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A COMUNIDADE RURAL DE DOURADOS NO MUNICÍPIO DE PATROCÍNIO – MG: CONTATOS ENTRE RURAL E URBANO, AS RELAÇÕES DE RESISTÊNCIA E SOBREVIVÊNCIA NO CAMPO
Renato Emanuel Silva Universidade Federal de Uberlândia -UFU
Giliander Allan Silva Universidade Federal de Uberlândia -UFU
Resumo No município de Patrocínio, no Alto Paranaíba se encontra a comunidade Rural de Dourados, que apesar de estar localizada próximo ao perímetro urbano, manteve por quase dois séculos uma estrutura e todo um modo de vida rural. Contudo, esta região rapidamente passou por mudanças contundentes. É objetivo do presente trabalho, analisar a condição desta comunidade e de suas manifestações rurais ao longo do tempo, atentando para o resultado destas relações sobre organização da área. Existem hoje diferentes propriedades com distintas funções, desde as mais tradicionais e arcaicas, aquelas voltadas à agricultura moderna e outras inclinadas à prestação de serviços para uma clientela urbana. A área já possui traços urbanos marcantes como o caso do bairro Serra Negra, esta realidade em conjunto com os elementos da comunidade, evidencia um novo momento na organização deste espaço e das relações que ali se desenvolvem. Palavras-Chave: Comunidade Rural. Rural e Urbano. Atividades rurais.
Introdução
A Geografia Agrária, a exemplo de outros ramos da Ciência Geográfica, evolui
conforme as mudanças imprimidas pelo homem nos espaços por ele ocupado. Preocupa-
se com diversas questões ligadas ao meio rural, suas características, manifestações e
mesmo relações com outros meios. Foi assim durante a Geografia Tradicional, nos
relatos das paisagens agrícolas, na Geografia Quantitativa sua metodologia técnica,
passando pela Geografia Crítica com análises das condições de vida dos agricultores e
de seus familiares, além das fortes criticas a subserviência dos trabalhadores aos
interesses do capital. Independente do período esta corrente da Geografia apresenta forte
contribuição para a melhor compreensão do espaço.
Tais contribuições ocorrem em diversos espaços e momentos privilegiados para a
compreensão de fenômenos no campo. É possível citar, entre tantos, as pesquisas
voltadas a compreensão dos Complexos Agroindustriais (CAI’s), as importantes
discussões referentes à Reforma Agrária, as reflexões a cerca dos projetos estatais de
gestão do campo. Por fim, as discussões entre campo e cidade, rural e urbano, vem
ganhando ampla atenção do meio acadêmico, elas permitem estudos que busquem
compreender as relações diversas que surgem. São exemplos os trabalhos de Ferreira
(2008), Resende (2007), Santos (2007).
A discussão entre rural e urbano merece destaque por constituir um debate com
inúmeras possibilidades de análises, tanto teóricas quanto práticas, capazes de conduzir
a novas interpretações do meio rural. Estes são trabalhos complexos, uma vez que, as
definições dos espaços urbanos e rurais são um desafio, não só ao campo teórico da
Geografia Agrária, mas também à Sociologia e Antropologia, entre outros. Embora
complexas, as discussões são necessárias tendo em vista que a relação campo – cidade
ocupa lugar de destaque no meio acadêmico, por se constituir um objeto de discussão
ainda pouco explorado.
Anteriormente a definição de campo e cidade parecia de fácil limitação. Para Endlich
2003, o campo seria o espaço do trabalho manual, das relações patriarcais e rústicas do
primeiro setor das atividades econômicas. Diferentemente a cidade seria o espaço
privilegiado do trabalho intelectual e das relações novas ou pré-existentes, inseridas no
segundo e terceiro setor da economia. Assim era possível diferenciar o rural do urbano,
uma vez que as ruralidades expressas pelo modo de vida e produção arcaicas se
contrastariam com as urbanidades marcadas pela inserção de novas tecnologias e
dinamismo das relações, nitidamente envolvidas por enlaces capitalistas.
Porém, as mudanças ocorridas nestes cenários fizeram com que tal análise passasse a
enfrentar dificuldade. As interações assumiram um novo grau de especificidade, e a
rigidez das definições de urbano e rural se tornaram obsoletas. Logo, novos elementos
têm surgido no meio rural, carregados de significados urbanos, estas urbanidades no
rural, estudadas por Rua (2006), vêm contribuindo para a definição de novos ambientes,
particulares em suas características e que consistem em validos objetos de estudos aos
Geógrafos Agrários.
É necessário compreender este novo momento das relações entre o Rural e o Urbano
cientes que estas relações podem constituir uma interface de contato problemático em
diversas situações e espaços. Neste âmbito, é objetivo do trabalho analisar a situação da
comunidade Rural de Dourados no município de Patrocínio, cidade mineira do Alto
Paranaíba, onde estas relações parecem ter engendrado profundas mudanças ao modo de
vida dos envolvidos. A velocidade das mudanças e as tentativas de resistência por parte
daqueles agricultores exemplificam este estágio que vive o meio rural brasileiro.
A metodologia partiu do levante bibliográfico onde merecem destaques os estudos da
relação campo-cidade, de Biazzo (2007), Endlich (2003), Ferreira (2008), Rua (2006).
Também foram necessários consultas aos trabalhos que abordassem diretamente a
região como o caso de Casseti (1981) e Silva (2006) com a análise dos aspectos gerais
de Dourados, também Pêssoa (1988) e Silva (2008) com discussões relativas ao
processo de modernização agrícola do cerrado. Por fim Rodrigues (2008) que analisou o
avanço da mancha urbana de Patrocínio sobre o meio rural do município e a dimensão
turística que o rural tem assumido perante o urbano como no caso de Ruschmann
(2000). Também fizeram parte da metodologia visitas ao local, onde foram realizadas
entrevistas com pessoas ligadas a comunidade compreendendo melhor a dinâmica
daquele território. Fontes de pesquisa secundárias foram obtidas na pesquisa particular
de Carmem Rabelo, responsável pelo levantamento das origens das famílias da região.
O município de Patrocínio se encontra na mesorregião do Triangulo Mineiro/ Alto
Paranaíba (figura 1) tendo como áreas limítrofes os municípios de Coromandel,
Guimarânia, Monte Carmelo, Iraí de Minas, Cruzeiro da Fortaleza, Serra do Salitre,
Perdizes. Seu meio rural é marcado pela presença de inúmeras comunidades
organizadas em associações, dentre elas, Comunidade de Dourados, alvo deste estudo,
que se encontra na porção oriental do município a cerca de 10 km do centro da cidade
de Patrocínio1. Embora próxima do meio urbano, a comunidade de Dourados se
manteve com considerável grau de isolamento (resistência) e preservação de sua cultura
por longo período.
Figura 1: Localização da área de estudo
Comunidade de Dourados: da ocupação e dos modelos de permanência
Dentre os fatores geográficos que permitiram Dourados manter seu modo de vida rural
tão próxima à cidade de Patrocínio, destaca-se os físicos e culturais. Compreendê-los é
passo fundamental para entender a ação transformadora que se seguiu nas ultimas
décadas. Conforme analisado por diversos autores, o Cerrado mineiro apresenta
características que dificultavam o estabelecimento de produções agrícolas significativas.
Elementos como os solos ácidos e pobres e áreas elevadas distantes de cursos fluviais
deixavam as produções agrícolas limitadas a áreas de menor porte como os fundos de
vales, onde era possível aproveitar os solos mais férteis. Estas áreas, vez ou outra,
permitiam a produção de um excedente capaz de atender as vastas fazendas voltadas à
pecuária extensiva ou aos tímidos comércios que se desenvolviam em cidades de
pequeno porte.
Contudo, existiam alguns ambientes privilegiados pelas condições naturais que se
apresentavam favoráveis ao desenvolvimento de uma agricultura diversificada. O
município de Patrocínio apresenta na sua porção leste uma área com tais características
sendo ocupada pelas Comunidades Rurais de Dourados, Esmeril, São João da Serra
Negra e Salitre. Tais comunidades se encontram em um ambiente diferenciado devido à
fertilidade do solo, abundancia hídrica e morfologia plana. Dourados se destaca por ser
a mais próxima do perímetro urbano de Patrocínio e pela estreita relação existente entre
o campo e a cidade.
A comunidade recebe o nome do rio cujas nascentes abriga o rio Dourados, formado por
cinco ribeirões que ali nascem2, sendo o rio afluente da margem esquerda do rio
Paranaíba e apresenta especial importância para aqueles agricultores que em suas
margens se fixaram (figura 2). A região da comunidade de Dourados contem
características físicas, que são raras em todo o cerrado. Destacando os férteis solos
oriundos do intemperismo do dunito, que se apresentam em uma área deposicional
imediatamente sequente ao Domo Serra Negra, (estrutura dômica de origem
Mesozóica), Casseti (1981). Assim as nascentes do Rio Dourados depositaram nas
partes baixas do Domo Serra Negra, material oriundos de seus patamares estruturais.
Estes materiais formaram o rico solo que é cortado por inúmeros cursos fluviais. Estes
fatores foram primordiais no processo de ocupação agrícola que se desenvolveu e
mantém por mais de dois séculos.
Figura 2: Sede da Fazenda Honorato, Dourados, em 1984.
O processo de ocupação do município de Patrocínio tem seu histórico iniciado por volta
do ano de 1660, sendo mais efetiva a presença destes habitantes nas terras próximas da
cidade por volta do ano de 1770 quando fazendas e pousos são abertos a fim de atender
o ciclo do ouro na região de Paracatu. Segundo Nascimento (2007), a região das
nascentes do Rio Dourados seria inicialmente ocupada por agricultores de pequeno
porte que se valeriam das terras férteis e planas naquela área para desenvolverem uma
agricultura tradicional focada em atender as necessidades das fazendas da região e mais
tarde formando uma rota de comercio dali até a região de Paracatu. A pesquisadora
Carmem Rabelo3 aponta que estes habitantes eram oriundos da região de Araxá e
entraram no vale do rio Dourados interessados em terras férteis e na possibilidade de
venda de excedentes a cidade de Patrocínio, naquele tempo ainda um vilarejo.
Apesar da proximidade entre Patrocínio e Dourados, por décadas a relação entre o
perímetro urbano e o meio rural era mínima, na verdade alguns patriarcas de Dourados
se dirigiam a cidade para negociar seu excedente agrícola e adquirir mercadorias. Já as
famílias de menor poder aquisitivo e fundiário não apresentavam condição de manter
perene este fluxo comercial.
O pequeno contato com a cidade justifica o motivo dos dourados, como são chamados
os habitantes da comunidade, terem se mantido basicamente com as mesmas
características de ocupação por mais de 150 anos (figuras 3). Considerados os avanços
pertinentes a região do município no geral, os habitantes de Dourados se mostraram
capazes de manter características culturais praticamente intactas por um longo período.
Este fato contrasta com outras localidades rurais que mudaram de vocação econômica,
ou mesmo desapareceram por não serem capazes de se organizarem, frente às mudanças
que surgiam. Foram encontrados ao sul do município, por exemplo, vestígios de grandes
propriedades que juntas ocupavam consideráveis áreas e que agora não mais existem,
seus moradores logo se ligaram ao meio urbano e lá se fixaram. Dourados ao contrario,
se manteve por longo período resistindo às mudanças que gradualmente ocorriam para
além de suas fronteiras. Tal sobrevivência está expressa na maneira como estas famílias
se organizaram para lidar com o campo.
Figura 3: famílias e estrutura das fazendas. a) pintura a óleo Fazenda do Natinho; b) moradores em uma bica de caiçaras, 1968.
A produção agrícola, em vias de regra seguia a lógica das necessidades, se plantava o
que era da “época” e os produtos eram destinados à família, aos familiares e vizinhos
mais próximos. Caso houvesse um excedente neste processo era direcionado aos
comércios de Patrocínio. Os produtos mais comuns a serem vendidos eram o fumo, o
queijo, leite e hortaliças, também se empregava trocas por sal e outros produtos que não
se podia obter no campo.
Enquanto o entorno da região era marcado por vastas fazendas produtoras de gado, a
região de Dourados apresentava uma agricultura bastante diversificada. Sendo ali
produzido cana de açúcar, milho, mandioca, arroz, feijão, fumo, taioba, couve, repolho,
inhame, cará, açafrão, tomate, alho, jiló, quiabo, pimentão, bem como diversos tipos de
frutas como laranja, goiaba, manga, banana, jabuticaba, coco. As áreas de criações de
gado eram otimizadas por meio dos pastos e da presença de algumas nascentes. Além
do gado bovino eram também importantes às criações de suínos, equinos e aves como
galinhas, patos, perus e galinhas da angola.
Tamanha variedade de produtos permitia ao longo do ano às famílias mais organizadas,
a venda do excedente produtivo. Estes produtos ocupavam a vida das mulheres que se
reunião para a produção do sabão de coco, açúcar de forma, rapadura, melado, fubá,
polvilho, fumo de rolo, salgamento de carne e produção de toucinho em tiras. Estas
atividades dividiam o tempo com os afazeres domésticos, criação dos filhos e cuidados
dos membros mais idosos das famílias.
Ainda a cerca dos modos de produção, inúmeros eram os costumes que atestavam para
uma maior relação entre as famílias da área. Os mutirões de estivamento, limpeza de
regos, abatimento de pastos, plantio e colheita, o transporte, e armazenamento em
comum de safra entre famílias, os dias trocados. Todos estes processos remontam a aos
dias mais antigos destes habitantes e se mantiveram presentes até pouco tempo.
A planície de Dourados apresentava no inicio de sua ocupação inúmeras áreas
alagadiças, resultantes da presença de cursos fluviais de pequeno porte que ao descerem
do Domo Serra Negra trazendo sedimentos acabava perdendo velocidade e acumulando
material sedimentar em seu leito e inundando terras principalmente na porção oeste.
Este fator, narrado por moradores, mostra que a ocupação se deu de forma lenta, uma
vez que esta área foi esgotada ao longo de pelo menos 100 anos, de 1850 a 1950
(SILVA, 2006). Procedimento de fundamental importância para compreender o grau de
união destas pessoas. Estivas eram feitas para permitirem a instalação de novas casas e a
ocupação do território por novas famílias que iam surgindo dentro das famílias
tradicionais. O estivamento consiste no processo sequente ao esgotamento das áreas alagadiças, uma vez sulcadas, estas áreas perdiam boa parte de sua umidade e recebiam em diversos locais estivas (troncos de madeiras) que permitiam o acesso de pessoas e o avanço, por exemplo, de culturas de arroz e posteriormente mesmo a construção de casas. Até 1950 quando as ultimas estivas foram colocadas na região da lavrinha, porção oeste de Dourados, era muito comum caminhos feitos sobre estas madeiras que permitiam acessos rápidos entre fazendas ligadas a uma mesma origem patriarcal (SILVA, 2006, s.p.).
A tendência de modificar o ambiente a fim de servir as necessidades dos habitantes,
poderia também ser vista, em outros aspectos. A abertura e limpeza de regos, ou cursos
fluviais artificiais também constituía um importante fator de integração entre estes
moradores. Os regos na verdade demandavam um grande número de pessoas para sua
criação e manutenção. Estes eram importantes, pois viabilizavam a criação de novas
fazendas, afastadas de um dos cinco córregos originais. Também fundamental para o
estabelecimento de culturas agropecuárias, como a criação de gado, suínos soltos, e a
irrigação de algumas culturas. Práticas indispensáveis no período da cheia para a
captura de peixes, importantes para a dieta dos moradores quando boa parte das culturas
estavam próximas de serem cultivadas e não em vias de colheita. No inicio da estação quando os peixes subiam eles eram pegos com as mãos e era grande a fartura, os menores eram soltos, quando muitos eram pegos, eram salgados e guardados ou eram dados a outras casas, como no nosso caso que eram algumas fazendas da mesma família. [sic] (Suely Aparecida Alves Silva, moradora de Dourados na infância)
Também chamava a atenção à organização da rede fluvial, que acabava por unir ainda
mais os vizinhos fronteiriços que dividiam um mesmo rego para suas necessidades. Um
curso fluvial poderia servir cerca de quatro propriedades antes de ter suas águas
devolvidas a um curso natural. Este elemento atesta para uma espécie de ordenamento
do território por parte destes moradores. Se valendo dos solos férteis e dos terrenos planos, os habitantes de Dourados ao longo de sua ocupação criaram uma verdadeira rede hídrica artificial. Embora seja difícil precisar quantos destes cursos fluviais tenham sido construídos, é fato que permitiram o avanço da ocupação para áreas internas e que alguns fizeram a união entre córregos como o caso do curso fluvial artificial do Limiro que liga o córrego da Cava ao córrego da Lavrinha ambos formadores do Rio Dourados (SILVA, 2006, s.p.).
A exemplo de outras tantas localidades rurais, Dourados também se beneficiava de atos
coletivos no abatimento de pastos, plantio e colheita conjunta. As produções eram
muitas vezes divididas como forma de pagamento ou os dias eram trocados, assim os
agricultores e seus filhos faziam rodízios de trabalhos nas fazendas de familiares e
amigos. Esta era a maneira encontrada de fazer as colheitas em tempo hábil e muitas
vezes de ter condições de transportá-las até a cidade, ou até as tuias, onde eram
guardadas para o consumo próprio. Os carros de boi e carroças a cavalo era um sinal de
status que poucos gozavam.
Este período de união, que permitia que os habitantes se valessem de suas próprias
condições para a colheita sem necessidade de buscar mão de obra externa, são narrados
pelos mais idosos, tantos os que ainda estão na lida, como aqueles se mudaram para a
cidade. Naquela época, nos trocávamos os dias, uma hora agente trabalhava na casa da Madrinha Geralda, depois íamos para as terras do Natinho, quando precisava eles vinham para a nossa fazenda, e assim dava pra cuidar das terras todas. Porque aquilo tudo agente já trabalhava no tempo do papai, as terras eram deles, depois dividiu pra nós, mas continuamos a trabalhar juntos. E o que plantava era mandado pra casa do papai e guardava lá. [sic] (Manoel Faustino Alves filho de Olimpio Faustino Alves, um dos celebres moradores da região)
As tuias eram os depósitos que as fazendas tinham para a produção. No caso de famílias
mais antigas em que filhos já tinham suas próprias terras, originadas na divisão das
fazendas de seus pais, era comum que as tuias ficassem na sede patriarcal onde o
patriarca e seus familiares mais próximos exerciam forte controle sobre os gastos das
demais casas, estes controle permaneceu até meados dos anos 1970, quando a saída de
habitantes para o meio urbano trouxe mudanças a esta dinâmica. As características de
produção demonstram o nível de integração destes habitantes e a pouca relação com o
perímetro urbano.
Todas estas características de ocupação e de manutenção do modo de vida atestam
justamente para as ruralidades ou manifestações do rural conforme considera (Biazzo,
2007), que são as atividades que trazem consigo significados das tradições oriundas do
campo. Dourados era por assim dizer um espaço privilegiado destas relações, que
embora possam soar como rudimentares e limitadas, são na verdade expressões de um
povo que se organizou dentro de suas possibilidades e se manteve fiel às tradições por
longo período. Tais tradições conforme cita Endlich (2003, p.24) são marcas do meio
rural e de suas ruralidades: Era uma sociedade extremamente autoritária e permeada por costumes e expressões de disciplina coletiva. O casamento era indispensável, arranjado, inclusive com uma faixa de idade mais ou menos estabelecida como normal. Os pais eram extremamente rígidos e intolerantes. Havia alta natalidade e mortalidade infantil. As relações de compadrio e parceria eram valorizadas, pois a sobrevivência do grupo passava pelo trabalho e apoio coletivo. Sociedade extremamente religiosa, o compadrio, criava possibilidade ou disposição para intercambio mais intenso: convivência, prestação de serviços, assistência mútua etc.
Ao retornarmos o conceito de ruralidade, abordado por Biazzo (2007), tendo em vista o
fragmento supramencionado, temos a nítida compreensão de que Dourados se constitui
uma comunidade impregnada de ruralidades. As fortes ligações patriarcais, as relações
de compadrio, necessárias a manutenção da produção, a religiosidade e a forte disciplina
são traços nítidos daquela comunidade e se mantiveram por cerca de 200 anos. No
período de domínio destas características era possível diferenciar o espaço rural de
Dourados ocupando a porção leste do campo patrocinence, do perímetro urbano da
cidade de Patrocínio.
Se tornando evidente que estas ruralidades foram justamente capazes de manter
Dourados por longo período de tempo diferindo de outras comunidades e com pouco
contato com ambientes onde se encontravam as manifestações do urbano. Mas embora,
esta condição tenha sido capaz de levar a resistência àquela comunidade, mesmo tão
próxima de Patrocínio, tenderia cedo ou tarde ao enfraquecimento. De fato a partir das
modernizações ocorridas no campo a partir de 1970 foi possível observar um
desfacelamento destas características rurais, que acabaram por refletir em toda paisagem
de Dourados.
Uma vez tendo analisado as ruralidades, e sabendo que esta condição se tornou instável,
é necessário compreender os processos que se deram na alteração das condições pré-
existentes desta comunidade. O modo de vida anterior passou a dar lugar a
comportamentos ligados ao meio externo que começou a imprimir uma nova lógica na
área de Dourados. Tal condição criou um novo cenário, caracterizado pelo
enfraquecimento das antigas e surgimentos de novas relações com o meio. Nesta nova
fase é perceptível que os agentes envolvidos passaram a inserir um modo de vida
marcado pela presença das urbanidades, ou seja, manifestações no campo típicas das
cidades.
O processo que colocou fim ao rústico cenário rural de Dourados e imprimiu novos
elementos aquela região, foi desencadeado rapidamente se comparado ao período de
existência da comunidade. Contudo, é complexo e reúne inúmeras variáveis
responsáveis por estas mudanças. A entrada de elementos externos seja oriunda da
chamada modernização rural, ou mesmo típicos de áreas urbanas esta ligado ao
enfraquecimento dos grupos dominantes da área.
A partir da década de 1970, as modernizações que se iniciavam no cerrado, logo
passaram a atingir a região de Patrocínio. É nesse período que ocorre a modernização do
campo e o fortalecimento de instituições agrícolas com presença de escritórios e
revendas no meio urbano. Também novas fazendas com modelos administrativos
empresariais passaram a oferecer possibilidade de emprego (SILVA, 2008). Até então
habitantes da comunidade tinham basicamente a opção de trabalhar nas terras das
famílias. Mas nesse período se tornava real a possibilidade de buscar um trabalho seja
na cidade ou em uma empresa rural sediada no campo.
A princípio, tal mudança foi positiva uma vez que as terras já se mostravam combalidas
e excessivamente ocupadas. Os dois séculos de ocupação e o modelo de divisão de
terras por herança já produziam espaços agrícolas extremamente limitados, como o caso
de propriedades pequenas para casais com mais de 10 filhos. Portanto, a saída de alguns
destes moradores para o perímetro urbano ou trabalho em outras áreas, parecia resolver
o problema da falta de espaço de algumas propriedades.
Contudo, logo o tempo fez com que o processo passasse de alivio do excesso da mão de
obra para queda desta mão de obra disponível para o trabalho em algumas propriedades.
Já em meados dos anos 1980, muitos agricultores idosos e sem condição de manter suas
terras optaram por vendê-las para cafeicultores que introduziram as chamadas técnicas
modernas de produção. Não tinha mais condição de ficar na fazenda, os meninos casaram e foram para cidade, os mais novos já estavam morando com eles para estudar, então vendemos a fazenda e fomos morar na cidade, meu esposo foi trabalhar na prefeitura. Mas outros ficaram vivendo lá, outros só vieram embora depois
que ficou perigoso lá. [sic] (Terezinha de Castro Alves, membro de uma das famílias mais antigas da região).
O avanço da modernização no campo passou a atrair uma elevada quantidade de mão de
obra volante ou sazonal, que, com o tempo, passaram a se estabelecer na cidade. A
questão se constituiu em um sério problema de ocupação urbana. A necessidade de
abrigar estas pessoas levou a administração municipal a criar o bairro Serra Negra na
porção leste da cidade, ficando este a apenas 3 km da comunidade rural de Dourados.
O Bairro Serra Negra, inaugurado em 1988, rapidamente se tornou o maior bairro
patrocinense, sendo ocupado, na maioria, por pessoas provenientes de outros
municípios. A ocupação que recebe críticas em alguns trabalhos como de Rodrigues
(2008) mostrou-se realmente problemática, uma vez que a cidade de Patrocínio não
estava preparada para receber toda a demanda. Logo, a estrutura do bairro desencadeou
problemas socioambientais, que atingiram os habitantes de Dourados.
Os primeiros anos de ocupação do bairro Serra Negra expressam situação de caos, em
que os saques às reservas naturais da comunidade de Dourados se tornaram constantes e
de difícil controle por parte dos morados e das autoridades locais. Para se ter uma ideia,
a região era conhecida pela presença de muitas orquídeas e outras plantas ornamentais
que cresciam as margens dos ribeirões. Tais plantas foram reduzidas a poucas amostras,
junto a elas a fauna foi substancialmente acossada pela caça indiscriminada. Também as
propriedades foram consideravelmente perturbadas neste período. Poucas eram as
queixas dos dourados quanto a invasões até o final da década de 1980. Mas, com a
aproximação do perímetro urbano à comunidade de Dourados, facilitou o acesso de
pessoas de qualquer lugar da cidade, as invasões e roubos se tornaram comuns.
As invasões atribuídas aos moradores do perímetro urbano trouxeram insegurança aos
habitantes de Dourados. O elevado grau de depredações fez com que muitos vendessem
suas terras pela insegurança que foi gerada. Roubos de animais domésticos, saques de
frutas e hortaliças, rompimento de cercas e quebra de porteiras, desvio de regos, roubo
em plantações e de materiais utilizados na lida do campo, invasões a casas e barracões,
estavam entre os atos praticados nesse período de forte agitação na região. Segundo os
moradores, os problemas eram causados por pessoas vindas de fora de Patrocínio que
agora moravam no novo bairro, ou moradores de outras áreas da cidade que se
aproveitavam da estrutura urbana próxima à comunidade representada pelo bairro para
facilmente entrar em Dourados.
Registros indicam que caminhos ligando o bairro à região por meio dos pastos e matas
foram abertos a partir dos anos de 1990. No mesmo período, cercas foram rompidas ou
danificadas, pessoas desconhecidas vistas transitando na comunidade se tornaram fatos
comuns. Em atuações policiais, alguns equipamentos chegaram a ser encontrados
naquele que hoje é considerado um dos bairros mais perigosos de Patrocínio. O fato que
após anos de longo esquecimento, os habitantes de Dourados e suas terras foram
descobertas. Antes daquele povo mudar para o Serra Negra, dava para sair de casa e deixar só na tramela a porta, o vento batia a porta a tramela caia as portas abriam e não aconteciam nada, depois que eles mudaram, logo depois que abriu o bairro, começo anda um povo estranho lá, e depois as coisas começaram a sumir, estragar, não podia deixar fazenda sozinha mais e até ir pra cidade a pé fico perigoso. [sic] (Manoel Faustino Alves filho de Olimpio Faustino Alves, um dos celebres moradores da região)
A depredação das propriedades tornavam as manutenções onerosas para aqueles
moradores, à insegurança que antes era algo considerado urbano, agora era sentida no
campo. Muitos agricultores optaram pela venda de suas propriedades, neste processo
áreas agrícolas modernas foram expandidas e outras fazendas foram transformadas em
casas de campo, para moradores do perímetro urbano.
A saída de habitantes, a chegada de novos modelos produtivos, e finalmente a mudança
das funções de varias propriedades em menos de 20 anos, representam as alterações que
estão ocorrendo no campo e na cidade, e que vem reorientando discussões no meio
acadêmico. Dentre estes Endlich (2003) afirma existir a possibilidade de essas novas
atividades terem uma tendência urbana, dependendo, neste caso, da acepção de rural e
urbano. Um conjunto de atividades diferentes das tradicionais passou a ser desenvolvido no campo. Essas atividades caracterizam-se pela incorporação de novos produtos agropecuários, industriais, prestação de serviços e atividades de entretenimento, caracterizadas pela busca por espaços bucólicos e/ou marcados pela tradição cultural, nos momentos de ócio (ENDLICH, 2003, p.12).
O que se percebe que estas atividades citadas, trazem algo referente às prestações de
serviços que são atividades de origem urbana, como é verificada nos últimos anos em
Dourados. Das sete propriedades que formam o cinturão divisor entre Dourados e o
perímetro urbano de Patrocínio, três se tornaram chácaras para lazer familiar em finais
de semana, uma para lazer via aluguel de visitantes, e duas se tornaram Centros para
reabilitação de Dependentes Químicos, as conhecidas Fazendinhas de Recuperação.
Sendo que apenas a propriedade do senhor Castro Pires se manteve voltada a
agricultura. Para além das fronteiras com o perímetro urbano, no interior da
comunidade, as fazendas se alternam entre unidades tradicionais, unidades modernas e
chácaras de aluguel para pequenas produções.
Tais mudanças demonstram bem o atual estágio de alteração nas funções na região.
Pois, segundo os moradores remanescentes, os novos habitantes não se relacionam com
a comunidade da mesma forma, não participam das reuniões do conselho comunitário,
não fazem parte de atividades de trocas de trabalho e nos casos das três chácaras
alugadas são apontados como desordeiros. De modo geral podemos verificar a
incidência de atividades do terceiro setor, voltadas à prestação de serviços aos
moradores do perímetro urbano. Parecendo haver a instalação dos chamados moradores
de residências secundários: São também chamados de residentes temporários, por passarem apenas partes do ano e alguns feriados no meio rural. Geralmente, não são bem aceitos pelos moradores fixos, porque são considerados indutores de tensões múltiplas. Os agricultores os culpam de induzir o aumento do preço das terras agrícolas, estimulando a especulação imobiliária. Em nível comunitário, deplora-se o desinteresse de alguns pelos problemas públicos, como domínio de outros nos conselhos municipais ou nas associações de moradores. Ganhando a vida em cidades próximas ou mais distantes, são criticados pelo seu isolamento da população local. Eles não participam das atividades culturais e praticam seus lazeres em suas propriedades. Esses moradores de residências secundarias exercem, entretanto, fortes pressões nos equipamentos coletivos, tais como as redes de distribuição de água, luz, telefonia (RUSCHMANN, 2000, p.68).
As colocações de Ruschmann (2000) vêm de encontro com o cenário apresentado nesta
pesquisa, à área esta marcada pelas nítidas contradições que o capitalismo é capaz de
inserir. As propriedades que resistem nos moldes antigos estão dividindo espaço com
unidades de produção cafeeiras modernas, com clínicas de recuperação e chácaras para
lazer. Fica evidente que aquelas fazendas que se mantém estão inseridas em um jogo de
resistência que passa também pela inserção de serviços de origem urbana. Tais serviços
foram notados na presença de consultores agrícolas de origem urbana, a implementação
de programas de assistência, a chegada da energia elétrica, telefonia celular, substituição
da charrete pelo veiculo automotor e contratação de mão de obra externa e assalariada
para auxílio nas atividades agrícolas e até mesmo domésticas.
Durante a visita de algumas propriedades remanescentes foi possível identificar que
embora sejam pequenas as propriedades, a presença do café é sinal da tentativa destes
agricultores se manterem nas propriedades, apesar das adversidades. Porém, também
foram notadas um aumento de atividades voltadas ao comercio, como a fabricação do
queijo, venda de leite, de ovos e frangos caipira, engorda de porcos, entre outras
atividades que passam a servir aos moradores daquela localidade.
É bem verdade que com a diminuição dos moradores originais e com a perda da
capacidade de realizar as tarefas conjuntas, muito da tradição se esvaiu. O que existe
então é tentativa de preservar parte deste modo de vida e de manter estas famílias no
campo, onde ainda exista condições de produzirem e se manterem (figura 4).
Figura 4: foto atual em área de pastagem em Dourados.
Sabe-se que existe, de fato, uma dualidade entre rural e urbano neste cenário. Por um
lado, as atividades ligadas à modernização trouxeram elementos marcadamente urbanos.
Por outro, entende-se que muitas das atividades agrícolas permanecem naquele
ambiente, parte dos habitantes ainda se ocupam da horta e das criações. Ainda existem
compadres, e a presença da religiosidade expressa em duas festas de padroeiros no ano
são nítidas marcas de resistência, assim como sobressaem ainda em alguns lugares o
trabalho manual, e até mesmo os dias trocados, os regos ainda são limpos, e muitos
dizem que novas estivas vão ser abertas.
O que se percebe então que a inserção das urbanidades não trouxe a extinção da prática
rural, na verdade parecem existir, ou melhor, coexistir nesse espaço contemporâneo que
diz muito da atual fase vivida no campo enquanto espaço físico. Assim classificar estas
áreas é um desafio experimentado por diversos acadêmicos, entre eles os Geógrafos
Agrários. Nesse sentido merece destaque as análises de João Rua que ao trabalhar com a
questão das inserções de ruralidades e urbanidades em um mesmo espaço encontrou
uma variável capaz de lidar com tal aparente contradição. Se há um movimento de unificação urbano-rural pela lógica capitalista, como acreditamos, com um certo sentido de equalização do espaço, há, por outro lado, muitas manifestações de resistência a essa equalização pretensamente homogeneizadora, que se traduzem por estratégias de sobrevivência das famílias rurais, principalmente daquelas mais pobres e/ou empobrecidas no movimento de integração acima referido, quando buscam manter ou (re)construir suas identidades territoriais. Isto nos coloca frente a um complexo processo de heterogeneização do espaço, integrada à lógica desigualizadora do desenvolvimento do capitalismo, na qual interagem dimensões econômicas, políticas, culturais e simbólicas. Tentar compreender este intricado processo de “criação de identidades territoriais”, não como um “novo rural”, mas como novas territorialidades, hibridas, mistas de “urbano” e “rural”, em que novas Geografias são identificadas, faz com que insistamos na discussão desta temática (RUA, 2006, p.88).
É justamente este o fato identificado em Dourados, atualmente coexistem no mesmo
espaço geográfico vieses do rural e do urbano, é possível ainda falar das urbanidades no
rural. O processo de sobrevivência e resistência daqueles agricultores garante a
manutenção desta condição que agora se liga a rede urbana por meio de serviços e
manifestações.
Considerações Finais
O presente trabalhou buscou apresentar o desenvolvimento da Comunidade Rural de
Dourados no município de Patrocínio no Alto Paranaíba, atentando para as
manifestações do rural que permitiram que esta comunidade mantivesse seu modo de
vida por longas décadas. É evidente que as ruralidades no caso de Dourados permitiram
um maior afastamento do perímetro urbano e a relação entre estes dois ambientes foi
pequena por esse período.
Contudo as transformações que atingiram o cerrado principalmente a partir da década de
70 do século XX, acabaram também por incidir na comunidade de Dourados. Estas
mudanças, a princípio simbolizavam a atuação indireta do grande capital e de seus
interesses em áreas próximas que passaram a atrair à mão de obra da comunidade
necessária a manutenção das ruralidades e da permanência destas famílias no meio
rural. Contudo, a entrada da década de 1980 foi marcada pelas mudanças também em
nível local, com a instalação de unidades produtivas que passaram a contrastar com a
rusticidade até então mantida na área.
Mais uma vez foi possível notar a dicotomia entre o modelo capitalista de apropriação
do espaço, marcado pelos altos investimentos, e pelo modo de produção vigente até
então descapitalizado e voltado quase que unicamente a sobrevivência e não ao lucro. O
cenário sofreu ainda maiores alterações com o avanço da mancha urbana sobre a região,
que acelerou o processo de enfraquecimento das estruturas vigentes e o fim da
estabilidade comunitária experimentada pelos habitantes de Dourados nos quase
duzentos anos de existência daquela comunidade.
A chegada de novos personagens e de novas formas de obtenção de lucro naquele
espaço trouxe ainda mais dificuldades para aqueles habitantes, tornando-se inevitável a
discussão a cerca da permanência da localidade como rural ou da sua inserção nos
planos de serviços urbanos.
Porem foi possível notar na pesquisa de campo e bibliográfica, que o processo
experimentado naquele local, é na verdade, reflexo de uma tendência, produto da
modernização do campo e de suas relações, e que embora sejam nítidas as inserções
urbanas, tanto negativas quanto positivas, também é claro existir uma luta de
sobrevivência por parte do meio rural.
Sendo evidente que o meio rural não foi extinto pelo capital, pelo contrário o campo se
mostra capaz também de absorver estas mudanças e se adaptar buscando formas de
sobrevivência e de permanência em meio a este cenário. Prova disso são os filhos dos
agricultores de Dourados que hoje buscam especialização para retornarem as
propriedades e organizá-las, afim de que estas se tornem produtivas e competitivas
apesar dos poucos hectares disponíveis.
É fato que as condições tradicionais existentes foram bruscamente alteradas pelos
processos modernizadores e invasores que se seguiram, e que muitos daqueles modelos
de comportamento e relação se extinguiram ou estão em vias de extinção, Mas também
é verificado que muitos destes moradores estão dispostos a defender suas terras, e para
isso se mostram dispostos a se organizarem em associações e se abrirem a práticas
modernas. Contudo, tal abertura é justamente uma tentativa de preservar parte de sua
cultura e não de abandoná-la.
O espaço geográfico de Dourados se tornou palco privilegiado das mudanças que
ocorrem na agricultura brasileira e sua análise mais profunda pode trazer a luz, muitos
exemplos destas questões. Embora seja difícil prever qual o próximo elemento a surgir
ou a se extinguir naquele ambiente, fica evidente haver ali uma forte produção humana
que altera e se relaciona com o espaço que ocupa, buscando se manter e manter seu
modo de vida, seja este o considerado arcaico rural ou o acelerado comportamento
urbano, ou ainda quem sabe um modo de vida hibrido, nascido da junção dos dois
anteriores.
Notas 1 Distancia aproximada do centro financeiro de Patrocínio, considerada a parte mais antiga da cidade , até a Escola e a Igreja de São Geraldo na comunidade de Dourados. A distancia é muito pequena se considerada a demais comunidades rurais, sendo ainda comum que pessoas façam ocasionalmente este trajeto a pé, conforme suas necessidades.
2 São chamados os cinco córregos de Dourados, seus nomes na ordem de formação do rio são: Cedro (ou Taquara), Lavinha e Cava, que depois recebem o córrego Preto e por fim o córrego do Mariano, este ultimo já contaminado por dejetos do perímetro urbano.
3 Carmem Rabelo é membro da família Faustino Alves que descende da família Bitencourt de Áraxa. Em pesquisas documentais com auxilio de especialistas, no ano de 2004, Carmem conseguiu rastrear a origem de inúmeras famílias. Sendo confirmado que as mais antigas famílias da região de Dourados, são oriundas de Araxá no tempo que aquela cidade ainda recebia a denominação de Picada Araxá. Referências ALMEIDA, Maria de Fátima Machado. Patrocínio, ontem e hoje. Patrocínio: Regraff.200-. BIAZZO, Pedro Paulo. Campo e Rural, Cidade e Urbano: distinções necessárias para uma perspectiva crítica em Geografia Agrária. IN MARAFON, Gláucio José; PESSÔA, Vera Lúcia Salazar (Org). Interações Geográficas: A conexão interinstitucional de grupos de pesquisa. Uberlândia: Roma, 2007. CASSETI, Valter. Estrutura e compartimentação da paisagem de Serra Negra. Goiânia, Ed.UFG, 1981. 124p. ENDLICH, Ângela M. Perspectivas sobre o urbano e o rural. IN SPOSITO, M. Encarnação; WHITACKER, Arthur (Org.). Cidade e campo: relações e contradições entre urbano e rural. São Paulo: Expressão Popular, 2003. P. 11-31. NASCIMENTO, Sebastião Salvino. Cerrado: Caracterização e ocupação incial. IN Athos e Ethos. Patrocínio – MG: UNICERP. 2007. FERREIRA, Darlene de Oliveira. A cidade e o campo em seus limites, O rural e o urbano em suas interações. In: MARAFON, G.J. PESSÔA, V.L. Agricultura, Desenvolvimento E transformação sociespaciais. – Uberlandia: Assis Editora, 2008 PESSÔA, Vera L. S. Ação do Estado e as transformações agrárias no cerrado das zonas de Paracatu e Alto Paranaíba – MG. Rio Claro: UNESP, 1988. (tese de doutorado).
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