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ROSÂNGELA COSTA ALVES A COMUNICAÇÃO ENTRE INTEGRADORA E INTEGRADOS: O CASO DA AGROINDÚSTRIA SUINÍCOLA NO MEIO-OESTE CATARINENSE Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Curso de Extensão Rural, para obtenção do título de “Magister Scientiae”. VIÇOSA MINAS GERAIS - BRASIL DEZEMBRO - 1999

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ROSÂNGELA COSTA ALVES

A COMUNICAÇÃO ENTRE INTEGRADORA E INTEGRADOS: O CASO DAAGROINDÚSTRIA SUINÍCOLA NO MEIO-OESTE CATARINENSE

Tese apresentada à UniversidadeFederal de Viçosa, como parte dasexigências do Curso de ExtensãoRural, para obtenção do título de“Magister Scientiae”.

VIÇOSAMINAS GERAIS - BRASIL

DEZEMBRO - 1999

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ROSÂNGELA COSTA ALVES

A COMUNICAÇÃO ENTRE INTEGRADORA E INTEGRADOS: O CASO DAAGROINDÚSTRIA SUINÍCOLA NO MEIO-OESTE CATARINENSE

Tese apresentada à UniversidadeFederal de Viçosa, como parte dasexigências do Curso de ExtensãoRural, para obtenção do título de“Magister Scientiae”.

APROVADA: 27 de maio de 1999.

Marília Fernandes Maciel Gomes Antônio do Carmo Neves

Geraldo Magela Braga José Benedito Pinho(Conselheiro) (Conselheiro)

José Geraldo Fernandes de Araújo(Orientador)

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A meu marido Sergio, pelo constante incentivo.

A meus filhos Marcel e Marina, pelo carinho e pela alegria.

A meus pais Acir e Neuza, pela vida.

A minha avó materna (in memoriam), pelo conforto e pelo amor.

A meus sogros Rubem Alves (in memoriam) e Thalita,

pelo aconchego.

A meus irmãos Rosi, Estela, Rosana e Eugênio,

pela amizade.

A meus sobrinhos.

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iii

AGRADECIMENTO

A Deus, Força Cósmica e Criadora.

À Universidade Federal de Viçosa (UFV) e a todos os professores e

funcionários do Departamento de Economia Rural.

Ao CNPq, que viabilizou a realização do curso de Mestrado.

A Hélder Machado, Diretor da Secretaria de Agricultura, e a Idair Piccinin,

Secretário Municipal de Agricultura da Prefeitura de Concórdia, pelo valioso

auxílio durante a coleta de dados.

Ao professor orientador José Geraldo Fernandes de Araújo, pela amizade

e pela orientação.

Ao Comitê de Orientação.

Em especial, a Antônio Lourenço Guidoni, pesquisador da Embrapa-

Suínos e Aves, e à Marília Fernandes Maciel Gomes, professora da UFV.

A todos os colegas da turma de Mestrado em Extensão Rural.

Aos produtores rurais de Santa Catarina entrevistados.

Aos amigos Esmeralda Thomás Afonso, Dr. Evandro Oliveira e Cândida,

Antonio Freitas e Maria do Carmo, Luiz Albino e Vanja.

A Marcelo Silva de Freitas, estudante de graduação em Zootecnia.

A todos que me ajudaram anonimamente, para que chegasse ao término

de meu curso.

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iv

BIOGRAFIA

ROSÂNGELA COSTA ALVES, filha de Acir Porciuncula Costa e Neuza

Morêda Costa, nasceu em 29 de julho de 1960, na cidade de Pelotas, Rio

Grande do Sul.

Em 1995, obteve o título de Bacharel e Licenciada em Economia

Doméstica, na Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa-MG.

Em 1995, iniciou o curso de Mestrado em Extensão Rural.

Atualmente, exerce a função de instrutora e consultora, prestando

serviços ao SENAR, SENAC e SEBRAE nas áreas de Comunicação,

Propaganda e Marketing e Desenvolvimento de Comunidades.

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v

CONTEÚDO

Página

EXTRATO ............................................................................................. vii

ABSTRACT ........................................................................................... ix

1. INTRODUÇÃO .................................................................................. 1

1.1. Da criação tradicional à suinocultura integrada ......................... 7

1.2. O problema e sua importância .................................................. 17

1.3. Objetivos .................................................................................... 25

1.3.1. Objetivo geral ...................................................................... 25

1.3.2. Objetivos específicos ........................................................... 25

2. METODOLOGIA ............................................................................... 26

2.1. Descrição da área de estudos ................................................... 26

2.2. Descrição da unidade de análise ............................................... 27

2.3. Coleta de dados ......................................................................... 28

2.4. Modelo conceitual ...................................................................... 31

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................ 54

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vi

Página

3.1. Descrição dos suinocultores e do sistema produtivo ................. 54

3.2. Perfil dos técnicos ...................................................................... 85

3.3. A comunicação da integradora e a percepção dos produtores.. 88

3.3.1. Mensagens sobre administração rural ................................ 94

3.4. Os produtores e os meios de comunicação utilizados .............. 95

4. RESUMO E CONCLUSÕES ............................................................. 115

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 128

APÊNDICES ......................................................................................... 131

APÊNDICE A ........................................................................................ 132

APÊNDICE B ........................................................................................ 137

APÊNDICE C ........................................................................................ 142

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EXTRATO

ALVES, Rosângela Costa, M.S., Universidade Federal de Viçosa, dezembro de1999. A comunicação entre integradora e integrados: o caso d aagroindústria suinícola no meio-oeste catarinense . Orientador: JoséGeraldo Fernandes de Araújo. Conselheiros: Geraldo Magela Braga e JoséBenedito Pinho.

O estudo de caso fundamenta-se na análise do processo de

comunicação interpessoal a partir da Teoria de Aprendizagem, empregada por

Berlo, em 1963. As unidades de análise estudadas foram o universo de

produtores familiares do município de Concórdia (produtores de leitões),

integrados à agroindústria Sadia Concórdia S.A., e os técnicos que dão

assistência técnica. Os produtores foram classificados em cabeça, média e

cola, pelo método de Gestão Agrícola, que se baseia no levantamento de

dados físicos e econômicos das propriedades, com base na margem bruta de

produção. Conforme os objetivos propostos, caracterizaram-se os produtores

integrados, os técnicos, a organização interna da produção, assim como a

relação de comunicação interpessoal entre integradora-integrado. Este estudo

possibilitou compreender melhor o processo de construção da relação de

comunicação, das mensagens e de seus significados, e permitiu também

observar as expectativas de ambos os envolvidos no processo de

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comunicação, para que ocorra mudança de comportamento e seja efetivada a

aprendizagem.

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ix

ABSTRACT

ALVES, Rosângela Costa, M.S., Universidade Federal de Viçosa, December1999. The communication among integrator and integrant: the case ofthe swine agroindustry in the middle-western Santa Catarina State.Adviser: José Geraldo Fernandes de Araújo. Committee Members: GeraldoMagela Braga and José Benedito Pinho.

The case study is based on the analysis of the interpersonnal

communication process from the Learning Theory applied by Berlo in 1963. The

studied units of analysis were the universe of family producers in the Concord

county (pig producers), integrated to the Sadia Concórdia S.A. agroindustry and

the technicians who provide technical attendance. The producers were

classified as the highest, the average and the lowest indices of productivity by

the Agricultural Management method, which is based on the survey of the

property physical and economic data with the basis on production gross margin.

According to the proposed objectives, the integrated producers, the technicians,

the internal production organization, as well as the relationship o interpersonnal

communication among integrator-integrant were characterized. This study made

possible for a better understanding on the process of the communication

relationship construction, the messages and their meanings, and it also allowed

to observe the expectations of both involved in the communication process, so

that the behavior changes can happen and learning can be accomplished.

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1. INTRODUÇÃO

A globalização da economia e a abertura do mercado interno a

produtos estrangeiros impõem inúmeros desafios ao setor agroindustrial,

obrigando as empresas nacionais a aumentarem sua competitividade,

adequando seus produtos e serviços aos níveis de qualidade internacionais.

A Sadia Concórdia S.A. é uma empresa agroalimentar, de âmbito

nacional, considerada um dos maiores grupos agroindustriais brasileiros. Essa

posição privilegiada no panorama agroindustrial deve-se a sua excelente

penetração no mercado interno e externo.

A Sadia Concórdia S.A. vincula os produtores familiares (fornecedores

de suínos), via contrato oral, ao chamado “Sistema de Integração”, que pactua

normas zootécnicas, de sanidade, etc.

No setor agroindustrial, a qualidade exigida pelo consumidor influencia

todos os elementos da cadeia produtiva, assim como todas as etapas dessa

cadeia.

O enfoque da qualidade é utilizado por ela para antecipar as

necessidades e satisfazer às expectativas e exigências dos consumidores. A

qualidade do alimento industrializado depende, também, da qualidade da

matéria-prima agrícola. Para isso, ela busca incorporar ao seu sistema

produtivo as inovações tecnológicas, modificando constantemente as

características quantificáveis dos produtos, como valor nutricional, higiene,

presença de resíduos, e os aspectos relacionados com produção, como efeitos

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no meio ambiente e manejo dos animais, os quais desempenham papel cada

vez mais importante na decisão de compra dos consumidores.

A qualidade preconizada pela integradora tem relação não-somente

com elementos de ordem sanitária e tipo de composição molecular do produto,

mas também com a busca de produtividade, de qualidade e de quantidade.

Esses padrões são constantemente processados na interação que se

estabelece entre o técnico da empresa integradora e o integrado, criando certa

previsibilidade quanto às necessidades de matéria-prima de certa qualidade e

certa quantidade, a determinado preço, por parte da indústria. Por outro lado, o

produtor, estimulado por essas mensagens, apropria-se de tecnologias de

produção. Além disso, nesta relação contratual oral que se materializa pela

interação do técnico e do produtor, diminuem-se as incertezas destes a

respeito dos resultados da comercialização e, conseqüentemente, do resultado

final da atividade econômica.

O sistema de integração tem sido viabilizado por essa relação de

comunicação que é resultante da expansão da articulação da agricultura-

indústria (via contratualização oral), desde o final da década de 60, relação

esta que favoreceu a utilização de pequenas unidades produtivas, evitando, por

parte da indústria, grandes investimentos na produção da matéria-prima para

sua transformação.

Este estudo analisa a percepção dos produtores de suínos, integrados

à Sadia Concórdia S.A., diante da relação de comunicação interpessoal

(técnico-produtor), no Sistema Integrado. Essa relação de contrato entre os

atores (produtores rurais e integradoras) requer uma gama de serviços de

apoio (redes de distribuição, transportes, serviços logísticos diversos) e tem

gerado controvérsias, sobretudo porque envolve pequenos produtores rurais

(familiares) e grupos agroindustriais de grande porte.

A contratualização tem sido objeto de muitos questionamentos, pois

pode constituir instrumento de reprodução e ascensão social para a camada de

agricultores que têm dificuldades crescentes; ou, ao contrário, pode tratar-se de

uma nova forma de subordinação e empobrecimento; ou, ainda, de uma forma

de desenvolvimento da agricultura familiar. Com certeza, essa articulação da

agricultura contratualizada com a indústria, paralelamente à modernização,

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favorece a transformação e a expansão da atividade suinícola, assim como o

crescente desenvolvimento do setor industrial.

No Brasil, a partir da década de 70, houve expressivo desenvolvimento

das agroindústrias, seguido de transformações e alterações estruturais de toda

a matriz da cadeia produtiva. Da chamada “era da agricultura tradicional”

(dentro da fazenda) passou-se à “era do agribusiness ou complexo

agroindustrial” ( fora da fazenda), marcada por profundas mudanças das

relações tecnológicas, produtivas, comerciais e financeiras.

Segundo ALVES (1996),

essas mudanças foram e serão irreversíveis, principalmente com relação àmodernização da agricultura, que cada vez mais demandará e absorverátecnologias modernas. Portanto, não mudará a interdependência entreinsumos, produção agropecuária, processamento/distribuição e ecologia, ouseja, o “dentro da fazenda” está sendo e continuará influenciado diretamentepelo “fora da fazenda”.

A tecnologia desempenha papel cada vez mais importante na explicação

das estruturas industriais e do comportamento competitivo das empresas.

GEPAI (1997) afirmou que, em empresas de sucesso, 40 a 60% do

faturamento é realizado por produtos que há cinco anos inexistiam no mercado.

Esse fato evidencia a importância de integrar as inovações tecnológicas ao

conjunto das ações de reflexão estratégica das empresas. Embora as

empresas de pesquisa e as agroindústrias tenham conseguido grandes

avanços na descoberta e na adaptação de tecnologias que aumentem a

produção e a produtividade das atividades agropecuárias, os produtores nem

sempre adotam essas tecnologias, de forma eficiente.

Além das sinergias tecnológicas, de produção, de gestão e comerciais,

um enfoque da cadeia de produção pode revelar importantes sinergias no fluxo

de informação, outro fator importante da competitividade.

Tanto o avanço tecnológico como as exigências dos consumidores finais

induzem à mudança no sistema produtivo das cadeias agroalimentares.

Segundo a GEPAI (1997), cadeia da produção

é uma sucessão de operações de transformação dissociáveis, capazes

de ser separadas e ligadas entre s por um encadeamento técnico; o

pode ser um conjunto de relações comerciais e financeiras que

estabelecem, entre todos os estados de transformação, um fluxo d

troca, situado a montante e jusante, entre fornecedores e clientes; ou,

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então, o conjunto de ações econômicas que presidem valoração dos

meios de produção e asseguram a articulação das operações.

A produção agropecuária “dentro da porteira” passa a ter, cada ve

mais, ligações com as atividades industriais, comerciais, financeiras, logísticas,

etc. Portanto, as agroindústrias fazem parte de uma matriz produtiva em que há

grandes interações de insumos e produtos ao longo das varias cadeias

produtivas específicas.

Nessa visão sistêmica, considera-se que todo o sistema evolua no

espaço e no tempo em função de mudanças internas e externas. Como

sistema, uma cadeia de produção agroalimentar também estará sujeita a

mudanças ao longo do tempo. Em razão disso, a produção está, lentamente,

se adequando a essa nova realidade, principalmente em relação à

produtividade e à qualidade do produto entregue às agroindústrias

transformadoras.

As crescentes exigências dos mercados regionais (MERCOSUL,

NAFTA, CEE) e de outros mercados externos, além de mudanças nos

mercados internos, criam enormes pressões para que todos os participantes da

cadeia produtiva dos agronegócios busquem, mediante aumento da

produtividade e competição tecnológica, manter, conquistar e ampliar

mercados. Tudo isso exige adequações nem sempre fáceis e isentas de efeitos

perversos, especialmente na agricultura familiar, reconhecidamente o elo mais

fraco das cadeias produtivas do agronegócio (GEHLEN, 1996).

Os novos padrões de concorrência induzem as empresas a obterem

ganhos e avanços na tecnologia de produção, na logística, na comercialização,

etc. Em dado momento, sob dadas condições, elas adotam uma série de

estratégias e práticas que visam assegurar sua sobrevivência e seu

crescimento nesses ambientes de intensa concorrência, dentre as quais se

destacam as combinações mais eficientes dos fatores de produção; a utilização

de insumos e processos que resultem em maior produtividade e redução de

custos; e a adoção de estratégias mercadológicas (segmentação de mercados,

diferenciação de produtos e outros).

A adoção do sistema de integração tem sido uma das estratégias

crescentemente utilizadas pelas agroindústrias brasileiras para obterem ganhos

econômicos, valendo-se das vantagens que esse arranjo institucional

apresenta para elas e, qualificadamente, para os produtores familiares.

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KAGEYAMA (1990) afirmou que, no sistema de integração, pressupõe-

se que haja o relacionamento e a dependência direta entre produção familiar-

agropecuária e empresa integradora. Assim, o sistema de integração pode ser

definido como um conjunto formado de elementos ou subelementos em

interação, o qual se caracteriza pelas seguintes condições: estar localizado em

dado ambiente; cumprir uma função ou exercer uma atividade; ser dotado de

uma estrutura e evoluir no tempo; além de ter objetivos definidos.

Este trabalho analisa, especificamente, a relação de comunicação entre

técnicos da Sadia Concórdia S.A. e produtores especializados na produção de

leitões. Essa comunicação é um elemento fundamental da relação integradora-

integrado, visto que, por meio dela, são transmitidas, processadas e

retroalimentadas as mensagens de conteúdo técnico e econômico que

constituem o núcleo cimentador dos interesses entre um e outro agente.

A empresa integradora, com vistas em garantir a qualidade do sistema

de produção, em especial na suinocultura, exige que os integrados executem

todos os procedimentos orientados pela assistência técnica, tais como

construção de instalações; manejo adequado; cuidados sanitários;

melhoramento genético; e utilização de rações e, ou, de concentrados

recomendados, induzindo-os a adequarem seus produtos, serviços e

ambientes aos padrões preconizados.

Com o objetivo de levar aos suinocultores, produtores de leitões,

mensagens que possam permitir um progresso socioeconômico, utiliza-se o

Manual do Suinocultor Integrado, elaborado pela área agropecuária - setor de

fomento suinícola. Nesse documento, a integração de suínos implica

um acordo através do qual a empresa e o produtor fazem um esquemade colaboração mútua, com a finalidade de produzir suínos, cabendo cada uma das partes, diferentes fases da produção”. Com essa troca debenefícios, a Sadia fornece a assistência técnica, insumos e o mercado,enquanto o criador se responsabiliza pela criação propriamente dita, parao bem comum. Iniciado há mais de quinze anos, o Sistema de Integraçãode suínos da Sadia assumiu, no decorrer dos anos, posição de destaqueem função do grande trabalho desenvolvido pelos suinocultores da região(MANUAL..., 1995).

A exigência da integradora em segmentar seus “integrados” e

diferentes fases do ciclo de produção, segundo ela, visa à especialização ou à

profissionalização desses integrados.

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Os produtores de ciclo completo que detê m o controle de todo o

processo produtivo passam a produzir apenas leitões ou são encarregados da

terminação dos suínos. Essa segmentação da produção, segundo a Sadia

Concórdia S.A., visa à promoção do processo seletivo dos integrados, cuja

meta é modificar comportamentos, diminuir custos de produção e incorporar

procedimentos advindos dos métodos de gestão empresarial, com o fim de

promover um salto qualitativo no processo de produção e a melhoria da

qualidade da matéria-prima e, conseqüentemente, do produto final. Entretanto,

a produção familiar assume um caráter importante não só pelo grande

contingente de produtores envolvidos nesse sistema, mas pelo volume de

empregos diretos e indiretos gerados e pelo risco de estes sere

negligenciados.

Na prática, essa especialização, segundo BRANDENBURG e

FERREIRA (1995), tem sido uma forma indireta de exclusão dos pequenos

produtores, de ciclo completo, que não têm meios para aumentar a sua escala

de produção e não querem se especializar na terminação. Isto vem

acontecendo com os antigos integrados e é praticamente uma regra para os

novos candidatos à integração.

Para a Sadia Concórdia S.A., o desempenho desses produtores estaria

dependendo quase que exclusivamente da melhoria do padrão sanitário e do

aumento da escala de produção com base na qualidade e na produtividade

adquirida através da comunicação interpessoal.

A comunicação interpessoal é, freqüentemente, utilizada e definida como

a troca de informações entre o técnico e o produtor. Embora não haja um

modelo único de comunicação humana que leve em consideração todos os

elementos que possam estar envolvidos, os esforços de comunicação são

intercâmbios tanto simbólicos como comportamentais. A comunicação

interpessoal é a chave para o entendimento desses símbolos e

comportamentos. A exatidão da comunicação ocorre quando o receptor

consegue interpretar (perceber) os sinais de modo consistente e também a

intenção do transmissor. Pressupõe-se que pessoas diferentes,

freqüentemente, dêem significados diferentes a coisas e eventos, razão por

que as mensagens comunicadas nem sempre são percebidas da forma

pretendida.

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Busca-se, neste estudo, analisar a percepção desses produtores

integrados suinícolas em relação à comunicação veiculada pela integradora,

visto que a percepção é a compreensão ou o ponto de vista que as pessoas

têm das coisas, do mundo ao seu redor. Esta percepção é de extrema

importância para a compreensão do comportamento, uma vez que as pessoas

agem com base no que pensam, no que vêem ou no que compreendem. Para

tanto, é necessário contextualizar sua história, ou seja, interrogar o passado.

1.1. Da criação tradicional à suinocultura integrada

Por várias décadas, a suinocultura brasileira permaneceu estável como

exploração tradicional e rudimentar, sem que qualquer inovação tecnológica ou

índice de produtividade fosse a ela incorporada, seja nas características dos

animais, seja nas instalações, no manejo e na alimentação do rebanho.

Até o final dos anos 50, os suínos serviram para a produção de gordura,

produto bastante apreciado na alimentação, utilizado no preparo da

alimentação humana. Na três últimas décadas, em razão do crescimento do

consumo de óleo de origem vegetal, que substituiu a gordura animal, passou-

se a direcionar a produção de animais para a industrialização, com

rendimentos cada vez maiores de carne em detrimento de gordura na carcaça.

No Brasil, os primeiros suínos foram introduzidos pelos colonizadores

portugueses e pertenciam às raças da Península Ibérica. Dentre as principais

raças portuguesas que tiveram influência na formação das raças nacionais,

encontravam-se Alentejana e Transtagana, Calega, Bizarra, Beiroa, Macau e

China. Essas raças cruzaram-se desordenamente e deram origem às raças

nacionais, que, de certa forma, sofreram alguma interferência do meio

ambiente. Dentre essas raças, destacam-se Piau, Tatu, Pereira, Nilo,

Pirapitinga, Canastra, Canastrão, Caruncho e Estrela. Além da influência das

do tipo ibéricas, célticas e asiáticas, essas raças também sofreram

interferências das raças americanas, tais como Duroc e Poland China. O

aprimoramento ocorreu a partir de fins do século XIX e início do século XX

(GOMES et al., 1992).

A suinocultura no Estado de Santa Catarina, segundo MIRANDA (1995),

foi introduzida na região oeste de Santa Catarina por produtores familiares, a

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partir dos primeiros colonizadores oriundos do Rio Grande do Sul e

descendentes de europeus, entre as décadas de 20 e 30 deste século.

Em 1912, a subsidiária Brazil Development y Colonization Co.,

responsável pela venda das terras nessa região, denominadas colônias,

forneceu os reprodutores dessa espécie animal aos agricultores que chegavam

à região. A atividade desenvolveu-se com animais de raça comum (tipo banha)

não apenas para autoconsumo mas também para comercialização (herdaram

essa tradição comercial dos seus antepassados europeus), principalmente de

seus derivados - lingüiça e banha.

Em razão dos avanços alcançados principalmente pela suinocultura do

Sul do País, pode-se caracterizar o rebanho suíno brasileiro em dois estratos

bem definidos quanto a sua composição genética, ou seja, o estrato de raças

especializadas na produção de carne ( Duroc, Large White, Landrace e seus

cruzamentos) e aquele que utiliza animais das raças nativas ou nacionais

(Piau, Canastra, Nilo, etc.), destinados à produção de gordura.

Esses produtores familiares do Sul do Brasil foram os principais

responsáveis pela produção de suínos, visto que essa atividade necessitava de

algumas técnicas peculiares para desenvolver-se. A exigência de pouca área

de terra e o pequeno porte dos animais adaptavam-se, perfeitamente, às

exigências das pequenas propriedades, e a produção de matéria orgânica para

a lavoura permitia a transformação do suíno em subprodutos (a banha era um

dos subprodutos essenciais à dieta das famílias coloniais).

A evolução da suinocultura, conforme MIRANDA (1995), pode ser

evidenciada em quatro fases.

Na primeira fase (antes de 1935), houve a comercialização de

excedentes da produção para subsistência, o que possibilitou a acumulação de

pequeno excedente no setor comercial, além da reprodução da família. Nessa

fase, o relacionamento entre a agroindústria e produtor não teve grande

interferência no processo de trabalho agrícola, visto que a agroindústria se

limitava a adquirir a matéria-prima - o porco tipo banha.

Na segunda fase, de 1935 a 1945, a suinocultura ampliou-se

geograficamente e houve aumento da acumulação do capital comercial,

firmando-se como principal atividade comercial na região e integrando-se,

economicamente, ao cenário brasileiro.

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Na terceira fase, de 1945 a 1965, iniciou-se a contratualização de

agricultores pelas indústrias agroalimentares. As agroindústrias adotaram,

como critério de seleção, a condição familiar da exploração, em razão da

disponibilidade dos agricultores e da dedicação destes à terra e ao seu

patrimônio - uma diferença que consideram fundamental em relação às

explorações operadas só por assalariados. Nos EUA e em vários países

europeus, essa situação ocorreu na década seguinte. Em meados da década

de 60, raças exóticas foram introduzidas no Brasil, procedentes dos Estados

Unidos e da Europa.

No Brasil, surgiram grandes frigoríficos, o que consolidou,

definitivamente, a atividade suinícola como a principal atividade comercial. O

relacionamento entre indústrias agroalimentares e agricultores estreitou-se,

ocorrendo, nos frigoríficos, maior centralização no comércio de suínos via

intermediação.

Na quarta fase, após 1965, a suinocultura inseriu-se na política mais

ampla de modernização da atividade agropecuária nacional. Com o auxílio do

Estado, por meio de políticas integradas, assegurou-se a ampliação de

mercados para os ramos industriais que visavam à venda de máquinas, de

equipamentos e de outros insumos agrícolas ditos modernos. Nesse período,

houve a eliminação de impostos sobre os principais insumos agrícolas

(tratores, fertilizantes e outros), e o crédito rural tornou-se viável e com

menores taxas de juros. Nessa mesma época, o Ministério da Agricultura e o

USAID firmaram convênio com vistas na assistência à suinocultura.

Durante a primeira fase desse convênio, efetivou-se a capacitação dos

técnicos, com o objetivo de criar infra-estrutura humana e material necessária

para o treinamento desses suinocultores na produção de suínos tipo carne. As

unidades didáticas foram instaladas junto às Escolas Agrotécnicas e aos

Centros de Treinamento da ACARESC.

Num segundo momento, o treinamento dos suinocultores foi viabilizado

nessa época, dado que o padrão tecnológico preconizado levava em conta as

especificidades das unidades familiares de produção, o que garantia maior

autonomia aos suinocultores.

A forte influência da colonização italiana e alemã, que fixou os colonos

em pequenas propriedades no Sul do País, possibilitou expressivo

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desenvolvimento da suinocultura nessa região. Com o decorrer do tempo,

esforços contínuos foram despendidos na modernização da produção e do

parque industrial, sendo introduzidas raças mais especializadas na produção

de carne.

A introdução do porco tipo carne também estava relacionada com novas

exigências do mercado consumidor que demandava produtos menos

gordurosos, condição necessária para eventual exportação.

A história do desenvolvimento da suinocultura em Concórdia confunde-

se com o surgimento da Sadia Concórdia S.A., em 1944. Essa indústria

agroalimentar tinha como principal objetivo a aquisição de animais (tipo banha),

para processamento e comercialização. Posteriormente, importou animais

puros diretamente dos maiores países produtores (EUA, Dinamarca e

Alemanha) para realizar o melhoramento genético da atividade suinícola,

dando passos decisivos rumo à modernização.

A partir de 1954, foi criado o Serviço de Fomento da Sadia S.A., que, por

meio da divulgação de inovações tecnológicas, buscava introduzir técnicas de

produção que visavam atender à demanda crescente de matéria-prima para o

frigorífico em expansão. O objetivo básico era melhorar e assegurar a

qualidade genética e sanitária dos rebanhos.

A preocupação com o “fomento” da atividade suinícola estava

intimamente ligada à necessidade de se obter carne suína em quantidade e

qualidade adequada à sua capacidade de abate, durante todo o ano, bem

como de garantir a melhoria da qualidade mediante introdução de reprodutores

de raças mais especializadas (mais carne e menos gordura), a qual

assegurasse melhor rendimento no processamento do produto.

O “fomento” da atividade era realizado com o auxílio dos assistentes

técnicos que, em reuniões nas comunidades rurais, distribuíam folhetos com

informações sobre a atividade suinícola.

O sistema de integração na Sadia Concórdia S.A. foi implantado nos

anos 60, por Atílio Fontana, proprietário da empresa. Esse modelo visava obter

produtos de qualidade, mediante vantagens competitivas e decisivas no

mercado de carne e derivados de suínos, estratégia esta posteriormente

seguida por outras empresas agroalimentares brasileiras.

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Com base nesse modelo, a Sadia Concórdia S.A. passaria a fornecer

matrizes de raça mais especializadas, medicamentos, ração balanceada e

assistência técnica direta aos produtores e a exigir a introdução de pocilgas

mais sofisticadas e de rações balanceadas e adoção de uma série de medidas

direcionadas ao controle sanitário. Esse novo padrão de produção agrícola

dependeu de financiamento agrícola para ser implantado. Dessa forma,

lançava-se a base para uma futura relação contratual entre agroindústria e

produtor.

A ACARESC, nas décadas de 60 e 70, desempenhou papel decisivo na

modernização da atividade suinícola - integrada, contribuindo, em parceria com

diversas entidades e programas, para elevar a produtividade da suinocultura

catarinense, que passou de um índice de desfrute de 45%, nos anos 60, para

taxas superiores aos 150%, nos dias atuais.

Nessa época, a maior parte dos pr odutores assistidos pela extensão

rural oficial vinculava-se aos sistemas integrados, passando a receber

assistência técnica diretamente das empresas integradoras, o que acarretou o

esvaziamento do trabalho extensionista junto a esse segmento de produtores.

No entanto, a ACARESC continuou atuando junto aos produtores não-

integrados, aqueles menos modernizados e que não entraram na primeira

etapa da modernização. As agroindústrias recrutaram técnicos mais

experientes da ACARESC, para formarem seus quadros de assistência técnica

e fomentar os suinocultores.

A partir dos anos 50 até a década de 70, a orientação teórica que

norteou a pesquisa em comunicação agrícola enfatizou a transferência

tecnológica de países desenvolvidos para nações em desenvolvimento. As

premissas de comunicação para o desenvolvimento rural vão estar ligadas à

concepção sociológica de desenvolvimento, denominada difusionismo.

O difusionismo destaca-se por considerar a sociedade a partir de uma

visão dicotômica - um pólo valorado negativamente e outro positivamente. O

primeiro é denominado “atrasado”, e o segundo, “moderno”. Partindo dessa

concepção, os difusionistas defendem a existência de estágios diferenciados

entre as sociedades (subdesenvolvidas e desenvolvidas) e, ou, entre

subsistemas de uma mesma sociedade (meio rural e urbano). Para se alcançar

o desenvolvimento, devem-se superar tais diferenças mediante a introdução de

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recursos oriundos do pólo valorado positivamente, os quais podem ser os mais

diversos possíveis - financeiros, tecnológicos, comportamentais, educacionais,

etc. A introdução de tais recursos permitia que as sociedades “atrasadas”

recuperassem o espaço histórico que as separava das sociedades “modernas”.

A Sadia Concórdia S.A. utilizou-se desse modelo de comuni cação da

extensão rural oficial como orientação teórico-metodológica para difundir e

transferir tecnologias.

A partir da década de 70, em razão do aumento das integrações

agroindustriais, as tecnologias difundidas passaram a não mais contemplar as

especificações individuais de cada estabelecimento agrícola, visto que

predominava a difusão de pacotes tecnológicos que impunham uma forma

preconizada de criar suínos. Com isso, houve ruptura na forma de produção de

suínos, pois os grupos agroindustriais necessitavam de matéria-prima em

maior quantidade e qualidade, enquanto os produtores não percebiam

vantagens imediatas nessa transformação tecnológica, pois a remuneração do

porco tipo banha era equivalente ao do tipo carne.

No Brasil, essa forma de articulação e intervenção via sistema integrado,

da indústria sobre a agricultura, teve seu grande surto de desenvolvimento no

início da década de 70 e início da de 80.

O contrato de produção, seja verbal ou escrito, foi o instrumento que

formalizou a relação suinocultor-agroindústria. Por meio dele, a agroindústria

controla a atividade do suinocultor, impondo índices de produtividade que

obedecem a padrões industriais da atividade, mediante a substituição

crescente de produtos in natura ou rústicos por produtos processados ou

produzidos industrialmente.

Segundo a Sadia Concórdia S.A., o sistema da integração oferece as

seguintes facilidades aos produtores:

• Encaminha propostas para financiamentos bancários por intermédio dos

técnicos da Sadia, sem despesas para o criador;

• Recebe plantas, efetiva contratos com construtores e obtém orientações

sobre as construções, por intermédio do técnico que os assiste;

• Viabiliza toda a assistência técnica e veterinária para a criação de suínos;

• Obtém reprodutores para os plantéis de suínos, a preços de custo e com

prazos de até um ano de pagamento;

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• Obtém rações necessárias para a criação, com pagamento na entrega dos

animais;

• Adquire, a preços de custo, mudas de árvores frutíferas e para

reflorestamento; e

• Adquire sementes certificadas de milho, a preços de custo, com pagamento

em suínos.

Ao mesmo tempo, a integradora estabelece um conjunto de critérios,

variáveis em função da conjuntura e da região, para seleção dos produtores

integrados.

Segundo PAULILO (1990), produtores in tegrados verticalmente são

aqueles que recebem insumos e orientação técnica de uma agroindústria

mediante contrato, cuja produção é controlada pelo integrador. De acordo com

essa autora, ao optar pela integração, o produtor busca segurança e

comodidade, ou seja, quer garantir o mercado para sua produção sem precisar

sair de casa para comprar insumos ou vender animais. Além disso, esta

integração valoriza a assistência técnica, que tende a abranger todas as

atividades da propriedade.

A desvantagem desse si stema de integração estaria na inexpressiva

participação dos produtores na determinação dos preços e na impossibilidade

de escolherem os compradores que pagam preços mais altos para venderem

sua produção nas épocas de escassez de suínos. De acordo com essa autora,

há, em geral, o reconhecimento de certa troca de benefícios na produção

integrada, os quais não são expressos somente nos preços. As empresas

fornecem capital de giro aos produtores (ração, medicamentos, etc.), que é

pago por ocasião da venda da produção.

Outro aspecto importante é a viabilidade de assistência técnica, razão

por que a integração é vista como o elo que permite ao produtor não ficar para

trás dos que se modernizaram, já que, mesmo quando criticam a empresa

integradora, são conscientes de que pior seria sem ela. Um ponto comum nos

estudos sobre integração, mesmo nos mais críticos, é a constatação de que o

produtor não quer deixar de ser integrado, embora queira melhorar seu poder

de barganha junto às empresas.

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A produção de suínos, para FERREIRA (1995), é realizada por meio da

mão-de-obra familiar, visto que os integrados são zelosos; cuidam da criação,

já que esta é seu patrimônio; e os custos de produção tendem a ser

rebaixados, pois, além do cuidado com os suínos, realizam outras tarefas,

muito freqüentemente às despensas de horas livres ou de lazer, ao mesmo

tempo que as horas de pique são compartilhadas com outros membros da

família e não são contabilizadas como horas extras, como seria no caso da

utilização exclusiva de mão-de-obra externa à propriedade. Alguns insumos

produzidos no próprio estabelecimento e não-contabilizados como mercadorias

são utilizados como complementação da alimentação animal, o que rebaixa o

custo do produto final.

Durante a década de 70, segundo MIOR ( 1992), o padrão tecnológico

estava centrado no processo de substituição de insumos agrícolas por insumos

industriais. Esse processo diminuiu o ritmo e, em alguns casos, seguiu na

direção inversa, mudança associada à pressão advinda da segunda crise do

petróleo, de 1979, que resultou em políticas de diminuição do consumo e em

busca de substitutos para este produto.

Segundo AGUIAR (1993), para que a organização interna da produção,

baseada no caráter familiar da força de trabalho e no acesso à terra e aos

meios necessários à produção, seja mantida, é necessário que ela se

reproduza. Para sua reprodução, de acordo com esse autor, a unidade familiar

deve despender esforços para assegurar o necessário para a sobrevivência

dos membros da família, assim como para assegurar os meios de produção

que tornem possível a continuidade do processo produtivo. Essa necessidade

não se reduz a um “mínimo biológico”, mas a um produto social desejado.

De acordo com GOMES et al. (1992), a suinocultura em Santa Catarina

apresentou, na década de 80, baixa rentabilidade e estagnação nos níveis de

produtividade, o que levou os produtores a reclamarem dos baixos preços

pagos pelas indústrias; por sua vez, a integradora afirmou que a baixa

produtividade da atividade também era responsável pela situação. A baixa

rentabilidade e a estagnação da produtividade levaram esses produtores à

descapitalização; conseqüentemente, estes se viram incapacitados de

continuar no sistema integrado.

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Para MIRANDA (1995), aqueles que não se ajustam à s novas

exigências do mercado encontram muitas dificuldades em permanecer na

suinocultura. A integradora, ao considerar esse aspecto, privilegia a atuação

dos assistentes técnicos como principal veículo transmissor das informações,

com o objetivo de incrementar a produtividade e a qualidade do produto

gerado, agregando fatores que auxiliam a manutenção da posição competitiva

da integradora no mercado.

No sistema de integração vertical, segundo GOMES et al. (1992), o

suinocultor oferece terra, mão-de-obra, instalações e equipamentos e

concentra-se na produção de leitões e, ou, terminados e, na maior parte, de

grãos que fazem parte da ração. Cabe à integradora o fornecimento de parte

da alimentação (ração), da produção, do melhoramento genético, dos produtos

veterinários e da orientação técnica, assim como cabe a ela a responsabilidade

pela compra dos suínos terminados.

A dinâmica do setor industrial impõe, por meio da vinculação do

sistema de integração, um crescente movimento de subordinação da produção

agrícola familiar que passa a comandar todo o processo. Esse vínculo existente

entre produtores e empresas não se dá por meio de um contrato formalizado,

mas por intermédio de um pacto firmado entre ambos.

Algumas condições são consideradas básicas para exp licar essa

vinculação:

a) A existência de uma estrutura agrária de produtores com experiência na

produção de suínos;

b) O espaço ainda restrito de organização desse segmento de agricultores e

sua atuação na configuração das condições dos contratos e na fixação dos

preços; e

c) O espaço significativo que têm as agroindústrias processadoras nesse

controle dos preços do produto e da parte mais importante dos insumos.

Esse relacionamento cria dependência direta entre produtores e

empresa.

Outras condições que geram diferenciais favoráveis à lucratividade

agroindustrial são:

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a) A contratualização poupa investimentos fundiários maiores para as

agroindústrias. A produção de uma parcela do milho para alimentação

animal é fundamental para viabilizar economicamente a atividade;

b) Os dejetos de suínos devem ser alocados em área suficiente para controle

dos seus efeitos poluentes; e

c) Os contratos de produção exigem que as agroindústrias selecionem,

treinem e fiscalizem a mão-de-obra assalariada necessária à obtenção da

criação.

Os produtores, por meio da aquisição dos insumos, procuram adaptar-

se ao padrão tecnológico orientado pela assistência técnica da empresa, que

estabelece a garantia na aquisição do produto. O produtor deve ter lealdade

para com a empresa que lhe fornece as condições de produção,

comprometendo-se a entregar o seu produto unicamente àquela empresa,

mesmo que outra esteja classificando melhor seu produto.

Na década de 80, em razão do aumento expressivo de produtores que

participavam do sistema de integração, o serviço de extensão reduziu sua

participação no cenário da suinocultura catarinense. Na segunda metade dessa

década, houve retirada total do crédito rural, o que levou os suinocultores rurais

integrados a dependerem, basicamente, de financiamento feito diretamente

pela agroindústria. Com isso, o processo de integração consolidou-se e

aumentou-se o nível de exigência com as normas técnicas de produção.

Na década de 90, em razão da imposição da integradora, houve

tendência de transformação da suinocultura, de ciclo completo, em produtores

de leitões e de terminação.

Para WILKINSON (1997),

a agroindústria privada está se preparando para substituir o “ciclo completo” dosistema produtivo com uma divisão mais especializada do trabalho, separandoa fase de criação da fase da engorda. Ao mesmo tempo, a ração está sendofornecida diretamente pela agroindústria (seguindo o modelo avícola) e nãomais produzida na fazenda. Neste processo, é possível que as economias deescala empurrem a suinocultura para fora do setor da agricultura familiardiversificada.

Faz–se necessário observar, do ponto de vista dos produtores

integrados, como ocorre o processo de comunicação e como se dão as

relações da integradora (via técnico) com esses produtores.

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1.2. O problema e sua impor tância

A atividade suinícola tem sido considerada a mais importante do

complexo agropecuário brasileiro, por ser preponderantemente desenvolvida

em pequenas propriedades, visto que gera renda e alimento a mais de dois

milhões de proprietários rurais e constitui um excelente instrumento de

interiorização do desenvolvimento e de fixação da mão-de-obra no meio rural.

Além disso, fornece um produto de alta qualidade, rico em nutrientes e

produzido de forma higiênica e profissional pela maioria dos criadores

nacionais.

Em Santa Catarina, tem sido considerada uma atividade de extrema

importância socioeconômica, em razão, segundo GOMES et al. (1992), não

apenas do grande número de pequenos produtores envolvidos, mas também

da capacidade de se produzir grande quantidade de proteína de ótima

qualidade em pequeno espaço físico e em curto espaço de tempo. Essa

atividade está presente em 46,5% dos 5,8 milhões de propriedades do País,

empregando mão-de-obra tipicamente familiar e constituindo importante fonte

de renda e de estabilidade social.

Na década de 90, ocorreram profundas transformações não só na

base técnica da atividade produtiva, como também na relação das

agroindústrias com as unidades familiares de produção. Nesse período, houve

crescimento substancial no processo de integração vertical, principalmente pela

especialização dos produtores por fases do ciclo produtivo.

Segundo MIOR (1992), os grupos agroindustriais têm realizado ações

estratégicas que modificam a estrutura de produção da atividade suinícola, de

ciclo completo, para segmentos mais especializados. Essa especialização

facilita o controle do processo de produção por parte da agroindústria, que,

para alcançar seus objetivos, fornece material genético, alimentação e

prescrições do manejo e das instalações, mediante maior controle no

cronograma da produção.

A Sadia Concórdia S.A. tem incentivado seus integrados a se

especializarem na fase de produção de leitões ou de terminação, ajustando sua

matéria-prima, “carne suína”, às novas demandas do mercado consumidor.

Muitos dos produtores, de ciclo completo, são incentivados a segmentar a

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atividade (separando a fase de criação da fase de engorda). Essa estratégia,

do ponto de vista da agroindústria, visa, basicamente, garantir o aumento da

produção, melhorar a qualidade do produto e manter um fluxo mais regular da

matéria-prima. Na segmentação incentivada, os produtores de leitões são

aqueles que possuem, geralmente, um plantel de fêmeas e machos de boa

qualidade genética e usam os cruzamentos raciais para aproveitamento do

“vigor híbrido”. Os leitões são vendidos aos terminadores por intermédio do

integrador, quando atingem peso de 20 a 30 quilos, enquanto os produtores de

terminados dependem, exclusivamente, dos produtores de leitões, recebem os

leitões com peso que varia de 20 e 30 quilos e os entregam à integradora com,

aproximadamente, 100 kg.

Muitos desses produtores familiares integrados não conseguem

acompanhar a evolução dos índices de produção e produtividade almejados

pelas integradoras, razão pela qual são excluídos do sistema integrado, já que

os investimentos requeridos elevam os custos de produção e exigem

mudanças qualitativas principalmente na genética dos animais, na alimentação,

na sanidade e na forma de administrar a propriedade.

Em razão de crises cíclicas que atingiram a atividade por diversos

períodos, o setor suinícola está ficando descapitalizado e os suinocultores

integrados têm enfrentado inúmeras dificuldades para permanecer na

atividade, o que dificulta a relação entre eles e a integradora, principalmente

nas áreas técnica, comunicacional, técnico-metodológica, organizativa e no

controle no processo de trabalho. Aqueles que resistiram e, ou, optaram por

explorar sua parcela de terra buscaram a diversificação da atividade, embora

enfrentem ainda dificuldades, de ordem estrutural, para se manterem.

As modificações caracterizadas pela mudança de comportamento e por

inovações tecnológicas são devidas também à relação de comunicação, à

renda, ao risco e ao nível de instrução dos produtores. Em síntese, tais

investimentos demandarão mudanças nos procedimentos e nas rotinas do

sistema produtivo.

Este processo de concentração e especialização segue a tendência

internacional que tem se configurado desde os anos 80 e que apresenta

vantagens da produção em escala para a indústria, levando à diminuição do

número de propriedades rurais, enquanto estas aumentam no seu número de

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hectares. Portanto, essa elitização da atividade provoca uma concentração da

produção na mão de poucos e retira a possibilidade de um modelo de produção

associativo que permite o envolvimento de maior número de famílias.

SORJ et al. (1982), ao analisarem a questão da integração, em que o

conhecimento é subtraído do produtor e seu ritmo de trabalho passa a ser

determinado pelas prescrições técnicas da agroindústria, constataram que,

na medida em que a tecnificação se processa, os conhecimentos e práticastradicionais são desvalorizados, uma vez que o controle sobre o processo deprodução é ditado pelas normas dos capitais agroindustriais (SORJ et al.,1982:68).

A escolha dos produtores para determinada modalidade não ocorre ao

acaso, dado que a integradora privilegia produtores que apresentem melhores

condições socioeconômicas, como padrões técnicos relacionados com

qualidade (tipificação da carcaça), produção e produtividade.

ALVES (1996) considerou que a qualidade do produto é caracterizada,

principalmente, pelo tipo de carcaça entregue à indústria e é expressa pela

menor deposição de gordura e pelo maior rendimento da carcaça, que

passaram a ser valorizados pela indústria muito recentemente, embora os

produtores ainda não estejam suficientemente conscientizados da sua

importância.

A tipificação da carcaça implica, necessariamente, o direcionamento do

setor de produção para a busca constante de melhor qualidade, que deverá

refletir nos demais segmentos da indústria suína.

A conceituação da qualidade da carcaça não pode ficar restrita à

apresentação da pequena espessura do toucinho e, conseqüentemente, da alta

percentagem da carne magra, mas, acima de tudo, à concepção de que esta

carne magra não apresenta problemas relacionados com PSE (pálida, macia e

exsudativa) ou DFD (escura, firme e seca). Por meio da deposição de gordura

e, ou, do rendimento de carne, a carcaça pode representar o ponto em que o

produtor começa a ser eficiente economicamente, pois, geralmente, as

agroindústrias processadoras de carcaças remuneram o produtor por meio da

bonificação ou da penalização, dependendo do rendimento de carne da

carcaça.

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Mediante a intensificação do melhoramento genético, objetiva-se

aumentar a eficiência de produção dos animais e reduzir a quantidade de

alimento por kg de carne produzida e o custo do produto final. Os animais,

portanto, deverão apresentar:

a) Maior precocidade sexual e capacidade reprodutiva;

b) Maior taxa de crescimento ou menor idade de abate;

c) Maior eficiência de transformação do alimento consumido em carne de boa

qualidade; e

d) Maior rendimento de carne na carcaça.

Na suinocultura, obter produtividade implica produzir mais em menos

tempo, sem aumentar custos ou reduzir a qualidade dos produtos, enquanto a

melhoria da eficiência diz respeito à conversão alimentar e depende da

redução da taxa de mortalidade e do crescimento da taxa de desfrute. Essas

variáveis contribuem para a redução do custo total de produção de suínos.

A eficiência reprodutiva obtida em criações tecnificadas de pequeno e

médio porte, no Sul do Brasil, é da ordem de 9,5 leitões/leitegada e 1,9

parto/porca/ano. O potencial biológico da espécie suína é, consideravelmente,

mais elevado, visto que os valores estão estimados acima de 13

leitões/leitegada e até 2,6 partos/porca/ano. Os produtores que não atingem

esses índices têm prejuízos e correm o risco de serem excluídos do sistema

integrado, caso não aumentem a escala de produção.

Segundo o projeto do Programa de Apoio ao Desenvolvimento

Sustentável da Suinocultura no Sul do Brasil, da EMBRAPA/CNPSA, de 1998,

as análises prospectivas da cadeia suína indicam, no curto prazo, um aumento

da eficiência produtiva dos sistemas mediante o emprego de novas tecnologias

(genética, nutrição e sanidade) e de técnicas gerenciais, capazes de reduzir a

idade do abate (160 para 145 dias) e de elevar a capacidade reprodutiva do

rebanho (14 a 20 suínos/porca/ano) e o volume das dejeções produzidas.

Quanto ao aumento do volume de dejetos, este poderá agravar a situação de

contaminação na região oeste catarinense.

A meta da Sadia Concórdia S.A. para os produtores de leitões, em

relação à produtividade, é de que estes consigam melhorar a conversão

alimentar, obtenham produtividade ideal de 18 a 20 leitões/porca/ano e

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executem os padrões para cobertura, nutrição, atendimento ao parto, ambiente

na maternidade e desmame. De um lado, a produção especializada, que

concentra a produção de suínos e seleciona os produtores e, de outro, a

exclusão dos suinocultores com menor escala de produção. Essa exclusão dos

produtores familiares traz conseqüências regionais negativas, como êxodo

rural, subutilização dos investimentos rurais (escolas, estradas locais, serviços

de saúde e eletrificação), emergência de favelas urbanas e crescimento agudo

da taxa criminal, já que a rápida urbanização da região se baseia mais nos

impasses da produção familiar do que na atração do emprego industrial ou dos

serviços e na migração para fora da região.

O desenvolvimento da atividade suinícola constitui, portanto,

importante fator de crescimento econômico para os setores agroindustriais,

cujos efeitos se evidenciam na sua competitividade e na renda da produção

familiar integrada.

A competitividade no caso da suinocultura, seria um resultante das inter-relações de uma ampla gama de fatores, onde estariam inseridos atoresagrícolas, industriais, comerciais e o governo interagindo de modo a criar usistema com relações dinâmicas interdependentes e mutuamenteinfluenciadoras denominado de cadeia produtiva (CANEVER, 1997).

A integradora espera que os integrados funcionem como empresas e

tenham disposição para investir, buscando, com isso, assegurar sua demanda

crescente de matéria-prima e sua estabilização. Acredita-se que qualquer

interferência nesse setor produtivo, relacionada com pequenos produtores

familiares, poderá resultar em graves conseqüências para a reprodução destes

como unidade familiar. Portanto, presume-se que a atividade suinícola seja

importante no aumento de renda e na melhoria da qualidade de vida da família

rural, razão por que se faz necessária a compreensão das mensagens, para

que os produtores consigam obter os padrões desejados.

O processo produtivo suinícola, em toda a sua extensão, tem sido

comandado pela integradora, que utiliza instrumentos de comunicação para

influenciar seus fornecedores a incorporar tecnologias, atingir eficiência nos

processos e aumentar a produção e a produtividade. Essa mudança do

suinocultor, de ciclo completo, para especializado demonstra a necessidade da

empresa em transformar o suinocultor a partir de uma perspectiva empresarial,

selecionando os melhores e induzindo a saída dos considerados menos

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zelosos (não-adotantes de tecnologias e procedimentos) ou menos adeptos a

efetuar investimentos.

A agroindústria, mediante um enfoque dinâmico, aplica elementos que

visam estruturar o sistema integrado por meio de condutas preestabelecidas,

para se obter o desempenho almejado ressaltado pela importância dada à

tecnologia, agente indutor dessas mudanças pelo canal interpessoal.

Segundo MIRANDA (1995), essa diferença de racionalidade entre

suinocultor empresarial e produtor familiar acaba resultando em conflitos na

relação de comunicação entre produtores e técnicos. Ao analisar também o

processo de geração e difusão de tecnologias, em relação à tecnologia

agropecuária e aos produtores familiares da região oeste de Santa Catarina, à

luz da racionalidade formal e substantiva de Weber, esse autor constatou que,

muitas vezes, os integrados encontram resistência em adotar tecnologias,

pois, mesmo integrados ao mercado, agem segundo uma racionalidade

substantiva, valorizando, além da produtividade e eficiência, outros aspectos de

reprodução da família, como aversão ao risco, valores locais de solidariedade e

prestígio social. Segundo ainda esse autor, os produtores rurais da região

oeste perseguem um “modelo ideal” de exploração, o qual é resultante do

cruzamento dos objetivos individuais com os estabelecidos pela sociedade.

Assim, inestimável é o papel da comunicação humana nos destinos

tanto da empresa integradora quanto dos produtores integrados a ela. Em

decorrência disso, no plano organizacional, a utilização correta das técnicas de

comunicação, assim como dos auxílios instrucionais, constitui relevante

estratégia para interação de ambos.

O homem tem sido mensurado em termos econômico, funcional e

administrativo, numa configuração empírica de mera “coisa”. Muitas vezes,

permanece como um “desconhecido” nessa dinâmica, razão pela qual é

importante conhecer os elementos básicos que influenciam o comportamento

individual dos produtores, para adoção, ou não, de tecnologias preconizadas

pela empresa. Sabe-se que, para adoção destas, os produtores devem “querer,

saber e poder”, já que o comportamento de qualquer indivíduo não é algo que

ocorra casualmente, mas sempre com vistas em um propósito.

Esse conjunto de reflexões abre uma perspectiva de análise em que o

vínculo de integração entre integrados e integradora, embora tendo maior

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visibilidade no campo econômico, expressa, de fato, uma relação social, em

que as estratégias e projetos dos agentes se adaptam e entram em confronto e

representações sociais e as práticas interagem. Ao mesmo tempo, é uma

relação em que o poder da integradora se expressa pela capacidade de

imposição de padrões tecnológicos e condições de comercialização à atividade

dos integrados, o que, ao mesmo tempo, se torna viável e é encoberto pelos

laços de clientelismo entre integradora e integrados.

Em virtude das condições técnicas à disposição do capital e das

condições naturais da produção agropecuária, o capital integrador possui uma

gama de alternativas estratégicas comunicacionais, metodológicas e

instrucionais para que esses objetivos sejam atingidos. Entretanto, alguns

agentes/agroindústrias ainda atribuem o insucesso da atividade a muitos

produtores rurais, considerados apáticos, ignorantes, incapazes de gerenciar o

negócio e sem perspectivas de desenvolvimento.

No entanto, sem um adequado processo de comunicação não é

possível ocorrer forte ligação entre os propósitos organizacionais e o

comprometimento dos seus membros, visto que não se podem atribuir

responsabilidades a quem não recebe informações. As pessoas geram idéias e

manifestam sentimentos por meio da comunicação, o que permite a verdadeira

integração ao ambiente empresarial.

A capacidade da empresa para orientar suas ações, segundo a

evolução do ciclo de vida de seus produtos, e para controlar os segmentos

equivalentes da cadeia de produção, segundo as fases de evolução, constitui

uma estratégia de manutenção da posição dominante.

No sistema de integração, os elementos constituintes desse processo

são vistos como atores econômicos, já que irão posicionar-se para obter o

máximo de margens de lucro em suas atividades, ao mesmo tempo que tentam

se apropriar das margens dos outros atores presentes. Esse parece ser o

principal fundamento das estratégias industriais em face da concorrência e do

objetivo de posicionar-se na melhor situação possível para se defender contra

as forças da concorrência ou transformá-las ao seu favor. Muitas dessas

estratégias e operações partem da necessidade de criar ambiente para

mudanças, decorrentes, basicamente, do conjuntos de fatores políticos,

econômicos, financeiros, tecnológicos, socioculturais, legais ou jurídicos.

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A Sadia Concórdia S.A. viabiliza suas estratégias graças ao sistema de

comunicação, que é vital para as funções administrativas internas e para o

relacionamento da empresa com o meio externo, já que permite a efetivação

dos seus objetivos. A eficiência ou não dessa comunicação dependerá da

percepção dos recebedores em graus variados, num processo de

aprendizagem.

Observa-se que, no discurso da empresa integradora, há elementos

que objetivam a melhoria dos processos, da produção, da produtividade e do

padrão de vida dos produtores integrados, embora nem sempre os resultados

sejam os desejados, o que, muitas vezes, frustra as expectativas de ambos.

Para melhor compreender esse problema, faz-se necessário

relativisar1, buscando identificar os fatores que estariam dificultando ou

impedindo a eficiência comunicacional entre a integradora Sadia Concórdia

S.A. e os agricultores integrados, já que, nessa dinâmica, há interesses

comuns e divergentes.

A integradora, em sua trajetória, vem utilizando métodos extensionistas

baseados no modelo de difusão/adoção para transferência dessas tecnologias,

mediante a comunicação interpessoal. Essa comunicação aparece também

como instrumento retórico utilizado pela integradora na “promoção de

mudanças”, relacionadas com implantação de novas estratégias e filosofias

empresariais.

Segundo ROGERS (1969), a comunicação interpessoal é a mais

eficiente para convencer os indivíduos a adotarem novas idéias, embora nem

sempre produza os efeitos esperados.

Para BORDENAVE (1988), é próprio da comunicação contribuir para a

modificação dos significados que as pessoas atribuem às coisas, visto que é

por meio dessa modificação que a comunicação colabora na transformação

das crenças, dos valores e dos comportamentos, daí, o seu imenso poder e o

uso que o poder faz dela. Dessa forma, torna-se importante compreender as

variáveis que determinam comportamentos e influenciam a modificação

desses comportamentos, desvendando as dificuldades e analisando as

1 Relativisar é compreender o outro no contexto dos seus próprios valores.

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percepções acerca dos significados que os suinocultores familiares dão a essa

comunicação.

Neste estudo, pretendeu-se analisar como se processa a comunicação

entre integradora-integrado, já que a percepção ocorre por meio de estímulos

que vêm de fora e o homem “sente” a realidade que o rodeia por meio dos

sentidos, percebendo, assim, palavras, gestos e outros signos que lhe são

apresentados e para os quais tem um significado específico.

1.3. Objetivos

1.3.1. Objetivo geral

Analisar a percepção da relação de comunicação interpessoal técnico-

produtor pelos suinocultores integrados à Sadia Concórdia S.A.

1.3.2. Objetivos específicos

a) Caracterizar o perfil dos suinocultores e seu processo produtivo;

b) Analisar o processo de comunicação entre técnico e produtor rural; e

c) Identificar os principais obstáculos ao processo comunicativo.

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2. METODOLOGIA

Realizou-se o estudo de caso mediante observação da trajetória social

do grupo de produtores familiares investigados - sua evolução em relação ao

mercado, sua caracterização e a relação de comunicação interpessoal com a

agroindústria e suas implicações.

Este estudo procurou evidenciar os aspectos da comunicação da Sadia

Concórdia S.A. com os produtores de leitões integrados, no município de

Concórdia, em Santa Catarina, Sul do Brasil.

Os dados foram coletados por meio de entrevistas com produtores

rurais e técnicos da área de fomento e assistência técnica da integradora.

2.1. Descrição da área de estudos

A delimitação deste estudo baseou-se na mesma área espacial

definida e utilizada pela empresa Sadia Concórdia S.A. para assistir aos

produtores de leitões integrados no município de Concórdia-SC.

O município de Concórdia situa-se na região oeste catarinense e na

microrregião colonial do rio do Peixe (classificação geopolítica oficial-

tradicional), limitando-se ao sul com o Rio Grande do Sul; ao norte, com Irani,

Ipumirim, Lindóia do Sul e Arabutã; ao oeste, com Itá, Seara e Arabutã; e ao

leste, com Piratuba, Ipira, Peritiba, Presidente Castello Branco e Jaborá. Para

efeito de planejamento estadual, Concórdia integra a microrregião do Alto

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Uruguai Catarinense, região composta por 12 municípios, da qual é o centro

polarizador. Possui uma área de 885,4 km 2, situada na zona urbana, e de

876,85 km 2, na zona rural. Possui cinco distritos: Santo Antônio, Tamanduá,

Planalto, Presidente Kennedy e Engenho Velho.

A população de Concórdia é de, aproximadamente, 85.000 habitantes,

40% dos quais residentes no meio rural. O município é formado por pequenas

propriedades agrícolas (66% possuem até 20 ha). A condição dos produtores

(83%) é, predominantemente, de proprietários (PREFEITURA MUNICIPAL DE

CONCÓRDIA, 1994).

2.2. Descrição da unidade de análise

As unidades de análise desta pesquisa são o universo de 36

produtores de leitões da região, denominada pela integradora de Concórdia, e

de dois técnicos da assistência técnica da Sadia Concórdia S.A. Esses

integrados estão distribuídos nas seguintes localidades rurais: Barra Fria, Barra

Seca, Cedro, Marchesan, Saltinho, Santo Antonio, São Cristóvão, Santa Lúcia,

Suruvi, Oito de Maio, Kennedy, De Carli, Lajeado dos Pintos, São Geraldo,

Poletto, São José, Fragosos, Gasparini, Gomercindo, S. Brum e São Paulo.

Os integrados produtores de leitões são aqueles que estão vinculados

ao sistema de integração, dedicam-se apenas ao ciclo de criação, possuem

geralmente um plantel de fêmeas e machos de boa qualidade genética e usam

cruzamentos raciais para o aproveitamento do vigor híbrido. Optou-se por

estudar esse segmento por sugestão da empresa integradora, já que estes são

considerados os mais modernizados e mais qualificados tecnicamente (mais

exigentes por tecnologia), considerados pela agroindústria como capazes de

assegurar a reprodução da qualidade genética das matrizes. Esses integrados

dedicam-se à reprodução, à gestação e parto e ao desenvolvimento nutricional

dos leitões. Criam leitões até 60 dias, os quais, quando atingem peso de 20 a

30 quilos, são vendidos aos terminadores por intermédio da empresa

integradora.

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2.3. Coleta de dados

A coleta de dados foi feita no município de Concórd ia, no período de

abril a maio de 1998, junto aos 36 suinocultores que representam o universo de

integrados desse município.

As informações foram obtidas diretamente das unidades produtivas

familiares e na sede da integradora.

A pesquisadora aplicou um pré-teste a 10 suinocultores, no Sindicato

de Produtores Rurais de Concórdia, para verificar a adequação do

questionário, no qual constavam perguntas abertas e fechadas.

Os produtores de leitões (Quadro 1) foram classificados, segundo a

Sadia Concórdia S.A., pelo método denominado gestão agrícola, introduzido

pela EMATER/ACARESC em 1982, a partir da consultoria do Sr. Boiteux, do

Institute de Gestion e Economie Rural (IGER), da França. Esse método,

segundo HOLZ (1992), é baseado no levantamento de dados físicos e

econômicos das propriedades, agrupando-as em três classes:

a) Cabeça: composta por 25% dos suinocultores com os melhores resultados

econômicos;

b) Cola: composta por 25% dos suinocultores com os piores resultados

econômicos; e

c) Média: composta pelos 50% dos suinocultores restantes. O índice

comumente utilizado para ordenar os agricultores e classificá-los em

cabeça, média e cola é a margem bruta. Optou-se pela utilização da

margem bruta, por ser este o índice de eficiência mais utilizado na análise

da atividade ou do produto.

Para obtenção da Margem Bruta de Produção, segundo a integradora,

fez-se necessário realizar uma Análise Econômica junto às unidades

produtivas. Para obtenção desse índice, calculam-se, anteriormente, alguns

índices de eficiência que mais influenciam o resultado econômico da atividade,

tais como conversão alimentar, mortalidade, terminados/porca/ano, etc. Os

dados da suinocultura são obtidos, normalmente, via enquete técnico-produtor,

para realização da análise de custos.

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Quadro 1 - Número total de produtores de leitões, por estrato, segundo a meto-dologia utilizada pela Sadia Concórdia S.A., no município deConcórdia-SC, 1997

Estrato de produtores N.o de produtores de leitões

Cabeça – 25% 9Média – 50% 18Cola – 25% 9

TOTAL 36

Fonte: SADIA S.A.

Para VALE e GOMES (1998), a análise do custo é usada para fins de

análise econômica - é a compensação que os donos dos fatores de produção,

utilizados por uma empresa para produzir determinado bem, devem receber

para que continuem fornecendo esses fatores à empresa.

O uso do termo compensação, e não do termo pagamento, é devido ao

fato de, em certos casos, não ocorrer pagamento formal ou desembolso aos

donos dos fatores de produção (ex.: Quando uma pessoa utiliza um capital

próprio no negócio, ela não paga a si próprio pelo uso desse capital, mas deve

considerar como custo o valor que poderia receber por este capital em outro

negócio).

A análise da Margem Bruta é importante porque serve de parâmetro

para o cálculo da rentabilidade dos produtores de leitões integrados.

A metodologia de gestão agrícola torna-se adequada aos agricultores

com baixo nível de educação formal e não-familiarizados com procedimentos

administrativos sistemáticos. Esses dados servem para comparar seus

resultados com o de seus vizinhos que tenham condições semelhantes de solo,

clima, mercado, etc.

A integradora treina seus técnicos mediante o curso de Administração

Rural, com base na metodologia de gestão agrícola, de HOLZ (1992). Durante

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o curso, são veiculadas mensagens sobre adoção de tecnologias. Essa

metodologia segue os princípios básicos da educação de adultos, quais sejam:

1. Os adultos devem ter o desejo de aprender, o que pode ser estimulado por

influências externas, mas nunca imposto;

2. Os adultos aprenderão somente o que sentem necessidade de aprender, já

que as teorias só terão sentido quando puderem ser aplicadas;

3. Os adultos aprendem fazendo;

4. O aprendizado deve estar relacionado com situações reais;

5. Os adultos aprendem melhor em clima participativo e ausência de censura; e

6. Os adultos necessitam de feedback.

A técnica de gestão agrícola, vista como metodologia baseada nos

princípios acima, além da simplicidade, apresenta as vantagens de rapidez na

sua execução, além de elevado grau de receptividade por parte dos

produtores, uma vez que se propõem soluções simples e já experimentadas,

pois difunde o conceito de lucro e eficiência econômica como resultado dos

aumentos de produtividade e eficiência técnica das atividades agrícolas como

um todo. Facilita, ainda, o emprego de atividades pelos técnicos, visto que

permite a eles conhecer melhor a região agrícola em estudo e fornecer certos

valores de referência, além de responder à necessidade, fortemente sentida,

dos produtores de se situarem, em comparação com os outros. Sua limitação é

que ela não introduz nada de novo ao modo de produção da região. Além

disso, não se sabe se as “empresas” rurais melhores classificadas

desenvolvem realmente o melhor sistema de produção. Esse método mostrou-

se apropriado para produtores com baixo grau de instrução formal, mas que

participam do mercado e, portanto, manuseiam valores, números, notas fiscais,

contas bancárias, etc.

Segundo os técnicos, os produtores mal informados sentem-se

inseguros e assumem posições cautelosas, de forte aversão ao risco. O

método de gestão agrícola ajuda-os a entender a sua realidade e redimensiona

o risco pela sistematização das informações. Para tanto, faz-se necessário que

o produtor faça registros contábeis e entenda a razão pela qual a integradora

coleta os dados de todos os produtores. Além do mais, são necessários

critérios iguais para essa coleta de dados.

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2.4. Modelo conceitual

Este estudo fundamenta-se, no contexto da comunicação, na Teoria de

Aprendizagem, utilizada por BERLO (1963), na elaboração do modelo de

comunicação interpessoal.

Segundo Berlo, qualquer situação de comunicação humana

compreende a produção da mensagem por alguém, assim como a sua

recepção. A análise de qualquer situação de comunicação humana deve levar

em conta o ponto de vista de ambos os envolvidos na relação de

comunicação.

ROGERS (1969) sugeriu que os canais de comunicação de massa são

os mais importantes para difundir conhecimento sobre inovações, enquanto os

canais interpessoais são os mais importantes para convencer os indivíduos a

adotarem novas idéias.

Para BOWDITCH e BUONO (1992), a comunicação interpessoal é

essencialmente um processo interativo e diático (de pessoa a pessoa) e

também um processo transacional no qual as pessoas constroem o significado

e desenvolvem expectativas sobre suas experiências, sobre o que está

acontecendo e sobre o mundo que as cercam, e compartilham mutuamente

significados e expectativas através da troca de símbolos . Esses símbolos

poderão ser verbais ou não e são influenciados por fatores intencionais ou não

(tais como emoções e sentimentos).

Esses autores partiram do pressuposto que, para analisar a

comunicação, torna-se necessária a compreensão plena do comportamento

humano. Tendo em vista que a comunicação se destina a influenciar o

comportamento, precisa-se compreender as variáveis e os processos 1 que

determinam o comportamento e as mudanças desse comportamento.

O interesse pela comunicação tem produzido muitas tentativas de criar

modelos do processo - descrições, relações de ingredientes. Naturalmente,

esses modelos diferem um do outro; nenhum pode ser tido como “correto” ou

“verdadeiro”. Uns podem ser mais úteis que outros e alguns podem

1 Processo é aqui definido como qualquer fenômeno que apresente contínua mudança no tempo.

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corresponder mais que os outros ao presente estado de conhecimento sobre

comunicação.

A maioria dos modelos contemporâneos de comunicação mais

utilizados foi elaborada a partir do modelo criado em 1947 por Claude Shannon

e pelo engenheiro eletricista Warren Weaver, os quais desenvolveram um

modelo de comunicação eletrônica.

Segundo os cientistas do comportamento, o modelo de Shannon-

Weaver, cujos componentes se encontram nas Figuras 1 e 2, é útil na

descrição da comunicação humana.

Fonte Transmissor Sinal Receptor Destinatário

Mensagem Mensagem

Figura 1 - Componentes do modelo clássico de comunicação parcial.

Fonte Codifica Mensagem Decodifica a Destinatário

a mensagem Mensagem

Interpreta a realidade Assimila ou

Com a sua cultura rejeita a mensagem

Retroalimentação

Figura 2 - Componentes do modelo clássico de comunicação completo.

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Pode-se dizer que toda comunicação humana tem alguma fonte, uma

pessoa ou um grupo de pessoas com objetivos e razões para comunicar-se.

Estabelecida uma origem, com idéias, necessidades, intenções, informações e

um objetivo, torna-se necessário o segundo ingrediente. O objetivo da fonte

tem de ser expresso em forma de mensagem. Na comunicação humana, a

mensagem existe em forma física - a tradução de idéias, objetivos e intenções

num código, num conjunto sistemático de símbolos.

O codificador é responsável por apropriar-se das idéias da fonte e

colocá-las num código, exprimindo o objetivo da fonte em forma de

mensagens. Na comunicação de pessoa a pessoa, a função codificadora é

executada pelas habilidades motoras da fonte - seu mecanismo vocal (produz a

palavra oral), o sistema muscular da mão (produz a palavra escrita) e os

sistemas musculares de outras partes do corpo (produzem gestos da face e

dos braços, a postura, etc.).

A fonte de comunicação é tida como um objetivo, e o codificador que

traduz ou exprime este objetivo, como mensagem. O canal é o intermediário, o

condutor da mensagem, e a escolha do canal é, muitas vezes, fator importante

na efetividade da comunicação.

A pessoa, na outra extremidade do canal, pode ser chamada de

receptor da comunicação - alvo da comunicação. As fontes e os receptores de

comunicação devem ser similares; caso contrário, não poderá haver

comunicação. O receptor deve reagir ao estímulo, se houver comunicação; se

não reagir, é porque não houve.

Assim como a fonte precisa do codificador para traduzir seus objetivos

em forma de mensagem, para expressar seu objetivo num código, o receptor

precisa de decodificador para retraduzir, para decifrar a mensagem e colocá-la

de forma a ser usada.

Na comunicação de pessoa a pessoa, o decodificador seria o conjunto

de habilidades motoras da fonte. Pode-se considerar o decodificador como o

conjunto de habilidades sensoriais do receptor; e o decodificador, como os

sentidos.

Segundo Berlo, o objetivo da comunicação é mudar comportamentos,

razão pela qual se utilizam mensagens estimulativas. Podem-se levar

mensagens aos indivíduos por diferentes meios, para que eles percebam, com

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facilidade, as vantagens dessas mensagens, modificando, assim, sua maneira

de realizar suas ações com um mínimo de esforço, ou seja, sendo capazes de

inovar e modernizar. Posteriormente, constatou-se que os destinatários não

adotaram, de forma automática, as mensagens emitidas e transmitidas pela

fonte, pois fatores intervenientes teriam afetado o processo de comunicação e,

conseqüentemente, a adoção.

O objetivo básico do homem na comunicação é influenciar o seu

ambiente social e físico. Uma resposta é considerada compensadora se suas

conseqüências são percebidas, pelo respondedor, como capazes de aumentar

a sua influência sobre o seu ambiente. Daí, a importância dos vários

tratamentos que o sistema propõe como instrumento para aguçar a

percepção/atenção dos indivíduos. Essa variedade de tratamentos funciona

como um “reforço” comunicacional estimulativo, cujo objetivo é estimular a

percepção dos indivíduos, criando-lhes um clima para a mudança. Para que

isso aconteça, o destinatário deve ter fácil acesso às mensagens, e estas

devem estar o mais disponível possível para diminuir-lhes a energia gasta

(tensão).

Com vistas em diminuir o esforço gasto pelos indivíduos, quando da

realização de um comportamento, Berlo propôs que mensagens devam lhe ser

enviadas por diferentes canais de comunicação, para que o indivíduo,

percebendo-as, se sinta estimulado a responder ao estímulo; ao mesmo tempo,

para que diminua o esforço despendido na implementação de resposta,

explicitando-lhe o tipo de recompensa que poderá obter se executar

determinada ação. Como pode-se perceber, para esse autor, a mensagem

pode ser entendida como aquilo que o indivíduo transmite a outro, com

determinada intenção.

Quando se tem um objetivo a comunicar e uma resposta a obter, o

comunicador espera que a sua comunicação seja a mais fiel possível. Por

fidelidade entende-se que ele obterá o que quer. O ruído e a fidelidade são

faces da mesma moeda. O ruído é um fator que distorce a qualidade do sinal.

A eliminação do ruído aumenta a fidelidade, enquanto a produção do ruído

reduz a fidelidade.

Os significados surgem a partir da interação social, e o significado

dentro de uma mensagem é influenciado tanto pela própria informação como

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pelo contexto da mensagem. Diante desses fatos, torna-se necessário

considerar uma série de fatores, a saber:

1) Os papéis que essas pessoas desempenham - quem está comunicando;

2) A linguage ou o(s) símbolo(s) usado(s) na comunicação e a respectiva

capacidade de levar a informação e esta ser entendida por ambas as partes;

3) O canal de comunicação ou o meio empregado, e como essas informações

são recebidas por meio dos diversos canais (tais como comunicação falada

ou escrita);

4) O conteúdo da comunicação (relevante ou irrelevante, familiar ou estranho);

5) As características interpessoais do transmissor e as relações interpessoais

entre o transmissor e o receptor (confiança e influência, etc.)

6) O contexto no qual a comunicação ocorre, em relação a estrutura, espaço

físico e ambiente social. Esses diversos fatores e o modelo básico de

comunicação proporcionam uma base para se analisar e compreender a

comunicação.

No modelo clássico de comunicação, tanto a fonte como o receptor são

concebidos como entes distintos, com considerável superioridade da fonte

sobre o receptor. Uma fonte de comunicação, depois de determinar o meio pelo

qual deseja influenciar o receptor, codifica a mensagem destinada a produzir a

resposta desejada. Há, pelo menos, quatro espécies de fatores dentro da fonte,

as quais podem aumentar a fidelidade, quais sejam:

1) Habilidades comunicativas - há cinco habilidades verbais de comunicação;

duas são codificadoras - a escrita e a palavra; duas são decodificadoras - a

leitura e a audição. A quinta é o pensamento, o raciocínio. A facilidade

lingüística de uma fonte de comunicação é fator importante no processo de

comunicação. As palavras das quais se dispõe e a maneira de reuni-las

influenciam o pensamento. Se não houver habilidades comunicadoras

capazes de codificar mensagens corretas, haverá limitação na capacidade

de expressão. Quando se fala em comunicação no contexto pessoal, fala-se

também na maneira como as pessoas aprendem;

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2) Atitudes - a atitude de uma fonte de comunicação influencia os meios pelos

quais ela se comunica. Essas atitudes influenciam, pelo menos, de três

formas:

a) A atitude para consigo - tem a ver com a auto-avaliação que afeta tanto

positivamente como negativamente o tipo de mensagem;

b) A atitude para com o receptor - se essas atitudes forem positivas, este

estará mais propenso a aceitar o que ela diz e pode-se dizer que é

determinante para a sua efetividade. Quando os ouvintes percebem que o

autor ou o orador gosta realmente deles, mostram-se muito menos

críticos;

c) A atitude para com o assunto - a atitude da fonte para com o receptor,

tanto “positiva como negativa”, costuma aparecer, freqüentemente, nas

mensagens.

3) Nível de conhecimento da fonte sobre o assunto - influencia a mensagem,

pois ninguém é capaz de comunicar aquilo que não sabe; ninguém informa,

com a máxima efetividade, sobre algo que não conhece. Por outro lado, se a

fonte sabe “demais”, se for “ultra-especializada”, poderá errar, pelo fato de

suas habilidades comunicadoras serem empregadas de maneira tão técnica

que o receptor acabe não entendendo as mensagens.

4) Posição dentro do sistema sociocultural - nenhuma fonte comunica sem ser

influenciada por sua posição no sistema sociocultural. É necessário levar em

conta suas habilidades comunicadoras, suas atitudes e seus conhecimentos;

é preciso saber mais, ou seja, conhecer o tipo de sistema social em que ela

opera, o papel que desempenha, as funções a que é chamada a executar, o

prestígio que ela própria e outras pessoas lhe atribuem. É imprescindível

conhecer o contexto cultural no qual se comunica, as crenças e os valores

culturais que lhe parecem dominantes, as formas de comportamento

aceitáveis ou não-aceitáveis, exigidas ou não-exigidas em sua cultura.

Precisa-se conhecer tanto suas expectativas quanto às dos outros.

Pessoas de diferentes classes sociais e de passado cultural distinto

comunicam-se de forma diferente, e os sistemas social e cultural determinam,

em parte, as escolhas de palavras que as pessoas fazem, os objetivos que têm

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para comunicar-se, os canais que usam para esta ou aquela espécie de

mensagem, etc.

A posição da fonte no contexto social e cultural influencia o seu

comportamento geral de comunicação, pois ela cumpre papéis e tem

percepções ou imagens variáveis sobre a posição social e cultural do receptor.

Fala-se, separadamente, da fonte e do receptor para fins analíticos,

mas não faz sentido supor que se trate de funções independentes, de tipos

independentes de comportamento. Quando se denomina “fonte”, paralisa-se a

dinâmica do processo em determinado ponto, quando se denomina “receptor”,

corta-se também o processo de comunicação, pois aquele que é fonte, num

instante, já foi receptor e vice-versa.

Se o receptor-decodificador não tiver a capacidade de ouvir, de ler, de

pensar, não será capaz de receber e decodificar as mensagens que o

codificador lhe transmitiu. Pode-se falar em receptor em relação às atitudes, e

o modo como decodifica a mensagem é determinado, em parte, por suas

atitudes para consigo mesmo, para com a fonte e para com o conteúdo da

mensagem. Tudo o que se aplica à fonte aplica-se também ao receptor.

Se o receptor, em termos de conhecimento, não conhecer o código,

não entenderá a mensagem. Se nada sabe sobre o conteúdo da mensagem,

provavelmente não poderá entendê-la. Se não compreender a natureza do

processo de comunicação em si, são grandes as perspectivas de que entenda

mal as mensagens, tire conclusões sobre os objetivos ou intenções da fonte e

falhe na consecução do que pode ser do seu próprio interesse.

A mensagem é o produto físico real do codificador - fonte, enquanto o

discurso é a mensagem. Três fatores devem ser levados em conta na

mensagem: o código, o conteúdo e o tratamento.

O código pode ser definido como qualquer grupo de símbolos capaz de

ser estruturado de maneira a ter significação para alguém. Pode ser por meio

de sons, letras, palavras, idiomas, etc.

O conteúdo pode ser definido como o material da mensagem,

escolhido pela fonte para exprimir o seu objetivo.

O tratamento da mensagem pode ser definido como as decisões que a

fonte de comunicação toma para selecionar e dispor tanto o código como o

conteúdo.

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O veículo que transporta a mensagem dependerá de para que se

quer transmitir (nível de instrução, conhecimento, estilo de vida, etc.), o quê

será transmitido (conteúdo da mensagem), o quanto será transmitido (de

quantidade e de recursos disponíveis para ser transmitido), preferência da

fonte, abrangência em termos de número de pessoas e localização, canais de

maior impacto e mais adaptáveis ao tipo de objetivo da fonte.

A comunicação, nesse contexto, faz parte do processo de mudança

comportamental individual que envolve uma modificação na relação estável

estímulo-resposta.

A partir do reconhecimento de que a aprendizagem é um processo,

pode-se falar dos seus ingredientes e das relações entre eles - conservando

todas as hesitações e qualificações necessárias a qualquer discussão.

Berlo preocupou-se em esclarecer melhor o que se passaria além

dessa relação simples de estímulo-resposta. Segundo ele, os componentes do

modelo clássico de comunicação, em vez de promover uma verdadeira

integração humana entre fonte e destinatário, visa apenas ao melhor ajuste das

mensagens, tornando-as mais adequadas aos objetivos da fonte. O principal

objetivo é o desejo de influenciar - de ter influência sobre si mesmo, sobre os

outros e sobre o ambiente físico. Para iniciar o processo de aprendizagem, é

necessário que as pessoas sejam estimuladas.

O estímulo pode ser definido como qualquer evento que o indivíduo

seja capaz de perceber ou qualquer coisa que uma pessoa pode receber

através de um dos sentidos, qualquer coisa que produza sensação no

organismo humano.

O organismo pode receber e recebe grande variedade de estímulos,

mas, como resultado da exposição a eles, produzirá uma variedade igualmente

grande de respostas.

Há diferentes tipos de respostas - as “descobertas e as encobertas”; as

“descobertas” são observáveis, perceptíveis e públicas, enquanto as

“encobertas” são as que ocorrem dentro do organismo, não são prontamente

observáveis ou perceptíveis, são íntimas. Tanto as repostas “descobertas”

como as “encobertas” tampouco são fixas ou permanentes. É de grande

utilidade distinguir as duas classes de respostas, quando se discutem

aprendizagem e comunicação.

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A aprendizagem pode ser definida como uma mudança na relação

estável entre: a) um estímulo que o organismo individual percebe; e b) uma

resposta que o organismo formula, “descoberta ou encobertamente”.

Se o estímulo se destina a influenciar o organismo, ele deve ser

realmente percebido. O segundo passo no processo de aprendizagem é a

percepção do estímulo pelo organismo. É preciso haver resposta para haver

aprendizagem, mas isso não é condição suficiente. O organismo é capaz de

produzir respostas a estímulos, sem que precise aprender (respostas

reflexivas); quando o organismo muda suas respostas a um estímulo

conhecido, ou dá uma velha resposta a um estímulo diferente, a permanência

não está ainda caracterizada. O organismo tem de decidir se continuará a dar

esta resposta nova ou atribuir uma resposta a este estímulo novo. O que o

organismo faz é observar as conseqüências da resposta. Ele confere, para ver

o que lhe acontece em resultado a este estímulo novo. A primeira resposta

dada pelo organismo é, geralmente, tentativa, hesitante, cautelosa. Podem-se

considerar as primeiras respostas como experimentais.

A resposta experimental é mantida se o organismo percebe que as

conseqüências são compensadoras; é abandonada se o organismo não

percebe as conseqüências como compensadoras. A aprendizagem não terá

ocorrido enquanto a resposta não se tornar habitual, enquanto não for repetida

quando ocorrer o estímulo. O que determina a aprendizagem, a criação do

hábito, é a recompensa. A repetição ocorre se as respostas forem

recompensadas. Em cada caso, observam-se as conseqüências das respostas

e decide-se se beneficiam ou prejudicam. Por vezes, deseja-se apenas utilizar

um padrão de hábito existente; outras vezes, deseja-se fortalecer um padrão

de hábito existente mas que não está fortemente desenvolvido. Toda a

comunicação está relacionada com os hábitos do receptor e com os modos

como ele responde a certos estímulos.

O hábito é uma relação estável entre um estímulo e a resposta que o

indivíduo dá a esse estimulo e pela qual foi recompensado. Cinco princípios

fortalecem as relações E-R, quais sejam:

1) Freqüência de repetição da relação E-R - A freqüência em

comunicação pode ser representada pelas conexões estímulo-resposta, as

quais podem ser fortalecidas pelo emprego do princípio da repetição. Ao

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recompensar uma resposta, estar-se-á fortalecendo o hábito. Se não houver a

recompensa, estar-se-á enfraquecendo o hábito, que poderá ser extinto.

2) Isolamento das relações E-R de outras conexões E-R concorrentes -

Se uma fonte de comunicação for capaz de isolar o receptor e de restringir as

mensagens à disposição do receptor, esta fonte pode aumentar as

possibilidades de que o receptor atenda a sua mensagem, em lugar de atender

a outras mensagens, pois a redução dos estímulos disponíveis aumenta a

efetividade dos estímulos que permanecem.

3) Quantidade de recompensa : nível de recompensa é capital em

matéria de comunicação - A recompensa determina, em grande parte, o

desenvolvimento e o fortalecimento de hábitos de comunicação, assim como o

ritmo e o volume da aprendizagem. Para que as respostas sejam mantidas, há

necessidade de que sejam recompensadas em quantidade e qualidade, pois o

conceito de recompensa deve ser visto como o resultado da combinação de

todas as possibilidades de influenciar o receptor, como conseqüência de

determinada resposta. Algumas dessas conseqüências são imediatas e

evidentes; outras, demoradas e menos aparentes. A necessidade de influenciar

resulta da necessidade do organismo de reduzir sua tensão interna pela

criação de uma estrutura consistente para o ambiente em que opera.

Deve-se lembrar que as pessoas e a sociedade diferem no volume de

aprendizagem e de modificação de comportamento que podem tolerar. Em

qualquer situação, todavia, a modificação de conduta é determinada pela

recompensa esperada versus energia necessária. Os indivíduos não

respondem, se não esperam que suas respostas resultem em conseqüências

compensadoras.

A recompensa deve ser definida no contexto da pessoa que dá a

resposta. Pode ser definida como “alguma coisa dada em retribuição”. O que é

compensador para a fonte pode ser ou não compensador para o receptor. A

recompensa determina a força de hábitos, a rapidez e a extensão da

aprendizagem. A seleção e a interpretação de um estímulo têm relação com a

expectativa de recompensa. Os estímulos são percebidos e interpretados

quando se acredita que as respostas sejam compensadoras. Se não houver

expectativa de recompensa, com freqüência, há recusa em selecionar e

interpretar um estímulo. A ação só irá acontecer quando o indivíduo, após ter

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sido estimulado pela mensagem, for capaz de interpretá-la como algo que lhe

traga, com pequeno esforço, algum retorno (recompensa), seja físico, social ou

econômico.

No ato de comunicação, a recompensa dá maior poder ao ato de

influenciar. Os comunicadores devem lembrar que a resposta que esperam do

receptor deve ser compensadora para ele, ou não haverá aprendizagem. Pode-

se dizer que a recompensa é o resultado da soma de todos os fatores positivos

e negativos compreendidos na resposta que se espera. Na comunicação

eficiente, quando se aumentam os fatores considerados “mais”, em termos de

recompensa, e diminuem-se os fatores “menos”, a comunicação torna-se mais

eficiente.

4) A rapidez ou demora de recompensa é vital para a comunicação

efetiva, bem como para a sua quantidade - Quando um receptor de

comunicação obtém recompensa imediata por sua resposta, é provável que

mantenha essa resposta. Se as recompensas tardam, a força da resposta tem

menor probabilidade de aumentar. Sabe-se que as respostas precisam ser

mantidas; quanto mais depressa se percebem as conseqüências

compensadoras da resposta, maior a probabilidade de que essa resposta seja

mantida. A recompensa deve ser dada o mais breve possível.

5) Quanto ao esforço exigido para a resposta; sendo iguais os demais

fatores, o organismo formula respostas que exigem pequeno esforço e evita as

que exigem muito esforço - Para que a mensagem seja efetivada ou

apreendida, deve-se reduzir o esforço do receptor na formulação da resposta

desejada, pois ele despende energia, trabalho e tempo. Quanto maior a

energia necessária para uma resposta, é menos provável que essa resposta

seja dada; nesse caso, a energia exigida atua como repressora da

aprendizagem. A redução do esforço aumenta as possibilidades de que seja

dada a resposta “certa” (esperada pela fonte).

Na relação de comunicação, a restrita capacidade de as pessoas

envolvidas processarem informações poderá causar certas limitações

perceptivas. As primeiras percepções do mundo pelo homem são vagas,

imprecisas, sem forma. Desde o começo, ele procura impor uma estrutura ao

que percebe; tenta formalizar suas percepções. Grande parte da teoria sobre o

comportamento humano baseia-se na suposição de que o homem, em

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presença da ambigüidade, da ausência de forma, age sob tensões fisiológicas.

Aparentemente, o seu desejo de influir é o desejo de reduzir a própria tensão

pela redução da incerteza a respeito da natureza do meio ambiente.

A aprendizagem incita um paradoxo, já que, enquanto o receptor luta

para reduzir a tensão, a aprendizagem exige pequeno aumento de tensão

(redução da certeza). No entanto, a tensão deve ser criadora, para que o

receptor perceba a possibilidade de posterior redução dessa tensão pela

criação de um padrão de certeza mais consistente de uma estrutura mais útil

da realidade.

Scharamm definiu a fração de seleção de uma mensagem, do ponto de

vista do receptor, como

Fração de Seleção = Esperada Necessária Energia

Esperada Recompensa

Este conceito pode ser ampliado para abranger mais que a seleção da

mensagem. É aplicado, igualmente, à interpretação e à aprendizagem. Decide-

se optar por certos comportamentos que, espera-se, “valham o esforço”.

Decide-se não optar por determinado comportamento quando se acredita que

“não valha esforço”. Pode-se definir a fração de decisão como:

Fração de Decisão = Esperada Necessária Energia

Esperada Recompensa

Quanto maior a recompensa que o indivíduo percebe ao dar uma

resposta, mais energia despenderá, se a tiver disponível, para que possa dar

uma resposta. Quando se diminui a recompensa percebida, a energia exigida

deve também decrescer, para que seja dada a resposta.

A efetividade da aprendizagem pode ser aumentada de uma ou de

duas maneiras, quais sejam, pelo aumento da recompensa ou pela redução da

energia. A natureza da recompensa é complexa e não pode ser interpretada

simplesmente como o benefício físico ou material de curto alcance.

Para ALVES (1997), os sistemas de recompensas são mecanismos

pelos quais as pessoas são premiadas e estimuladas por alcançarem

determinado resultado. Funcionam como importantes dispositivos para focalizar

a atenção, direcionar o comportamento desejado e sinalizar os interesses. As

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retribuições dadas pela empresa em troca das contribuições aos seus

membros podem ser de natureza econômico-financeira ou podem estar

associadas ao ambiente e ao conteúdo da tarefa. Essas últimas são

denominadas recompensas intrínsecas e referem-se a um estado de ânimo

positivo que a pessoa experimenta por estar em certa empresa e por realizar

determinado trabalho, que, por si mesmo, é considerado gratificante e

proporciona sentimento de orgulho.

As recompensas extrínsecas, por outro lado, estão ligadas a incentivos

e estímulos concedidos pela empresa em forma de salários, gratificações,

abonos, distribuição de ganhos, participação nos lucros, promoções, benefícios

adicionais diversos (diretos ou indiretos).

A recompensa é de capital importância para retroalimentar a

manutenção ou a modificação de hábitos. Em grande parte, é ela quem

determina o desenvolvimento e o fortalecimento dos hábitos de comunicação,

assim como o ritmo e o volume de aprendizagem.

Para BOWDITCH (1992), a comunicação eficaz pressupõe o

entendimento, embora existam barreiras à comunicação. Entretanto,

considerando-se o modo complexo como se usam os meios verbais, os

simbólicos e os meios não-verbais para transmitir mensagens, nem sempre se

chega a esse entendimento, mesmo em interações relativamente simples, face

a face, por exemplo. Nesse processo, o ouvinte, em vez de estar formulando

uma resposta, deverá realmente ouvir o que a primeira diz. Assim, por não

ouvir nem prestar atenção em todas as facetas da mensagem, as pessoas

envolvidas não estão efetivamente se comunicando, mas cada uma está

falando para outra. Para esse autor, um bom sistema de comunicação distribui

informações que atuam nas orientações cognitivas e afetam o nível de

concordância sobre os procedimentos e condutas da empresa (comunicação

instrumental), ou cria, modifica e reforça atitudes, normas e valores

(comunicação expressiva). As empresas que apresentam um bom

desempenho possuem vasta e intensa rede de comunicações, reforçada pela

atuação daqueles que procuram assegurar que as pessoas certas recebam as

informações certas, no momento certo. São muitos os problemas e obstáculos

da comunicação que precisam ser enfrentados para que se consolide uma

relação comunicacional.

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A carência de alguns aspectos ou de partes relevantes da informação

dificulta a sua exata apreensão pelo receptor. Essa difícil apreensão ocorre

com mais freqüência nas comunicações verticais, em razão das filtragens que

se verificam, e pode ser minimizada pela redundância ou pela ratificação.

A distorção do sentido correto da informação ocorre quando o

transmissor e o receptor compartilham diferentes crenças e valores. Excesso

ou sobrecarga de informações, que acarreta efeitos cumulativos, pressupõe

adoção de critérios claros de prioridades que minimizem esses efeitos, para

que haja filtragem das informações.

A interpretação equivocada da essência da informação (ouvir o que se

espera ou o que se quer ouvir) e a avaliação prévia ( des)favorável que é feita

da fonte de informação, por parte do receptor, podem alterar a intenção básica

da comunicação. O uso de jargões e de certas expressões, próprios de certas

profissões e especialidades, pode alterar as percepções de verdadeiros

significados, visto que incoerências provocadas por sinais não-verbais ou

gestuais antagonizam-se com a comunicação original.

Efeitos dos sentimentos afetivo-emocionais, favoráveis ou não, alteram

o processo de decodificação e modificam o sentido exato da comunicação.

As comunicações mais efetivas são as objetivas, simples e diretas,

uma vez que ajudam a estabelecer metas que todos compreendam e buscam

alcançar. Entretanto, o processo comunicativo precisa ter forma e conteúdo

adequados às circunstâncias ou à natureza do trabalho.

Para que a comunicação seja eficaz, devem-se evitar os diversos tipos

de falhas vistos anteriormente e utilizar duas habilidades básicas:

1) Habilidade de transmissão, que é a capacidade de se fazer compreender por

outras pessoas ( por exemplo, mediante o uso da linguagem e de outros

símbolos importantes da comunicação); e

2) Habilidade de escutar, que é a capacidade de entender os outros ( por

exemplo, ter empatia, prestar atenção e ler a linguagem corporal e os sinais

não-verbais). Essa habilidade de escutar não significa uma atividade

passiva, mas uma capacidade de escutar a mensagem inteira (verbal,

simbólica e não-verbal) e responder, apropriadamente, ao conteúdo e à

intenção (sentimentos, emoções, etc.) da mensagem.

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A empatia significa colocar-se na posição ou na situação da outra

pessoa, num esforço para entendê-la. É o processo pelo qual se projetam os

estados internos ou as personalidades de outros, a fim de predizer o

comportamento destes. Esses estados internos são vislumbrados quando se

comparam atitudes próprias com predisposições. As expectativas da fonte e do

receptor são interdependentes; cada uma é, em parte, criada pela outra. Se

dois indivíduos tiram inferências sobre os próprios papéis e assumem o papel

um do outro ao mesmo tempo, e se a comunicação depende da adoção

recíproca de papéis, então eles estão em comunicação por interagirem um com

outro. A empatia também é uma forma útil de dar efetividade à comunicação.

Quando a empatia é recíproca, quando há interação, chega-se à situação ideal

de comunicação. A exatidão da empatia diminui quando o grupo aumenta,

quando a comunicação prévia é mínima, e quando não se está motivado numa

situação de comunicação.

A análise da comunicação envolve uma interdependência física, isto é,

fonte e receptor são conceitos diáticos, já que cada qual depende do outro para

a própria existência.

Num segundo nível de complexidade, a interdependência pode ser

analisada como uma seqüência de ação e reação.

A reação interdepende da ação e reação do feedback. O feedback

proporciona à fonte a informação sobre o sucesso na realização de um

objetivo; quando esse processo se realiza, há controle sobre futuras

mensagens que a fonte possa codificar, ou seja, cada um influencia o outro.

A mensagem inicial influencia a resposta subseqüente, porque é

utilizada pelos comunicadores como feedback - como informação que ajuda a

determinar se estão obtendo o efeito desejado. Num terceiro nível de

complexidade, a análise da comunicação preocupa-se com as habilidades de

empatia e com a interdependência produzida pelas expectativas de como os

outros responderão às mensagens.

A adoção de um papel ou a interação exige grande quantidade de

energia, é uma operação que consome muito tempo, é uma contínua

interpretação do mundo conforme o ponto de vista da outra pessoa. Ao

deparar-se com situações sociais desconhecidas, o indivíduo sente-se

fisicamente cansado, em conseqüência dessa espécie de esforço. Mesmo

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quando há condições ideais de comunicação, constata-se que alguns

destinatários não adotam, de forma automática, as mensagens emitidas pela

fonte. A compreensão de que deve ser valorizada a cultura dos destinatários

leva ao melhor ajuste dessas mensagens, por meio de melhor conhecimento

prévio destas.

ALVES (1997) considerou a cultura como um complexo de padrões de

comportamentos, hábitos sociais, significados, crenças, normas e valores

selecionados historicamente, os quais são transmitidos coletivamente e

constituem o modo de vida e as realizações de determinado grupo humano.

Por outro lado, a cultura da empresa, para ele, também agrega um conjunto

complexo de crenças, valores, pressupostos, símbolos, artefatos,

conhecimentos e normas, freqüentemente personificados em heróis que são

difundidos na empresa pelos sistemas de comunicação e pela utilização de

mitos, estórias e rituais, além de processos de endoculturação. Essa coleção

de elementos culturais reflete as escolhas ou preferências da liderança

empresarial e é compartilhada pelos demais membros da empresa, com o

propósito de orientar o comportamento desejado, tanto quanto a integração

interna como a adaptação ao ambiente. Para ele, a cultura pode ser entendida

como uma espécie de lente, por meio da qual as pessoas ou as empresas

vêem o mundo e passam a considerar o modo de vida de cada um como o

mais natural. Ela atua como fator de diferenciação social, já que traz

informações sobre o que o grupo é, pensa e faz, para que ele possa melhor

lidar com o ambiente em que vive. A cultura humana orienta e constrói as

alternativas humanas de ser e de estar, proporcionando as categorias pelas

quais é visto o mundo e explicando as condições em que ele é percebido.

Cada realidade cultural tem a sua própria lógica interna que deve ser

conhecida para que façam sentido as práticas, as concepções e as

transformações pelas quais o mundo passa. O estudo dessa lógica focaliza as

maneiras pelas quais a realidade cultural é codificada, seja pela linguagem,

costumes, idéias e doutrinas, seja pelas crenças, valores, rituais, lendas e

tradições. Esses fenômenos, no entanto, pouco significam fora do universo

cultural do qual são integrantes. Dentro dessa ótica, a empresa pode ser

enfocada como um código de significados que são vivenciados por seus

participantes em sua experiência organizacional comum.

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A empresa pode ser abordada como uma estrutura de

responsabilidades e deveres, em que as tarefas são distribuídas entre os seus

participantes. Nela há relações de papéis e de poder que regulam os seus

diversos subsistemas constituintes que estão articulados entre si, tendo em

vista os seus objetivos.

Por meio da mobilização da energia humana e de recursos materiais,

financeiros e tecnológicos, a empresa devota-se à consecução de suas metas.

Para a coordenação de suas atividades, ela utiliza a divisão do trabalho, a

hierarquia e os processos de comunicação que definem as posições e as

interações entre as pessoas e os grupos no espaço organizacional. Esse autor

considera que a empresa seja formada por subsistemas ( subculturas) que

interagem sinergeticamente, executam tarefas de naturezas distintas e podem

exigir subtipos de gerenciamento, desde que se baseiem em uma filosofia

administrativa comum e fundamentada numa cultura empresarial integradora.

A cultura da empresa molda-se, com o passar do tempo, a partir dos

problemas, dos questionamentos e das demandas que ela enfrenta, os quais

resultam em respostas e soluções que são testadas, avaliadas, selecionadas,

assimiladas e memorizadas, coletivamente, pelos seus membros. Assim, ela é

difundida pelos sistemas de comunicação, numa relação estímulo-resposta.

Ao longo da história, o comportamento humano e as relações

interpessoais têm sido investigados e explicados sob muitas perspectivas, mas

o processo de comunicação é demais complexo para ser inteiramente

abordado de forma simplista e mecanicista.

Segundo CREMA (1984), o enfoque centrado na técnica é mecanicista

e reducionista, visto que leva à demasiada compartimentalização e rigidez.

Muitas vezes, dá-se status de especialização ao processo de rigidez e

unilateralidade de visão, o que leva o homem a considerar-se demasiadamente

seguro, em vez de audacioso, repetitivo, em vez de criativo, numa ilusão de

objetividade e negação de valores, ou seja, leva as pessoas a ajustarem seus

problemas à técnica.

Para estimular a adoção de novas idéias e práticas, faz-se necessário

conhecer conceitos e elementos da difusão. A difusão é um tipo especial de

comunicação que se refere a idéias novas, enquanto a comunicação abarca

todos os tipos de mensagens. No caso da difusão, como as mensagens são

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novas, há grande risco para o receptor. Por isso, quando se recebem

inovações, a conduta é diferente de quando se recebem mensagens com

idéias rotineiras, pois pode-se alterar a forma da fonte, da mensagem, dos

canais e dos receptores dentro do processo de comunicação.

Descobriu-se que os canais de massa são mais importantes para criar

a consciência do conhecimento de uma nova idéia, enquanto os canais

interpessoais servem melhor para promover a mudança de atitudes diante das

inovações. Com base nos princípios da “ homofilia” e da heterofilia, os

indivíduos comunicam-se de forma mais eficiente ou menos eficientes, assim

como modificam atitudes.

A “homofilia” é uma medida de semelhança a respeito de certos

atributos em interação, os quais podem ser crenças, valores, educação, status

social, etc. O princípio da “ homofilia” baseia-se em muitas causas; os

indivíduos semelhantes sentem-se atraídos por interesses comuns.

A comunicação mais efetiva ocorre quando a fonte e o receptor são

homofílicos e tende a ter maiores efeitos em termos de conhecimento obtido,

formação e mudança de atitude.

A heterofilia é o reflexo simétrico da “ homofilia”. Com base na

heterofilia, os indivíduos diferem em conhecimentos, valores, status sociais,

educação e crença; diferem em empatia, que é a capacidade individual de

projetar-se no papel do outro. É importante que a fonte e o receptor sejam

homofílicos, a menos que possam ter alto grau de empatia.

A boa comunicação entre fonte e receptor conduz ao aumento da

“homofilia” em conhecimento, crenças e condutas manifestas.

A difusão do conhecimento e de seus benefícios econômicos requer

muito tempo até este ser internalizado.

A inovação é comunicada por meio de canais, em determinado tempo,

aos membros do sistema social. Seus efeitos podem produzir mudanças de

conhecimento, de atitudes e de conduta manifesta (rejeita ou adota). A adoção

de inovações tecnológicas é um processo de tomada de decisão, por meio da

qual um indivíduo passa de um primeiro contato com a inovação até a decisão

final de um completo e contínuo uso desta.

De acordo com estudos de ROGERS e SHOEMAKER (1974), sobre

as etapas relativas ao processo decisório do indivíduo para adoção de

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tecnologias, observa-se que a tomada de decisão dos produtores irá depender,

significativamente, das seguintes variáveis:

1. Vantagem relativa, que está relacionada com o grau de superioridade de

uma inovação em relação à idéia que se pretende superar, podendo estar

relacionada com vantagens econômicas ou com outros parâmetros, como

nível de custo inicial, facilitação do trabalho, economia do tempo e esforço,

prestígio social, conveniência e satisfação.

2. Compatibilidade, que é o grau percebido de consistência entre inovação e

valores existentes, experiências anteriores e necessidades dos receptores,

pois não se adota com rapidez uma idéia incompatível com os valores

predominantes em relação às normas sociais do sistema.

3. Complexidade, que se refere ao grau percebido de dificuldade relativa para

compreensão e utilização da inovação.

4. Experimentabilidade, que é o grau de experimentação, pois uma idéia já

experimentada apresenta menos riscos aos indivíduos.

5. Observabilidade, que é o grau de visibilidade observada pelos indivíduos;

quanto mais fácil for para o indivíduo ver os resultados de uma inovação,

tanto será maior a probabilidade de adotá-la.

A linha de comportamento racional consta de cinco atividades (fases,

funções básicas).

O processo de decisão sobre a inovação é um processo mental que

consiste na percepção inicial. Quando o indivíduo toma conhecimento, pela

primeira vez, da existência da inovação, ele tem interesse (sente-se persuadido

a buscar novos conhecimentos). O indivíduo, movido pelo interesse provocado

pela percepção inicial, busca novas informações; procura obter mais

informações sobre os princípios da inovação, funcionamento, utilidade, etc.

(conhecimento teórico); procura analisar e avaliar, conceitualmente ou

simbolicamente, a racionalidade, as vantagens relativas e a aplicabilidade da

inovação; busca habilitar-se através do conhecimento e toma decisão favorável

ou não, diante da inovação.

Os elementos da difusão de inovações são sucessivos para chegar-se

à mudança social, a saber:

1. Invenção - processo pelo qual as idéias novas são criadas e desenvolvidas;

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2. Difusão - processo pelo qual as idéias novas são comunicadas aos

membros do sistema social; e

3. Conseqüências - trocas que ocorrem dentro do sistema social, em

conseqüência da adoção ou da resistência às novas idéias.

A mudança é um dos efeitos da comunicação. Antes da promoção ou

da divulgação da nova idéia, deve-se ajustá-la às necessidades do público, ou

seja, dos destinatários.

A mudança que se origina dentro do sistema social pode chamar-se de

mudança imanente, enquanto as idéias novas que chegam do exterior do

sistema social são chamadas de mudança por contato.

As mudanças podem ser:

Imanente - ocorre quando os membros do sistema social se propõem,

com pouca ou nenhuma influência externa, criar e desenvolver idéias novas;

Por contato - é o processo de modificação em que se introduz no

sistema social uma nova idéia originada de fontes externas.

A mudança por contato é realizada entre sistemas. Seu caráter seletivo

é dirigido para o reconhecimento da necessidade de mudança, que pode tanto

ser interna como externa aos indivíduos. Ocorre quando os membros de um

sistema social se vêem expostos às influências externas e podem adotá-las, ou

não, com base em suas necessidades.

A exposição às inovações podem ser espontâneas ou acidentais.

A mudança dirigida por contato é planejada, é conseqüência de

esforços deliberados de pessoas estranhas ao sistema, as quais atuam por

conta própria ou como representantes das agências de mudança, com a

intenção de introduzir novas idéias e alcançar metas definidas.

Os programas de mudança dirigidos são, em boa parte, resultado da

insatisfação com as taxas de mudança imanente e seletivo por contato.

Quando o agente adquire mais experiência técnica e sutileza no

diagnóstico das necessidades do seu público, a mudança far-se-á com maior

rapidez e de forma mais eficiente.

As organizações e agências de mudança despendem esforços para

centrar-se na mudança dirigida.

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A mudança planejada nem sempre oferece resultados satisfatórios. O

desejo de produzir mudanças rápidas tem impedido a aplicação de

conhecimentos científicos na introdução de inovações.

Muitas mudanças são de nível individual; o indivíduo adota ou rejeita a

inovação, disseminada adoção, modernização, aculturação, aprendizagem e

socialização. Outras mudanças ocorrem no sistema social e recebem o nome

de mudança para o desenvolvimento.

A mudança social é um processo que modifica a estrutura do sistema

social; ao se analisarem as mudanças sociais, deve-se conferir atenção

especial à comunicação. Todas as explicações do comportamento humano

nascem diretamente do estudo da aquisição e da modificação do

comportamento dos indivíduos por intermédio da comunicação uns com outros.

Com facilidade, visualizam-se muitos aspectos dos processos de

decisão que se unem para dar a sustentação à mudança social.

A percepção seria então a porta de entrada do sistema, isso porque os

estímulos ao comportamento resultam, de alguma forma, deste mecanismo

interativo básico. A percepção recebe, de um lado, a inovação e, do outro, os

incentivos e obstáculos e, por retroalimentação, os conhecimentos conceituais

e instrumentais.

O ingrediente retroalimentação em comunicação resulta da

possibilidade da fonte em conduzir o destinatário ao comportamento desejado;

longe de promover uma verdadeira integração humana entre a fonte e o

destinatário, visa apenas ao melhor ajuste das mensagens, tornando-as mais

adequadas aos objetivos da fonte.

Deve-se submeter o destinatário às mesmas mensagens, por meio de

diferentes métodos.

A ênfase desse modelo está concentrada na mensagem a ser

comunicada, que deve ser a mais atrativa possível. As campanhas para

adoção de tecnologias baseiam-se nesse método básico de atuação e

persuasão.

Segundo ARAÚJO (1981), para entender o processo de adoção de

novas tecnologias por parte dos agricultores, devem-se examinar suas

características pessoais, bem como suas estruturas socioeconômicas ligadas a

eles, considerando-se as várias situações em que se encontram. Ambas as

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pressuposições estão integradas a uma idêntica visão conceitual que as

consideram como partes complementares do mesmo processo de adoção

tecnológica. Para ele, a mudança comportamental ou o processo de

aprendizagem individual são conceituados como uma modificação na relação

estável estímulo-resposta. Acredita que, à medida que os estímulos vão sendo

percebidos, ou seja, à medida que a atenção e o interesse vão sendo

aguçados, vai-se reagindo e modificando o comportamento e a maneira de ver,

de pensar e de agir.

Para BORDENAVE e PEREIRA (1977), pode-se atuar decisivamente

na formação da mentalidade do indivíduo mediante estimulação de sua

percepção e interpretação das mensagens. Devem-se utilizar metodologias

adequadas para estimular o indivíduo, de acordo com seu sistema de valores,

seu modo de viver e sua formação mental. Então, a metodologia utilizada

poderá contribuir para gerar uma consciência crítica ou uma memória fiel, uma

visão universalista ou uma visão estreita e unilateral, e para estimular a sede

de aprender pelo prazer de aprender a resolver problemas, ou pela angústia de

aprender apenas para receber um prêmio e evitar um castigo.

Para ALVES (1997), a correta utilização da comunicação possibilita o

esclarecimento das razões e da finalidade das mudanças; ajuda a divulgar os

resultados que indicam se os fins pretendidos estão sendo ou não alcançados;

serve para informar sobre os riscos e ameaças; corrige eventuais desvios e

interpretações equivocadas; reduz a ansiedade própria dos processos de

mudança; sustenta a motivação e o comprometimento; e ajuda a superar

momentos conflitantes do processo.

ROGERS e SHOEMAKER (1974) consideraram o agente de mudança

como o elo entre o indivíduo e os sistemas sociais que atuam na criação da

necessidade de mudança, na relação de troca entre seus clientes, devendo

diagnosticar problemas e catalisar suas necessidades, avaliá-las e criá-las por

meio de conselhos e trabalhos de motivação e persuasão, traduzindo suas

intenções para as ações, impedindo a descontinuidade. Para eles, o agente de

mudança é o indivíduo capaz de provocar essas transformações, uma vez que

deve ser um “expert” em saber articular e criar necessidades nos agricultores.

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Esse modelo conceitual foi considerado o mais adequado para analisar

as relações de comunicação entre integradora, via técnico como agente de

mudanças, e produtores, como recebedores dessas mensagens.

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54

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir das entrevistas realizadas, caracterizou -se o perfil dos

produtores, dos técnicos e do sistema produtivo.

Analisou-se o processo de comunicação a partir da comunicação

interpessoal realizada pela Sadia Concórdia S.A. junto aos produtores

integrados, confrontando intenções, expectativas e percepções relacionadas

com seus conteúdos e práticas pedagógicas.

Este estudo permitiu constatar o controle agroindustrial sobre a

produção agrícola, assim como os espaços de ação que ambos dispõem nessa

relação.

3.1. Descrição dos suinocul tores e do sistema produtiv o

Procedência

Do total dos produtores de leitões integrados entrevistados (36),

100% eram procedentes do meio rural.

Origem étnica

Havia preponderância da cultura italiana em todos os estratos (cabeça,

média e cola).

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Ciclo anterior de produção

Em relação ao ciclo anterior de produção desenvolvida por esses

integrados, 100% do estrato cabeça, 90,0% do média e 100% do cola eram

criadores de ciclo completo; 5,0% do média eram criadores de reprodutores,

enquanto os outros 5% do média desenvolviam outras atividades (Quadro 3).

As variáveis etnia, procedência e ciclo anterior de produção (Quadros 2

e 3) indicam semelhanças culturais entre esses produtores.

Quadro 2 - Etnia dos produtores, por estrato, no município de Concórdia-SC,1998 (em porcentagem)

Estrato Italiana Italiana e outras Alemã

I – cabeça 89,9 11,1 -II – média 83,3 11,1 5,6III – cola 100,0 - -

Média geral 91,06 11,1 5,6

Fonte: Dados da Pesquisa.

Quadro 3 - Ciclo anterior de produção, por estrato de produtores, no municípiode Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)

Estrato Ciclo completo Criador dereprodutores

Outras atividades

I – cabeça 100,0 - -II – média 90,0 5,0 5,0III – cola 100,0 - -

Média geral 96,66 5,0 5,0

Fonte: Dados da Pesquisa.

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O percentual médio dos três estratos, no que se refere ao ciclo anterior

da atividade, mostra que a quase totalidade de produtores entrevistados

(96,66%) era de produtores de ciclo completo, o que comprova a tradição

agrícola herdada da colonização, principalmente na atividade suinícola, e

acentuada semelhança entre eles.

Para AGUIAR (1993), desde o início da atividade suinícola, esses

colonos tinham o objetivo de produzir para subsistência e de comercializar os

excedentes.

A crescente demanda paulista de suínos vivos e de banha fez a

suinocultura assumir especial importância na unidade produtiva, sem, contudo,

provocar alterações na organização interna da unidade familiar como unidade

produtiva. Tal fato demonstra a inserção desses produtores na comercialização

de produtos coloniais para geração de riquezas.

Idade

A idade consiste na etapa da vida em que os produtores se encontram

declarados no ato da entrevista e está relacionada com “vivências” e

“experiências”. A idade é fator limitante para alguns produtores, quando

pensam na hipótese de mudar de atividade produtiva ou de continuar na

atividade como produtor independente. Observa-se uma distribuição variada de

idade entre os produtores entrevistados, já que um número maior de

produtores encontrava-se na faixa de 29 e 44 anos, idade mínima de 17 e

máxima de 67 anos. O Quadro 4 mostra que a idade média mais elevada era

do estrato cola.

Sexo

Dos produtores entrevistados, 100% eram do sexo masculino, razão

por que todos os questionários foram respondidos pelos homens, visto que, na

estrutura interna das unidades familiares entrevistadas, concentra a figura do

pai, autoridade e tomador de decisão, o que configura assim o espaço

masculino nas decisões e no mando da casa.

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Quadro 4 - Idade média dos produtores, por estrato, no município de Concór-dia-SC, 1998

Estrato Idade média

I – cabeça 40II – média 41III – cola 46

Média geral 42,3

Fonte: Dados da Pesquisa.

Estado civil

Conforme Quadro 5, dos produtores entrevistados, 88,9% eram

casados. Quanto aos solteiros, observa-se que nessas unidades familiares

havia participação desse membro da família nas atividades da unidade

produtiva (pai, tio, mãe, etc.), o que não descaracteriza a propriedade como

familiar.

Quadro 5 - Estado civil dos produtores, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)

Estrato Casado Solteiros

I – cabeça 100,0 0,00II – média 77,8 22,20III – cola 88,9 11,10

Média geral 88,9 16,65

Fonte: Dados da Pesquisa.

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Número de filhos

Quanto ao número médio de filhos por estrato (Quadro 6), observa-se

que não havia muita diferença entre os estratos.

Quadro 6 - Número médio de filhos dos produtores, por estrato, no municípiode Concórdia-SC, 1998

Estrato Número de filhos

I – cabeça 3II – média 2III – cola 3

Média geral 2,6

Fonte: Dados da Pesquisa.

Plano de saúde

A preocupação com a saúde é constatada pelo interesse dos

produtores em adquirir plano privado de saúde. Os resultados indicam que os

produtores que tinham nível socioeconômico mais elevado apresentavam maior

interesse em adquiri-lo (Quadro 7). Constata-se que, em média, 44,43% dos

produtores entrevistados possuíam plano privado de saúde, variável que reflete

a preocupação constante com a saúde física, necessária e importante para o

desempenho do trabalho familiar, já que, nessa atividade, os produtores são

vulneráveis às intempéries.

Nível de escolaridade

Nota-se que a maioria dos produtores (79,6% era a média geral dos

três estratos) estava cursando ou havia cursado o 1.o grau.

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Quadro 7 - Número de produtores que tinham, ou não, plano de saúde privado,por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998

Estrato Sim Não

I – cabeça 66,7 33,3II – média 44,4 55,6III – cola 22,2 77,8

Média geral 44,43 55,56

Fonte: Dados da Pesquisa.

Quadro 8 - Nível de escolaridade dos produtores, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998

Estrato 1.o grau 2.o grau 3.o grau Pós-graduação

I – cabeça 88,9 - 11,1 -II – média 72,2 11,1 16,7 1,0III – cola 77,7 22,3 - -

Média geral 79,6 16,7 13,9 1,0

Fonte: Dados da Pesquisa.

Observa-se que, do estrato cabeça, 88,9% possuíam 1.o grau, 55,6%

dos quais estudaram da 1.a a 4.a série, e 11,1% concluíram o 3.o grau, e 5,55%,

administração de empresas. Do média, 72,2% possuíam 1.o grau, 11,1%

freqüentavam o 2.o grau (dos que tem o 2. o grau, 5,6% fizeram curso técnico

em agropecuária, e 5,6%, curso técnico em contabilidade). Dos 16,7% que

estavam no 3.o grau, 5,6% possuíam curso superior incompleto, e 11,1%, curso

superior completo. Dos que concluíram o 3. o grau, 5,6% fizeram curso superior

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em contabilidade, e 5,6%, mestrado. Do cola, 77,7% possuíam 1.o grau ou o

estavam cursando; e 22,3% estavam no 2.o grau ou o estavam cursando (dos

que já o cursaram, 11,1% fizeram curso técnico em agropecuária). Não havia

produtores com 3.o grau, nesse estrato.

Na média geral dos três estratos, 41,7% dos produtores possuíam até

a 4.a série do 1.o grau, ou seja, grande parte dos produtores entrevistados tinha

baixo nível de escolaridade. A média nos três estratos de produtores que

estavam cursando ou já cursaram o 1.o grau era de 79,6%.

No estrato cabeça, não havia produtores no 2.o grau, e 11,1% estavam

no curso superior. Dos que estavam cursando o 3. o grau, muitos faziam

administração de empresas, variável que pode revelar a tentativa de melhoria e

eficiência administrativa por parte desse estrato, em relação aos outros.

No estrato média encontrava-se o grupo de produtores que possuíam

nível de escolaridade mais diversificado.

Posse da terra

Quanto à posse da terra, verifica-se que 100% dos produtores, em

todos os estratos, eram proprietários de terra, 11,1% dos quais arrendavam

terras para cultivo do milho. O interesse pelo arrendamento da terra para

plantação do milho pode ser devido à tentativa de diminuir custos e evitar a

dependência de insumos externos à propriedade. Dentre os pré-requisitos

exigidos pela integradora, citam-se a propriedade da terra, a capacidade de

alojar lotes de 300 ou 450 suínos, a existência de esterqueiras para

armazenamento de dejetos e de silo para depósito de ração e a localização da

propriedade a uma distância inferior a 60 quilômetros da indústria.

Distância média das propriedades, em quilômetro

Quanto à distância média das propriedades até a sede do município,

verifica-se que a média, por estrato, de produtores entrevistados era de

14,18 km. A distância entre as propriedades até a sede do município não

variava muito, porque, como visto anteriormente, a exigência era de que os

integrados se situassem próximos a ela.

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Quadro 9 - Distância média (km) das propriedades até a sede do município deConcórdia-SC, por estrato, 1998

Estrato km

I – cabeça 16,00II – média 12,00III – cola 14,55

Média geral 14,18

Fonte: Dados da Pesquisa.

Área média das propriedades

No Quadro 10, observa-se que há relação direta entre o nível do

estrato e o tamanho das propriedades. O estrato com maior área média (40 ha)

era o cabeça.

Quadro 10 - Área média (ha) das propriedades, no município de Concórdia-SC,por estrato, 1998

Estrato ha

I – cabeça 40II – média 27III – cola 25

Média geral 30,6

Fonte: Dados da Pesquisa.

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A maioria das propriedades apresentava relevo com morros e muitas

áreas impróprias para o cultivo, o que não favorecia a mecanização. O plantio

era realizado em terrenos menos inclinados, o que fazia com que muitos

produtores arrendassem terras para expansão da cultura do milho, uma das

exigências da integradora.

Tipo de moradia

No estrato considerado cabeça não foram encontradas moradias feitas

de madeira, o que implica que, quanto mais alto o nível socioeconômico,

melhor o tipo de material de construção utilizado (Quadro 11).

Quadro 11 - Tipo de moradia dos produtores do município de Concórdia-SC,por estrato, 1998 (em porcentagem)

Estrato Alvenaria Madeira Mista

I – cabeça 67,7 - 33,3II – média 61,1 11,1 27,8III – cola 44,0 33,3 22,2

Média geral 57,6 22,2 27,7

Fonte: Dados da Pesquisa.

Tipo das instalações suinícolas

Segundo GOMES et al. (1992),

a preocupação com melhorias das edificações para a criação de suínos teveseu início na década de 60 e 70, com o estabelecimento de agroindústrias e ademanda crescente de suínos para abate. Diante da escassez de animais paraabate, as indústrias motivaram os suinocultores a produzirem mais e,consequentemente, a aumentarem os seus plantéis e a investirem emconstruções rurais.Na década de 70, em razão da política vigente, especificamente a de créditosubsidiado, os produtores investiram nas instalações. Nessa ocasião, pela faltade edificações para a realidade brasileira, as empresas buscaram na Europa e

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Estados Unidos, plantas de construções para suínos juntamente com osanimais para a formação de plantéis geneticamente melhorados.

No Quadro 12, ao relacionar o tipo de moradia dos produtores (Quadro

11) com o tipo de instalações, observa-se que o material de primeira qualidade

(alvenaria) sempre era priorizado para a atividade suinícola, conforme padrão

exigido pela integradora, já que isso facilitava a manutenção de higiene e

saúde dos animais. Com isso, percebe-se que os produtores, em ambos os

estratos, empenhavam-se, principalmente, em promover melhorias nas

instalações suinícolas, do que em suas próprias moradias.

Quadro 12 - Tipo de instalações suinícolas na propriedade dos produtores en-trevistados, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (emporcentagem)

Estrato Alvenaria Madeira Mista (alvenaria emadeira)

I – cabeça 77,8 - 22,2II – média 88,9 - 11,1III – cola 88,9 - 11,1

Média geral 85,2 - 14,8

Fonte: Dados da Pesquisa.

Pretensão de ampliar a suinocultura

Do total de produtores entrevistados, 52,77% pretendiam ampliar a

suinocultura; 33,34% não pretendiam fazê-lo; e 13,89% estavam em dúvida. A

ampliação e, ou, os investimentos em melhorias das instalações dependia da

capacidade econômica dos produtores, pois sempre estavam interessados na

modernização. Quando havia recursos disponíveis e percebiam as vantagens

(custo x benefício), alocavam, imediatamente, recursos para a atividade

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produtiva, adequando-se às exigências da integradora. Os outros que não

pretendiam investir sentiam-se desmotivados, pois estavam descapitalizados.

Área exclusiva para a suinocultura

Observa-se que a área média dos estratos, destinada exclusivamente à

suinocultura, era de 10,33 ha (Quadro 13). Nessa área estavam incluídas tanto

as instalações suinícolas quanto as de cultivo do milho. A área para produção

de milho oscilava muito, o que não permitia a sua ampliação (sob pena de

sacrificar capoeirões e matas nativas), razão por que esses produtores

arrendavam outras terras. A produção de milho dependia da disponibilidade de

mão-de-obra e do número de criadeiras.

Quadro 13 - Área média das propriedades, destinadas exclusivamente à suino-cultura, por estrato de produtores, no município de Concórdia-SC,1998

Estrato ha

I – cabeça 9II – média 12III – cola 10

Média geral 10,33

Fonte: Dados da Pesquisa.

Outras atividades desenvolvidas na propriedade

Com relação às atividades desenvolvidas na propriedade, por estrato,

no estrato cabeça, 11,1% criavam suínos exclusivamente; 66,6%, além da

suinocultura, possuíam mais de uma atividade agrícola; 11,1%, além da

atividade suinícola, possuíam mais duas atividades agrícolas; e 11,1% criavam

suínos e realizavam mais três atividades agrícolas. Desses 88,8% que

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desempenhavam outras atividades agrícolas, 11,1% plantavam grãos, erva-

mate e frutas, e 88,9%, grãos, erva-mate, frutas e outros.

No estrato média, 5,6% criavam suínos, exclusivamente; 50,0%, além

da suinocultura, desenvolviam mais uma atividade agrícola; 11,0%, além da

atividade suinícola, desenvolviam outras atividades não-agrícolas; e 33,4%

criavam suínos e desenvolviam duas atividades agrícolas. Desses 94,4% que

desempenhavam outras atividades agrícolas, 13% plantavam grãos e frutas;

6,0%, grãos, erva-mate e outros; 6,0%, grãos, fumo e frutas; 75,0%, grãos,

erva-mate, frutas e outros; e 11,0% desempenhavam atividade não-agrícola.

No estrato cola, 22,2% criavam suínos e aves; 11,1%, além da

suinocultura, desempenhavam outra atividade não-agrícola (indústria); 66,7%

criavam suínos e desenvolviam outras atividades agrícolas (lavoura, avicultura,

bovinocultura de leite). Dos cola, 66,7% eram suinocultores e realizavam

outras atividades agrícolas (grãos, erva-mate, frutas e outros).

Embora as transformações capitalistas na agricultura tenham causado

modificações na pequena produção, em razão da vinculação crescente ao

mercado e da subordinação ao capital com ênfase em determinado produto, a

base econômica principal desses produtores era a suinocultura. Muitos destes

diversificavam suas atividades, utilizando-se desse recurso como forma de

prover as necessidades da família e garantir os itens básicos do regime

alimentar.

Dos produtores entrevistados, 16,66% atuavam, exclusivamente, na

atividade, enquanto os demais exploravam agricultura diversificada para

subsistência. Mediante esses produtos, muitos sazonais, havia entrada de

algum recurso ao longo do ano, o que permitia melhor equilíbrio financeiro da

família, principalmente quando o preço dos suínos estava instável.

Entre as atividades para exploração comercial encontravam-se o

plantio da erva-mate, a avicultura, a fumicultura e a bovinocultura de leite (que

estão sendo fomentadas na região). Além dessas, o sistema de produção

abrangia lavoura, piscicultura (também em fase de implantação) e explorações

consideradas atividades de subsistência1.

1 Atividade de subsistência inclui animais de pequeno porte e produção de pomar (freqüentemente,

encontram-se atividades adicionais, como mel e vinho), juntamente com cereais e legumes básicos,sobretudo lavoura de feijão, batata-doce, milho, aipim e batatinha e hortaliças.

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Embora esses produtos citados representassem uma fonte importante

de renda, também eram utilizados sob a forma de autoconsumo e rações.

Vale destacar a importância dada à exploração do milho, como

fundamental na participação da composição da ração porcina. De modo geral,

as unidades de produção familiar estavam organizadas em seis tipos de

explorações, aproximadamente.

Principais razões da participação de produtores no sistema integrado

Todos os produtores, independente do estrato, participavam do

sistema integrado, em virtude da facilidade e garantia na comercialização e no

transporte dos produtos e da assistência técnica oferecida.

A produção contratual integrada suinícola, embora verbal, permitia às

agroindústrias um controle do processo produtivo, em que o “pacote

tecnológico” devia ser utilizado.

Tempo de vinculação comercial das famílias produtoras

Observa-se que, no estrato cabeça, 55,56% dos produtores tinham

maior tempo de vinculação comercial à integradora, em torno de 20 a 35 anos,

enquanto nos estratos cola e média a vinculação abrangia 44,44% e 38,89%,

respectivamente, dos produtores.

Dentre os produtores com menor tempo de vinculação comercial à

integradora, quatro a 10 anos, encontravam-se os do estrato média, com

27,78%.

O tempo de vinculação desses produtores familiares à integradora

possibilitava visualizar o grau de dependência destes.

O comprometimento dos produtores com a produção de suínos para a

integradora, mediante contrato verbal, induzia ao questionamento de como se

dava o desligamento do sistema integrado, caso uma das partes envolvidas

estivesse interessada.

No “Manual do Suinocultor” elaborado pela integradora, no item que se

refere ao desligamento, há a questão: Como se faz para desligar-se da

integração Sadia?

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Quadro 14 - Tempo de vinculação comercial da família produtora à integradora,por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998

Tempo de vinculação, em anosEstrato4-10 10-20 20-35

I – cabeça 11,11 33,33 55,56II – média 27,78 33,33 38,89III – cola 11,11 44,44 44,44

Média geral 16,66 37,03 46,29

Fonte: Dados da Pesquisa.

Observa-se que cabia ao suinocultor, assim como à integradora,

suspender o vínculo verbal que existia entre as partes. Como o ingresso no

sistema era espontâneo, a saída ou o desligamento também devia sê-lo. Por

isso, uma vez decidido a desligar-se do sistema de integração, cabia ao

produtor a tarefa de procurar o técnico e prestar os devidos esclarecimentos,

assim como à empresa, caso decidisse fazê-lo. O produtor era orientado a

entregar os lotes integrados à integradora; após quitadas as despesas com

alimentação, estaria desvinculado do sistema. Se o desligamento fosse feito

em circunstâncias normais, ou seja, sem problemas para as partes, o retorno

seria permitido; caso contrário, se o desligamento fosse forçado, a reintegração

do produtor seria mais difícil.

Integração social dos produtores

Quanto à integração social dos produtores de leitões, pode-se dizer

que, além do profundo vínculo com o trabalho, a vida social em comunidade

era valorizada e estruturada a partir da participação em eventos, festividades

religiosas e missas.

Segundo AGUIAR (1993),

a vida em comunidade é parte da existência desse grupo social, extensão doseu ser. A igreja é o símbolo da comunidade, assim como a comunidade e areligiosidade são fatores determinantes na conduta desse grupo. O culto

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dominical (católico) envolve praticamente todas as famílias assim como asfestas nos centros comunitários....os dias santos, os casamentos e batizados motivam as festas, os bailes e ascantorias. O sentimento cristão justifica a união, o desenvolvimento de práticasde ajuda mútua, e a colaboração ...O convívio se dá também em outras esferas, nos momentos de descanso“mateadas”, feriados e domingos, através de visitas aos vizinhos e parentespara a troca de afeto e informações.

Na relação de integração, o jogo de futebol entre técnicos e produtores,

na comunidade, era também uma tentativa de interação de ambas as partes.

A Associação de Produtores de Leitões, criada em 1986, tem

viabilizado a organização desses produtores, pois proporciona espaço

necessário para que discutam as dificuldades encontradas e suas possíveis

soluções. A reunião (jantar da associação) ocorre mensalmente, ocasião em

que os associados discutem alguns assuntos de interesse da categoria.

Embora muitas questões pertinentes aos problemas que enfrentam ainda não

sejam discutidas, acredita-se que a pouca experiência na condução de

reuniões (há dois anos apenas) e a não-tradição em associativismo interfiram

na condução dessas reuniões.

Esse espaço é também utilizado, com certa freqüência, pelos técnicos

e pelos diretores da integradora, com vistas na veiculação de mensagens

sobre a política da empresa e, ou, sobre novos procedimentos a serem

implantados. É usado, ainda, por vendedores de máquinas e insumos

agrícolas, para demonstração e venda.

Embora 100% dessa categoria de produtores estejam filiados ao

quadro de associados, o fato de pertencer à integradora não implica que a

totalidade participe, efetivamente, das reuniões.

Acredita-se que a constituição dessa Associação de Produtores de

Leitões possa representar o primeiro passo para a efetiva organização dessa

categoria e para o maior poder de reivindicação junto à integradora.

Horas dedicadas à atividade suinícola

A suinocultura constitui atividade que não exige elevado número de

mão-de-obra, embora exija esforço físico e dedicação intensiva. Em todos os

estratos, constata-se que a média de tempo trabalhado variava em torno de 15

horas/dia, sem feriados e finais de semana livres (os leitões requeriam

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cuidados ininterruptos), razão por que havia sempre alguém de plantão. A

responsabilidade do manejo, geralmente, era dos homens, embora muitas

mulheres também o fizessem, trabalhando, excessivamente, nas lidas

domésticas e na atividade suinícola.

A introdução de novas técnicas e a substituição de animais por raça

mais especializada com maior volume de carcaça e menor espessura de

toucinho facilitava, expressivamente, o manejo dessa atividade.

Atuação familiar no planejamento e na execução das atividades suinícolas

A atuação da família na atividade suinícola é descrita no Quadro 15.

Quadro 15 - Atuação dos membros da família na atividade suinícola, por es-trato de produtores, no município de Concórdia-SC, 1998 (emporcentagem)

Estrato Produtor Casal Família

I – cabeça - - 100,00II – média 6,0 - 94,00III – cola 22,0 12,0 66,00

Média geral 14,0 12,0 86,66

Fonte: Dados da Pesquisa.

No estrato cabeça, todos os membros da família atuavam na atividade,

ou seja, havia 100% de presença da mão-de-obra familiar (o casal e filhos). O

exercício exclusivo da mão-de-obra familiar resultava em maior eficiência na

atividade, principalmente pelo maior comprometimento dos envolvidos.

Nos estratos média e cola, havia alguns casos em que a atuação se

restringia à mão-de-obra somente do produtor ou do casal, razão pela qual era

necessário requisitar mão-de-obra permanente ou temporária.

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A impossibilidade de mecanização, devido à topografia da propriedade,

intensificava a necessidade de mão-de-obra externa à propriedade.

Em uma das famílias entrevistadas, constatou-se a existência de três

gerações de produtores que exerciam as mesmas atividades.

A vida cotidiana desses produtores estava estruturada em torno da

família e do trabalho. A família era a principal unidade de produção e de

consumo, visto que ela fornecia a base da organização da produção e estava

entrelaçada num espaço privilegiado do cotidiano desses produtores e na sua

conformação de mundo.

Quadro 16 - Atuação da família no planejamento das atividades na proprieda-de, no período da entrevista, por estrato, no município de Con-córdia-SC, 1998 (em porcentagem)

Estrato Participa Não participa

I – cabeça 100,0 -II – média 94,4 5,6III – cola 77,8 22,2

Média geral 90,7 13,9

Fonte: Dados da Pesquisa.

Embora os entrevistados alegassem que havia um planejamento

conjunto entre os membros da família na execução das atividades, percebe-se

que existia divisão de tarefas entre homens e mulheres.

Cotidiano do produtor integrado

Os adultos acordavam às 5 ou às 6 horas e colocavam fogo no fogão a

lenha, enquanto preparavam o chimarrão, ao som do rádio.

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O horário de estudo dos filhos era no período matutino, principalmente

os que estudavam da 1.a a 4.a série. As tarefas domésticas eram tipicamente

femininas, e as filhas que haviam concluído a 4. a série acompanhavam a mãe

nos afazeres domésticos, na lavoura, no pomar e no trato dos animais.

Os homens realizavam atividades “fora de casa”, faziam o manejo dos

animais, tratavam os porcos, limpavam as instalações (muitas vezes, as

mulheres também o faziam), vistoriavam os bebedouros e os comedouros e

resolviam assuntos bancários.

A agricultura familiar seguia um planejamento segundo o qual as

tarefas agrícolas, desde o preparo do solo até a colheita, eram reguladas de

forma a permitir a ocupação de todos os membros do grupo familiar também na

execução das atividades. A organização orientava-se pela produção de

produtos direcionados e contratados pela agroindústria, sustento financeiro da

propriedade, e pela necessidade cotidiana de prover os alimentos para a

subsistência familiar.

A divisão do trabalho atribuía aos elementos masculinos as atividades

consideradas como significantes economicamente, assim como aquelas que

requeriam esforço físico, alterando-se na lavoura, na criação, no manejo de

maquinários e implementos e na manutenção das instalações e benfeitorias. Às

mulheres cabiam as tarefas domésticas diárias, o trato e o cuidado dos animais

(lavoura, horta, gado leiteiro, aves, etc.), como também a ajuda na limpeza das

instalações e na fabricação artesanal de produtos caseiros. Ainda crianças, os

filhos começavam a participar das atividades, realizando capina e ajudando na

época da colheita.

No estrato cabeça, a participação da família no planejamento das

atividades era de 100%, o que comprova o elevado grau de comprometimento

e eficiência desses produtores.

Mão-de-obra externa à propriedade

Conforme Quadro 17, o estrato cola, comparado com os outros

estratos, é o que tinha maior porcentagem de empregados permanentes, razão

por que cabia ao técnico verificar se o custo da alocação da mão-de-obra

permanente da propriedade era condizente com a realidade desses produtores.

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Quadro 17 - Alocação da mão-de-obra permanente na suinocultura, por estrato,no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)

Estrato Sim Não

I – cabeça 44,4 55,6II – média 44,4 55,6III – cola 77,8 22,2

Média geral 55,53 44,4

Fonte: Dados da Pesquisa.

Com relação ao emprego da força de trabalho, constata-se que apenas

a utilização da mão-de-obra familiar efetiva na condução da atividade agrícola,

muitas vezes, não era suficiente. Em muitas famílias, os filhos estudavam e

havia escassez da mão-de-obra familiar, o que implicava a contratação de

mão-de-obra externa à propriedade, já que a maioria desses produtores

diversificava sua produção e necessitava de maior emprego da mão-de-obra

permanente.

A demanda de mão-de-obra ocorria nos meses de agosto a dezembro,

época em que se concentrava uma série de atividades agrícolas, tais como

preparo do solo, semeadura, limpeza da lavoura de milho e, para alguns

produtores, colheita de feijão.

Observa-se que, dos estratos analisados, o cola era o que possuía

número reduzido de mão-de-obra temporária na suinocultura (Quadro 18). A

substituição da mão-de-obra permanente pela temporária representava uma

alternativa de diminuição dos custos, opção que deveria ser verificada pelos

produtores junto aos técnicos.

Interesse dos filhos em assumir a propriedade

Do total de produtores entrevistados, 61,13% acreditavam que os filhos

tinham interesse em assumir a propriedade no futuro (Quadro 19), enquanto

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Quadro 18 - Alocação da mão-de-obra temporária na lavoura, por estrato deprodutores, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcenta-gem)

Estrato Sim Não

I – cabeça 25,0 75,0II – média 29,4 70,6III – cola 22,2 77,8

Média geral 25,53 74,26

Fonte: Dados da Pesquisa.

Quadro 19 - Interesse dos filhos em assumir a propriedade no futuro, por estra-to, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)

Estrato Sim Não Não sabiam

I – cabeça 66,7 22,2 11,1II – média 61,1 5,6 33,3III – cola 55,6 22,2 22,2

Média geral 61,13 16,66 22,2

Fonte: Dados da Pesquisa.

16,66% acreditavam que os filhos não tinham interesse em assumi-la por

causa das dificuldades encontradas na agricultura (políticas agrícolas

inadequadas), assim como por causa da pouca lucratividade da atividade,

razão de desestímulo. Muitos desses produtores incentivavam os filhos a

estudar ou a buscar novas alternativas.

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Número de produtores que pretendiam continuar na atividade

Apesar das dificuldades encontradas na suinocultura, a maioria dos

produtores demonstrava interesse em continuar na atividade, já que o

abandono da atividade implicava assumir riscos e incertezas. Tendo em vista

que esses produtores tinham aversão ao risco, preferiam, então, caminhos

seguros, em razão da experiência, do passado e da tradição, além de terem

investido muito em instalações.

Quadro 20 - Produtores que pretendiam continuar na atividade, por estrato, nomunicípio de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)

Estrato Sim Não

I – cabeça 88,9 11,1II – média 88,9 11,1III – cola 97,2 2,8

Média geral 91,66 8,34

Fonte: Dados da Pesquisa.

Utilização de crédito rural, por estrato

Conforme Quadro 21, a média do total de produtores que não tinham

utilizado crédito era de 52,73%. Dos produtores do estrato cabeça,

considerados os melhores situados entre os três estratos, 66,7% não tinham

utilizado crédito agrícola. Embora estivessem preocupados com a melhoria das

condições técnicas de suas unidades produtivas, evitavam recorrer aos

financiamentos bancários disponíveis, uma vez que estes eram incompatíveis

com suas possibilidades de pagamento. Esse comportamento pode ser

explicado, parcialmente, pelas elevadas taxas de juros cobradas nos

empréstimos agrícolas.

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Quadro 21 - Produtores que utilizavam crédito agrícola, por estrato, no municí-pio de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)

Estrato Não Sim

I – cabeça 66,7 33,3II – média 47,1 52,9III – cola 44,4 55,6

Média geral 52,73 47,26

Fonte: Dados da Pesquisa.

Nível de satisfação dos produtores para com o sistema integrado

Quanto ao nível de satisfação dos produtores, independente do estrato,

52,76% do total de produtores estavam satisfeitos com o sistema integrado,

visto que 5,55% destes o consideravam excelente, se comparado com o de

outras integradoras da região, e consideravam razoáveis a comercialização, a

assistência técnica e a ração de menor custo. Dos 47,24% que estavam

insatisfeitos, observa-se que a percepção negativa advinha das dificuldades

encontradas e do pouco retorno financeiro que os produtores tinham tido na

atividade.

Quando questionados se estavam satisfeitos ou insatisfeitos, as razões

apontadas foram as mais diversas, conforme transcrito a seguir:

Os produtores dizem que a suinocultura é uma atividade que não estárecompensando, já que o preço do porco não compensa o esforço e oinvestimento realizado.A maioria dos produtores reclama dos preços pagos pela Integradora, mas nãoconseguem arcar sozinho com o custo da produção, pois, segundo eles, faltacapital de giro.

Nesse sentido, a integração permitia a compra da ração com prazo

para pagamento, o que facilitava o financiamento para a produção com

redução de riscos. Segundo eles, para que a propriedade tornasse viável

economicamente e houvesse maior satisfação,

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seria necessário que a integradora elevasse o preço pago pelo produto, demodo a permitir que a exploração apresente resultados econômicos positivos.Sempre temos que aumentar a produtividade e diminuir custos.

Percepção dos integrados quanto à pessoa que deveria auxiliá-los naresolução de problemas

No estrato cabeça, para 55,5% dos produtores, todos deveriam, em

conjunto, auxiliá-los (agroindústria, cooperativa, sindicato ou associação e

órgãos governamentais); para 22,2%, a cooperativa deveria fazê-lo; para

11,1%, agroindústria; e para 11,1%, órgãos governamentais.

No estrato média, para 27,7% dos produtores, todos deveriam, em

conjunto, auxiliá-los (agroindústria, cooperativa, sindicato ou associação e

órgãos governamentais); para 44,4%, órgãos governamentais; para 16,7%,

agroindústria; e para 5,6%, sindicato ou associação.

No estrato cola, para 55,6%, todos deveriam, em conjunto, auxiliá-los

(agroindústria, cooperativa, sindicato ou associação e órgãos governamentais);

para 22,2%, somente os órgãos governamentais; para 11,1%, cooperativa; e

para 11,1%, agroindústria.

No período de realização da pesquisa, os produtores, de maneira geral,

reclamavam do preço pago por kg de suíno. Apesar do descontentamento geral

com o pagamento realizado pela integradora, os produtores creditavam ao

conjunto (agroindústria, cooperativa, sindicato ou associação e órgãos

governamentais) a responsabilidade pela situação em que se encontravam, na

expectativa de que eles os auxiliassem na resolução de seus problemas.

Embora não se tenha proposto estudar a posição reivindicatória desses

produtores, faz-se necessário refletir sobre as estruturas organizativas

presentes na região e sobre a postura dos produtores diante das dificuldades

encontradas.

As estruturas organizativas relacionadas com suinocultura, presentes

no Estado de Santa Catarina, são ACCS (Associação de Criadores de Suínos

do Estado de Santa Catarina); Associação dos Produtores de Leitões,

Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Estado de Santa Catarina; Sindicato

dos Produtores Rurais; Associação Estadual dos Condomínios Suinícolas;

APACO (Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Oeste Catarinense);

e Associação da Escola Familiar Rural Santo Agostinho.

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Segundo MIRANDA (1995), as estruturas organizativas possuem

pouco ou nenhum espaço de negociação no âmbito da relação contratual. Essa

situação de fragilidade é devida ao tipo de atividade que é a criação de suínos

(ciclo biológico). O endividamento dos integrados junto à integradora é outra

dificuldade a ser contestada, assim como a estrutura oligopolizada da empresa

e a ausência de atuação do Estado mediante políticas agrícolas para a

pequena produção. O próprio sindicato de trabalhadores rurais, que reúne

apenas os pequenos produtores, reconhece que as reivindicações dos

suinocultores integrados são secundarizadas por eles, porque, de certa forma,

são vistos como elite entre os pequenos produtores, distantes das camadas

mais desprovidas de agricultores.

O sindicato reconhece que muitos integrados à suinocultura estão à

beira da exclusão, embora toda a mobilização seja destinada à pequena

produção.

O poder de reivindicação implica coesão, autoconfiança e habilidade

em expor-se, além do apoio para argumentar e persuadir a opinião pública.

Todas essas capacidades são baseadas em comunicação.

O descrédito às instituições resulta na falta de coesão ou de

participação dos produtores nessas entidades representativas. As experiências

negativas vivenciadas anteriormente fazem com que esses produtores

familiares demonstrem dificuldades em reivindicar os seus direitos.

Os produtores informaram que participavam, efetivamente, da

associação de produtores de leitões, visto que os técnicos da integradora e os

técnicos das empresas vendedoras de insumos proferiam palestras.

A crise da agricultura familiar nos últimos anos, causada por

obstáculos institucionais, tecnológicos, econômicos e políticos, tem sido

ressaltada, em muitos estudos, por vários autores. O reconhecimento desses

produtores em creditar ao conjunto de atores (agroindústria, cooperativa,

sindicato e, ou, associação e órgãos governamentais) o apoio desejado deve-

se, principalmente, à crise atual do “movimento sindical”, que encontra

dificuldades para mobilizar os produtores em torno de suas reivindicações para

solução de seus problemas.

O sindicalismo rural, que representaria uma alternativa para a luta de

classes, segundo MIRANDA (1995), ... enfrenta uma conjuntura de profunda

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crise, principalmente num contexto onde a ação mediadora do Estado não se

faz presente.

A pouca credibilidade das organizações associativas advém dos

resultados das negociações, muitas vezes manipuladas pelos interesses da

integradora. O Estado, por sua vez, também não dispõe de políticas agrícolas

que beneficiem os pequenos produtores.

A média dos três estratos de produtores que creditavam à integradora

a responsabilidade por melhorias era de 13%, em relação ao conjunto de

atores. Isso demonstra que a maioria dos produtores esperava que a solução

para os seus problemas resultasse de medidas tomadas pelo conjunto de

atores, que deveriam se articular na busca de alternativas.

Interesse dos produtores por treinamentos

Conforme Quadro 22, em média, 81,76% dos produtores desejavam

receber treinamentos profissionalizantes, enquanto 18,23% não demonstraram

interesse em recebê-los.

Quadro 22 - Produtores que tinham interesse em participar de treinamentos,por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcenta-gem)

Estrato Sim Não

I – cabeça 87,5 12,5II – média 80,0 20,0III – cola 77,8 22,2

Média geral 81,76 18,23

Fonte: Dados da Pesquisa.

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Constata-se que o estrato cabeça era o mais receptivo a treinamentos,

enquanto o cola era o menos receptivo em relação aos outros.

Dos produtores que pretendiam participar de treinamentos, no estrato

cabeça, 37,5% tinham interesse pela área de administração; 25,0%, pela área

tecnológica; 12,5%, tanto pela área de administração como pela tecnológica; e

12,5%, tanto pela área de administração quanto pela tecnológica e outras.

Esse interesse por treinamentos explica, parcialmente, a situação privilegiada

em que estes se encontravam em relação aos outros.

Do estrato média, 20,0% pretendiam participar de treinamentos em

administração; 40,0%, na área tecnológica; 13,3%, tanto na área de

administração como na tecnológica; e 6,7%, em outras.

Do estrato cola, 44,4% pretendiam participar de treinamentos em

administração; 11,1%, na área tecnológica; e 22,3%, tanto na área de

administração como na tecnológica.

Produtores que receberam treinamento da integradora

Conforme Quadro 23, dos entrevistados, 83,33% receberam

treinamentos da integradora, sendo 77,8% do cabeça; 94,4% do média e

77,8% do cola.

Quadro 23 - Produtores que receberam treinamento da integradora, por estra-to, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)

Estrato Sim Não

I – cabeça 77,8 22,2II – média 94,4 5,6III – cola 77,8 22,2

Média geral 83,33 16,66

Fonte: Dados da Pesquisa.

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O treinamento da integradora (Quadro 23) deu-se por meio do curso

“Produção de Suínos”, ocorrido no município Faxinal dos Guedes-SC, em

1994, segundo os integrados entrevistados.

Observa-se que os estratos cola e cabeça apresentaram menor índice

de produtores com interesse em participar de treinamentos por meio da

integradora, atitude que pode ser explicada pela falta de “recompensa” e

motivação.

Produtores que receberam treinamento de outras instituições

O Quadro 24 descreve a porcentagem de produtores, por estrato, que

receberam algum curso promovido por outras instituições, na região de

Concórdia-SC. Do total de produtores, 50% fizeram cursos

promovidos por outras instituições, o que demonstra que esses produtores

buscavam alternativas externas às recebidas pela assistência técnica da

integradora, não aceitavam, passivamente, as prescrições da integradora e não

estavam isolados de outros estímulos, sendo esta outra maneira de obter

parâmetros para avaliar as informações que estavam sendo repassadas pela

assistência técnica.

Quadro 24 - Produtores que receberam algum curso promovido por outras insti-tuições, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em por-centagem)

Estrato Sim Não

I – cabeça 33,3 66,7II – média 50,0 50,0III – cola 66,7 33,3

Média geral 50,0 50,0

Fonte: Dados da Pesquisa.

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Por outro lado, havia grande demanda de treinamentos que não tinha

sido suprida pela integradora, o que levava os produtores a buscar outras

instituições.

Mediante comparação dos três estratos no Quadro 24, pode-se

verificar que o estrato cola era o que havia recebido mais treinamentos de

outras instituições.

No estrato média, havia produtores com diferentes níveis de instrução.

No Quadro 24, observa-se que 50% desses produtores não apresentavam

interesse em realizar treinamentos, o que poderia dificultar a situação, já que

estavam numa faixa de “transição” entre o estrato cabeça e o cola. Nesse

estrato (média), os produtores tentavam combinar as informações tanto da

integradora quanto de outras instituições. No estrato cabeça, os produtores, na

sua maioria, não realizavam cursos em outras instituições e procuravam seguir,

fielmente, o que o técnico da integradora havia transmitido.

Instituições promotoras de treinamentos, palestras, dias-de-campo, etc.

ACCS (Associação de Produtores de Leitões), Copérdia (Cooperativa

de Consumo Concórdia), CIDASC, EMBRAPA/CNPSA (Empresa Brasileira de

Pesquisa/Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves), Epagri (Empresa de

Pesquisa Agropecuária), Prefeitura Municipal de Concórdia-SC, Prefeitura

Municipal de Peritiba, SINE (Serviço Nacional do Emprego/SC), FAT (Fundo de

Amparo ao Trabalhador/SC), SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem

Rural/SC), UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Fonte: Dados

da pesquisa de campo, 1998.

Essas instituições promoveram alguns cursos, como Administração

Rural, Produção em Suínos, Sanidade e Manejo, Dejetos de Suínos e

Agroecologia e outros.

Variável econômica

A variável econômica observada, por estrato, é a margem bruta. Esses

dados foram obtidos a partir do resultado da análise das unidades de produção

de leitões fornecida pela integradora, na região de Concórdia (36 unidades de

produção de leitões - UPLs), calculados a partir do relatório de

acompanhamento técnico-econômico fornecido pela Sadia Concórdia S.A.

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A avaliação econômica dos produtores integrados (UPLs), em relação

à Margem Bruta de Produção, foi elaborada a partir do produto, conforme

apostila da Sadia Concórdia S.A. Essa apostila tem sido utilizada no

treinamento, em Administração Rural, dos técnicos da empresa, e em seu

conteúdo consta como medir resultados econômicos na propriedade.

A integradora oferecia treinamento aos técnicos por meio do curso de

administração rural com conteúdos relativos à Análise Econômica da Empresa

Rural. A margem bruta da produção (Quadro 25) era utilizada na classificação

desses produtores em cabeça, média e cola.

Quadro 25 - Margem bruta média (US$) porca/ano, por estrato de produtoresentrevistados, no município de Concórdia-SC, 1998

Estrato Margem bruta/porca/anoMédia* US$

I – cabeça 189,57II – média 128,74III – cola 76,89

Média geral 131,73

Fonte: Sadia Concórdia.

* Valores em dólar (comercial/venda), 16/04/97.** Fornecido pelo setor de Fomento da Sadia Concórdia S.A., período de 30/01/96 a 30/12/96,

data de emissão 16/04/97.

O intervalo de margem bruta, por estrato, apresentou-se da seguinte

forma: I - cabeça, de US$ 148,840 a 228,210; II - média, de US$ 112,320 a

142,860; III - cola, de US$ 18,610 a 110,650.

Para que o produtor efetuasse os cálculos da propriedade com

precisão, era indispensável que ele fizesse a manutenção do registro na

propriedade, de tal forma que esta permitisse a especificação do uso dos

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dados aos recursos produtivos em cada exploração. A análise das atividades

desenvolvidas na propriedade rural era importante, pois, por meio delas, o

produtor poderia conhecer os fatores de produção (terra, capital e mão-de-

obra) e a utilizá-los racionalmente. A partir desta análise, o produtor poderia

localizar os pontos de estrangulamento (os problemas) da atividade e

concentrar seus esforços gerenciais para atingir os objetivos.

Avaliação dos produtores da própria atuação na atividade

Os produtores avaliaram a própria atuação na atividade suinícola com

base no empenho e não nos resultados econômicos. Do total de produtores

entrevistados, 75,93% consideravam-na boa, enquanto os estratos cabeça e

média atribuíram menor valor à própria atuação, 11,1% e 16,7%,

respectivamente, o que reflete a busca constante de melhorias e revela a

exigência no desempenho (Quadro 26).

Quadro 26 - Auto-avaliação dos produtores entrevistados quanto a própriaatuação na atividade suinícola, por estrato, no município deConcórdia-SC, 1998 (em porcentagem)

Estrato Excelente Boa Regular Total deprodutores

I – cabeça 11,1 77,8 11,1 100,0II – média 16,7 72,2 11,1 100,0III – cola 22,2 77,8 - 100,0

Média geral 17,0 76,6 11,1 100,0

Fonte: Dados da Pesquisa.

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Situação percebida pelos produtores de leitões, integrados na época daentrevista, em face às facilidades e dificuldades encontradas

Os suinocultores do estrato cola avaliaram a situação como regular a

péssima, quando comparados com os outros estratos, que não diferiram

substancialmente. Essa insatisfação generalizada advinha da bonificação que

recebiam na atividade e da falta de crédito rural a preços subsidiados para

investimento. Era comum ouvir esses produtores enfatizarem que estavam

pagando para criar porco.

Quando questionados sobre a bonificação dada pela integradora, os

produtores afirmaram que

são bonificados pela tabela da Integradora, ou seja, o preço do suíno vivo hojeé R$ 1,00. Então, pelo leitão de 18 kg a 22 kg a Integradora paga 1.6 x o preçodo suíno vivo; pelo de 22 até 26 kg, paga o preço do suíno vivo; e acima de 26kg até 28 kg, paga menos de 30% do preço do suíno vivo.

Exemplificando: Por um leitão de 30 kg, a integradora pagava, até

22 kg, cerca de 1,6, que implicava R$ 35,20 (trinta e cinco reais, vinte

centavos); pelos outros 4 kg, 1,0, que implicava R$ 4,00 (quatro reais); pelos

outros 4 kg, pagava 0,7, que implicava R$ 2,80; e o valor total a ser pago pelo

leitão ao produtor era de R$ 42,00 (quarenta e dois reais).

O pagamento, na maioria das vezes, era feito pelas agroindústrias por

ocasião da entrega da produção, para o acerto de contas. Nessa oportunidade,

o produtor recebia o que era considerado seu rendimento líquido, isto é, o

saldo, descontadas as despesas com fornecimento de ração, produtos

veterinários, frete da ração ou fornecimento de matrizes. O item mais dramático

e conflituoso e que mais chamava a atenção dos agricultores eram os

descontos da ração. Havia casos em que os preços da ração subiam mais que

o preço pago pelos suínos. O acerto de contas era o momento em que o

produtor percebia, com maior clareza, seu lucro ou prejuízo. Havia casos em

que o acerto zerava as contas dos produtores, conforme BRANDENBURG et

al. (1995).

No Quadro 27, constata-se a insatisfação de 70,4% dos produtores

com a bonificação (rendimento pago pela integradora). Mesmo descontentes,

nota-se que eles tinham interesse em se manter vinculados ao sistema

integrado, já que realizavam grandes investimentos na atividade, razão por que

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Quadro 27 - Situação dos produtores de leitões na região oeste, por estrato, nomunicípio de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)

Estrato Excelente a boa Regular a ruim Total de produtores

I – cabeça 33,3 66,7 100,0II – média 33,3 66,7 100,0III – cola 22,2 77,8 100,0

Média geral 29,6 70,4 100,0

Fonte: Dados da Pesquisa.

buscavam apropriação das novas técnicas, aceitando-as, recusando-as ou

reelaborando-as de acordo com suas perspectivas e com seus interesses

econômicos, históricos e culturais.

A integradora esperava que seus produtores integrados tivessem

racionalidade empresarial, mas o objetivo central dessas famílias, segundo

MIRANDA (1995), “era a reprodução da unidade familiar de produção”.

3.2. Perfil dos técnicos

Eram dois os técnicos que assistiam aos 3 6 produtores de leitões ou

iniciadores de leitões. Ambos eram de origem italiana, procedentes do meio

rural e possuíam curso técnico em agropecuária (um deles tinha curso superior

em Biologia). Tanto a origem como a procedência dos técnicos eram

semelhantes à dos produtores rurais, o que favorecia a interação e a empatia

na relação de comunicação.

Os técnicos que forneciam assistência técnica trabalhavam na

integradora (de um a cinco anos e de cinco a 10 anos) no setor de fomento e

possuíam grande experiência no contato com produtores, recebendo

remuneração na faixa de cinco a 10 salários mínimos.

Para se atualizarem, esses técnicos buscavam informações nas

revistas especializadas, nos eventos promovidos pela empresa, nas teses, nos

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artigos científicos e nos cursos em outras instituições, como EPAGRI,

EMATER, SENAR e EMBRAPA.

Os técnicos visitavam as propriedades com certa freqüência e

despendiam em torno de duas horas (com tempo previsto para o

deslocamento) por visita, que era planejada por eles próprios. Esse

planejamento era feito com base nas prioridades e nos objetivos da

integradora, com vistas na solução dos problemas encontrados na propriedade.

Para eles, a comunicação da integradora com os produtores integrados

objetivava informar, orientar, motivar, coletar e divulgar dados sobre tecnologia,

produção e produtividade, através da utilização de linguagem acessível

(palavras do dia-a-dia dos produtores).

A análise de comparação dos resultados econômicos é obtida por meio

dos resultados dos anos anteriores entre propriedades agrícolas semelhantes,

para entender os motivos pelos quais umas propriedades obtiveram resultados

econômicos melhores do que outras.

A Análise Comparativa vem sendo utilizada junto à integradora, por

vários anos, visando motivar os produtores. Segundo o Manual de Treinamento

usado pelas unidades, essa análise possibilita que

o produtor, ao ver a comparação de propriedades parecidas com a sua, situa-se rapidamente no grupo. Assim, ele encontra referência para sua posição emrelação aos seus vizinhos.

Quanto à imagem que os técnicos tinham da relação da integradora,

observa-se que, para eles, esta

é uma empresa que precisa garantir a matéria-prima, pois a sua missão é aprodução de alimentos.Precisa sobreviver num mercado competitivo, tem custos administrativos altos.

Segundo os técnicos, a integradora tentava auxiliar os produtores

ineficientes a resolverem os problemas, visto que ela tem mostrado aos

produtores qual a atividade mais afim da propriedade. Quanto ao que ela tem

feito para motivar os integrados, enfatizaram que

ela está melhorando a ração, procura melhorar a qualidade dos reprodutores,capacita a equipe técnica, busca linhas de crédito e recompensa quem investeem tecnologia.

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Na percepção dos técnicos, os produtores integrados

... esperam ganhar em conhecimento e financeiramente.Os produtores vem sofrendo constantemente ameaças pela oscilação domercado, dos preços dos insumos, do aumento do custo de produção e dalegislação ambiental.

Essas ameaças são percebidas quando relatam que

os produtores têm medo de não poder pagar dívidas, de falir.Ao mesmo tempo, eles têm medo que a empresa também entre em falência eque os exclua do sistema integrado.

Segundo os técnicos, a integradora procurava auxiliá-los mediante

práticas de motivação e treinamentos, assim como práticas de melhoria da

qualidade da ração fornecida, além de intermediar linhas de crédito. Quanto à

utilização dos recursos instrucionais, acreditavam que ela poderia diversificar

mais os recursos, tornando-os mais práticos. Em relação à utilização de

metodologias de trabalho em grupos de produtores, enfatizavam que estas

permitiriam que a informação chegasse a todos, da mesma forma e ao mesmo

tempo.

Segundo os técnicos, os produtores poderiam tornar-se mais eficientes

e eficazes, caso seguissem as suas orientações; admitiam que sua

capacitação se restringia às áreas técnica e de gestão, já que tinham

deficiência na área de desenvolvimento humano e comunicacional.

Quanto aos critérios utilizados na seleção da informação, afirmaram

que tentavam detectar a necessidade do produtor a partir do problema

diagnosticado na propriedade.

Quanto à metodologia empregada, os dois técnicos utilizavam o

modelo clássico de aprendizagem “ behaviorista“ ( estímulo-resposta), e um

deles acreditava ter também utilizado o “construtivismo”.

Os técnicos relataram que priorizavam as mensagens relacionadas

com gestão (administração e qualidade total) e com tecnologia. Para eles,

ao longo dos anos de assistência técnica, apesar do tremendo esforço que aempresa tem feito, para a incorporação tecnológica, a evolução tecnológica,ou seja, o resultado dessas propriedades deixam a desejar.

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3.3. A comunicação da integradora e a percepção dos produtores

O modelo de comunicação utilizado foi o mesmo modelo clássico de

comunicação sugerido por Berlo.

A Sadia Concórdia S.A. (a fonte) tem sua cultura empresarial

constituída de necessidades, intenções, informações e objetivos, e o técnico (o

transmissor) tem sua cultura e possui habilidades comunicacionais. O canal

usado pelo técnico é o interpessoal (face a face).

As mensagens são veiculadas através da Metodologia da Qualidade

Total (Mensagens Tecnológicas e de Gestão - Administração Rural, Gestão

Agrícola, etc.).

O produtor rural (o receptor) tem sua cultura e um conjunto de

habilidades sensoriais.

O processo produtivo está baseado nos procedimentos da Qualidade

Total, que objetiva viabilizar a administração das propriedades rurais de forma

eficiente. Para isso, a integradora utiliza a comunicação para repassar a

metodologia da Qualidade Total, enviando mensagens tecnológicas e de

gestão (administração rural) e enfatizando o caráter gerencial em suas

mensagens - o grande desafio da Integradora.

A Total Qualit Control (TQC) é uma metodologia que, segundo

BONILLA (1994), corresponde a um modelo gerencial aperfeiçoado no Japão,

no qual sobressai a figura de Ishikawa (1968), a partir de idéias norte-

americanas, especialmente de Deming e Juran, introduzidas durante a

ocupação aliada naquele país, depois de 1945.

A TQC é baseada em diferentes fontes que abrangem duas linhas

básicas - uma de natureza técnica, que nasce com Taylor, desenvolve-se com

os métodos de controle estatístico de Shewhart (1931) e consolida-se com todo

o conhecimento científico dos últimos 40 anos, por meio do trabalho de

grandes mestres, como Feigenbaum (1983), Deming (1990) e Juran (1990), e

outra, de natureza humana, apoiada nos estudos sobre comportamento,

desenvolvidos por Mac Gregor (1960), Herzberg (1966) e Maslow (1970), e,

mais recentemente, na abordagem holística, representada, entre outros, por

Capra (1982) e Ferguson (1980). A montagem básica da TQC foi feita pela

JUSE (Japanese Union of Scientists and Engineers).

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Um aspecto fundamental da TQC é o rompimento, que implica uma

mudança de forma de pensar, de estilo e de postura, que envolve todos os

ingredientes da empresa, desde o presidente até o último trabalhador.

A TQC é um programa de todos os envolvidos na empresa, desde o

presidente até o subalterno; portanto, ou rompe-se com o modo de pensar,

sentir e agir antigo, por meio da assunção e do comprometimento pessoal com

a implantação do programa, transformando-se, assim, num dinâmico agente de

mudanças, ou abandona-o a suas próprias forças, inviabilizando-o.

O conceito de Qualidade Total é amplo e dinâmico. Em princípio, ele

está ligado à satisfação do consumidor, tanto interna (eliminando os fatores

que não agradam ao consumidor, segundo pesquisas de mercado feitas), como

externas (mediante antecipação das necessidades do consumidor,

incorporando-se às características detectadas nos produtos e serviços). A

qualidade total é composta de cinco dimensões, como a seguir.

A qualidade intrínseca do produto (ou serviço), em sentido amplo,

refere-se, especificamente, às características inerentes ao produto (ou serviço),

daí o nome de intrínsecas, capazes de fornecer a satisfação ao consumidor.

Isto implica uma série de aspectos, como ausência de defeitos, adequação ao

uso, características agradáveis ao consumidor, confiabilidade, previsibilidade,

etc.

O custo do produto ou serviço tem relação com o fato de que, quanto

menor o preço do produto ou do serviço, maior será a satisfação do

consumidor. Isso não implica uma relação linear perfeita. Acontece que um

elemento fundamental é o conceito de valor, ou seja, o que o consumidor

estaria disposto a pagar pelo produto (ou serviço). Portanto, seu preço deverá

levar em conta o valor que o produto tem para o usuário.

O atendimento ao cliente implica que ele deve receber o produto no

prazo certo, no local certo e na quantidade certa. Além disso, deve ser atendido

com boa vontade, cortesia e amabilidade, devendo haver uma boa organização

da assistência técnica.

A segurança é fundamental para que o produto não ameace a saúde

do consumidor, seja diretamente, pela sua ingestão, ou indiretamente, pelos

tratamentos feitos durante a implantação.

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O aspecto moral refere-se à disposição e à motivação que os

empregados da empresa manifestam. Para que isto aconteça, “a empresa deve

esforçar-se para pagar-lhes bem, respeitando-os como ser humano e dando-

lhes a oportunidade de crescer como pessoa e no trabalho, vivendo uma vida

feliz”.

A visão ecossistêmica da qualidade total implica uma forma diferente

de a empresa relacionar-se com o resto da sociedade, ou seja, muda-se do

conceito de empresa “ilha” ou “fortaleza” para “ empresa-componente do

ecossistema social”, no qual, para que o equilíbrio se mantenha, é necessária

uma troca equilibrada de contribuições e recompensas. Essa visão

ecossistêmica tem um horizonte de logo prazo, dado que, em lugar de

maximizar os lucros, o enfoque é de “otimizar o bem-estar social”. Dessa

forma, por meio da ênfase na qualidade e na interação positiva com os outros

parceiros, o lucro acabará, conseqüentemente, sendo maximizado.

Os outros parceiros da empresa, que também são componentes do

ecossistema social, formam parte essencial do conceito de Qualidade Total,

pois é pela fecunda interação deles que os objetivos serão atingidos. Eles são,

fundamentalmente, os seguintes:

1) Os consumidores - a empresa deve despender esforços para

identificar as necessidades dos consumidores e atendê-los;

2) Os empregados - aqui, a ênfase é na gestão participativa, na

remuneração adequada e no crescimento do ser humano na empresa;

3) A comunidade - precisa ser atendida pelo exercício da

responsabilidade social, traduzida na forma de proteção ambiental, entre outras

alternativas;

4) Os fornecedores - devem ser muito bem selecionados e auxiliados

no processo de desenvolvimento - a confiança deve substituir a desconfiança.

Sem dúvida, nesse marco referencial devem ser incluídos os acionistas, que,

integrados harmonicamente a outros parceiros, terão mais a ganhar, porque o

sistema - tomado como conjunto - terá sido otimizado, assim como os setores

do subsistema representado pela empresa.

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Os conceitos básicos da qualidade total

A palavra controle tem vários sentidos que, geralmente, estão

centrados na idéia de dominar, inspecionar ou supervisar e são, geralmente,

acompanhados de uma visão coercitiva. Qualidade total significa gerenciar ou

administrar. De acordo com Bonilla, o controle da qualidade total implica duas

ações fundamentais: “Rotina” e “Melhorias”.

“Rotina” implica a conservação do modo atual de fazer as coisas,

depois de estas passarem por um processo de padronização. Isso significa que

não é qualquer “modo atual” que será uma rotina, mas um processo estável;

portanto, se ele for de natureza instável, será necessário primeiramente colocá-

lo sob controle estatístico e, só a partir daí, a Rotina poderá ser instalada.

Aqui, o processo é visto como algo que está em permanente

movimento, que está se transformando gradualmente de um estado a outro.

Isto indica uma sucessão de tarefas realizadas com certa finalidade .

Há um método geral de modelo gerencial em Qualidade Total, que é o

ciclo PDCA, cujas iniciais P, de “plan”, corresponde planejar; D, de “do”, fazer,

executar; C, de “check”, conferir; e A, de “action”, ação corretiva.

No caso em que o padrão não foi obedecido, a ação corretiva é o

treinamento. Se ele foi obedecido e não foi atingida a meta, tem-se um

problema, cuja causa fundamental tem de ser identificada.

A correção da falha é eliminar o problema.

Enquanto o TQC utiliza conceitos, o programa 5s (cinco sensos) não os

utiliza; ele é apenas uma questão de execução, já que não envolve teorias,

mas ferramentas práticas para revolucionar a gerência de rotinas diárias.

Na pesquisa, questionou-se sobre a utilização dos produtores com

relação aos cinco sensos divulgados pela Integradora: 1) Utilização; 2)

Ordenação; 3) Limpeza; 4) Saúde; e 5) Auto-disciplina.

Adoção dos cinco sensos (procedimentos e rotinas) da qualidade total napropriedade

Do total de produtores entrevistados, conforme Quadro 28, observa-se

que aqueles que adotavam a qualidade total na propriedade eram em menores

proporções do que os que não a adotavam. O fato de adotarem, ou não, essas

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Quadro 28 - Adoção ou não dos procedimentos e propostas de qualidade totalpelos produtores, por estrato, no município de Concórdia-SC,1998 (em porcentagem)

Estrato Adota Adota algumas Não adota

I – cabeça 33,33 11,11 55,56II – média 33,33 22,22 44,44III – cola 33,33 44,44 22,22

Média geral 33,33 25,93 40,74

Fonte: Dados da Pesquisa.

propostas revela que esses produtores não internalizaram a necessidade de

mudança e não estavam correspondendo às expectativas da integradora. Para

esta, a adoção desses procedimentos estava aliada à capacidade de

organização e gerenciamento desses produtores na propriedade, podendo

determinar seu sucesso ou fracasso.

Avaliação dos procedimentos e rotinas de qualidade total

Conforme Quadro 29, a avaliação dos entrevistados era variada. Dos

produtores entrevistados, 31,49% consideravam esses procedimentos como

excelentes: 46,3%, bons; 13,90%, regulares; e 19,46% não deram opinião a

respeito. Desses, o estrato cola foi o que considerou os procedimentos e

rotinas como excelentes (55,56% desses produtores), o que demonstra que

esses procedimentos podiam facilitar suas atividades e auxiliá-los no

desempenho. Muitos desses produtores estavam ainda em fase de adaptação

aos procedimentos e às rotinas e em diferentes fases do processo de adoção.

A manutenção da “Rotina” é uma salvaguarda contra mudanças

negativas em qualidade intrínseca, custo, quantidade ou prazo de produção.

Desse modo, as principais vantagens que surgem da “ rotinização” dos

processos são que estes se tornam estáveis e previsíveis. Embora esta seja

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Quadro 29 - Avaliação dos procedimentos e das rotinas de qualidade total pe-los agricultores, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998

Estrato Excelente Boa Regular Não temopinião

I – cabeça 11,11 67,00 - 22,22II – média 27,80 38,90 16,70 16,70III – cola 55,56 33,3 11,11 -

Média geral 31,49 46,3 13,90 19,46

Fonte: Dados da Pesquisa.

necessária, não é suficiente, pois vive-se num mundo dinâmico, ou seja, tanto

um concorrente pode desenvolver um processo mais adequado (“melhor”),

como o próprio cliente pode tornar-se mais exigente. Nesses casos, a “Rotina”

apresenta-se como insuficiente. Assim, um novo patamar deve ser erigido,

denominado “Melhorias , que envolvem níveis de desempenho nunca antes

atingidos na empresa.

A gama de ações que pode envolver o gerenciamento das “Melhorias

é quase infinito, quais sejam, criação de novos produtos, serviços e mercados;

aumento da produtividade e da lucratividade; redução de custos; aumento do

moral dos empregados para redução do absenteísmo, rotatividade, etc;

aumento da durabilidade e confiança dos produtos; e aumento do nível de

atendimento dos clientes, fazendo cair o número de reclamações e devoluções,

etc.

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3.3.1. Mensagens sobre administração rural

ENFOQUE DA ADMINISTRAÇÃO RURAL

ANTECEDENTES PROCESSO RESULTADO

A tomada de decisão

Cultura A mudança

Valores Adoção de Novas Práticas

Objetivos

Aversão ao Risco

Motivação

Comunicação

FACILITADORES /TÉCNICOS

REALIDADE

No sistema integrado, quando o técnico envia mensagens sobre

inovações tanto tecnológicas como de gestão, o produtor passa pelo processo

de tomada de decisão de forma mais facilitada, pois a tecnologia ou inovação

já foi testada e validada anteriormente. No entanto, a decisão de adotá-las não

basta por si só, pois existem outros fatores que influem na adoção, tais como

vantagem relativa, compatibilidade, complexidade, observabilidade e

experimentabilidade.

A relação de comunicação interpessoal, aliada aos métodos de

demonstração prática e padrões escritos, procura facilitar a compreensão,

diminuindo a complexidade e o esforço despendido, e a aprendizagem, pois a

demonstração reconstrói, simbolicamente, o ensaio, a experimentação e os

resultados.

Estoque de InformaçõesEstoque de Administração (Qual o resultado?)

Estoque de Extensão (Como mostrar?)(Eu posso fazer melhor do que estou fazendo?)

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Adoção de procedimentos e rotinas de administração rural pelos produtores

Comparando-se o Quadro 29 (Qualidade Total) com o Quadro 30

(Administração Rural), observa-se que não há diferença na adoção de ambos

os procedimentos.

Quadro 30 - Adoção ou não dos procedimentos e propostas de administraçãorural pelos produtores, por estrato, no município de Concórdia-SC,1998 (em porcentagem)

Estrato Adota todas Adota algumas Não adota

I – cabeça 33,33 11,11 55,56II – média 33,33 22,22 44,44III – cola 33,33 44,44 22,22

Média geral 33,33 25,92 44,74

Fonte: Dados da Pesquisa.

Avaliação dos procedimentos e das propostas de administração rural pelosprodutores rurais

Nos três estratos, conforme Quadro 31, não houve avaliação negativa, o

que demonstra que os produtores, em ambos os estratos, poderão vir a adotá-

los.

3.4. Os produtores e os meios de comunicação util izados

Meios de preferência na recepção das mensagens

Do total de produtores, 79,63% preferiam receber mensagens por meio

do técnico, e 20,37%, por outros meios (rádio, televisão, escrita, etc.). O estrato

que mais preferia receber mensagens do técnico era o cola (Quadro 32).

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Quadro 31 - Avaliação dos procedimentos e das propostas de administraçãorural pelos produtores, por estrato, no município de Concórdia-SC,1998 (em porcentagem)

Estrato Excelente Boa

I – cabeça 50,0 50,0II – média 44,44 55,56III – cola 66,67 33,33

Média geral 53,70 46,20

Fonte: Dados da Pesquisa.

Quadro 32 - Preferência dos produtores pelo recebimento das mensagens pormeio do técnico, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998(em porcentagem)

Estrato Técnico Outros (rádio, televisão,escrita, telefone)

I – cabeça 72,22 27,78II – média 72,22 27,78III – cola 88,89 11,11

Média geral 79,63 20,37

Fonte: Dados da Pesquisa.

Preferência dos produtores na resolução de dúvidas sobre a atividade suinícola

Em média, 98,4% dos produtores preferiam tirar dúvidas com o técnico

(Quadro 33), enquanto 5,56% procuravam resolvê-las por outros meios. Essa

preferência se deve ao fato de que, na relação de comunicação entre técnico-

produtores, estes podiam contar, permanentemente, por meio de visita ou do

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Quadro 33 - Número de produtores que esclarecem ou não dúvidas com o téc-nico, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (emporcentagem)

Estrato Sim Não

I – cabeça 100,00 -II – média 94,44 5,56III – cola 100,00 -

Média geral 98,40 5,56

Fonte: Dados da Pesquisa.

sistema de plantão telefônico, com os técnicos do setor de fomento. Dessa

forma, havia maior possibilidade de que esses produtores conseguissem

resolver problemas relativos à atividade. Para os produtores, a relação

produtor-técnico ocorria de forma cordial, o que confirma o elevado grau de

empatia existente entre ambos.

O técnico era considerado não só como o canal preferido para o

recebimento de mensagens, mas importante fonte de resolução de dúvidas dos

produtores. Além desse método, a integradora não utilizava outros tratamentos

de que dispunha, tais como mídia eletrônica, impressa e alternativas.

O técnico utilizava o Relatório Individual do Produtor e alguns folhetos

escritos, com padrões a serem seguidos, conforme Apêndice A.

Percepção dos produtores em relação à freqüência da visita do técnico

De acordo com o Quadro 34, a freqüência da visita do técnico aos

produtores, por estrato, era feita mensal, quinzenal e semanalmente.

O planejamento da visita era feito pelo próprio técnico, com base nas

estratégias da direção da empresa. Muitas vezes, ele entrava na propriedade

até mesmo quando a família não se encontrava e realizava vistoria nas

instalações e no rebanho.

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Quadro 34 - Número de produtores que receberam visita do técnico, por estra-to, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)

Estrato Mensal Semanal Quinzenal

I – cabeça 88,9 11,1 -II – média 88,9 11,1 -III – cola 77,8 11,1 11,1

Média geral 85,2 11,1 11,1

Fonte: Dados da Pesquisa.

O estrato cola era o único em que se constataram as três modalidades

de visitas, já que os produtores dos estratos média e cabeça não recebiam

visitas semanais, o que demonstra, por parte do técnico, a preocupação em

prestar assistência técnica a esse estrato menos eficiente.

Modificação da visita

Conforme Quadro 35, o estrato média demonstrou interesse em

modificar a visita mensal para quinzenal e semanal, pois, assim, os produtores

teriam presença constante do técnico e maiores possibilidades de êxito na

compreensão das tecnologias e dos procedimentos. Os estratos cabeça e cola

demonstraram satisfação com a freqüência das visitas.

Auxílio instrucional

A principal forma de comunicação utilizada pelo técnico, segu ndo a

percepção dos produtores, era a fala. Todos os produtores afirmaram que a

linguagem utilizada por ele era bem acessível. Quanto ao material escrito, os

produtores recebiam, mensalmente, o Relatório ou Acompanhamento Técnico

Econômico de Suínos - produção de leitões, para situá-los e compará-los com

outros (Quadro 37).

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Quadro 35 - Interesse dos produtores pela mudança de freqüência da visitarealizada pelo técnico, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998

Estrato Mensal Semanal Quinzenal

I – cabeça 88,9 11,1 -II – média 66,6 27,8 5,6III – cola 77,8 11,1 11,1

Média geral 77,6 16,66 8,35

Fonte: Dados da Pesquisa.

Quadro 36 - Número de produtores que avaliaram a freqüência da assistênciatécnica recebida, por estrato, no município de Concórdia-SC,1998 (em porcentagem)

Estrato Mensal Semanal Quinzenal

I – cabeça 11,1 66,7 22,2II – média 5,6 77,7 11,1III – cola 11,1 88,9 -

Média geral 9,26 77,74 13,1

Fonte: Dados da Pesquisa.

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Quadro 37 - Auxílio instrucional utilizado pelos técnicos na percepção dos pro-dutores entrevistados, por estrato, no município de Concórdia-SC,1998

Estrato Fala Fala e escrita

I – cabeça 11,1 88,8II – média 72,4 27,8III – cola 22,2 77,7

Média geral 35,3 64,7

Fonte: Dados da Pesquisa

A utilização de folders” ocorria raramente, com vistas na fixação dos

procedimentos a serem incorporados.

O rádio

O rádio foi considerado o segundo meio de informação preferido pelos

produtores, depois do técnico. Dos entrevistados, 100% ouviam a Rádio Rural

AM, que transmitia o “Informativo da Sadia”, às 11h40minutos, cuja

apresentação era da assessoria de comunicação da empresa, Gilmar

Monticelli, responsável pela locução, de 2. a a 6.a feira, com duração de 5 a 6

minutos. O público-alvo deste programa eram produtores rurais integrados de

suínos e aves e o objetivo era prestar serviço de informação sobre o dia e a

hora em que seria feito o transporte dos animais para o abate, assim como

para fornecer instruções sobre o manejo, antes do transporte.

A programação das duas rádios (Rural e Aliança) estava assim

distribuída: Rádio Aliança - AM: Programa Musical “Bom dia trabalhador“, com

músicas variadas (a maior ênfase é dada ao estilo tradicionalista gaúcho e

sertanejo), e algumas inserções de informações/recados. Embora não fosse

um programa agrícola, fornecia algumas informações sobre política e mercado.

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Rádio Rural - AM: Programa Musical “Amanhecer cantando”, com o

locutor Alemão Gordo, das 5 às 6h30minutos, com notícias policiais e algumas

informações ao público rural e urbano.

Na época da entrevista, a rádio Rural ainda pertencia ao grupo da

integradora; poucos meses depois, foi vendida a um grupo de empresários da

cidade, e o programa continua sendo veiculado semanalmente.

Programas rurais de televisão

A televisão foi considerada o terceiro meio de informação mais

eficiente, apesar da não-adequação dos horários dos programas à realidade

dos produtores, principalmente nessa região, em que era tradição ir à missa

aos domingos. Segundo os produtores, o fato de não terem acesso ao canal

Rural via antena parabólica era outro problema, já que o canal estava

disponível só em TVs a cabo, embora anteriormente já tivesse sido transmitido

via antena parabólica. Atualmente, a população interessada em informações

agrícolas não estava tendo acesso a esse canal (Quadro 38).

Quadro 38 - Preferência dos produtores pela emissora de rádio, por estrato, nomunicípio de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)

Estrato Rádio RuralRádio Rural e

AliançaRádio Rural e

outras

Rádio RuralAliança e

outras

I – cabeça 88,9 11,1 - -II – média 61,0 27,8 5,6 5,6III – cola 88,9 11,1 - -

Média geral 79,6 16,6 5,6 5,6

Fonte: Dados da pesquisa.

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102

O “Globo Rural” era o programa de televisão mais assistido pelos

produtores, que, muitas vezes, tinham de optar pelo programa agrícola ou pela

missa (Quadro 39).

Quadro 39 - Preferência dos produtores pelos programas rurais de televisão,no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)

Estrato Globo Rural Manchete Rural eGlobo Rural Outros Programas

I – cabeça 88,9 11,1 -II – média 87,5 6,3 6,2III – cola 85,7 14,3 -

Média geral 87,36 10,56 6,2

Fonte: Dados da Pesquisa.

Conteúdo das mensagens veiculadas pelo técnico, na percepção dosprodutores

Para os produtores do estrato cabeça, as mensagens veiculadas pelo

técnico abordavam conteúdos tecnológicos; para o estrato média,

gerenciamento da propriedade; e para o estrato cola, gerenciamento e

tecnologia (Quadro 40).

Nota-se, no Quadro 40, que todos os produtores, independente de

estrato, recebiam o mesmo conteúdo de mensagens, embora a prioridade

tenha sido dada para informações tecnológicas e, em segundo lugar, para

assuntos de gestão. Esses resultados confirmam que o técnico priorizava

assuntos tecnológicos, o que vinha de encontro ao objetivo da comunicação.

Nota-se que, na área de gestão, a administração da propriedade e outros

assuntos não foram veiculados, razão por que os produtores afirmaram que os

técnicos se preocupavam mais com o produto do que com os produtores.

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Quadro 40 - Percepção dos produtores quanto aos conteúdos veiculados pelotécnico, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (emporcentagem)

Estrato Área tecnológica Área de gestão

I – cabeça 77,8 22,2II – média 77,8 22,2III – cola 77,8 22,2

Média geral 77,8 22,2

Fonte: Dados da pesquisa.

Adequação dos conteúdos

Quanto à adequação dos conteúdos das mensagens, segundo a

percepção dos produtores entrevistados, conforme Quadro 41, 79,7%

consideravam relevantes as mensagens veiculadas pela integradora; e 20,36%

consideravam-nas inadequadas, ou seja, precisavam ser reformuladas, pois,

segundo eles, o técnico não estava atualizado e não trazia novidades.

Quadro 41 - Percepção dos produtores quanto à adequação das mensagensveiculadas pelo técnico, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)

Estrato Sim Não

I – cabeça 88,9 11,1II – média 72,2 27,8III – cola 77,8 22,2

Média geral 79,63 20,36

Fonte: Dados de Pesquisa.

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Percepção dos produtores entrevistados quanto à ajuda do técnico

Segundo os produtores, os técnicos (...) não têm muito o que fazer,

pois trabalham para a empresa. “Puxa” para o lado dela”. No entanto, de

maneira geral, crêem que eles fazem o que podem, dentro da sua limitação.

Segundo os entrevistados, a integradora tinha feito pouco ou poderia

fazer mais para torná-los mais satisfeitos, conforme relatos:

Facilita na resolução dos problemas. Ex.: problema de desmame.Desenvolveram uma ração para resolver o problema.Não faz nada, ainda baixou o preço do porco.Nada, abandona os produtores.Nada só procuram o lado deles.Nada, não se tem como se sair do chão, o custo da atividade é muito alto.Atendem bem na assistência técnica.Ela teria muita coisa para fazer mas ela não faz.Proporcionou o curso para a produção de leitões.Promessas que vai melhorar, vai ficar bom.Nada, não tem feito nada, antigamente eles premiavam a gente.

Nessas falas, observa-se a insatisfação com as providências da

integradora para garantir a sobrevivência da unidade de produção, ao mesmo

tempo que não deixam de enfatizar que, em tempos passados, eram melhor

recompensados.

As velhas práticas de premiação por produtividade, praticadas pela

integradora (geladeiras, fogões, freezer, eletrodomésticos, móveis, automóveis,

máquinas, implementos agrícolas e tratores), foram substituídas por novas

exigências (rendimento da carcaça, conversão alimentar e produtividade) e por

pouco retorno financeiro. A comparação entre o passado e o presente gerava

certa nostalgia nos produtores.

Equipamentos disponíveis que facilitam a aprendizagem

Consideraram-se equipamentos completos e incompletos, disponíveis

por família, os quais pudessem viabilizar a busca de informações, favorecendo

a comunicação e as práticas pedagógicas tanto para o produtor, na busca por

conhecimento individual, como para o técnico, que poderia utilizar-se destes

para algum treinamento na propriedade. Consideraram-se como equipamentos

completos o rádio, a televisão, o vídeo-cassete, o telefone, a antena parabólica,

e o computador, enquanto a falta de algum desses itens acima relacionados foi

considerada equipamento incompleto.

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105

Os equipamentos disponíveis, por estrato de produtores, que

auxiliavam na busca por informações, são apresentados no Quadro 42.

Quadro 42 - Equipamentos que os auxiliavam na busca de informações, porestrato, no município de Concórdia-SC, 1998

Estrato Equipamentos completos Equipamentosincompletos

I – cabeça 11,1 88,9II – média 16,7 83,3III – cola - 100,0

Média geral 13,9 90,73

Fonte: Dados de Pesquisa.

Do total de produtores, nove possuíam computador, e 34, telefone.

Esses dados demonstram que esses produtores dispunham de equipamentos

que favoreciam a resolução de dúvidas, no caso do telefone, e facilitavam o

gerenciamento da propriedade, no caso do computador. No item “aspirações

desses produtores”, em relação ao interesse na aquisição de equipamentos,

seis responderam que pretendiam adquirir “computador”, aspiração devida

mais à exigência da empresa. A integradora, partindo da necessidade de

aumentar eficiência na Gestão da Qualidade na agricultura, estava implantando

o projeto Desenvolvimento de Fornecedores do Programa de Qualidade - TQS.

Este sistema foi avaliado e testado por produtores rurais, por especialistas e

por extensionistas, no Brasil e na Alemanha, e os resultados mostraram efeitos

positivos no aumento da eficácia e da eficiência da Gestão da Qualidade em

propriedades rurais. Este projeto deveria ser implantado em escritórios de

assistência técnica da Sadia, assim como em propriedades rurais.

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Freqüência de leitura

Quanto ao hábito de leitura, o estrato cabeça era o que mais lia,

embora houvesse pouca diferença entre os estratos. Nos estratos cabeça,

média e cola, a leitura diária regular aparecia com pouca diferença entre eles.

O estrato cola tinha o maior índice dos produtores que nunca liam, razão por

que a atualização destes era dificultada.

Com relação à freqüência de leitura, 22,2% dos produtores do estrato

cabeça não liam nenhuma publicação; 44,4% liam jornais; 22,2%, revistas;

11,1%, jornais e folhetos. Do média; 5,6% não liam nenhuma publicação;

38,9% liam jornais; 11,1%, revistas; 11,1%, folhetos; 11,1%, jornais e revistas;

5,6%, revistas e livros; 5,6%, jornais, revistas e folhetos; 5,6%, jornais, revistas

e livros; 5,6%, jornais, folhetos, revistas e livros. Do cola; 22,2% não liam

nenhuma publicação; 44,4% liam jornais; 22,2%, revistas; 11,1%, jornais e

folhetos (Quadro 43).

Quadro 43 - Freqüência de leitura pelos produtores entrevistados, por estrato,no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)

Estrato Liam todos osdias

Regularmente Raramente Nunca

I – cabeça 22,2 55,6 22,2 -II – média 22,2 50,0 22,2 5,6III – cola - 55,6 33,3 11,1

Média geral 22,2 53,73 25,9 8,35

Fonte: Dados de Pesquisa.

Leitura de outros jornais

Dos jornais lidos pelos produtores, destacam-se Correio Riograndense,

Jornal Fomento (jornal interno da integradora), Jornal da Copérdia, Manchete

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Rural, Informativo da Embrapa, Diário Catarinense, O Jornal (jornal de

Concórdia) e Folha de S. Paulo.

Outros impressos

Os produtores preferiam Globo Rural, Avicultura da Sadia, Veja,

Imagem Rural e A Granja , além de folhetos do culto, folders e livros sobre

Administração e Gerenciamento.

Dificuldade encontrada nas mensagens transmitidas pelo Jornal Fomento

De acordo com o Quadro 44, dos produtores, 90,74% considera vam

fáceis as mensagens do Jornal Fomento.

Quadro 44 - Grau de dificuldade dos produtores no entendimento das mensa-gens veiculadas no Jornal Fomento, por estrato, no município deConcórdia-SC, 1998 (em porcentagem)

Estrato Fácil Difícil Não o recebiam

I – cabeça 88,89 - 11,11II – média 94,44 5,56 -III – cola 88,89 - 11,11

Média geral 90,74 5,56 11,11

Fonte: Dados de Pesquisa.

Nos estratos cabeça e cola estavam os produtores que não recebiam

o Jornal; no estrato média, 5,56% tiveram dificuldade em interpretar as

mensagens devido à linguagem técnica utilizada, enquanto o estrato média era

o mais crítico e exigente na avaliação dessa publicação.

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Conteúdos veiculados pelo Jornal Fomento

O Jornal Fomento é uma publicação prod uzida pela Parole

Comunicações Ltda., sob a coordenação da Assessoria de Comunicação

Social da Sadia Concórdia S.A. e colaboração dos técnicos da área

agropecuária.

A distribuição era gratuita aos produtores integrados da suinocultura e

avicultura. Sua edição tinha freqüência mensal, bimestral e trimestral e não

havia constância na freqüência de sua publicação. A equipe técnica da Sadia

colaborava com seu conteúdo, sendo composta por técnicos de Concórdia,

Chapecó, Três Passos e Frederico Westphalen. Sua tiragem era de 8.000

exemplares. Além de ser distribuído aos produtores de suínos e aves, era

encartado, em anexo, ao “O jornal” de Concórdia (jornal de circulação

semanal).

Observa-se, no Quadro 45, que os assuntos veiculados no Jornal

Fomento, na percepção dos produtores, estavam relacionados com

informações sobre tecnologia, gestão empresarial (administração rural,

qualidade total e meio ambiente), marketing institucional e promoção social

(inclusive entretenimento).

Quadro 45 - Tipos de assuntos veiculados no Jornal Fomento, segundo a per-cepção dos produtores, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998

Tipos de assuntos Cabeça Média Cola

Gerenciamento 22,23 35,29 37,50Tecnologia 33,33 17,65 -Promoção social 11,11 19,65 12,50Gerenciamento e tecnologia 22,22 23,53 37,50Gerenciamento e promoção social 11,11 - 12,50Gerenciamento, tecnologia e promoção social - 5,88 -

Total 100,00 100,00 100,00

Fonte: Dados da Pesquisa.

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Segundo os entrevistados, o Jornal Fomento deveria ser distribuído

com maior freqüência e utilizado para reforçar mensagens sobre administração

rural, tecnologia e promoção social, transmitidas pelo técnico.

Verifica-se que o conteúdo das mensagens do Jornal Fomento

privilegiava assuntos mais diversificados que os da relação interpessoal.

Na avaliação dos produtores, o conteúdo era considerado bom e

regular (Quadro 46).

Quadro 46 - Avaliação das informações veiculadas pelo Jornal Fomento, porestrato (em porcentagem)

Estrato Excelente Boa Regular Ruim

I – cabeça - 33,3 66,7 -II – média 5,5 50,0 39,0 5,5III – cola 12,5 50,0 25,0 12,5

Média geral 6,0 44,09 43,23 6,0

Fonte: Dados de Pesquisa.

Avaliação dos técnicos pelos produtores

Do total de produtores em ambos os estratos, 66,67% deram conceito

favorável (bom) aos técnicos, fator que facilitava o processo de aprendizagem,

conforme Quadro 47. Outra forma de comunicação utilizada pela integradora

era o plantão telefônico, atendimento direto do setor de assistência técnica

para tirar dúvidas dos produtores, em caso de emergências.

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Quadro 47 - Avaliação da atuação dos técnicos pelos produtores, por estrato(em porcentagem)

Estrato Excelente Boa Regular

I – cabeça 22,22 66,67 11,11II – média 33,33 66,67 -III – cola 33,33 66,67 -

Média geral 44,44 66,67 11,11

Fonte: Dados da Pesquisa.

Mensagens sobre gestão ambiental

As organizações estão cada vez mais preocupadas em atingir um

desempenho ambiental correto, mediante o controle do impacto de suas

atividades, produtos ou serviços no meio ambiente, levando em consideração

sua política e seus objetivos ambientais que privilegiam a sua política de

comunicação.

Esse comportamento se insere no contexto de uma legislação mais

exigente, por meio do desenvolvimento de políticas econômicas e de outras

destinadas a estimular a proteção ao meio ambiente, em que há crescente

preocupação das partes interessadas com as questões ambientais e com o

desenvolvimento sustentável.

Muitas organizações têm efe tuado “análises” ou “auditorias”

ambientais, a fim de avaliar seu desempenho ambiental. No entanto, por si só,

tais “análises” e “auditorias” podem não ser suficientes para garantir que o

desempenho da organização atenda a esses procedimentos conduzidos dentro

de um sistema de gestão estruturado e integrado ao conjunto das atividades de

gestão, pois a conscientização ambiental é um processo de educação.

As normas internacionais de gestão ambiental objetivam prover às

organizações os elementos necessários a um sistema de gestão ambiental

eficaz, passível de integração com outros requisitos de gestão, de forma a

auxiliá-las a alcançar seus objetivos ambientais e econômicos. Essas normas,

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como outras normas internacionais, não foram concebidas para criar barreiras

comerciais não-tarifárias, nem para ampliar ou alterar as obrigações legais de

uma organização, mas objetivamequilibrar a proteção ambiental com as

necessidades socioeconômicas. Embora haja tendência mundial de

conscientização em relação às questões ambientais, boa parte da população,

especificamente nessa região, não se conscientizou da necessidade da

preservação ambiental, principalmente com relação à grande quantidade de

dejetos de suínos que contaminam as águas potáveis, os riachos e os rios

(fonte de nutrientes para as plantas).

Apesar da urgente necessidade de conscientização desses produtores

sobre as questões do meio ambiente, constata-se que havia carência de

mensagens relacionadas com a área de gestão, no que diz respeito à

preservação ambiental.

De acordo com o livro do SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS

MICRO E PEQUENAS EMPRESAS - SEBRAE (1996), relativo a “ A questão

ambiental: o que todo empresário precisa saber ”, as atividades empresariais

são classificadas em três níveis de contaminação, quais sejam, alto, médio e

baixo.

A suinocultura e, em especial, a unidade de produção de leitões

(UPLs), independente do tamanho, pequeno, médio ou grande, são

consideradas altos agentes poluidores. Os índices de poluição na região são

alarmantes, principalmente no que diz respeito a água, ar, rios, etc. Na região,

ainda não há uma mobilização efetiva para a solução do problema, embora

instituições, como FATMA, EPAGRI e EMBRAPA, estejam imbuídas em

projetos e realizando pesquisas na área.

Muitas empr esas têm trilhado caminhos em direção a uma nova

perspectiva, em que os cuidados ambientais deixam de ser um obstáculo à

atividade da empresa e tornam-se a garantia de que ela se firmará no mercado,

com maiores oportunidades e credibilidade, aliadas às crescentes exigências

legais, à fiscalização e às pressões da sociedade organizada e incentivadas

pelos meios de comunicação.

Observa-se que, no conteúdo das mensagens veiculadas, a

integradora não dava prioridade às mensagens sobre gestão ambiental.

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Dentre as mensagens veiculadas pelo técnico, constata-se que a

maioria estava relacionada com tecnologias voltadas para produção e

produtividade e com gestão empresarial na área econômico-financeira. Com

relação à preservação ambiental, verifica-se que apenas um, dentre os 36

produtores, respondeu que o técnico abordava o assunto, conforme Quadros

48, 49 e 50.

Quadro 48 - Destino dado aos suínos mortos no município de Concórdia-SC,1998 (em porcentagem)

Estrato Enterrados Queimados Sem padrão

I – cabeça 44,4 11,1 44,4II – média 38,9 11,1 50,0III – cola 38,9 8,3 52,8

Média geral 40,43 10,16 49,06

Fonte: Dados da Pesquisa.

Quadro 49 - Número de produtores que tinham problemas relativos à prolifera-ção de moscas na propriedade, no município de Concórdia-SC,1998

Estrato Sim Não

I – cabeça 88,9 11,1II – média 94,4 5,6III – cola 88,9 11,1

Média geral 90,73 9,26

Fonte: Dados da Pesquisa.

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Quadro 50 - Número de produtores que tinham problemas relativos à prolifera-ção de borrachudos, no município de Concórdia-SC, 1998

Estrato Sim Não

I – cabeça 77,8 22,2II – média 82,4 17,6III – cola 100,0 -

Média geral 86,7 19,9

Fonte: Dados da Pesquisa.

Todos os estratos apresentavam problemas relacio nados com a

proliferação de insetos. Dos produtores do estrato cabeça, 88,9% enfrentavam

problemas de proliferação de moscas; do média, 94,4%; e do cola, 88,9%.

Quanto à proliferação de borrachudos, do estrato cabeça, 77,8%; do média,

82,4%; e do cola, 100%. Em todos os estratos, grande parte de produtores não

obedecia ao padrão para o descarte de suínos mortos. Do total de produtores,

62,8% possuíam esterqueiras havia menos de quatro anos.

Quanto ao destino dado ao lixo na propriedade, do total de produ tores

entrevistados, 61,1% não obedeciam a nenhum padrão; 13,9% enterravam-no;

e 25% queimavam-no. Estes dados refletem a pouca ênfase dada às questões

educativas de preservação ambiental.

O papel das integradoras na região, quanto à questão ambiental, t em

sido exigir que os integrados construam esterqueiras adequadas às normas da

FATMA, já que aqueles que não o fizerem, ou seja, que não providenciarem

sua construção ou a remoção destas para locais adequados (distante dos rios),

correrão o risco de serem excluídos do sistema de integração e serão

obrigados a pagar multas.

A proliferação de moscas e borrachudos era decorrente do destino

dado ao lixo, aos suínos mortos e aos dejetos e da carência de informação

sobre educação ambiental. Alguns produtores tinham informação e interesse

em realizar o manejo adequado, mas muitos não conseguiam o correto manejo

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dos dejetos, em razão da grande quantidade produzida e do escasso capital

disponível para construção adequada de esterqueiras, como exige a legislação,

e da dificuldade de alocar mão-de-obra permanente ou temporária (recursos

escassos).

Nesse contexto em que as questões ambientais eram preocupantes, a

responsabilidade social e final era atribuída aos produtores rurais.

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4. RESUMO E CONCLUSÕES

No estudo de caso, analisou-se o processo de comunicação

interpessoal a partir da Teoria de Aprendizagem, de Berlo (1963), tendo como

unidades de análise os 36 produtores de leitões integrados e os dois técnicos

da assistência técnica da Sadia Concórdia S.A. Classificaram-se esses

produtores pelo método denominado de Gestão Agrícola, baseado no

levantamento de dados físicos e econômicos das propriedades, a partir da

Margem Bruta de Produção, agrupando-os em três classes - cabeça, média e

cola. Conforme os objetivos propostos, caracterizou-se o universo desses

produtores, dos técnicos, da organização interna de produção, assim como a

relação de comunicação interpessoal entre integradora-integrado.

Este estudo, longe de apresentar u ma conclusão definitiva, permitiu

melhor compreensão do processo de construção da relação de comunicação,

das mensagens e de seus significados. Permitiu, também, constatar as

expectativas de ambos os envolvidos no processo de comunicação, para que

ocorresse a mudança de comportamento e se efetivasse a aprendizagem.

Dos produtores entrevistados, 100% eram do sexo masculino e

procedentes do meio rural; o ciclo de atividade anterior predominante era de

ciclo completo (96,6%); a idade média dos produtores era de 42 anos; o estado

civil da maioria deles (88,9%) era casado; a média de filhos, por estrato, era de

três; a origem da maioria (91,06%) era italiana; e a maioria havia realizado o 1.o

grau, tendo 41,7% concluído a 4.a série.

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Dos produtores analisados, 46,29% estavam vinculados,

comercialmente, à integradora, num período de 20 a 35 anos (tempo contado

desde que a família de origem se vinculou à integradora).

Quanto às características internas de produção, observa-se que o

contrato existente entre integradora-integrado era oral, e a principal razão que

levou esses produtores a participarem do sistema integrado era a facilidade de

comercialização, de transporte dos produtos e de assistência técnica.

Com relação ao trabalho na atividade, os produtores trabalhavam, em

média, cerca de 15 horas/dia. A média dos estratos de produtores que

possuíam plano de saúde era de 44,43%. Desses produtores, 100% eram

proprietários e 11,11% ainda arrendavam terra para o cultivo do milho, pois o

relevo acidentado e pedregoso não favorecia a mecanização dessas

propriedades.

As propriedades localizavam-se a uma distância média de 14 km tanto

da sede do município de Concórdia como da integradora. A área média das

propriedades era de 30,6 ha.

A posse da terra, a distância e a área estavam dentro do limite imposto

pela integradora para vinculação ao sistema de integração. A área média

exclusiva para a suinocultura, nos estratos, era de 10,33 ha.

Constata-se que 52,77% dos produtores pretendiam ampliar a

suinocultura, mediante crédito agrícola, enquanto 52,73% não o utilizavam. O

estrato cabeça era o que mais evitava utilizar crédito agrícola, enquanto os

média e cola eram os que mais o utilizavam, com vistas em melhorar suas

condições técnicas e produtivas e em adequar-se ao padrão tecnológico

exigido.

Comparando-se as moradias com as instalações suinícolas, observa-

se que estas últimas tinham bom padrão, o que demonstra a preocupação

desses produtores com a manutenção do padrão estabelecido e com o

atendimento às exigências da integradora. Embora estivessem vinculados ao

sistema de produção suinícola integrado e subordinados ao capital, buscavam

diversificar a unidade produtiva por meio de explorações consideradas como

fundamentais para o auto-consumo da propriedade, além da exploração

comercial. Para isso, 90,7% era a média dos estratos de produtores que

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contavam com o apoio da família no planejamento geral das atividades na

propriedade.

Quanto à atuação exclusiva da mão-de-obra familiar, esta ocorria em

86,66% dos estratos. No estrato cabeça, a participação da família era de

100%, eficiência explicada, parcialmente, pelo comprometimento da produção

familiar. A alocação média de mão-de-obra, nos estratos, estava distribuída em

permanente (55,53%) e temporária (25,53%).

O “sobretrabalho” da produção familiar, em todos estratos, era feito

pela mão-de-obra familiar, enquanto inserida no sistema de integração para

sua reprodução. A confirmação dessa apropriação torna-se evidente quando se

verifica, na planilha de gestão agrícola da atividade, o item mão-de-obra

familiar, considerando-se como custo de produção somente a mão-de-obra

externa à propriedade, o que implica que o principal papel desses produtores

era o fornecimento de mão-de-obra para a integradora.

Dentre outras constatações, observa-se que, com a passagem da

forma tradicional de produção, ou seja, de ciclo completo para a especialização

do processo produtivo, novos atributos passaram a ser considerados, o que

dificultava a assimilação de tais conteúdos veiculados pelos produtores,

sobretudo por não perceberem vantagens imediatas. Sendo assim, as ações

da integradora deveriam contemplar tanto os elementos tecnológicos e

estruturais como os pessoais, considerando-os como sua base de

funcionamento.

Os atributos desses produtores, considerados pela integradora, eram

inovação, maiores possibilidades de investimentos e maior qualificação.

Os produtores de leitões selecionados demonstraram capacidade de

assegurar a reprodução da qualidade genética das matrizes. Essa seleção, na

prática, era uma forma sutil de excluir os produtores de ciclo completo que não

possuíam meios para aumentar a sua escala de produção e não tinham

interesse em especializar-se na terminação. Essa especialização pressupunha

uma rotinização dos processos de produção na suinocultura, tornava a

atividade estável e previsível, além de salvaguardar a qualidade dos produtos e

serviços, assim como custos, quantidade ou prazo de produção. Mesmo assim,

40,74% dos produtores não adotavam todas as recomendações e

procedimentos preconizados sobre qualidade total e administração rural.

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A constante desmotivação desses produtores era motivo de entrave da

adoção desses procedimentos e rotinas. A motivação era uma tarefa de

responsabilidade única e total dos produtores. A integradora esperava que eles

se sentissem motivados; no entanto, o fenômeno motivação não era tão

simples, já que era um processo psicológico, cuja compreensão e abordagem

dependiam da concepção que se tem da complexidade da natureza humana e

das condições que a influenciam.

Os produtores, apesar do empenho na atividade, não percebiam a

relação vantajosa entre custo e benefício que os estimulasse, ou seja,

esperavam alguma recompensa financeira mais satisfatória. A participação dos

produtores em treinamentos era fundamental para a especialização destes.

Constata-se que o estrato cabeça era o mais receptivo a treinamentos (87,5%),

sendo o cola o menos receptivo (77,8%). Do total de produtores que

receberam treinamento pela integradora, verifica-se que a média dos estratos

era de 83,33%. As áreas de interesse, de acordo com a prioridade desses

produtores, eram de Administração Rural, Tecnologia e Promoção Social. Os

estratos cabeça e cola apresentaram maior interesse em treinamento nas área

de Administração Rural.

Quanto à participação em cursos por meio de outras instituições,

verifica-se que 50% dos produtores recebiam treinamentos, sendo o estrato

cola o que mais participava destes. Os produtores entrevistados não estavam

expostos a outros programas de assistência técnica concorrente nessa

atividade, o que aumentava as possibilidades de que dessem a resposta

esperada pela integradora, pois a redução dos estímulos disponíveis

aumentava a efetividade dos estímulos que permaneciam. A busca de

informações externas revela que esses produtores não estavam isolados de

outros estímulos.

Ao analisar-se o perfil dos dois técnicos, observa-se que eles tinham a

mesma etnia e procedência dos produtores, ou seja, eram do sexo masculino e

possuíam semelhanças culturais.

O tempo de vinculação profissional à integradora era de 5 e 10 anos, o

que demonstra certa experiência e conhecimento na atividade. Quanto ao nível

de instrução, os dois técnicos tinham formação média (técnico-agropecuário), e

um deles era formado em Biologia. Mediante a leitura de teses, artigos

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científicos, revistas especializadas e participação em eventos, tentavam

manter-se informados.

A relação de comunicação efetiva era realizada pelos técnicos por meio

de visitas individuais aos produtores, ocasião em que transmitiam tecnologias,

procedimentos e padrões sobre qualidade total e administração rural.

O modelo de comunicação utilizado por eles era o estímulo-resposta.

Apesar de ser uma representação um tanto simplificada da realidade, era uma

ferramenta de trabalho utilizada pela integradora para transmitir procedimentos

e inovações. Entre os canais disponíveis para transmissão de mensagens, o

interpessoal era o mais utilizado pela assistência técnica. Para os técnicos, o

objetivo da comunicação era a mudança de comportamentos, ou seja, fazer

com que o indivíduo aprendesse. Servia também para informá-los, orientá-los,

motivá-los e para coletar e divulgar dados sobre tecnologias, produção e

produtividade.

As mensagens veiculadas durante as visitas eram facilmente

compreendidas por 100% dos produtores, por meio de linguagem acessível

(palavras do dia-a-dia). Os produtores afirmaram que o técnico tinha habilidade

para comunicar-se. Essa “habilidade” era compatível com a similaridade

cultural que os produtores tinham com os técnicos, visto que pertenciam a

mesma origem étnica e procedência, o que, conseqüentemente, aumentava a

possibilidade de empatia na relação de comunicação. A posição exercida pelos

técnicos dentro do sistema social influenciava a comunicação, que, na maioria

das vezes, era “dirigida”.

A comunicação interpessoal, mediante visita individual na propriedade,

era o método mais utilizado pela assistência técnica, por ser o mais eficiente na

consecução de seu objetivo, que era convencer os suinocultores a modificarem

comportamentos. Esse método individual exercia influência direta, de caráter

pessoal, nesses produtores, facilitando a introdução de novas práticas e

conhecimentos e permitindo a realização do contato mais íntimo com o

indivíduo. Dessa forma, o produtor era convenientemente informado sobre os

benefícios dessa nova tecnologia.

Observa-se que os produtores, na sua maioria, recebiam expressiva

carga de estímulos, razão por que buscavam informações. Segundo os

técnicos, eles sofriam ameaças decorrentes da oscilação do mercado, dos

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altos custos de produção, dos preços de insumos e do rigor da legislação

ambiental.

Para os produtores, os técnicos eram tidos ora como representantes da

integradora, ora como aqueles que compartilhavam, mutuamente, os objetivos.

Segundo eles, a situação dos técnicos não era muito confortável e a empatia

estabelecida entre eles minimizava a situação de “conflito vivido”.

O êxito dos agentes de mudança tinha relação positiva com sua

empatia, embora estes tivessem, na maioria das vezes, tanta empatia com os

agricultores que acabavam assumindo o papel da clientela, perdendo o desejo

de transformá-los. A semelhança, muitas vezes, fazia com que os produtores

não percebessem a diferenciação de papéis nesse processo, assim como a

hierarquia e a intenção dos técnicos. Sugere-se que o técnico, como agente de

mudança, exerça mais influência nas decisões de inovar, esteja atento às

tecnologias de ponta, busque mais conhecimentos sobre as ciências do

comportamento para combinar ciência e pessoas, tecnologia e humanismo, e

conheça metodologias mais participativas.

Os técnicos reconheceram que não estavam habilitados em áreas de

desenvolvimento humano e de comunicação e não utilizavam recursos

instrucionais atrativos, ou seja, apenas usavam a fala para repassar as

informações aos produtores.

Os técnicos deveriam conscientizar os produtores da importância da

mudança, no sentido de levá-los a buscar o próprio desenvolvimento, pois eles

são o elo na relação de comunicação-mudança; auxiliá-los no diagnóstico de

problemas, traduzindo intenções em ações; e preveni-los contra a

descontinuação.

Os conteúdos (mensagens tecnológicas e de gestão empresarial) eram

predefinidos e veiculados por ocasião da visita, que ocorria com determinada

freqüência, ou seja, semanal, quinzenal ou mensalmente. Enfatizavam

mensagens tecnológicas e de gestão empresarial como um dos principais

elementos que afetam o funcionamento das economias da produção familiar.

Muitas vezes, eram responsáveis pelas transformações profundas da unidade

produtiva e eram determinantes na relação com a integradora. Esses

conteúdos estavam voltados para a importância da especialização e da

realização dos procedimentos, vistos como instrumentos que possibilitavam a

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difusão de tecnologias, a melhoria da eficiência produtiva e o maior

desempenho dessas unidades de produção, embora não estivessem

desvinculados da intenção ou do propósito para a qual ela é comunicada.

O discurso renovado da integradora, e mbora estivesse permeado de

conceitos de administração rural, gestão agrícola e qualidade total, baseava-se

na especialização de determinada fase produtiva, o que traduzia o nítido

interesse na seleção dos suinocultores.

Verifica-se que, no conteúdo das mensagens veiculadas por meio da

comunicação interpessoal, a integradora não privilegiava, efetivamente,

mensagens educativas sobre questão ambiental. Percebe-se, também, que

não havia incentivos também por parte de órgãos públicos competentes (via

políticas públicas), no que diz respeito à viabilização de incentivos para a

construção de esterqueiras e ao tratamento de dejetos de suínos. O ônus da

questão ambiental continuava sendo creditada à população circunvizinha e aos

produtores rurais. A exigência de construção de esterqueiras e a fiscalização

refletiam, necessariamente, o correto manejo desses dejetos.

Inicialmente, os produtores preferiam solicitar informações do técnico, e

o estrato que mais procurava essas mensagens era o cola. A segunda fonte de

informação preferida era o rádio (100% dos entrevistados ouviam rádio e o

informativo da Sadia). Não havia programas locais específicos a esse público,

com enfoque na área de promoção social, os quais atendessem à necessidade

de informação desses produtores. Dos produtores estudados, 53,73% liam

regularmente, o que facilitava a aprendizagem.

A integradora tentou minimizar o esforço de aprendizagem desses

produtores por meio da implementação de procedimentos e rotinas

padronizados por tarefas na atividade suinícola, com base nos padrões da

qualidade total. Esse método objetiva simplificar o processo de aprendizagem,

para que haja resposta rápida. Mesmo assim, muitos não se adequavam às

exigências da integradora, pois a seleção e a interpretação dos estímulos

relacionavam-se com suas expectativas de recompensa.

A integradora deixou a desejar no que diz respeito ao valor da

recompensa e ao tempo de entrega desta. De acordo com os produtores, a

recompensa oferecida pela integradora não era satisfatória, seja física, social

ou economicamente, ou seja, eles não tinham tido o retorno pelo investimento

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que vinham realizando na atividade. A inexistência da “recompensa”

desestimulava o hábito de melhorar, ou seja, gerava o seu enfraquecimento.

Esses produtores afirmaram que não estavam recebendo nenhum tipo de

recompensa relacionadas com as que tinham no início da vinculação comercial

com a empresa.

As velhas práticas de premiação por produtividade, utilizadas pela

integradora (geladeiras, fogões, freezers, eletrodomésticos, móveis,

automóveis, máquinas, implementos agrícolas e tratores), foram substituídas

por novas exigências (rendimento da carcaça, conversão alimentar e

produtividade) e por pouco retorno financeiro. A comparação entre o passado e

o presente gerava certa nostalgia aos produtores, que falavam, com certo

saudosismo, de tempos passados, em que o retorno econômico era maior e a

empresa proporcionava maiores recompensas.

Os produtores estavam conscientes de que possuíam tradição na

atividade, muita experiência e gostavam de desempenhá-la, além de já terem

investido muito em instalações. Por ocasião da pesquisa, estavam

desestimulados, pois sentimentos de insegurança e medo estavam presentes,

concomitantemente com a aversão a riscos.

Os técnicos possuíam simbolismos assim como os produtores, embora

o nível de instrução e o papel desempenhado os diferenciassem. Como

representantes da integradora, os técnicos ocupavam posição privilegiada

(dominante) na relação de comunicação e cada qual, na sua relação de

comunicação, lutava continuamente, conforme suas reservas e instrumentos,

sem, no entanto, constituírem relação antagônica.

Quanto ao hábito de leitura, os produtores, em sua maioria, liam, mas

não tinham tempo para se dedicar à leitura e ao lazer e os poucos que liam

assinavam revistas e jornais. O Jornal Fomento, mesmo não tendo

periodicidade certa, transmitia, segundo 79,63% dos produtores, informações

adequadas, embora fosse importante que também transmitisse informações

sobre saúde, educação e mercado.

Segundo os produtores, as mensagens veiculadas no Jornal Fomento

eram relacionadas com tecnologias, administração da propriedade (gestão

agrícola e qualidade total) e promoção social (entretenimento e meio

ambiente), razão por que a maioria deles não tinha dificuldades de entendê-lo.

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A integradora dispunha, por ocasião da pesquisa, de meios como rádio,

jornal, revistas e folhetos para veiculação de comunicação; no entanto, poderia

veicular a informação principalmente por meio de uma programação no rádio, a

qual enfocasse temas tecnológicos, de gestão e de promoção social, com

maior tempo de veiculação.

Os técnicos não estavam utilizando outros recursos instrucionais

atrativos, como vídeos, fotografias, cartazes, figuras, etc., embora estes

constituíssem um código de comunicação concreto e objetivo que poderia

receber atenção dos agricultores.

Os produtores apresentaram interesse em adquirir equipamentos que

facilitassem sua aprendizagem, com o objetivo de tornar a unidade produtiva

mais eficiente. Para isso, queriam adquirir computadores e vídeos. Dos

produtores entrevistados, nove possuíam computador, enquanto seis

pretendiam adquiri-lo. Esse interesse em adquirir computador revela a

necessidade de se adequarem a mais uma exigência da integradora, já que

esta pretendia implantar o projeto “Desenvolvimento de Fornecedores do

Programa de Qualidade - TQS”, partindo da necessidade de aumentar a

eficiência de Gestão da Qualidade nas propriedades rurais.

A tentativa da integradora de profissionalizar es ses produtores

mediante treinamentos é constatada na promoção de curso sobre produção de

suínos (leitões).

Quanto aos treinamentos e à busca de informações, observa-se que a

grande maioria dos entrevistados recebia algum tipo de treinamento efetivado

pela integradora, enquanto a metade dos produtores realizava treinamento

também em outras instituições. A busca de informações em outras instituições

revela que esses produtores não aceitavam, passivamente, somente as

informações fornecidas pela integradora.

Constata-se, de forma análoga a outros estudos, que há um ponto

comum entre os integrados, ou seja, apesar das dificuldades, eles não queriam

deixar de ser integrados; o que desejavam era melhorar seu poder de

barganha junto à empresa integradora.

A integração social desses produtores era feita por meio do vínculo

com o trabalho, com a família e com a comunidade, e por meio de eventos

(festividades religiosas e missas).

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A Associação dos Produtores de Leitões poderia oportunizar maior

espaço para interação, organização e fortalecimento dessa categoria (maior

poder de barganha junto à integradora). Do total de produtores entrevistados,

46,3% creditavam ao conjunto de estruturas organizativas (agroindústria,

cooperativa, sindicato, associações e instituições governamentais) a

responsabilidade de auxiliá-los na busca de alternativas para superação de

problemas.

Sugere-se que a integradora planeje, participativamente com técnicos e

produtores, a promoção de cursos e treinamentos nas áreas de

desenvolvimento humano, comunicação e gestão ambiental, e busque formas

alternativas de incentivar esses produtores a melhorar a auto-estima. Essa

programação poderia ser realizada mediante parcerias, pois, no modelo atual,

a participação ativa do produtor só é levada em consideração na fase final,

razão pela qual se sentem desmotivados e mesmo desobrigados a dar a

devida importância ao planejamento prescrito.

Neste estudo, a comunicação interpessoal revelou que este

procedimento de comunicação é uma forma de tratar tecnicamente a atividade

de interesse da empresa e dar assessoria gerencial à propriedade.

A integradora exerce, por meio da assistência técnica, uma espécie de

controle (do produtor e das condições ambientais), fiscalizando-os e realizando

auditoria na unidade produtiva como meio de otimizar os resultados.

A comunicação interpessoal é considerada pela integradora, muitas

vezes, como um instrumento efetivo e suficiente, em si mesmo, para assegurar

a eficiência e a eficácia do sistema de integração e do próprio processo de

aprendizagem. A comunicação dos técnicos é percebida como parte integrante

de uma superestrutura ideológica destinada a reforçar atitudes necessárias à

perpetuação da produção capitalista e a legitimar sua dominação. Nesse

modelo, a comunicação, que é paternalista, unilinear e vertical, objetiva

encurtar o tempo entre o lançamento das inovações tecnológicas mediante

procedimentos e das rotinas. Sua prática leva os produtores à dependência

cada vez maior da assistência técnica da empresa.

Do ponto de vista do integrado, embora a relação fosse amistosa, havia

certa desconfiança e até mesmo descrédito por parte destes, conforme se

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percebe nesta fala: ... o técnico é mais um contador de leitões e vendedor de

ração.

A prioridade dada à veiculação de mensagens tecnológicas e de

gestão empresarial revela a lógica da integradora em construir mecanismos

que permitam respostas às expectativas da empresa, o que comprova a sua

grande preocupação com a lógica produtivista.

A “assistência técnica”, como o nome já diz, considerava os produtores

apenas nas fases finais do processo, razão pela qual estes sentiam

desmotivados e, ao mesmo tempo, desobrigados a dar a devida importância ao

planejamento executado. Esse enfoque voltado para o produtivismo tem

caráter imediatista e não toma o indivíduo como agente no processo, mas

como instrumento de persuasão, incapaz de agir e refletir sobre o mundo para

transformá-lo.

O estado de constante preocupação desses produtores servia de

bloqueio para que alguns atingissem determinadas exigências, o que,

conseqüentemente, dificultava a aprendizagem. Esses fatores precisam ser

considerados, pois, sob condições de tensão (de “ stress”), ocasionam um

“fechamento”, já que, quando os produtores verificavam que suas

necessidades não coincidiam com a disponibilidade da recompensa oferecida,

eles se fechavam e não adotavam, de forma eficiente, essas tecnologias e

esses métodos de gestão.

As recompensas econômicas, aliadas às de motivação, podem

satisfazer às necessidades reais e à efetivação das adoções das implantações

de rotinas e procedimentos.

Alguns autores, como BORDENAVE e PEREIRA (1977), consideraram

essa abordagem de comunicação verticalizada como “anti-educativa”, já que

era incapaz de desenvolver nos indivíduos a habilidade de identificar seus

próprios problemas, entendê-los e buscar soluções apropriadas. Isto torna

relevante os programas de educação e capacitação dos suinocultores, uma vez

que, sem a adequada preparação da mão-de-obra, não serão alcançadas as

metas de produtividade que tornam a empresa competitiva. Defenderam a

utilização de estratégias de ação em grupos cujos interesses são comuns, pois

essas categorias sociais têm diferentes interesses que podem mesmo ser

conflitantes, podem ter visões distintas, diferentes problemas, acesso

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diferenciado aos benefícios institucionais da sociedade, diferentes níveis de

facilidades ou dificuldades e diferentes dimensões de poder.

Na empresa estudada, por meio dos questionamentos e dos

depoimentos informais dos produtores integrados aos técnicos, pôde-se

perceber a tensão vivida por ambos. Por um lado, os produtores eram

excessivamente cobrados pela integradora; por outro, os técnicos também o

eram. O técnico veiculava mensagens ao produtor com a intenção de que estes

aprendessem e melhorassem suas condições socioeconômicas, no entanto,

não compreendiam o motivo pelo qual os produtores não adotavam essas

tecnologias.

A introdução de novas tecnologias e procedimentos, embora

considerada necessária, muitas vezes originava resistências. Esses técnicos

desconheciam a racionalidade que permeava as ações desses produtores, pois

não estavam familiarizados com teorias de comunicação, de aprendizagem e

de psicologia, em resumo, desconheciam a questão complexa que envolvia a

modificação de comportamentos.

Os produtores, embora percebessem que os técnicos impunham

procedimentos e rotinas, sentiam amizade por eles, visto que compreendiam a

situação desses técnicos, pois sabiam que eles não tinham autonomia e

condições de fazer mais do que faziam, já que estavam numa posição

intermediária na relação de comunicação.

Os conteúdos veiculados e os procedimentos da assistência técnica

revelavam uma ação de tutoria, fiscalização e auditoria, pois as mensagens

que visavam à produção, à produtividade via tecnologia e ao gerenciamento da

unidade produtiva eram exigentes e impositivas, dado que controlava e

perpetuava a relação de dependência.

Nesse sentido, o planejamento e a seleção de conteúdos a serem

trabalhados, bem como a forma de exploração metodológica desses

conteúdos, deveriam sofrer alterações, uma vez que a inovação não pode se

reduzir apenas a mudanças no que se ensina e no que se aprende, o ideal é

como se ensina e como se aprende. Alguns produtores integrados

apresentaram, mediante atitudes, formas de resistência que se refletiam na

não-utilização da tecnologia prescrita pelo técnico.

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Acredita-se que a integradora deveria usar modelos alternativos de

comunicação dialógica, cognitivos, morais e motivacionais, principalmente para

que os produtores pudessem ser capazes de, por meio do bem-estar físico,

promover o auto-desenvolvimento socioeconômico.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A

TAREFA

Desmamar leitões.

ATIVIDADE CRÍTICA

1) Preparar a baia para o desmame;

2) Tirar a porca da baia e levá-la até as baias da cobertura;

3) Colocar os leitões nas baias de desmame, separando os machinhos das

fêmeas; e

4) Oferecer ração como descrito na tabela.

RESULTADOS ESPERADOS

Leitão desmamado, sem diarréia ou outras doenças.

AÇÕES CORRETIVAS

Caso apareçam leitões com diarréia, edema ou outra doença, deve-se

avisar o técnico e rever o padrão.

Observação: Se tiver dúvida, chame o técnico.

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TAREFA

Proporcionar ambiente confortável para o leitão. Cuidados com o

escamoteador.

ATIVIDADE CRÍTICA

1) Inicialmente, colocar cama no escamoteador;

2) Ver se a temperatura dentro do escamoteador está boa, observando a

forma como os leitões estão deitados, comparando-os com as figuras;

3) Trocar a cama, quando estiver suja ou molhada;

4) Limpar, lavar e desinfetar a baia e o escamoteador, quando as porcas forem

retiradas e os leitões desmamados; e

5) Pintar a baia e o escamoteador.

RESULTADOS ESPERADOS

Contribuir para que o local ondefica o leitão quando este não estivermamando tenha cama seca, limpa etemperatura no ponto certo.

AÇÕES CORRETIVAS

Se os leitões não usarem o escamoteador, ou ficarem todos

amontoados dentro do escamoteador, verificar atividades críticas e avisar o

técnico.

Observação: Se tiver dúvida, chame o técnico.

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TAREFA

Adaptar reprodutores.

ATIVIDADE CRÍTICA

1) Preparar o local para colocar os reprodutores;

2) Colocar uma leitoa a cada um metro e meio da baia. Colocar, no máximo,

seis leitoas por baia;

3) Deixar o macho sozinho na baia, que deve ter de 8 a 10 m2;

4) Oferecer aos reprodutores a mesma ração da porca em lactação, ou seja,

2 kg por dia, dado meio a meio;

5) Colocar medicamento na ração durante 30 dias;

6) Seguir o esquema de vacinação da propriedade, quando necessário;

7) Evitar que ocorram problemas de saúde com os reprodutores; e

8) Realizar o desafio sanitário, oito dias após o recebimento sanitário.

RESULTADOS ESPERADOS

Evitar que os reprodutores tenham problemas de adaptação na

propriedade e que não fiquem doentes.

AÇÕES CORRETIVAS

Quando os reprodutores não respondem ao tratamento, deve-se

chamar o técnico.

Observação: Se tiver dúvida, chame o técnico.

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TAREFA

Atender ao parto.

ATIVIDADE CRÍTICA

1) Ficar atento para os sinais de parto da porca;

2) Acompanhar o parto todo o tempo;

3) Realizar toque vaginal, quando a porca fizer força e os leitões não

nascerem. Desinfetar o local, lavar e desinfetar as mãos e os braços; usar

luva plástica; passar azeite na luva; colocar a luva na mão e introduzi-la na

porca;

4) Limpar a boca e o focinho do leitão recém-nascido;

5) Secar o leitão com pano seco;

6) Amarrar e cortar o umbigo dois dedos abaixo da barriga;

7) Cortar os dentes rente à gengiva e não machucá-la;

8) Cortar duas partes das três partes do rabo; e

9) Desinfetar o umbigo e o rabo cortados.

RESULTADOS ESPERADOS

Contribuir para que o leitão fique com os de ntes bem cortados; para

que a gengiva não fique machucada; para que o rabo fique bem cortado; e para

que o umbigo fique bem cortado e amarrado.

AÇÕES CORRETIVAS

Aplicar medicamento na porca sempre que for feito o toque com a mão;

Chamar o técnico, caso tenha dúvida a respeito do amarrio do

umbigo; e

Requisitar o técnico, caso tenha dúvida a respeito do corte do rabo do

leitão.

Observação: Se tiver dúvida, chame o técnico.

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TAREFA

Alojar leitões na creche. Cuidados que se deve ter ao levar os leit ões

para a creche.

ATIVIDADE CRÍTICA

1) Limpar a baia;

2) Desinfetar a baia, após a limpeza desta;

3) Colocar a cama, após a baia ser seca;

4) Verificar se o bebedouro está funcionando;

5) Verificar se o comedouro funciona;

6) Tirar os leitões da maternidade e formar lotes com leitões de mesmo

tamanho; e

7) Colocar na creche três leitões por metro quadrado.

RESULTADOS ESPERADOS

Obtenção de três leitões por metro quadrado da creche.

AÇÕES CORRETIVAS

Toda vez que tiver mais de três leitões por metro quadrado na creche,

deve-se observar se há atividades críticas e contactar o técnico.

Observação: Se tiver dúvida, chame o técnico.

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137

APÊNDICE B

ANÁLISE DE CUSTOS UTILIZADA PELA INTEGRADORA

Os suinocultores rurais continuarão na atividade por algum tempo,

mesmo que pouco ou nada recebam, uma vez que eles não podem,

rapidamente, retirar o seu capital investido em bens de produção

especializados, com duração de vários anos. Contudo, desgastados os bens de

capital, o dinheiro não será reinvestido nesse negócio. Por este motivo, a

preocupação é dar condições aos donos dos fatores de produção para que eles

continuem a fornecê-los. Para isso, os custos deverão ser classificados em

explícitos ou contábeis e implícitos ou econômicos.

Custos explícitos ou contábeis são aqueles que englobam os gastos

monetários, ou seja, constam de todos os pagamentos efetuados pelo uso dos

recursos comprados ou alugados.

Custos implícitos ou econômicos são aqueles que não englobam

gastos monetários. Nessa abordagem, constam os fatores pertencentes à

empresa e utilizados no processo produtivo (ex.: custo de oportunidade,

depreciação, etc.).

Em geral, os custos explícitos e implícitos são divididos em fixos e

variáveis.

Os custos fixos são inalteráveis no curto prazo; o valor total independe

do nível de produção; ocorre mesmo que os recursos não sejam utilizados; não

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se incorporam totalmente ao produto no curto prazo, fazendo-o em tantos

ciclos quanto permitir sua vida útil; seu conjunto determina a capacidade de

produção da atividade, ou seja, as escalas de produção.

Custo fixo total (CFT) é a soma de vários tipos de custos fixos e inclui,

usualmente, os componentes depreciação, seguro, impostos e juros.

Custo fixo médio ou unitário (CFMe) expressa o custo fixo por unidade

de produto. É determinado pela equação CFMe = CFT/Total Produzido em

Unidades Físicas (Y).

Como o CFT é um valor fixo ou constante, independente do nível de

produção (no curto prazo), o CFMe irá decrescer, continuamente, com o

aumento de produção.

Produtividade refere-se ao total produzido em unidades físicas (Y) por

unidade de produção. Ex: terminados/porca/ano.

O aumento da produtividade é a única maneira viável de se reduzir o

CFMe e, conseqüentemente, tornar o negócio mais rentável economicamente.

A análise do CFMe possibilita avaliar se o capital estável empregado

no negócio está sendo subutilizado ou não.

Os custos variáveis são alteráveis no curto prazo; as alterações

provocam variações na quantidade do produto dentro do ciclo; só ocorrem

quando os recursos são utilizados; têm duração inferior ou igual no curto prazo,

sendo, portanto, sua recomposição feita a cada ciclo produtivo; incorporam-se

totalmente ao produto no curto prazo, não sendo aproveitados (ou claramente

aproveitados) para outro ciclo.

Itens como semente, ração, fertilizantes, produtos químicos, gastos

com sanidade do rebanho, alimentos adquiridos para animais, transporte,

Funrural, aluguel de máquinas, serviços com máquinas e com mão-de-obra,

em geral, são exemplos de custos variáveis.

Os alimentos produzidos na propriedade e fornecidos aos animais,

assim como semente para a lavoura, etc., são também custos variáveis e

devem ser computados no preço de mercado.

O custo variável total (CVT) pode ser obtido pela soma de cada custo

variável individual, que é igual à quantidade do recurso comprada,

multiplicando-se Custo variável médio ou unitário ( CVMe = CVT/Total

Produzido em Unidades Físicas (Y).

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Da mesma forma, observa-se que o aumento da produtividade, ou seja,

o aumento mais que proporcional da quantidade produzida em relação ao

aumento do CVT, é que possibilita obter redução do CVMe.

A análise do CVMe permite avaliar qual o sistema de produção é mais

adequado.

A soma do CFT e CVT fornece o custo Total de produção (CT).

A soma do CFMe e CVMe fornece o custo total médio (CTMe).

Os recursos produtivos da empresa rural, utilizados na suinocultura,

segundo a integradora, são terra, capital estável (benfeitorias, máquinas,

equipamentos e animais) e circulante (insumos intermediários) e trabalho.

As metodologias que determinam os custos de produção devem ser

diferenciadas, já que são diferentes os recursos produtivos da empresa rural.

Quando a terra utilizada no processo produtivo de dado produto é

alugada ou arrendada, o seu custo é fixo e equivale ao desembolso feito para

pagar este arrendamento ou aluguel. Se a terra utilizada for própria, a

determinação do seu custo deve ser o custo de oportunidade desta, ou seja, o

valor que está deixando de ganhar com o uso deste recurso nesta atividade e

não em outro uso alternativo.

Dois critérios são utilizados, normalmente, para determinar este custo

de oportunidade terra: a) O valor do arrendamento pago na região (é um

critério muito utilizado); b) O valor de venda da terra vezes uma taxa de juros

alternativa recebida, aplicado no mercado financeiro (normalmente, utiliza-se

taxa de juros real de 6% ao ano, paga pela poupança).

O capital estável engloba os bens de produção duradouros que ajudam

na prestação de serviços em vários atos produtivos, como benfeitorias,

máquinas, animais de produção (matrizes) e de trabalho.

Sobre o capital estável incidem os seguintes custos:

a) Depreciação, que é o custo não-monetário que reflete a perda de valor do

bem com a idade, com o uso e com a obsolescência. É também um

procedimento contábil para gerar fundos necessários à substituição do

capital investido, após o término da vida útil.

b) Custo de conservação e manutenção do capital, normalmente, é considera-

do como um custo variável associado ao capital estável, por ter relação com

a intensidade de uso deste. Estabelece-se, normalmente, um percentual

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anual sobre o valor do capital para calcular os custos referentes a

conservação e manutenção.

c) Custos do capital circulante, cujo uso implica a incidência de custos variá-

veis.

d) Custo de aquisição, dado pela quantidade adquirida do insumo e pelo preço

unitário de aquisição deste.

e) Juros sobre o capital empatado, que devem ser calculados pelo tempo ( nú-

mero de meses) de uso do insumo, sendo, portanto, proporcional ao tempo

em que o capital ficou empatado para obtenção do produto.

f) Custo da mão-de-obra ocasional, que representa o salário pago pela mão-de-

obra ocasional, utilizando-se o preço de mercado pago pela mão-de-obra na

região.

A Renda Bruta Total na atividade representa o valor de tudo o que foi

produzido durante o ano, tanto para venda ou estoque como para consumo

familiar ou para alimentação animal no estabelecimento, expresso em valores

monetários.

RBT para criações = vendas - compras de animais + diferença de

inventário dos animais + autoconsumo.

Para converter as produções físicas em valores monetários, deve-se

atentar para o uso preços em moeda “forte”, ou seja, calculá-las em valores

reais, não-sujeitos a altas taxas de inflação.

A análise da Renda Bruta Total, isoladamente, é pouco conclusiva,

pois nem sempre uma maior RBT implica um melhor resultado econômico.

Torna-se importante comparar os custos associados à obtenção desta RBT.

Escolheu-se a variável Margem Bruta (MB), pois é o índice considerado

pela empresa como o mais eficiente na análise da atividade ou do produto,

visto que ela é dada pela diferença entre a Renda Bruta Total dessa atividade e

os custos variáveis totais desta, representada pela fórmula:

MB = RBT - CVT.

Esta variável serve para medir a eficiência da atividade ou do produto,

assim como para classificar os produtores em cabeça, média e cola, num

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quadro geral de comparação; para analisar o grupo comparativamente; e para

comparar a eficiência entre atividades e produtos diferentes. Pode-se

determinar a MB por unidade de produção (por hectare, por porca, por aviário,

etc.), o que possibilita a comparação entre atividades semelhantes ou entre

produtores ou, ainda, entre regiões, etc. Pode-se, também, prever a MB futura,

para fazer a programação das atividades a serem desenvolvidas na

propriedade ou para fins de orçamentação.

A margem bruta não representa o lucro líquido da atividade.

As propriedades rurais observadas constituem-se de recursos

escassos e procuram alcançar determinados objetivos. A forma de alocação

dos recursos escassos e todo o processo de tomada de decisão derivam dessa

administração rural.

A comparação de resultados, como técnica de gestão da propriedade,

é também uma das técnicas de gestão da propriedade utilizadas na

classificação dos produtores em cabeça, média e cola.

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APÊNDICE C

GESTÃO DE SUINOCULTURA - UPL

Empresa: _____________________ Nome: ________________________________________

Região: _____________ Código: _______ Data: ___/___ Total de controle: _______________

Parições Casos Encargos variáveisNúmero de parições reais Especificações Un. Peso ValorNúmero de parições previstas Milho kgTotal de leitões nascidos Concentrado único kgTotal de natimortos Crescimento kgTotal de mortos ao nascer Pré-inicial kgPrimíparas Ração terminação kg

Porcas Premix leitão kgLeitoa Premix crescimento kgCachaço Premix terminação kg

Pla

nte

Valor total do plante Premix reprodução kgTotal de controle Farelo de soja kg

Silagem de milho kgDesmamas Casos Soja tostado kg

Número de desmamas Triticale kgTotal de leitões desmamados Trigo kgIdade média de desmama Farelo de arroz kgTotal de eliminados Sorgo kgTotal de esmagados Girassol kgTotal de mortos por doenças Soro em pó kgTotal de mortos outras causas Farelo de trigo kgIntervalo desmama/cio Sal kg

Total de controle Concentrado reprodutores kgOutros-1 kg

Coberturas Casos Outros-2 kgCoberturas realizadas Outos-3 kgNúmero de leitoas cobertas Total de controleNúmero de retorno ao cioNúmero de abortos

Total de controle

Compras Quant. Peso Valor Outros encargos ValorReposição de machos Mão-de-obra ocasionaReposição fêmeas compradas MedicamentosReposição fêmeas próprias Transportes

Total de controle Luz e combustíveMaravalha

Vendas Quant. Peso Valor Total de controleLeitões vendidosDescartes de machosDescartes de fêmeasVenda de refugos (Terminados)Autoconsumo

Total de controle