o familiar.” (O5)

Relativamente à postura corporal verificamos que a grande parte dos enfermeiros (sete

observações) comunica de frente para o familiar:

“Fala de frente para os familiares…” (O7)

“ (…) mantém o corpo virado para os familiares enquanto fala com eles.” (O8)

“ (…) parou a preparação da medicação para falar com os familiares, não fazendo as

duas coisas ao mesmo tempo.” (O9)

O toque é utilizado pelo enfermeiro como forma de tranquilizar e encorajar o familiar:

“…toca suavemente no braço do familiar para o encorajar.” (O2)

“Coloca a mão sobre o ombro da familiar, tranquilizando-a…” (O9)

O recurso à paralinguística foi outro aspeto importante observado na comunicação não-

verbal dos enfermeiros. De acordo com Freixo (2011), a paralinguística refere-se aos

aspectos não-verbais que acompanham a comunicação verbal, nomeadamente o tom de

voz, o ritmo da fala, o volume da voz e as pausas utilizadas na pronúncia verbal. Com

base nesta definição incluímos nesta subcategoria unidades de registo que incluíssem os

referidos aspetos:

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

59

“Fala pausadamente (...) com um tom de voz suave…” (O2)

“Comunica num tom de voz baixo, com um ritmo constante.” (O7)

“Fala pausadamente, com um tom de voz suave.” (09)

As atitudes comunicacionais evidenciadas no processo de comunicação enfermeiro-

familiar foram: o suporte emocional, a disponibilidade/abertura, a escuta ativa e o estar

presente.

Verificamos que, ao comunicar, os enfermeiros não se limitam apenas a transmitir a

informação, preocupando-se, também, em fornecer suporte emocional ao familiar, como

exemplificam as seguintes transcrições:

“Eu sei que é difícil, mas têm de ser fortes e pacientes. O caso é grave, devem ter uma

perspetiva realista da situação, mantendo sempre a esperança, é claro. Nós estamos a

fazer tudo ao nosso alcance para o tratar”. (O2)

“A enfermeira afirma que é bom sinal e dá uma perspetiva positiva da situação. Refere

que as coisas estão a evoluir e que ele está a melhorar.” (O4)

A enfermeira refere à familiar que ela precisa de descansar e que o doente não a quer

ver assim triste. Pergunta se não quer ir até la fora se acalmar e depois voltar a entrar.

Quando a familiar volta a entrar, a enfermeira pergunta se ela está melhor ou se

precisa de alguma coisa.” (O9)

É de salientar que em nove observações, oito evidenciam esta atitude comunicacional.

A maioria dos enfermeiros (oito unidades de registo) demonstraram

disponibilidade/abertura ao irem de encontro ao familiar para iniciarem o processo de

comunicação, bem como ao prontificarem-se para o esclarecimento de dúvidas relativas

à informação transmitida:

“A enfermeira vai de encontro aos familiares (…) Ao despedir-se pergunta se têm mais

alguma questão ou se ficaram com dúvidas.” (O3)

“A enfermeira dirige-se aos familiares. Refere que podem estar à vontade e que se

necessitarem de alguma coisa ela está ali ao lado.” (O4)

“Dirige-se aos familiares (…) Mostra-se disponível dizendo “estou aqui para o que

precisarem”. (O6)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

60

“O enfermeiro termina o que estava a fazer e dirige-se ao familiar (…) Pergunta se

querem colocar mais alguma questão e refere que está sempre presente um médico e

um enfermeiro para os informar.” (O8)

Ao longo do processo de comunicação com o familiar, os enfermeiros também

utilizaram a escuta ativa, através da estratégia de questionamento, como se pode

verificar nestas unidades de registo:

“Escuta-os atentamente enquanto falam e demonstra interesse no que dizem. (Contam

como aconteceu o acidente e a enfermeira questiona-os sobre o assunto).” (O6).

“Escuta o que o familiar diz, demonstrando atenção e interesse.” (O9)

Relativamente à atitude comunicacional estar presente, constatamos, em todas as

observações, que a comunicação enfermeiro-família é estabelecida junto do doente,

como comprovam as seguintes transcrições:

“A informação é dada junto do doente.” (O3)

“A comunicação é estabelecida junto da doente.” (O5)

“Comunicam ao lado do doente.” (O9)

2. ÂMBITO DA INFORMAÇÃO PROPORCIONADA PELOS

ENFERMEIROS À FAMÍLIA

Com base na observação e nas entrevistas realizadas verificamos que os enfermeiros

proporcionam aos familiares informação no âmbito: da situação clínica do doente, do

funcionamento do serviço, das estratégias para comunicar com o doente e da

informação solicitada (Figura 4).

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

61

Figura 4 - Âmbito da informação proporcionada pelos enfermeiros à família - categorias e subcategorias

A informação relativa à situação clínica do doente centra-se em cinco domínios,

nomeadamente o estado clínico/evolução, os exames de diagnóstico, a medicação, o

prognóstico e o tratamento.

Todos os enfermeiros entrevistados referiram que informam os familiares acerca do

estado clínico/evolução do doente, facto que pudemos comprovar, também, através da

observação:

“Dou informações sobre o estado clínico do doente e a sua evolução…” (E6)

“Informo-os acerca do estado clínico do doente e das alterações que ocorreram nas

últimas 24h…” (E9)

“Faz referência ao estado clínico do doente e à sua evolução (“ele já está mais

acordado hoje, já responde ao que perguntamos.”)” (O4)

“Explica o estado clínico actual do doente (“ela tem oscilações da consciência…por

vezes abre os olhos a pedido e aperta a nossa mão, mas tem momentos em que não

responde nem obedece a ordens”).” (O5)

Âmbito da informação proporcionada pelos enfermeiros à família

Situação clínica

do doente Funcionamento

do serviço

Estratégias para

comunicar com o

doente

A solicitada

- Estado clínico/Evolução

- Exames de diagnóstico

- Medicação

- Prognóstico

- Tratamento

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

62

A informação relativa aos exames de diagnóstico realizados ou programados foi outro

aspeto observado e também mencionado pelos enfermeiros nas entrevistas, como

podemos verificar nas seguintes transcrições:

“Informo-os sobre (…) os exames e resultados de análises clínicas relevantes.” (E2)

“Dou informações sobre (…) os exames realizados e/ou programados…” (E6)

“Informa sobre (…) os exames que realizou…” (O3)

Constatamos, também, que os enfermeiros informam os familiares acerca da medicação

que se encontra em perfusão:

“Informo sobre (…) a medicação em perfusão, no caso de ter suporte de aminas.” (E2)

“Explica que a doente tem em perfusão medicação para as dores e que também já está

a fazer medicação para baixar a febre”. (O7)

“A enfermeira diz que o doente está sob o efeito de uma medicação para o deixar

calmo e confortável, e não a dormir profundamente.” (O9)

A informação acerca do prognóstico do doente foi referida por um dos enfermeiros

durante a entrevista e evidenciada numa das observações:

“Informo os familiares sobre (…) o prognóstico…” (E1)

“Explica o prognóstico da doente (“aguardamos que ela acorde, mas há a

possibilidade de ela não acordar e ficar num estado vegetativo…”).” (O5)

O último domínio da informação sobre a situação clínica do doente refere-se ao

tratamento adotado:

“Informo os familiares sobre (…) o tratamento adoptado.” (E1)

“Menciona que o doente vai ao bloco operatório no dia seguinte corrigir as fracturas

da face.” (O6)

“Refere também qual será o tratamento em função da melhoria da TAC.” (O8)

No que respeita ao funcionamento do serviço, três enfermeiros referiram incluir este

aspeto no tipo de informações que fornecem aos familiares:

“Informo sobre (…) e o funcionamento do serviço.” (E3)

“Informo acerca (…) e do funcionamento do serviço, apenas na primeira visita.” (E4)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

63

“Dou informações sobre (…) e o funcionamento da unidade, sempre que necessário.”

(E6)

As estratégias para comunicar com o doente constituem, também, um componente

importante na informação proporcionada aos familiares, como podemos verificar nos

seguintes excertos:

“Digo também aos familiares que podem tocar no doente, como forma de reduzir a sua

ansiedade.” (E1)

“Informa o familiar que pode falar com o doente.” (O4)

“Refere que podem tocar e falar com o doente.” (O9)

Por fim, dois dos enfermeiros entrevistados mencionaram que o tipo de informação

fornecida aos familiares é de acordo com a solicitada:

“Mas só respondo ao que me perguntam…” (E5)

“Respondo a tudo o que os familiares questionarem, desde que tenha a informação que

pretendem.” (E8)

3. OPINIÃO DA FAMÍLIA SOBRE A INFORMAÇÃO TRANSMITIDA

PELOS ENFERMEIROS

Das entrevistas realizadas aos familiares emergiu esta área temática que nos permite

observar a opinião dos familiares sobre a informação transmitidas pelos enfermeiros,

expressando que esta é boa, satisfaz, positiva e percetível. Apenas um familiar considera

que a informação proporcionada pelos enfermeiros é pouco percetível (Figura 5).

Figura 5 – Opinião da família sobre a informação transmitida pelos enfermeiros – categorias

Opinião da família sobre a informação transmitida pelos enfermeiros

Boa Satisfaz Positiva Percetível Pouco

percetível

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

64

A maioria dos familiares (seis unidades de registo) considera que a informação

transmitida pelos enfermeiros é boa:

“É muito boa…” (F1)

“É boa…” (F3)

“É muito boa.” (F6)

Constatamos que a comunicação estabelecida com os enfermeiros satisfaz alguns

familiares, como traduzem os seguintes relatos:

“ (…) estou muito satisfeito.” (F1)

“Estou muito satisfeita com a informação prestada pelos enfermeiros desta UCI e a

maneira como nos tratam, não tenho nada a apontar. Por mim, ele ficava aqui até ir

para casa.” (F2)

“Estou totalmente satisfeita com a vossa prestação. Este é um serviço que acolhe os

familiares e que nos transmite segurança, que não senti noutros serviços. (F10)

Dois dos familiares entrevistados expressaram a sua opinião relativamente à informação

proporcionada pelos enfermeiros, de forma positiva:

“É positiva.” (F4)

“É muito positiva, sempre fui bem informada.” (F5)

É de salientar que a maioria dos familiares considerou percetível a linguagem utilizada

pelos enfermeiros:

“Sim, percebo o que os enfermeiros dizem.” (F4)

“Compreendo as informações que me dão.” (F5)

“Considero a vossa linguagem bastante perceptível.” (F10)

No entanto, um dos familiares referiu que por vezes os enfermeiros utilizam termos

técnicos, tornando a linguagem pouco percetível:

“Ás vezes usam termos técnicos que não se percebem tão bem.” (F7)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

65

4. NECESSIDADES DE INFORMAÇÃO SENTIDAS PELA FAMÍLIA

Das entrevistas realizadas aos familiares emergiram diversas necessidades sentidas ao

nível da informação, as quais se relacionam nomeadamente com o estado

clínico/evolução do doente, os procedimentos, a medicação e os exames realizados

(Figura 6).

Figura 6 – Necessidades de informação sentidas pela família - categorias

Todos os familiares entrevistados apontaram o estado clínico/evolução do doente como

uma necessidade de informação:

“Para mim, o mais importante é saber informações sobre o estado clínico da doente e a

sua evolução.” (F1)

“ (…) sobre o estado clínico e evolução do doente.” (F2)

“Acho importantes as informações sobre o estado de saúde do doente

principalmente…” (F5)

“Na minha opinião é importante receber informações acerca do estado clínico do

doente…” (F10)

A informação relativa aos procedimentos realizados ao doente foi considerada

importante para dois dos familiares entrevistados:

“Acho importantes as informações sobre (…) os procedimentos realizados…” (F5)

“É importante receber informações acerca (…) dos procedimentos efetuados.” (F10)

Necessidades de informação sentidas pela família

Estado

clínico/Evolução Procedimentos Medicação Exames de

diagnóstico

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

66

Um familiar, também, referiu ser relevante ter conhecimento da medicação que o

doente faz:

“Acho importantes as informações sobre (…) a medicação que está a fazer…” (F5)

Por último, os exames de diagnóstico realizados e/ou programados foram mencionados

como uma necessidade de informação sentida por dois dos familiares, como podemos

verificar nas seguintes transcrições:

“Acho importantes as informações sobre (…) os exames realizados.” (F5)

“Para mim é importante receber informações acerca (…) dos exames realizados ou

programados…” (F10)

5. ASPETOS SIGNIFICATIVOS DO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO

ENFERMEIRO-FAMÍLIA

Através das entrevistas realizadas verificamos que nos seus discursos os enfermeiros e

os familiares consideram a comunicação não-verbal, as atitudes comunicacionais e o

conteúdo da informação aspetos significativos do processo comunicacional (Figura 7).

Figura 7 – Aspetos significativos do processo de comunicação enfermeiro-família – categorias e

subcategorias

Aspetos significativos do processo de comunicação enfermeiro-família

Comunicação

não-verbal

Atitudes

comunicacionais

Conteúdo da

informação

- Postura corporal

- Contacto visual

- Toque

- Dar atenção

- Ser simpático

- Proporcionar segurança

- Estabelecer empatia

- Demonstrar disponibilidade

- Dar apoio

- Avaliar a compreensão da

informação transmitida

- Linguagem adequada

- Sinceridade

- Informação prévia à

primeira visita

- Não especifica

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

67

Como se pode observar na figura 4, no âmbito da comunicação não-verbal os

participantes valorizaram a postura corporal, o contacto visual e o toque.

Relativamente à postura corporal, um enfermeiro e dois familiares referiram ser

importante falar de frente para a pessoa:

“Considero importante a comunicação não-verbal do enfermeiro (…) falar de frente

para a família...” (E1)

“ (…) falarem de frente para nós quando transmitem a informação.” (F3)

“A postura que o enfermeiro adopta ao transmitir a informação também é um aspecto

importante…” (F10)

O estabelecimento de contacto visual durante a comunicação foi outro factor

mencionado como significativo pelos entrevistados:

“Considero importante a comunicação não-verbal do enfermeiro (…) manter o

contacto visual...” (E1)

“ (…) manter o contacto visual durante o diálogo.” (F10)

Um dos enfermeiros referiu o toque como um aspeto relevante da comunicação não-

verbal, e que está traduzido na seguinte transcrição:

“É importante (…) tocar quando necessário.” (E1)

As atitudes comunicacionais evidenciadas no processo comunicacional referem-se a:

dar atenção, ser simpático, proporcionar segurança, estabelecer empatia, demonstrar

disponibilidade e dar apoio.

Dois dos entrevistados consideraram importante dar atenção ao familiar durante a

comunicação:

“Demonstrar atenção (…) e dar importância ao familiar.” (E2)

“A atenção e o carinho demonstrados…” (F5)

O ser simpático foi outro dos aspetos mencionados por um enfermeiro:

“Demonstrar simpatia...” (E2)

Um enfermeiro salientou a importância de proporcionar segurança aquando da

transmissão de informação, como podemos verificar na seguinte transcrição:

“Demonstrar segurança e confiança à família quando se transmite a informação.” (E3)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

68

Estabelecer empatia com o familiar foi uma atitude comunicacional considerada

significativa, que emergiu com alguma frequência das entrevistas realizadas aos dois

grupos de participantes:

“Estabelecer uma relação de empatia com a família é essencial.” (E8)

“O mais importante é a capacidade de estabelecer uma relação de empatia com os

familiares.” (E9)

“A capacidade do enfermeiro se colocar no lugar do familiar e perceber o que o

familiar precisa, se tem recursos para lidar com a situação.” (F10)

O facto de o enfermeiro demonstrar disponibilidade também foi considerado um aspeto

valorizado no processo de comunicação:

“ (…) a disponibilidade do enfermeiro.” (E1)

“ (…) demonstrarmo-nos disponíveis…” (E2)

A atitude comunicacional dar apoio ao familiar foi evidenciada por um familiar, como

demonstra a seguinte unidade de registo:

“É importante que o enfermeiro apoie o familiar.” (F9)

No que respeita ao conteúdo da informação verificamos que um grupo de

entrevistados considera importante: avaliar a compreensão da informação transmitida,

a linguagem adequada, a sinceridade e a informação prévia à primeira visita. Embora

outro grupo de participantes não especifique o que considera significativo no teor da

informação transmitida.

Avaliar a compreensão da informação transmitida, ou seja, perceber se o familiar

compreendeu a informação transmitida, foi um dos aspectos considerado significativo

do processo comunicacional, sendo expresso por três enfermeiros:

“ (…) percebermos se o familiar compreendeu o que lhe foi transmitido.” (E4)

“É importante perceber se os familiares compreenderam a informação que lhes foi

transmitida.” (E5)

“É importante perceber o que os familiares já sabem…” (E6)

Verificamos que a utilização de uma linguagem adequada ao familiar constitui um fator

essencial na comunicação, como comprovam as seguintes unidades de registo:

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

69

“É fundamental adaptar a forma de transmissão da informação à capacidade de

compreensão dos familiares e ao seu estado emocional no momento.” (E6)

“O mais importante é entendermos o que vocês dizem.” (F9)

“Há o cuidado de chegar às pessoas e adequar a informação aos seus recursos

linguísticos.” (F10)

A importância da sinceridade aquando da transmissão de informação foi salientada por

dois familiares:

“A sinceridade do profissional…” (F1)

“É importante que o enfermeiro explique o que se está a passar com o doente, sendo

sempre sincero.” (F9)

Todos os familiares entrevistados consideraram fundamental a realização de um

acolhimento familiar, onde seja proporcionada informação prévia à primeira visita,

como forma de preparação antes da entrada na UCI e do contacto com o doente,

reduzindo, assim, a ansiedade e fornecendo suporte emocional:

“Sim, é importante porque é preferível receber todas as informações antes de ver o

doente.” (F2)

“Prepara-nos para o que vamos encontrar (…) É importante porque falamos com o

médico e com o enfermeiro, permitindo a nossa interação.” (F4)

“ (…) ajuda a reduzir a nossa ansiedade.” (F5)

“Considero o acolhimento fundamental…prepara-nos para o choque e ficamos a saber

como vamos encontrar o doente, além de nos dar suporte para enfrentarmos a

situação.” (F10)

Parte dos entrevistados não especifica o conteúdo da informação que considera

relevante, como se pode verificar nas seguintes transcrições:

“ (…) a informação que transmitimos acerca do doente.” (E3)

“A informação transmitida.” (F2)

“A informação que transmitem.” (F8)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

70

6. FATORES QUE FACILITAM A COMUNICAÇÃO ENFERMEIRO-

FAMÍLIA

Constatamos que o processo de comunicação pode ser influenciado positivamente por

diversos fatores, os quais agrupamos em três categorias: relacionados com o familiar,

relacionados com o enfermeiro e relacionados com a dinâmica da UCI, como ilustra a

Figura 8.

Figura 8 – Fatores que facilitam a comunicação enfermeiro-família – categorias e subcategorias

No que respeita aos fatores relacionados com o familiar verificamos que a capacidade

de compreensão da informação, a tranquilidade e a recetividade influenciam

positivamente o processo de comunicação.

A capacidade do familiar compreender a informação transmitida pelo enfermeiro, ou

seja, a capacidade de compreensão da informação foi o fator facilitador mais

referenciado pelos participantes, com cinco unidades de registo:

“ (…) a capacidade de compreensão e absorção da informação por nós fornecida.”

(E7)

Fatores que facilitam a comunicação enfermeiro-família

Relacionados com

o familiar

Relacionados com

o enfermeiro

Relacionados com

a dinâmica da UCI

- Capacidade de compreensão

da informação

- Tranquilidade

- Recetividade

- Experiência profissional

- Conhecimento sobre o

doente/família

- Aceitação do estado do doente

- Relação de empatia

- Adequar a linguagem

- Estar disponível

- Capacidade de identificar as

necessidades do familiar

- Ambiente calmo

- Menor carga de

trabalho

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

71

“A capacidade de compreensão da informação por parte dos familiares…” (E9)

“A capacidade de compreensão da informação pelo familiar.” (F1)

A tranquilidade do familiar foi considerada, por dois participantes, como elemento

facilitador da comunicação, como traduzem os seguintes excertos:

“O facto de os familiares estarem tranquilos facilita a comunicação.” (E7)

“Quando os familiares estão menos ansiosos, a comunicação é mais fácil…” (F5)

A abertura e recetividade à informação por parte do familiar foi outro dos fatores

facilitadores mencionados por um enfermeiro:

“A postura recetiva do familiar influencia de forma positiva a comunicação.” (E2)

Das entrevistas realizadas emergiram, também, fatores relacionados com o enfermeiro

que facilitam a comunicação, nomeadamente a experiência profissional, o

conhecimento sobre o doente/família, a aceitação do estado do doente, a relação de

empatia, adequar a linguagem, estar disponível e a capacidade de identificar as

necessidades do familiar.

A experiência profissional foi considerada por um enfermeiro como um fator

diretamente associado à facilidade de comunicação com o familiar:

“ (…) quanto maior a experiência profissional, mais facilidade temos em comunicar

com a família.” (E8)

O facto de o enfermeiro ter um maior conhecimento sobre o doente/família também

contribui positivamente para o processo comunicacional, como se verifica nas seguintes

transcrições:

“É importante conhecer bem o doente…” (E3)

“Quando prestamos cuidados ao mesmo doente durante vários turnos permite-nos

conhecer melhor o doente e a sua família, facilitando a comunicação.” (E8)

“Quando conhecemos bem o doente, a comunicação com a família é mais fácil.” (E9)

A aceitação do estado do doente, por parte do enfermeiro, constitui outro aspeto que

interfere de forma positiva na comunicação:

“A aceitação da nossa parte do estado do doente facilita a transmissão da

informação…” (E3)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

72

Na opinião de dois dos enfermeiros entrevistados, a relação de empatia estabelecida

com o familiar também parece facilitar o processo de comunicação:

“Demonstrar empatia…” (E4)

“Criar uma relação de empatia com a família…” (E6)

A capacidade do enfermeiro em adequar a linguagem ao nível de compreensão dos

familiares foi outro dos fatores facilitadores evidenciados pelos entrevistados:

“A capacidade do enfermeiro para adaptar o discurso ao nível de compreensão dos

familiares.” (E6)

“A maneira simples e clara como os enfermeiros falam, como expõem os problemas do

doente.” (F4)

“A capacidade do enfermeiro para descodificar a informação e adequá-la ao familiar.”

(F10)

O enfermeiro estar disponível contribui, na perspetiva de sete participantes, de forma

positiva para o estabelecimento da comunicação com o familiar, sendo o fator mais

referido pelos familiares:

“ (…) a disponibilidade por parte dos enfermeiros.” (E3)

“ (…) os enfermeiros estão sempre disponíveis para falar connosco.” (F5)

“O enfermeiro mostrar-se disponível...” (F6)

Na perspetiva de uma familiar, o facto de o enfermeiro ter a capacidade de identificar

as necessidades do familiar, isto é, compreender o tipo de necessidades sentidas e

colmatá-las no momento adequado, favorece o processo de comunicação entre ambos:

“A capacidade de perceber o que o familiar precisa naquele momento…se espaço,

silêncio, mais informação, suporte, esperança ou conforto.” (F10)

Por último, os factores relacionados com a dinâmica da UCI referem-se a aspetos do

funcionamento habitual do serviço, externos ao enfermeiro e ao familiar, os quais

agrupamos em duas subcategorias: ambiente calmo e menor carga de trabalho.

De acordo com os entrevistados, um ambiente calmo e silencioso parece interferir de

forma positiva no estabelecimento da comunicação:

“ (…) um ambiente calmo na unidade facilita a comunicação com o familiar.” (E1)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

73

“ (…) é importante um ambiente silencioso…” (E3)

Uma menor carga de trabalho foi outro dos fatores facilitadores mencionados pelos

participantes:

“ (…) termos uma menor carga de trabalho facilita a comunicação com a família.”

(E1)

“ (…) uma menor carga de trabalho permite-nos ter mais tempo para a família.” (E6)

7. FATORES QUE DIFICULTAM A COMUNICAÇÃO ENFERMEIRO-

FAMÍLIA

A par dos fatores facilitadores da comunicação, apuramos a existência de diversos

aspetos que dificultam o processo comunicacional, os quais foram sentidos a três níveis:

centrados no familiar, centrados no enfermeiro e centrados na dinâmica da UCI (Figura

9).

Figura 9 – Fatores que dificultam a comunicação enfermeiro-família – categorias e subcategorias

Fatores que dificultam a comunicação enfermeiro-família

Centrados no

familiar

Centrados no

enfermeiro

Centrados a

dinâmica da UCI

- Falta de compreensão

da informação

- Ansiedade

- Falta de disponibilidade

- Dificuldade em adequar a

informação

- Dificuldade em avaliar as

necessidades do familiar

- Postura defensiva

- Comunicação de más notícias

- Falta de conhecimento sobre o

doente

- Âmbito da informação

- Sobrecarga de

trabalho

- Ambiente ruidoso

- Ausência de

privacidade

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

74

Os factores centrados no familiar que dificultam a comunicação referem-se à falta de

compreensão da informação e à ansiedade.

Na perspetiva de alguns participantes, o facto de os familiares não compreenderem a

informação que lhes é transmitida pelo enfermeiro, ou seja, a falta de compreensão da

informação influencia negativamente o processo de comunicação:

“Falta de capacidade da família para compreender o que dizemos.” (E7)

“A falta de compreensão da informação que transmitimos dificulta a comunicação…”

(E9)

“A falta de compreensão da informação pelos familiares.” (F1)

O estado de ansiedade de alguns familiares foi apontado por alguns enfermeiros como

um fator dificultador da comunicação, como traduzem as seguintes transcrições:

“Ansiedade do familiar perante o doente e a procura incessante de informação...” (E2)

“Um estado de maior ansiedade do familiar dificulta a nossa comunicação.” (E7)

“O estado de ansiedade de alguns familiares.” (E9)

No que respeita aos fatores dificultadores do processo comunicacional centrados no

enfermeiro emergiram sete subcategorias: falta de disponibilidade, dificuldade em

adequar a informação, dificuldade em avaliar as necessidades do familiar, postura

defensiva, comunicação de más notícias, falta de conhecimento sobre o doente e âmbito

da informação.

A falta de disponibilidade para comunicar com os familiares foi considerada como um

aspeto que influencia negativamente o processo de comunicação, na perspetiva de

alguns participantes dos dois grupos:

“A falta de disponibilidade dos enfermeiros para falar connosco…” (F9)

“ (…) por vezes a falta de disponibilidade e paciência, da nossa parte, para falar com

os familiares.” (E5)

“Nem sempre tenho a mesma disponibilidade para falar com os familiares…nos dias

em que estou mais bem-disposta tenho mais paciência para eles.” (E6)

A dificuldade em adequar a informação ao nível de compreensão do familiar também

surge como fator dificultador, sendo manifestado por três entrevistados:

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

75

“Não ter a capacidade de transmitir a informação de forma a ser compreendida pela

família.” (E4)

“A ausência de capacidade para descodificar a informação e adequá-la ao familiar.”

(F10)

De acordo com o relato de uma familiar, o facto de o enfermeiro ter dificuldade em

identificar as necessidades do familiar, ou seja, não compreender o tipo de necessidades

sentidas, dificulta a comunicação entre ambos:

“A ausência da capacidade de perceber o que o familiar precisa naquele momento…se

espaço, silêncio, mais informação, suporte, esperança, conforto.” (F10)

A postura defensiva adotada pelo enfermeiro parece interferir de forma negativa no

processo comunicacional, como traduz o seguinte excerto de um familiar:

“A adoção de uma postura defensiva por parte do enfermeiro dificulta a

comunicação.” (F10)

A transmissão de informação em situações graves, isto é, a comunicação de más

notícias foi considerada por alguns enfermeiros como um fator que dificulta a

comunicação com os familiares:

“Quando temos de transmitir más notícias é mais difícil comunicar com os familiares.”

(E3)

“A transmissão de más notícias é uma situação em que é difícil informar os familiares.

Houve uma situação grave em que sofri ao dar-lhes aquelas informações…saí daqui a

chorar.” (E4)

“Nas situações de transmissão de más notícias tenho mais dificuldade em comunicar

com os familiares…” (E7)

Na perspetiva de dois enfermeiros, a falta de conhecimento sobre o doente, ou seja, o

facto de não conhecerem tão bem o doente interfere no processo de comunicação,

dificultando-o:

“Ter poucos conhecimentos acerca do doente complica a comunicação com a família.”

(E8)

“Quando não conheço bem o doente, por estar com ele a primeira vez, tenho mais

dificuldade em informar a família.” (E9)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

76

Todos os enfermeiros entrevistados consideraram que o âmbito da informação é um

fator que dificulta a comunicação, nomeadamente a ausência de novidades, a falta de

acesso a algum tipo de informação e a necessidade, em certas situações, de transmissão

da informação pela equipa médica, como se verifica nas seguintes transcrições:

“O facto de muitas vezes não termos informações novas para dar aos familiares.” (E2)

“Quando temos conhecimento de uma informação do estado clínico do doente e que

ainda não foi transmitida à família, pela parte médica.” (E3)

“Quando os familiares querem respostas e prognósticos e nós não sabemos se vai

correr bem ou mal (…) situações em que não há consenso por parte da equipa médica

acerca da evolução e tratamento do doente.” (E6)

“Quando os familiares nos pedem informações às quais ainda não tivemos acesso. Por

exemplo, resultados de exames ou análises, exames a programar.” (E9)

No que respeita aos fatores centrados na dinâmica da UCI, constatamos que a

sobrecarga de trabalho, um ambiente ruidoso e a ausência de privacidade influenciam

negativamente o processo de comunicação enfermeiro-família.

A sobrecarga de trabalho, que leva a uma diminuição do tempo e disponibilidade para

estar e comunicar com a família, foi considerada por vários participantes como um fator

que dificulta a comunicação:

“Uma elevada carga de trabalho que leva ao cansaço do enfermeiro.” (E3)

“ (…) tempo insuficiente para estar com a família devido ao excesso de trabalho.” (E5)

“A falta de tempo provocada pela sobrecarga de trabalho…” (E6)

“Quando os enfermeiros têm excesso de trabalho não têm tanto tempo para nós…”

(F9)

Constatamos, também, que, na perspetiva dos enfermeiros que participaram no estudo,

um ambiente ruidoso e desorganizado interfere de forma negativa no processo de

comunicação com os familiares:

“ (…) um ambiente ruidoso dificulta a nossa comunicação com a família.” (E2)

“O ambiente confuso da unidade que muitas vezes nos impede de comunicar com a

família sem interrupções.” (E6)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

77

A ausência de privacidade durante a comunicação foi outro dos aspetos dificultadores

mencionados por dois enfermeiros:

“As unidades dos doentes são muito próximas umas das outras e nem sempre temos a

privacidade que desejávamos para falar com a família...principalmente quando as

notícias não são boas.” (E2)

“ (…) a falta de privacidade quando comunicamos com os familiares.” (E6)

Em suma, os dados obtidos permitiram identificar um conjunto de áreas temáticas

integradoras, as quais dão visibilidade às experiências dos enfermeiros e familiares no

processo comunicacional, nomeadamente, os modos de comunicação enfermeiro-

família, o âmbito e a opinião da informação transmitida, as necessidades de informação

sentidas pela família, os aspetos significativos da comunicação, assim como os fatores

considerados facilitadores e dificultadores no processo de comunicação, em contexto de

cuidados intensivos.

Salientamos o facto de existirem algumas coincidências nos dados obtidos nos dois

grupos de participantes, no que respeita aos aspetos significativos da comunicação

enfermeiro-família e aos fatores que facilitam e dificultam esse processo. É de realçar,

ainda, que por vezes os mesmos fatores contribuem de forma positiva e negativa para o

processo comunicacional.

Concluída a apresentação e análise de dados, procederemos, no próximo capítulo, à

discussão dos resultados, focando as respetivas áreas temáticas.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

78

CAPÍTULO IV

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

79

Neste capítulo procederemos à discussão dos resultados obtidos e a importância dos

mesmos para compreender o processo de comunicação enfermeiro-família em contexto

de cuidados intensivos. Esta discussão sustentou-se no conhecimento já existente e em

estudos já realizados, assim como na nossa própria reflexão em torno desta

problemática.

De acordo com Fortin (2006), este processo constitui uma etapa árdua, uma vez que

exige uma reflexão intensa e profunda de toda a investigação.

De forma a permitir uma visão global dos resultados obtidos, utilizaremos uma linha de

apresentação idêntica ao capítulo anterior, seguindo sequencialmente as diversas áreas

temáticas.

Modos de comunicação enfermeiro-família

No processo comunicacional estabelecido com a família, constatamos que o enfermeiro

utiliza a comunicação verbal e não-verbal, bem como diversas atitudes

comunicacionais. Este resultado vai de encontro à perspetiva de Phaneuf (2005, p.23),

quando afirma que “a comunicação transmite-se de forma consciente ou inconsciente,

pelo comportamento verbal e não-verbal, e de modo mais global, pelo modo de

actuação dos intervenientes”.

O processo de comunicação é, assim, constituído por mensagens transmitidas por

palavras, a componente verbal, e pela transmissão de sensações e emoções através de

sinais corporais que vêm apoiar, completar ou contradizer as palavras, ou seja, a

componente não-verbal.

No que respeita à comunicação verbal, Phaneuf (2005, p.82) defende que esta “é a

forma que tomam as nossas trocas quando fazemos intervir a palavra.”. Neste âmbito, e

de acordo com a referida autora, o enfermeiro deve exprimir-se de forma a ser

compreendido, adotando uma comunicação funcional, caracterizada pela simplicidade,

concisão, precisão, clareza, pertinência e flexibilidade, bem como pela adaptação ao

contexto, preocupações e interesses da pessoa.

Esta perspetiva é enfatizada por Campos [et al.] (2008), quando refere que a informação

fornecida aos familiares deve ser transmitida de forma adequada e sem contradições,

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

80

constituindo-se um aspeto fundamental para promover a participação da família nas

decisões terapêuticas.

Este facto foi verificado na maioria das nossas observações, pela utilização, por parte do

enfermeiro, de uma linguagem adequada ao familiar, através de um discurso simples e

claro, com ausência de termos técnicos e linguagem ambígua.

Além da componente verbal, evidenciamos, também, a presença de uma linguagem não-

verbal ao longo do processo de comunicação enfermeiro-família, a qual é considerada

por Silva [et al.] (2000, p.54) como uma forma complexa de “comunicar-se, de interagir

e de manifestar sentimentos, vontades, emoções, de exteriorizar conteúdos internos”.

De acordo com Phaneuf (2005) as manifestações não-verbais incluem a postura, a

expressão facial, os gestos, o toque, o volume e a modulação da voz e o débito do

discurso. Tal facto é corroborado por Gaiarsa in Silva [et al.] (2000, p.53), ao afirmar

que “tudo aquilo que não é dito pela palavra pode ser encontrado no tom de voz, na

expressão do rosto, na forma do gesto ou na atitude do indivíduo”.

Comprovamos este conceito através das subcategorias, relativas à comunicação não-

verbal, que emergiram nesta área temática, nomeadamente a expressão facial, o

estabelecimento de contacto visual, a postura corporal, o toque e o recurso à

paralinguística.

As emoções são demonstradas, principalmente, pela expressão facial, uma vez que a

face é a parte mais exposta do corpo humano. Neste contexto verificamos que grande

parte dos enfermeiros esboçava um sorriso durante a comunicação, de forma a

transmitir simpatia e atenção ao familiar, facto que é valorizado por Phaneuf (2005,

p.37) quando refere que “somente o sorriso pode indicar que somos calorosos e abertos

aos outros”.

Constatamos que durante o processo comunicacional, todos os enfermeiros estabelecem

contacto visual com o familiar, demonstrando atenção e traduzindo uma vontade de

interação. Segundo Phaneuf (2005), a frequência, a duração e a ocasião de um olhar são

fatores que transmitem mensagens sobre o relacionamento entre duas ou mais pessoas.

Esta componente torna-se essencial para a comunicação, uma vez que a visão é dos

sentidos mais especializados no Homem, facultando ao sistema nervoso uma quantidade

de informação maior que o tato e a audição.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

81

A postura corporal foi outro dos modos de comunicação não-verbal observados. Uma

vez que a capacidade de ouvir e compreender o outro não inclui apenas a fala, mas

também as expressões e manifestações corporais, a cinésica, isto é, o estudo da

linguagem corporal, assume um papel fundamental no processo de comunicação,

permitindo a descodificação das mensagens recebidas durante as interações

profissionais ou pessoais.

A postura corporal, que se encontra associada à forma como nos movimentamos, é

valorizada por Silva [et al.] (2000, p.56) quando afirma que “o corpo é veículo das

emoções e sentimentos puros, nem sempre conscientes, que exprimem a essência do

ser”.

No presente estudo verificamos que a maioria dos enfermeiros comunica de frente para

os familiares, transmitindo, assim, a atenção que lhes estão a dispensar, o que demonstra

uma atitude de escuta e de disponibilidade.

No entanto, na perspetiva de Pereira (2008) o ângulo de colocação de “cara a cara”

relativamente ao outro tanto pode revelar uma relação de intimidade como uma relação

hierárquica de superioridade/inferioridade.

O toque é, igualmente, um tipo de contacto inerente e necessário à prestação de

cuidados de enfermagem. Este encontra-se intrinsecamente ligado ao tacto, que é

considerado por Phaneuf (2005) como um sentido privilegiado do ato de cuidar, pela

quantidade de vezes que é utilizado comparativamente com a estimulação de outros

sentidos.

De acordo com Ferreira e Dias (2005) o toque pode ser utilizado com diferentes

finalidades, nomeadamente como contacto físico deliberado, utilizado pelo enfermeiro

na realização de procedimentos (toque instrumental), como expressão espontânea de

sentimentos e forma de confortar (toque afetivo) e com a intenção de curar (toque

terapêutico).

Constatamos que apenas alguns enfermeiros utilizaram o toque, o que, na nossa opinião,

pode ser justificado pelo facto de o contexto da comunicação não o exigir ou derivado

às características da personalidade da pessoa em questão. No entanto, nas situações em

que foi utilizado, o toque teve o intuito de tranquilizar e confortar o familiar, ou seja, o

toque afetivo.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

82

Devido a todas as funções que pode assumir, o toque constitui uma importante forma de

comunicação não-verbal, uma vez que permite ao familiar percecionar a presença do

enfermeiro, tornando o cuidado mais humanizado.

O recurso à paralinguística foi outro aspeto não-verbal verificado na comunicação

enfermeiro-família, o qual é realçado por Pereira (2008, p.60), quando afirma que o

comportamento comunicativo “não depende apenas dos aspetos linguísticos utilizados

(tipo de língua, formas e tempos…), mas também dos aspetos não linguísticos (o tom, o

timbre, a intensidade da voz, as pausas…) ”.

Além da comunicação verbal e não-verbal verificamos a presença de diversas atitudes

comunicacionais no processo de comunicação enfermeiro-família, nomeadamente o

suporte emocional, a disponibilidade/abertura, a escuta ativa e o estar presente.

No nosso estudo constatamos que, ao comunicar, os enfermeiros não se limitam apenas

a transmitir a informação, preocupando-se, também, em fornecer suporte emocional ao

familiar, através da tranquilização e do encorajamento. Facto que é comprovado por

Phaneuf (2005), quando defende que o suporte emocional prestado à família baseia-se

num conjunto de intervenções de enfermagem que visam dar apoio emotivo, ajudando-

os a atravessar o momento doloroso, a compreender o problema de saúde e a enfrentá-lo

calmamente.

Esta atitude comunicacional reflete, assim, uma intencionalidade por parte dos

enfermeiros em tranquilizar a família, em função dos sentimentos presentes aquando da

visita à pessoa doente, podendo, consequentemente ser vista como uma resposta à

ansiedade e preocupação dos familiares perante os diferentes aspetos do internamento.

Como vimos anteriormente, o internamento numa UCI constitui um momento de crise

para a família da pessoa em situação crítica, o qual provoca sentimentos de insegurança,

ansiedade e medo da morte, tornando o familiar vulnerável. Neste sentido, torna-se

fundamental que o enfermeiro apoie o familiar, visando suprir as suas necessidades

físicas e emocionais e respeitando, sempre, as suas potencialidades e limitações.

Através de um cuidado humanizado baseado na relação de ajuda, o enfermeiro permite a

identificação de estratégias para a resolução de problemas, auxiliando a família a

encontrar um novo equilíbrio.

De acordo com Machado e Zagonel (2000), o processo de cuidar não se desenvolve

isoladamente, pois trata-se de uma ação interativa, que ocorre entre a pessoa que cuida e

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

83

o ser cuidado, desenvolvendo-se através de condições como a disponibilidade e a

recetividade.

A maioria dos enfermeiros observados demonstraram disponibilidade e abertura na

comunicação, ao procurarem o familiar sem este o solicitar, manifestando, assim,

preocupação e atenção para com a família que está a viver um momento particular da

sua vida e se encontra carente de apoio.

O enfermeiro de uma UCI, por toda a especificidade do cuidar que os doentes críticos

exigem e, na perspetiva de Ferreira e Dias (2005, p.68), precisa de saber “utilizar os

seus sentidos, ter disponibilidade de tempo e energia, ter disponibilidade intelectual e

afetiva para compreender e ser capaz de intervir no decurso de uma relação de ajuda”.

Desta forma, torna-se fundamental que o enfermeiro demonstre ao familiar que está

disponível para ele, manifestando uma atitude de escuta ativa, essencial para o

desenvolvimento da relação terapêutica, bem como protagonizando uma situação de

atenção e presença plena.

Segundo Phaneuf (2005), escutar consiste em olhar e observar simultaneamente,

apreendendo o significado das palavras e as emoções subjacentes. Esta atitude

comunicacional não é apenas uma atenção passiva prestada ao outro, podendo assumir

um carácter bastante ativo, pela aplicação de diversos comportamentos de recetividade,

como o questionamento, a reformulação constante, as respostas-reflexo e a utilização de

diversas estratégias dinâmicas.

Este conceito é enfatizado por Riley (2000), quando afirma que a escuta é um processo

ativo de receber informações e observar as reações às mensagens recebidas, bem como

um tipo de comunicação não-verbal em que o enfermeiro comunica o seu interesse pela

pessoa.

Ao longo do processo de comunicação com a família, alguns enfermeiros utilizaram a

escuta ativa, através do questionamento, permitindo, assim, a compreensão aprofundada

e precisa dos factos, bem como refletindo uma atitude de compreensão e atenção para

com o familiar.

Relativamente à atitude comunicacional estar presente, constatamos, em todas as

observações, que a comunicação enfermeiro-família é estabelecida junto do doente,

evidenciando uma atitude de presença. Este facto é sustentado pela opinião de Phaneuf

(2005), quando afirma que a comunicação e a relação de ajuda não se limitam a um

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

84

conjunto de atitudes a privilegiar ou a evitar e técnicas a aplicar, devendo, também,

incorporar valores humanistas, manifestados pela qualidade da presença, pelo respeito e

pela autenticidade do enfermeiro.

Riley (2000, p.35), por sua vez, defende que a presença fundamenta-se na essência da

enfermagem enquanto disciplina, uma que vez “estar verdadeiramente presente é

testemunhar a experiência do cliente, compreender a sua perspectiva, respeitar a sua

dignidade e o seu direito à autodeterminação”.

Desta forma, a presença, a escuta ativa e a palavra do enfermeiro, que favorecem a

evolução e a tomada de decisão da família cuidada, fazem parte integrante dos cuidados

de enfermagem.

A perspetiva de Hesbeen (2000), relativamente aos componentes essenciais na relação

enfermeiro-família, vai de encontro aos resultados obtidos nesta área temática. A autora

salienta a importância de elementos como: o calor, caracterizado pela palavra do

enfermeiro, pelo sorriso, pelo olhar adequado e personalizado; a escuta, que permite

acolher a palavra da pessoa que necessita de ajuda; a disponibilidade, quando o

enfermeiro revela uma atenção particular e demonstra a sua presença e a simplicidade,

refletida na utilização de uma linguagem acessível.

Em suma, consideramos que a comunicação enfermeiro-família desenvolve-se em

função de atitudes e comportamentos verbais e não-verbais, que humanizam o cuidado,

na medida em que o enfermeiro, através da sua postura, do seu olhar, do seu toque e dos

seus gestos, consegue atenuar a condição de fragilidade da família, ajudando-a a manter

a sua dignidade. Como refere Côrte-Real (2007, p.121), a equipa de enfermagem deuma

unidade de cuidados intensivos “deverá ser caracterizada pela competência técnica-

científica, mas também por uma presença de um olhar carinhoso, de um ouvir atento, de

um tom de voz amável e de uma presença disponível.”.

Âmbito e opinião da informação proporcionada pelos enfermeiros à família

A comunicação, baseada na troca de informações e de sentimentos, destaca-se como o

principal instrumento para o estabelecimento de uma relação entre quem cuida e quem é

cuidado, evidenciando, assim, a arte do cuidar em enfermagem (Côrte-Real, 2007).

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

85

Com base na observação e nas entrevistas realizadas verificamos que os enfermeiros

informam os familiares no âmbito da situação clínica do doente, do funcionamento do

serviço, das estratégias para comunicar com o doente e da informação solicitada.

A informação relativa à situação clínica do doente centra-se em cinco domínios,

nomeadamente o estado clínico/evolução do doente, os exames de diagnóstico

realizados e/ou programados, a medicação que tem em perfusão, o prognóstico e o

tratamento instituído.

A transmissão de informação acerca do estado clínico e evolução do doente é feita com

o intuito de clarificar a situação clínica do doente, tornando-a mais percetível para os

familiares.

Neste contexto, constatamos que a maioria dos enfermeiros aborda aspetos relacionados

com o atual estado de consciência do doente, bem como têm a preocupação constante de

garantir o conforto do doente.

É de salientar o facto de a explicação de aspetos relacionados com o estado clínico do

doente e a existência, ou não, de evolução ter sido verificada em todas as observações e

referida por todos os enfermeiros entrevistados.

Os exames de diagnóstico realizados e/ou programados e o prognóstico do doente

foram outros aspetos evidenciados no tipo de informação proporcionada pelos

enfermeiros à família.

Uma vez que a visita coincide, geralmente, com o período da realização de alterações

terapêuticas e da substituição de medicação, os enfermeiros aproveitam o momento para

informar os familiares acerca da medicação que o doente tem em perfusão,

evidenciando a que se encontra relacionada com a sedação e a analgesia.

Alguns enfermeiros esclareceram, também, os familiares quanto ao tratamento

instituído e a finalidade de determinados equipamentos, transmitindo segurança e

tranquilizando-os, contribuindo, assim, para a compreensão dos cuidados prestados.

Estes resultados são sustentados pelo estudo de Slatore [et al.] (2012), no qual se

verificou que a comunicação entre os enfermeiros e as famílias dos doentes centrava-se

no domínio biopsicossocial, nomeadamente relacionada com problemas biomédicos

agudos. A informação proporcionada pelos enfermeiros incluía aspetos relativos ao

nível de consciência do doente, à gestão da sedação e analgesia, às funções corporais,

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

86

bem como o esclarecimento do plano global para o doente, incluindo a forma como

vários diagnósticos e tratamentos eram indicadores de gravidade da doença.

Uma pequena parte dos enfermeiros do estudo referiu que informava os familiares

acerca do funcionamento do serviço, não só na primeira visita, mas sempre que

necessário, abordando aspetos como o horário das visitas, a necessidade de medidas de

controlo de infeção e as normas e disposição do serviço.

Num ambiente de cuidados intensivos, o doente encontra-se rodeado de equipamentos

técnicos e de monitorização, que o tornam irreconhecível. Esta situação é bastante

complexa para a família, a qual, sem a orientação devida, tem dificuldade em se

aproximar do doente, não sabendo se pode tocar-lhe ou falar com ele. Desta forma, é

essencial que o enfermeiro proporcione informação aos familiares sobre as estratégias

para comunicar com o doente, reduzindo a sua ansiedade e insegurança.

Verificamos, também, que alguns dos enfermeiros informavam os familiares de acordo

com a informação solicitada, respondendo apenas às questões colocadas. Riley (2000)

defende esta perspetiva, quando é necessário dar informações que constituem uma

novidade para a pessoa, no sentido de evitar aborrecê-la, considerando que nos devemos

focar nos aspetos que ela deseja, particularmente, saber.

O processo de comunicação enfermeiro-família não se baseia apenas no ato de fornecer

informação, mas também na partilha de opiniões e esclarecimento de dúvidas. Permitir

ao familiar exprimir a sua opinião demonstra interesse em escutá-lo (Esteves, 2012).

Neste sentido, e no que respeita à opinião sobre a informação proporcionada pelos

enfermeiros, a maioria dos familiares considerou-a positiva e percetível, encontrando-se

bastantes satisfeitos com a mesma.

No estudo realizado por Slatore [et al.] (2012) numa UCI, os familiares dos doentes

identificaram uma boa comunicação como um aspeto essencial da qualidade da

prestação de cuidados, contribuindo para a diminuição da ansiedade e para o aumento

da satisfação.

Necessidades de informação sentidas pela família

A transmissão de informação contribui para a redução da incerteza e para a aquisição de

controlo sobre a situação, constituindo um auxílio fundamental para a família aceitar a

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

87

doença, lidar com a situação, participar na tomada de decisão e envolver-se no processo

de tratar/cuidar, permitindo, assim, a existência de autonomia para uma adaptação

positiva (Pereira, 2008). Neste sentido, é fundamental que a informação transmitida vá

de encontro às necessidades sentidas por quem a recebe.

Das entrevistas realizadas aos familiares emergiram várias necessidades sentidas ao

nível da informação fornecida pelos enfermeiros, nomeadamente sobre o estado clínico

e evolução do doente, os procedimentos, médicos e de enfermagem, efetuados, a

medicação e os exames de diagnóstico realizados.

É de salientar que a necessidade de informação relativa ao estado clínico/evolução do

doente foi referida por todos os familiares que participaram no estudo.

Este resultado é corroborado por múltiplos autores, como Esteves (2012), Maruiti e

Galdeano (2007), Millar in Rosário (2009), Morgon e Guirardello (2004), Siddiqui,

Sheikh e Kamal (2011) e Silva (2012), que através de estudos realizados sobre as

diversas necessidades sentidas pela família dos doentes internados em UCI’s,

concluíram que a necessidade dominante foi a de informação sobre o estado clínico do

doente e a sua evolução.

Sentimentos como a ansiedade, o sofrimento e a inquietude quanto ao prognóstico,

presentes na família da pessoa em situação crítica, provocam a necessidade de

informação para conhecerem e compreenderem o estado clínico do doente e,

consequentemente participarem nas decisões, pelo que, e como nos refere Phaneuf

(2005, p.462), “é (…) normal que eles se voltem para as enfermeiras para receber

reconforto e informações”.

O enfermeiro deve, assim, estar preparado para estabelecer um relacionamento de

empatia e confiança com a família e comunicar de forma adequada, a fim de incentivar

e motivar os familiares a esclarecerem todas as suas dúvidas, satisfazendo a necessidade

de informação e, consequentemente diminuir a ansiedade, a angústia e o sofrimento de

todos os envolvidos.

Realçamos o facto de os familiares do nosso estudo não referirem sentir necessidade de

informação específica sobre os cuidados de enfermagem prestados ao doente. Esta

situação pode ser justificada pelo facto de na UCI predominarem a tecnologia e o

tecnicismo, estando o cuidar inserido num conturbado ambiente de dependência

tecnológica e de exigência do conhecimento técnico-científico. No entanto, Riley (2000)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

88

afirma que a competência técnica, em cuidados intensivos, relacionada com os avanços

tecnológicos foi descrita como uma componente importante do cuidar, suportada por

vários teóricos de enfermagem, permitindo, de uma outra forma, conhecer melhor o

doente.

Neste sentido, a informação partilhada diariamente com os familiares, numa UCI, deve

ser pertinente, adequada a cada situação e dirigida para aspetos práticos que envolvam o

estado clínico e evolução do doente, a finalidade de determinada medicação, o

tratamento instituído, a função dos equipamentos existentes e os exames

realizados/programados.

Desta forma consideramos que, de um modo geral, o âmbito da informação

proporcionada pelos enfermeiros à família vai de encontro às suas necessidades,

contribuindo, assim, para a sua satisfação.

Aspetos significativos do processo de comunicação enfermeiro-família

Os enfermeiros e os familiares entrevistados consideraram a comunicação não-verbal,

as atitudes comunicacionais e o conteúdo da informação como aspetos significativos do

processo de comunicação enfermeiro-família.

De acordo com Pereira (2008, p.58), “a comunicação não se refere apenas às palavras, à

sua estrutura e sentido, mas também à vertente não-verbal, à linguagem do corpo e ao

contexto onde é produzida, constituindo um sistema comunicacional único”.

No âmbito da comunicação não-verbal, os participantes do nosso estudo valorizaram a

postura corporal, o contacto visual e o toque, indo de encontro à perspetiva de Phaneuf

(2005), quando afirma que a comunicação não-verbal consiste na expressão de

mensagens através de um conjunto de comportamentos, tais como os gestos, a postura, a

expressão facial, a voz e o toque, os quais apoiam, completam ou contradizem as

palavras, veiculando as emoções da pessoa.

A linguagem corporal apresenta-se, assim, como uma dimensão fundamental da

comunicação enfermeiro-família, na medida em que facilita e apoia a expressão verbal,

bem como proporciona um conhecimento acerca dos comportamentos, atitudes e estado

emocional, influenciando a relação de interação.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

89

A postura corporal constitui uma forma de emitir mensagens sobre o nosso

relacionamento com a família, uma vez que a adoção de uma postura descontraída

transmite a disponibilidade para a ouvir e a atenção demonstrada para com o seu

discurso. Desta forma, torna-se fundamental que o enfermeiro tenha atenção à postura

que adquire perante o familiar, de modo a facilitar o estabelecimento de uma relação

terapêutica eficaz. Tal como refere Ferreira e Dias (2005, p.88) “a posição física que o

enfermeiro adota no contacto pode ser reveladora da importância que o utilizador dos

cuidados de saúde tem para si”.

O contacto visual assume-se, também, como um elemento essencial no processo

comunicacional estabelecido entre o enfermeiro e a família do doente, na medida em

que o modo, a direção e a duração do olhar permitem a expressão das suas emoções e

intenções, estimulando, assim, a comunicação e o envolvimento com os familiares. Este

elemento é, ainda, característico da atitude de escuta ativa.

O toque, por sua vez, é utilizado frequentemente como forma de proporcionar conforto

à pessoa, podendo ser empregue, também, para atrair a sua atenção, manifestar o seu

interesse, acalmá-la ou ainda numa perspetiva de melhorar a comunicação na relação

terapêutica. É atribuída uma grande variedade de significados a esta componente

relacional, tais como a ternura, o medo, a segurança ou a agressividade e violência, pelo

que o enfermeiro deve utilizá-lo com precaução e possuir a sensibilidade para perceber

se tem o efeito desejado, visto que também pode ser sentido pelo outro como

ameaçador, pelo facto de entrarmos na sua zona íntima.

Neste sentido, consideramos que a comunicação não-verbal é um modo de comunicar

mais espontâneo do que a comunicação verbal e, consequentemente, mais difícil de

controlar, pois torna-se mais fácil selecionar as palavras do que eleger a expressão facial

para determinado momento.

Os comportamentos não-verbais traduzem, assim, o impacto daquilo que dizemos

através das palavras, podendo facilitar ou dificultar o processo comunicacional. Desta

forma é essencial a existência de coerência entre aquilo que dizemos e o que

exprimimos através dos gestos e das atitudes.

Esta perspetiva é reforçada por Phaneuf (2005), que defende que o que deriva da

linguagem não-verbal é retido de melhor forma do que as palavras, sendo necessário

estabelecer uma relação harmoniosa entre estes dois modos de expressão. Esta

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

90

concordância entre o verbal e o não-verbal, indispensável à comunicação, apela ao

conceito de autenticidade, o qual se baseia na expressão das palavras e das atitudes em

consonância com os pensamentos, as emoções e as intenções da pessoa.

No que respeita às atitudes comunicacionais, os entrevistados consideraram o dar

atenção, o ser simpático, o proporcionar segurança, o estabelecer empatia, o demonstrar

disponibilidade e o dar apoio como significativos no processo de comunicação

enfermeiro-família.

A presença destas atitudes comunicacionais é fundamental na relação terapêutica

estabelecida com a família do doente internado, uma vez que o ambiente tecnológico e

invasivo predominante numa UCI provoca sentimentos de inquietude, confusão e

sofrimento. Perante a ansiedade gerada pela incerteza, o stress e o medo da gravidade da

doença ou da emergência de uma complicação, surge a necessidade de proporcionar

conforto aos familiares, através da escuta e do apoio, por parte dos enfermeiros.

De facto, o enfermeiro, pela relação de proximidade, é o profissional de saúde mais

indicado para satisfazer as necessidades de apoio da família. Os familiares devem sentir

que os enfermeiros são acessíveis e estão dispostos a ajudar.

Hesbeen (2000) defende que o conceito de cuidar designa uma atenção especial prestada

à pessoa que vive uma situação particular, neste caso a família da pessoa em situação

crítica, com o intuito de a ajudar e promover o seu bem-estar, utilizando, para isso, as

competências inerentes à profissão.

Na perspetiva de Phaneuf (2005), para o estabelecimento de uma relação terapêutica

com a família é necessária, além da eficácia do mundo técnico, a presença do calor da

relação e a demonstração de interesse pelo outro.

O interesse é demonstrado pela atenção e disponibilidade dos enfermeiros em ajudar os

familiares, compreendendo o momento difícil que estão a vivenciar, reforçando, assim,

a relação de confiança e de empatia e garantindo um cuidado humanizado.

A empatia é um componente básico da comunicação, necessário para que o enfermeiro

perceba a experiência do familiar e o modo como este a vivencia, ao colocar-se no seu

lugar, evidenciando a componente humana da relação terapêutica. No entanto, o

enfermeiro deve adquirir um nível de maturidade que o permita ser empático, sem que

exista um envolvimento emocional prejudicial (Stefanelli e Carvalho, 2005).

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

91

Neste sentido, consideramos que a empatia permite uma melhor compreensão dos

sentimentos e das necessidades dos familiares, constituindo um elemento significativo

no processo de comunicação enfermeiro-família.

A comunicação é fundamental no cuidado prestado à família, assumindo-se como o

ponto de partida para a relação de ajuda, a qual deve ser dirigida às suas necessidades e

expectativas. É através da comunicação que os enfermeiros se aproximam dos

familiares, compreendendo o seu mundo vivencial, as suas dúvidas e os seus desejos,

bem como procurando conhecer a sua história, sobretudo num período tão particular das

suas vidas.

Neste processo comunicacional, o conteúdo da informação, especificamente a avaliação

da compreensão da informação transmitida, a utilização de uma linguagem adequada, a

sinceridade e a informação prévia à primeira visita, assume-se como um aspeto

significativo.

Alguns enfermeiros entrevistados consideraram importante perceber se os familiares

compreenderam a informação transmitida, evidenciando a necessidade de utilizar uma

linguagem adequada.

De facto, a capacidade do enfermeiro em adequar a linguagem ao nível de compreensão

da família foi considerado por alguns entrevistados, principalmente familiares, como

um aspeto importante no processo de comunicação. Phaneuf (2005) comprova este

resultado, referindo que o enfermeiro deve exprimir-se de forma a ser compreendido e

fazer aceitar o que pretende transmitir, utilizando uma linguagem simples, clara, concisa

e apropriada às circunstâncias, bem como adaptada às reações da família.

Esta afirmação remete-nos para o conceito de especificidade, o qual, segundo a autora,

se refere à capacidade do enfermeiro em manter uma comunicação clara, concreta e

eficaz de forma a ser compreendido pelos familiares, bem como perceber as suas

dificuldades, a fim de os ajudar.

A sinceridade na informação transmitida também é evidenciada pela autora quando

afirma que “revelar a verdade não significa brutalizar, e é possível ter em conta a

pessoa, o seu estado afectivo e mental, e as suas capacidades de fazer face às

dificuldades” (Phaneuf, 2005, p.91).

Por último, todos os familiares entrevistados consideraram fundamental a realização de

um acolhimento familiar, onde seja proporcionada informação prévia à primeira visita,

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

92

como forma de preparação antes da entrada na UCI e do contacto com o doente, bem

como de interação com os profissionais de saúde, reduzindo, assim, a sua ansiedade e

fornecendo suporte emocional.

Verificamos que nesta UCI o acolhimento à família realiza-se numa sala específica,

com privacidade, onde está presente o médico e o enfermeiro responsáveis pelo doente.

As informações acerca do diagnóstico, exames realizados e tratamento adequado são

transmitidas pelos médico, cabendo ao enfermeiro informar a família sobre o horário

das visitas, as normas e disposição do serviço, as medidas de controlo de infeção, a

finalidade do equipamento que se encontra em torno do doente e, principalmente, sobre

os cuidados de enfermagem prestados. Posteriormente, o enfermeiro acompanha o

familiar até ao doente, disponibilizando-se para esclarecer qualquer dúvida.

Saiote (2010) comprova este resultado ao afirmar que é fundamental realizar um

acolhimento eficiente à família, antes de iniciar o processo de partilha de informação. O

enfermeiro deve, assim, abordar o familiar na entrada do serviço, identificar-se e

acompanhá-lo até o doente, explicando-lhe as normas e rotinas do serviço, o porquê de

determinados procedimentos, a tecnologia utilizada e devida aplicação, e fortalecer a

ideia de que estas unidades são contextos em que a atenção para com o doente é

redobrada.

Esta perspetiva também é defendida por Silva (2012) quando refere que apesar de o

ambiente altamente tecnológico não poder ser evitado, os familiares devem ser

preparados antes de entrar na UCI, de modo a diminuir o impacto do contexto e

minimizar o seu sofrimento.

A questão da informação prévia à primeira visita e o acompanhamento da família,

também é visível no estudo de Côrte-Real (2007) quando afirma que não basta permitir

a entrada da família na UCI, sendo necessário e fundamental prepará-la e acompanhá-la

durante a visita, identificando e esclarecendo as suas dúvidas, observando as reações e

comportamentos e, especialmente, compreendendo os seus sentimentos. A informação

geral acerca da UCI e da situação clínica do doente permite a redução da ansiedade, do

medo e da tristeza sentidos pelos familiares.

Neste sentido, ao acolher permitimos o encontro, o estar presente, o relacionamento e a

criação de um vínculo entre o familiar e o enfermeiro, contribuindo, desta forma, para a

humanização do cuidado à família.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

93

Em suma, consideramos que o processo de comunicação enfermeiro-família é

caracterizado por diversos aspetos significativos, destacando-se a postura corporal do

enfermeiro, a relação de empatia estabelecida com o familiar e a informação

proporcionada previamente à primeira visita.

Factores que interferem no processo de comunicação enfermeiro-família

Apuramos que o processo de comunicação enfermeiro-família pode ser influenciado, de

forma positiva ou negativa, por variados fatores relacionados com o familiar, com o

enfermeiro e com a dinâmica da UCI.

Este facto é comprovado pelo modelo cibernético da comunicação, na medida em que

demonstra que a comunicação não é um fenómeno isolado, sendo influenciada pelo

“ambiente favorável ou desfavorável, tal como pelos filtros que representam a

personalidade de cada um dos intervenientes, os seus valores, a sua cultura, os seus

conhecimentos” (Phaneuf, 2005, p.27).

No que respeita aos fatores centrados no familiar, identificamos que a capacidade de

compreensão da informação e o estado emocional interferem positiva e negativamente

na comunicação com o enfermeiro.

A comunicação enfermeiro-família é, assim, facilitada quando a informação transmitida

é compreendida pelos familiares e dificultada pela inexistência desta capacidade de

compreensão.

Santos e Silva (2006) referem que a incompreensão das informações fornecidas pode

estar relacionada com o baixo nível socioeconómico da família, com a utilização de

termos técnicos pelo enfermeiro ou com a falta de coerência na transmissão da

informação. A dificuldade da família em compreender as informações transmitidas

acaba por influenciar os sentimentos e comportamentos dos enfermeiros no momento do

diálogo com o familiar, no horário da visita. Perante as informações incompreendidas,

os enfermeiros deste estudo sentiram que a comunicação com a família se tornava difícil

e por vezes cansativa.

De facto, é importante que os enfermeiros da UCI compreendam o momento vivenciado

pelas famílias, o qual pode incapacitá-las de absorver as informações fornecidas, sendo

as mensagens compreendidas e interpretadas de diferentes formas. Deste modo, há a

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

94

possibilidade de os familiares deturparem, bloquearem ou “negarem” as informações,

surgindo uma repetição das mesmas perguntas várias vezes.

Consideramos que a capacidade de compreensão da informação pode estar relacionada

com o estado de ansiedade ou tranquilidade do familiar, influenciando, desta forma, a

comunicação enfermeiro-família. Neste sentido, o facto de os familiares estarem

recetivos e tranquilos facilita a comunicação, enquanto a ansiedade e a, consequente,

procura incessante de informação dificulta o estabelecimento deste processo.

Esta perspetiva é defendida por Phaneuf (2005) quando afirma que nem sempre é fácil

comunicar com as famílias, uma vez que se encontram maioritariamente num estado de

ansiedade que as leva a colocar numerosas questões e a revelarem-se inquisidoras e

exigentes. No entanto, o enfermeiro enquanto interface entre o sistema, a pessoa doente

e a sua família, deve compreender a necessidade de estar aberto ao pedido de

informações e fornecê-las de forma a dar suporte à família para se adaptar à situação e

aos respetivos constrangimentos.

A capacidade de comunicar com a família é influenciada, de forma positiva e negativa,

por múltiplas variáveis que identificamos como fatores centrados no enfermeiro, os

quais se prendem com a experiência profissional, o grau de conhecimento sobre o

doente/família, a aceitação do estado do doente, a relação de empatia estabelecida, a

capacidade de adequar a linguagem, a disponibilidade, a capacidade de identificar as

necessidades do familiar, a comunicação de más notícias e o âmbito da informação.

A experiência profissional foi referida por um enfermeiro como fator facilitador da

comunicação com a família, na medida em que os enfermeiros com mais tempo de

serviço em UCI apresentam maior facilidade em compreender e comunicar com os

familiares do doente. Esta importância atribuída à experiencia profissional na área de

cuidados intensivos pode ser justificada pela teoria de Benner (2001), referente às

competências comunicacionais do enfermeiro, quando defende que o estadio de perito

apenas é conseguido, aproximadamente, com cinco anos de experiência profissional em

determinada área específica, fornecendo-lhe autonomia e poder de decisão para atuar

com segurança em qualquer situação. Em termos comunicacionais podemos afirmar que

a experiência profissional em UCI permite que o enfermeiro mobilize os conhecimentos

adquiridos com a sua prática profissional ao longo dos anos e que os aplique em novas

situações, daí a sua maior facilidade em se relacionar com a família da pessoa em

situação crítica.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

95

Este fator facilitador é reforçado pelo estudo de Santos e Silva (2006), no qual

concluem que a experiência profissional facilita a comunicação, uma vez que favorece a

perceção das reações dos familiares perante a informação transmitida, ajudando a

discernir o que é importante para diminuir a sua ansiedade.

O grau de conhecimento do doente/família e a aceitação do seu estado clínico também

parecem interferir no processo comunicacional. De acordo com alguns enfermeiros

entrevistados, a comunicação com a família é facilitada quando o enfermeiro conhece

bem o doente e os familiares, pelo facto de lhes prestar cuidados ao longo de vários

turnos, bem como pelo facto de aceitarem a situação clínica do doente.

Esta perspetiva é defendida por Santos e Silva (2006), na medida em que consideram

que a comunicação é facilitada quando existe um conhecimento mútuo entre os

enfermeiros e os familiares, após as sucessivas aproximações.

Nas situações em que não existe esse conhecimento, o estabelecimento da comunicação

com o familiar torna-se mais complicada, surgindo uma necessidade premente por parte

do enfermeiro em conhecer previamente a situação clínica do doente, consultando o

processo, de forma a fornecer informações precisas aos familiares e amenizar a sua

sensação de desconforto.

No seu estudo, Santos e Silva (2006) também identificaram este factor como

dificultador da comunicação enfermeiro-família, concluindo que quando desconheciam

o doente/família, os enfermeiros preferiam não comunicar ou comunicar

superficialmente com os familiares, desviando o assunto, bem como sentiam que era

visível quando não sabiam, de forma precisa, as informações transmitidas, por não

terem oportunidade de conhecer, previamente, os dados relativos à condição do doente.

A prestação de cuidados com qualidade à família, no contexto da UCI, é conseguida se

existir um conhecimento profundo da mesma, nomeadamente as suas preocupações, os

seus sentimentos e que tipo de suporte necessita. Os enfermeiros procuram conhecer a

família através do estabelecimento de uma relação empática, caracterizada pela

personalização do cuidado.

Neste contexto realçamos a importância da existência de uma relação de empatia entre o

enfermeiro e o familiar, como fator facilitador do processo de comunicação. Pereira

(2008) reforça este conceito, defendendo que a empatia é uma componente essencial na

relação de ajuda, uma vez que o enfermeiro tenta vivenciar os sentimentos da família e

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

96

compreender a sua situação, incentivando-a a ultrapassar o momento e envolvê-la no

processo terapêutico.

A capacidade do enfermeiro em adaptar a linguagem ao nível de compreensão dos

familiares, transmitindo clareza e simplicidade nas informações, também foi

considerada, pelos participantes, um fator facilitador da comunicação. Por outro lado, o

facto de os enfermeiros terem dificuldade em adequar a informação, justificada por

vezes pela utilização frequente de termos técnicos, pode influenciar negativamente a

comunicação com a família.

Relativamente à disponibilidade, a maioria dos familiares referiu que o facto de o

enfermeiro estar disponível facilita a comunicação.

Na investigação realizada por Esteves (2012), os familiares consideraram que a

disponibilidade para auxiliar e fornecer informações foram importantes no apoio que

receberam e que, de certo modo, ajudou a ultrapassar a situação.

No ponto de vista da família, a falta de disponibilidade do enfermeiro interfere de forma

negativa na comunicação, podendo ser justificada pela própria dinâmica da unidade, na

medida em que o número de doentes dificulta uma atenção mais dedicada a cada um dos

familiares. A família compreende a necessidade de cuidados constantes aos doentes,

evitando, por vezes, solicitar o enfermeiro para obter informações, uma vez que o

consideram menos importante relativamente a outro tipo de cuidados.

A capacidade e a dificuldade em avaliar as necessidades da família foram referenciadas

por uma familiar como aspetos que podem facilitar ou dificultar, respetivamente, o

processo de comunicação enfermeiro-família, uma vez que é essencial que o enfermeiro

perceba o tipo de apoio que o familiar necessita naquele momento, para poder fornecer

o suporte adequado e prestar, assim, cuidados humanizados.

Uma grande parte dos enfermeiros entrevistados considerou que a comunicação de más

notícias, relativamente à situação clínica do doente, dificulta o processo comunicacional

com a família, gerando sentimentos de medo, desconforto e ansiedade e conduzindo,

consequentemente, a mecanismos de fuga na comunicação.

Santos e Silva (2006) corroboram este resultado, defendendo que situações

emocionalmente exigentes, como o agravamento da condição clínica do doente,

interferem negativamente na interação entre o enfermeiro e a família. No referido

estudo, os enfermeiros sentiram-se ineficazes e com dificuldade para fornecer suporte à

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

97

família, tentando protegerem-se através do distanciamento e evitando um envolvimento

pessoal com os familiares.

De acordo com Buckman (1992) e Sancho (2000) comunicar uma má notícia consiste

em transmitir informação que implique uma mudança drástica e negativa na vida da

pessoa, bem como nas suas perspetivas futuras. A comunicação deste tipo de notícia

constitui, assim, uma das tarefas mais complexas no âmbito da relação

enfermeiro/doente/família.

O enfermeiro da UCI deve, além de planear os momentos de transmissão de más

notícias, gerir os seus próprios medos e estar preparado para aceitar as possíveis reações

da família. Buckman (1992) defende que estes medos podem estar associados ao receio

de culpa ou de atribuição de responsabilidades, de expressão de uma reação emocional,

de não saber responder a todas as perguntas colocadas pelos familiares, das possíveis

reações da família, bem como se podem relacionar com medos pessoais acerca da

doença e da morte.

As dificuldades dos enfermeiros não se prendem apenas com o medo de enfrentar as

reações físicas e emocionais da família, mas também com a dificuldade em gerir a

situação. Phaneuf (2005) corrobora este ponto de vista, considerando que o enfermeiro

tem um papel ingrato ao preparar a família para receber uma má notícia. No entanto, a

sua presença torna-se fundamental para responder às questões dos familiares, escutá-los

e proporcionar-lhes o reconforto da sua compreensão.

Embora existam imperativos éticos e legais, transmitir uma má notícia é um ato

indubitavelmente humano, no qual se destaca a importância da forma como o

enfermeiro comunica com a pessoa, mais do que o próprio conteúdo da mensagem

(Sancho, 2000).

Por outro lado, no estudo realizado por Slatore [et al.] (2012) verificou-se que os

enfermeiros compreendem a gravidade dos eventos críticos para os doentes, embora não

discutam diretamente estas questões com os familiares, considerando que transmitir as

más notícias é uma responsabilidade médica.

No que concerne ao âmbito da informação, todos os enfermeiros referiram que o facto

de não possuírem a informação que os familiares pretendem, como o resultado de

análises ou exames de diagnóstico, influencia negativamente o processo de

comunicação com a família. Evidenciaram também como dificultadoras, as situações

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

98

em que têm conhecimento de um determinado dado sobre a situação clínica do doente,

mas que ainda não foi transmitido à família pela equipa médica, dificultando, assim, ao

enfermeiro avançar com a informação, de forma a satisfazer adequadamente as

necessidades da família neste âmbito.

Relativamente aos fatores que interferem na comunicação enfermeiro-família, centrados

na dinâmica da UCI, emergiram a carga de trabalho, o ambiente da unidade e a ausência

de privacidade.

Fatores como o ambiente da UCI e a carga de trabalho dos enfermeiros podem atuar

como facilitadores ou dificultadores da comunicação, interferindo na perceção da troca

de mensagens. De acordo com alguns enfermeiros entrevistados, um ambiente calmo e

uma menor carga de trabalho, permite terem mais tempo para a família, facilitando,

assim, o processo de comunicação.

Phaneuf (2005, p.83) refere que “o contexto muitas vezes difícil no qual se desenrolam

as trocas entre a enfermeira e o doente e o imperativo de eficácia ligado aos cuidados de

enfermagem colocam certas exigências quanto à comunicação”.

De facto, o internamento numa UCI é caracterizado pela admissão de doentes em estado

crítico, sendo os enfermeiros responsáveis pela prestação contínua de cuidados

imediatos e altamente qualificados. Esta situação pode levar a uma sobrecarga de

trabalho e, consequentemente, a uma menor disponibilidade dos enfermeiros para

investir na comunicação com a família do doente.

Neste contexto, Côrte-Real (2007) afirma que existem diversos fatores, resultantes das

características inerentes à UCI, que podem justificar a falta de disponibilidade do

enfermeiro, tais como o elevado número e rotação de doentes em estado grave, a

imprevisibilidade e especificidade do ambiente da unidade e a presença de alta

tecnologia. Estes fatores originam um clima de trabalho exaustivo e tenso, provocando

desmotivação e stresse nos membros da equipa de enfermagem. Juntam-se ainda outros

aspetos potencialmente desagradáveis como o de um ambiente fechado, iluminação

artificial e ar condicionado, elementos que podem levar a alterações de humor. Os

profissionais podem estar irritados sem motivo aparente, ter cefaleias e ansiedade,

acrescentando-se a estes elementos de tensão emocional, a existência de rotinas

exigentes, de deficiências frequentes de recursos humanos, de equipamentos

sofisticados e barulhentos com alarmes que interrompem os procedimentos de rotina.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

99

Desta forma, a existência de um ambiente com bastantes interferências auditivas e

visuais vai influenciar negativamente a comunicação com a família, impedindo que este

processo de desenvolva sem interrupções.

O espaço físico inadequado, caracterizado pela proximidade entre as unidades dos

doentes e a, consequente, ausência de privacidade para comunicar com os familiares

também foram considerados, por dois enfermeiros, como fatores dificultadores da

comunicação com a família.

Estas dificuldades são evidenciadas nas investigações de Saiote e Mendes (2011) e

Santos e Silva (2006) ao concluírem que a necessidade da realização de atividades no

horário da visita dificulta a interação do enfermeiro com a família do doente. O

processo de comunicação é igualmente afetado pela dinâmica atribulada da UCI,

retratada na falta de tempo para comunicar com os familiares, o excesso de trabalho, o

ambiente confuso da unidade e a falta de um local adequado para a comunicação.

Concluímos, assim, que existem múltiplos fatores, centrados no familiar, no enfermeiro

e na dinâmica do serviço, que interferem de forma positiva e negativa no processo de

comunicação enfermeiro-família, no contexto da UCI. Realçamos como aspetos

facilitadores do processo comunicacional, a capacidade de compreensão da informação

por parte do familiar e a disponibilidade demonstrada pelo enfermeiro. Relativamente

aos fatores que dificultam a comunicação, salientamos a falta de compreensão da

informação pelos familiares, a falta de disponibilidade do enfermeiro, o âmbito da

informação fornecida e a sobrecarga de trabalho.

Em suma, consideramos que o conhecimento das necessidades de informação sentidas

pela família, dos aspetos considerados significativos, bem como dos fatores

facilitadores e dificultadores da comunicação irá permitir que o enfermeiro atue como

facilitador no processo de transição vivido pela família, através do estabelecimento de

uma comunicação eficaz e adequada.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

100

CAPÍTULO V

CONCLUSÕES E PERSPETIVAS FUTURAS

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

101

No presente capítulo iremos apresentar as principais conclusões do estudo realizado, ou

seja, uma síntese refletida das ideias essenciais e da importância dos resultados obtidos,

os quais nos permitem tecer algumas perspetivas futuras, orientando-nos para novos

rumos e desafios no âmbito da investigação e do cuidar da família da pessoa em

situação crítica, no contexto da UCI.

As UCI’s são locais onde as forças da vida e da morte se encontram em luta constante,

imperando um ambiente perturbador e hostil. Estas unidades caracterizam-se pela

presença de tecnologia avançada e pela admissão de doentes em situação crítica, os

quais necessitam de cuidados de enfermagem imediatos e altamente qualificados.

Neste sentido, os enfermeiros de cuidados intensivos desenvolvem um conjunto de

ações que requerem um alto nível de exigência e uma atenção minuciosa, bem como

habilidades inteletuais e psicomotoras bastante desenvolvidas, o que lhes confere um

nível mais tecnicista e mecanicista, levando-os, por vezes, a desvalorizar a importância

da relação estabelecida com a família do doente.

No entanto, além das competências técnicas e científicas, é fundamental que o

enfermeiro desenvolva a competência relacional, inerente ao ato de cuidar,

estabelecendo uma relação terapêutica com a família, baseada na confiança e na

empatia.

A adversidade do ambiente da UCI e a doença crítica desencadeiam mudanças a vários

níveis na vida familiar, que vão ser vivenciadas de formas distintas, tendo em conta as

condições pessoais e socioculturais de cada um. A humanização do cuidado numa UCI

passa, assim, por considerar os familiares como pessoas que são cuidadas por outras

pessoas, respeitando a singularidade dos seus sentimentos e das suas necessidades.

É através deste cuidado individualizado que se evidencia a essência do cuidar em

Enfermagem, sendo a comunicação o instrumento básico para a prestação de cuidados

eficazes e com qualidade, à família da pessoa em situação crítica.

Desta forma, torna-se essencial que o enfermeiro intensivista valorize e desenvolva as

competências comunicacionais, permitindo, não só, enriquecer os seus conhecimentos,

como aperfeiçoar o cuidado prestado à família, fornecendo apoio e satisfazendo as suas

necessidades emocionais e de informação.

Consideramos que, apesar de a sofisticação técnica assumir um papel de liderança no

ambiente intensivo, é possível humanizar o cuidado de enfermagem, através de uma

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

102

interação efetiva com a família do doente e do estabelecimento de uma comunicação

eficaz, permitindo a satisfação das suas necessidades, bem como a partilha das suas

vivências, angústias, medos e inseguranças.

Face ao objetivo geral do estudo realizado, nomeadamente compreender o processo de

comunicação enfermeiro-família em cuidados intensivos, e aos resultados obtidos,

evidenciamos um conjunto de conclusões, que passamos a apresentar.

O enfermeiro comunica com a família do doente através da comunicação verbal,

da comunicação não-verbal e de atitudes comunicacionais. Observa-se a

preocupação, por parte dos enfermeiros, em adequar a linguagem aos familiares,

com recurso à paralinguística, bem como em adotar uma postura corporal

adequada e manter o contacto visual durante a interação. O suporte emocional

fornecido à família, assim como a presença e a disponibilidade demonstradas pelo

enfermeiro constituem as principais atitudes comunicacionais.

Os enfermeiros adequam a linguagem aos familiares, através da utilização de um

discurso simples e claro, sem recurso a termos técnicos. A paralinguística, embora se

relacione com os aspetos não-verbais da fala, é utilizada como estratégia à qual o

enfermeiro recorre para que o seu discurso verbal se torne mais percetível para o

familiar. O facto de falar pausadamente, com um ritmo constante e uma articulação

mais acentuada das palavras facilita a perceção da informação, por parte da família, que

muitas vezes se encontra num estado de ansiedade.

A postura corporal adotada pelos enfermeiros demonstrou a vontade de iniciar ou

manter o processo comunicativo com a família. Por sua vez, o contacto visual foi

mantido ao longo da comunicação, não só com o intuito de transmitir a mensagem, mas

também de avaliar e interpretar o comportamento e as expressões faciais do familiar.

Salientamos, ainda, a expressão facial dos enfermeiros, os quais esboçavam um sorriso

quando adequado e tinham o cuidado de retirar a máscara facial para comunicar com a

família, demonstrando, assim, simpatia, carinho e atenção.

A disponibilidade dos enfermeiros é evidenciada pelo facto de tomarem a iniciativa de

irem ao encontro dos familiares para fornecer informações, bem como se mostrarem

abertos ao esclarecimento de qualquer dúvida. Além da transmissão de informações,

existe uma preocupação da parte destes profissionais de saúde em fornecer suporte

emocional à família, através do encorajamento e da tranquilização. Constatamos que a

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

103

comunicação com os familiares é estabelecida junto do doente, manifestando uma

atitude de presença por parte do enfermeiro.

O âmbito da informação proporcionada pelos enfermeiros vai de encontro às

necessidades de informação sentidas pela família, nomeadamente acerca do estado

clínico e evolução do doente, da medicação e dos exames de diagnóstico

realizados/programados. A opinião da família acerca da informação transmitida é

positiva, considerando a linguagem utilizada pelo enfermeiro bastante perceptível.

Embora alguns enfermeiros forneçam informações sobre o funcionamento do serviço e

as estratégias para comunicar com o doente, o âmbito dominante da informação

proporcionada foi a situação clínica do doente, especificamente o estado clínico e

evolução, os exames de diagnóstico realizados e/ou programados, a medicação em

perfusão, o prognóstico e o tratamento instituído.

Os familiares, por sua vez, referiram sentir necessidade de informações sobre o estado

clínico e a evolução do doente, os procedimentos efetuados, a medicação e os exames

de diagnóstico realizados e/ou programados.

Concluímos, assim, que o domínio da informação proporcionada pelos enfermeiros vai

de encontro às necessidades sentidas pelos familiares, facto que é comprovado pela

opinião positiva, da família, acerca da informação fornecida pelos enfermeiros da UCI.

Existem vários aspetos considerados significativos no processo de comunicação

enfermeiro-família, nomeadamente a comunicação não-verbal e as atitudes

comunicacionais do enfermeiro, bem como o conteúdo da informação

proporcionada.

Na perspetiva da família, a a utilização de uma linguagem adequada por parte dos

enfermeiros e a informação proporcionada previamente à primeira visita, ou seja, a

realização do acolhimento familiar, assumem a centralidade do processo

comunicacional.

Por sua vez, os enfermeiros consideraram que, perante a comunicação com a família, é

essencial demonstrar disponibilidade e avaliar a compreensão da informação

transmitida.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

104

No que respeita ao processo de comunicação enfermeiro-família, constatamos que os

enfermeiros dão mais importância às atitudes comunicacionais, enquanto os familiares

valorizam o conteúdo da informação transmitida.

Foram evidenciados diversos fatores que interferem, de forma positiva e negativa,

no processo de comunicação enfermeiro-família, os quais se relacionam com o

familiar, com o enfermeiro e com a dinâmica da UCI.

No que respeita aos fatores facilitadores da comunicação, os familiares destacaram a

disponibilidade demonstrada pelo enfermeiro e a adequação da linguagem. A falta de

disponibilidade do enfermeiro, a dificuldade em adequar a informação e a sobrecarga de

trabalho foram considerados, entre outros, como fatores que dificultam o processo de

comunicação.

No ponto de vista dos enfermeiros, principalmente a capacidade dos familiares em

compreender a informação e o conhecimento sobre o doente/família interferem de

forma positiva na comunicação com a família. Como fatores dificultadores

evidenciaram a falta de compreensão da informação, a comunicação de más notícias, a

sobrecarga de trabalho e aspectos relacionados com o âmbito da informação.

Desta forma, podemos concluir que o processo de comunicação é influenciado por

múltiplos fatores que interferem de forma positiva ou negativa, sendo alguns deles

ambivalentes, podendo atuar como facilitadores ou dificultadores, como é o caso do

estado emocional dos familiares, a sua capacidade de compreensão da informação, o

conhecimento do enfermeiro sobre o doente/família, a capacidade de identificar as

necessidades do familiar, a disponibilidade demonstrada, a adequação da linguagem, a

carga de trabalho e o ambiente da UCI.

O conhecimento dos aspetos significativos do processo de comunicação enfermeiro-

família em cuidados intensivos, bem como dos fatores que o influenciam de forma

positiva e negativa permite-nos desenvolver estratégias para a sua optimização. Desta

forma, os enfermeiros devem investir nos aspetos considerados importantes na

comunicação com a família, mantendo os fatores facilitadores e tentando modificar os

fatores que dificultam o processo comunicacional, em benefício dos intervenientes. No

entanto, é de salientar que destes factores, alguns são passíveis de serem melhorados ou

desenvolvidos, embora outros não sejam modificáveis ou excluíveis, exigindo ao

enfermeiro uma intervenção adequada a cada situação.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

105

O desenvolvimento deste estudo e as conclusões obtidas permitiram-nos delinear

perspetivas futuras para a prática de cuidados à família da pessoa em situação crítica,

em contexto de cuidados intensivos.

Consideramos, assim, fundamental a formação específica dos enfermeiros na área da

comunicação que, associada à experiência profissional em UCI, irá promover e efetivar

o desenvolvimento de competências comunicacionais. Neste sentido, destacamos a

realização de formação em serviço relativa ao tema da comunicação com a família,

como um meio imprescindível para a mudança de comportamentos e consequente

melhoria da qualidade dos cuidados de enfermagem prestados, assim como a criação de

momentos de introspeção e partilha de experiências, visando a valorização profissional

e o crescimento enquanto equipa.

De forma a optimizar o processo de comunicação enfermeiro-família, destacamos outras

medidas como: a existência de um elemento na equipa, nomeadamente o enfermeiro

especialista, que atue como elo de ligação entre os prestadores de cuidados e a família,

fornecendo atempadamente informações e esclarecendo dúvidas; a inclusão, na equipa

de cuidados, de outros profissionais com disponibilidade imediata ou para

encaminhamento a curto prazo, tais como, psicólogo, assistente social e capelão; e a

planificação ou requalificação de um espaço físico adequado para a comunicação com a

família do doente.

No âmbito desta investigação surgiram contributos importantes para uma melhor

compreensão da problemática em estudo, ou seja, o processo de comunicação

enfermeiro-família no contexto de cuidados intensivos, embora não consideremos este

trabalho como terminado. Julgamos, assim, ser pertinente o desenvolvimento de estudos

similares no contexto de outras UCI’s do país, de forma a obter dados que

complementem a presente investigação, bem como a realização de novos estudos que

abordem o processo de comunicação com a família desenvolvido na UCI, incluindo a

perspetiva de outros profissionais de saúde, como médicos, fisioterapeutas e assistentes

operacionais.

Acreditamos ser essencial partilhar os resultados obtidos com a equipa de saúde da UCI

em questão, na medida em que podem constituir um motivo de reflexão e um veículo

para o desenvolvimento das competências comunicacionais do enfermeiro, contribuindo

para um melhor desempenho neste âmbito e, consequentemente, uma melhoria da

qualidade do atendimento e dos cuidados prestados à família do doente.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

106

Desta forma, consideramos que este estudo pode ser impulsionador de novas dinâmicas

de intervenção, a nível comunicacional, perspetivando contributos para a prestação de

cuidados de enfermagem mais humanizados à família da pessoa em situação crítica.

Terminado este percurso sentimos que os objetivos inicialmente propostos foram

alcançados, embora surgissem algumas limitações na elaboração do trabalho,

relacionadas com o facto de encontrarmos poucos estudos que abordassem a perspetiva

da família sobre a comunicação com o enfermeiro, com o tempo limitado para efetuar a

recolha de dados e, principalmente, com dificuldade em conciliar a realização da

investigação com a atividade profissional.

Apesar das limitações e dificuldades sentidas, podemos afirmar que a realização deste

estudo constituiu um percurso de aprendizagem por excelência, através da partilha de

experiências e de conhecimentos, permitindo, assim, um crescimento e valorização

pessoal e profissional.

Acreditamos que a realização de estudos de investigação deste âmbito permite dar

visibilidade aos diferentes contextos dos cuidados de enfermagem, estimulando a

partilha de experiências e a promoção de uma prática baseada na evidência.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

107

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARDIN, Laurence - Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. ISBN:

972-44-0898-1.

BENNER, Patrícia – De iniciado a perito: excelência e poder na prática

clínica de enfermagem. Coimbra: Quarteto, 2001. ISBN: 978-972-8535-97-1.

BERTONE, Tássia; RIBEIRO, Ana Paula e GUIMARÃES, Jacileide -

Considerações sobre o relacionamento interpessoal enfermeiro-paciente. Rev.

Fafibe On Line. [Em linha]. Nº 3 (2007), p. 1-5. [Consultado em 2 Jun. 2014].

Disponível na WWW: <URL:

http://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario

/11/19042010141352.pdf>.

BRIGA, Sónia - A comunicação terapêutica enfermeiro/doente: perspectivas

de doentes oncológicos entubados endotraquealmente. Porto: Universidade

do Porto, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, 2010. Dissertação de

mestrado.

BUCKMAN, Robert – How to Break Bad News: a guide for health care

professionals. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1992. ISBN: 978-

080-1844-90-4.

CAMPOS, Ricardo [et al.] - Estrategias de información en una Unidad de

Cuidados Intensivos polivalente. Medicina Intensiva. [Em linha]. Vol. 32, nº 5

(2008), p. 216-221. [Consultado em 17 Nov. 2014]. Disponível na WWW:

<URL: http://scielo.isciii.es/pdf/medinte/v32n5/original2.pdf>.

CASTRO, Cidália; VILELAS, José e BOTELHO, Maria Antónia - A

experiência vivida da pessoa doente internada numa UCI: revisão sistemática da

literatura. Pensar Enfermagem. [Em linha]. Vol. 15, nº2 (2011), p. 41-59.

[Consultado em 10 Dez. 2014]. Disponível na WWW: <URL:

http://pensarenfermagem.esel.pt/files/Pensar%20Enfermagem15_2sem_41_59(1

).pdf>.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

108

COLLIÈRE, Marie-Françoise - Promover a vida: da prática das mulheres de

virtude aos cuidados de enfermagem. 5ª ed. Lisboa: Lidel, 1999. ISBN: 978-

972-7571-09-3.

CONSELHO INTERNACIONAL DE ENFERMEIROS – Classificação

Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE/ICNP): versão beta 2.

2ª ed. Lisboa: Associação Portuguesa de Enfermeiros, 2003. ISBN: 972-98149-

5-3.

CONSELHO NACIONAL DE ÉTICA PARA AS CIÊNCIAS DA VIDA -

Parecer sobre informação de saúde e registos informáticos de saúde. [Em

linha]. Parecer nº60. Lisboa: CNECV, 2011. [Consultado em 17 Jul. 2014].

Disponível na WWW: <URL:

http://www.cnecv.pt/admin/files/data/docs/1318269169_CNECV%20P_60_201

1%2010.10.11.pdf>.

CÔRTE-REAL, Isabel – Enfermagem em cuidados intensivos. Revista

Portuguesa de Bioética: Cadernos de Bioética. Coimbra. ISSN: 1646-8082.

Nº 1 (2007), p. 115-123.

DIAS, Maria Olívia - Um olhar sobre a família na perspetiva sistémica: o

processo de comunicação no sistema familiar. Gestão e Desenvolvimento. [Em

linha]. Vol. 19, (2011), p. 139-156. [Consultado em 1 Jul. 2014]. Disponível na

WWW: <URL:

http://z3950.crb.ucp.pt/Biblioteca/GestaoDesenv/GD19/gestaodesenvolvimento1

9_139.pdf>.

DIREÇÃO GERAL DA SAÚDE - Carta dos direitos e deveres dos doentes.

[Em linha]. Lisboa: Ministério da Saúde, 2011. [Consultado em 1 de Jul. 2014].

Disponível na WWW: <URL:

http://www.dgs.pt/default.aspx?cn=55065716AAAAAAAAAAAAAAAA>.

ESTEVES, Nuno - Ser e continuar a ser família em cuidados intensivos.

2012. ISBN: 978-989-20-3196-5.

FERREIRA, Manuela e DIAS, Maria Odília - Ética e profissão:

relacionamento interpessoal em enfermagem. Loures: Lusociência, 2005.

ISBN: 978-972-8930-04-2.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

109

FORTIN, Marie-Fabienne – Fundamentos e etapas do processo de

investigação. Loures: Lusociência, 2006. ISBN: 978-989-8075-18-5.

GAMEIRO, Manuel - A Enfermagem Ciência e Arte… e a Investigação. Rev.

Referência. [Em linha]. Nº 10 (2003), p. 5-15. [Consultado em 20 Jun. 2014].

Disponível na WWW: <URL:

https://www.esenfc.pt/pa3/rr/index.php?module=rr&target=publicationDetails&

pesquisa=&id_artigo=39&id_revista=5&id_edicao=11>.

HESBEEN, Walter - Cuidar no hospital: enquadrar os cuidados de

enfermagem numa perspectiva de cuidar. Loures: Lusociência, 2000. ISBN:

972-8383-11-8.

INABA, Luciana; SILVA, Maria Júlia e TELLES, Sandra - Paciente crítico e

comunicação: visão de familiares sobre sua adequação pela equipe de

enfermagem. Rev. Escola de Enfermagem da USP. [Em linha]. Vol. 39, nº 4

(2005), p. 423-429. [Consultado em 17 Nov. 2014]. Disponível na WWW:

<URL: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v39n4/07.pdf>.

LEI n.º 111/2009. DR I Série.180 (2009/09/16) 6528-6550.

LOURENÇO, Liliana - Comunicação em enfermagem: que trajetos? Que

caminho? Nursing. Lisboa, ISSN 0871-6196. Nº 277 (2012), p. 22-27.

MACHADO, Margareth e ZAGONEL, Ivete – O processo de cuidar da

adolescente que vivencia a transição ao papel materno. Cogitare Enfermagem.

[Em linha]. Vol. 8, nº 2 (2003). [Consultado em 5 Jan. 2015]. Disponível na

WWW: <URL: http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/cogitare/article/view/1691>.

MARUITI, Marina e GALDEANO, Luiza - Necessidades de familiares de

pacientes internados em unidade de cuidados intensivos. Acta Paulista de

Enfermagem. [Em linha]. Vol. 30, nº1 (2007), p. 37-43. [Consultado em 7 Jul.

2014]. Disponível na WWW: <URL:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-

21002007000100007>.

MELEIS, Afaf - Transitions theory: middle-range and situation-specific

theories in nursing research and practice. New York: Springer Publishing

Company, 2010. ISBN: 978-0-8261-0535-6.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

110

MELEIS, Afaf [et al.] - Experiencing transitions: an emerging middle-range

theory. Advances in Nursing Science. [Em linha]. Vol. 23, nº 1 (2000), p. 12-

28. [Consultado em 15 Jan. 2015]. Disponível na WWW: <URL:

http://www.researchgate.net/publication/12352146_Experiencing_transitions_an

_emerging_middle-range_theory>.

MINISTÉRIO DA SAÚDE - Cuidados Intensivos: recomendações para o seu

desenvolvimento. Lisboa: Direção Geral da Saúde, 2003. ISBN: 972-675-097-

0.

MORGON, Fernanda e GUIRARDELLO, Edinêis – Validação da escala de

razão das necessidades de familiares em unidade de terapia intensiva. Rev.

Latino-Americana de Enfermagem. [Em linha]. Vol. 12, nº 2 (2004), p. 198-

203. [Consultado em 10 Jan. 2015]. Disponível na WWW: <URL:

http://www.scielo.br/pdf/rlae/v12n2/v12n2a08.pdf>.

MUNRO, Cindy e SAVEL, Richard - Communicating and connecting with

patients and their families. American Journal of Critical Care. Vol. 22, nº1

(2013), p. 3-6.

ORDEM DOS ENFERMEIROS – Regulamento do perfil de competências do

enfermeiro de cuidados gerais. [Em linha]. Lisboa: 2012. [Consultado em 25

Jun. 2014]. Disponível na WWW: <URL:

http://www.ordemenfermeiros.pt/publicacoes/Documents/divulgar%20-

%20regulamento%20do%20perfil_VF.pdf>.

PEREIRA, Maria Aurora - Comunicação de más notícias em saúde e gestão

do luto. Coimbra: Formasau, 2008. ISBN: 978-972-8485-92-4.

PHANEUF, Margot – Comunicação, entrevista, relação de ajuda e validação.

Loures: Lusociência, 2005. ISBN: 972-8383-84-3.

PHIPPS, Wilma; SANDS, Judith e MAREK, Jane – Enfermagem Médico-

Cirúrgica: conceitos e prática clínica. 6ª ed. Loures: Lusociência, 2003. ISBN:

972-8383-65-7.

POLIT, Denise; BECK, Cheryl e HUNGLER, Bernadette - Fundamentos de

pesquisa em Enfermagem: métodos, avaliação e utilização. 5ª ed. Porto

Alegre: Artmed, 2004. ISBN: 85-7307-984-3.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

111

REGULAMENTO nº 124/2011. DR II Série. 35 (2011/02/18) 8656-8657.

RILEY, Julia – Comunicação em Enfermagem. 4ª ed. Loures: Lusociência,

2000. ISBN: 972-8383-81-9.

ROSÁRIO, Elsa – Comunicação e cuidados de saúde: comunicar com o

doente ventilado em cuidados intensivos. Lisboa: Universidade Aberta, 2009.

Dissertação de mestrado.

SAIOTE, Elisabete - A percepção dos enfermeiros sobre a importância da

partilha de informação com os familiares numa unidade de cuidados

intensivos. Lisboa: Instituto Universitário de Lisboa, 2010. Dissertação de

mestrado.

SAIOTE, Elisabete e MENDES, Felismina - A partilha de informação com

familiares em unidade de tratamento intensivo: importância atribuída por

enfermeiros. Cogitare Enfermagem. [Em linha]. Vol. 16, nº 2 (2011), p. 219-

225. [Consultado em 1 Jul. 2014]. Disponível na WWW: <URL:

http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/cogitare/article/viewFile/21814/14224>.

SAMPIERI, Roberto; COLLADO, Carlos e LUCIO, Pilar - Metodologia de

pesquisa. 3ª ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2006. ISBN: 978-858-6804-93-9.

SANCHO, Marcos Gómez – Como dar las malas notícias en medicina. 2ª ed.

Madrid: Arán Ediciones, 2000. ISBN: 978-848-6725-39-6.

SANTOS, Kátia e SILVA, Maria – Percepção dos profissionais de saúde sobre a

comunicação com os familiares dos pacientes em UTI’s. Revista Brasileira de

Enfermagem. [Em linha]. Vol. 59, nº 1 (2006), p. 61-66. [Consultado em 1 Jul.

2014]. Disponível na WWW: <URL:

http://www.scielo.br/pdf/reben/v59n1/a12v59n1.pdf>.

SCHNEIDER, Ceci [et al.] - Comunicação na unidade de tratamento intensivo,

importância e limites: visão da enfermagem e familiares. Ciência, Cuidado e

Saúde. [Em linha]. Vol. 8, nº 4 (2009), p. 531-539. [Consultado em 1 Jul. 2014].

Disponível na WWW: <URL:

http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/view/9667/

5384>.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

112

SIDDIQUI, Shala; SHEIKH, Farheen e KAMAL, Rehana – What families want:

na assessment of family expections in the ICU. International Archives of

Medicine. [Em linha]. Vol. 4, nº 21 (2011), p. 1-5. [Consultado em 17 Jul.

2014]. Disponível na WWW: <URL:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3130654/pdf/1755-7682-4-

21.pdf>.

SILVA, Anabela - A pessoa em situação crítica em contexto de cuidados

intensivos: vivências da família. Viana do Castelo: Instituto Politécnico de

Viana do Castelo, Escola Superior de Saúde, 2012. Dissertação de mestrado.

SILVA, Lúcia [et al.] – Comunicação não-verbal: reflexões acerca da linguagem

corporal. Rev. Latino-Americana de Enfermagem. [Em linha]. Vol. 8, nº4

(2000), p. 52-58. [Consultado em 5 de Jan. 2015]. Disponível na WWW: <URL:

http://www.revistas.usp.br/rlae/article/viewFile/1483/1520>.

SILVEIRA, Rosemary [et al.] – Uma tentativa de humanizar a relação de equipe

de enfermagem com a família de pacientes internados na UTI. Texto &

Contexto Enfermagem. [Em linha]. Vol. 14, (2005), p. 125-130. [Consultado

em 1 Jul. 2014]. Disponível na WWW: <URL:

http://www.scielo.br/pdf/rbti/v20n4/v20n4a09>.

SLATORE, Christopher [et al.] – Communication by nurses in the intensive care

unit: qualitative analysis of domains of patient-centered care. American

Journal of Critical Care. [Em linha]. Vol. 21, nº 6 (2012). [Consultado em 30

Nov. 2014]. Disponível na WWW: <URL:

http://ajcc.aacnjournals.org/content/21/6/410.full.pdf+html>.

SOUZA, Maria de Lourdes [et al.] - O cuidado em enfermagem: uma

aproximação teórica. Texto & Contexto Enfermagem. [Em linha]. Vol. 14, nº

2 (2005), p. 266-270. [Consultado em 15 Maio 2014]. Disponível na WWW:

<URL: http://www.scielo.br/pdf/tce/v14n2/a15v14n2.pdf>.

STEFANELLI, Maguida e CARVALHO, Emília - A comunicação nos

diferentes contextos da enfermagem. São Paulo: Manole, 2005. ISBN: 85-

204-2196-2.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

113

STREUBERT, Helen e CARPENTER, Dona – Investigação qualitativa em

enfermagem: avançando o imperativo humanista. 2ª ed. Loures: Lusociência,

2002. ISBN 972-8383-29-0.

URIZZI, Fabiane [et al.] - Vivência de familiares internados em unidades de

terapia intensiva. Rev. Brasileira de Terapia Intensiva. [Em linha]. Vol. 20, nº

4 (2008), p. 370-375. [Consultado em 5 Jun. 2014]. Disponível na WWW:

<URL: http://www.scielo.br/pdf/rbti/v20n4/v20n4a09>.

WATSON, Jean - Enfermagem: ciência humana e cuidar, uma teoria de

enfermagem. 1ª ed. Loures: Lusociência, 2002. ISBN: 978-972-8383-33-6.

WRIGHT, Lorraine e LEAHEY, Maureen - Enfermeiras e famílias: um guia

para avaliação e intervenção na família. 3ª ed. São Paulo: Roca, 2002. ISBN:

978-857-2413-46-6.

ZAGONEL, Ivete – O cuidado humano transicional na trajetória de

enfermagem. Rev. Latino-Americana de Enfermagem. [Em linha]. Vol. 7, nº

3 (1999), p. 25-32. [Consultado em 30 Jul. 2014]. Disponível na WWW: <URL:

http://www.scielo.br/pdf/rlae/v7n3/13473.pdf>.

ZUSSMAN, Robert – Intensive Care: medical ethic and the medical

profession. Chicago: University of Chicago Press, 1992. ISBN: 978-022-6996-

35-6.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

114

ANEXOS

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

115

ANEXO I

Autorização do Conselho de Administração para a realização do estudo

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

116

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

117

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

118

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

119

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

120

APÊNDICES

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

121

APÊNDICE A

Guião da Observação Participante

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

122

GUIÃO DA OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

OBJETIVO ASPETOS A OBSERVAR

Compreender o processo de

comunicação enfermeiro-família

numa Unidade de Cuidados

Intensivos

O modo como o enfermeiro

comunica com a família do doente;

A comunicação verbal, a

comunicação não-verbal e as atitudes

comunicacionais do enfermeiro;

O tipo de informação proporcionada

pelos enfermeiros aos familiares;

O local e o ambiente da interação.

Momentos de observação: Turnos da tarde, no período da visita (16h-20h)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

123

APÊNDICE B

Guião da Entrevista aos Enfermeiros

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

124

Guião da entrevista aos enfermeiros

Entrevista nº: Data:

I Parte – Acolhimento

Objetivo: Informar o

entrevistado

Identificação do investigador;

Informar acerca do tema e dos objetivos

do estudo;

Garantir a confidencialidade e o

anonimato;

Solicitar autorização para a participação

no estudo e gravação da entrevista.

II Parte – Caracterização do entrevistado

Objetivo: Caracterizar o

entrevistado

Idade:

Género:

Formação académica:

Tempo de serviço:

Tempo de serviço em Cuidados

Intensivos:

III Parte: Objetivos/Questões orientadoras

OBJETIVOS ESPECÍFICOS QUESTÕES ORIENTADORAS

Descrever a informação

proporcionada pelos

enfermeiros da UCI aos

familiares;

Que tipo de informações fornece aos

familiares?

Identificar os aspetos

significativos no processo de

comunicação enfermeiro-

família, numa UCI;

O que considera mais significativo no

processo de comunicação enfermeiro-

família, em cuidados intensivos?

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

125

Identificar os fatores

facilitadores e dificultadores

da comunicação enfermeiro-

família em cuidados

intensivos.

Na sua opinião, quais são os fatores que

facilitam a comunicação enfermeiro-

família, numa UCI?

Quais as dificuldades sentidas quando

comunica com a família do doente?

Recorda-se de alguma situação em que

não conseguiu informar/responder às

questões do familiar? Pode descrever

essa situação?

IV Parte – Fecho da entrevista

Agradecer a colaboração do entrevistado e referir a importância da sua

participação no estudo;

Resumir os aspetos essenciais abordados ao longo da entrevista;

Dar a oportunidade ao entrevistado de acrescentar mais alguma informação que

tenha ficado por referir durante a entrevista.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

126

APÊNDICE C

Guião da Entrevista aos Familiares

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

127

Guião da entrevista aos familiares

Entrevista nº: Data:

I Parte – Acolhimento

Objetivo: Informar o

entrevistado

Identificação do investigador;

Informar acerca do tema e dos objetivos do

estudo;

Garantir a confidencialidade e o anonimato;

Solicitar autorização para a participação no

estudo e gravação da entrevista.

II Parte – Caracterização do entrevistado

Objetivo:

Caracterizar o

entrevistado

Idade:

Género:

Grau de parentesco:

Profissão:

Habilitações literárias:

III Parte: Objetivos/Questões orientadoras

OBJETIVOS ESPECÍFICOS QUESTÕES ORIENTADORAS

Identificar as

necessidades de

informação sentidas

pela família do

doente em cuidados

intensivos;

Qual a sua opinião sobre a informação

transmitida pelos enfermeiros? Da informação

transmitida qual foi a mais importante?

Na transmissão de informação considera a

linguagem utilizada pelos enfermeiros

percetível?

Considera importante a realização de um

acolhimento familiar na primeira visita ao

doente? Porquê?

Identificar os aspetos

significativos no

O que considera mais significativo no processo

de comunicação enfermeiro-família, em

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

128

processo de

comunicação

enfermeiro-família,

numa UCI;

cuidados intensivos?

Identificar os fatores

facilitadores e

dificultadores da

comunicação

enfermeiro-família

em cuidados

intensivos.

Para si, quais os fatores que facilitam e

dificultam a comunicação entre a família e o

enfermeiro, na UCI?

IV Parte – Fecho da entrevista

Agradecer a colaboração do entrevistado e referir a importância da sua

participação no estudo;

Resumir os aspetos essenciais abordados ao longo da entrevista;

Dar a oportunidade ao entrevistado de acrescentar mais alguma informação que

tenha ficado por referir durante a entrevista.

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

129

APÊNDICE D

Declaração de Consentimento Informado entregue aos participantes

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

130

DECLARAÇÃO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

Designação do estudo: A Comunicação com a Família em Cuidados Intensivos.

Eu, __________________________________________________________________,

declaro ter compreendido a explicação que me foi fornecida acerca da investigação que

se tenciona realizar, tendo-me sido dada a oportunidade de colocar as perguntas que

considerei necessárias, das quais obtive resposta satisfatória.

A informação que me foi prestada versou os objetivos, os procedimentos, os benefícios

previstos e os potenciais riscos do estudo, sendo-me garantidos o anonimato e a

confidencialidade dos dados obtidos. Além disso, foi-me afirmado que tenho o direito

de recusar a todo o tempo a minha participação no estudo, sem que isso possa prejudicar

a prestação dos cuidados de saúde.

Por isso, aceito participar no referido estudo, respondendo às questões que me forem

colocadas pelo investigador, durante a entrevista.

Porto, _____ de _______________ de 2014

Assinatura do participante: ___________________________________________

Assinatura da investigadora: __________________________________________

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

131

APÊNDICE E

Análise de Conteúdo

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

132

ÁREA TEMÁTICA CATEGORIAS SUBCATEGORIAS UNIDADES DE REGISTO

Modos de

comunicação

enfermeiro-família

Verbal

Utilizar linguagem

adequada

“ (…) utiliza frases simples e curtas.” (O1)

“Utiliza um discurso simples e claro.” (O2)

“Utiliza termos correntes para os familiares perceberem.” (O3)

“ (…) não recorre a termos técnicos…” (O4)

“Fala de forma clara e simples.” (O6)

“ (…) utilizando uma linguagem corrente…” (O8)

“Comunica de forma simples e clara, não utilizando termos técnicos.” (O9)

Não-verbal

Expressão facial “ (…) sorri quando aborda os familiares.” (O4)

“Sorri enquanto fala…” (O6)

“Sorri…” (O7)

“ (…) esboça um sorriso para o familiar...” (O8)

“Sorri enquanto fala com os familiares…” (O9)

“Retira a máscara facial para comunicar com os familiares.” (O9)

Contacto visual “ (…) estabelece contacto visual com os familiares.” (O1)

“ (…) mantém o contacto visual ao longo da comunicação.” (O2)

“Olha para os familiares enquanto fala...” (O3)

“Conversa com os familiares, estabelecendo contacto visual.” (O4)

“Estabelece contacto visual quando aborda o familiar.” (O5)

“Quando se dirige aos familiares olha para eles...” (O6)

“Estabelece contacto visual com os familiares.” (O7)

“Estabelece contacto visual quando se dirige ao familiar.” (O8)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

133

“Mantém o contacto visual enquanto fala com a família.” (O9)

Postura corporal “ (…) fala de frente para os familiares.” (O2)

“ (…) comunica com o corpo virado de frente para o familiar.” (O4)

“Fala com o corpo virado para os familiares.” (O5)

“ (…) coloca-se de frente para os familiares enquanto fala.” (O6)

“Fala de frente para os familiares…” (O7)

“ (…) mantém o corpo virado para os familiares enquanto fala com eles.” (O8)

“ (…) parou a preparação da medicação para falar com os familiares, não fazendo as duas coisas ao

mesmo tempo.” (O9)

Toque “…toca suavemente no braço do familiar.” (O2)

“A enfermeira coloca-lhe a mão no ombro…” (O6)

“Coloca a mão sobre o ombro da familiar, tranquilizando-a…” (O9)

Recurso à

paralinguística

“Fala pausadamente (…) com um tom de voz suave…” (O2)

“ (…) explica a situação, fazendo pausas entre as frases…” (O3)

“Fala num tom de voz baixo e pausadamente.” (O6)

“Comunica num tom de voz baixo, com um ritmo constante.” (O7)

“Utiliza um tom de voz suave, com um ritmo constante.” (O8)

“Fala pausadamente, com um tom de voz suave.” (09)

Atitudes

comunicacionais

Suporte emocional “Eu sei que é difícil, mas têm de ser fortes e pacientes. O caso é grave, devem ter uma perspetiva

realista da situação, mantendo sempre a esperança, é claro. Nós estamos a fazer tudo ao nosso

alcance para o tratar”. (O2)

“Agora também precisam de descansar. Não se preocupem, vamos tratar dele.” Dá exemplos de

situações que correram bem.” (O3)

“A enfermeira afirma que é bom sinal e dá uma perspetiva positiva da situação. Refere que as

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

134

coisas estão a evoluir e que ele está a melhorar.” (O4)

“Está tudo dentro da normalidade, não se preocupem com os valores. Nós é que temos de nos

preocupar com isso.” (O5)

“A enfermeira refere que vai correr tudo bem. (“ele está a ficar melhor, leva é tempo…”).” (O6)

“O nosso principal objetivo é o conforto da doente.” (O7)

“É normal que ela leve algum tempo a acordar, até que a medicação seja eliminada pelo

organismo.” (O8)

“Não se assuste se ele tossir ou se mexer, é normal. Estamos a tratar dele.” A enfermeira refere à

familiar que ela precisa de descansar e que o doente não a quer ver assim triste. Pergunta se não

quer ir até la fora se acalmar e depois voltar a entrar. Quando a familiar volta a entrar, a enfermeira

pergunta se ela está melhor ou se precisa de alguma coisa.” (O9)

Disponibilidade/

Abertura

“A enfermeira dirige-se até à familiar. No final pergunta ao familiar se tem alguma dúvida.” (O1)

“A enfermeira pergunta se querem colocar mais alguma questão.” (O2)

“A enfermeira vai de encontro aos familiares (…) Ao despedir-se pergunta se têm mais alguma

questão ou se ficaram com dúvidas (“Disponham, estamos aqui para o que precisarem…o que for

preciso nós fazemos.”).” (O3)

“A enfermeira dirige-se aos familiares. Refere que podem estar à vontade e que se necessitarem de

alguma coisa ela está ali ao lado.” (O4)

“Dirige-se aos familiares (…) Mostra-se disponível dizendo “estou aqui para o que precisarem”.

(O6)

“A enfermeira vai de encontro aos familiares. Ao terminar pergunta se querem colocar mais alguma

questão.” (O7)

“O enfermeiro termina o que estava a fazer e dirige-se ao familiar (…) Pergunta se querem colocar

mais alguma questão. Refere que está sempre presente um médico e um enfermeiro para os

informar.” (O8)

“Pergunta se ficaram com dúvidas ou se querem perguntar mais alguma coisa (“Fiquem à

vontade…se precisarem de alguma coisa eu estou por aqui.”).” (O9)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

135

Escuta ativa “Demonstra interesse no discurso dos familiares…faz perguntas.” (O3)

“Escuta-os atentamente enquanto falam e demonstra interesse no que dizem.” (O6).

“Escuta o que a família diz, demonstrando atenção e interesse.” (O9)

Estar presente “ (…) junto do doente.” (O1)

“Dirigem-se para o lado do doente…” (O2)

“A informação é dada junto do doente.” (O3)

“ (…) encontram-se junto do doente…” (O4)

“A comunicação é estabelecida junto da doente.” (O5)

“ (…) que se encontram junto do doente.” (O6)

“ (…) encontram-se ao lado da doente.” (O7)

“Informa os familiares junto do doente.” (O8)

“Comunicam ao lado do doente.” (O9)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

136

ÁREA

TEMÁTICA CATEGORIAS SUBCATEGORIAS UNIDADES DE REGISTO

Âmbito da

informação

proporcionada

pelos enfermeiros

à família

Situação clínica do

doente

Estado clínico/Evolução “Informo os familiares sobre o estado clínico do doente…” (E1)

“Sobre o estado clínico do doente…” (E2)

“Dou informações sobre o estado clínico do doente…” (E3)

“Informo sobre o estado clínico do doente…” (E4)

“Tudo sobre o estado clínico do doente, no que respeita à parte médica e de enfermagem.”

(E5)

“Dou informações sobre o estado clínico do doente e a sua evolução…” (E6)

“Sobre o estado clínico do doente, principalmente.” (E7)

“Informo sobre o estado clínico do doente…” (E8)

“Informo-os acerca do estado clínico do doente e das alterações que ocorreram nas últimas

24h…se fez febre...” (E9)

“Refere que a doente mantém o mesmo estado e que não ocorreram alterações desde o dia

anterior. Reforça que a doente se encontra, consciente, confortável, sem dores e sem febre…”

(O1)

“A enfermeira menciona que o doente mantém o mesmo estado clínico e que muitas vezes não

têm novidades para dar à família (“ainda está em coma induzido (…) e mantém a

instabilidade.”)” (O2)

“Explica o estado clínico do doente...” (O3)

“Faz referência ao estado clínico do doente e à sua evolução (“ele já está mais acordado hoje,

já responde ao que perguntamos.”)” (O4)

“Explica o estado clínico actual do doente (“ela tem oscilações da consciência…por vezes

abre os olhos a pedido e aperta a nossa mão, mas tem momentos em que não responde nem

obedece a ordens”).” (O5)

“Informa sobre o estado clínico do doente (“ele está acordado…responde ao que

perguntamos”).” (O6)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

137

“Informa sobre o estado clínico da doente (“ela hoje está mais acordada…mexe-se mais, por

isso é que está novamente com o colar cervical, não é por nada de novo, não se preocupem”).

Refere que a doente por vezes demonstra desconforto, principalmente quando é

mobilizada…” (O7)

“Menciona que mantém o mesmo estado clínico do dia anterior.” (O9)

Exames de diagnóstico “Informo os familiares sobre (…) os exames realizados…” (E1)

“Informo-os sobre (…) os exames e resultados de análises clínicas relevantes.” (E2)

“Dou informações sobre (…) os exames realizados e/ou programados…” (E6)

“Informo-os acerca (…) dos exames realizados…” (E9)

“Refere que os médicos estão a pensar marcar uma TAC à barriga…” (O1)

“Informa sobre (…) os exames que realizou…” (O3)

“Explica (…) os exames realizados (“por isso é que estamos a fazer um EEG contínuo, para

percebermos se existem alterações da actividade cerebral que justifiquem este estado de

consciência.”).” (O5)

“O enfermeiro comunica o resultado da TAC…” (O8)

Medicação “Informo sobre (…) a medicação em perfusão, no caso de ter suporte de aminas…” (E2)

“Informo-os acerca (…) da medicação…” (E9)

“Refere a medicação que tem em perfusão (“ainda precisa de medicação para subir as

tensões”). (O2)

“Informa sobre (…) a medicação que tem em perfusão…” (O3)

“Explica que a doente tem em perfusão medicação para as dores e que também já está a fazer

medicação para baixar a febre”. (O7)

“O enfermeiro explica a medicação que a doente tem em perfusão (“já reduzimos a medicação

e agora aguardamos que ela acorde”).” (O8)

“A enfermeira diz que o doente está sob o efeito de uma medicação para o deixar calmo e

confortável, e não a dormir profundamente.” (O9)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

138

Prognóstico “Informo os familiares sobre (…) o prognóstico…” (E1)

“Explica o prognóstico da doente (“aguardamos que ela acorde, mas há a possibilidade de ela

não acordar e ficar num estado vegetativo”).” (O5)

Tratamento “Informo os familiares sobre (…) o tratamento adoptado.” (E1)

“Informa sobre (…) o tratamento adoptado.” (O3)

“Menciona que vai ao bloco operatório no dia seguinte corrigir as fracturas da face.” (O6)

“Informa que está prevista uma ida ao bloco dentro de 3 dias, para intervenção do coto de

amputação.” (O7)

“Refere também qual será o tratamento em função da melhoria da TAC.” (O8)

“A enfermeira informa que após a observação do ortopedista, o doente terá de ir novamente ao

bloco operatório.” (O9)

Funcionamento do

serviço

“Informo sobre (…) e o funcionamento do serviço.” (E3)

“Informo acerca (…) e do funcionamento do serviço, apenas na primeira visita.” (E4)

“Dou informações sobre (…) e o funcionamento da unidade, sempre que necessário.” (E6)

Estratégias para

comunicar com o

doente

“Digo também aos familiares que podem tocar no doente, como forma de reduzir a sua

ansiedade.” (E1)

“Informa o familiar que pode falar com o doente.” (O4)

“Refere que podem tocar e falar com o doente.” (O9)

A solicitada “Mas só respondo ao que me perguntam…” (E5)

“Respondo a tudo o que os familiares questionarem, desde que possua a informação que

pretendem.” (E8)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

139

ÁREA TEMÁTICA CATEGORIAS UNIDADES DE REGISTO

Opinião da família

sobre a informação

transmitida pelos

enfermeiros

Boa “É muito boa…” (F1)

“É boa…” (F3)

“É muito boa.” (F6)

“É boa.” (F7)

“É boa.” (F8)

“É boa…” (F9)

Satisfaz “ (…) estou muito satisfeito.” (F1)

“Estou muito satisfeita com a informação prestada pelos enfermeiros desta UCI e a maneira como nos tratam, não

tenho nada a apontar. Por mim, ele ficava aqui até ir para casa.” (F2)

“ (…) estou satisfeito.” (F3)

“ (…) estou muito satisfeito.” (F9)

“Estou totalmente satisfeita com a vossa prestação. Este é um serviço que acolhe os familiares e que nos transmite

segurança, que não senti noutros serviços. (F10)

Positiva “É positiva.” (F4)

“É muito positiva, sempre fui bem informada.” (F5)

Percetível “Considero que a linguagem dos enfermeiros é perceptível.” (F1)

“Percebo o que me dizem.” (F2)

“Sim, é perceptível.” (F3)

“Sim, percebo o que os enfermeiros dizem.” (F4)

“Compreendo a informação transmitida.” (F5)

“Considero a linguagem perceptível.” (F6)

“Sim, compreendo o que dizem.” (F8)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

140

“Sim, é perceptível.” (F9)

“Considero a vossa linguagem bastante perceptível.” (F10)

Pouco percetível “Ás vezes usam termos técnicos que não se percebem tão bem.” (F7)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

141

ÁREA TEMÁTICA CATEGORIAS UNIDADES DE REGISTO

Necessidades de

informação sentidas pela

família

Estado clínico/Evolução “Para mim, o mais importante é saber informações sobre o estado clínico da doente e a sua evolução.” (F1)

“Sobre o estado clínico e evolução do doente.” (F2)

“Acerca da evolução clínica do doente.” (F3)

“Sobre a evolução do estado do doente.” (F4)

“Considero importantes as informações acerca do estado de saúde do doente principalmente…” (F5)

“Relativamente ao estado de saúde do doente.” (F6)

“Acerca da evolução da doente.” (F7)

“Tudo o que esteja relacionado com o estado clínico da minha mãe.” (F8)

“As alterações que aconteceram nas últimas 24h.” (F9)

“Na minha opinião é importante receber informações sobre o estado clínico do doente…” (F10)

Procedimentos “Considero importantes as informações acerca (…) dos procedimentos realizados…” (F5)

“Para mim é importante receber informações sobre (…) os procedimentos efetuados.” (F10)

Medicação “Considero importantes as informações acerca (…) da medicação que está a fazer…” (F5)

Exames de diagnóstico “Considero importantes as informações acerca (…) dos exames realizados.” (F5)

“Para mim é importante receber informações sobre (…) os exames realizados ou programados…” (F10)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

142

ÁREA

TEMÁTICA CATEGORIAS SUBCATEGORIAS UNIDADES DE REGISTO

Aspetos

significativos do

processo de

comunicação

enfermeiro-família

Comunicação não-

verbal

Postura corporal “Considero importante a comunicação não-verbal do enfermeiro (…) falar de frente para a

família...” (E1)

“ (…) falarem de frente para nós quando transmitem a informação.” (F3)

“A postura que o enfermeiro adopta ao transmitir a informação também é um aspecto

importante…” (F10)

Contacto visual “Considero importante a comunicação não-verbal do enfermeiro (…) manter o contacto visual...”

(E1)

“ (…) manter o contacto visual durante o diálogo.” (F10)

Toque “É importante (…) tocar quando necessário.” (E1)

Atitudes

comunicacionais

Dar atenção “Demonstrar atenção (…) e dar importância ao familiar.” (E2)

“A atenção e o carinho demonstrados…” (F5)

Ser simpático “Demonstrar simpatia...” (E2)

Proporcionar segurança “Demonstrar segurança e confiança à família quando se transmite a informação.” (E3)

Estabelecer empatia “A relação de empatia que se cria com os familiares…penso sempre como gostaria que me

tratassem se fosse eu.” (E2)

“É importante conseguir criar empatia com o familiar…” (E6)

“Para mim o mais importante é a relação de empatia que estabelecemos com a família.” (E7)

“Estabelecer uma relação de empatia com a família é essencial.” (E8)

“O mais importante é a capacidade de estabelecer uma relação de empatia com os familiares.” (E9)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

143

“A capacidade do enfermeiro se colocar no lugar do familiar e perceber o que o familiar precisa,

se tem recursos para lidar com a situação.” (F10)

Demonstrar

disponibilidade

“ (…) a disponibilidade do enfermeiro.” (E1)

“ (…) demonstrarmo-nos disponíveis…” (E2)

Dar apoio “É importante que o enfermeiro apoie o familiar.” (F9)

Conteúdo da

informação

Avaliar a compreensão

da informação

transmitida

“ (…) percebermos se o familiar compreendeu o que lhe foi transmitido.” (E4)

“É importante perceber se os familiares compreenderam a informação que lhes foi transmitida.”

(E5)

“É importante perceber o que os familiares já sabem…” (E6)

Linguagem adequada “É importante falar de uma forma simples…” (E5)

“É fundamental adaptar a forma de transmissão da informação à capacidade de compreensão dos

familiares e ao seu estado emocional no momento.” (E6)

“ (…) a forma como adequa a informação.” (F1)

“A informação transmitida e a sua adequação.” (F6)

“As informações que transmitem e a forma como as adequam a nós.” (F7)

“O mais importante é entendermos o que vocês dizem.” (F9)

“Há o cuidado de chegar às pessoas e adequar a informação aos seus recursos linguísticos.” (F10)

Sinceridade “A sinceridade do profissional…” (F1)

“É importante que o enfermeiro explique o que se está a passar com o doente, sendo sempre

sincero.” (F9)

Informação prévia à

primeira visita

“Considero que é muito importante porque as pessoas já vêm a contar com o que vão encontrar.”

(F1)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

144

“Sim, é importante porque é preferível receber todas as informações antes de ver o doente.” (F2)

“ (…) para nos preparar para o que vamos ver.” (F3)

“Prepara-nos para o que vamos encontrar (…) É importante porque falamos com o médico e com o

enfermeiro, facilitando a nossa interação.” (F4)

“ (…) ajuda a reduzir a nossa ansiedade.” (F5)

“É importante para nos explicar como as coisas são e o que vamos encontrar.” (F6)

“Acho que é importante para nos informar acerca do estado dela e saber o que vamos encontrar.”

(F7)

“ (…) para sabermos o que vamos encontrar, diminuindo a nossa ansiedade.” (F8)

“ (…) prepara-nos para o choque.” (F9)

“Considero o acolhimento fundamental…prepara-nos para o choque e ficamos a saber como vamos

encontrar o doente, além de nos dar suporte para enfrentarmos a situação.” (F10)

Não especifica “ (…) a informação que transmitimos acerca do doente.” (E3)

“A informação transmitida.” (F2)

“A informação fornecida.” (F3)

“As informações que dão...” (F4)

“ (…) a par com a informação clínica.” (F5)

“A informação que transmitem.” (F8)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

145

ÁREA

TEMÁTICA CATEGORIAS SUBCATEGORIAS UNIDAES DE REGISTO

Fatores que

facilitam a

comunicação

enfermeiro-

família

Relacionados com

o familiar

Capacidade de

compreensão da

informação

“ (…) a compreensão e aceitação da informação que transmitimos.” (E3)

“Compreensão por parte da família...” (E5)

“ (…) a capacidade de compreensão e absorção da informação por nós fornecida.” (E7)

“A capacidade de compreensão da informação por parte dos familiares…” (E9)

“A capacidade de compreensão da informação por parte do familiar.” (F1)

Tranquilidade “O facto de os familiares estarem tranquilos facilita a comunicação.” (E7)

“Quando os familiares estão menos ansiosos, a comunicação estabelece-se mais facilmente…” (F5)

Recetividade “A postura recetiva do familiar influencia de forma positiva a comunicação.” (E2)

Relacionados com

o enfermeiro

Experiência profissional “ (…) quanto maior a experiência profissional, mais facilidade temos em comunicar com a família.”

(E8)

Conhecimento sobre o

doente/ família

“É importante conhecer bem o doente…” (E3)

“O facto de o enfermeiro conhecer bem o doente e os familiares, por ter sido ele a fazer o acolhimento

familiar ou porque costuma prestar cuidados àquele doente…” (E6)

“Quando prestamos cuidados ao mesmo doente durante vários turnos permite-nos conhecer melhor o

doente e a sua família, facilitando a comunicação.” (E8)

“Quando conhecemos bem o doente, a comunicação com a família é mais fácil.” (E9)

Aceitação do estado do

doente

“A aceitação da nossa parte do estado do doente facilita a transmissão da informação...” (E3)

Relação de empatia “Demonstrar empatia…” (E4)

“Criar uma relação de empatia com a família…” (E6)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

146

Adequar a linguagem “ (…) a clareza e simplicidade da informação que os enfermeiros transmitem.” (E5)

“A capacidade do enfermeiro para adaptar o discurso ao nível de compreensão dos familiares.” (E6)

“A maneira simples e clara como os enfermeiros falam, como expõem os problemas do doente.” (F4)

“A capacidade do enfermeiro para descodificar a informação e adequá-la ao familiar.” (F10)

Estar disponível “ (…) a disponibilidade por parte dos enfermeiros.” (E3)

“A disponibilidade dos enfermeiros.” (F3)

“ (…) os enfermeiros estão sempre disponíveis para falar connosco.” (F5)

“O enfermeiro mostrar-se recetivo e disponível.” (F6)

“A disponibilidade do enfermeiro.” (F7)

“A postura dos enfermeiros, mostrarem-se disponíveis e darem-nos apoio.” (F8)

“A disponibilidade dos enfermeiros.” (F9)

Capacidade de identificar

as necessidades do

familiar

“A capacidade de perceber o que o familiar precisa naquele momento…se espaço, silêncio, mais

informação, suporte, esperança ou conforto.” (F10)

Relacionados com a

dinâmica da UCI

Ambiente calmo “ (…) um ambiente calmo na unidade facilita a comunicação com o familiar.” (E1)

“ (…) é importante um ambiente silencioso…” (E3)

Menor carga de trabalho “ (…) termos uma menor carga de trabalho facilita a comunicação com a família.” (E1)

“ (…) uma menor carga de trabalho permite-nos ter mais tempo para a família.” (E6)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

147

ÁREA TEMÁTICA CATEGORIAS SUBCATEGORIAS UNIDADES DE REGISTO

Fatores que

dificultam a

comunicação

enfermeiro-família

Centrados no familiar Falta de compreensão da

informação

“A falta de compreensão da informação por parte dos familiares.” (E1)

“ (…) falta de compreensão da informação…” (E3)

“Falta de capacidade da família para compreender o que dizemos.” (E7)

“A falta de compreensão da informação que transmitimos dificulta a comunicação…” (E9)

“A falta de compreensão da informação por parte dos familiares.” (F1)

Ansiedade “Ansiedade do familiar perante o doente e a procura incessante de informação...” (E2)

“Um estado de maior ansiedade do familiar dificulta a nossa comunicação.” (E7)

“O estado de ansiedade de alguns familiares.” (E9)

Centrados no

enfermeiro

Falta de disponibilidade

“A falta de disponibilidade dos enfermeiros.” (F3)

“A falta de disponibilidade do enfermeiro.” (F7)

“A falta de disponibilidade dos enfermeiros para falar connosco…” (F9)

“A falta de disponibilidade mental por parte do enfermeiro…” (E3)

“ (…) por vezes a falta de disponibilidade e paciência, da nossa parte, para falar com os

familiares.” (E5)

“Nem sempre tenho a mesma disponibilidade para falar com os familiares…nos dias em que

estou mais bem-disposta tenho mais paciência para eles.” (E6)

Dificuldade em adequar a

informação

“Não ter a capacidade de transmitir a informação de forma a ser compreendida pela família.”

(E4)

“O uso de muitos termos técnicos…” (F4)

“A ausência de capacidade para descodificar a informação e adequá-la ao familiar.” (F10)

Dificuldade em avaliar as

necessidades do familiar

“A ausência da capacidade de perceber o que o familiar precisa naquele momento…se

espaço, silêncio, mais informação, suporte, esperança, conforto.” (F10)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

148

Postura defensiva “A adoção de uma postura defensiva por parte do enfermeiro dificulta a comunicação” (F10)

Comunicação de más

notícias

“Quando temos de transmitir más notícias é mais difícil comunicar com os familiares.” (E3)

“A transmissão de más notícias é uma situação em que é difícil informar os familiares.

Houve uma situação grave em que sofri ao dar-lhes aquelas informações…saí daqui a

chorar.” (E4)

“Saber o que devo transmitir quando a situação é grave…” (E5)

“Nas situações de transmissão de más notícias tenho mais dificuldade em comunicar com os

familiares…” (E7)

“ (…) a comunicação de más notícias no acolhimento familiar.” (E8)

Falta de conhecimento

sobre o doente

“Ter poucos conhecimentos acerca do doente complica a comunicação com a família” (E8)

“Quando não conheço bem o doente, por estar com ele a primeira vez…” (E9)

Âmbito da informação “Quando fazem perguntas de resultados de exames, dos quais já temos conhecimento mas o

médico ainda não os informou.” (E1)

“A expressão mantém o mesmo estado e o facto de muitas vezes não termos informações

novas para dar aos familiares.” (E2)

“Quando temos conhecimento de uma informação do estado clínico do doente e que ainda

não foi transmitida à família, pela parte médica.” (E3)

“Quando os familiares nos perguntam resultados de exames e nós ainda não tivemos acesso

à informação.” (E4)

“ (…) situações graves que necessitam da transmissão de informação por parte dos

médicos.” (E5)

“Quando os familiares querem respostas e prognósticos e nós não sabemos se vai correr bem

ou mal (…) situações em que não há consenso por parte da equipa médica acerca da

evolução e tratamento do doente.” (E6)

“Quando os familiares nos fazem perguntas sobre aspectos médicos, como o resultado de

exames ou análises.” (E7)

A Comunicação com a Família em Contexto de Cuidados Intensivos

149

“Quando não possuímos a informação que os familiares pretendem. Por exemplo, nas

situações em que não tenho oportunidade de consultar o processo do doente para saber

resultados de análises ou exames.” (E8)

“Quando os familiares nos pedem informações às quais ainda não tivemos acesso. Por

exemplo, resultados de exames ou análises, exames a programar.” (E9)

Centrados na dinâmica

da UCI

Sobrecarga de trabalho “Uma elevada carga de trabalho que leva ao cansaço do enfermeiro.” (E3)

“ (…) tempo insuficiente para estar com a família devido ao excesso de trabalho.” (E5)

“A falta de tempo provocada pela sobrecarga de trabalho…” (E6)

“ (…) o excesso de trabalho.” (E7)

“ (…) a sobrecarga de trabalho.” (F1)

“Quando os enfermeiros têm excesso de trabalho não têm tanto tempo para nós…” (F9)

Ambiente ruidoso “ (…) um ambiente ruidoso dificulta a nossa comunicação com a família.” (E2)

“ (…) um ambiente ruidoso...” (E3)

“O ambiente confuso da unidade que muitas vezes nos impede de comunicar com a família

sem interrupções.” (E6)

Ausência de privacidade “As unidades dos doentes são muito próximas umas das outras e nem sempre temos a

privacidade que desejávamos para falar com a família...principalmente quando as notícias

não são boas.” (E2)

“ (…) a falta de privacidade quando comunicamos com os familiares.” (E6)